2 minute read

O NAUFRÁGIO DO CORAJOSO CAPITÃO DE VELEIROS MANUEL F. CANECA E DA ESCUNA “GABRIELA”

periódico3 , voltamos a encontrá-lo E ficamos a saber que era bem conhecido em ambas as cidades acima referidas, onde contava “muitos amigos, principalmente entre a colónia cabo-verdiana, tendo feito muitas viagens entre este porto [New Bedford] e o de Providence e o arquipélago de Cabo Verde” Simultaneamente, anunciava-se que partira para Mobile4 , onde iria tomar o comando de uma grande escuna de três mastros, acabada de construir e que seguiria com carga para Lisboa Pouco depois, a 25 de Junho5 e ainda através do “Alvorada Diária”, saber-se-ia que a dita escuna, a “Gabriela”, naufragara no Golfo do México e que o capitão e mais dois tripulantes haviam morrido afogados Acontece que a “Gabriela” era um de quatro veleiros que o seu armador contratara com o governo português, para viagens entre os Estados Unidos da América e Portugal

Advertisement

3 Pág 3

4 No estado do Alabama

5 Pág 1

Desta feita levava “madeira para vasilhame”, o que nos faz supor que seria madeira para fabrico de pipas e barris, talvez o carvalho americano ainda hoje utilizado para esse efeito6 O relato do desastre, feito pelos quatro sobreviventes, revelava que a escuna abrira água durante uma tempestade, escassos dias após ter zarpado do porto de origem “Foram usadas as bombas de mão e as movidas a gasolina, mas sem darem vencimento, conhecendo-se dentro em poucas horas ser impossível evitar o naufrágio”, diziam. E que o capitão Caneca mandara arriar o bote salvavidas e dera ordens para que pilotos e restantes tripulantes saltassem para ele Como bom capitão, Caneca não abandonou o seu navio e por solidarie-

6 O Wreck Site, em nota de Jan Lettens de 26 de Novembro de 2015 , diz que a carga era de aduelas e argolas de aço [aros], o que confirma que se tratava de material destinado ao fabrico de recipientes de madeira para líquidos e que o naufrágio se deu a 4 de Junho Para além disso, segundo Lettens, o navio dirigir-se-ia para o Porto dade com ele ficaram os seus amigos, o primeiro piloto Joaquim Rosa e o moço de câmara António Rosário Lotes que assim também pereceram no naufrágio

Registe-se que por esta notícia se sabe que o capitão Caneca não só fizera viagens de e para Cabo Verde, como era natural das ilhas e que por azar seu abandonara o curso de capitão de vapores para comandar a “Gabriela”, “ por ser ele o preferido da companhia construtora”, para o efeito Deixou viúva Maria F Caneca e três filhas e um filho: Beatriz Senna (supomos que de outra mulher), Angelina, Jesuína e Ulysses Caneca7 Os quatro sobreviventes da tragédia e seus cronistas, todos moradores em New Bedford, foram o segundo piloto

Serafim Luiz, residente na Griffin St , o despenseiro Manuel Chor, domiciliado na Av Acushnet, o marinheiro Manuel de Almeida, seu vizinho, e o marinheiro João Semples, da School St Os estranhos apelidos Chor e Semples (e o anterior Lotes) estavam possivelmente americanizados, o que era vulgar e de certo modo comum entre imigrantes, por facilitar a assimilação. Salvaram-se quase por milagre, recolhidos por um navio-tanque inglês, depois de terem andado à deriva durante 16 horas, agarrados ao bote de salvação que se virara ao ser arriado Chegaram a New Bedford na noite de 23 de Junho

Fica assim pois aqui o que foi possível apurar para a memória de mais um capitão das ilhas, heroico lobo do mar cabo-verdiano, actor nessa grande e longa tragédia que foi a chamada “Carreira de Cabo Verde”. Ficou também para a posteridade a fotografia que ilustra este artigo, existente no Mystic Seaport Museum, em Mystic, Connecticut.

7 A família Caneca tem mais elementos referenciados nos EUA O “Diário de Notícias” de New Bedford de 16 11 1939, pág 2, no seu obituário, anota o falecimento de Boaventura J Gonçalves, com domicílio em New Bedford, cuja mãe era natural da ilha Brava e que, para além de outros, era irmão de Manuel Caneca, residente na Califórnia e de José Caneca, morador em New Bedford O site genealógico cabo-verdiano de Barros Brito (barrosbrito com/12771 html) contém um José Fortes Caneca, sem indicação de datas ou locais de nascimento e morte, mas que deixou descendência na ilha Brava

This article is from: