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Envelhecimento saudável: Fatores

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O Cuidador, EU

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Fatores de risco para o declínio cognitivo e demência

Madalena Pinto Médica Neurologista no Centro Hospitalar São João

AOrganização Mundial de Saúde estima que em todo o mundo existam 47,5 milhões de pessoas com demência, número que pode atingir os 75,6 milhões em 2030 e quase triplicar em 2050 para os 135,5 milhões. A Demência de Alzheimer é o tipo mais comum de demência. No presente momento não existe cura, pelo que é fundamental prevenir.

Objetivos de conhecimento dos fatores de risco e a sua relação com a demência:

informar a população geral, melhorando o seu nível de conhecimento sobre a saúde e doença; permitir que os médicos reconheçam quais os doentes em maior risco; ajudar ao desenvolvimento de novos medicamentos que atuem sobre alvos mais específicos; e se possível, prevenir ou, pelo menos, adiar o aparecimento da demência.

O que quer dizer “risco” e “fator de risco” O risco de desenvolver uma doença é a probabilidade que tal aconteça a um indivíduo ao longo de um dado período de tempo. Todos temos algum risco de desenvolver demência, mas alguns de nós têm um risco maior em relação a outros. Por exemplo, é mais provável uma mulher de 80 anos desenvolver demência nos 5 anos seguintes do que uma mulher de 40 anos. Fator de risco é qualquer um que aumente a probabilidade de a pessoa vir a desenvolver a doença. Na demência existirá certamente uma combinação de fatores – alguns que podem ser evitados e outros impossíveis de controlar. Contudo, ter um fator de risco não quer dizer que a pessoa vá obrigatoriamente ter uma demência no futuro. Do mesmo modo, evitar fatores de risco não garante que uma pessoa vá permanecer saudável, mas torna tal mais provável.

© Life Of Pix

Muitos fatores de risco foram descobertos em estudos que envolveram grandes grupos populacionais, procurando analisar o que tinham em comum os doentes que desenvolveram demência. Contudo, fator de risco não significa causa de demência. A relação entre fator de risco e demência até poderá funcionar ao contrário, isto é, a demência aumentar a probabilidade da pessoa ter o “aparente” fator de risco – por exemplo, depressão no idoso. Ou podem ambos, fator de risco e demência, ter uma causa subjacente comum. Para outros fatores, a relação é mais plausível face ao nosso conhecimento atual. Um bom exemplo é o modo claro como a hipertensão arterial (HTA) pode causar acidente vascular cerebral (AVC) e como o AVC pode causar demência vascular, e portanto a HTA é um fator de risco para a demência vascular.

Quais os fatores de risco para a demência A maior parte do conhecimento recai sobre as demências mais comuns: demência de Alzheimer (DA), demência vascular (DV) e demência mista (DA+DV). Para tipos de demência mais raros, como a demência frontotemporal e a demência com corpos de Lewy, os fatores de risco são menos conhecidos.

A idade adulta é a melhor altura da vida para adotar estratégias de redução dos fatores de risco, se ainda não estiverem em curso. O principal fator de risco é a idade. Acima dos 65 anos, o risco de desenvolver demência duplica a cada 5 anos. Cerca de 1% das pessoas com mais de 65 anos e mais de 50% das pessoas com mais de 85 anos têm demência. Este fator pode estar relacionado com alterações associa

das à idade (nomeadamente nos sistemas auto-reparadores neuronais, cardiovascular, imune e hormonal) e à maior frequência de fatores de risco vascular (HTA, diabetes mellitus, doença cardíaca, hipercolesterolemia).

O género feminino é outro fator de risco para a DA, em especial após os 80 anos. Pensa-se que poderão estar implicados fatores hormonais. Fatores genéticos podem igualmente contribuir. Ter um familiar em primeiro grau com DA aumenta ligeiramente o risco, embora o papel dos genes no desenvolvimento da doença ainda não seja bem conhecido. Identificaramse já alguns genes cujas mutações aumentam o risco de desenvolver a doença, mas que não a causam forçosamente. Também é possível herdar genes que causam demência, isto é, os portadores irão seguramente desenvolver a doença ao longo da vida, geralmente relativamente cedo, embora tal seja mais raro. Nessas famílias existe um padrão claro de transmissão de uma geração para outra. Esse padrão, autossómico dominante, que sugere DA familiar, constitui uma forma rara da doença. Embora alguns fatores de risco genéticos tenham sido identificados, a idade permanece como fator de risco principal para o desenvolvimento de DA esporádica (que constitui a maior parte dos casos de DA).

Segundo Miia Kivipelto da Universidade Karolinska (Estocolmo), pelo menos um terço de casos de DA está relacionada com fatores de risco que podem ser modificáveis. Mesmo o atraso do início de demência em 5 a 10 anos, com a adoção de um estilo de vida mais saudável, poderá ter um impacto global enorme.

Doenças e condições médicas

Diabetes mellitus (DM) tipo 2 na idade;

HTA na idade adulta;

Hipercolesterolemia na idade adulta;

Obesidade na idade adulta;

Tabagismo;

Consumo de álcool.

Estes são fatores de risco também para a doença cardiovascular e constituem fatores de risco modificáveis. Aumentam o risco global de demência, assim como de DV e de DA. Os fatores de risco vascular e a demência constituem problemas mais comuns à medida que a idade avança. Os fatores de risco vascular podem ser precipitantes de DA ou atuar de modo sinérgico (DA+DV). Por exemplo, a hipertensão causa alteração na parede das pequenas artérias cerebrais, que podem levar à falta de oxigenação cerebral, e causar AVCs (quer por falta de irrigação quer por hemorragia), que

por sua vez levam à morte e perda de neurónios, e consequente demência. As pessoas que consomem quantidades excessivas de álcool (ou por longos períodos) podem ter falta de vitamina B1 (tiamina) e de B12 (cianocobalamina), o que pode afetar os circuitos da memória, e/ou podem sofrer um efeito tóxico direto do álcool, que causa morte neuronal e consequente atrofia cerebral.

Depressão: a depressão poderá ser fator de risco ou sintoma de demência. Não está bem esclarecido se a depressão é uma causa ou consequência da demência, mas ter sintomas de depressão pela primeira vez após os 60 anos pode merecer atenção e seguimento regular. Traumatismo craniano: as pessoas que sofrem traumatismos cranianos graves e repetidos estão em maior risco de desenvolver demência. É possível que os depósitos que se formam no cérebro como resultado das lesões, estejam ligados ao início de demência. Outras condições: a Doença de Parkinson, a Esclerose Múltipla, a Síndrome de Down, e o vírus da imunodeficiência humana constituem fatores de risco para demência.

Outras doenças poderão constituir fatores de risco, mas é necessária maior investigação (perda auditiva, apneia do sono, ansiedade, doença renal crónica). O isolamento social também constitui um fator de risco possível, mas necessita de confirmação em estudos futuros.

O que faz a investigação atualmente? A relação entre estes fatores de risco e a DA é complexa, e continua a ser fonte de debate. Estudos populacionais em diferentes países, encontram-se em curso para investigar e tentar descobrir um pouco mais sobre os seus papéis no desenvolvimento das demências.

Referências bibliográficas 1. Promoting modifiable risk factors for dementia: is there a role for general practice? Br J. Gen. Pract. 2015 Nov; 65(640): 567–568. 2. Swedish Council on Health Technology Assessment (SBU); 2008 Jun. SBU Assessment No. 172. SBU Systematic Reviews. Dementia – Caring, Ethics, Ethical and Economical Aspects: A systematic review (Internet). 3. Alzheimers Dement (N Y). 2017 Nov; 3(4): 571–578. 4. Published online 2017 Sep 19. Toward common mechanisms for risk factors in Alzheimer`s syndrome. 5. PLoS One. 2018 Apr 19;13(4). What does the general public understand about prevention and treatment of dementia? A systematic review of population-based surveys. 6. www.alzheimers.org.uk/sites/default/files/ pdf/factsheet_risk_factors_for_dementia.pdf. 7. www.alz.co.uk/research/WorldAlzheimerReport2018.pdf.

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