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SABEDORIA DO MAR A CIRCUM-NAVEGAÇÃO DA TERRA
Este tipo de viagem que hoje vos trago, move muitos entusiastas, com os mais variados intuitos Há quem as faça rodeado de todo o luxo do mundo, em navio o mais seguro que se possa imaginar, na viagem mais bela e sonhada, dispondo de abundante mesa como se tem em hotel, com iguarias e bebidas à escolha, sabendo a posição onde está, para onde vai, quando chega e aquilo que o espera
Em caso de haver algum percalço, contam com as comunicações com terra, mesmo que esteja bem distante, onde procurarão encontrar soluções e se necessário chegarão todos os auxílios Outrora, foi bem diferente, para aqueles ousados, que nos deram a conhecer os mares imensos, que então eram desconhecidos, sempre expostos ao perigo, com os tormentos das privações Durante anos, ninguém sabia por onde andavam, nem eles próprios sabiam para onde iam
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Entre os obstáculos que precisavam ser vencidos para desbravar os mares, nenhum supera a dureza do quotidiano nas caravelas. Eram embarcações com 20 a 30 metros de comprimento e 6 a 8 metros de boca, onde vivia uma comu-nidade diversa, que podia chegar aos 120 homens.
O abastecimento e a alimentação constituíram um problema permanente Os géneros embarcados tinham péssima qualidade. Estavam muitas vezes deteriorados logo no início da viagem e apodreciam em pouco tempo O rol dos produtos oficialmente embarcados, incluía carne vermelha defumada, peixe seco ou salgado, favas, lentilhas, cebolas, vinagre, banha, azeite, azeitonas, farinha de trigo, laranjas, biscoitos, açúcar, mel, uvas-passas, ameixas, conservas e queijos Também eram transportados barris de vinho e água, embora passadas algumas semanas, o vinho se transformasse em vinagre e a água ganhasse larvas Para garantir a presença de alimento fresco, iam a bordo alguns animais vivos, como galinhas, bovinos, porcos, carneiros e cabras, que faziam imenso esterco e urina, o que contribuía para agravar, o quadro de doenças entre a tripulação. A ausência de hábitos básicos de higiene, piorava os estragos causados pelo alto grau de deterioração dos víveres
Era heroica a vida a bordo. Velas eram o único meio de propulsão, que dependia do vento, que se apresentava caprichoso, inconstante, variável, quer em força como em direcção, de regime ignorado em toda a sua grandeza e complexidade
Para o aproveitar era necessária ciência e habilidade de marinheiro Não esquecendo ainda o alto e magno problema de melhor aguentar o mar, numa luta desigual onde o homem só vencia pela astúcia, saber náutico, aperfeiçoamento na solidez e tamanho do barco, habilidade de manobra, de coragem e fé, para muitas vezes, vencer um mar em fúria ou sobreviver às inclemências do clima e à hostilidade dos povos indígenas. Fernão Magalhães é considerado como o primeiro homem que planeou fazer por mar, a volta ao mundo Considerado uma figura-chave na história dos Descobrimentos e na história Universal, marcou o início do conhecimento global da Terra A viagem deste português, numa das épocas mais fascinantes e ricas de sempre em Portugal, só foi possível devido à notável escola de marinharia, onde figuravam homens experi-mentados na arte de navegar, versados em cosmografia e ciências afins, produ-zindo tratados náuticos, roteiros, cartas de marear. Paralelamente desenvolve-se a construção naval em madeira, passou-se da caravela para a nau para poderem ir mais longe, com navios cada vez mais adaptados ao objectivo da viagem e mais capazes, conforme era exigido pela em-presa da Expansão Marítima do reino de Portugal. Foram estas as bases para que esta viagem verdadeiramente épica, tornasse Fernão Magalhães num homem universal e uma figura ímpar do seu tempo. Com o avanço da navegação corrigiram-se ideias sobre geografia; modicaram-se encurtando-as em tempo, rotas comerciais; estabeleceram-se relações entre povos distantes; modificou-se a economia das nações e criaram-se laços de entendimento entre civilizações avançadas que mutuamente se desconheciam.
Em pleno século XXI, a 14 ª edição de circum-navegação à vela profissional, faz-se em embarcações construídas em fibra de carbono, com 10 metros compri-mento e 6 metros de boca, com 950 Kgs, dispondo de um mastro com 16,5 metros, capaz de envergar duas velas, tudo com o objectivo de satisfazer os requisitos de velocidade na água Os barcos IMOCA irão fazer 32 000 milhas, tendo na 3 ª etapa o record de 12 750 milhas quando navegarem os três Oceanos o Índico, o Pacífico e o Atlân-tico durante um mês e três semanas entre a cidade de Cape Town e Itajaí no Brasil Por sua vez os barcos da classe VO65 só competirão nas três etapas europeias, onde como Skipper da embar-cação totalmente portuguesa, está o nosso associado António Fontes, que desta forma, segue a linha profissional de outro oficial piloto da Marinha Mercante o João Cabeçadas, que agora a trabalhar em terra na preparação, desenvolvimento e teste da tecnologia aplicada nas embarcações, sendo o sua competência, fundamental para os êxitos da medalhada, equipa de vela profissional, a Suíça Alinghi.
Enorme orgulho para Portugal e para a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que vê reconhecidos a nível mundial, dois dos seus formados Para a comunidade de velejadores profissionais, esta regata está imortalizada, pela dureza da prova, por ser a mais prolongada em duração, pela exigência em resistência física e psíquica, aquela em que o perigo está sempre presente, exigindo dos que nela participam, cora-gem, ousadia e determinação.
A REGATA tornou-se também numa excelente embaixadora, que promove a apetência para a modalidade da vela pelo Mundo, acontecendo tudo isto, pela espectacularidade das imagens que propicia
A primeira vez que observámos referências relativamente alargadas ao capitão Caneca foi na capa do jornal americano de língua portuguesa “Alvorada Diária” de 21 de Março de 19191 A notícia, datada do dia anterior e de Providence, dizia que ele estava a comparecer diariamente perante os inspectores da navegação dos Estados Unidos, submetendo-se a um exame destinado a conseguir a licença de comandante de vapores Segundo se afirmava, era bem conhecido naquela cidade e em New Bedford, como capitão de veleiros da carreira de Cabo Verde2 para estes dois portos E até já comandara o vapor “Liberia” em viagem na costa de África (onde ele e toda a tripulação haviam contraído beribéri), mas como este navegava sob bandeira britânica, isso não contava para as autoridades marítimas americanas Um mês depois, a 18 de Abril e no mesmo
1 No “Ship Registers and Enrollments of Providence, Rhode Island, 1773-1939, Volume 1” , a escuna de dois mastros “Nannie C Bohlin” construída em Gloucester, Massachusetts, em 1890, pertencia em 1905 ao capitão Caneca; em
HALTER, Marilyn “Between Race and Ethnicity: Cape Verdean American Immigrants, 1860-1965” , University of Illinois Press, 1993, encontramo-lo a comandar a escuna “Elisabeth T Doyle” em duas viagens para a ilha do Fogo, onde chegou a 19 de Setembro de 1911 e talvez a 5 de Maio de 1912 (a indicação sobre a segunda viagem não identifica local de chegada, podendo ser também, eventualmente, a ilha Brava)
2 A chamada “Carreira de Cabo Verde” era feita por escunas e barcas, navios que muitas vezes haviam sido antigos baleeiros As ligações faziam-se sobretudo entre Providence, Boston e New Bedford e as ilhas cabo-verdianas da Brava, Fogo, Santiago e São Vicente