
4 minute read
com arte Envelhecimento ativo e a música
from DIGNUS nº1
by cie
No decorrer das últimas décadas é possível verificar grandes alterações sociodemográficas, caraterizadas por processos de declínio da natalidade, aumento da longevidade e da melhoria das condições de vida, assim como no acesso aos cuidados de saúde. A longevidade da população na Europa tem aumentado ano a ano, Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia, sendo que em 2016, 20,7% da sua população tinha 65 ou mais anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística em 2017. Esta crescente expressão demográfica favorece os fenómenos de senescência e senilidade.
O envelhecimento resulta da conjugação entre processos de degradação celular, dos órgãos e dos sistemas, fatores ambientais, fatores físicos, psicológicos e sociais. As principais alterações a nível físico prendem-se com alterações músculo- -esqueléticas, a neurológicas e sensoriais.
Advertisement
De acordo com Zimerman, a pessoa idosa sofre algumas alterações a nível psicológico, decorrentes do envelhecimento, que podem resultar na dificuldade de adaptação a novos papéis, ausência de motivação e dificuldade em planear o futuro, na necessidade de ultrapassar as situações de perda e na adaptação difícil a mudanças rápidas. A pessoa idosa é vista sob várias perspetivas na sociedade, assumindo vários estatutos sociais ao longo da sua vida que definem a sua identidade. Com o passar dos anos, o idoso sofre algumas perdas graduais, com as quais necessita de lidar de forma saudável, prevenindo complicações físicas e mentais.
O envelhecimento não deve de ser considerado como algo negativo, se o indivíduo adota estilos de vida saudáveis e permanece ativo, pode envelhecer com qualidade de vida, mesmo em idade avançada. O envelhecimento ativo é definido como o processo de otimização das Envelhecimento ativo e a música
“A música na população idosa pode prevenir, atenuar ou, ser usada como forma de tratamento das principais problemáticas desta faixa etária.” Patrícia Dias oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem, bem como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, que contribui para o bem-estar das pessoas idosas, sendo a capacidade funcional o resultado da interação das capacidades intrínsecas da pessoa (físicas e mentais) com o meio, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde. Assenta no objetivo de ao longo do ciclo vital atingir um potencial de bem-estar (onde as componentes mental, social e física são indissociáveis), acrescentando-lhe outros dois pilares: participação e segurança. O termo Participação está ligado à “atividade” social, económica, cultural, espiritual, e cívica da pessoa idosa e, assim sendo, este conceito vai muito para além da atividade física ou laboral. O termo Segurança está associado à dignidade, proteção e a prestação de cuidados de acordo com as especificidades deste grupo etário.
A promoção de um envelhecimento ativo ao longo do ciclo de vital tem sido o trajeto apontado pela Organização Mundial de Saúde como resposta aos desafios relacionados com a longevidade e com o envelhecimento da população. A música traz uma nova forma de cuidar díspar do convencional, proporciona um ambiente saudáEnfermeira
vel, valorizando o idoso e fortalecendo a sua interação com o meio que o rodeia. Por isso a música é uma terapêutica complementar valiosa, que exerce influência sobre os aspetos neurocognitivos, emocionais, psíquicos e sociais do idoso, ou seja, desempenha um importante papel na manutenção e na melhoria da qualidade de vida, além de propiciar maior interação deste com o meio social e familiar.
A música desperta ainda certas recordações relacionadas com as vivências pessoais, que fazem parte da história musical de cada um. Brincadeiras da infância, envolvendo cantigas, amores do passado, lugares que foram visitados em passeios. A música na população idosa pode prevenir, atenuar, ou ser usada como forma de tratamento das principais problemáticas desta faixa etária.
A musicoterapia promove um relaxamento, de forma a diminuir a ansiedade, possibilita uma distração de experiências desagradáveis. A música contribui para a qualidade de vida dos idosos, fornecendo meios para compreenderem e desenvolverem a sua identidade, interagirem com as pessoas e o meio, manterem o seu bem-estar, expressarem a sua espiritualidade e estabelecerem ligações com as suas memórias de vida. Mais especificamente contribui para uma autoestima positiva, promovendo o sentimento de independência, competência e diminuição dos sentimentos de isolamento e abandono, o que, consequentemente, contribui para o aumento da qualidade do envelhecimento.
A musicoterapia atua na estimulação sensorial, ajudando a prevenir o atraso mental e a deterioração física, e tem demonstrado benefícios como: aumento da força e da mobilidade dos membros inferiores e superiores; promoção da interação social; estimulação da memória a longo prazo; melhoria da memória a curto prazo e outras competências cognitivas como a redução da confusão mental e melhoria da retenção de informação; melhoria da orientação para a realidade e da autoestima; promoção do relaxamento e da redução do stress; melhoria da linguagem e da comunicação verbal; redução de comportamentos desadequados; redução da agitação motora e aumento da reminiscência, isto é, recuperação de acontecimentos passados da própria pessoa utilizando memórias felizes da infância, adolescência e da fase adulta para melhorar o humor no tempo atual.
Pode-se assim concluir que a música é uma ferramenta extraordinária de baixo custo e de simples aplicação, podendo ser usada como uma estratégia para um envelhecimento mais saudável e ativo, produzindo efeito tanto a nível físico como mental.
