O Oriental-Hydrographe e a fotografia A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840) MARIA INEZ TURAZZI
O Oriental-Hydrographe e a fotografia A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Maria Inez Turazzi
Apresentação
Desde meados do século xix, a fotografia se distingue de outras formas de representação visual por sua capacidade, sem precedentes, de capturar o “real” de forma mecânica e reproduzível. A rápida expansão em todo o mundo e a diversificação dos usos dessa tecnologia transformaram a cultura. O poder da fotografia – e, mais tarde, do cinema, televisão e mídia digital – permitiu a construção de poderosas histórias sociais que moldaram as percepções das pessoas sobre a realidade, desejos e subjetividade. No mundo de hoje, os meios para produzir e circular imagens estão disponíveis para grandes setores da população. A inclusão de câmeras em cada telefone celular e o acesso quase gratuito à mídia digital permitem que qualquer pessoa conte sua história através de imagens. No entanto, esse processo de “democratização” da tecnologia não é acompanhado por instâncias que promovam seu uso consciente. Para se apropriar do poder das imagens, é necessário saber o que podemos fazer com elas, o que elas fazem conosco, quem, por que e para que as produzem, como circulam e como podemos interpretá-las. A imagem fotográfica foi baseada, primeiro, em sua capacidade de capturar a realidade objetivamente. Mais tarde, foi expandida como uma maneira de transmitir uma
visão do mundo particular e única de cada autor. Essas duas suposições contam parte de sua história e suas propriedades, mas ocultam as práticas sociais que a articulam, o fato de que cada imagem é o resultado de uma cadeia produtiva de sentidos que envolve produtores, técnicas, autores, mídia, conhecimentos, ideologias que excedem tanto a realidade das coisas quanto a subjetividade do indivíduo. Ao mesmo tempo, as imagens fazem parte da nossa identidade, do nosso modo de estar no mundo. Esse modo está mudando o tempo todo. É composto de histórias e experiências que se sobrepõem, se complementam, se contradizem e disputam o sujeito. A imaginação é um campo de batalha essencial dessa disputa, e essa imaginação depende, em grande parte, das imagens às quais temos acesso. Portanto, um dos objetivos do CdF, desde a sua criação, tem sido consolidar um campo de pesquisa em fotografia no Uruguai e em toda a região. A publicação deste livro faz parte dessa política. Com ele, pretendemos expandir o conhecimento sobre as origens da fotografia e continuar tecendo uma rede latino-americana de produção e reflexão capaz de imaginar novas formas de estar no mundo. Centro de Fotografía de Montevideo 7
Sumário
Prefácio............................................................................................................................................. 10 Abreviaturas...................................................................................................................................... 15 Introdução. A bordo.........................................................................................................................18 Capítulo 1. Navegando ao redor do mundo: viagens e imagens......................................................... 32 Capítulo 2. A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’...................................... 64 Capítulo 3. A extraordinária missão do Oriental-Hydrographe............................................................ 96 Capítulo 4. Primeiras notícias e maus presságios.............................................................................. 128 Capítulo 5. ‘Coisa admirável e curiosa’: o daguerreótipo cruza o Atlântico Sul ................................ 160 Capítulo 6. O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas....................................................... 210 Conclusão. Seguindo viagem… ...................................................................................................... 248 Cronologia da invenção e difusão da daguerreotipia (1816-1842)...............................................268 Fontes consultadas.......................................................................................................................... 279 Manuscritos, periódicos e fontes diversas.......................................................................................... 279 Fontes específicas sobre o Oriental-Hydrographe ............................................................................... 283 Condições de admissão no Oriental-Hydrographe, redigidas pelo comandante (1839) ...................... 310 Relação dos participantes e registros de bordo do Oriental-Hydrographe (1839-1840) ...................... 313 Bibliografia..................................................................................................................................... 322 Índice das imagens ......................................................................................................................... 346 Índice remissivo.............................................................................................................................. 364 Agradecimentos.............................................................................................................................. 375
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Prefácio
Este livro merece ser lido por todos que se interessam pela história da fotografia, especialmente por sua introdução na América do Sul. A leitura tem um gosto especial de aventura ao seguir a história da expedição malograda do navio Oriental-Hydrographe que, além de se caracterizar como uma viagem de instrução para aprendizes da marinha mercante, pretendia também realizar a primeira volta ao mundo com uso da fotografia, difundindo por todos os continentes o primeiro processo fotográfico comercializado, que tinha como suporte daguerreótipos. Ao traçar a história da viagem de instrução para aprendizes da marinha mercante do navio Oriental-Hydrographe, Maria Inez Turazzi oferece nesse seu novo trabalho uma abordagem original da história dos primeiros daguerreótipos criados na América do Sul, no ano de 1840. No Rio de Janeiro e em Montevidéu, foram organizadas demonstrações públicas do processo fotográfico pioneiro denominado por associação ao nome de seu
inventor, o francês Louis-Jacques-Mandé Daguerre. Mesmo que os resultados de suas pesquisas já fossem conhecidos, foi somente em agosto de 1839 que a invenção de Daguerre foi colocada “ao alcance de todos” e consagrada numa sessão conjunta das Academias de Ciências e de Belas Artes, em Paris, na França. Nesse marco cronológico, pode-se dizer que graças ao Oriental-Hydrographe, que deixou o porto francês de Paimboeuf em 25 de setembro de 1839 e naufragou em águas chilenas em 23 de junho de 1840, a América do Sul foi rapidamente integrada no processo de difusão da fotografia. A historiografia especializada não ignora a criação das primeiras fotografias na América do Sul. A celebração do feito também levou à inauguração no Rio de Janeiro, em 2016, de um monumento público no local em que foram produzidos os primeiros daguerreótipos da cidade. Contudo, mesmo sendo um fato de significado histórico reconhecido, nem sempre a admiração pelas imagens 11
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pioneiras veio acompanhada de um estudo minucioso do contexto de sua produção. Considerando que na atualidade as imagens da época são bastante conhecidas e de fácil acesso pelos meios de comunicação modernos, a autora evitou percorrer os rumos tradicionais da historiografia que valoriza o inventário de imagens, fotógrafos e processos de evolução técnica da fotografia. A inovação da abordagem desenvolvida decorre do enfoque centrado na caracterização histórica do contexto de práticas fotográficas, tratando o equipamento fotográfico como sujeito da história. Como aponta o argumento principal do livro, a participação da câmara de daguerreotipia na expedição não pode ser encarada como resultado do acaso ou do improviso, pois tudo indica que se tratava da construção de uma rede de interesses comerciais, relações diplomáticas e intercâmbios culturais em torno da fotografia. Por outro lado, o naufrágio da embarcação afundou não apenas o programa de instrução de marinha mercante, mas igualmente o projeto inaugural de difusão da fotografia ao redor do mundo, com todos os apetrechos que envolviam a criação fotográfica registrada em daguerreótipos. O esquecimento acompanha de perto a trilha do fracasso marítimo da expedição naval do Oriental-Hydrographe, que passou por Portugal, Madeira, Canárias e Senegal, assim como pelo Brasil, Uruguai e Chile. Mas o pioneirismo no universo da fotografia em diversas paragens não deixou que a lembrança da viagem do Oriental-Hydrographe fosse eclipsada por inteiro. Mesmo depois de malograda a expedição, seu comandante ainda teve participação na introdução da fotografia na Austrália, estendendo no tempo e no espaço os efeitos do Oriental-Hydrographe. Interessa sublinhar que a autora soube enfren12
tar com destreza as astúcias da memória que envolvem o(s) objeto(s) de estudo da história. Além disso, tal como registra a autora, o estudo realizado também foi determinado pelas suas condições de pesquisa. Elas obrigaram o trabalho a se estender por anos para superar as dificuldades de integração de informações que se originam de documentação variada e dispersa em vários países. Assim, o estudo empreendido só se tornou possível ao longo dos anos, pois contemplou várias viagens para a consulta aos acervos de instituições diversas, e se completou graças à possibilidade contemporânea de cruzar fontes com o auxílio da internet. Cabe acrescentar ainda que a abordagem escolhida teve que contornar o domínio do recorte nacional na historiografia para enfrentar a análise de um caso exemplar de histórias conectadas em perspectiva transnacional, o que valoriza a originalidade do enfoque desenvolvido para a história da fotografia. O fato é que, depois de ler este livro, é impossível olhar do mesmo modo a antiga imagem da atual Praça xv de Novembro, no Rio de Janeiro, com o prédio do Paço Imperial em destaque, naquele distante ano de 1840. O olhar sobre esse daguerreótipo, com histórias e atribuições tão controvertidas, não escapa da relação com um enredo inesquecível com toques de aventura e tragédia, que integra a América do Sul em uma história global da fotografia nos seus primórdios e que define o instante da imagem como elemento de um processo histórico mais amplo. Paulo Knauss
Diretor do Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro, Brasil) Professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense
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Abreviaturas
ABL ABM AD-Be AD-Fr ADLA AMN AN-Br AN-Fr ANOM BHVP BIBNA BM BMF BMT BN-Cl BNP BnF BOR CADN CdF
Academia Brasileira de Letras – Rio de Janeiro (Brasil) Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira – Funchal (Região Autônoma da Madeira / Portugal) Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica) Archives diplomatiques du Ministère des affaires étrangères de France (“archives du Quai d’Orsay”) – Paris; La Courneuve (França) Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) Archives municipales de Nantes – Nantes (França) Arquivo Nacional – Rio de Janeiro (Brasil) Archives nationales – Paris (França) Archives nationales / Centre des archives d’Outre-Mer – Aix-en-Provence (França) Bibliothèque historique de la ville de Paris – Paris (França) Biblioteca Nacional de Uruguai – Montevidéu (Uruguai) The Bowes Museum – Durham (Inglaterra) Biblioteca Municipal de Funchal – Funchal (Região Autônoma da Madeira / Portugal) Bibliothèque municipale de Toulouse – Toulouse (França) Biblioteca Nacional de Chile – Santiago (Chile) Biblioteca Nacional de Portugal – Lisboa (Portugal) Bibliothèque nationale de France – Paris (França) Biblioteca de Obras Raras / Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro (Brasil) Centre des archives diplomatiques du Ministère des affaires étrangères – Nantes (França) Centro de Fotografia de Montevideo – Montevidéu (Uruguai) 15
CNAM-a&m CPF FBN FIRJAN GEM IF-AdS IHGB IMS - RJ JCB KBR IRPA MC MHC MHN-Ar MHN-Br MNH-Cl MHN-Uy MImp MImp-CG MLH MnM MMN MNN MNBA NLA NMM ON GETTY RGPL SDM SEIN SFP SHD-Marine SGL WPM 16
Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et métiers – Paris (França) Centro Português de Fotografia – Porto (Portugal) Fundação Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro (Brasil) Federação das Indústrias do Rio de Janeiro / Biblioteca – Rio de Janeiro (Brasil) George Eastman Museum – Rochester (Estados Unidos) Institut de France / Académie des Sciences – Paris (França) Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – Rio de Janeiro (Brasil) Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro (Brasil) John Carter Brown Library – Providence (Estados Unidos) Bibliothèque Royale de Belgique – Bruxelas (Bélgica) Institut royal du Patrimoine artistique – Bruxelas (Bélgica) Musée Carnavalet – Paris (França) Museo Histórico Cabildo – Montevidéu (Uruguai) Museo Historico Nacional – Buenos Aires (Argentina) Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro (Brasil) Museo Histórico Nacional de Chile – Santiago (Chile) Museo Histórico Nacional – Montevidéu (Uruguai) Museu Imperial – Petrópolis (Brasil) Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) Musée de la Légion d’Honneur – Paris (França) Musée national de la Marine – Paris (França) Museu Marítimo Nacional – Valparaíso (Chile) Musée Nicéphore Niépce – Chalon-sur-Saône (França) Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro (Brasil) National Library of Australia – Camberra (Austrália) National Maritime Museum – Greenwich (Inglaterra) Observatório Nacional – Rio de Janeiro (Brasil) The J. Paul Getty Museum – Los Angeles (Estados Unidos) Real Gabinete Português de Leitura – Rio de Janeiro (Brasil) Serviço de Documentação da Marinha – Rio de Janeiro (Brasil) Société d’encouragement pour l’industrie nationale – Paris (França) Société française de photographie – Paris (França) Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França) Sociedade de Geografia de Lisboa – Lisboa (Portugal) Westlicht Photography Museum – Viena (Áustria)
A cidade e o porto de Nantes, vistos a partir do cais de Salorges, no álbum de gravuras da França marítima, c. 1823-1832. A imagem integra a coleção de 64 marinhas criadas por Ambroise-Louis Garneray para o álbum de gravuras Vues des côtes de France dans l’Océan et la Méditerranée, lançado em fascículos (Paris, 1823-1832).
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Introdução A bordo
As imagens de crianças despojadas de sua infância pela precocidade e dureza da navegação já eram bem conhecidas quando o Oriental-Hydrographe deixou a França, em 25 de setembro de 1839, para uma longa viagem ao redor do mundo. O navio levantou âncoras em Paimboeuf, entre as cidades de Nantes e Saint-Nazaire, no grande complexo portuário localizado no rio Loire, diante do oceano Atlântico. Os jovens franceses e belgas que participavam da expedição tinham, no entanto, outras expectativas para a sua primeira experiência em navegação de longo curso. Aspirantes ao comando da marinha mercante ou simples marujos, todos haviam embarcado no Oriental-Hydrographe com a promessa de um futuro grandioso na bagagem. O menino Jules Verne bem poderia ser um daqueles aprendizes. Nascido em Nantes, em 1828, ele fugiu de casa, aos onze anos, para se aventurar em uma viagem à Índia, como grumete. Recapturado pela família em
Paimboeuf, dedicou o resto de sua vida a escrever as histórias fantásticas que gostaria de ter vivido na frustrada tentativa de explorar a imensidão do planeta.1 Extensa e original, a obra do escritor traz muitas referências do cenário marítimo de sua infância, destacando-se em meio à ampla literatura de viagens do século XIX pelo otimismo científico-tecnológico e uma incrível capacidade de antecipar inventos que só se transformariam em realidade muito mais tarde.2 Além de estimular a imaginação de gerações de leitores obcecados pela experiência de uma viagem, os livros de Jules Verne ilustraram, com suas fantasias futuristas, a confiança inabalável de uma época no progresso industrial e na missão civilizadora da cultura europeia. O ano de 1839 vivia a excitação provocada pelo anúncio de uma invenção que mal começava a ser chamada de fotografia e pelas primeiras apresentações públicas da novidade. Entre outros instrumentos que o 19
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Literatura para “instruir”, em 1835: “as viagens de um estudante nas cinco partes do mundo”, em edição do século XVIII, revista e aumentada. A obra de P. Navarre, Amusements géographiques et historiques, ou les mémoires de M.*** contenant ses voyages et ses aventures dans les quatre parties du monde (Paris, 1786), publicada com a aprovação do rei como “obra que poderia ser bastante útil à juventude”, foi revista e ampliada na primeira metade do século XIX, em diversas edições.
Oriental-Hydrographe levava a bordo, o navio já içou velas com todos os apetrechos para a obtenção de imagens fotomecânicas com um daguerreótipo. A palavra também era nova e o seu uso, a princípio restrito ao procedimento fotográfico obtido com a câmera escura, logo alcançou outros significados, envolven20
do também o aparelho e a própria imagem.3 A presença do equipamento, a iniciativa de empregá-lo e as demonstrações realizadas nos portos por onde passaram os viajantes do Oriental-Hydrographe deveriam ter garantido a essa expedição, por si só, um lugar de destaque na história das viagens marítimas do período. Mas a experiência do Oriental-Hydrographe, marcada por transações obscuras e malogros indesejáveis, acabou esquecida pelos anais marítimos, assim como pela historiografia que tratou da expansão europeia e das missões navais da primeira metade do século XIX. Malsinada e controvertida, antes mesmo de seu naufrágio em águas chilenas, em 23 de junho de 1840, a expedição do Oriental-Hydrographe continuaria submersa por mais de um século, embora dessa experiência tenha resultado uma história extraordinária. Afinal, dela fariam parte as primeiras demonstrações públicas do daguerreótipo em países como Portugal, Brasil e Uruguai, entre outros ensaios na costa do Senegal (Goréia) e, possivelmente, nas ilhas do Atlântico Norte (Madeira e Tenerife). Ao longo do século XX, historiadores, conservadores e colecionadores latino-americanos, baseados em escassas referências obtidas nos jornais locais, tornaram conhecidas as primeiras notícias e imagens fotográficas relacionadas com a expedição em cidades como o Rio de Janeiro e Montevidéu, mas mencionaram apenas de passagem a natureza da viagem e as circunstâncias que trouxeram a novidade ao Atlântico Sul.4 As primeiras demonstrações do invento tendiam a ser consideradas como acontecimentos surpreendentes e excepcionais, pois os segredos que envolviam a prática da daguerreotipia tinham acabado de ser revelados ao mundo quando o navio deixou a França. Com esse
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enquadramento, a presença de um daguerreótipo a bordo do Oriental-Hydrographe parecia relevante somente para a história da fotografia, isto é, para uma história isolada em si mesma. A perspectiva centrada na prioridade dos experimentos fotográficos e na biografia dos primeiros daguerreotipistas, bem como a impossibilidade de realizar os cruzamentos em acervos documentais diversos, hoje viabilizados pela internet, adiaram a tarefa de construir e analisar toda a rede de dispositivos técnicos e significados culturais, complexos e interdependentes que envolveu a difusão da fotografia e as viagens navais, o mundo visual e o universo marítimo. Para tanto, é necessário conhecer também a relação que pode ser estabelecida entre essas experiências, as ambições que lhes deram origem e as razões de seu esquecimento, mais abrangentes e duradouras do que costumamos supor. Essa tarefa é tão importante quanto rememorar as primeiras demonstrações do daguerreótipo na América do Sul e, naturalmente, cuidar da preservação e fruição desse patrimônio comum. Refiro-me aqui, entre outras questões que serão desenvolvidas ao longo do livro, à ideia de conceber a fotografia como uma arte sem pré-requisitos, ao alcance de qualquer um.5 Em um prospecto impresso ainda em fins de 1838, Louis-Jaques-Mandé Daguerre explicitou essa ambição, ao anunciar publicamente o invento que levava seu nome: Daguerreótipo A descoberta que comunico ao público está entre as poucas que, por seus princípios, seus resultados e a promissora influência que deverá exercer sobre as artes, se situam naturalmente entre as mais úteis e extraordinárias invenções. [...]
Introdução
A América do Sul, desenhada por A-H. Dufour, sob a direção de Alcide d’Orbigny, naturalista e explorador francês que percorreu o continente, entre 1826 e 1834. Geógrafo e editor de mapas, Dufour trabalhou com diversos naturalistas, cartógrafos e gravadores, tendo publicado mapas e atlas de várias partes do mundo.
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Paimboeuf
Valparaíso
A rota programada pelo OH. A rota seguida pelo OH, entre setembro de 1839 e junho de 1840.
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Introdução
Com este procedimento, sem qualquer noção de desenho, sem qualquer conhecimento de química e física, poder-se-á em alguns minutos obter os pontos de vista mais detalhados e os locais mais pitorescos, pois os meios de execução são simples e não exigem qualquer conhecimento especial para serem praticados, necessitando-se apenas de atenção e um pouco de prática para ser completamente bem-sucedido. Louis Daguerre6
A viagem do Oriental-Hydrographe com uma aparelhagem de daguerreotipia, logo depois de o processo ser explanado em uma reunião conjunta das Academias de Ciências e de Belas Artes de Paris, em 19 de agosto de 1839, representava uma aposta nessa direção. No entanto, as conexões entre um acontecimento considerado “fundador” para a história da fotografia e a multiplicidade de tempos e espaços de uma “viagem de instrução”, preparada para dar a volta ao mundo com o invento, continuariam obscuras até fins do século passado. Por muito tempo, as referências sobre a história dessa expedição foram bastante escassas e seus personagens quase não deixaram rastros. Informações mais detalhadas sobre o Oriental-Hydrographe chegaram aos historiadores latino-americanos somente em princípios deste século, com a divulgação, já em meio digital, de dois artigos. O mais antigo, publicado em 1970, foi escrito pelo médico francês Adrien Carré. Ele representa o resultado de anos de pesquisas sobre a história da Marinha francesa e a coleta de muitas fontes sobre a viagem do Oriental-Hydrographe, mas o pesquisador desconhecia a presença do aparelho de daguerreotipia na expedição.7 O outro artigo, publicado em 1994, foi escrito pelo pesquisador
Retrato em daguerreotipia de Louis-Jacques-Mandé Daguerre, com a condecoração da Legião de Honra da França, 1844.
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A singularidade do Oriental-Hydrographe, para Adrien Carré O artigo “La singulière histoire de l’Oriental-Hydrographe”, publicado no boletim do Comitê Nantês de Documentação Histórica da Marinha (Comité Nantais de Documentation Historique de la Marine), em 1970, conduziu esta pesquisa até Adrien Carré (1908-1999) e seu arquivo pessoal. Formado em medicina, o autor exerceu a carreira na Armada francesa com a convicção de que deveria “saber tudo sobre a Marinha”. Tornou-se um historiador das experiências adquiridas nesse universo, enriquecendo-as com as leituras e estudos de um aficionado pela vida no mar. Carré sintetizou algumas singularidades do Oriental-Hydrographe, mencionando a intenção de escrever uma obra mais abrangente sobre o tema, o que não chegou a fazer. Rico em detalhes, embora com uma ordenação dos fatos um pouco confusa, o seu texto não faz qualquer referência à invenção da fotografia. Em meados de 2001, a leitura desse artigo, em meio a outros documentos sobre o Oriental-Hydrographe localizados no Serviço Histórico da Marinha (Service Historique de la Marine), no Castelo de Vincennes, em Paris, representou uma grande descoberta, pois abriu novas trilhas para a pesquisa, já em curso nos jornais e arquivos ministeriais franceses. O texto de Carré também trazia comentários e juízos de valor reveladores, bem como dados biográficos sobre os personagens. Em tempos pré-digitais, esses dados eram bem difíceis de encontrar. O historiador, contudo, não oferecia indicações muito claras sobre o paradeiro de suas fontes. Apenas pistas, para quem já estivesse no caminho... Localizar essas informações, nos anos seguintes, foi outro desafio, até a oportunidade de pesquisar novamente a documentação do Serviço Histórico da Marinha, em janeiro de 2008. Para minha surpresa, o arquivo pessoal de Adrien Carré estava, desde 2006, aberto à consulta. As buscas e as dificuldades de Carré para chegar ao seu artigo estão registradas em ampla correspondência com historiadores, associações culturais, instituições arquivísticas, além de descendentes de aprendizes e passageiros. O arquivo também reúne a transcrição manuscrita e a reprodução fotográfica de algumas fontes primárias, com uma ausência bastante lamentada pelo historiador: faltava-lhe a correspondência sobre o naufrágio do navio enviada pelo cônsul-geral da França no Chile.8 Essa documentação, felizmente, tinha sido localizada e transcrita para este projeto, em 2001, nos arquivos do Ministério de Assuntos Exteriores (Ministère des affaires étrangères), localizados à época no Quai d’Orsay. O arquivo de Adrien Carré tornou possível, portanto, complementar ou rever várias informações sobre a expedição do Oriental-Hydrographe. O acesso a esses papéis também confirmou a ideia, desde a leitura de seu artigo, de que o historiador não chegou a conhecer as démarches do capitão Lucas para a aquisição, utilização e demonstração do aparelho de daguerreotipia em sua viagem ao redor do mundo. Afinal, se soubesse, ele teria ficado ainda mais fascinado pela singularidade dessa expedição.
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em biomedicina Rupert Derek Wood, pioneiro na criação de um endereço virtual para divulgar esse tipo de trabalho.9 O texto de Wood, além de tornar conhecidas as pesquisas de Carré, tratava mais detidamente da introdução da fotografia na Austrália, para onde seguiu o comandante do Oriental-Hydrographe, depois do naufrágio do navio.10 O estudo da viagem do Oriental-Hydrographe representou, assim, uma oportunidade fecunda para a combinação de perspectivas mais amplas com a necessária pesquisa documental e bibliográfica sobre uma história ainda cercada de lacunas e indagações. A presença de um aparelho de daguerreotipia a bordo da expedição tinha sua razão de ser em um ideário bastante ambicioso e os desdobramentos dessa ideia, no âmbito das relações internacionais da primeira metade do século XIX e das experiências culturais em curso, evidenciavam ainda mais a “singularidade” dessa viagem de circum-navegação. Mesmo sem completar a volta ao mundo prometida àqueles que embarcaram na expedição, ela carregava consigo o projeto de uma arte colocada “ao alcance de todos”, em um contexto de mudanças estruturais na economia e na cultura visual. O simbolismo dessa ideia e a iniciativa de levá-la aos quatro cantos do planeta, tanto quanto os aspectos ainda desconhecidos na concretização do empreendimento, fazem da história do Oriental-Hydrographe um enredo complexo, abrangente e multifacetado. O aparelhamento da expedição com a câmara de daguerreotipia não foi, como se verá aqui, uma decisão improvisada e casual, às vésperas da partida, mas um dos elos de uma complexa rede de interesses comerciais, transações diplomáticas, intercâmbios científicos e mudanças culturais. Os nexos estabelecidos na interpretação dessa experiência con-
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Introdução
vergem para o argumento de que a expedição teve início já com a expectativa de figurar nos anais da história marítima como a primeira viagem ao redor do mundo a empregar a novidade representada pela fotografia. Por outro lado, as circunstâncias nebulosas que envolveram a preparação, o transcurso e o naufrágio da expedição contêm todos os ingredientes de uma viagem marítima que, de fato, convida a uma leitura imaginativa dos vestígios que ela deixou e do enredo envolvendo aqueles que ficaram esquecidos. Muitas histórias se interconectam a partir dessa experiência, tanto em suas escalas geográficas, quanto em seus enfoques temáticos, segundo a perspectiva apontada por Roger Chartier: Concebidos como um espaço aberto a múltiplas leituras, os textos e também todas as categorias de imagens não podem, então, ser apreendidos nem como objetos cuja distribuição bastaria identificar, nem como entidades cujo significado se colocaria em termos universais, mas presos na rede contraditória das utilizações que os constituem historicamente.11
A disposição para localizar, reproduzir e investigar as fontes sobre o Oriental-Hydrographe que se encontram dispersas em instituições brasileiras e estrangeiras surgiu durante as comemorações pelo sesquicentenário da invenção da fotografia, no Paço Imperial (centro do Rio de Janeiro), em 1989. O projeto foi iniciado, de fato, em 2001, com a temporada de um ano vivida na França, quando iniciei os levantamentos documentais e encontrei os artigos de Carré e Wood. De lá para cá, o trabalho de pesquisa também abrangeu a transcrição e/ou reprodução de dezenas de documentos manuscritos
e impressos, textuais e visuais, em diversos idiomas e condições de manuseio, localizados em arquivos, museus, bibliotecas e coleções particulares de vários países, notadamente França, Bélgica, Portugal, Brasil, Chile e Uruguai. Nos últimos anos, esse levantamento foi enriquecido pelas fontes digitais que vieram completar, ampliar ou interligar muitas informações obtidas anteriormente pelos meios convencionais, ou simplesmente desconhecidas até então. Por outro lado, os dados coletados foram lidos com a perspectiva, compartilhada por outros autores, de analisar as fontes documentais como práticas e representações inseridas na história de sua cultura.12 A presença das viagens e das imagens, bem como do Oriental-Hydrographe e da daguerreotipia nos jornais da época, em diferentes latitudes, foi observada com especial atenção no “século da imprensa”, para usar aqui a expressão
Selo comemorativo do sesquicentenário da primeira fotografia no rio da Prata, 1840-1990.
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ela almeja, e uma questão cultural, uma vez que difunde ou cria novas formas culturais em uma era de aceleração das modas e da difusão do conhecimento.13
O registro da equipagem do OH, na Inscrição Marítima de Nantes, às vésperas da viagem, 1839. O documento fixava, no armamento do navio, as condições de contratação e os direitos adquiridos pelos tripulantes, para fins de comprovação da carreira.
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empregada por Christophe Charle ao sintetizar a dimensão assumida pelos jornais, a partir da década de 1830: A mídia de massa é, ao mesmo tempo, uma questão de poder (informar é influenciar), uma questão econômica (um jornal é um negócio e um meio de luta no campo econômico, através da publicidade), uma questão social, em função do público que
Entre 2001 e a concretização do livro que o leitor tem em mãos, a pesquisa foi interrompida em várias ocasiões e, ao mesmo tempo, divulgada em oportunidades que se apresentaram, com o inestimável apoio de muitas pessoas e instituições.14 Em 2010, a criação de uma página na internet sobre o Oriental-Hydrographe e os artigos publicados na Revista de História da Biblioteca Nacional e na Revista Acervo do Arquivo Nacional disponibilizaram os resultados iniciais desta “viagem pessoal” por um tema tão instigante.15 Em 2014, o colecionador português Alexandre Ramires lançou uma publicação sobre a presença do daguerreótipo e do fisionotipo a bordo do Oriental-Hydrographe e, em especial, a sua passagem por Lisboa, já referenciando a contribuição desses primeiros artigos em uma obra ilustrada com a rica iconografia de seu acervo pessoal.16 Em 2016, a inauguração de um marco comemorativo da introdução da fotografia no Rio de Janeiro, cidade olímpica, concebido pelo fotógrafo Milton Guran, com o apoio do governo da França, ensejou uma nova publicação sobre o tema, com textos de Pedro Karp Vasquez e desta autora.17 A experiência do Oriental-Hydrographe, as demonstrações da fotografia na passagem da expedição pelos portos visitados e os cruzamentos dessa história com outras questões da época continuavam, no entanto, à espera de uma iniciativa editorial abrangente e multifacetada, indispensável aos pesquisadores que se debruçam sobre assuntos afins e, ao mesmo tempo, mais acessível ao público em geral, inclusive através da internet. Afinal,
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Introdução
A cidade e o porto do Rio de Janeiro, destacando-se o mosteiro de São Bento, ao centro, e diversos tipos de embarcação, c. 1835. A imagem criada pela imaginação de Garneray representa um porto mítico para os franceses, já desde o século XVI, ocupado agora pela tranquila presença de navios com a bandeira da França, sinal da recuperação e extensão de sua força naval.
os historiadores e seus leitores também vivenciam, cada vez mais, a mobilidade internacional e as conexões globais que influenciam as suas escolhas e os seus projetos.18 Essas conexões, no caso do Oriental-Hydrographe, só podem ser compreendidas pela interação entre os lugares, as práticas e os saberes envolvidos nessa história. Navegação, hidrografia, cartografia e comunicação, entre outros temas, ligam-se aqui aos modos de constituição do espaço planetário, quer em termos materiais, quer em termos simbólicos. Bases navais, protetorados e colônias agrícolas respondiam
à necessidade crescente de multiplicação dos mercados para além do velho continente.19 A viagem do Oriental-Hydrographe, marcada pela ambição de que os portos do planeta deveriam estar abertos aos negócios, aos inventos e às luzes da Europa, é também a história de uma expedição singular, nos oceanos Atlântico e Pacífico, e seu controvertido naufrágio, na perspectiva de uma história global.20 O lançamento deste livro, em versão digital e impressa, em três idiomas, concretizando assim um esforço de pesquisa e divulgação da história do Oriental-Hydrographe 27
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Vista do porto de Montevidéu, por Adolphe d’Hastrel, 1840. O capitão de artilharia Adolphe d’Hastrel esteve na América do Sul, na década de 1830, integrando as forças navais francesas estacionadas na região do Prata. Desenhista, aquarelista e litógrafo, d’Hastrel não chegou a assistir à demonstração do daguerreótipo em Montevidéu, em fevereiro de 1840, pois tinha viajado pouco antes para o Rio de Janeiro, onde o capelão Louis Comte tinha acabado de apresentar a novidade trazida pelo Oriental-Hydrographe. De volta à França, em 1841, escrevia ao amigo argentino Florêncio Varela, exilado no Uruguai, sobre o aprendizado comum da prática fotográfica que, àquela altura, ambos praticavam.
há muito almejado, se tornou possível agora graças ao apoio e ao entusiasmo pelo projeto de toda a equipe do Centro de Fotografia de Montevidéu. Como obra de síntese, destinada a um público diversificado, sem abrir mão da profundidade da análise, a narrativa adotada deixou de fora discussões historiográficas e comentários bibliográficos exaustivos. Os capítulos estão concentrados em cidades como Paris, Bruxelas, Lisboa, Funchal, Salvador, Rio de Janeiro, Montevidéu e Valparaíso, cenários do desenrolar da expedição e dos interesses que estavam em jogo, entre os anos de 1839-1840. A cidade, afinal, é o espaço de predileção da política e da imagem: Na cidade, a política se apodera do tempo e, criando a ilusão de dominá-lo, instala-
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se na sua duração – como se estivesse fora do alcance dos sobressaltos do mundo. Na cidade, a política também se apodera da imagem e o excesso que demostra no que é acessório muitas vezes lhe permite mascarar o essencial. É bem para isto que servem as imagens de cidades: para teatralizar a política.21
Neste sentido, este livro procura situar em uma perspectiva transnacional a intrincada rede de atores, acontecimentos e lugares que marcaram a história do Oriental-Hydrographe, contemplando a complexidade das conexões econômicas, políticas e culturais dessa experiência marítima com uma abordagem do seu contexto histórico informada pela cultura visual no Oitocentos. Por esta razão,
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as imagens selecionadas para a publicação são igualmente representativas de um mundo em acelerado processo de mudança quanto às estratégias de criação, observação e utilização das imagens visuais. Um mundo ainda dado a ver por desenhos, pinturas, gravuras e litografias, amplamente reproduzidas nestas páginas que, em 1839, assistiu fascinado ao aparecimento da fotografia e suas promessas.22 O livro tem como pano de fundo, contudo, uma dimensão espaço-temporal que não se restringe às cidades indicadas, nem aos anos 1839-1840, sendo também alcançado por narrativas textuais e visuais de viagens marítimas anteriores ou contemporâneas, assim como por notícias e imagens que circulavam em escala internacional através de livros e periódicos. A viagem ao redor do mundo do Oriental-Hydrographe e a incorporação da daguerreotipia ao empreendimento integravam um movimento de difusão do conhecimento iniciado muito antes da partida da expedição. As grandes descobertas que caracterizaram a expansão marítima e comercial europeia nos séculos XV e XVI ganharam novo impulso no século XVIII, com o desenvolvimento da indústria naval, a criação de instrumentos náuticos e o aperfeiçoamento dos métodos de documentação e impressão. As expedições da primeira metade do século XIX, voltadas para a exploração e o mapeamento de novos territórios, foram largamente beneficiadas por essas melhorias. Por outro lado, a expansão colonial e o tráfico de escravos, resultando em processos migratórios e deslocamentos forçados de indivíduos e grupos humanos, provocavam a mobilidade (quando não o extermínio) de uma parcela considerável da população mundial. A crescente circulação de pessoas, saberes e produtos no capitalismo internacional e o incremento das viagens de
Introdução
A viagem do OH, anunciada em março de 1839: Expedição do navio Hydrographe (navio-escola). Viagem ao redor do mundo, sob os auspícios do governo, para a educação dos jovens em geral e, particularmente, para aqueles que se destinam à Marinha mercante ou ao comércio.
todo tipo também traduziam, em termos materiais e simbólicos, toda a extensão do multiculturalismo que se formava. Viagens e imagens são, portanto, eixos complementares e interdependentes na história do Oriental-Hydrographe. A expressão “a bordo”, no título desta Introdução, parece assim justificada. Em dicionários marítimos, ela indica as duas partes nas quais se divide uma embarcação, no plano longitudinal. O seu uso aqui, em sentido figurado, tem a intenção de sugerir ao leitor que “embarque” neste livro com certa disposição de espírito diante das “brumas” que, por tanto tempo, envolveram essa história, aventurando-se conosco na viagem do Oriental-Hydrographe (desde já, simplesmente OH). 29
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Oriental-Hydrographe O capitão Augustin Lucas, quando concebeu uma inédita viagem ao redor do mundo para os aprendizes da marinha mercante, escolheu também um nome para o navio que concretizaria o seu empreendimento. Ele esperava, àquela altura, contar com um navio da Marinha francesa. A palavra hydrographe (hidrógrafo) devia exprimir a natureza científica e, ao mesmo tempo, utilitária da expedição, pois representava o especialista em uma disciplina moderna, bastante desenvolvida pelos franceses desde fins do século XVIII, essencial à segurança das viagens marítimas. Em síntese, a hidrografia provia um método de levantamento e representação gráfica da topografia marítima e do regime das águas, com a aplicação da astronomia e outras ciências, que conferiu notável precisão à cartografia e à navegação. As cartas hidrográficas da primeira metade do século XIX, além de sistematizarem a representação do litoral, traziam a medição da profundidade das águas, as correntes marítimas e a frequência das marés, as declividades do solo, a descrição das rochas e outros elementos físicos de oceanos, mares, lagos e rios, bem como as suas mudanças ao longo do tempo. O nome Hydrographe escolhido pelo capitão Lucas não foi, portanto, uma preferência ao acaso. O Oriental, um grande veleiro com denominação comum à época, já servia à navegação comercial, em viagens de médio e longo curso, até ser fretado para a expedição. Pertencente a dois armadores de Nantes, o Oriental tinha um tamanho menor do que o imaginado por Lucas e só foi incorporado ao empreendimento às vésperas do início da viagem, na falta de outra opção. Ainda assim, a iniciativa representou uma solução oportuna para o capitão viabilizar o projeto e um acordo vantajoso entre as partes. Em caso de naufrágio, o navio estaria protegido, como de praxe, por um seguro marítimo e, ao final da expedição, os armadores receberiam parte do pagamento devido pelos alunos. Em diversos documentos da época, a viagem do Oriental-Hydrographe foi tratada ora pelo seu nome original, ora pelo nome do navio, ora pela junção de ambos. Na Bélgica, por exemplo, mesmo depois de o Oriental já estar incorporado ao empreendimento, as autoridades locais continuaram se referindo à “viagem de instrução” pelo nome Hydrographe, enquanto parte da imprensa fazia menção a ambos. Chegando à América do Sul, os registros portuários e os jornais da época empregaram com maior frequência o nome Oriental, referência ainda comum para a denominação do navio que trouxe o daguerreótipo ao continente, embora ela seja incompleta para representar, com maior fidelidade, a história da expedição como um todo.
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Detalhe da composição de Ambroise-Louis Garneray, célebre pintor de marinhas da primeira metade do século XIX. Ambroise-Louis Garneray (1783-1857) ingressou na Marinha francesa, aos 13 anos, já tendo aprendido as primeiras noções de sua arte com o pai, pintor do rei. Nas guerras napoleônicas, participou de expedições, combates e aventuras que o levaram ao Oceano Indico e outros mares durante, até ser capturado pelos ingleses, em 1806, e passar oito anos como prisioneiro. Ainda assim, ganhou algum dinheiro com o lápis e o pincel vendendo imagens para um editor de estampas. O comércio de desenhos, aquarelas e gravuras era agora um mercado em franca expansão. Retornando à França, tornou-se “pintor da Marinha”, em 1817, quando passou a produzir cenas marítimas e portuárias da costa francesa que lhe deram reconhecimento, em um país que precisava recuperar a imagem de sua força naval. Como muitos artistas de seu tempo, conheceu pessoalmente o rei Louis-Philippe e conviveu com aristocratas, banqueiros e homens públicos que o ajudaram a conseguir as encomendas que celebraram seu nome e sua obra. Entre 1817 e 1857, as marinhas de Garneray participaram regularmente dos Salões de Belas Artes de Paris. A série «Collection générale des vues de ports de mer dans l’Ocean et dans la Méditerranée», iniciada em 1832, publicou a obra de Garneray e outros gravadores, com grande sucesso. Nesse mesmo ano, ele foi nomeado conservador do Museu de Rouen. O artista deixou mais de uma centena de óleos sobre tela, aquarelas e gravuras da França marítima e outros portos do planeta, além de relatos de viagens e memórias publicados em sua autobiografia.
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Introdução 1. [Marcel Moré], “Jules Verne (18281905)”, In: Verne, 2002, p. 503. 2. Moré, 1960. 3. Françoise Reynaud. “Le daguerréotype comme objet”. In : Bajac e Planchon-DeFont-Réaulx, 2003, p. 90. 4. Ver, por exemplo, Saldanha, 1936; Santos, 1942; Riobó, 1942, Ferrez, 1953, 1985; Kossoy, 1980; Vasquez, 1985; Gómez, 1986; Gesualdo, 1990; Alexander, 1992; Adelman, Cuarterolo e Priamo, 1995; Turazzi, 1995; Gutierrez, Mendez e Zuñiga, 1997; Varese, 1998; Ferrari e Alexander, 1998; entre outros. 5. Brunet, 2000, esp. p. 21. 6. Prospecto anunciando a invenção do daguerreótipo e a exposição de cerca de quarenta imagens que seria realizada em 15 de janeiro de 1839. O único exemplar conhecido desse prospecto encontra-se no Museu George Eastman. Documento reproduzido por Reynaud et al, 1989, p. 22 e Roubert, 2006, p. 21. 7. Carré, 1970. 8. Carré, 1970, p. 29. 9. Cf. Wood, 1996. O artigo de Wood foi publicado a primeira vez em 1994, mas foi revisado e disponibilizado em versões impressas e digitais posteriores, adotando-se aqui a paginação relativa à edição de 1996. O artigo também foi reimpresso em Foucrier, 2005, pp. 69-79. 10. Os artigos de Carré e Wood foram disponibilizados no site FotoPlus, em www.fotoplus.com/, e agora também pelo Centro de Fotografia de Montevidéu, em http://cdf.montevideo.gub.uy/ Todos os artigos de Wood encontram-se disponíveis no site www.midley.co.uk/. 11. Chartier, 1988, p. 61. 12. Chartier, 1988; Frade, 1992; Brunet, 2000; Roubert, 2006; Belting, 2009, entre outras referências que podem ser encontradas na Bibliografia ao final deste livro. 13. Charle, 2004, p. 12.
Introdução
14. Os agradecimentos, desculpando-me por alguma omissão involuntária, estão explicitados em outra parte deste livro. 15. Turazzi, 2000a (FBN) e 2000b (AN). O endereço www.orientalhydrographe. com esteve ativo por alguns anos, apresentando imagens, textos e a cronologia da expedição. O objetivo de reproduzir também os documentos pesquisados não pode, no entanto, ser concretizado. 16. Ramires, 2014. Agradeço ao autor o envio de seu livro. Em 2015, a UCV TV (Corporação de Televisão da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso) exibiu o documentário Un naufragio porteño, quarto episódio da série “Naufragios”, dirigida pelo cineasta Tevo Díaz, focalizando a história de “La Oriental”. Sobre o documentário, ver www.plazaespectaculos.cl/2015/09/23/naufragios-reflota-la-increible-historia-de-la-oriental/ e www. youtube.com/watch?v=e5rx5G7rnkQ. 17. Turazzi, 2016. 18. Conrad, 2016; Fernández-Armesto, 2009. 19. Taillemite, 1987; 1999; Legoherel, 1999; Rioux, 2007. 20. Novas perspectivas sobre o Atlântico Sul têm focalizado problemáticas específicas desse espaço geográfico e discursivo de múltiplas dimensões. Cf. Alencastro, 2015; Bystrom e Slaughter, 2018. 21. Vidal, 2014, p. 60. 22. O estudo e a preservação da coleção Geyer, doada ao Museu Imperial (Petrópolis, Brasil), ofereceu-me a oportunidade de um convívio intenso com esse patrimônio documental e a visualidade do Oitocentos.
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A América do Sul representada em um atlas voltado para a difusão dos novos conhecimentos sobre a América, a África, a China, o Japão e outras regiões do planeta, no século XVIII. O mapa integra o Atlas Historique, ou nouvelle introduction à l’histoire, à l’chronologie et à la geographie ancienne et moderne, publicado em sete volumes, entre 1705 e 1720, pelo editor francês Henry Abraham Chatelain, com reedições em 1732 e 1739. O atlas reunia não apenas os novos conhecimentos de geografia que enriqueciam a cartografia da época, como também uma grande quantidade de informações genealógicas, políticas e históricas das diferentes regiões contempladas pelo editor. A obra teve ampla circulação na Europa ilustrada do século XVIII.
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Navegando ao redor do mundo: viagens e imagens
A circum-navegação, dentre todos os tipos de viagem pelo planeta, constitui há tempos a mais singular das expedições humanas, não apenas marítimas, como no passado, mas hoje também aéreas ou terrestres.1 O Museo Universal (1837-1842), jornal de inspiração francesa dedicado à “recreação das famílias”, prometia trazer aos leitores do Rio de Janeiro as maravilhas do mundo explicadas pelos “circum-navegantes de maior nome”.2 A especificidade da viagem contribuiu, assim, para a criação de um tipo singular de narrador.3 A história da circum-navegação oceânica, por isto mesmo, está repleta de homens, embarcações, expedições e narrativas célebres. Por outro lado, o grande protagonista do enredo “fascinante e enigmático” de um mundo aberto à navegação foi, e continuará sendo, o mar: o que antes era um “espaço infinito, de medo e de desconhecimento”, transformou-se em um espaço “navegável em todas as direções e em todas as distâncias”.4
As determinações e figurações desse personagem incomensurável da vida humana ajudam a compreender as oscilações e as turbulências por onde navegou o OH. Os antigos glossários náuticos definiam a expressão oriunda do latim navegatio circum como uma “viagem de descobertas” ao redor da Terra, aspecto intrínseco às primeiras explorações do gênero.5 A longa duração, rotas desconhecidas e os riscos da viagem eram características comuns a essas expedições, cercadas de expectativas tão grandes quanto os preparativos que as antecediam. Coube ao português Fernão de Magalhães, navegador a serviço da Coroa e mercadores espanhóis, a consagração de ter realizado a primeira viagem de circum-navegação de que se tem notícia. O feito está completando quinhentos anos: partindo de Sevilha em direção às Índias, em 20 de setembro de 1519, a expedição seguiu por uma rota nunca experimentada, com uma esquadra de cinco navios e 33
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Cena imaginada no século XIX: “a preparação de um jantar de canibais no Brasil, no tempo da conquista”. A ilustração para a coleção Le monde, histoire de tous les peuples (Paris, 1838-1840) revisita uma temática e sua visualidade desconcertante já bastante exploradas pelos primeiros relatos de viagens ao Novo Mundo.
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tripulação de diversas procedências. Magalhães atravessou o Atlântico, reabasteceu suas provisões no Rio de Janeiro e daí seguiu para o extremo sul do continente americano, até cruzar a estreita passagem, que depois levaria o seu nome, para o chamado “grande oceano”. Lendário e desconhecido, o Pacífico deveria conduzir a expedição até as riquezas do Oriente, acreditando-se que ele correspondia a um mar menos tormentoso do que o Atlântico. Em 21 de outubro de 1520, Magalhães
abriu à navegação europeia o maior oceano da Terra, mas depois de grandes dificuldades, incluindo o naufrágio de um dos seus navios, acabou morrendo em uma ilha das Filipinas, atacado por nativos. As descobertas e desventuras do célebre navegador, como em tantas outras viagens, foram documentadas pelo historiógrafo da expedição, mas permaneceram guardadas sob segredo por muito tempo, estratégia comum à época para afastar a concorrência de exploradores indesejáveis.6
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Dois séculos e meio depois da primeira circum-navegação e após mais de duas dezenas de expedições exploratórias ao redor do mundo nos anais da história naval, um militar de carreira e matemático proeminente iniciou pelo porto de Nantes, em 15 de novembro de 1766, a primeira viagem do gênero organizada sob a proteção do rei da França.7 Como outros navegadores de seu tempo, o conde Louis-Antoine de Bougainville, nascido em Paris, partiu em busca de um minucioso e exaustivo conhecimento das regiões e populações do planeta que se abriam à descoberta e à conquista. O interesse em reassentar colonos franceses nas ilhas Malvinas, reivindicadas por espanhóis e ingleses, daria ao Atlântico Sul um lugar de destaque no roteiro da expedição, incluindo nesse percurso a sua passagem pelos portos do Rio de Janeiro e Montevidéu. No Pacífico, o contato de Bougainville com os nativos do Taiti e as observações que produziu sobre o modo de viver do “bom selvagem”, sem os vícios da civilização, deram grande popularidade aos resultados dessa experiência. Os relatos e as imagens foram publicados com o título Voyage autour du monde par la frégate du roi la Boudeuse et la flûte l’Etoile, em 1766, 1767, 1768, 1769, sous le commandement de M. de Bougainville (Paris, 1871). Bougainville transformou-se, desde então, em figura emblemática do viajante ilustrado, uma fonte de inspiração e uma referência não apenas para os filósofos do Iluminismo, como também para aqueles que navegaram ao redor do mundo depois dele. A organização e o financiamento das missões de circum-navegação tinham se consolidado, no século XVIII, como empreendimentos de alto interesse do Estado, contando com a estreita colaboração do mundo científico.8 Conjugando interesses públicos e pri-
Navegando ao redor do mundo: viagens e imagens
Folha de rosto da obra de Louis-Antoine de Bougainville, comandante da expedição e autor do texto sobre a primeira viagem ao redor do mundo da Marinha francesa.
vados de forma bastante engenhosa, as chamadas “viagens de exploração e descobertas” do período foram dirigidas por comandantes navais com formação polivalente, que tinham sob suas ordens oficiais, cartógrafos, desenhistas e cientistas de diversas áreas (naturalistas, astrônomos, botânicos, geógrafos e outros). O testemunho qualificado e o sentido de utilidade conferido a essas expedições passavam a comandar e a justificar os grandes investimentos realizados: “a tradicional viagem de instrução de uma pessoa cultivada continua a existir, mas os viajantes do ‘século das Luzes’ são solicitados cada vez mais a servir sua pátria e a humanidade”.9 “Homens sábios” das mais variadas disciplinas foram engajados na preparação das “instruções de viagem” que 35
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constituíam verdadeira metodologia de trabalho para essas expedições. Depois de aprovadas pelas sociedades científicas, as instruções orientavam a observação sistemática, a coleta cuidadosa e o tratamento de todas as informações, animais, plantas e minerais ao longo do percurso, bem como a organização e o estudo do material depois de sua incorporação às coleções de museus, arquivos, bibliotecas e jardins botânicos da Europa. Carreiras de sucesso e posteridade célebre foram, assim, traços comuns à biografia dos grandes exploradores do período. As descobertas e as conquistas que fizeram não demoraram a transformar seus nomes em emblemas de uma era gloriosa para a navegação a vela e a expansão europeia pelos demais continentes. Mas as surpresas e os perigos que essas viagens reservavam também encerraram de forma trágica a carreira e as convicções de muitos exploradores. O mais famoso deles foi, sem dúvida, o inglês James Cook, navegador que comandou três grandes expedições, realizadas entre 1768 e 1780. Ele simplesmente redesenhou o mapa-múndi de sua época, além de transformar radicalmente as condições de navegação com o uso de cronômetros, observatórios portáteis, medidas sanitárias e outras inovações de grande importância para as viagens oceânicas. Como Magalhães, o navegador inglês morreu em uma ilha do Pacífico, em 1779, ficando consagrada a versão de que teria sido comido por canibais10, segundo relatos e imagens que, mais recentemente, têm sido revistos.11 Pouco tempo depois, o francês JeanFrançois de Galaup, conde de La Pérouse, partiu para outra viagem de circum-navegação com o patrocínio da coroa da França. A expedição teve um enredo misterioso e o comandante, um final igualmente trágico. 36
Desaparecendo com a tripulação sem que se conhecesse a razão, La Pérouse teve seu nome e seu destino transformados em representação emblemática das incertezas e desventuras da vida marítima. Em junho de 1840, o jornal El Mercurio, de Valparaíso, onde o OH estava ancorado há poucos dias, aproveitou o interesse ainda maior pelo tema para descrever a história de La Pérouse e sua famosa viagem de circum-navegação: Entre os navegadores que exploraram o mundo não há outro cujo nome seja mais popular que o de La Pérouse; talvez se deva atribuir parte dessa celebridade pouco comum ao funesto resultado de sua expedição.12
Tendo lutado em diversas batalhas navais e conquistado as mais honrosas promoções e condecorações da Marinha francesa, La Pérouse recebeu de Louis XVI o comando de uma viagem ao redor do mundo prevista para durar três anos. Composta pelos navios Boussole e Astrolabe, a expedição partiu do porto de Brest, em 1785, e chegou a fazer uma breve passagem pela costa brasileira, interditada pelos portugueses à exploração alheia, antes de seguir para o Oceano Pacífico. Em dezembro de 1787, o capitão do Astrolabe e onze de seus tripulantes foram mortos pelos nativos. Em março do ano seguinte, o próprio La Pérouse e todo o restante da tripulação desapareceram de forma enigmática. Em meados de 1789, em meio à agitação revolucionária contra o Antigo Regime, a falta de notícias da expedição já inquietava toda a França. O silêncio sobre o seu destino contrastava com a publicação pela Imprensa Real (Imprimerie Royale) de descrições e imagens fantásticas trazidas para a capital francesa pelo barão Barthélémy
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Navegando ao redor do mundo: viagens e imagens
Atlas contendo imagens e mapas da viagem ao redor do mundo do comandante La Pérouse, publicado na França, em 1797. A página de rosto da obra, publicada quando o desaparecimento da expedição já indicava o seu infortúnio, é uma das mais belas representações visuais do fascínio pelo conhecimento do mundo e a incerteza diante do desconhecido pelos contemporâneos de La Pérouse.
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O porto de Montevidéu, em 1806-1807, com o movimento de tropas britânicas na região, durante as Guerras Napoleônicas (1800-1815). Baseado em levantamento de 1789, o mapa assinala a localização de depósitos de pólvora na costa, a profundidade por sondagens, a escala em milhas náuticas, o relevo em representação pictórica e o meridiano principal (Cádiz, na Espanha).
de Lesseps, um dos membros da expedição. Em fevereiro de 1791, o governo revolucionário declarou-a oficialmente desaparecida. Durante anos, os franceses enviaram missões em busca do paradeiro de La Pérouse e seus companheiros, mas somente em 1826 foram encontrados os primeiros vestígios da expedição concebida para ser uma das “glórias marítimas da França”.13 Até meados do século XVIII, o contorno dos continentes ainda era bastante impreciso e a arte da navegação dependia desse conhecimento e sua expressão gráfica. Desde 38
então, toda a cartografia marítima começou a ser radicalmente transformada. Inglaterra, França, Holanda e outras potências navais promoviam o mapeamento de sua costa, o aprimoramento das cartas náuticas, o detalhamento das condições de navegação e todos os benefícios que tais informações pudessem trazer para a segurança das expedições e a expansão dos negócios comerciais e coloniais por outros mares e territórios.14 Por outro lado, os navios empregados por Bougainville, Cook ou La Pérouse em suas lendárias viagens de circum-navegação não diferiam muito da-
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queles que cruzavam os oceanos na primeira metade do século XIX.15 O meio de empreender uma viagem de longo curso continuava basicamente o mesmo: um grande veleiro.16 Brigues, fragatas e corvetas, entre embarcações de guerra e de comércio, dominavam as infinitas variações da grande massa de águas salgadas do planeta. Esses navios tinham alcançado um desenvolvimento considerável e os barcos a vapor, já experimentados em pequenos deslocamentos, vão substituí-los na navegação oceânica somente na segunda metade do século XIX. A transição em curso era complexa e envolvia grandes mudanças na tecnologia de construção dos navios e na própria navegação: As embarcações de madeira posteriores a 1815, com as suas tonelagens aumentadas, representam, mais do que nunca, um problema. Elas agora trabalham até o máximo das tensões que uma junta de madeira pode suportar: ao arqueamento longitudinal acrescenta-se o peso excessivo da parte posterior que tende, no limite, ao rompimento do navio, etc. [...] As estruturas internas fazem, é certo, uma demanda que não cessa de aumentar às peças de ferro, muito vantajosas sobretudo para as peças de conexão com formas complexas. Mas isto se dá no contexto de um navio que continua sendo de madeira.17
As mudanças também sopravam em terra. Entre os anos de 1815 e 1848, a restauração da monarquia representou a acomodação, ambígua e contraditória, de “duas Franças” aparentemente inconciliáveis sobre questões como a sua soberania frente à Europa, diante das restrições que lhe eram impostas pela derrota napoleônica, a implan-
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tação de um novo sistema representativo, o reconhecimento dos direitos do homem e da liberdade de imprensa, a relação com a Igreja e a restituição dos bens confiscados pela Revolução, entre outros temas de difícil entendimento.18 Essa acomodação levou ao trono, em 1830, um rei que encarnava em sua figura e em suas ações o trânsito delicado entre o velho e o novo vivido pelos franceses durante aqueles anos. A Monarquia de Julho (1830-1848), referência histórica às manifestações populares que culminaram com a chegada de Louis-Philippe d’Orléans ao poder, marcou o aparecimento na cena pública de um “rei-cidadão” que renunciava ao direito divino, abraçando o liberalismo e o ideário republicano, mas exerceu o poder monárquico de forma autoritária e centralizada, sobretudo nos momentos de crise. Um quadro de Delacroix sintetizou a cena, retratando em uma pintura monumental a figura da Liberdade guiando o povo, sob a proteção da bandeira tricolor, símbolo retomado pelos novos tempos, em substituição à bandeira da realeza: O trono, dizia-se, estaria rodeado de “instituições republicanas”. Restava pendente a questão de qual era a necessidade do trono e porque o homem que o ocupara tinha que ser um parisiense próximo da dinastia anterior, que representava a tradição com a qual se queria romper. Tudo isso é ilógico, mas revelador do momento histórico.19
Louis-Philippe tornou-se partidário da República depois da Revolução de 1789, chegando inclusive a integrar um clube jacobino. Com a condenação de Louis XVI à guilhotina e a perseguição a sua família, foi obrigado a viver um longo período no exílio. Ele teve então a oportunidade de embarcar 39
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Príncipe de Joinville, com o uniforme de vicealmirante da Marinha francesa, 1844. François-Ferdinand d’Orléans ingressou na Marinha francesa como aspirante, aos 13 anos, a exemplo de outros jovens aristocratas, tendo se graduado na carreira naval em missões pela Europa, América, África e Oriente. Em 1843, ele se casou com dona Francisca, irmã do imperador do Brasil, concretizando a união da dinastia dos Orléans com a casa de Bragança e o fortalecimento de interesses recíprocos.
em uma expedição à Escandinávia e passar uma temporada nos Estados Unidos e na América Central, viagens que lhe aguçaram a percepção para esse tipo de experiência e a disposição de incentivá-las. De volta à França, ele podia ser visto circulando pelas ruas de Paris, hábito que conservou mesmo depois de proclamado “rei dos franceses” pela Câmara dos Deputados, deixando-o à mercê de protestos e atentados que quase lhe tiraram a vida. À frente de uma monarquia constitucional cada vez mais autoritária, Louis-Philippe orquestrou diversos arranjos ministeriais na tentativa de controlar e equilibrar os interesses em confronto. Cercado de altos oficiais, políticos, cientistas e literatos que abraçavam o liberalismo, o republicanismo e o bonapartismo em seus diversos matizes, ele usou a censura e a perseguição policial aos oposito40
res, empurrando para o lado oposto muitos partidários da primeira hora.20 O apego ao passado glorioso da nação adquiriu um sentido sublime para a Restauração e a Monarquia de Julho, incluindo nesse quadro a celebração da era napoleônica. O fortalecimento e a reorganização da Marinha francesa em um contexto de grande instabilidade política, dentro e fora da Europa, tornou-se essencial para a continuidade do regime. A conquista da Argélia, iniciada em 1830, foi comandada pelo então vice-almirante Guy-Victor Duperré e a missão representou bem mais do que a tomada pela força de um território capaz de assegurar aos franceses uma posição estratégica no Mediterrâneo, compensando parcialmente a perda de territórios coloniais nas Antilhas e as dificuldades crescentes para a exportação do açúcar e o tráfico de escravos por embarcações francesas no chamado comércio triangular (Europa, África, América).21 A grandiosidade da operação, com uma esquadra composta por centenas de navios de guerra e embarcações de comércio, também servira para demonstrar ao mundo, e à Inglaterra em particular, que a França havia readquirido a força de sua Armada, abalada desde a derrota de Trafalgar (1805).22 O Ministério da Marinha e Colônias de Louis-Philippe tinha que lidar, então, com assuntos tão complexos como a intervenção militar no México, motivada pelos prejuízos comerciais depois de sua Independência; o estabelecimento de estações navais em regiões muito distantes da França; os conflitos envolvendo colonos e missionários franceses em diversos territórios; o aumento do soldo e das pensões para comandantes e seus comandados; a introdução da energia a vapor e os novos armamentos nos navios de guerra e, não menos importante, o retorno dos restos mortais de
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Navegando ao redor do mundo: viagens e imagens
O transporte das cinzas de Napoleão na fragata BellePoule, comandada pelo príncipe de Joinville, 1840. O acontecimento, amplamente retratado pela imprensa francesa, é aqui ilustrado para o Le Magasin Pittoresque.
Napoleão à França.23 Para acontecimento tão memorável, o encarregado de chefiar a missão foi o príncipe de Joinville, comandante já treinado em outras missões navais. A escolha do terceiro filho de Louis-Philippe para a tarefa que representava uma espécie de exumação do passado glorioso da França emprestava ao rei e à Monarquia de Julho um pouco da popularidade desfrutada pela figura de Napoleão.24 O processo de reabilitação da antiga força naval dos franceses tinha, portanto, dimensões práticas e simbólicas: Desde 1815, quando o fim das guerras da Revolução e do Império sanciona o colapso das posições marítimas e coloniais herdadas do Antigo Regime, levando ao
retraimento sobre o território nacional e à absoluta preponderância da Inglaterra no mar, a Marinha [francesa] soube melhorar substancialmente a sua situação moral e operacional, após longos esforços e expedições em todos os oceanos [...]. Se a França queria conservar sua posição de grande potência e sair de seu isolamento diplomático, não podia se desinteressar do mar.25
A remodelação dos arsenais, a ampliação da frota, a renovação da artilharia e, sobretudo, o empreendimento de missões navais ao redor do mundo deveriam promover não apenas a recuperação da marinha de guerra da França, como viabilizar a “competência internacional” do país, garantindo um 41
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Atlas de hidrografia e navegação da viagem ao redor do mundo, comandada por Louis de Freycinet, navegador e cartógrafo, entre 1817 e 1820.
futuro glorioso para a expansão do comércio marítimo francês em direção a outras latitudes.26 Os resultados esperados dependiam, naturalmente, do sucesso das missões confiadas a essas expedições, como também de toda a visibilidade que esses resultados pudessem obter por meio de publicações, premiações, exposições e outros lugares de memória. As viagens comandadas por Freycinet (18171820), Duperré (1822-1825), Hyacinthe de Bougainville (1824-1826), Dumont d’Urville (1826-1829 e 1837-1840), Laplace (18291832 e 1837-1840), Vaillant (1836-1840), Du Petit-Thouars (1836-1839) e Cécille (1837-1840) seguiam, como as expedições anteriores, recolhendo material científico e informações comerciais. Mas cabia agora aos 42
oficiais da Marinha francesa o desempenho de tais atividades. Os civis só eram embarcados nesses navios sob condições bastante restritas, uma mudança decretada com o argumento de que se deveria zelar pela disciplina a bordo.27 Matérias como a história natural, a geografia, a geologia, a botânica, a zoologia, a etnografia e a linguística fixavam modelos de conhecimento estreitamente vinculados aos planos e aos resultados dessas viagens, firmando-se a hidrografia como um recurso fundamental para a exploração de novos territórios, sem deixar de ser, também, matéria popularizada nos jornais da época. As viagens de circum-navegação da primeira metade do século XIX agregavam, assim, novos objetivos comerciais e diplomáticos às atividades de exploração geográfica e descoberta científica das viagens do século anterior que lhes serviram de modelo e inspiração. Embora continuassem iluminadas pelo espírito das Luzes, estavam subordinadas, cada vez mais, às estratégias geopolíticas da expansão europeia e ao horizonte colonialista que se armava. Sintetizando as mudanças em curso, tanto na organização e financiamento das viagens, como também na circulação pública de seus resultados, o historiador Étienne Taillemite comentou que “dois novos elementos favorecem igualmente o sucesso das explorações: o progressivo desaparecimento do sigilo que, até então, escondia os resultados obtidos e a rápida publicação de relatórios”.28 A conquista de novos saberes e territórios também se materializava na edição de obras ilustradas, dispendiosas e monumentais, assim que as expedições voltavam à França. O esforço de sistematização e promoção do conhecimento obtido por esboços, desenhos, diários, mapas e relatórios ao redor do mundo não deixa dúvidas de que a legi-
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timação e a popularização dessas expedições, por palavras, imagens e memórias, tornava-se cada vez mais relevante para as missões que desempenhavam. A memória e a difusão dos resultados das viagens ao redor do mundo, integrando os arquivos e boletins navais ou científicos, também alcançavam outras formas de promoção, como jornais, revistas e outros impressos, que se multiplicavam em toda a França, com uma linguagem acessível voltada para um público leitor que também se ampliava. Os editores, por sua vez, indicavam através de títulos, subtítulos e epígrafes com os quais identificavam seus impressos, as matrizes filosóficas, as tendências políticas e os objetivos comerciais que abraçavam. Essas expressões e frases, observadas em si mesmas, compõem um verdadeiro mosaico das aspirações e tensões da época. O Le Magasin Pittoresque, jornal ilustrado lançado em 1833, publicou ao longo do ano de 1840 um amplo “vocabulário pitoresco de marinha”. A bela descrição da aparelhagem de um grande veleiro, no momento de sua partida, é um dos verbetes oferecidos aos leitores: Um navio está sendo aparelhado quando se prepara para deixar sua posição em um porto onde estava ancorado e alcançar o mar sob os ventos mais favoráveis [...]. A aparelhagem é uma das operações mais importantes que um navio realiza, especialmente quando se trata de passar essa enorme estrutura por desfiladeiros estreitos e obstruídos. Essa manobra pode ser feita de dez maneiras diferentes, de acordo com a habilidade do oficial que a comanda. Se o tempo estiver ruim, toda a tripulação irá tomar parte. Cada oficial tem seu posto; o capitão, está em toda parte. Tudo fica silencioso a bordo. Mil homens agem
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e se movem em todos os pontos. Os tons graves de porta-vozes dão as ordens, os apitos agudos e vibrantes do contramestre as transmitem, dominando simultaneamente o barulho do vento que ronca, do mar que geme, das polias que rangem e colidem, do atrito das cordas que obedecem. É um espetáculo magnífico ver esse colosso, inerte um momento antes, fugindo agora rapidamente sob a poderosa impulsão de uma brisa intensa.29
Dicionários publicados no século XVII destacavam, entre os seus principais verbetes, “as palavras de marinha”. Para os franceses, a representação ancestral de toda uma vasta cultura associada ao mar podia ser sintetizada por uma única expressão: “a França marítima”.30 Um exemplo notável foi a publicação dos duzentos e dez volumes da Encyclopédie méthodique (Paris, 1782-1832), iniciada pelo livreiro-filósofo Joseph Panckoucke. Organizada por área do conhecimento, a obra contém quatro volumes exclusivamente dedicados à marinha, lançados entre 1783 e 1787. O levantamento geográfico do mundo e o crescimento da navegação intercontinental, além de fomentarem uma vasta produção editorial sobre temas navais, exigiam a ordenação de jurisprudências e a definição de regras aduaneiras e práticas monetárias. Uma demanda que promovia o aparecimento e a dicionarização de palavras e expressões capazes de traduzir toda a crescente movimentação de homens e mercadorias pelos oceanos. A especificidade e a precisão da terminologia marítima exigiam essa sistematização da linguagem. Para os chamados “homens do mar”, ela condensava, ao mesmo tempo, referências espaciais, informações tecnológicas, códigos de conduta, relações hierárquicas, procedimentos 43
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A “França marítima”, dividida entre os portos de Brest, Lorient, Cherbourg, Rochefort e Toulon, em mapa ilustrativo da segunda metade do século XIX.
de segurança, estratégias de aprendizagem e formas de reconhecimento mútuo.31 “A marinha é uma ciência, uma arte sublime”. A frase do almirante Jean-Baptiste Philibert Willaumez ilustraria o verbete do Grand dictionnaire universel du xixe siècle. 32 Em 1820, Willaumez publicou um Dictionnaire de Marine, suivi d’un appendice sur un modèle de frégate de premier rang, dont la construction est ordonnée à Brest (Paris: Bachelier, 1820), obra que recebeu sucessivas reedições, sendo inclusive popularizada e (re)conhecida pelo nome de seu autor. Em 1831, quando o “dicionário Willaumez” já estava na terceira edi44
ção, não era difícil encontrá-lo “à venda em Paris e em todos os grandes portos, nas principais livrarias”. O texto dessa obra é considerado, até hoje, uma compilação essencial do vocabulário marítimo ligado à navegação a vela.33 Para um público mais abrangente, a Revue des Deux Mondes apresentava-se, desde 1829, como um “jornal de viagens, administração e costumes” sobre os diferentes povos do globo. Redigida por uma “sociedade de sábios, viajantes e literatos franceses e estrangeiros”, ela continua em circulação. A Revue des Deux Mondes tinha uma seção especialmente dedicada ao “futuro da nossa Marinha” e,
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em janeiro de 1840, apresentou uma análise minuciosa do “estado geral da Marinha e das Colônias”, redigida pelo engenheiro militar e ex-ministro Jean Tupinier.34 Todas essas descrições e imagens conferiam uma popularidade sem precedentes aos temas navais no mundo letrado oitocentista. A “viagem de instrução” do OH, além de ser a primeira expedição ao redor do mundo dedicada à marinha mercante em uma época de mudanças estratégicas para a França marítima, também coincidia com esse movimento de expansão das fronteiras culturais do universo marítimo e todo o seu simbolismo. O pioneirismo de Bougainville, o desaparecimento de La Pérouse e a experiência de tantos outros comandantes que empreenderam notórias missões exploratórias, científicas e comerciais tinham conquistado um lugar de honra na celebração da história pátria pela Monarquia de Julho. Além de atlas e relatórios ilustrados, as pinturas, os museus e as condecorações também ajudavam a construir, dentro e fora da França, a memória e a visibilidade dessas expedições, imortalizando a fisionomia, as ações e o legado de seus comandantes. Em um contexto de projeção da cultura marítima e das glórias nacionais, a figura e a obra de homens do mar, célebres e exemplares, constituíam uma fonte de inspiração para as novas gerações de navegadores. A criação de uma “sala de marinha” no Louvre, em 1752, fora acompanhada pela encomenda da série “Vues des ports de France” (“Vistas dos portos da França”), de Joseph Vernet. Essas pinturas monumentais seriam abrigadas, mais tarde, em uma galeria no Ministério da Marinha. Em 1827, o Museu Dauphin foi instalado nas dependências do Louvre e, posteriormente, transformado em Museu Naval, até se converter no atual
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Museu da Marinha.35 Esses espaços agora recebiam também os vestígios da expedição de La Pérouse que começavam a chegar à França, trazidos por Dumont d’Urville. A missão que partira “em busca de La Pérouse” para reforçar as pretensões francesas nas ilhas da Oceania tinha recolhido um imenso acervo de história natural na área do Pacífico.36 Ao voltar, ele foi condecorado por comandar “a mais gloriosa das expedições jamais empreendidas”37. Em 1837, Louis-Philippe inaugurou no Palácio de Versalhes um museu dedicado a “todas as glórias da França”. As galerias da antiga residência dos reis franceses, a partir daí, também ofereceriam aos olhos do público as pinturas marinhas e cenas navais encomendadas pelo “rei-cidadão”, entre outros temas que deviam celebrar a memória da nação. Entre setembro de 1836 e março de 1839, o vice-almirante Claude du Campe de Rosamel esteve à frente do Ministério da Marinha e Colônias, atribuindo-se a ele um grande interesse pelas viagens de circum-navegação e a convicção de seu simbolismo para a imagem da França.38 Entre maio de 1839 e fevereiro de 1843, o almirante Duperré ocupou a pasta, com uma breve substituição pelo barão Roussin, entre março e outubro de 1840. Os anos em que esses ministros conduziram a Marinha francesa coincidem, portanto, com a invenção e a difusão da daguerreotipia, bem como a preparação, o início da viagem e o naufrágio do OH. A encomenda e a aquisição de instrumentos óticos, entre os quais a câmera escura e a câmera clara, eram práticas usuais nos preparativos das grandes expedições navais do período e, nesse sentido, a incorporação da aparelhagem de daguerreotipia aos equipamentos que fariam parte do OH não deixava de ser um investimento natural.39 45
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Os altos oficiais da Marinha francesa, envolvidos com todos os preparativos dessas missões, tinham formação polivalente e, naturalmente, respondiam pelos instrumentos levados a bordo. Em 1839, o engenheiro-hidrógrafo Beautemps-Beaupré dirigia o serviço do Depósito de Cartas e Plantas (Dépôt de Cartes et Plantes), uma das repartições mais importantes no processo de reorganização da Marinha francesa que estava em curso. Ele tinha participado da expedição de Bruny d›Entrecasteaux, a primeira em busca de La Pérouse, iniciada em 1791, quando realizou uma série de procedimentos de medição que promoveram avanços consideráveis na determinação exata da latitude e longitude de áreas costeiras.40 De volta à França, iniciou a demarcação de todo o litoral do país e trabalhou por anos na organização de atlas monumentais, como Le Pilote Français (Paris, 1822-1844). Por tudo isso, Beautemps-Beaupré passou à história como o pai da moderna hidrografia. Quando o ministério da Marinha adquiriu seu primeiro equipamento de daguerreotipia para embarcá-lo no La Malouine, em missão na costa da África, foi Beautemps-Beaupré quem certificou o aparelho e aprovou a sua aquisição junto ao fabricante Alphonse Giroux.41 O destino, contudo, já havia se encarregado de ligar a carreira do vice-almirante Rosamel à biografia de um dos inventores de processos fotográficos, muito antes do aparecimento da daguerreotipia. Nascido em Nice, Hercule Florence tinha dezesseis anos de idade quando ingressou na marinha mercante do principado de Mônaco e, pouco depois, na Marinha francesa, como tantos jovens da sua geração fascinados pela vida no mar.42 Em 1823, ele esteve sob o comando de Rosamel no bloqueio naval de Barcelona, tentativa da 46
Mapa da baía do Rio de Janeiro, executado entre 1826 e 1827, sob as ordens do então contra-almirante Rosamel, chefe da estação naval francesa na América do Sul.
realeza europeia de restaurar a monarquia absoluta na Espanha. De volta ao porto de Toulon, enquanto aguardava uma prometida viagem de circum-navegação, embarcou no Marie-Thèrese, sob o comando de Rosamel, agora chefe de duas estações francesas nos mares do Sul (Brasil e Pacífico).43 Quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1824, Florence desistiu da carreira naval e ficou na cidade, atribuindo-se a seu comandante certa influência nessa decisão.44 Desenhista talentoso, o noviço encantou-se com a luz dos trópicos que iluminava as ideias e as imagens que tinha em mente.
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Com “o lápis e o pincel”, Florence percorreu o Brasil a serviço da expedição do barão Georg von Langsdorff, naturalista de origem alemã que integrara a primeira viagem de circum-navegação do Império russo (18241829). Florence ajudou a produzir um amplo inventário das riquezas do Império brasileiro. Na década seguinte, ele estava casado e vivia modestamente no interior do país, investindo os poucos recursos de que dispunha em um processo fotográfico que não chegou a atrair o interesse daqueles a quem apresentou seus resultados.45 Anos depois, lembrando-se das leituras da juventude que precederam a obsessão de embarcar em uma expedição muito além do Mediterrâneo, o inventor registrou em seu diário: Li Robinson [Crusoé] e fiquei apaixonado pelas viagens e aventuras marítimas. Este gosto me deu o da geografia, e passava horas inteiras sobre um bom Atlas que nós tínhamos. Não havia um ponto no globo onde eu não pretendesse ir algum dia. O Mediterrâneo me parecia muito pequeno e eu apenas pretendia percorrê-lo como se percorre um lago do país antes de o deixar.46
A popularidade das viagens de circum-navegação e a crescente difusão de relatos, imagens e memórias sobre temas afins, assim como o reconhecimento público da carreira brilhante de comandantes como Bougainville, La Pérouse, Willaumez e tantos outros, também eram uma fonte de inspiração para os projetos de outros homens do mar. O capitão de longo curso da marinha mercante que concebeu a expedição do OH não foi diferente. Augustin Lucas era originário, inclusive, da mesma ilha na costa francesa onde nascera Willaumez, o
Viagens extraordinárias Os temas navais fomentaram um vigoroso mercado editorial voltado para o público jovem na primeira metade do século XIX. Todos os livros do capitão Marryat, oficial da Marinha Britânica que combatera as forças de Napoleão, foram traduzidos para o francês na década de 1830. O capitão Marryat transformou-se no primeiro autor de sucesso com esse gênero de literatura: L’officier de marine (Paris: Ménard, 1833); Pierre Simple, ou aventures d’un officier de marine (Paris: C. Gosselin, 1834; Ménard, 1838); Monsieur le midshipman Aisé (Bruxelles: J. Jamar, 1837); Newton Forster, ou la marine marchande (Bruxelles: A. Wahlen, 1837); Oeuvres complètes du capitaine Marryat (Paris: C. Gosselin, 1837-1838). Esses livros fizeram parte das leituras dos jovens que viajaram a bordo do OH e também inspiraram escritores como Jules Verne.
Álbum de souvenirs com os “fragmentos de uma viagem ao redor do mundo”, realizada entre 1836 e 1840, pelo francês Auguste Borget. O artista esteve na América do Norte e do Sul, na China e a India e apresentou suas pinturas frequentaram os Salões de Paris até 1859.
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Assinatura do capitão Augustin Lucas, com o símbolo maçônico.
As lojas maçônicas e sua distribuição no território francês, em mapa de 1842.
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vice-almirante que se tornou motivo de orgulho para os locais. Ingressando na Marinha aos quatorze anos, Willaumez iniciara sob o comando de Bougainville e La Pérouse uma carreira que o levaria a participar de numerosas missões mundo afora, inclusive a primeira encarregada de encontrar, justamente, o paradeiro da mítica expedição desaparecida. Além do dicionário que lhe deu amplo reconhecimento, Willaumez foi o responsável pelas primeiras noções de navegação recebidas pelo príncipe de Joinville. Condecorado com o título de Grande Oficial da Legião de Honra e Cavaleiro da Ordem Real e Militar de Saint-Louis, seu nome está gravado no Arco do Triunfo, em Paris. Lucas, no entanto, construiria uma carreira bastante acidentada, sem deixar muitos rastros para os historiadores que quisessem escrever a sua biografia no futuro: conduta misteriosa, destino incerto, nenhum retrato conhecido.47 Mas a assinatura do capitão continha três pontinhos que formavam um triângulo. Essa pista quase imperceptível oferece, no entanto, uma indicação reveladora das concepções filosóficas e dos laços pessoais que marcaram a vida desse enigmático personagem. Como outras assinaturas adornadas com o símbolo, ela externava uma condição de pertencimento: Lucas era maçom. Se, por um lado, a maçonaria sempre guardou sigilo de seus códigos e rituais, por outro, eles têm servido, historicamente, para que os maçons se reconheçam mutuamente, olhando não tanto para um passado comum, mas para os vínculos do presente e as perspectivas para o futuro.48 Esmiuçar os laços com a maçonaria de vários personagens ligados à história do OH não é tarefa simples, ainda mais devido ao aspecto sigiloso da organização. O abri-
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go do segredo sempre viabilizou oposições e conspirações em seu interior, ainda que ela se apresentasse como guardiã de valores não políticos (sabedoria, justiça, benemerência, etc.). Por um lado, é preciso levar em conta como uma instituição politicamente conformista na era napoleônica transformou-se, em poucas décadas, em caixa de ressonância das ideias liberais na França. Em 1830, numerosos maçons estiveram implicados nas ‘jornadas gloriosas’ que conduziram Louis-Philippe ao trono.49 As lojas maçônicas, evocando a fraternidade humana, o poder da razão e as virtudes da sabedoria e da filantropia, promoviam uma sociabilidade inspiradora da difusão de ideias liberais e progressistas sobre a ordem política e social, a despeito de seu tradicional legalismo em relação aos poderes estabelecidos.50 Por outro lado, os antagonismos que dividiam a sociedade francesa também colocavam em confronto diferentes concepções de poder e interesses sociais no interior das lojas maçônicas, razão pela qual, se é possível falar de um projeto maçônico, ele se caracterizaria, como assinala Eric Saunier, pela ambiguidade e diversidade de pontos de vista sobre o futuro da nação. A obra de Jean Crouzet, um dos maiores estudiosos da maçonaria, traz um amplo levantamento documental sobre o tema e, inclusive, uma informação sobre Augustin Lucas: ele já integrava a loja A Perfeita Reunião (La Parfaite Réunion), em 15 de janeiro de 1833. 51 Criada em 1805, na comunidade de Saint-Parisis, em Bayonne, cidade na costa francesa próxima à fronteira com a Espanha, essa loja expandiu suas atividades durante toda a primeira metade do século XIX, reunindo negociantes, armadores, engenheiros, funcionários públicos e comandantes de navios. A filiação de Lucas à maçonaria certa-
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mente o ajudou a abrir portas e a obter, pelo menos em parte, algum apoio para o seu empreendimento nos gabinetes ministeriais da Monarquia de Julho, além de associações comerciais e sociedades científicas da época. Afinal, um maçom tem sempre o dever de ajudar ao outro e essa ajuda foi construída pela confluência de princípios e propósitos que uniam a expedição do OH a outras concepções e iniciativas do momento. A patente de capitão de longo curso é, historicamente, a mais elevada na carreira de um oficial da marinha mercante. O exercício e a profissionalização dessa atividade foram fundamentais, no século XIX, para a extensão das rotas e dos negócios de grandes armadores e comerciantes. Ela habilitava um capitão ao comando dos navios empregados nas viagens oceânicas que expandiam esses negócios muito além das áreas costeiras da Europa, servidas pela navegação de cabotagem. De modo geral, um capitão de longo curso devia fidelidade ao proprietário do navio e estava submetido a um conjunto de regras de conduta no comando da embarcação, no transporte da carga e no cuidado com a tripulação.52 A profissionalização da marinha mercante francesa já podia contar, na década de 1830, com cursos preparatórios e bibliografia especializada.53 Os números são apresentados nos Annales maritimes et coloniales: 15.657 navios a vela e 85 embarcações a vapor compunham a frota da marinha mercante francesa em 1839.54 Mas a formação prática de sua tripulação era considerada precária, deixando-a mal preparada diante das dificuldades da navegação oceânica e das oportunidades que se abriam ao comércio francês. Para os aprendizes de marinha que se iniciavam na carreira mercante não existia nada semelhante ao “navio-escola” Orion, 49
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Augustin Lucas (1804-após 1858) O comandante do OH nasceu a 6 de março de 1804, em Bongor, vilarejo de Belle-Île (hoje Belle-Île-en-Mer), na costa da Bretanha, na França.55 A ilha, atualmente, é uma atração turística com população menor do que já teve no século XIX, quando as atividades econômicas do lugar estavam concentradas na navegação, pesca, agricultura e construção naval. Lucas era filho de um pescador da região e começou ainda criança a vida no mar. Os registros da Marinha francesa descrevem o jovem que ingressou como marujo na carreira da marinha mercante, inscrito em Bangor, em 1824, como um homem de “cabelos loiros, olhos vermelhos, testa alta, nariz grande, boca mediana, queixo redondo”.56 Entre 1826 e 1831, época na qual tirou o brevê de “mestre de cabotagem”, Lucas navegou pela costa francesa e fez viagens mais longas a Guadalupe (1828), à Martinica (1829) e à Reunião (1830). O estudo da matemática, astronomia, mecânica e disciplinas afins, combinado ao aprendizado teórico e prático das manobras que compunham a arte da navegação de grandes veleiros, ele realizou na Escola de Hidrografia (Ecole d’Hydrographie), de Rochefort (França), onde se diplomou como “capitão de longo curso”, em 2 de junho de 1832.
Rochefort, na França, também conhecida como a “cidadearsenal”, e seus estaleiros, armazéns e serrarias, c. 1840.
Lucas se casou com a jovem Elisabeth Zoe Bellais, em Rochefort, em 3 de setembro de 1832, logo depois da diplomação como capitão de longo curso.57 Ela já esperava a primeira filha do casal. Nascida em uma família de albergueiros na cidade, Elisabeth acompanhou Lucas em sua primeira passagem pela América do Sul, a bordo do Le Trophée et Mathilde, entre 1834 e 1835. O capitão adquiriu certa notoriedade no meio marítimo com essa viagem, ao vencer uma séria adversidade no Cabo Horn. O navio perdeu o leme, mas ele salvou a todos criando um de “leme de fortuna”, dispositivo provisório armado na popa do navio capaz de governá-lo até Valparaíso. Na ocasião, Lucas disse que o artefato era tão bom que podia ser mantido em uma volta ao mundo.58 O invento, comunicado em reunião do Conselho de Marinha, ficou registrado nos Annales maritimes et coloniales, publicação que continha a legislação, os acontecimentos, as inovações e os estudos relacionados aos assuntos navais, bem como a indicação dos livros que deveriam integrar as bibliotecas dos navios da Marinha da França.59 Lucas conquistou, assim, a reputação de um comandante experiente e capaz, ampliada mais tarde com a publicação de algumas obras que revelariam suas preocupações e interesses. A segunda filha do casal nasceu em Valparaíso, em 1835. Elisabeth, as duas meninas60, o cunhado Prosper Bellais, inscrito como noviço, e a irmã Louise-Augustine Lucas, casada com Jean-François Briel, terceiro-tenente, participariam do OH, conferindo à expedição uma natureza “familiar” incomum, comentada pelos contemporâneos.61
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Representação gráfica do “leme de fortuna” (gouvernail de fortune) no livro de Augustin Lucas, Le candidat (Paris, 1850).
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o primeiro da Armada francesa, sediado em Brest, de 1827 a 1840.62 Alguns meses antes da partida do OH, o capitão Lucas lançou uma obra cujo título representava, por si só, uma plataforma política: Extrait d’un mémoire sur quelques changemens à apporter dans l’organisation de la Marine et notamment sur le moyens que la France pourrait employer pour en augmenter le personnel sans augmenter le budget général ; suivi d’une note sur les causes et la faiblesse de notre commerce maritime (“Extrato de uma memória sobre algumas mudanças a serem introduzidas na organização da Marinha e notadamente sobre os meios que a França poderá empregar para aumentar o seu pessoal sem aumentar o orçamento geral; seguido de uma nota sobre as condições e as fraquezas de nosso comércio marítimo”).63. Na folha de rosto, o autor era apresentado como “capitão e fundador da expedição destinada a fazer a volta ao mundo com o único objetivo de formar as pessoas para a marinha e o comércio”. Na mesma página, como sugestiva epígrafe, uma frase de São Bartolomeu, o apóstolo viajante: « amar a Pátria é fazer todos os esforços para que ela seja temida no estrangeiro e tranquila internamente”.. Esses princípios pareciam nortear, naquele momento, todos os investimentos que se faziam necessários à Marinha de guerra e mercante da França. Para concretizá-los, Lucas não se economizaria nem mesmo nas metáforas: A Marinha é o agente mais poderoso e ativo da civilização universal, é ela que reduz as distâncias e aproxima as pessoas; ela é a estafeta, a abelha de todas as necessidades da humanidade, como a Europa é sua colmeia.64
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Página de rosto do livro escrito pelo capitão Lucas, publicado em Paris, em 1839.
A obra traz, ao final, o esboço de um projeto que, mais tarde, seria detalhado pelo capitão em matérias publicadas nos jornais e outros impressos. Lucas apresenta ali, em poucas linhas, a sua concepção de um navio-escola para a marinha mercante, ideia já introduzida com argumentos e dados convincentes como estratégia para ajudar a divulgá-la no meio naval. Como obter, por exemplo, informações úteis sobre os países com os quais podiam ser estabelecidos bons negócios se os que lá chegavam mantinham essas informações em segredo? A resposta era incisiva: os relatos de viagem não traziam dados precisos sobre a natureza e o volume dos bens importados e exportados pelo país, nem sobre os meios de pagamento e os preços 51
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pela própria experiência do indivíduo, um dos traços característicos da mentalidade burguesa, era expressão recorrente nos textos e imagens do universo marítimo. Em 1850, Lucas publicaria outro livro, no qual também exprime essa mentalidade com clareza, inspirando-se em sua própria história: Estou particularmente interessado em resumir todos os conhecimentos práticos que adquiri sobre a navegação, durante vinte e cinco anos de experiência, em todos os níveis da profissão, desde os deveres do novato até o posto de capitão”.68
Representação gráfica (elevação) de um veleiro de três mastros no livro de Augustin Lucas, Le candidat (Paris, 1853).
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obtidos pelos artigos franceses no comércio internacional, entre outras informações que deviam ser colhidas na origem e sistematizadas pelos oficiais da Marinha mercante, em proveito da França.65 As oficinas da Imprensa Wittersheim (Imprimerie Wittersheim), propriedade de um gravador e impressor com ideias liberais66, deram forma ao livro e, logo depois, à propaganda propriamente dita da expedição. Os folhetos com os planos de viagem e as condições de admissão no OH apresentavam em detalhes uma experiência que prometia “engrandecer a pátria e os seus negócios no estrangeiro”.67 Endereçada aos jovens que se sentissem atraídos pela marinha mercante e outros empreendimentos, a “viagem de instrução” tinha o atrativo de uma experiência tida como requisito essencial ao sucesso nos negócios, em um contexto da expansão da economia capitalista. A profissão de fé no conhecimento adquirido
As viagens de circum-navegação, mais do que qualquer outra atividade naval, representavam uma oportunidade prática para os homens do mar, tanto quanto para as nações que quisessem assegurar um lugar com posições vantajosas na circulação transoceânica. Os Estados Unidos já tinham ingressado na disputa, organizando, em 1838, a U.S. Exploring Expedition (Expedição Exploratória dos Estados Unidos), a primeira missão ao redor do mundo da Marinha norte-americana, comandada pelo capitão Charles Wilkes, cujos relatórios foram publicados em 1845.69 Essa circulação global era também uma espécie de vitrine. Para a Monarquia de Julho, a política de recomposição do prestígio de sua força naval passava pela presença expressiva de navios franceses nos quatro cantos do planeta. Como afirmou Hélène Blais, era “preciso representar o que simboliza, ao menos para a França dessa época, a ideia de ter navios que cruzam o globo com a bandeira tricolor”. 70 A visibilidade desse prestígio, em todo caso, dependia dos resultados científicos e comerciais das missões realizadas. Em um planeta que possuía agora menos espaços a serem descobertos
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A história das relações comerciais entre a França e o Brasil e suas perspectivas, em obra de 1839. Horace Say era filho do célebre economista francês Jean-Baptiste Say. Além de comerciante e exportador, ele também se dedicou à publicação e ao ensino de matérias afins.
A expansão colonial e os interesses comerciais em confronto, na charge da imprensa parisiense de 1839. A concorrência entre o tradicional açúcar extraído da beterraba por produtores franceses e aquele obtido nas plantações de cana de açúcar com mão de obra escrava (Antilhas, Brasil, etc.), transportado para a França pelos armadores de Nantes e outras cidades portuárias, foi uma das principais questões em debate nesse período. Os dois lados reclamavam proteção, indenização e compensações governamentais para sustentar seus negócios e enfrentar a concorrência.
e muitos negócios a concretizar, a viagem de circum-navegação do OH apresentava-se, nas palavras de seu idealizador, como uma missão estratégica para seu país: Acima de tudo, devemos nos convencer de que a Marinha inglesa e o comércio marítimo da Inglaterra estão no auge. O imenso litoral desta potência, o grande número de possessões que ela reuniu em todas as partes do globo, juntamente com a vantagem incalculável de ter seus fabricantes nesses portos, logo lhe proporcionaram a oportunidade de estabelecer relações com todos os povos e de supri-los com exclusividade, em nosso prejuízo [...]. Assim, vimos que todos os povos da América do Sul se abastecem quase exclusiva-
mente de artigos ingleses que são fabricados mais baratos e melhores na França do que na Inglaterra (grifado no original). Vimos algo ainda mais grave, como os navios americanos e os navios franceses, por exemplo, chegando na mesma época e nos mesmos lugares, transportando mercadorias francesas do mesmo tipo. Os primeiros fornecem suas mercadorias a tal preço que os nossos navios, obrigados a seguir o fluxo da venda, não retiram de sua carga nem mesmo o seu preço de custo no momento do embarque. 71
As palavras de Lucas coincidiam, assim, com o diagnóstico de muitos críticos da época sobre a situação de debilidade da marinha mercante francesa em relação à concorrência 53
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de longo curso também deixavam entrever os antagonismos comerciais, diplomáticos e simbólicos que se estenderiam por todos os cantos do planeta nos anos seguintes. O comércio marítimo internacional promovia a crescente circulação de pessoas, mercadorias e capitais em escala global, pregando o livre-comércio e o fim do tráfico de seres humanos, mas combinava essa retórica com as guerras, invasões, saques e demais conflitos armados que alimentavam a sua expansão. Não houve constrangimento nos métodos empregados. Para garantir a abertura da China à Inglaterra, a Guerra do Ópio (1840-1842) foi um exemplo emblemático das estratégias empregadas na expansão do capitalismo, com a dependência ao ópio induzida a milhares de chineses.74 Lucas estava ciente da complexidade da missão que propunha com o projeto da expedição, mas nutria para si a expectativa de atrair as glórias concedidas aos homens do mar que o precederam nas célebres viagens marítimas do passado. O historiador Leroi-Gourhan deixou-nos uma bela imagem sobre a psicologia do explorador que um dia parte para os limites mais distantes do planeta:
Carpinteiros tentando reparar os estragos provocados pelo gelo no casco do H. M. S. Terror em sua viagem à Antártida, 1836. O navio de guerra adaptado para a exploração no gelo entrou para a história como uma das célebres embarcações da Marinha inglesa. O desenho “tomado com a câmara lúcida” pelo inglês William Smyth retrata os problemas enfrentados na viagem que antecedeu a bem-sucedida missão do capitão James Ross à Antártida. O artista pintou, posteriormente, a tela H.M.S. Terror in the ice representando as intempéries enfrentadas pela expedição.
de outros países, notadamente a Inglaterra.72 As colônias francesas em vários continentes e os jovens Estados que se abriam à sua influência na América do Sul sinalizavam horizontes de negócios que, diante da pressão pelo fim da escravidão, representavam mercados bastante promissores para novos investimentos da marinha mercante em geral. Mas a disputa por essas áreas, como no caso da Oceania, acirrava os ânimos de comerciantes, armadores, colonos e missionários de nacionalidades distintas, além dos próprios nativos, fazendo emergir uma série de conflitos em várias frentes.73 Por isso mesmo, as palavras do capitão 54
O explorador, tomado isoladamente como um indivíduo de elite, não revela muito mais do que o excepcional desenvolvimento das qualidades fundamentais do homem de ação. Exceto nos casos em que atua sob as ordens alheias e realiza sua viagem como se fosse tomar parte em uma batalha ou tratado de comércio, encontramos nele o traço do sonho de evasão: ele é filho do marinheiro ou sobrinho do oficial colonial, ele leu com predileção as histórias de conquistas ou simplesmente sonhou, em frente ao mar ou a uma barraca de feira. Uma certa predeterminação
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existe nele, sua capacidade latente de evasão é superior à média e as causas externas de excitação não fazem mais do que fixá-la em um objetivo. Ele sabe muito cedo que partirá e é frequentemente a partir desse ponto que entram em jogo as suas qualidades de empreendedor. 75
A concorrência comercial entre as nações e a expansão de seu poderio naval, intimamente ligadas à circulação de pessoas, saberes e produtos na primeira metade do século XIX, também alimentavam o sentimento patriótico em relação ao pioneirismo das viagens ao redor do mundo e das novidades que levavam a bordo. A Inglaterra preparava uma missão naval para a Antártica, comandada pelo capitão James Clark Ross, quando a invenção da daguerreotipia foi divulgada pela imprensa, em janeiro de 1839. Em nome da Real Sociedade (Royal Society), em Londres, o físico inglês John Herschel escreveu a Daguerre, antes da revelação dos segredos de seu procedimento, só ocorrida em agosto, solicitando um aparelho e as respectivas instruções para que a missão inglesa fosse iniciada já contando com a novidade. Não obteve sucesso. A França não estava disposta a conceder à Inglaterra a prioridade na utilização do invento em viagens marítimas.76 O reconhecimento público da missão inglesa para a Antártica, entre 1839 e 1843, acabou chegando por outras formas. Ela quebrou uma barreira histórica ao penetrar em suas geleiras, como nunca havia sido alcançado. O comandante inglês seria imortalizado, então, por um tipo de homenagem conferida a tantos desbravadores do planeta: o Mar de Ross, ao sul da Nova Zelândia, leva o seu nome.77 Quando o anúncio da invenção da daguerreotipia foi divulgado pelos jornais de vá-
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rias cidades, repercutindo as novidades anunciadas em Paris, inventores de outros processos fotográficos começaram a confrontar suas descobertas com o invento de Daguerre. As pesquisas de William Fox Talbot foram, então, comunicadas publicamente na Inglaterra e, com elas, vieram à tona as discussões sobre a anterioridade de seus “desenhos fotogênicos” em relação às imagens obtidas com o daguerreótipo.78 Os franceses não demoraram a tornar públicas as experiências realizadas por Nicéphore Niépce, o sócio já falecido de Daguerre, demarcando assim o que seria a inegável primazia de suas descobertas sobre os demais inventores.79 A polêmica em torno da paternidade da invenção da fotografia, transposta das academias científicas para as páginas dos jornais, foi mais do que um capítulo da antiga rivalidade entre as duas potências. Ela se inscreve em um sentimento, como caracterizam alguns autores, de “anglofobia” (e seu reverso, a “francofobia”), estendendo-se por diversos aspectos do imaginário coletivo, especialmente nas décadas de 1830 e 1840, quando escravismo, colonização e outros temas também dividiam as arenas.80 Um comentário, em 1841, assinalava o que parecia ser, então, a expressão dessas rivalidades na imprensa e no espaço público: “na Inglaterra, os jornais são intérpretes e tradutores da opinião pública; na França, são eles os que a ditam”.81 O “século da imprensa” ainda não havia mostrado toda a amplitude do papel assumido pelos jornais a partir da década de 1830, mas eles já se revelavam um veículo de comunicação de massas e uma arena fundamental para os debates da vida pública, ainda que essa dimensão tivesse gradações distintas em cada país ou cidade.82 A imprensa adquiriu um peso muito importante na reputação das invenções, 55
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época, também colocava em segundo plano as formas de cooperação, ensaio e experimentação inerentes a qualquer processo inventivo, além de encobrir as demais disputas em jogo na cena política. O argentino Florencio Varela, um exilado político, ao assistir as primeiras demonstrações da daguerreotipia em Montevidéu, comentou:
A folha de uma videira reproduzida em “desenho fotogênico”, processo fotográfico inventado por Fox Talbot, c. 1834-1839. Os “desenhos fotogênicos” de William Henry Fox Talbot (photogenic drawings), obtidos pelo inventor desde 1834, foram apresentados à Royal Society de Londres em fins de janeiro de 1839, depois que a invenção do daguerreótipo foi anunciada em Paris. Utilizando-se do papel salgado, Talbot expunha esse papel diretamente à ação da luz solar (mais tarde empregaria a câmera escura), até que a imagem ali formada se revelasse aos olhos do observador, depois de algumas horas de exposição. No “desenho fotogênico”, a partir da imagem “negativa” podia ser obtida uma imagem “positiva” por contato. Embora o processo ainda fosse demorado e a qualidade da imagem relativamente precária, a viabilidade da obtenção de múltiplas “cópias”, a partir de uma única “matriz”, representava uma vantagem sobre o daguerreótipo. Depois de aperfeiçoado, o processo fotográfico inventado por Talbot tornou-se conhecido por calótipo (ou talbótipo) e seu princípio básico (negativo/ positivo) caracterizaria a própria natureza da imagem fotográfica daí em diante.
expondo os conflitos de prioridade e, ao mesmo tempo, amplificando as formas de reconhecimento e legitimação que consagravam inventores e cientistas.83 A disputa pela paternidade da fotografia, ao priorizar a anterioridade francesa ou inglesa de um dos inventos mais aclamados pelo mundo científico da 56
Tal é a história da descoberta que, em meados do ano anterior [1839] distraiu a França e a Europa das atenções políticas que a absorviam. O nome de Daguerre fez esquecer muitas vezes o de Abd el-Kader e as questões de ótica suplantaram as da política do Oriente. Os soberanos europeus apressaram-se, segundo o testemunho do ministro Duchâtel, a oferecer quantias consideráveis a Daguerre em troca do seu segredo. Mas Daguerre era francês e não podia privar a França desse belo laurel de sua coroa científica.84
Aquele jovem aspirante da Marinha francesa que veio parar no Novo Mundo, em 1824, foi um dos inventores da época que amargou por muitos anos a falta reconhecimento público pela concepção de um processo fotográfico diferente da daguerrotipia.85 Depois de cruzar o Atlântico e passar algum tempo no Rio de Janeiro, Florence fixou residência na provinciana vila de São Carlos (atual cidade de Campinas), no interior de São Paulo, onde procurou ganhar a vida com a pintura de retratos em tamanho natural, retratos em miniatura e impressões tipográficas, além de se dedicar à descoberta, aplicação e comercialização de alguns inventos. Em 1833, concebeu um processo com o qual pretendia “multiplicar os desenhos e os escritos somente pela ação da luz solar” e produzia
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por esse sistema cópias de rótulos de farmácia e diplomas da maçonaria.86 Em 1839, a notícia da invenção da daguerreotipia na França foi publicada no Brasil e a viagem que levou o jovem Florence tão longe de casa fez o artista e inventor já maduro lamentar profundamente o “exílio” em que se encontrava.87 O livreiro e tipógrafo bonapartista Pierre Plancher chegou ao Rio de Janeiro no mesmo ano que Florence, mas diferentemente do noviço, ele veio para o Brasil fugindo da perseguição política da França.88 Três anos depois, em 1827, fundou o Jornal do Commercio, logo vendido ao francês Julio Villeneuve, dono da Typographia Imperial e Constitucional, que o transformaria em um dos mais importantes do Brasil monárquico.89 Em 1839, o jornal tinha uma seção especialmente dedicada às “notícias científicas” e nela contemplava os leitores da Corte e das províncias do Império com as matérias relacionadas a inventos e descobertas que surgiam no país e no exterior. O artigo “Optique; révolution dans les arts du dessin” (“Óptica; revolução nas artes do desenho”), publicado no Le Siècle (Paris, 17 de janeiro de 1839), traduzido para o português n’O Panorama (Lisboa, 16 de fevereiro de 1839) e reproduzido pelo Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, 1º de maio de 1839), trouxe a novidade até Florence. A matéria exaltava o “milagre novo e inesperado” que fazia a própria natureza retratar “a si mesma” e representa um dos melhores exemplos do papel que os jornais e as práticas editoriais da época tiveram na difusão dessa ideia. “Abandonado à própria sorte”, Florence constatou que a França concedia a Daguerre todas as honras que ele também julgava merecer pela invenção de um processo fotográfico, vendo com profundo desânimo a si mesmo e aos esforços que realizava em
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Conjunto de rótulos para frascos farmacêuticos reproduzidos pelo processo fotográfico inventado por Hercule Florence, 1833.
condições tão desfavoráveis.90 A ausência de compensação financeira pelo trabalho inventivo e a busca de reconhecimento social também atingiam outro francês, igualmente dedicado às experiências fotomecânicas. O primeiro autorretrato fotográfico é representativo do alcance dessa questão no século XIX e apresenta, não por acaso, o que poderia ser a figura de um náufrago. Hippolyte Bayard retratou, em meados de 1840, o seu próprio corpo, nu e desfalecido, atribuindo-lhe a legenda: “autorretrato de um afogado”. A imagem que fez de si mesmo exprimia, com sutil ironia, uma grande frustração pelo desinteresse de Arago e outras sumidades da França por seu processo fotográfico (o positivo direto sobre papel). O autorretrato de Bayard recorria, assim, ao apelo da figura de um náufrago, tão presente no imaginário da época, não para fixar a 57
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fisionomia do inventor com o “lápis da natureza”, mas para alcançar a sensibilidade dos contemporâneos. A fotografia, a despeito da ideia de “uma arte sem arte” que, tão somente, “reproduzia” o mundo visível, começava a mostrar que também podia ser uma imagem simbólica e ficcional.91 Em anotações e diários de toda uma vida, Florence deixou expressa a sua convicção no reconhecimento do esforço individual e, por conseguinte, na hierarquia do mérito na sociedade, uma concepção muito cara aos inventores, cientistas e engenheiros franceses, bastante influenciados pelas ideias de Saint-Simon.92 Em 26 de outubro de 1839, ele publicou no A Phenix, de São Paulo, um artigo no qual comunicava, publicamente, a sua invenção: Outra descoberta minha, conhecida também nesta vila e por algumas pessoas do Rio de Janeiro, é a photographia. O escrito que foi enviado a Paris levava no fim estes dois títulos: Descoberta da Photographia, ou impressão pela luz solar; Indagações sobre a fixação das imagens na câmera escura, pela ação da luz. Um desenho photographiado por mim foi apresentado ao príncipe de Joinville e posto no seu álbum, por uma pessoa a quem devo este favor. Acabo de ser informado que na Alemanha se tem imprimido pela luz, e que em Paris, está se levando a fixação das imagens a muita perfeição. Como eu tratei pouco da photographia por precisar de meios mais complicados, e de suficientes conhecimentos químicos, não disputarei descobertas a ninguém, porque uma mesma ideia pode vir a duas pessoas, porque sempre achei precariedade nos fatos que eu alcançava, e a cada um o que lhe é devido [...].93 58
O comunicado de Florence abre algumas trilhas em direção à história do OH e, particularmente, à chegada da daguerreotipia ao Rio de Janeiro. Além do príncipe de Joinville, a quem presenteou com um “desenho photographiado”, o inventor apresentou os estudos e as imagens que vinha produzindo a outros estrangeiros com quem teve a oportunidade de trocar informações. O reverendo Daniel Kidder foi um deles. Entre os anos de 1837 e 1840, o missionário norte-americano viveu no Brasil e viajou de norte a sul do país, conhecendo Florence em sua passagem pela província de São Paulo. Quando o OH fazia escala em Salvador, em dezembro de 1839, Kidder estava na cidade, depois de visitar as províncias do norte e nordeste.94 Em contato com a tripulação, o norte-americano recebeu uma oferta do comandante Lucas: poderia seguir com eles até o Rio de Janeiro. O livro Sketches of residence and travels in Brazil, publicado em 1845, relata a experiência do missionário a bordo do OH, com observações sobre o acolhimento que recebeu, a natureza da expedição, a disposição do navio, bem como a comida, a etiqueta e os hábitos franceses adaptados à vida no mar: Minha primeira noite no entrepont (convés intermediário) foi longa e quase insone. O ar do compartimento estava excessivamente quente, não havendo qualquer vento nem movimento para assegurar a mínima ventilação. Além do grande número daqueles que dormiam, cuja respiração tornava o ar continuamente mais rarefeito, pessoas conversavam em todas as direções e, como aparecia um grupo após o outro, novos assuntos de interesse eram introduzidos. Eu me distraía com um diálogo que ocorreu perto de mim, nestes termos:
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‘Nosso passageiro chegou?’ ‘Sim, ele está aqui.’ ‘Ele é um padre?’ ‘Sim, ele já fez suas preces.’ ‘Realmente, ele teve conosco uma educação divertida aqui!’ 95
Quando o OH ancorou no porto do Rio de Janeiro, o Jornal do Commercio noticiou, como de costume, os navios que chegavam à cidade e, também, a presença de Kidder entre os passageiros vindos de Salvador.96 A informação de que havia um daguerreótipo a bordo, provavelmente dada pelo comandante Lucas ou por outro membro da expedição, não demorou a se tornar conhecida. Esta parece ser a razão para o Jornal do Commercio ter divulgado, cinco dias depois da chegada do OH, o artigo que Florence havia publicado em outubro do ano anterior. A transcrição, na primeira página, aparecia junto a outro artigo sobre os últimos experimentos fotográficos realizados na Bélgica e na Alemanha. A intenção, dizia o jornal, era convidar o leitor a decidir se o mundo devia essa “descoberta” à Europa ou ao Brasil.97 A daguerreotipia chegava assim à cidade e com ela uma ampla e duradoura polêmica sobre a paternidade da invenção da fotografia.
A passagem pelo Rio de Janeiro, registrada no atlas da expedição ao redor do mundo da fragata Vênus, entre 1836 e 1839. O atlas compõe o quinto volume dos relatórios da viagem, comandada por Abel Du Petit-Thouars, publicados entre 1840 e 1843.
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Capítulo 1 1. Uma lista dessas viagens pode ser conhecida em www.en.wikipedia.org./wiki/ List_of_circumnavigations. 2. “Prospecto Specimen”, Museo Universal, jornal das famílias brazileiras, 1837, pp. 2-3. 3. Sussekind, 1990, esp. p. 80. 4. O mar e suas representações na pintura, em diversas temporalidades e espacialidades, já foi tema de muitas exposições, destacando-se, em data recente, As idades do Mar, na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 2012- 2013 e A Europa e o mar, no Deutsches Historisches Museum (Berlim, 2018). Cf. Pereira et al, 2012 e Blume et al., 2018. 5. Jal, 1848, p. 476. 6. Pigafetta, 2011; Taillemite, 1987, pp. 13-39; Gouzy, René. « Magellan ». In: Leroi-Gourhan, 1947, pp. 52-54. 7. Cartier, 1973, pp. 151-164; Taunay, s/d, pp. 431-432. 8. Daumas, 1957, pp. 455-462. Ver tb. Fernández-Armesto, 2009. 9. Kury, 1998, p.67. 10. J.N.L. Baker. “Cook”. In: Leroi-Gourhan, 1947, pp. 82-85. 11. Frame; Walker, 2018, esp. pp. 204-215. 12. [Anônimo]. “Viajes de Descubrimientos. La Pérouse” El Mercurio, Valparaíso, 19 de junho de 1840, p. 2. 13. Cf. Doneaud, 1865. Professor de literatura da Escola Naval, Alfred Doneaud publicou mais de uma dezena de livros sobre a história da marinha e “as glórias marítimas” da França, expressão que ajudou a consagrar. Sobre a presença da expedição de La Pérouse no imaginário francês, ver também www.laperous-france.fr/. 14. A expedição Malaspina-Bustamante, entre 1789 e 1794, foi uma dessas iniciativas e reuniu grande documentação sobre as regiões do Pacífico (América, Filipinas, Nova Zelândia e Austrália, entre
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outros pontos). Promovida pelo império espanhol, ela não pode entrar nos portos brasileiros, chegando diretamente a Mondevidéu, com uma breve passagem na ilha da Trindade, na costa brasileira, onde também havia estado a expedição de La Pérouse. 15. Taillemite, 1987, p. 69. 16. Duron, 2000, esp. p.190. O autor esclarece as discordâncias e imprecisões na literatura naval para palavras como “navire” e “batiment” que, em português, têm a mesma tradução (navio). 17. Jean Meyer. “Marines et économies”. In : Marine et technique au XIXe siècle, [1988], p. 34. 18. Jardin e Tudesq, 1973, t. 6, pp.10-30. 19. Golo Mann. “El desarrollo político de Europa y de America de 1815 a 1871”. In: Mann e Heuss, 1985, p. 480. 20. Idem, esp. pp. 477-494; Gueniffey, 2000, p. 1465. 21. Os armadores franceses que faziam o “tráfico” deixavam os portos do país com produtos europeus manufaturados que trocavam na África por homens, mulheres e crianças escravizados e transportados em seus navios para serem vendidos aos colonos das ilhas Reunião (então chamada “Bourbon”) e Maurício, Índias Ocidentais, Brasil, América do Norte e Oceano Índico, em troca do açúcar, café, cacau, algodão, tabaco e outras mercadorias que esses exportavam para a Europa. 22. A questão foi vista por esse prisma por muito tempo. Cf. Jullin, 1947, p. 23. A batalha de Trafalgar, na costa espanhola, representou uma grande derrota para a França que, sem o controle do Atlântico, perdeu a chance de invadir a Inglaterra. O almirante Nelson, grande responsável pela vitória, faleceu nessa batalha, transformando-se em um dos maiores heróis ingleses de todos os tempos. 23. AN (France), Rapports du et au ministre de la Marine, 1789-1863. “Notes sur
les affaires courantes”, 20 octobre 1840. Cote BB1-80. Ver tb. Darrieus e Quèguiner, 1997, pp. 29-41. 24. Gueniffey, 2000. 25. René Estienne. « Dupuy de Lôme et le Napoléon ». In : Marine et technique au XIXe siècle, [1988], p.203. 26. Riviale, 2000, p. 242. 27. Blais, 1996, pp. 78-79; Idem, 2001, p.1. A tese da autora, consultada no SHD-Marine, em 2001, foi publicada em 2005. Ver a referência completa na Bibliografia, ao final deste livro. 28. Taillemite, 1987, p. 61. 29. Anonyme. « Vocabulaire pittoresque de la marine ». Magasin Pittoresque Paris, 8ème année, 1840, p. 128. 30. Grehan, 1837-1846. 31. Freitas, 1855; Rodrigues, 1999, esp. pp. 29-38. 32. Grand dictionnaire (...), 1873, v. 10, p. 1208. Disponível em www.gallica.bnf.fr/ ark:/12148/bpt6k205362h/f1212.image (Encyclopédie Larousse). 33. Dicionários marítimos publicados ao longo do século XIX, inclusive no Brasil, podem ser vistos em www.bruzelius.info/ Nautica/Nautica.html. 34. Louis Reybaud. « Avenir de notre marine ; Rapport sur le matériel de la Marine, par M. le baron Tupinier, membre du conseil d’amirauté, etc. » Revue des Deux Mondes, Paris, tome 22, 1840. 35. Sylviane, 1990, pp. 47-52 ; Palais de Chaillot, 1943, p. 2. A abertura do Museu Nacional da Marinha (Musée National de la Marine), no Palácio Chaillot e a ampla reforma conceitual realizada em anos recentes comprovam o vigor dessa tradição. 36. O termo empregado para designar as ilhas situadas entre os oceanos Pacífico e Indico naquela região do planeta foi consagrado pelo uso em princípios do século XIX. 37. Jean-Paul Faivre. “Dumont D’Urville”. In: Leroi-Gourhan, 1947, p. 267. Ver tb.
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Taillemite, 1982. Uma medalha de ouro foi concedida à expedição pela Sociedade de Geografia de Paris. 38. Hennequin, 1836, t. 2, pp. 353-375 ; Taillemite, 1982, p. 296; Yvert, 1990, p. 181. Segundo A. Carré “vê-se o quanto Lucas aplica aqui as intenções do ministro Rosamel. Essa é a razão da aprovação que concederá a Lucas e o recomendará a outros ministérios». Carre, 1970, p. 18. 39. France. Almanach royal et national pour l’an 1839 présenté à sa Majesté (...). Paris : A. Guiot et Scibe, 1839, 4e partie, Dept. de la Marine et Colonies, esp. p. 132. 40. Chapuis, 1999. Ver, especialmente, o capítulo 4, “Éloge de la méthode”. 41. AN (France). Fond de la Marine. Serie “Correspondence génerale et mouvement (minutes)”, Lettre (minute) à “François Arago, secretaire perpetuel de l’Academie Royal et des Science”. 10 septembre 1839. Cote BB2-271, fl. 38; AN (France). Fond de la Marine. Serie “Rapports du ministre au roi e rapport au ministre”, “Proposition d’approuver l’achat d’un daguerréotype”, 12 et 28 septembre 1839. Cote BB1-79, p. 199. 42. Bourroul, 1900, p. 9 e seguintes. 43. Hennequin, 1835-1837, pp. 264-296. 44. Idem, p. 47. O autor afirma que Rosamel teria apresentado Florence ao francês Pierre Dillon (ex-secretário de Joachim Lebreton e, depois de 1816, comerciante estabelecido no Rio de Janeiro), deduzindo-se que tenha também autorizado o desembarque de seu noviço para que Florence não fosse considerado um desertor. 45. O tema será comentado mais adiante, neste capítulo. 46. Bourroul, 1900, p. 22 (sem indicar precisamente a fonte). Hercule Florence. “L’inventeur au Brésil”, in : “L’Ami des arts”, 1837, p. 177. Apud Monteiro, 2001, p. 55. 47. O’Reilly, 1966, p.45-46. O historiador, em verbete biográfico sobre Lucas, lastima não ter jamais encontrado um único
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retrato do capitão de longo curso da Marinha mercante, o que também ocorreu na pesquisa para este livro. 48. Sobre a história da maçonaria, ver Faucher, 1988; Saunier, 2000 ; Morel, 2001; www.en.wikisource.org/wiki/1911_ Encyclopedia_Britannica/Freemasonry. 49. O general Gilbert du Motier, marquês de Lafayette, herói da revolução de 1789 e da guerra de Independência dos EUA, além de festejado maçom, tornou-se figura emblemática da vinculação da entidade e de seus membros históricos com os novos tempos. A questão está presente no próprio museu da franco-maçonaria, subordinado ao Grande Oriente da França, na rua Cadet, em Paris. 50. A “sociabilidade”, além de indicar laços sociais e formas de socialização, foi estudada pelo historiador francês Maurice Agulhon com um novo instrumental teórico e metodológico, como sinônimo de vontade e prática associativa, reconhecível por dados quantitativos e comparativos. Sobre o tema, ver Morel, 2001 (a), esp. pp. 4-6. 51. Crouzet, 1998, pp. 57 e 255. O Fonds Maçonique da BnF, cote FM² 397, indicado pelo autor, contém o regulamento da loja e outros documentos, embora nada tenha sido encontrado sobre o capitão Lucas nos documentos consultados. 52. Freitas, 1835. 53. Um exemplo é a obra de DUBREUIL, 1844 (as duas primeiras edições são de 1835 e 1839). 54. France. Annales maritimes et coloniales, Partie officielle, Paris, Imprimerie Royal, 1840, t. 2, p. 376. 55. O nascimento de Lucas foi registrado em Palais, na mesma ilha. Essas informações encontram-se no Arquivo do Porto de Lorient (França), série 3P, sobre Belle-Île, sub-série 3P(1)22, sobre marinheiros inscritos em Bangor (Belle-Île). Ver também SHD-Marine. Fonds privé Adrien
Carré, Archives du port de Lorient. Registres des officiers mariniers et matelots 18261849. Augustin Lucas. 56. Idem. 57. Uma cópia do registro de casamento de Lucas e Elisabeth encontra-se no SHD-Marine. Fonds privé Adrien Carré. 58. France. Annales maritimes et coloniales, Partie non officielle, Paris, Imprimerie Royal, 1835, t. 2, pp. 1012-1014. 59. Idem; Ver tb. SHD-Marine. Fonds privé Adrien Carré. «Extrait du procés-verbal de la seance du Conseil des Travaux du ministère de la Marine (France). Nº 1395 – Gouvernail de fortune». [Paris], 22 octobre 1835. 60. As filhas de Augustin Lucas e Elisabeth Zoé Bellais chamavam-se Elizabeth Mathilde Lucas (1832-1923) e Dolores Lucas (1835-1868). Cf. Brève histoire d’Augustin Lucas et de sa famille par Eugène Guellec (1906-1970). Disponível em www.chauvigne.info/index.php. O site de genealogia também apresenta o depoimento de Evangeline Soyer, neta do casal, mas contém algumas informações equivocadas ou conflitantes sobre Lucas e sua família. 61. Cf. Doc 00.00.1839-1840 (Registro de bordo do OH). Ver tb. Carré, 1970, p. 26. 62. Darrieus e Quèguiner, 1997, p. 33 ; Palais de Chaillot, 1943, p. 36. A Escola Naval a bordo do Orion foi transferida, em 1840, para o Borda, empregado até 1914. 63. Lucas, 1839. 64. Lucas, 1853, “Reflexions et introduction”, p. 1. 65. Lucas, 1839, pp. 30- 31. 66. O proprietário era Aaron (dito Arnold) Wittersheim. Cf. Dictionnaire des imprimeurs lithographes du XIXe siècle. Disponível em www.elec.enc.sorbonne.fr/ imprimeurs/node/23204. 67. OH - Doc 00.03.1839 e OH – Doc 22.04.1839. 68. Lucas, 1853, p. II. Reedição da obra publicada em 1850.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
69. Cf. Wilkes, 1845. Sobre a expedição, ver Junqueira, 2008. 70. Blais, 1999, p. 79. 71. OH - Doc 00.03.1839. 72. Say, 1839, p. 200. 73. Blais, 2001, Carré, 1970. 74. Sobre viajantes europeus na China imperial e suas narrativas, ver Groh, 2000. 75. Leroi-Gourhan, 1947, p. 9. 76. Schaaf, 1992, esp. p. 79-80. 77. Leroi-Gourhan, 1947, p. 268. Os mares Erebus e Terror receberam os nomes dos navios da expedição. 78. As pesquisas e as imagens de Talbot estão disponíveis em www.talbot.bodleian.ox.ac.uk/search. 79. Schaaf, 1992; Brunet, 2000. 80. Cornevin e Cornevin, 1990, p. 394. 81. [Anônimo]. “Costumes políticos; o jornalismo na França e na Inglaterra”. Revista Litteraria. Porto, 1841, p. 351 (“extraído do Quarterly Review”). University of Michigan Libraries. Disponível em http://books. google.com.br. 82. Charle, 2004. 83. Hilaire-Pérez, 2000, p. 294. Para a pesquisadora, “os exemplos são múltiplos e sugerem que os jornalistas são conscientes de uma responsabilidade na difusão de informações”. 84. Ver OH - Doc 04.03.1840. O artigo de Florencio Varela sobre a invenção da daguerreotipia, publicado no El Correo de la Plata (Montevideo, 4 de março de 1840), será comentado no capítulo 5. 85. Kossoy, 2006. Edição revista e ampliada das edições de 1976 e 1980. O pesquisador realizou uma ampla pesquisa documental, bem como as comprovações empíricas e a análise crítica que demonstraram e divulgaram, internacionalmente, a invenção de Hercule Florence. 86. Hercule Florence. “La recherche et la découverte”. Manuscrito de 1833. Apud Kossoy, 2006, p. 159. 87. A reação de Florence, em 1839, foi
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relatada em seus escritos de 1852. Cf. Kossoy, 2006, p. 143. 88. Ferreira, 1977, p. 199; Morel, 2002. 89. Turazzi, 1995, p. 96. 90. Ver, em Turazzi, 2008, uma análise sobre Florence, Daguerre e as “recompensas nacionais” concedidas aos dois inventores. 91. Gautrand e Frizot, 1986. 92. Jardin e Tudesq, 1973, t. 6, pp. 100-101; André James, “L’événement Arago”, in Frizot et al, 1989, p. 24 ; Brunet, 2000, pp. 83-84. 93. A Phenix, 26 de outubro de 1839. Reproduzida em Kossoy, 2006, p. 228. 94. Ermakoff, 2006, p. 25. 95. Kidder, 1845, p. 344. 96. Jornal do Commercio, edição de 25, 26 e 27 de dezembro de 1839, p. 5. 97. Jornal do Commercio, 29 de janeiro de 1840, p. 1.
O boulevard du Temple, em Paris, fotografado por Daguerre, entre 1838 e 1839. O inventor realizou dois daguerreótipos conhecidos, em horários diferentes, do mesmo local, realizando testes sobre os efeitos da luz na obtenção das imagens. Nesta imagem, a câmera captou dois homens que permaneceram imóveis por algum tempo (canto inferior esquerdo). Daguerre presenteou o conjunto, em uma bela moldura, ao rei Louis I da Baviera, logo depois que os segredos da daguerreotipia foram revelados na Academia de Ciências de Paris, em 19 de agosto de 1839. Outros daguerreótipos foram enviados pelo inventor a vários monarcas (Bélgica, Áustria, Rússia, Prússia, etc.). O OH apresentaria a invenção a mais alguns.
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A vista de uma janela em Gras, residência de Nicéphore Niépce em Chalon-sur-Saône, 1826. É a imagem fotográfica mais antiga que se conserva e foi obtida em uma placa de estanho, sensibilizada com betume da Judéia, depois de oito horas de exposição à luz solar.
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A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
Certas invenções do mundo moderno têm nomes curiosos, inspirados pelas circunstâncias e personagens que envolveram a sua incorporação ao uso social e ao vocabulário corrente. Algumas invenções de origem francesa com estas características podem ser lembradas na história do OH. A primeira delas é a guilhotina. A palavra remete ao doutor Guillotin, médico que defendeu o uso do maquinismo na França, durante a Revolução de 1789, como forma de abreviar o prolongado sofrimento dos condenados à morte. O Tribunal Marítimo de Brest, em maio de 1839, condenou à guilhotina o segundo capitão e um dos marujos do navio mercante Alexandre, acusados pelo assassinato de parte da equipagem e seu comandante. O caso teve grande repercussão à época e foi publicado com um título ilustrativo do rigoroso código disciplinar no meio naval.1 Para o reverendo Kidder, assim como para vários comandantes navais que cruzaram com o OH nos portos do Atlântico e do Pací-
fico, a indisciplina a bordo da expedição sinalizava os rumos de sua desventura. A segunda invenção do gênero é a silhueta, retrato em miniatura obtido por um engenhoso mecanismo capaz de delinear o perfil dos indivíduos pelo contorno de sua própria sombra. A utilização do fisionotraço popularizou a encomenda de pequenos retratos que podiam agora ser adquiridos a preços módicos e, por essa razão, foram apelidados com o nome do ministro das Finanças da França na época pré-revolucionária. Étienne de Silhouette era um conhecido adepto da arte e da economia de gastos.2 Os franceses promoveriam o aparecimento de outras invenções ainda mais engenhosas na arte de representar o mundo visível, com ligeireza e exatidão, a preços acessíveis, na primeira metade do século XIX. A incorporação da daguerreotipia ao OH indica, ao menos parcialmente, a abrangência e o êxito dessa ideia, a despeito do naufrágio da expedição. 65
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Louis-Jacques-Mandé Daguerre (1787-1851) O famoso inventor era neto de um cirurgião da Marinha francesa (Jean-Jacques Daguerre)3 e o apreço pelas viagens marítimas, se já não fizesse parte do imaginário da época, teria aí uma boa razão familiar. Pintor sem grande expressão, ele trabalhou como decorador de teatros e panoramas cenográficos até que, em 1822, obteve a patente do diorama, gênero de espetáculo que explorava o fascínio de paisagens exóticas e monumentos históricos com efeitos de projeção luminosa. Como empresário de sucesso no mundo das imagens, Daguerre passou a se dedicar à experimentação de processos fotomecânicos, enquanto usufruía a popularidade e o prestígio conquistados na cena parisiense. Em 1825, foi condecorado com a Legião de Honra (Légion d’Honneur) da França e, em 1832, foi introduzido na corte de Louis-Philippe, típicas manifestações de prestígio que lhe trariam, naturalmente, outras formas de reconhecimento.4 A ideia de que a expedição do OH seria a primeira viagem de circum-navegação a obter imagens com a daguerreotipia, levando a invenção a todos os povos e monarcas a quem fosse apresentada, não escapariam a uma personalidade como Daguerre, a julgar pelas preocupações do inventor que podem ser apreendidas em diversos testemunhos das atividades do inventor antes, durante e depois do ano de 1839. O apoio do governo francês à expedição e o imaginário de conquistas científicas e recompensas simbólicas ligado às missões navais eram atrativos significativos para convencê-lo dos interesses convergentes no sucesso do empreendimento. Daguerre recebeu em vida algumas das mais prestigiosas honrarias da França, como os títulos de cavaleiro e oficial da Legião de Honra, este último em junho de 1839, assim como uma pensão vitalícia pela invenção da daguerreotipia, além de várias homenagens póstumas: uma rua batizada com o seu nome, em Paris, em 1867; um monumento na cidade natal, inaugurado em Cormeilles-en-Parisis, em 1883; outro monumento no vilarejo de Bry-sur-Marne, onde adquiriu uma propriedade em fins de 1839, sendo ali enterrado em um mausoléu permanente, em 1897. Por outro lado, ele também foi alvo de variadas formas de desprestígio, com charges e comentários na imprensa da época pouco benevolentes com o inventor, reproduzidos por uma parcela da literatura fotográfica que se ocupou da história da daguerreotipia como uma invenção que teria eclipsado o pioneirismo de Nicéphore Niépce. Em 1955, o casal Alison e Helmut Gernsheim lançou a única biografia de Daguerre já publicada em livro e novas perspectivas sobre a história das invenções vêm sendo debatidas pela historiografia contemporânea. Mas, o legado desse homem indecifrável e misterioso, como já apontavam os próprios contemporâneos, continua sendo um tema controverso e fascinante.
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Um retrato ainda mais raro de Daguerre, originalmente em daguerreotipia, cuja autoria é atribuída por uns ao próprio inventor (autoretrato), por outros a Pierre Ambroise Richebourg. A imagem em fotogravura com a reprodução do retrato é assinada por Richebourg, um dos “alunos” de Daguerre, e foi impressa em 1855.
Em 27 de setembro de 1835, o jornalista e escritor Arsène Houssaye revelou para o pequeno número de leitores do Journal des Artistes que Daguerre tinha descoberto um meio de tornar permanente “qualquer tipo de vista, retrato ou paisagem” produzida com a câmera escura. E concluía: “a ciência física provavelmente jamais apresentou uma maravilha comparada a esta”.5 O feito, contudo, só se concretizaria, de fato, depois que Daguerre encontrou no sal marinho um meio para a fixação da imagem obtida na placa metálica no interior da câmera escura, revelada pelo vapor
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de mercúrio. Em 1838, quando a expedição do OH começou a ser planejada, nada mais tinha sido publicado sobre suas experiências. As imagens obtidas por Daguerre eram conhecidas, até então, por um número muito restrito de pessoas e o processo, somente pelo inventor e seu sócio (ver a Cronologia da invenção e difusão daguerreotipia, 1816-1842).
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
A invenção que Daguerre acabou batizando com o seu próprio nome foi divulgada para uma audiência bem mais ampla pela Gazette de France, em 6 de janeiro de 1839. O jornal ostentava a honrosa condição de suceder o primeiro periódico francês (a Gazette, fundada em 1631) e antecipou naquela matéria uma informação que seria formalmente
A cidade de Paris, com suas subdivisões administrativas, ruas e estabelecimentos, em 1840.
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comunicada à Academia de Ciências da França no dia seguinte. A “descoberta de Daguerre” foi descrita pelo jornal como “uma revolução nas artes do desenho”, frase que acabaria transformada em legenda para o fenômeno cultural representado pelo aparecimento da fotografia, palavra que, até então, nem fazia parte do vocabulário corrente. O artigo concluía seu prognóstico exaltando justamente a utilidade do procedimento para as viagens. Por uma quantia considerada “irrisória”, os viajantes poderiam trazer na bagagem as mais belas vistas de monumentos e cenários do mundo. Desenhistas e pintores não iriam desaparecer, pois em muitos casos não podiam ser substituídos, mas os resultados obtidos com a invenção comprovariam quão distante da realidade estavam os lápis e os pincéis.6 Com a “revolução” anunciada pela Gazette de France e, logo, celebrada pela Academia de Ciências, o quadro mudou completamente. Ao longo do ano de 1839, a daguerreotipia, suas limitações e suas promessas frequentaram assiduamente os jornais e os debates, em Paris e outras cidades. Um levantamento realizado pelo pesquisador Paul-Louis Roubert relaciona duzentos e dezessete artigos sobre a fotografia e seus temas, somente na imprensa parisiense, entre janeiro e novembro de 1839.7 A imprensa especulava sobre a novidade, ainda desconhecida aos olhos da maioria, levantava dúvidas e imaginava possibilidades. Depois de conhecê-la, passou a explicar os seus procedimentos e a relatar os primeiros ensaios, até que os anúncios para os adeptos da novidade também ocupassem suas páginas. Como afirmou um contemporâneo, “todos disputam esses aparelhos que cada um quer experimentar e toda Paris é prisioneira da febre do daguerreótipo”.8 Em janeiro de 1840, apareceu no comércio parisiense, sem 68
o nome do editor, um inédito Album du daguerreotype réproduit, orné de vues de Paris, en épreuve de luxe avec texte (“Álbum do daguerreótipo reproduzido, ornado de vistas de Paris, em impressão de luxo com texto”).9 Meses depois, o litógrafo e caricaturista Charles Philipon, um dos mais ativos e combativos editores da imprensa francesa, publicou Paris et ses environs reproduits par le daguerréotype (“Paris e seus arredores reproduzidos pelo daguerreótipo), coletânea de textos e litogravuras, cuidadosamente editada, com a assinatura de um conjunto de artistas da imagem.10 Desde a publicação da Encyclopédie (1762-1772), de Diderot e Alembert, as circunstâncias favoráveis ditadas pela “sorte” atrelavam o termo invenção ao campo da “descoberta” e da “coleta de tesouros na natureza”. A invenção da imagem fotomecânica na primeira metade do século XIX ficou circunscrita a esse esquema explicativo, duradouro e recorrente. Com o olhar orientado pelas ciências naturais, cientistas como Alexander von Humboldt e outros de seu tempo viram na fotografia não exatamente uma obra humana, mas uma descoberta daquele tipo, pois “as imagens têm o caráter do natural inimitável, que só a natureza em pessoa poderia ter fixado”11. Essa operação discursiva, recorrente no senso comum e em parte da literatura sobre a fotografia, obscureceu todas as adaptações, as trocas, os ensaios e os esforços cotidianos, assim como os métodos de concepção e as contingências da inovação, presentes na história das múltiplas invenções de processos fotográficos.12 O anúncio da “descoberta” da daguerreotipia projetou sobre o mundo letrado não apenas o nome de um inventor, como também todo um vocabulário fotográfico novo e diversificado. Embora a formação da palavra
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daguerreótipo seja considerada atípica por alguns autores13, o recurso ao nome do cientista para a denominação de suas descobertas era, e ainda é, uma prática recorrente em diferentes ramos da ciência, consagrada internacionalmente como forma de reconhecimento de autorias e legitimação de prioridades. As ciências naturais estavam repletas desses exemplos e, neste sentido, a opção de Daguerre por seu sobrenome para batizar o processo fotográfico que estava prestes a colocar ao alcance do público exprimia uma aproximação desejada
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
com as práticas científicas.14 Essas práticas dependiam, contudo, de variadas formas de colaboração, negociação, comunicação e trocas culturais entre os homens de ciências e invenções da época. Dedicando-se às suas próprias experiências com as imagens obtidas pela ação da luz, o astrônomo John Herschel viu-se estimulado pela invenção de Daguerre, depois de seu anúncio em janeiro de 1839. Os segredos da daguerreotipia ainda não tinham sido revelados, mas ao tentar desvendá-los
Daguerreótipo de Paris, obtido por Daguerre de um ponto de vista elevado, nas proximidades da PontNeuf, c. 1839. Em primeiro plano, a estátua equestre de Henrique IV, diante do rio Sena, tendo ao fundo as demais pontes. O Louve (à esquerda) e o Instituto de France (à direita) aparecem invertidos, tal como nas imagens obtidas com a câmera de daguerreotipia antes do aperfeiçoamento introduzido por Daguerre para resolver o problema.
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A sociedade entre Niépce e Daguerre, ilustrando uma versão idealizada da história da invenção da daguerreotipia, 1853. O Musée de Familles definia-se como um jornal dedicado às “leituras do entardecer”.
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e, ao mesmo tempo, viabilizar um processo fotográfico sobre papel, Herschel empregou o hipossulfito como fixador das imagens que obtinha com a câmara escura. As experiências do cientista inglês e a solução encontrada logo foram comunicadas nos meios acadêmicos ingleses e franceses e acabaram sendo empregadas também pelo próprio Daguerre, em substituição ao sal marinho, ainda duran-
te o ano de 1839.15 Em maio, Herschel viajou para Paris e, depois de contemplar as imagens obtidas por Daguerre, viu-se encantado com a superfície espelhada e as promessas de rapidez e facilidade daquele processo fotográfico, ainda guardado em segredo. A impressão positiva causada pelo daguerreótipo, inclusive entre os ingleses, ajudaria a colocar os inventores franceses na dianteira do reconhecimento público de sua paternidade sobre a invenção da fotografia. A utilização do nome de Daguerre para batizar sua “descoberta” não foi, contudo, uma solução motivada apenas pela aproximação com o campo científico. Ela foi, também, uma questão negociada com bastante empenho pelo inventor que, assim, consagraria o seu nome e a sua prevalência sobre a daguerreotipia. A sociedade com Nicéphore Niépce, engenheiro militar e homem de invenções que, desde 1816, trabalhava na fixação de imagens fotomecânicas, estava na origem dessa solução.16 Niépce era avesso à ideia de compartilhar suas experiências, mantidas em segredo mesmo depois que conseguiu obter com a câmera escura, nos anos 1820, imagens permanentes com o processo fotomecânico. Uma vista da janela de sua casa, realizada por volta de 18261827, ainda se encontra preservada.17 Charles Chevalier, fabricante de instrumentos óticos, foi quem confidenciou para Daguerre as experiências de Niépce e este acabou lhe mostrando, em 1827, as ideias reunidas em seu texto Notice sur l’Héliographie. Dois anos depois, os dois assinaram um minucioso contrato de sociedade.18 O manuscrito de Niépce continha todos os meios e os materiais empregados na invenção e aperfeiçoamento da heliografia, reconhecido como o primeiro processo de fi-
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xação das imagens obtidas pela luz solar com uso da câmera escura. A sociedade do inventor versado nas técnicas de gravura e reprodução, com um pintor e cenógrafo que conhecia o encantamento das imagens obtidas por efeitos luminosos, daria origem, dez anos depois, ao aparecimento da daguerreotipia.19 Daguerre propôs então a substituição da palavra heliografia por outra que melhor designasse as soluções compartilhadas por ambos. Mas, somente quando Niépce faleceu, em 1833, ele conseguiu renegociar os termos do antigo contrato com Isidore, filho e herdeiro de seu sócio. Entre 1835 e 1837, Daguerre obteve sucesso ao estabelecer que a invenção levaria o seu nome. A escolha da palavra daguerreotipia era uma questão fundamental para ele e ficou garantida, assim, bem antes que a existência do processo propriamente dito se tornasse pública. Os esforços para obter imagens fotomecânicas permanentes eram, portanto, muito anteriores aos processos fotográficos que se tornaram conhecidos depois do anúncio da invenção da daguerreotipia, em 1839. Essa longa aspiração começou a ser enfatizada pelos que assistiram ao aparecimento da “descoberta” de Daguerre e, com ela, das disputas pela prioridade de um processo fotográfico. Como homem de espetáculos e de invenções, Daguerre tinha uma percepção aguda das vantagens, individuais e coletivas, que a introdução e difusão da imagem fotomecânica poderiam representar para a vida social, em seus múltiplos aspectos. Neste sentido, as palavras, os instrumentos e as placas metálicas que marcaram os primórdios da daguerreotipia também se traduziram em uma narrativa sobre a natureza da imagem fotográfica, subjacente à invenção de Daguerre e bem mais duradoura do que o seu próprio invento:
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
Como em todas as tecnologias [...], a imagem que se fazia da fotografia correspondia a programas sociais e políticos bem específicos. Longe de ser politicamente neutra, ela era parte integrante de uma ideologia, de um sistema de pensamento que defendia uma determinada ordem social.20
O Hôtel de Ville de Paris, sede da municipalidade, na margem direita do rio Sena, 1840. O jornal Le Magasin Pittoresque ilustra com essa imagem uma matéria sobre as obras de restauração e ampliação do edifício, erguido no século XVI.
O prospecto que Daguerre mandou imprimir, em fins de 1838, apresentava o daguerreótipo não como o aperfeiçoamento da câmara escura, isto é, “um instrumento que serve para desenhar a natureza, mas como um procedimento físico e químico que lhe dá a facilidade de reproduzir a si mesma”21. Neste sentido, ao anunciar a invenção, Daguerre explicitava, com uma conceituação bastante clara, o caráter mecânico de uma “descoberta suscetível a todas as aplicações”.22 Embora não tenha tido maior divulgação, esse texto já formulava claramente a multiplicidade de aplicações, a simplicidade da execução e a 71
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Demonstrações da daguerreotipia: o Louvre e a Pont Royal, fotografados por Daguerre da outra margem do rio Sena, em 1839. A imagem tem, no verso, uma anotação sobre sua procedência: “Primeira prova feita por Daguerre diante de seus colegas da Sociedade de Belas Artes, em 2 de outubro de 1839, no Palais du Quai d’Orsay. [...] Esta experiência e esta prova, diz-se que ela foi alterada ao passar de mão em mão e que Daguerre recomeçou uma segunda que ele doou à Sociedade; é esta que nós possuímos em nossos arquivos [...].”
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compensação dos resultados que uma invenção sem pré-requisitos prometia oferecer. A mesma concepção estaria presente nos debates e comunicados da Academia de Ciências e nas inúmeras matérias publicadas na imprensa da época sobre o aparecimento da fotografia. O historiador François Brunet analisou os primeiros tempos da daguerreotipia, já amplamente debatidos pela historiografia do meio, com uma nova perspectiva. Para o autor, a invenção da daguerreotipia inaugurou uma nova era na história das imagens, justamente porque ela trazia em seu âmago o nascimento de uma ideia, ao mesmo tempo lógica e política.23 Concentrando-se na genealogia dessa ideia, o autor analisou o processo de afirmação da fotografia como a invenção de uma imagem exata e natural (“uma arte sem arte”) e, por isso mesmo, acessível a qualquer um (“uma arte ao alcance de todos”). Com a convicção de que os enunciados sobre a fotografia têm um condicionamento histórico, o autor defendeu o argumento de que o uso da palavra descoberta, a começar pelo próprio Daguerre, no lugar da palavra invenção, já evidenciava, por si só, o quanto a concretização de uma “arte sem arte” parecia viabilizar a aspiração de uma “arte ao alcance de todos”. Desenhada pela própria natureza, a fotografia teria se apresentado ao século XIX, segundo Brunet, “como a forma técnica e discursiva de uma utopia ao mesmo tempo lógica e política: a abolição do privilégio do artista num modo de imagem governado por sua origem não artística, portanto acessível a qualquer um”.24 A reflexão desse autor, precocemente falecido quando este livro estava sendo concluído, foi fundamental para a compreensão da experiência do OH.25 Dois acontecimentos no ano de 1839 foram decisivos para conceder à daguerreotipia
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
Câmera do modelo “GirouxDaguerre” para a prática da daguerreotipia. 1839. O aparelho fotográfico primitivo descendia, basicamente, da câmera escura, sendo incorporado à sua estrutura lentes mais avançadas e um dispositivo interno para a instalação da placa metálica sensibilizada pelo vapor de iodo, antes de sua exposição à ação da luz solar.
Caixa para a exposição ao vapor de mercúrio, sem contato com a luz, da placa polida depois de sensibilizada pelo vapor de iodo e exposta à ação da luz solar. 1839. As caixas de mercúrio, como as caixas de iodo, integravam o equipamento essencial para o processamento químico da imagem na daguerreotipia.
a dimensão lógica, jurídica e social que caracterizou o nascimento público da ideia de fotografia no oitocentos, marcando daí em diante toda a cultura moderna. Longe de ser apenas uma data convencional para a celebração da “descoberta da fotografia”, já esclarecida pelo 73
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Louis-Philippe, “rei dos Franceses”, junto à Carta Constitucional de 1830, um dos símbolos da Monarquia de Julho.
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reconhecimento das múltiplas invenções de processos fotográficos, esse ano representaria o ponto de inflexão em determinada lógica do processo técnico, seu caráter público e universal, seu alcance social e simbólico. O primeiro acontecimento foi a tramitação e aprovação da chamada “lei Daguerre”, entre julho e agosto de 1839, segundo proposta de François Arago. Encaminhada ao conde Duchâtel, ministro do Interior da França, ela foi enviada para votação na Câmara dos Deputados, depois de analisada por uma comissão que tinha o cientista e parlamentar como relator. Essa lei criava uma “recompensa nacional”, solução incomum
na legislação francesa e internacional, pois estabelecia a aquisição pelo Estado dos direitos sobre a invenção da daguerreotipia através do pagamento de uma pensão vitalícia (e não um prêmio) a Daguerre (6.000 francos) e a Isidore Niépce (4.000 francos), sem que o invento propriamente dito fosse para uso do Estado.26 A “lei Daguerre”, aprovada por ampla maioria (237 votos favoráveis x 3 votos contrários) na Câmara dos Deputados, foi sancionada pelo rei Louis-Philippe, em 7 de agosto de 1839. Homem de erudição e personalidade política, “Arago construiu seu discurso tendo em vista fazer do daguerreótipo uma inovação universal e positivista em uma aliança consensual das instituições científicas e das vontades políticas”.27. A argumentação do cientista tinha um olhar no passado e outro no futuro: para comprovar a precedência dos franceses sobre os resultados obtidos por William Fox Talbot, na Inglaterra, cujas experiências passaram a ser debatidas pelo mundo científico e divulgadas pela imprensa de vários países, Arago recuou a cronologia da invenção da daguerreotipia até as experiências iniciadas por Nicéphore Niépce muito antes de Talbot. Com a perspectiva de favorecer o conhecimento, ele também antecipou boa parte das aplicações úteis de um invento que a França “doaria ao mundo inteiro”. Na aprovação da “lei Daguerre”, os argumentos de Arago em favor da concessão da pensão vitalícia aos dois inventores franceses confundiam-se com a defesa da pátria e de seus ideais civilizatórios: O daguerreótipo não comporta uma única manipulação que não esteja ao alcance de todos [grifo meu]. Ele não supõe qualquer conhecimento de desenho, ele não exige qualquer destreza manual. Em conformidade, ponto por ponto, com
Maria Inez Turazzi
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
François Arago (1786-1853) Físico, matemático e astrônomo formado pela Escola Politécnica, François Arago tinha deixado para trás, a exemplo de tantos outros de sua geração, as vitórias e as derrotas das campanhas napoleônicas para trilhar uma bem-sucedida carreira pública, como diretor do Observatório de Paris e parlamentar republicano. Em 1839, Arago era o secretário perpétuo da Academia de Ciências da França, acumulando as funções de liderança e organização da prestigiada entidade, fundada em 1666, com uma cadeira na Câmara dos Deputados, além de integrar muitas outras sociedades científicas e entidades civis, entre as quais a maçonaria.29 As convicções republicanas e saint-simonianas de Arago em sua atuação institucional fizeram desse sábio, respeitado internacionalmente, um dos maiores entusiastas de seu tempo na difusão do conhecimento científico. Desde 1813, ele próprio ministrava palestras sobre astronomia e outras matérias para plateias não especializadas, sendo por isto elogiado como um “preconizador e vulgarizador da ciência” no Musée des Familles, jornal dedicado a essa audiência.30 A abertura ao público das sessões da Academia de Ciências, assim como a publicação das atas de suas reuniões, com a divulgação dos respectivos resumos em jornais e revistas de grande circulação, também foram decisões tomadas por seu secretário (os Comptes rendus des séances de l’Académie des sciences passaram a ser publicados em 1835). Para Anne McCauley: O daguerreótipo, além de prometer mecanizar a fabricação de imagens, diminuir o seu preço de custo e fornecer informações exatas a um público amplo, representava uma etapa no encaminhamento da sociedade igualitária e justa que Arago almejava profundamente.31 O retrato de François Arago (pintura de Charles Steuben, 1832): homenagem ao astrônomo na Biblioteca do Observatório de Paris e na jornada científica do Bureau des longitudes, em 2006.
certas prescrições muito simples e pouco numerosas, não há ninguém que não obtenha sucesso tão certo e tão bem quanto o próprio M. Daguerre em pessoa.[...] Esta descoberta, a França a adotou desde o primeiro momento e se mostra orgulhosa de poder doá-la com liberalidade ao mundo inteiro. 28
Por sua entusiástica argumentação em favor da difusão da daguerreotipia e a intensa
O cientista era o mais velho de quatro irmãos, entre os quais o desenhista e escritor Jacques Arago. Depois de acompanhar a viagem de circum-navegação comandada por Freycinet, entre 1817 e 1820, o escritor popularizou suas experiências com Voyage autour du monde; souvenirs d’un aveugle (1839-1840) e Comment on dîne partout (1842). A primeira recebeu notas explicativas do irmão cientista e teve sucessivas reedições. François Arago também esteve ligado ao Escritório de Longitudes (Bureau de Longitudes) do ministério da Marinha da França, ocupando-se dos métodos e instrumentos que garantiam precisão e eficácia às expedições navais, antes de se tornar o ministro da pasta, em 1848.32 Além de conhecer o peso econômico e militar da arte da navegação, ele também compreendia muito bem o seu simbolismo e apelo popular.
atividade parlamentar no processo de aquisição dos direitos sobre a invenção pelo Estado francês, no lugar de uma patente que lhe restringisse o uso, Arago passou à posteridade 75
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
como um hábil nacionalista que teria transformado uma ideia, compartilhada por Daguerre com outros inventores da época, em uma criação genuína (e prioritariamente) francesa. Os estudos que procuram conjugar a trajetória do cientista e parlamentar com as convicções filosóficas e políticas do homem público, voltado para a educação das massas, a promoção do progresso industrial e a defesa do Estado representativo e igualitário, incorporaram outras questões a essa perspectiva: Em realidade, Arago propôs recompensar pelos serviços oferecidos à nação um homem [Daguerre] que ele apresentou como cientista desinteressado, tendo sacrificado seu tempo e seu dinheiro a uma causa superior. A ideia de que o Estado deveria substituir a livre iniciativa para encorajar a invenção era parte do programa republicano e foi inspirada nos escritos de saint-simonianos e de utilitaristas ingleses.33
A influência das ideias de Saint-Simon na França, muito cara aos cientistas, inventores e fabricantes da época, teve papel importante nos debates sobre a daguerreotipia: a exaltação da utilidade da indústria, a defesa do empreendedorismo e a condenação ao sistema de patentes e privilégios deslocavam a direção da moderna sociedade industrial para os homens de ciências e invenções que produziriam o “bem de todos”. A “lei Daguerre”, contudo, não deixava de ser uma solução aparentemente contraditória nesse horizonte intelectual em que se misturavam o saint-simonismo, o liberalismo e o republicanismo, pois se as restrições impostas por uma patente deviam ser evitadas, a intervenção do Estado também parecia contrária à bandeira da livre iniciativa, tão propagada na Inglaterra.34 Os 76
O Instituto de França, em detalhe no mapa de Paris com os principais estabelecimentos da cidade, em 1840.
franceses, no entanto, combinavam com muita engenhosidade o intervencionismo em matéria comercial e industrial com o liberalismo político e cultural dos valores republicanos.35 Depois de aprovada a “lei Daguerre”, o outro acontecimento fundamental para a difusão da ideia de uma arte “sem arte”, “ao alcance de todos”, ocorreu a 19 de agosto de 1839. Os segredos envolvidos na invenção e prática da daguerreotipia foram finalmente apresentados em uma reunião conjunta das Academias de Ciências e de Belas Artes, no Instituto de França. Um jornal londrino, com o sugestivo título Globe and Traveller, foi o primeiro a descrever para os ingleses, em 23 de agosto de 1839, o evento que finalmente revelou os segredos da daguerreotipia.36 Embora Daguerre estivesse presente à reunião, foi Arago quem se ocupou das explicações sobre os materiais e os procedimentos técnicos de um invento cercado de enorme curiosidade. Ele era um dos poucos que conhecia os detalhes do processo, desde
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que foi procurado por Daguerre e, sobretudo, foi o grande mentor intelectual da solução encontrada para a sua difusão. A sessão, com ares de espetáculo, consagrou ali uma filiação, um local e uma data para o nascimento da fotografia, ideia construída pela confluência de muitos fatores ao longo de todo aquele ano.37 A reunião no Instituto de França (Institut de France), o público presente ao Quai de Conti e a imediata transcrição das palavras de Arago na imprensa francesa e internacional devem muito à força das convicções expressas pelo deputado e acadêmico. Por outro
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lado, reduzir o alcance de sua iniciativa a uma notável habilidade política para engendrar a anterioridade dos franceses sobre a fotografia, seria o mesmo que menosprezar todo o impacto que as notícias sobre a invenção de um processo fotográfico tiveram na ampliação da audiência social do discurso científico.38 A inédita publicidade dada à invenção da daguerreotipia foi tão importante quanto o reconhecimento implícito da dimensão universal assumida pela “descoberta de Daguerre” e sua “doação à humanidade”, como boa parte da imprensa não se cansava de reiterar. O gosto pelas coisas do pensamento marca a
O Instituto de França no século XIX, diante do rio Sena, em Paris, desenhado a partir da Ponte das Artes.
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Manual de Daguerre sobre a história e a descrição dos procedimentos do daguerreótipo e do diorama, impresso na primeira quinzena de setembro de 1839.
sociabilidade da época e o “espírito de conquista, prisioneiro de velhas fronteiras, se lança sobre o campo ilimitado do saber”.39 A partir daquele dia, a fotografia podia, ao menos em tese, ser praticada por qualquer um, nas infindáveis aplicações que pudessem ser imaginadas. Para isso acontecer, Daguerre cuidou pessoalmente de duas questões básicas: o licenciamento para a fabricação dos aparelhos de daguerreotipia, sob sua supervisão, e a preparação de um manual descritivo do procedimento, impresso sob rigoroso controle e distribuído logo após a reunião no Instituto de França. Como se observa, no momento da revelação dos segredos da daguerreotipia, em 19 agosto de 1839, toda a estrutura para a comercialização do invento já estava montada.40 Se esse planejamento não era inédito, realizá78
lo sob a pressão de tanta publicidade foi, sem dúvida, um fato novo na história das invenções do século XIX. Por tudo isto, o dia 19 de agosto de 1839 tornou-se bem mais do que uma data convencional para a história da fotografia. Ele também representa a criação de um lugar de memória para os acontecimentos celebrados naquele dia. O casal Gernsheim, com a minuciosa pesquisa que realizou em toda a documentação ligada à daguerreotipia na França, ofereceu há tempos as evidências dessa construção simbólica.41 As invenções mecânicas estavam na ordem do dia. A Exposição dos Produtos da Indústria Francesa, realizada entre maio e julho de 1839, em Paris, exibiu para um público considerável os melhores maquinismos do momento, destacando-se os novos usos da energia a vapor. Com 3.281 expositores, sendo 2.305 premiados com medalhas de ouro, prata, bronze e menções honrosas, a área de 16.500 metros quadrados nos Champs-Elysées foi percorrida por visitantes de todo tipo, que não se cansavam de retornar à exposição em diversas ocasiões. Esse público incluía desde o rei Louis-Philippe e a família real, até pequenos e grandes empreendedores de toda a França, entre os quais fabricantes, comerciantes, armadores, engenheiros, naturalistas, além de visitantes estrangeiros e jornalistas. Todos estavam interessados em conhecer, expor e/ou adquirir o maquinário agrícola e industrial, os instrumentos óticos e náuticos, os materiais de impressão e as técnicas de gravação, sem contar os “objetos de história natural”, os “globos terrestres e planetários” e tantos outros itens nos quais “a indústria presta um serviço à ciência”.42 Embora Daguerre fosse o inventor mais festejado do momento, o catálogo e o relatório da exposição não trazem seu nome, mas Alphonse Giroux,
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Desenhos ilustrativos de um novo modelo de equipamento para daguerreotipia, segundo “as instruções” de Daguerre, 1841. O engenheiro-ótico Buron, fabricante de instrumentos óticos e matemáticos de Paris, assina a brochura explicativa do aperfeiçoamento destinado a viabilizar o emprego da daguerreotipia na obtenção de retratos, uma novidade apresentada ao público com a chancela do agora famoso inventor.
comerciante de artigos de luxo foi um dos expositores, recebendo uma menção honrosa pelo relógio que exibiu.43 Ele era cunhado de Daguerre e nessa época negociava com o inventor uma sociedade para vender com exclusividade a câmara de daguerreotipia.44 O capitão Lucas, segundo o Le Breton de 5 de junho de 1839, também esteve presente à exposição e os contatos que costumavam ser realizados em tais ocasiões parecem tê-lo ajudado a completar os preparativos de seu projeto, já em andamento.45 Em junho, Daguerre, Isidore Niépce e Giroux, estabelecido à rua Coq-Saint-Ho-
noré, em Paris, assinaram um contrato para a fabricação e a venda dos aparelhos de daguerreotipia, certificados pelo inventor.46 Os irmãos Susse, donos de uma fundição de arte, não são mencionados no contrato, mas participarão das negociações para a fabricação dos aparelhos e a impressão das explicações. Essas câmeras incorporavam aperfeiçoamentos óticos introduzidos nas lentes e no diafragma por orientação de Daguerre e poderiam ser entregues logo depois da apresentação dos segredos do processo na Academia de Ciências. Em julho de 1839, seis equipamentos foram encomendados por um marchand de Berlim 79
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A imagem pública do inventor: o retrato litográfico de Daguerre, criador do diorama, realizado por Grevedon, em 1837. Essa estampa ilustraria a segunda edição, “revista e aumentada”, do manual de daguerreotipia publicado por Daguerre, em setembro de 1839.
e os modelos já estavam nas suas mãos em 6 de setembro.47 Os aparelhos comercializados por Giroux, fabricados pelo ótico Molteni, traziam a licença e a assinatura de Daguerre de maneira bem visível, mas isso não impediu que outros renomados óticos e ebanistas parisienses logo começassem a fabricar modelos semelhantes, inclusive com lentes melhores, embora sem a sofisticação do mogno de Cuba, dos metais nobres e, claro, da assinatura do famoso inventor.48 O anúncio de Giroux, reclamando para si a autenticidade dos modelos que vendia também pode ser lido como evidência de que a fabricação e a comercialização dos equipamentos de daguerreotipia por outros estabelecimentos não podiam ser evitadas. O comandante do OH, a essa altura, já 80
andava às voltas com a aquisição do um aparelho para levar a bordo da expedição, como será visto no próximo capítulo. O “manual de instruções” para difundir a prática da daguerreotipia e a construção de dioramas foi lançado no dia seguinte à reunião na Academia de Ciências. O impresso, publicado por encomenda oficial, recebeu o título Historique et description des procédés du daguerreotype et du diorama par Daguerre (“História e descrição dos procedimentos do daguerreótipo e do diorama por Daguerre”) e continha tanto o histórico e a descrição das duas invenções, como as palavras do ministro Duchâtel e dos cientistas Gay-Lussac e Arago, com quem tinha sido negociada a questão da pensão vitalícia e da aquisição pelo Estado dos segredos da daguerreotipia. A “lei Daguerre”, naturalmente, também foi transcrita na publicação. Em termos gráficos, trata-se de uma simples brochura com 79 páginas e 6 pranchas, impressa por Giroux, mas ela continha todas as explicações necessárias e os desenhos ilustrativos para a fabricação dos equipamentos e a execução do processo, bem como um histórico da heliografia, com notas acrescidas por Daguerre ao texto de Nicéphore Niépce, demonstrando os melhoramentos que introduzira na invenção. Como outras publicações do século XIX, vinha acompanhada de “breves e relevantes” indicações biográficas sobre seu autor: “pintor”, “inventor do diorama”, “oficial da Legião de Honra”, “membro de diversas Academias”, etc.49 Em meados de setembro, uma nova tiragem da publicação, agora lançada pela casa Susse Frères, estava disponível nos “principais livreiros, fabricantes de aparelhos óticos e negociantes de papéis e estampas” de Paris.50 O manual de Daguerre alcançou em pouco mais de um ano, somente no idioma francês,
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a impressionante marca de onze tiragens, em variadas edições, sem contar as não oficiais.51 Em menos de seis meses, foram vendidos cerca de nove mil exemplares da obra e, em apenas dezoito meses, ela recebeu trinta e duas edições, sete adaptações e oito traduções.52 Os tradutores, como os adeptos da daguerreotipia, tinham ocupações diversas. Na Espanha, por exemplo, a edição impressa em Barcelona, ainda em 1839, foi traduzida por um “médico cirurgião, membro titular e correspondente do círculo médico de Montpellier, sócio correspondente da sociedade médico-cirúrgica da mesma cidade”. O sucesso do manual, lançado em tantos idiomas, em tão curto espaço de tempo, com tiragem tão numerosa, era também uma expressão do sucesso da invenção. Menos para Isidore, bastante descontente com as observações sobre o papel de seu pai nas explicações de Daguerre.53 Em 1841, contrariado com os termos e os resultados da sociedade com o agora famoso inventor, ele publicou uma brochura, intitulada Historique de la découverte improprement nommée daguerréotype (“História da descoberta impropriamente denominada daguerreótipo”, Paris: Astier, 1841), canalizando para a palavra daguerreotipia o que lhe parecia ser uma usurpação do invento de Nicéphore Niépce e, logicamente, da glória que lhe era devida. A tiragem impressa pela casa Susse Frères custava dois francos, tinha uma imagem do Panthéon na capa e um “aviso dos editores”: o estabelecimento também vendia os aparelhos de daguerreotipia “executados segundo as instruções de Daguerre”, cuja parte ótica tinha sido confiada à oficina de Chevalier, “engenheiro-ótico que os garantia, não deixando nenhuma dúvida sobre sua perfeita execução”.54 Para convencer de vez a clientela, os fabricantes e impressores também infor-
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mavam que o interessado poderia conhecer alguns “ensaios” (daguerreótipos) produzidos por esses aparelhos.55 Em outubro, os impressores lançaram o que seria uma “segunda edição do manual”, agora “revista e aumentada pelo autor”. A publicação, na verdade, não diferia tecnicamente da anterior, mas nas tiragens seguintes, efetivamente aumentadas em dez páginas, havia uma novidade significativa: ela estava “ornada” com o retrato do inventor (uma litogravura de Pierre Grevedon, produzida em 1837).56 Apesar de todo esse aparato técnico, das explicações circunstanciadas e da promoção da figura de Daguerre, os primeiros dias da invenção de uma arte “ao alcance de todos” ainda estavam cercados de incertezas. Era preciso “ver a coisa”. Era preciso admirá-la com os próprios olhos e, se possível, obter as primeiras instruções com o seu criador em pessoa para poder praticá-la. Daguerre, sempre reservado, não se pronunciara na célebre sessão do dia 19 de agosto, mas alguns dias depois fez a primeira demonstração pública do processo na sede da Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional (Sociétè d’encouragement pour l’industrie nationale).
Câmera de daguerreotipia comercializada com a garantia de Daguerre, 1839. O selo metálico no equipamento continha o número do exemplar, a assinatura do inventor e os dizeres: “Nenhum aparelho é garantido se não tiver a assinatura do Sr. Daguerre e o selo do Sr. Giroux. O daguerreótipo, executado sob a direção de seu autor, em Paris. Alph. Giroux e Cia. Rua Cocq Saint Honoré, nº 7. [assinado] Daguerre”.
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As principais etapas do processo fotográfico na daguerreotipia. A representação criada no Departamento de Design do Politecnico di Milano (Universidade de Milão) indica: I. Corte dos cantos e arredondamento das bordas da placa de cobre, revestida com prata. II. Polimento com aplicação de ácido nítrico. III. Sensibilização com vapor de iodo. IV. Exposição à luz na câmara escura. V. Revelação da imagem com vapor de mercúrio. VI. Fixação da imagem com tiossulfato de sódio. VII. Douração da placa para aumentar o brilho, o contraste e a estabilidade da imagem. VIII. Vedação, acondicionamento e apresentação do daguerreótipo.
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Fundada em 1801 e, ainda hoje em funcionamento, a entidade foi criada para promover e defender os interesses comerciais e industriais da França. O local da demonstração não era, portanto, uma escolha aleatória. Considerada de “utilidade pública” desde 1824, a Sociedade era liderada por um conselho de administração, organizando-se em comitês temáticos ligados a diferentes atividades econômicas e tecnológicas. Pioneira da cultura empresarial, a entidade concedia anualmente prêmios, medalhas e menções honrosas àqueles que dessem uma contribuição significativa ao “progresso da França”, servindo de inspiração para outras associações do gênero, como por exemplo, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, criada no Rio de Janeiro, em 1827. O nascimento da Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional também estava ligado à montagem das primeiras
exposições da indústria francesa, iniciadas ainda em 1798, eventos que contavam com a participação de membros da entidade na sua concepção e organização, bem como na concessão dos prêmios. A apresentação de Daguerre na Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional, no dia 28 de agosto de 1839, resultou em uma descrição do invento, com desenhos detalhados da câmera de daguerreotipia e demais equipamentos necessários ao processamento da imagem, publicados na edição de 4 de setembro do Boletim da entidade.57 O historiador Derek Wood acredita que tenha sido nessa reunião que o capitão Lucas e o capelão Louis Comte receberam as instruções iniciais sobre a daguerreotipia, antes de embarcarem no OH.58 Para todos os interessados em aprender a novidade, as facilidades antes anunciadas com tanto otimismo estavam agora sendo confrontadas com as reais dificuldades do processo. Na imprensa, havia quem lastimasse a falta de instruções práticas, como o escritor Jules Janin, em artigo publicado no L’Artiste, de 25 de agosto de 1839.59 No dia 1º de setembro, Daguerre fez uma apresentação do processo para os redatores do jornal, programando em seguida, em comum acordo com o ministro Duchâtel, uma série de demonstrações públicas do invento, a fim de contornar o problema. A primeira delas ocorreu a 7 de setembro de 1839, no Palais d’Orsay, edifício recém-concluído para abrigar a administração do Estado francês. Daguerre fez a demonstração diante de uma audiência de cento e vinte pessoas, segundo o cálculo um jornal inglês.60 As outras duas ocorreram logo depois, nos dias 11 e 14 de setembro61 e entre os presentes, como noticiou a imprensa, estavam “os redatores de todos os jornais do Paris”.62
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Nesses dias agitados de setembro de 1839, cientistas, jornalistas, óticos, gravadores, litógrafos, negociantes e homens do mar foram os primeiros a experimentar a daguerreotipia. O aprendizado e a execução do processo, no entanto, não eram tão “fáceis” e “naturais” como previram Daguerre, Arago e demais entusiastas da invenção. Os daguerreotipistas do passado e todos aqueles que, por passatempo ou razões profissionais, ainda praticam esse processo fotográfico, já constataram o quanto as suas operações são, de fato, bastante engenhosas e imprevisíveis. O aprendizado direto era, portanto, o método desejável para aqueles que quisessem praticar o invento, uma questão complexa e, ao mesmo tempo, estratégica para a difusão da daguerreotipia. Em princípios de 1838, quando ainda tentava encontrar uma forma vantajosa e segura de comercializar o invento, Daguerre escrevera a Isidore sobre as dificuldades de sua execução: Eu estou convencido de que muitas pessoas não poderão jamais obter um bom resultado diante da minúcia que é preciso empregar em todas as operações [...]; quanto às pessoas do interior que não puderem viajar a Paris, é impossível que consigam aprender, pois a descrição mais detalhada não é suficiente. É necessário ver a operação.63
O inventor ensinou pessoalmente a daguerreotipia a algumas pessoas, entre as quais o oficial da Marinha e arqueólogo Christian Tuxen Falbe. O dinamarquês chegou a Paris, em 1838, vindo de uma missão na Tunísia, e ficou na cidade até princípios de 1840. Em correspondência com o príncipe Christian VIII, da Dinamarca, Falbe relatou as visitas ao atelier de Daguerre e uma série de contatos com o inventor, iniciados ainda em
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fins de 1838, quando teve a oportunidade de conhecer a daguerreotipia antes mesmo que o mundo soubesse da invenção. Em julho de 1839, encomendou a Giroux o seu próprio aparelho, a exemplo de tantos outros. Falbe também esteve presente à sessão na Academia de Ciências, em 19 de agosto, e ao curso dado por Daguerre na Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional, em 28 de agosto, bem como às demonstrações públicas do processo, em princípios de setembro, no Quai d’Orsay. Quando, no mês seguinte, escreveu uma carta comentando seu entusiasmo pela novidade, já havia produzido vinte e quatro daguerreótipos.64 Em 22 de setembro de 1839, com o sugestivo título “Les professeurs en daguerréotype” (“Os professores de daguerreotipia”), o Le Figaro trazia um artigo tratando do ensino da matéria.65 Alguns aprendiam rápido e não há razão para supor que tenha sido diferente com aqueles que viajaram a bordo do OH. As viagens representavam uma das maiores promessas da “descoberta de Daguerre”. Elas também constituíam uma das principais razões para o contínuo aperfeiçoamento do processo e sua incorporação às expedições navais. Confirmando as previsões de Daguerre e de todos os entusiastas da daguerreotipia, os jornais de Paris noticiavam que “o daguerreótipo vai, em pouco tempo, percorrer o mundo”.66 A Marinha francesa já preparava seus oficiais para manejar o instrumento
Edição do jornal Le Courrier Belge, 19 de agosto de 1839.
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em expedições por outros continentes. Em Bruxelas, a notícia foi dada por Jean-Baptiste Marcellin Jobard, no Le Courrier Belge, em 15 de setembro de 1839: O daguerreótipo vai correr o mundo em pouco tempo; o almirante Duperré, ministro da Marinha da França, acaba de ordenar o embarque de um daguerreótipo a bordo do brigue Melouine, navio que partirá novamente para a costa oeste da África, a fim de completar sua descrição náutica. O Sr. E. Bouët, capitão deste navio, está neste momento acompanhando as experiências de Daguerre. Será muito interessante para essa arte julgar os efeitos que o sol ardente desses países produzirá nas placas metálicas; quanto à duração da operação, ela deverá aí se beneficiar bastante e permitirá a multiplicação dos esboços pitorescos.67
Em meados de 1839, em meio às discussões sobre a obtenção de uma patente para o daguerreótipo, Jobard encontrou-se com o inventor e, na mesma ocasião, com o capitão Lucas. A questão era complexa para qualquer invento e, mais ainda nesse caso, com as compensações financeiras que precisavam ser resolvidas antes da revelação dos segredos do processo. Desde o anúncio da “descoberta”, Daguerre tinha se tornado uma figura bastante requisitada para encontros, encomendas e negócios. O seu antigo atelier, localizado nas proximidades da Place du Chateau d’Eau (atual Place de la Republique), foi parcialmente atingido pelo incêndio que destruiu o diorama, em 8 de março de 1839, e essas reuniões passaram a ser realizadas a residência do inventor, no Boulevard Saint Martin.68 Jobard conheceu o projeto da expedição em uma dessas ocasiões, quando visitou Daguer84
O retrato e a homenagem a Jobard, em publicação sobre as patentes de invenção, 1897.
re a pedido de Isidore Niépce e do barão Du Potet de Sennevoy. Este último era um estudioso do chamado “magnetismo animal” e outras ciências ocultas, temas de interesse comum na vida desses personagens.69 Por outro lado, além de litógrafo, jornalista e editor, Jobard era também um grande conhecedor das questões relativas à propriedade intelectual que estavam na ordem do dia e foi convidado para a reunião por esse motivo.70 Esperava-se que ele convencesse o inventor sobre a oportunidade e o melhor meio para obter na Inglaterra uma patente que garantisse à Daguerre e Isidore Niépce uma proteção contra as reclamações de Talbot e uma compensação financeira pelo uso da daguerreotipia na maior economia do planeta, o que acabou
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Jean-Baptiste Ambroise Marcellin Jobard (1792-1861) Personagem com múltiplas facetas, Jobard nasceu na França e se naturalizou belga.71 Em Bruxelas, trabalhou como litógrafo, fundando o seu próprio estabelecimento no final dos anos 1820, quando se tornou o mais importante editor de impressos litográficos da cidade (álbuns, folhetos, retratos, mapas, manuais, etc.). Em 1828, recebeu uma medalha de ouro pelo aperfeiçoamento de processos gráficos conferida pela Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional, em Paris. Com a revolução que promoveu a Independência da Bélgica, em 1830, foi à falência e fechou a litografia, iniciando pouco depois a atividade jornalística que o levaria a fundar, em 1837, o Le Courrier Belge. Desde a juventude foi um propagandista das ideias de Saint-Simon e através da imprensa procurou catalisar as transformações sociais, defendendo a educação das massas e o progresso industrial.72 A proximidade com Daguerre e Isidore Niépce e o pioneirismo na realização das primeiras imagens com o daguerreótipo em Bruxelas (uma vista da Place des Barricades), em 16 de setembro de 1839, e já no mês seguinte, o retrato de uma mulher “adormecida”73) estimularam Jobard a criar a Sociedade Belga do Daguerreótipo (Société belge du daguerréotype) com a ideia de adquirir mais aparelhos e reunir em torno do estabelecimento outros daguerreotipistas interessados em oferecer esse tipo de imagem a uma clientela já consumidora de estampas litográficas.74 Jobard também participou de diversas exposições nacionais e internacionais e, em 1841, assumiu a direção do Museu da Indústria na capital belga. Em suas atividades e propostas, esteve envolvido com a regulamentação da propriedade intelectual e escreveu dezenas de trabalhos sobre o tema. Ele próprio obteve cerca de setenta e cinco patentes em áreas tão diversas quanto a iluminação, a acústica, a alimentação, o aquecimento, a locomoção, entre outras. Jobard morreu em Bruxelas, em 1861, e seu nome ora tem sido referido com o prenome Marcellin, ora com Jean-Baptiste, que ele próprio incorporou à sua assinatura. Esse inventor prolixo, homem de imagens e “visionário de ambições humanitárias”, que também abraçou o espiritismo e acabou seus dias destituído da razão, só mais recentemente se tornou conhecido com as pesquisas de Marie-Christine Claes.75
ocorrendo pouco depois.76 Os argumentos usados por Daguerre e Jobard foram reproduzidos por este último em um longo artigo no Le Courrier Belge, em 25 de setembro, e espelham as lógicas em confronto: “O governo francês”, nos diz Daguerre, “ficará constrangido de me ver tirar uma patente no exterior, porque deseja fazer da minha descoberta um presente para a Europa. E depois, levaria um mês para conseguir a patente inglesa que me será recusada, sabendo que o processo será publicado em vinte dias. Além disso, se eu quisesse dinheiro de estrangeiros, teria aceitado as ofertas esplêndidas que me foram feitas; mas eu sou
francês, meu país em primeiro lugar”: eis as ideias que tivemos que combater. [...] Nós, então, o fizemos sentir, 1) que a França comprou-lhe sua descoberta para os franceses, e que se pudesse obter vinte milhões do exterior, a França aplaudiria seu sucesso e teria uma ideia tão elevada de suas capacidades financeiras, como a que tem de suas habilidades científicas; 2) que a França, sempre pródiga de generosidade e polidez com o estrangeiro, tinha experiência suficiente para saber que ninguém levaria em conta a sua doação; que a Inglaterra não reduziria em um centavo sua tarifa sobre os vinhos; que a Áustria não seria menos inquisitiva com os viajantes franceses; 85
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passagem por Paris, como comissário enviado pelo ministro do Interior e Assuntos Exteriores do governo belga para estudar a Exposição dos Produtos da Industria Francesa (Exposition des produits de l’industrie française). Esses encontros, além de terem servido para convencer Daguerre sobre a proteção do invento na Inglaterra e indicar-lhe, inclusive, um agente para cuidar do assunto, também viabilizaram outras parcerias, tanto para Jobard como para Lucas:
Vistas e monumentos de Paris, em princípios do século XIX, no álbum de ‘souvenirs’ publicado em meados do século: aqui, a torre Saint-Jacques e toda a movimentação da rua de Rivoli. A estampa, combinando o traço do artista e a imagem fotomecânica, leva a assinatura do ilustrador A. Rouargue. Pouco depois, as imagens de Paris reunidas em outro álbum do mesmo gravador e editor receberiam o título Collection de vues de Paris prises au daguerreotype. Gravures en taille douce sur acier par Chamouin [Coleção de vistas de Paris tomadas com o daguerreótipo. Gravuras em aço por Chamouin].
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e que a Rússia não perseguiria menos aqueles professores aos quais deve muito dinheiro, já que no ano passado expulsou um professor de Cazan que exigiu, nos tribunais, cem mil rublos de pagamentos atrasados; 3) que a lei de patentes é cumprida à letra na Inglaterra, e que jamais a consideração sobre qualquer um desviaria os funcionários encarregados da execução desta lei, cuja importância se sente melhor nesse país do que em qualquer outro lugar; 4º, que sua patente lhe seria concedida seguramente no espaço de um mês, já que seu processo não era conhecido na Inglaterra na época do pedido.77
Os contatos no novo atelier de Daguerre ocorreram em julho de 1839, mas só foram descritos por Jobard dois meses depois, em uma série de artigos nos quais narrava sua
O capitão Lucas apoiou, mas interrompeu nosso pedido [para Daguerre aceitar a ideia de uma patente], perguntando se ele não poderia levar um daguerreótipo em sua viagem ao redor do mundo e nós saímos juntos, admirando o caráter excepcional de um homem que se debatia contra a fortuna, com tanta perseverança e coragem quanto aqueles que buscavam conquistá-la. 78
Lucas e Jobard combinaram entre si que o Le Courrier Belge seria o principal veículo de divulgação da viagem do OH na Bélgica. Depois de iniciada a viagem, as cartas de noviços e passageiros seriam transcritas regularmente nesse e em outros jornais. As matérias sobre a expedição, contudo, começaram a ser publicadas pelo Le Courrier Belge já no mês de julho. As informações sobre o capitão Lucas no atelier de Daguerre, por sua vez, foram inseridas por Jobard, aleatoriamente, em artigos publicados durante o mês de setembro, quando o editor tratou da exposição em Paris e, principalmente, da difusão da daguerreotipia que, ele próprio, começava a experimentar na capital belga: Quando vimos [os daguerreótipos] no atelier de Daguerre, ao mesmo tempo que o
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A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
A torre Saint-Jacques, em Paris, fotografada por Joseph-Philibert Girault de Prangey, em meados do século XIX. Um dos primeiros daguerreotipistas a empregar o invento em “viagens fotográficas”, Girault de Prangey aprendeu o processo em 1841 e daí em diante produziu centenas de imagens de arquitetura, monumentos e paisagens diversas da França, Itália, Grécia, Palestina, Egito, Síria e Turquia, entre outras regiões.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
capitão Lucas, que acabara de se registrar para levar um desses instrumentos em sua viagem ao redor do mundo, essas imagens recebiam a luz obliquamente e se encontravam sobre uma mesa de frente para uma parte escura do apartamento. 79
Essas observações e memórias revelam, portanto, que o capitão Lucas fez uma inscrição, desde o mês de julho, para garantir a encomenda de um dos aparelhos de daguerreotipia certificados por Daguerre. Outras subscrições para a aquisição desses aparelhos estavam sendo feitas na mesma ocasião, como as seis câmaras encomendadas pelo marchand Louis Sachse, já referidas, que ele recebeu na Alemanha, em 6 de setembro de 1839.80 Jobard experimentou a sua em 16 de setembro, afirmando no Le Courrier Belge que ela tinha sido expedida em Paris quatro dias antes, por Isidore Niépce.81 Para a história do OH, além dos contatos e das afinidades entre Daguerre, Jobard e Lucas, essas informações são importantes porque indicam a possibilidade de o OH ter levado a bordo mais de um aparelho em sua viagem.82 Por outro lado, também é bastante plausível que as iniciativas do inventor em torno da concessão, divulgação, aprendizagem, comercialização e promoção da daguerreotipia tenham sido, desde então, acompanhadas por Lucas no mesmo compasso em que o capitão tratava de resolver as demais pendências relacionadas à viabilidade e ao sucesso de seu empreendimento. Completando as primeiras notícias sobre a viagem do OH para os leitores do Le Courrier Belge, Jobard noticiava a aquisição do aparelho e, ao mesmo tempo, já antecipava ali as glórias que o capitão Lucas atrairia para si com a incorporação da fotografia à expedição: 88
Agora que o capitão Lucas incorporou um daguerreótipo à sua viagem de circum-navegação, pode-se dizer que esses serão os primeiros viajantes que relatarão visões incontestáveis e não romantizadas dos monumentos da Índia e do país das mil e uma noites.83
O OH estava, agora, prestes a levantar âncoras em Paimboeuf e levaria consigo o cobiçado aparelho, atraindo para os seus membros um tipo de prioridade e consagração tão cobiçado pelos contemporâneos. No dia seguinte à revelação dos segredos da daguerreotipia em Paris, Jobard resumiu em seu jornal o modo como Daguerre havia conseguido fixar as imagens produzidas com a câmera escura, a exemplo do que fizeram outros jornalistas da capital francesa e, logo, em outras partes do mundo84: Este processo consiste em uma camada de iodo espalhada sobre uma placa de cobre, de maneira uniforme, por meio do vapor. Esta primeira operação produz a imagem que, no entanto, só aparece por meio de uma segunda operação que consiste em expor a placa à ação do vapor de mercúrio; por estes meios, obtêm-se as luzes, as sombras e os meios-tons.85
Em cada um dos artigos de Jobard sobre a Exposição dos Produtos da Indústria Francesa, transcritos de seu relatório para as páginas do Le Courrier Belge no mês de setembro, ele analisou uma máquina, um processo, uma invenção. As exposições industriais e a criação de um museu dedicado à indústria no país ocupavam, assim, boa parte das suas atenções, quando realizou em Bruxelas as suas primeiras imagens com a daguerreotipia. Os contatos com Daguerre tinham rendido frutos que se
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multiplicavam. Em 6 de setembro de 1839, Jobard comentou a decisão do inventor de enviar dois “desenhos fotográficos” para Leopoldo I, na Bélgica. Por sugestão de Jobard, os daguerreótipos seriam leiloados em favor do Salão de Belas Artes de Bruxelas, a exemplo do que fizera o rei da França para o Museu do Louvre.86 A apresentação na capital belga foi um sucesso e os visitantes se amontoaram para admirar a novidade. Uma semana mais tarde, o L’Ami de l’Ordre indicava que “daguerreótipos já estão no comércio e formam um pequeno aparelho charmoso que pode ser comprado ao preço de 250 francos”.87 O artigo de Jobard sobre o assunto, intitulado “Tableaux de Daguerre” (“Quadros de Daguerre”), além de mencionar a encomenda de um aparelho de daguerreotipia pelo capitão Lucas, também transcrevia a mensagem do inventor com as explicações sobre a melhor maneira de observar as imagens obtidas com o equipamento: Agrada-me saber que o secretário do rei enviou à Exposição de Bruxelas as duas provas do meu procedimento. Provavelmente, deve ter sido notado que para vê-las de forma conveniente elas devem ser colocadas de certa maneira. De fato, o vigor desses desenhos está no polimento da placa, sendo necessário que este polimento reflita objetos negros para que possa produzir todo o seu efeito. Daguerre.88
Considerando os relatos de Jobard e o acompanhamento direto que Daguerre fazia da circulação e receptividade do invento, é bastante provável que, depois de conhecer os planos da expedição do comandante Lucas, ele tenha se interessado bastante pela incorporação da daguerreotipia ao empreendimento. Do contrário, o capitão nem estaria
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
O encontro de Jobard com o capitão Lucas no atelier de Daguerre, em julho de 1839. Nota publicada no Le Courrier Belge, em 13 de setembro de 1839.
frequentando o seu atelier. Em fins de 1838, quando lançou o prospecto no qual anunciava a invenção, Daguerre tinha destacado que “a impressão da natureza será reproduzida muito mais rapidamente em países onde a luz é mais intensa do que em Paris, como a Espanha, a Itália, a África etc. etc”.89 Em janeiro de 1839, o Le Moniteur Universel também publicou um artigo, intitulado “Découverte de M. Daguerre” (“Descoberta do Sr. Daguerre”), no qual especulava sobre os resultados práticos da invenção em outras latitudes. O articulista considerava presumível que o sol da África proporcionasse imagens instantâneas da “natureza em ação e ao vivo”, ciente de que até aquele momento Daguerre só havia feito as suas experiências em Paris e que mesmo em condições bastante favoráveis só havia obtido bons resultados com a natureza morta.90 Depois de agosto de 1839, quando os equipamentos, as manipulações e os preparados químicos necessários à daguerreotipia ficaram acessíves a qualquer um, as expectativas em torno da invenção e suas infindáveis aplicações tinham se tornado ainda maiores. 89
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
O ano não havia terminado e os jornais, as associações e os editores discutiam o imenso futuro reservado para a fotografia, imaginando novos empreendimentos com a invenção. O boletim da Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional anunciou, então, a concessão de um prêmio aos que aperfeiçoassem o processo. Com a colaboração de um ótico, o barão Séguier apresentou uma proposta nesse sentido, oferecendo um novo modelo de equipamento, mais leve e mais compacto, para a prática da daguerreotipia em viagens e excursões.91 Os debates no âmbito da Sociedade sobre a “descoberta de Daguerre” e seus “melhoramentos” indicam que a difusão do processo tinha grande importância para os interesses nacionais e as transações internacionais de setores dinâmicos da economia francesa. O ótico francês Noel-Marie Paymal Lerebours concebeu, então, uma coleção de gravuras de várias partes do globo (França, Itália, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Rússia, Suécia, Egito, etc.). As imagens obtidas com a daguerreotipia seriam impressas e, depois, agrupadas e comercializadas em porta-fólios. O empreendimento envolveu o treinamento e o comissionamento de daguerreotipistas, a fabricação e a preparação de equipamentos e outros materiais fotográficos, bem como o cuidadoso retorno à França das chapas obtidas na “missão fotográfica”. Uma parte das mil e duzentas placas de gravura reunidas por Lerebours eram daguerreótipos e integraram os álbuns reunidos sob o título Excursions daguerriénnes; vues et monuments plus remarquables du globe (Paris, 1840-1843).92 Em 19 de outubro de 1839, o pintor Horace Vernet embarcou em Marselha, na companhia do sobrinho Frédéric Goupil-Fesquet, para uma expedição ao Oriente, destina90
da a concretizar o projeto por lá. Contratados por Lerebours, carregavam na bagagem uma câmera de daguerreotipia e as instruções de Daguerre para empregá-la na viagem. Depois de passar pela Síria e alcançar o Egito, empregaram o aparelho em Alexandria, onde Fesquet demonstrou a novidade para um sultão, em 7 de novembro de 1839, obtendo em dois minutos uma das primeiras imagens em daguerreotipia fora da Europa.93 De lá, seguiram para o Cairo e encontraram o suíço, naturalizado canadense Joly de Lotbinière, viajando com outro equipamento e um projeto idêntico pela frente: fotografar os tesouros arqueológicos e, em especial, as pirâmides do Egito. Hospedados no mesmo hotel, os daguerreotipistas compartilharam dificuldades e conhecimentos para a revelação das placas e a manipulação do processo, obtendo assim imagens fotográficas de um dos monumentos mais conhecidos e admirados do mundo, em época de grande apelo por tudo que se relacionasse com o Oriente.94 Ele também um daguerreotipista eventual, Lerebours comentou na apresentação de seu álbum: Que serviços já não prestaria o daguerreótipo, mesmo que ele não fizesse mais do que propagar o conhecimento dos monumentos e dos objetos de arte únicos ou quase desconhecidos, encerrados nos gabinetes de colecionadores e de sábios?95
As recompensas simbólicas para o inventor e o reconhecimento social da utilidade de suas invenções podiam vir de várias formas. A criação e a dicionarização, em diversos idiomas, das palavras daguerreótipo, daguerreotipia e daguerreotipista, além de estabelecer os sentidos atribuídos aos vocábulos derivados do nome de Daguerre, também acrescen-
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taram popularidade e reconhecimento à figura do inventor junto a uma audiência bem mais ampla do que aquela dedicada à prática fotográfica. Ainda assim, a palavra daguerreotype continuou sendo escrita com erros, por bastante tempo.96 A incorporação do vocábulo a outros idiomas parecia quase tão complexa quanto a assimilação dos procedimentos exigidos pela invenção. Nos Estados Unidos, onde esse processo chegou a ser mais popular do que na própria França, essa assimilação se deu com bastante rapidez.97 O New York Observer ofereceu, em 7 de dezembro de 1839, explicações circunstanciadas sobre a formação e a pronúncia correta de daguerreotype, legitimando uma escolha difícil de pronunciar com a informação de que “o nome do processo fora dado pelos sábios de Paris”.98 Na mesma ocasião, Edgar Allan Poe escreveu o artigo “The daguerreotype” e comentou: Esta palavra é escrita corretamente ‘daguerréotype’ e pronunciada como se fosse escrita ‘dagairraioteep’. O nome do inventor é Daguerre, mas o uso francês exige um acento no segundo e, na formação do termo composto.99
A palavra que criou dificuldades para aqueles que tentavam pronunciá-la pela primeira vez também inspirou a censura dos ingleses e a crítica mordaz dos próprios franceses à exagerada glorificação de Daguerre, deixando em segundo plano o papel de Niépce e suas experiências. 100 Cientistas e jornalistas não esconderam suas restrições ao que parecia ser a usurpação do trabalho de um inventor por trás dessa escolha e houve mesmo quem dissesse, do outro lado do Canal da Mancha, que “a Inglaterra jamais concederia aquele nome para essa arte”.101 O tremendo sucesso
A daguerreotipia e a invenção de uma ‘arte ao alcance de todos’
de uma “arte sem arte”, colocada “ao alcance de todos” e, portanto, de qualquer um que quisesse praticá-la na “reprodução” do mundo visível, sem a necessidade de lápis, pincéis ou imaginação, deu origem a muitas controvérsias. O Le Chiavari, em 10 de setembro de 1839, dizia estar dedicado agora aos “dois novos partidos políticos” da ocasião: os “daguerreophiles” e os “daguerreophobes”.102 A invenção e a difusão da daguerreotipia foram analisadas por Paul-Louis Roubert a investigar o nascimento público da ideia de fotografia, em 1839, e a sua assimilação pela crítica de arte nos debates travados na imprensa da época: Excluído do território da arte pela genealogia mecânica e considerado sem futuro quando confrontado com a teoria da imitação, o daguerreótipo foi objeto de um silêncio quase completo por parte da crítica artística. Essa ausência é tão evidente que, em 1839, ninguém reivindica para si semelhante status, o que ademais teria provocado uma forte reprovação. Deste modo, a imagem daguerriana corre o risco, por si mesma, de não ser mais do que uma curiosidade. Para que em torno dela surgisse um debate real, foi necessário que, por sua causa, surgisse também uma modificação do equilíbrio regulando as relações entre o artista, a crítica e o público.103
As palavras e as ideias que definiam o aparelho, o processo e as imagens inspiradas no nome de Daguerre não demoraram a cruzar o Atlântico Sul, primeiro nas páginas dos jornais e, logo depois, nas demonstrações da daguerreotipia realizadas pelos viajantes do OH.
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Capítulo 2 1. “Julgamento processado pelo Tribunal Marítimo de Brest, que condena à pena capital os assim denominados Marsaud, segundo capitão, e Raymond, marinheiro, a bordo do navio mercante l1Alexandre, ambos condenados por assassinato do Capitão [Bouet, dit Dubois], do tenente, do contramestre e de quatro marinheiros, a fim de se apoderarem do navio; sofrimentos inauditos que impuseram a esses desafortunados, antes de precipitá-los ao mar; conduta dos acusados depois de exercerem sua crueldade terrível; o seu comparecimento diante do Tribunal e os meios de defesa que usaram perante os seus juízes; comutação da sentença em favor de Raymond, indeferimento do recurso de Marsaud, principal réu” [tradução do original em francês]. Paris : Imprimerie Chassaignon, s. d. In : Bibliographie de l’histoire de la justice française (1789-2004). Disponível em www.criminocorpus.cnrs.fr/. 2. Gernsheim e Gernsheim, 1955, p. 114. 3. Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 3. 4. Michel Frizot. “Louis Jacques Mandé Daguerre”. In: Frizot et al., 1989, p. 32. 5. Arsène Houssaye, “Diorama ; la vallée de Goldau”, Journal des Artistes, 27 septembre 1835, pp. 202-204; Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 73; Roubert, 2006, p.167. 6. Henri Gaucheraud, “Beaux-Arts ; Nouvelle découverte”, Gazette de France, 6 janvier 1839. Apud Roubert, 2006, p. 167. 7. Roubert, 2006, pp. 167-169. Os artigos têm natureza diversa e compreendem matérias de vulgarização, textos de cientistas, discursos oficiais, anúncios publicitários e debates diversos, escritos por autores identificados ou anônimos. 8. Tissandier, 1882, p. 59. 9. Beaumont Newhall. “Bibliography of Daguerre’s instruction manual”. In: Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 196-197.
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10. Philipon, 1840. 11. Carta de A. Humboldt, 7 de fevereiro de 1839. Apud Reynaud, 1989, p. 31. 12. Foucault, 1987 ; Liliane Hilaire-Pérez. “Pratiques inventives, cheminements innovants, crédits et légitimations”. In: Hilaire-Pérez e Garçon, 2003, pp. 9-38. 13. Brunet, 2000, p. 53. 14. Brunet, 2000, pp. 74-79. 15. Hunt, 1841. Sobre o confronto do daguerreótipo com o talbótipo, ver Rouillé, 1982, p. 45. 16. Ver, ao final deste livro, Cronologia da invenção e difusão da daguerreotipia, 1816-1842. 17. Potonniée, 1925, pp.102-106. Frizot et al., 1989, p. 15. 18. Chevalier, 1862, pp. 19-56. O autor, filho de Charles Chevalier, afirma que seu pai se sentia ofendido com a palavra “indiscrição”, usada por Arago na Câmara dos Deputados ao explicar o modo como Daguerre chegara a Niépce. 19. As descrições e imagens das principais etapas das experiências realizadas entre Niépce e Daguerre podem ser conhecidas no site www.niepce.com/pages/ inv1.html. 20. McCauley, 1997, pp. 8-9. 21. Louis J. M. Daguerre, “Daguerréotype”, Paris, 1838. Museu George Eastman. Reproduzido por Reynaud, 1989, p. 22; Roubert, 2006, p. 21. 22. Idem. 23. Brunet, 2000. A análise do autor apoia-se em rigorosa pesquisa histórica sobre a formação discursiva dessa ideia, a partir da história da daguerreotipia na França e sua introdução nos Estados Unidos A biografia de Daguerre, escrita por Gernsheim e Gernsheim (1968) responde por boa parte das informações sobre o inventor. 24. Brunet, 2000, p. 21. Daguerre não deixou para a posteridade um arquivo com as cartas que recebeu de Niépce, nem anotações pessoais sobre as expe-
riências que fazia. Cf. Frizot, Michel. “Louis Jacques Mandé Daguerre”. In: Frizot et al., 1989, p. 28. 25. François Brunet reproduziu trechos de cartas e documentos da correspondência entre Niépce, Daguerre e outros homens de seu tempo que integram a coletânea organizada por Kravetz, T. P. (ed.). Dokumenty po istorii izobretenija fotografii. Leningrad: Akademija Nauk SSSR (Academia de Ciências da URSS), 1949. 26. A legislação francesa de proteção à propriedade intelectual dos “autores de descobertas úteis” havia sido instituída em 1791, pelo governo revolucionário. Cf. Dalloz, 1847, p. 528. Gernsheim e Gernsheim (1968, p. 98) afirmaram que a “lei Daguerre” era “inédita”, o que foi melhor explicado em McCauley, 1997, p. 19 e segs. 27. Roubert, 2001, p. 132. 28. François Arago, « Rapport à la Chambre des députés », 3 juillet 1839. Apud ROUILLÉ, 1989, pp. 40 e 42. Os anais da Academia de Ciências da França e o boletim da Société d’encouragement pour l’industrie nationale repetem as palavras desse célebre discurso no relato que fazem da sessão do dia 19 de agosto de 1839. 29. Faucher, 1986. O autor define François Arago como uma das “celebridades da franco-maçonaria francesa”. 30. Charles Robin, “Les cours publics dans un fauteuil : M. François Arago”, Musée des Familles, Paris, 1847-1848, t. 5, pp. 217-222. 31. McCauley, 1997, p. 35. 32. Frachon e Lefebvre, 2006, pp. 7-21. 33. McCauley, 1997, p. 21. 34. O texto que acompanha a caricatura de Théodore Maurisset sobre a “daguerreotipomania” (ver a imagem, na Conclusão) ironizava, por exemplo, o fato de que a invenção do instrumento “foi declarada necessária a todo mundo, decidindo-se [também] que seria paga por todos”. Apud Bajac e Planchon-De-Font-Réaulx, 2003, p. 162.
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35. Brunet, 2000, pp. 82-84. 36. [Anonymous], “The daguerreotype”, Globe and Traveller, 23 August 1839. Disponível em www.daguerreotypearchive.org/. 37. Brunet, 2000, p. 38. 38. Idem, pp. 52 e 57-60. 39. Jardin e Tudesq, 1973, t. 6, p. 88. 40. Newhall, 1976, p. 21. 41. Gernsheim e Gernsheim, 1955. 42. France. Exposition des produits de l’industrie française (...), 1839, esp. t. 2, pp. 268-276 e t.3, pp. 102-170 e 433-482. 43. Ramires, 2014, p. 42. Infelizmente, nenhum exemplar do jornal pode ser encontrado nas instituições consultadas. 44. France. Catalogue officiel des produits de l’industrie française (...), 1839 e France. Exposition des produits (...) rapport du jury central, 1839. 45. A exibição de um aparelho para conhecimento do público antes da revelação dos segredos da daguerreotipia não consta dos relatórios da Exposição consultados e não é referida pela historiografia, mas é mencionada pelo site www.arthurchandler.com/expositions-of-the-july-monarchy. 46. Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 189191. Os autores reproduzem os termos desse e de outros contratos de Daguerre. 47. Potonniée, 1925, p. 195 ; Jean-Louis Bigourdan. «1839: les ‘vues de Paris’ et l’introduction du daguerréotype en Europe». In : Reynaud, 1989, p. 33. 48. Chevalier, 1862, p. 54 ; Bajac e Planchon-De-Font-Réaulx, 2003, esp. p. 162. 49. Daguerre, 1839; Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp.106-107. 50. Beaumont Newhall. “Bibliography of Daguerre’s instruction manual”. In: Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 198-205. O autor norte-americano relaciona e comenta as edições do manual de Daguerre e agradece a Pierre G. Harmant, arquivista da Sociedade Francesa de Fotografia (Société Française de Photographie), pelo
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estabelecimento da data da primeira impressão da obra. 51. Há adaptações do manual por outros autores e evidências de impressões pelo estabelecimento de Giroux de tiragens não registradas na Bibliographie de France. Cf. Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 204205; Bajac e Planchon-De-Font-Réaulx, 2003, p. 146. 52. Beaumont Newhall. “Bibliography of Daguerre’s instruction manual”. In: Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 198-205. 53. Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 107-108. 54. Daguerre, 1839. Esta edição foi consultada na Bibliothèque Historique de la Ville de Paris, em 2001. 55. Idem. 56. Beaumont Newhall. “Bibliography of Daguerre’s instruction manual”. In: Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 199 ; SCHWILDEN, [2007], p. 1. 57. [Anonyme], « Description du procédé de M. Daguerre, et de la manière d’en faire usage », Bulletin de la Sociètè d’Encouragement, vol. 38, 4 septembre 1839, pp. 341-349. Wood (1996) e outros historiadores atribuem a data de 4 de setembro de 1839 à primeira demonstração de Daguerre na sede da Sociedade, mas o citado boletim indica claramente (p. 378) que “Daguerre tomou a palavra” para demonstrar seu processo na seção de 28 de agosto de 1839. 58. Wood, 1996, p. 114. Não foi possível descobrir, no curso desta pesquisa, se ambos estiveram de fato presentes àquela reunião. 59. Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 102; Roubert, 2006, p.49. 60. The London Journal of Arts and Science, vol. xv, 1840, pp. 120-123 (disponível em www.babel.hathitrust.org), citado por Gernsheim e Gernsheim, 1968, p. 104. O Palácio d’Orsay, completamente incendiado pela Comuna de Paris, em 1871, daria lugar mais tarde à antiga estação ferroviá-
ria, onde hoje se situa o Museu d’Orsay. 61. Roubert, 2006, p. 49. 62. [Jean-Baptiste Jobard], « Expérience du daguerreotype », Le Courrier Belge, 9 septembre 1839, p. 3. 63. L. J. M. Daguerre. Carta de 28 de abril de 1838. In: Kravetz, T. (ed.). Dokumenty po istorii izobretenija fotografii. Leningrad: Akademija Nauk SSSR, 1949, p. 460. Apud Brunet, 2000, p. 49. 64. Ida Haugsted. “Un Danois fait ses premiers daguerréotypes à Paris”. In : Reynaud, 1989, pp. 37-41. 65. Apud Roubert, 2006, p. 169. 66. [Anonyme]. « Le daguerréotype va courrir le monde ». Le National, 13 septembre 1839; [Anonyme]. « Le daguerréotype va courrir le monde avant peu », Le Moniteur Universel, 13 septembre 1839. 67. OH-Doc 15.09.1839. Wood (1995, edição revisada) comentou, brevemente, a relação entre Jobard e Lucas. MarieChristine Claes cedeu-me, em 2007, a reprodução de trechos de sua tese de doutoramento (Claes, 2006) e alguns artigos do Le Courrier Belge. Os demais foram consultados na Biblioteca Real da Bélgica (Bibliothèque Royale de Belgique), em 2008. Agradeço à pesquisadora por essa colaboração fundamental. 68. Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 90-91 e 94. O pesquisador Jacques DarcyRoquencourt identificou os locais e reproduziu imagens obtidas por Daguerre na região. Cf. www.niepce-daguerre.com/ boulevard_du_Temple_de_dag.html. 69. Segundo a referência encontrada na BnF, estava sendo preparada uma nova edição do livro sobre o assunto: Du Potet De Sennevoy, Jules. Cours de magnétisme en sept leçons ; 2e édition, augmentée du Rapport sur les expériences magnétiques faites par la Commission de l’Académie royale de médecine en 1831. Paris : Roret, 1840. 70. Como por exemplo, a obra Jobard, Jean-Baptiste. “De la propriété de la
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pensée et de la contrefaçon considérée comme droit d’aubaine et de détraction”, extrait du Recueil de la Société Polytechnique. Versailles: Marlin, 1837 (In-8°, 63 p.). 71. Siret, 1888-1889, p. 493. 72. Claes, 2008, p. 22; Claes, 2011, p. 74. 73. [Jean-Baptiste Jobard], “Héliographie “, Le Courrier Belge, 19 octobre 1839, p.3. 74. [Jean-Baptiste Jobard], “Société belge du daguerréotype”, Le Courrier Belge, 12 septembre 1839, p. 2. 75. Claes, 1996; 1998 e 2011; Joseph et al, 1997. Informações também disponíveis em www.fr.wikipedia.org/wiki/Marcellin_Jobard. 76. Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 143-144. 77. OH - 25.09.1839. 78. OH-Doc 25.09.1839. 79. OH - Doc 13.09.1839. 80. Jean-Louis Bigourdan. “1839: les ‘vues de Paris’ et l’introduction du daguerréotype en Europe”. In: Reynaud, 1989, p. 33. 81. [Jean-Baptiste Jobard], “Nouvelles diverses. Société du Daguerreotype à Bruxelles”, Le Courrier Belge, 12 septembre, 1839, p. 2. 82. A questão será comentada mais adiante, no capítulo 5. 83. OH-Doc 15.09.1839. 84. Roubert, 2006, p. 168. O autor indica as matérias publicadas no dia 20 de agosto de 1839 nos jornais Gazette de France, Journal des Debáts, L’Echo Français, La Presse, Le Commerce, Le Constitucionnel, Le Courrier Français e Le Temps. 85. [Jean-Baptiste Jobard], “Paris, 19 août”, Le Courrier Belge. 20 août 1839, p. 2. 86. [Jean-Baptiste Jobard], “Nouvelles diverses”, Le Courrier Belge, 06 de setembro de 1839. Os dois daguerreótipos foram apenas cedidos por empréstimo para a exposição. 87. L’Ami de l’Ordre, 14 septembre 1839 e 21 septembre 1839. Apud Claes e Joseph, 1996, p. 2.
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88. OH - Doc 13.09.1839. 89. Reynaud, 1989, p. 22; Roubert, 2006, p. 21. 90. [Anonyme], “Découverte de M. Daguerre”, Le Moniteur Universel, 14 janvier 1839. 91. Bulletin de la Société d’encouragement pour l’industrie nationale. Paris: Imprimerie de Mme. Huzard, 1839, v. 38, pp. 477-483. 92. Lerebours, 1842-1843. 93. Goupil-Fesquet, 1843, p. 33 ; Le Guern, 2001, pp. 61-64 ; Claire Bustarret. “Le voyage d’Égypte”. In: Frizot (dir.), 1995, p. 76; Hannavy, 2008, p. 476; p. 546; p. 1034. 94. Marbot, 1992, pp. 13-21; Le Guern, 2001, pp. 61-64. Os daguerreótipos da expedição não sobreviveram e parte das imagens é conhecida através das referidas gravuras. 95. Lerebours, 1842, “Avis de l’éditeur”, s/p. 96. Newhall, 1976, p. 33. 97. Os primeiros tempos da daguerreotipia nos Estados Unidos já foram amplamente investigados pela historiografia norte-americana (Taft, 1964, reedição da obra de 1938; Newhall, 1976, entre outros). Ver tb. Brunet, 2000. 98. Newhall, 1976, p. 33. 99. Edgar Allan Poe, “The Daguerreotype”. Alexander’s Weekly Messenger, Filadélfia (EUA), 15 de janeiro de 1840. Apud Trachenberg, 1980, p. 37. Ver também Newhall, 1976, p. 138. O autor esclarece aos leitores que em lugar da forma original e complexa da palavra, preferiu usar a simpática abreviatura “dag’type”. 100. A enciclopédia de Pierre Larousse, cuja publicação foi iniciada em 1866, manteve acesa a questão, considerando uma esperteza a escolha do nome por Daguerre. Cf. Grand dictionnaire universel du XIXe siècle [...], 1866-1876, v. 6, p. 13. 101. Lowry e Lowry, 1998, p. 213. 102. Reynaud, 1989, p. 121. 103. Roubert, 2006, p. 78. O tema, objeto de inúmeros textos e debates desde o século XIX, pode ser visto na Bibliografia indicada.
O amanhecer na costa da Bretanha, segundo Ferdinand Perrot. Pintor e litógrafo, Perrot nasceu em Paimboeuf e foi aluno de Théodore Gudin, pintor da Marinha francesa que recebeu dezenas de encomendas para o Museu de Versailles, criado por Louis-Philippe para celebrar “as glórias da França”. A cultura marítima adquirida desde o berço e a visualidade dessas referências em um tempo dominado pelo fascínio das viagens e das cenas navais estão impregnadas na obra de Perrot. As suas pinturas representam não apenas a França, como também os lugares que conheceu em várias viagens (Inglaterra, Itália, Rússia) e outros que concebeu apenas com a imaginação, como a cena da “esquadra de Duguay-Trouin entrando no porto do Rio de Janeiro”, em 1711.
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A expedição do OH começou a ser preparada em junho de 1838, quando o capitão Lucas deixou o comando do navio mercante Jeune Lise, instalando-se em Paris, no Hotel Pérou, “recém-decorado e mobiliado”, segundo o Almanach Bottin.1 No ano seguinte, ele próprio anunciava “informações sobre navios” na seção de “seguradores particulares” do principal veículo de propaganda do “comércio e profissões” da capital francesa.2 O sonho era antigo e a escolha incerta. Afinal, como diria mais tarde, o Jeune Lise era “o comando mais agradável de Rochefort, [tinha] os melhores armadores e os emolumentos mais vantajosos do lugar e, até, de todos os portos da França”.3 Por mais de um ano, ele comandaria em terra uma série de articulações para a concretização de uma aventura marítima que, antes de tudo, não podia se parecer com uma típica aventura, imprevisível e arriscada. O capitão imaginou-a como uma “escola flutuante”, estabelecendo um vínculo
simbólico com as célebres “viagens de instrução” do século anterior e a circulação de saberes e técnicas muito além das fronteiras do continente europeu. A expressão “escola flutuante” era nova e a sua concepção, avançada para a época, fato que o capitão fez questão de destacar, apontando a carência de pessoal qualificado na marinha mercante francesa. Com o uso da expressão, ele também procurou ressaltar a missão pedagógica de um projeto voltado para a formação de jovens oriundos de toda a França, especialmente aqueles que viviam no interior do país e só conheciam os “muros de sua escola”. A experiência de uma viagem ao redor do mundo, oferecendo a esses jovens os conhecimentos teóricos e práticos imprescindíveis à navegação oceânica e outros empreendimentos, deveria introduzi-los nos mercados que se abriam para o comércio francês. Quando Lucas iniciou os arranjos para viabilizar o projeto, a partida da expedição estava prevista para princípios de 1839. Em 97
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abril desse ano, o Le Moniteur Universel chegou a anunciá-la para o mês seguinte4, mas vários adiamentos foram necessários e a data da partida, consequentemente, alterada. A viagem propriamente dita deveria durar bem mais do que a sua preparação: dar a volta na Terra, com os meios disponíveis à época, levaria cerca de dois anos e meio. A singularidade da iniciativa, no entanto, não residia no roteiro a ser seguido ou na duração da viagem, mas na missão atribuída àqueles que embarcassem nessa ideia. Missão estratégica, segundo o testemunho do capitão Lucas ao sintetizar a inspiração de seu projeto no folheto Expédition du navire l’Hydrographe (batiment-école) (“Expedição do navio Hydrographe (navio-escola)”): Atingido pela inadequação dos meios empregados até hoje para aumentar as nossas relações marítimas e dar à nossa Marinha a preponderância que ela deve adquirir um dia, inevitavelmente, sobre todas as potências marítimas do mundo, convencido da necessidade de pôr fim à profunda ignorância dos ricos capitalistas e fabricantes do interior em tudo que se refere à marinha e às estatísticas comerciais dos países mais remotos, concebemos a ideia de uma escola flutuante na qual se ensinará tudo o que se aprende em nossas melhores instituições universitárias, em uma viagem ao redor do mundo.5
A iniciativa tinha como ponto de partida, portanto, um amplo diagnóstico da debilidade do comércio exterior francês, diante de imensas possibilidades mal aproveitadas. A partir desse ponto, a concepção do projeto confundia-se com a defesa patriótica dos interesses nacionais. A confiança e o otimismo estam98
pados nas páginas dominicais do Le Moniteur Industriel, de 10 de março de 1839, transcritas pelo capitão Lucas no folheto de propaganda do OH, espelhavam a combinação proveitosa dos interesses nacionais com os benefícios que cada um poderia tirar da experiência: Difundir no interior da França o conhecimento da marinha e o gosto pelas expedições marítimas para assim atrair homens e capitais; destruir os lamentáveis intermediários que separam o fabricante francês do consumidor estrangeiro; estudar, nos mínimos detalhes, as relações comerciais que a França pode estabelecer em todos os pontos do globo que a expedição visitará; aumentar nossa marinha e nossas relações marítimas em uma progressão considerável a cada ano; formar assim marinheiros bem treinados, comerciantes íntegros e hábeis; garantir vantagens às trocas comerciais e uma segurança incontestável; proporcionar uma nova carreira aos jovens das cidades, dando-lhes a oportunidade de aproveitar o emprego vantajoso do tempo, este precioso capital, em uma idade perigosa; esta é a meta eminentemente nacional a que se propôs o Sr. Lucas. 6
Benéficos para “engrandecimento” da França, os resultados prometiam ser especialmente vantajosos para os jovens franceses e suas famílias. As compensações financeiras do empreendimento, em todo caso, ficariam restritas a alguns. A iniciativa era de natureza privada e tinha o lastro de banqueiros que atuavam na Bolsa de Paris como corretores de viagens marítimas, obras de construção civil e empreendimentos coloniais diversos. Logo que o projeto foi lançado, informações mais detalhadas sobre a expedição podiam ser obti-
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Brigue de dois mastros, empregado na marinha mercante francesa, navegando com vento favorável. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
das com os corretores marítimos de várias cidades e com o banqueiro Jean-Jacques Grosrenaud, na capital francesa.7 Por outro lado, era desejável e necessário que a expedição contasse com o apoio do governo francês para viabilizar a sua “extraordinária missão”. A obtenção desse apoio, complexa em qualquer circunstância, mostrava-se ainda mais complicada na Monarquia de Julho, em função da instabilidade política e da troca constante de ministros sob o reinado de Louis-Philippe.8 A expedição, como tudo parecia indicar, vinha ao encontro de um conjunto de medidas governamentais. Comissões e projetos que incorporassem novas práticas e conhecimentos à Marinha francesa estavam sendo estimulados, antecipando mudanças que se consolidariam, a partir da década de
Peça de artilharia. O jornal Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840) explica ao leitor que a imagem do canhão de cano curto “é um pouco antiga, mas serve para dar uma ideia”.
1850, com o desenvolvimento da navegação a vapor.9 O apoio oficial mais importante deveria se materializar na cessão de um navio, bem como de armamentos convencionais e seus complementos, embora esse apoio também se traduzisse em cartas de recomendação dos ministros aos comandantes navais, no auxílio das representações francesas no exterior e na isenção de taxas marítimas, entre outras medidas pontuais. A escola flutuante teria que contar, portanto, com a intervenção direta do Ministério da Marinha e Colônias da França, a instância mais importante para desencadear os outros apoios necessários à viagem. Em princípios de julho de 1838, Lucas encaminhou o plano da expedição ao ministro Rosamel e, duas semanas mais tarde, recebeu a seguinte resposta: 99
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O edifício da Bolsa de Paris e a rua Neuve Saint-Eustache (endereço do capitão Lucas), em um mapa com as ruas e os estabelecimentos da cidade, 1840.
Eu li este informe com grande interesse; ele me forneceu a prova de que, preocupado unicamente com o crescimento a ser dado às nossas relações comerciais, o senhor manifesta grande vontade de desenvolver o gosto pela navegação entre os jovens que possuem capitais, o que seria importante dedicar à Marinha, mas quase sempre recebe outro destino. O objetivo que o senhor se propõe é bem merecedor de elogios; ele testemunha as visões elevadas que o animam, merecendo inteira aprovação.10 100
A resposta do ministro da Marinha prometia, concretamente, o envio de cartas de recomendação aos comandantes de divisões navais e cônsules franceses dos portos incluídos no roteiro da expedição. O apoio do ministro de Assuntos Exteriores era, assim, igualmente importante em todo o roteiro da viagem. O conde Mathieu Molé acumulava a pasta com a presidência do Conselho de Ministros (entre setembro de 1836 e março de 1839) e escreveu a Rosamel a razão pela qual recomendava ao ministério de Assuntos Exteriores, sob “todos os aspectos”, o capitão
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Lucas como um “sangue dos mais honrados e distintos na marinha do comércio”.11 Essa recomendação decisiva foi logo divulgada por Lucas, acrescentando que o conde Molé “se expressava nos mesmos termos sobre o objetivo e a utilidade do empreendimento, prometendo-lhe apoio em tudo que fosse responsabilidade de seu ministério”.12 O apoio material, no entanto, custava a chegar... Enquanto isso, Lucas polia a sua reputação com outras recomendações importantes, uma vez que as tratativas do projeto geravam pedidos de esclarecimentos sobre sua pessoa às autoridades e instituições francesas. Criadas em 1795, as Inscrições Marítimas tinham implantado um sistema de registro, fiscalização e comprovação dos serviços de marinheiros mercantes, pescadores e trabalhadores de arsenais. Além de garantir uma espécie de seguridade social (hospitais e pensões), introduzida ainda no final do século XVII pelo ministro Colbert, essa estrutura também representava uma forma de controle do Estado sobre as atividades dos homens do mar que não integravam a Marinha de guerra.13 Com uma resposta bem objetiva, o diretor de pessoal da Inscrição Marítima e Polícia de Navegação do ministério indicou aos interessados o endereço do capitão Lucas (rua Neuve St-Eustache, 17) e do banqueiro Grosrenaud (rua Vendôme, 17), nas cercanias da Bolsa de Paris.14 Com uma resposta circunstanciada, o Comissário da Inscrição Marítima (Commissaire de l’Inscription Maritime), em Bordeaux, onde a carreira naval do capitão estava registrada, enviou ao ministro Rosamel informações bastante elogiosas sobre aquele “oficial de grande distinção e filantropo que honraria as Armas do Reino (Corps Royal)”.15 Não demorou muito para que outras autoridades também se pronunciassem sobre
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a iniciativa, estreitando a rede de compromissos que unia projetos individuais, interesses comerciais ou científicos e apoios institucionais em nome da França. Para o ministro da Instrução Pública, Lucas solicitou que o professor da escola flutuante ficasse autorizado, ao final da viagem, a conceder certificados oficiais aos alunos para que pudessem prestar exames superiores. O conde de Salvandy, titular da pasta entre abril de 1837 e março de 1839, mesmo reconhecendo a utilidade do empreendimento, recomendou a contratação de outros dois professores (ciências e filosofia) para que a solicitação fosse encaminhada ao Conselho de Ministros.16 Salvandy também era presidente da Sociedade de Geografia de Paris (Société de géographie de Paris), a primeira associação de personalidades do mundo político, científico e militar dedicada à geografia e à cartografia, inspiradora de muitas outras surgidas ao longo do século XIX, em várias partes do mundo. Criada em 1821 e proclamada de utilidade pública em 1827, ela também foi a primeira entidade científica solicitada a apoiar a expedição do OH: Os Srs. Lucas e Vendel-Heyl escrevem à Sociedade pedindo-lhe instruções relacionadas a uma viagem ao redor do mundo que eles se propõem a empreender para a instrução dos jovens que se destinam à marinha mercante e ao comércio.17
O acolhimento favorável da expedição pelos ministros da Marinha, Assuntos Exteriores e Instrução Pública foi reiterado, em 16 de março de 1839, pelo ministro de Obras Públicas, Agricultura e Comércio. Martin du Nord, cuja pasta era responsável pela montagem da Exposição dos Produtos da Indústria Nacional, prestes a ser inaugurada no coração 101
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Louis-Antoine Vendel-Heyl (1791-1854) O primeiro professor que se associou ao OH nasceu em Paris, em 1791, filho de pais franceses, mas descendia de uma família católica alemã que havia imigrado por razões religiosas.18 Vendel–Heyl ingressou no Colégio Real Carlos Magno (Collège royal Charlemagne), em 1818, como assistente de ensino. No mesmo ano, passou a professor de retórica do Colégio Real de Orléans (Collège royal d’Orléans) e, dois anos depois, entrou para o Colégio Real São Luís (Collège royal St-Louis), onde ensinou letras, filosofia e retórica por quase vinte anos.19 Esses antigos colégios tinham cultivado por séculos a tradição de ensino católico de jesuítas e beneditinos, mas depois da Revolução foram transformados em instituições laicas, sob o controle do Estado, preparando seus alunos para as escolas superiores. A passagem de Vendel-Heyl pela Universidade de Paris, mencionada pela propaganda do OH, parece ter ocorrido na condição de agregado temporário, não tendo sido possível confirmá-la. Em 1834, Vendel-Heyl, Charles Fourrier e outros liberais e socialistas davam palestras para os trabalhadores de Paris na Sociedade Universal de Civilização (Société universelle de civilisation), também divulgadas no Journal des cours et conférences… à l’École philosophique de la Société de civilisation, (1833-1835).20 O professor que, em breve, embarcaria no OH requereu, em 12 de março de 1839, a sua aposentadoria do Colégio São Luís e o motivo alegado foi “enfermidade”.21 O erudito que cultivava as letras clássicas e a filosofia helenista compartilhava agora a vontade do capitão Lucas de percorrer o mundo em uma escola flutuante e a perspectiva saint-simoniana da ordem social baseada na ciência, no mérito e no fim dos privilégios. Quando deixou o OH, em Valparaiso, para tentar a vida bem distante da França, Vendel-Heyl transplantou a erudição e as ideias que levou consigo para as instituições de ensino chilenas. Em 1842, ele estava entre os primeiros professores da recém-criada Universidade do Chile, na cidade de Santiago.22
de Paris, parecia ter pressa.23 Ele enviou uma circular aos prefeitos departamentais, com o folheto do capitão Lucas sobre a viagem do OH em anexo, a fim de que as famílias pudessem “consultá-lo com a maior celeridade”.24 A correspondência também seguiu seu destino com a recomendação de que esses prefeitos dessem ampla divulgação à iniciativa: O Departamento de Comércio tem vivo interesse em um empreendimento que deve ter por resultado a disseminação do 102
gosto e do conhecimento da marinha mercante e de suas especulações em todas as partes da França e, ao mesmo tempo, em todas as classes da sociedade, tornando fácil e atraente o início de uma carreira que hoje exige um noviciado penoso [grifo meu]. 25
O folheto Expédition du navire l’Hydrographe (batiment-école) («Expedição do navio Hydrographe (navio-escola)») apresentava em oito páginas todo o detalhamento do projeto, além de reproduzir as cartas de recomendação dos ministros. Só não fazia referência, por razões óbvias, “ao penoso aprendizado” da carreira naval. A intenção, afinal, era atrair o interesse para a profissão e não assustar os jovens com uma imagem tão pouco inspiradora. Alguns meses já tinham se passado e Lucas seguia colecionando cartas de apoio à escola flutuante, mas os meios práticos para realizá-la (navio, instrumentos e armas) não chegavam. Nesse compasso de espera, o duque de Dalmatie, novo ministro de Assuntos Exteriores e presidente do Conselho (entre maio de 1839 e março de 1840), isentou a escola flutuante do pagamento de direitos de navegação, habitualmente cobrados dos navios de comércio.26 Essa decisão acabou se constituindo em um dos apoios governamentais mais importantes, pois contribuiu para fixar a ideia de que se tratava de uma expedição oficial. A primeira informação sobre o OH na imprensa da época, segundo as fontes consultadas, circulou através da sessão de anúncios do La Presse, em 30 de setembro 1838. A folha parisiense, fundada em 1836, tinha uma tiragem expressiva (12.000 exemplares, em 1838), sendo vendida a preços populares graças à introdução massiva de anúncios nas páginas dos jornais da época.27 A nota
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Primeira notícia sobre a expedição ao redor do mundo projetada pelo capitão Lucas, publicada no jornal La Presse, em 30 de setembro de 1838. Um ano depois, o OH deixava o porto de Paimboeuf, no rio Loire.
começava, sugestivamente, com a frase “sob os auspícios do governo e sob o comando do capitão de longo curso Augustin Lucas”. Mais adiante, o La Presse informava aos interessados que eles deveriam obter instruções sobre a viagem junto a três banqueiros e corretores, em Paris, Bordeaux e Le Havre, no máximo até o final de novembro.28 No mês seguinte, a notícia chegou às páginas do Le Moniteur Industriel, um veículo muito mais importante para os arranjos que estavam em curso. O “plano submetido ao governo” e o seu acolhimento favorável pelos ministros de Estado foram as primeiras informações sobre o OH dadas pelo jornal, em 8 de outubro de 1838.29 O Le Moniteur Industriel nascera em Paris, em 1789, no ambiente conturbado pela Revolução, mas ao contrário de outros periódicos da época, alcançara grande estabilidade e projeção durante o século XIX, como uma espécie de diário dos assuntos de governo (a
chamada “parte oficial”) e de vitrine para a divulgação da parte “não oficial”. Publicado por uma Sociedade Universal de Interesse Público (Société universelle d’intérêt public), o jornal se dedicava a matérias tão diversas como a “agricultura, o comércio, a indústria, as obras públicas, a tecnologia das artes e dos ofícios, as ciências, a legislação e as concessões públicas” em artigos que, não raro, eram reproduzidos ou comentados em outros periódicos. Em agosto de 1839, o Le Courrier Belge assim explicava: “o Le Moniteur Industriel será favorecido pelas comunicações do capitão Lucas e nós as reproduziremos”.30 Lançado em março de 1839, o folheto Expédition du navire l’Hydrographe (batiment-école) (“Expedição do navio Hydrographe (navio-escola)”), trazia a melhor propaganda do projeto que podia ser feita naquele contexto: “viagem ao redor do mundo, sob os auspícios do governo [grifo meu], para a educação
A proximidade da partida do OH, anunciada nos jornais de Nantes, ao longo do mês de agosto de 1839. O Lloyd Nantais, “folha comercial e marítima”, acompanhou durante dois anos, através de avisos, notícias e transcrições de cartas, todo o desenrolar da expedição.
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Página de rosto do folheto de propaganda do OH, impresso pelo capitão Lucas, em março de 1839. Expedição do navio Hydrographe (navio-escola). Viagem ao redor do mundo, sob os auspícios do governo, para a educação dos jovens em geral e, particularmente, para aqueles que se destinam à Marinha mercante ou ao comércio.
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de jovens em geral e, particularmente, daqueles que se destinam à marinha mercante ou ao comércio”.31 Com os preparativos para a viagem já mais adiantados, o Le Moniteur Industriel iniciou, então, a publicação de uma série de artigos sobre a iniciativa “dignamente apreciada pelo governo”. O jornal fez uma extensa radiografia das necessidades e benefícios do projeto, não somente para os inscritos e suas famílias, como para a marinha mercante e a França em geral. O folheto de propaganda do OH e as cartas de recomendação dos ministros franceses também foram transcritos na íntegra pelo jornal, em 7, 10 e 28 de março de 1839. A missão que o Le Moniteur Industriel atribuía a si, no mesmo espírito da viagem de instrução do capitão Lucas, abriu a série: Fecundar com o calor vivificante da publicidade os germes preciosos das concepções inspiradas pela ambição desinteressada de ser útil, tal é, em nossa opinião, um dos mais belos mandatos da imprensa [...]. Por conseguinte, nós que pertencemos à marinha, nós que, sem estarmos colocados no topo, não buscamos mais do que a oportunidade de sermos úteis, acreditamos, ao desenvolver aqui o plano da viagem projetada ao redor do mundo, cumprir um dever de consciência.32
Com o apoio e o reconhecimento do Le Moniteur Industriel, o prestígio da iniciativa estava definitivamente chancelado e a sua aparente natureza governamental, daí em diante, seria reforçada por todos os outros jornais. O Lloyd Nantais, “folha comercial e marítima” que acompanhou todo o desenrolar da viagem, iniciava os avisos e as notícias sobre o OH sempre com a frase “sob os auspícios do governo”.33 Os jornais também explicavam
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aos leitores que o OH, um navio-escola que não “fazia o tráfico” ou o transporte de mercadorias, estaria livre para mudar de rumo de acordo com as circunstâncias, escolhendo a melhor ocasião para se deslocar de um ponto a outro e, assim, evitar os portos insalubres e os corsários indesejáveis, sendo a navegação conduzida “com toda a prudência” por um comandante experiente como o capitão Lucas.34 Pelos planos iniciais, apresentados nesse folheto, a viagem seria iniciada no porto de Rochefort, principal concentração de arsenais da Marinha francesa, em um navio que se chamaria Hydrographe, com capacidade estimada de 500 tx (volume interno em tonelagem). Previa-se que a escola flutuante teria entre 100 e 120 jovens como “noviços voluntários”, encontrando-se entre os já inscritos, nessa ocasião, “quarenta alunos das primeiras famílias da França”, sendo dezoito de Paris e o maior número de Dijon e Lyon, “as únicas cidades onde a expedição é bem conhecida”.35 Daí em diante, as informações relacionadas ao projeto foram sendo constantemente alteradas, em razão das dificuldades encontradas em cada fase dos preparativos que antecediam o embarque. Oficiais, professores e noviços estariam divididos em quatro seções: a marítima, responsável pelo controle de mapas e armamentos nos portos; a comercial, por coletar tudo o que pudesse interessar ao comércio e à indústria; a histórica, pelos costumes e usos de cada povo; a científica, pela história natural e outras ciências. O chefe da expedição, conhecendo a importância de suas obrigações, escolheu para professores e oficiais apenas homens que ele conhece pessoalmente sob a dupla condição de talento e caráter, como o senhor E. Soulier de Sauve, professor de 105
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A proa (parte anterior) de um navio a vela, explicada pelo “vocabulário pitoresco de marinha”, no Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840). “Parte da embarcação oposta à popa, compreendendo desde a proa até o mastro principal. A proa é o lugar habitual dos marinheiros; os oficiais raramente vão ali, a não ser para dar ordens e acompanhar a sua execução. É na proa que são colocadas as âncoras, suspensas externamente em dois contrafortes ou turcos que avançam em cada lado do gurupés. É também na proa que se encontra a cozinha”.
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A popa (parte posterior) de um navio a vela, também explicada no Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840). “Parte da embarcação entre o mastro principal e o leme. A popa dos navios de guerra é dedicada à acomodação do estado-maior e à conservação, sob a vigilância de um oficial, de certas provisões de campanha. A pólvora e as armas têm aí um lugar reservado. A extremidade da popa, recortada por janelas voltadas para o mar, é ocupada pelos aposentos dos oficiais superiores [...]. Nas embarcações comerciais, a popa contém apenas um ou dois aposentos, com pequenas cabines distribuídas em seu interior, destinadas ao descanso de passageiros e oficiais de bordo. O tombadilho é o quartel general das embarcações do Estado e, nos navios mercantes, o passeio no qual se cruzam sem cessar os oficiais e os passageiros que ali se encontram”.
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O itinerário previsto para a viagem relacionava no folheto de propaganda do OH os “principais pontos que a expedição visitará”, distribuídos segundo os portos mais importantes do globo. Deixando a França, a expedição passaria por Lisboa e Cádis, antes de seguir rumo às ilhas da Madeira, Canárias, Cabo Verde e Goréia, escalas conhecidas dos que pretendiam cruzar o oceano Atlântico. Chegando ao Brasil, visitaria os portos de “Pernambuco” (Recife), “Bahia” (Salvador) e Rio de Janeiro, antes de seguir para Montevidéu e, na região do Prata, passar também por Buenos Aires, até contornar o Cabo Horn, no extremo sul do continente americano, e atingir os portos do Chile (Valdivia, Concepción e Valparaíso). O restante do roteiro, com outras escalas na costa oeste da América do Sul e da América
química, física e matemática, e o senhor Vendel, membro da Universidade, professor de francês, grego e alemão, etc., etc.36
O inglês, o espanhol e o desenho também fariam parte do programa de ensino da escola flutuante (música e religião ainda não figuravam nos planos da expedição). Os futuros oficiais da marinha mercante deveriam ser capazes de conhecer e escolher os materiais adequados à construção dos navios, qualquer que fosse a sua tonelagem, bem como cuidar de seu aparelhamento, velame e armamento para, em viagem, saber calcular as chances de comércio em qualquer lugar do mundo e, assim, modificar o curso, a atracação e o carregamento dos navios.37 O folheto também apresentava, com argumentos convincentes, ainda que sem maiores detalhes, o custo da viagem, um item fundamental para as adesões ao projeto:
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do Norte, contemplaria a travessia do “Grande Oceano” (Pacífico), rumo à “Nova Holanda” (Austrália), bem como do oceano Índico, passando por Filipinas, China, Índia, Golfo Pérsico e Mar Vermelho, antes de percorrer a costa oriental da África e cruzar o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente africano. A partir desse ponto, a expedição atravessaria o Atlântico Sul, com uma única escala na ilha de Santa Helena, ponto estratégico na imensa distância que seria percorrida até a Amazônia. A viagem continuaria, enfim, rumo aos portos da costa leste dos Estados Unidos (Charleston, Nova Iorque, Boston), passando pela Guiana, Antilhas, Cuba e Golfo do México. De volta à Europa, o OH ainda faria escalas em portos ingleses e holandeses, antes de chegar ao destino final, previsto para Le Havre, na França.
Em relação ao preço da pensão, fixado em 2.500 francos por ano, com os professores pagos, é necessário observar que esse valor não é, proporcionalmente, nem a metade de uma travessia comum da França às Antilhas ou às Índias Orientais: a primeira passagem custa, com efeito, de 5 a 600 francos [sic] e dura cerca de um mês; a outra, cuja duração é de cerca de quatro meses, custa de 1.800 a 2.000 francos, o que eleva para 6.000 francos o preço de um ano de viagem.38
Logo que a propaganda da expedição começou a ser distribuída, o próprio Lucas redigiu, como fez questão de declarar, um outro documento contendo maiores detalhes sobre as condições de participação de cada aluno e as obrigações das duas partes, incluindo os possíveis desacordos e as indenizações cabíveis. O “estatuto de admissão” no 107
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OH foi registrado, então, junto aos notários Bertinot e Roquebert, de Paris, a 2 de abril de 183939, e vinte dias mais tarde, impresso com pequenas modificações sob o título Conditions d’admission sur le batiment-école, destiné a faire le tour du monde sous le comandement du Capitaine Lucas (“Condições de admissão no navio-escola, destinado a fazer a volta ao mundo sob o comando do capitão Lucas”).40 Esse documento contém os mesmos “avisos” sobre o apoio das autoridades francesas ao projeto e o esclarecimento de que o ministro do Comércio enviara uma circular a todas as prefeituras do reino, a fim de lhes “recomendar, particularmente, o empreendimento”. A indicação para os jovens se apresentarem no porto de partida, ainda incerto, seria dada por cartas particulares e anúncios na imprensa, com quinze dias de antecedência do início da expedição. A maior circulação dos jornais e a ampliação dos serviços postais agora favoreciam e simplificavam as viagens. Já o pagamento de cada aluno, precisava ser estabelecido com maior precisão, considerando-se que a expedição levaria pelo menos dois anos. As famílias pagariam, até 31 de maio de 1839, a metade dos cinco mil francos previstos para o custo total da viagem, quantia que seria usada na preparação do navio. O restante seria depositado em uma caixa de consignação e esse valor ficaria aos cuidados do notário Bertinot, que também assinava o documento. Um ano depois, ele descontaria mil duzentos e cinquenta francos em favor de Lucas e, até 31 de dezembro de 1841, ou antes disso, dependendo da data de retorno, faria a última quarta parte do pagamento ao capitão; se a expedição durasse mais de dois anos, o tempo excedente seria coberto por um suplemento proporcional. Durante a viagem, o aluno poderia decidir por si mesmo o 108
que comprar e seus gastos seriam anotados na presença de um oficial designado pelo capitão Lucas. Quando retornasse à Europa, a família pagaria a quantia adiantada.41 Todos esses acertos, no entanto, não evitaram os inúmeros desentendimentos entre as partes quando surgiram os primeiros problemas que acabariam levando ao término da expedição. As condições de participação no OH, em sua versão impressa, já faziam uma alteração na forma de pagamento da viagem, fixando-se agora que a quantia inicial de dois mil e quinhentos francos só seria colocada à disposição do capitão Lucas depois que o comissário da Inscrição Marítima tivesse registrado, oficialmente, o embarque do aluno nas matrículas do Estado ou constatado a sua ausência ao conferir o armamento do navio.42 Se o embarque não ocorresse, isto é, caso o aluno não ingressasse na guarnição do navio, por decisão própria ou de sua família, metade da pensão seria dada ao capitão, a título de compensação, “em conformidade com o uso nas passagens marítimas”. Já em caso de deserção durante a viagem, “o montante total da pensão pertenceria ao capitão”.43 As mudanças pareciam atender à necessidade de maiores garantias para ambas as partes. Além de regular esses pagamentos, o documento estabelecia que eventuais litígios seriam arbitrados na esfera privada e que as somas devidas, como nos casos de deserção, seriam pagas a Lucas. A essa altura, no entanto, ninguém estava pensando em litígios e deserções. Eles só ocorreriam tempos depois. A propaganda inicial e as condições de admissão no OH também foram distribuídas na Bélgica, para onde o capitão Lucas encaminhou um emissário que pudesse tratar do apoio local ao projeto. A conexão com o país foi estabelecida através de Jean Buysschaert,
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cônsul belga em Rouen (França), um personagem que não deixou maiores informações na imprensa e nos documentos diplomáticos da época. Depois da Revolução de 1830, a Bélgica vivia a primeira década de sua existência como país independente. Entre as prioridades do momento, a organização de um Estado que garantisse para as gerações futuras a unidade nacional e a rememoração de um passado comum que salientasse a identidade dos belgas em um território secularmente dividido pelas zonas de influência flamenga e francesa. O patriotismo era, portanto, uma força mobilizadora importante, tanto para o nascimento, como para a sobrevivência da Bélgica.44 Os fundadores da nação acreditam muito fortemente no papel da linguagem na transformação de um Estado formal em uma nação orgânica, bem como nas artes, símbolos e rituais comemorativos, que também são maneiras excelentes de ensinar o amor à pátria.45
Capital política no processo de construção do Estado-nação, Bruxelas converteu-se em centro financeiro e econômico, onde grandes proprietários, banqueiros e comerciantes davam suporte à organização governamental, à expansão da indústria belga e à internacionalização de seu comércio. Comandando o país em sintonia com “um pequeno grupo formado por algumas dezenas de pessoas que dominavam a totalidade desse império financeiro”, o próprio rei dos belgas era um dos maiores acionistas da Sociedade Geral da Bélgica (Société génerale de Belgique), banco privado convertido em banco estatal com as garantias e os empréstimos oferecidos pelos banqueiros da família Rothschild.46
A rede de parentescos construída há séculos pelas dinastias europeias era imensa e Leopoldo I tinha uma trajetória marcada por conexões com toda a Europa: príncipe de Saxe-Coburgo-Gota, na atual Alemanha, lutou ao lado dos russos contra as tropas napoleônicas e se casou com uma herdeira do trono inglês, ficando viúvo muito cedo. Casou-se,
A expedição do OH e suas regras: folheto com as “condições de admissão no navio-escola destinado a fazer a volta ao mundo, sob o comando do capitão Lucas”, abril de 1839.
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Resultado da colaboração anglo-francesa, do liberalismo, do nacionalismo e da burguesia, a monarquia constitucional ou parlamentar, quase uma república com um presidente hereditário, sem grandes ambições, prosperou e fez grandes progressos com a industrialização; nenhum Estado poderia ter sido mais ‘século dezenove’ do que o novo Estado belga.48
O projeto de uma expedição ao redor do mundo para a formação de aprendizes da marinha mercante da França e da Bélgica tinha tudo, portanto, para ser muito bem acolhido pelo novo governo. A construção de ferrovias no país, a remodelação de sua capital, a ampliação de uma frota mercante ainda incipiente e a conquista de mercados além-mar aproximavam os planos de construção e afirmação do Estado belga dos interesses das demais potências coloniais europeias. Em 22 de maio de 1839, depois de tomar conhecimento da expedição, o cônsul belga em Rouen escreveu a Barthélemy-Théodore de Theux, ministro do Interior e Assuntos Exteriores da Bélgica, apresentando a ideia e, com ela, o professor Soulier de Sauve: Retrato de Leopoldo I com a família (a segunda esposa Louise d’Orléans e três filhos), no jornal de “modas” e “bom gosto”. 1850. O Journal de demoiselles, dirigido às moças e às famílias belgas em geral, descreve o retrato da família real como a “imagem da realeza popular, que dá o exemplo das virtudes cívicas e das virtudes privadas”.
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então, com a filha de Louis-Philippe, da França e, em 1830, quase se tornou rei na Grécia. No ano seguinte, aceitou o convite do Congresso Nacional da Bélgica, em nome da diplomacia europeia, para ser o monarca do novo Estado criado, com o desmembramento de parte dos Países Baixos.47 A Independência da Bélgica e sua proclamada “neutralidade perpétua” eram uma conquista dividida pelos belgas com a diplomacia de outros Estados europeus, notadamente a França e a Inglaterra:
Permita-me comunicar-vos de um empreendimento concebido por um dos homens mais honrados da marinha mercante, o senhor capitão Lucas, cujo objetivo é o estabelecimento de uma escola prática de comércio e de marinha, realizada por uma viagem ao redor do mundo. Essa ideia é nova e grandiosa. Ela recebeu na França o mais favorável acolhimento e o governo francês a encoraja da maneira mais formal.49
O apoio do governo francês, apontado pelo cônsul era, até então, apenas uma pro-
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Eugène Soulier (de Sauve) (?-1850) O professor do OH e mandatário do comandante Lucas na Bélgica nasceu, possivelmente, em Sauve, no sul da França. “E. Soulier” se apresentava como professor de ensino médio e superior, membro de sociedades científicas e literárias, além de autor de manuais de astronomia e geografia adotados pelo Conselho Real de Instrução Pública (Conseil royal de l’instruction publique), na França. A chancela era importante por se tratar do órgão de orientação, supervisão e controle das atividades educacionais implantado, entre 1820 e 1845, como substituto do antigo Conselho Real da Universidade (Conseil royal de l’Université). Os livros que publicou em 1839, a relação de passageiros da expedição e o registro de autoridades da Biblioteca Nacional da França sugerem que ele decidiu incorporar o local de nascimento ao próprio nome para ser tratado por “Soulier de Sauve”. Esse acréscimo aconteceu, aparentemente, por ocasião do engajamento na expedição do OH. O passaporte que trazia consigo foi tirado no Ministério de Assuntos Exteriores (Ministère des affaires étrangères), em Paris, e o visto para a viagem, em Nantes, em companhia da esposa “senhora de Sauve”.50 Os dois deixariam a expedição no Rio de Janeiro, onde o professor francês que chegou à capital do Império juntamente com tantas outras novidades foi contratado, ainda em abril de 1840, como professor da Escola Militar. Em textos brasileiros, o seu nome aparecerá grafado como Antônio Eugênio Fernando Soulier de Sauve.
messa. Mas a confusão quanto à natureza governamental do empreendimento prosperava. O ministro belga, recém-informado sobre o projeto, escrevia: “essa expedição confiada ao capitão Lucas é encorajada de uma maneira bem precisa pelo governo francês” [grifo meu].51 Em outra correspondência, o Conselho de administração da Escola de Navegação de Antuérpia (École de Navigation d’Anvers) lamentava não poder “contribuir em nada com a pensão a ser paga ao governo francês” [grifo meu].52 O “encorajamento” para a iniciativa viria na Bélgica por outros meios. O representante legal da expedição junto às autoridades do país, reconhecido por notários
de Bruxelas desde o primeiro momento, foi o professor Soulier de Sauve que, por sua vez, constituiu o notário Joseph Bouvier como seu procurador, a fim de que este recebesse o pagamento dos alunos belgas engajados no OH.53 Esse documento seria contestado mais tarde, quando o professor decidiu abandonar a expedição no Rio de Janeiro. Em 5 de julho de 1839, Soulier de Sauve foi recebido em audiência particular pelo rei Leopoldo I e, já no mesmo dia, recebeu uma carta confirmando a concordância do governo belga com a participação e o custeio de dois alunos das escolas de navegação do país. Os escolhidos foram Charles Emonce e Jean-François
Folha de rosto de livro do astrônomo E. Soulier (de Sauve), professor do OH, 1839.
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Verelst. O Conselho de Administração da Escola Real de Navegação de Antuérpia (École Royale de Navigation d’Anvers), a mais importante do território belga, destacou suas qualidades para o conde de Theux, primeiro-ministro que exercia, simultaneamente, a função de ministro do Interior e Assuntos Exteriores.54 A Escola, criada antes da formação do Estado belga, institucionalizou a formação da marinha mercante dos Países Baixos, mas não podia arcar com os custos elevados dessa participação. No dia seguinte à audiência, os jornais de Bruxelas, Antuérpia e outras cidades já noticiavam o encontro de Leopoldo I com o professor “encarregado pelo governo francês [grifo meu] de uma expedição ao redor do mundo55. Chefe da Seção Científica e Marítima do OH, Soulier de Sauve cuidaria de todas as questões no país relacionadas à viagem no Hydrographe, como a expedição continuava sendo tratada pelos belgas. Dois dias depois da audiência, ele respondeu ao ministro felicitando a decisão do governo de inscrever os alunos das “escolas reais de comércio” na viagem, ao custo mais elevado de dois mil e novecentos francos por ano. Aproveitou para solicitar, “no interesse dos jovens belgas”, que o ministro concedesse “cartas de recomendação para todos os agentes consulares da Bélgica nos portos estrangeiros que devem ser visitados pela expedição, indicados em nosso itinerário”.56 No começo do mês de agosto, o gabinete do ministro enviou uma circular sobre o assunto aos serviços consulares e diplomáticos.57 As negociações para “recomendar a expedição ao governo” tinham tomado, assim, um grande impulso depois que a imprensa divulgou a audiência de Soulier de Sauve com o rei, reforçando de forma exagerada que “o governo francês concedera um vivo apoio ao 112
projeto do capitão Lucas”.58 No dia seguinte ao encontro, o L’Indépendant, sem poupar elogios àquela “nobre concepção”, deu vários detalhes do projeto, afirmando que “jamais se viu uma expedição tão útil à juventude”.59 O Le Courrier Belge, depois de garantir “todos os meios para ser o primeiro a publicar as notícias da expedição”60, cumpria o objetivo fomentando o interesse pelo assunto com informações e imagens convincentes sobre [...] um navio de 300 tonéis, vasto e comodamente preparado, [que] partirá de Rochefort para visitar todos os principais pontos do globo.61 Mas o tempo corria e o mês de julho ameaçava chegar ao fim sem que o capitão Lucas tivesse recebido da Marinha francesa um navio. Para Leopoldo I e demais autoridades belgas ainda valia o escrito no folheto de propaganda. Em 29 de julho, quando o monarca escreveu ao ministro determinando que indicasse dois alunos das escolas de navegação para viajar “às custas do Estado”, Leopoldo I ainda se referia ao “navio Hydrographe que está sendo armado presentemente à Rochefort”.62 A essa altura, no entanto, o veleiro já tinha outro nome e estava sendo preparado em Nantes. Esses detalhes agora pareciam não fazer muita diferença. O entusiasmo e a confiança no projeto estavam garantidos. Com uma participação efetiva em decisões administrativas de toda sorte, Leopoldo I estava muito atento à busca de reconhecimento e visibilidade do novo Estado belga. A expansão e a modernização de sua marinha mercante, com a formação de bons oficiais e marinheiros, e a conquista de novos mercados que tirassem dos holandeses o controle do comércio belga, eram outras prioridades do momento. Em fins de julho, Soulier de Sauve enviou ao ministro belga detalhes sobre o uniforme dos alunos, o custo da viagem e o novo
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Vista da cidade de Antuérpia, região flamenga da Bélgica, tomada de seu porto, c. 1844.
local da partida, esclarecendo então que o navio teria outro nome: O comandante da expedição, Senhor Lucas, também me encarrega de vos informar, Senhor Ministro, que nosso navio toma definitivamente o nome Oriental em vez de Hydrographe, que ele tinha recebido a princípio.63
Assim, tudo parecia estar bem e em conformidade com os planos apresentados, como se o projeto já contasse, desde o início, com um navio ou como se as alterações
na propaganda da escola flutuante fossem, apenas, uma questão de nomenclatura. Não era o caso de dividir as dificuldades que começavam a ser enfrentadas... Em 27 de julho de 1839, um ano depois da correspondência com o ministro Rosamel, o seu substituto na pasta da Marinha comunicou ao capitão Lucas que, embora reconhecesse “a utilidade incontestável da expedição”, lastimava não poder fornecer-lhe o navio, o cronômetro, os canhões e a pólvora. O almirante Duperré completou a má notícia informando que também não podia conceder ao Oriental, uma embarcação de comércio, o direito de portar 113
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de que o senhor poderá precisar durante a viagem que empreenderá”.64 A esta altura, Lucas já estava imerso em uma série de arranjos públicos e privados para viabilizar a expedição, a despeito de contar ou não com os recursos solicitados à Marinha. O clima agora menos favorável no novo ministério não passou despercebido. Em Paris, o Le Moniteur Industriel aproveitou a ocasião para criticar o governo francês, elogiando o apoio dado pelo governo belga com o financiamento da viagem para os seus jovens: A expedição do capitão Lucas, embora muito aplaudida em vários ministérios, não recebeu nenhum encorajamento real, enquanto o governo belga colocou quatro estudantes às suas custas nesta grande escola flutuante.65
A proa de um brigue de comércio, com a âncora e suas amarras. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
Planta de um veleiro de três mastros, com a linha que divide o bombordo (lado esquerdo) e o estibordo (lado direito) da embarcação, considerando-se a proa como sua frente. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
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a bandeira reservada aos navios da Marinha francesa. No entanto, ele prometia “convidar os governadores e os nossos estabelecimentos além-mar, os cônsules franceses no exterior e os comandantes de nossas estações navais a vos proporcionar os documentos que estarão à sua disposição e dar-lhe a ajuda e a proteção
Em Bruxelas, o clima era outro. Desde que os jornais noticiaram a audiência de Soulier de Sauve com o rei e o acolhimento favorável da expedição “pelos governos da França e da Bélgica”, começaram a chegar às repartições de todo o país solicitações de embarque no OH às custas do governo belga. O objetivo era um só: “ser útil à sua pátria e à sua majestade”.66 Poucos, no entanto, seriam de fato contemplados com esse financiamento, mais restrito aos alunos das escolas de navegação. Em princípios de agosto, contudo, um tenente de artilharia da Escola Militar da capital belga foi indicado para a expedição por seu diretor.67 Na mesma ocasião, um professor da Escola Central de Comércio e Indústria (École centrale du commerce et de l’industrie), de Bruxelas, comunicou ao ministro sua partida para Nantes e a decisão de embarcar “no Hydrographe”, na condição de professor de matemática.68 A viagem do OH foi tratada
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pelo Ministério do Interior e Assuntos Estrangeiros da Bélgica em ampla correspondência, ao longo de todo o mês de agosto, tendo o ministro escrito ao governador de Antuérpia sobre as instruções que deveriam ser dadas aos escolhidos pelo governo.69 Enquanto isso, na França, os apoios vinham de entidades como a Câmara de Comércio de Lyon que, logo depois das primeiras notícias sobre a expedição, designou um observador para acompanhá-la, com o objetivo de estudar as relações comerciais que a cidade poderia estabelecer com as diversas partes do globo.70 Desde o mês de março, a Sociedade de Encorajamento à Industria Nacional também começara a discutir o seu apoio ao projeto. A ideia foi apresentada à entidade por Antoine Delacoux de Marivault, grande proprietário de terras, membro de seu conselho de administração e autor de algumas publicações sobre a agricultura francesa e o comércio internacional.71 Ele sugeria que os diversos comitês da Sociedade formulassem instruções para a viagem, definindo as questões a serem observadas, com o compromisso de oferecer recompensas aos participantes da expedição que fornecessem os documentos “mais interessantes” e “mais úteis” às relações comerciais e ao progresso da indústria francesa.72 Pouco depois, ele informava ao conselho que o capitão já tinha fixado a data da partida (“para o mês de junho”) e que contava levar em sua viagem as instruções que atendessem aos objetivos da Sociedade.73 O apoio apareceu com destaque no Le Moniteur Industriel74, evidenciando a convergência de objetivos dos editores com a Sociedade, tendo em vista as frutíferas relações econômicas que podiam ser estabelecidas por expedições ao redor do mundo compreendidas como missões comerciais.
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Jean-Baptiste Huzard, veterinário, filho de um dos fundadores da entidade, leu o relatório dos membros encarregados de analisar o apoio à expedição do capitão Lucas, na sessão de 31 de julho de 1839:
Os “novos hábitos” da capital belga na imprensa ilustrada: os passeios pelos boulevards de Bruxelas, c. 1840.
A comissão, considerando a alta utilidade das pesquisas que serão empreendidas, propõe que a Sociedade se encarregue de reconhecer, por distribuições de medalhas e outros prêmios, o zelo colocado: 1) Para coletar documentos sobre os novos mercados que nosso comércio pode esperar entre as nações marítimas e sobre os processos industriais, econômicos e agrícolas que se pode emprestar com sucesso; 2) Para introduzir na França plantas econômicas ou novas raças ou espécies de animais domésticos, pelo menos tão úteis quanto as que nosso país já possui. A Comissão propõe ainda que, para ter 115
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direito aos prêmios estabelecidos, todos os tipos de documentos têm que ser enviados à Sociedade através do capitão Lucas, assistido pelos professores e pessoas participantes da expedição, que os primeiros terão considerado conveniente para se juntar (aprovado).75
As recomendações dadas pela Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional, além de representarem uma aposta comercial no sucesso do empreendimento, também demonstravam, publicamente, a confiança da entidade no comando da missão, tendo por isso o peso de uma chancela institucional muito importante. A Academia de Ciências da França, entidade que formulava as orientações sobre o que observar e o que coletar nas grandes missões da Marinha francesa, poderia representar uma chancela ainda mais prestigiosa. Por isso mesmo, François Arago recebeu do astrônomo Soulier le Sauve, como representante oficial da expedição, uma carta enviada em 5 de agosto de 1839 solicitando o apoio da instituição e de seu secretário para a viagem do OH: Se a Academia julgar conveniente anexar algumas informações às valiosas instruções que o senhor escreveu para o La Bonite, nós ficaremos muito felizes em recebê-las e teremos o maior zelo em merecer e cumprir os pontos de vista da Academia.76
A data prevista para a partida do OH (e mais uma vez adiada) era apresentada nessa carta como sendo entre os dias “primeiro e cinco de setembro próximo”. A escola flutuante deveria obter da Academia, antes disso, a indicação dos pontos a serem visitados, com a promessa de que os professores atenderiam, 116
na medida do possível, as suas recomendações.77 O próprio François Arago tinha elaborado as instruções da viagem de circum-navegação da corveta La Bonite, comandada pelo vice-almirante Nicolas Vaillant, que serviriam de inspiração para o OH.78 O cientista, naturalmente, acompanhava de perto o interesse pelo assunto, assim como a edição de Souvenirs d’un aveugle; voyage autour du monde (Paris, 1839), do irmão Jacques Arago, já noticiada pelos jornais. Por outro lado, François Arago também estava bastante ocupado, nesse momento, com a aprovação da “lei Daguerre” e a apresentação dos segredos da daguerreotipia no Instituto de França. Os dois assuntos se misturavam em diversos aspectos. Ainda no mês de julho, enquanto se desenrolavam as negociações com Daguerre, a Academia de Ciências e o governo belga, dois armadores de Nantes resolveram aderir ao projeto. Como e por que J. Despecher e A. Bonnefin cederam um de seus navios mercantes para a viagem de circum-navegação do capitão Lucas é mais uma questão nebulosa na história do OH, pois essa cessão foi dada, inicialmente, por um simples contrato de fretamento.79 O próprio filho de Despecher, jovem de 18 anos que bem poderia participar da escola flutuante, embarcou em princípios de agosto em outra viagem, rumo às Antilhas.80 Contudo, a convergência de interesses na preparação de oficiais para a marinha mercante e as garantias oferecidas pelo capitão podem ter convencido os dois armadores, a despeito dos riscos aparentes. Uma procuração do comandante Lucas, assinada em 4 de setembro de 1839, em Nantes, e logo depositada junto ao mesmo notário Bertinot, em Paris, transferia a Despecher e Bonnefin o poder de receber e dar quitação de qualquer soma relativa à pensão paga pelos alunos.81 Esse documento, en-
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viado pelos armadores às autoridades belgas quando reivindicaram essas somas, representava uma segurança para os dois, tanto quanto o costumeiro seguro do navio, em caso de perda.82 O plano de começar a viagem pelo porto de Rochefort, onde Lucas tinha laços antigos, teria agora que ser abandonado. Em princípios de agosto, o OH deveria iniciar a sua viagem de circum-navegação do mesmo ponto de onde partira Bougainville, em sua mítica expedição. O porto de Nantes, onde o Oriental estava registrado, era também onde os armadores concentravam os seus negócios.
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O Oriental chegou a Paimboeuf, com vinte homens na tripulação, em junho de 1839.83 Vinha de uma segunda viagem à ilha de Reunião, então chamada “Bourbon”, hoje um departamento ultramarino francês no oceano Índico. Em fins de julho, quando Lucas conseguiu o navio, o Le National de l’Ouest e outros jornais de Nantes felicitaram a iniciativa dos armadores, logo reproduzida na imprensa parisiense e belga.84 Os irmãos J. e A. Despecher, seguradores marítimos na região do Loire, começaram a atuar como armadores, equipando e fretando navios comerciais, depois de
Vista do porto de Nantes, tomada do cais la Fosse, em meados do século XIX.
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Certificado do Oriental como navio de comércio francês, expedido pelo Ministério das Finanças da França, em 14 de setembro de 1839. Em destaque no documento, o nome dos proprietários (J. Despecher e A. Bonnefin) e o porto de inscrição do navio (Nantes).
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1816, quando também passaram a ter uma atuação destacada na Câmara de Comércio de Nantes (Chambre de Commerce de Nantes).85 Criada por armadores, banqueiros, industriais e outros negociantes locais, em 1802, a agremiação funcionava no novo edifício do Palácio da Bolsa, instituição secular na história da cidade em sua profunda ligação com o comércio marítimo. Em 1838, os dois armadores se associaram a Alexandre Bonnefin, negociante de Saint-Malo e, em 1839-1840, a sociedade já possuía uma frota considerável: o Solidor (185
tx), o Heloise (286 tx), o Saint-Louis (293 tx), o Sophie (161 tx) e o Oriental.86 O Oriental era um navio à vela, com três mastros, construído em 1835, com dois pavimentos (ou conveses) e dois castelos, um em cada extremidade (proa e popa), empregado pelos proprietários no transporte de mercadorias e passageiros. A expressão “três mastros” costuma ser usada como denominação genérica para os grandes veleiros da época que, a rigor, podiam ter até sete mastros.87 Com uma capacidade de 304 a 370 tonéis, o Oriental media cerca de 34 metros de comprimento por 9 metros de largura. O calado, isto é, a profundidade necessária para flutuar livremente, media entre 3,50 (sem carga) e 4,70 metros (carregado).88 Como navios semelhantes, ele possuía acomodações confortáveis para o capitão e cabines menores para a tripulação e os passageiros.89 Os armadores Despecher e Bonnefin, depois de cederem o seu belo veleiro para a expedição do OH, publicaram uma nota no Le National de l’Ouest com a expectativa de que a Câmara de Comércio de Nantes tomasse decisão semelhante à de Lyon e também apoiasse o empreendimento.90 Se o governo francês não tinha dado o auxílio desejado, outros apoios podiam se somar ao projeto do capitão Lucas e a pressão dos armadores representava uma contribuição a mais nessa direção. Os jovens que fariam a viagem foram avisados pelos jornais de que deveriam, então, se apresentar em Nantes, “o mais tardar”, no dia vinte do mês de agosto.91 As últimas orientações sobre a viagem foram impressas e divulgadas em um documento intitulado Instruction pour les familles qui ont des parentes a bord du navire-école l’Oriental-Hydrographe (“Instrução para as famílias que têm parentes a bordo do navio-escola Oriental-Hydrogra-
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phe”) que, assim, apresentava formalmente o duplo nome da expedição.92 O cronograma, no entanto, já estava comprometido e desatualizado: “o navio irá içar velas de Paimboeuf, no baixo Loire, perto de Nantes, em 31 de agosto de 1839. Os alunos devem comparecer, pelo menos cinco ou seis dias antes dessa data, ao porto de Nantes”.93 A preparação do OH (o chamado armamento), previsto para acontecer durante o mês de agosto, só foi realizado em setembro, já sob a pressão dos alunos e suas famílias diante do atraso da viagem.94 O vocabulário marítimo da época definia essa etapa como o conjunto de atividades que envolviam a preparação física e humana do navio antes da partida, como a escolha do estado-maior (oficiais sob as ordens do comandante), a guarnição da equipagem (tripulação em geral), a instalação dos equipamentos e provisões e a realização do conjunto de manobras para levantar âncoras e deixar o ancoradouro. A aparelhagem representava uma das últimas etapas na preparação da viagem. Em sentido estrito, significa guarnecer um veleiro com as suas velas, cordas e polias, dispondo corretamente a mastreação para que navegue em segurança. Com apenas três anos de vida, o Oriental era um navio praticamente novo, “belo, ágil e bem equipado”, nas palavras do jovem Emonce95 e, nesse sentido, adequado à missão que deveria desempenhar. Em Belle-Île, dois dias depois de iniciada a viagem, outro belga escreveu: “vamos acrescentar a isso, para completar a fisionomia do Oriental, que ele ultrapassa todos os outros navios em velocidade, de tal forma sua marcha é superior”.96 Mas, armar um navio para uma viagem ao redor do mundo nunca foi tarefa simples e, na primeira metade do século XIX, isso significava equipá-lo também com os novos instru-
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mentos disponíveis e os armamentos de guerra necessários à sua proteção, a fim de defendê-lo dos piratas e corsários que cruzavam os oceanos. O OH foi equipado com dez canhões de 8” (ao invés dos canhões de 12”, indicados no folheto)97 e a tripulação também contava com as armas de cano curto e espadas de uso pessoal. Com essas características e a fama de uma expedição oficial, foi tratado em diversos portos como uma “corveta”, navio de tamanho médio, com cerca de vinte canhões, bastante utilizado pela marinha de guerra, juntamente com naus, brigues e fragatas.98 O OH levava a bordo o cronômetro marinho, relógio de
Licença de navegação do Oriental, expedida pela Polícia de Navegação do Ministério da Marinha da França, em 1837. Espécie de passaporte exigido de qualquer embarcação, válido para a viagem entre Bordeaux e Nantes do Oriental, por ocasião da compra do navio pelos armadores Despecher et Bonnefin. Decorado com diversos motivos navais e impresso com o nome de LouisPhilippe, “rei dos franceses”, o documento que devia assegurar o controle do Estado sobre a frota mercante era também uma representação visual da importância atribuída aos símbolos do poder monárquico.
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As últimas recomendações antes da viagem: “instruções para as famílias que têm parentes a bordo do navio-escola Oriental-Hydrographe”, em agosto de 1839.
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precisão para o cálculo da longitude introduzido na navegação oceânica no século XVIII. O instrumento permitia a determinação de rotas marítimas não mais pela posição do sol, mas por um sistema de molas e pêndulos que funcionavam com exatidão por vinte e quatro horas, apesar do balanço das águas e das altas temperaturas. 99 Era essencial para uma viagem de circum-navegação e demais missões navais que contavam com o instrumento, a despeito de seu custo elevado. A navegação comercial, embora não respondesse pelo aparecimento dessas invenções, tinha ajudado a barateá-las com a expansão de sua frota e de seus negócios.100 Outra novidade que equipou o OH de forma inovadora foi a chamada “cozinha destilatória” (cuisine distillatoire), um equipamento concebido por dois inventores de Nantes recém-introduzido na navegação oceânica. Quarenta anos após a expedição de La Pérouse, os aperfeiçoamentos nas embarcações, as benfeitorias nos portos e as novidades no suprimento dos navios ajudavam a melhorar não somente as condições sanitárias durante uma longa viagem, como também o tratamento das temíveis doenças a bordo, principalmente quando o tempo de permanência no mar era muito longo. Para a circum-navegação, essa era uma questão de vida ou morte. A invenção de Peyre e Rocher, introduzida nos anos 1830, era capaz de realizar a cocção dos alimentos e, ao mesmo tempo, destilar a água do mar para o fornecimento de água potável à tripulação, com o uso de energia a vapor.101 A solução, cuja utilidade era evidente para o conforto e a sanidade dos embarcados, também liberava espaço na carga dos navios para o transporte de mercadorias em lugar de água potável. Em 1839, quando ela foi incorporada ao OH, apenas quatro em-
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barcações da Marinha francesa estavam equipadas com a novidade.102 O navio também estava equipado com o fisionotipo, um dispositivo mecânico para a reprodução dos traços fisionômicos e sua representação em três dimensões. Como assinalou um dos aprendizes, já contando com a aplicação do instrumento, ele se destinava a “tirar moldes de todas as formas de cabeças das diferentes raças de homens que nós visitarmos”.103 O aparelho foi incorporado à expedição juntamente com dois alunos franceses que ingressaram no OH. Originários de Boulogne-sur-Mer, na Bretanha, Frédéric Sauvage (25 anos) e Joseph Sauvage (24 anos), segundo os registros da equipagem na Inscrição Marítima de Nantes, eram, respectivamente, filho e sobrinho do inventor Pierre-Louis-Frédéric Sauvage. O engenheiro mecânico e sua família estavam ligados à construção naval há várias gerações e, em 1832, ele se
Navio da Marinha de guerra, ancorado, portando a bandeira francesa. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
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O engenheiro Pierre-LouisFrédéric Sauvage cercado por suas invenções, em representação simbólica, c. 1853. O inventor e suas criações foram imortalizados em um dos 17 volumes da coleção Panthéon des Illustrations Françaises au XIX siècle (Paris, 1869-1873), dirigida pelo fotógrafo e editor Victor Frond. Cada personagem contém um retrato, uma biografia e um autógrafo.
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tornou conhecido ao criar um sistema de aplicação da hélice à propulsão dos navios, recurso fundamental na utilização do vapor como força motriz para a navegação.104 Enquanto negociava em Paris a aquisição desse sistema pela Marinha francesa, Sauvage patenteou o fisionotipo (1834), instrumento dotado de uma cobertura flexível com centenas de agulhas que, uma vez posicionadas sobre a face, reproduziam com exatidão as feições humanas graças à pressão estabelecida, permitindo
assim a sua modelagem em gesso.105 A novidade faria sucesso ao chegar no Brasil. Para completar, o OH também levava a bordo a invenção mais festejada do momento: a câmera de daguerreotipia e seus complementos. Os contatos de Lucas com Daguerre e Jobard, nos meses de julho e agosto de 1839, tornaram possível a incorporação do daguerreótipo e dos meios necessários para empregá-lo durante a viagem da escola-flutuante. Por outro lado, as demoradas negociações com o governo francês em torno da pensão oferecida a Daguerre e Isidore Nièpce também parecem ter influenciado o adiamento da partida. Os planos da expedição, em todo caso, dependiam mesmo de um navio que pudesse concretizar o projeto do capitão Lucas. Por isso, além de cuidar dos equipamentos que levaria a bordo, ele foi a Nantes negociar com os armadores Despecher e Bonnefin a cessão do Oriental para a viagem. Só então, a seleção da tripulação e o armamento do navio poderiam, de fato, ter início, o que por sua vez demandava tempo e organização. Em princípios de agosto, quando todos aguardavam a revelação dos segredos da daguerreotipia em Paris, Lucas já estava de volta à cidade, segundo notícia dada pelo Le Moniteur Industriel.106 Além da subscrição, aquisição e recebimento do aparelho, a necessidade de conhecer melhor o processo também fez com que o capitão permanecesse na cidade por mais tempo, a fim de demonstrá-lo nos portos visitados pela expedição. Afinal, a invenção fora apresentada na Academia de Ciências, no dia 19 de agosto, mas só foi explicada pelo próprio inventor no dia 28 daquele mês, sendo posteriormente demonstrada por Daguerre nos dias 7, 11 e 14 de setembro. A correspondência entre inventores, cientistas e autoridades francesas durante o
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ano de 1839 é bastante ilustrativa das controvérsias e impasses que envolveram a concessão de uma pensão vitalícia a Daguerre e a Isidore Niépce, sendo um aspecto bastante conhecido da história da daguerreotipia.107 Essa correspondência demonstra que a revelação do processo, isto é, as operações e materiais indispensáveis à obtenção de uma imagem com o daguerreótipo, foi adiada até que ficassem resolvidas as formas de reconhecimento e comercialização de um invento que, de certa forma, estaria automaticamente ao alcance de qualquer um assim que esses aspectos se tornassem conhecidos. As notícias sobre os encontros de Daguerre com Jobard, aos quais Lucas também esteve presente, sugerem que a demora dessas negociações também teve influência no adiamento da partida do OH. Vivendo em Paris naqueles meses que assistiram à enorme publicidade da invenção, conhecendo Daguerre pessoalmente e aprendendo a empregar o seu próprio equipamento de daguerreotipia, a possibilidade de ser o primeiro a embarcá-lo em uma viagem de circum-navegação parecia uma ideia muito sedutora. Em julho, o capitão Lucas fizera a inscrição para levar um aparelho fabricado por Giroux a bordo do OH, mas em setembro aparelhos de daguerreotipia e outros apetrechos também podiam ser adquiridos diretamente com o “ótico da expedição”. O estabelecimento de Antoine Bianchi, indicado no folheto Instruction pour les familles qui ont des parentes a bord du navire-école l’Oriental-Hydrographe (“Instrução para as famílias que têm parentes a bordo do navio-escola Oriental-Hydrographe”)108, tinha começado a vender esses aparelhos desde princípios do mês de setembro. Os segredos da invenção foram conhecidos na reunião da Academia de Ciências, em 19 de agosto, e a brochura lançada por Daguer-
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Anúncio do equipamento completo de daguerreotipia vendido pela Maison Bianchi, família de óticos estabelecidos em Paris e Toulouse, em 25 de setembro de 1839.
Câmera de daguerreotipia dos fabricantes Susse frères, estabelecidos em Paris, 1839.
re, em seguida, apresentou os desenhos e as explicações necessárias sobre o equipamento, com as modificações que ele introduzira nos modelos tradicionais de câmara escura. Desde então, a exclusividade dada a Giroux para vender o aparelho de daguerreotipia com a assinatura de Daguerre converteu-se em mero sinal de distinção.109 Comerciante sem grande 123
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Antoine Bianchi Engenheiro ótico de origem italiana, Bianchi fundou seu estabelecimento em 1816, dedicando-se à construção e venda de instrumentos óticos e de precisão para instituições acadêmicas e militares, órgãos públicos e sociedades científicas, bem como de aparelhos e novidades que faziam sucesso entre os amadores. Como outros óticos de seu tempo, participou de diversas exposições industriais, além de comercializar os instrumentos fabricados por seu próprio estabelecimento e outros, em duas lojas administradas em conjunto com os filhos, sendo uma em Tolouse (rua la Pomme, 73) e outra em Paris (rua Coq Saint Honoré, 11). Neste último endereço, tinha como vizinho o estabelecimento de Alphonse Giroux e era usual que compartilhassem fornecedores e clientes. Os jornais de Toulouse da década de 1830 trazem anúncios publicados regularmente pela Casa Bianchi (Maison Bianchi), por sinal bastante sedutores para a crescente clientela de “ótica recreativa” (binóculos, lanternas mágicas e óculos em geral).110 Desde o dia 10 de setembro de 1839, o estabelecimento aceitava inscrições para a compra de equipamentos de daguerreotipia. Em 15 de setembro, o filho Antoine Bianchi organizou o primeiro experimento público com a invenção de Daguerre em Toulouse, exibindo no mesmo dia a “admirável perfeição” desses “quadros”. Quatro dias depois, já considerava os últimos resultados obtidos ainda melhores. O Journal politique et littéraire de Toulouse et de la Haute-Garonne, em 25 de setembro, traz outro artigo sobre os experimentos, que já chegavam a treze. No mesmo número, o jornal estampa um anúncio da família Bianchi oferecendo a entrega de equipamentos completos de daguerreotipia, em Toulouse ou em Paris, por 350 francos, com lições oferecidas gratuitamente, bem como a imagem (“tableau”) feita pelo comprador do aparelho quando tivesse aprendido a usá-lo. Nos meses seguintes, esse anúncio foi reproduzido diversas vezes nas páginas do jornal, bem como a informação de que Bianchi pai aperfeiçoara o equipamento para evitar que as imagens saíssem invertidas.111 Em julho do ano seguinte, o anúncio da Maison Bianchi oferecia retratos com o daguerreótipo, graças à qualidade das lentes empregadas em seus equipamentos. Em 27 de fevereiro de 1840, o filho Barthélemy-Urbain fez uma vista panorâmica do Capitólio, em Toulouse, daguerreótipo que é hoje conservado pelo Museu George Eastman (Estados Unidos).112
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conhecimento da matéria, Giroux ingressou no negócio graças às relações de parentesco e proximidade com o inventor. Mas ele não era ótico e, antes desse acerto, vendia apenas “bibelôs, pinturas, leques, objetos de madeira e impressos”. Os óticos que fabricavam e vendiam instrumentos em Paris, com estabelecimentos renomados na capital francesa e outras cidades, eram os Bianchi, Susse, Chevalier, Lerebours, Huette, Molteni e outros, com quem um viajante do OH podia adquirir um equipamento semelhante, às vésperas de deixar a França.113 O interesse do capitão Lucas pela daguerreotipia e sua incorporação ao conjunto de instrumentos que levaria a bordo do OH pode ser considerado como uma consequência lógica e até certo ponto coerente com toda a efervescência intelectual provocada pelos numerosos artigos sobre o assunto que vinham sendo publicados na imprensa francesa. Os fundamentos lógicos, políticos e comerciais da invenção, suas aspirações democráticas e promessas universais eram os mesmos que inspiravam a visão de mundo de um capitão de longo curso liberal, ousado e empreendedor. As instruções práticas da daguerreotipia, se não foram recebidas por Lucas na apresentação do processo na sede da Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional e nas demonstrações públicas realizadas por Daguerre, podem ter ocorrido em ocasiões reservadas, com o próprio inventor ou através dessa rede de contatos e negociações comuns. Daguerre ensinou pessoalmente a algumas pessoas os procedimentos práticos, como ao oficial dinamarquês Christian Falbe, já comentado no capítulo anterior, assim como a Andreas Ritter von Ettingshausen, professor de física e matemática da Universidade de Viena que esteve em Paris, em agosto
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de 1839 e, no começo do ano seguinte, já fazia daguerreótipos com um microscópio solar.114 Logo depois que a invenção da daguerreotipia se tornou pública, as placas de cobre empregadas na obtenção das imagens eram colocadas à venda, não apenas em Paris, como no porto de Nantes, segundo noticiou o Le National de l’Ouest, do dia 14 de setembro de 1839.115 Os aparelhos também estavam sendo fabricados, comercializados e o seu uso explicado por aqueles que acabavam de aprender o processo, sem que Daguerre pudesse controlar, como imaginara, o alcance desse mercado e a rapidez dessa difusão. A velocidade e a eficiência das formas de publicidade, demonstração e comercialização da daguerreotipia tinham assegurado, portanto, as condições necessárias para a incorporação do equipamento à expedição do OH, assim como a aprendizagem do processo fotomecânico por aqueles que pretendiam empregá-lo durante a viagem, com a leitura do manual de instruções de Daguerre e algumas lições prévias. O ineditismo da daguerreotipia e as limitações técnicas de seus resultados não foram impeditivos para que os integrantes do OH aprendessem a praticá-la, antes de a viagem começar ou já depois de iniciada. Contudo, o capitão Lucas, o capelão Louis Comte e a seleta audiência de suas primeiras demonstrações no transcurso da viagem logo constatariam as dificuldades práticas de uma arte sujeita às incertezas da sorte e aos caprichos do tempo. Poucos dias antes da partida, o ministério da Marinha ainda respondia a pedidos de informação sobre o comandante e a expedição. Mas a confusão entre os interessados, agora, parecia criar algum incômodo nas autoridades. A Inscrição Marítima e Policia de Navegação do ministério tinha que esclarecer
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que o navio preparado em Nantes, para onde o capitão Lucas seguira em princípios de setembro, não era mais o Hydrographe e sim o Oriental, uma “embarcação de comércio”.116 A insistência em concretizar o projeto a todo custo não deixava de ser uma demonstração do espírito determinado do capitão, já expresso em seus escritos. Um aluno belga escreveu em uma carta que Lucas e todos os demais estavam “encantados com a honrosa missão”.117 Por outro lado, essa atitude também ajudava a encobrir os contratempos e as ambiguidades do empreendimento. Por tudo isso, a falta de clareza sobre a natureza (não) oficial do OH acabou se tornando mais importante para concretizar a expedição do que os recursos governamentais que lhe foram efetivamente destinados.
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Capítulo 3 1. Almanach du Commerce de Paris, de la France et des Pays étrangers par S. Bottin. Paris : Bureau de l’Almanach du Commerce, 1838, s/p. 2. Almanach du Commerce de Paris, de la France et des Pays étrangers par S. Bottin. Paris : Bureau de l’Almanach du Commerce, 1839, p. 686. 3. OH - Doc 31.07.1842. 4. OH - Doc 26.04.1839. 5. OH - Doc 00.03.1839. 6. OH - Doc 00.03.1839. 7. Lucas, 1839, p. 31 e OH - Doc 30.09.1838. 8. Em fins de 1838, em meio a diversos conflitos entre o rei Louis-Philippe e as forças parlamentares que se opunham à ingerência excessiva do monarca nos assuntos de governo, formou-se um governo de coalizão. Em fins de janeiro de 1839, o ministério presidido pelo conde Molé, entre os anos de 1837 e 1839, foi dissolvido e o rei formou uma nova composição ministerial, sob a presidência de marechal Soult, entre 12 de maio de 1839 e 1º de março de 1840, na tentativa de conseguir controlar a situação política. A viagem do OH transcorreu nesse quadro político-administrativo bastante conturbado. 9. Sylviane Llinares. “Innovation et mutation technique: la marine de guerre française (1750-1850). In: Hilaire-Pérez e Garçon, 2003, pp. 331-342. 10. OH - Doc 28.07.1838. 11. OH - Doc 31.07.1842. Lucas destacou esse apoio no documento em que explica a sua conduta no naufrágio do OH. 12. OH - Doc 00.03.1839, OH - Doc 28.07.1838 e OH - Doc 31.07.1842. 13. Referências ao tema são feitas em OH - Doc 10.03.1839. 14. OH - Doc 24.01.1839. 15. Citado por Carré, 1970, p. 18. O historiador refere-se a três cartas do gênero,
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sendo uma delas enviada pelo ministro da Marinha ao ministro de Obras Públicas, em 26 de fevereiro de 1839. 16. OH - Doc 07.03.1839 (a). 17. « Séance du 19 avril, 1839 ». Bulletin de la Société de Géographie de Paris. Deuxième série, t. XI, Paris, chez Arthus-Bertrand, 1839, p. 255. 18. Barros Arana, 1855. O autor indica, por equívoco, a data de nascimento como sendo 1796. 19. Vendel-Heyl, 1818-1819; Fierville, 1894 (os arquivos dos liceus franceses encontram-se no AN-Fr e são a principal fonte da obra citada). 20. Beecher, 1986, p. 485 e http://www. inrp.fr/ (Banque de données du Institut National de Recherche Pédagogique, consultado em 2008). 21. Fierville, 1894. 22. Barros Arana, 1874; Estefane, 2005, esp. p. 98. 23. France. Exposition des produits de l’industrie française en 1839 (...), 1839, t.1, p.36. Disponível em http://cnum.cnam.fr/ 24. OH - Doc 16.03.1839. 25. OH - Doc 16.03.1839. 26. Carré, 1970, p. 18. 27. Gueniffey, 2000, p. 1502; Charle, 2004, p. 44. O concorrente Le Siècle chegou a uma tiragem que ultrapassava os 33.000 exemplares, em 1840. 28. OH - Doc 30.09.1838. 29. OH - Doc 08.10.1838. 30. OH - Doc 20.08.1839. 31. OH - Doc 00.03.1839. 32. OH - Doc 28.03.1839. 33. OH - Doc 04.08.1839. Idem nas datas de 12.08.1839; 16.08.1839; 20.08.1839; 27.08.1839; 30.08.1839. 34. OH - Doc 18.08.1839. 35. OH - Doc 00.03.1839. 36. OH - Doc 00.03.1839. 37. OH - Doc 10.03.1839. Artigo assinado “J. F.” 38. OH - Doc 00.03.1839.
39. OH - Doc 02.04.1839. 40. OH - Doc 22.04.1839. 41. OH - Doc 22.04.1839. Ver o modelo de recibo em Fontes consultadas: Condições de admissão no Oriental-Hydrographe, redigidas pelo comandante (1839). 42. OH - Doc 22.04.1839. 43. OH - Doc 22.04.1839. 44. Bertrand, 1906, esp. cap. 2. 45. Witte, 2005, p.165. 46. Witte, 2005, p. 133. 47. Gueniffey, 2000. 48. Golo Mann. “El desarrollo político de Europa y de América de 1815 a 1871”. In: Mann e Heuss, 1985, p. 485. 49. OH - Doc 22.05.1839. 50. OH – Doc 00.00.1839. 51. OH - Doc 17.06.1839. 52. OH - Doc 24.06.1839. 53. O notário Antoine Joseph Bouvier, procurador de Soulier de Sauve, foi reconhecido junto ao notário Matagne, de Bruxelas. OH - Doc 30.07.1839. 54. OH – Doc 24.06.1839; OH – Doc 5.7.1839; OH – Doc 20.07.1839. Carré (1970) escreveu em seu artigo Enonce [sic], embora os documentos oficiais belgas, que também foram consultados pelo historiador, confirmem que a grafia correta é Emonce. 55. OH - Doc 06.07.1839 (a) e OH - Doc 06.07.1839 (b). 56. OH - Doc 07.07.1839. 57. OH - Doc 05.08.1839 (d). 58. OH - Doc 11.07. 1839 (b). 59. OH - Doc 11.07.1839 (b). 60. OH - Doc 20.08.1839. 61. OH - Doc 11.07.1839 (a). 62. OH - Doc 29.07.1839. 63. OH - Doc 30.07.1839. 64. OH - Doc 27.07.1839. 65. OH - Doc 08.08.1839. 66. OH - Doc 09.07.1839 (entre outros documentos semelhantes). 67. OH – Doc 13.08.1839. 68. OH- Doc 03.08.1839.
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69. OH - Doc 02.08.1839. 70. OH - Doc 00.03.1839. 71. Ver, por exemplo, Antoine Delacoux de Marivault, Précis de l’histoire générale de l’agriculture (Paris, Huzard, 1837) ; Question de sucres (Paris : Lange-Lévy, 1841), entre outras obras, disponíveis no acervo da BnF. 72. OH - Doc 13.03.1839. 73. OH - Doc 26.03.1839. 74. OH - Doc 17.03.1839 e OH - Doc 08.08.1839. 75. OH - Doc 31.07.1839. 76. OH - Doc 05.08.1839 (a). 77. OH - Doc 05.08.1839 (b). 78. O atlas da expedição, publicado pelo Ministério da Marinha com o título Vaillant, Auguste-Nicolas. Voyage autour du monde exécuté pendant les années 1836 et 1837 sur la corvette “la Bonite » (Paris, 1841-1852), encontra-se disponível em www.gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k6536329m.texteImage. 79. Segundo Carré, não houve “acte notarié” e sim, uma “charte-partie” entre Lucas (“capitaine et affréteur”) e Despecher e Bonnefin (“fréteurs et armateurs”). Cf. Carre, 1970, p. 24. 80. Idem, p. 25. Para o autor, esse fato indicaria que o armador não confiava no empreendimento. 81. OH - Doc 04.09.1839. Documento não localizado na pesquisa, mas referido pelos armadores em sua correspondência com as autoridades belgas (OH - Doc 29.01.1840). O mesmo documento foi autenticado e anexado em outra correspondência (OH - Doc 18.05.1840), com a data de 30 de setembro de 1839, ou seja, cinco dias depois da partida de Lucas. Essa procuração não é referida por Lucas em sua correspondência com as autoridades francesas (OH - Doc 31.07.1842). 82. OH - Doc 29.01.1840 (c) e OH - Doc 18.05.1840. 83. OH – Doc 17.06.1839. 84. OH - Doc 18.08.1839 e OH - Doc
A extraordinária missão do Oriental-Hydrographe
20.08.1839. 85. Chronologie des minutes de François Xavier Louis Malapert, notaire à Saint-Servan de l’an IX à 1826. Disponível em www. marins-et-notaires.pagesperso-orange.fr/ Html/MALAPERT_F.X.L.html. 86. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré. 87. Duron, 2000, p. 190. 88. OH - Doc 00.00.1839-1840. 89. Carré, 1970, p. 24, nota 1. 90. OH - Doc 18.08.1839 (transcrição de OH - Doc 14.08.1839). 91. OH – Doc 05.08.1839 (c). 92. OH – Doc 00.08.1839. 93. OH – Doc 00.08.1839. 94. OH – Doc 06.09.1839 e OH - Doc 24.9.1839 (b). 95. OH - Doc 24.9.1839 (b). Emonce refere-se aqui à existência de 10 canhões. 96. OH - Doc 06.10.1839. 97. OH - Doc 00.00.1839-1840; Cf. Carré, 1970, p. 24. 98. Esparteiro, 2001, pp. 47 e 171-172. As definições também correspondem ao “Vocabulaire pittoresque de la Marine”, Le Magasin Pittoresque, 1840, esp. p. 327. 99. Taillemite, 1987, pp. 25; 62. 100. Jean Meyer. “Preface”. In: Chapuis, 1999, p. 10. 101. SHD-Marine. [Anonyme], “Distillation de l’eau de mer”, Annales maritimes et coloniales, Paris, Imprimeirie Royale, 1841, Partie non officielle, v. 25, t. 1, pp. 649-652. Os dois inventores ganharam uma medalha de prata na Exposição do Produtos da Indústria Francesa (Exposition des produits de l’industrie française), de 1844. Cf. France. Exposition des produits de l’industrie française..., 1844, v. 2, pp. 939-940. 102. Peyre e Rocher, 1843, p. 1-16; Carré, 1970, p. 24. 103. OH - Doc 07.11.1839. 104. Gaston Tissandier. “Frédéric Sauvage, à propos de l’inauguration de sa
statue à Boulogne-sur-mer », La Nature, n. 440, 5 nov. 1881, p. 355. Disponível em http://cnum.cnam.fr/CGI/fpage. cgi?4KY28.17/359/100/432/0/0 105. Musée de Familles, nº xviii, janvier 1835, p. 144. Apud Ramires, 2014, p. 20. 106. OH - Doc 18.08.1839 : “Pendant que nous écrivions un nouvel article, le 8 de ce mois, sur cette importante expédition, le capitaine Lucas se mettait en route de Nantes pour Paris”. 107. Cf. Tissandier, 1882 ; Potonniée, 1925; Gernsheim e Gernsheim, 1955; 1968; Goldberg, 1981; Frizot et al., 1989; Rouillé, 1989, entre outros. 108. OH – Doc 00.08.1839. A nota 7, no rodapé, afirma : “on trouvera ces instruments chez M. Bianchi, opticien de l’expédition, rue du Coq Saint-Honoré, 11”. 109. Cf. Auler, 1989. O colecionador e estudioso da fotografia reproduz em seu livro um modelo de câmera idêntica ao de Giroux construído por Bianchi, com a única diferença de não apresentar o selo de Daguerre (item 15, sem paginação). Ele também considera a possibilidade de ambos terem o mesmo marceneiro. 110. Journal politique et littéraire de Toulouse et de la Haute-Garonne, 23 décembre 1832. Ver também Bordes, 2016. 111. Journal politique et littéraire de Toulouse et de la Haute-Garonne, 15, 19 et 25 septembre 1839 ; 9, 17 et 24 octobre 1839. 112. Disponível em https://collections. eastman.org/search/bianchi. 113. Cf. France. Almanach du Commerce de Paris, de la France et des Pays étrangers par S. Bottin. Paris : Bureau de l’Almanach du Commerce, 1838, esp. P. 246. 114. Schaaf, 1997, p. 39. A imagem pode ser vista em http://thescienceimage.blogspot.com/2013/10/andreas-ritter-von-ettingshausen.html. 115. OH - Doc 14.09.1839. 116. OH - Doc 21.08.1839. 117. OH - Doc 24.09.1839.
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Viagens e imaginĂĄrios no caderno de desenhos e memĂłrias de um marinheiro inglĂŞs. 1835.
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Primeiras notícias e maus presságios
Os jovens inscritos na expedição começaram a chegar a Nantes em agosto de 1839. Muitos vinham de regiões do interior da França ou da Bélgica e, como qualquer visitante desacostumado com o litoral, não demoraram a perceber uma característica do lugar: a cidade expressava em cada detalhe de sua fisionomia e no cotidiano de seus habitantes uma identidade profundamente ligada ao mar e aos negócios marítimos. O nome pitoresco dos logradouros e a extensão dos diversos cais (Duguay-Trouin, Turenne, la Fosse, des Constructions, d’Aiguillon, entre outros), o Palácio da Bolsa e as residências de armadores, os armazéns de entreposto e os canteiros de construção naval, o movimento ininterrupto de navios, pessoas e mercadorias que chegavam e saíam de seu porto, tudo enfim convergia para essa identificação. O Guide de l’étranger a Nantes, cuja primeira edição é de 1840, recomendava:
Ver o lançamento de um navio é um espetáculo dos mais curiosos. O estrangeiro deve se informar atentamente se algum será colocado na água durante a sua estadia em Nantes. Os navios só são lançados quando há volume d’água ou marés altas, ou seja, um ou dois dias após a lua cheia ou a lua nova.1
O porto de Nantes alcançou enorme crescimento no século XVIII com um negócio considerado, até então, bastante “honorável”: o comércio de escravos. Entre meados dos séculos XVII e século XIX, os franceses realizaram mais de quatro mil viagens marítimas ligadas ao tráfico de africanos escravizados, boa parte delas organizada pelos armadores de Nantes. O primeiro e maior porto negreiro da França contabilizou nesse período 1.714 expedições do gênero. A cidade transformou-se, assim, em um dos símbolos do tráfico de escravos, conservando essa triste marca muito 129
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
A cidade de Nantes, entre o passado e o futuro: vida cotidiana, símbolos do progresso e monumentos históricos, c. 1844-1846. Felix Benoist deixou uma ampla iconografia da região oeste da França, destacando-se as muitas paisagens marítimas publicadas pelo gravador e editor Henri Désiré Charpentier, também estabelecido em Nantes. Esta imagem retrata, em três planos, o dia-a-dia da cidade portuária, o vapor que já navega sob a nova ponte de la Rotonde, construída entre os anos de 1838 e 1841 e, ao fundo, a tradição representada pelo castelo dos duques da Bretanha e a catedral de Saint-Paul / Saint-Pierre. Desenhista e litógrafo, o artista tornou-se conhecido como “Benoist d’Angers”, terra natal de sua mãe e, depois, como “Benoist de Nantes”, cidade onde viveu até o final da vida.
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depois que os negócios desse tipo já tinham se tornado deploráveis e ilegais.2 Hoje, o papel de Nantes na história do tráfico negreiro (e vice-versa) tem sido revisto:
cipação, mas à sua densidade, com a organização de 43% das expedições negreiras francesas (isto é, cerca de 5 a 6% do tráfico atlântico europeu de escravos).3
Quando prepara pela primeira vez uma viagem para o tráfico, no século XVII, Nantes tem um século e meio de atraso em relação a Portugal. Quando abandona o tráfico, por volta de 1830, ela o faz bem antes de outros portos [...]. Nantes não deve sua primazia à duração de sua parti-
O comércio triangular entre a Europa, a África e as Américas gerou imensas fortunas para os armadores e comerciantes de Nantes envolvidos com o aprisionamento e o tráfico de africanos, o provimento de mão de obra escrava para as plantações de além-mar, o escoamento de produtos agrícolas das colônias
A região central de Nantes, representada na coleção “França Pitoresca”, c. 1835. Em destaque, as praças, os monumentos e os novos bulevares projetados para a cidade.
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francesas, como o açúcar, o café, o cacau e o tabaco, bem como o suprimento dessas regiões com artigos manufaturados que saíam da França. Essas atividades continuaram a gerar imensas riquezas para a cidade, de forma mais ou menos explícita, mesmo depois da interdição do tráfico negreiro na costa africana pela Inglaterra (1807) e sua proibição ampla e formal pelas potências europeias reunidas no Congresso de Viena (1815). Os franceses aboliram a escravidão em 1794, mas ela foi restabelecida por Napoleão, em 1802, sendo novamente coibida por algumas medidas fragmentárias durante a Restauração e a Monarquia de Julho, até ser definitivamente extinta, tanto na França, como em suas colônias, em 1848.4 O tráfico, contudo, só era “clandestino” no porto de Nantes para aqueles que “não queriam ver”: A cegueira é praticamente impossível: os navios são conhecidos, seus armadores, os consignatários, os capitães, as tripulações, os fornecedores, as seguradoras - em suma, toda a cidade conhece quase todos os profissionais cuja escolha tem sido se especializar (nunca inteiramente) nesse ‘mercado pouco comum’.5
O Conselho Municipal, controlado por armadores, proprietários e comerciantes locais tratou de sanear e embelezar a cidade, à medida que os negócios prosperavam. A área central de Nantes tornou-se, então, objeto de diversos investimentos urbanísticos e imobiliários, com a construção de mansões particulares, docas bem pavimentadas e, já no final do século XVIII, edifícios públicos imponentes, como o Teatro Graslin, um dos mais belos do país, e o Palácio da Bolsa, até hoje um “símbolo da união bem-sucedida da cidade com a 132
água”.6 A ilha Feydeau, onde esses armadores e negociantes construíram suas belas casas, mesclava o gosto neoclássico das novas construções com esculturas decorativas de apelo sinistro, representando os africanos escravizados que geravam tanta riqueza. Conhecida como a “Veneza do Oeste”, Nantes vivia, em 1839, em torno do Loire, mas era também a cidade voltada para o oceano Atlântico que assistia agora parte de suas atividades portuárias (construções navais, fundições, cordoarias, etc.) começarem a se deslocar, progressivamente, para mais perto da embocadura do rio. O porto de Nantes tinha crescido com essa característica: localizado a quase sessenta quilômetros da costa atlântica, ele não deixava de ser um porto fluvial. Por isto mesmo, há muito tempo a grande fonte de preocupação dos homens de negócios do lugar eram as condições de navegabilidade do rio e do estuário. O Loire, além de fazer a conexão do interior da França com o Atlântico, cruzando a cidade, terminava em um grande estuário, cuja navegabilidade era fundamental para o complexo portuário que interligava Nantes, Paimboeuf e Saint-Nazaire: Com o aumento da tonelagem, a construção dos navios de três mastros que partem em viagens de longo curso faz com que, às vezes, sejam necessárias duas marés para atravessar o estuário. É certo que, desde o início do século XVIII, Paimboeuf substituiu a antiga cidade no fundo do estuário. O transbordo de mercadorias custa caro, leva tempo e os pequenos barcos que sobem o Loire têm menos capacidade que os grandes navios. A baía de Quatre-Amarres de Paimboeuf é a primeira a acomodar todos os navios que retornam carregados com as mercadorias as mais
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Vista do porto de Paimboeuf, no estuário do rio Loire (França), em meados do século XIX.
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O “dólmen druida” visitado pelos alunos do OH em Saint-Nazaire, antes da partida. O monumento megalítico, remanescente da época céltica, é composto por uma grande peça horizontal sobre duas outras verticais e é hoje conhecido por Dólmen de Trois Pierres.
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exóticas. É essa riqueza considerada infinita que convém preservar, apesar dos contratempos e precauções.7
A inscrição dos jovens era dispendiosa, a preparação do OH demorada e o início da viagem, agora, aguardado com muita ansiedade. Alguns alunos, chegando à Bretanha, ficaram instalados na casa do armador Bonnefin, na Place de la Monnaie, em Nantes, enquanto outros resolveram esperar a partida já em Paimboeuf, onde o armamento e a aparelhagem do navio, adiados para setembro, estavam de fato sendo realizados. A estadia às próprias custas, por várias semanas, com despesas de alimentação e hospedagem nos hotéis de Nantes e Paimboeuf, deu motivo para as primeiras reclamações sobre a organização do OH, dirigidas ao ministro do Interior e Assuntos Exteriores da Bélgica.8 A demora também foi contabilizada pelos alunos na correspondência com os familiares, mas o assunto acabou em segundo plano quando um acontecimento terrível, no dia 11 de
setembro de 1839, abalou profundamente o capitão Lucas, os professores e todos os noviços da expedição: o jovem francês Charles Masson, de dezessete anos, originário de Beaune, inscrito como aluno do OH, cometeu suicídio em um hotel de Paimboeuf, juntamente com uma jovem costureira, de vinte e dois anos, empregada na cidade. O assunto ocupou os jornais Le National de l’Ouest, L’Indépendant, Le Courrier Belge e outros que, de modo geral, atribuíram o duplo suicídio ao desespero de um casal apaixonado diante da separação imposta por uma longa viagem ao redor do mundo.9 Uma vez concluídos os preparativos do OH, a partida da expedição foi precedida por uma missa solene, em Paimboeuf, à qual compareceram quase todos os participantes. Um noviço, o jovem Barthélemy Peltier, mesmo depois de registrado na tripulação, simplesmente não compareceu ao embarque. A desistência era a primeira de muitas outras. Em todo caso, o clima agora era alegre e festivo. “Espetáculo admirável”, segundo um dos belgas, em carta publicada pelo Le Courrier Belge, sem revelar o nome de seu autor: O coração mais frio e o meu, disposto às emoções religiosas, não puderam deixar de ficar profundamente impressionados. [...] Quando todos esses jovens filhos de famílias ergueram suas vozes e suas mãos para o céu, era impossível não ficar profundamente comovido. Então, quando o culto terminou, todos nós sentíamos alegria em nossos corações, mas também, como eu creio, algumas lágrimas nos olhos, das quais nosso estoicismo tinha vergonha; e quase quisemos nos abraçar como bons e verdadeiros irmãos. 10
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O OH levantou âncoras de Paimboeuf em 24 de setembro, tendo alcançado a foz do Loire e começado, finalmente, a sua viagem de circum-navegação no dia 25 de setembro de 1839, depois de uma rápida passagem por Saint-Nazaire. Como quase tudo na história da expedição, a data do início da viagem é um pouco confusa, pois ela depende do ponto de partida tomado como referência. O jovem Emonce, uma testemunha minuciosa em seus relatos, comentou em carta do dia 24: “esta manhã, às 2 horas, nós deixamos a baía de Paimboeuf ”.11 A mesma data foi indicada, posteriormente, pela obra de referência Anthologie de la Marine Belge.12 Outro viajante, no entanto, escreveria dois dias depois da partida: Nós só deixamos Paimboeuf no dia 25 de setembro. Até aquele momento, os ventos eram tão desfavoráveis que não podíamos deixar o Loire. Foi de Saint-Nazaire, onde fomos ver o dólmen druida, que nós começamos realmente a nossa viagem.13
Já o boletim marítimo do Le Lloyd Nantais, relativo aos dias 24 e 25 de setembro, informa “Paimboeuf, [navio] Oriental, saída do porto e deriva” e indica que, no dia 26, “com vento de norte e pequena brisa”, o navio “fez-se ao mar”.14 Outros jornais, como o Le National de l’Ouest também mencionam o início da viagem no dia 26 e, alguns textos, datas posteriores.15 Já os registros portuários de Lisboa e demais escalas da expedição deixaram as informações sobre o porto de origem e a data da partida em branco.16 O que se conclui, com a leitura dessas fontes, é que o OH levantou âncoras de Paimboeuf na madrugada do dia 24, passando por Saint-Nazaire antes de deixar o complexo portuário do Loire
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e, no final do dia 25, já alcançava o Atlântico para, então, iniciar a sua tão aguardada viagem de circum-navegação.17 Os ventos agora eram favoráveis... Como outros navios da marinha mercante francesa, o OH era um veleiro sóbrio e elegante, limitado a poucos elementos decorativos nas balaustradas, com uma clássica figura de proa esculpida em madeira e a estrutura coberta por revestimento de tábuas. Para alguns historiadores, esses navios tinham a aparência fria e severa de um “semi-luto”, residindo a sua elegância nas velas e mastros do aparelhamento.18 Para outros, eles “representavam a expressão mais evoluída e mais prestigiosa da navegação a vela”19. A impressão causada pelo navio entre tripulantes e passageiros da expedição foi, contudo, bastante positiva e um dos participantes expressou sua confiança a bordo, na carta enviada para a tia: Um navio, e especialmente um navio como o nosso, é tão sólido quanto uma casa muito bem construída. Uma rajada de vento passa sobre ele, sem causar-lhe qualquer dano. [...] Baixando ou içando nossas velas à vontade, colocando-se de popa a proa, de proa a popa, de lado, de frente, ou de três quartos, essa facilidade de movimento faz a aparência de perigo ser evitada... Esteja, então, completamente tranquila. Nós estamos tão seguros de qualquer infortúnio em nossa casa voadora quanto você, minha querida tia, em sua casa imóvel em Bruxelas.20
As notícias sobre a viagem começavam a compor, então, um conjunto de cartas e mais cartas para as famílias, os armadores e as autoridades francesas e belgas, enviadas por alunos e passageiros, assim como pelo capitão Lucas, através dos navios que cruzavam com o OH 135
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
A vida a bordo, segundo a experiência e a imaginação do artista e viajante inglês Augustus Earle, c. 1836. O pintor esteve na América do Sul nas décadas de 1820 e 1830, sendo nesta última a bordo do Beagle, como artista oficial da expedição na qual viajava Charles Darwin. Em Montevidéu, em 1832, Earle deixou a embarcação e retornou à Inglaterra. A tela foi exibida na Real Academia de Artes [Royal Academy of Arts], em Londres, em 1837. O jovem belga Charles Emonce deu seu testemunho da vida a bordo da expedição do OH: “Nós temos o convés intermediário por sala de estudo. Ele tem três painéis continuamente abertos. Quando chove, ficamos inteiramente molhados nesse lugar, assim como as vestimentas em nossas arcas, devido à água que então goteja. Ele está cheio de malas e redes e não se pode dar um passo sem colidir. Há mesas sujas, alunos que cantam, fumam e bebem, outros que jogam cartas, discutem, gritam, etc. Deixo agora que julgue se é possível fazer qualquer coisa em tal sala de estudo. Para manter em dia o nosso diário, somos forçados a escolher justamente o momento após as refeições, quando todos estão no convés superior. A última carta que lhe enviei tive que escrevê-la à luz da lua”. (OH - Doc 02.01.1840)
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nos portos de passagem. As anotações diárias que registravam o cotidiano a bordo serviam de matéria-prima para essa correspondência, só expedida de tempos em tempos. Cartas e diários integravam, assim, a rotina de qualquer viajante letrado, compondo um “circuito invisível” de difusão de informações que, na primeira metade do século XIX, também chegava à imprensa:21 Cada aluno de marinha deve copiar o diário de bordo e fazer observações marinhas. Mas, em geral, é obrigatório que todo aluno escreva um diário cotidiano sobre aquilo que vê e o que faz. Ele pode tê-lo corrigido pelos professores.22
As escalas do OH eram conhecidas e as cartas circulavam de um continente a outro, chegando aos destinatários depois de algumas semanas ou meses. Grande parte dessa correspondência foi publicada pela imprensa francesa e belga, interessada em compartilhar as impressões dos viajantes do OH e atender à curiosidade geral pela expedição. As famílias, por sua vez, tiveram ocasião de enviar aos filhos, pelo mesmo sistema, informações de casa e recomendações pessoais.23 Elas deviam endereçar suas cartas aos ministros de Assuntos Exteriores da França ou da Bélgica para que a correspondência chegasse aos serviços consulares nos portos de passagem.24 Com esse tipo de comunicação, consagrado em terra e no mar, o viajante da primeira metade do
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século XIX se utilizava de outros navios e viajantes em trânsito, em sentido contrário, para que o relato e a memória de suas experiências alcançassem o destino desejado. E vice-versa. Sobre o assunto, o príncipe de Joinville, então um jovem navegador, registrou: “só escrevo este diário por desencargo de consciência, pois estou morto de tédio e esqueço a coisa principal, as cartas da França!”25 Em seguida, completou: “é muito triste as cartas demorarem a chegar e ter de saber tudo pelas notícias dos jornais”.26 A escrita e a leitura de cartas, diários e jornais constituíram formas de comunicação e de sociabilidade muito importantes na história do OH, pois além de formarem a imensa rede de contatos que viabilizou o empreendimento, garantindo a publicidade e a adesão ao projeto, também inauguraram, em escala local e global, em tempo reduzido, o intercâmbio de informações sobre diversos aspectos dessa experiência.27 Os jornais representavam não só um dos primeiros bens de consumo de massa, como traziam agora, com uma tiragem crescente, toda sorte de novidades e acontecimentos muito antes da correspondência pessoal, como são exemplos a invenção da daguerreotipia e a ocorrência de naufrágios. Eles também difundiam as notícias relacionadas à vida da comunidade local, suas viagens e negócios. Embora com tiragem modesta, cerca de duas centenas de jornais provinciais eram publicados na França, em 1832, e esse número dobrou em pouco mais de uma década.28 A Monarquia de Julho devia a sua existência, em parte, à luta pela liberdade de imprensa, mas depois de chegar ao poder, Louis-Philippe manteve uma severa censura à imprensa.29 Os assuntos oficiais e os conflitos diplomáticos, as disputas comerciais e os en-
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laces aristocráticos, as expedições navais e as descobertas científicas, assim como os romances históricos e as biografias célebres eram temas bem-vindos.30 Para os descontentes com o regime, a alternativa à perseguição política foi o refúgio na crítica social e na crônica de costumes, em tom humorístico ou satírico. Os periódicos de circulação diária, semanal ou mensal promoviam, assim, a construção de um “espaço público” e, ao mesmo, tempo, um inédito intercâmbio de matérias jornalísticas entre países e cidades. Por essa razão, muitas notícias sobre o OH, veiculadas desde antes da partida da expedição até depois do seu naufrágio, circularam através da transcrição, tradução e reprodução desses artigos em diversos jornais que, assim, alcançaram uma difusão muito mais ampla do que se costuma imaginar para a época. O acordo com o Moniteur Industriel, de Paris, jornal que dera o primeiro apoio ao OH, em outubro de 1838, foi divulgado publicamente pouco antes da partida e, em seguida, repetido nos mesmos termos pelo Le Courrier Belge, de Bruxelas.31 Esses acordos foram amplificados pelos demais jornais que acompanhavam a expedição e eram parte de um esforço consciente de dar publicidade à sua missão: O capitão Lucas, que sabe o quanto amamos a marinha e o quanto estamos interessados em seu belo empreendimento, nos propôs a tarefa desta transmissão de notícias com o conhecimento de nossa pontualidade conscienciosa. Nós a aceitamos prontamente. Precisamos acrescentar que estabelecemos em princípio que este serviço seria totalmente gratuito? O diretor-proprietário do Monitor Industrial é um pai de família em todo o sentido da expressão; e se, como ele espera, receber apenas 137
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Rol da equipagem e registro de bordo do OH em sua viagem ao redor do mundo, 1839-1840. O documento, salvo por ocasião do naufrágio do navio, indica o nome e as características físicas da equipagem, o seu local de inscrição no serviço marítimo, as funções a bordo e o soldo estipulado durante a viagem.
boas notícias, nunca adiará a comunicação em um único dia. Ele também prometeu ao capitão Lucas fazer uma publicação extraordinária para o Oriental sempre que for necessário. Este é um compromisso de coração e de honra...32
Os alunos expressavam um grande entusiasmo com o início da viagem e, além das expectativas otimistas, faziam suposições que 138
Passageiros embarcados no OH e registro de bordo da viagem ao redor do mundo, 1839-1840.
poderiam parecer exageradas sobre o OH. O navio, ostentando a bandeira tricolor, seria visto e tratado como uma corveta ou outro navio de guerra da Marinha francesa, ficando isento da “visita indesejada dos oficiais de alfândega que, em cada porto, avançavam como feras sobre os navios...”33 As opiniões sobre o capitão Lucas, “doce e severo ao mesmo tempo”, “familiar com todo mundo”34, também eram as melhores possíveis:
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O capitão Lucas, que é também professor de marinha, é um homem extremamente distinto. É raro reunir, ao mesmo tempo, tanta modéstia e tanto conhecimento de todos os tipos com os quais a sua cabeça é tão bem preenchida. Ele inspirou de imediato, em cada um de nós, a afeição mais sincera e um respeito absoluto. Ele é auxiliado por oficiais cujo mérito é igualmente reconhecido.35
O OH deixou Paimboeuf com 78 pessoas a bordo, número ainda incompleto de tripulantes e passageiros que, somente na passagem por Belle-Île, chegaria aos 86 viajantes que, de fato, iniciaram a expedição. A contagem inclui o capitão e o estado-maior do navio (6); os aprendizes franceses (40), estando ausentes o jovem que cometeu suicídio e outro que, mesmo depois de registrado na tripulação, não compareceu ao embarque; os marinheiros e grumetes da equipagem (11), os belgas, os professores e outros viajantes registrados como passageiros, entre os quais a esposa do professor Soulier de Sauve e um “doméstico” (21); por fim, a irmã e a mulher do capitão Lucas, com suas duas filhas (4).36 Esses números sofreriam variações ao longo da viagem, em função de desembarques, deserções, a morte de um jovem e várias substituições na equipagem.37 Entre a partida, em Paimboeuf e a chegada, em Valparaíso, fizeram parte do OH, além de tripulantes e passageiros franceses e belgas, um médico inglês, dois marujos espanhóis, um contramestre português, um jovem javanês, um passageiro uruguaio e outro brasileiro, bem como o reverendo norte-americano que, por sinal, nem chegou a ser registrado pelas autoridades consulares na lista de passageiros.
O total de participantes, a grafia dos seus nomes e a função a bordo são informações complexas na documentação sobre o OH.38 As fontes consideradas e a contagem tomada como referência, se no dia da partida ou nos portos de passagem, apresentam informações conflitantes em muitos aspectos. Entre essas fontes, há indicações dos próprios viajantes, notícias publicadas nos jornais, registros portuários ou consulares e, principalmente, a documentação reunida pela Inscrição Marítima de Nantes, aqui tomada como a principal referência. As autoridades locais eram responsáveis por emitir os registros de propriedade e nacionalidade do navio (“acte de francisation”), bem como de seu armamento
Conhecimento, altivez e elegância na representação dos “oficiais de marinha”, título da estampa, c. 1840. Um marinheiro (primeiro, à esquerda) e dois oficiais discutem desenhos e planos, diante do que parece ser um canteiro de construção naval. Eles trajam os novos modelos de uniforme da Marinha francesa à época de LouisPhilippe, popularizados por essas estampas coloridas.
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e desarmamento (“rôle de d’armement et désarmement”), com a respectiva tripulação e, por isso também, com as informações mais confiáveis sobre os viajantes que integraram o OH (ver, ao final deste livro, a transcrição). Os armadores Despecher e Bonnefin, por exemplo, declararam ao Le National de l’Ouest, em agosto, que o “número de alunos fora fixado em 70, dos quais 50 já estavam inscritos”39 Em Bruxelas, às vésperas da partida, o L’Indépendant estimou que 60 alunos, sendo “15 ou 16 belgas”, participavam da expedição.40 Dois dias depois de iniciada a viagem, um dos passageiros contou 76 pessoas a bordo41, enquanto Emonce refere-se a 77,
A marinha mercante e seus marinheiros em ação: o transporte do material “frágil” e “sensível à água” de um editor parisiense no cais do porto, em meados do século XIX.
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possivelmente porque não incluía em sua conta o “doméstico”. Em outra correspondência, transcrita pelo Le Courrier Belge, dizia-se que havia “80 pessoas a bordo, dentre os quais 52 alunos”.42 No porto de Lisboa, já no mês de outubro, os arquivos da diplomacia francesa (Archives de Postes) atestaram que o OH tinha “57 homens, entre os quais 44 noviços voluntários e 29 passageiros, sendo 3 mulheres e 2 crianças” 43, ou seja, um total de 86 pessoas. Alguns meses depois, em Paris, o Le Moniteur Industriel informaria às famílias que todos os 300 (!) jovens a bordo passavam bem, segundo notícias trazidas pelo La Bonne-Louise, em fevereiro de 1840.44 Esses últimos números, além de imprecisos, eram propositalmente inflados para impressionar os leitores. O historiador Adrien Carré avaliou que a grande dificuldade do capitão Lucas para iniciar a viagem teria residido na escolha do estado-maior da expedição: os oficiais do OH simplesmente não tinham grande experiência de navegação. Para piorar, ainda precisavam lidar com professores e alunos de famílias prósperas e sobrenomes imponentes, quando até mesmo os almirantes da Escola Naval de Brest enfrentavam insubordinações de seus aprendizes.45 O segundo capitão, Martial Daudé, tinha apenas 28 anos e foi incorporado à expedição às vésperas da partida, sendo registrado no rol da equipagem em 11 de setembro de 1839. Ele navegava há treze anos, mas recebera o brevê de longo curso em 1835. Para um dos belgas, contudo, o oficial tinha “uma dessas velhas experiências de marinheiro que conhecemos em parte pelos romances do capitão Marryat”. 46 O primeiro, o segundo e o terceiro tenentes não diferiam muito desse perfil, a não ser pelo fato de que Jean-François Briel, nascido em Belle-Île e também com 28 anos, era ca-
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sado com Louise-Augustine Lucas, irmã do capitão.47 O cirurgião-chefe da expedição era o doutor Gilles Thomas, apresentado pela propaganda do OH como “um dos ilustres cirurgiões de Paris (rua Cadet, 7), membro de várias sociedades científicas e literárias”.48 Um aluno descreveu o médico como um “sábio de grande distinção”, que também respondia pelo ensino de anatomia, higiene e “história das raças humanas”.49 Além do estado-maior, a tripulação do OH era composta pela marinhagem usual nesse tipo de viagem e pelos jovens registrados como “noviços voluntários” na Inscrição Marítima de Nantes. A equipagem do navio contava com três contramestres, um carpinteiro, um veleiro, dois cozinheiros, bem como marujos e grumetes, a quem cabiam as tarefas mais pesadas da rotina a bordo, os serviços de limpeza e a cozinha. O jovem Emonce comentou que “duas crianças, uma com idade de nove e a outra, de onze anos”50 eram grumetes do OH, uma observação que, embora um pouco imprecisa, não deixa de indicar a sua sensibilidade para a questão. Em terra firme, as restrições ao trabalho infantil começavam a ser reguladas.51 No mar, no entanto, o emprego de crianças ainda era rotina na marinha mercante de qualquer país. Os jornais da época repercutiam as reclamações cada vez mais frequentes sobre a condição precária dos marinheiros, especialmente na navegação comercial. Uma carta enviada de Chiloé, a 1º de maio de 1840, era contundente: Uma horda de escravos é o que são os marinheiros do comércio, [pois] ainda que tanto se fale da emancipação dos negros de Bourbon e das Antilhas, nenhuma voz se elevou para a emancipação dos marujos.52
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Os jovens das “primeiras famílias” da França e da Bélgica formavam, no entanto, a grande maioria da tripulação de noviços e tinham idades que variavam dos quatorze aos vinte e seis anos (ver a Relação dos participantes e registros de bordo do Oriental-Hydrographe, ao final deste livro). Boa parte deles ostentava sobrenomes aristocráticos e títulos de nobreza (condes, barões, marqueses). O empreendimento, concebido para incrementar as relações da França e da Bélgica com o mundo das “especulações marítimas”53, destinava-se aos filhos de grandes proprietários, industriais e comerciantes que desejassem ingressar na marinha mercante, como garantia de uma carreira promissora ou alternativa à falta de oportunidades no campo, mas também como refúgio à “má influência” das cidades:
Oferecemos aos pais que deem aos filhos uma educação sólida e variada, afastando-os das armadilhas que a influência de maus exemplos traz para a juventude sedentária das cidades. [...] Uma coisa digna de nota é que entre os quarenta jovens que contamos como parte da viagem, apenas sete são do litoral, e mantida a proporção sobre cento e vinte, teremos cem [jovens] do interior. As coisas permanecendo as mesmas, quantos anos levaríamos para atrair cem jovens do interior ao mar? 54
As condições de ingresso no OH estabeleciam que a escola flutuante se destinava aos jovens com mais de doze anos, mas eles precisavam de uma autorização dos pais e responsáveis para viajar. Os jovens também deviam ter boa constituição física e portar um comprovante de vacinação e atestado de “bons antecedentes”, conferido pela autoridade municipal.55 Parte considerável dos 141
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O sistema planetário desenhado e explicado por Soulier de Sauve em seu “atlas elementar”, 1839.
noviços franceses vinha efetivamente de regiões do interior e suas famílias foram convencidas pela propaganda do OH de que durante a viagem eles seriam poupados das atividades de manobra no turno do dia ou da noite, a fim de que pudessem acompanhar os cursos ministrados pelos professores.56 Entre tripulantes e passageiros, os títulos de nobreza e os modos aristocráticos de alguns alunos não passaram despercebidos: Os franceses também têm vários jovens que se recomendam por seu nome e por sua excelente apresentação. Entre eles estão o marquês de Montesquiou, d’Argentré, os senhores condes de Fussey, de Briges, de Faudoas, de Valory, d’Arcel e muitos outros, cujos nomes me escapam, por causa do enjoo que agora me atormenta.57
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Em contrapartida, os belgas já se faziam notar, em sua própria avaliação, pelas “boas maneiras” e a “estima de todos”, de modo que “a Bélgica estava dignamente representada”. 58 Soulier de Sauve garantira ao rei Leopoldo I e seus ministros que, durante a viagem, a única diferença para os belgas seria a provisão da “carne nacional” com a qual estavam habituados.59 Todos tinham sido inscritos como passageiros, mas a composição do grupo e posição a bordo eram bastante heterogêneas. Jean Moreau, professor de geometria descritiva da Escola Central de Comércio e Industria (École centrale du commerce et de l’industrie), em Bruxelas, ensinaria matemática.60 O domínio da matéria foi uma exigência para a inscrição dos jovens no OH e esta parece ter sido uma das razões de seu entusiasmo pela escola flutuante, pois ninguém seria admitido sem saber “aritmética e os primeiros elementos de geometria”, com exames efetuados antes mesmo do embarque.61 Os jovens Dufour e Michel já eram aspirantes da Marinha belga e participavam como aprendizes62, enquanto Emonce e Verelst, alunos da Escola de Navegação de Antuérpia, eram noviços como os franceses, mas estavam registrados como passageiros. Finalmente, os tenentes da Armada belga De Moor (artilharia), Hynderyck63 (cavalaria) e Schobrouck (infantaria) foram embarcados para acompanhar a expedição como observadores, sendo o primeiro também encarregado do ensino de artilharia aos alunos.64 Entre os belgas, também estava a bordo o barão Popelaire de Terloo, um rico negociante e colecionador de antiguidades, acompanhado por seu “doméstico”.65 Completando o grupo de passageiros, ainda figuravam três franceses proprietários de terras (Benoist, Champeaux de la Boulaye, Champion de Villeneuve), um jovem oriundo de Java, possessão holandesa
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(Pierre Louis), bem como as mulheres e crianças já mencionadas.66 Os professores, embora franceses na sua maioria, não pertenciam à carreira naval e por isso foram registrados na documentação do navio como passageiros. Vendel–Heyl, acompanhando os planos da expedição desde o início, foi o responsável pelo ensino de francês e línguas antigas (grego, latim, alemão), além de literatura e história. O filho Emile, inscrito como noviço voluntário, desempenhou a função de auxiliar, como “repetidor” dessas matérias.67 O cirurgião-chefe Gilles Thomas, integrante do estado-maior, ou segundo outras fontes, o inglês Georges Want, médico-assistente registrado como passageiro, ficaram responsáveis pelo ensino da língua inglesa, além das funções médicas. Soulier de Sauve, considerado o “cientista da expedição”, ministrou as aulas de física, química, botânica e geologia68, quando teria organizado, segundo um dos viajantes, “um engenhoso sistema de observação”.69 O manual escolar e o atlas que publicou em Paris, em 1839, às vésperas de seu engajamento no OH, estavam a bordo e, certamente, também serviram para as aulas.70 O padre Louis Comte, registrado como passageiro do OH em 17 de setembro71, assegurou à expedição as funções espirituais típicas de um capelão de marinha. Elas incluíam, além da celebração do culto religioso, assistir aos doentes graves em sua agonia, atestar os eventuais falecimentos a bordo e ainda testemunhar o inventário de seus bens.72 Por outro lado, ele também ministrou o ensino de música, espanhol, religião e desenho.73 Imaginava-se, segundo um dos alunos, que uma grande obra ilustrada com toda a experiência da viagem seria produzida quando retornassem à França.74 As apresentações do daguerreóti-
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po para a rainha de Portugal e o imperador do Brasil demonstrariam, durante a viagem, que Comte também embarcara no OH com outras atribuições. O capitão Lucas era, naturalmente, o responsável pelo curso de marinha e o ensino prático das manobras de navegação, incluindo os “procedimentos que ele próprio inventara”75, como o “leme da sorte” que o tornou conhecido no meio naval. Segundo um dos jovens belgas, “ele acrescenta tanta clareza, precisão e interesse nessas demonstrações que um ignorante de boa vontade, em pouco tempo, pode adquirir os reais conhecimentos desse gênero”.76 Como comandante, Lucas demonstrava um apreço particular pela “arte de formar os homens”, concepção “rousseauniana” já expressa em seu livro, apresentado sob a forma de perguntas e respostas77, assim como em toda a concepção do projeto do OH. Outra carta comentaria
“Costumes sob o reinado de Louis-Philippe, 1839”: ilustração para uma história da França inspirada pela Monarquia de Julho, 1839.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
que, enfrentando ventos fortes e traiçoeiros, ele “comandava a dobradura e a envergadura das velas com um sangue frio que contrastava singularmente com nossos medos”. 78 O uso do uniforme era parte integrante da formação e da conduta do homem do mar. Depois de iniciada a viagem, os alunos franceses e belgas portariam uniformes que, segundo as promessas, não deveriam custar mais do que duzentos francos, incluindo a espada.79 A necessidade de renovar ou adicionar novos itens ao vestuário dependeria inteiramente “da vontade e da fortuna de seus pais”, como explicou Saulier de Sauve.80 Desde a Restauração, o azul voltava pouco a pouco a ser a cor predominante na Marinha francesa.81 Na década de 1830, Louis-Philippe estabeleceu novos regulamentos para os uniformes de oficiais, marinheiros e noviços.82 Os jornais da época logo ilustraram o estilo “sóbrio” e “elegante” que imperava na carreira naval, tema sempre presente na memória dos homens do mar de todos os tempos: No castelo de popa, como no posto dos alunos, vive-se com o mar. O traje que usamos deve nos permitir lutar com ele. Claro, de vez em quando, há o desfile. Com o uniforme de gala azul e dourado com detalhes vermelhos, encimado por um chapéu, saudamos com as espadas os soberanos em visita a bordo. Mas, assim que eles se vão, retomamos o uniforme comum.83
O traje dos alunos do OH, contudo, foi concebido pelo capitão Lucas para parecer, em todos os seus detalhes, não com o traje da Marinha, mas com o uniforme da Escola Politécnica de Paris. A França iniciara, no século XVII, a institucionalização do ensino de engenharia e a escola tinha se transformado, com 144
sua reorganização, em 1805, em um ambiente de formação militar e excelência científica de renome internacional. A instituição ficou famosa pelo rigor no processo de admissão, a rígida disciplina interna e a dificuldade dos cursos ministrados por cientistas como François Arago, Gay-Lussac, Ampère e outros. O apelo de um uniforme com todas essas referências era, portanto, uma boa propaganda para a expedição e o seu simbolismo não podia ser desprezado por quem ansiava conceder aos alunos o mesmo prestígio da instituição que lhes servia de modelo. Nenhum detalhe podia ser esquecido: além de camisas, calças, coletes e chapéus nas cores azul, vermelho e branco, a relação também incluía “sobretudos, jaquetas e calças confeccionados com tecido da mesma qualidade, e segundo o modelo estabelecido no porto de armamento e embarque ou em Paris”, bem como “um casaco de tecido azul com gola reta, com âncoras bordadas em dourado na gola e nas mangas, e botões com a inscrição: Navio-Escola”.84 Os itens que cada aluno levaria a bordo, detalhados no folheto Conditions d’admission sur le bâtiment-école (“Condições de admissão no navio-escola”), foram modificados e complementados, às vésperas da viagem, pelo folheto Instruction pour les familles qui ont des parentes a bord du navire-école l’Oriental-Hydrographe (“Instrução para as famílias que têm parentes a bordo do navire-école”). Uma mudança sutil, mas significativa, foi a substituição da expressão “navio-escola”, já empregada na Marinha, por “escola-flutuante”, introduzida pelo capitão Lucas e cujo uso ele queria consagrar no meio naval, associando ao seu nome e ao seu projeto. Os acréscimos indicados no folheto se referiam, basicamente, a “um sextante e mapas das rotas do globo”.85 O traje de gala dos oficiais e alunos do OH seria
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usado, preferencialmente, em terra, ocasião na qual os jovens podiam portar a espada “sempre acompanhados de seus professores e oficiais”.86 Como de hábito para qualquer homem do mar, o conforto parecia mais importante do que todo o aparato de um traje vistoso: O uniforme de uso comum consiste em um tipo de veste envolvente [...], enfeitada com botões dourados, tendo uma gola na qual é bordada uma âncora dourada. Essa âncora, sem dúvida, é o emblema da tranquilidade que se exige de nós. A espada e
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a adaga são deixadas de lado; as calças são largas e a cor de tudo é azul. O uniforme de gala é um traje no qual bordados, botões, punhos, espadas e chapéu são idênticos aos usados pelos alunos da Escola Politécnica. Por mais brilhante e magnífico que seja este último traje, eu asseguro que nós preferimos o primeiro, cuja simplicidade é cheia de charme e naturalidade.87
A cabine espaçosa de um navio de comércio, ainda que o jornal esclareça que “nem todas as cabines são dispostas como esta”. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
A questão do conforto a bordo, muito valorizada no planejamento e na propaganda do OH, também foi observada na acomodação 145
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oferecida aos tripulantes e passageiros: o capitão Lucas e a esposa, juntamente com as filhas, mais o capelão Comte, o comandante de artilharia De Moor, os professores Moreau, Vendel-Heyl e seu filho, Soulier de Sauve e sua esposa, estavam todos confortavelmente instalados nas cabines “claras e bonitas” do tombadilho. As cabines do convés inferior, mais modestas, receberam outros passageiros e alunos. A maioria dos jovens, contudo, dormia em redes espalhadas nesse pavimento, ficando livres para comer e estudar em uma grande mesa que “podia facilmente acomodar cinquenta pessoas”.88 Antes de a viagem começar, as “condições de admissão” no OH tinham estabelecido: No mar, como em terra, os alunos terão acesso ao pão fresco à vontade, dois pratos com chá ou café no almoço, uma sopa e dois pratos no jantar, meia garrafa de vinho em cada refeição; nos dois pratos de cada refeição, pelo menos um será de alimentos frescos. Se, durante a viagem, o vinho não estiver disponível, ele será substituído por algum licor de boa qualidade e saudável.89
Durante a viagem, os alunos comprovaram satisfeitos que os vinhos, de primeira qualidade, vinham de Bordeaux e as provisões frescas de todo tipo incluíam doze ovelhas, doze porcos e duzentas galinhas.90 O assunto não envolvia apenas o paladar dos viajantes, mas uma questão muito mais importante: a saúde a bordo. Em abril de 1840, depois de cruzar o Estreito de Magalhães, Lucas escreveu uma carta para os armadores Despecher e Bonnefin, publicada no Lloyd Nantais e no National de l’Ouest, em que se mostrava bastante satisfeito com o “admirável funcionamento da cozinha destilatória de Peyre 146
e Rocher”, pois tinha sido possível obter a água doce em abundância, até mesmo para usá-la na toalete dos viajantes.91 As práticas alimentares e as medidas sanitárias do OH, além da presença a bordo de médicos-cirurgiões, garantiam a salubridade do navio e da expedição. Para Carré, médico de carreira da Marinha francesa e estudioso do tema, a alimentação, o abastecimento d’água, os primeiros socorros e a vacinação obrigatória foram aspectos muito positivos na organização da viagem, comparando-se com outras expedições da época.92 Em uma “viagem de exploração e descobertas”, como queria ser o OH, uma boa biblioteca podia ser tão importante quanto os víveres e os medicamentos, as cartas náuticas e os instrumentos de navegação. Viajantes da época referem-se à leitura como atividade essencial para a vida a bordo, assim como para as missões que desempenharam.93 Darwin, por exemplo, dizendo-se espremido entre os livros ao dormir no Beagle, dedicou parte substancial de suas leituras às obras de Humboldt que integravam a biblioteca de qualquer viagem do gênero.94 Os livros de estudo dos alunos do OH foram comprados nos livreiros de Nantes antes do embarque, seguindo a indicação dos professores e as instruções de viagem.95 Alguns eram especialmente dedicados à formação dos alunos de marinha, evidenciando a atenção dada pelos editores a esse segmento do mercado.96 Quando o navio naufragou em Valparaíso, meses depois, os livros e outros pertences que estavam a bordo foram salvos. Colocados à venda com o retorno de muitos à Europa, é possível ter uma ideia do que liam e estudavam os membros da expedição, a partir de anúncios publicados no El Mercurio, entre 17 e 20 de julho de 1840:
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Vende-se: em consequência do naufrágio do Oriental, uma coleção de livros franceses, ingleses e italianos, de literatura, ciências e história, assim como alguns instrumentos, lápis de cor ingleses, música vocal e instrumental, um violino e outros itens.97
Uma listagem dos livros, apresentada em anúncio de fins de agosto, revela a abrangência e a diversidade do conjunto.98 Os títulos à venda começam pela “história natural”, com sessenta e oito volumes das obras completas do conde de Buffon (Georges-Louis Leclerc), seguidos por obras de Lacépède e Cuvier.99 Tudo amplamente ilustrado, com destaque para os dois últimos autores e seus estudos sobre peixes e crustáceos. Escrita ao longo da segunda metade do século XVIII, a Histoire naturelle, générale et particulière, avec la description du Cabinet du Roy, principal obra de Buffon, tinha sido publicada em diversas edições e em vários países, com versões para a juventude. Entre os livros de “história”, “literatura”, “viagens”, “política” e “estudos”, mais algumas dezenas de volumes sobre a história da França e da Bélgica, fábulas de Iriarte e outros clássicos (Chateaubriand, Tasso, Montaigne), cartas de viagens ao Oriente, tratados de economia política, guias, atlas e mapas sobre diversas regiões (França, Ilhas Britânicas, Itália), dicionários, vocabulários e gramáticas em vários idiomas (francês, italiano, alemão, inglês), o jornal Universo Pittoresco, de Lisboa, em edições do Brasil, Alemanha, Rússia e Turquia, e ainda um “manual dos cônsules”.100 Por último, além dos livros de estudo, havia leituras amenas para combater o tédio da longa travessia marítima, como uma coleção de “romances italianos”.101 O testemunho é de um aluno:
Desenhos e anotações retratam a importância da leitura no cotidiano dos viajantes, século XIX. O reverendo inglês Thomas Streatfeild reuniu em seu “Sketchbook of shipboard scenes” (“Album de desenhos a bordo”) uma vasta iconografia da vida no mar, com cenas de enjoo, trabalho e lazer, entre outros temas. Como informa o National Maritime Museum, “nenhum dos desenhos inclui qualquer sugestão de um porto ou área costeira, ou qualquer outra indicação de ou para onde a embarcação estava navegando”. A travessia era, não raro, mais marcante do que a chegada a qualquer destino.
Quando temos algum tempo supérfluo, nós o gastamos nos prazeres da biblioteca ou no exercício encantador dos cânticos em coro. Quanto ao jogo, ele é severamente proibido, e esta prescrição não seria violada com impunidade, pois o capitão é bom e amado por todos, mas ele tem a bondade do evangelho, isto é, unida a uma severidade calma e forte.102
O anúncio do El Mercurio também é esclarecedor sobre o material usado nas aulas de música e desenho: peças de Rossini, manuais de canto, partituras para violino e outros instrumentos, estudos de paisagem, papéis ingleses especiais e uma dezena de gravuras.103 Por fim, um conjunto de “objetos variados” completava o anúncio: “caixa de rapé em laca da China”, “mochila para caçadores”, “pacotinhos de temperos para sopas”, “perfumaria 147
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composição era uma escolha coerente com os princípios defendidos no projeto. Eles iam na contramão das restrições legais impostas aos navios de guerra da Marinha francesa, onde a presença feminina era considerada inaceitável e perturbadora do ambiente.107 A presença a bordo de vários pais de família, louvável por seu caráter moral tanto quanto por seu conhecimento como professores, atesta suficientemente que as medidas mais sábias foram tomadas para que esta escola flutuante nos traga um dia um viveiro de jovens súditos sobre os quais a pátria possa construir fortes esperanças para o progresso da ciência e a prosperidade do comércio.108
Mapa da pequena e protegida Belle-Île, diante da imensidão e dos riscos representados pelo Atlântico, século XVI.
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e objetos de tocador”, roupas novas e usadas, assim como uma “câmara lúcida para tomar vistas sem saber desenhar”104. Com tudo isso a bordo, a viagem de instrução da escola-flutuante prometia ser uma experiência de “exploração e descobertas”, em todos os sentidos. O roteiro era extenso, a permanência no mar longa e a primeira escala prevista, o porto de Lisboa. Contudo, antes de deixar o litoral da França, o OH ainda fez uma rápida parada em Belle-Île (chamada, atualmente, Belle-Île-en-mer), na costa da Bretanha.105 Somente o capitão Lucas deixou o navio. Ele passou por sua terra natal para trazer a bordo a esposa Elisabeth Bellais e as duas filhas, o cunhado e noviço Prosper Bellais e a irmã Louise Lucas, casada com o terceiro-tenente Jean-François Briel, também nascido na ilha.106 Embora o embarque de tantos parentes e a presença de cinco mulheres e crianças conferissem uma natureza aparentemente inusitada ao OH, essa
O ambiente familiar fazia parte da concepção da escola-flutuante, assim como da garantia oferecida aos pais que embarcassem seus filhos nessa ideia. Esse argumento foi reiterado por todas as formas de propaganda do OH.109 Cada aluno estaria sempre acompanhado “à mesa, nos estudos e em seus passeios”110 por um professor, tratado como uma espécie de guardião da moral para jovens em “idade de crise”, sobretudo aqueles que cresciam nas cidades, “onde a estadia era frequentemente perniciosa”.111 Para a Marinha, Lucas também associaria o seu papel como comandante à figura de um pai: Todos os jovens que fazem parte desta expedição foram confiados a mim por seus pais, não como um capitão de navio que devia embarcá-los como noviços ou aprendizes de piloto, mas como um pai em cujas mãos eles tinham depositado toda a sua autoridade sem restrição. Essa confiança me foi depositada por contrato, por cartas e por milhares de recomendações escritas ou verbais.112
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Representação das tarefas de limpeza a bordo de um navio, executadas com ritmo e disciplina, c. 1840.
Em Belle-Île, embora os alunos não tenham sido autorizados a descer do navio, eles já se apresentavam a bordo uniformizados e o capitão Lucas exibiu aos conterrâneos a sua escola flutuante, tal como havia sonhado. Mas a ilha tinha mais um aspecto importante no roteiro seguido pela expedição e nos planos do capitão Lucas: d. Pedro I, ex-imperador do Brasil e, por pouco tempo, d. Pedro IV, rei de Portugal, também esteve por lá, em 1832, antes de retirar do poder o irmão d. Miguel, apoiado pelos absolutistas que controlavam o reino. Dom Pedro vinha da Inglaterra, acompanhado pelas forças liberais que o apoiavam e, depois de reunir esforços em Belle-Île, par-
tiu para os Açores e dali para Portugal, com uma grande esquadra. Desembarcando no Porto e depois em Lisboa, retomou o trono que havia abdicado em favor de sua filha e fora “usurpado” pelo irmão. Em 1839, dona Maria II, rainha de Portugal, já estava livre da tutela de seu tio e primeiro esposo. Ela tinha, portanto, razões de Estado e inclinações pessoais muito fortes para receber com toda a simpatia o comandante do OH e sua escola- flutuante. Antes de deixar Belle-Île, Lucas aproveitou a ocasião para enviar a Nantes as primeiras notícias da viagem. A carta aos armadores Despecher e Bonnefin foi publicada no Lloyd Nantais, em 2 de outubro de 1839: 149
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Todo mundo está bem a bordo, exceto pelo mal do mar, mas a coragem e a energia desses jovens triunfam sobre esta indisposição.113
Os alunos também escreveram às famílias, já ansiosas por notícias, demonstrando até um certo bom-humor com o enjoo que tanto castigava os “marinheiros de água doce” ou “de primeira viagem”, como viam a si mesmos. O ácido nítrico, por incrível que hoje possa parecer, era usado para atenuá-lo. Mas o pior, na verdade, estava por vir. Logo depois de deixarem a ilha, já nas águas tormentosas do golfo de Biscaia (golfo de Gascogne, em francês), os enjoos transformaram “a popa do navio em uma espécie de campo de batalha”. Para completar, dois tubarões e depois uma baleia seguiram o navio, mas “impacientes por nada acontecer com sua voracidade, eles finalmente nos abandonaram”.114 As imagens fantasiosas também ilustravam as cartas: O enjoo nos atormenta terrivelmente. O convés do tombadilho apresenta o quadro mais original. Alguns se contorcem como serpentes, outros estão deitados nas tábuas, como peixes que entregam a alma. Outros zombam dessas galinhas molhadas, como eles dizem, mas a sua vez virá... 115
O “mal do mar”, no entanto, podia ser também uma espécie de mal necessário, pois tinha o poder de assegurar a calma a bordo durante uma longa viagem116, já que “a disciplina se mostrava indispensável para manter esses homens no espaço restrito dos navios”.117 A tradição de luta pela sobrevivência em um cotidiano marcado pelo confinamento da vida no mar comprovava o valor da disciplina e da hierarquia na cultura marítima. As dificulda150
des enfrentadas pela expedição de Fernão de Magalhães na primeira viagem de circum-navegação eram conhecidas: ração exígua por pessoa, umidade constante, víveres que apodreciam, falta de higiene, doenças como o escorbuto e o mais desagradável de todos os males: a água que se deteriorava rapidamente e adquiria um gosto horrível. Esse tipo de dificuldade e o isolamento vivido a bordo levavam os homens do mar ao consumo de álcool em doses elevadas. As consequências, com desentendimentos e conflitos entre marinheiros e oficiais, não demoravam a aparecer.118 A rotina a bordo do OH, a princípio, seguia o padrão habitual: “de manhã, às cinco e meia, soa o toque de Diana. Então nos vestimos. Depois batemos o tambor para o chá. Ainda é ao som do tambor que somos chamados para o almoço às 10 horas e para o jantar, às 5. Às 9 horas toca o retiro: é hora de ir para a cama” 119 Emone, já treinado pela Escola de Navegação de Antuérpia, resumiu: “nós somos comandados pela flauta e o tambor”.120 Essa tradição no meio naval converteu-se em alegoria da vida a bordo quando os alunos passaram a desobedecer às ordens dos oficiais, descumprindo as atividades de limpeza e outras tarefas “menores”. Já habituado às regras, à hierarquia e à disciplina do meio naval, o belga atribuiu aos alunos “amadores” a desordem que começava a se instalar no OH.121 Desde a partida, os jovens enfrentaram os enjoos como podiam, mas depois de iniciada a travessia do Atlântico rumo à América do Sul, vieram também o tédio e as brigas, com alguns duelos a bordo. A insubordinação e a indisciplina não eram toleradas na Marinha de guerra e ainda podiam ser punidas com a prisão, o degredo e a pena de morte.122 Os alunos da expedição não sofreriam tais punições, mas a dificuldade do comandante Lucas para dar
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A Praça do Comércio (antigo Terreiro do Paço), diante do rio Tejo, em pleno coração de Lisboa, 1840. Em primeiro plano, os degraus de mármore do Cais das Colunas, ponto de chegada de viajantes ilustres; ao fundo, o Castelo de São Jorge.
Visão panorâmica do centro de Lisboa (Baixa Pombalina), a partir de uma das colinas da cidade; ao fundo, o castelo de São Jorge, 1842.
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prosseguimento à viagem, depois de alcançado o hemisfério Sul, foi motivada em grande parte pelos resultados dessa indisciplina. O capitão de longo curso no comando de um navio da marinha mercante tinha atribuições claras e definidas, há muito estabelecidas na tradição e na legislação.123 Elas incluíam, como estava explícito na propaganda do OH, zelar “pelos regulamentos necessários para manter a bordo a boa ordem e a disciplina”124. Por outro lado, o folheto da expedição fazia uma única referência à penalidade passível de ser aplicada pelo comandante, isto é, caso algum aluno descesse em terra sem a sua permissão. 125 A autoridade do capitão Lucas, flexível e liberal com os noviços, logo sofreria uma severa condenação no meio naval. A ideia de que todos deveriam ter “os mesmos direitos, a mesma mesa e o mesmo respeito”126 de modo algum fazia parte da cultura marítima de seu tempo. Para completar o quadro, as diferenças que caracterizavam as sociedades francesa e belga também se manifestavam a bordo, fazendo emergir preconceitos e conflitos entre os membros de uma tripulação com origem social e regional tão heterogênea. Os problemas se agravaram quando os oficiais ordenaram tarefas menos “nobres” que os alunos, simplesmente, se recusaram a cumprir, com o consentimento do comandante: O senhor Lucas também diz que não estamos a bordo para lavar o convés e fazer as tarefas sujas, mas para aprender a manobrar e a comandar. Porque no começo, os oficiais nos mandavam carregar água, o que, de minha parte, eu recusei.127
O OH chegou ao porto de Lisboa, primeira escala prevista nos planos da expedição, às três horas da tarde do dia 7 de ou152
Retrato de dona Maria II, c. 1835. Recém-coroada, a jovem rainha de Portugal ostenta em seu traje as ordens portuguesas de Cristo, Avis e Santiago da Espada.
tubro de 1839.128 Arrasada pelo terremoto de 1755, Lisboa fora reerguida dos escombros pelo marquês de Pombal, o poderoso ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros que comandara, para o rei d. José I, a gigantesca operação de “enterrar os mortos, cuidar dos vivos e reconstruir a cidade”, síntese da dimensão material, humana e simbólica de todo esse processo. A chamada Baixa Pombalina, destacando-se o Terreiro do Paço e as arcadas do imenso conjunto arquitetônico erguido em frente ao rio Tejo, formavam agora um cenário perfeito para o desfile dos jovens que chegavam à Lisboa, trazidos pelo OH. As escolhas entre o passado e o futuro, a tradição e o progresso, definiam a fisionomia da
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capital portuguesa: em 1839, a Câmara Municipal estava às voltas com a melhor opção para o calçamento da praça diante do edifício, onde também ficava o antigo Pelourinho, coluna destinada ao castigo dos criminosos. Contrária à adoção do moderno pavimento desenvolvido pelo engenheiro escocês John McAdam, adotado em muitas cidades, os conselheiros se decidiram pelo “sistema português” que, afinal, transformou-se em um dos símbolos de Lisboa.129 Em Portugal, o OH recebeu o tratamento dispensado aos navios da Marinha francesa, ficando isento do pagamento de ta-
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xas aduaneiras pelas autoridades locais e de outras cobranças usuais pela própria chancelaria francesa. Essa distinção não era apenas uma questão financeira, mas um reconhecimento revestido de todo o simbolismo das missões oficiais, fato comunicado pelo capitão em sua correspondência com os armadores.130 Logo, o embaixador francês em Lisboa recebeu do comandante os “despachos ministeriais” que recomendavam a expedição e entregou a Lucas as suas cartas de recomendação para os agentes consulares franceses nos arquipélagos da Madeira e de Cabo Verde, seguro de que lá ele “receberia uma boa acolhida”, como
O Palácio das Necessidades, em Lisboa, onde Lucas e Comte demonstraram a daguerreotipia para a rainha de Portugal, em outubro de 1839.
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determinara o ministro dos Assuntos Exteriores.131 O barão Jacques-Edouard Burignot de Varennes era diplomata de carreira e devia o título de nobreza à proximidade com Louis-Philippe e às funções de que fora investido pelo monarca. Em 1837, ele cuidou pessoalmente do casamento de seu filho mais velho com uma princesa alemã, como “enviado especial e ministro plenipotenciário” da França em Mecklembourg-Schwerin, passando em seguida ao mesmo posto em Lisboa, onde permaneceria até 1848.132 Burignot de Varennes, depois do primeiro contato com a expedição do OH, relatou ao ministro da pasta, duque de Dalmatie (marechal Soult), que “o capitão e os professores a bordo tinham lhe apresentado uma série de questões comerciais às quais respondera com certos detalhes”. 133 Para os membros do OH, tudo parecia correr muito bem... Os alunos puderam, então, descer à terra e andar pela capital portuguesa, visitando monumentos e teatros que resultaram em uma “fantasmagoria de imagens, miragens e paisagens” que encantou a imaginação de muitos.134 Uniformizados, portando a espada, frequentaram bailes em outros navios e desfilaram em grupo pelas ruas de Lisboa. A impressão causada nos próprios jovens e entre aqueles que assistiram ao desfile não poderia ter sido melhor. O acontecimento foi comentado em cartas e jornais. Alguns, antes mesmo de chegar a Portugal, já nutriam a expectativa de avistar a rainha, famosa por sua beleza e juventude, agora casada com um sobrinho de Leopoldo I, da Bélgica: Talvez eu veja a bela rainha desse lugar, dona Maria, esta rainha de dezesseis anos, viúva e já casada novamente que carrega os cuidados mais cruéis do trono, nesta 154
idade em que o prazer e a coqueteria são geralmente as únicas preocupações de uma jovem mulher.135
Uma noite, trajando o uniforme de gala, os alunos do OH foram assistir a um espetáculo no teatro São Carlos e ali puderam avistar d. Maria II: “nós a saudamos em grupo com vivas aclamações [e] a bela rainha respondeu muito graciosamente à nossa saudação”.136 Mas ela também estava interessada nas novidades que os viajantes do OH traziam a bordo, assim como dom Fernando, o “rei artista” que cultivava um grande apreço pelas artes.137 A natureza da expedição, noticiada pelos jornais que circulavam na Europa, provavelmente já tinha sido comunicada ao casal por cartas enviadas da Bélgica.138 O embaixador Burignot de Varennes foi quem cuidou do encontro dos monarcas com o comandante e o capelão do OH: O rei e a rainha, sabendo que havia um daguerreótipo a bordo deste navio, manifestaram o desejo de assistir a uma experiência. Cumpri meu dever de encaminhar à presença de Suas Majestades, no Palácio das Necessidades, o senhor Lucas e o padre Comte, capelão da expedição. Suas Majestades acompanharam as operações do senhor Comte com muita paciência e interesse; infelizmente, a prova não foi bem-sucedida. Os ensaios continuaram nos dias seguintes na residência do senhor Famin, para onde os oficiais da Estação Naval tinham se dirigido, assim como muitos portugueses, ansiosos para ver as maravilhas prometidas por este novo procedimento; entretanto, os resultados não foram mais satisfatórios.139
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Era necessário ensaiar e, mais do que isso, ensaiar inúmeras vezes, em boas condições atmosféricas, para conseguir um resultado satisfatório com a invenção. Além disso, o processo exigia o uso de equipamentos e materiais que, no seu conjunto, podiam pesar até cinquenta quilos140 e precisavam ser manipulados com precisão, desde a câmera de daguerreotipia, passando pelo cuidadoso polimento das placas de cobre, até o manejo dos demais dispositivos de madeira e preparados químicos usados no processamento da imagem. Daguerre tinha antecipado as dificuldades de execução do processo em uma carta enviada a Isidore Niépce, em 28 de abril de 1838: Estou convencido de que muitas pessoas nunca poderiam ter sucesso devido ao esmero que precisa ser dado a todas as operações [...] quanto às pessoas do interior que não puderem viajar a Paris, é impossível que elas consigam aprender, porque a descrição mais detalhada não é suficiente − é preciso ver para operar.141
Nos primeiros tempos da invenção, as “dificuldades do daguerreótipo” foram comentadas por muitos e Jean-Baptiste Jobard transcreveu outras opiniões de Daguerre sobre o assunto. O inventor teria dito que, mesmo depois de ver o funcionamento do processo, era necessário reunir disposições especiais e realizar um longo treinamento antes de conseguir uma boa coleção de vistas com a daguerreotipia.142 O testemunho do embaixador francês em Lisboa esclarece quem foi o responsável pelo manejo das operações com o daguerreótipo. Comte afirmaria, em Montevidéu, que tinha aprendido o processo com o próprio Daguerre, por isso o mais
Primeiras notícias e maus presságios
provável é que não tenha tido muito tempo para fazê-lo. Os ensaios na casa do chanceler franco-italiano Cesar Famin, com uma audiência mais ampla e diversificada, certamente favoreceram o domínio da técnica pelo capelão do OH para as próximas experiências ao longo da viagem. Ex-funcionário do consulado francês no Reino das Duas Cecílias, Famin era também o autor de obras ilustradas que atendiam à curiosidade do público sobre “costumes exóticos”, como o catálogo Musée royal de Naples, peintures, bronzes et statues érotiques du cabinet secret avec leurs explications (Paris, 1836), e o volume Colombie et Guyanes (Paris, 1838) da coleção L´univers ; histoire et description de tous les peuples, lançada em conjunto com o texto de Ferdinand Denis sobre o Brasil. O anfitrião devia estar bastante interessado no conhecimento e uso da daguerreotipia, pois as viagens e as imagens também faziam parte de seu universo pessoal. Os jornais lisboetas, estranhamente, não deram publicidade a essas demonstrações, o que pode ser atribuído ao relativo insucesso das experiências, uma vez que as imagens não alcançaram um resultado satisfatório, segundo Burignot de Varennes. Outra possibilidade é que o próprio embaixador não tenha favorecido a maior divulgação das experiências em Lisboa de uma expedição que já começava a causar desconforto nas autoridades francesas. Em Bruxelas, o Le Courrier Belge publicou um relato sobre essas demonstrações, com avaliação bem distinta: Carta escrita no porto de Lisboa, 10 de outubro de 1839. [...] Antes de dizer adeus, não posso esquecer uma circunstância curiosa: o senhor Lucas, importador em Portugal de um aparelho de daguerreotipia, experimentou 155
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
diante da rainha, e capturou, sob os olhos de dona Maria, o perfil deste maravilhoso Oásis de Cintia [deusa grega da lua], que domina Lisboa à direita do Tejo. Ele homenageou a rainha com seu ensaio, que lhe agradeceu com a graça e a amabilidade francesas. O príncipe de Cobourg, seu marido, sobrinho de nosso rei, é um desenhista e gravador de grande prestígio. O daguerreótipo interessou-lhe muito.143
O tempo disponível para praticar a daguerreotipia antes da partida do OH tinha sido curto e, no mar, os ensaios com o equipamento careciam das condições de estabilidade necessárias, de modo que a experiência em terras portuguesas deve ter ficado aquém do entusiasmo com a invenção. Por outro lado, Lucas aparece nesse relato como o daguerreotipista que promove a difusão do invento. O embaixador francês, escrevendo ao ministro quando a expedição acabava de deixar Lisboa, fez um relato bastante negativo da passagem do OH pela cidade.144 Além da censura ao empreendimento como um todo, as dificuldades que constatou a bordo lhe pareciam, em muitos aspectos, um “mau presságio” do que estava por vir: Eu acrescento, senhor Marechal, que a expedição está longe de oferecer todas as garantias desejáveis de sucesso. Ela não tem a bordo nem ordem, nem planejamento e, muito menos, subordinação. Os jovens alunos que acabaram de chegar aqui estão espalhados pela cidade e se envolveram em desordens que fazem mau presságio de seu futuro. É de recear que as pessoas honestas e sensatas que fazem parte desta expedição não se enojem rapidamente e não se separem numa das próximas escalas. Parece-me 156
mesmo difícil que este navio possa completar a sua viagem de circum-navegação; e se o capitão Lucas persistir nesse empreendimento sem ter trazido a ordem a bordo, certamente ele deixará em seus passos um rastro muito triste e bem pouco honorável para a bandeira francesa.145
A expedição que, depois de tanto esforço de seu comandante, ostentava a bandeira da França em uma “extraordinária missão ao redor do mundo”, era agora considerada indigna de semelhante distinção.
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Capítulo 4 1. Guide de l’étranger à Nantes [...], 1844, p. 104. 2. Wismes, 1983; BOIS, 1977. Este último menciona, ainda que com vários equívocos, a expedição do OH (ver p. 325). 3. Cf. Página do Mémorial de l’abolition de l’esclavage, inaugurado em Nantes, no cais La Fosse, em 2012. “Hommage aux millions de victimes de la traite et de l’esclavage à travers le monde, hommage à ceux qui se dressèrent contre ce crime, hommage aux luttes d’hier et d’aujourd’hui, il est porteur d’un message universel de solidarité et de fraternité ». 4. Cornevin e Cornevin, 1990, pp. 391-396. As primeiras “expedições escravistas” deixaram Nantes em 1656 e 1657 e, mesmo clandestinamente, seguiram até meados do século XIX. Cf. Krystel Gualdé. “Nantes and the transatlantic slave trade”, in Blume et al, 2018, pp. 80-88. 5. Daget, 1987, p. 69. 6. Marec, 2001, p. 75. 7. Idem, p. 81. 8. OH - Doc 06.09.1839. 9. OH - Doc 12.09.1839; OH - Doc 21.09.1839; OH - Doc 22.09.1839. 10. OH – Doc 06.10.1839. O autor, como se pode deduzir por informações contidas na carta, é o viajante belga Popelaire de Terloo, mas ele só será identificado pelo jornal mais tarde (ver capítulo 5). 11. OH - Doc 24.09.1839 (b). 12. Wezembeek, 1963, p. 352. 13. OH - Doc 06.10.1839. 14. OH - Doc 24.09.1839; OH - Doc 25.09.1839; OH - Doc 28.09.1839. 15. OH – Doc 24.09.1840. Wood (1996) estimou a data da partida em fins de setembro (p. 114) e, mais adiante, “em 1 ou 2 de outubro” (p. 115). 16. OH - Doc 07.10.1839. 17. Adrien Carré nasceu em Brest, mas viveu boa parte de sua vida em Nantes.
Primeiras notícias e maus presságios
Conhecendo bem o lugar e as fontes conflitantes, o historiador também tomou como referência o dia 25 de setembro para o início da viagem, pois o Atlântico não começa em Paimboeuf e, sim, depois de Saint-Nazaire. 18. Jean Boudriot. “Vaisseaux et frégates sous la Restauration et la Monarquie de Juillet”. In : Marine et technique au XIXe siècle, [1988], p. 74. 19. Duron, 2000, p. 190. 20. OH - Doc 06.10.1839. 21. Observações escritas durante a viagem são mencionadas nas fontes, mais diários propriamente ditos não foram localizados na pesquisa. Supondo-se que também tenham sido escritos, a exemplo das cartas que chegaram aos jornais. 22. OH - Doc 07.11.1839. 23. “Voici l’adresse de M. Bonnefin qui se chargera d’expédier vos lettres si vous voulez m’en écrire en les lui envoyant d’avance et francs de port”. OH – Doc 24.09.1839. 24. OH - Doc 00.08.1839. Wood (1996, p. 115) assinala que os pais dos alunos tinham sido aconselhados a enviar correspondência para Sidney, via Inglaterra. 25. Joinville, 2006, p. 73. 26. Joinville, 2006, p. 78. 27. Wolgensinger, 1989, esp. pp. 60-73. 28. Charle, 2004, p. 58. “En 1832, 235 journaux étaient publié dans 113 villes, contre plus du double en 1845 : 520, dont 245 politiques sont astreints au versement du cautionnement”. 29. Charle, 2004, pp. 37-70. 30. Witte, 2005, p. 173. O autor comenta que « la presse bruxelloise et les revues d’art sont les premières à attirer l’attention sur le caractère national de l’art ». 31. OH - Doc 18.08.1839 e OH - Doc 20.08.1839 (“Le Moniteur industriel sera favorisé des communications du capitaine Lucas, nous les reproduirons”). 32. OH - Doc 18.08.1839.
33. OH - Doc 07.11.1839. Matéria publicada pelo Le Courrier Belge, referindo-se a uma carta, enviada de Lisboa, em 15.10.1839. 34. OH - Doc 24.09.1839 (b). 35. OH - Doc 06.10.1839. 36. As filhas do capitão Lucas e a esposa do professor Soulier de Sauve não constam da relação de passageiros, individualmente, mas foram aqui consideradas. 37. OH - Doc 00.00.1839-1840. A transcrição do documento encontra-se ao final deste livro e as informações podem ser confrontadas. 38. Carré, 1970. O historiador refere-se a 70 “homens a bordo” (p. 24), contabilizando os 42 alunos franceses. Ele também menciona 13 viajantes belgas (p. 23) no conjunto de passageiros, embora o “doméstico” Vridays, provavelmente, tivesse outra procedência. 39. OH – Doc 14.08.1839 e OH – Doc 18.08.1839. 40. OH – Doc 21.09.1839. 41. OH - Doc 06.10.1839. 42. OH - Doc 07.11.1839. 43. OH - Doc 07.10.1839. 44. OH - Doc 11.02.1840. 45. Carré, 1970, p. 25-26. 46. OH - Doc 06.10.1839. Ver referência ao capitão Marryat no capítulo 1. 47. OH - Doc 00.00.1839-1840. 48. OH - Doc 22.04.1839. 49. OH - Doc 07.11.1839. 50. OH - Doc 24.09.1839. 51. Em 1833, o British Factory Act proibiu o trabalho de menores de 9 anos nas fábricas da Inglaterra e a jornada de mais de 9 horas para aquelas entre 9 e 13 anos. Gassan, 1972, p. 297. 52. SHD-Marine. Fonds privé Adrien L.J. Carré, carton 4; Le Lloyd Nantais, 10 e 11 de setembro de 1840. 53. OH - Doc 00.03.1839 e OH - Doc 10.03.1839. 54. OH - Doc 00.03.1839.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
55. OH - Doc 02.04.1839. 56. OH - Doc 00.03.1839. 57. OH - Doc 06.10.1839. O belga Emonce também comentou que o OH estava “repleto de barões, condes e marqueses”. OH - Doc 29.09.1839. 58. OH - Doc 06.10.1839. O jornal L’Indépendant, em 21 de setembro (OH Doc 21.09.1839), estimava que, dentre os 60 alunos a bordo, 15 ou 16 seriam belgas. O mesmo jornal, em 24 de outubro, refere-se a 80 pessoas a bordo, sendo 12 belgas (OH - Doc 24.10.1839). 59. OH - Doc 30.07.1839. 60. Bergmans, 1899, pp. 245-246. 61. OH - Doc 02.04.1839. 62. OH - Doc 24.09.1839. 63. Adotou-se aqui a grafia utilizada por Wezembeek, 1963, p. 352. O nome do belga aparece grafado nos documentos da época de diversas formas: como “Hynderick”, no rol de equipagem (OH – Doc 00.00.1839-1840); como “Hendrickx” no jornal Le Courrier Belge, (OH - Doc 31.10.1840); como “Henderick”, em carta do capitão Lucas (OH - Doc 31.07.1842). 64. Wezembeek, 1963, p. 352. 65. OH - Doc 00.00.1839-1840 ; OH - Doc 24.9.1839 ; Wezembeek, 1963, p. 352 ; SHD-Marine. Fonds privé Adrien L.J. Carré, carton 4. 66. Os nomes completos podem ser vistos em Relação dos participantes e registros de bordo do Oriental-Hydrographe (1839-1840). 67. OH - Doc 24.09.1839, OH - Doc 06.10.1839. 68. OH - Doc 24.09.1839. 69. OH - Doc 06.10.1839. 70. Soulier (de Sauve), 1839. Entre outras obras de Soulier de Sauve na FBN, um exemplar desse atlas (edição de 1841) integra a coleção Thereza Christina, que pertenceu ao imperador d. Pedro II. 71. OH - Doc 00.00.1839. 72. Gaudu, 1972; BOUCHE, 1987. 73. OH - Doc 24.9.1839 e OH - Doc
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06.10.1839. 74. OH - Doc 07.11.1839. 75. OH - Doc 24.9.1839. 76. OH - Doc 06.10.1839. 77. Lucas, 1839. 78. OH - Doc 31.10.1839 (a). 79. OH - Doc 30.07.1839. 80. OH - Doc 30.07.1839. 81. Jullien, 1947, p. 23. Ordenação real de 31 de outubro de 1819. 82. Jullien, 1946, p. 16. O autor refere-se, em particular, à “Ordonnance de 20 juillet 1837”. 83. Idem. 84. OH - Doc 22.04.1839. 85. OH – Doc 00.08.1839. 86. OH – Doc 14.08.1839 e OH – Doc 18.08.1839. 87. OH - Doc 06.10.1839. 88. OH - Doc 06.10.1839. 89. OH - Doc 02.04.1839 e OH - Doc 22.04.1839. 90. OH - Doc 06.10.1839. Sobre o tema, ver Darrieus e Quèguiner, 1997. 91. Peyre e Rocher, 1843, p. 11; OH - Doc 23.09.1840 e OH - Doc 24.09.1840. 92. Carré, 1970, p. 26. Cf. Christian Buchet. «Santé et expéditions géostratégiques au temps de la marine à voile», In : Marine et technique au XIXe siècle, [1988], pp. 141-162. 93. Arago, 2006, p. 79. 94. Darwin, 2007. 95. OH - Doc 22.04.1839 e OH - Doc 07.07.1839. 96. O livro de Etienne Bezout, Cours complet de mathématiques à l’usage des élèves de la Marine, avec notes de MM. Reynaud et de Russel (Paris: Bachelier, 1829) é indicado nas “instruções às famílias”. OH – Doc 00.08.1839. 97. OH - Doc 17.07.1840. O anúncio publicado no El Mercurio também aparece nos dias 18 e 20 de julho de 1840. 98. OH - Doc 25.08.1840. Este anúncio não faz referência ao naufrágio do OH, mas é o
único conjunto de livros que está à venda e no mesmo endereço dos anúncios anteriores, sugerindo ter a mesma origem. 99. Sobre o escritor, ver https:// fr.wikipedia.org/wiki/Georges-Louis_Leclerc_de_Buffon. 100. Esse tipo de publicação deve ter sido bastante útil ao capitão Lucas não apenas para conhecer as atribuições dos cônsules em cada porto, como também para contestar os seus abusos de autoridade, como será visto no capítulo 6. 101. OH - Doc 22.04.1839 e OH – Doc 25.08.1840. 102. OH – Doc 07.11.1839. 103. OH - Doc 25.08.1840. 104. OH - Doc 25.08.1840. 105. Le Gallen, 1906, pp. 624-625. 106. OH - Doc 00.00.1839-1840. 107. Carré, 1970, p. 26. 108. OH - Doc 14.08.1839 e OH - Doc 18.08.1839. 109. OH - Doc 14.08.1839; OH - Doc 18.08.1839; OH - Doc 20.08.1839. O artigo publicado em Nantes, no National de l’Ouest, de 14 de agosto, foi reproduzido quatro dias depois em Paris, no Le Moniteur Industriel, e dois dias mais tarde em Bruxelas, no Le Courrier Belge. 110. OH - Doc 00.03.1839. 111. OH - Doc 00.03.1839. 112. OH – Doc 26.06.1840 e outros. Carta de Lucas para o cônsul Cazotte (Valparaíso, 17 de julho de 1840), folhas 321-322. 113. OH - Doc 02.10.1839. 114. OH - Doc 07.11.1839. 115. OH - Doc 06.10.1839. 116. Carré, 1970, p. 26. 117. Taillemite, 1987, p. 24. 118. Pigafetta, 2011; Ramos, 2006. 119. OH - Doc 07.11.1839. 120. OH - Doc 24.09.1839. 121. Carré, 1970, p. 27. 122. Rodrigues, 1999, pp. 27-29. 123. Freitas, 1835, esp. pp. 120-123. 124. OH - Doc 02.04.1839.
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125. OH - Doc 00.03.1839. 126. OH - Doc 06.10.1839. 127. OH - Doc 24.09.1839. 128. OH - Doc 07.10.1839. O Diário do Governo, jornal de Lisboa, também assinala, em OH – Doc 08.10.1839 a chegada do navio. 129. Lisboa. Synopse dos principaes actos administractivos da Camara Municipal de Lisboa no anno de 1839. Lisboa. Câmara Municipal, 1839, p. 26. Disponível em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Sinopse/1839/1839_master/Sinopse1839.pdf 130. OH - Doc 20.10.1839 (a). O capitão da Marinha mercante era obrigado a fornecer informações atualizadas sobre o navio e a viagem em curso aos seus proprietários. Cf. Freitas, 1835, pp. 120-123. 131. O OH não chegou a passar por Cabo Verde, como será comentado no próximo capítulo. 132. Robert e Cougny, 1889, v. 1, pp. 533-534. 133. OH - Doc 14.10.1839. 134. OH - Doc 31.10.1839 (a). 135. OH - Doc 06.10.1839. 136. OH - Doc 31.10.1839 (a). 137. LIbeaudière, 1900, pp. 200-201. 138. Carré menciona em seu artigo (1970, p. 26) a demonstração do fisionotipo em Portugal (“La reine Maria reçoit en longue audience Augustin Lucas et l’abbé Comte et s’intéresse au ‘physionotype’”), sem fazer qualquer referência à presença do daguerreótipo nessa demonstração, como em toda a viagem. As fontes consultadas pelo historiador não traziam essa informação, como se constata pela consulta ao seu arquivo pessoal. SHD / Marine. Fonds privé Adrien L.J. Carré. 139. OH - Doc 14.10.1839. O jornal francês Le Breton, de 29 de outubro de 1839, comenta a experiência nos mesmos termos. 140. Sixou, 2000, p. 67. 141. Kravetz, T. (ed.). Dokumenty po istorii izobretenija fotografii. Leningrad: Akade-
Primeiras notícias e maus presságios
mija Nauk SSSR, 1949, p. 460. Apud Brunet, 2000, p. 49. 142. [Jean-Baptiste Jobard], “Difficulté du daguerréotype”, Le Courrier Belge, 24 août 1839, p. 2. O jornalista conclui: “nós vemos que [o daguerreótipo] é uma música que nem todo mundo terá a chave”. 143. OH - Doc 31.10.1839 (a). Quem faz o comentário é o barão Popelaire de Terloo. 144. Os registros de bordo do OH assinalam que o navio deixou o porto de Lisboa, em 12 de outubro de 1839 (OH – Doc 00.00.1839-1840) e o embaixador Burignot refere-se, em carta de 14 de outubro de 1839, à expedição que “partiu esta manhã” (OH – Doc 14.10.1839). 145. OH - Doc 14.10.1839.
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A navegação nas proximidades da ilha de Tenerife, no oceano Atlântico, em 1842. Desenho do príncipe Adalberto da Prússia que ilustrou o seu diário de viagem, publicado em 1847.
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‘Coisa admirável e curiosa’: o daguerreótipo cruza o Atlântico Sul
Em janeiro de 1839, uma das primeiras e mais importantes personalidades de seu tempo a se pronunciar sobre a “descoberta” do daguerreótipo foi Alexander von Humboldt. O naturalista alemão festejou o papel cognitivo das imagens que podiam ser obtidas com um instrumento “auxiliar” do viajante. Em suas obras defendia uma visão estética da experiência de viagem, apoiada na sensibilidade do sujeito para recolher e expressar todo um conjunto de impressões.1 A longa expedição com a qual desvendou um “novo continente” para o mundo científico, entre 1799 e 1804, tinha estimulado Humboldt a se deter nas paisagens que avistava. Para ele, o percurso da Península Ibérica à América do Sul, passando pelas Ilhas Canárias, não oferecia nada que merecesse a atenção do viajante: “é uma navegação menos perigosa do que a travessia dos grandes lagos da Suíça”.2. O capitão Lucas talvez pensasse o mesmo, mas os jovens que cruzavam o Atlântico pela primeira vez
imaginavam uma travessia emocionante pela frente. Antes, precisavam equilibrar o anseio de voltar para casa com o entusiasmo “humboltiano” por uma expedição que ficaria inscrita nos anais marítimos como “a primeira experiência de uma escola hidrográfica na qual os alunos têm por objeto de estudo perpétuo o grande livro do universo e com a qual teremos a glória de ser os primeiros de nossa nação a enfrentar os perigos e os imprevistos de semelhante viagem”.3 Convencidos da condição de “naturalistas aprendizes”, os jovens ansiavam pelas explorações previstas no plano de estudos. Carregavam consigo o instrumento auxiliar do viajante e as ferramentas usuais: Quanto à história natural, nós temos conosco tudo o que é preciso para fazer belas coletas: dragas, redes, arpões, cortadores, sacolas, pinças, aguardente, instrumentos de injeção, etc. Em uma palavra, nada foi 161
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
O porto de Funchal, representado por Benjamin Mary em sua passagem pela ilha da Madeira, 1834. O primeiro embaixador belga enviado ao Império do Brasil, exímio aquarelista, registrou em dezenas de imagens a experiência da viagem e o período em que esteve no país, entre 1834 e 1838.
esquecido e cada um, por sua vez, espera fazer grandes coleções.4
As instruções da Sociedade de Etnologia de Paris (Société Ethnologique de Paris), fundada em 1839, conduziriam os estudos de línguas, cerimônias, vestuário, hábitos alimentares e “caracteres fisiológicos das raças humanas” que pudessem ser observados em proveito da navegação comercial.5 O regime dos ventos, as correntes marítimas e a profundidade das águas, indicados pela cartografia disponível, orientavam o itinerário e a navegabilidade do OH, mas a rota podia 162
ser alterada por questões circunstanciais. O risco de contaminação em um “porto sujo” era recorrente e a prudência nesses casos, uma regra obrigatória. Ou, como escreveu um dos viajantes, “o grande princípio no mar é escolher bem a época para visitar tais e tais latitudes”.6 Por essa razão, o OH não fez as escalas previstas em Cádiz, na costa espanhola, nem em Cabo Verde, arquipélago do Atlântico Norte, pois atravessavam uma epidemia de febre amarela. O movimento dos portos do planeta, com entradas e saídas de navios que cruzavam os mares, estava registrado no Lloyd’s List, um
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dos jornais mais antigos do mundo e, nos anos de 1839-1840, o principal veículo de comunicação do trânsito marítimo internacional. 7 Todas as escalas do OH estão registradas em suas páginas. A chegada ao porto de Funchal, em 23 de outubro de 1839, foi comunicada por jornais como A Flor do Oceano, título que tomava de empréstimo uma expressão madeirense para exaltar a beleza da ilha.8 A Chronica completou a informação com uma breve e ilustrativa referência à natureza da expedição: Acaba de entrar no nosso porto (no dia 23) uma bonita galera francesa com privilégio de corveta de guerra. Leva a seu bordo um grande número de aspirantes de Marinha que vão, com seus professores, fazer a volta do globo, e adiantar-se na navegação, e n’outras ciências, exercendo-as praticamente.9
A ilha a meio caminho da África que, no século XIV, os portugueses consideraram muito fértil, abundante em água e “boa para povoar”, não demorou a atrair também a cobiça de navegadores franceses, ingleses, holandeses e argelinos. Com a fortificação e o povoamento do lugar, a baía de Funchal transformou-se em escala rotineira para os que pretendiam explorar a costa africana ou cruzar o Atlântico. Espécie de anfiteatro natural, rodeado de belas montanhas, o porto de Funchal acolheu quase todos os navegadores em viagens de circum-navegação. James Cook, por exemplo, recolheu ali grande quantidade de material para as instituições inglesas.10 O capitão Charles Wilkes, um mês antes da chegada do OH, realizou medições barométricas no seu ponto mais alto, enviadas posteriormente ao governo de Portugal.11 Coincidência significativa, o Erebus e o Terror estavam
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ancorados em Funchal quando o OH chegou à Madeira. Os dois navios ingleses seguiam para a Antártica sem contar, justamente, com o daguerreótipo solicitado pela Royal Society para a missão, negado pelos franceses.12 Em Nantes, os armadores Despecher e Bonnefin transmitiram ao Lloyd Nantais as informações enviadas pelo capitão Lucas antes de deixar a Madeira: ele estava muito satisfeito com os jovens, todos passavam bem, sem os enjoos de antes, dedicando-se agora apenas aos estudos.13 Em Bruxelas, o Le Courrier Belge iniciou a publicação de uma série de cartas sobre a viagem do OH pelo hemisfério Sul. O passageiro que enviava cartas desde Portugal, ainda mantido no anonimato, era o barão Popelaire de Terloo.14 Ele só seria identificado pelo jornal posteriormente, limitando-se o redator a dizer que se tratava de “um dos melhores observadores do navio escola [que] dá, ao mesmo tempo, ensinamentos úteis ao nosso comércio, detalhes curiosos dos costumes, observações antropológicas notáveis e novidades políticas que não deixam de ser relevantes para a França”.15 Escritor prolixo e colecionador diletante, Terloo escreveu a maior parte das cartas sobre a expedição ao longo da viagem. Ele embarcou no OH com a perspectiva de se tornar representante da Bélgica em algum dos portos visitados. Planejava observar, especialmente, o “comércio belga e a organização consular” e o Le Courrier Belge lamentou, a certa altura, que ele não tivesse sido nomeado cônsul.16 Quando chegou à “deliciosa” e “pitoresca” Madeira, Terloo não economizou elogios àquele verdadeiro “paraíso terrestre”, com “clima excelente”, como bem sabiam as duas centenas de ingleses que se “refugiavam” no lugar. Paraíso onde a natureza, “risonha, exuberante e vigorosa” era ajudada pelo homem desde que os portugueses 163
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
A África, em ilustração para as “viagens de um estudante nas cinco partes do mundo”, 1835.
tiveram a “feliz ideia” de aclimatar na ilha não apenas a cana de açúcar, como todos “os mais belos vegetais das quatro partes do mundo”.17 Com tantos atributos, a Madeira tornou-se uma paisagem portuária bastante apreciada na cultura visual oitocentista. Em 1836, Funchal foi apresentada aos brasileiros em um diorama, o espetáculo cenográfico com efeitos luminosos, inventado por 164
Daguerre, que agora fazia sucesso no Rio de Janeiro.18 A Madeira também ofereceu aos viajantes do OH o famoso vinho da ilha e, sobretudo, a sua agradável hospitalidade: “a cada instante eram festas, saraus, jantares, excursões a cavalo, etc.”19 Esses passeios, com caminhos muito íngremes, touros selvagens e cavalos assustados, representaram uma grande emoção para os noviços durante
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os três dias que estiveram na ilha. O relato é de um dos jovens: Foi ali que um aluno quase foi vítima da fúria de um touro, e o cavalo do qual ele acabara de descer jogou-se em um precipício com centenas de pés de profundidade. O homem, a quem esse cavalo pertencia, foi arrastado com o animal e por um milagre conseguiu se salvar, agarrando-se na vegetação rasteira. Os alunos fizeram uma subscrição para compensá-lo por sua perda e susto.20
O OH alcançou as Canárias, território espanhol, em 28 de outubro, permanecendo no arquipélago por apenas duas noites.21 Em Tenerife, o El Conservador indicou, nos mesmos termos dos jornais madeirenses, a chegada de uma “fragata francesa” que, “sob a proteção de seu governo, se destina a dar a volta ao globo”.22 Os visitantes logo notaram que a paisagem ali era bem distinta: tudo parecia “seco, árido e negro”.23 Alguns noviços se animaram com a subida ao Teide, mesmo em época do ano imprópria e arriscada, quando “o preço dos cavalos era exorbitante” e o caminho bastante acidentado, com “pedras pontiagudas que logo fizeram em pedaços as solas dos sapatos”. Sem alcançar o pico do vulcão, tiveram que examiná-lo à distância e sem mulas para retornar, dormiram as duas noites “sob as estrelas”, romantizou um dos jovens.24 Em Santa Cruz de Tenerife, um baile foi oferecido aos viajantes e, como nas demais escalas da viagem, Terloo dedicou boa parte de suas observações às figuras femininas e à sociabilidade do lugar: Algumas senhoras distinguiam-se por sua beleza e amabilidade; quase todas falavam inglês, italiano ou francês. Tocamos músi-
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ca, cantamos, dançamos. Alguém poderia pensar que estava em Paris: o mesmo mobiliário, o mesmo traje; talvez um pouco mais de falta de cuidado.25
As novidades lançadas em Paris, medida universal do “grau de civilização” para qualquer latitude, também frequentavam as páginas do El Atlante, o primeiro diário local. Em 28 de fevereiro de 1839, ele reproduziu a primeira matéria publicada na imprensa parisiense sobre a invenção de Daguerre.26 O jornal, no entanto, teve vida curta e já não circulava quando a expedição chegou ao arquipélago.27 Alguns viajantes fizeram ensaios com o daguerreótipo em Tenerife, de modo que a ilha espanhola conheceu a invenção antes mesmo da metrópole.28 O gravador Ramón Alabern y Casas faria a primeira demonstração pública do processo, em Barcelona, com um equipamento vendido à Academia de Ciências Naturais e Artes (Academia de Ciencias Naturales y Artes), em 10 de novembro de 1839. Essa apresentação em clima festivo, com bandeirolas e banda de música, foi convocada pelos jornais e contou com a presença de notável audiência, embora o tempo estivesse nublado e ventoso.29 O calor e a luminosidade dos trópicos ajudariam os daguerreotipistas do OH. Depois de Tenerife, o OH permaneceu mais uns dias no arquipélago das Canárias, ancorado na ilha de La Palma. 30 Evitando a passagem por Cabo Verde, o navio seguiu direto para a Goréia, na costa do Senegal, onde esteve entre 9 e 14 novembro de 1839.31 Os domínios da França na região foram estabelecidos no século XVII e a cidade de Saint-Louis tornou-se a sede de sua primeira colônia na África (a cidade de Dakar, fundada em 1857, passaria a capital somente no século XX).32 A 165
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ilha oferecia um ancoradouro seguro na baía de Dakar. Era bem próxima do continente e o porto onde antes havia um trânsito intenso de embarcações com africanos escravizados abrigava agora uma guarnição de sessenta homens e dois brigues da Marinha francesa.33 Por ali passava o ouro, a borracha, o açúcar, o café e as especiarias que enriqueciam armadores e comerciantes. 34 Terloo estava encantado com a abundância de pássaros, insetos, papagaios e macacos que faziam “mil caretas e brincadeiras divertidas”.35 Mas o que a África possuía de mais surpreendente para os viajantes foi resumido por outro jovem: “é um espetáculo singular ver toda uma população negra”.36 O confronto com a escravidão viria em seguida. Um grupo de doze a quinze alunos e passageiros, atraído pelo “sol brilhante”, “os magníficos baobás”, as “cores quentes” e aquela “população negra” resolveu excursionar até o continente.37 Lá, ofereceram “fósforos, doces e outros objetos” ao rei de Dakar, descrito como “um homem civilizado que fala razoavelmente a língua francesa e o espanhol”.38 O grupo tinha a recomendação de permanecer unido e “não contar jamais com a hospitalidade dos africanos”. Mas o próprio Terloo, embora maduro e experiente, descumpriu a regra: Quase fui vítima das minhas inclinações sonhadoras: vagando em um bosque de palmeiras, com meu criado, ficamos perdidos por dois longos dias e começamos a ter sérias preocupações, visto que os ladrões de escravos são ainda mais temíveis do que as feras perigosas que abundam nesse lugar.39
As cartas para as famílias descreviam os cuidados em um lugar onde qualquer europeu sabia o que temer e um noviço quase foi assassinado: “no Senegal, todo mundo dormiu 166
ao ar livre, enquanto três alunos se revezavam na vigília”. 40 Por isso mesmo, depois de seis horas sem notícias de Charles Jacquot, o grupo já receava pela sorte do jovem belga: “que alegria sentimos quando o vimos novamente, depois de – nós e ele – termos trocados tiros para sinalizar nossa posição!” 41 Filho de “um dos industriais mais inteligentes”42 do país, Jacquot embarcou no OH como “representante comercial”. Tinha a experiência de uma viagem anterior pela América do Sul e recebeu elogios do capitão Lucas pelos conhecimentos práticos nos serviços de manobra.43 Além de vários animais empalhados, a escala na Goréia proporcionou muitas lições e boas lembranças44: os viajantes do OH praticaram a daguerreotipia na costa africana. Naqueles primeiros dias da invenção, possuir o equipamento e demais apetrechos, sem ter a prática necessária, costumava resultar em frustração. Antes das novas demonstrações do outro lado do Atlântico e do retorno à França, era preciso garantir o desempenho desejado. Uma carta publicada no Le Breton, em Nantes, relata o aprendizado: Desde o nosso malogrado ensaio com o daguerreótipo em Lisboa, na presença de suas majestades portuguesas, concluímos nossa formação. Hoje em dia, somos admiravelmente exitosos e por isso não passamos um dia sem daguerreotipar. Quando retornarmos à França, ficará encantado com as placas maravilhosas que mostraremos e que colocarão diante dos seus olhos as vistas verdadeiras – e não as falsificadas ou embelezadas com um lápis mentiroso – dos países que estamos percorrendo. Juntamente com o nosso daguerreótipo, você sabe que também possuímos um fisionotipo, tudo que há de mais típico no mundo,
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iremos assim ora daguerreotipando, ora fisionotipando.45
O missivista, aparentemente francês, não é identificado pelo jornal, mas nota-se que já estava familiarizado com a daguerreotipia. Ele talvez fosse o capitão Lucas, o capelão Louis Comte, o professor Soulier de Sauve ou o passageiro Victor Champeaux de la Boulaye.46 Os exemplares do Le Breton, considerado um “jornal ministerial” por seu alinhamento com a Monarquia de Julho47, são muito raros e não foram encontrados outros relatos sobre a expedição nos exemplares disponíveis, o que dificulta essa identificação. Em todo caso, o trecho revela que alguns estavam ensaiando a daguerreotipia desde a passagem por Portugal, bem como uma narrativa repleta de vocábulos introduzidos pelo fisionotipo e o daguerreótipo, invenções do momento. Se esse relato não for fantasioso, como se constata em outras informações enviadas para casa, então os ensaios com o processo fotográfico vinham acontecendo desde as escalas anteriores na Madeira e nas Canárias. Prestes a cruzar o Atlântico, o capitão Lucas escreveu mais uma vez aos armadores Despecher e Bonnefin: as “novidades do mar”, publicadas no Lloyd Nantais, informavam que “todo mundo se portava muito bem a bordo [e] ele continuava contente com os seus alunos”. Completando, destacou que, “em todos os lugares, o Oriental foi tratado como um navio de guerra”. 48 Com um cenário que se dividia entre o céu e a água, dia após dia, a travessia do Atlântico foi, afinal julgada por alguns jovens como “longa, monótona e sem qualquer encontro extraordinário”.49 Mas essa decepção não correspondia ao prazer do encontro com um barco inglês, descrito por Terloo:
Fizemos uma visita ao Hope London, que nos recebeu de forma encantadora. Havia ali muitas damas bonitas. Fomos convidados para jantar e retribuímos a esses amáveis viajantes, no dia seguinte, todas as gentilezas que tínhamos recebido; então, depois de tantas amabilidades, depois de bradar os nossos hurras, nós nos separamos, o Hope navegando em direção a Sydney e o Hydrographe, em direção a Pernambuco.50
As escalas do OH antes de cruzar o Atlântico: Lisboa, Madeira, Canárias e Senegal. Detalhe do mapa para as “viagens de um estudante nas cinco partes do mundo”, 1835.
Em um ponto, pelo menos, os viajantes estavam de acordo: a «marcha superior” do OH fez o navio ultrapassar todos os outros que encontrou pelo Atlântico.51 Quando a expedição alcançou a linha do Equador, os novatos receberam o tradicional “batismo de linha” e “cada um foi molhado até os ossos”.52 167
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O ritual de passagem para o hemisfério Sul costumava obrigar o viajante da época a encenações burlescas e ao pagamento de tributos, caso não quisesse tomar banho de água salgada.53 Tradição divertida para alguns e farra grotesca para outros, comum entre os portugueses desde o século XVI, a “cerimônia” funcionou também como um ritual de iniciação para os jovens que comandariam a marinha mercante na grande aventura de cruzar os oceanos. O clima festivo terminou quando alguns noviços de “má índole” começaram a se desentender com os oficiais, comprometendo a disciplina e a continuidade da expedição. Esses problemas já tinham sido previstos há tempos, no momento em que um aluno constatou que “pais em apuros, desesperançados de qualquer outro meio de recuperação, fizeram [seus filhos] empreender a viagem como última tentativa de melhora”.54 A passagem pela América do Sul daria razão às previsões mais pessimistas. Desde a chegada ao continente, as impressões de Terloo sobre o Brasil ficaram divididas entre dois extremos, em grande medida complementares e recorrentes. De um lado, o fascínio por um lugar onde “tantas belezas podiam estar reunidas” e “metade da Europa se lançaria se tivesse a mínima ideia da riqueza desse paraíso terrestre”.55 De outro, o choque diante do “espetáculo que atinge mais fortemente o europeu que chega ao Brasil”.56 A escravidão se impunha ao olhar estrangeiro e as observações de Terloo, inspiradas nas ideias racistas da época, tinham ainda uma boa dose de cinismo. A crescente contestação ao tráfico negreiro estava na ordem do dia e ele também enxergou a questão com essas lentes.57 Na África, escreveu brevemente sobre o assunto, limitando-se a certas peculiaridades da Goréia e aos sinais da “inferioridade” e da “preguiça” dos africanos.58 Sinais que, mais 168
adiante, embasaram seu juízo crítico sobre o “embrutecimento moral e físico imposto aos negros por um sistema que lhe parecia repleto de “desvantagens morais e econômicas”. As palavras eram endereçadas a um amigo, mas chegavam a todos os leitores do Le Courrier Belge. Elas advertiam que “as vossas ideias filantrópicas contra a escravidão, tão exaltadas e tão compreensíveis na Europa, se atenuariam bem rapidamente e terminariam não sendo mais que um disparate na América”.59 Estima-se que o Brasil tenha recebido, até 1850, cerca de 4,8 milhões de africanos escravizados, o maior contingente das Américas.60 A falência do sistema escravista, “questão já resolvida para mim”, foi tema de várias passagens na correspondência de Terloo. Entre ideias pseudo-filantrópicas e as teorias de Gobineau sobre a desigualdade entre brancos e negros, o jovem barão concluiu que “o amor pelo trabalho e o respeito à propriedade” eram bem mais compensadores quando “ensinados” aos africanos.61 O reconhecimento pelos ingleses da Independência do Brasil (1822) passava pelo fim da escravidão, acordado quatro anos mais tarde por um Tratado Anglo-Brasileiro. Em 1831, a primeira lei brasileira proibindo o tráfico de escravos foi formalmente aprovada, mas estima-se que o Rio de Janeiro tenha recebido, em um único ano (1837), mais de noventa navios negreiros.62 A Inglaterra, então, aprovou leis que efetivamente resultaram na apreensão de navios portugueses (Bill Palmerston, 1839) e brasileiros (Bill Aberdeen, 1845) que “faziam o tráfico”.63 Ainda assim, cerca de 700 mil africanos escravizados entraram ilegalmente no Brasil, entre 1831 e 1849. A última apreensão de um navio negreiro, depois da proibição formal, em 1850, foi registrada em 1856.64 Essas datas, leis e números são referências pontuais para uma questão de dimensões humanas muito mais am-
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plas. Aqui, servem apenas para a compreensão de que uma expedição da marinha mercante, originária do porto de Nantes, não podia ficar alheia ao intenso tráfico de escravos que cruzava o Atlântico naquele momento, bem como às questões socioeconômicas envolvidas. Terloo, como sempre irônico e perspicaz, não deixou de instigar os ingleses, contestando a ideia corrente de que, sempre que possível, eles libertavam os africanos ilegalmente escravizados: Embora a Inglaterra trabalhe politicamente para destruir a escravidão com o objetivo de arruinar os Estados Unidos, que não podem prescindir dela, bem como arme contra os navios que fazem o tráfico, tão logo um navio inglês tiver capturado um barco negreiro que ninguém imagine que ele o dirija à costa da Guinea para entregar sua carga. O inglês não é mais impróprio do que a justiça, que captura um litigante. Ele simplesmente se dirige para o Brasil, onde vende não apenas as provisões e o navio, como também tudo o que ele contém, incluindo os negros. Mas é necessário dizer em louvor aos ingleses que eles compartilham honestamente o produto com o governo brasileiro e vendem os negros apenas por um período de quinze anos, considerando que estes quinze anos anos foram julgados necessários para introduzi-los nos encantos da civilização. 65
O reconhecimento da Independência do Brasil pela França teve outros contornos e as relações entre os dois países estavam sendo fortalecidas por laços de parentesco da nobreza francesa com a família imperial brasileira, o que parecia benéfico para o reinado de Louis-Philippe.66 Na década de 1830, no entanto, as questões territoriais na região da
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Guiana tensionaram as relações entre brasileiros e franceses.67 Os limites estabelecidos pelo Tratado de Utrecht, em 1713, eram desrespeitados e os conflitos locais criavam “um estado de hostilidade” muito perigoso para qualquer francês vivendo no Brasil naquela época. Em setembro de 1839, o embaixador brasileiro em Paris foi convocado a tratar do assunto com o duque de Dalmatie, presidente do conselho de ministros. No Rio de Janeiro, os ânimos ficaram exaltados e alguns jornais chegaram a pregar um boicote às mercadorias que vinham da França. Diante da ameaça, a colônia francesa pressionou seus representantes para que a questão fosse resolvida de forma conciliatória com o governo brasileiro. Entre fins de 1839 e meados de 1840, a correspondência sobre a passagem do OH no continente esteve misturada a todos esses problemas. O Brasil vivia um período de grande instabilidade. Com a abdicação do imperador Pedro I (1831) e a menoridade do herdeiro do trono, regentes se revezavam no poder enquanto rebeliões eclodiam de norte a sul, ameaçando a unidade do Império. Para um viajante que chegasse ao país naquele momento, o desmembramento do território brasileiro parecia inevitável. Foi o que Terloo imaginou: “este vasto Império do Brasil não poderá existir muito tempo sem se desmembrar”. O problema, naturalmente, não comprometia as oportunidades de negócio que se abriam para “a fortuna de todas as potências marítimas da Europa”.68 Com os processos de Independência, diversos representantes diplomáticos e consulares europeus foram enviados à América do Sul e em torno dessas figuras formou-se uma complexa rede de negociações, práticas de poder e formas de sociabilidade.69 O barão Achille Rouen comandava a Legação francesa, sediada no Rio de Janeiro, como “enviado extraordinário e 169
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O porto e a cidade de Recife, em Pernambuco, em meados do século XIX.
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ministro plenipotenciário” da França no Brasil. Theodore Taunay respondia pela chancelaria, espécie de estado-maior da representação diplomática.70 Quando o apoio de Leopoldo I à expedição se concretizava em Bruxelas, em agosto de 1839, um novo embaixador belga foi ao Brasil. Edouard de Jaegher devia negociar tratados comerciais e diplomáticos, bem como toda a “questão do açúcar” que, a exemplo da França, afetava seriamente a economia belga.71 Tema de intensos debates, a “luta entre os dois açúcares”72 dividia opiniões no
parlamento francês, nas associações e nos jornais. Ela colocava em lados opostos o açúcar de beterraba, produzido pelos agricultores da metrópole e o açúcar de cana, proveniente das colônias.O assunto recebeu a atenção prometida por Lucas à Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional, em correspondência enviada de Montevidéu ao conselheiro Marivault.73 O artigo “Questão do açúcar: o Brasil e o capitão Lucas” foi publicado no Le Moniteur Industriel, em 10 de maio de 1840. O jornal estava alinhado com os que defendiam taxas
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menores para o açúcar de cana importado das Antilhas e outras regiões, a fim de encorajar a indústria francesa e o comércio marítimo. As cifras em vigor eram consideradas “uma proibição disfarçada”. 74 Como capitão da marinha mercante, Lucas entrou nesse debate apontando a necessidade de redução do custo do frete para os artigos franceses levados ao Brasil, algo que podia ser obtido com o carregamento do açúcar de cana na viagem de retorno.75 Em 1839, o principal produto desembarcado por boa parte dos 2.724 navios que chegaram a Nantes era o açúcar.76 As discussões que colocaram em lados opostos armadores e agricultores conferiram à viagem do OH e às opiniões de seu comandante um peso importante na propaganda de uma das partes dessa “luta”.77 A correspondência de Lucas para a Sociedade era representativa da interação entre a marinha mercante, a expansão colonial e os saberes técnicos que emergiam na arena política, traduzindo em termos práticos a utilidade da nova “geografia comercial” para a economia capitalista.78 Uma das principais preocupações da entidade e razão pela qual ela havia dado seu apoio à expedição era, objetivamente, encontrar respostas para a pergunta: “quais são os meios de aumentar as relações comerciais marítimas?”. 79 Um especialista na matéria admitia que “apesar da importância crescente do comércio entre a França e o Brasil, a marinha mercante francesa não tinha se beneficiado desse progresso”.80 O diagnóstico de Lucas era crítico e abrangente. Ele contemplava a concorrência dos ingleses, a falsificação de produtos identificados como franceses, a necessidade de bons representantes comerciais nos mercados locais, a ausência de informações precisas sobre os preços de venda, entre outros tópicos. O prognóstico, contudo, tinha a marca do seu otimismo:
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A França encontra-se numa posição privilegiada para se beneficiar das relações comerciais com esse Império. As crenças religiosas são as mesmas; nossas modas, nossos costumes, nossos usos são copiados com notável ansiedade; nossos artigos de novidades e modismos são consumidos com avidez por lá.81
A primeira escala do OH no “vasto e admirável” Império do Brasil foi o porto de Recife, na província de Pernambuco, onde a expedição esteve de 30 de novembro a 4 de dezembro de 1839.82 As cartas logo seguiram o seu destino, destacando “a saúde, a alegria e, especialmente, o desejo de fazer com que a viagem seja proveitosa para o espírito e os estudos” .83 Como em outros portos visitados, o capitão Lucas escreveu aos armadores Despecher e Bonnefin assim que chegou, indicando “que todos passavam bem”.84 Os despachos ministeriais que acompanhavam o OH, endereçados ao chefe da Legação, foram apresentados pelo comandante ao representante francês em Recife.85 Alphonse Barrère estava no país desde meados de 1839 e ostentava com gosto o título e a liturgia do cargo de chanceler. Com seu vistoso uniforme, fez uma visita ao presidente da província assim que assumiu o posto, esperando que o gesto fosse retribuído, o que não aconteceu. Para seus superiores, escreveu condenando a quebra do protocolo diplomático pelo brasileiro, ocorrido tão somente para “não demonstrar submissão”.86 Os recém-chegados com o OH logo constataram outros problemas que tornavam a vida dos franceses ainda mais difícil no lugar. Como observou Terloo, “o cônsul da França e o presidente da província nem se frequentam; os assassinatos são de dar medo e desembarcamos nessa terra com muito cuidado”.87 171
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Assim que o navio chegou a Recife, ocorreram os primeiros desembarques de tripulantes e passageiros do OH, devidamente assinalados pelo cônsul Barrère nos registros de bordo.88 No exterior, a marinha mercante francesa estava submetida à autoridade do cônsul geral, assistido por cônsules locais, vice-cônsules ou agentes consulares que, subordinados à chefia da Legação, também funcionavam como intérpretes dos capitães junto às autoridades locais. Espécie de polícia marítima, os cônsules da Monarquia de Julho eram vistos, na opinião do próprio representante francês em Valparaíso, como “pequenos tiranos”.89 O trabalho desses funcionários, estabelecido pelo Código de Comércio napoleônico (1807), foi regulamentado pela Monarquia de Julho por “ordenações reais” bastante detalhadas, com vistas à expansão internacional do comércio marítimo francês.90 Essa legislação também previa as obrigações dos capitães da marinha mercante em cada porto: apresentar ao cônsul francês a documentação do navio, da tripulação e dos acontecimentos a bordo (deserções, mortes, navios avistados, etc.); informar erros e omissões em cartas geográficas; entregar um relato entre o último porto visitado e aquela escala, etc. Os cônsules, portanto, auxiliavam os comandantes da marinha mercante e, ao mesmo tempo, fiscalizavam a disciplina de suas tripulações e os aspectos sanitários de seus navios, desempenhando uma função essencial para o controle do Estado sobre tal expansão.91 O desembarque e o repatriamento de qualquer membro da equipagem, isto é, o seu desligamento formal da tripulação e o regresso à França em navio mercante ou de guerra, dependiam da autorização dos cônsules, gerando muitos atritos com os comandantes. Com tamanha autoridade, esses “pequenos tiranos” 172
representaram uma instância de poder e arbitragem dos conflitos envolvendo a expedição com um papel muito importante na história de sua passagem pela América do Sul. A tripulação do OH vinha sofrendo alterações desde as primeiras escalas: para reforçar a equipagem, um contramestre da Galícia embarcou em Lisboa e um marinheiro francês, desertor de um brigue norte-americano, embarcou em Santa Cruz de Ténériffe. Este, contudo, não ficou a bordo por muito tempo, pois desertou novamente quando o OH chegou a Recife. O seu caso, declarado pelo capitão Lucas somente no Rio de Janeiro, foi o primeiro de muitos outros.92 Em Pernambuco, o segundo capitão Martial Daude também deixou o posto, registrando-se apenas “por motivo de doença”.93 O desembarque do capitão substituto foi, sem dúvida, o mais problemático. O comandante teria que arranjar outro para integrar o estado maior da expedição, o que não era fácil naquela conjuntura. Dois alunos (Corbin e o conde de Faudoas), autorizados pelo cônsul Barrère, e outros dois passageiros franceses também aproveitaram a escala e desistiram da viagem. Alexandre Benoist, 42 anos, e Victor Champeaux de La Boulaye, um ano mais jovem, eram proprietários de terras na França. Este último, “amável poeta e viajante infatigável”, segundo o perfil traçado por um de seus descendentes, percorreu o mundo cultivando “amizades lisonjeiras e agradáveis”.94 Às vésperas da partida, o poeta-viajante teria feito um acordo com o capitão Lucas, imaginando-se que a narrativa da viagem ou outra atividade semelhante tenha sido a razão desse acordo.95 Por fim, um jovem “precisou ser desembarcado”, como escreveu o cônsul, “para prevenir um duelo inevitável entre ele e o tenente de bordo, provocado por este último”.96 Auguste
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Cardin sobrevivera a um naufrágio nas Maldívias, mas não suportou a indisciplina reinante no OH. A expedição ainda não tinha deixado Pernambuco e o cônsul Barrèrre já escrevia sobre os problemas da expedição para o barão Rouen, no Rio de Janeiro: O empreendimento do capitão Lucas pode ter sido capaz de oferecer algumas vantagens à nossa marinha, mas é de se temer, em razão das circunstâncias que surgiram, que ele não atenda à expectativa do Ministro da Marinha. A mais completa anarquia reina a bordo do l’Oriental. Duelos ocorreram entre oficiais e alunos. Estes últimos, impondo regras ao capitão, anularam a disciplina necessária ao sucesso da expedição. Ontem, em um café de Pernambuco, o tenente esbofeteou e provocou um dos alunos para um duelo. Controlei essa situação, cujas consequências só poderiam ser fatais em um país onde o duelo é proibido.97
O duelo, como forma de reparar uma infâmia ou defender a honra, era uma solução cada vez mais rara, condenada em muitos lugares. Na França, depois da Revolução, passou a ser visto como um combate antiquado e reprovável, típico do Antigo Regime. Por outro lado, aquele ritual elegante, exibido pelos jornais, romances e pinturas, fazia da arte de duelar uma prática ainda distintiva e bastante popular.98 Por isso mesmo, ele encontrou na literatura francesa a sua melhor definição: “quando de dois homens vivos um deve desaparecer, é preciso ser um imbecil para deixar a decisão por conta do acaso”, escreveu Balzac, em Le père Goriot (1835).99 No OH, o tédio de antes tinha dado lugar aos duelos e motins que, agora, comprometiam a continuação da viagem. O barão Rouen recebeu relatos dos
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representantes francêses de Pernambuco e Bahia sobre os duelos e as deserções no OH, mas logo constatou por si mesmo incidentes ainda mais desagradáveis que ocorreriam no Rio de Janeiro. Quando Lucas escreveu ao ministro da Marinha, depois do naufrágio do OH, reclamando da conduta dos cônsules franceses, ele mencionou especialmente os casos de Recife e Valparaíso.100 Terloo procurava manter o ânimo para continuar a viagem, apesar dos problemas a bordo e, agora também, das picadas de insetos. Nas entrelinhas, antecipava o que vinha pela frente: A saúde, a alegria e, especialmente, o desejo de conduzir a viagem em benefício do espírito e dos estudos reinam o tempo todo. No entanto, alguns se propõem a voltar ao seu país quando estiverem no porto do Rio de Janeiro, para o qual nós partiremos em poucas horas.101
O segundo porto visitado no litoral brasileiro foi Salvador, onde o OH esteve por uma semana, entre os dias 8 e 16 de dezembro de 1839.102 Antes de entrar na Baía de Todos os Santos, a expedição registrou o único óbito da viagem (7 de dezembro). O acontecimento fez crescer entre os jovens a insegurança e a vontade de voltar para casa: “esta é a esperança de todas as horas, mas infelizmente nada pode ser garantido...”103 A morte do jovem belga Pierre Louis recebeu de Comte as honras fúnebres celebradas nesses casos: “nosso capelão, em hábito pontifical, concedeu-lhe todo o consolo de seu piedoso ministério”.104 O Correio Mercantil, principal jornal de Salvador, registrou a chegada do OH com “alguns passageiros e vários soldados” que, depois de percorrerem os portos do Brasil, seguiriam “para Montevidéu, em descobertas”.105 173
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Panorama da cidade de Salvador, em duas partes, no Universo Pittoresco, “jornal de instrução e recreio” de Lisboa, 1843.
O aniversário do futuro imperador (2 de dezembro), agora com catorze anos, era assunto para os jornais e as observações do cônsul da França, também recém-chegado a Salvador.106 As celebrações da data, repetidas por quase cinquenta anos, tinham uma dupla dimensão simbólica: a construção da figura pública do monarca e, ao mesmo tempo, a sua identificação com o fortalecimento do próprio Estado imperial.107 Para marcar a ocasião, um farol moderno, com instalações em alvenaria, novo sistema de iluminação e alcance visual muito maior, importado da Inglaterra, foi inaugurado na capital baiana, 174
junto ao forte de Santo Antônio da Barra, onde se encontra até hoje. Para um dos alunos do OH, a atmosfera reinante em Recife e Salvador podia ser assim resumida: “esses dois portos marítimos têm um aspecto muito animado e tudo indica que as relações comerciais ali são acompanhadas de perto”.108 Capital da colônia até 1763, Salvador não se confundia com as demais capitais de províncias e seu porto ainda era o mais importante do país. Os jornais anunciavam um divertimento que também chegava à cidade naqueles dias: o cosmorama, já conhecido em algumas capitais como Rio de Janeiro e Mon-
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tevidéu.109 A palavra e a diversão, popularizadas desde princípios do século XIX, indicavam o espetáculo produzido pela observação de cenas e paisagens, com efeitos luminosos, através de um dispositivo ótico. Esse gênero de atração competia na Europa com o sucesso dos panoramas (rotundas cenográficas), dioramas e outros aparatos para “divertimento público” por efeitos visuais, portáteis ou não. Uma demonstração do daguerreótipo em Salvador, onde viviam muitos estrangeiros, com certeza teria atraído a atenção desse tipo de espectador.110 Embora não existam referências sobre o assunto na imprensa local ou nas
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cartas da expedição publicadas em jornais europeus, o uruguaio Teodoro Vilardebó fez um comentário que indica a possibilidade do equipamento ter sido empregado na capital baiana. Convivendo com os viajantes do OH, ele registrou que “Montevidéu, depois da Bahia e do Rio de Janeiro, foi um dos três pontos da América do Sul que proporcionaram ao daguerreótipo belos e interessantes pontos de vista para copiar”.111 Em Salvador, como em outras ocasiões, os exercícios com o aparelho devem ter ficado restritos aos daguerreotipistas do OH, mas não está claro na frase de Vilardebó se tiveram sucesso ou não. 175
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Vista de Salvador, “cidade da Bahia”, no álbum de um viajante inglês pela costa brasileira, entre abril e setembro de 1840. William Henry Swinton fez diversas observações sobre os locais visitados e alguns episódios da história naval ligados à Inglaterra no verso de cada imagem.
Uma demonstração pública do invento teria aparecido no Correio Mercantil e, talvez, ela estivesse reservada para o Rio de Janeiro. O que se observa, a partir de Salvador, é o papel ainda mais ativo dos jornais na história do OH. Afinal, a imprensa jovem e militante do continente “influenciava e era influenciada por vozes, falas e gestos não escritos, em via de mão dupla, numa complexa teia de circulação, recepção e retransmissão de conteúdos que ultrapassava o espaço impresso”.112 A importância atribuída a esses periódicos na difusão das ideias, saberes e maquinismos trazidos pelo OH apoia-se na percepção de que o mundo dos impressos, com suas práticas e inova176
ções, e o universo marítimo, no qual artigos e ilustrações buscavam inspiração e clientela, construíam imaginários em escala internacional. Como outros inventos desembarcados em Salvador, o Correio Mercantil comunicou a existência de um “novo modo de suprir a escultura” ao divulgar, em 13 de dezembro de 1839, o fisionotipo trazido pelo OH: O capitão da corveta Oriental que se dirige a fazer a viagem de instrução à roda do mundo, a fim de obter tudo o que pode interessar às ciências, ao comércio e à indústria da França traz em sua companhia um artista para estampar os povos os mais
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remotos e menos conhecidos, com o intuito de enriquecer os museus franceses. Esse artista, que antes de sua partida de Paris fez por seu particular método um busto de toda a família real [sic], previne aos habitantes desta cidade que ele se aproveita de sua demora neste porto para modelar as pessoas que desejarem ter a sua perfeita efígie. A operação é executada no espaço de 2 a 3 minutos e quem o pretender se pode dirigir a Mr. Sauvage a bordo da dita corveta que pouca demora terá [em Salvador].113
Projetos editoriais, ambições políticas e abstratos universais (“o” comércio, “a” indústria, “a” família, etc.), sintetizados por títulos e subtítulos na primeira página desses jornais, são indicativos da duradoura aspiração das elites latino-americanas em fazer a “cidade letrada” cumprir sua missão civilizadora, “como anel protetor do poder e garantidor de suas ordens”.114 Nesse sentido, as narrativas da imprensa local sobre uma expedição que se realizava “em proveito da ciência, do comércio e da indústria” associavam a introdução do fisionotipo e do daguerreótipo na América do Sul às figurações do poder no espaço público (o monarca, a corte, a cidade, o museu, etc.). Essas invenções materializavam a ideia de que as representações do mundo social, ainda que singularizadas na efígie do rei, ou exatamente por causa disso, estavam ao alcance de qualquer um. Cultura letrada e cultura visual promoviam, assim, a construção de sentidos para esses espaços e, ao mesmo tempo, a educação do olhar de espectadores e praticantes de tais dispositivos, convencidos de seu espírito científico e liberal. As demonstrações do daguerreótipo trazido pelo OH ajudaram a moldar aquele “anel protetor”.
O navio L’Hercule, da Marinha francesa, e outras embarcações ancoradas na baía do Rio de Janeiro, em 1838. O príncipe de Joinville viajava a bordo, tendo sido promovido a capitão de corveta em sua passagem pelo Rio de Janeiro, ocasião na qual conheceu o futuro imperador do Brasil e suas irmãs. Outro membro da expedição era o artista e autor da imagem. Desenhista, pintor, litógrafo e, mais tarde, daguerreotipista, Durand-Brager pertence à geração de artistas que transitou com facilidade entre as diversas tecnologias visuais em voga nos anos 1830-1840. Ele foi também um “homem do mar” e viajou como oficial da Marinha francesa pela Europa, África, Oriente e América, lugares que representou em diversas paisagens marinhas. Em 1840, integrou a expedição comandada pelo príncipe de Joinville encarregada de levar os restos mortais de Napoleão para a França. As batalhas navais e as cenas marítimas, expostas no Salão de Belas Artes de Paris, a partir de 1840, constituem a parte mais significativa de seu trabalho.
O novo cônsul francês em Salvador era Maxime Raybaud, militar por formação e funcionário experiente.115 Em seu primeiro comunicado no posto, enviou um relatório circunstanciado sobre as “deficiências” do OH.116 A correspondência seguiu em 21 de dezembro de 1839, chegou ao Quai d’Orsay dois meses depois e em uma semana já estava no ministério da Marinha. Ciente de que o capitão Lucas apresentava “uma carta testemunhando o interesse de Vossa Excelência 177
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pela expedição que empreendeu”, o cônsul começou e terminou sua carta com elogios ao comandante: O capitão Lucas, que me parece um oficial extremamente louvável, pode não ter a energia indispensável para conduzir a bom termo um empreendimento de tão grande importância, cuja responsabilidade não temeu em assumir. A manutenção interna do navio, tão necessária para a preservação da saúde, sofre quase tanto quanto a disciplina e, para aumentar as preocupações de sua posição, ele trouxe consigo a esposa, a irmã, uma filha muito jovem e ainda permitiu que um dos professores também trouxesse consigo a esposa. Mas talvez ele tenha acreditado que tal determinação de sua parte seria para as famílias de seus jovens passageiros uma garantia de maior vigilância e segurança.117
O longo relato estava recheado, no entanto, com todos os problemas da viagem: duelos na travessia do Atlântico, desembarques em Recife, um óbito na chegada a Salvador e, sobretudo, a falta de comando do capitão. Raybaud criticou Lucas por deixar de punir e denunciar Daude ao consulado, ainda em Pernambuco. O segundo capitão, antes de desembarcar, tinha “esbofeteado e golpeado violentamente” o tenente Durassier, obrigando este último a deixar seu posto em Salvador, realmente “por motivo de doença”. A tolerância de Lucas expunha uma das principais “deficiências” do OH: a expedição não contava com equipagem suficiente e ficava à mercê da indisciplina. O capitão, dizia o consul, seria “forçado a conseguir um bom número de marinheiros (estrangeiros, sem dúvida) no Rio ou em Montevidéu, antes de dobrar o Cabo 178
Horn”. Raybaud também alertou o ministro de que vários noviços desejavam abandonar a expedição, mas ele tinha sido capaz de convencê-los, “felizmente”, a prosseguir até o Rio de Janeiro. Embora “tratados de forma esplêndida a bordo”, os jovens ficaram furiosos ao descobrir que tinham sido levados,“sem o seu conhecimento”, como “noviços voluntários”. Eles estavam registrados na tripulação do OH, com um pagamento de 10 francos por mês, para cumprir tarefas que, simplesmente, não queriam realizar: Muitos se queixaram amargamente para mim e me congratulo por ter sido capaz de fazê-los entender que tal disposição era inteiramente a seu favor, uma vez que esse tempo de navegação lhes seria computado, caso desejassem abraçar a carreira marítima.118
O reverendo Daniel Kidder, já mencionado anteriormente, embarcou em Salvador e seguiu com o OH até a capital do Império. Como os demais, estava ansioso para avistar o farol da ilha Rasa, uma indicação para todo viajante da proximidade do Rio de Janeiro. Ele gostaria que o navio cruzasse a entrada da barra e entrasse na baía ainda em claro. Por volta do meio dia, em 23 de dezembro de 1839, um dos alunos relatou: “já avistávamos a montanha do Pão de Açúcar à entrada do porto do Rio e, a partir desse momento, todas as lunetas foram direcionadas para lá”.119. Com as fortalezas da Laje e de Santa Cruz de cada lado, essa passagem estreita era motivo de preocupação para o reverendo, pois os ventos e as correntes marítimas jogavam os navios contra os rochedos. Kidder descreveu a situação: O momento foi de grande comoção e perigo. Nossa situação foi percebida nos for-
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tes, que prontamente dispararam armas e queimaram luzes brancas e azuis para nos mostrar sua posição. [...] Difícil imaginar cena mais sublime. Estrondosos trovões de canhão ecoaram nos picos das montanhas ao redor e o brilho reluzente das chamas artificiais apareceu muito intenso no meio da extraordinária escuridão. Felizmente para a
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embarcação e todos a bordo, o vento refrescou a tempo e nos conduziu até o ancoradouro dos navios de guerra onde, às nove horas, estávamos já atracados com não menos que setenta braças de corrente.120
Planta da cidade do Rio de Janeiro, com a relação dos logradouros, c. 1840. O Largo do Paço, na letra F, em frente à Praia do Peixe e à Praia do Manoel [sic].
O perigo, depois de superado, acabou representando uma razão a mais para o 179
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encantamento com a visão da cidade e sua moldura natural. Porto mítico, o Rio de Janeiro fazia os franceses lembrarem “as proezas de Duguay-Trouin”, escreveu certa vez o príncipe de Joinville.121 Quando Louis de Bougainville passou pela nova sede da colônia, conseguiu com muita habilidade ser recebido pelo vice-rei, pois a metrópole portuguesa não queria intrusos na “joia mais preciosa” da Coroa.122 Desde a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, em 1808, a situação tinha mudado bastante. Onde Cook, Byron e outros não foram autorizados a desembarcar, o OH seria recebido agora por cinco semanas, a escala mais demorada da viagem, entre outras razões “porque era preciso fazer muitas modificações no navio”.123 A estrita vigilância de antes dera lugar a um porto frequentado por todas as bandeiras, onde os navios formavam uma espécie de “comunidade flutuante”, submetida a normas fiscais e regras sanitárias, mas também a códigos de conduta e gestos de cortesia entre as tripulações.124 Os bailes e os jogos oferecidos pelo príncipe de Joinville no l’Hercule, característicos da sociabilidade no meio naval incluíam, por exemplo, a visita a seus aposentos pelos “apreciadores de gravuras”.125 Uma ampla tradição iconográfica projetou a baía do Rio de Janeiro entre as mais belas do mundo. Embarcações e construções de todo tipo compunham paisagens delineadas “diante da natureza”, interpretadas posteriormente em ateliês europeus pela imaginação fantasiosa de gravadores e litógrafos. A fidelidade e perfeição do registro fotomecânico, como anunciavam os entusiastas do daguerreótipo, logo formariam outras visões da cidade. Terloo, fascinado por um cenário “tão celebrado pelos turistas”126, também se impressionaria com o “afrancesamento” na capital brasileira: “fica-se realmente surpreso 180
de aí encontrar reunidos todos os confortos e luxos da civilização mais refinada”.127 O OH ancorou no Rio de Janeiro quando já era noite, segundo o testemunho de alguns viajantes.128 O Jornal do Commercio e o Lloyd List indicariam o dia 24 de dezmbro “nas entradas e saídas do porto”.129 O chanceler da Legação, por sua vez, registrou a chegada do OH nos documentos de bordo somente três dias depois, provavelmente quando alguns membros da expedição deixaram o navio para se hospedar na cidade. O comandante Lucas vinha com a missão de ampliar as relações comerciais entre a França e o Brasil, imaginando ser recebido pelo futuro imperador para lhe apresentar o daguerreótipo e outras novidades que podiam favorecer as relações entre os dois países. Tão logo chegou, escreveu aos armadores em Nantes e iniciou os contatos para concretizar esses objetivos.130 Antes, porém, era preciso cuidar do navio e reforçar a equipagem. Depois de incorporar dois marinheiros espanhóis em Salvador, um novo cozinheiro e um marinheiro no Rio de Janeiro, ele aceitou também que o brasileiro Manoel de Oliveira Arruda, descrito pelo barão Rouen como pertencente “a uma das famílias mais opulentas e recomendáveis”, se juntasse ao OH.131 Os desembarques e as deserções foram, contudo, bem mais numerosos. O professor Soulier de Sauve decidiu deixar expedição na capital brasileira, pois tinha “a esperança de obter uma cadeira na Escola Militar”.132 Os noviços Baudrillart, Briges, Fussey, Lestrange, Montesquiou-Fezensac, Normand, Sauvage (Frédéric) também desistiram da viagem, desembarcando no Rio de Janeiro com autorização do chanceler Theodore Taunay.133 Os que ficaram podiam visitar a cidade em pequenos botes que alcançavam o Cais Pharoux, retor-
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nando ao navio antes do anoitecer.134 Os perigos da cidade eram tão conhecidos quanto suas belezas naturais. A escravidão nas ruas oferecia uma visão, no mínimo constrangedora, para qualquer europeu que estivesse de passagem. O confronto com a nudez de africanos recém-chegados ao cais do Valongo, geralmente subnutridos e maltratados, era chocante. Pior ainda era observar a exibição pública dos castigos corporais impostos aos que cometiam algum delito. Escravos fugidos, por sua vez, escondiam-se em ruelas miseráveis ou nas matas do Rio de Janeiro.135 A violência do sistema escravista expunha os que se aventuravam a um passeio pelos arredores do centro urbano a assaltos e outros imprevistos. Para completar o quadro, as doenças contagiosas, comuns em qualquer cidade portuária, eram ainda mais assustadoras no maior porto escravista das Américas.136 Os viajantes do OH, de modo geral, não sofreram desses males. Pelo contrário. Um dos alunos belgas mencionou que, no Rio de Janeiro, “todos receberam a mais amável acolhida”. 137 A expedição trazendo um cirurgião que oferecia seus serviços aos habitantes atraiu de imediato a simpatia dos mais necessitados. Desde as ilhas Canárias, o doutor Thomas vinha fazendo cirurgias de catarata e se tornou “objeto de uma verdadeira idolatria por parte dos habitantes”.138 A técnica de extração do cristalino oferecia, desde o século XVIII, uma nova perspectiva para pessoas que estavam sem enxergar há anos e, embora encontrasse resistências no meio médico, teve grande expansão no século XIX.139 Quanto mais o cirurgião exercitasse a nova técnica, melhores eram os resultados obtidos. O doutor Thomas seguiu, assim, oferecendo consultas e operando as “doenças dos olhos”, até chegar a Valparaíso. Ele também era adep-
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to da homeopatia, corrente da medicina que estava cercada de controvérsias no meio médico e ajudou a promovê-la na América do Sul. A “utilidade incontestável da expedição”, tal como previsto, devia alcançar vários ramos do conhecimento e transformar a viagem do OH em um empreendimento memorável. Em Bruxelas, o Le Courrier Belge indicou que 6.000 franceses viviam no Rio de Janeiro, número calculado por um aluno que correspondia ao dobro do estimado pelo barão Rouen.140 Para o jovem belga, não parecia exagero afirmar que a maior parte dos habitantes falava a língua francesa ou que, descontando-se a presença dos negros, era possível imaginar-se em uma cidade europeia.141 Se, nesse aspecto, a capital brasileira soava familiar e receptiva, por outro, era nítida a desconfiança que o estrangeiro despertava entre boa parte dos
Personagens da área portuária em frente ao Paço Imperial, no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XIX. Diante do chafariz colonial, marinheiros e soldados descansam “após o jantar”, enquanto africanos escravizados trabalham para seus senhores, vendendo alimentos e bebidas aos viajantes.
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o “lado de cá” do Atlântico, informou o Jornal do Commercio, em 17 de janeiro de 1840, na seção de “notícias científicas”. Dias antes, o diário publicou matérias que também podiam ter cruzado os mares com os viajantes do OH: um artigo de Jobard sobre os “retratos fotográficos” e um texto sobre as experiências fisionômicas de Lavater e a arte de ressaltar as características do indivíduo com o fisionotraço e o fisionotipo.144 As palavras escolhidas pelo redator exprimiam bem a expectativa em torno de uma novidade já anunciada pelo próprio jornal, desde o ano anterior.145 Com expressões que acabavam de ingressar no vocabulário corrente, ele resumiu em poucas palavras a procedência, a data, o local, a autoria, o processo, a duração, o resultado e o impacto dessa experiência na perspectiva dos contemporâneos: O chafariz colonial no Largo do Paço, no centro do Rio de Janeiro. Daguerreótipo atribuído a Louis Comte, 1840.
habitantes. Acostumado a sociabilidades mais requintadas, Terloo reclamou dessa atmosfera, como se o viajante fosse “um aventureiro, um fugitivo das galés”. Ele também condenou a ignorância feminina (“não sabem uma palavra de geografia”) e a conversação rasteira das rodas masculinas (“teatro, cavalos, cachorros, dançarinas, eles não saem disso”).142 Só quando fez um passeio ao outro lado da baía, em Praia Grande (atualmente, Niterói), colheu manifestações positivas dos anfitriões: “no interior, a hospitalidade é plena e completa, o viajante é alojado e mimado, mesmo entre os mais pobres, que jamais querem receber a menor retribuição ou sinal de reconhecimento”.143 Em meados de janeiro, com “tempo bom e mar calmo”, um “ensaio fotográfico” com o daguerreótipo “finalmente” alcançou 182
Hoje de manhã teve lugar na hospedaria Pharoux um ensaio fotográfico tanto mais interessante, quanto é a primeira vez que a nova maravilha se apresenta aos olhos dos brasileiros. Foi o abade Combes quem fez a experiência: é um dos viajantes que se acha a bordo da corveta francesa l’Orientale, o qual trouxe consigo o engenhoso instrumento de Daguerre, por causa da facilidade com que por meio dele se obtém a representação dos objetos que se deseja conservar a imagem. É preciso ter visto a coisa com os seus próprios olhos para poder fazer ideia da rapidez e do resultado da operação. Em menos de nove minutos o chafariz do Largo do Paço, a Praça do Peixe [sic], o Mosteiro de São Bento, e todos os outros objetos circunstantes se acharam reproduzidos com tal fidelidade, precisão e minuciosidade, que bem se via que a coisa tinha sido feita
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pela própria mão da natureza, e quase sem intervenção do artista. Inútil é encarecer a importância da descoberta de que já por vezes temos ocupado os leitores; a exposição simples do fato diz mais do que todos os encarecimentos.146
A matéria do Jornal do Commercio representou por muito tempo um “achado arqueológico” para aqueles que, ainda no século XIX, se ocuparam da chegada da daguerreotipia ao continente, sem outras referências sobre o assunto. 147 Por isso mesmo, a descrição do redator acabou fixando os equívocos do jornal em boa parte das indicações posteriores sobre esse acontecimento. A expressão “abade Combes”, além de grafar erroneamente o nome do estrangeiro, algo comum mesmo no jornal pertencente a um francês, merece outra explicação. O “abade” do OH era o simples capelão de um navio mercante e não o prelado de uma abadia. A tradução literal da palavra abée por “abade” era usual na época e, em francês, significava um “padre secular”.148 A expressão “hoje pela manhã”, por sua vez, parecia indicar que a demonstração ocorrera no mesmo dia, noticiada em edição vespertina. Os leitores da época estavam acostumados a esse tipo de descompasso temporal que, posteriormente, gerou outra confusão, isto é, entre a data da demonstração e a de sua divulgação. O Jornal do Commercio era um jornal matinal, pois tinha adquirido um prelo mecânico em 1836 (“o primeiro que passou o Equador”) e, desde então, no lugar das dez horas de trabalho exigidas pelos antigos prelos manuais, passou a ser impresso em apenas duas horas. Com isso, a tipografia de Jules Villeneuve conseguia imprimir durante o dia mais duas publicações (o L’Echo Français e o jornal ilustrado Museo Universal). As matérias escritas
na véspera (ou até antes) chegavam ao leitor do Jornal do Commercio às seis da manhã.149 Por fim, as referências ao resultado do “ensaio fotográfico” pareciam indicar três daguerreótipos, como muitos acreditaram.150 A frase, na verdade, não é clara e a interpretação de três vistas da cidade, em três placas de daguerreótipos diferentes, é questionável.151
O Jornal do Commercio, em 17 de janeiro de 1840. A seção “Notícias scientíficas. Photographia” traz o relato sobre a primeira demonstração pública do daguerreótipo, realizada, na cidade do Rio de Janeiro.
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A praia Don Manoel e o cais Pharoux, diante do hotel do mesmo nome, edificação que oferecia uma visão panorâmica da área, 1840. A imagem de Adolphe d’Hastrel integra a série Marines et Ports de Mer, publicada pela Imprimerie Lemercier.
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Essas imprecisões, embora mereçam ser esclarecidas, têm menos importância do que a experiência em si e, com ela, a compreensão do interesse e do envolvimento de editores de impressos na difusão e debates gerados pela chegada da daguerreotipia ao Brasil. Infelizmente, o redator não informou quem mais assistiu à demonstração e o próprio jornal quem escreveu a matéria (anonimato comum à época). Outras formas de anonimato e autoria também faziam parte dos “duelos” travados nos jornais. Quinze dias depois do OH deixar o Rio de Janeiro, o Jornal do Commercio publicou um longo artigo de Hercule Florence
sobre a poligrafia, invenção que ele “fez nascer no Brasil”, e a “descoberta da fotografia”: E como até agosto de 1839 nunca me constou que fizessem na Europa essas ou melhores experiências, talvez não fosse temeridade dizer eu que também inventei a fotografia, cujo nome não foi novo para mim, quando pela primeira vez o vi nas folhas do Rio de Janeiro, mas a verdade é que não fui por diante com minhas experiências e que por este motivo não quero atribuir-me uma descoberta a que outrem pode ter melhor direito.152
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As demonstrações de Comte chegaram ao “inventor no exílio” através do Jornal do Commercio ou de seu editor, da mesma forma como suas experiências ganharam publicidade nas páginas da publicação. Dez dias depois dos comentários de Florence, o Jornal do Commercio também estampou o artigo anônimo “Cautela com o daguerreótipo” para alertar seus leitores dos cuidados que precisavam ser tomados com o “traiçoeiro” aparelho.153 Estrangeiros de passagem ou estabelecidos no Rio de Janeiro certamente assistiram à demonstração de Comte, realizada no Hotel Pharoux. O estabelecimento era propriedade de um bonapartista que chegou ao Rio de Janeiro em 1816, com laços de amizade na região de Paimboeuf.154 O prédio de quatro pavimentos, localizado junto ao Paço Imperial, ofereceu aos daguerreotipistas do OH, agora mais experientes, um ponto de vista elevado, tal como o próprio inventor fizera em Paris.155 A demonstração pública realizada por Daguerre, em 7 de setembro de 1839, ocorreu em um balcão no Palais d’Orsay e todo o processamento da imagem consumiu uma hora e meia de trabalho. O inventor garantia que, em um passeio, seria necessário levar apenas a câmara, pois as placas podiam ser sensibilizadas com até quatro horas de antecedência e a revelação com o vapor de mercúrio adiada para depois da excursão.156 Comte posicionou seu equipamento em dos balcões do Hotel Pharoux, obtendo uma visão panorâmica do Rio de Janeiro. Assim, conseguiu registrar o chafariz do Largo do Paço, o mercado da Candelária e a praia do Peixe, alcançando o Mosteiro de São Bento na outra extremidade do núcleo central da cidade. A descrição da experiência ilumina aspectos práticos da preparação, obtenção e processamento das primeiras placas daguerreanas no Rio de Janeiro.
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Em outra parte da cidade, a rotina de estudos de d. Pedro no Paço de São Cristóvão incluía o aprendizado de ciências, letras, artes e outras matérias indicadas à formação do futuro imperador. A figura do monarca ilustrado, explorada pelos jornais e inspirada em sua leitura, foi construída também por aqueles que passaram pelo Brasil no seu reinado. Impressão recorrente no relato desses viajantes, Terloo comentou: “o jovem imperador estuda e se sacrifica [...]; é uma cabeça muito austríaca, herança de sua mãe”.157 Em 1839, d. Pedro começou a estudar as “ciências práticas” e enquanto não realizava suas próprias viagens, recebia com prazer artistas, literatos e outros estrangeiros que desejavam visitá-lo em suas residências.158 O Jornal do Commercio publicou anúncio, no dia seguinte à matéria sobre os daguerreótipos de Comte, informando que
O mercado da Candelária e a praia do Peixe, com o mosteiro de São Bento ao fundo, vistos do hotel Pharoux, no Rio de Janeiro. Daguerreótipo atribuído a Louis Comte, 1840.
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O capelão Louis Comte no rol de passageiros do OH, em sua viagem ao redor do mundo, 1839-1840.
Louis Comte (1798-1867) O professor, capelão e daguerreotipista do OH nasceu em Nantes, a 1 de junho de 1798. Filho de Rosalie Bossy e Charles Comte, sua família vivia na antiga rua la Fosse, junto ao porto e aos negócios portuários aos quais ele também estaria ligado durante boa parte de sua vida.159 Segundo registros do Arquivo Municipal da cidade, o pai era então um alto funcionário da administração bonapartista e tinha propriedades na região da Borgonha. Como outros jovens de famílias relativamente abastadas, Comte ingressou no “grande seminário”, na cidade de Autun (França), onde se ordenou padre. Construído no século XVII, o edifício do seminário chegou a ficar em ruínas depois da Revolução de 1789, mas aos poucos o local recuperou seu prestígio e voltou a abrigar a instituição religiosa. Na Marinha da França, os capelães não eram muito numerosos durante a Monarquia de Julho e exerciam o serviço religioso de forma independente e diletante, como sacerdotes seculares, sem grande cooperação com os demais e, menos ainda, com os bispos.160 O padre encarregado de prover assistência espiritual e intelectual durante a viagem do OH foi registrado como passageiro pela Inscrição Marítima de Nantes. As anotações no rol de bordo indicam-nos, na ausência de um retrato deixado pelo traço de algum desenhista ou litógrafo, que ele tinha “um metro e sessenta centímetros e cabelos castanhos” e era “proprietário” em Grande-Verrière, perto de Autun. Entre 1806 e 1821, época que corresponde, aproximadamente, à passagem de Comte pelo seminário, a cidade contava com quase 10.000 habitantes e, em 1839, pouco mais do que isso. Comte anunciou nos jornais de Montevidéu, quando deixou a expedição do OH para permanecer na cidade, que teria aprendido a daguerreotipia com o próprio Daguerre, a exemplo do que outros fizeram nas semanas seguintes à revelação dos segredos da invenção. Supondo-se que a promoção que fez de si mesmo tenha sido verdadeira, a informação reforça a suposição de que Daguere pode ter colaborado mais diretamente na preparação dos daguerreotipistas ou no planejamento das demonstrações de seu invento pela expedição do OH. A vida desse padre daguerreotipista, cujo nome foi grafado erroneamente quando chegou à América do Sul, ora como “Combes”, ora como “Compte”, fixando-se esse equívoco em boa parte da bibliografia, é ainda muito pouco conhecida.161 A origem, a formação e os negócios de Louis Comte na França e no Uruguai, bem como sua inserção nas redes construídas por franceses e hispano-americanos em Montevidéu e seus vínculos com a maçonaria, antes e depois do OH, são lacunas da biografia desse personagem abertas a novas pesquisas.
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Assinatura de Louis Comte, em carta enviada ao cônsul francês em Montevidéu, em 1846.
Frédéric Sauvage “teve a honra de apresentar o fisionotipo” ao imperador e suas irmãs, no Paço de São Cristóvão.162 Retratos da nobreza, em papel branco ou da China, em tecido ou qualquer outro material, sempre representaram um bom negócio para pintores, gravadores, litógrafos e artesãos. Com o jovem Sauvage não seria diferente. Instalado no Hotel Europa, ele moldou “com elegância e exatidão matemática” os bustos da família imperial com o sistema inventado por seu pai.163 Desde que chegou ao Rio, Sauvage vinha publicando anúncios como o “inventor do novo instrumento (...) e um dos sábios empregados na expedição didática e científica do navio-escola Oriental, encarregado de oferecer aos museus franceses os “tipos” de todos os povos que deve visitar a expedição”.164 Depois de oferecer seus serviços “às pessoas que desejarem ter a perfeita semelhança de seu rosto, seja da face, seja de perfil, quer em busto, quer em medalha” 165 e da visita que fez ao Palácio de São Cristóvão, os anúncios de Sauvage já se referiam ao retratista como “assaz conhecido nesta capital”.166 Ele procurava um artista para ajudá-lo e informou ao público que os bustos imperiais podiam ser vistos no hotel, até a data prevista para a partida do OH. Hospedando tantos artistas, esses novos estabelecimentos também funcionavam como galerias
ou ateliers improvisados. O Hotel da Marinha, por exemplo, àquela altura tinha um retratista e professor de pintura que ensinava a desenhar “por meio de uma máquina admirável”.167 Os retratos de toda sorte e agora também os fisionotipos do imperador atraíram o interesse de uma clientela crescente. Frédéric Sauvage decidiu, então, deixar seu primo Joseph seguir sozinho com a expedição, a fim de explorar o negócio no Brasil.168 O doutor Thomas também queria ensinar sua técnica aos brasileiros e publicou anúncios até conseguir um médico local para “continuar os trabalhos começados como lhe parecer acertado, pois que está nas melhores circunstâncias de assim o fazer”.169 Se é certo que as imagens obtidas com a daguerreotipia “serviram de embaixatrizes da nova técnica” 170, o resultado das demonstrações de Lucas e Comte no Largo do Paço cumpriram esse papel junto ao futuro imperador do Brasil. Os dois não demoraram a fazer sua visita ao Paço de São Cristóvão para demonstrar “o aparelho de Daguerre” a d.
Imagem ilustrativa do fisionotipo, estampada no jornal Musée des Familles, de 1835.
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francesa colocada “ao alcande de todos”, bem como sua incorporação a um “processo civilizador” muito mais antigo, cultivado pelo instituto do mecenato: S.M. e Altezas Imperiais se mostraram muito satisfeitos com as experiências, cujo progresso mereceu-lhes toda a atenção e cujos produtos S.M. o Imperador se dignou a aceitar.174
Quarto de estudos do futuro imperador Pedro II e suas irmãs, Francisca e Januária, no Paço da Boa Vista, c. 1834. Os três assistiram no palácio, localizado no bairro de São Cristóvão (Rio de Janeiro), às demonstrações do aparelho de daguerreotipia trazido pelo capitão Lucas e o capelão Louis Comte.
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Pedro e às princesas Leopoldina e Francisca. Comte, “encarregado do manejo do instrumento”, foi quem teve a “honra de explicar na presença dos augustos espectadores todo o processo”.171 Embora Terloo não esclareça se esteve por lá acompanhando a demonstração do fisionotipo ou do daguerreótipo, ele considerou o palácio admiravelmente bem situado e sua arquitetura das mais elegantes: “visto no pôr do sol, aquilo parece mais um sonho do que realidade!”.172 O casamento da princesa Francisca com um dos filhos de Louis-Philippe era outro assunto do momento: “que conquista para a França!”173 As apresentações do daguerreótipo para Maria II, em Lisboa, e três meses depois, para seus irmãos mais novos, no Rio de Janeiro, representavam outras “conquistas”. Elas promoveram a invenção
Além do rei da França, Daguerre tinha ofertado daguerreótipos a outras cabeças coroadas da Europa: Ludwig I da Bavária, Ferdinand I da Áustria, Nicolau I da Rússia, Guilherme III da Prússia. Nos exemplares que ofereceu, o inventor escreveu: “Prova destinada a constatar a descoberta da Daguerreotipia, ofertada à ...., por seu muito humilde e obediente servo Daguerre”. 175 Assim que chegaram a seu destino, acondicionadas em estojos e molduras que enriqueciam gabinetes, bibliotecas e academias, essas imagens foram exibidas a cientistas, artistas, literatos e editores que trataram de fazer a descrição da novidade chegar a um público muito mais amplo.176 Viajando no OH, os “embaixadores” da invenção de Daguerre seguiram o mesmo protocolo. Entre os daguerreótipos presentados a d. Pedro II, o Jornal do Commercio indicou uma “vista da fachada do Paço tomada de uma das janelas do torreão, e logo em igual tempo, a perspectiva geral que se goza da varanda com todas as mais pequenas miudezas e variações”.177 Em outras palavras, o palácio de onde se avistava o maciço e a floresta da Tijuca, bem como o núcleo urbano em suas “miudezas e variações”, ofereceu uma nova visão panorâmica da “cidade-panorama”. Com as demonstrações da daguerreotipia no Rio de Janeiro, a identificação simbólica do Brasil com as imagens de
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O Paço da Boa Vista, ou Palácio de São Cristóvão, onde Lucas e Comte estiveram para demonstrar a daguerreotipia em janeiro de 1840. O desenho em sépia é de Benjamin Mary, o embaixador belga no Brasil (1834-1838) e retrata o lugar onde os visitantes tinham um ponto de vista elevado para contemplar as montanhas do maciço da Tijuca, no lado sul do Palácio. A legenda “torreão habitado por meu irmão em São Cristóvão, no Rio de Janeiro” foi manuscrita posteriormente, pela princesa Francisca, em seu álbum de recordações.
sua capital começava a ser construída também pelo processo fotomecânico.178 Pouco depois, o Paço de São Cristóvão passaria a contar com um laboratório de química tão bem disposto quanto o gabinete de mineralogia, a biblioteca e a galeria de pinturas. Os livros de contabilidade da Casa Imperial assinalam, em fevereiro de 1840, recursos para a aquisição dos equipamentos e materiais.179 Em março, d. Pedro comprou seu próprio aparelho de daguerreotipia, por 250 mil réis, na loja de instrumentos óticos e produtos diversos do italiano Felicio Luraghi.180 As noções iniciais de química, ele já recebia do português Alexandre Vandelli, seu “professor de botânica e princípios de
ciências naturais”181 e as “instrutivas lições” no “incomparável instrumento de Daguerre” viriam daqueles que soubessem manejá-lo, como Soulier de Sauve.182 Começava ali, na imagem pública do monarca e na memória nacional, a fama de ser d. Pedro II o primeiro brasileiro a praticar a fotografia.183 A descrição da última visita dos membros da expedição ao Paço de São Cristóvão lembrava aos leitores que o Jornal do Commercio, por vezes, já tinha se ocupado da “importantíssima descoberta de Daguerre”.184 A edição dupla, para os dias 20 e 21 de janeiro, era mais abrangente e circunstanciada do que as demais, trazendo também o célebre discurso de François Arago na Câmara dos 189
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gem ao derredor do mundo, dentre todos os resultados desta expedição patriótica, desafiará na Europa um grau particular de interesse; e se deve considerar, como nova recompensa do inventor da máquina, a brilhante aplicação que dela faz o abade Comte nas diversas estações da viagem, e em primeiro lugar aos magníficos sítios do Império do Brasil.187
O OH deixou a capital brasileira na última semana de janeiro de 1840.188 Um artigo intitulado “viagens” defendeu, então, o que parecia ser uma outra consequência da passagem da expedição para a “boa sociedade” do Oitocentos:
Retrato do imperador d. Pedro II, em daguerreotipia, realizado no Rio de Janeiro, c. 1850. Em segundo plano, o aparelho de pose, utilizado para sustentar a cabeça e garantir a imobilidade do modelo.
Deputados, já reproduzido nos boletins da Academia de Ciências de Paris e da Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional, no próprio manual de Daguerre, assim como em diverosos jornais.185 As ideias sobre a invenção expressas por Arago circulavam tanto quanto os aparelhos, as imagens e as notícias ligadas à daguerreotipia. O Diário do Rio de Janeiro, O Despertador e outros periódicos do Rio de Janeiro também traziam artigos sobre a invenção. O Jornal do Commercio, contudo, fez mais do que isso. Seus editores e redatores ajudaram a viabilizar a “extraordinária missão” do OH, atuando como elo de ligação entre o empreendimento, seus personagens e as ideias do “continente civilizador”186 que marcaram a difusão da fotografia na América do Sul: Pode-se prognosticar que a coleção de vistas que trouxer a Orientale [sic] da sua via-
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Se os nossos jovens quisessem aproveitar as vantagens que podem colher das viagens, não podiam ter melhor escola do que a de correr os países estrangeiros. Por este meio formariam os seus costumes, despir-se-iam de inúmeros prejuízos, aprenderiam a conhecer os diferentes modos de pensar dos homens, estudariam o coração humano no grande livro do mundo, onde encarariam as virtudes e os vícios debaixo de outro aspecto que não em seu país natal.189
A viagem entendida com experiência insubstituível na formação e no caráter do indivíduo era, também, o que colocava em evidência a alteridade e o estranhamento decorrentes do confronto com o estrangeiro de passagem pela cidade. Quando o OH levantou âncoras, o Diário do Rio de Janeiro publicou queixas da população sobre os alunos da expedição, “marinheiros da ínfima classe”, e os distúrbios que vinham provocando pelas ruas da cidade. As autoridades precisavam estar “vigilantes”, dizia a matéria, pois “estrangei-
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ros sem a menor educação, sem a menor ilustração, verdadeira desonra dos estrangeiros no Brasil, pisam ao nosso território como país conquistado, e como conquistadores brutais e ferozes querem tratar seus habitantes”.190 As provocações com um “chicotinho”, gozações e insultos a um pobre caixeiro por pouco não resultaram em conflito armado, tendo motivado uma queixa dos moradores junto ao chefe de polícia e aos jornais. Para o noviço Charles Emonce, a viagem no OH podia ser comparada, até ali, a “um verdadeiro inferno”. Emonce escreveu ao pai em tom de desabafo: desde o embarque “cada um fez o que quis”; um professor “só dera três lições” (Soulier de Sauve) e a única matéria bem ensinada tinha sido o desenho (Comte). Os estudos também foram prejudicados por instalações inadequadas e por noviços “amadores”, que viajavam com toda a comodidade nas cabines, somente “por curiosidade e não pela instrução”. A descrição dos duelos, deserções e toda sorte de indisciplina chegava agora às autoridades da Bélgica.191 O pai do jovem remeteu a carta ao governador de Antuérpia e este, ao ministro do Interior e Assuntos Exteriores, em Bruxelas.192 Mas as reclamações de Emonce, inclusive sobre suas dificuldades financeiras, não prosperaram. O ministro, “informado por outras fontes”, argumentou que os problemas do OH estavam sendo resolvidos desde a escala em Pernambuco. A alegada falta de comodidade a bordo, “longe de ser justificada”, ainda provocou uma censura ao jovem por despesas não previstas: Penso, portanto, que o senhor Emonce pode estar tranquilo sobre o destino de seu filho, que parece ter exagerado bastante os inconvenientes dos quais se queixa.
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[...] É preciso aprender a suportar a vida de marinheiro, a não querer todas as suas facilidades e a evitar gastos que não sejam de absoluta necessidade. Neste aspecto, devo testemunhar novamente o meu descontentamento.193
A repercussão dos problemas no Brasil junto às famílias e às autoridades na França foi bem mais problemática. As deserções no Rio de Janeiro de cinco noviços de sobrenomes aristocráticos (Bazin, Chanut, Plantin de Villeperdrix, Ricard e Valori) deram muito trabalho à Legação francesa, especialmente para um chanceler que guardava na memória as responsabilidades do cargo: “a repressão dos delitos dos marinheiros foi para mim objeto de constantes preocupações, sobretudo durante a ausência, em geral longa, dos navios de guerra”. 194 Taunay fez uma verdadeira caça aos desertores do OH em residências e hospedagens da cidade, acompanhado do chefe de polícia. A ausência do conde Edmond de Ricard, 19 anos, só foi registrada pouco antes da partida para Montevidéu: “desertou no Rio de Janeiro [...] capturado e levado de volta à França para o serviço militar (assinado Th. Taunay)”.195 O episódio foi desastroso para o conceito da expedição e de seu comandante. O pai do noviço era o conde Etienne-Pierre Ricard, general e membro da Câmara dos Pares, assembleia distintiva e honorável em torno do rei da França, com raízes ancestrais na história francesa. Assim que o conde soube dos acontecimentos no Rio de Janeiro, informado pelo próprio capitão Lucas, não tardou em escrever ao barão Rouen. A reputação dos jovens estava manchada e, com ela, os sobrenomes que carregavam consigo. Ricard fez severas críticas à expedição: 191
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O senhor não deve ignorar que uma desordem deplorável reinou a bordo do Oriental; que o capitão só evitou os motins por força de concessões, a ponto do primeiro e do segundo tenentes, vendo sua autoridade comprometida a cada instante, pedirem sua demissão.196
Um capitão de navio negreiro, “a espécie mais voraz e audaciosa de corsário”, segundo a opinião de Ricard, aproveitou-se do desespero dos jovens e ofereceu aos desertores a possibilidade de retornarem à França. Proposta aceita, escreveu o pai, “nem tanto por um capricho da juventude [grifado no original], mas para evitar os inconvenientes e até mesmo o perigo de permanecer em um
“Nota para inserir em um jornal do Rio de Janeiro”: No mês de dezembro de 1839, um navio escola com o nome de l’Oriental, tendo a bordo 54 jovens embarcados para fazer uma volta ao mundo, ancorou no Rio de Janeiro. Durante a permanência da tripulação em terra, um estranho designado apenas como capitão de navio negreiro, provavelmente informado das razões que levavam vários estudantes a desejarem sair do l’Oriental, se ofereceu para emprestar-lhes dinheiro e fornecer-lhes os meios de fuga. Cinco desses jovens, sem qualquer experiência, aceitaram essa oferta e o estrangeiro fez com que subscrevessem obrigações que excediam três ou quatro vezes a quantia realmente entregue. Depois, ele os escondeu no interior até que o l’Oriental zarpou de novo. As famílias dos cinco alunos, desviados desse modo de sua viagem, acreditam que devem protestar, uma vez que são seus dependentes, contra os estratagemas através dos quais agiotas extorquiram falsas obrigações de menores. Eles declaram que pretendem recusar o pagamento que lhes forem cobrados e também já tomaram medidas para encontrar os autores de uma maquinação que poderia ter custado a vida a seus filhos, que comprometeu o seu futuro e que é, obviamente, susceptível de processos criminais. [assinado] Conde Ricard Paris, 19 de maio de 1840.197
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navio onde a disciplina não mais existia”.198 Os jovens ficaram escondidos até a partida do OH e quando voltaram ao Rio de Janeiro, a surpresa: denunciados pelo capitão Lucas à Legação francesa, pois todos estavam registrados na Inscrição Marítima de Nantes como noviços do OH, eles foram capturados pelo chanceler Taunay e repatriados no l’Artemise, navio de guerra que vinha do Pacífico.199 Furioso com “o usurário que, por suas ações funestas, tinha determinado a deserção do filho”, Ricard pediu providências ao barão Rouen, não sem uma certa intimidação. Exigiu que uma carta fosse publicada nos jornais do Rio de Janeiro para protestar contra “um tráfico infame [que] havia exposto a vida de cinco jovens sem experiência”, bem como para contestar a dívida que teriam contraído. A mensagem servia, naturalmente, como uma espécie de reparação à imagem das famílias. Os problemas com os jovens começavam a contaminar a correspondência entre a Legação no Rio de Janeiro, os comandantes navais que cruzavam o Atlântico e os ministérios em Paris.200 Em 31 de janeiro, o barão Rouen escreveu ao duque de Dalmatie, ministro de Assuntos Exteriores, que apesar de ter se beneficiado de todas as imunidades concedidas aos navios de guerra, o destino do OH era bastante incerto: Não se pode ainda formar uma ideia suficientemente justificada dos resultados desta expedição que tem em sua organização alguma coisa de incompleta que o próprio capitão Lucas aprecia. A disciplina a bordo deixa muito a desejar e é o que pode vir a pôr em risco o prosseguimento da operação, a menos que a partida de vários jovens de natureza insubmissa e turbulenta facilite o capitão ao exercício de uma autori-
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dade que até agora não foi respeitada de maneira conveniente. 201
As más notícias chegaram rápido ao ministério da Marinha e o barão Roussin recebeu outros informes sobre os problemas da expedição através dos comandantes navais. A contrariedade do ministro aumentava e ele escreveu diretamente ao barão Rouen: as famílias lhe “enviavam diariamente pedidos de informação” e o tio de um jovem apelava para que obtivesse notícias do desertor com a Legação no Rio de Janeiro.202 A pressão sobre os representantes da diplomacia francesa vinha de todos os lados e o “poder de polícia” sobre a tripulação do OH era uma razão a mais para os desentendimentos entre capitães, agentes consulares, altos oficiais da Marinha e seus respectivos ministros. O contra-almirante Dupotet, comandante da Estação Naval do Atlântico Sul, e Jean-Marie Raymond Baradère, o primeiro cônsul da França nomeado para servir no Uruguai, por exemplo, eram duas autoridades que não se entendiam sobre o assunto.203 Dupotet recusava-se a “meter a
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ferros” os marujos mercantes em navios de guerra sem o pagamento de sua alimentação. Contrariado, Baradère escreveu em seu despacho que o verdadeiro motivo da contestação de Dupotet era uma “disputa de autoridade” sobre esses marinheiros.204 A expedição aproximava-se da região do Prata e a atmosfera que já estava tensa com o bloqueio ao porto de Buenos Aires, parecia ainda pior para o OH com todos os problemas a bordo. Do outro lado do Atlântico, a imprensa também começava a publicar as más notícias:
Panorama da área central do Rio de Janeiro, tomado da ilha das Cobras por daguerreotipista anônimo. Os tipos humanos foram desenhados e acrescentados posteriormente, quando o panorama obtido com o processo fotográfico foi transposto para a pedra litográfica pelos artistas Eugène Ciceri e Philippe Benoist e impresso em múltiplas copias por uma das mais famosas editoras de imagens, em Paris.
Temos notícias diretamente do navio-escola Oriental-Hydrographe, de Nantes, Capitão Lucas, pelo Industrie, que partiu da Bahia em 27 de dezembro e chegou ao [porto] Le Havre. Durante sua travessia, parece que alguns distúrbios se manifestaram a bordo do Oriental e que a discórdia reinou entre os oficiais e os alunos, uma vez que na chegada a Pernambuco o segundo [capitão] do navio foi desembarcado, assim como sete alunos dos mais amotinados. Essas desordens se originaram 193
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em disputas que surgiram e cuja violência e continuidade poderiam comprometer a disciplina tão necessária em uma tripulação como a do Oriental.205
Antes de deixar a costa brasileira, o OH passou pelo porto de Santos, entre o final de janeiro e princípio de fevereiro, para uma operação de lastreamento (colocação de peso no porão a fim de dar mais estabilidade à embarcação).206 Terloo escreveu que alguns alunos ficaram hospedados nas casas dos moradores para explorar as montanhas próximas. 207 Encantado com a abundância de pássaros, o colorido das borboletas e a exuberância da natureza, o belga levava uma impressão do Brasil comum a outros viajantes, muito importante para a autoimagem dos brasileiros desde a Independência: As belezas deste magnífico Brasil que nós acabamos de deixar [e] as descrições mais exageradas de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Santos darão apenas uma pálida idéia das maravilhas dessa imensa terra de promissão.208
Os processos de Independência, a abertura para a imigração estrangeira e a expansão dos mercados na América do Sul fizeram do continente uma “terra de promissão”, como diria Terloo, ou um “novo campo geoestratégico”, diriam os especialistas contemporâneos em relações internacionais. Inglaterra e França, “nações preferenciais”, procuravam obter privilégios em tratados de “comércio e amizade” que garantissem a expansão de seus interesses na região.209 As forças do mercado que, em tese, moviam a história obedecendo as “leis da natureza”, isolavam o governo de Juan Manuel de Ro194
sas, político personalista que comandou com mão de ferro a Confederação Argentina, entre 1835 e 1852. A defesa do liberalismo econômico e político, a condenação ao monopólio das rendas aduaneiras no porto de Buenos Aires e uma série de lutas políticas internas completaram o quadro.210 As notícias alarmantes do Atlântico Sul, com hostilidades sofridas por ingleses e franceses na província de Buenos Aires, assim como por embarcações que não podiam navegar em segurança naquelas águas, preocupavam armadores e comandantes navais. O Justine, por exemplo, levava uma carga de açúcar quando sofreu avarias nas proximidades de Montevidéu, em janeiro de 1838. O navio mercante, comandado pelo capitão de longo curso François Lucas, irmão mais novo do comandante do OH, seguia em direção ao Pacífico. Notícias desse tipo chegavam a todo momento ao ministério, aos jornais e aos Annales Maritimes et Coloniales. A França enfrentou as dificuldades com um “bloqueio naval”. No mar, a estratégia era nova e foi concebida como demonstração de força para asfixiar a economia argentina e intimidar o “ditador”, termo empregado à exaustão pela imprensa em outro tipo de cerco ocorrido nessa guerra. O pesquisador Adrien Carré destacou que os jornais de Nantes noticiavam o bloqueio a Rosas e suas “atrocidades” e omitiam deliberadamente os problemas a bordo do OH.211 Em março de 1838, a França iniciou a intervenção com uma esquadra encarregada de apreender quaisquer navios e mercadorias que tentassem entrar ou sair do porto de Buenos Aires. 212 O comandante da missão era o contra-almirante Leblanc, chefe da Estação Naval do Brasil. O porto de Montevidéu, na jovem República Oriental do Uruguai, funcionaria como base das operações da Marinha
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Vista panorâmica, a “voo de pássaro”, de Montevidéu (parte superior) e mapa da cidade e do porto (parte inferior), c. 1807.
da França, considerada “nação preferencial” por um tratado de 1836 (ratificado três anos mais tarde).213 Leitores ansiosos de várias partes da Europa temiam pela sorte dos familiares e amigos que tinham emigrado para a região. As cartas de Terloo, transcritas no Le Courrier Belge informavam as crueldades cometidas na Argentina pelo “louco sanguinário que governa essa república”.214 Elas traçam a figura de um personagem bastante explorado pela imprensa europeia: Buenos-Aires, esta cidade escrava governada despoticamente pelo ditador Rosas, uma espécie intermediária entre o tigre e o chacal, resiste à França e mantém suas
pretensões sobre Montevidéu. [...] Este é o homem com quem a França e Montevidéu têm de lidar agora, o homem que resiste há dois anos ao bloqueio e que se conseguir manter o poder internamente, ainda pode subsistir por anos. Este caso é sério para a França, é hora dela mudar sua política, porque sua hesitação compromete o destino de toda a população francesa do Brasil e de Montevidéu.215
O OH entrou no estuário do Prata em 19 de fevereiro de 1840 e várias cartas foram expedidas através do Maria Key, navio que seguia para Antuérpia.216 Franceses chegados ao porto de Montevidéu há mais tempo tinham 195
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avisado que ele “necessitava de trabalhos hidráulicos urgentes, pois aos poucos se vai entulhando de areia e lodo que as correntes depositam”.217 As obras iniciadas há quase uma década, entre atrasos e interrupções, não resolveram o problema e o movimento de embarcações e mercadorias era agora muito maior.218 Para os jovens já descontentes com a viagem, o pior era permanecer a bordo. O professor Moreau, substituindo Soulier de Sauve no ensino de ciências por um acordo com o capitão Lucas, relatou para o colega da Escola Central de Comércio e Indústria de Bruxelas a sua chegada: Montevidéu, 20 de fevereiro de 1840. Escrevo às pressas, meu caro Louyet, [pois] são sete e meia da manhã e, por volta das oito, eles vêm buscar nossa correspondência [...] Chegamos em Montevidéu ontem, por volta das dez da manhã. Antes que as formalidades fossem atendidas e pudéssemos ir à terra, era meio-dia. Não sei por que não aproveitei os barcos que foram para lá, como fizeram meus camaradas De Moor e Hynderick. Eles se divertiram muito.219
Como em outras ocasiões, Lucas enviou notícias aos armadores Despecher e Bonnefin, tratando tão somente dos problemas no Atlântico Sul, sem mencionar qualquer problema a bordo do OH: Nossos negócios com Buenos Aires estão na mesma situação; Rosas aumenta diariamente o seu exército e a esperança de derrubá-lo continua tão frágil como há seis meses. No entanto, parece que o almirante Dupotet dispôs suas canhoneiras em fileiras para favorecer o lado francês a se aproximar de Buenos Aires. A Divisão [Estação 196
Naval francesa] continua a efetuar prisões e há poucos rebeldes em Buenos Aires. 220
O capitão também aproveitou para despachar pelo Maria Key o aguardado relatório sobre a “questão do açúcar”, desculpando-se junto à Sociedade de Encorajamento à Indústria Nacional pelo atraso no envio de informações e documentos. Em Paris, a correspondência foi lida na entidade com a justificativa de que o capitão “tinha tido que vencer muitos obstáculos para organizar seu empreendimento”.221 Mas ele prometia publicar tudo o que fosse do interesse da Sociedade em um jornal “especialmente contratado para esse fim” (Le Moniteur Industriel). Outros relatórios seriam enviados mais tarde para que a Sociedade pudesse apreciar o “grau de utilidade” da expedição.222 Embora sempre ocupado com as amenidades da viagem, Terloo também observou atentamente os negócios que podiam interessar aos capitalistas belgas. Em Montevidéu, sugeriu que olhassem para uma clientela que começava a crescer no continente: “nós não compreendemos porque nossos impressores não se dedicam aos livros espanhóis e, por conseguinte, a todo o mercado sul-americano”.223 Em outra ocasião, visitou a propriedade de Samuel Fisher Lafone, saladero e cônsul da Bélgica, descrevendo todo o processo de trabalho nos Pampas, a figura e a personalidade do gaúcho, bem como as estatísticas comerciais da pecuária na Argentina e no Uruguai.224 Para quem fazia planos de se tornar cônsul, o balanço crítico da situação era também uma boa propaganda do papel que pretendia ter como agente comercial: Quantas oportunidades afortunadas para a Bélgica haveria em quase todos os países que acabamos de visitar e onde encontrei
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Montevidéu, em mapa desenhado e aquarelado pelo engenheiro português José Cavallo, 1820. O manuscrito com o plano detalhado da cidade de Montevidéu, então província Cisplatina, inclui os nomes e endereços de 853 habitantes, bem como a localização de igrejas, fortificações, habitações, jardins e o mercado municipal recém-projetado.
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por todo lado navios ingleses, norte-americanos, franceses, dinamarqueses, suecos e até mesmo sicilianos, mas nenhum traço de nossa marinha. Por isso, no Novo Mundo não sabem exatamente o que é a Bélgica, exceto por nossos cônsules que são mais numerosos e desocupados do que nossos próprios navios. 225
O barão tinha a ideia de se aventurar pelos pampas e atravessar a Cordilheira dos Andes para reencontrar a expedição somente em Valparaíso, planos que o estado de guerra e a impossibilidade de passar por Buenos Aires abortaram.226 A estadia em Montevidéu coincidia com os festejos de carnaval e, apesar do calor de verão, pareceu prazerosa. O ar era “puro e fresco” em um lugar onde “não se viam pobres como na Europa”.227 Terloo descreveu as brincadeiras de rua, as soirées dançantes e a extraordinária beleza e amabilidade das jovens montevideanas, discorrendo sobre a “encantadora e acolhedora” sociedade local: “você ficaria surpreso de ver como ela tem modos elegantes, como se distingue pelo bom tom e o quanto as artes de recreação aí são cultivadas com sucesso”.228 Os hábitos afrancesados da capital uruguaia correspondiam, de fato, à presença significativa de franceses vivendo na cidade: eram um quarto da população e representavam quase a metade dos imigrantes recebidos pelo Uruguai entre 1836 e 1842.229 O contato de tripulantes e passageiros do OH com alguns desses franceses, especialmente através da maçonaria, pode ter sido estabelecido antes mesmo da passagem da expedição. Lucas, como indicado anteriormente, era maçom230 e Montevidéu, um ponto de convergência de vários maçons: “o exílio europeu encontra nas lojas um refúgio e uma via de inserção”.231 A 198
introdução e reorganização das lojas maçônicas de origem francesa (“Les Enfants du Nouveau Monde”, “Les Amis de la Patrie”) e a institucionalização da maçonaria uruguaia indicavam o fortalecimento de suas atividades no país.232 Sendo ou não maçom, o fato é que Comte contaria com a generosidade de vários compatriotas. O francês de ideias republicanas que chegou a Montevidéu, em 1830, era um deles. Arsène Isabelle embarcara rumo à América do Sul movido pela perseguição política na França e o desejo de aventura do outro lado do Atlântico. Vinha sem dinheiro, mas quando retornou à cidade, em 1837, já possuía uma rede de contatos na região. Personagem de múltiplas facetas (naturalista amador, fabricante de velas, funcionário da Alfândega, agente consular e, suspeita-se, um informante do governo francês), Isabelle escreveu um livro sobre a viagem pelo continente, entre 1830 e 1834.233 Jornais de Nantes divulgavam essas publicações, sobretudo quando dirigidas a um público diversificado, com narrativas atraentes.234 Passaporte para o mundo científico e intelectual francês, a obra aproximou o viajante aventureiro de um naturalista de renome, pois Alcide d’Orbigny também preparava para Museu de História Natural de Paris a edição dos volumes com a sua própria viagem.235 Isabelle tornou-se membro da Sociedade de Geografia de Paris e um contato importante para qualquer francês que quisesse visitar ou fazer negócios na região do Prata. Quando voltou a Montevidéu como agente consular da França236, integrou a primeira expedição ao território uruguaio organizada por uma instituição científica com caráter “nacional”. O Museu de História Natural, inspirado no modelo parisiense, seria aberto ao público em julho do ano seguinte e contava com o
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entusiasmo do médico Teodoro Vilardebó.237 Em época de definição de fronteiras, disputa por terras, combate a epidemias, obras portuárias e uma guerra civil que colocava a estabilidade da República em risco, a instituição era indicativa do lugar reservado à ciência nas prioridades do Estado uruguaio e no projeto de nação das elites letradas do país. Formado pela Escola de Medicina de Paris, Vilardebó foi contratado, em 1836, pela recém-criada Junta de Higiene de Montevidéu para o combate à febre amarela. De volta ao país natal, trazia a influência das novas disciplinas e ferramentas científicas ligadas à natureza (biologia, microscopia, química, etc.), bem como do papel da história e da geografia na construção da nacionalidade.238 Em 1838, nascia o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro para escrever a “biografia da nação” e desenhar o “corpo da pátria”.239 Com Andrés Lamas, Bernardo Berro e outros, Vilardebó fundaria o Instituto Histórico e Geográfico do Uruguai, em 1843.240 Os esforços para viajar, falar outras línguas e trocar conhecimentos integravam um amplo movimento de circulação de ideias e projetos políticos em todas as direções (e não apenas “centro-periferia”), favorecendo aprendizados recíprocos e a formação de redes intelectuais embrionárias.241 Para um “homem de ciências e letras” como Vilardebó, a invenção de Daguerre representava a perspectiva de incorporar um instrumento de estudo da natureza e construção da história. Familiarizado com a língua e a cultura francesas, o processo fotográfico anunciado um ano antes era tão aguardado quanto o navio que agora, finalmente, trazia o invento para a América do Sul. A notícia da demonstração de Comte no Rio de Janeiro tinha chegado à capital uruguaia antes do pró-
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prio OH. Os editores de jornais construíam suas redes e, com a situação vivida na região, o Jornal do Commercio contava com um “correspondente em Montevidéu”.242 Esse fluxo de comunicação funcionava, naturalmente, nos dois sentidos. A matéria publicada na capital brasileira, em 17 de janeiro, foi transcrita pelo El Nacional, em 3 de fevereiro, ou seja, vinte dias antes de Comte desembarcar com o daguerreótipo. O isolamento da Argentina, além de deixá-la fora do roteiro do OH e, consequentemente, do contato com a invenção, privou os leitores de Buenos Aires até mesmo do conhecimento de sua existência:
Retrato de Mariquita Sánchez de Thompson y Mendeville, já familiarizada com câmera de daguerrotipia, em 1854.
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a Gaceta Mercantil publicou uma matéria sobre o daguerreótipo somente em 11 de março de 1840, quando os relatos da novidade apresentada no Brasil e no Uruguai já circulavam através dos jornais.243 Os laços com a comunidade francesa e a expectativa criada pelos jornais facilitaram a acolhida da expedição por lideranças políticas e intelectuais uruguaias, bem como por argentinos exilados e outros estrangeiros que viviam em Montevidéu. A apresentação do daguerreótipo na cidade foi testemunhada, assim, por atores sociais com características bem distintas quanto à sua procedência, formação e gênero. Os relatos de uma experiência inédita e transformadora, em termos individuais e coletivos, foram registrados e compartilhados em cartas e matérias na imprensa que conferiam visibilidade ao espaço urbano como lugar de emergência do moderno. A diversidade e a riqueza dessas memórias singularizam o contato inicial com a daguerreotipia na cidade de Montevidéu, um aspecto bastante original das demonstrações do OH ao longo da viagem. Essas narrativas revelam o desejo de modernidade entre aqueles que viam a si mesmos como capazes de fomentá-la com o progresso e a civilização da pátria, construção discursiva na qual a ideia de “uma arte sem arte”, “ao alcance de todos”, tinha implicações políticas muito claras. Neste sentido, elas iluminam as múltiplas dimensões do ideal de modernidade nesse contexto, seja como realidade tangível no processo de construção dos Estados nacionais, seja como afirmação simbólica de um destino promissor.244 A primeira apresentação foi na casa do cônsul francês André Cavaillon e sua esposa Josefina Areta (a Pepita), uma daquelas montivideanas elegantes e bem-nascidas descritas por Terloo. Presente à reunião, em data incer200
ta entre os 24 e 26 de fevereiro, estava uma portenha que escreveria poucas horas depois sobre a experiência.245 O entusiasmo de uma mulher conhecida por sua “inteligência elevada” está expresso na carta que enviou ao filho: “ontem vimos uma maravilha, a execução do daguerreótipo é uma coisa admirável”. Mariquita Sanchez era viúva de Martin Thompson, primo espanhol, oficial de Marinha e ex-comandante do porto de Buenos Aires, com quem ela participara da campanha pela Independência argentina. Casada em segundas núpcias com um diplomata francês, Jean-Baptiste Washington de Mendeville, ela vivia agora em Montevidéu e frequentava com desenvoltura as tertúlias na cidade.246 A demonstração da véspera é relatada com notável riqueza de detalhes técnicos, o que não deixa de ser surpreendente para quem tinha acabado de conhecer o invento. Em poucas palavras, Mariquita descreveu os procedimentos, os equipamentos e os materiais empregados por Comte como se já tivesse noção do processo. É certo que informações sobre o daguerreótipo vinham sendo reproduzidas em jornais franceses, ingleses ou brasileiros e eles chegavam a Montevidéu. O conhecimento adquirido pela observação foi, contudo, impactante. Como descreveu, “não nos movemos do lado da máquina [...] estávamos encantados”.247 Mariquita também menciona, com certo humor, um daguerreotipo do Rio de Janeiro contemplado na ocasião e o sentido que podia ser atribuído à imagem tão singular: Em uma vista do Janeiro, de uma placa reduzida ao tamanho deste papel (julgue a diminuição da escala), nela você vê pequenos pontos com uma lente de aumento; notas que eram umas camisas e umas meias estendidas na corda no quintal de uma casa
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planos do visível era uma novidade na fotografia”.249 A dimensão perturbadora dessa nova experiência visual promovia a sua aproximação com os “instrumentos filosóficos”, expressão com a qual os amigos ingleses enquadrariam a fotografia como um dos “instrumentos de medição dos efeitos das forças mecânicas e físicas da natureza”.250 Revelando a perspicácia de uma mulher familiarizada com o valor da disciplina no universo marítimo, ela resumiu a viagem de circum-navegação do OH: É uma expedição romântica de jovens inconsequentes, leva professores e faz estudos. A bordo já tiveram mil brigas e alguns vão ficando pelo caminho nos países que vão passando. Coisa curiosa a tal expedição...251
O histórico e o passo-a-passo da invenção que levava o nome de Daguerre, traduzidos e impressos na Espanha, ainda em 1839. A tradução do manual foi realizada pelo médico cirurgião Pedro Mata, membro titular e sócio correspondente da Sociedade Médico Cirúrgica de Montpellier.
que está, sem dúvida, bem longe de pensar que iriam entrar para a história. Que objeto de meditação, Juan mio! [sic]248
A portenha de “inteligência elevada” era uma mulher que contrastava com a platitude de outras figuras femininas observadas por Terloo ao longo da viagem. Em sua observação, de espírito humboltiano, sobre o resultado minucioso oferecido pelo daguerreótipo, ela percebeu que “a capacidade de documentar detalhes imprevistos e de captar os diferentes
O outro observador com quem Mariquita estava junto à máquina, “sem se mover”, era o argentino Florencio Varela. “Homem de letras”, advogado, jornalista e político, ele é considerado por alguns autores como “um dos mais brilhantes personagens da cultura rioplatense da época”.252 Amigo de Juan Thompson, o filho de Mariquita, Varela também escreveu ao jovem sobre aquela demonstração: “passei o dia examinando e vendo o daguerreótipo”.253 Diante da “assombrosa invenção de Daguerre”, encantou-se com uma “arte sem arte”, destinada a “fixar as imagens da câmera escura e que copia a natureza com uma perfeição inconcebível, sem mais agente do que a luz”.254 Exilado em Montevidéu, editor do jornal El Correo de la Plata e ativo participante da vida política e cultural do continente, Varela também participaria das outras demonstrações da daguerreotipia na cidade. A Plaza de la Constitución, em pleno coração de Montevidéu, estava em clima festivo na manhã do dia 29 de fevereiro. O 201
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Litogravura da Igreja Matriz de Montevidéu, a partir de daguerreótipo atribuído originalmente a Louis Comte e, posteriormente, a Florencio Varela, 1840. A imagem produzida com o daguerreótipo foi transposta para a pedra litográfica, impressa e inserida, como estampa avulsa, no jornal El Talismán, da capital uruguaia, em 8 de novembro de 1840.
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evento contou com a presença dos presidentes e membros da Câmara, Senado e Tribunal de Justiça, bem como de figuras diplomáticas, militares, eclesiásticas e civis, além da imprensa, membros da expedição e populares. O manuseio da câmera e o processamento da imagem no interior do edifício do Cabildo contaram com a participação de Vilardebó e Varela.255 Os dois receberam ali lições práticas que Comte ofereceria mais tarde a outros moradores. A convicção de que havia uma clientela disposta a aprender a daguerreotipia
justamente com quem havia trazido a novidade para Montevidéu influenciou sua decisão de deixar o OH e permanecer na cidade. Para Tomás de Iriarte, militar e cronista argentino exilado no Uruguai, a prática do processo parecia “complicada”, mas as lições de Comte resultaram, com surpreendente rapidez e exatidão, em um memorável daguerreótipo da fachada frontal da Igreja Matriz. A imagem, fixada em sua descrição textual, seria repetida por outros fotógrafos, inclusive o próprio Varela, depois dessa primeira experiência:
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Em quatro minutos foram impressos na placa os menores objetos da fachada e a cor branca das paredes do peristilo foi a que mais se destacou, pois é a que menos absorve os raios solares. O chão da praça, os pequenos rastros deixados pelas pessoas que passam e pelas carruagens estavam evidentes. A fragata de guerra francesa, a duas léguas de distância, foi finamente delineada.256
A curiosidade em torno do daguerreótipo e o interesse pelo aprendizado do processo eram tão grandes que, a pedido de Santiago Vázquez, ministro de Relações Exteriores, Comte demonstrou outra vez o uso do aparelho, na tarde do mesmo dia. A experiência foi na casa do próprio ministro e foi ele quem operou o equipamento, com o qual obteve uma vista do Cabildo, presenteada a Vilardebó.257 O médico e naturalista, agora também um daguerreotipista da primeira hora, assistiu e participou das demonstrações como presença de destaque nas recepções oferecidas aos viajantes.258 Os dois relatos sobre o assunto publicados por Varela e Vilardebó, dias depois, testemunhavam o funcionamento e os resultados da invenção, mas também a compreensão de sua história, concepção e promessas. O artigo de Varela no El Correo de la Plata, em 4 de março de 1840, era metódico em seu objetivo de descrever o daguerreótipo “com elementos simples que fazem com que aquele que nunca viu este e outro sistema similar possa compreendê-lo sem maiores dificuldades”.259 Ele tinha em mãos, como declarou, “diários franceses”, o “magnífico informe do senhor Arago à Câmara dos Deputados” e o “folheto que acompanha o instrumento”.260 O manual de Daguerre, trazido pela expedição, traduzido por Varela e transcrito na matéria, era complementado pelo “testemunho
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A imagem do artista viajante no retrato de Adolphe d’Hastrel portando um de seus álbuns de desenhos, c. 1841. Ajudante de campo do comandante da esquadra francesa, Adolphe d’Hastrel ficou responsável pela administração da ilha de Martin Garcia, lugar estratégico para o bloqueio naval. Localizada na entrada do estuário, protegida por sua posição geográfica e com grande variedade de insetos, plantas e solos, a ilha explorada pela primeira expedição científica uruguaia serviu de base para as tropas francesas.
Símbolo maçônico no chafariz da Praça da Constituição, conhecida como Praça da Matriz. Montevidéu, 2019.
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de nossos próprios sentidos, posto que tivemos a sorte de poder observar [os daguerreótipos] com minuciosa liberalidade”.261 Dois dias depois, Vilardebó publicou seu extenso artigo sobre os “vários experimentos do daguerreótipo realizados na cidade”.262 Antes de descrever todas as operações do processo no El Nacional, ele identificou para os leitores o papel do OH na estratégia de promoção cultural e comercial do invento em escala global: Paris, Londres, Viena, São Petersburgo, Berlim, Bruxelas, Madri, Lisboa, numa palavra, todas as cidades importantes da Europa viram com entusiasmo os surpreendentes resultados de um instrumento que tanto honra o espírito humano, por toda parte o nome de Daguerre foi coberto de aplausos. A imprensa periódica, este poderoso instrumento da civilização, fez chegar ao Novo Mundo a notícia de tão preciosa invenção e as pessoas cultas ansiavam pelo momento de poder admirar por si mesmas uma das mais belas criações da engenhosidade. Entendemos que alguns indivíduos curiosos e outros por espírito de especulação manifestamos à Europa nosso interesse pelo novo instrumento ótico, de modo que não demoraría até que fosse satisfeito o anseio público.263
A fotografia, outro “poderoso instrumento da civilização”, corria o mundo. O OH deixou o porto uruguaio em 29 de fevereiro, segundo a anotação do cônsul Baradère nos registros de bordo, mas as “cartas de Montevidéu” escritas por Terloo, publicadas meses depois no Le Courrier Belge, têm a data de 2 de março. A escala na cidade foi 204
encerrada sem qualquer anotação sobre o desembarque definitivo do capelão do OH. Por outro lado, é possível que a passagem da expedição e a decisão de Comte de permanecer na capital uruguaia estejam mencionadas em outros documentos.264 O embarque de Guilhaume Cocq, segundo capitão que substituiu Daude, bem como de um contramestre e mais quatro marinheiros cedidos pelo Alacry, por exemplo, foram registrados por Baradère.265 Duas semanas depois da partida, o El Nacional publicou um aviso do capelão-daguerreotipista: Achando-me continuamente doente a bordo, tive que renunciar à expedição ao redor do mundo que faz o navio L’Orientale, no qual eu desempenhava a dupla função de capelão e professor, e aceitar com a maior satisfação as preciosas vantagens que oferece à saúde o belo clima de Montevidéu.266
O anúncio pretendia ser uma justificativa para a decisão tomada, mas também pode ser lido como uma boa propaganda para as lições que pretendia ministrar em Montevidéu. É possível que Comte também estivesse preocupado em desfazer a má impressão causada pelos alunos da expedição. Dias antes, o El Nacional contendo o artigo de Vilardebó reproduziu uma carta do barão belga na qual acreditava ser sua obrigação defender os jovens do OH. Com uma defesa enfática, Terloo repudiava os “rumores absurdos” de que entre os alunos havia “desterrados, gentes viciadas ou ociosas”. A essa altura, o testemunho de que a “ordem” na viagem não tinha sido alterada e que se algum aluno criasse problemas seria desembarcado soava inteiramente falso.267
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Capítulo 5 1. Reynaud, 1989, pp. 31-32; Flores, 2016. A figura do narrador-viajante e o caráter de experiência fundamental que a viagem adquiriu no Romantismo são desenvolvidos por Süssekind, 1990, p. 48. 2. Humboldt, 1980, p. 37. A frase, na edição francesa da viagem de Humboldt e Bonpland, encontra-se em Voyage de Humboldt et Bonpland, relation historique. Paris, Schoell, 1814, t. I, p. 63. 3. OH - Doc 11.04.1840. 4. OH – Doc 07.11.1839. Carta enviada de Lisboa, por autor não identificado pelo jornal. 5. “Instruction générale adressée aux voyageurs”. In : Société Ethnologique, t. 1, 1841, pp. vi-xv. 6. OH - Doc 06.10.1839. 7. OH - Doc 11.11.1839. O Lloyd Nantais, publicado em Nantes, adotou o sobrenome do fundador do jornal inglês por aproximação com os assuntos navais. Ver outras referências em Fontes Específicas sobre o Oriental-Hydrographe. 8. OH – Doc 23 a 25.10.1839, OH – Doc 31.10.1839. As autoridades portuárias da Madeira não fizeram anotações no registro de bordo do OH. 9. OH – Doc 23 a 25.10.1839. 10. Frame e Walker, 2018. 11. [Anônimo], “Expedição exploradora”, A Flor do Oceano, 16 de janeiro de 1840, p. 8 12. “Expedição ao Polo Antártico”, A Chronica, 23 a 25 de outubro de 1839, p. 1. Ver também sobre a questão, já comentada no capítulo 1, Schaaf, 1992, esp. pp. 79-80. 13. OH - Doc 25.11.1839 (a). 14. OH - Doc 29.01.1840 (a) O autor refere-se ao seu “doméstico” e a carta foi escrita na Goréia, em 9 de novembro, e em Pernambuco, em 3 de dezembro de 1839. 15. OH - Doc 12.06.1840 (b). 16. OH – Doc 06.10.1839 e OH – Doc 12.06.1840 (b).
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17. OH - Doc 29.01.1840 (a). 18. Santos, 1942, p. 45. 19. OH - Doc 29.01.1840 (a). 20. OH - Doc 11.04.1840. 21. OH - Doc 00.00.1839-1840. 22. OH - Doc 29.10.1839 (b). 23. OH - Doc 29.01.1840 (a). 24. OH - Doc 11.04.1840. 25. OH - Doc 29.01.1840 (a). 26. Henri Gaucheraud, “Beaux Arts; nouvelle découverte”, Gazette de France, 6 janvier 1839. 27. Cadenas, 1999, p. 11. Os jornais estão disponíveis no site da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria em www.jable.ulpgc.es/atlante. 28. OH - Doc 28.12.1839 (b). Os ensaios com o aparelho em Tenerife são uma dedução lógica, baseada no comentário posterior de que o grupo vinha “daguerreotipando” desde Lisboa. Apud Ramires, 2014, pp. 18-19. 29. Sougez, 1994, pp. 212-220. 30. OH - Doc 11.04.1840. A informação é mencionada nessa carta e não consta no registro de bordo do navio (OH – Doc 00.00.1839-1840). 31. As anotações no registro de bordo (OH – Doc 00.00.1839-1840) indicam a permanência na Goréia entre 10 e 13 de novembro, mas Terloo comenta: “em 9 de novembro, nós ancoramos no porto de Goréia [...] em 14 de novembro, deixamos a Goréia”. Cf. OH - Doc 29.01.1840 (a). 32. Entre 1804 e 1817, a Goréia esteve sob controle inglês, quando foi restituída à França com a imposição de restrições ao tráfico negreiro. Ver www. en.wikipedia.org/wiki/HistoryofSenegal. 33. OH - Doc 11.04.1840. 34. OH - Doc 29.01.1840 (a). 35. OH - Doc 29.01.1840 (a). 36. OH-Doc 11.04.1840 várias cartas (do Senegal ao Uruguai) transcritas pelo jornal e comentadas pelo passageiro belga Désiré Charles Pierre.
37. OH - Doc 11.04.1840 e OH - Doc 29.01.1840 (a). 38. OH - Doc 11.04.1840. 39. OH - Doc 29.01.1840 (a). Pela referência ao criado Vridays, trata-se do barão Popelaire de Terloo. 40. OH - Doc 11.04.1840. 41. OH - Doc 11.04.1840. 42. OH - Doc 20.08.1839. 43. OH - Doc 31.10.1839. 44. OH - Doc 29.01.1840 (a). 45. OH – Doc 28.12.1839 (b). A carta, publicada pelo jornal sem a indicação do autor, foi parcialmente transcrita por Ramires, 2014, p. 19. 46. Lucas, Comte e Soulier de Sauve seguramente praticavam a daguerreotipia, mas a linguagem floreada também sugere Boulaye ou Terloo. 47. Libeaudière, 1900, p.202. 48. OH - Doc 26.12.1839. 49. OH - Doc 11.04.1840. 50. OH - Doc 29.01.1840 (a). 51. OH - Doc 29.01.1840 (a). 52. OH - Doc 29.01.1840 (a). 53. Bandeira, 2006, p. 37. 54. OH - Doc 06.10.1839. 55. OH - Doc 12.06.1840 (b) Publicadas ao longo dos meses de junho e julho de 1840 (12/6; 14/6; 16/6; 20/6; 28/6), contém observações sobre diversos temas relativos ao Brasil, Argentina e Uruguai. 56. OH - Doc 14.06.1840. 57. OH - Doc 14.06.1840. 58. OH - Doc 29.01.1840 (a). 59. OH - Doc 14.06.1840. 60. Luiz Felipe de Alencastro. “África, números do tráfico Atlântico”, In: Schwarcz e Gomes, 2018, pp. 57-63; Herbert Klein. “Demografia da escravidão”, In: Schwarcz e Gomes, 2018, pp. 185-194. 61. OH - Doc 14.06.1840. 62. Carlos Eduardo M. Araújo. “Fim do tráfico”, In: Schwarcz e Gomes, 2018, pp. 230-236. 63. O tráfico negreiro evitava a fiscalização e a apreensão da carga humana
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navegando com uma bandeira nacional. Cf. Calogeras, 1925, p. 240. 64. Carlos Eduardo M. Araújo. “Fim do tráfico”, In: Schwarcz e Gomes, 2018, p. 236. 65. OH - Doc 14.06.1840. 66. Potelet, 1994, p. 38: 67. Calogeras, 1925, pp. 236-237. 68. OH - Doc 12.06.1840 (b). 69. Calvo, 1885. 70. Almanach royal et national pour l’an 1839. Paris : A. Guyot et Scribe, 1839, p. 33 (« Ambassadeurs et ministres français résidents près les puissants étrangères ») ; p. 114 (“Consuls de France dans les villes et Ports des nations étrangères »). 71. Le Courrier Belge, 18.07.1839, p. 1; Le Belge, 28.7.1839, p. 2; AD-Be - Correspondance commerciale. Dossier 2046 I, Brésil 1832-1843. 72. Libeaudière, 1900, pp. 201-203. 73. OH - Doc 20.05.1840 e outros. 74. OH - Doc 10.05.1840. 75. OH - Doc 10.05.1840. 76. Libeaudière, 1900, p. 210. 77. Uma lei, aprovada em 1843, estabeleceu a igualdade de taxação. Cf. Jardin e Tudesq, 1973, v. 7, p. 230. 78. Dictionnaire universel théorique et pratique du commerce et de la navigation, 1859, v. 1, esp. pp. V-VI. 79. OH - Doc 20.05.1840 e outros. 80. Say, 1839, p. 200. 81. OH - Doc 20.05.1840 e outros. 82. OH – Doc 00.00.1839-1840. As anotações do cônsul Alphonse Barrère diferem de algumas cartas, possivelmente já escritas depois de os viajantes terem se instalado na cidade. 83. OH - Doc 29.01.1840 (a) e OH - Doc 11.04.1840. 84. OH - Doc 24.01.1840. 85. OH – Doc 00.00.1839-1840. 86. AD-Fr. Correspondance consulaire et commerciale (Pernambouc), v. 4 (18381844). Lettres de Barrère au ministre des Affaires Étrangères, 9 juin 1839 et 15
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novembre 1839. 87. OH - Doc 29.01.1840. 88. OH – Doc 00.00.1839-1840; Carré, 1970, p. 27. 89. AD-Fr – Personnel, 1er serie, carton 826. “Rapport [...] par Henri-Nicolas Cazotte, 20 octobre 1847”. 90. “Ordonnance du Roi sur les fonctions des Consuls dans leurs rapports avec la marine commerciale, 29 octobre 1833”. In : FRANCE. Bulletin des lois du Royaume de France [...], 2ème partie, 1834, p. 481 e segs. As funções de vice-cônsules e agentes consulares foram regulamentadas no mesmo mês. 91. Contamine, 1970. 92. OH – Doc 00.00.1839-1840, também referido por Carré, 1970, p. 27. 93. OH – Doc 00.00.1839-1840. Ver, também, a Relação dos participantes e registros de bordo do Oriental-Hydrographe (1839-1840). 94. Adrien Carré. Correspondance avec Julien Champeaux de La Boulaye (1970). SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré. O pesquisador levantou a possibilidade de Boulaye estar ligado a Comte, por serem ambos da mesma região. 95. LEtessier, 1962, p. 492. 96. OH – Doc 00.00.1839-1840. O cônsul refere-se ao noviço Auguste Paul Emile Cardin. 97. OH - Doc 02.12.1839. 98. Baldick, 1965, p. 77-95. 99. Apud Figueiredo, 2007, p. 21. 100. OH - Doc 12.11.1841. 101. OH - Doc 29.01.1840 (a). 102. OH – Doc 00.00.1839-1840. 103. OH - Doc 11.04.1840. 104. OH - Doc 11.04.1840. A expressão “pontifical” refere-se a uma capa usada em certas cerimônias religiosas. 105. OH - Doc 10.12.1839. 106. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1839 (transcrevendo o Correio Mercantil, de Salvador).
107. Schwarcz, 1999, esp. pp. 254-255. 108. OH – Doc 11.04.1840. 109. Correio Mercantil, Salvador, 11 de dezembro de 1839. Gomes, 1980, p. 37; SILVA, 2006, p. 36 e segs.; Clara von Sanden. “Una nueva tecnologia, un nuevo negocio, un nuevo arte [...]”. In: Broquetas et al, 2012, pp. 27-29. 110. O pintor suíço Abraham-Louis Buvelot vivia em Salvador, antes de começar a praticar a daguerreotipia no Rio de Janeiro. Kossoy, 2002, p. 93. 111. OH - Doc 06.03.1840. A informação, mencionada por vários historiadores para contestar a ideia dos daguerreótipos do Rio de Janeiro serem os primeiros da América do Sul, fica mais clara quando contextualizada. 112. Morel e Barros, 2003, p. 103. 113. OH - Doc 13.12.1839. 114. Rama, 1985, p. 43. 115. AD-Fr – Personnel, 1er serie, carton 3407 – “Jean-Marie François Maxime Raybaud”. 116. OH - Doc 21.12.1839. 117. OH - Doc 21.12.1839. 118. OH - Doc 21.12.1839. 119. OH - Doc 11.04.1840. 120. Kidder, 1845, p. 347. 121. Joinville, 2006, p. 20. 122. Taunay, s/d, pp. 431-453; Figueiredo et al, 2005, p. 49 e segs. 123. OH - Doc 16.06.1840. 124. Figueiredo et al, 2005, pp. 65-72. 125. Joinville, 2006, p. 82. 126. OH - Doc 16.06.1840. 127. OH - Doc 12.06.1840 (b). 128. OH - Doc 11.04.1840. 129. OH - Doc 25, 26 e 27.12.1839 e OH Doc 29.01.1840 (b). 130. OH - Doc 13.03.1840. 131. OH - Doc 31.01.1840 A referência do barão Rouen, indicando o embarque de Manoel de Oliveira Arruda é anterior, portanto, à data registrada em Montevidéu (OH – Doc 00.00.1839-1840).
Maria Inez Turazzi
132. OH - Doc 11.04.1840. 133. OH – Doc 00.00.1839-1840. 134. OH - Doc 02.01.1840. 135. Jornal do Commercio, 12 de janeiro de 1840. Sobre o tema, ver Karasch, 2000, esp. p. 412. 136. Uma síntese da questão e seus desdobramentos na cidade hoje, encontra-se em Turazzi, 2016, pp. 54-75. 137. OH - Doc 11.04.1840. 138. OH - Doc 29.01.1840 (a). 139. Cloquet e Bérard, 1841, pp. 69-100. 140. AD-Fr. Correspondance consulaire et commerciale, Rio de Janeiro, tome 7 (1838-1842), Lettre de Rouen a Guizot, 30 mars 1842. 141. OH - Doc 11.04.1840. 142. OH - Doc 16.06.1840. 143. OH - Doc 16.06.1840. 144. [Jean-Baptiste] Jobard, “Retratos fotográficos”, Jornal do Commercio, 10 de janeiro de 1840 (matéria transcrita do Le Courrier Belge); [Anônimo], “Uma experiência fisionômica”, Jornal do Commercio, 16 de janeiro de 1840. Sobre esses dispositivos, ver Freund, 1976 (“Los precursores de la fotografia”) e Ramires, 2014. 145. Jornal do Commercio, 1º de maio de 1839, já referido no Capítulo 1. 146. OH - Doc 17.01.1840. 147. Machado de Assis, “Crônica da semana: Ao acaso”, Diário do Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1864. O seu texto será comentado na Conclusão. 148. Luiz, 1827. O Jornal do Commercio corrigiu o nome do padre daguerreotipista na matéria seguinte (OH – Doc 20 e 21.01.1840). 149. O editor comunicou, no Jornal do Commercio, em 7 de maio de 1836 (p.1) que “o Jornal, que até agora com 2 prelos levava 10 horas a imprimir, fica hoje pronto com 2 horas de trabalho e estará distribuído em toda a cidade e subúrbios pelas 6 horas da manhã”. Em 1909, o Jornal do Commercio passou a ter uma edição vespertina. Ver
‘Coisa admirável e curiosa’: o daguerreótipo cruza o Atlântico Sul
tb. www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/ verbete-tematico/jornal-do-comercio 150. Machado de Assis, “Crônica da semana: Ao acaso”, Diário do Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1864, seguido por Ferrez, 1953, p. 7, e tantos autores baseados em sua obra, entre os quais Turazzi, 1995; 2010; 2016. 151. Kossoy, 2019. 152. Hercule Florence, “Polygraphia. Descoberta Brazileira”, Jornal do Commercio, 10 de fevereiro de 1840, p. 2. 153. [Anônimo], “Cautela com o daguerreótipo”, Jornal do Commercio, 20 de fevereiro de 1840, p. 1. Ver Turazzi, 1995, pp. 98-101. 154. Belchior e Poyares, 1987, p. 62-63; MImp. Coleção Geyer. Eneas Martins. “Franceses no Rio de Janeiro”. Manuscrito. 155. Sobre Daguerre e seus daguerreótipos, ver Bajac e Planchon-De-Font-Réaulx, 2003, pp. 138-163. 156. The London Journal of Arts and Science, vol. xv, 1840, pp. 120-123; Gernsheim, 1968, p. 104. 157. OH - Doc 12.06.1840 (b). 158. Taunay, 1925, v. 152, p. 891; Schwarcz, 1999, pp. 207-245. 159. AMN, Registres des mariages section Égalité et Fosse, acte de mariage de Charle Comte et Marie Rsaly Bossy, 20 août 1796 ; AMN, Registres des naissances section Halles et Jean Jacques, acte de naissance de Louis Comte, 1 juin 1798. 160. Bouche, 1987, p. 257. 161. Informações sobre a vida de Comte em Montevidéu, depois de deixar o OH, estão indicadas na Conclusão. 162. OH - Doc 18.01.1840. 163. Ferreira, 1977, 164, p. 214. 164. OH Doc 28.12.1839. 165. OH Doc 28.12.1839. 166. OH - Doc 18.01.1840. 167. OH-Doc 10.01.1840. 168. Os anúncios de Frédéric Sauvage foram publicados até o final do ano no
Jornal do Commercio (14, 16, 18, 20, 24 e 28 de dezembro de 1840). 169. OH Doc 28.12.1839; OH - Doc 17.01.1840; OH - Doc 20 e 21.01.1840. 170. Reynaud, 1989, p. 29. 171. OH - Doc 20 e 21.01.1840. 172. OH - Doc 16.06.1840. Este livro estava sendo concluído quando um incêndio devastou as instalações e o acervo Museu Nacional, no antigo Paço de São Cristóvão. 173. OH - Doc 12.06.1840 (b). 174. OH - Doc 20 e 21.01.1840. 175. Gernsheim, 1976, p. 108. 176. Sobre os daguerreótipos para Louis da Baviera, ver Reynaud, 1989, p. 33. 177. OH - Doc 20 e 21.01.1840. 178. Neves e Turazzi, 2006. 179. AN (Br). Arquivo da Casa Real e Imperial – Mordomia-mor, 1840, cx 11, pac 1, doc 10, 19, 32. 180. O Jornal do Commercio e o Diário do Rio de Janeiro indicam as atividades de Luraghi. A compra é registrada nos livros de contabilidade da Casa Imperial, citados por Guilerme Auler [pseud. de Ricardo Martim], em “Dom Pedro II e a fotografia (I)”. Tribuna de Petrópolis, 1 de abril de 1956. 181. Marques e Filgueiras, 2009, p. 2495. 182. [Anõnimo]. “Mme de Storr e seu concerto”. Jornal do Commercio, 10 de agosto de 1840, p. 3. A nota “social” menciona as lições de Soulier de Sauve. 183. Vasquez, 1985. 184. OH - Doc 20 e 21.01.1840. 185. OH - Doc 20 e 21.01.1840. A matéria seria transcrita em O Recreio, de Lisboa, em setembro do mesmo ano. Quando noticiou o naufrágio do OH, meses depois, o Jornal do Commercio se referiu àquela “galera francesa” como o “navio escola do qual estarão lembrados os leitores”. OH – Doc 14.08.1840. 186. A expressão é de Victor Hugo, em carta para o amigo Charles Ribeyrolles. Apud Turazzi, 1995, p. 93. 187. OH - Doc 20 e 21.01.1840. Sobre a
207
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
“metamorfose conservadora” do fundador do Jornal do Commercio e outros pensadores liberais franceses que apoiaram o governo monárquico de Pedro II, ver Morel, 2002. 188. O chanceler Taunay atestou a saída no dia 24 de janeiro de 1840 (OH – Doc 00.00.1839-1840) e o Jornal do Commercio a saída do porto no dia 27 de janeiro de 1840 (OH - Doc 27.01.1840). 189. Anônimo. “Variedades. Viagens”. Jornal do Commercio, sexta-feira, 31 de janeiro de 1840, p. 1. 190. Diário do Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1840. 191. OH - Doc 02.01.1840; OH - Doc 21.04.1840. 192. OH - Doc 21.04.1840. 193. OH - Doc 29.04.1840. 194. AD – Fr. Correspondance consulaire et commerciale, Rio de Janeiro, 1793-1901. Lettre de Taunay au ministre, 20 décembre 1865. 195. OH – Doc 00.00.1839-1890. 196. OH - Doc 19.05.1840. 197. OH - Doc 19.05.1840. 198. OH - Doc 19.05.1840. 199. Carré, 1970, p. 28. 200. OH - Doc 31.01.1840. 201. OH - Doc 31.01.1840. 202. OH - Doc 29.05.1840. 203. Jean-Marie Baradère foi nomeado cônsul-geral em 1830 e negociou o reconhecimento da Independência e o tratado de comércio entre os dois países. AD-Fr. Personnel, 1er. série, Carton 28, “Jean-Marie Raymond Baradère”. 204. AD-Fr, Correspondance consulaire et commerciale (Montevideo), v. 4 (18391842), lettre du consul Baradère au ministre des Affaires Etrangères, 27 avril 1840. 205. OH – Doc 15.02.1840 (a) e OH – Doc 15.02.1840 (b). 206. OH – Doc 26.05.1840. 207. OH - Doc 16.06.1840. 208. OH - Doc 12.06.1840 (b). Ver Turazzi,
208
1995, esp. “Brasil: o ser e o vir a ser”, pp. 93-163; Ana Maria Mauad, “Imagem e autoimagem do Segundo Reinado”, In: Alencastro, 1997, pp. 181-231. 209. France. Collections complète des lois (...), 1841. Buchet, 2006; Marshall, 2009, pp. 261-264. 210. Nahum, 2017, pp. 86-91. 211. Carré, 1970, p. 28. 212. Cadn. Archives de poste (Montevideo), Serie A, Navigation, 1838-1842. 213. OH – Doc 20.05.1840 e outros. 214. OH – Doc 12.06.1840 (b). 215. OH - Doc 20.06.1840. 216. OH - Doc 26.05.1840; OH - Doc 00.00.1839-1840. Os registros da passagem do OH em Montevidéu estão assinalados pelo cônsul Baradère em 20 e 29 de fevereiro, embora o navio só tenha deixado a cidade em princípios de março. 217. Isabelle, 2006, p. 43; Schiaffino, 1940, p. 49 ; Petit, 2014, p. 16, pp. 319-337. 218. Saldanha e Zuniga, 2010, esp. p. 92. 219. OH - Doc 26.05.1840. 220. OH - Doc 30.05.1840 (a). 221. OH - Doc 20.05.1840 e outros. 222. OH - Doc 20.05.1840 e outros. 223. OH - Doc 20.06.1840. 224. OH - Doc 28.06.1840. 225. OH – Doc 12.06.1840 (b). 226. OH – Doc 04.07.1840. 227. OH - Doc 04.07.1840. 228. OH - Doc 28.06.1840 e OH - Doc 03.11.1840. Esta última carta, publicada no Le Courrier Belge somente no final do ano, foi escrita ainda em 30 de junho de 1840, portanto logo depois do naufrágio, quando Terloo planejava o retorno para a Europa. 229. Rama, 1972, p. 51. 230. Crouzet, 1998, pp. 57 e 255. 231. Dévrig Molés. “O crisol maçônico euro-argentino”. In: Ridenti et al, 2006, p. 66. 232. Roa, 2016, pp. 52-58. 233. Isabelle, 1835. 234. Isabelle, 2006, p. xxvii; Petit, 2016, pp. 319-337.
235. A correspondência de Orbigny, nascido nas proximidades de Nantes, encontra-se em http://correspondancefamiliale. ehess.fr/index.php?7437. 236. Varese, 2007, p. 29, nota 10; Petit, 2016, 335-337. O cônsul em Montevidéu indicado em “Consuls de France dans les villes et Ports des nations étrangères » era Roger Aimé. Cf. France. Almanach royal et national pour l’an 1839, p. 115 e Almanach royal et national pour l’an 1840, p. 114. 237. Sobre a instituição, ver https://www. mnhn.gub.uy/. 238. Schiaffino, 1940, p. 89. Segundo o autor, Vilardebó falava, além do espanhol, português, francês, inglês, italiano e alemão. Ver também Petit, 2016, pp. 319-337. 239. Turazzi, 2009. 240. Schiaffino, 1940, p. 49 241. Devés-Valdés, 2007. 242. Jornal do Commercio, 27 de janeiro de 1840, p. 3. 243. Os jornais uruguaios do período estão listados em Zinny, 1883. 244. Sobre as “vanguardas” e o tema da modernidade na América Latina, ver Sanders, 2014. 245. OH - Doc 25.02.1840. A carta de Mariquita, também é mencionada pela historiografia com a data de 27 de fevereiro de 1840. 246. Clara von Sanden. “Una nueva tecnologia, un nuevo negócio, una nueva arte...”. In: Broquetas et al, 2012, p. 24. Autores(as) latino-americanos(as) referem-se à Mariquita como a “primeira feminista” argentina. 247. OH - Doc 25.02.1840. 248. OH - Doc 25.02.1840. A transcrição do manuscrito foi corrigida para facilitar a compreensão. 249. Broquetas et al, 2012, p. 25. 250. Turazzi, 1995, p. 48. 251. OH – Doc 25.02.1840. 252. Ferrari e Alexander, 1998, p. 82 e Gómez, 1986, p. 32.
Maria Inez Turazzi
253. OH – Doc 27.02.1840. 254. OH - Doc 27.02.1840. 255. OH - Doc 06.03.1840 (a). 256. OH - Doc 29.02.1840. 257. Varese, 2013, p. 25. 258. Varese, 2007, p. 29. 259. OH – Doc 04.03.1840. 260. OH – Doc 04.03.1840. 261. OH – Doc 04.03.1840. Sobre as edições do manual, ver levantamento de Beaumont Newhall, in Gernsheim e Gernsheim, 1968, pp. 198-205. Wood imagina que um exemplar do boletim da Sociedade de Encorajamento à Industria Nacional, de 4 de setembro de 1839, com desenhos e informações detalhadas do processo possa ter sido estado no OH (Wood, 1996, p. 114). 262. OH – Doc 06.03.1840 (a). Os argentinos Andrés Lamas e Miguel Cané, este último cunhado de Varela, eram redatores do El Nacional e comentaram o assunto nas edições de 26 e 29 de fevereiro. Apud Gómez, 1986. p. 35. 263. OH – Doc 06.03.1840 (a). 264. A pesquisa no Centre des Archives Diplomatiques de Nantes ficou concentrada, no que se refere ao Uruguai, às seguintes séries e subséries CADN. Archives de Postes (Montevideo) : Affaires maritimes (1814-1848) ; Correspondance au Ministère de la Marine et des Colonies (18401858); Navigation 1838-1842) ; Dossier d’immatriculés (Louis Comte). Não foi possível consultar as subséries Correspondance avec le ministère de Paris (1832-1840) ; Correspondance officielle et particulière (18411847 ; 1847-1856) ; Correspondance avec les autorités uruguayennes (1839-1841 ; 1841-1843 ; 1847-1851) ; Correspondance avec les autorités et les particuliers (18371842) ; Correspondance avec les autorités françaises, Stations navales (1840-1876). Essas séries possivelmente trazem outras informações sobre a passagem do OH por Montevideo e as atividades de Louis Comte na cidade.
‘Coisa admirável e curiosa’: o daguerreótipo cruza o Atlântico Sul
265. Ver, ao final deste livro, Relação dos participantes e registros de bordo do Oriental-Hydrographe (1839-1840). 266. OH-Doc 17. 03.1840. 267. OH-Doc 06.03.1840 (b).
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O porto de Valparaíso, tomado do antigo forte de Santo Antonio, em 1833. Detalhe do álbum de aquarelas do artista inglês William Smyth.
210
6
O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
A travessia do Atlântico ao Pacífico era uma rota memorável para o capitão Lucas. Afinal, ele devia ao Cabo Horn o reconhecimento que adquirira no meio naval ao passar por ali, em 1834, com o brigue Le Trophée et Mathilde. Fizera boa parte do percurso com um “leme de fortuna” (gouvernail de fortune), a solução improvisada e inventiva que o fez chegar a seu destino em segurança.1 O porto de Valparaíso, por sua vez, lhe trazia lembranças familiares. Lucas e a mulher Elisabeth tiveram a segunda filha na cidade, pouco antes do retorno do casal à França, em 1835, depois de mais de dois anos separados do restante da família.2 Desde então, a movimentação de navios europeus e norte-americanos pela costa do Chile vinha apresentando um crescimento expressivo. A estatística de navegação do consulado francês em Valparaíso relacionou setenta e sete navios com a bandeira do país de passagem por aquele porto, em 1839,3 sendo vinte e um transportando, basicamente,
mercadorias e colonos vindos da França em direção à Oceania, e outros trinta e dois, em sentido contrário.4 Muito antes, os franceses já se aventuravam pelo litoral chileno, tão procurado pelo contrabando de madeiras e minérios, sempre duramente combatido pela Armada espanhola. No século XVIII, contudo, também chegaram ao continente cartógrafos, botânicos e outros exploradores em expedições que contavam agora com o consentimento da Espanha.5 Em princípios do século XIX, homens do mar como o capitão Gabriel Lafond de Lurcy estiveram na região dispostos a empregar os seus serviços nas lutas pela Independência das colônias espanholas. O contra-almirante Rosamel, por sua vez, dirigiu-se ao Chile para promover o reconhecimento de sua Independência pela França e obter para a Monarquia de Julho a confiança da jovem República. Entre 1824 e 1825, ele esteve no comando das Estações Navais do Brasil e do 211
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
A passagem do Atlântico ao Pacífico, pela região da Patagônia, no detalhe do mapa da América do Sul, desenhado por A-H. Dufour, 1838.
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Pacífico e, como forma de aproximação, ofereceu passagens gratuitas nos navios da Marinha francesa aos chilenos que quisessem estudar na Europa.6 O botânico Claude Gay e outros naturalistas fizeram, na mesma época, o caminho inverso, atraídos pela ideia de implantar as primeiras instituições locais com um “caráter nacional”, como o Museu de História Natural do Chile, criado em 1830.7 Nos anos seguintes, o comandante Du Petit-Thouars chefiou pesquisas arqueológicas na região andina e o comandante Dumont d’Urville alcançou as geleiras da zona austral pelos portos chilenos.8 Valparaíso era, então, um porto estratégico em toda a zona costeira que se estendia do sul do Chile até a promissora Califórnia, com a crescente riqueza gerada pela exploração do ouro. O Estado francês arcava com parte dos custos de sua marinha mercante nas águas do Atlântico Sul, do Pacífico
ou do Índico.9 A navegação comercial com a bandeira francesa, embora empregasse uma equipagem mista, muito censurada pelas desordens a bordo, representava para a Monarquia de Julho os “interesses nacionais” espalhados pelos portos do planeta. Proprietários e capitães de navios mercantes, por isso mesmo, exerciam uma pressão constante sobre os comandos navais e os serviços consulares na região do Pacífico, a fim de garantir a segurança dos negócios e das tripulações, bem como de missionários e colonos que se dirigiam à Oceania. A passagem de Fernão de Magalhães, John Byron, Louis de Bougainville e tantos outros pela região da Patagônia dera ao mundo testemunhos impressionantes da natureza e dos habitantes do extremo sul do continente, povoando o imaginário europeu de figuras humanas gigantescas e formações geológicas inusitadas. Por outro lado, as turbulências vividas pela própria expedição, tanto no mar, como em terra, também mexiam com os ânimos dos viajantes. Nós temíamos bastante encontrar, dobrando o Cabo Horn, um mar ainda mais terrível do que aquele que o Oriental teve que atravessar no Golfo de Biscaia.10
Entre ansiedade e preocupação, o capitão Lucas e sua tripulação viam-se agora diante de um dos maiores desafios da circum-navegação. As dificuldades da navegação naquelas águas eram conhecidas e representavam uma incerteza para qualquer viajante. Por prudência ou por outras circunstâncias, o itinerário inicialmente previsto pelo OH foi mais uma vez modificado: o capitão Lucas e seu piloto optaram por não contornar o Cabo Horn, evitando assim as correntes e os
Maria Inez Turazzi
O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
Perspectiva de Valparaíso, tomada por viajantes franceses, em princípios do século xviii. Publicada na obra Nouveau voyage autour du monde; par monsieur Le Gentil (Paris, chez Flahaut, 1727).
icebergs da região. A outra opção era seguir pelo Estreito de Magalhães, rota consagrada pela primeira viagem de circum-navegação, embora suas águas não fossem tão profundas quanto seria desejável. Deixando para trás o Estreito de Magalhães, o OH ainda passaria pela ilha de Chiloé e a baía de Talcahuano, antes de chegar a Valparaíso. Se, por um lado, o Pacífico não era mais o mar desconhecido e aparentemente calmo que iludira os navegadores do passado, por outro, todos sabiam que o “grande oceano” já tinha engolido centenas de navios. A extensa costa do Chile, com acidentes geográficos, correntes marítimas e regimes de ventos bastante traiçoeiros, converteu-se mesmo em uma espécie de cemitério submerso para galeões, fragatas e corvetas de diversas proce-
dências. Na segunda metade do século XIX, os novos barcos a vapor e em aço vieram se juntar a esses antigos veleiros de madeira que ficaram esquecidos em suas águas. Em 1901, Francisco Vidal Gormaz arrolou todos os casos de naufrágio ocorridos no Chile até então, sobre os quais encontrou algum registro. Essa impressionante relação começa com a nau espanhola Santiago, de Fernão de Magalhães, em 1520, e termina com a barca inglesa Ross Shire, em 1900. O historiador chegou à soma de mil trezentos e trinta e seis sinistros, com a ressalva de que os dados não estavam completos, posto que muitos navios simplesmente desapareceram sem deixar vestígio, como durante o terrível terremoto de 1746. Quando o desenvolvimento econômico, a expansão comercial e o crescimento da 213
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
frota chilena aumentaram a circulação de navios em suas águas, cresceu também o número de naufrágios a cada ano: somente em 1868, foram quarenta e quatro; em 1876, chegaram a sessenta. As estatísticas de toda sorte, uma novidade do século XIX, transformavam os acidentes marítimos em cifras assustadoras. Diante desse quadro, Vidal Gormaz tirou uma conclusão que bem poderia ser aplicada ao capitão Lucas: O estudo dos naufrágios oferece muitas lições para o jovem marinheiro, fazendo-o refletir sobre as medidas adotadas pelos capitães e pilotos que se viram forçados a sustentar várias lutas com os elementos e os fenômenos, também variados, que se apresentam na vida marinha e dão origem aos acidentes marítimos. Assim, o jovem marinheiro que está em casos semelhantes lembrará os vários procedimentos usados anteriormente e ilustrará seu julgamento para agir com maior discernimento e correção em defesa de seu navio e da vida e interesses que lhe estão confiados.11
A compilação do historiador, apresentando em ordem cronológica as circunstâncias de cada naufrágio e suas causas, naturais ou humanas, também pode ser lida com um vasto painel da história chilena e sua profunda conexão com a vida marítima. Entre os séculos XVI e XVIII, muitos galeões espanhóis e corsários franceses, ingleses ou holandeses naufragaram no mar do Chile, não resistindo às condições adversas de navegação ou às abordagens inimigas que provocavam o incêndio do navio. Até meados do século XIX, os casos registrados anualmente ficavam em torno de uma dezena. Em 1823, no entanto, as condições atmosféricas foram particularmente difíceis em várias 214
regiões costeiras do Chile, em uma conjuntura política já bastante conturbada pelo processo de consolidação da Independência e construção da ordem republicana. Os naufrágios chegaram a vinte e sete casos, somente nesse ano e, boa parte deles, foi em Valparaíso. Um dos primeiros estudiosos das “obras de melhoramento” que tiveram início, pouco depois, no principal porto chileno, escreveu: Na realidade, a baía de Valparaíso não oferece um porto. É uma baía inteiramente aberta, exposta a quase todos os ventos que, durante três meses do ano, formam temporais de maior ou menor dimensão, muitos excepcionalmente graves, que têm trazido consequências desastrosas aos navios ali ancorados e às poucas obras executadas para proteger a cidade.12
Em julho de 1823, com o controle do país disputado por várias facções e os chilenos à beira de uma guerra civil, Bernardo O’Higgins e sua família partiram para o exílio por Valparaíso, um porto ainda traumatizado pela sucessão de naufrágios ocorridos no mês anterior. Temporais fortíssimos atingiram a cidade por três dias seguidos, destroçando dezenas de pequenas embarcações e pelo menos vinte navios, entre os quais o Aguila, o primeiro incorporado à Armada chilena. A organização institucional da jovem República passava por investimentos na criação de tribunais, escolas, bibliotecas, hospitais e, como não poderia deixar de ser, uma Marinha nacional, então sob o comando do escocês Thomas Cochrane. Em 1825, um pequeno molhe foi finalmente construído em Valparaíso, tornando o seu porto um pouco mais seguro para a acostagem dos navios.13 O capitão Lafond de Lurcy testemunhou o que podia ser
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O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
uma experiência do gênero em sua coleção de viagens e naufrágios célebres: Eu não conseguirei descrever o horror de tal situação. Imagine um mar horrível que vem se romper contra os flancos de um navio em uma noite escura, torrentes de chuva sopradas com força pelo vento, misturando-se à água do mar para paralisar nossos movimentos; o rangido do navio que se rompe, o medo de ser atingido por fragmentos ou ser levado pelas ondas. Acrescente a isso, os gritos confusos dos marinheiros, o terror e o desespero de todos, e você terá uma ideia bem tênue de nosso naufrágio.14
Acontecimentos distintivos e memoráveis, os naufrágios eram sistematicamente noticiados nos Annales maritimes et coloniales, assim como os salvamentos condecorados pela Marinha francesa.15 A experiência convocava os homens à bravura, ao enfrentamento da natureza e, em caso de sobrevivência, ao reconhecimento do benefício recebido. As agruras de um grupo de náufragos que conseguiu se salvar em uma ilha, deserta de humanos e repleta de pinguins, nas proximidades de Montevidéu, também foi explorada por Jacques Arago, ao escrever sobre os “jantares exóticos” que experimentou em suas muitas viagens: Quinze dias após nosso triste naufrágio, vimos boiar, sem emoção, ao sabor da onda aventureira, alguns destroços da robusta corveta e, por pouco, nos rejubilamos com a nossa catástrofe. A desgraça irreparável é a que melhor suportamos.16
As “desgraças irreparáveis” vividas no mar também se prolongavam em terra. Quando
O primeiro volume da coleção de viagens e naufrágios célebres publicada pelo capitão Lafond de Lurcy, 1843.
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Ação de naufragar - Sabe-se que, entre os antigos, os marinheiros que haviam naufragado e que esse infortúnio havia reduzido à miséria, pediam esmolas e levavam no pescoço um quadro representando a cena de seu naufrágio. Aqueles que eram miseráveis demais para pagar pelo trabalho de um pintor carregavam na mão um bastão com tiras de pano e contavam, piedosamente, a causa de seu infortúnio, o que não precisava ser feito pelos portadores de quadros.18
Entre a fantasia e a realidade: cenas de um naufrágio no diário de bordo de um marinheiro inglês, 1835.
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não adoeciam em serviço ou morriam em um naufrágio, os marinheiros já imprestáveis para a atividade perambulavam pelas ruas das cidades portuárias, como bêbados, doentes e pedintes.17 Auguste Jal descreveu, em um «glossário náutico» de 1848, o uso que esses homens faziam das imagens de seu próprio naufrágio:
As imagens e os imaginários em torno do naufrágio, como destino possível para qualquer viajante, como uma das desgraças memoráveis do homem do mar ou como um medo difuso da imprevisibilidade da vida e da morte, podem ser conferidos na rica visualidade sobre o tema. O mesmo pode ser feito através da farta literatura de viagens do período, na qual “o narrador, não sem certa superioridade, faz as vezes de guia para um público que na verdade viaja unicamente ao redor de si mesmo ou pelo próprio quarto”.19 Ao longo do século XIX, a percepção coletiva da vida marítima encontrou na representação plástica e ficcional dos naufrágios uma fonte sistemática de inspiração: ondas em fúria, efeitos meteorológicos, náufragos amontoados e cenas cheias de teatralidade conferiam uma perspectiva romântica para os dramas humanos. O sucesso da tela Le radeau de la Méduse (“A balsa da Medusa”), de Théodore Géricault, foi emblemático.20 Pintor e litógrafo, ele exibiu no Salão de Belas Artes de Paris, em 1819, uma das mais célebres figurações do tema na cultura visual do oitocentos.21 Em 1816, o novo governador do Senegal e centenas de franceses que viajavam no La Méduse naufragaram na costa africana. Cento e cinquenta marinheiros e colonos, sem dispor dos barcos
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de salvamento destinados aos oficiais, improvisaram uma balsa e navegaram a esmo. Depois de duas semanas de completo desespero, incluindo atos de canibalismo, quinze náufragos capazes de resistir foram encontrados por um navio. A história, contada por dois sobreviventes, transformada em livro no ano seguinte e imortalizada por Géricault, tornou-se um dos mais célebres episódios marítimos do oitocentos.22 Os viajantes do OH compartilhavam, naturalmente, esses temores e essas imagens quando ingressaram na expedição. As correntes e os ventos que podiam ser fatais na travessia do Estreito de Magalhães não eram as únicas razões para a inquietação de oficiais e marujos, noviços e passageiros do OH. A possibilidade de um conflito armado na região tornava a passagem pelo sinuoso desfiladeiro ainda mais preocupante. O controle da Patagônia e da comunicação entre o Atlântico e o Pacífico era uma questão militar e diplomática em aberto, envolvendo diretamente a Argentina e o Chile, mas também a Inglaterra e a França em sua disputa pela supremacia na região. Em março de 1840, o OH estava na metade da travessia, em Port Famine (denominação inglesa para Puerto del Hambre), quando foi surpreendido por outro tipo de infortúnio. O navio permaneceu oito dias encalhado em um banco de areia que não estava assinalado pelas cartas geográficas.23 Não é preciso conhecer o jargão naval ou entender de navegação oceânica para imaginar as dificuldades vividas pela expedição nesse momento: um veleiro com as dimensões do OH, “dando em seco” em pleno Estreito de Magalhães. Quando conseguiu se livrar do problema, Lucas escreveu aos armadores Despecher e Bonnefin, detendo-se na descrição do “admirável funcionamento da cozinha destilatória de Peyre e Rocher”.24 Como sem-
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pre, as cartas enviadas pelo capitão, publicadas na imprensa de Nantes, traziam tão somente boas notícias... Na costa chilena, o OH fez uma breve escala na ilha de Chiloé, entre 3 e 6 de maio de 1840. O lugar era muito frequentado por embarcações que, há séculos, exploravam a caça às baleias no “grande oceano”. Os baleeiros com a bandeira francesa e, geralmente, tripulação mista, concorriam com os barcos espanhóis, norte-americanos e outros nas águas do Pacífico. Os motins a bordo e a revolta de marinheiros em terra eram maus exemplos e uma fonte de tensão permanente na região.25 Antes do final do mês, a expedição alcançou a baía de Talcahuano e seu porto, onde também não se demorou muito tempo, partindo de Concepción para Valparaíso, em 22 de maio de 1840.26 O noviço Louis Lavernos, apelidado “o grande” (1,76 m de altura) aproveitou a escala para desembarcar, com autorização do comandante, retornando à França com a passagem oferecida pelo baleeiro Le George, que seguia para o porto de Le Havre, na França.27 O OH alcançou a baía de Valparaíso, em 26 de maio de 1840, contando, então, com 72 pessoas, entre tripulantes e passageiros. O balanço não era muito animador.28 Dezesseis alunos franceses tinham deixado a expedição, com ou sem consentimento do comandante e autoridades consulares, e parte do estado maior e da marinhagem teve que ser substituída em escalas anteriores.29 Logo que o grupo chegou à cidade, dois novos desembarques debilitaram ainda mais a equipagem necessária à continuação da viagem. Em 10 de junho, o tenente Cocq, segundo capitão que embarcou em Montevidéu para substituir Daudé, desembarcado em Recife, desistiu de prosseguir e também pediu para ser substituído no estado-maior da expedição.30 217
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Registro do “desarmamento” do OH na Inscrição Marítima de Nantes, depois do naufrágio da embarcação, em 23 de junho de 1840.
Além dele, um contramestre e mais dois jovens desembarcaram “a pedido”, bem como o professor Vendel-Heyl e seu filho Emile, decididos a permanecer no Chile.31 Em Paris, o Le Moniteur Industriel deu notícias da expedição para os leitores do jornal, em 10 de maio de 1840, com o artigo de Lucas sobre a questão do açúcar e as relações comerciais entre a França e o Brasil.32 Em Nantes, o Lloyd Nantais resumiu sua carta, enviada de Montevidéu, com a informação de que “tudo ia bem a bordo do OH”.33 Para o capitão, não havia turbulências a bordo e as perspectivas eram as mais promissoras. Já para as autoridades francesas e belgas, o quadro era outro. O comandante Laplace, do Artemise, 218
agora em sua segunda viagem de circum-navegação, constatou as “desordens a bordo do OH” e comunicou o fato ao ministro da Marinha, indicando que os jovens deviam ser embarcados de volta para a França.34 Quatro desertores acabaram chegando ao porto de Lorient, repatriados em seu próprio navio. Dias depois, o comandante do Alacry também comunicou ao barão Roussin que o contra-almirante Dupotet, comandante da Estação Naval no Atlântico Sul, lhe ordenara o embarque de cinco homens na equipagem do OH, já muito desfalcada pelas deserções ocorridas no Brasil.35 O ministro da Marinha, diante de tantas notícias ruins, enviou na mesma semana uma correspondência ao ministro de Assuntos Exteriores. Ele duvidava que o OH, apesar dessas substituições, pudesse continuar a expedição com “alguma chance de sucesso”.36 As autoridades belgas, por sua vez, faziam prognósticos ainda mais sombrios. A entrada do navio no porto de Valparaíso foi informada pelo El Mercurio, jornal ainda hoje um dos mais importantes do Chile.37 Ele era publicado na cidade desde 1827 e, no último ano, tinha tratado do incêndio do diorama e do “extraordinário descobrimento” de Daguerre, assim como da gravação em ácido sobre placas de daguerreotipia.38 Um mês antes da chegada do OH, a demonstração do processo pelo “abade Combes” no Rio de Janeiro, com base na transcrição da matéria do Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, foi noticiada pelo El Mercurio.39 A apresentação do invento era aguardada, portanto, com grande curiosidade e, nas semanas seguintes, o periódico também transcreveria os jornais de Montevidéu. A edição de primeiro de junho de 1840 atendeu à expectativa, ocupando-se das características da expedição. O articulista comentou que os “jovens das
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mais notáveis famílias” da França e da Bélgica tinham à sua disposição uma “rica biblioteca”, “instrumentos de física” e um aparelho para tomar “a fisionomia das raças humanas nos povos que visitam”. Para completar, informou que possuíam também “um daguerreótipo a cargo do abade Comte (capelão da expedição) que lhes proporciona as vistas mais notáveis das cidades e lugares que frequentem”.40 O nome do padre francês, agora, estava escrito corretamente. O problema é que ele tinha ficado em Montevidéu e a informação foi baseada, provavelmente, na leitura do jornal que chegou à Valparaíso antes do próprio OH.41 Essa mesma edição do El Mercurio estampava o primeiro anúncio do “sr. Sauvage”, “artista adjunto” do OH, e “seu engenhoso e útil descobrimento”, o fisionotipo. Em Valparaíso, mais uma vez, a novidade foi apresentada como uma “invenção” do jovem que a trazia consigo. Como Frédéric Sauvage tinha ficado no Brasil, era Joseph Sauvage quem seguia no OH e, de acordo com o anúncio, trazia consigo outro exemplar do instrumento, sendo igualmente capaz de empregá-lo. Em Valparaíso, ele também resolveu deixar a expedição e o seu desembarque foi formalmente atestado pelo cônsul francês, em 22 de junho de 1840.42 O anúncio seria repetido no El Mercurio até essa data, véspera da partida do OH. Depois disso, não foi mais publicado, sendo desconhecido o rumo seguido por Joseph Sauvage. O fisionotipo, portanto, deve ter permanecido com o jovem, pois não estava entre os instrumentos a bordo do navio no momento do seu naufrágio. O médico Gilles Thomas, por sua vez, tal como fizera no Brasil, publicou anúncios no El Mercurio, entre 6 e 17 de junho, sobre as consultas pelo “método homeopático” que “combatiam com sucesso” as “enfermida-
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des dos olhos” e outras doenças.43 Essas consultas, sempre com horários diferentes para homens, mulheres e crianças, eram dadas na casa do “senhor Manuel Blanco”. Oficial da Armada espanhola e, depois, membro do Exército Libertador, Manuel Blanco participou ativamente das lutas pela Independência e das disputas políticas que se seguiram, inclusive exercendo interinamente a presidência do Chile (1826). Foi fundador da primeira loja maçônica no país, criada em 1825 e, depois da guerra contra a Confederação Peru-Boliviana (1836-1839), passou a residir em Valparaíso.44 Ele costumava receber estrangeiros de passagem pela cidade como hóspedes, uma forma de sociabilidade muito comum à época. É possível que outros viajantes do OH tenham ficado em sua residência. O “doutor Thomas” também publicou um anúncio, em 1º de julho, já “tendo estabelecido domicílio” em novo endereço, com a informação de que “as consultas para os pobres serão gratuitas”.45 Durante o período em que os membros da expedição estiveram em Valparaíso, não houve registro de que tenham empregado o daguerreótipo, mas é provável que o capitão Lucas tivesse a intenção de fazê-lo. As demonstrações anteriores e a curiosidade em torno da invenção, desconhecida no Chile e já anunciada pelo El Mercurio, justificam a suposição. No dia 6 de junho, o jornal tratou novamente do assunto, em razão da “visita ao nosso porto da corveta francesa l’Oriental”.46 Com o título “Estado Oriental del Uruguai”, o El Mercurio reproduziu o longo artigo “Descripción del daguerreotipo”, de Teodoro Vilardebó, publicado em Montevidéu, em 6 de março47, evidenciando mais uma vez a extensa rede de informações e imaginários sobre a daguerreotipia e seu inventor construída pela imprensa da época. 219
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Em Bruxelas, o Le Courrier Belge iniciou no mês de junho a publicação das cartas do barão Popelaire de Terloo e, no final do ano, divulgou aquelas que ele enviou de Valparaíso. Terloo descreveu, então, a topografia e a vegetação do Estreito de Magalhães, os hábitos de caça e pesca dos habitantes da Patagônia, entre outras informações que colheu com um espanhol “abandonado sobre essa terra selvagem”.48 Ele contou ainda como os viajantes do OH passavam o tempo em Valparaíso, a excursão que fizeram a Santiago e a sua impressão geral sobre o país: Apesar da constituição a mais liberal, o poder no Chile é bastante absoluto; este país parece achar isso muito bom. Essa união de uma grande liberdade com um pouco de despotismo realiza aqui, talvez, a aplicação que se busca na França, sem poder atendê-la.49
O OH partiu em direção a Arica na manhã de 23 de junho de 1840. O roteiro cumprido até ali ainda não havia chegado à metade do previsto, os trechos mais perigosos da viagem estavam por vir e o estado-maior da expedição se resumia agora a um único oficial experiente, isto é, o próprio capitão Lucas. Ele tinha a bordo, como tenentes, Gadebois e Briel e, como professores, apenas os belgas Moreau e De Moor. Em tal situação, muitos achariam insensato continuar a viagem, mas esse não era o caso do idealizador de uma inédita e ambiciosa escola flutuante ao redor do mundo. Com tempo bom e mar calmo, o OH deixou Valparaíso ao meio-dia, acompanhado por pequenas embarcações que queriam, assim, se despedir dos viajantes até a saída do porto, como de costume.50 Duas horas depois, dois capitães franceses, à mesa com o capi220
tão Lucas, deixaram o OH por considerarem que já estavam demasiado afastados do porto. Esse fato seria mencionado pelo comandante, tempos depois, como evidência de que, no momento do acidente, todos se consideravam bem distantes da costa e seus perigosos rochedos. Outros dois passageiros eventuais eram os cônsules da França e da Bélgica em Valparaíso, que também jantavam com os membros da expedição.51 Terloo lembrou aquele momento: Nós passeávamos tranquilamente pelo convés superior, desfrutando as delícias de um clima extraordinário e um mar calmo e magnífico. Como nossos amáveis hóspedes não tinham avisado que ficariam conosco até tão tarde, enviamos um expresso a Valparaíso para prevenir suas famílias de que nós os mantínhamos para o jantar.52
Em condições de navegação tão extraordinárias, ninguém pressentia o que estava por vir. As circunstâncias do inesperado naufrágio do OH estão descritas nos relatos de vários membros da expedição: o primeiro, em ordem de importância é, naturalmente, o próprio comandante Lucas. Ele escreveu três relatos: o primeiro deles, ao informar o acontecimento e a sua conduta para o cônsul-geral da França, tem a data de 24 de junho53; em seguida, ofereceu uma explicação mais detalhada ao jornal El Mercurio, publicada em 27 de junho54; dois dias depois, enviou uma carta sucinta aos proprietários do navio.55 O texto para o cônsul francês faz referência ao local do acidente, indicando tratar-se da “ponta mais próxima do farol” de Valparaíso. As explicações destinadas aos leitores do El Mercurio que, por certo, conheciam muito bem o lugar, não trazem qualquer indicação geográfica. Os editores, contudo, ao apresentá-las em seu jornal, referem-se
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à Roca del Buey.56 A carta enviada a Nantes também menciona a “ponta del Ruey [sic].57 O naufrágio ocorreu diante do farol de Playa Ancha, na entrada do porto de Valparaíso, junto a uma pedra saliente chamada Roca del Buey (ou Cabeza del Buey).58 Essa rocha, em formato semelhante à cabeça
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de um touro, transformou-se em uma espécie de alerta bastante sinistro sobre a proximidade de outras rochas submersas, em toda a volta da Punta de Valparaíso (hoje mais conhecida como Punta de los Ángeles), tal como indicado nos mapas de época aqui reproduzidos. Esse farol foi o primeiro
A costa acidentada e rochosa de Playa Ancha, em Valparaíso, local do naufrágio do OH. Mapa de Valparaíso, com as reformas projetadas para o porto da cidade, c. 1850-1860.
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O antigo farol de madeira existente na Punta de los Ángeles (à época também chamada de Punta del Buey), em Playa Ancha, na entrada do porto de Valparaíso, c. 1840.
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instalado em território chileno, em 1837, e o equipamento recebeu, um ano depois, uma construção de madeira vista pelos viajantes do OH. Vinte anos mais tarde, essa estrutura seria substituída pela torre de concreto que, hoje, é patrimônio histórico do Chile e está instalada em outro ponto de Playa Ancha.59 Conhecedor da região e do tema, Vidal Gormaz indicou, em 1901, muitas causas não naturais para os naufrágios ocorridos no Chile: deficiências na construção dos navios, velames em mau estado, amarras inadequadas para a carga, descumprimento da legislação, ausência de fiscalização e falta de estudos sobre as correntes marítimas do litoral chileno.60 E comentou:
Muitos considerarão de pouco interesse o conteúdo e o objeto desses apontamentos, porque não encontrarão neles narrações como as que se leem nos naufrágios célebres reunidos em algumas obras francesas e inglesas, nas quais se procurou principalmente o consolo ou a lisonja do espírito; [bem como] as impressões fortes, em contraste com a firmeza e a calma aparente do homem do mar, em luta com os elementos, às vezes irresistíveis e indomáveis. Mas, é preciso ter em mente que esses apontamentos não são destinados a esse propósito e que eles se relacionam com os naufrágios e as causas que os motivaram, sempre que as provas evidentes o permitam.61
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Além dos relatos deixados pelo capitão Lucas, os fatos, as emoções e as controvérsias do naufrágio também foram narrados por Popelaire de Terloo, passageiro experiente em negócios e observações pelo mundo, por Champion de Villeneuve, jovem aristocrata em sua primeira aventura marítima, bem como por alunos e passageiros que os jornais preferiram manter no anonimato ao transcre-
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verem suas cartas. Mesmo sem estar a bordo, o cônsul-geral da França no Chile também escreveu sobre toda a questão para o ministro de Assuntos Exteriores, em Paris, com base nos depoimentos colhidos. Essas narrativas, de modo geral, exprimem a posição e o temperamento de cada náufrago: uma descrição essencialmente técnica e objetiva, na versão do capitão; memoriosa e detalhista, na pluma
Os restos de um naufrágio na baía do Rio de Janeiro na geografia imaginativa de um ilustrador alemão, c. 1840-1850. A exemplo de outras estampas da época, as construções da cidade e as montanhas ao fundo correspondem, tão somente, à imaginação do artista. A fotografia será saudada por sua exatidão e fidelidade.
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As circunstâncias do naufrágio do OH, segundo o capitão Lucas62 No dia 23 de junho, com uma brisa fresca de Sudoeste, fiz vela do porto de Valparaíso. Estávamos, já, a duas milhas de distância da costa, quando acalmou o vento: a marcha do navio reduziu-se, então, à da corrente, que por algum tempo nos levou para o Oeste. Observamos, porém, pouco depois, que o navio não governava, e que nos aproximávamos da terra. Mandei rebocar o navio por dois escaleres, e começando então uma aragem do Norte, esperei poder salvar o navio. Mandei sondar; não se encontrou fundo; vendo pelos sinais que tínhamos marcado que pouco nos chegávamos à terra, tive a certeza de que escaparíamos a todos os perigos aparentes. Sondando de novo, acharam-se 16 braças [medida de profundidade da água]. Todos os perigos estão a sotavento, disse-me o piloto: estamos salvos. Apenas tinha acabado de falar, bateu o navio. Perdidas as esperanças de salvá-lo, manobrei para me aproximar à praia antes que fosse a pique, e conseguindo-o, atravessei os mastros para nos servirem de ponte e aliviar os cascos.
dos passageiros; romântica e imaginativa, na ingenuidade dos alunos; cautelosa e burocrática, no texto do funcionário. O capitão Lucas só escreveu ao El Mercurio depois que uma notícia do naufrágio foi publicada pelo jornal, em 25 de junho de 1840. Essa matéria tinha feito referência aos “rumores que circulam” e convidara o capitão, ou algum aluno, a “explicar” o que que acontecera.63 Lucas enviou, então, uma longa carta ao jornal, contrariando o que dizia ser o “princípio geral de guardar silêncio sobre suas ações”, pois temia que esse relato provocasse “discussões e contestações públicas que não produziam qualquer resultado”.64 A carta, na verdade, precisou fazer mais do que explicar o acidente aos leitores que, àquela altura, já tinham visto e ouvido falar bastante sobre o assunto. Ele teve que responder ao que consi224
O jornal El Mercurio, de Valparaíso, publicado em 23 de junho de 1840, dia do naufrágio do OH. O relato do capitão Lucas, descrevendo sua conduta no naufrágio, foi transcrito pelo jornal no dia 27.
derou uma “interpelação” do jornal, embora o redator afirmasse que queria apenas deixar “o seu nome bem-posto”. O capitão foi forçado a justificar a sua conduta para sanar as dúvidas e contestar as suspeitas que tomavam conta da cidade sobre sua competência e, o que era muito mais grave, sobre sua honestidade no caso.65 Esse é o tom da resposta, com uma boa dose de “contrariedade”: Quanto aos rumores que, segundo o conteúdo de seu artigo, circulam sobre as causas do naufrágio do Oriental, o senhor Redator sabe muito bem que há indivíduos que administram e conduzem melhor os navios e os assuntos dos outros do que os seus próprios. No entanto, uma vez que eles insistem em saber o que aconteceu e que o senhor desejou ser o seu intérprete, peço-lhe para publicar os seguintes detalhes [...].66
Toda a sua argumentação demonstra que, seguindo as regras usuais, ele conduziu a situação em comum acordo com o piloto e executou diversas manobras para impedir o pior: observando que o navio subitamente se aproximava da terra, mandou descer duas embar-
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cações menores para conduzi-lo e afastá-lo das pedras traiçoeiras de Punta de los Ángeles(em Playa Ancha); considerando que o navio seria destruído se ancorassem, pois ficaria batendo contra as rochas, previu que tinham maiores chances se o deixassem livre para se aproximar o máximo possível da praia, ainda que “saltando de rocha em rocha”; fazendo tombar o navio para o lado da terra, concentrou as pessoas no lado oposto67, cortou as amarras e empregou o mastro de proa (“gurupé”) como uma ponte, a fim de facilitar o salvamento das vidas e dos bens que estavam a bordo. Por esta razão, as âncoras do OH permaneceram sem uso, nos turcos, causando tanto estranhamento aos que viram o navio tombado, diante da praia, sem estar fundeado, nos dias em que assim permaneceu até desaparecer de vez. Afinal, os habitantes de Valparaíso já tinham visto muitos naufrágios... As informações do capitão Lucas para os armadores Despecher e Bonnefin não eram muito diferentes na descrição dos fatos, já endereçada ao cônsul e ao jornal, mas a carta começava de forma patética: “é com tristeza e pesar que eu anuncio a perda total do vosso belo navio Oriental”.68 Uma vez dada a notícia mais difícil, as outras tinham um tom bastante ameno: ninguém se machucou; o que era possível foi salvo; todos ofereceram ajuda em Valparaíso; os jovens queriam continuar a viagem; ele estava à procura de outro navio. Para completar, Lucas informou: Só tenho tempo de anunciar que estou enviando para Paris os dois jornais da cidade contendo os detalhes desse acidente muito deplorável, para que, aparecendo nos jornais da capital, as famílias interessadas em tudo que se relacione ao Oriental fiquem tranquilas sobre o destino de seus familiares.69
O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
Veleiro de três mastros obrigado a “navegar em seco” (sem as velas) para resistir à força dos ventos. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
Uma “corveta avariada” em combate ou por qualquer outra circunstância, segundo o Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840). A legenda do célebre jornal ilustrado romantiza a cena: “Nossa gravura representa uma corveta desmantelada de parte de seus mastros [e] de quase todas as suas velas e manobras; ela cessou seu fogo [armamento] e recolheu sua bandeira. Antes tão elegante, tão bonito, esse navio parece ter perdido a vida. Vencido, em estado de triste submissão, ele espera que o vencedor pare”.
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As impressões do naufrágio do OH, segundo Popelaire de Terloo70 Eram duas e meia da tarde. Nesse momento, não posso esquecer esta circunstância peculiar: o conde d’Arcel perguntou ao capitão se a rocha isolada que era visível a certa distância era a mesma onde ele quase se perdera em uma época anterior. O capitão então explicou aos alunos da seção marítima como ele milagrosamente passou a seis metros dessa rocha, levada pelas correntes. Assim que ele terminou essa explicação que a calma nos deteve e, enquanto observávamos o recife, vimos que estávamos nos dirigindo para outro ponto da costa chamado Placantcha [sic], cheio de pedras contra as quais o mar vinha se quebrar com violência ainda maior porque é aqui que as correntes se detêm. Compreendemos instantaneamente o perigo que o navio corria. Nós estávamos em uma bonança, sendo impossível usar as nossas velas. Dois barcos foram colocados no mar para rebocar o navio. Até então, a mais viva alegria e a maior segurança prevaleciam a bordo. Nós pensávamos no jantar e em nenhuma outra coisa. Entretanto, os marinheiros experientes de nosso Oriental, mantendo-se calados, sentiam uma profunda inquietude. O capitão tentou dobrar uma ponta que fazia face ao navio; se ele conseguisse, escaparíamos de todo perigo e nos encontraríamos a salvo de correntes e rochas; mas, pelo contrário, uma maré forte veio dar ainda mais força àquele recife que nos entreteve, e nos fez desviar com uma incrível violência em direção à costa. A cada golpe com o remo dos homens em nossos barcos, as nossas canoas recuavam por mais de uma braça. Já passava das três horas. O capitão ordenou que as âncoras e correntes estivessem prontas. Nós sondamos: não encontramos o fundo. Todos, nesse momento, estavam seriamente preocupados com a situação crítica em que nos encontrávamos. Nos aproximamos da costa. Sondamos novamente. Primeiro, contamos treze braças, depois oito; e a corrente nos levava embora com uma velocidade cada vez mais assustadora. De repente, uma exclamação dolorosa escapou de todas as bocas como a uma só voz: estamos perdidos, nós acreditamos. Tínhamos tocado os rochedos e um choque terrível derrubou tudo e fez todos os rostos empalidecerem. Nós já tínhamos um conhecimento do mar suficiente para compreender que o navio estava perdido. Esta situação não tem nada de surpreendente para os homens do mar, mais ou menos familiarizados com todas as emoções do perigo; no entanto, asseguro-lhe que a dor que ela nos fez sentir é alguma coisa impossível de exprimir. A força do choque nos fez, de algum modo, saltar sobre as rochas e recebemos um golpe ainda mais violento do que o primeiro, depois do qual não sei como ainda estamos vivos. [...] Com efeito, o navio estava preso por tais solavancos e não conseguíamos ficar de pé, caindo constantemente uns sobre os outros. Para piorar a situação, o navio seguia uma inclinação crescente e, atingido pelas correntes, ameaçava afundar a qualquer momento. Nós estávamos a uma légua de Valparaíso, sem ajuda, que futuro! O segundo dos nossos barcos não conseguiu se aproximar do nosso navio; ele se sacrificava por nós e percebemos desesperadamente que se perdia sobre as rochas. Aqueles que lá estavam, no entanto, não se desencorajaram e mostraram a maior intrepidez; mas sua devoção foi infrutífera. Eles tiveram grande dificuldade para se salvar. Nesse momento, que eu poderia chamar de supremo, o capitão interpelou a seção marítima e pediu-lhe cinco homens dispostos a pular no mar e salvar esse barco a nado. Dez se apresentaram [...]. Eles se precipitaram nas ondas sem pensar por um momento no perigo iminente que os ameaçava; sem ver, por assim dizer, as correntes afiadas nas quais se arriscavam de serem partidos aos pedaços. [...] Ah! Meu amigo, escrevo para você depois do perigo; agora estou calmo ... Mas então! Que cenas! Que impressões! Elas são indescritíveis!
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A admiração pela firmeza do comandante do OH na condução de todo o episódio e a bravura da tripulação foi expressa por vários viajantes. Um passageiro, cujo nome não é mencionado pelos jornais de Bruxelas e Nantes, escreveu no próprio dia 23 de junho: “nada traía a menor emoção nas palavras e na fisionomia do capitão Lucas”. E completou: “ele se multiplicava, dava ordens com sua presença de espírito habitual e recomendava a todos calma e silêncio”.71 A opinião de Terloo não era menos elogiosa: O Sr. Lucas mostrou neste desastre tudo o que se poderia esperar de um velho marinheiro, em matéria de prudência e sangue-frio. Nós devemos a ele ter dirigido, em certo sentido, a perda do navio, de tal modo que ele veio a tocar a terra sem se quebrar...72
Os náufragos do OH, ainda abalados pelo inesperado acidente e a sorte de estarem vivos, também foram bastante elogiosos quanto à coragem de alunos e passageiros. Aquele que escreveu no próprio dia 23 estava impressionado pela atitude de um jovem belga que decidiu “voltar três vezes a bordo, a nado, e retornar sucessivamente à terra, a fim de prender as cordas que deviam servir ao salvamento da tripulação”.73 O capitão Lucas, constatando que o OH estava perdido, mas agora tombado e seguro, ordenou então as prioridades usuais: o salvamento de um doente; em seguida, as mulheres e crianças; por fim, todos aqueles que não sabiam nadar. Terloo comentou que o cônsul belga não queria abandonar seus compatriotas nesse momento crítico e, apesar de toda a insistência, decidiu permanecer a bordo. Marinheiros da fragata Avenir (francesa) e da corveta Calliope (inglesa), além de barcos menores que estavam próximos, vie-
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ram rapidamente em socorro dos náufragos.74 A aproximação, no entanto, era difícil e arriscada, em razão dos rochedos e das correntes: A mulher, a irmã e as filhas do comandante, assim como o cônsul francês foram imediatamente salvos. [...] Uma vez que as damas e as crianças tinham sido colocadas em lugar seguro, cada um pensou em seu próprio salvamento, tentando resgatar o máximo possível dos pertences. Vários se precipitaram na água e chegaram à terra, na maior parte, sem outros acidentes além de alguns hematomas. Outros, mais calmos, pensando naqueles que não sabiam nadar, dedicaram-se com uma coragem inexplicável a fazê-los chegar à terra.75
Os que não sabiam nadar precisaram de ajuda para evitar o afogamento dentro do próprio navio. Alguns, já com “a água sobre a cabeça”, como o próprio Terloo, deixaram o OH através da solução rapidamente arranjada pelo capitão Lucas, com o mastro de proa lançado em direção à terra. Um dos náufragos comentou ter preferido “esse procedimento improvisado às embarcações enviadas pelos navios francês e inglês”.76 Outros, conseguiram até mesmo se salvar “a seco”, embora a passagem sobre os rochedos por essa “ponte” também representasse algum risco. Os que não escaparam da água ficaram em pior situação, pois as roupas estavam completamente molhadas e a cidade, a alguns quilômetros de distância. Em todo caso, Champion de Villeneuve agradeceu: Para salvar nossos pertences, ficamos o dia todo na água até a cintura, mas, felizmente, apesar de bastante frio, ninguém ficou doente.77 227
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Uma semana depois do naufrágio, o resgate dos bens que estavam a bordo ainda prosseguia, uma vez que o OH continuava inteiro na beira da praia. O mar tinha permanecido relativamente calmo e a “ponte” facilitava o entre e sai do navio para “salvar tudo que fosse possível”, inclusive víveres, vinhos e outras provisões.78 Com um lado do navio mais atingido pela água do que o outro, Terloo se considerou entre os que foram contemplados pela sorte, ao menos neste aspecto: Desde o primeiro dia do naufrágio, o convés inferior e o porão ficaram cheios de água, de modo que os estudantes que ocupavam essa parte do navio não conseguiram encontrar qualquer vestígio de seus pertences. Aqueles que estavam alojados no tombadilho foram mais afortunados, sem exatamente sê-lo, e como sou desse grupo, pude recuperar meus livros e meu guarda-roupa.79
Contudo, muitos temiam que o navio se quebrasse e os bens que ainda permaneciam em seu interior fossem parar no fundo do mar.80 Por outro lado, os náufragos não se afligiam apenas com os prejuízos causados pela água. Havia outros riscos no momento e, por essa razão, o governador de Valparaíso, Juan Melgarejo, mandou uma ajuda que “não podia ser considerada inútil”, observou Villeneuve com certa ironia.81 Os homens do governador passaram a vigiar em terra firme todos os pertences que eram retirados do navio.82 Terloo criticou a própria equipagem do OH por se aproveitar da desgraça dos demais viajantes: Todos os passageiros, além do mais, conduziram-se admiravelmente; os homens da tripulação, no entanto, não mereciam elogios: 228
aproveitaram-se de nossa desgraça para se apropriar – digamos, para roubar – tudo o que puderam saquear de nossos objetos.83
Os relatos do naufrágio não trazem, contudo, qualquer informação sobre a câmara de daguerreotipia em particular. Sabe-se, no entanto, que o comandante Lucas salvou, além dos registros da equipagem e de bordo do OH, os instrumentos da expedição e os seus próprios pertences. Um dos alunos, elogiando o comportamento do professor Moreau, escreveu: Ele foi o último a permanecer no navio para ajudar o bravo capitão Lucas a salvar os instrumentos nas embarcações inglesas que vieram nos socorrer e ele se retirou no último barco com o oficial que os transportava.84
Para os leitores do El Mercurio, Lucas argumentou que somente o navio estava segurado, mas este não lhe pertencia. Víveres, instrumentos e obras de literatura e ciências que compunham os seus bens, ele dizia, teriam representado “um grande prejuízo” caso tivessem afundado. Mas Lucas fazia questão de proclamar que essa perda não seria maior do que “o aniquilamento da ideia que concebi de promover a educação de alguns jovens franceses, visitando todos os povos da terra e com eles confraternizando”.85 O OH terminava, assim, a sua vida no mar e o casco do navio, como costumava ocorrer na região, seria vendido para os carpinteiros de Valparaíso. Depois de alguns dias, no entanto, o tempo piorou e ele afundou de vez. O testemunho de Villeneuve revela que muitos tinham vontade de continuar a viagem e eles se encontravam duas ou três vezes por dia para deliberar o que fazer, com
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O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
A expectativa dos náufragos, no relato do jovem Champion de Villeneuve86 O Oriental está perdido. Sua carcaça ainda luta contra as ondas e as correntes; em pouco tempo, com a mais leve rajada de vento, tudo terá desaparecido, e somente os destroços anunciarão na praia a infelicidade que aconteceu. [...] Quanto a mim, passei uma noite muito agitada, apesar de toda a calma e filosofia com que me armei; o drama da tarde me abalou um pouco e me fez pensar em nosso futuro. O que nos espera? A viagem está suspensa; como e de que modo retornaremos à França? [...] Eu ainda não sei o que nos acontecerá; talvez, tenho essa doce esperança, continuemos a viagem em uma embarcação menor; é uma ideia que abraçamos vivamente. Uma vez que já começamos, é preciso terminar a nossa bela viagem: já estamos muito avançados, todos nós adquirimos os hábitos do mar, todos estão cheios de ardor, então devemos tentar fretar ou comprar outro navio com o que sobrou dos fundos da expedição. Parece que com a ajuda do cônsul francês isso será possível, o que será decidido em poucos dias. Se este projeto falhar, nós liquidaremos em seguida as nossas condições e cada um retornará à Europa por si mesmo ou com a ajuda dos cônsules. Se a expedição continuar, estaremos novamente em rota antes de um mês.
dois navios já em vista. Os moradores de Valparaíso, por sua vez, desde o princípio intrigados com as razões do naufrágio, estavam agora ainda mais interessados no destino dos próprios náufragos. O jovem comenta que, depois de uma estadia de quase três semanas, eles eram objeto de grande curiosidade para os habitantes do lugar. Relembrando as emoções do dia, Villeneuve também demonstrou o bom humor entre os membros da expedição: “antes de anoitecer, todo mundo, sem exceção, estava em terra e, à noitinha, retornando à Valparaíso, nós já tínhamos recuperado a nossa alegria”.87 Pensando no espetáculo que tinha acabado de presenciar, ele resumiu em uma frase o espírito de uma época: “parecia a todos nós que um naufrágio era uma bela coisa e que bem merecia o sacrifício de ser visto”.88 Restavam, agora, as dúvidas e os anseios...
Alunos e passageiros confiavam no apoio oficial para a continuar a expedição ou retornar à Europa. A presença dos cônsules da França e da Bélgica no naufrágio do OH bem poderia ter facilitado esse apoio e o juízo das respectivas autoridades sobre o comandante Lucas, mas essa presença parece ter tornado a situação ainda mais difícil para todos. Hippolyte Serruys, negociante de uma família belga estabelecida no Chile, retirou-se para Santiago logo depois do acidente. Albert Huet, “aluno-cônsul” em Valparaíso, retornou à França pouco depois, com problemas de saúde.89 Aquele que, de fato, tratou de toda a questão do OH com o capitão Lucas, os alunos e, naturalmente, o ministério de Assuntos Exteriores, em Paris, foi Henri Nicolas Cazotte.90 Funcionário de carreira e conhecedor da região, já tinha servido no Rio de Janeiro, em Lima e, como cônsul de Valparaíso, 229
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estava no Chile há alguns anos. Em 1836, cruzou o Atlântico a bordo do La Bonite, participando por algumas semanas da célebre viagem de circum-navegação. Em 1839, foi nomeado cônsul-geral da França em Santiago, exercendo com convicção a ideia que fazia do cargo: ser um “pequeno tirano” da diplomacia francesa.91 No ano seguinte, decidiu ocupar-se pessoalmente dos assuntos de Valparaíso, tendo em vista a proximidade com Santiago e o clima mais “recomendável” para a sua saúde.92 Uma ampla correspondência sobre toda a questão do OH foi enviada por Cazotte ao ministro de Assuntos Exteriores, logo retransmitida ao almirante Duperré, ministro da Marinha, que aprovou integralmente o modo como conduziu o caso.93 Para continuar a viagem de circum-navegação, o capitão Lucas também solicitou ajuda ao cônsul Cazotte, assim como aos comerciantes franceses de Valparaíso que se dispusessem a custeá-la. Em princípio, estava disposto a renunciar à própria remuneração, oferecendo como garantia de pagamento os contratos da expedição, embora afirmasse que a perda de diversos papéis no naufrágio não lhe deixava “a possibilidade de provar, de forma concreta e bastante positiva, que ele tinha na França, efetivamente, os valores suficientes”.94 Lucas evocou o “espírito nacional e filantrópico” do empreendimento para obter essa ajuda, usando uma argumentação que tinha tudo para ser convincente: Os sacrifícios que todos estamos dispostos a fazer para continuar e que, de minha parte, somam mais de 30.000 francos [...] classificam essa iniciativa hoje, se antes ela já não tivesse sido considerada, entre as poucas tanto nacionais como filantrópicas, custeadas com sacrifícios e decepções por 230
Os desdobramentos do naufrágio, na visão do cônsul Henri-Nicolas Cazotte95 O naufrágio ocorreu às quatro da tarde. O mar que, em geral, rompe com a maior violência nesse local, por uma felicidade inesperada estava muito bonito nesse momento e, assim, foi possível colocar em terra, imediatamente, os passageiros e a tripulação, sem qualquer acidente. Avisados do triste acontecimento, fomos imediatamente ao local, acompanhados pelo Sr. Governador de Valparaíso, o qual se apressou em facilitar os meios para ter início o resgate do navio. O almirante inglês Ross enviou, por sua vez, todos os barcos da corveta La Calliope, ancorada no porto.96 A maioria das provisões, velas, âncoras e outros objetos pode ser removida do navio; mas há pouca esperança de aproveitar o casco que será destruído na primeira brisa do Norte. O fim desta expedição, que obteve o consentimento da França e a proteção da Bélgica, e que havia começado sob votos tão auspiciosos, é ainda mais deplorável porque os jovens aos quais ela deveria beneficiar, hoje se encontram lançados a quatro mil léguas de sua pátria, sem recursos, a maioria sem qualquer outra vestimenta além daquela no momento do naufrágio e alguns (os que nadaram para trazer à terra uma corda por meio da qual estabeleceram um vai e vem) não possuem qualquer outra além das que lhes foram emprestadas por compatriotas. Eu fiz questão de vir em socorro de todos os náufragos, muitos dos quais não têm 18 anos de idade. Eu os coloquei em diversas casas, destinando-lhes uma piastra por dia para a sua comida e o seu alojamento, o que é muito pouco neste país onde a existência é tão cara; e eu providenciei as roupas mais indispensáveis para aqueles que necessitavam.
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aqueles que as realizam e se contentam, como compensação, com a glória de as ter fundado. A este respeito, não tenho mais nada a desejar, a confiança, o apego e a devoção que tenho a felicidade de inspirar a todos os meus viajantes sem exceção, após nove meses de viagem e um naufrágio, provam suficientemente o que fizemos e o que ainda podemos fazer. [...] Haveria interesse para o país em continuá-la e, eu insisto neste ponto, apenas para o país [grifado no original].97
As dificuldades para arcar com as despesas de manutenção dos náufragos na cidade, sem comprometer os recursos do Tesouro, estavam sendo consideradas por Cazotte e ele aprovou no mesmo dia a proposta de continuação da viagem. Na ocasião, chegou a demonstrar certa simpatia pelo capitão Lucas:
O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
O porto de Valparaíso, assim, foi duas vezes desastroso para ele e, no entanto, esta última expedição que tanto honra aquele que a concebeu devia merecer por sua devoção, talvez aventureira, um outro resultado.98
Vista de Valparaíso, em 1833. Álbum de aquarelas do artista inglês William Smyth.
O apoio do cônsul consistiu, de fato, em recorrer à rede de negociantes franceses estabelecidos em Valparaíso, “a maior parte meus amigos”, com valores que lhe pareciam razoáveis para o financiamento da expedição. Depois de alguns dias, no entanto, esses negociantes desistiram do empreendimento, demonstrando certa desconfiança em relação ao comandante do OH e seu real interesse em concretizá-lo.99 Lucas propôs, então, que o governo francês custeasse sozinho o restante da viagem, oferecendo como garantia novos contratos, que seriam reconhecidos pelo cônsul, assinados pelos alunos e, posteriormente, pagos por suas famílias na 231
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França. Cazotte não aceitou: dizia não ter a mesma autonomia do colega belga sobre os recursos oficiais e, além do mais, os alunos eram menores, de modo que quaisquer valores adiantados pelo comandante, à revelia dos pais, seriam considerados como “abuso de confiança”.100 Enquanto as conversas seguiam sem qualquer resultado prático, os jovens Appert e Oreille de Carrière procuraram o cônsul Huet e pediram o repatriamento em um navio de comércio, já de partida para a França. Por sinal, o próprio cônsul deixou Valparaíso nesse navio.101 Lucas ficou furioso quando soube que a solicitação tinha sido autorizada, acusando o cônsul francês de “favorecer a deserção dos alunos” e “destruir um empreendimento que lhe custara os maiores sacrifícios”.102 O comandante do OH também conhecia a lei: “eu estou colocado em relação a esses senhores e suas famílias no caso previsto pelo artigo 296 do Código de Comércio”.103 Completando o argumento, ele concebia a sua autoridade na condição de um “pai” e não na posição de um capitão de navio. Finalmente, solicitou que sua carta fosse comunicada aos demais jovens para que não seguissem o exemplo. As acusações eram pesadas: Permita-me observar, senhor Cônsul-Geral, que os jovens foram embarcados como noviços sob meu comando, [e] o senhor os embarcou no Bonne Clemence, sem se preocupar se tínhamos questões financeiras para resolver em conjunto. Considero, enfim, que as conveniências, as considerações, os procedimentos e os regulamentos, assim como os interesses da expedição, foram completamente esquecidos na medida adotada em relação aos dois menores.104 232
Indignado com as palavras do capitão e as acusações que ele fazia em público de que estaria impedindo a continuação da viagem, Cazotte respondeu com sarcasmo, usando o poder que tinha em mãos.105 Se o comandante estava em condições de fazer sacrifícios para dar prosseguimento à expedição e arcar com a comodidade dos alunos em Valparaíso, ele ordenava, então, o fim imediato de toda a ajuda aos náufragos: Como o senhor hoje me anuncia não ter mais necessidade de ajuda, pois é esta a interpretação natural para dar à sua carta e como o senhor mantém a linguagem que apresentou desde o primeiro dia do seu infortúnio, eu declaro que não sou ciumento para retirar o mandato que lhe foi confiado e eu deixo com prazer ao senhor a satisfação de fazer, no interesse dos jovens e suas famílias, o que achar conveniente. Minha missão está terminada e eu convido o Sr. Cônsul francês em Valparaíso a suspender a pensão alimentícia que os senhores passageiros, professores, estudantes e marinheiros do Oriental recebem.106
Desse ponto em diante, o antagonismo entre Lucas e Cazotte na percepção da autoridade que exerciam sobre os noviços e do papel que desempenhavam em tal situação tornou as posições de ambos inconciliáveis. O cônsul reiterava a sua competência legal sobre a tripulação francesa, a despeito da “autoridade completa e absoluta” que Lucas reclamava para si e dos contratos assinados pelos pais.107 Os jovens tinham sido registrados como noviços na equipagem do OH pela Inscrição Marítima de Nantes e a legislação era clara a esse respeito:
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A traiçoeira baía de Valparaíso, em mapa levantado por um engenheiro hidrógrafo da Marinha francesa, 1838. A letra “R” na área pontilhada ao redor de Punta de Valparaíso ou Punta de los Ángeles, em Playa Ancha, indica a existência de rochas submersas. Este mapa foi incluído por Claudio Gay, em seu Atlas de la historia física y política de Chile (Paris, 1854).
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As ordenações de marinha autorizam os cônsules a providenciarem o repatriamento dos marinheiros naufragados e a lhes proporcionar meios de subsistência até o momento que forem embarcados. Essas despesas são de responsabilidade do Estado somente no caso em que as vítimas do sinistro se acharem em completo abandono.108
Para complicar ainda mais a situação, Cazotte não considerava “desertores” os que queriam abandonar a expedição, decisão que reduziria ainda mais os pagamentos aos quais Lucas tinha direito, de acordo com as “Condições de admissão no navio-escola”. O cônsul acreditava que, a essa altura, o capitão só podia comprar ou fretar “uma escuna ou um brigue, a bordo do qual será impossível ter as mesmas comodidades que no Oriental”. Além disso, os professores que continuavam na expedição eram sem “qualquer utilidade” para a instrução dos jovens.109 E indagava: As condições de alimentação, o número de escalas e o tempo de permanência nos portos também foram alterados, como demonstra o novo prospecto elaborado por este capitão. Seria justo, então, olhar como desertores os jovens que declaram não desejar seguir a viagem em circunstâncias tão diferentes (as quais eu enumero aqui apenas uma pequena parte)? As famílias não teriam qualquer objeção à autoridade que fechasse os ouvidos a reclamações tão bem fundamentadas?110
Lucas, por sua vez, em tom mais brando, porém ainda irônico, lembrou ao cônsul que o conteúdo de sua carta não podia se sobrepor às ordenações reais, posto que elas garantiam àqueles jovens a proteção do Estado 234
à qual tinham direito. O que ele dizia, nas entrelinhas, era que Cazotte devia cumprir a sua função e socorrer os náufragos, inclusive com a continuação da viagem. No meio desse fogo cruzado, um grupo escreveu ao cônsul implorando para voltar à França. Doze jovens (dez alunos, um passageiro e um não identificado) explicaram a situação desesperadora em que estavam, desde que a ajuda diária tinha sido cortada, deixando as despesas a cargo do capitão Lucas. Eles também requeriam ao cônsul que reforçasse o pedido às famílias para custear o retorno, sem o que não teriam como pagar a passagem.111 A dificuldade dos belgas era ainda maior, pois como não podiam ser repatriados pelos navios de guerra da Marinha francesa, dependiam da boa vontade dos comandantes de navios mercantes. A desistência dos alunos e a falta de financiamento para o restante da viagem encerraram de vez a expedição do OH. Em agosto de 1840, Cazotte anunciou ao ministro que todos os que desejavam voltar à França viajariam a bordo dos navios Courrier de Manille e Bonne Clémence, o primeiro com destino a Le Havre e o segundo em direção a Bordeaux. Por fim, ele também manifestou as suspeitas que acumulou em relação ao capitão Lucas: Eu tive, então, algumas dúvidas sobre a sua boa-fé em tal circunstância, perguntando-me se ele realmente tinha a intenção de prosseguir a viagem e se era seu interesse continuá-la. [...] O capitão Lucas, que me acusou de ter ultrapassado o limite das minhas atribuições por ter consentido na repatriação de dois dos jovens que não queriam fazer parte da projetada expedição, bem soube enviá-los de volta ao consulado quando foi necessário pagar suas despesas
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em Valparaíso e decidir os meios de lhes fazer voltar à França.112
Em Londres, uma nota resumida sobre o “naufrágio total” do “navio francês que fazia a volta ao mundo”, com “passageiros e tripulação salvos”, foi dada pelo Lloyd’s List, em 29 de setembro de 1840.113 Em Bruxelas, o acontecimento foi noticiado no dia 2 de outubro de 1840, aparecendo na mesma semana na imprensa de Nantes e, somente no começo de novembro, no Le Moniteur Universel, em Paris.114 Em respeito às famílias, aos leitores e ao compromisso de Jobard com o capitão Lucas, a primeira matéria sobre o naufrágio no Le Courrier Belge trazia a seguinte nota: Nós nos apressamos em tranquilizar as famílias belgas, para quem as notícias do naufrágio do l’Hydrographe serão, sem dúvida, repletas de penosas apreensões. [...] Além disso, na Bélgica, tudo o que se refere à interessante expedição do l’Hydrographe é lido com um vivo entusiasmo pelas famílias que têm seus familiares a bordo deste navio.115
O Le Courrier Belge reproduziu, então, a carta do dia 23 de junho e, ao longo do mês de outubro, os jornais de Nantes e Bruxelas transcreveram outras cartas de outros viajantes sobre o naufrágio do OH. A correspondência do capitão Lucas para Despecher e Bonnefin só chegou aos armadores em fins de outubro, recebida “por via da Inglaterra”, quando vários relatos do naufrágio já eram conhecidos.116 Os proprietários do navio também estavam recebendo, a esta altura, muitos pedidos de notícias por parte das famílias, bastante aflitas com a situação dos filhos.117 Eles providenciaram, então, a impressão de um prospecto para ser
distribuído na França e na Bélgica. O acidente era conhecido, mas o impresso trazia o que os pais queriam realmente saber: todos estavam bem e ninguém sofreu a menor contusão. Havia outra informação importante, enviada pelo capitão Lucas: “salvamos do navio tudo que nos foi possível”.118 A viagem estava terminada, mas o longo processo de resolução do que cada um teria a receber ou a pagar estava apenas começando. A contabilidade da expedição ficou ainda mais complicada: as devoluções a serem feitas tinham que ser ajustadas às quantias efetivamente depositadas pelas famílias, os adiantamentos dados pelo capitão durante a viagem deviam ser abatidos do restante do soldo da tripulação, os valores apurados com a venda dos bens salvos pelo resgate precisavam ser contabilizados no saldo geral, e assim por diante. Além do seguro do navio, Despecher e Bonnefin tinham a procuração assinada por Lucas, em 4 de setembro de 1839, concedendo-lhes o poder de receber e dar quitação de qualquer pagamento relativo aos alunos.119 Agora, era preciso discutir também a divisão dos valores eventualmente obtidos com a venda de pedaços do navio, víveres e objetos que pudessem diminuir os prejuízos de lado a lado. Lucas, como todos acreditavam,
Anúncio, em consequência do naufrágio do OH, publicado no El Mercurio, em 17 e 18 de julho de 1840.
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tinha sofrido uma perda moral, mais do que financeira.120 Os armadores também não podiam se queixar: o seguro do Oriental cobria a perda maior e, apesar das contestações na França e na Bélgica, os pagamentos dos alunos seriam revertidos para os dois. Mas havia muitas reclamações a serem respondidas... Desde fins de janeiro de 1840, Despecher e Bonnefin já escreviam ao governo da Bélgica, usando a procuração dada pelo capitão Lucas, para cobrar as despesas efetuadas com seus alunos.121 As autoridades do país, no entanto, tinham recebido na mesma época a carta de Emonce sobre os gastos em Nantes, antes da partida, que não tinham sido previstos.122 O comandante e os armadores tiveram que justificar esses valores, considerados “exorbitantes” pelas autoridades belgas, assegurando o bom comportamento dos seus alunos, inicialmente colocado sob suspeita.123 Durante meses, Despecher e Bonnefin reivindicaram essas somas.124 Embora Soulier de Sauve tivesse deixado uma procuração, em Bruxelas, autorizando o notário Bouvier a receber tais pagamentos, os armadores não reconheciam o documento e argumentavam que o professor tinha abandonado a expedição no Rio de Janeiro.125 Cientes do naufrágio depois de receber a carta do capitão Lucas, eles procuraram garantir, ao menos, o pagamento do primeiro ano da viagem.126 Os ministros belgas, informados por Emonce sobre toda a questão da indisciplina, ficaram ainda mais contrariados com a notícia do fim da expedição. Os gastos, agora, seriam acrescidos pelas despesas de repatriamento que incluíam, além dos alunos, o professor Moreau.127 Por mais de um ano, as questões envolvendo a natureza legal, a minuciosa contabilidade e o controvertido pagamento dessas dívidas ensejaram uma ampla discussão entre os armadores franceses e o governo belga. 236
Carta dos armadores Despecher e Bonnefin para a Inscrição Marítima de Nantes, atestando a participação dos alunos belgas Emonce e Verelst no OH, 13 de outubro de 1840.
Na França, Despecher e Bonnefin também enfrentavam grandes dificuldades. Em 31 de maio de 1840, eles começaram a reclamar a metade da quantia depositada pelas famílias antes da viagem, de acordo com as Conditions d’admission sur le Bâtiment-école (“Condições de admissão no navio-escola”), ainda não quitada.128 O contrato que tinham assinado era claro, mas o notário Bertinot, em Paris, recusou-se a fazer esse pagamento, alegando que as famílias lhe apresentaram várias reclamações sobre os incidentes a bordo da expedição. O National de l’Ouest e o Lloyd Nantais já tinham transmitido às famílias, desde 15 de fevereiro de 1840, as notícias publicadas inicialmente
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no Journal du Havre sobre os duelos, os motins e as primeiras deserções do OH.129 Os pais dos alunos se opunham, portanto, à entrega dos valores depositados. A questão acabou parando nos tribunais e, em agosto, ainda sem saber do naufrágio, a Corte de Apelação de Paris recusou os argumentos dos advogados de Bertinot e das famílias, determinando que a metade da quantia fosse entregue aos armadores, para que os valores chegassem às mãos do capitão Lucas. Os juízes consideraram que o comandante não podia ser privado das “somas adquiridas de acordo com os estatutos da expedição e que, além do mais, eram indispensáveis para o reabastecimento do navio e as necessidades da tripulação”.130 Á medida que as notícias e os comentários sobre o fim da expedição circulavam, as suspeitas de uma perda voluntária cresciam e os pagamentos se tornaram mais difíceis. A fraude era mais comum do que poderiam supor os leitores de viagens célebres. Por isso mesmo, os cônsules tinham por obrigação “saber se o acidente pode ou não ser atribuído a qualquer crime, delito ou outra fraude do capitão, ou a alguma conivência a fim de enganar as seguradoras”.131 Cazotte não fez uma acusação formal ao capitão Lucas, mesmo porque não era fácil provar que sua conduta tinha sido criminosa. Ainda assim, a mera suspeita de um comportamento duvidoso já causava danos irreparáveis à reputação de um comandante. Razões não teriam faltado para um “naufrágio provocado” e, com ele, o desfecho antecipado de uma expedição já condenada ao insucesso: a indisciplina a bordo, o desligamento dos professores, a censura dos comandantes navais, a desconfiança dos agentes consulares, o desembarque e a deserção de vários alunos, o descontentamento das famílias, o seguro que podia ser obtido com a perda do navio... Para
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agravar as suspeitas, todos sabiam que Lucas conhecia bem o local do naufrágio que, além do mais, ocorrera de dia, com tempo bom e mar calmo, próximo à praia, conseguindo-se que os viajantes e os pertences a bordo fossem salvos com relativa facilidade.132 Sob esse ponto de vista, embora muitos acreditassem em uma perda voluntária, era preciso concordar que Lucas conduziu o OH e seu naufrágio “com extraordinária habilidade”.133 Contudo, a calma que demonstrou naqueles dias, relatada de modo elogioso por alguns e cheia de suspeição por outros, contribuiu para dividir ainda mais as interpretações sobre sua conduta e as características do sinistro. De fato, o comandante dominava muito bem não apenas as singularidades do porto de Valparaíso, como também todas as manobras da navegação oceânica e as demais atribuições de um capitão de longo curso.134 Lucas exerceu-as com destreza e segurança no comando do OH até o fim. Além das orientações capazes de prevenir um desastre ainda
Os registros de armamento, desarmamento e de bordo do OH, nos anos 1839-1840.
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maior, ao “dirigir o naufrágio” naquelas águas traiçoeiras, ele teve sangue frio e agilidade de raciocínio em todos os momentos de grande tensão. E, como qualquer comandante, foi também o último a abandonar seu navio, zelando pelo salvamento dos que estavam a bordo, incluindo a sua esposa e filhas, bem como da maior parte dos livros, papéis, instrumentos e víveres, segundo as regras consagradas no meio naval. O comentário do passageiro que escreveu no dia do naufrágio apontou uma questão que poucos, agora, estavam dispostos a considerar: É ele, nesta circunstância, quem mais verdadeiramente tem a lastimar, pois a viagem ao redor do mundo, cumprindo todas as condições de seu programa, traria fama ao seu nome e lhe criaria um belo futuro. Parece, no entanto, que nem tudo está perdido, que ele se propõe a comprar um outro navio e a continuar a expedição como se nada tivesse acontecido.135
As opiniões continuariam divididas para sempre. Mas até mesmo o cônsul Cazotte, com todas as suas desconfianças e ressalvas, levou em conta a possibilidade de estar fazendo um julgamento injusto sobre o capitão, diante de uma situação tão adversa: Eu poderia ter mudado completamente minha opinião sobre a honestidade e a probidade do Sr. Lucas, que eu conheço há muito tempo, se eu não soubesse as circunstâncias em que ele se encontra e que podem ter contribuído para cegá-lo em relação às dificuldades reais que se opõem à continuação de seu empreendimento e torná-lo por um momento injusto em relação a mim.136 238
Em 1906, Léandre Le Gallen escreveu sobre os “costumes, usos, marinha, pesca, agricultura e biografias” de Belle-Île, deixando a sua opinião sobre aquele filho da terra do qual, então, poucos se lembravam: « Augustin Lucas teve o destino de muitos espíritos superiores; ele foi mal compreendido e morreu pobre e ignorado”.137 Em 1970, Adrien Carré publicou o texto sobre a história, singular e obscura, da expedição ao redor do mundo concebida por esse capitão tão controverso. O artigo reforçou as suspeitas sobre o capitão: Ele é ‘da esquerda’ chauvinista à moda da época, mas trata bem os governos ... para melhor se agarrar aos intermediários, almirantes, cônsules ou outros. Seu valor, seus conhecimentos, são indiscutíveis. Mas é obviamente um ‘trapaceiro’. Até que ponto, ao menos no começo, ele foi sincero?138
A reprovação do capitão Lucas pelo médico e oficial da Marinha da França parece ter pesado na opinião do historiador sobre as circunstâncias do naufrágio. Carré condenava a orientação liberal do comandante, tanto na organização da viagem, quanto na tolerância para com os jovens e sua indisciplina a bordo. Ele acreditava, inclusive, que o destino do OH já estivesse traçado pelo Ministério da Marinha, pois quando o navio ancorou em Valparaíso, também chegou à cidade uma correspondência determinando que a viagem fosse interrompida.139 Em relação ao naufrágio, Carré desconfiou da ausência de precisão geográfica ou de justificativa no plano naval ao ler o relato do capitão Lucas, o que tornava suas explicações “sem valor”. Um mapa de Valparaíso, realizado pela fragata Vênus, sob o comando de Du Petit-Thouars, em 1837-1838 (com correções em 1872-1879)
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Atestações dos cônsules franceses nos portos de passagem da expedição. Registro de bordo do OH, 1839-1840.
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está reproduzido no artigo do historiador. O documento assinala que, naquele local, “as marés são regulares e não ocasionam qualquer perigo sensível”140, informação sobre o porto chileno que, na verdade, não procede. Por último, uma outra evidência parecia confirmar as suspeitas sobre o comandante do OH. O irmão François Lucas estava com seu navio Justine na região do Pacífico, na mesma época que a expedição. Em novembro de 1839, François tinha adquirido terras na Nova Zelândia e parte da família dos Lucas, em Belle-Île, estava emigrando para lá, segundo a imprensa de Nantes.141 O Justine fazia o transporte de imigrantes, gado, açúcar, tabaco e outras mercadorias na rota entre a Austrália (“Nova Holanda”), Nova Zelândia, Taiti e demais ilhas da Polinésia francesa, no Pacífico, com as colônias estabelecidas nas ilhas Maurício e Reunião, no oceano Índico.142 Carré acreditava que “todo mundo sabia que os dois irmãos estariam juntos no Pacífico e toda a correspondência e todas as notícias passavam por Valparaíso”, onde François chegou em 23 de setembro de 1840.143 Parecia claro, portanto, que ambos tinham feito um acordo. O comandante do OH desistiria da circum-navegação e, em Valparaíso, seguiria com o irmão para a Oceania. A coincidência de itinerários, o encontro naquele porto e o destino de Augustin depois de encerrada a expedição, indicariam que o comandante já tinha traçado, bem antes do naufrágio do OH, um desfecho pessoal para os rumos de sua viagem muito distinto daquele que havia prometido aos alunos.144 Em agosto de 1840, não havia mais nada a fazer em Valparaíso. O Le Courrier Belge e o Lloyd Nantais publicariam em Bruxelas e Nantes, três meses depois, que o capitão Lucas não conseguira um navio e a viagem de cir240
cum-navegação do OH estava definitivamente encerrada.145 Terloo resumiu assim a situação: Foi impossível para nós, apesar dos 120.000 francos que restam à expedição, encontrar aqui um navio para continuar nossa viagem. Cada um de nós, em consequência, teve que seguir um rumo. A maioria retornou para a França. Vários partiram ontem no navio Courrier de Manille; outros, partem hoje pelo navio Bonne Clemence. Os oficiais belgas embarcarão em alguns dias para a Inglaterra, e os estudantes que nosso governo colocou a bordo retornam pelo navio l’Industrie, que vai para Antuérpia.146
O capitão Lucas só deixou Valparaíso no final do ano, quando o navio comandado pelo irmão o levou embora da cidade. O Justine tomou a direção da Nova Zelândia, em 6 de novembro de 1840, depois que se desenrolaram no porto chileno o desfecho da expedição e o destino dos seus negócios. Os dois irmãos seguiram em direção à Oceania, passando primeiro pela Nova Zelândia e a Austrália e, depois, chegando ao Taiti, a principal ilha do arquipélago de Sociedade. A catequese dos nativos por missionários católicos e protestantes e a imigração de colonos franceses e ingleses nas ilhas da Oceania eram estratégias importantes para o avanço das duas grandes potências sobre a região. O continente aberto à exploração científica e econômica europeia com as viagens de circum-navegação do século XVIII vivia agora uma acirrada disputa pela colonização e posse de terras cultiváveis, envolvendo nativos, ingleses e franceses. A situação estava bastante complicada quando Lucas chegou a Papeete, capital do Taiti, em fins de 1841. As dificuldades e os projetos na-
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A fragata Vênus, sob o comando de Du PetitThouars, chegando ao Taiti, em 1838. A imagem representa uma das exigências do navio de guerra francês em sua missão no Taiti: ser recebido pela rainha Pomaré com a bandeira da França e tiros de festim na fortaleza de Moutou-Outa, em sinal de reconhecimento da indenização devida aos colonos franceses na região.
quela parte do mundo obrigaram o comandante do OH a se defender das acusações sobre o seu naufrágio. Em 1836, dois missionários franceses, os padres Laval e Caret, tinham sido expulsos do Taiti pela rainha maori Pomaré IV, por influência do missionário inglês Pritchard, logo depois nomeado cônsul local.147 Em 1841, a Nova Zelândia foi convertida em “protetorado” do Império Britânico e os conflitos aumentaram em toda região. Muitos franceses se viram obrigados a voltar para casa, porque os contratos de compra de terras por esses colonos foram anulados. A
França não estava disposta a aceitar a situação e criou também protetorados nas ilhas Marquises, Wallis, Futuna e Gambier.148 Logo que chegou ao Taiti, Lucas se deparou com a dificuldade para tomar posse das terras que ele e outros colonos estavam adquirindo na ilha. Encaminhou, então, ao ministro da Marinha da França, uma “Petição dos franceses do Taiti contra o seu cônsul”, acusando-o de não apoiar as reclamações que faziam. Na ocasião, enviou também um “Projeto de colonização da Patagônia”, medida que considerava fundamental para os “interesses nacionais” no Pacífico.149 Além de 241
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negociar açúcar, tabaco e demais mercadorias pelo arquipélago, os franceses também estavam envolvidos em negócios ilegais, como a venda de armas e bebidas aos nativos, o que inquietava a Marinha e seus comandantes. Empregando o navio Mathilde et Dolores, batizado com o nome das filhas, Lucas fazia esses e outros negócios com a rainha Pomaré. Por isso, ao acusar o cônsul de traição, ele reivindicou o posto para si, com o apoio de boa parte dos colonos franceses na região.150 A resposta veio em seguida, com um amplo relatório sobre a situação geral do Taiti, enviada pelo referido cônsul ao novo chefe da Estação Naval na Oceania, quando este já se encontrava no arquipélago. Jacques Moerenhout tinha origem flamenga e também fazia os seus negócios por lá, mas fez duras críticas aos que vendiam armas e bebidas aos nativos e avançavam sobre suas terras, sem que eles desejassem vendê-las, acusando Lucas de se aproveitar da situação para reivindicar o seu posto.151 Em agosto de 1842, a fragata La Reine Blanche chegou ao Taiti com a missão de retomar o controle sobre a situação. O contra-almirante Du Petit-Thouars vinha pela segunda vez à Oceania, com a intenção de criar novos protetorados e obter a “reparação” definitiva da rainha Pomaré pela expulsão dos dois missionários e as “perdas materiais” sofridas pelos colonos franceses. Por coincidência, o noviço Lavernos estava agora embarcado no La Reine Blanche e os problemas presenciados na expedição do OH chegaram ao conhecimento de Du Petit-Thouars tão facilmente quanto a desconfiança e a censura de outros oficiais sobre o comportamento do capitão Lucas.152 As explicações sobre o naufrágio teriam que ser ainda mais convincentes. As suspeitas de antes e as acusações do momento comprome242
tiam a sua reputação, tanto quanto os seus planos no Taiti. Em 31 de julho de 1842, Lucas encaminhou a Du Petit-Thouars uma “memória” com a sua defesa, visando em última instância a aprovação do contra-almirante ao posto que reivindicava.153 O texto rebatia ponto por ponto todas as “calúnias”, com uma retórica ainda mais contundente do que a habitual, reforçada por duas dezenas de documentos que comprovariam a honestidade de sua conduta. Ele apontou os sacrifícios que fez na carreira para realizar a expedição e as referências elogiosas que recebeu da Inscrição Marítima de Bordeaux e outras autoridades, bem como destacou a aprovação e encaminhamento dado ao projeto pelo conde Molé e as recomendações subsequentes pelos demais ministros. Lucas também refutou a tese de que teria interesse no naufrágio, uma vez que tinha apenas o frete do navio e as cláusulas do contrato de admissão no OH, que ele próprio redigira, garantiam às famílias as somas depositadas em Paris. O capitão lembrou ainda que, na tentativa de continuar a expedição, abriu mão da quantia que lhe cabia e rebateu a acusação de não ter voltado à França para responder aos credores porque a única profissão que podia exercer por lá dependia de uma reputação, agora denegrida pelos “caluniadores”. Mais adiante, explicou toda a contabilidade da viagem e os valores que desembolsou no pagamento de soldos e outras despesas, especulando que se tivesse a intenção de perder o navio, não o teria feito onde os agentes consulares franceses controlavam qualquer quantia obtida com o resgate e sim na Nova Zelândia, onde seu irmão possuía “propriedades consideráveis”.154 Por fim, Lucas concluiu a “memória” com um argumento que podia parecer convincente, mas
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era também muito arriscado. Ele misturou o julgamento de um capitão de longo curso da marinha mercante ao julgamento do próprio governo da França: A repercussão que este empreendimento teve na França, o acolhimento universal que recebeu de todas as classes da sociedade, o interesse e o apoio que o Governo, especialmente, anunciou a seu autor, o tornaram nacional. Estas são as razões que me forçam a solicitar a um dos primeiros marinheiros da França a reabilitação à qual tenho tanto direito, e que ninguém no mundo poderá me contestar, ou mesmo opor-lhe a menor prova, a menor indução do contrário, baseada sobre alguma aparência de emblema real do bom senso ou da razão [grifado no original]. [...] Isto seria prejulgar erroneamente e supor que o Governo estaria disposto a conceder proteção ao primeiro aventureiro que a solicitar e, neste caso, apenas uma estranha e deplorável fatalidade teria frustrado sua consideração e expectativa.155
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cônsul da França, um dos principais desafetos do capitão Lucas na ilha, foi nomeado chefe do governo local e não demorou a expulsar o missionário Pritchard do Taiti.157 A França e a Inglaterra quase entraram em guerra novamente, mas essa já é outra história. O capitão de longo curso, ex-comandante do OH e agora negociante no Taiti ainda ficou na região por alguns anos, só retornando à sua terra natal, onde tinha acumulado suspeitas, acusações e processos nos tribunais, em 1848. As expedições e os naufrágios nas águas turbulentas e incertas do planeta não seriam mais os mesmos depois da segunda metade do século XIX, quando os meios de transporte e os recursos visuais disponíveis também se modificaram e se diversificaram bastante. Mudando as viagens e os viajantes, mudaram também as imagens e os imaginários sobre os deslocamentos espaciais e temporais ao redor do mundo.158
Em setembro de 1842, Du Petit-Thouars obteve a submissão da rainha Pomaré para a criação de um protetorado francês no Taiti e, no mesmo mês, também respondeu ao capitão Lucas, estranhando suas críticas aos cônsules e comandantes que zelavam pelo “sentimento de honra nacional”.156 No ano seguinte, decidido a “reparar” nova ofensa por uma governante que “teimava” em agradar aos ingleses, agora “humilhando” o pavilhão da França, o contra-almirante desembarcou pela terceira vez no arquipélago, desta vez com o reforço das tropas. A rainha foi deposta e antes do final do ano já havia um governo provisório francês em Papeete. O 243
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Capítulo 6 1. France. Annales maritimes et coloniales, Partie non officielle, Paris, Imprimerie Royal, 1835, t. 2, pp. 1012-1014. 2. “Leur première fille, Élizabeth Mathilde Lucas nait à Rochefort le 5 novembre 1832. Quand la petite Mathilde a 6 mois (mai 1833), Augustin et Zoé la confient aux soins des grands parents et partent ensemble courir le vaste monde, laissant la famille sans nouvelle pendant deux ans. Augustin reçoit des commandements et sa femme embarque avec lui. Il semble qu’il ait navigué pour des armateurs bordelais et un armement d’Ostende”. Cf. Brève histoire d’Augustin Lucas et de sa famille par Eugène Guellec (1906-1970). Disponível em http://chauvigne.info/index.php. 3. AD- Fr. Correspondance consulaire et commerciale (Valparaiso), tome 2 (18391845). Lettre de Albert Huet au ministre des Affaires Étrangères, 12 mars 1840. 4. Carré, 1970, p. 29. O historiador não indica a fonte para essa estatística com precisão, mas parece ser a mesma. 5. Em 1701, o rei Filipe V permitiu que navios com a bandeira da França ancorassem nas colônias espanholas. Mercier, 1969. 6. Hennequin, 1837, t.3, p. 365. 7. Gay, 2010. A reedição desse primoroso atlas integrou a celebração do centenário da Independência do Chile. 8. Riviale, 2000, pp. 243-253. 9. Foucrier e Heffer, 2012, p. 8. 10. OH – Doc 11.04.1840. 11. Vidal Gormaz, 1901, p. IX. 12. Fagalde, 2011, p. 83. 13. Idem, p. 84. 14. Lafond de Lurcy, t. 3, 1844, pp. 235-237. O trecho citado foi transcrito e traduzido, com pequenas diferenças, por Vidal Gormaz, 1901, p. 148. A obra é dedicada e tem uma epígrafe do escritor Alphonse de Lamartine, o grande inspirador de tantos relatos de viagem do século XIX.
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15. “Suite des traits de courage et de dévouement envers les naufrages ; Récompenses accordée à ce sujet, au nom du roi, par le ministre de la Marine et des Colonies, année 1840”. France. Annales maritimes et coloniales, Partie non officielle, Paris, Imprimerie Royal, t.1, 1841, p. 493-529. 16. Arago, 2006, p. 76. 17. Rodrigues, 1999, p. 26. 18. Jal, 1848, p. 1035. 19. Süssekind, 1990, p.57. O conto de Edgar Allan Poe “MS found in a bottle” (“Manuscrito encontrado numa garrafa”, traduzido no Brasil por Machado de Assis), foi publicado em 1833 e é, no gênero, um exemplo encantador do fascínio exercido pelo tema. Disponível em https://eapoe.org/. 20. O título dado por Géricault para a pintura foi, a princípio, Scene d’un naufrage e a tela encontra-se no Museu do Louvre, em Paris. 21. Cf. Pierre Ickowicz. “A idade das tormentas: tormentas e naufrágios, representações e evolução do olhar sobre o mar tumultuoso e do drama na pintura do século xvii ao século xx”. In: Pereira et al, 2012, esp. 149. 22. O engenheiro A. Corréard e o cirurgião H. Savigny publicaram a história em Naufrage de la frégate “La Méduse”: faisant partie de l’expédition du Sénégal en 1816 (Paris, Corréard, 1817). Com base nesse relato, Théodore Géricault pintou a tela Le radeau de la Méduse. Em 1821, o livro já estava na quinta edição. 23. Wezembeek, 1963, p. 352. 24. OH - Doc 23.09.1840 e OH - Doc 24.09.1840. 25. AD- Fr. Correspondance consulaire et commerciale (Valparaiso), tome 2 (18391845). Lettre de Albert Huet au ministre des Affaires Étrangères, 12 mars 1840. 26. OH – Doc 00.00.1839-1840 e OH - Doc 29.08.1840. 27. OH – Doc 00.00.1839-1840. Vidal Gormaz (1901, pp. 206-208), com base nos re-
gistros de embarque e desembarque do OH existentes à época no consulado francês de Valparaíso, relacionou Lavernos entre os que teriam chegado à cidade. 28. Data assinalada no rol de bordo pelo cônsul francês em Valparaíso (OH – Doc 00.00.1839-1840). O jornal El Mercurio informa que a chegada do navio ocorreu a 28 de maio de 1840 (Cf. OH – Doc 30.05.1840), possivelmente referindo-se ao porto, propriamente dito. Segundo Wood (1996, p. 115), o Lloyd’s List informaria em Londres, em 10 de setembro de 1840, a data da chegada a Valparaíso em 22 de maio (Cf. OH – Doc 10.09.1840). 29. Esses números estão baseados no rol de bordo e de equipagem do navio (OH - Doc 00.00.1839-1840), transcrito neste livro. Composição considerada: o estado maior (5), os noviços franceses (24), o restante da tripulação (21) e os passageiros (22), considerando os desembarques e substituições na equipagem antes de Valparaíso, bem como dois novos passageiros embarcados em Montevidéu. Vidal Gormaz (1901, pp. 206-208) também indica 50 tripulantes, baseando-se na documentação então existente no Consulado da França em Valparaíso. Carre (1970, p. 29) menciona 40 marinheiros e noviços a bordo, com 19 passageiros. 30. OH – Doc 00.00.1839-1840. 31. Idem. 32. OH - Doc 10.05.1840. 33. OH – Doc 30.05.1840 (a). 34. OH - Doc 14.05.1840. 35. OH - Doc 25.06.1840 (b). 36. OH - Doc 14.05.1840. O comentário chegou a ser escrito e, depois, riscado: “Au surplus, il ne résulte ni du rapport de M. Laplace, ni de celui de M. le baron Rouen que malgré les mesures prises à l’égard des plus mutins de l’équipage de l’Oriental, ce navire puisse continuer avec chance de succès l’expédition difficile qu’il a commencée ». In : Carre, 1970, p. 28.
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37. OH – Doc 30.05.1840 (b). 38. El Mercurio, 19 de agosto de 1839 e 5 de maio de 1840. Apud Phillips, 2006, pp. 153-157. 39. “Exterior. Brasil. El daguerreotipo en America”. El Mercurio, 1º de maio de 1840. 40. OH – Doc 01.06.1840 (b). 41. VIllegas (1985, p. 217) relacionou Comte entre os primeiros daguerreotipistas chilenos, possivelmente em razão da informação do El Mercurio, supondo que o capelão teria, inclusive, utilizado o aparelho em Concépción, mas não encontramos qualquer evidência nesse sentido em nenhuma outra fonte. O provável equívoco foi suprimido em Villegas, 2001, p. 19 e segs. 42. OH – Doc 01.06.1840 (b). 43. OH – Doc 04.06.1840. 44. Cf. https://es.wikipedia.org/wiki/Manuel_Blanco_Encalada. 45. OH – Doc 01.07.1840. 46. OH – Doc 06.06.1840. 47. OH - Doc 06.03.1840. 48. OH - Doc 03.11.1840. Carta escrita em 30 de junho de 1840, publicada no Le Courrier Belge, em 3 de novembro de 1840. Vidal Gormaz afirma, por equívoco, que nenhum membro da expedição teria visitado Santiago. 49. OH - Doc 03.11.1840. 50. Vidal Gormaz, 1901, p. 200. 51. O rol de bordo (OH - Doc 00.00.18391840) não traz qualquer indicação de que ambos seguiam para Arica, mas a informação aparece em outras fontes. 52. OH Doc 31.10.1840. 53. OH - Doc 24.06.1840 (a) Esse relato foi enviado ao governo, em 1841, por H. Blanchard, novo cônsul francês em Valparaíso e também integra os registros relacionados ao navio Oriental na Inscrição Marítima de Nantes (OH – Doc 00.00.1837-1841), bem como a correspondência ministerial que tratou posteriormente de toda a questão (OH – Doc
O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
31.07.1842). 54. OH - Doc 27.06.1840. O relato publicado no El Mercurio foi transcrito no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, em princípios de agosto (OH – Doc 14.08.1840) e, logo, em outros periódicos europeus. 55. OH Doc 31.10.1840. A carta enviada aos proprietários do navio foi transcrita na imprensa de Nantes, Paris e Bruxelas. 56. Vidal Gormaz, 1901, p. 200. 57. OH - Doc 31.10.1840. O Lloyds List, em 29 de setembro, também noticia a saída do porto em 23 de junho e o naufrágio junto à Ponta del Ruey [sic] (Cf. OH – Doc 29.09.1840). 58. Morales, 2006, pp. 85-86. 59. Morales, 2006, p. 79. O autor esclarece uma questão importante: o novo farol foi instalado em Playa Ancha em um local ligeiramente diferente do anterior. 60. Vidal Gormaz, 1901, p. XI. 61. Vidal Gormaz, 1901, p. X. 62. Este trecho resume o relato de Lucas, tal como foi traduzido para o português pelo Jornal do Commercio (OH - Doc 14.08.1840) e publicado em francês pelo Lloyd Nantais (OH - Doc 02.11.1840). O relato completo, em francês, encontra-se em OH - Doc 24.06.1840 e consta, como anexo, em OH - Doc 26.06.1840 e outros (folhas 310 e 311), bem como em OH – Doc 00.00.1837-1841. O relato traduzido para o espanhol encontra-se no El Mercurio (OH – Doc 27.06.1840). 63. OH – Doc 25.06.1840. 64. OH – Doc 27.06.1840. Lucas datou seu comunicado de 23 de junho, mas ele se refere à matéria do jornal, publicada somente no dia 25 de junho. 65. Os jornais representavam uma espécie de “vitrine” para o capitão de longo curso. O Jornal do Commercio, por exemplo, na mesma época da chegada do OH, publicava testemunhos públicos de passageiros que desembarcavam na cidade com agradecimentos ou reclamações
sobre a conduta de vários capitães. 66. OH – Doc 27.06.1840. 67. OH - Doc 31.10.1840. 68. OH – Doc 29.06.1840, OH – Doc 31.10.1840 e OH - Doc 01.11.1840. 69. OH – Doc 29.06.1840, OH – Doc 31.10.1840 e OH - Doc 01.11.1840. 70. OH - Doc 31.10.1840. O relato de Terloo sobre o naufrágio, escrito em 30 de junho, foi publicado no Le Courrier Belge em 31 de outubro de 1840, juntamente com a carta do comandante Lucas aos armadores. 71. OH – Doc 02.10.1840, OH – Doc 07.10.1840 (a) e OH – Doc 07.10.1840 (b). 72. OH – Doc 31.10.1840. 73. OH – Doc 02.10.1840. 74. OH - Doc 27.06.1840 e OH - Doc 31.10.1840. 75. OH - Doc 31.10.1840. 76. OH - Doc 02.10.1840. 77. OH - Doc 28.10.1840. Terloo diz em sua carta que muitos ficaram doentes por causa do frio (OH – Doc 31.10.1840). 78. OH - Doc 28.10.1840. 79. OH - Doc 28.10.1840. 80. OH - Doc 02.10.1840. 81. OH - Doc 28.10.1840. 82. OH - Doc 28.10.1840 e Vidal Gormaz, 19001, p. 201. 83. OH - Doc 31.10.1840. 84. OH - Doc 03.11.1840. O Le Courrier Belge explica que o aluno, cujo nome não é revelado, escreveu sua carta na mesma data que Popelaire de Terloo (30 de junho). 85. OH – Doc 27.06.1840. Apud Vidal Gormaz, 1901, p. 203. 86. A carta de Villeneuve foi escrita em 29 de junho de 1840 e publicada em Bruxelas, no Le Courrier Belge, em 28 de outubro de 1840 (OH – Doc 28.10.1840), reproduzida no Lloyd Nantais, de 7 de novembro de 1840, e parcialmente transcrita por Carré, 1970, p. 33. 87. OH - Doc 28.10.1840.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
88. OH - Doc 28.10.1840. 89. OH – Doc 26.06.1840 e outros, folha 314. Ele foi substituído por Raymond Baradère, cônsul que assinará os desembarques no registro de bordo (OH – Doc 00.00.1839-1840). 90. O ministro de Assuntos Exteriores da França, entre outubro de 1840 e fevereiro de 1848, já era François Guizot. Mas nessa correspondência, Cazotte ainda se refere ao duque de Dalmatie (Jean-de-Dieu Soult), titular da pasta entre maio de 1839 e março de 1840 (seguido por Adolphe Thiers, entre março e outubro de 1840). 91. AD-Fr – Personnel, 1er serie, carton 826, “Henri-Nicolas Sévole Cazotte (1802-?)”; AD-Fr – Personnel, 1er serie, carton 826. “Rapport [...] par Henri-Nicolas Cazotte, 20 octobre 1847”. 92. AD-Fr. Correspondance consulaire et commerciale (Santiago), t. 3 (1836-1842), Lettre de Cazotte au ministre des Affaires Étrangères, 10 janvier 1840. 93. OH – Doc 26.06.1840 e outros e OH – Doc 15.04.184. 94. OH – Doc 26.06.1840 e outros, folha 315. 95. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 303-305. Carré não localizou o relatório sobre o naufrágio do OH e seus anexos, enviado pelo cônsul Cazotte, ao consultar o “Registre de la Correspondance des Consuls” nos arquivos do Quay d’Orsay Cf. Carré, 1970, p. 29). Em 2001, tivemos mais sorte, encontrando essa documentação em AD-Fr. Correspondance consulaire et commerciale (Santiago), t. 3 (18361842), Correspondance du consul général de France au Chili, M. Cazotte, au ministre des Affaires Étrangères (Fr), feuilles 303 a 328 [frente e verso]. 96. Charles Ross foi o comandante em chefe da estação naval inglesa do Pacífico, entre 1839 e 1841. www.en.wikipedia.org/ wiki/Charles_Ross_(Royal_Navy_officer). 97. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas
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318-319. 98. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 303-305. 99. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315-317, 318-319 e 320. 100. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folha 320. 101. AD- Fr. Correspondance consulaire et commerciale (Valparaiso), tome 2 (18391845). Lettre de L. Blanchard, nouveau consul à Valparaiso, au ministre des Affaires Étrangères, 16 août 1840. 102. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 321-322. 103. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folha 324. O Código de Comércio era uma herança da era napoleônica e datava de 1807. 104. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 321-322. 105. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315-317. 106. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folha 323. 107. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315-317. 108. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 325-326. 109. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315-317. O cônsul faz referência a um novo prospecto sobre a expedição, mas ele não foi localizado e não foram encontradas quaisquer referências a esse respeito em outras fontes. 110. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315-317. 111. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folha 328. A carta também aparece, traduzida para o espanhol, Vidal Gormaz,1901, p. 205-206. 112. OH - Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315-317; OH - Doc 26.06.1840 e outros, folha 327. 113. OH - Doc 29.09.1840. 114. OH – Doc 02.10.1840, OH – Doc 07.10.1840 (a), OH – Doc 07.10.1840 (b),
OH – Doc 01.11.1840. 115. OH – Doc 02.10.1840. 116. A carta de Lucas (OH – Doc 29.06.1840) foi recebida pelos armadores Despecher e Bonnefin em 25 de outubro (OH – Doc 25.10.1840), publicada dois dias depois no National de l’Ouest, de Nantes (OH – Doc 27.10.1840), assim como no Le Courrier Belge, de Bruxelas, em 31 de outubro de 1840 (OH – Doc 31.10.1840) e no Le Moniteur Universel, de Paris, em 1 de novembro de 1840 (OH - Doc 01.11.1840). 117. OH - Doc 05.10.1840 (a). 118. OH - Doc 25.10.1840 (b). 119. OH - Doc 04.09.1839. 120. OH – Doc 28.10.1840. 121. OH.29.01.1840. 122. OH - Doc 11.10.1839. 123. OH - Doc 21.10.1839 e OH - Doc 13.06.1840. 124. OH - Doc 18.05.1840, OH - Doc 05.09.1840, OH - Doc 13.10.1840. 125. OH - Doc 07.07. 1839, OH - Doc 19.08.1839. 126. OH - Doc 13.10.1840. 127. OH - Doc 11.10.1839, OH - Doc 31.10.1839 (b), OH - Doc 02.01.1840; OH Doc 21.04.1840, OH - Doc 18.01.1841, OH - Doc 21.01.1841, OH - Doc 25.03.1841. 128. OH – Doc 22.04.1839. 129. OH – Doc 15.02.1840 (a) e OH – Doc 15.02.1840 (b). 130. OH – Doc 20.08.1840. Informações sobre outros pagamentos, depois do naufrágio, não foram localizadas. 131. “Ordonnance du Roi sur les fonctions des Consuls dans leurs rapports avec la marine commerciale, 29 octobre 1833”. In : France. Bulletin des lois du Royaume de France [...], 2ème partie, 1834, p. 481 e segs. 132. O’Reilly, 1966, p. 45. Para este autor, as suspeitas foram lançadas contra Lucas, principalmente, porque o naufrágio ocorreu de dia, com tempo bom e mar calmo. 133. Carré, 1970, p. 30. 134. Freitas, 1835, p. 120-123.
Maria Inez Turazzi
135. OH – Doc 02.10.1840. 136. OH – Doc 26.06.1840 e outros, folhas 315 a 317. 137. Le Gallen, 1906, pp. 624-625. 138. Carré, 1970, p. 18. O autor também suprimiu em seu artigo o trecho de um dos relatos que isenta o comandante Lucas de culpa no desastre, disponíveis em OH – Doc 07.10.1840 (a) e OH – Doc 07.10.1840 (b). 139. Carré, 1970, p. 30. 140. Carré, 1970, p. 31. 141. Lucas importava gado de Sydney, segundo o Lloyd Nantais, de 24 de outubro de 1839. 142. Cf. Wood, 1996, pp. 115-116. O pesquisador procurou identificar e distinguir as atividades dos dois irmãos na Oceania. 143. Carré, 1970, p. 32. 144. Carré, 1970, p. 29. 145. OH – Doc 09.11.1840 e OH – Doc 13.11.1840. 146. OH – Doc 09.11.1840. Carta escrita em Valparaiso, em 11 de agosto de 1840. 147. Jardin e Tudesq, 1973, t. 6, pp. 201-203. Cornevin e Cornevin, 1990, pp. 385-387. Sobre a rainha Pomaré, ver http://histoire. assemblee.pf/articles.php?id=201. 148. Blais, 1996, p. 286. A autora situa, com muita clareza, a ambiguidade do termo « L’idée de protection, très présente dans les instructions données aux officiers de Marine depuis 1835 est liée à la perception qu’ont les Européens des terres éloignées du Pacifique. [...] Cette conception a entrainé une idée de protection et de devoir de sauvegarde qui reste prééminente jusqu’au milieu du XIXe siècle. C’est ne dans cette mesure qu’une interprétation un peu forcée du souci de protection justifie les interventions des grandes puissances, la forme du ‘protectorat’ qui est alors le plus souvent adoptée par la suite en étant une démonstration ». 149. SHD-Marine. Fonds privé Abel Du
O naufrágio da expedição, entre versões e suspeitas
Petit-Thouars, Carton 7, Dossier 22, Année 1841. Lettre de A. Lucas au ministre de la Marine et annexes, 22 août 1841 (“Pétition des Français de Tahiti contre leur consul et projet de colonisation de la Patagonie”). 150. AN-Fr. Fonds de la Marine, Serie BB, Subserie BB3 615, Lettres reçues, Colonies, Particuliers. Lettre de A. Lucas au ministre de la Marine, 4 janvier 1842 ; Lettre de A. Lucas au ministre de la Marine, 7 janvier 1842 et annexes. Blais (1996, p. 401) comenta que Lucas não tinha interesse no estabelecimento de um Protetorado francês exatamente para garantir maior liberdade aos seus negócios. 151. AN-Fr. Fonds de la Marine, Serie BB, Subserie BB3 615. Lettre de Moerenhout, consul de France au Tahiti, au contre-admiral Du Petit-Thouars, 10 mai 1842. Duplicata. Ver também, sobre as atividades do cônsul e seus negócios na região http://histoire.assemblee.pf/articles. php?id=221. 152. OH - Doc 25.01.1842. 153. Em 12 de novembro de 1841, Lucas já havia escrito ao ministro da Marinha reclamando da atuação dos cônsules no caso do OH, tanto em Pernambuco quanto Valparaíso. OH - Doc 12.11.1841, conforme anotações resumidas de A. Carré. 154. OH – Doc 31.07.1842. A listagem de documentos enviados por Lucas corresponde aos documentos localizados na pesquisa. Carré também se refere a dois documentos não localizados: “Apostile des Pairs et Deputés sur le projet d’expédition” e “Instructions de M. Marec, Directeur du Personnel au Ministère de la Marine”. (Carre, 1970, p. 18). 155. Idem. 156. OH – Doc 20.09.1842. 157. Cornevin e Cornevin, 1990, p. 387. Pomaré chegou a escrever uma carta ao rei Louis-Philippe sobre a conduta dos franceses no Taiti e nela fez elogios ao ca-
pitão François Lucas. Pomaré. Letter from queen Pomaré to Louis-Philippe, king of the French. Honolulu, Oahu: Printed for the Hon. L. Hope, [1844], p. 4. Disponível em https://books.google.com.br/. 158. Goulemont et al, 1997.
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A América do Sul em um “atlas universal ilustrado”: figuras alegóricas, tipos humanos, paisagens monumentais e estatísticas populacionais para consumo e popularização da geografia.
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Conclusão Seguindo viagem...
Os preparativos para a viagem de circum-navegação do OH, concentrados em Paris, Nantes e Bruxelas, tinham sido longos e exaustivos. Professores, médicos e instrutores, novos maquinismos, instrumentos e livros, científicos ou literários, foram incorporados ao navio-escola para a formação dos alunos e o sucesso da viagem. Entre as novidades do OH, um equipamento completo de daguerreotipia, acompanhado das instruções necessárias e de pessoas dispostas a demonstrar a invenção nos quatro cantos do planeta, colocando-a ao alcance de qualquer interessado. As primeiras escalas foram promissoras e a travessia do Atlântico, apesar das turbulências a bordo, ofereceu experiências memoráveis aos viajantes em todos os portos visitados. Esperava-se trazer de volta para casa, ao final da viagem, tudo o que pudesse interessar às ciências, ao comércio e à indústria da França e da Bélgica. O reverendo Daniel Kidder, quando chegou ao Rio de Janeiro, fez seu julgamento da expedição:
A principal ideia sobre a qual ela foi planejada não foi a mais sensata; por mais bela que possa parecer na teoria a combinação de estudo e viagem em um curso acadêmico, não se conseguiu um bom funcionamento na prática. Isto é, a expedição era inovadora e dificuldades ocorreram na preservação da ordem apropriada. A disciplina rigorosa de uma embarcação militar sofreria resistência por parecer tirânica e qualquer coisa menor do que isso também resultaria em confusão. Além do mais, as relações entre os oficiais do navio, os professores, os amadores e os alunos não tinham sido definidas no planejamento com precisão suficiente; daí surgiram diferenças imprevistas e agravantes. Apesar dessas circunstâncias, muito do que testemunhei a bordo do Orientale [sic] era interessante. Não posso deixar de observar o modo alegre e humano com o qual vários indivíduos da mais alta posição na 249
O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Visão do Pão de Açúcar e da baía do Rio de Janeiro, através da escotilha de um navio, século XIX.
sociedade europeia ingressaram e perseveraram nos árduos deveres do marinheiro comum. Em vez de serem zelosos nesses deveres apenas de vez em quando [grifo no original], caso pudessem se mostrar vantajosos, eles pareciam realmente entusiasmados e perseverantes na disposição de se endurecerem com a aplicação da mais severa labuta. Foi, certamente, um espetáculo peculiar e original contemplar barões, con250
des, viscondes, marqueses e jovens de todos os graus de linhagem hereditária, vestidos com camisas de lã e calças manchadas de graxa, de pé diante do leme, subindo nos mastros e remando barcos. Essa era a ordem das coisas a bordo do Orientale [sic]; e qualquer que tenha sido o destino da expedição, lembrarei por muito tempo a semana que passei, sendo seu passageiro, como um acontecimento peculiar e prazeroso.1
Maria Inez Turazzi
O naufrágio do OH em Valparaíso encerrou, de modo inesperado, as promessas de uma viagem que deveria entrar para os anais da história marítima, na perspectiva do capitão Lucas e daqueles que aderiram ao projeto de uma inédita escola flutuante. O fim da expedição, embora possa ter sido premeditado por um comandante já em grandes dificuldades, foi lamentado por todos os que apostaram nessa ideia. O destino desastroso do OH, naquele contexto, representava bem mais do que a perda de um belo veleiro de três mastros. Ele integrava um quadro adverso mais amplo: Nos anos 1840, a Marinha francesa conhece uma verdadeira crise em que se misturam orgulho, esperanças e decepções. Uma crise na qual não são os meios que faltam, mas a visão clara da forma a lhes dar; de modo algum, uma crise de vitalidade.2
Adrien Carré, ao romper o silêncio que se abateu sobre essa história, apontando a singularidade da viagem de circum-navegação do OH, deixou uma breve pista para a “discrição oficial” em torno da expedição e seu naufrágio. Concluindo o artigo, ele fez este comentário: Para as pessoas de Belle-Île – que ignoram a história – Augustin Lucas permaneceu por certo tempo um herói distante e vago. Para o povo do Pacífico, ele foi o capitão que perdera voluntariamente o seu navio... Muitas pessoas estavam comprometidas por suas recomendações; assim, a operação ‘silêncio’ foi total e bem-sucedida. 3
As “recomendações” dadas ao empreendimento estavam na origem desse “silên-
Conclusão
cio”. As cartas, as circulares e os artigos na imprensa que tinham conferido à viagem de circum-navegação do OH a aparência de uma missão da Marinha francesa, forjaram também uma ambiguidade em torno da expedição que se viu reproduzida por outras cartas e recomendações, enviadas ou recebidas por comandantes navais e autoridades consulares no transcurso da viagem. Essa ambiguidade foi construída e aproveitada pelo capitão Lucas através dos impressos e anúncios que mandou publicar, sendo posteriormente amplificada por informações distorcidas que saíam nos jornais e não eram jamais desmentidas. Quando pesaram sobre ele as acusações de uma perda voluntária do navio, Lucas usou em sua defesa, justamente, a chancela governamental dada ao empreendimento. A aparência oficial, decisiva para todos os apoios recebidos pelo OH foi, paradoxalmente, uma das principais razões para o esquecimento deliberado dessa expedição depois de seu indesejável fracasso. As recomendações positivas dadas ao capitão Lucas e a ambiguidade sobre a natureza do empreendimento tinham comprometido as autoridades francesas e belgas, diretamente, com esse desastre. As famílias de tantos barões, condes, marqueses e outros jovens, filhos de grandes proprietários de terra, negociantes e altos oficiais, tinham confiado nessas recomendações e na aposta que elas representavam para o futuro de seus filhos. Por tudo isso, o naufrágio do OH significou bem mais do que já seria, por si só, o fracasso comercial e marítimo do projeto. Ele representou também um desastre moral para as autoridades, as famílias e os jovens envolvidos. Desastre que atingiu, em sua dimensão simbólica, a imagem da França e da Bélgica, em uma época de exacerbado nacionalismo. Esse tipo de “naufrágio” não tinha lugar na história 251
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naval celebrada pelos anais da pátria ou pelas obras monumentais que ilustravam as grandes viagens de circum-navegação do período. O “silêncio” sobre o naufrágio do OH acabaria encobrindo com um manto de esquecimento toda a história da expedição, suas promessas e seus fracassos, assim como seus personagens e suas experiências singulares. A “memória” que Lucas escreveu sobre o assunto, em 1842, nunca chegou a ser incluída no principal veículo de comunicação impressa do meio naval, diferentemente do que ocorrera quando seu texto sobre “as vantagens de um leme de emergência no Cabo Horn” ganhou notoriedade nos Annales Maritimes et Coloniales.4 O relato do irmão François sobre o Justine e a situação dos franceses na Oceania, enviado ao ministro da Marinha assim que retornou à França, em março de 1842, apareceu nas páginas da publicação antes do final do ano.5 Em todo caso, os manuscritos, os artigos e os livros de Augustin, tanto quanto os seus desacertos e enfrentamentos, oferecem bons subsídios para a compreensão das razões desse silêncio. Eles ajudam a construir um retrato do personagem, em meio a outros atores, no cenário mais amplo da expedição e seu naufrágio. Os tripulantes e passageiros do OH tinham origens sociais e geográficas bastante distintas. Lucas pertencia a uma família de pescadores e colonos; outros membros da equipagem, eram simples marinheiros e grumetes, sem qualquer fortuna ou ascendência aristocrática; a maior parte dos noviços e passageiros, contudo, descendia das “primeiras famílias” da França e da Bélgica. Quase todos, no entanto, tornaram-se sujeitos históricos invisíveis, sem lugar na “grande” história. Essa invisibilidade foi construída de várias formas e o exemplo mais evidente é o próprio capitão Lucas, com uma história 252
tão fascinante e, ao mesmo tempo, tão obscura quanto a expedição que comandou. As fisionomias dos viajantes do OH, por sua vez, não estavam delineadas por qualquer traço ou pincelada quando eles ingressaram na expedição. O aparelho de daguerreotipia, embora introduzido a bordo, não podia fixá-las com os recursos disponíveis. De modo que o rosto de alguns só foi registrado tempos depois, quando os retratos fotográficos se tornaram realidade. Hoje, as referências e as imagens desses personagens estão, em muitos casos, ao alcance de um clique, o que não ocorria quando esta pesquisa foi iniciada. Espera-se que as poucas linhas dedicadas à biografia desses personagens, através das ideias e experiências que compartilharam, acrescentem algum contorno às suas fisionomias. Mas o que dizer das mulheres que participaram da viagem? Elas já eram objeto de outras formas de invisibilidade. As fontes disponíveis tratam, basicamente, das figuras masculinas dessa história: “homens do mar”, “homens de invenções”, “homens de negócios” e assim por diante. Sabe-se que a expedição de Bougainville tinha uma “doméstica”, embarcada clandestinamente, acompanhando um dos naturalistas.6 A viagem de circum-navegação de Freycinet levava a bordo a esposa do comandante, embarcada com um disfarce masculino e assim permanecendo até a expedição alcançar o Atlântico. Elisabeth Bellais, por sua vez, já tinha acompanhado o capitão Lucas na primeira viagem ao Pacífico e embarcou na escola flutuante com as duas crianças do casal. Mas as cartas que tratam da expedição, publicadas nos jornais, trazem um único comentário sobre as figuras femininas do OH: “nós possuímos três damas, jovens, amáveis e espirituosas: a esposa e a irmã do capitão e a senhora Soulier de Sauve; sem contar as duas
Maria Inez Turazzi
Conclusão
Daguerreótipo do porto de Valparaíso, atribuído a Carleton E. Watkins, c. de 1852. Os estojos de couro, com veludo vinho, caixilho dourado e outros elementos decorativos, singularizam a apresentação e a comercialização dos daguerreótipos.
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graciosas meninas da senhora Lucas”.7 Outras informações sobre Elisabeth, bastante depreciativas, encontram-se em referências posteriores, deixadas por missionários franceses no Taiti. Eles a consideravam uma mulher “analfabeta e de maus modos”, associada a elementos de “má reputação”. Acusada de ser uma “livre pensadora” e circular entre os nativos e os colonos, ora como missionária, ora acompanhada por oficiais estrangeiros, ora negociando bebida alcoólica, teria ficado malvista por boa parte da colônia francesa na região.8 Terminada a expedição, cada um seguiu seu rumo. Por isso mesmo, o caminho que escolheram é apenas uma indicação para outras histórias. O professor Eugène Soulier de Sauve ficou no Rio de Janeiro, o capelão Louis Comte, em Montevidéu, e o professor Louis Antoine Vandel-Heyl, em Valparaíso. Esses desembarques talvez já estivessem previstos desde o início da viagem, mas esta hipótese seria ainda mais difícil de confirmar do que a suspeita de um naufrágio premeditado. O fato é que alguns decidiram o seu destino antes mesmo que a expedição fosse interrompida em Valparaíso. Eugène Soulier de Sauve foi o primeiro deles. Desembarcando no Rio de Janeiro, conseguiu ser nomeado, em julho de 1840, professor substituto da cadeira de química na Escola Militar, então a principal instituição de ensino de engenharia do Império.9 A experiência no OH e as lições de daguerreotipia ajudaram Soulier de Sauve a construir uma rede de contatos na capital brasileira, como revelam as entrelinhas do Jornal do Commercio: Apenas o gênio do célebre Daguerre tinha criado o seu incomparável instrumento, e já numerosos brasileiros tinham presenciado os seus maravilhosos efeitos, e lhe 254
tinham pago o tributo da sua admiração. Um concurso das pessoas mais distintas das ciências avalia como passatempo o mais agradável as divertidas e instrutivas lições de M. Soulier. Em pouco tempo não haverá maravilha do mundo velho que o brasileiro civilizado não possa dizer ‘tenho visto’.10
O professor do OH venderia para d. Pedro II, em 1843, o telescópio e seu laboratório de química, recursos que provavelmente serviram à expedição.11 A biblioteca do imperador também receberia os livros que Soulier de Sauve publicou (ver Bibliografia), bem como um trabalho especialmente elaborado por ele, em 1841, para o imperador do Brasil: o Mapa celeste marcado pela data uranográfica da sagração e coroação de S. M. o Sr. D. Pedro II, “um acontecimento que pertence à história do universo”.12 A qualificação do astrônomo francês, a popularidade do professor de daguerreotipia e a proximidade com os “brasileiros civilizados” na corte de d. Pedro II conduziram Soulier de Sauve ao posto de diretor do Imperial Observatório, por indicação do imperador, em 1845. A instituição científica, uma das mais antigas do país, nasceu em 1827, mas o cargo era novo e honroso. A “senhora Soulier de Sauve”, tal como foi registrada no rol de bordo do OH, acompanhou o marido na decisão de ficar no Brasil. O seu nome era Louise Lapierre e ela atuaria em espetáculos teatrais beneficentes, promovidos pela comunidade francesa no Rio de Janeiro, viajando algumas vezes sozinha de volta à Europa.13 Soulier de Sauve morreu em 9 de agosto 1850, quando ainda dirigia o Imperial Observatório. Louis Comte ficou em Montevidéu até 1847, onde ensinou daguerreotipia, bem como francês, latim, desenho, botânica e geologia. Os anúncios que publicou na imprensa
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local revelam uma convivência estreita com a comunidade francesa e os círculos intelectuais uruguaios, nos quais fervilhavam ideias e projetos. Entre esses amigos, esteve próximo a Arsène Isabelle, com quem parece ter feito negócios na cidade. Em longo anúncio sobre sua experiência como professor e daguerreotipista, ofereceu lições com um aparelho “simplificado” para os que “queiram tomar vistas”, indicando o endereço do amigo prestigiado na cidade, “chanceler do consulado francês”, para as aulas dominicais.14 Comte também frequentou ambientes como a livraria Jaime Hernández, onde expôs uma vista da rua San Sebastián para atrair clientela, mantendo-se atualizado em relação aos métodos pedagógicos e à literatura do momento. Como tantos professores e estrangeiros que precisavam engordar seus rendimentos, vendeu material importado da Europa para estudo e desenho (atlas, réguas, esquadros, lápis e papéis especiais), ao mesmo tempo que formava novos daguerreotipistas em Montevidéu.15 Quando decidiu voltar para a França, anunciou a venda de seus bens no Comercio de la Plata, em 15 de abril de 1847. Entre os itens oferecidos, figuravam “um laboratório em mogno, uma mesa de luz, uma lâmpada e um daguerreótipo em bom estado” 16. Mas a oferta incluía também um piano, um sofá, uma biblioteca, um armário de cedro, candelabros, cristais e armas. Todos, símbolos inequívocos da prosperidade que alcançara. Comte deixou o Uruguai quando a vida no lugar já não compensava a distância de casa. A febre amarela nos portos do Atlântico Sul levou muitos estrangeiros de volta à Europa e, outros tantos, aos cemitérios locais.17 Com a daguerreotipia e negócios ainda mais lucrativos, como a aquisição e o aluguel de armazéns na área do porto, ele acumulara
Conclusão
uma fortuna considerável. Em 1851, o governo francês solicitou ao consulado em Montevidéu informações sobre suas propriedades na região portuária, provavelmente para algum processo de regularização.18 Em 1865, Comte transferiu para o banco Credit Foncier, em Paris, 125.000 francos que tinham permanecido em Montevidéu. Era então um grande proprietário de terras e imóveis em Sampans, na região da Borgonha (França), em cujo cemitério está enterrado. Ele morreu a 22 de setembro de 1868, sem herdeiros diretos, e deixou sua fortuna, em testamento, para familiares, amigos e empregados, assim como para o seminário de Autun, onde havia estudado.19 Vendel-Heyl, o primeiro professor a aderir ao OH e o último a desistir da expedição, viveu no Chile até o final da vida, assim como o filho Emile. Para um homem de letras e autor de obras clássicas, que ostentava uma passagem pela Universidade de Paris, não foi difícil encontrar oportunidade de trabalho do outro lado do Atlântico. Depois da Independência,
A marca do Atelier Daguerre, um estúdio de fotografia em atividade no Rio de Janeiro, c. 1900. O nome do inventor ainda era fonte de inspiração para alguns fotógrafos até o final do século XIX.
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o Chile vivia um processo de secularização das instituições e práticas de ensino, antes sob o controle da Igreja. Os inúmeros conflitos decorrentes desse processo logo alcançariam o professor de ideias republicanas e socialistas convidado a lecionar na Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidade do Chile, em 1842. Apesar da imediata acolhida por alguns círculos do poder, o francês que condenava a tirania, inclusive qualquer castigo aos alunos, e que defendia não só o fim de privilégios, mas também o amor livre, acabou se tornando um “estrangeiro indesejável”. Vendel-Heyl terminou seus dias como professor particular e, em 1854, foi enterrado –a seu pedido– sem nenhum sacramento religioso.20 Guillaume Cocq, o segundo capitão do OH, se associou a Vendel-Heyl nos primeiros meses que passou no Chile e ambos criaram o Instituto Valparaíso, escola de marinha e comércio que receberia o apoio da municipalidade, transformando-se mais tarde na Academia Náutica da cidade. Com a mudança de Vendel-Heyl para Santiago, em 1841, Cocq passou a se dedicar a negócios bem distintos: um curtume e uma fábrica de azeite.21 Os noviços Philippe Broche e Etienne Konig também permaneceram no Chile por algum tempo. Entusiasmados com a corrida do ouro, os dois estiveram na Califórnia, mas depois Broche voltou à França, já com a família, onde foi receber a sua “rica e nobre” herança.22 Konig, vivendo na ilha de Chiloé, fundou por lá a primeira instituição chilena dedicada à formação de oficiais para a marinha mercante (Escola Náutica de Ancud, 1844).23 Popelaire de Terloo, passageiro incansável, foi outro que permaneceu no Chile, mas não por muito tempo. Na verdade, ele nem chegou a encerrar a hospedagem em seu quarto de hotel em Valparaíso, quando em256
barcou no OH, em 23 de junho. Em uma de suas cartas, ele fez um comentário, no mínimo curioso, sobre o dia do naufrágio: Eu não sei que pressentimento me perseguiu, sendo eu normalmente despreocupado; mas, sem me dar conta, eu mantive ainda assim, antes de deixar a cidade, o meu quarto no Hotel de France, onde me hospedava.24
Voltando ao hotel, Terloo arquitetou os seus próprios planos, enquanto aguardava uma definição do capitão Lucas sobre a continuação ou não da viagem, àquela altura bastante incerta: Se não conseguirmos terminar nossa expedição, irei para o interior do Chile, depois para a Califórnia, onde continuarei meus estudos científicos; caso contrário, atravessarei os pampas ou o istmo do Panamá para retornar à Europa.25
Encerrados os planos de continuar a expedição, Terloo enviou parte do material coletado na viagem (“mais de 200 aves raras, mamíferos, crustáceos, insetos, peixes, etc.”) para o Museu de Bruxelas.26 Deixando Valparaíso, seguiu para a Bolívia e o Peru em busca de mais “tesouros” que pudesse juntar ao acervo de história natural e arqueologia já reunido. Em 1844, casou-se em Santiago com uma jovem da elite chilena e, algum tempo depois, viajou para a Europa carregando na bagagem uma grande coleção pré-colombiana, parcialmente doada aos museus belgas.27 O professor de matemática Jean Moreau parece ter tido mais dificuldades com a volta para casa. A passagem pelo Rio de Janeiro foi definida em suas cartas como “lamentável
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memória”28 e quando retornou à Bélgica ainda passou meses reivindicando uma compensação financeira, a título de indenização, pela formação dada aos jovens do OH. Durante a viagem, um aluno comentou sua atuação: Se, a despeito de todas as previsões, a expedição não tiver o êxito absoluto que temos o direito de esperar, o país saberá reconhecer os serviços que M. Moreau prestou como professor encarregado exclusivamente do ensino de ciências no Oriental. De todo modo, nós o vemos, por assim dizer, como o guardião dos jovens que o rei confiou ao capitão e ele é digno de semelhante tutela.29
Em Bruxelas, contudo, as autoridades só concordaram com o pagamento reivindicado mediante a apresentação de um estudo sobre a expedição e sua utilidade para o comércio e a indústria da Bélgica.30 Àquela altura, a decepção com o apoio dado ao empreendimento era enorme. Em 1841, Moreau conseguiu ser nomeado professor de “matemática superior” no colégio Charleroi e, depois de lecionar em outras instituições, aposentou-se como professor de perspectiva da Academia Real de Belas Artes de Bruxelas (Académie Royale de Beaux-Arts de Bruxeles).31 Os jovens Charles Emonce e Jean-François Verelst, repatriados a bordo do Industrie, também tiveram que encontrar aspectos positivos para retirar da experiência, em proveito da Bélgica. Cientes dos compromissos assumidos antes de deixar o país, os dois noviços da Escola de Navegação de Antuérpia entregaram às autoridades um extenso relatório da viagem, com as informações coletadas nos portos visitados. O trabalho, apesar de todas as reclamações do último ano sobre as deficiências do OH,
Âncora, com suporte de madeira, empregada na retenção do navio contra a força dos ventos e das correntes. Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
Modelos de boias para diferentes usos e indicações no mar (salvamento, ancoragem, etc). Le Magasin Pittoresque (Paris, 1840).
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recebeu elogios do ministro do Interior, logo endereçados ao governador responsável pela participação dos dois jovens.32 Muito além do comando de um navio mercante, o investimento financeiro e a formação oferecida deviam ser aproveitados em qualquer empreendimento em terra. Essa tinha sido, inclusive, uma das principais promessas do folheto de propaganda da expedição: Os jovens que se destinarão ao comércio explorarão proveitosamente os lugares que oferecerem grandes oportunidades aos nossos produtos; a estatística comercial de todos esses países será feita por eles mesmos em todos os pontos da estação; e no retorno desta expedição, durante a qual estarão envolvidos, sob a direção de ilustres professores, em estudos gerais e especiais de cada localidade, eles próprios estarão em condições, seja de resolver o uso de seu capital com segurança, seja de dirigir as operações que lhes serão confiadas.33
Com o naufrágio, parecia que as promessas da escola flutuante não tinham se concretizado. Por isto mesmo, Vidal Gormaz concluiu que ela fora um “verdadeiro fracasso experimentado pelas famílias da França e da Bélgica”.34 Além da decepção e do constrangimento familiar, com duelos e deserções gravados na memória de pais e filhos, muitos jovens tiveram problemas burocráticos na carreira naval, pois tinham sido registrados na Inscrição Marítima de Nantes como “noviços voluntários”, sem a garantia de certos direitos. Charles Lestrange, por exemplo, ficou vários anos às voltas com o reconhecimento do tempo de serviço a bordo do OH.35 Por outro lado, o sucesso do fisionotipo entre os brasileiros levou Frédéric Sauvage a permanecer 258
no Brasil até 1841, empregando o mecanismo inventado por seu pai. Outros tiveram um futuro obscuro e, pelo menos um noviço, um destino até bem trágico. Balthazar du Plessis d’Argentré chegou a reencontrar a família na França, mas partiu em seguida para sua derradeira viagem. A marquesa d’Argentré, preocupada com o filho quando soube do naufrágio do OH, acabou perdendo o jovem em situação semelhante. Balthazar morreu a bordo do brigue La Vedette, na noite de 6 de outubro de 1841, em um naufrágio nas proximidades da ilha Saint-Pierre et Miquelon, colônia francesa no Atlântico Norte.36 Para a maioria, contudo, a experiência representou um aprendizado, mas também deixou frustrações, dívidas e reclamações a serem resolvidas. Alguns, viram esse enredo com certo humor: Veja você, além disso, que nada terá faltado à nossa educação marítima, nem mesmo o naufrágio indispensável para poetizá-la...37
A frase era de Victor Champeaux de la Boulaye. Ele aproveitou a viagem no OH e outras mais para, justamente, transformá-las em poesia. Antes da tentativa de dar a volta ao mundo em uma única expedição, já tinha estado na Itália, Turquia, Síria e Noruega. Logo depois do naufrágio, viajou para a América do Norte e mais tarde esteve na Espanha, Córsega e Irlanda. Voltando à França, escreveu para o La Presse e a Revue des Deux Mondes e publicou o livro Itinéraire poétique (Paris: Gosselin, 1843), dedicado a um amigo e poeta bretão. A obra contém poemas inspirados pela passagem do OH nos portos de Recife e Rio de Janeiro. Quando foi finalmente apresentado à Alphonse de Lamartine, para quem já tinha enviado alguns de seus poemas,
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recebeu um comentário encorajador do grande mestre do romantismo. O elogio do célebre escritor valia, para os contemporâneos, o mesmo que uma premiação. Champeaux de la Boulaye morreu octogenário, descrito pelos admiradores como um “poeta-pescador e viajante infatigável”.38 O capitão Lucas, quando deixou Valparaíso em direção à Oceania, carregava consigo a família, os bens pessoais e, provavelmente, uma grande frustração pelo fim de sua escola flutuante. Mas, como todo empreendedor obstinado, levava na bagagem a disposição para os novos projetos que tinha em vista no Taiti. No caminho, permaneceu no porto de Sidney entre 29 de março e 3 de junho de 1841.39 A daguerreotipia tinha chegado antes à cidade, mas apenas através de umas poucas notas e comentários, com transcrições de jornais de Londres no The Colonist e no Australasian Chronicle.40 Essas matérias aguçaram a curiosidade pela invenção e o debate sobre a prioridade da “descoberta” entre os habitantes do lugar. Embora chegasse a Sidney sem o seu próprio navio, Lucas apresentou-se como “o ex-comandante da expedição da Escola Naval”. Na cidade, aproveitou a curiosidade pela daguerreotipia para anunciar a venda de seu equipamento no Australasian Chronicle, em 13 de abril de 1841. Além do aparato completo para praticá-la, o comprador receberia todas as instruções necessárias: O Daguerreótipo - Os habitantes de Sidney terão agora a oportunidade de testemunhar os efeitos desta invenção muito singular, tendo o capitão Lucas, ex-comandante da expedição da Escola Naval, trazido um dos instrumentos para a colônia. Por meio do Daguerreótipo, uma vista exata de qualquer localidade pode
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ser tomada por qualquer pessoa, em cinco minutos. O capitão Lucas pretende dispor dos instrumentos pelo melhor preço, e ele pode ser visto no escritório dos Srs. Joubert e Murphy, na praça Macquarie. O comprador será completamente instruído no método de obter as vistas.41
A data da partida do OH na França, em 25 de setembro de 1839, as práticas de comercialização e difusão do invento nas semanas anteriores e subsequentes, bem como a permanência de Soulier de Sauve no Rio de Janeiro e Louis Comte em Montevidéu, em princípios de 1840, quando confrontadas com outras fontes e informações, apontam outro aspecto interessante na história do OH. A expedição provavelmente trazia a bordo mais de um equipamento para a daguerreotipia.42 Em todo caso, os dois viajantes também não teriam dificuldades para adquirir um aparelho pouco depois da passagem do OH por essas cidades e, assim, continuar a praticar e a ensinar o processo fotográfico. Em março daquele ano, uma câmera de daguerreotipia já era comercializada no Rio de Janeiro e não há razões para imaginar que tenha sido muito diferente em Montevidéu ou em Valparaíso. O capitão Lucas, mesmo depois de ter encomendado um aparelho ao próprio Daguerre, aprender a manejar as suas operações e demonstrar a novidade nos portos por onde passou, vendeu seu equipamento quando chegou a Sidney porque estava em dificuldades financeiras. Mas, também, porque era um capitão da marinha mercante, não pretendia ganhar a vida com o daguerreótipo e os seus planos eram outros. Quando escreveu ao contra-almirante Du Petit-Thouars sobre o naufrágio, ele explicou sua situação: 259
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Por que, por exemplo, meus caluniadores não lhe disseram que, depois do meu naufrágio, minha esposa foi obrigada a lavar roupas em Valparaíso para garantir a subsistência dos seus filhos? Este argumento, que vale o melhor dos axiomas, não lhes é desconhecido, eu presumo, mas o desejo de denegrir é dominante entre eles, que não têm outro objetivo, e eu irei respondê-los. Que excentricidade do espírito teria, então, me feito desistir do mais belo destino ao qual eu poderia pretender para ter a glória de ver a minha esposa lavar as camisas de marinheiros!43 [grifo no original]
O estabelecimento escolhido pelo capitão Lucas para vender seu equipamento era um ponto de comércio, localizado no coração de Sidney, na praça Macquarie, onde o francês Didier Numa Joubert e o irlandês Jeremiah Murphy, agentes dos navios franceses, vendiam alimentos e bebidas. Acredita-se que Joubert tenha ficado, ele próprio, com o aparelho de daguerreotipia usado na expedição do OH.44 Três anos depois, quando Joubert deixou Sidney, ele colocou à venda tudo o que estava em seu estabelecimento, incluindo “uma câmera superior de daguerreotipia, completa, com todos os aparatos e grande número de placas”.45 Além disso, a demonstração pública da novidade para os habitantes de Sidney foi feita em seu endereço, em 13 de maio de 1841: Nos armazéns dos senhores Joubert e Murphy, um interessante teste das vantagens do daguerreótipo foi feito na quinta-feira, no qual estivemos presentes, e recebeu a mais esplêndida atenção nas mãos dos cavalheiros que conduziram o experimento… um esboço extraordinariamente lindo e rápido 260
da rua Bridge e parte da rua George foi obtido, tal como aparecia a partir da fonte na praça Macquarie.46
Em 1848, quando Lucas retornou à França, a fotografia já tinha concretizado muitas de suas promessas e o país passava por grandes mudanças, com o fim da Monarquia de Julho, a abolição definitiva da escravidão, as insurreições populares nas ruas de Paris e em outras cidades, a instauração da Segunda República. Especula-se que ele tenha seguido mais tarde para os Estados Unidos, onde veio a falecer quando a França já vivia o Segundo Império (1852-1870).47 Mas, o que se sabe de concreto, é que ele reviu a sua Belle-Île e se manteve ativo, justamente na agitada conjuntura francesa, entre 1848 e 1850. Em Paris, publicou dois livros sobre as experiências acumuladas naqueles últimos anos.48 O título e o subtítulo do primeiro são indicativos dos conflitos em que se meteu no Taiti e as estratégias que empregou para defender seus interesses na região (ver Bibliografia).49 O outro, representa uma síntese de toda a sua experiência no mar e fora dele. O livro Le candidat (1850) foi bem acolhido no meio marítimo e mercantil, chegando a ter uma segunda edição três anos depois de seu lançamento. Uma explicação do autor na folha de rosto indica que o ex-comandante do OH continuava cheio de ideias: A obra foi finalizada com algumas reflexões dirigidas à Comissão de Investigação da Marinha em favor das Inscrições Marítimas e algumas considerações gerais sobre as causas da fraqueza da Marinha francesa e os meios que, talvez, possam ser empregados para torná-la a primeira Marinha do mundo.50
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Caricatura de Théodore Maurisset sobre a “daguerreotipomania” que tomou conta de Paris durante o ano de 1839. Publicada no jornal La Caricature, em 8 de dezembro, a ilustração acompanha o texto Fantasie, no qual o autor ironiza a concessão de uma “recompensa nacional” para os inventores de um instrumento, declarado útil e necessário por Arago e a Academia de Ciências, para que todos concordassem em pagar por isso, mesmo que “a nação não experimentasse a menor necessidade dele”. A imagem visionária, a despeito do ceticismo de Maurisset, é povoada pela multidão de consumidores, fotógrafos, aparelhos de daguerreotipia e outros apetrechos da prática fotográfica, com referências emblemáticas da cultura visual oitocentista revolucionada pelo aparecimento da fotografia: os retratos a preços módicos, as viagens de todo tipo, as fotografias aéreas, as expedições pelo planeta, os espetáculos em praça pública, as novidades que se anunciam em toda sorte de materiais, processos e, sobretudo, comportamentos.
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As recompensas materiais e simbólicas por suas ideias não chegaram a tempo para o capitão Lucas. A percepção da viagem do OH como um “grande fracasso”, especialmente por aqueles que esperavam tanto de suas promessas, lançou o capitão na obscuridade. Por outro lado, essa percepção contrastava vivamente com o interesse dos latino-americanos pela introdução da daguerreotipia no continente. O entusiasmo por essas demonstrações foi comum a gerações de cronistas e historiadores da América do Sul. Em agosto de 1864, Machado de Assis já se ocupava da “máquina fotográfica” que um certo padre de “nome Combes” trouxera ao Rio de Janeiro, a bordo de uma “corveta francesa”. O escritor nasceu, coincidentemente, em 1839, e essas linhas compõem um dos primeiros, se não o primeiro, relato histórico da introdução da daguerreotipia ao sul do Equador. O texto foi publicado no Diário do Rio de Janeiro, em uma de suas célebres “crônicas da semana”.51 Os leitores do jornal e o próprio Machado formavam uma nova geração de admiradores da “perfeição crescente dos trabalhos fotográficos” que, agora, podiam “passar à posteridade num bilhete de visita”. O breve relato sobre os primeiros passos de uma arte colocada ao alcance de todos coincidia com a passagem do cronista pelo salão de pose de um dos mais afamados retratistas da capital brasileira.52 A visita inspirou Machado de Assis a se debruçar sobre “as gazetas do tempo” para descobrir a história daquele “milagroso aparelho”, apresentado à cidade em 1840, comparando-o aos últimos aperfeiçoamentos do “invento de Daguerre”.53 A experiência do escritor com a fotografia marcou muitas facetas da personalidade e da obra de Machado de Assis, mas esta já seria uma outra viagem...54 262
Pelo que sabemos, pouco sobrou do veleiro de três mastros que abrigou a expedição e é provável que esses vestígios ainda continuem no fundo do mar.55 Vários objetos e documentos coletados durante a viagem também desapareceram no naufrágio, perda bastante lastimada por Terloo: Eu tive a infelicidade de perder em nosso naufrágio sete caixas contendo escritos, coleções de mostras e mercadorias que pretendia oferecer ao nosso governo e, também, vários objetos de história natural. 56 [...] Quantas pesquisas e manuscritos perdidos! De minha parte, tenho a lamentar toda a coleção de história natural, todas as amostras, todas as notas que eu destinava ao governo, bem como minha rica coleção de objetos de curiosidade. No entanto, tive a alegria de preservar quase todas as minhas conchas que haviam permanecido dentro do castelo de popa, por uma felicidade providencial. Finalmente, ninguém pereceu. Isso é o principal!57
Outros bens de passageiros e tripulantes do OH foram salvos, como informam os relatos do naufrágio. Um objeto que teria pertencido ao comandante Lucas, bastante simbólico, apareceu em um leilão, em Paris, em 2009: a adaga de marinha (77 cm), em latão dourado, cabo de marfim e elementos decorativos, como âncoras e folhagens, trazendo as inscrições École flottante - Expédition de l’Oriental (Escola flutuante - Expedição do l’Oriental) e Auguste Lucas - 1839.58 Daguerreótipos realizados por Comte, Lucas e seus companheiros de viagem no OH podem ter desaparecido com a perda do navio. A maioria, provavelmente, acompanhou o desembarque e
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a volta para casa desses viajantes ou permaneceu nos portos visitados, como os daguerreótipos ofertados a d. Pedro II. O imperador, no entanto, doou “daguerreótipos do Paço de São Cristóvão”, realizados por “um artista estrangeiro”, ao príncipe Adalberto da Prússia, quando os dois se encontraram no Brasil, em julho de 1842.59 Os livros e o telescópio presenteados por Soulier de Sauve foram mantidos em sua coleção.60 Situações semelhantes devem ter ocorrido com outros daguerreótipos
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da expedição, sem que se saiba o destino desses exemplares, nem se foram preservados.61 O certo é que os daguerreótipos do OH são, há tempos, objeto da curiosidade e do entusiasmo de muitos. Esse interesse tem se renovado e se multiplicado através de publicações, seminários, exposições e eventos comemorativos.62 Essas imagens fotográficas precursoras, destacando-se as demonstrações realizadas no Brasil e no Uruguai, constituem um legado e tanto para o patrimônio cultural
A chegada do imperador d. Pedro II, em carruagem, ao Paço da Cidade, no centro do Rio de Janeiro. c.1840-1842. O daguerreótipo atribuído pelos descendentes da família imperial brasileira a Louis Comte, portanto com a data de 1840, foi posteriormente atribuído por pesquisadores norteamericanos e brasileiros ao daguerreotipista Augustus Morand, em 1842. Os registros em daguerreotipia de cerimônias públicas são extremamente raros e a imagem, apesar de autoria e datação controversas, tem sido vista há mais de um século como representação memorável da chegada da fotografia ao Rio de Janeiro e à América do Sul. O estudo da “biografia” desse daguerreótipo (placa, estojo, etiquetas, etc.), como “objeto fotográfico” e como “lugar de memória”, com o necessário levantamento de informações sobre a cena representada na imagem, seu percurso nas coleções brasileiras e suas formas de difusão e apropriação em quase dois séculos de existência, é uma lacuna a ser preenchida com novas pesquisas.
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latino-americano e a cultura visual do nosso tempo.63 Embora os daguerreótipos do OH não tenham formado uma “coleção”, conhecendo-se apenas os exemplares atribuídos a Louis Comte no Rio de Janeiro, uma imagem litográfica inspirada por sua experiência em Montevidéu e referências textuais sobre as demonstrações da expedição, sabemos que, em algum momento, eles existiram.64 Por isso, não é impossível que um ou outro possa ser localizado (ou corretamente identificado e datado), em alguma coleção ou base de dados, em algum canto do planeta. Nesta pesquisa, o berço e a identidade do capelão Louis Comte, bem como o testamento e o local em que está sepultado, tornaram-se conhecidos.65 Essas informações podem oferecer uma pista sobre os seus daguerreótipos. Fotografias são sempre cheias de surpresas e, de tempos em tempos, os jornais nos surpreendem com “achados” quase inacreditáveis. Por outro lado, o estudo e a conservação de bens culturais, tal como a trajetória de um daguerreotipista um tanto misterioso, sempre representaram desafios gratificantes para os profissionais do meio. A facilidade que dispomos agora para acessar a biografia de personagens e objetos patrimoniais tornou essas conexões e descobertas bem mais frequentes. Esta pesquisa, com a perspectiva de estudar a produção de sentidos pela fotografia, no passado e no presente, procurou oferecer também um estímulo e uma ferramenta nessa direção. Por tudo isso, uma conclusão “definitiva” para as suspeitas sobre o naufrágio do OH não tem aqui nenhuma importância. As relações sempre complexas entre o “fio” e os “rastros” que orientam a narrativa histórica nos labirintos do passado, exploradas com maestria por Carlo Ginzburg, inspiraram este 264
livro em outra direção. O historiador italiano combina em suas obras o olhar microscópico para os detalhes reveladores do tempo histórico e o olhar telescópico para as suas implicações no presente. Essa perspectiva é essencial no ofício de quem se dedica a “destrinchar o entrelaçamento de verdadeiro, falso e fictício que é a trama do nosso estar no mundo”. 66 Os “detalhes reveladores” da viagem de circum-navegação do OH ficaram, por muito tempo, esquecidos nas linhas e entrelinhas de seus rastros, tanto quanto nas imagens e imaginários de seu tempo. A narrativa privilegiada na apresentação desta pesquisa, tentando identificar o “verdadeiro, o falso e o fictício” nesses detalhes, procurou explorar a singularidade dessa expedição trazendo para os dias atuais alguns significados de sua história. Entre eles, a certeza de que a memória e o esquecimento, como nos indicou Jorge Luis Borges, são igualmente inventivos.67
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Conclusão
O daguerreótipo atribuído a Louis Comte (Largo do Paço, 1840), reproduzido em negativo de vidro, pelo fotógrafo Marc Ferrez, c. 1885. A reprodução da placa metálica com a imagem em daguerreotipia, sem o estojo característico dos três daguerreótipos atribuídos ao “abade Comte”, foi realizada por Ferrez ao empreender diversos serviços fotográficos para o imperador d. Pedro II, tais como retratos da família imperial, fotografias de interiores e reproduções de gravuras e pinturas. O negativo, digitalizado pelo Instituto Moreira Salles (Brasil), foi identificado nesta pesquisa, em 2016. Ele revela, com bastante nitidez, detalhes importantes do objeto fotográfico, como o formato retangular das placas, a imagem fixada em toda a sua extensão e a presença de figuras humanas ao redor do chafariz do mestre Valentim. Os daguerreótipos do imperador d. Pedro II, atribuídos a Louis Comte, acompanharam o monarca em sua última viagem à Europa (o exílio), após a proclamação da República no Brasil, em 1889. Eles voltaram ao Brasil, na década de 1940, depois de permanecerem por mais de meio século na França.
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Conclusão 1. Kidder, 1845, pp. 348-349. 2. René Estienne. “Dupuy de Lôme et le Napoléon”. In : Marine et technique au XIXe siècle, [1988], p. 203. 3. Carré, 1970, p. 32. 4. France. Annales maritimes et coloniales, Partie non officielle, Paris, Imprimerie Royal, 1835, t. 2, pp. 1012-1014. 5. ANF / Fonds de la Marine / Serie BB / Subserie BB3 615 / Lettres reçues. Colonies. Rapport du capitaine du navire Justine au ministre de la Marine, 2 mars 1842. O relatorio foi publicado com o título Extrait du rapport adressé au ministre de la marine par le capitaine Lucas, commandant le navire Justine, de Bordeaux, sur les circonstances de son voyage dans l’Océanie en 1837, 1838, 1839, 1840 et 1841. France. Annales Maritimes et Coloniales (Paris), Partie 2 (non official), 1842, v. 2, pp. 496-503. 6. Bougainville, 1771. Jeanne Barret acompanhava o botânico Philibert Commerson. Um belo verbete sobre a essa impressionante figura feminina, com boas referências, está disponível em https:// fr.wikipedia.org/wiki/Jeanne_Barret. 7. OH – Doc 07.11.1839. 8. O’Reilly, 1966, p. 586. O autor, neste artigo, reproduz as expressões empregadas pelo padre Honoré Laval, missionário na região expulso temporariamente do Taiti, em 1836, e grande desafeto da família Lucas. Cf. Honoré Laval, Mémoires pour servir à l’histoire de Mangareva, ère chrétienne 1834–1871, editado por C. W. Newbury e P. O’Reilly e publicado pela Société de Océanistes. Paris: Musée de l’Homme, 1968, pp. 234–238. Ver tb. Carré, 1970. O historiador deu destaque para Elisabeth, definindo-a como uma mulher “iletrada e intrigante” (p. 26), que seduzia o grupo controlado pelo padre Laval (p. 32) e transcreveu na última página de seu artigo (p. 35) alguns relatos de época
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colhidos por O’Reilly. 9. Jornal do Commercio, 10 de julho de 1840, p. 3. O decreto de nomeação pelo ministro da Guerra foi assinado na véspera. Em 1842, o astrônomo participaria dos debates na imprensa sobre o eclipse solar observado no Rio de Janeiro. 10. Jornal do Commercio, 10 de agosto de 1840, p. 3. Matéria sobre os saraus de M. Storr na cidade. 11. Calmon, 1975, pp. 459-460; Santos, 2004, p. 57. 12. Jornal do Commercio, 9 e 30 de outubro de 1841. 13. Jornal do Commercio, 28 de novembro de 1840, p. 4; 4 de dezembro de 1845, p. 2; 24 de fevereiro de 1849. Ver tb. Arquivo Nacional (Brasil). Registro de estrangeiros, 1964, p. 134. Em 1862, a “francesa”, “viúva do dr. Soulier de Sauve”, tendo que sobreviver sem a ajuda do marido, publicou um anúncio como “professora de francês, geografia e diferentes trabalhos de agulhas, tesoura e bordados” no Almanack Laemmert. 14. El Nacional, em 8 de outubro de 1840. A convivência entre ambos pode ter se estendido aos negócios portuários, aos quais Arsène Isabelle também estava ligado. 15. El Nacional, 17 de março de 1840; El Nacional, 3 de abril de 1841, El Nacional, 8 de outubro de 1840; Comercio de la Plata, 15 de abril de 1847, entre outros jornais de Montevidéu. Apud Broquetas, Bruno e Delgado, 2013, pp. 24-26; Varese, 2013, pp. 27-31. 16. Comercio de la Plata, de 15 de abril de 1847. Apud Varese, 2013, p. 30. 17. Sobre a maçonaria no Uruguai, ver Fajardo, 1857. 18. CADN – Archives de Postes. Montevideo A – 418. Dossier de immatriculés, nº 293, Comte. 19. Tridart, 2007. O testamento de Comte, transcrito pelo autor no Bulletin de l’Association Généalogique de Relevés et des
Recherches, da cidade de Champdivers, na região da Bourgogne-Franche-Comté (França), é uma trilha importante para outras pesquisas. O autor desconhece a juventude do “misterioso” padre e sua passagem pelo OH, bem como a experiência com a daguerreotipia. 20. Vendel-Heyl, 1850; Estefane, 2005, p. 72 e seguintes. 21. Estefane, 2005, p. 82. 22. Vidal Gormaz, 1901, p. 205. 23. Barros Arana, 1855; Vidal Gormaz, 1901, p. 204. 24. OH – Doc 31.10.1840. 25. OH – Doc 31.10.1840. 26. OH - Doc 03.11.1840 e OH - Doc 09.11.1840. A instituição foi adquirida, em 1846, pelo governo belga e converteu-se no Museu Real de História Natural da Bélgica, hoje Instituto Real Belga de Ciências Naturais. Ver https://www.naturalsciences.be/fr (as peças, no entanto, não puderam ser localizadas na consulta ao site da instituição). 27. Annuaire de la noblesse de Belgique, Brussel, 1850. Disponível em https:// nl.wikipedia.org/wiki/Popelaire_de_Terloo. 28. OH - Doc 26.05.1840. 29. OH - Doc 11.04.1840. 30. OH - Doc 21.01.1841 e OH - Doc 08.02.1841. 31. Bergmans, 1899, pp. 245-246. 32. OH - Doc 09.02.1841. 33. OH – Doc 00.03.1839. 34. idal Gormaz, 1901, p. 204. 35. OH - Doc 02.09.1841 e OH - Doc 16.09.1841. 36. SHD-Marine - Fonds privé Adrien L.J. Carré. Correspondance avec M. Argentré, 12 février 1969 ; Carré, 1970, p. 32. 37. OH – Doc 02.10.1840. 38. Letessier, 1962, pp. 490-508 ; SHD-Marine - Fonds privé Adrien L.J. Carré. Correspondance avec Julien Champeaux de la Boulaye. 39. Wood, 1996, p.117; Reeder Warwick.
Maria Inez Turazzi
“Australia”. In: Hannavy, 2008, p. 97. Informação extraída do Sidney Morning Herald, 3 de junho de 1841. 40. “English Extracts”, The Colonist, 1 June 1839; “English Extracts”, The Colonist, 26 June 1839; “European Intelligence”. Australasian Chronicle, 16 August 1839. 41. “The Daguerreotype”. Australasian Chronicle, 13 april 1841. 42. Derek Wood considerou a possibilidade de dois aparelhos de daguerreotipia a bordo da expedição quando tomou conhecimento das referências sobre o OH na América do Sul, conforme correspondência com António Sena, Steven F. Joseph e outros, reproduzida no site www. midley.co.uk/. 43. OH – Doc 31.07.1842. 44. Sobre Didier Joubert, ver as informações reunidas pela NLA, em https://trove. nla.gov.au/people/1487618?c=people. 45. Sidney Morning Herald, 21 March 1843. Apud, Wood, 1996, p. 115 e Warwick, 2008, p. 97. 46. Australian, 15 May 1841, apud Warwick, 2008, p. 97. O autor também comenta: “no trace of the first photograph made in Australia has been found since its announcement over 164 years ago”. 47. O historiador Le Gallen (1906) informa que Lucas teria seguido para os Estados Unidos, possivelmente para Cincinnati, onde teria falecido por volta de 1854 (os arquivos locais foram destruídos, posteriormente, em um incêndio, o que torna difícil qualquer comprovação). Outras informações, escritas por Évangeline Soyer, neta do capitão, em 1941, então com 78 anos, estão hoje disponíveis no endereço www. chauvigne.info/pages/143-augustin-lucas-les-origines-du-capitaine-augustin-fr.php. 48. A referência aos processos consta em O’Reilly, 1966, p. 45. As obras de Lucas estão listadas na Bibliografia. 49. Lucas, 1848. 50. Lucas, 1850 e 1853. As duas edições
Conclusão
são ligeiramente diferentes e a frase consta da folha de rosto da edição de 1850. 51. Machado de Assis. “Crônica da semana: Ao acaso”, Diário do Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1864. 52. Ermakoff, 2006, pp. 227-228. 53. Sobre Machado de Assis, a fotografia e a imagem pública do escritor, ver Turazzi, 2014. 54. Turazzi, 2014. 55. A arqueologia marinha é tema frequente na imprensa chilena, mas também os saques que desrespeitam esse patrimônio protegido pelo Consejo de Monumentos Nacionales do Chile. 56. OH - Doc 09.11.1840. 57. OH - Doc 31.10.1840. 58. Catálogo “Armes anciennes et souvenirs historiques ; armes de chasse modernes” (item 281, imagem à p. 58), organizado pelo especialista Bernard Croissy para o leiloeiro Thierry de Maigret. Leilão realizado na casa Drouot (Paris), em 4 de fevereiro de 2009. 59. Adalberto da Prússia comenta o fato em suas memórias (Adalbert, 1847). Gilberto Ferrez imaginou que pudessem ser de Comte, talvez já considerados “muito ruins”, ou de outros daguerreotipista estabelecidos na cidade, como Buvelot e Morand. Ferrez, 1985 (a), pp. 20 e 22. A coleção de Adalberto da Prússia não foi localizada pela pesquisa. 60. Os livros de Soulier de Sauve estão na coleção Teresa Cristina, na Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro) e o telescópio que se encontrava no Paço de São Cristóvão, em 1891, está hoje no acervo do Museu Imperial. 61. Abel Alexander. “Prólogo: La imortalidad se ha logrado”. In: Varese, 2013, pp. 5-7. O investigador e colecionador estima que somente 10% dos daguerreótipos eram assinados. 62. A Bibliografia deste livro é um indicador. A experiência de Louis Comte no Lar-
go do Paço, atual Praça xv de Novembro, no Rio de Janeiro, foi “repetida” em 1989. O evento foi promovido pelo Ministério da Cultura/Funarte, e os daguerreótipos contemporâneos realizados por João Carlos Horta, Nelson Lopes e Sylvie Pénichon. 63. Com o projeto www.laoriental11.org, apresentado no Festival Internacional de Fotografia de Valparaíso, fotógrafos contemporâneos traduziram o simbolismo da viagem em uma experiência criativa (e interativa) de deslocamento pelo mundo real e virtual. Rovira e Weinstein et al, 2014. 64. Em 10 de março de 2010, a Junta Departamental de Montevidéu aprovou a colocação de uma placa comemorativa das primeiras demonstrações da fotografia no rio da Prata, representadas pelo daguerreótipo da fachada da Igreja da Matriz atribuído a Louis Comte. 65. Turazzi, 2010. O artigo, além das informações citadas, corrigiu a grafia de seu nome e apresentou a assinatura aqui também reproduzida. 66. Em Il filo e le tracce (2006), Carlo Ginzburg se detém, especialmente, na relação entre o tempo, “fio do relato” que ajuda o historiador a se orientar “no labirinto da realidade”, e os rastros que fundamentam a cientificidade da narrativa histórica em uma dada representação do passado, abordagem que se beneficia da narrativa ficcional, com hibridismos e empréstimos recíprocos, mas não se confunde com ela e sua natureza subjetiva. Cf. Ginzburg, 2007. 67. Borges, 1970, p. 102; Ricœur, 2007.
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A história e a descrição dos procedimentos do daguerreótipo e do diorama, em edição impressa em Paris, em setembro de 1839. Esgotada a primeira edição do manual de Daguerre, lançada por Alphonse Giroux logo depois do dia 19 de agosto de 1839, apareceram em seguida novas impressões da obra, na França e no exterior. Esta edição, na qual Giroux já se apresenta como “editor”, é contemporânea de outras impressões realizadas por outros editores parisienses, ao longo do mês de setembro, registradas ou não na Bibliographie de France.
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Folha de rosto da “nova edição”, “corrigida e aumentada”, do manual de Daguerre, impressa por Alphonse Giroux et Cie., em fins de setembro de 1839. Entre as novas edições e impressões do manual de daguerreotipia lançadas em Paris, ainda em 1839, algumas continham o “retrato do inventor”, “correções do autor”, bem como “notas e observações” do ótico Lerebours ou dos irmãos Susse. O principal acréscimo da “nova edição” de Giroux é a ilustração, com a marca da Imprimerie de Lemercier, Bernard et Cie., contendo a assinatura e o retrato do inventor (realizado por Pierre-Louis Grevedon).
Cronologia da invenção e difusão da daguerreotipia (1816-1842)
1816-1826
Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833), ex-militar, dedica-se a invenções diversas. Experimenta a impressão de imagens (diretamente e depois com a câmera escura), usando placas de pedra, vidro e metal polido (cobre e estanho), sensibilizadas com uma espécie de asfalto (“betume da Judéia”) e expostas à luz solar por várias horas. Dá o nome de heliografia, “até que uma denominação mais exata seja encontrada”, àquele que é considerado o primeiro processo viável para a obtenção de imagens permanentes com o uso da câmera escura. Uma fotografia de cerca de 1826 é hoje a mais antiga que se conhece. Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), pintor e cenógrafo, retrata monumentos e paisagens para álbuns, teatros e panoramas em 360º, novidade que fascina e garante o sustento de muitos artistas. Em 1822, inventa o diorama, gênero de espetáculo cenográfico com efeitos luminosos e apelos sensoriais. Em 1825, é condecorado como cavaleiro da Legião de Honra da França. Realiza, também, experiências com substâncias químicas para a obtenção de imagens pela ação da luz solar sobre uma superfície colocada no interior da câmera escura.
1827
Daguerre e Niépce encontram-se pela primeira vez, por insistência do primeiro, depois de tomar conhecimento de suas experiências por uma indiscrição do ótico Charles Chevalier, fornecedor de ambos. Os dois iniciam demoradas negociações para a realização de uma sociedade destinada a aperfeiçoar e explorar “a heliografia”.
1829
Niépce envia a Daguerre o texto Notice sur l’Héliographie, contendo todos os meios e materiais empregados em sua invenção. Ambos assinam um contrato de associação para aperfeiçoar e explorar “a dita descoberta”. As experiências são partilhadas por ampla correspondência entre os dois.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
1833
Morte de Niépce. Daguerre prossegue em seus experimentos com o emprego do iodo na sensibilização da placa metálica e, dois anos depois, obtém resultados animadores com o uso do vapor de mercúrio para a revelação da imagem.
1835 9 de maio
Daguerre e Isidore Niépce (1795-1868), filho de Nicéphore Niépce, modificam os termos do contrato anteriormente celebrado pelos dois inventores. O aditamento firmado com Isidore reconhece que Daguerre pode obter um resultado bem “mais vantajoso” através do “procedimento por ele descoberto”.
27 de setembro
O jornalista e escritor Arsène Houssaye (1814-1896) publica artigo no Journal des Artistes no qual revela que Daguerre havia descoberto um meio de tornar permanentes as imagens obtidas com a câmera escura (“retrato, paisagem, qualquer tipo de vista”), o que só se concretizaria, de fato, mais adiante.
1837
Daguerre encontra no sal marinho um meio para a fixação das imagens reveladas pelo vapor de mercúrio. Daguerre e Isidore reformulam novamente seu contrato de sociedade, atribuindo ao primeiro a plena paternidade de um “novo procedimento” que deverá receber o nome de “daguerreotipia”, embora só possa ser divulgado conjuntamente com o procedimento de Nicéphore Niépce. O prestígio social e os contatos pessoais de Daguerre, fatores que influenciaram o relutante Nicéphore a considerar as vantagens de uma sociedade, convencem Isidore a modificar os termos do contrato, aceitando o nome de Daguerre para a invenção. O documento também prevê o recurso ao sistema de subscrições para a comercialização dos direitos de uso da “dita descoberta”.
1838
Daguerre e Isidore discutem durante todo o ano as dificuldades para garantir a propriedade sobre os procedimentos da invenção através de uma patente e, ao mesmo tempo, dar a centenas de subscritores o acesso aos segredos de sua execução. Em fins de dezembro, Daguerre publica um prospecto sobre as aplicações do já denominado “daguerreótipo” e as facilidades de execução de uma arte que “não exige qualquer conhecimento especial para ser praticada”. Daguerre comunica a invenção a François Arago (1786-1853), secretário perpétuo da Academia de Ciências da França. O astrônomo e deputado é um dos primeiros a conhecer os segredos da daguerreotipia e dará apoio decisivo ao invento.
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Maria Inez Turazzi
Cronologia da invenção e difusão da daguerreotipia (1816-1842)
1839 6 de janeiro
Hippolyte Gaucheraud (? – 1874), membro da Sociedade Nacional dos Antiquários (Société nationale des antiquaires), publica artigo no La Gazette de France sobre as belas artes e a “nova descoberta”, descrita como “uma revolução nas artes do desenho”.
7 de janeiro
Arago comunica a “descoberta de Daguerre” à Academia de Ciências e destaca o modo como tornar permanentes as imagens obtidas com a câmera escura: “a luz reproduz ela mesma as formas e as proporções dos objetos exteriores, com uma precisão quase matemática”. Ele apresenta algumas vistas de Paris e reproduções de obras de arte realizadas pelo inventor, mas os meios para obter tais imagens são mantidos em segredo.
25 a 31 de janeiro
O inglês William Fox Talbot (1800-1877) reivindica a anterioridade sobre Daguerre na fixação e permanência das imagens obtidas com a câmera escura. Em Londres, seus “desenhos fotogênicos” são apresentados à Royal Society, onde faz uma explanação do procedimento. Escreve sobre o assunto a diversos cientistas, entre os quais Arago e Jean Baptiste Biot (1774-1862). A partir daí, instala-se a polêmica pela prioridade da invenção entre os dois países.
8 de março
Samuel Morse (1791-1872), físico e pintor norte-americano, encontra-se com Daguerre, em Paris, onde já estivera para apresentar o telégrafo eletromagnético à Academia de Ciências. Encantado com a oportunidade de ver alguns daguerreótipos, exalta a minúcia e a exatidão das imagens. Um incêndio destrói o diorama de Daguerre, tornando urgente a necessidade de uma remuneração para a daguerreotipia.
20 de maio
Hippolyte Bayard (1801-1887) apresenta a Arago a invenção de um procedimento para a realização de imagens fotográficas positivas diretamente sobre papel. Em meio às contestações inglesas e às negociações que cercam a aquisição da daguerreotipia pelo Estado francês, não obtém o apoio desejado. O inventor realiza, a 24 de junho, uma exposição pública de suas fotografias em benefício das vítimas do terremoto na Martinica. A iniciativa é considerada a primeira exposição fotográfica.
14 de junho
Daguerre e Isidore assinam uma convenção provisória com o ministro do Interior Charles Marie Tanneguy (1803-1867), conde Duchâtel, para a cessão dos direitos sobre a daguerreotipia ao Estado francês.
15 de junho
O ministro Duchâtel apresenta à Câmara dos Deputados projeto de lei propondo a aquisição pelo Estado francês dos segredos da invenção da daguerreotipia, através do pagamento de uma pensão vitalícia a Daguerre e Isidore.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
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17 de junho
Daguerre é condecorado como oficial da Legião de Honra da França.
22 de junho
Contrato firmado por Daguerre, Isidore Niépce e Alphonse Giroux (c.17751848), para a fabricação e comercialização dos aparelhos de daguerreotipia “certificados pelo inventor”, bem como de suas instruções, em qualquer lugar do mundo. Os interessados fariam subscrições para recebê-los tão logo os segredos da invenção fossem revelados.
3 de julho
Arago apresenta à Câmara dos Deputados o relatório da comissão encarregada de analisar o projeto de lei, com ampla explanação dos argumentos favoráveis à aprovação da pensão vitalícia aos inventores da daguerreotipia. Daguerreótipos são apresentados aos parlamentares.
9 de julho
A chamada “lei Daguerre” é aprovada por ampla maioria na Câmara dos Deputados (237 votos favoráveis x 3 votos contrários).
30 de julho
O cientista Gay-Lussac (1778-1850) apresenta à Câmara dos Pares (câmara alta do Parlamento francês à época), o seu relatório em favor da aquisição da daguerreotipia pelo Estado francês.
2 de agosto
A Câmara dos Pares vota favoravelmente à concessão da pensão vitalícia aos inventores da daguerreotipia (92 votos favoráveis x 4 votos contrários).
7 de agosto
O rei Louis-Philippe sanciona a lei aprovada pelo Parlamento francês e a daguerreotipia é oferecida pela França à humanidade.
14 de agosto
Jean-Baptiste Jobard (1792-1861), francês naturalizado belga, indica um advogado para Daguerre e Isidore Niépce obterem na Inglaterra a patente da daguerreotipia. O litógrafo e editor do Le Courrier Belge descreve essa história em seu jornal, em 25 de agosto.
19 de agosto
A história da invenção e os procedimentos para a prática da daguerreotipia são apresentados por Arago, em reunião conjunta das Academias de Ciências e de Belas Artes, no Instituto de França, cercada de grande popularidade.
20 de agosto
Os jornais parisienses noticiam a reunião da véspera, divulgando os recursos e os procedimentos necessários à realização da daguerreotipia, bem como as suas aplicações e características. Os aparelhos de daguerreotipia licenciados pelo inventor começam a ser destinados aos subscritores e demais interessados.
Maria Inez Turazzi
20 de agosto
Cronologia da invenção e difusão da daguerreotipia (1816-1842)
Impressão e lançamento da primeira edição do manual de Daguerre, Historique et description des procédés du daguerreotype et du diorama par Daguerre, peintre, inventeur du Diorama, officier de la Légion d’Honneur, membre de plusieurs Académies, etc etc. Paris: Alphonse Giroux et Cie, rue du Coq-SaintHonoré, 7, où se fabriquent les appareils; Delloye, libraire, place de la Bourse, 13, 1839. O livreto, in 8º, tem 79 páginas e 6 pranchas com ilustrações.
23 de agosto
O jornal londrino com o sugestivo título Globe and Traveller descreve para os ingleses o evento que, finalmente, revelou os segredos da daguerreotipia.
28 de agosto
Daguerre apresenta “os aparelhos de daguerreotipia de que se utiliza” em sessão da Société d’encouragement pour l’industrie nationale e na ocasião descreve “as manipulações muito delicadas que devem ser seguidas” para se obter sucesso com a invenção. O acontecimento é relatado no boletim da entidade alguns dias mais tarde (4.9.1839). Com base nessa descrição, os jornais Le Constitutionnel (6.9.1839) e Le Moniteur Universel (8.9.1839) noticiam a apresentação na rue du Bac, sede da Sociedade, e os detalhes técnicos do processo.
7 de setembro
Daguerre faz a primeira demonstração pública da daguerreotipia no Palais d’Orsay. O edifício, incendiado em 1871, ficava no mesmo local onde seria construída a estação ferroviária que hoje abriga o Museu d’Orsay.
11 e 14 de setembro
Outras duas demonstrações de Daguerre no Palais d’Orsay. Nova tiragem do manual de Daguerre, vendido por 2 francos, agora com o nome do estabelecimento Susse Frères, antiga fundição de arte, fabricante dos aparelhos de daguerreotipia e também impressores da publicação. Nas semanas seguintes, outras tiragens serão colocadas à venda.
13 de setembro
O francês conhecido apenas por Saint-Croix chega de Paris e realiza a primeira demonstração pública da daguerreotipia, no coração de Londres. A apresentação do equipamento e a obtenção da imagem em Picadilly Street, nº 7, são noticiadas, no dia seguinte, pelos jornais The Times e Morning Herald.
16 de setembro
Jobard realiza a primeira experiência com o daguerreótipo em Bruxelas (uma vista da Place des Barricades). O aparelho, enviado por Isidore Nièpce para o amigo e editor, tinha chegado quatro dias antes. O Le Courrier Belge anuncia, dois dias depois, que este “primeiro ensaio de heliografia” se encontrava à disposição do público, juntamente com imagens obtidas pelo próprio Daguerre.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Entre setembro e dezembro
A daguerreotipia é introduzida em várias cidades da França, demais países da Europa e nos Estados Unidos, através de litógrafos, pintores, óticos, engenheiros, cientistas, militares e outros interessados em praticá-la. Os primeiros aparelhos e manuais de daguerreotipia atravessam o Atlântico. Em 23 de novembro, François Gauraud chega a Nova Iorque, trazendo equipamentos e cerca de trinta imagens na bagagem, algumas realizadas pelo próprio inventor. Ele se apresenta como “aluno de Daguerre” e representante da firma Alphonse Giroux et Cie.
Entre 10 e 12 de outubro
Demonstrações da daguerreotipia em Lisboa, na primeira escala do Oriental-Hydrographe, por Augustin Lucas (1804-após 1858) e Louis Comte (17981868). As apresentações são realizadas no Palácio das Necessidades, para d. Maria II e d. Fernando, reis de Portugal, e na casa do diplomata César Famin (1799 -1853), para oficiais franceses e portugueses interessados em conhecer a novidade.
Outubro
Nova edição do manual de Daguerre, agora “corrigida e aumentada” com o “retrato do inventor”. Entre 1839 e 1840, a obra é lançada em pelo menos 8 idiomas (francês, inglês, alemão, espanhol, sueco, italiano, húngaro e polonês), em 32 edições e tiragens, além de algumas impressões não registradas oficialmente pelo estabelecimento de Giroux e 7 adaptações de outros autores. Pintores, litógrafos e gravadores que aprenderam o processo, com o próprio Daguerre e com suas instruções, iniciam projetos editoriais dentro e fora da Europa, com o uso da daguerreotipia.
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6 de novembro
O pintor Horace Vernet (1789-1863), chegando ao Egito em companhia de Frédéric Goupil-Fesquet (1817-1878), relata o uso do aparelho que levaram consigo para obter imagens das pirâmides e outros monumentos arqueológicos. Em Alexandria, Goupil-Fesquet demonstra o daguerreótipo para um sultão, no dia seguinte e, pouco depois, registra as pirâmides, assim como o daguerreotipista Joly de Lotbinière (1798-1865). As imagens destinavam-se ao álbum de gravuras concebido pelo ótico francês Noel-Marie Paymal Lerebours (1807-1873).
10 de novembro
Demonstração pública da daguerreotipia na Plaza de la Constitución, em Barcelona, pelo gravador Ramón Alabern y Casas (1811-c. 1888), um dos daguerreotipistas instruídos por Daguerre. Divulgada por um prospecto e notícias na imprensa, o acontecimento teve a chancela da Academia de
Maria Inez Turazzi
Cronologia da invenção e difusão da daguerreotipia (1816-1842)
Ciências da Espanha, contando com a presença de banda de música e grande audiência.
10 a 13 de novembro
A aprendizagem da daguerreotipia nas escalas do Atlântico Norte, em outubro, e a prática do processo na ilha de Goréia, costa do Senegal, são descritas por um dos membros da expedição do Oriental-Hydrographe, em carta que será publicada por um jornal de Nantes (Le Breton, 28/12/1839).
1840 9 de janeiro
O semanário Il dagherotipo: galleria popolare enciclopedica, é lançado em Turim, pela Tipografia Cassone e Marzorati. A publicação trata de temas diversos e é ilustrada por xilogravuras.
11 de janeiro
O Album du daguerreotype réproduit, orné de vues de Paris, en épreuve de luxe avec texte (Paris: Bruneau, 1840), com quatro litogravuras baseadas em daguerreótipos, aparece à venda em Paris. Na Suécia, algumas imagens do gênero também são usadas para ilustrar uma propaganda do Panorama de Estocolmo.
17 a 20 de janeiro
Demonstrações da daguerreotipia no Rio de Janeiro, pelo capitão Lucas e o capelão Comte, do Oriental-Hydrographe, primeiro no Largo do Paço e, em seguida, no Palácio da Boa-Vista, com a presença do futuro imperador d. Pedro II e suas duas irmãs.
Entre 24 e 29 de fevereiro
Demonstrações da daguerreotipia em Montevidéu, pelo capitão Lucas e o capelão Comte, para seleta audiência. As apresentações são realizadas em residências e espaços públicos. A imagem da fachada da Igreja Matriz da cidade foi obtida do segundo andar do Cabildo, edifício onde funcionava a Câmara Legislativa do Uruguai.
15 de março
Demonstração da daguerreotipia em Nova Orleans pelo pintor e litógrafo Jules Lion (c.1809-1866), francês afrodescendente, radicado na cidade e recém-chegado de Paris. Lion montou uma exposição na entrada do Saint Charles Museum e anunciou o sorteio de um daguerreótipo realizado no local.
Agosto
Lançamento de Excursions daguerriénnes; vues et monuments plus remarquables du globe (Paris, 1840-1843), coleção de gravuras editada pelos estabelecimentos de Lerebours, idealizador da obra, Rittner e Goupil, e Lemercier. As placas com as imagens de daguerreotipistas enviados à Europa e Oriente Médio resultam em chapas de impressão em diversos processos, executados por gravadores e litógrafos de prestígio (Friedrich
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Salathé, Friedrich von Martens, Auguste-Victor Deroy e outros). É considerado o primeiro álbum fotográfico de viagens. Lançamento de Paris et ses environs reproduits par le daguerréotype (Paris: Aubert, 1840), obra dirigida por Charles Philipon (1800-1862), litógrafo, editor e caricaturista, com 242 páginas de texto e imagens, obtidas com o daguerreótipo e transpostas para a pedra litográfica.
1841 13 de maio
Demonstração pública do daguerreótipo em Sidney, por um “grupo de cavaleiros”, diante do armazém de Didier Joubert e Jeremiah Murphy, na praça Macquarie, descrita pelos jornais. Quando chegou à cidade, o capitão Lucas colocou o aparelho à venda nesse estabelecimento. Acredita-se que ele tenha participado dessa demonstração juntamente com Joubert e que este, por sua vez, tenha ficado com o aparelho. O cientista e colecionador inglês Robert Hunt (1807-1887) publica A popular treatise on the art of photography: including daguerreotype and all the new methods of producing pictures by the chemical agency of light (Glasgow: Richard Griffin, 1841), considerado o primeiro estudo pormenorizado sobre a invenção e a prática da fotografia.
1842
276
Daguerre vive modestamente na pequena comunidade de Bry-sur-Marne, para onde tinha se mudado dois anos antes. Recebe visitas e homenagens dos habitantes locais, bem como de personalidades de toda a França e outros países. Pouco depois, ainda distante da agitação parisiense, emprega a expressão “imagem fotográfica” ao publicar Nouveau moyen de préparer la couche sensible des plaques destinées à recevoir l’image photographique (Paris, 1844), obra com os últimos aperfeiçoamentos introduzidos na invenção do processo que levava o seu nome.
278
Fontes consultadas
Manuscritos, periódicos e fontes diversas AUSTRÁLIA NLA National Library of Australia Digital Collections Periódicos Australasian Chronicle Colonist Sidney Morning Herald BÉLGICA AD-Be Archives Diplomatiques de Belgique - Bruxelas (Bélgica) Dossier thématique (n. 2018) Correspondance politique Correspondance commerciale KBR Bibliothèque Royale de Belgique - Bruxelas (Bélgica) Bibliographie de Belgique Periódicos Le Belge (Bruxelas, 1839) Le Courrier Belge (Bruxelas, 1839-1840) L’Indépendant (Bruxelas, 1839) BRASIL AN-Br Arquivo Nacional - Rio de Janeiro (Brasil) Arquivo da Secretaria de Estado dos Negócios do Império Arquivo da Casa Real e Imperial - Mordomia-mor Arquivo da Secretaria de Estado dos Negócios da
Marinha Polícia da Corte FBN Fundação Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro (Brasil) Obras Gerais Coleção Thereza Christina Maria Periódicos (hemeroteca digital) Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 1939) Correio Mercantil (Salvador, 1839) Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, 1839-1842) L’Echo Français (Rio de Janeiro, 1838-1839) Museo Universal (Rio de Janeiro, 1837-1840) O Daguerrotypo (Rio de Janeiro, 1845) Revue Française (Rio de Janeiro, 1839) Diário do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 1840; 1864) Revista da Semana (Rio de Janeiro, 1927) Le Musée pour Rire (Paris, 1839) Le Siècle (Paris, 1839-1840) Musée des Familles (Paris, 1839-1840 ; 1847-1848) FIRJAN Federação das Indústrias do Rio de Janeiro / Biblioteca - Rio de Janeiro (Brasil) Periódicos Auxiliador da Indústria Nacional (Rio de Janeiro, 18351851) IHGB Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Periódicos
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Rio de Janeiro, 1839-1925) MImp Museu Imperial - Petrópolis (Brasil) Arquivo da Casa Imperial (Pedro de Orleães e Bragança) Arquivo Grão-Pará Coleção Geyer Periódicos Anuário do Museu Imperial (Petrópolis, 1940-1955) O Panorama (Lisboa, 1837-1843) Universo Pittoresco (Lisboa, 1840-1844) CHILE BN-CI Biblioteca Nacional de Chile - Santiago (Chile) Periódicos El Mercurio (Valparaíso, 1839-1840) MHN-Cl Museo Histórico Nacional de Chile - Santiago (Chile) Colecciones digitales FRANÇA AD-Fr Archives Diplomatiques / Ministère des Affaires Étrangères (Quai d’Orsay1) - Paris (França) Affaires politiques diverses (Brésil) Correspondance consulaire et commerciale (Bahia, Pernambuco, Lisbonne, Rio de Janeiro, Montevideo Santiago, Valparaíso) État civil de Français à Rio de Janeiro Personnel ADLA Archives Départementales de Loire-Atlantique - Nantes (França)
Fonds J - Inscription Maritime Fonds P - Finances de l’Etat - Série 3 P - Douanes - Nantes Francisations Periódicos Le Breton (Nantes, 1839-1840) Le National de l’Ouest (Nantes, 1839-1840) Lloyd Nantais (Nantes, 1839-1840) AN-Fr Archives Nationales - Paris (França) Fonds de la Marine2 Minutier central des notaires de Paris Titulaires de l’Ordre de la Légion d’Honneur Periódicos Almanach royal et national pour l’an (...) (Paris, 1839-1840) AMN Archives Municipales de Nantes - Nantes (França) Periódicos Le Breton (Nantes, 1840) Le National de l’Ouest (Nantes, 1839-1840) Lloyd Nantais (Nantes, 1839-1840) BMT Bibliothèque municipale de Toulouse - Toulouse (França) Periódicos Journal politique et littéraire de Toulouse et de la HauteGaronne (Toulouse, 1839-1840) BnF Bibliothèque Nationale de France - Paris (França) Catalogue général Fonds Maçonnique (La Parfaite Réunion – cote FM² 397) Periódicos Almanach du commerce de Paris, de la France et des Pays
2. As séries do Arquivo da Marinha consultadas no Arquivo Nacional da França,
280
1. As séries consultadas, em 2001 e em 2008, encontravam-se nos arquivos do
em 2001, foram posteriormente concentradas no Departamento de Marinha
Quai d’Orsay e atualmente estão no Centro de Arquivos Diplomáticos (Centre
do Serviço Histórico da Defesa (Service Historique de la Defense), localizado no
des Archives Diplomatiques), em La Courneuve.
Chateau de Vincennes.
Maria Inez Turazzi
étrangers par S. Bottin (Paris, 1838-1839) Bulletin de la Société d’Encouragement pour l’Industrie Nationale (Paris, 1839-1840) Bulletin de la Société de Géographie (Paris, 1839) La Gazette des Tribunaux (Paris, 1840) La Presse (Paris, 1839-1840) Le Siècle (Paris, 1839) Le Moniteur Industriel (Paris, 1839-1840) Le Magasin Pittoresque (Paris, 1833-1842) BHVP Bibliothèque Historique de la Ville de Paris - Paris (França) Catalogue général Periódicos Le Moniteur Universel (Paris, 1838-1841) CADN Centre des Archives Diplomatiques / Ministère des Affaires Étrangères - Nantes (França) Archives de poste (Lisbonne, Rio de Janeiro, Montevideo) Affaires commerciales Affaires culturelles et scientifiques Affaires maritimes Affaires sanitaires et sociales Colonie française Correspondance officielle et particulière Dossier nominatif Dossier d’immatriculés Dossier des marins Etat civil Fonctionnement du poste Politique intérieure CNAM-a&m Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et métiers - Paris (França) Collections d’objets Fonds général IF-AdS Institut de France / Académie des Sciences - Paris (França)
Fontes consultadas
Archives de l’Académie des Sciences Periódicos Comptes rendus des séances de l’Académie des Sciences (Paris, 1839-1840) SFP Société française de photographie - Paris (França) Periódicos Bulletin de la Société française de photographie (Paris, 1855-1939) SHD-Marine Service Historique de la Défense / Département de la Marine Vincennes (França) Catalogue général Fonds de la Marine Fonds privé Adrien L.J. Carré Fonds privé Abel Du Petit-Thouars Periódicos Annales maritimes et coloniales (Paris, 1835-1842) Bulletin de lois depuis... (Paris, 1824-1843) PORTUGAL ABM Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira - Funchal (Região Autônoma da Madeira / Portugal) Periódicos A Flor do Oceano (Funchal, 1834-1840) BMF Biblioteca Municipal de Funchal - Funchal (Região Autônoma da Madeira / Portugal) Periódicos A Chronica (Funchal, 1839) BNP Biblioteca Nacional de Portugal - Lisboa (Portugal) Fundo geral Periódicos Diário do Governo (Lisboa, 1839)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
CPF Centro Português de Fotografia - Porto (Portugal) Fundo bibliográfico Coleção de câmeras URUGUAI BIBNA Biblioteca Nacional de Uruguay - Montevidéu (Uruguai) Colecciones digitales Periódicos El Nacional (Montevidéu, 1840-1842) CdF Centro de Fotografia de Montevideo - Montevidéu (Uruguai) Publicaciones MHC Museo Histórico Cabildo - Montevidéu (Uruguai) Colección Museo Histórico Cabildo MHN Museo Histórico Nacional - Montevidéu (Uruguai) Colección Iconográfica
ENDEREÇOS VIRTUAIS http://www.bnf.fr/ http://gallica.bnf.fr/ https://archives.loire-atlantique.fr/ http://www.kbr.be/ https://trove.nla.gov.au/ https://www.bibna.gub.uy/ www.bibliotecanacional.gob.cl/ http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/ http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ http://anaforas.fic.edu.uy/jspui/ http://cnum.cnam.fr/ http://parismuseescollections.paris.fr/fr http://www.midley.co.uk/ http://www.fotoplus.com/ http://sfp.asso.fr/collection/
282
http://www.photo-museum.org/ http://www.culture.gouv.fr/documentation/leonore/pres.htm http://www.daguerreotype.com/ http://www.daguerre.org/ https://www.eastman.org/ http://www.nmm.ac.uk/ http://www.armada.cl/ http://www.niepce.com/pages/inv1.html http://www.daguerreotypearchive.org/1839.php https://talbot.bodleian.ox.ac.uk/search http://www.iberoamericadigital.net/es/Inicio/ https://www.naturalsciences.be/fr http://www.memoriachilena.cl/ http://memorial.nantes.fr/ http://www.industrienationale.fr/ http://chauvigne.info/index.php https://en.wikipedia.org https://fr.wikipedia.org http://lara.inist.fr/ https://www.daguerreiansociety.org/ https://jable.ulpgc.es/jable/cgi-bin/Pandora.exe https://www.mnhn.gub.uy/ https://www.mna.gub.uy/
Maria Inez Turazzi
Fontes específicas sobre o Oriental-Hydrographe1 OH - Doc 04.07.1838 Lettre de Augustin Lucas, capitaine au long cours, au ministre de la Marine et Colonies (Fr), Claude du Campe de Rosamel. [Paris], 4 juillet 1838. Primeira solicitação de apoio ao projeto da expedição ao redor do mundo para a noviços da Marinha mercante. Documento citado na correspondência ministerial, em OH - Doc 28.07.1838 OH - Doc 28.07.1838 Lettre de M. Rosamel, ministre de la Marine et Colonies (Fr), a Augustin Lucas. Paris, 28 juillet 1838. Apoio do ministro da Marinha (França) ao projeto. Documento transcrito no folheto da expedição em OH - Doc 00.03.1839 OH - Doc 16.08.1838 Lettre de M. le Comte Molé, président du Conseil de ministres, à M. Rosamel, ministre de la Marine et Colonies. Paris, 16 août 1838. “Elle indique pour quelle circonstance et pourquoi j’ai été signalé au Département des Affaires Étrangères comme occupant sous tous les rapports un sang des plus honorable et des plus distingués dans la marine du Commerce”. Documento citado por Lucas na correspondência com Du PetitThouars, em OH - Doc 31.07.1842 1. Esta listagem inclui apenas os documentos que tratam do OH e, quando lidos em sequência, formam uma espécie de “cronologia” da própria expedição (outras fontes estão identificadas nas notas ao longo dos capítulos). Eles
Fontes consultadas
OH - Doc 30.09.1838 “Voyage autour du monde” La Presse. Paris, 30 septembre 1838, p. 4. Primeiro anúncio da expedição encontrado nos jornais consultados. Menciona o apoio governamental e indica o nome dos banqueiros e corretores marítimos associados ao empreendimento. BnF - Disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k427520f OH - Doc 08.10.1838 “M. Aug. Lucas, capitaine au long-cours, va très prochainement entreprendre un voyage (...)”. Le Moniteur Universel. Paris, 8 octobre 1838 (nº 281), p. 1. Partie non officielle. Intérieur. Primeiro artigo publicado na imprensa francesa com os objetivos da expedição. Menciona o apoio ao projeto concedido pelos ministros da Marinha e de Assuntos Exteriores (Fr). AN-Fr - Usuel BHVP - Cote PER Fol 168 OH - Doc 24.01.1839 Lettre du directeur de Personnel de l’Inscription Maritime et Police de la Navigation du ministère de la Marine et Colonies (Fr) a M. Mutel, notaire à Magny (Nièvre). Paris, 24 janvier 1839. Presta informações sobre o comandante A. Lucas, “que se propõe a empreender uma viagem ao redor do mundo” e atesta seu endereço em Paris, em nome do ministro da Marinha e Colônias (Fr). SHD – Marine / Fonds de la Marine / CC4 377, f 187 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada)
foram consultados em ocasiões distintas, entre 2001 e 2018, e os códigos de localização nas respectivas instituições podem ter sido alterados. Documentos, transcritos e/ou identificados por Adrien Carré em suas anotações, foram incluídos nesta listagem quando essenciais. Muitos periódicos consultados no início da pesquisa estão, atualmente, digitalizados e disponíveis à consulta em suas instituições de guarda. Já os arquivos da diplomacia francesa, consultados na sede do Ministério de Assuntos Exteriores da França no Quai d’Orsay (Paris), em 2001 e em 2008, encontram-se agora no Centre des Archives Diplomatiques
OH - Doc 26.02.1839 Lettre de M. Gibouin, commissaire de l’Inscription Maritime à Bordeaux pour le Ministre de la Marine et Colonies (Fr). Bordeaux, 26 février 1839. Carta com elogios ao comandante Lucas. Documento transcrito na correspondência ministerial, em
de La Courneuve (Île-de-France).
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
OH - Doc 13.03.1839 e mencionado por Lucas em OH - Doc 31.07.1842 OH - Doc 00.03.1839 [LUCAS, Augustin]. “Expédition du navire l’Hydrographe (bâtiment-école). Voyage autour du monde, sous les auspices du gouvernement, pour l’instruction des jeunes gens en général, et particulièrement pour ceux qui se destinent à la Marine marchande ou au commerce”. Paris, Imprimerie Wittersheim, [mars 1839]. 8 p. imp. Folheto com a primeira propaganda da expedição. SHD-Marine / 7 T 683 OH - Doc 06.03.1839 Lettre (minute) du ministre de la Marine et Colonies (Fr) au ministre des Travaux Publics, de l’Agriculture et du Commerce (Fr). Paris, 6 mars 1839. Responde carta de 25 de fevereiro (não localizada) e concorda com o apoio ao projeto da expedição. SHD – Marine / Fonds de la Marine / Série BB – Sous-série BB² Article BB² 270 f. 101 OH - Doc 07.03.1839 (a) Lettre de Narcisse-Achille de Salvandy, ministre de l’Instruction Publique (Fr), Grand-Maître de l’Université, a A. Lucas. Paris, 7 mars 1839. Manifesta seu apoio ao projeto da expedição e à contratação do professor Vendel-Heyl, mas condiciona a concessão do certificado de conclusão (“baccalauréat”) para os alunos do OH à contratação de professores de outras especialidades. Documento transcrito no folheto da expedição em OH - Doc 00.03.1839.
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OH - Doc 10.03.1839 “Voyage autour du monde. Expédition du navire l’Hydrographe, sous le commandement de M. A. Lucas”. Le Moniteur industriel; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, 10 mars 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256 OH - Doc 13.03.1839 Lettre du ministre de la Marine et Colonies (Fr), au ministre des Travaux Publics, de l’Agriculture et du Commerce, Martin (du Nord) (Fr). Paris, 13 mars 1839. Recomenda o capitão Lucas, com base nas informações dadas pelo comissário da Inscrição Marítima de Bordeaux (M. Gibouin) e solicita que se divulgue a expedição, reiterando o apoio oficial concedido ao projeto. SHD – Marine / Fonds de la Marine / CC4 - 377, f 545 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada)
OH - Doc 07.03.1839 (b)
OH - Doc 13.03.1839 “Extraits des procès-verbaux des séances du Conseil d’administration de la Société d’encouragement”. Bulletin de la Société d’encouragement pour l’industrie nationale Séance de 13 mars 1839. Paris, 1839, v. 38. Marivault, membro do conselho de administração da SEIN, apresenta o projeto do capitão Lucas, convocando a entidade a examinar os interesses e definir instruções para as pesquisas sobre agricultura, comércio e indústria a serem realizadas pela expedição. BnF – Tolbiac / Support imprimé – R-4627
“Voyage autour du monde. Expédition du navire l’Hydrographe, sous le commandement de M. Auguste Lucas”. Le Moniteur industriel ; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, 7 mars 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256
OH - Doc 16.03.1839 “Circulaire de Monsieur le ministre des Travaux Publics, de l’Agriculture et du Commerce, à Messieurs les Préfets”. Paris,16 mars 1839. Circular do ministro de Obras Públicas, Agricultura e Comércio aos departamentos («préfectures») da França.
Maria Inez Turazzi
Documento publicado no folheto da expedição (OH - Doc 00.03.1839) e, com pequenas diferenças, no jornal Le Moniteur Universel (OH - Doc 26.04.1839) OH - Doc 17.03.1839 “Société d’Encouragement pour l’Industrie Nationale” Le Moniteur industriel; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, 17 mars 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256 OH - Doc 26.03.1839 “Extraits des procès-verbaux des séances du Conseil d’administration de la Société d’encouragement”. Bulletin de la Société d’encouragement pour l’industrie nationale Séance de 26 mars 1839. Paris, 1839, v. 38. Marivault informa ao conselho de administração da SEIN que o capitão Lucas deverá partir em junho próximo e que virá à entidade receber suas instruções de viagem. BnF – Tolbiac / Support imprimé – R-4627 OH - Doc 28.03.1839 “Voyage autour du monde sous le commandement du capitaine Auguste Lucas”. Le Moniteur industriel; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, 28 mars 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256 OH - Doc 02.04.1839 [LUCAS, Augustin] “Statuts d’admission sur le bâtiment l’Hydrographe devant faire le tour du monde sous le commandement du Capitaine Lucas”. Acte Notarié. Bertinot et Roquebert. 28, rue Richelieu, à Paris. Paris, 2 avril 1839. Documento manuscrito, posteriormente impresso para ser distribuído aos alunos da expedição (ver OH - Doc 22.04.1839) AN-Fr / Minutier Central - ET / CXVI / 730
Fontes consultadas
OH - Doc 22.04.1839 [LUCAS, Augustin] “Conditions d’admission sur le bâtiment-école, destiné à faire le tour du monde sous le commandement du Capitaine Lucas”. Paris, 22 avril 1839, 2 p. imp. Estatuto de admissão no Oriental-Hydrographe (OH - Doc 02.04.1839), acrescido de alguns esclarecimentos em notas de rodapé. Documento impresso distribuído aos participantes da expedição. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 26.04.1839 “Circulaire de Monsieur le ministre des Travaux Publics, de l’Agriculture et du Commerce [France], à Messieurs les Préfets”. Le Moniteur Universel Paris, 26 avril 1839. Circular do ministro de Obras Públicas, Agricultura e Comércio às Prefeituras da França (OH - Doc 16.03.1839), publicada no mês seguinte no Le Moniteur Universel, com pequenas diferenças. AN-Fr / Usuel OH - Doc 22.05.1839 Lettre de M. Buysschaert, consul de Belgique à Rouen, au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) : “permettez moi de venir vous entretenir d’une entreprise conçue pour l’un des hommes les plus honorables de la marine marchande [...]”. Rouen, 22 mai 1839. Recomenda a expedição comandada por A. Lucas ao ministro do Interior e Assuntos Exteriores (Be), apresentando-lhe Soulier de Sauve para que seja recebido pessoalmente pelo ministro. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 17.06.1839 (a) Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) au gouverneur de la province d’Anvers : “cette expédition confié au capitaine Lucas est encouragé d’une manière tout particulière par le gouvernement français”. Bruxelles, 17 juin 1839. AD-Be / Dossier thématique (2018)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
OH - Doc 17.06.1839 (b) “Nouvelles de mer” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 17 juin 1839. O navio Oriental, vindo da ilha de Bourbon (atual Reunião), entra no estuário do rio Loire. ADLA - Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ OH - Doc 24.06.1839 Réponse du gouverneur de la province d’Anvers au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be), avec un rapport du Conseil d’administration de l’École de Navigation d’Anvers sur Charles Alphonse Emonce. Bruxelles, 24 juin 1839. Destaca as qualidades do jovem Emonce, entre outros alunos da instituição, para integrar a expedição do OH, mas informa que não poderá “contribuir em nada com a pensão a ser paga para o governo francês” AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 05.07.1839 Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) a M. Soulier de Sauve. Bruxelles, 5 juillet 1839. Informa a concordância do governo com a participação de dois alunos das escolas de navegação do país na projetada expedição, a expensas do Estado belga. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 06.07.1839 (a) “S.M. [Leopold I] a reçu en audience particulière M. Soulier de Sauve [...]” L’Indépendant Bruxelles, samedi 6 juillet 1839, p. 2. KBR / Mic Perm 8 OH - Doc 06.07.1839 (b) “Nouvelles diverses” Le Courrier Belge ; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, samedi 6 juillet 1839, p. 3. KBR / Mic Perm 342
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OH - Doc 07.07.1839 Lettre de Soulier de Sauve au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be). Bruxelles, 7 juillet 1839. Agradece a decisão do governo belga de custear o envio de dois alunos das escolas de comércio [sic] do país na expedição do OH. Dá detalhes financeiros sobre o pagamento da pensão desses alunos e informa sobre a procuração deixada em Bruxelas. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 09.07.1839 e outros Demande(s) d’être embarqué(s) au frais du gouvernement [pour] “être utile à sa patrie et à sa Majesté”. Bruxelles, Anvers, Gand, etc. , juillet et août, 1839. Diversas cartas enviadas ao ministro dos Assuntos Exteriores (Be) solicitando participação na viagem, a expensas do governo belga. As cartas fazem referência ao fato de Soulier de Sauve ter sido recebido pelo rei Leopoldo I (carta de 9/7/1839) e às notícias publicadas nos jornais (carta de 12/7/1839). AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 11.07.1839 (a) “Expédition du navire l’Hydrographe, école flottante”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, jeudi 11 juillet 1839, p. 1. Transcrição do folheto da expedição e comentários auspiciosos sobre o empreendimento. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 11.07.1839 (b) “[...] un extrait du prospectus de cette belle entreprise [...]” L’Indépendant Bruxelles, jeudi 11 juillet 1839, p. 2. Transcrição do folheto com o projeto da expedição e comentários auspiciosos. KBR / Mic Perm 8 OH - Doc 15.07.1839 (a) Lettre de la Direction du commerce au ministre de l’Intérieur et des Affaires Etrangères (Be): “M. Soulier de Sauve sollicite l’envoi des lettres de recommandation aux agents du gouvernement belge”.
Maria Inez Turazzi
Bruxelles, 15 juillet 1839. Indica a decisão do governo belga de enviar mais dois oficiais de Marinha, além dos dois alunos da Escola de Navegação de Antuérpia. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 15.07.1839 (b) Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Etrangères (Be) au gouverneur de la province d’Anvers. Bruxelles, 15 juillet 1839. Informa a designação do jovem Charles Emonce como participante da expedição e trata da escolha de um segundo aluno da Escola de Navegação de Antuérpia. Ampla correspondência será trocada entre os dois sobre o assunto até essa escolha ser realizada. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 20.07.1839 Lettre du Conseil d’administration de l’École de Navigation d’Anvers au gouverneur de la province d’Anvers (Be) Anvers, 20 juillet 1839. Aprova a escolha de Emonce e destaca suas qualidades, solicita apoio financeiro a sua participação no OH e sugere o nome do jovem Jean-François Verelst. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 24.07.1839 Lettre du gouverneur de la province d’Anvers au ministre de l’Intérieur et des Affaires Etrangères (Be): “Emonce peut faire des rapports utiles aux services belges”. Anvers, 24 juillet 1839. Endossa a proposição de conceder ao jovem Emonce uma subvenção oficial, conforme solicitação feita por seu pai. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 25.07.1839 (a) Lettre du ministre de l’Intérior et des Affaires Étrangères (Be) au roi Leopoldo I: “proposition d’un arrêté pour l’envoi de deux jeunes gens belges sur l’Hydrographe”. Bruxelles, 25 juillet 1839. AD-Be / Dossier thématique (2018)
Fontes consultadas
OH - Doc 25.07.1839 (b) “Voyage au tour du monde” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 25 juillet 1839. Extensa matéria divulgando a expedição e seus objetivos. Faz referência ao fisionotipo. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 27.07.1839 Lettre du ministre de la Marine et Colonies (Fr) au commandant A. Lucas. Paris, 27 juillet 1839. Reconhece a utilidade da expedição, mas afirma a impossibilidade de ceder todos os objetos solicitados, assim como a equiparação do OH a um navio de guerra. Determina aos comandantes navais e agentes diplomáticos franceses apoio ao empreendimento. SHD – Marine / Fonds de la Marine / Série BB – Sous-série BB² Article BB² 271. f. 252 OH - Doc 29.07.1839 Arrêté du roi Leopold I pour “l’envoi de deux jeunes belges appartenant aux écoles de navigation du Royaume, à bord du navire l’Hydrographe, qui s’arme présentement à Rochefort, pour une expédition de circumnavigation vers les principaux points du globe [...] au frais de l’Etat”. Bruxelles, 29 juillet 1839. Decreto real determinando que o ministro do Interior e Assuntos Exteriores (Be) indique dois dos mais destacados alunos das escolas de navegação do país para integrar a expedição. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 30.07.1839 Lettre de Soulier de Sauve, “chef de la section scientifique et maritime à bord de l’Oriental” au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be): “le commandant de l’expédition, M. Lucas, me charge aussi de vous faire connaître que notre navire prend définitivement le nom de l’Oriental, au lieu de l’Hydrographe qu’il avait reçu d’abord”. Paris, 30 juillet 1839.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Informa ainda vários detalhes da expedição (modelo de uniforme, datas de embarque, partida por Nantes, etc.). AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 31.07.1839 “Extraits des procès-verbaux des séances du Conseil d’administration de la Société d’encouragement”. Bulletin de la Société d’encouragement pour l’industrie nationale Séance de 31 juillet 1839. Paris, 1839, v. 38. M. Huzard, em nome de uma comissão especial, resume as instruções a serem dadas à expedição e as condições para o recebimento de medalhas e outras recompensas pela SEIN. BnF – Tolbiac / Support imprimé – R-4627 OH - Doc 00.08.1839 [LUCAS, Augustin] “Instruction pour les familles qui ont des parentes a bord du navire-école l’Oriental-Hydrographe”. [Nantes, août 1839]. 1p. imp. As últimas instruções dadas aos alunos e seus familiares, antes da partida do OH. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 01.08.1839 Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) au gouverneur de la province d’Anvers : instructions d’après la lettre envoyé par Soulier de Sauve (OH - Doc 30.07.1839). Bruxelles, 1 août 1839. AD-Be / Dossier thématique (2018)
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Étrangères (Be): “si pendant ce voyage je pouvais être utile au gouvernement [...]”. Bruxelles, 3 août 1839. Comunica sua partida para Nantes a fim de embarcar no OH na condição de professor de matemática. Ao longo do mês de agosto, há ampla correspondência entre os dois. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 04.08.1839 “Avis et Demandes. [...] Sous les auspices du gouvernmement [...]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 4 août 1839. Anúncio da expedição do OH. A primeira frase já enfatiza o caráter oficial do empreendimento. Lucas mencionará esse fato em sua defesa (OH - Doc 31.07.1842). O anúncio é repetido em 12.08.1839; 16.08.1839; 20.08.1839; 27.08.1839; 30.08.1839. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré OH - Doc 05.08.1839 (a) Lettre de E. Soulier de Sauve au sécretaire perpétuel de l’Acádemie des Sciences (Fr). Paris, lundi 5 août 1839. 1 p. man. Envia folheto da expedição e solicita instruções para a viagem, mencionando as que foram dadas ao La Bonite. IF-AdS / Archives de l’Académie des Sciences / Pochette de Seance (05.08.1839)
OH - Doc 02.08.1839 Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) au gouverneur de la province d’Anvers : instructions à donner au jeune Emonce. Bruxelles, 2 août 1839. AD-Be / Dossier thématique (2018)
OH - Doc 05.08.1839 (b) “Comptes rendue des séances de l’Académie des Sciences”. Paris, lundi 5 août 1839. 1 p. imp. A correspondência de Soulier de Sauve é relatada aos membros da Academia de Ciências da França. IF-AdS / Archives de l’Académie des Sciences / Comptes rendue des séances de l’Académie des Sciences Paris, tome 9, jul-dec 1839, p. 223.
OH - Doc 03.08.1839 Lettre de M. Moreau, professeur à l’École Centrale du Commerce et de l’Industrie au ministre de l’Intérieur et des Affaires
OH - Doc 05.08.1839 (c) “Expédition de l’Hydrographe” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas
Maria Inez Turazzi
Bruxelles, lundi 5 août 1839, p. 3. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 05.08.1839 (d) Lettre du secrétaire de Cabinet au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be). Bruxelles, 5 août 1839. Apresenta solicitação feita por Soulier de Sauve de cartas de recomendação a serem enviadas aos cônsules do país, no interesse de todos os belgas embarcados. Encaminha dez expedições de uma circular aos serviços consulares. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 06.08.1839 Lettre du gouverneur de la province d’Anvers au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be). Anvers, 6 août 1839. Indica o jovem Jean-François Verelst para participar da expedição a expensas do governo belga. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 08.08.1839 “Voyage de circumnavigation par le navire-école l’Oriental” Le Moniteur industriel; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, jeudi 8 août 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256 OH - Doc 13.08.1839 Lettre de l’ancien directeur de l’École Militaire de Bruxelles au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be). Bruxelles, 13 août 1839. Solicita o ingresso de Demoor («lieutenant d’artillerie») na expedição do OH. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 14.08.1839 Félicitations aux armateurs J. Despêcher et A. Bonnefin d’avoir eu l’idée d’attacher l’expédition au port de Nantes.
Fontes consultadas
Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, mercredi 14 août 1839. Matéria transcrita pelo Le Moniteur Industriel (OH - Doc 18.08.1839) e pelo Le Courrier Belge (OH – Doc 20.08.1839) OH - Doc 18.08.1839 “Voyage de circumnavigation par le navire-école l’Oriental” Le Moniteur industriel ; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, 18 août 1839. Comunica o acordo com o capitão Lucas e a decisão de publicar todas as notícias da expedição. BnF - Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256 OH - Doc 19.08.1839 Lettre de M. Bouvier, ancien directeur de domaines, au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be). Bruxelles, 19 août 1839. Informa ter a procuração de Soulier de Sauve, junto ao notário Montaigne, para receber o pagamento dos alunos indicados pelo governo belga (em anexo, OH - Doc 00.08.1839). Essa procuração será contestada pelos armadores Despecher e Bonnefin (OH - Doc 18.05.1840), em função do desembarque de Soulier de Sauve no Rio de Janeiro. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 20.08.1839 “Voyage autour du monde” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mardi 20 août 1839, p. 2. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 21.08.1839 Lettre du directeur de N. M. [?] et P.N. [Police de Navigation] du ministère de la Marine et Colonies (Fr) à M. Griveaux (4, Cloître St. Benoît, Paris) “sur les conditions de l’expédition du navire l’Hydrographe [...] maintenant appelé l’Oriental”. Paris, 21 août 1839. Responde carta enviada em 20 de agosto de 1839 (não localizada) dando informações sobre a natureza da expedição
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
e o endereço de A. Lucas em Paris (rue Neuve St-Eustache, 37): “ce n’est point pour le compte du Gouvernement mais bien du commerce que se navire [...] doit effectuer le voyage”. SHD – Marine / Fonds de la Marine / CC4 - 379 - f 767 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada) OH - Doc 04.09.1839 Procuration donné par A. Lucas a J. Despecher e A. Bonnefin: “fondés de pouvoir, généraux et spéciaux, suivant écrit sous signature privée, en date à Nantes du 4 septembre 1839, et déposée pour minute à M. Bertinot, notaire, à Paris, le 9 du même mois”. Nantes, 4 septembre 1839. Procuração dada por Lucas aos proprietários do OH, às vésperas da partida. O documento transfere a Despecher e Bonnefin o poder de receber e dar quitação de qualquer soma relativa ao pagamento devido pelos alunos, mencionado pelos dois em sua correspondência com as autoridades belgas (OH - Doc 29.01.1840). Essa procuração foi autenticada e anexada em outra correspondência (OH - Doc 18.05.1840), em 30 de setembro de 1839, ou seja, cinco dias depois da partida. O documento não é referido por Lucas em sua correspondência com as autoridades francesas (OH - Doc 31.07.1842). AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 06.09.1839 Lettre de Charles Emonce et Jean-François Verelst au ministre de l’Intérieur et des Affaires Etrangères (Be) : “le navire n’étant pas tout a fait arrangé, nous avons été obligé de rester à l’hôtel [...]”. Nantes, 6 septembre 1839. Comunica a chegada de ambos a Nantes (19 de agosto), a entrega das cartas enviadas pelo governo belga a Lucas e a Soulier de Sauve, bem como as despesas ocasionadas com a permanência em Nantes, além do previsto. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 07.09.1839 “Avis Commerciaux” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime
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Nantes, 7 septembre 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – D15171 ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ OH - Doc 12.09.1839 “La ville de Paimboeuf a été affligée hier d’un double suicide [...]”. Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, 12 septembre 1839. Notícia do duplo suicídio ocorrido em Paimboeuf. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 13.09.1839 [Jean-Baptiste Jobard] “Tableaux de Daguerre” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, vendredi 13 septembre 1839, p. 3. KBR / Mic Perm 342 OH – Doc 14.09.1839 “MM. J. Despecher et A. Bonnefin ont reçu par voie d’Anglaterre des lettres de M. A. Lucas ...” Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, 14 septembre 1839. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ OH - Doc 15.09.1839 “Nouvelles diverses” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, dimanche 15 septembre 1839, p. 3. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 21.09.1839 “D’après des nouvelles de Paimboeuf, de 13 de ce mois [...]” L’Indépendant Bruxelles, samedi 21 septembre 1839, p. 2. KBR / Mic Perm 8 OH - Doc 22.09.1839 “D’après des nouvelles de Paimboeuf , en date de 13 de ce mois [...]”
Maria Inez Turazzi
Fontes consultadas
Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, mercredi 2 octobre 1839.
Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, dimanche 22 septembre 1839, p. 4. KBR / Mic Perm 342
O comandante A. Lucas narra a passagem por Belle-Île e os primeiros dias da viagem. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita)
OH - Doc 24.09.1839 (a) “Bulletin Maritime” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, mardi 24 septembre 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – D15171 OH - Doc 24.09.1839 (b) Lettre de Charles Emonce a son père (copie), envoyé par une lettre du gouverneur d’Anvers au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be). Saint Nazaire, mardi 24 septembre 1839. Primeira descrição do navio e “seu pequeno mundo”, como registrou A. Carré, assinalando a data em que levantou âncoras de Paimboeuf, às 2 da manhã. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 25.09.1839 “Bulletin maritime” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, mercredi 25 septembre 1839. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ Tolbiac / Support imprimé microformé – D15171 OH - Doc 25.09.1839 “Brevet Daguerre” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mercredi 25 septembre 1839, p. 1. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 28.09.1839 “Bulletin Maritime” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, samedi 28 septembre 1839. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – D15171 OH - Doc 02.10.1839 “L’Oriental allant faire le tour du monde”.
BnF –
OH - Doc 06.10.1839 “Expédition autour du monde” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, dimanche 6 octobre 1839, p. 1-2. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 07.10.1839 “Mouvement de navires français (l’Oriental-Hydrographe)” Archives de Postes Lisbonne, 7 octobre 1839 – 14 octobre 1839. Registro da passagem do Oriental-Hydrographe pelo porto de Lisboa CADN / Archives de Postes / Lisbonne – Série A – v. 73 Mouvement de navires français 1826-1840 / Microfilme 2 Mi 1954 - f. 162 OH - Doc 08.10.1839 “Embarcações entradas...” Diário do Governo Lisboa, 8 de outubro de 1839. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 11.10.1839 Lettre du gouverneur de la province d’Anvers au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) : envoi d’une lettre au gouverneur par Emonce père (9/10), avec la copie d’une lettre envoyé a son fils Charles Emonce (9/10). Anvers, 11 octobre 1839. Emonce pai demonstra profunda preocupação com o descontentamento do ministro de Assuntos Exteriores sobre as despesas efetuadas por seu filho em Nantes, em nome do governo belga, sem autorização prévia. A questão será tratada em ampla correspondência entre o ministro, o governador e os
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Emonce (pai e filho). AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 14.10.1839 Lettre du baron Burignot de Varenne, ambassadeur de France à Lisbonne, au Duc de Dalmatie, ministre des Affaires Étrangères (Fr) : “arrivé et séjour du navire Oriental (Hydrographe) qui entrepris un voyage de circumnavigation”. Lisbonne, 14 octobre 1839. AD-Fr (Quai d’Orsay) / Correspondance consulaire et commerciale. Lisbonne – V. 62 (1836-1840) OH - Doc 16.10.1839 Diário do Governo “Saída de embarcações...” Lisboa, 16 de outubro de 1839. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 21.10.1839 Lettre de Emonce père au gouverneur de la province d’Anvers, avec une longe citation d’une lettre des armateurs Despecher et Bonnefin (17 octobre). Willebroek, 21 octobre 1839. Os armadores elogiam os jovens Emonce e Verelst e justificam as despesas efetuadas pelos dois. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH – Doc 23 a 25.10.1839 “Embarcações entradas, outubro 23”; “Viagem francesa ao redor do mundo”. A Chronica Funchal, 23 a 25 de outubro de 1839, p. 1. BMF – Periódicos OH - Doc 24.10.1839 “Le navire Oriental (...) est arrivé a Lisbonne le 7 octobre”. L’Indépendant Bruxelles, jeudi 24 octobre 1839, p. 2. KBR / Mic Perm 8
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OH - Doc 25.10.1839 Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) au roi Leopoldo I : proposition d’un arrêté pour régler le montant de dépenses extraordinaires des élèves. Bruxelles, 25 octobre 1839. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 28.10.1839 (a) Nouvelles de MM. Despecher et Bonnefin : “nous venons de recevoir une lettre de M. A. Lucas [...]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, lundi 28 octobre 1839. Notícias enviadas de Lisboa, onde a embarcação foi “recebida como navio de guerra”. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 28.10.1839 (b) “On apprend par lettre de Lisbonne [...]” Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, lundi 28 octobre 1839. Breve notícia da escala do Oriental-Hydrographe em Lisboa. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 28.10.1839 (c) Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) a M. Bouvier, “agent du capitaine Lucas par l’expédition de l’Oriental-Hydrographe”. Bruxelles, 28 octobre 1839. O ministro deseja manifestar seu apreço pelos jovens Emonce e Verelst, modificando observações desfavoráveis emitidas em carta anterior, a fim de reparar essa má interpretação junto ao capitão Lucas. Em resposta, Bouvier informa que vai escrever a Soulier de Sauve, em sua passagem por Lisboa, “através do cônsul francês”. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH – Doc 29.10.1839 (a) “Lettre de Lisbonne” Le Breton ; politique ; industrie et commerce ; science et arts ;
Maria Inez Turazzi
annonces judiciaires et avis divers Nantes, 29 octobre 1839. Carta de um dos membros da expedição do OH narrando a passagem por Lisboa e a demonstração do daguerreótipo para a rainha de Portugal. Apud RAMIRES, 2014, p. 9. OH – Doc 29.10.1839 (b) “Entradas y salidas” El Conservador Santa Cruz de Tenerife, 29 de octubre de 1839. Apud CADENAS, 1999, p. 12. OH - Doc 31.10.1839 (a) “Voyage autour du monde ; expédition de l’Oriental” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, jeudi 31 octobre 1839, p. 1-2. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 31.10.1839 (b) Arrêté du roi Leopold I pour régler les dépenses extraordinaires des élèves : “une somme de 582,85 fr. du budget du ministère de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) sera destinée”. Bruxelles, 31 octobre 1839. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH – Doc 31.10.1839 (c) “Embarcações entradas, 23” A Flor do Oceano Funchal, 31 de outubro de 1839, p. 4. ABM - Periódicos OH - Doc 07.11.1839 “Voyage autour du monde ; expédition de l’Oriental” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, jeudi 7 novembre 1839, p. 1-2. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 11.11.1839 “Madeira (report dated October 26), 23, Oriental, Luca [sic], arrived from Lisbon and sailed 25th for –– .”
Fontes consultadas
Lloyd’s List London, Monday, november 11, 1839. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 25.11.1839 (a) “Nouvelles de mer” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, lundi 25 novembre 1839, p. 2. BnF – Tolbiac / Support imprimé – JO 2336 ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ OH – Doc 25.11.1839 (b) “Nantes, 25 novembre 1839” National de l’Ouest, précédemment L’Ami de la Charte Nantes, 25 de setembro de 1839. Os armadores Despecher e Bonnefin comunicam terem recebido carta do capitão Lucas, enviada da ilha Madeira, relatando que todos vão bem a bordo, agora menos sensíveis ao “mal do mar”, e partem no dia seguinte para as ilhas Canárias. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ OH - Doc 02.12.1839 Lettre de M. Barrère, consul de France a Pernambuco, au baron Rouen, envoyé extraordinaire et ministre plénipotentiaire de France au Brésil. [Recife], 2 décembre 1839. Comunica a chegada do OH e constata que “a anarquia reina a bordo”. CADN / Archives de Postes - Légation de Rio de Janeiro / Série A Carton 79 – Recife 1835-1862 OH - Doc 10.12.1839 “Movimento do porto” Correio Mercantil Salvador, 10 de dezembro de 1839, p. 4. Noticia a chegada do Oriental à cidade, vindo de Pernambuco e depois seguindo para Montevidéu “em descobertas”. FBN / PR SOR 00062 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
OH - Doc 13.12.1839 “Novo modo de suprir a escultura”. Correio Mercantil Salvador, 13 de dezembro de 1839. Anuncia a presença do artista Sauvage a bordo da corveta Oriental e seu método de “modelar as pessoas que desejarem ter a sua efígie”. FBN / PR SOR 00062 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ OH - Doc 21.12.1839 Lettre de Maxime Raybaud, consul de France à Bahia, au ministre des Affaires Étrangères (Fr). Bahia [Salvador], 21 décembre 1839. Relato circunstanciado do cônsul Raybaud, ao assumir seu posto na Bahia, sobre a posição dos franceses no Brasil e, em particular, sobre as deficiências da expedição do OH. AD-Fr / Correspondance consulaire et commerciale / Bahia – V. 3 (1831-1840) - f. 342-346 Oriental OH - Doc 25, 26 e 27.12.1839 “Entradas do porto dia 24”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, 25 (quarta), 26 (quinta) e 27 (sexta) de dezembro de 1839, p. 5. Comunica a entrada da “charrua” francesa Oriental no porto do Rio, tendo entre seus passageiros Daniel P. Kidder. FBN / 1-500,03,02 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ OH - Doc 26.12.1839 Lettre de A. Lucas envoyé a MM. Despecher et Bonnefin. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 26 décembre 1839. Notícias do OH enviadas da ilha de Goréia. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 28.12.1839 (a) “Anuncios. O Physionotypo”
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Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sábado, 28 de dezembro de 1839, p. 4. Anúncio dos retratos executados por F. Sauvage com o seu “physionotypo” e as consultas oferecidas pelo médico da expedição. FBN / 1-500,03,02 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ OH – Doc 28.12.1839 (b) “Lettre de Gorée”. Le Breton ; politique ; industrie et commerce ; science et arts ; annonces judiciaires et avis divers Nantes, 28 décembre 1839. Carta de um dos membros da expedição do OH, escrita em 19 de novembro de 1839, comentando a prática da daguerreotipia e da fisionotipia. Apud RAMIRES, 2014, p. 19. OH - Doc 02.01.1840 Lettre (transcription) de Charles Emonce écrit à son père, a bord de l’Oriental-Hydrographe. Continuation écrit le 14 et le 19 janvier 1840. Rio de Janeiro, 2, 14 et 19 janvier 1840. Relato do jovem Emonce sobre as desordens a bordo do navio. Documento transcrito por seu pai, em correspondência enviada ao governador de Antuérpia (OH - Doc 21.04.1840) e deste ao ministro do Interior e Assuntos Exteriores (Be). AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 04.01.1840 “Anuncios. O Physionotypo”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sábado, 4 de janeiro de 1840, p. 3. Anúncio dos retratos executados por F. Sauvage com o seu fisionotipo. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ OH - Doc 10.01.1840 “Anúncios [sem título]”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sexta-feira, 10 de janeiro de 1840, p. 4.
Maria Inez Turazzi
Anúncio do retratista e professor de pintura com “residência” no Hotel da Marinha que também ensina a desenhar “por novo método [...] por meio de uma máquina admirável [o fisionotipo]”. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
Fontes consultadas
de França. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
OH - Doc 17.01.1840 “Noticias scientificas. Photographia”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sexta feira, 17 de janeiro de 1840, p. 1. Comunica a primeira experiência com o daguerreótipo na cidade, realizada pelo “abade Combes [sic] [...], um dos viajantes que se acha a bordo da corveta francesa l’Oriental”. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1
OH - Doc 20 e 21.01. 1840 “Anuncio” [sem título]. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, segunda feira, 20 de janeiro e terça feira, 21 de janeiro, de 1840, p. 1. Anúncio, já publicado em 17.01.1840, do médico em chefe da “expedição didática e científica em torno do mundo”, comunicando que deixará na cidade um encarregado de “continuar os trabalhos começados”. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1
OH - Doc 17.01.1840 “Anúncios” [sem título]. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sexta feira, 17 de janeiro de 1840, p. 3. Anúncio do médico em chefe da “expedição didática e científica em torno do mundo”, comunicando que deixará na cidade um encarregado de “continuar os trabalhos começados”. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
OH - Doc 24.01.1840 “MM. Despecher et Bonnefin viennent de recevoir, par la voie d’Anglaterre, une lettre de M. A. Lucas [...]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, vendredi 24 janvier 1840. Notícias do Oriental-Hydrograpphe enviadas de Pernambuco. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita)
OH - Doc 18.01.1840 “Anúncios. O Physionotypo”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sábado, 18 de janeiro de 1840, p. 4. Comunica que Sauvage foi apresentado à família imperial, bem como a exibição de seus trabalhos no hotel Europa. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
OH - Doc 27.01.1840 “Movimento do porto”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, segunda feira, 27 de janeiro de 1840, p. 4. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
OH - Doc 20 e 21.01.1840 “Rio de Janeiro. O Daguerreotipo”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, segunda feira, 20 de janeiro e terça feira, 21 de janeiro, de 1840, p. 1. Descreve a demonstração do daguerreótipo no Paço de São Cristóvão e transcreve o discurso de François Arago no Instituto
OH - Doc 29.01.1840 (a) “Voyage autour du monde ; expédition de l’Hydrographe”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mercredi 29 janvier 1840, p. 1. Carta enviada a um amigo por passageiro belga (mantido anônimo pelo jornal), escrita da ilha de Goréia (Senegal), em 9 de novembro de 1839 e complementada em Recife, em 3 de dezembro de 1839. KBR / Mic Perm 342
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
OH - Doc 29.01.1840 (b) “Bahia (report dated Dec 18) Dec 7, Oriental, Lucas, arrived from Pernambuco and sailed 17th for Rio Janeiro”. Lloyd’s List London, Wednesday, January 29, 1840. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 29.01.1840 (c) Lettre du ministre des Travaux Publics au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) : envoi d’une lettre (copie) de MM. Despecher et Bonnefin a M. Bavay, secrétaire général au ministère des Travaux Publics (Be). Bruxelles, 29 janvier 1840. Os armadores reivindicam para si o recebimento das despesas extras efetuadas pelos jovens Emonce e Verelst, a serem pagas pelo governo belga. Eles mencionam a procuração que lhes fora dada por Lucas. O assunto será tratado em ampla correspondência entre os dois ministérios e os armadores. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 31.01.1840 Lettre du baron A. Rouen, envoyé extraordinaire et ministre plénipotentiaire de la France au Brésil, au Duc de Dalmatie, ministre des Affaires Étrangères (Fr). Rio de Janeiro, 31 janvier 1840. AD-Fr / Correspondance consulaire et commerciale / Rio de Janeiro – T. 7 (1838-1842) - p. 232. OH – Doc 03.02.1840 “Río Janeiro, 17 de enero. El Daguerrotipo en América”. El Nacional Montevideo, 3 de febrero de 1840. O jornal reproduz a matéria publicada no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1840. MHN-Uy / Disponível em http://www.museohistorico.gub.uy/ OH - Doc 11.02.1840 “Les nombreuses familles qui s’intéressent au sort de la navigation de l’Oriental [...]: tous les passagers sont bien portants”. Le Moniteur Universel
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Paris, 11 février 1840, p. 279 (partie non officielle). BHVP - Per Fº 168 OH - Doc 15.02.1840 (a) “On lit dans le Journal du Havre. ‘Nous avons directement des nouvelles du navire-école l’Oriental par l’Industrie, partie de Bahia le 27 décembre’ [...]”. Le National de l’Ouest ; précedement l’Ami de la Charte Nantes, samedi 15 février 1840. Relata os conflitos a bordo do OH e as desordens em Pernambuco e Bahia. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 15.02.1840 (b) “[...] Pendant la traversée, quelques désordes [...]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, samedi 15 février 1840. Comenta as desordens a bordo do OH, a partir das notícias publicadas no National de l’Ouest. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ OH - Doc 18.02.1840 “Rio Janeiro Dec 24 [1839] Oriental, Lucas, arrived from Bahia”. Lloyd’s List London, Tuesday, February 18, 1840. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 25.02.1840 Mariquita Sánchez: “[…] Esta máquina [lo daguerrotipo] la ha traído un buque en el que viajan muchos jóvenes que dan la vuelta al mundo […]”. Montevideo, 25 de febrero de 1840. Relato de Mariquita Sánchez de Thompson y Mendeville sobre as primeiras demonstrações do daguerreótipo em Montevidéu. Apud GÓMEZ, 1986, p. 36; VARESE, 2007, p. 22. OH - Doc 27.02.1840 Florencio Varela: “[…] Pronto enviaré la historia del
Maria Inez Turazzi
descubrimiento [del daguerrotipo] y la relación de la sesión de ayer […]”. Mondevideo, 27 de febrero de 1840. Relato de Florencio Varela sobre as primeiras demonstrações do daguerreótipo em Montevidéu. Apud GÓMEZ, 1986, p. 36; Apud VARESE, 2007, p. 23. OH - Doc 29.02.1840 Tomás de Iriarte: “[...] He presenciado ayer una operación de daguerrotipo, en el Salón de Representantes de Montevideo…”. Montevideo, 29 de febrero de 1840. Memórias de Tomás de Iriarte sobre as primeiras demonstrações do daguerreótipo em Montevidéu. IRIARTE, Tomás. Memorias, tomo VI, p. 183. Apud VARESE, 2007, p. 24. OH - Doc 04.03.1840 Florencio Varela: “[…] el aparato que hemos visto salió de Francia en setiembre del año anterior […]”. El Correo de la Plata Montevideo, 4 de marzo de 1840. Artigo de Florencio Varela sobre a invenção da daguerreotipia e sua chegada a Montevidéu. Apud GÓMEZ, 1986, pp. 30-35. OH - Doc 06.03.1840 (a) Teodoro Vilardebó: “[…] una reseña de la serie de operaciones indispensables para hacer uso con suceso del Daguerrotipo según las vimos practicar por el abate Compte [sic] […]”. El Nacional Montevideo, 6 de marzo de 1840 Artigo de Teodoro Vilardebó sobre a invenção da daguerreotipia, sua chegada a Montevidéu e todos os passos de sua execução. Apud BROQUETAS, BRUNO e DELGADO (org.), 2013, pp. 15-23. OH- Doc 06.03.1840 (b) El Nacional Montevideo, 6 de marzo de 1840. Carta de Popelaire de Terloo ao jornal para “desvanecer rumores absurdos” sobre a expedição. Apud GÓMEZ, 1986, p. 37.
Fontes consultadas
OH - Doc 13.03.1840 “Le navire l’Oriental continuant son voyage autour du monde [...] relâche à Rio de Janeiro le 9 janvier [...]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 13 mars 1840. Notícias do OH enviadas do Rio de Janeiro. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH – Doc 17.03.1840 El Nacional Montevideo, 17 de marzo de 1840. Primeiro anúncio em Montevidéu de Louis Comte, “um dos viajantes ao redor do mundo” apresentando seus serviços como professor de “francês, aritmética, geografia, latim, história natural, desenho, etc”. Apud VARESE, 2013, p. 28. OH - Doc 11.04.1840 “Voyage autour du monde ; expédition de l’Hydrographe-Oriental” Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, samedi 11 avril 1840, p. 1. Notícias do OH transcritas de diversas cartas, escritas entre 23 de dezembro de 1839 e 19 de janeiro de 1840, com comentários que parecem ser do belga Désiré Charles Loys. Relato da morte do passageiro Pierre Louis e das obsequias realizadas pelo capelão Comte “em hábito pontifical”. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 21.04.1840 Lettre de Emonce père au gouverneur d’Anvers : “je vous prie de vouloir bien en donner communication a M. le ministre de l’Intérieur”. Borgerhout (Be), 21 avril 1840. Notícias do jovem Emonce, em carta escrita entre 2 e 19 de janeiro de 1840 [OH - Doc 02.01.1840], sobre as desordens a bordo do Oriental-Hydrographe, transcritas por seu pai ao governador de Antuérpia [Anvers], pedindo conselhos sobre o que responder. A carta é retransmitida pelo governador, no dia seguinte, ao ministro do Interior e Assuntos Exteriores (Be). AD-Be / Dossier thématique (2018)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
OH - Doc 29.04.1840 Lettre du ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) au gouverneur d’Anvers : réponse à la lettre du jeune Emonce. Bruxelles, 29 avril 1840. O ministro reconhece as desordens à bordo do OH, já informadas “por outra fonte”, mas confia que o problema esteja sendo resolvido ao assinalar os aspectos positivos da organização da viagem. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 04.05.1840 “Lettre du navire l’Oriental-Hydrographe [...] datée de Montevideo le 23 janvier 1840 [...]”. Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, 4 mai 1840. AMN / Bibliothèque - Periodiques OH - Doc 10.05.1840 “Question des sucres. Le Brésil et le capitaine Lucas”. Le Moniteur industriel; agriculture, commerce, industrie, travaux publics, technologie des arts et métiers, sciences, législation, adjudications publiques. Paris, 10 mai 1840. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-256
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(joint l’expédition authentique d’une procuration de A. Lucas). Nantes, 18 mai 1840. A contabilidade, as formalidades jurídicas e as parcelas de pagamento da dívida relativa a Emonce e Verelst ensejam ampla correspondência, nos meses seguintes, entre os armadores franceses e o governo belga. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 19.05.1840 Lettre du comte Ricard, Lieutenant général, pair de France, à la Légation Française à Rio de Janeiro : “au mois de Décembre dernier, cinq des élèves à bord ont déserté ; l’un de ces jeunes gens est mon fils”. Paris, 19 mai 1840. CADN / Archives de Postes - Légation de Rio de Janeiro / Série A Carton 157 – Dossier de marins OH - Doc 20.05.1840 e outros “Première communication adressé de Montevideo, par le capitaine Lucas [...]”. “Extraits des procès-verbaux des séances du Conseil d’administration de la Société d’encouragement”. Bulletin de la Société d’encouragement pour l’industrie nationale Paris, 1840, v. 39, p. 235 ; p. 261 a 263. BnF – Tolbiac / Support imprimé – R-4627
OH - Doc 14.05.1840 Lettre du ministre de la Marine et Colonies au ministre des Affaires Étrangères (Fr). Paris, 14 mai 1840. O ministro da Marinha, respondendo carta de 23 de abril de 1840, trata da situação do OH depois de informado pelo comandante Laplace, do navio l’Artemise, sobre os jovens embarcados de volta para a França. SHD – Marine / Fonds de la Marine / CC4 383 – Nº 1243 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada)
OH - Doc 26.05.1840 “Voyage autour du monde ; expédition de l’Hydrographe-Oriental. Lettre adressée à M. Louyet [?], professeur de chimie à l’École centrale de commerce e d’industrie [Bruxelles]”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mardi 26 mai 1840, p. 1. Carta do professor Moreau ao colega belga, enviada de Montevidéu, a 20 de fevereiro de 1840, através do navio Maria Key e o porto de Antuérpia. KBR / Mic Perm 342
OH - Doc 18.05.1840 Lettre de MM. Despecher et Bonnefin au ministre de l’Interieur et Affaires Étrangères (Be) : ils protestent devant le gouvernement belge ce qui doivent les élèves Emonce et Verelst
OH - Doc 29.05.1840 Lettre du baron Roussin, ministre de la Marine et Colonies (Fr) au baron Rouen, envoyé extraordinaire et ministre plénipotentiaire de la France au Brésil.
Maria Inez Turazzi
Paris, 29 mai 1840. Carta do ministro da marinha ao embaixador da França no Brasil sobre as desordens a bordo do OH informadas pelo comandante Laplace. O barão Roussin também pede informações sobre um dos jovens a pedido de sua família. CADN / Archives de Postes / Légation de Rio de Janeiro – Serie A - Carton 145 OH - Doc 30.05.1840 (a) “Nouvelles de mer”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 30 mai 1840. Notícias do OH em Montevidéu, em 20.02.1840, trazidas pelo navio Maria Key. BnF – Tolbiac / Support imprimé – JO 2336 OH – Doc 30.05.1840 (b) “Marítima. Entradas”. El Mercurio, Valparaíso, 30 de mayo de 1840, p. 4. Registro da entrada do OH no porto de Valparaiso, em 28 de maio, chegando de Talcahuano, em seis dias. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 01.06.1840 (a) “Lista de los buques existentes en este puerto...” El Mercurio, Valparaíso, 1º junio de 1840, p. 1. Entrada da fragata francesa Oriental, em 28 de maio. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 01.06.1840 (b) “Valparaíso”. “Acaba de fondear en nuestro puerto da corbeta francesa El Oriental...” El Mercurio, Valparaíso, 1º junio de 1840, p. 2. Primeira notícia, propriamente dita, sobre o OH, descrevendo a natureza da expedição e as novidades trazidas a bordo, entre as quais um fisionotipo e um “daguerreótipo a cargo do abade Comte”. O jornal também informa ter em seu poder um longo manuscrito sobre a passagem da expedição pela Patagônia (publicado mais adiante). BN-Cl / Publicaciones periódicas
Fontes consultadas
OH – Doc 01.06.1840 (c) “Avisos”. “El fisionotipo”. El Mercurio, Valparaíso, 1º junio de 1840, p. 6. Anúncio de Joseph Sauvage, “artista adjunto” da corveta francesa Oriental e “seu engenhoso e útil descobrimento”. O mesmo anúncio se repete em 4/6, 5/6, 6/6, 8/6, 9/6, 10/6, 11/6, 12/6, 13/6, 15/6, 16/6, 17/6, 19/6, 20/6, 22/6/1840. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 04.06.1840 “Avisos”. “Homeopatía: nuevas consultas médicas”. El Mercurio, Valparaíso, 4 junio de 1840, p. 1. Anúncio do Dr. Thomas, “médico-chefe do navio escola francês l’Oriental” e seu tratamento com o método homeopático, destacando-se as doenças dos olhos. O mesmo anúncio, na seção de “Avisos”, se repete em 6/6, 8/6, 10/6, 11/6, 12/6, 13/6, 14/6, 15/6, 16/6, 17/6 e, já depois do naufrágio, em 30/6/1840. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 06.06.1840 “Exterior”. “Estado Oriental del Uruguai”. El Mercurio, Valparaíso, junio 1840, p. 2. O jornal reproduz o artigo “Description del daguerreotipo, de Teodoro M. Vilardebó”, publicado em Montevidéu, em 6 de março, em razão da “visita ao nosso porto da corveta francesa l’Oriental”. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 10.06.1840 “Variedades”. “Extracto de un diario hebdomadario publicado a bordo del buque francés (navire-école) l’Oriental en su viaje al rededor del mundo. Revista de la Semana (dia 30 de marzo de 1840). Detalles acerca de la Patagonia y los Patagones”. El Mercurio, Valparaíso, 10 junio de 1840, p. 2. Relato de autor não identificado [Popelaire de Terloo], contendo observações pessoais e depoimento do capitão Lucas sobre o
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
contato da expedição com os habitantes da Patagônia. O jornal informa tratar-se de um extrato da Revista de la Semana. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 11.06.1840 “Variedades”. “Revista de la Semana. Dia 30 de marzo de 1840. Detalles acerca de la Patagonia y los Patagones. Continuación”. El Mercurio, Valparaíso,11 junio de 1840, p. 3. Continuação do relato de autor não identificado [Popelaire de Terloo], contendo observações pessoais e depoimento do capitão Lucas sobre o contato da expedição com os habitantes da Patagônia. O jornal informa ser um extrato da Revista de la Semana. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 12.06.1840 (a) “Variedades”. “Extracto de un diario hebdomadario publicado a bordo del buque francés (navire-école) l’Oriental en su viaje al rededor del mundo. Revista de la Semana (dia 30 de marzo de 1840). Detalles acerca de la Patagonia y los Patagones (Conclusión)”. El Mercurio, Valparaíso, 12 junio de 1840, p. 3. Conclusão do relato de autor não identificado [Popelaire de Terloo], contendo observações pessoais e depoimento do capitão Lucas sobre o contato da expedição com os habitantes da Patagônia. O jornal informa ser um extrato da Revista de la Semana. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH - Doc 12.06.1840 (b) “Expédition de l’Hydrographe-Oriental”. Lettre du baron Popeliers [sic] de Terloo (1e. partie), écrit à Montevideo, en 2 mars de 1840 (informations sur l’Amérique du Sud, détails de mœurs, observations anthropologiques, etc.). Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, vendredi 12 juin 1840, p. 1. Publicada ao longo dos meses de junho e julho de 1840 (12/6; 14/06; 16/06; 20/06; 28/06; 04/07), contém observações sobre o Brasil em geral, o Rio de Janeiro, D. Pedro II, o casamento das princesas, a presença francesa no país e as oportunidades que
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se abriam para os belgas. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 13.06.1840 Lettre (copie) de A. Lucas au ministre de l’Intérieur et des Affaires Étrangères (Be) : éloges aux quatre élèves belges (Dufour, Michel, Emonce et Verelst). Envoyé par le ministre au gouverneur de la province d’Anvers (12/10/1840). Valparaiso, 13 juin 1840. Encaminhada pelo ministro ao governador de Antuérpia, em outubro (depois da notícia do naufrágio). AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 14.06.1840 “Expédition de l’Hydrographe-Oriental (suite – voir notre numéro d’avant hier)”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, dimanche 14 juin 1840, p. 1. Continuação de 12/06; ver também 16/06, 20/06, 28/06 e 04/07/1840. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 16.06.1840 “Expédition de l’Hydrographe-Oriental (suite – voir notre numéro d’avant-hier)”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mardi 16 juin 1840, p. 1. Continuação de 12/6 e 14/06; ver também 20/06, 28/06 e 04/07/1840. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 20.06.1840 “Expédition de l’Hydrographe-Oriental (suite - Voir notre numéro du 16 juin)”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, samedi 20 juin 1840, p. 1. Continuação de 12/6, 14/06 e 16/06; ver também 28/06 e 04/07/1840. KBR / Mic Perm 342
Maria Inez Turazzi
OH – Doc 24.06.1840 (a) “Naufrage du navire-école l’Oriental, de Nantes. Rapport sur la perte du navire-école l’Oriental. Copie”. Valparaíso, 24 juin 1840. Relato do naufrágio escrito pelo capitão Lucas, no dia seguinte ao acidente, enviado ao cônsul da França em Valparaíso (Huet). Cópia remetida ao ministério, em Paris, pelo novo cônsul Blanchard, em 1841. Ver outras cópias em OH - Doc 26.06.1840 (a) e outros e OH – Doc 00.00.1837-1841. Uma versão similar, traduzida para espanhol, encontra-se em OH – Doc 27.06.1840. ADLA / Fonds – P – Finances de l’Etat – Série 3 P – Duanes – Nantes – Francisations – 1841 / Article – 3 P 463 (Oriental) (ocorre em OH - Doc 00.00.1837-1841) OH – Doc 24.06.1840 (b) “Salidas. Dia 23”. “Fragata francesa Oriental, capitán Lucas, para Arica, en prosecución de su empresa de circunnavegar el globo”. El Mercurio Valparaíso, 24 junio 1840, p. 3. Indicação da data da partida da expedição do porto de Valparaíso. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 25.06.1840 (a) “Valparaíso”. “Anteayer a pocas horas de zarpar de nuestro puerto la fragata francesa ‘ORIENTAL’, fuimos sorprendidos con la noticia de haber llegado un bote pidiendo un auxilio...” El Mercurio Valparaíso, 25 junio 1840, p. 3. A primeira notícia do naufrágio no El Mercurio de Valparaíso, complementada, dois dias depois, pela descrição do naufrágio pelo capitão Lucas. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH - Doc 25.06.1840 (b) Lettre du commandant du brigue royal Alacrity au ministre de la Marine et Colonies (Fr). [Hyères], 25 juin 1840. O comandante do Alacrity, chegando ao porto de Hyères, comunica ter cedido cinco homens ao Oriental-Hydrographe,
Fontes consultadas
por ordem do contra-almirante Dupotet: «D’après des ordres supérieures, j’ai donné plusieurs hommes de mon équipage à des bâtiments marchands, et dans mon relâche a Rio, le contreamiral Dupotet me fit mettre cinq hommes à bord de l’OrientalHydrographe, capitaine Lucas faisons le tour du monde et ayant d´jà perdu une partie des ses hommes par désertion». SHD – Marine / Fonds de la Marine / Serie BB4, Campagnes, nº 602 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição parcial, manuscrita) OH - Doc 26.06.1840 (a) e outros Correspondance du consul général de France au Chili, M. Cazotte, au ministre des Affaires Étrangères (Fr). Santiago, 26 juin 1840 et seg. f. 303 a 305: carta do cônsul geral Cazotte ao ministro dos Assuntos Exteriores da França (Valparaíso, 26 de junho de 1840); f. 308 a 309: carta do cônsul Cazotte ao ministro (Valparaíso, 6 de julho de 1840): [Anexo] f. 310 a 312: cópia do relato de Lucas sobre o naufrágio f. 313: Carta do cônsul Cazotte ao ministro (Valparaíso, 14 de julho de 1840); f. 315 a 317: carta do cônsul Cazotte ao ministro, acompanhada de vários anexos (Santiago, 12 de agosto de 1840); [Anexos] f. 318 a 319: carta de Lucas para Cazotte (Valparaíso, 8 de julho de 1840); f. 320: carta do cônsul Cazotte para Lucas (Valparaíso, 8 de julho de 1840); f. 321 a 322: carta de Lucas para o cônsul Cazotte (Valparaíso, 17 de julho de 1840); f. 323: carta do cônsul Cazotte para Lucas (Valparaíso, 20 de julho de 1840); f. 324: carta de Lucas para o cônsul Cazotte (Valparaíso, 25 de julho de 1840); f. 325 a 326: carta do cônsul Cazotte para Lucas (Valparaíso 28 de julho de 1840); f. 327: carta do cônsul Cazotte ao ministro (Santiago, 16 de agosto de 1840); [Anexo]
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
f. 328: carta de alunos para o cônsul Cazotte (Valparaíso, 6 de agosto de 1840). Correspondência sobre o OH do serviço consular francês no Chile e documentos anexos. Inclui cópia da correspondência do capitão A. Lucas com o cônsul Cazotte, cópia do relato do naufrágio feito por A. Lucas e cópia da carta dos alunos pedindo a intervenção do cônsul para retornarem à França. AD-Fr (Quai d’Orsay) / Correspondance consulaire et commerciale / Santiago – T. 3 (1836-1842), folhas 303 a 328 (frente e verso) OH – Doc 26.06.1840 (b) “Valparaíso”. “El capitán Lucas [...] nos ha dirigido una comunicación [...]” El Mercurio, Valparaíso, 26 junio 1840, p. 2. O jornal informa que a comunicação do capitão Lucas, tendo chegado tarde, será publicada no dia seguinte. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 27.06.1840 “Valparaíso”. “Publicamos à continuación la relación del naufragio de la fragata francesa l’Oriental que el capitán el Sr. A. Lucas ha tenido la bondad de dirigirnos...” El Mercurio Valparaíso, 27 junio de 1840, p. 3. A descrição do naufrágio pelo capitão Lucas, publicada primeiramente no El Mercurio de Valparaíso, transcrita mais tarde na imprensa europeia. Lucas datou seu comunicado como sendo de “23 de junho”, mas ele responde a uma matéria publicada no jornal somente em 25 de junho. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH - Doc 28.06.1840 “Expédition de l’Hydrographe-Oriental (suite - Voir notre numéro du 20 juin)”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, dimanche 28 juin 1840, p. 1. Continuação de 12/6, 14/06, 16/06 e 20/06; ver também 04/07/1840. KBR / Mic Perm 342
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OH - Doc 29.06.1840 Lettre de A. Lucas a MM. Despecher et Bonnefin, adressée de Valparaiso, en date de 29 juin 1840, sur le naufrage. Documento reproduzido em OH – Doc 31.10.1840 e OH - Doc 01.11.1840 OH – Doc 01.07.1840 “Avisos”. Homeopatia. Nuevas consultas médicas. El Mercurio, Valparaíso, 01 julio de 1840, p. 3. Anúncio do Dr. Thomas, médico-chefe do OH, com novo endereço e horários de atendimento. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH - Doc 04.07.1840 “Expédition de l’Hydrographe-Oriental (suite - Voir notre numéro du 28 juin)”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, samedi 4 juillet 1840, p. 1. Continuação de 12/6, 14/06, 16/06, 20/06 e 28/06/1840. KBR / Mic Perm 342 OH – Doc 17.07.1840 (a) “Aviso”. “Se vende. A consecuencia del naufragio de la Oriental, una partida de libros [...]”. El Mercurio, Valparaíso, 17 julio de 1840, p. 4. Anúncio da venda de livros que estava a bordo do OH. O mesmo anúncio se repete em 18/07/1840. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 17.07.1840 (b) “Aviso. A. Cocqe [sic], ex-primer piloto de buque-colegio Oriental y profesor de hidrografía, habiendo desembarcado con la intención de fijarse en Chile [...]”. El Mercurio, Valparaíso, 17 julio de 1840, p. 4. Anúncio de cursos de francês, aritmética comercial, matemática e navegação oferecidos por Guillaume Cocq. O mesmo anúncio se repete em 18/07/1840. BN-Cl / Publicaciones periódicas
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OH – Doc 05.08.1840 (a) “Valparaíso”. “[...] los más ilustrados profesores de la Oriental [...] se han decidido fundar em este puerto un estabelecimiento [...]”. El Mercurio, Valparaíso, 5 agosto de 1840, p. 3. Artigo sobre a fundação do “Instituto de Valparaíso” por VendelHeyl e Guillaume Cocq. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 05.08.1840 (b) “Aviso”. “Instituto de Valparaíso. Escuela de Comercio y Marina” El Mercurio, Valparaíso, 5 agosto de 1840, p. 3. Comunicado sobre a abertura da instituição, substituindo a “Escuela Nautica” que existia na cidade. O mesmo anúncio se repete em 6/8; 17/8; 19/8; 20/8, 28/8, 29/8; 31/8 e 1/9/1840. BN-Cl / Publicaciones periódicas OH – Doc 06.08.1840 Lettre par laquelle les élèves de l’Oriental se sont adressés au Consulat pour leur rapatriement (copie). Valparaíso, 6 aout 1840. Carta de um grupo de alunos encaminhada ao cônsul geral da França no Chile (Cazotte), pedindo ajuda para o repatriamento. Ocorre em OH - Doc 26.06.1840 (a) e outros. OH - Doc 14.08.1840 “Recebemos ontem o Mercurio [...]”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sexta-feira, 14 de agosto de 1840, p. 1. Noticia do naufrágio do Oriental, “navio escola do qual estarão lembrados os leitores”, em Valparaíso. O jornal transcreve parte do relato do capitão Lucas publicado no El Mercúrio logo após o acidente. FBN / 1-500, 03,04 / Microfilme PRC – SPR 1 OH - Doc 20.08.1840 “[...] MM. Despecher et Bonnefin, en vertu de la procuration du capitaine Lucas, réclamèrent de M. Bertinot le paiement de la moitié des sommes déposées à ce dernier [...]”.
Fontes consultadas
La Gazette des Tribunaux; journal de jurisprudence et des débats judiciaires ; feuille d’annonces légales Paris, 20 août 1840. BnF – Tolbiac / Support imprimé microformé – MICR D-426 OH - Doc 25.08.1840 (a) “MM. Despecher et Bonnefin reçoivent des nouvelles de leur navire l’Oriental-Hydrographe [...] de Concepción (mers du Sud), 21 mai dernier [...]” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 25 août 1840. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição parcial, manuscrita) OH – Doc 25.08.1840 (b) “Aviso”. “Se vende por tener de ausentar-se del país su dueño [...]”. El Mercurio, Valparaíso, 25 agosto de 1840, p. 4. Anúncio da venda de livros e instrumentos, com a indicação de autores e títulos, apresentando o mesmo endereço do anúncio anterior (ver OH – Doc 17.07.1840). BN-Cl / Publicaciones periódicas OH - Doc 29.08.1840 “Conception, May 21, Oriental Hydrographe, Lucas, arrived from ………. and to sail 22nd for Valparaiso”. Lloyd’s List London, Saturday, August 29, 1840. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 01.09.1840 “Le trois mâts français, l’Oriental-Hydrographe se trouvait le 21 mai dernier [...]”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, dimanche 1 septembre 1840, p. 2. Pequena nota informando a posição do OH em 21 de maio (Concepción). KBR / Mic Perm 342
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
OH - Doc 05.09.1840 Lettre de MM. Despecher et Bonnefin au ministre de l’Intérieur at des Affaires Étrangères (Be) : “nous prenons la liberté de rappeler cette petite affaire à votre mémoire, et profitons de cette occasion pour vous faire remarquer que le 10 de ce mois le second semestre sera échu [...]”. Nantes, 5 septembre 1840. Os armadores transmitem as últimas notícias recebidas do OH e demonstram indignação e ironia ao reclamar o pagamento devido pelo governo belga pelos alunos embarcados na expedição. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 10.09.1840 “Valparaiso, May 22 Oriental, Lucas, arrived from Talcahuano”. Lloyd’s List London, Thursday, September 10, 1840. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 23.09.1840 “Extrait d’une lettre de M. Augustin Lucas [...], du 26 avril 1840, après avoir passé le détroit de Magellan [...]: je suis très satisfait sur la cuisine a distiller l’eau de mer de M. Rocher, de votre ville [Nantes]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, vendredi 25 septembre 1840. Notícias da viagem e informações sobre o “admirável funcionamento” da cozinha destilatória, adotada somente por quatro navios de guerra franceses. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição parcial, manuscrita) OH - Doc 25.09.1840 “Extrait d’une lettre de A. Lucas [...] datée du 26 avril 1840, après avoir passé le détroit de Magellan (...)”. National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, jeudi 24 septembre 1840. Reproduz a carta publicada no Lloyd Nantais, no dia 23.09.1840. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição parcial, manuscrita)
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OH - Doc 29.09.1840 “Valparaiso, 24 June, the French Ship Oriental, Lucas, which left this port 23rd instant, on her Voyage round the world, drifted on the Punta del Ruey [sic], to the South of this port, and became a total wreck; passengers and Crew saved”. Lloyd’s List London, Tuesday, September 29, 1840. Apud R. Derek WOOD / http://www.midley.co.uk/ OH - Doc 02.10.1840 “Naufrage de l’Oriental-Hydrographe”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, vendredi 2 octobre 1840, p. 1. Notícia do naufrágio do OH e carta de missivista não indicado pelo jornal, escrita em Valparaíso, a 23 de junho de 1840, ou seja, no próprio dia do naufrágio, relatando o acontecimento. A mesma carta será reproduzida por jornais de Nantes nos dias seguintes. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 05.10.1840 (a) Lettre de MM. Despecher et Bonnefin à marquise d’Argentré, sur Balthazar du Plessis d’Argentré et le naufrage. Nantes, 5 octobre 1840. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (fotocópia / procedência não indicada) OH - Doc 05.10.1840 (b) “Une fâcheuse nouvelle nous est donnée aujourd’hui par le Précurseur d’Anvers [...]”. Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte Nantes, 5 octobre 1840. Notícias do naufrágio enviadas de Valparaíso, em 24 de junho de 1840, publicadas pelo Précurseur d’Anvers, de Bruxelas, transcritas no mesmo dia pelo National. SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 07.10.1840 (a) “Lettre d’un passager de l’Oriental-Hydrographe [...]”. Le National de l’Ouest ; précédemment l’Ami de la Charte
Maria Inez Turazzi
Fontes consultadas
Nantes, 7 octobre 1840. Carta escrita por missivista não identificado, em Valparaíso, a 23
capitão também se refere a dois jornais de Valparaíso, contendo detalhes do acidente, que ele teria enviado a Paris.
de junho de 1840 (dia do naufrágio), transcrita do jornal Le Courrier Belge, de 2 de outubro de 1840. AMN / Bibliothèque - Periodiques
SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (fotocópia)
OH - Doc 07.10.1840 (b) “Lettre d’un passager de l’Oriental-Hydrographe [...]”. Le Breton ; politique ; industrie et commerce ; science et arts ; annonces judiciaires et avis divers Nantes, 7 octobre 1840. Notícias do naufrágio transcritas do Le Courrier Belge, de 2 de outubro de 1840 [OH - Doc 02.10.1840], como o Le National de l’Ouest, de 7 de outubro de 1840 [OH - Doc 07.10.1840 (a)] SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 13.10.1840 Lettre de MM Despecher et Bonnefin au ministre de l’Interieur et Affaires Étrangères (Be) : encore la revendication du payement de la pension des élèves Emonce et Verelst. Nantes, 13 octobre 1840. Os armadores, já cientes do naufrágio, parecem decididos a garantir ao menos o pagamento do primeiro ano da pensão dos alunos. Enviam ao ministro certificado expedido pelo porto de Nantes (13/10/1840) sobre o embarque dos jovens belgas, a 17 de setembro de 1839. Esclarecem também que, por serem estrangeiros, os dois alunos só podiam ser embarcados como “passageiros”, pois do contrário estariam sujeitos às normas da Marinha francesa. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 25.10.1840 (b) “Nous nous empressons de vous adresser copie d’une lettre du capitaine Lucas (Valparaiso, 29 juin 1840): ‘c’est avec tristesse et regret que je vous annonce la perte totale de votre beau navire l’Oriental’ [...]”. Nantes, 25 octobre 1840. Impresso distribuído pelos armadores J. Despecher e A. Bonnefin noticiando o naufrágio do OH e o salvamento de todos que estavam a bordo, segundo carta enviada por Lucas. O
OH - Doc 27.10.1840 “Copie d’une lettre de M. A. Lucas [...] écrite de Valparaiso, le 29 juin 1840, à MM. Despecher et Bonnefin [...]”. National de l’Ouest ; précedement l’Ami de la Charte Nantes, 27 octobre 1840. Reprodução da notícia dada pelos armadores (OH - Doc 25.10.1840). O texto da carta também será publicado no Le Courrier Belge de 31 de outubro de 1840 (OH – Doc 31.10.1840) e no Moniteur Universel de 1 de novembro de 1840 (OH - Doc 01.11.1840) SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 28.10.1840 “Naufrage de l’Hydrographe-Oriental [sic]”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mercredi 28 octobre 1840, p. 1. Lettre de Auguste Champion de Villenneuve, écrite à Valparaiso, le 29 juin 1840, sur le naufrage. KBR / Mic Perm 342 Oriental OH - Doc 31.10.1840 Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas “Naufrage de l’Hydrographe-Oriental [sic]”. Bruxelles, samedi 31 octobre 1840, p. 1. (a) Lettre de A. Lucas a MM. Despecher et Bonnefin, adressée de Valparaiso, en date de 29 juin 1840, sur le naufrage. Reçue le 25 octobre de 1840 par la voie d’Anglaterre. (b) Lettre du baron Popeliers [sic] de Terloo (1e. partie), adressée de Valparaiso, en date de 30 juin 1840, sur le naufrage. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 01.11.1840 “Lettre de M. A. Lucas [...] écrite de Valparaiso, le 29 juin 1840, à MM. Despecher et Bonnefin [...] : ‘‘c’est avec tristesse et regret que je vous annonce la perte totale de votre beau navire L’Oriental’ [...]”.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Le Moniteur Universel Paris, dimanche, 1 novembre 1840 (nº 306), Partie Non Officielle, Faits Divers, p. 2183. A mesma carta foi publicada no Le National de l’Ouest, de 27 de outubro 1840 (OH - Doc 27.10.1840). AN-Fr – Usuel BHVP - Cote PER Fol 168 OH - Doc 02.11.1840 “Extrait du Jornal do Commercio: ‘le navire français l’Oriental étant sorti du port de Valparaiso, le 23 juin dernier pour se rendre a Arica’ [...]” Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 2 novembre 1840. Relato do naufrágio por A. Lucas, em 24 de junho de 1840 (OH – Doc 24.06.1840), enviado às autoridades francesas; publicado no El Mercúrio, de Valparaiso, em 27 de junho 1840 (OH – Doc 27.06.1840); transcrito no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, de 14 de agosto de 1840 (OH – Doc 14.08.1840), no qual o capitão faz referência à “fraiche brise du Sud-Est...” SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 03.11.1840 “Expédition de l’Oriental-Hydrographe”. “Lettre du baron Popeliers [sic] de Terloo (2e. partie), adressée de Valparaiso, en date de 30 juin 1840 (continuation)”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, mardi 3 novembre 1840, p. 1. Segunda parte da transcrição da carta de Terloo (ver OH – Doc 31.10.1840), aqui tratando de acontecimentos anteriores ao naufrágio. A matéria também traz trechos de outra carta, com a mesma data, de remetente não indicado, com referências à bravura de Moreau no naufrágio. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 07.11.1840 “Details sur le naufrage du navire Hydrographe-Oriental [sic]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 7 novembre 1840. Relato do naufrágio por Auguste Champion de Villeneuve,
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extraído do Le Courrier Belge [OH - Doc 28.10.1840]. ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 09.11.1840 “Fin de l’Expédition de l’Oriental-Hydrographe”. “Lettre du baron Poperlaire de Terloo, écrite à Valparaíso, en date de 11 août 1840, envoyé par le Bonne Clemence. Les élèves de l’Oriental-Hydrographe ne pourront pas continuer leur tour du monde [...]”. Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, lundi 9 novembre 1840, p. 1. KBR / Mic Perm 342 OH - Doc 13.11.1840 “Une lettre de Valparaiso du 11 août fait connaître que [...] il a été impossible au capitaine Lucas de trouver un bâtiment pour continuer l’expédition [...]”. Lloyd Nantais ; feuille commerciale et maritime Nantes, 13 novembre 1840, p. 1. A mesma carta já publicada no Le Courrier Belge (OH - Doc 09.11.1840). ADLA / Disponível em https://archives.loire-atlantique.fr/ SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 12.12.1840 “Anúncios. Retrato de S. M. o Imperador”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, sábado, 12 de dezembro de 1840, p. 4. Anúncio do retrato de d. Pedro II, em baixo relevo, realizado com o fisionotipo e “vendido a preço módico” por Frédéric Sauvage. O anúncio é repetido em 14/12; 16/12; 18/12; 21/12; 24/12 e 28/12. FBN / 1-500,03,03 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ OH - Doc 18.01.1841 Lettre du ministre des Affaires Étrangères (Be) au ministre de l’Intérieur (Be): demande de faire renverser au ministère la somme de 4.631,24 fr. relative au logement, nourriture et
Maria Inez Turazzi
rapatriement de Emonce et Verelst. Bruxelles, 18 janvier 1841. Em anexo, nota de 23 de janeiro, para que alguma ajuda seja concedida ao professor Moreau. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 20.01.1841 Plainte du professeur Moreau au ministre des Affaires. Étrangères (Be) : demande d’une réparation financière. Bruxelles, 20 janvier 1841. Apresenta diversos argumentos para justificar sua solicitação : ele “não pertence a uma família rica”, “está sem emprego”, tem “dívidas contraídas com o cônsul belga em Valparaíso”, etc. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 21.01.1841 Lettre de Moreau père, chef de la 2e Division de l’Administration de Bruxelles, au secrétaire général du ministère de l’Intérieur (Be). Bruxelles, 21 janvier 1841. Reivindica, em nome de seu filho, uma indenização do governo pela instrução dada aos jovens belgas a bordo do OrientalHydrographe e por perdas “irreparáveis” ocasionadas por seu naufrágio. AD-Be / Dossier thématique (2018)
Fontes consultadas
convenables pour le Chili et la côte de Perou” “Note de merchandises convenables pour l’Amerique du Sud” “Chili et côtes du Perou” AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 08.02.1841 Lettre de la direction du Commerce du ministère de l’Intérieur à M. Moreau, sur sa demande d’une indemnisation. Bruxelles, 8 février 1841. Comunica que o ministério não dispõe de fundos para arcar com a despesa, assim como a pasta de Assuntos Exteriores. Sugere que Moreau prepare um breve estudo sobre a viagem, com referências ao comércio e à indústria, a fim de poder pagá-lo a quantia de 600 francos. AD-Be / Dossier thématique (2018) OH - Doc 09.02.1841 Lettre du ministre de l’Intérieur au gouverneur de la province d’Anvers : satisfaction pour les plusieurs cahiers collectés et rédigés par Emonce et Verelst. Bruxelles, 9 février 1841. O ministro enaltece o evidente desejo dos dois jovens de serem úteis ao país. AD-Be / Dossier thématique (2018)
OH - Doc 25.01.1841 Lettre de Charles Emonce et François Verelst au ministre de l’Intérieur et Affaires Étrangères (Be), sur la mission a bord de l’Oriental-Hydrographe et les sommes reçues du capitaine A. Lucas. Voir aussi les rapports préparés pendant le voyage (140 pages manuscrites). Anvers, 25 janvier 1841. Os dois alunos belgas fazem um balanço de sua participação na viagem, comentando a exiguidade dos recursos recebidos e
OH - Doc 25.03.1841 Lettre du ministre de l’Intérieur au ministre des Travaux Publics (Be). Bruxelles, 25 mars 1841. O ministro do Interior responde ao colega, historiando todas as despesas feitas pelos jovens Emonce e Verelst além do previsto e reitera a avaliação de que os gastos são exorbitantes e ultrapassaram o limite do desejável. AD-Be / Dossier thématique (2018)
as dívidas contraídas com o capitão Lucas. O documento é uma transcrição datilografada do original que já não se encontra no dossiê. Os estudos realizados durante a viagem acompanhavam, provavelmente, esta carta e têm os seguintes títulos: “Renseignements sur le commerce de Gorée” “Étude sur le commerce du Brésil et Montevideo” “Note de cargaisons, principalement en articles de Belgique
OH - Doc 15.04.1841 Lettre [du ministre de la Marine et Colonies] à M. le ministre des Affaires Étrangères (Fr). Paris, 15 avril 1840. Agradece o envio, em 23 de novembro de 1840, da correspondência e dos relatos encaminhados pelo cônsul Cazotte sobre o naufrágio do Oriental [ver OH - Doc 26.06.1840 e outros].
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
O ministro da Marinha aprova integralmente a conduta do agente diplomático no episódio. SHD Marine / Fonds de la Marine / CC4 – 388 – nº 983 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada) OH - Doc 02.09.1841 Lettre du directeur [du Personnel ( ?)] au chef du Service de la Marine à Nantes : “vous trouverez ci-joint une pétition adressée par M. le Comte Charles de Lestrange (...)”. Paris, 2 septembre 1841. Trata da solicitação de contagem de tempo de serviço pelo noviço Charles Lestrange. SHD Marine / Fonds de la Marine / CC4 – 391 – f 2109 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada) OH - Doc 16.09.1841 Lettre du ministre de la Marine et Colonies (Fr) à M. le Comte Charles de Lestrange, sur l’impossibilité d’accueillir la demande. Paris, 16 septembre 1841. SHD Marine / Fonds de la Marine / CC4 – 391 – f 2265 SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição datilografada) OH - Doc 12.11.1841 Lettre de A. Lucas au ministre de la Marine et Colonies (Fr) sur sa carrière, le naufrage de l’Oriental-Hydrographe et les consuls français. Tahiti, 12 novembre 1841. Lucas faz duras críticas à atuação dos cônsules franceses no exterior, apontando os desentendimentos que tiveram no caso da expedição. ANOM / Série A12 – Carton 31 – Oceanie – Dossiê Lucas SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição parcial manuscrita, indicando serem 20 páginas mais anexos) OH - Doc 25.01.1842 Lettre de M. Buglet, capitaine de la frégate Thétis, au ministre de la Marine et Colonies (Fr) sur le capitaine A. Lucas et le naufrage
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de l’Oriental-Hydrographe. Donné partie à le contre-amiral Du Petit Thouars, le 2 novembre 1842. Paris [?], 25 janvier 1842. Comenta a conduta duvidosa de A. Lucas e aconselha reservas quanto às suas críticas aos cônsules franceses. ANOM / Série A12 – Carton 31 – Oceanie – Dossiê Lucas SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 31.07.1842 “Lettre de A. Lucas a M. l’amiral Du Petit-Thouars, commandant la Division des mers du Sud”. Tahiti, 31 juillet 1842. Lucas faz ampla defesa de sua conduta no caso do naufrágio do OH. Em anexo a esta “memória”, relação de documentos que comprovariam seus argumentos. ANOM / Série A12 – Carton 31 – Oceanie – Dossier Lucas SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (fotocópia) OH - Doc 20.09.1842 Lettre du contre-amiral Du Petit-Thouars a A. Lucas sur le Tahiti. Papeete, 20 septembre 1842. O almirante acusa o recebimento de correspondência enviada por Lucas e manifesta seu estranhamento pelas palavras empregadas por Lucas, sobretudo em suas acusações aos cônsules e aos comandantes franceses que o teriam caluniado. ANOM / Série A12 – Carton 31 – Oceanie – Dossier Lucas SHD – Marine / Fonds privé Adrien L.J. Carré (transcrição manuscrita) OH - Doc 23.12.1842 “Retratos e paisagens pelo daguerreotypo”. Jornal do Commercio Rio de Janeiro, 23 de dezembro de 1842, p. 1. Transcreve matéria do Morning Courrier, de Nova Iorque, sobre o retrato fotográfico, anunciando a chegada do daguerreotipista A. Morand à cidade do Rio de Janeiro “depois que o navio francês nos trouxe há três anos o primeiro daguerreótipo”. FBN / 1-500,03,08 / Microfilme PRC – SPR 1 Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
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REGISTROS DO NAVIO ORIENTAL: inscrição, armamento, equipagem, bordo e desarmamento OH - Doc 00.00.1837-1841 “Acte de francisation des bâtiments du commerce français” ; “Assureurs divers” ; “Congé” ; “Copie du rapport sur la perte du navire-école l’Oriental (cap. A. Lucas)”, etc. Nantes (Inscription Maritime), 1837-1841. Dossiê com o registro do Oriental na Inscrição Marítima de Nantes (1837) e a perda do navio em Valparaíso, incluindo cópia do relato do capitão Lucas sobre o naufrágio, datado de 24 de junho de 1840. Cópia reconhecida, em janeiro de 1841, por H. Blanchard, cônsul francês em Valparaíso (p. 23 manuscritas). ADLA / Fonds – P – Finances de l’Etat – Série 3 P – Duanes – Nantes – Francisations – 1841 Article – 3 P 463 (Oriental)
Fontes consultadas
autenticadas pelos respectivos cônsules (18 p. manuscritas). ADLA / Fonds - J - Inscription Maritime - Serie 7 R (après 1789) Article 7 R 4 / 4432 OH - Doc 00.00.1840 “Rôle de désarmement” (Oriental). Rol de desarmamento do Oriental em sua derradeira viagem. O documento contém a relação da equipagem (tripulação e noviços), bem como dos passageiros, com informações sumárias dos “registros de bordo”. (5 p. manuscritas). ADLA / Fonds J – Inscription Maritime – Serie 7 R (après 1789) Article 7 R4 / 196
OH - Doc 00.00.1839 Rôle de caisse (“rôle d’équipage et de bureau”) (Oriental) Nantes (Inscription Maritime), 1839. Rol de armamento do Oriental em sua viagem ao redor do mundo, contendo a relação da equipagem (tripulação e noviços), com os seus respectivos soldos e informações de serviço, bem como a listagem dos passageiros, seus dados e documentos (15 p. manuscritas). ADLA / Fonds J – Inscription Maritime – Serie 7 R (après 1789) Article 7 R4 / 968 OH - Doc 00.00.1839-1840 Rôle d’armement et désarmement (bureau, bord et désarmement) (Oriental). Nantes (Inscription Maritime), 1839-1840. Rol de armamento e desarmamento do Oriental em sua viagem ao redor do mundo. O documento contém a relação da equipagem (tripulação e noviços), com os seus respectivos soldos, informações de serviço e dados pessoais, bem como a lista dos passageiros, seus dados pessoais e documentos. O documento também apresenta os “registros de bordo” da expedição, com as anotações de embarques, desembarques, deserções e mortes nos respectivos portos, realizadas e/ou
2. Código anterior “Serie 120 J – 1841 – art. 2571”. A alteração no código foi informada à pesquisadora por Philippe Charon, diretor do Archives Départamentales de Loire-Atlantique, em agosto de 2007.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Condições de admissão no Oriental-Hydrographe, redigidas pelo comandante (1839) Impresso, redigido e distribuído pelo comandante Lucas, com o “estatuto de admissão” no Oriental-Hydrographe, contendo esclarecimentos posteriores em notas de rodapé. Paris, 22 de abril de 1839. 2 p. (OH-Doc 22.04.1839) Conditions d’admission sur le Bâtiment-école, destiné à faire le tour du monde sous le commandement du Capitaine Lucas. Avis. On accorde aux parents qui sont situés à moins de cent lieues de Paris, dix jours pour répondre et seize jours pour ceux qui sont plus éloignés. Après ce terme fixé, les traites qui leur seront expédies seront considérés comme non acceptés, à moins qu’il ne soit demandé d’une manière expresse un nouveau délai. Voir dans le Moniteur universel, du 26 mars, la circulaire adressée par le M. le ministre du commerce à tous les Préfets du royaume pour leur recommander particulièrement cette entreprise. PAR DEVANT M. BERTINOT et son Collègue, notaires à Paris, soussignés; A COMPARU: M. AUGUSTIN LUCAS, capitaine au long-cours, demeurant à Paris, rue Neuve-Saint-Eustache, nº 37. Lequel a dit : qu’étant dans l’intention d’armer un Navire-École, d’environ cinq cents tonneaux, pour faire un voyage autour du monde, et y fonder une institution pour l’instruction des jeunes gens en général1, et particulièrement pour ceux qui se destinent à la marine marchande, ou au commerce, et qui désireraient faire partie de cette expédition, il a établi, de la manière suivante,
Article 2 Les jeunes gens qui voudront se faire admettre sur l’Hydrographe, devront être âgés de plus de douze ans. Ils devront être d’une bonne constitution, et porteurs d’un certificat constatant qu’ils ont été vaccinés. Ils seront munis de leur acte de naissance et d’un certificat en bonne forme du maire de leur commune, dûment légalisé, constatant qu’ils sont de bonne vie et mœurs ; Leurs engagements ne pourront être contractés, s’ils sont mineurs, qu’avec l’autorisation et l’assistance de leur père ou tuteur. Article 3 Nul ne sera admis, s’il ne sait l’arithmétique et les premiers éléments de la géométrie. Ils seront examinés avant l’embarquement par les professeurs des différentes sciences, attachés à l’expédition, et appartenant au corps de l’Université, désignés à cet effet, par M. le ministre de l’instruction publique, pour être classés suivant leur degré d’instruction. Les élèves seront divisés en quatre sections, suivant le degré d’instruction qu’ils auront acquise, et y complèteront l’éducation qu’ils seraient à même de recevoir dans les collèges royaux, en outre des langues étrangères et des connaissances spéciales de la marine et du commerce. Article 4 Chaque élève devra être muni d’un trousseau composé ainsi qu’il suit:
les conditions d’admission sur ce bâtiment :
12 chemises, dont 8 de couleur (4, fond rouge, et 4, fond bleu).
1. M. le ministre le l’Instruction publique a indiqué le personnel de professeurs
2. Le départ est fixé pour la fin de juin, mais en cas de circonstances imprévues,
qu’il exigerait pour considérer notre école comme institution universitaire de
M. Lucas s’engage à ne pas partir plus tard que le 30 septembre de cette année.
plein exercice, et nous nous sommes empressés de les lui présenter (Voir la
Le nombre d’élève déjà inscrit suffit pour l’exécution du voyage.
lettre au Prospectus).
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Article 1er Le bâtiment portera le nom de l’Hydrographe. Il partira de Rochefort, avant le 30 septembre2, pour faire le tour du monde, sous le commandement dudit capitaine Lucas.
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12 mouchoirs. 6 paires de chaussettes (2 de laine, 4 de fil). 2 cravates noires. 1 paire de bottes. 2 paires de souliers. 1 habit en drap bleu à col droit, avec ancres brodées en or au col e aux pans, et boutons portant cette inscription : Navire-École. 2 pantalons en drap bleu. 1 pantalon blanc. 1 pantalon de toile ou coutil gris. 1 gilet rond en drap bleu, avec ancres brodées au col, pour petite tenue. 1 chapeau et 1 casquette. 1 matelas, 2 couvertures, 4 draps. 1 couvert et 1 gobelet en argent. 1 étui de mathématiques. Les libres d’enseignement seront fournis à chaque élève dans le port d’embarquement, au prix fixé par le libraire8. Les habits, vestes et pantalons seront tous faits avec du drap de même qualité, et suivant le modèle établi dans le port d’armement et de départ ou à Paris. S’il est nécessaire de renouveler quelques-uns des articles du trousseau, ou d’en ajouter de nouveaux, la nécessité du renouvellement et du supplément d’effets sera constatée par procès verbal, inscrit sur le livre du bord, l’élève débattra lui même le prix des objets à acheter ou à faire confectionner, en présence d’un officiel désigné par le capitaine Lucas. Les sommes ainsi dépensées et avancées, seront portées au compte de l’élève et acquittées pour lui ou sa famille, au retour de l’expédition en France. Article 5 À la mer, comme à terre, les élèves accèdent du pain frais à discrétion, deux plats avec thé ou café à déjeuneur ; un potage et deux plats à diner, une demi-bouteille de vin à chaque repas ; sur les deux plats de chaque repas, un au moins sera de vivres frais. Dans le cas ou, pendant la durée du voyage, on ne pouvait se procurer de vin, il y sera supplée par quelque liqueur saine et de bonne qualité.
Fontes consultadas
Article 6 Les règlements nécessaires pour maintenir à bord, le bon ordre et la discipline, seront faits par le capitaine et fichés sur le bâtiment (voir le Prospectus). Article 7 Le prix de la pension et du voyage est fixé à raison de 2,500 Fr. par an, pendant la durée de l’expédition, qui est présumée devoir être de deux ans au moins. En conséquence une somme de cinq mille francs [5,000 Fr.] sera déposée par chaque élève, lors de son engagement et adhésion aux présent statuts, en l’étude de M. Bertinot l’un des notaires à Paris soussignés. La moitié de cette somme, ou 2,500 Fr., sera immédiatement à disposition du capitaine Lucas pour en faire usage suivant les besoins de l’armement et pour cette fin, au plus tard avant le 31 mai 1839. Le troisième paragraphe de l’article 7 du présent traite est modifié ainsi qu’il suit: La moitié de la somme, soit 2,500 Fr., ne sera mise à la disposition du capitaine que quand le commissaire de l’inscription maritime aura constaté officiellement l’embarquement de l’élève sur les matricules de l’Etat, ou son absence à la revue d’armement. L’avis de se rendre au port du départ sera donné par lettres particulières et par des annonces dans les principaux journaux de la capitale, 15 jours d’avance. [signé] A. Lucas Un quart ou 1,250 Fr. le 31 mai 1840. Et le dernier quart, ou 1,250 Fr., le 31 décembre 1841, ou au retour de l’expédition si elle a lieu avant cette époque. Pour utiliser les capitaux, les parents des élèves, ou leurs tuteurs, pourront autoriser M. Bertinot à placer les deux derniers quarts à la caisse des consignations, moyennant la faculté de les retirer aux époques désignées. M. Bertinot se trouvera entièrement déchargé des sommes qui lui seront déposées, par le payement qu’il en fera au capitaine sur sa simple quittance, aux époques et dans les proportions ci-dessous fixées.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Dans le cas ou le voyage durerait plus de deux ans, le temps excédant donnera lieu à un supplément proportionnel de la pension d’après le taux ci-dessous fixé. Article 8 Si pour une cause quelconque et à quelle époque que ce soit, le voyage était interrompu avant les deux ans expirés, il sera tenu compte au capitaine des dépenses faites jusqu’au jour de l’interruption du voyage, son salaire sera dans le cas fixé par des arbitres. Ce qui restera libre après ce prélèvement, sur le montant de la pension et sur les fonds qui proviendraient, soi du navire, soit des assurances ou de toute autre objet appartenant à l’armement sera reparti au marc le franc entre les élèves ou leurs parents. Article 9 En cas de désertion de l’élève, le montant total de la pension appartiendra au capitaine. En cas de mort, il ne lui sera dû pour la pension qu’une rétribution proportionnel au temps que l’élève aura passé sur le navire ; il en sera de même, si une maladie grave exigeait son débarquement, et il sera ramené en France aux frais de sa famille, mais dans tous le cas, quelque soit le temps pendant lequel l’élève aura été embarqué, les restitutions à lui faire ou à sa famille, ne pourra [sic] jamais excéder la moitié du prix de sa pension (ainsi que cela se pratique pour le passage, même avant le départ). La différence qui existerait s’il y a lieu appartiendra au capitaine, à titre d’indemnité. Article 10 En cas de mort du capitaine, le second lui succédera dans le commandement ; et dans le cas de mort de celui-ci, le voyage sera continué sous le commandement des officiers, qui le remplacent par rang de grade, conformément aux règlements de la marine.
Article 12 S’il s’élevait quelques difficultés sur l’exécution des clauses et conditions qui précèdent, elles seront résolues par trois arbitres, qui seront nommés à Paris, dont un par le capitaine, un autre par l’élève ou sa famille et en cas de désaccord, ils feront choix d’un tiers arbitre pour les départager, ou le feront nommer par le tribunal de commerce de Paris. La décision que ces arbitres rendront sera exécutée comme jugement en dernier ressort, sans pouvoir en appeler, ni se pourvoir en cassation, ou en requête civile. Article 13 Pour l’exécution des présentes, le capitaine Lucas fait élection de domicile à Paris, en l’étude du dit M. Bertinot, notaire, rue Richelieu nº 28 et chacun des souscripteurs adhérents au présent statuts seront tenus de faire élection de domicile à Paris. Dont acte fait et passé à Paris, en l’étude du dit M. Bertinot, le 22 avril 1839 et le capitaine Lucas a signé avec les notaires après lecture faite. Signé : A. Lucas / Bertinot / Roquebert Les élèves, ou leur père ou tuteurs, en cas de minorité, devront écrire la formule suivante, en indiquant leurs noms, qualités et demeure, ainsi que la maison de Paris chargée de faire le versement pour leur compte, chez M. Bertinot. Cette traite devra être fait par triplicata, l’un sera remis au capitaine Lucas, un autre à M. Bertinot, et le troisième sera remis à l’élève ou à son représentent. FORMULE Je soussigné déclare adhérer au traité ci-dessus et m’oblige à son entière exécution................................................. Signé...................................demeurant à ...................... agissant pour .................................................................
Article 11 Si après la signature de l’engagement de l’élève et son adhésion aux présents status, son embarquement n’avait pas lieu, soit par son fait, soit par celui de sa famille, la moitié de la pension sera acquise au capitaine, à titre d’indemnité, conformément aux usages des passages maritimes.
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Ensuite est écrit : enregistré à Paris, 3e. bureau, le 2 avril 839, f. 87, v., case 1re., reçu 1 Fr 10 centimes, dixième compris. Signé Favre. Imprimerie de Wittersheim, rue Montmorency, nº 8.
Maria Inez Turazzi
Relação dos participantes e registros de bordo do Oriental-Hydrographe (1839-1840) O “rol de armamento e desarmamento” (“rôle de d’armement et désarmement”) do navio Oriental, relativo à viagem de circum-navegação nos anos 1839-1840, representa uma espécie de “certidão de batismo” e, ao mesmo tempo, o “atestado de óbito” da expedição do OH.1 Esses documentos reúnem informações dos chamados “rol de equipagem” e “rol de bordo” (“rôle d’equipage” et “rôle de bord”) de um navio em cada viagem. Existem outros volumes relacionados ao Oriental no Archives Départementales de Loire-Atlantique, mas esse códice contém os registros dos participantes e do desenrolar da viagem mais detalhados. Ele permaneceu com o OH desde a aparelhagem do navio, tendo retornado à França depois do naufrágio, pois a maior parte dos bens que estavam a bordo foram salvos. As informações estão consolidadas em um conjunto de formulários impressos, posteriormente encadernados e preenchidos manualmente com o nome do navio, o local da partida, a listagem da tripulação e dos passageiros, dados de identificação pessoal, matrícula, remuneração e adiantamentos (aos tripulantes) e dados do passaporte (passageiros), entre outros registros efetuados no porto de origem (Paimboeuf), subordinado à Inscrição Marítima de Nantes. O “rol de
1. ADLA. Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789). Article 7 R 4 / 443 – Rôle d’armement et désarmement / Rôle de bord – Nº 59 (Oriental). Manuscrito, 18 p. Código anterior: “Serie 120 J – 1841 – art. 2571”. O novo código foi informado, em agosto de 2007, por Philippe Charon, então diretor do Archives Départementales de Loire-Atlantique, com outras explicações sobre a documentação:
Fontes consultadas
armamento e desarmamento” do OH, aqui transcrito, também apresenta as anotações sobre os que desembarcaram, desertaram ou morreram durante a viagem. Essas anotações eram realizadas e/ou confirmadas pelos cônsules franceses nos portos visitados. O OH deixou Paimboeuf com 78 pessoas a bordo: o capitão e seu estado-maior, o restante da equipagem e os noviços, formalmente registrados na tripulação do navio, além dos passageiros belgas e outros membros da expedição. Mas o grupo inicial não estava completo até passar por Belle-Île, quando embarcaram outros membros da equipagem, bem como a mulher, a irmã e as duas filhas do capitão Lucas. O OH contava, então, com 86 pessoas a bordo (incluindo as duas crianças), grupo que, de fato, iniciou a viagem prevista, segundo os registros da Inscrição Marítima de Nantes. O estado-maior e a equipagem usual (contramestres, carpinteiros, cozinheiros, marujos, grumetes, etc.) somavam 17 tripulantes. Dentre os 42 jovens franceses inscritos na expedição, 41 foram registrados como “noviços voluntários” no rol da equipagem, mas apenas 40 estavam, efetivamente, a bordo do navio. O jovem Charles Masson cometeu suicídio antes da partida e nem chegou a ser registrado, enquanto o jovem Barthélemy Peltier foi incluído na equipagem, mas não compareceu ao embarque e teve o seu registro anulado. Os professores da expedição e os alunos belgas foram listados como “passageiros”, pois não tinham direito à contagem de tempo de serviço na marinha mercante pela Inscrição Marítima de Nantes. Como em vários aspectos da história do OH, as referências sobre a viagem têm certa imprecisão, optando-se nesses casos por informações do documento aqui transcrito. Quando o OH chegou a Valparaíso, a expedição contava com pouco mais da metade dos noviços e 72 pessoas estavam a bordo.2 Os
“Il existe effectivement plusieurs exemplaires de rôles d’armement, mais celui dont vous avez eu une copie, le rôle d’armement classé à la date du désarmement qui est en réalité le rôle de désarmement (l’ancien 120 J 2571
2. O estado maior (5), os noviços franceses (24), o restante da equipagem (21)
coté aujourd’hui 7 R 4/443), est le plus complet. Un autre exemplaire le 7 R
e os passageiros (22) faziam parte do grupo, considerando os desembarques
4/968 correspond à ce que l’on appelle le rôle de caisse ; il est établi lors du
e as substituições na equipagem, antes de Valparaíso, bem como dois novos
paiement des droits et vous donnera des renseignements complémentaires
passageiros também embarcados em Montevidéu. Vidal Gormaz (1901, p.
uniquement en ce qui concerne les salaires. Le troisième exemplaire est le
206-208) também indica 50 tripulantes, baseando-se na documentação então
rôle d’armement proprement dit [7 R4 – 196] classé à la date de l’armement en
existente no Consulado da França em Valparaíso. Carré (1970, p. 29) menciona
septembre 1839 et ne comporte pas de renseignements sur le voyage”.
40 marinheiros e noviços a bordo, com 19 passageiros.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
nomes dos participantes foram agrupados nesta transcrição em ordem alfabética, segundo a sua função bordo (estadomaior, noviços, equipagem e passageiros), a fim de facilitar a consulta e a compreensão dos dados existentes no documento original. As informações biográficas mais relevantes (nome, função, idade e procedência), com as respectivas anotações dos cônsules, também foram incluídas na transcrição do rol de armamento e desarmamento e registro de bordo do OH, cuja primeira folha encontra-se reproduzida neste livro. MARINE 3e. Arrondissement - Quartier de Nantes Port de Nantes Registre de Bâtiments Immatricules au Quartier de Nantes – F. 222 – N. 668 N. 59. Quartier de Nantes / Port de Nantes Armement au mois Année 1839 L’Oriental 3 mats allant à faire un voyage de circumnavigation Rôle d’équipage du dit navire construit en l’an 1835, à Nantes, du port de 304, 63/100 tonneaux, armé de dix caronades, tirant d’eau, chargé, 4 mètres 70 centimètres, et non chargé, 3 mètres 50 centimètres, 2 ponts, 2 gaillards, appartenant M. Despecher et M. Bonnefin, armé à Nantes, par M. Despecher et M. Bonnefin, fréteurs, sous le commandement du Capitaine Lucas, pour aller faire un voyage de circumnavigation. Visite à Paimboeuf les 9 juillet et le 24 août 1839. [...] Naufragé à Valparaiso le 23 juin 1840.
syndicat du dit, né le 6 mars 1804 à Bangor3, dept. de Morbihan, taille d’un mètre 60 millimètre, cheveux et sourcils noirs Inscription Belle Isle, Fº 5, Nº 9 Grade et paye au service Capitaine au long-cours Qualité et fonctions à bord du bâtiment Capitaine Solde par mois 200 Avances pour trois mois 600 Apostilles et mouvements constatés par1º) les administrateurs de la marine ; 2º) les consuls ; 3º) procès-verbaux en forme DAUDÉ, Martial Deuxième capitaine, 28 ans, domicilié à Marseille “Débarqué à Pernambouc, pour cause de maladie. Pernambuco, le 10 décembre 1839, [signé] le consul de France Barrère” GADEBOIS, Louis-Marie Premier lieutenant, 32 ans, domicilié à Bordeaux DURASSIER, Alexandre Deuxième lieutenant, 23 ans, domicilié à Nantes “Débarqué pour cause de maladie avec le consentement du capitaine. Bahia, le 16 décembre 1839, [signé] Max Raybaud” BRIEL, Jean-François Troisième lieutenant, 28 ans, domicilié à Bangor [marié avec Louise-Augustine Lucas, sœur du capitaine] THOMAS, Gilles Chirurgien-major, 42 ans, domicilié à Paris
ETAT MAYOR Embarqués à Nantes [Paimboeuf] Noms, Prénoms, Naissances, Domiciles et Signalements LUCAS, Augustin Fils de Jean-Marie et de Marie-Anne Seveno, domicilié à Belle-Île,
3. A informação de que Augustin Lucas foi registrado em Palais (Belle-Île) encontra-se em sua certidão de casamento em Rochefort (3/9/1832) e no registro relativo aos marinheiros inscritos em Bangor, na mesma ilha, no Arquivo do Porto de Lorient (França), série 3P, sobre Belle-Île, sub-série 3P(1)22. SHD – Marine. Fonds privé Adrien L.J. Carré.
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Embarqués à Montevideo COCQ, Claude Guillaume Deuxième capitaine, 23 ans, né à Lyon “Embarqué à Montevideo, le 23 février 1840, provenant du brig l’Etat Alacrity, [signé] le consul de France Baradère” Débarqué à Valparaiso, le 10 juin 1840, [signé] l’élève-consul A. Huet”
Fontes consultadas
“Débarqué pour prévenir un duel devenu inévitable entre lui et le lieutenant du bord, duel provoqué par ce dernier. Pernambouc, le 4 octobre 1839, [signé] le consul de France Barrère” CHANUT, François Charles Novice volontaire, 17 ans, né à Châlon-sur-Saône “Déserté à Rio de Janeiro, le 20 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay”
EQUIPAGE [novices volontaires] Embarqués à Nantes [Paimboeuf]
CHENAL, Charles Novice volontaire, 21 ans, né à Ste-Marie-aux-Mines
APPERT, Charles Novice volontaire, 19 ans, né à Angers
CORBIN, Louis Gabriel Novice volontaire, 24 ans, né à Les Andelys “Débarqué à Pernambouc, le 4 décembre 1839, [signé] le consul Barrère”
ARCEL, Charles d’ Novice volontaire, 19 ans, domicilié à Rouen ARGENTRÉ, Balthazar du Plessis d’ Novice volontaire, 21 ans, né à Vitré BAUDRILLART, Jules Edmond [ou BAUDRILLARD] Novice volontaire, 20 ans, né à Paris “Débarqué à Rio de Janeiro, le 31 décembre 1839, [signé] Th. Taunay” BAZIN, Henry Novice volontaire, 20 ans, né à Lyon “Déserté à Rio de Janeiro, le 20 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay” BRIGES, Antoine Marie Albert, comte de Novice volontaire, 22 ans, né à Lozère “Débarqué à Rio de Janeiro le 20 janvier 1840, [signé] le Chancelier Th. Taunay” BROCHE, Philippe Novice volontaire, 20 ans, né à Lyon
DELACHÉRE, Pierre Novice volontaire, 20 ans, domicilié à Marseille DELTON, Louis Albert Novice volontaire, 14 ans, né à Paris DOLBEAU, Jean-Baptiste Novice volontaire, 15 ans, né à Lyon FARCY, Jérôme Eugène Novice volontaire, 19 ans, né à Passy FARCY, Joseph Novice volontaire, 15 ans, né à Passy FAUDOAS, René Marie, comte de Novice volontaire, 27 ans, né à Englesqueville “Débarqué à Pernambouc, le 9 décembre 1839, [signé] le consul Barrère” FROPIER, Ferdinand Novice volontaire, 21 ans, né à l’Île Maurice
CARDIN, Auguste Paul Emile Novice volontaire, 20 ans, né à Bourbon Vendée
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
FUSSEY, Léopold Charles Henry de Novice volontaire, 26 ans, né à Autun “Débarqué à Rio de Janeiro, le 20 janvier 1840, [signé] le Chancelier Th. Taunay” ISABEY, Ernest Louis-Marie Novice volontaire, 21 ans, né à Besançon KONIG, Etienne Novice volontaire, 23 ans, né à Paris LAVERNOS, Louis Novice volontaire, 23 ans, né à Rouen “Débarqué le 22 mai à Talcahuano, [signé] Cazotte” LE BOEUF, Jean Novice [volontaire], 20 ans, né à Port Louis LEGRAND, Edouard Novice volontaire, 22 ans, né à Troyes LESTRANGE, Charles de Novice volontaire, 20 ans, né à Saint-Alban Day “Débarqué à Rio de Janeiro, le 16 janvier 1840, [signé] le Chancelier Th. Taunay” L’HÉRITIER, François Alphonse, baron Novice volontaire, 25 ans, né à Conflans-Sainte-Honorine MONTESQUIOU-FEZENSAC, Pierre Joseph Edgard, baron Novice volontaire, 19 ans, né à Paris “Débarqué à Rio de Janeiro, le 20 janvier 1840, [signé] le Chancelier Th. Taunay” MORIN, Claude Pierre Novice volontaire, 19 ans, né à Beaune NORMAND, Henry Jules Felix Novice volontaire, 19 ans, né à Besançon “Débarqué à Rio de Janeiro, le 15 janvier 1840, [signé] le Chancelier Th. Taunay”
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OREILLE DE CARRIÈRE, Ferdinand Novice volontaire, 18 ans, né à Paris PARIS, François Marie de Novice volontaire, 21 ans, né à Dieppe PASQUIER DE DOMMARTIN, Maximilien Hyppolite du Novice volontaire, 20 ans, né à Metz PELTIER, Barthélemy Novice volontaire, 26 ans, né à Paris “M. Peltier, novice volontaire à bord de l’Oriental ait manqué le navire à son départ [signé] commissaire maritime à Nantes”4 “Nul – n’as pas embarqué d’après la déclaration du cap. Rio, le 10 janvier 1840 [signé] Th. Taunay” PINEAU DEVIENNAY, Marie-Antoine Léonce Novice volontaire, 19 ans, né à Mamers PLANTIN DE VILLEPERDRIX, Louis-Léopold Novice volontaire, 16 ans, né à Pont-Saint-Esprit “Déserté à Rio de Janeiro, le 20 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay” RICARD, Edmond de, comte Novice volontaire, 19 ans, né à Paris “Déserté à Rio de Janeiro, le 23 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay” SAUVAGE, Frédéric Novice volontaire, 25 ans, “fils de Pierre [Louis-Frédéric Sauvage] et Suzanne Sauveur, né à Boulogne-sur-Mer” “Débarqué à Rio de Janeiro, le 23 janvier 1840, [signé] le chancelier Th.Taunay” SAUVAGE, Joseph Novice volontaire, 24 ans, « fils de Joseph e Marianne Sauvage,
4. Esta nota consta em uma folha acrescida ao “rôle de caisse” em OH – Doc 00.00.1839-1840.
Maria Inez Turazzi
né le 24 décembre 1815, à Boulogne-sur-Mer” “Débarqué à Valparaiso, le 22 juin 1840, [signé] l’élève consul A. Huet” TIREL, François Alexis Novice volontaire, 26 ans, domicilié à [não indicado] “Debarqué à Valparaiso, le 22 juin 1840, [signé] élève-consul A. Huet” VALORI, Anne-Roland Gustave Gabriel, marquis de Novice volontaire, 16 ans, né à Paris “Déserté à Rio de Janeiro, le 18 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay” VENDEL-HEYL, Emile Novice volontaire, 22 ans, né à Paris “Debarqué à Valparaiso, le 22 juin 1840, [signé] l’élève consul A. Huet” EQUIPAGE [continuation] Embarqués à Nantes [Paimboeuf] BANES, Jean Henry Matelot, 21 ans, domicilié à Paris “Déserté à Rio de Janeiro, le 18 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay”
Fontes consultadas
“Embarqué à Paimboeuf, le 20 septembre 1839, [signé] le commissaire maritime de Nantes [signé] [?]” JOANNET, Pierre Jules Mousse, 14 ans, né à Paris LEINHARD, Jean Louis Cuisinier, 27 ans, domicilié à La Ferté (?) “Débarqué à Rio de Janeiro, le 18 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay” LOYER, Louis Édouard Cuisinier, [âge] [?], domicilié à Saint Malo ROUAUD, Pierre René Matelot charpentier, 26 ans, domicilié à Paimboeuf SER, François Victor Théophile Maître d’hotel, 23 ans, domicilié à Saint-Savinien QUELDANT, André Matelot voilier, 28 ans, domicilié à [?] EQUIPAGE [continuation] Embarqués à Nantes [Belle-Île]
BRETONNEL, Théodore Gustave Mousse, 10 ans, né à Paris
BELLAIS, Prosper Novice, 16 ans, domicilié à Rochefort [Embarqué à Belle-Île le 27 septembre, frère de Mme. Bellais]
FRIC, Fréderic Maître d’hôtel, 21 ans, domicilié à Londres “Passé a cuisinier le 21 janvier 1840”, [signé] élève-consul A. Huet
DESPLOUSSE, Marcellin Bernard Novice, 20 ans, né à Palais “Embarqué à Belle-Île le 27 septembre, [signé] ?”
GAILLARD, Mathieu Matelot, 17 ans, domicilié à Bordeaux “Déserté à Rio de Janeiro, le 18 janvier 1840, [signé] le chancelier Th. Taunay”
DESPLOUSSE, Emile Novice, 18 ans, né à Palais “Embarqué à Belle-Île le 30 septembre, [signé] ?”
GUILLON, Jean Pierre Mousse, 11 ans, né à Paris
QUEREL, Jean-Baptiste Novice, 22 ans, né à Bangor “Embarqué à Belle-Île le 30 septembre, [signé] ?”
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Embarqué à Lisbonne
Embarqués à Montevideo
FERNANDEZ, Pedro José Maître d’hotel, 18 ans, né en Galicia Embarqué à Lisbonne, le 13 octobre 1839, [signé] C. Famin
FOSSATI, Louis Maître d’hotel, 27 ans, né à Nice “Embarqué à Montevideo le 23 février 1840, provenant du brig l’Etat Alacrity, [signé] le consul de France Baradère”
Embarqué à Santa Cruz de Ténériffe MEZÈRE, Auguste Marin, 26 ans, né à Angers, inscrit à Nantes, provenant d’un brick américain Embarqué à Saint Croix de Ténériffe le 29 octobre 1839 “Déserté à Pernambouc le 5 décembre 1839, suivant la déclaration du commandant le 25 décembre 1839 la chancellerie de la Légation [signé] Th. Taunay”
JOUBLE, René Julien Matelot, 36 ans, né à Plessis Balisson “Embarqué à Montevideo le 23 février 1840, provenant du brig l’Etat Alacrity, [signé] le consul de France Baradère” PORCHER, Jules Matelot, 28 ans, né à Redon “Embarqué à Montevideo le 23 février 1840, provenant du brig l’Etat Alacrity, [signé] le consul de France Baradère”
Embarqués à Bahia ZOGARIDO [ ?], Pierre Marin, 27 ans, né en Espagne ZORA [ ?], Antonio Marin, 20 ans, né en Espagne Embarqués à Rio de Janeiro MELHAU, Frédéric Cuisinier, 29 ans, né à [ ?] “Embarqué à Rio Janeiro, le 19 janvier 1840, [signé] Th. Taunay” “Débarqué à Montevideo, le 28 février 1840, [signé] le consul de France Baradère” DANCH [?], Nicolas Matelot, 44 ans, né à [ ?] “Embarqué à Rio Janeiro, le 22 janvier 1840, [signé] Th. Taunay” “Débarqué à Valparaiso, le 10 juin 1840, [signé] l’élève consul A. Huet”
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THOBRÉ, Jean-Baptiste Matelot, 23 ans, né à Saint Nazaire “Embarqué à Montevideo le 23 février 1840, provenant du brig l’Etat Alacrity, [signé] le consul de France Baradère” VICTOR, Pierre Matelot, 38 ans, né á Toulon “Embarqué à Montevideo le 23 février 1840, provenant du brig l’Etat Alacrity, [signé] le consul de France Baradère” Embarqué à Valparaiso DENIAUD, Jean Pierre Matelot, 21 ans, né à Pornic
Maria Inez Turazzi
PASSAGERS5 Embarqués à Nantes [Paimboeuf] BENOIST, Alexandre Passager, cultivateur et propriétaire, 42 ans “Passeport Marie de la commune de [?] visé à la Préfecture de Nantes” “Débarqué à Pernambuco le 3 décembre 1839, [signé] le consul de France Barrere” CHAMPEAUX DE LA BOULAYE, Victor Passager, 41 ans, né à Rethel, demeurant à Nantes “Passeport du Département de la Loire Inferieure” “Débarqué à Pernambuco le 3 décembre 1839, [signé] le consul de France Barrere” CHAMPION DE VILLENEUVE, Auguste Simon Passager, sans profession, 20 ans, né à Bruxelles de parents français “Passeport du Ministère de France à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes” COMTE, Louis Aumônier de l’Oriental, propriétaire, 39 ans, né à Nantes, demeurant à Grand Verrière “Passeport de la communauté de La Grand Verrière visé à la Préfecture de Nantes” DE MOOR, Louis Balthazar Maximilien (*) Lieutenant d’artillerie, chargé de recueillir des documents pour le ministre de la Guerre “Passeport du Ministère belge à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes”
Fontes consultadas
DUFOUR, Auguste Félix (*) Aspirant de la Marine belge, 20 ans “Passeport du Ministère des Affaires Étrangères belge visé à la Préfecture de Nantes” EMONCE, Charles (*) Élève de l’Ecole de Navigation d’Anvers, 18 ans, né à Anvers “Passeport du Ministère belge à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes” HYNDERICK, [?] (*) Lieutenant de cavalerie, 20 ans “Passeport du Ministère belge à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes” JACQUOT, Charles Désiré (*) Passager, commis voyageur, 20 ans, né à Bruxelles “Passeport du Ministère belge à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes” LOUIS, Pierre (*) Passager [ ?], sans profession, 19 ans, né à Java “Passeport du consul belge à Nantes visé à la Préfecture” “Mort à la mer le 7 décembre suivant l’acte dressé à bord et déposé en cette chancellerie, Bahia le 10 décembre 1839, [signé] le consul de France Max Raybaud” LOYS [?], Désiré Charles (*) Particulier, 19 ans, demeurant à Gand “Passeport du Ministère belge à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes” MICHEL, Achile Jules (*) Aspirant de la Marine belge, 18 ans “Passeport du Ministère des Affaires Étrangères belge visé à la Préfecture de Nantes”
5. Os nomes com um asterisco (*) correspondem aos belgas que integravam a tripulação, mas foram registrados como passageiros pela
MOREAU, [Marie-Joseph-Ferdinand-Jean] (*) Professeur
Inscrição Marítima de Nantes. Outros membros da expedição, como os professores, também foram registrados como passageiros.
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
POPELAIRE DE TERLOO, Jean Baptiste, baron Passager, propriétaire, 29 ans, né à Bruxelles
Embarquées à Nantes [Belle-Île]6
“Passeport du Ministère des Affaires Étrangères à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes”
Mme. LUCAS [Elisabeth Zoe Bellais] Passenger, épouse du capitaine et ses DEUX FILLES
SCHOBROUCK, Felix Pierre Marie van (*) [ou SCHOUBROUCK] Lieutenant, 23 ans, demeurant à Bruxelles “Passeport du Ministère des Affaires Étrangères belge visé à la Préfecture de Nantes”
Mlle LUCAS [Louise-Augustine Lucas, “épouse de Jean-François Briel, troisième lieutenant”] Passenger, sœur du capitaine Embarqués à Montevideo
SOULIER de SAUVE, [Eugène] Professeur de sciences, accompagné de sa femme Mme. SOULIER de SAUVE, [Louise Lapierre] “Passeport du Ministère des Affaires Étrangères à Paris visé à la Préfecture de Nantes” VENDEL-HEYL, [Louis-Antoine] Professeur de littérature, 49 ans, né à Paris “Passeport de la Préfecture de Police à Paris visé à la Préfecture de Nantes”
GÓMEZ DE MELLO, Louis [sic] Passenger, négociant, 21 ans, né en Uruguay “Embarqué le 29 février 1840” “Muni d’un passeport du Président de la République de l’Uruguay” ARRUDA, Manoel d’Oliveira Passenger, 18 ans, né a Rio de Janeiro
VERELST, Jean-François (*) Élève de l’Ecole de Navigation d’Anvers, 17 ans, né à Anvers “Passeport du Ministère belge à Bruxelles visé à la Préfecture de Nantes” VRIDAYS Passager, domestique avec M. le baron Popelaire de Terloo, 16 ans. “Passeport du consul belge à Nantes visé à la Préfecture du dit lieu” WANT, Georges Chirurgien [second médecin], 23 ans, anglais “Passeport du ministre plénipotentiaire d’Angleterre visé à la Préfecture de Nantes”
6. A Inscrição Marítima de Nantes indica o embarque, oficialmente, pelo porto de Nantes, ainda que a família do capitão Lucas e outros tenham ingressado a bordo, de fato, em Belle-Île.
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Índice das imagens
Introdução p.18 Ambroise-Louis Garneray, desenhou e gravou Vue de Nantes, prise des Solorges Nantes, c. 1823-1832 Aquatinta, 19,0 x 29,5cm Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) p.20 [Folha de rosto] DEPPING, Georg Bernhard. Voyages d’un étudiant dans les cinq parties du monde : ouvrage destiné à faciliter l›étude de la géographie aux jeunes gens. Paris: Delamarche, 1835 Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 21 Auguste-Henri Dufour, desenhou e editou Amerique du Sud Paris, 1838 Gravura, 50,0 x 32,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 22 Nadia Terkiel, desenhou Infográfico da expedição do Oriental-Hydrographe 2019 Centro de Fotografia de Montevideo – Montevidéu (Uruguai) p. 23 Jean Baptiste Sabatier-Blot, fotografou Retrato de Louis-Jacques-Mandé Daguerre c. 1844 Daguerreótipo, 9,1 x 6,9 cm George Eastman Museum – Rochester (Estados Unidos) p. 25 C. Menck Freire, desenhou 150 anos. Primera fotografia en el Rio de la Plata, 1840-1990 Uruguay Correos Impresso [reprodução fotográfica] Centro de Fotografia de Montevideo – Montevidéu (Uruguai) p. 26 Inscription Maritime de Nantes
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Role de caisse (“role d’equipage et de bureau”) du navire Oriental Impresso e manuscrito, 1839
Nouvelle carte de géographie de la partie méridionale de l’Amérique suivant les plus nouvelles observations avec des tables et de
Fonds J – Inscription Maritime – serie 7 R (après 1789) Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França)
remarques pour l’intelligence de l’histoire et de la géographie. In: CHATELAIN, Henry Abraham (ed.). Atlas Historique, ou nouvelle introduction à l’histoire, à l’chronologie et à la geographie ancienne et moderne. Paris, 1705-1720. v. 7 Gravura em metal, 53,0 x 62,5 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 27 Ambroise-Louis Garneray, desenhou; Sigismond Himely, gravou Vu de la ville et du port Rio-Janeiro Paris, chez Hocquart ainê, c. 1835 Gravura em metal, 35,5 x 48,2 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 28 Adolphe d’Hastrel, desenhou e litografou Vista de Montevideo c. 1842 Litogravura, 22,5x30,0 cm Museu Histórico Cabildo – Montevidéu (Uruguai) p. 29 [Folha de rosto] [LUCAS, Augustin]. Expédition du navire l’Hydrographe (bâtimentécole). Voyage autour du monde, sous les auspices du gouvernement, pour l’instruction des jeunes gens en général, et particulièrement pour ceux qui se destinent à la Marine marchande ou au commerce. [Paris], Imprimerie Wittersheim, mars 1839 Dossier thématique – Voyage de l’Oriental autour du monde Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica) p. 30 Ambroise-Louis Garneray, desenhou e gravou Vue de Nantes, prise des Solorges [detalhe] Nantes, c. 1823-1832 Aquatinta, 19,0 x 29,5cm
p. 34 Jean Baptiste Demoraine, desenhou; Prat, gravou Préparation d’un repas des cannibales au Brésil Gravura em metal In: BELLOC, M. Histoires d’Amérique et d’Océanie depuis l’époque de la découverte jusqu’en 1839. Paris: Duménil, 1839, p. 64. Collection Le monde, histoire de tous les peuples, dressé par A. Houzé, v. 10 Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 35 [Folha de rosto] BOUGAINVILLE, Louis-Antoine de. Voyage autour du monde par la frégate du roi la Boudeuse et la flûte l’Étoile; en 1766, 1767, 1768 & 1769. Paris, Saillant & Nyon, 1771 Gravura em metal Bibliothèque nationale de France / Réserve des livres rares – Paris (França) p. 37 [Folha de rosto] Jean Michel Moreau, desenhou; Philippe Trière, gravou; LouisAntoine Destouff Milet-Mureau, editou Atlas du voyage de La Pérouse. Paris, 1797 Gravura em metal, 39,3 x 25,2 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França)
Capítulo 1 p. 32 [Anônimo]
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p. 38 [Anônimo] Plan of the harbour of Monte-Video, on the north shore of the river La Plata, surveyed in the year 1789 [General Beresford’s campaign, 1806-1807]
Maria Inez Turazzi
Mapa manuscrito, 22,0 x 28,0 cm John Carter Brown Library - Providence (Estados Unidos)
Índice das Imagens
Rio de Janeiro, chez Seignot Plancher, c. 1828 Litogravura Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 40 E. Lassalle litografou, a partir de pintura de F. Winterhalter François d’Orléans, Prince de Joinville, Vice-Amiral, Goupil et Vibert Éditeurs Paris, 1844 Litogravura, 54,7 x 40,4 cm Museu Imperial / Arquivo Histórico – Petrópolis (Brasil)
p. 47 [Capa] BORGET, Auguste. Fragments d’un voyage autour du monde par... Moulins [France]: P.-A. de Desrosiers, 1850 Álbum encadernado, 14,0 x 19,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 41 [Ilegível], desenhou Translation des cendres de Napoléon en France (La chapelle ardente, dans la frégate la Belle- Poule) Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 341 Gravura em madeira, 9,5 x 14,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 48 [acima] Assinatura de Augustin Lucas [Correspondência do capitão Lucas para o contra-almirante DuPetit Thouars] Taihti, 22 avril 1841 Fonds Abel Aubert Du-Petit Thouars Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França)
p. 42 [Folha de rosto] FREYCINET, Louis Claude de Saulses et al. Voyage autour du monde, entreprise par ordre du Roi, exécuté sur les corvettes de S. M. l’Uranie et la Physicienne pendant les années 1817, 1818, 1819 et 1820; [...] Navigation et hydrographie. Atlas. Paris: Pillet ainé, 1826 Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 48 [abaixo] F. Faiseau-Ducoudray, desenhou Carte maçonnique et routière de France indiquant toutes les localités où il existe des ateliers en activité... [detalhe] Paris, chez Patin, 1842 Litogravura, 48 x 64 cm Bibliothèque nationale de France – Paris (França)
p. 44 [Anônimo] France maritime In: BOUILLET, Marie Nicolas. Atlas universel d’histoire et de géographie. Paris: Hachette, 1865 Academia Brasileira de Letras (Biblioteca Rodolfo Garcia) – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 50 [acima] A. J. A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine (Arsenal de Rochefort) Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 141 Gravura em madeira, 10,0 x 13,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 46 Johann Jacob Steinmann, litografou Plan de la baie de Rio de Janeiro levé en 1826 et 1827 par M. Barral [...] sous les ordres de M. Du Campe de Rosamel, contre admiral, commandant la Station Française de l’Amérique Méridionale
p. 50 [abaixo] [Anônimo] Gouvernail de fortune In: LUCAS, Augustin. Le candidat: guide-pratique des capitaines au long-cours et au cabotage ; les questions d’examen par demandes et réponses, les renseignements utiles aux capitaines et aux armateurs
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qui font construire, les dimensions du navire et de tous ses agrès, la procédure d’avaries, les chartes-parties, la gestion des cargaisons, etc., etc. Paris: Robiquet Libraire Hydrographe, 1853 Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França) p. 51 [Folha de rosto] LUCAS, Augustin. Extrait d’un mémoire sur quelques changements à apporter dans l’organisation de la Marine et notamment sur les moyens que la France pourrait employer pour en augmenter le personnel sans augmenter le budget général : suivi d’une note sur les causes et la faiblesse de notre commerce maritime Paris: Imprimerie Wittersheim, 1839 Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França) p. 52 [Ilegível] Dimensions principales du navire LUCAS, Augustin. Le candidat: guide-pratique des capitaines au long-cours et au cabotage ; les questions d’examen par demandes et réponses, les renseignements utiles aux capitaines et aux armateurs qui font construire, les dimensions du navire et de tous ses agrès, la procédure d’avaries, les chartes-parties, la gestion des cargaisons, etc., etc. Paris: Robiquet Libraire Hydrographe, 1853 Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França) p. 53 [esquerda] [Anônimo] Enterrement du sucre indigène In: La Mode; revue des modes, galerie de moeurs, album des salons Paris, 11 octobre 1839
les banques et le commerce extérieur. Paris : Guillaumin, 1839. Museu Imperial / Biblioteca – Petrópolis (Brasil) p. 54 William Smyth, desenhou e pintou The carpenters of H.M.S. Terror repairing her bow whilst beset in the ice, august 12th, 1836, Hudson’s Strait. Taken with the camera lucida. 1836 Aquarela, 57,5 x 23 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 56 William Henry Fox Talbot, fotografou [Grape leaf] Photogenic drawing [negativo fotográfico sobre papel], 18,7 x 23 cm Bibliothèque nationale de France – Paris (France) p. 57 Hercule Florence, fotografou Epréuve Nº2 (photographie) Vila de São Carlos (Brasil), 1833 Cópia fotográfica por contato, 22,2 x 19,7 cm Instituto Moreira Salles / Coleção Pedro Corrêa do Lago – Rio de Janeiro (Brasil) p. 59 Ménard, desenhou [paisagem]; Bayot, desenhou [figuras]; Bichebois, litografou Fontaine de la Place du Palais à Rio-Janeiro Lithographie de Thierry Frères, c. 1840 In: DUPETIT-THOUARS, Abel. Atlas pittoresque du voyage autour du monde sur la frégate La Venus. Paris: Gide, 1841 Litogravura, 23,2 x 15,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
Musée Carnavalet – Paris (França) p. 53 [direita] [Folha de rosto] SAY, Horace. Histoire des relations commerciales entre la France et le Brésil et considérations générales sur les monnaies, les changes,
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Capítulo 2 p. 64 [acima] Louis-Jacques-Mandé Daguerre, fotografou Le Boulevard du Temple
Maria Inez Turazzi
Índice das Imagens
Paris, c. 1838-1839 Daguerreótipo, 12,9 x 16,3 cm
daguerréotype et de la photographie. Musée de Familles, juin 1853, p. 265
Bayerisches Nationalmuseum – Munique (Alemanha)
Musée Nicéphore Niépce – Chalon-sur-Saône (France)
p. 64 [abaixo] Nicéphore Niépce, fotografou Point de vue d’après nature réalisé à la maison du Gras de SaintLoup-de-Varennes Heliografia, 1826 Transposição para papel, feita posteriormente por Helmut Gernsheim Musée Nicéphore Niépce – Chalon-sur-Saône (França)
p. 71 [Ilegível]. Hôtel-de-Ville de Paris: nouvelles constructions. Vue prise du côté de la rivière Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 393 Gravura em madeira, 10,0 x 15,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 66 Pierre Ambroise Richebourg, fotografou [atribuição] Retrato de Louis-Jacques-Mandé Daguerre 1842-1855 Fotogravura, 22,5 x 18,5 cm Coleção George Ermakoff - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 72 Louis-Jacques-Mandé Daguerre, fotografou Le Pavillon de Flore et le Pont-Royal Paris, 1839 Daguerreótipo, 16,2 x 21,2 [placa]; 27,0 x 22,0 [quadro] Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et métiers – Paris (França)
p. 67 A. Vuillemin (desenhou); Bénard (gravou) Plan pittoresque de la ville de Paris Paris, 1840 Gravura em metal, 107,0 x 81,0 cm Bibliothèque nationale de France / Département de Cartes et Plants
p. 73 [acima] Maison Alphonse Giroux Chambre daguerréotype, 1839 31,0 x 41,0 x 37,0 [prof.] cm Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et métiers – Paris (França)
p. 69 Louis-Jacques-Mandé Daguerre Vue du Pont-Neuf Paris, 1839 Daguerreótipo invertido, 7,3 x 10,0 [placa]; 24,0 x 33,0 [quadro] cm Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et
p. 73 [abaixo] Maison Alphonse Giroux Boîte à mercure, 1839 54,0 x 27,7 x 24,0 [prof.] cm Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et métiers – Paris (França)
métiers – Paris (França) p. 70 Gustave Janet, desenhou Niépce, assis, d’après un dessin de M. Niépce de Saint Victor [...]; Daguerre, débout, d’après le daguerréotype de M. Thompson Francis Wey. Comment le soleil est devenu peintre; histoire du
p. 74 Léon Noel, litografou Retrato de Louis-Philippe I [Paris], c. 1840-1845 Litografia [reprodução fotográfica contemporânea], 31 x 21 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
p. 75 [Capa] DÉBARBAT, Suzanne; GREFFE, Florence (org.). Arago; journée scientifique du Bureau des longitudes. Paris: Académie des Sciences, 2006 Impresso Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 76 A. Vuillemin (desenhou); Bénard (gravou) Plan pittoresque de la ville de Paris [detalhe] Paris, 1840 Gravura em metal, 107,0 x 81,0 cm Bibliothèque nationale de France / Département de Cartes et Plants – Paris (França) p. 77 [Anônimo] Palais de l’Institut de France Paris, [meados do século XIX] Gravura [reprodução fotográfica contemporânea] Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 78 [Folha de rosto] DAGUERRE, Louis Jacques Mandé. Historique et description des procédés du daguerreotype et du diorama par Daguerre, peintre inventeur du Diorama, officier de la Légion d’Honneur, membre de plusieurs Académies, etc., etc. Paris: Susse frères,1839 Coleção particular - São Paulo (Brasil) p. 79 A. Racinet, litografou Daguerréotype perfectionné et portatif, construit par Buron, ingénieur – opticien à Paris In: BURON. Description de nouveaux daguerréotypes perfectionnés et portatifs, avec l’instruction de M. Daguerre, annotée, et des méthodes pour faire des portraits et pour obtenir des épreuves après quelques secondes d’exposition à la lumière. Paris: Buron, Ingénieur-Opticien; Bachelier Libraire, 1841 Litogravura
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Société française de photographie / Collection SPF – Paris (França) p. 80 Pierre-Louis Grevedon, desenhou Daguerre (du Diorama) Paris, 1837 Imprimerie Lemercier Litografia, 24,5 x 25,5 cm George Eastman Museum - Rochester (EUA) p. 81 Chambre noire daguerrienne avec le cachet de la maison Giroux et la signature de Daguerre. 31,0 x 41,0 x 37,0 (prof.) cm [medidas aproximadas] Société française de photographie / Collection SPF – Paris (França) p. 82 Susanna Celeste Castelli, desenhou Density Design Research Lab / Politecnico di Milano The daguerreotype process 2015 Wikimedia Commons p. 83 [Primeira página] Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas Bruxelles, 19 août 1839, p. 1 Bibliothèque Royale de Belgique – Bruxelas (Bélgica) p. 84 [Anônimo] J.-B.-A.-M. Jobard In: RACLOT, Henri. Les brevets d’invention. Bruxelles, Imprimerie des travaux publics, 1897 Impresso, 23,8 x 14,5 cm Institut royal du patrimoine artistique – Bruxelas (Bélgica) p. 86 A. Rouargue, desenhou; Chamouin, gravou
Maria Inez Turazzi
Índice das Imagens
Paris actuel; choix de 26 vues et monuments dessinés par A.Rouargue, gravés et publiés par Chamouin. Paris, [meados do século XIX] Gravura em metal, 14,5 x 21,7 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
Vocabulaire pittoresque de marine. (Coronade) Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 325 Gravura em madeira, 7,0 x 7,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 87 Joseph-Philibert Girault de Prangey, fotografou La Tour St. Jacques Paris, 1841
p. 100 A. Vuillemin (desenhou); Bénard (gravou) Plan pittoresque de la ville de Paris [detalhe] Paris, 1840 Gravura em metal, 107,0 x 81,0 cm Bibliothèque Nationale de France / Département de Cartes et Plants – Paris (França)
Daguerreótipo, 22,9 x 17,5 cm Bibliothèque nationale de France – Paris (França) p. 89 [Jean-Baptiste Jobard] Tableaux de Daguerre Le Courrier Belge; ancien Courrier des Pays-Bas. Bruxelles, 13 septembre 1839, p. 3 Bibliothèque Royale de Belgique – Bruxelas (Bélgica)
Capítulo 3 p. 96 Ferdinand Perrot, pintou Lever de soleil sur la mer 1832 Óleo sobre tela, 43,7 x 65,0 cm Bowes Museum – Durham (Inglaterra)
p. 103 [esquerda] [Anúncio] Voyage autour du monde La Presse Paris, 30 setembre 1838 Bibliothèque nationale de France – Paris (França) p. 103 [direita] [Anúncio] Avis et demandes Lloyd Nantais. Nantes, 4 août 1839 Fonds Adrien Carré – Expedition Oriental-Hydrographe Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França)
Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 188 Gravura em madeira, 10,0 x 13,0 cm Coleção particular (Rio de Janeiro)
p. 104 [Folha de rosto] [LUCAS, Augustin]. Expédition du navire l’Hydrographe (bâtiment-école). Voyage autour du monde, sous les auspices du gouvernement, pour l’instruction des jeunes gens en général, et particulièrement pour ceux qui se destinent à la Marine marchande ou au commerce. [Paris], Imprimerie Wittersheim, mars 1839 Dossier thématique – Voyage de l’Oriental autour du monde Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica)
p. 99 [direita] A. J. A., desenhou
p. 106 [esquerda] A. J. A., desenhou
p. 99 [esquerda] A. J. A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Brick marchande courant au plus prés)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Vocabulaire pittoresque de marine. (Avant). Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 189
In: WAUTERS, Alphonse. Les délices de la Belgique, ou description historique, pittoresque et monumentale de ce Royaume [...] ornée
Gravura em madeira, 11,0 x 7,0 cm Coleção particular (Rio de Janeiro)
d’une carte et de cent planches déssinés par MM. Lauters, Stroobant, Vanderhecht, Bielski, etc. Bruxelles et Leipzig: C. Muquardt, 1844 Litogravura, 8,5 x 12,5 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 106 [direita] A.J.A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Arrière). Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 140 Gravura em madeira, 11,0 x 7,0 cm Coleção particular (Rio de Janeiro) p. 109 [Folha de rosto] [LUCAS, Augustin]. Conditions d’admission sur le batiment-école, destiné a faire le tour du monde sous le comandement du Capitaine Lucas. Paris, [avril 1839] Impresso Dossier thématique – Voyage de l’Oriental autour du monde Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica) p. 110 Helouise... [?], desenhou; Félicie Fournié, gravou Famille royale de Belgique Journal de demoiselles; augmenté du Journal de jeunes personnes, du Magasin de demoiselles, du Journal de jeunes filles, de la brodeuse et du bon ton. Bruxelles: Meline, Cans et Cie., 1850, p. 192 Gravura Coleção particular (Suécia)
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p. 114 [acima] A. J. A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Avant d’un brig marchand). Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 228 Gravura em madeira, 9,0 x 7,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 114 [abaixo] A. J. A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Plan géométral d’un trois-mâts). Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 189 Gravura em madeira, 5,0 x 14,0 cm Coleção particular (Rio de Janeiro) p. 115 Legrand, desenhou; Manoel Luiz, litografou Os boulevards de Bruxellas Universo Pittoresco, Lisboa, Imprensa Nacional, 1840, entre as pp. 232-233 Litogravura, 9,2 x 13,4 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 111 [Folha de rosto] SOULIER (de Sauve), Eugène. Précis de géographie des États de
p. 117 [Anônimo] Vue du port de Nantes du quai de la Fosse
l’Europe actuelle : spécialement rédigé pour l’Atlas élémentaire simplifié... Série 3. Paris : J. Andriveau-Goujon, 1839 Bibliothèque nationale de France – Paris (França)
Nantes, meados do século xix Litogravura, 14,0 x 27,0 cm Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França)
p. 113 F. S., desenhou Anvers
p. 118 Inscription Maritime de Nantes Acte de francisation des bâtiments de commerce français
Maria Inez Turazzi
Paris, 14 septembre 1839 Impresso e manuscrito Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) p. 119 Inscription Maritime de Nantes Congé, valable pour un voyage Bordeaux, 10 août 1837 Impresso e manuscrito Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) p. 120 [Folha de rosto] [LUCAS, Augustin]. Instruction pour les familles qui ont des parentes a bord du navire-école l’Oriental-Hydrographe. [Nantes, août 1839] Impresso Dossier thématique – Voyage de l’Oriental autour du monde Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica) p. 121 A. J. A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Brig de guerre français mouillé, vue par le travers). Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 229 Gravura em madeira, 14,0 x 10,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 122 Paul Gavarni, litografou Pierre-Louis-Frédéric Sauvage 1853 Litogravura, 26,5 x 36,5 cm Coleção António Ramires – Coimbra (Portugal) p. 123 [acima] [Anúncio] Le daguerreotype, chez Bianchi Journal politique et littéraire de Toulouse et de la Haute-Garonne Toulouse, 25 septembre 1839 Bibliothèque municipale de Toulouse – Toulouse (França)
Índice das Imagens
p. 123 [abaixo] Susse Frères Daguerreotype camera, 1839 Westlicht Photography Museum - Viena (Austria) Wikimedia Commons
Capítulo 4 p. 128 H.B., pintou 1 jul 1835 Logbook of the Romney from Cork to the Cape, 1835 Desenho e aquarela, 27,5 x 21,5 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 130 Felix Benoist, desenhou e litografou Nantes (Loire Inferieure). Vue du Pont de la Rotonde Galerie Armoricaine. Lithographie Charpentieur Editeur c. 1844-1846 Litografia, 18,0 x 27,0 cm Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) p. 131 C. V. Monin, cartografou; Laguillermie et Ramboz, gravaram Mapa de Nantes In: HUGO, Abel. La France pittoresque ou description pittoresque, topographique et statistique des colonies de la France. Paris: Delloye, 1835. v. 3 Gravura em metal, 13,0 x 18,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 133 Rouarge Frères, desenho e gravura Paimboeuf, c. 1850 In: TOUCHARD-LAFOSSE, Georges. La Loire historique, pittoresque et biographique. Tours: Lecesne, 1851 Ecomusée de Saint-Nazaire - Saint-Nazaire (França)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
p. 134 Antoine-Étienne Carro, desenhou e litografou
p. 140 François Sinnett, editou
Saint-Nazaire In: CARRO, Antoine-Étienne. Voyage chez les Celtes ou de Paris au Mont Saint-Michel par Carnac, suivi d’une notice sur les monuments celtes. Paris: A. Durand, 1857, p. 43 Wikimedia Commons
Matelot du commerce Paris, entre 1855-1887 Litogravura, 14,7 cm x 9,9 cm Reprodução de Arnaud Fux Musée national de la Marine / Fonds Letrosne – Paris (França)
p. 136 Augustus Earle, pintou Life on the ocean, representing the usual occupations of the young officers in the steerage of a British frigate at sea Óleo sobre tela, 58,4 cm x 91,4 cm National Maritime Museum – Greenwich (Inglaterra)
p. 142 E. Soulier (de Sauve), desenhou Système planétaire In: SOULIER (de Sauve), Eugène. Atlas élémentaire simplifié de géographie ancienne et moderne. Paris : J. Andriveau-Goujon, 1839 Litogravura, 47,0 x 59,0 cm Bibliothèque nationale de France – Paris (França)
p. 138 [direita] Inscription Maritime de Nantes L’Oriental; Rôle de l’équipage du dit navire... Nº 59 [Rôle d’armement et désarmement / Rôle de bord] 1839-1840 Impresso e manuscrito Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789) Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) p. 138 [esquerda] Inscription Maritime de Nantes L’Oriental; Rôle de l’équipage du dit navire... Nº 59 [Rôle d’armement et désarmement / Rôle de bord] 1839-1840 Impresso e manuscrito Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789) Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França)
p. 143 Lalaisse, desenhou ; Pardinel, gravou Costumes sous le régne de Louis-Philippe Gravura em metal In: SAINT-PROSPER AINÉ, A.-J. C. Histoire de France depuis les temps les plus reculés jusqu’en 1838. Paris: Duménil, 1839, p. 600. Collection Le monde, histoire de tous les peuples, dressé par A. Houzé, v. 3 Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 145 A.J.A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Cabine d’un brig marchand). Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 324 Gravura, 15,0 x 10,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 139 Victor Adam, desenhou; Delaunois Nicolas, litografou Officiers de Marine Paris, entre 1830-1848 Cromolitogravura, 21,8 x 28,9 cm Reprodução de Arnaud Fux Musée national de la Marine / Fonds Letrosne – Paris (França)
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p. 147 Thomas Streatfeild, desenhou A cabin scene with man lying down reading a book Desenho e aquarela, 9,1 x 8,0 cm National Maritime Museum – Greenwich (Inglaterra)
Maria Inez Turazzi
Índice das Imagens
p. 148 [Anônimo]
Universo Pittoresco, Lisboa, Imprensa Nacional, 1839-1840, pp. 240-241
Bel-Isle Século xvi Gravura em metal, 32 x 46 cm Bibliothèque nationale de France – Paris (França)
Litogravura, 14,0 x 22,5 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
Capítulo 5 p. 149 Léopold de Moulignon, pintou La propreté à bord c. 1840 Aquarela, 9,9 cm x 14,1 cm Reprodução de Arnaud Fux Musée national de la Marine / Fonds Letrosne – Paris (França) p. 151 [acima] [Anônimo], desenhou; Lithografia da Imprensa Nacional Lado oriental da Praça do Commercio em Lisboa Universo Pittoresco, Lisboa, Imprensa Nacional, 1839-1840, pp. 256-257 Litogravura, 13,0 x 18,8 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 151 [abaixo] Legrand, desenhou; Lithografia de M. L. da Costa Uma vista de Lisboa tomada do Passeio de São Pedro d’Alcântara Universo Pittoresco, Lisboa, Imprensa Nacional, 1843-1844, pp. 210-211 Litogravura, 14,0 x 21,7 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 152 Nicolas Maurin, desenhou; Litographie Mlle. Formemtin S. M. a Senhora D. Maria II Rainha de Portugal c. 1835 Litografia, 34,5 x 29,5 cm Museu Imperial – Petrópolis (Brasil) p. 153 Legrand, desenhou; Manoel Luiz, litografou O Palácio das Necessidades em Lisboa
p. 160 Adalbert, príncipe da Prússia, desenhou; Loeillot, litografou; Hilderbandt, imprimiu Teneriffa von Südost, den 11ten August 1842 [Tenerife vista do Sudeste, em 11 de agosto de 1842] In: ADALBERT, prinz von Preussen. Skizzen zu dem tagebuch von Adalbert Prinz von Preussen, 1842-1843 [Diário do príncipe Adalberto da Prússia,1842-1843] Berlim: Deckerschen Geh Oberhofbuchdruckerei, 1847 Litogravura, 18,2 x 30,7 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 162 Benjamin Mary, desenhou Île de Madère; vue prise à Funchal. 1834 Aquarela em sépia, 16,6 x 23,4cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 164 [Anônimo] Afrique In: DEPPING, Georg Bernhard. Voyages d’un étudiant dans les cinq parties du monde : ouvrage destiné à faciliter l’étude de la géographie aux jeunes gens. Paris: Delamarche, 1835 Gravura, 22,0 x 12,8 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 167 [Anônimo] Afrique [detalhe] In: DEPPING, Georg Bernhard. Voyages d’un étudiant dans les cinq parties du monde : ouvrage destiné à faciliter l’étude de la géographie aux jeunes gens. Paris: Delamarche, 1835
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Gravura, 22,0 x 12,8 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 170 Emil Bauch, litografou Entrada do porto de Pernambuco Recife, c. 1852 Litogravura, 28,5 x 52,9 cm Museu Imperial / Coleção Geyer - Rio de Janeiro (Brasil) p. 174 [Anônimo] Cidade de S. Salvador, Bahia de Todos os Santos (1ª vista) [Panorama de Salvador em duas partes] Universo Pittoresco, Lisboa, Imprensa Nacional, 1843-1844, pp. 28-29 Litogravura, 15,0 x 20,3 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 175 [Anônimo] Cidade de S. Salvador, Bahia de Todos os Santos (2ª vista) [Panorama de Salvador em duas partes] Universo Pittoresco, Lisboa, Imprensa Nacional, 1843-1844, pp. 109-110 Litogravura, 15,0 x 22,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 176 W. H. Swinton desenhou e pintou Sketches in Brazil Desenho aquarelado,18,0 x 25,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 177 Jean-Baptiste Henri Durand-Brager, desenhou; De Laplante e Durand-Brager, litografaram L’ Hercule au mouillage (rade de Rio de Janeiro) Litogravura, 30,3 x 48,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
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p. 179 R. Gross, gravou; W. Papuda, editou Plan von Rio de Janeiro Stuttgart [?], c. 1840 Gravura em metal, 15,5 x 22,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 181 Jean-Baptiste Debret, desenhou [c. 1826]; Ch. Motte, litografou [c. 1834] Les rafraichissemens [sic] de l’après dîner sur la Place du Palais Litogravura, 15,2 x 21,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 182 Louis Comte, fotografou [atribuído] La Place du Palais de Ville à Rio [Chafariz de mestre Valentim no Largo do Paço] Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1840 Daguerreótipo, 9,2 x 8 x 1,3 cm (estojo); 8,2 x 7 cm (placa); 7,1 x 6 cm (imagem) Coleção particular - São Paulo (Brasil) p. 183 [Primeira página] Jornal do Commercio, 17 de janeiro de 1840 Notícias scientíficas. Photographia Impresso Fundação Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro (Brasil) p. 184 Adolphe d’Hastrel pintou; H. Clerget, litografou Rio de Janeiro: Baie Don Manuel, Cale de débarquement - Praia D. Manuel, Cais Pharoux Imprimerie Lemercier Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 185 Louis Comte, fotografou [atribuído] Le Monastère de S. Benoist à Rio Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1840
Maria Inez Turazzi
Daguerreótipo, 8,0 x 9,2 x 1,3 cm (estojo); 6,9 x 8,3 cm (placa); 5,9 x 7,2 cm (imagem) Coleção particular - São Paulo (Brasil) p. 186 Inscription Maritime de Nantes L’Oriental; Rôle de l’équipage du dit navire... Nº 59 [Rôle d’armement et désarmement / Rôle de bord] 1839-1840 Impresso e manuscrito [detalhe] Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789) Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França) p. 187 [esquerda] [Assinatura de Louis Comte] Montevidéu, 1846 Manuscrito Dossier d’immatriculés - Comte (n. 293) Archives de Postes – Montevideo Centre des archives diplomatiques du Ministère des affaires étrangères – Nantes (França) p. 187 [direita] Évrard, desenhou; Thiebault, gravou Le physionotype. Musée des Familles, nº XVIII, 1835, p. 144 Gravura em madeira, 5,5, x 7,0 cm Coleção Alexandre Ramires – Coimbra (Portugal) p. 188 Felix Emile Taunay, desenhou D. Pedro II, D. Francisca, D. Januaria [...] Quarto de estudo em S. Christovan Paris, Lithographia Lemercier, c. 1834 Litogravura, 26,0 x 35,0 cm Museu Imperial – Petrópolis (Brasil) p. 189 Benjamim Mary, desenhou [Palais de St. Christophe] Desenho e aquarela, 17,0 x 23,0 cm Museu Imperial / Arquivo Histórico – Petrópolis (Brasil)
Índice das Imagens
p. 190 [Anônimo] Retrato de d. Pedro II Rio de Janeiro, c. 1850 Daguerreótipo, 9,2 x 7,5 cm Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro (Brasil) p. 193 [esquerda] [Anônimo], fotografou; Eugène Ciceri e Philippe Benoist (desenharam e litografaram) Rio de Janeiro da ilha das Cobras [primeira parte] Paris, Imprimerie Lemercier, c. 1852 Litografia a partir de daguerreótipo, 44,0 x 71 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 193 [direita] [Anônimo], fotografou; Eugène Ciceri e Philippe Benoist (desenharam e litografaram) Rio de Janeiro da ilha das Cobras [segunda parte] Paris, Imprimerie Lemercier, c. 1852 Litografia a partir de daguerreótipo, 44,0 x 71 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 195 Samuel John Neele, desenhou Plan of the town and harbour of Monte Video. A view of the town of Montevideo. [Londres], H.D. Symonds, 30 de abril de 1807 Gravura em metal Museo Histórico Cabildo – Montevidéu (Uruguai) p. 197 José Cavallo, desenhou Plano da cidade de Montevideo [...] Manuscrito aquarelado, 61,0 x 86,0 cm John Carter Brown Library - Providence (Estados Unidos)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
p. 199 Antonio Pozzo [Retrato de Mariquita Sánchez de Thompson y Mendeville] Daguerreótipo, 8,0 x 7,0 cm Museo Histórico Nacional – Buenos Aires (Argentina) p. 201 [Folha de rosto] DAGUERRE, Louis-Jacques-Mandé. Historia y descripción de los procederes del daguerrotipo y diorama por Daguerre. Barcelona: Juan Francisco Piferrer, 1839 Impresso Colección particular Andrés Linardi – Montevidéu (Uruguai) p. 202 José Gielis, litografou La fachada de la Iglesia Matriz de Montevideo Montevidéu, 1840 Litogravura, 23 x 28,5 cm Museo Histórico Nacional – Montevidéu (Uruguai) p. 203 [acima] Ch. Hancke, desenhou e litografou; Imprimerie Lemercier [Retrato de Adolphe d’Hastrel] In: D’HASTREL, Adolphe. El pintor y litografo francés... doce litografías coloreadas del Río de la Plata, 1839 y 1840 Buenos Aires, 1944 Litogravura Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 203 [abaixo] Andrés Cribari Chafariz da Praça da Matriz [detalhe] Montevidéu, 2019 Fotografia Centro de Fotografia de Montevideo – Montevidéu (Uruguai)
Capítulo 6 p. 210 William Smyth, desenhou e pintou Valparaiso, from fort St. Antonio, jan. 1833 Aquarela, 23,0 x 58,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 212 Auguste-Henri Dufour, desenhou e editou Amerique du Sud [detalhe] Paris, 1838 Gravura, 50,0 x 32,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 213 Le Gentil de La Barbinais, editou Perspective de Val-Parayso 1727 Gravura, 14,5 x 23,5 cm Bibliothèque nationale de France – Paris (França) p. 215 [Folha de rosto] LAFOND de LURCY, Gabriel. Voyages autour du monde et naufrages célèbres; voyages dans les Amériques. Paris: Pourrat Frères, 1843, v. 1 Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 216 H.B., desenhou Pilot fish..., 21 jun 1835 [acima] [sem título], 23 jun 1835 [abaixo] Logbook of the Romney from Cork to the Cape, 1835 Desenho e aquarela, 27,5 x 21,5 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 217 Inscription Maritime de Nantes L’Oriental; Rôle de désarmement [1840]
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Maria Inez Turazzi
Índice das Imagens
Impresso e manuscrito Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789)
Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 141 Gravura em madeira, 13,0 x 10,0 cm
Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França)
Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil)
p. 221 Jacobsen Hermes, litografou Plano de la ciudad y puerto de Valparaíso y del dique (Break water) proyectado Valparaíso, c.1850 Litogravura, 36,0 x 49,0 cm Biblioteca Nacional de Chile – Santiago (Chile)
p. 231 William Smyth, desenhou e pintou Valparaiso, taken from Glover’s house leading to the Almandral, jan. 1833 Aquarela, 23,0 x 29,0 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
p. 222 Sevenet [?], litografou [atribuição] c. 1840 Reprodução fotográfica de litogravura Museo Histórico Nacional de Chile – Santiago (Chile) p. 223 [Anônimo] Kunstanstalt des Bibliographisches Institut in Hildburghausen, editou Rio Janeiro Litogravura, 15,8 x 23,6 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil) p. 224 [Primeira página] El Mercurio. Valparaíso, 23 de junho de 1840, p. 1 Impresso Biblioteca Nacional de Chile – Santiago (Chile) p. 225 [acima] A.J.A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (A sec de voiles) Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 141 Gravura em madeira, 13,0 x 10,0 cm Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 225 [abaixo] A.J.A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Corvette ‘desemparée’ dans un combat)
p. 233 Louis Urbain Dordet de Tessan, levantou; Erhard, gravou Plano de la bahía de Valparaíso Paris: Imprimerie Kaeppelin, 1838 Gravura, 23,0 x 31,0 cm Biblioteca Nacional de Chile – Santiago (Chile) p. 235 Se vende [anúncio] El Mercurio. Valparaíso, 17 julio de 1840, p. 4 Impresso Biblioteca Nacional de Chile – Santiago (Chile) p. 236 Lettre de MM Despecher et Bonnefin au ministre de l’Interieur et Affaires Étrangères (Be) : encore la revendication du paiement de la pension des élèves Emonce et Verelst Nantes, 13 octobre 1840 Manuscrito Dossier thématique – Voyage de l’Oriental autour du monde Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica) p. 237 Inscription Maritime de Nantes L’Oriental; Rôle de l’équipage du dit navire... Nº 59 [Rôle d’armement et désarmement / Rôle de bord] 1839-1840 Impresso e manuscrito Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789) Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França)
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
p. 239 Inscription Maritime de Nantes L’Oriental ; Rôle de l’équipage du dit navire... Nº 59 [Rôle d’armement et désarmement / Rôle de bord] 1839-1840 Impresso e manuscrito Fonds J – Inscription Maritime – Série 7 R (après 1789). Archives départementales de Loire-Atlantique (Nantes, França) p. 241 Lebreton desenhou; P. Blanchard, litografou La Vénus au mouillage d’O-taïti ; Le Fort de Moutou-Outa salue le pavillon Français Lithographie de Thierry Frères, c. 1840 In: DU PETIT-THOUARS, Abel. Atlas pittoresque du voyage autour du monde sur la frégate La Venus. Paris: Gide, 1841 Litogravura, 15,0 x 23,2 cm Museu Imperial / Coleção Geyer – Rio de Janeiro (Brasil)
Conclusão p. 248 V. Levasseur, geografia e estatística; Laguilhermie, gravou Atlas Universel Illustré: Amérique Meridional Paris, Imprimerie Lemercier, 1856 Museu Imperial / Coleção Geyer – Petrópolis (Brasil) p. 250 [Anônimo] Le Pain du Sucre, vue prise d’une cabine par le hublot Gravura Museu Imperial / Arquivo Histórico – Petrópolis (Brasil) p. 251 Carleton E. Watkins, fotografou [atribuído] Valparaíso, c. 1852 Daguerreótipo, 16,5 x 21,6 cm The J. Paul Getty Museum - Los Angeles (Estados Unidos)
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p. 255 Atelier Daguerre Fotografia e passe-partout [detalhe] c. 1899-1900 Coleção particular - Rio de Janeiro (Brasil) p. 257 [acima] A.J.A, desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Ancre) Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 128. Gravura em madeira, 7,0 x 7,0 cm Coleção particular (Rio de Janeiro) p. 257 [abaixo] A.J.A., desenhou Vocabulaire pittoresque de marine. (Bouées) Le Magasin Pittoresque. Paris, 1840. 8ème année, volume relié, p. 228. Gravura em madeira, 9,0 x 7,0 cm Coleção particular (Rio de Janeiro) p. 261 Théodore Maurisset, litografou La daguerréotypomanie La Caricature, Paris, 8 décembre 1839 Litogravura, 26,0 x 35,7 cm George Eastman Museum – Rochester (Estados Unidos) p. 263 Louis Comte [ou Augustus Morand], fotografou [atribuições] Le Palais de Ville à Rio 1840-1842 Daguerreótipo, 8,0 x 9,0 x 1,2 cm (estojo); 7,0 x 8,2 cm (placa); 6,0 x 7,3 cm (imagem) Coleção particular - São Paulo (Brasil) p. 265 Marc Ferrez, fotografou La Place du Palais de Ville à Rio Rio de Janeiro, c. 1885 (reprodução de daguerreótipo de 1840) Negativo de vidro, 12,0 x 9,0 cm Instituto Moreira Salles / Coleção Gilberto Ferrez – Rio de Janeiro (Brasil)
Maria Inez Turazzi
Índice das Imagens
Cronologia p. 268 [esquerda] [Capa] DAGUERRE, Louis-Jacques-Mandé. Historique et description des procédés du daguerreotype et du diorama par Daguerre, peintre inventeur du Diorama, officier de la Légion d’Honneur, membre de plusieurs Académies, etc., etc. Nouvelle édition, corrigée et augmentée du portrait de l’auteur. Paris : Alphonse Giroux et Cie, Éditeurs, 1839 Coleção particular - São Paulo (Brasil) p. 268 [direita] [Folha de rosto e retrato de Daguerre pela Imprimerie de Lemercier, Bernard et Cie.] DAGUERRE, Louis-Jacques-Mandé. Historique et description des procédés du daguerreotype et du diorama par Daguerre, peintre inventeur du Diorama, officier de la Légion d’Honneur, membre de plusieurs Académies, etc., etc. Nouvelle édition, corrigée et augmentée du portrait de l’auteur. Paris : Alphonse Giroux et Cie, Éditeurs, 1839 Coleção particular - São Paulo (Brasil)
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Índice Este Índice inclui os nomes de pessoas e lugares citados nos capítulos. Ele segue os padrões que se encontram sistematizados no portal Virtual International Authority File, disponível em https://viaf.org/viaf/. Os autores citados em Notas e Referências estão listados na Bibliografia, a relação completa dos viajantes do OH encontra-se em Fontes Consultadas e os autores das ilustrações estão indicados no Índice das Imagens.
Abd el-Kader (1808-1883), 56 Açores, 149 Adalberto, príncipe da Prússia (1811-1873), 160, 263, 267 África, 32, 40, 46, 60, 84, 89, 107, 131, 163, 164, 165, 166, 168, 177 Alabern y Casas, Ramón (1811-c.1888), 165, 274 Alemanha, 58, 59, 88, 90, 109, 146 Alembert, Jean le Rond d’ (1717-1783), 68 Alexandria, 90, 274 América(s), 32, 40, 60, 126, 168, 177, 244 América Central, 40 América do Norte, 47, 60, 107, 258 América do Sul, 11, 12, 21, 28, 30, 32, 46, 47, 50, 53, 54, 107, 136, 150, 161, 166, 168, 169, 172, 175, 177, 181, 186, 190, 194, 198, 199, 206, 212, 248, 262, 263, 267 América Latina, 209 Ampère, André-Marie (1775-1836), 144 Antilhas, 40, 53, 107, 116, 141, 171 Antuérpia, 111, 112, 113, 115, 142, 150, 191, 195, 240, 257 Appert, Charles (c. 1820-?), viajante do OH, 232 Arago, Dominique François Jean (1786-1853), 57, 74, 75, 76, 77, 80, 83, 116, 144, 189, 190, 203, 261, 270, 271, 272 Arago, Jacques Etienne Victor (1790-1855), 116, 215
Argélia, 40 Arcel, Charles d’ (c. 1820-?), viajante do OH, 142, 226 Argentré, Balthazar du Plessis d’ (c.1818-1841), viajante do OH, 142, 258 Arruda, Manoel d’Oliveira (1821-?), viajante do OH, 180 Atlântico, 18, 27, 31, 34, 56, 60, 65, 107, 132, 135, 148, 150, 157, 160, 161, 163, 166, 167, 169, 178, 182, 192, 193, 198, 211, 212, 217, 230, 249, 252, 255, 274 Atlântico Norte, 20, 162, 258, 275 Atlântico Sul, 20, 31, 35, 91, 107, 161, 193, 194, 196, 212, 218, 255 Austrália, 12, 24, 60, 107, 240, 267 Bahia, 107, 173, 175, 176,193, 194 Baía de Todos os Santos, 173 Baixa Pombalina, 151, 152 Bangor, 50, 61 Baradère, Jean-Marie-Raymond (?-1871), 193, 204, 208, 246 Barrère, Pierre-Marie Alphonse (1808-1870), 171, 172, 204 Barret, Jeanne (1740-1807), 266 Baudrillart [ou Baudrillard], Jules Edmond (c. 1819-?), viajante do OH, 180 Bayard, Hippolyte (1801-1887), 57, 271 Bazin, Henry (c. 1819-?), viajante do OH, 191
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Beaune, 134 Beautemps-Beaupré, Charles-François (1766-1854), 46 Bellais, Elisabeth Zoe (1813-?), esposa do capitão e viajante do OH, 50, 61, 139, 146, 148, 157, 178, 227, 238, 252, 254, 260 Bellais, Prosper, cunhado do capitão e viajante do OH, 50, 148 Belle-Île [atualmente Belle-Île-en-Mer], 50, 61, 139, 140, 148, 149, 238, 240, 250 Bélgica, 25, 30, 59, 64, 85, 86, 89, 93, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 129, 134, 136, 141, 142, 147, 154, 163, 191, 196, 198, 219, 220, 229, 230, 235, 236, 249, 251, 252, 257, 258, 266 Benoist, Alexandre (c. 1797-?), viajante do OH, 142, 172 Benoist, Felix (1818-1896), 130 Benoist, Philippe (1813-1905), 193 Berlim, 79, 204 Berro, Bernardo Prudencio (1803-1868), 199 Bertinot, Antoine-Jacques (notário ativo entre 1818-1841), 108,116, 236, 237 Bianchi, Antoine, pai (ótico ativo no século XIX), 123, 124 Bianchi, Antoine (1807-1884), 124 Bianchi, Barthélémy-Urbain (1821-1895), 124 Biot, Jean Baptiste (1774-1862), 271 Blais, Hélène (1971- ), 52 Blanco Encalada, Manuel (1790-1876), 219 Bolívia, 256 Bonnefin, Alexandre (armador ativo no século XIX), 116, 118, 119, 122, 126, 134, 140, 146, 149, 157, 163, 167, 171, 196, 217, 225, 235, 236, 246 Bonpland, Aimé (1773-1858), 205 Bordeaux, 101, 103, 119, 146, 234, 242, 266 Borget, Auguste (1808-1877), 47 Boston (Estados Unidos), 107 Bouët-Willaumez, Louis Édouard, conde (1808-1871), 84 Bougainville, Hyacinthe-Yves-Philippe-Potentien, barão de (1781-1846), 42 Bougainville, Louis-Antoine de, conde (1729-1811), 38, 45, 47, 48, 117, 180, 212, 252 Boulogne-sur-Mer, 121, 127 Bourgogne-Franche-Comté, 266 Bouvier, Antoine Joseph (1792-1841), 111, 126, 236 Brasil, 12, 20, 25, 31, 34, 40, 46, 47, 53, 57, 58, 59, 60, 107, 122, 143, 149, 147, 155, 162, 168, 169, 170, 171, 173, 180, 184, 185,
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187, 188, 189, 190, 191, 194, 195, 200, 205, 211, 218, 219, 244, 254, 258, 263, 265 Brest, 36, 44, 51, 65, 92, 140, 157 Bretanha, 50, 96, 121, 130, 134, 148 Briel, Jean-François (1811-?), cunhado do capitão e viajante do OH, 50, 140, 148, 220 Briges, Antoine Marie Albert, conde de (c.1817-?), viajante do OH, 142, 180 Broche, Philippe (c. 1819-?), viajante do OH, 256 Brunet, François (1960-2018), 72, 73 Bruxelas, 28, 84, 85, 88, 89, 109, 111, 112, 114, 115, 126, 135, 137, 140, 142, 155, 158, 163, 170, 181, 191, 196, 204, 220, 227, 235, 236, 240, 245, 246, 249, 256, 257, 273 Bry-sur-Marne, 66, 276 Buenos Aires, 107, 193, 194, 195, 196, 198, 199, 200 Buffon, Georges-Louis Leclerc, conde de (1707-1788), 147, 158 Burignot de Varenne, Jacques-Édouard, barão de (1795-1873), 154, 155, 159 Buron (engenheiro-ótico ativo no século XIX), 79 Buvelot, Abraham-Louis (1814-1888), 206, 267 Buysschaert, Jean (cônsul ativo no século XIX), 108 Byron, John (1723-1786), 180, 212 Cabo da Boa Esperança, 107 Cabo Horn, 50, 106, 178, 211, 212, 252 Cabo Verde (arquipélago), 107, 153, 159, 162, 165 Cádis, 107 Cairo, 90 Cais d’Aiguillon (Nantes), 129 Cais das Colunas (Lisboa), 151 Cais de Salorges (Nantes), 18 Cais Duguay-Trouin (Nantes), 129 Cais des Constructions (Nantes), 129 Cais do Valongo (Rio de Janeiro), 181 Cais la Fosse (Nantes), 117, 157 Cais Pharoux (Rio de Janeiro), 181, 184 Cais Turenne (Nantes), 129 Califórnia, 212, 256 Campinas, 56 Canárias (ilhas), 12, 107, 161, 165, 167, 181 Cané, Miguel Toribio (1812-1863), 209 Cardin, Auguste Paul Emile (c. 1819-?), viajante do OH, 173, 206
Maria Inez Turazzi
Caret, François (1802-1844), 241 Carré, Adrien Louis Joseph (1908-1999), 23, 24, 25, 31, 61, 140, 146, 157, 158, 159, 194, 206, 238, 240, 246, 247, 251, 266 Cavallo, José (engenheiro ativo no século XIX), 197 Cazan (professor ativo no século XIX), 86 Cazotte, Henri-Nicolas Sévole (1802-?), 158, 206, 229, 230, 231, 232, 234, 237, 238, 246 Cécille, Jean-Baptiste-Thomas-Médée (1787-1873), 42 Champdivers, 266 Champeaux de la Boulaye, Victor (1795-1874), viajante do OH, 142, 166, 172, 205, 206, 258, 266 Champion de Villeneuve, Auguste Simon, viajante do OH, 57, 142, 183, 223, 227, 228, 229, 245 Chanut, François Charles (c.1822-?), viajante do OH, 191 Charle, Christophe (1951- ), 26 Charleston (Estados Unidos), 107 Charpentier, Henri Désiré (1806-1883), 130 Chartier, Roger (1945- ), 25 Chateaubriand, François-René, visconde de (1768-1848), 147 Chatelain, Abraham Henri (1684-1743), 32 Cherbourg, 44 Chevalier, Charles (1804-1859), 70, 80, 92, 124, 269 Chile, 12, 24, 25, 102, 107, 211, 212, 213, 214, 217, 218, 219, 220, 222, 223, 229, 230, 233, 244, 255, 256, 267 Chiloé, 32, 47, 54, 62, 141, 213, 217, 256 China, 107, 147, 187 Ciceri, Eugène (1813-1890), 193 Cincinnati, 267 Claes, Marie-Christine, 85, 93 Cochrane, Thomas (1775-1860), 214 Cocq, Guillaume (c. 1816-?), viajante do OH, 204, 217, 256 Commerson, Philibert (1727-1773), 266 Comte, Louis (1791-1868), viajante do OH, 28, 82, 125, 143, 146, 153, 154, 155, 159, 167, 173, 182, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 198, 199, 200, 202, 204, 205, 206, 207, 209, 219, 244, 254, 255, 259, 262, 263, 264, 265, 266, 267, 274, 275 Concepción (Chile), 107, 217, 245 Cook, James (1728-1779), 36, 38, 163, 180 Corbin, Louis Gabriel (c. 1815-?), viajante do OH, 172 Cordilheira dos Andes, 198 Cormeilles-en-Parisis, 66
Índice
Crouzet, Jean (1922-2010), 49 Cuba, 80, 107 Cuvier, Georges, barão (1769-1832), 147 Daguerre, Jean-Jacques (cirurgião naval ativo no século XVIII), 66 Daguerre, Louis-Jaques-Mandé (1787-1851), 11, 21, 23, 55, 56, 57, 62, 64, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 73, 74, 77, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 89, 90, 92, 93, 94, 116, 122, 123, 124, 125, 127, 155, 165, 182, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 199, 201, 203, 204, 207, 218, 254, 255, 259, 268, 269, 270, 271, 272, 273, 274, 276 Dakar, 165, 166 Dalmatie, Nicolas Jean-Marie-de-Dieu Soult, duque de (1769-1851), 102, 126, 154, 169, 192, 246 Darwin, Charles (1809-1882), 136, 146 Daude, Martial (c. 1811-?), viajante do OH, 140, 172, 178, 204, 217 Delacroix, Ferdinand Victor Eugène (1798-1863), 39 De Moor, Louis Balthazar Maximilien (1815-c.1891), viajante do OH, 142, 146, 196, 220 Denis, Ferdinand (1798-1890), 155 Deroy, Auguste-Victor (1823–1906), 276 Despecher, A. (armador ativo no século XIX), 116, 117, 118, 119, 122, 127, 140, 146, 149, 163, 167, 171, 196, 217, 225, 235, 236, 246 Despecher, J. (armador ativo no século XIX), 116, 117, 118, 119, 122, 127, 140, 146, 149, 163, 167, 171, 196, 217, 225, 235, 236, 246 Diderot, Denis (1713-1784), 68 Dillon, Pierre (comerciante ativo no século XIX), 61 Dinamarca, 83 Doneaud, Alfred (1824-189?), 60 Duchâtel, Charles-Marie Tanneguy, conde (1803-1867), 56, 74, 80, 82, 271 Dufour, Auguste-Henri [também citado como Adolphe Hippolyte] (1795-1865), 20, 212 Dufour, Auguste Felix (1819-1894), viajante do OH, 142 Duguay-Trouin, René (1673-1736), 96, 180 Dumont d’Urville, Jules-Sébastien-César (1790-1842), 42, 45, 212 Duperré, Guy-Victor (1775-1846), 40, 42, 45, 84, 113, 230 Du Petit-Thouars, Abel Aubert [também citado como DupetitThouars] (1793-1864), 42, 59, 212, 238, 241, 242, 243, 247, 259 Dupotet, Jean Henri Joseph (1777-1852), 193, 196, 218 Du Potet de Sennevoy, Jules Denis, barão (1796-1881), 84 Durand-Brager, Jean-Baptiste Henri (1814-1879), 177 Durassier, Alexandre (c. 1816-?), viajante do OH, 178
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Earle, Augustus (1793-1838), 136 Egito, 87, 90, 274 Emonce, Charles (c. 1811-?), viajante do OH, 111, 119, 126, 127, 135, 136, 140, 141, 142, 158, 191, 236, 257 Emonce, Charles [pai], 191 Entrecasteaux, Antoine Raymond Joseph Bruny, chevalier d’ (1737-1793), 46 Equador [linha do], 167, 183, 262 Escandinávia, 40 Espanha, 38, 46, 49, 81, 89, 201, 211, 258, 275 Estados Unidos, 40, 52, 91, 92, 94, 107, 124, 169, 260, 267, 274 Estreito de Magalhães, 146, 213, 217, 220 Ettingshausen, Andreas Ritter von (1796-1878), 124 Europa, 27, 36, 39, 40, 49, 51, 56, 59, 60, 85, 90, 107, 108, 109, 126, 131, 146, 154, 168, 169, 175, 177, 184, 187, 188, 190, 195, 198, 204, 208, 212, 229, 254, 255, 256, 265, 274, 275 Falbe, Christian Tuxen (1791-1849), 83, 124 Famin, Stanislas Marie César (1799-1853), 154, 155, 274 Faudoas, René Marie, conde de (c. 1812-?), viajante do OH, 142,172 Ferdinand I, imperador da Áustria (1793-1875), 188 Fernando II, rei de Portugal (1816-1885), 154, 274 Ferrez, Gilberto (1908-2000), 267 Ferrez, Marc (1843-1923), 265 Filipinas, 34, 60, 107 Florence, Antoine Hercule Romuald (1804-1879), 46, 47, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 184, 185, 207 Fourrier, Charles (1772-1837), 102 Francisca de Bragança, princesa do Brasil (1824-1898), 40, 188, 189 França, 11, 18, 20, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 35, 36, 37, 38, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 49, 50, 51, 52, 53, 55, 56, 57, 60, 61, 62, 65, 66, 68, 74, 75, 76, 77, 78, 82, 84, 85, 87, 89, 90, 91, 92, 96, 97, 98, 99, 101, 102, 105, 107, 109, 110, 111, 114, 115, 116, 118, 119, 124, 129, 130, 131, 132, 133, 136, 137, 141, 143, 144, 147, 148, 154, 156, 163, 165, 166, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 176, 177, 180, 186, 188, 191, 192, 193, 194, 195, 198, 205, 211, 217, 218, 219, 220, 223, 229, 230, 232, 234, 235, 236, 238, 240, 241, 242, 243, 244, 246, 249, 251, 252, 255, 256, 258, 259, 260, 265, 268, 269, 270, 272, 274, 276 Freycinet, Louis-Claude de Saulces de (1789-1842), 42, 75, 252 Funchal, 28, 162, 163, 164
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Fussey, Léopold Charles Henry de (1814-1875), viajante do OH, 142, 180 Futuna [ilha], 241 Gadebois, Louis-Marie (c. 1807-?), viajante do OH, 220 Gambier, 241 Garneray, Ambroise-Louis (1783-1857), 18, 27, 30 Gaucheraud, Hippolyte (?-1874), 92, 205, 271 Gay, Claude (1800-1873), 212, 233 Gay-Lussac, Joseph Louis (1778-1850), 80, 144, 272 Géricault, Théodore (1791-1824), 217, 244 Gernsheim, Alison (1911-1969), 66, 78 Gernsheim, Helmut (1913-1995), 66, 78 Ginzburg, Carlo (1939- ), 264, 267 Girault de Prangey, Joseph-Philibert (1804-1892), 87 Giroux, François-Simon-Alphonse (c.1775-1848), 46, 73, 78, 79, 80, 81, 83, 93, 123, 124, 127, 268, 272, 273, 274 Gobineau, Arthur (1816-1882), 168 Golfo de Biscaia, 150, 212 Golfo do México, 107 Golfo Pérsico, 107 Goréia, 20, 107, 165, 166, 168, 205, 275 Goupil, Jean-Baptiste Michel Adolphe (1826-1893), 275 Goupil-Fesquet, Frédéric-Auguste-Antoine (1817-1878), 90, 274 Grécia, 87, 110 Grevedon, Pierre Louis (1776-1860), 80, 81, 268 Grosrenaud, Jean-Jacques (?-1842), 99, 100 Guadalupe, 50 Guellec, Eugène (1906-1970), 61, 244 Guiana, 107, 169 Guilherme III, rei da Prússia (1770-1840), 188 Guillotin, Joseph-Ignace (1738-1814), 65 Guinea, 107, 169 Guizot, François Pierre Guillaume (1787-1874), 207, 246 Guran, Milton (1948- ), 26 Hastrel, Adolphe d’ (1805-1874), 28, 184, 203 Henrique IV, rei da França (1553-1610), 69 Herschel, John Frederick William (1792-1871), 55, 69, 70 Holanda, 38 Houssaye, Arsène (1814-1896), 66, 92, 270 Huet, Albert (1822-1866), 229, 232, 244 Huette (ótico ativo no século XIX), 124
Maria Inez Turazzi
Hugo, Victor (1802-1885), 207 Hunt, Robert (1807-1887), 276 Humboldt, Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von (1769-1850), 68, 92, 146, 161, 205 Huzard, Jean-Baptiste (1793-1878), 115 Hynderyck (c. 1819-?), viajante do OH, 142 Índia, 19, 33, 47, 88, 107 Índias Ocidentais, 60 Índias Orientais, 107 Índico, 30, 60, 107, 217, 212, 240 Inglaterra, 38, 40, 41, 53, 54, 55, 60, 62, 76, 84, 85, 86, 90, 91, 96, 110, 132, 136, 149, 157, 168, 169, 174, 176, 194, 217, 235, 240, 243, 272 Iriarte, Tomás de (1750-1791), 147 Iriarte, Tomás de (1794-1876), 202 Isabelle, Arsène (c.1806-1879), 198, 255, 266 Itália, 87, 89, 90, 96, 147, 258 Jacquot, Charles-Desiré (1819-1899), viajante do OH, 166 Jaegher, Edouard Joseph Donatien de (1806-1883), 170 Jal, Auguste (1795-1873), 216 Janin, Jules (1804-1874), 82 Januária de Bragança, princesa do Brasil (1822-1901), 188 Japão, 32 Java (ilha), 142 Jobard, Jean-Baptiste Ambroise Marcellin (1792-1861), 84, 85, 86, 88, 89, 93, 94, 122, 123, 155, 159, 182, 207, 235, 272, 273 Joinville, François-Ferdinand-Philippe-Louis-Marie d’Orléans, príncipe de (1818-1900), 40, 41, 48, 58, 137, 177, 180 Joly de Lotbinière, Pierre-Gustave (1789-1865), 90, 274 Joubert, Didier Numa (1816-1881), 259, 260, 267, 276 Kidder, Daniel Parish (1815-1891), 58, 59, 65, 249 Konig, Etienne (c.1816-?), viajante do OH, 256 Lacépède, Étienne de (1756-1825), 146 Lafayette, Gilbert du Mortier, marquês de (1757-1834), 61 Lafond de Lurcy, Gabriel (1801-1876), 211, 214 Lafone, Samuel Fisher (1805-1871), 196 Lamartine, Alphonse de (1790-1869), 244, 258 Lamas, Andrés (1817-1891), 199, 209 Langsdorff, Georg-Heinrich von (1774-1852), 47 La Pérouse [ou Lapérouse], Jean-François de Galaup, conde de (1741-1788), 36, 37, 38, 45, 46, 47, 48, 60, 121
Índice
Lapierre, Louise, esposa de Saulier de Sauve e viajante do OH, 111, 139, 146, 178, 252, 254, 266 Laplace, Cyrille Pierre Théodore (1793-1875), 42, 218, 244 Largo do Paço (Rio de Janeiro), 179, 182, 185, 187, 265, 267, 275 Laval, Honoré (1808-1880), 241, 266 Lavernos, Louis (c. 1816-?), viajante do OH, 217, 242, 244 Leblanc, Louis François Jean (1786-1857), 194 Lebreton, Joachim (1760-1819), 61 Leclerc, Georges-Louis, ver Buffon, conde de Le Gallen, Léandre (1848-1913), 238, 267 Le Havre, 107, 193, 217, 234 Leopoldo I, rei dos belgas (1790-1865), 89, 109, 110, 111, 112, 142, 154, 170 Lerebours, Nöel-Marie-Paymal (1807-1873), 90, 124, 268, 274, 275 Leroi-Gourhan, André (1911-1986), 54 Lesseps, Jean-Baptiste-Barthélémy, barão de (1766-1834), 38 Lestrange, Charles de (c. 1819-?), viajante do OH, 180, 258 Lion, Jules (c.1810-1866), 275 Lisboa, 26, 28, 57, 60, 107, 135, 140, 147, 148, 149, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 159, 166, 167, 172, 174, 188, 204, 205, 207, 274 Loire, 19, 103, 117, 119, 132, 133, 135 Londres, 55, 56, 136, 204, 235, 244, 259, 271, 273 Lorient, 44, 61, 218 Louis I, rei da Baviera (1786-1868), 64 Louis XVI, rei da França (1754-1793), 36, 39 Louise d’Orleans, rainha da Bélgica (1812-1850), 110 Louis-Philippe I, “rei dos franceses” (1773-1850), 30, 39, 40, 41, 45, 49, 66, 74, 78, 96, 99, 110, 119, 126, 136, 139, 143, 144, 154, 169, 188, 247, 272 Louis, Pierre (c. 1820-1839), viajante do OH, 143, 173 Louyet, Paulin Laurent Charles Evalery (1818-1850), 196 Lucas, Augustin (1804-após 1858), viajante do OH, 24, 30, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 58, 59, 61, 79, 82, 84, 86, 88, 89, 93, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 107, 108, 109, 110, 11, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 134, 135, 137, 138, 139, 140, 141, 143, 144, 146, 148, 149, 150, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 161, 163, 166, 167, 170, 171, 172, 173, 177, 178, 180, 187, 188, 189, 191, 192, 193, 196, 198, 205, 211, 212, 214, 217, 218, 219, 220, 223, 224, 225, 227, 228, 229, 230, 231, 232, 234, 235, 236, 237, 238, 240, 241, 242, 243, 244, 245, 246, 247, 251, 252, 254, 256, 259, 260, 262, 266, 267, 274, 275, 276
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Lucas, Dolores (1835-1868), filha do capitão e viajante do OH, 50, 61, 139, 148, 157, 178, 227, 238, 242, 252 Lucas, Elizabeth Mathilde (1832-1923), filha do capitão e viajante do OH, 50, 61, 139, 148, 157, 178, 211, 227, 238, 242, 244, 252 Lucas, François-Marie (1808-1842), irmão do capitão do OH, 194, 240, 247, 252 Lucas, Louise-Augustine (1816-?), irmã do capitão e viajante do OH, 139, 141, 148, 178, 227, 252 Ludwig I, rei da Bavária (1786-1868), 188 Luraghi, Felicio (comerciante ativo no século XIX), 189, 207 Lyon, 105, 115, 118 Macquarie (praça), 259, 260, 276 Madeira (ilha e arquipélago), 12, 20, 107, 153, 162, 163, 164, 167, 205 Madri, 204 Magalhães, Fernão de (c. 1480-1521), 32, 34, 36, 150, 212, 214 Maldívias, 172 Malvinas (ilhas), 35 Maria II, rainha de Portugal (1819-1853), 149, 152, 154, 156, 159, 188, 274 Marivault, Antoine Jérome Delacoux de (1771-1846), 115, 127, 170 Marquises (ilhas), 241 Marryat, Frederick (1792-1848), 47, 140, 157 Marselha, 90 Martens, Friedrich von [também citado como Frédéric von] (1809–1875), 276 Martin du Nord, Nicolas-Ferdinand-Marie-Louis-Joseph, conde (1790-1847), 101 Martinica, 50, 271 Mar Vermelho, 107 Mary, Benjamin (1792-1846), 162, 189 Masson, Charles (c.1822-1839), viajante do OH, 134 Mata Fontanet, Pedro (1811-1877), 201 Matagne (notário ativo no século XIX), 126 Maurício (ilhas), 60, 240 Maurisset, Théodore (1803-1860), 30, 261 McAdam, John Loudon (1756-1836), 153 McCauley, Anne (1950- ), 75 Mecklembourg-Schwerin, 154 Mediterrâneo, 40, 47 Melgarejo Villalón, Juan (1793-1861), 228
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Mendeville, Jean-Baptiste Washington de (1793-1863), 200 México, 40 Michel, Achile Jules (c. 1821-?), viajante do OH, 142 Moerenhout, Jacques-Antoine (1797-1879), 242, 247 Molé, Louis-Mathieu, conde (1781-1855), 100, 101, 126, 243 Molteni, Antoine [também citado como Antoine Molteno ou François Molteni] (1786-1866), 80, 124 Montaigne, Michel de (1533-1592), 147 Montesquiou-Fezensac, Pierre Joseph Edgard, baron (c. 1820-?), viajante do OH, 142, 181 Montevidéu, 11, 20, 28, 31, 35, 38, 56, 62, 107, 136, 155, 170, 173, 175, 178, 186, 187, 191, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 206, 207, 208, 209, 215, 217, 218, 219, 244, 254, 255, 259, 264, 266, 267, 275 Morand, Augustus (1815-1862), 263, 267 Moreau, Marie-Joseph-Ferdinand-Jean (1819-1883), viajante do OH, 142, 146, 196, 220, 228, 236, 256, 257 Morse, Samuel (1791-1872), 271 Murphy, Jeremiah (comerciante ativo no século XIX), 259, 260, 276 Nantes, 18, 19, 26, 30, 35, 53, 103, 111, 112, 114, 116, 117, 118, 119, 121, 122, 125, 127, 129, 130, 131, 132, 134, 139, 141, 146, 149, 157, 158, 163, 166, 169, 170, 180, 186, 192, 193, 194, 198, 205, 208, 209, 217, 218, 221, 227, 232, 235, 236, 240, 245, 246, 249, 258, 275 Napoleão I (Napoleão Bonaparte), “imperador dos franceses” (1769-1821), 41, 47, 132, 177 Navarre, P. (ativo no século XVIII), 20 Nelson, Horatio, almirante (1758-1805), 60 Nicolau I, imperador da Rússia (1796-1855), 188 Niépce, Joseph Nicéphore (1765-1833), 55, 64, 66, 70, 71, 74, 80, 81, 91, 92, 269, 270 Niépce, Isidore (1795-1868), 74, 79, 84, 85, 88, 122, 123, 155, 272, 273 Niterói, 182 Normand, Henry Jules Felix (c. 1820-?), viajante do OH, 180 Noruega, 258 Nova Iorque, 107, 274 Nova Zelândia, 55, 60, 240, 241, 242 Oceania, 45, 54, 211, 212, 240, 242, 247, 252, 259 O’Higgins Riquelme, Bernardo (1778-1842), 214 Orbigny, Alcide d’ (1802-1857), 21, 198, 208
Maria Inez Turazzi
Oreille de Carrière, Ferdinand (1820-1876), viajante do OH, 232 Oriente, 34, 40, 56, 90, 147, 177 Oriente Médio, 275 Pacífico [oceano], 27, 34, 35, 36, 45, 46, 60, 65, 107, 192, 194, 211, 212, 213, 217, 240, 241, 246, 251, 252 Paimboeuf, 11, 19, 22, 88, 96, 103, 117, 119, 132, 133, 134, 135, 138, 157, 185 Países Baixos, 110, 112 Palais [cidade], 61 Panckoucke, Charles-Joseph (1736-1798), 43 Pão de Açúcar, 178, 250 Papeete, 240, 243 Paris, 18, 20, 23, 24, 28, 30, 34, 35, 40, 43, 44, 46, 47, 48, 51, 52, 55, 56, 57, 58, 61, 64, 66, 67, 68, 69, 71, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 93, 96, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 105, 106, 108, 111, 114, 116, 121, 122, 123, 124, 125, 127, 137, 140, 141, 144, 145, 155, 162, 165, 169, 177, 185, 190, 192, 193, 196, 198, 199, 204, 213, 216, 218, 223, 225, 229, 233, 235, 236, 237, 242, 244, 245, 249, 255, 257, 258, 261, 262, 268, 271, 273, 275, 276 Patagônia, 212, 217, 220, 241 Pedro I, imperador do Brasil, depois Pedro IV, rei de Portugal (1798-1834), 149, 169 Pedro II, imperador do Brasil (1825-1891), 158, 185, 188, 189, 190, 207, 208, 254, 263, 265, 275 Peltier, Barthélemy (c. 1813-?), viajante do OH, 134 Pernambuco, 107, 167, 170, 171, 172, 173, 178, 191, 193, 194, 205, 247 Perrot, Ferdinand (1808-1841), 96 Peru, 219, 256 Peyre (inventor ativo no século XIX), 121, 146, 217 Philipon, Charles (1800-1862), 68, 276 Plancher, Pierre (1764-1844), 57 Plantin de Villeperdrix, Louis-Léopold (1823-?), viajante do OH, 191 Playa Ancha (Chile), 221, 222, 225, 233, 245 Poe, Edgar Allan (1809-1849), 91, 94, 244 Polinésia, 240 Pomaré Vahine IV, rainha do Taiti (1813-1877), 241, 242, 243, 247 Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de (1699-1782), 152 Popelaire de Terloo, Jean-Baptiste Joseph Louis, barão (1810-1870), viajante do OH, 142, 157, 159, 163, 165, 166, 168,
Índice
168, 169, 171, 173, 180, 182, 185, 188, 194, 195, 196, 198, 200, 201, 204, 205, 208, 220, 223, 226, 227, 228, 240, 245, 256, 262, 266 Port Famine (ou Puerto del Hambre), 217 Portugal, 12, 20, 25, 131, 143, 149, 152, 153, 154, 155, 159, 163, 167, 274 Praia d. Manoel (Rio de Janeiro), 179, 184 Praia do Peixe (Rio de Janeiro), 179, 182, 185 Praia Grande, 182 Pritchard, George (1796-1883), 241, 243 Prússia, 64, 263 Punta de los Ángeles (ou Punta de Valparaíso, também indicada nos documentos como Punta de Playa Ancha, Punta del Buey ou del Ruey [sic]), 221, 225, 233, 245 Quai de Conti, 77 Quai d’Orsay, 24, 72, 83, 177 Ramires, Alexandre (1955- ), 26 Rasa (ilha), 178 Raybaud, Jean-François Maxime (1795-1894), 177, 178, 206 Recife, 107, 170, 171, 172, 173, 174, 178, 217, 258 Reunião (ilha), 50, 60, 117, 240 Ribeyrolles, Charles (1812-1860), 207 Ricard, Edmond, conde (c. 1820-?), viajante do OH, 191 Ricard, Etienne-Pierre, conde (1771-1843), 191, 192 Rio de Janeiro, 11, 12, 20, 25, 26, 27, 28, 33, 34, 35, 46, 56, 57, 58, 59, 61, 82, 96, 107, 111, 164, 168, 168, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 183, 184, 185, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 195, 199, 200, 206, 207, 218, 223, 229, 236, 245, 249, 250, 254, 255, 256, 258, 259, 262, 263, 264, 266, 267, 275 Rittner, John Henry (1802-1840), 275 Roca del Buey (ou Cabeza del Buey), 221, 224 Rochefort, 44, 50, 97, 105, 112, 117, 244 Rocher, Michael (inventor ativo no século XIX), 121, 146, 217 Roquebert, Jean-Jacques (notário ativo no século XIX), 108 Rosamel, Claude Charles Marie du Campe de [ou Ducampe de] (1774-1848), 45, 46, 61, 99, 100, 101, 113, 211 Rosas, Juan Manuel de (1793-1877), 194, 195, 196 Ross, Charles Bayne Hodgson (1776-1849), 230, 246 Ross, James Clark (1800-1862), 54, 55 Rossini, Gioachino (1792-1868), 147 Rothschild, Nathan Mayer (1777-1836), 109
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O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840)
Rouargue, Adolphe (1810-1870), 86 Roubert, Paul (1967- ), 68, 91 Rouen [cidade], 30, 109, 110 Rouen [des Mallets], Achille Jean-Marie, barão (1785-1855), 169, 173, 180, 181, 191, 192, 193, 206, 207, 244 Rússia, 64, 90, 188 Sachse, Louis (1798-1877), 88 Saint-Croix, daguerreotipista ativo no século XIX, 273 Saint-Louis (Senegal), 165 Saint-Nazaire, 18, 132, 134, 135, 157 Saint-Pierre et Miquelon (ilha), 258 Salathé, Friedrich (1793–1858), 275-276 Salvador, 28, 58, 59, 107, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 180, 206 Salvandy, Narcisse-Achille de (1795-1856), 101 Sampans, 255 Sánchez [Thompson y Mendeville], Mariquita (1786-1868), 199, 200, 201, 208 Santa Cruz de Tenerife, 165 Santiago (Chile), 102, 220, 229, 230, 245, 246, 256 São Paulo (província), 56, 58 São Petersburgo, 204 Sauvage, Frédéric (c. 1824-?), viajante do OH, 177, 121, 180, 187, 207, 219, 258 Sauvage, Joseph (c. 1825-?), viajante do OH, 121, 177, 187, 219 Sauvage, Pierre-Louis-Frédéric (1785-1857), 121, 122, 127 Say, Horace (1794-1860), 53 Say, Jean-Baptiste (1767-1832), 53 Schobrouck [ou Schoubrouck], Felix Pierre Marie van (c. 1826-?), viajante do OH, 142 Séguier, Armand-Pierre, barão (1803-1876), 90 Senegal, 12, 20, 165, 166, 167, 205, 216, 275 Serruys, Hippolyte (1801-1856), 229 Sevilha, 33 Sidney, 157, 259, 260, 276 Silhouette, Étienne de (1709-1767), 65 Síria, 87, 90, 258 Smyth, William (1813-1877), 54, 210, 231 Soulier (de Sauve), Eugène (?-1850), viajante do OH, 105, 110, 111, 112, 114, 116, 126, 139, 142, 143, 146, 157, 158, 167, 180, 189, 191, 196, 205, 207, 236, 252, 254, 259, 263, 266, 267 Soult, Nicolas Jean-Marie-de-Dieu, ver Dalmatie, duque de,
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Soyer, Evangeline (1863-após 1941), 61, 267 Steuben, Charles Auguste de (1788-1856), 75 Streatfeild, Thomas (1777-1848), 147 Suécia, 90, 275 Suíça, 90, 161 Susse, Nicolas (comerciante ativo no século XIX), 79, 80, 81, 123, 124, 268, 273 Susse, Victor (comerciante ativo no século XIX), 79, 80, 81, 123, 124, 268, 273 Swinton, William Henry (viajante ativo no século XIX), 176 Taillemite, Étienne (1924-2011), 42 Taiti, 235, 240, 241, 242, 243, 247, 254, 259, 260, 266 Talbot, William Henry Fox (1800-1877), 55, 56, 62, 74, 84, 271 Talcahuano, 213, 217 Tasso, Torquato (1544-1595), 147 Taunay, Theodore Marie (1797-1880), 170, 180, 191, 192, 208 Tenerife (ilha), 20, 160, 165, 205 Theux de Meylandt, Barthélemy Théodore, conde de (1794-1874), 110, 112 Thomas, Gilles (c. 1797-?), viajante do OH, 141, 143, 181, 187, 219 Tijuca [maciço], 188, 189 Toulon, 44, 46 Toulouse, 123, 124, 127 Trafalgar, 40, 60 Tupinier, Jean Marguerite (1779-1850), 45, 60 Turquia, 87, 147, 258 Uruguai, 7, 12, 20, 25, 28, 186, 193, 194, 196, 198, 199, 200, 202, 205, 209, 219, 255, 263, 266, 275 Valdívia, 107 Vaillant, Auguste-Nicolas (1793-1858), 42, 116 Valori, Anne-Roland Gustave Gabriel, marquês de (c. 1823-?), viajante do OH, 191 Valparaíso, 22, 28, 31, 36, 50, 60, 102, 107, 139, 146, 159, 172, 173, 181, 198, 210, 211, 212, 213, 214, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 225, 224, 226, 228, 229, 230, 231, 232, 233, 235, 237, 238, 240, 244, 245, 246, 247, 251, 253, 254, 256, 259, 260, 267 Vandelli, Alexandre (1784-1862), 189 Varela, Florencio (1807-1848), 28, 56, 62, 201, 202, 203, 209 Vasquez, Pedro Karp (1954- ), 26 Vázquez, Santiago (1787-1847), 203 Vendel-Heyl, Emile (c. 1817-?), viajante do OH, 146, 218
Maria Inez Turazzi
Índice
Vendel-Heyl, Louis-Antoine (1791-1854), viajante do OH, 101, 102, 143, 146, 218, 255, 256 Verelst, Jean-François (c. 1822-?), viajante do OH, 112, 142, 236, 257 Verne, Jules (1828-1905), 19, 31, 47 Vernet, Horace (1789-1863), 90, 274 Vernet, Joseph (1714-1789), 45 Versailles, 96 Vidal Gormaz, Francisco (1838-1907), 213, 214, 222, 258 Viena, 124, 132, 204 Vilardebó, Teodoro Miguel (1803-1857), 175, 199, 202, 203, 204, 208, 219 Vridays, viajante do OH, 157, 205 Wallis (ilha), 241 Want, Georges (c. 1826-?), viajante do OH, 143 Watkins, Charleton (1829-1926), 253 Wilkes, Charles (1798-1877), 52, 163 Willaumez, Jean-Baptiste Philibert (1761-1845), 44, 47, 48 Wittersheim, Aaron (gravador ativo no século XIX), 52, 61 Wood, Rupert Derek (1933- ), 24, 25, 31, 82, 93, 157, 209, 244, 267
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Agradecimentos
Este livro é dedicado aos que tornaram a história do Oriental-Hydrographe um livro “ao alcance de todos”. Agradeço, especialmente, ao Centro de Fotografia de Montevidéu e sua equipe, por uma parceria tão construtiva; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil, pelo apoio à atividade de pesquisa; ao Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense, pela interlocução com os pares; às instituições de pesquisa citadas e seus funcionários, pelo atendimento cordial e eficiente, destacando-se entre essas instituições o Museu Imperial e aqueles com quem dividi o entusiasmo e as dificuldades do projeto. Gostaria ainda de agradecer, isentando a todos, naturalmente, por equívocos e omissões presentes neste livro, à colaboração e ao afeto de: Abel Alexander, Alain Morgat, Alain Raisson, Alda Heizer, Aldo Villar, Alessandra Fráguas, Alexandre Ramires, Ana Cecília Impellizieri Martins, Ana Luísa A. Camargo, Ana Mauad, Andrea Jakobsson, Andrés Cribari, Angela Magalhães, Angela Maria Pinto da Silva, Áurea M. Freitas Carvalho (in memoriam), Béatrice Chéhu-Souvignet, Boris Kossoy, Carlos A. Addor, Carla Francisco, Claudia Maria de Souza Costa, Claudio Figueiredo, Christine Barthe, Daniel Sosa, Elisabete Almeida, Ernani Turazzi, Fabiana
Miranda de Paula, Federico Brum Bazet, Francisca Helena M. Araújo, Francisco Costa, Françoise Peemans (in memoriam), Françoise Reynaud, George Ermakoff, Grant Romer, Gustavo Marigo, Inés Trabal, Inez Wist Turazzi, Izolete Raisson, Jaime Acioli, Jaime Turazzi Naveiro, Javier Muñoz, Juan Antonio Varese, Karin Althén, Lauren Lean, Lys Gainza, Lucía Benavente, Luciano Figueiredo, Luis Priamo, Luiz Turazzi Naveiro, Márcia Trigueiro (in memoriam), Marcio Miquelino, Marcos Venício T. Ribeiro, Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, Maria Eduarda Victolla Paiva, Maria Estela de Freitas Jardim, Maria de Lourdes Parreiras Horta, María Eugenia Martínez, Maria Isabel Ribeiro Lenzi, Marie-Christine Claes, Marie-Sophie Corcy, Mauricio Bruno, Max Justo Guedes (in memoriam), Milton Guran, Miriam Cardozo de Souza, Miriam Saboni, Moe Ahlstrand, Moema Mariani, Monica Carneiro Alves, Nadia Terkiel, Nataraj Trinta, Nazareth Coury, Neibe Cristina M. Costa, Patrice Wuillaume, Patricia Brigida Pimentel, Paulo Berger (in memoriam), Paulo Geyer (in memoriam), Paulo Knauss, Pedro Karp Vasquez, Pierre Fournié, Philippe Charon, Rafael Sento Sé, Ricardo Manfredi Naveiro, Rodrigo Turazzi, Ruy Souza e Silva, Sandra Baruki, Sandra Porteous, Sergio Burgi, Silvia Patuzzi, Solange Zuñiga (in memoriam), Stephen F. Joseph, Tristan Schwilden, Vanina Inchausti. A Carl von Essen, agradeço por tudo.
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Fotografia do arquivo pessoal da autora.
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Sobre a autora Maria Inez Turazzi
Historiadora, doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo (1998), pesquisadora e consultora ad-hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em História e do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (Brasil), bem como do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (Portugal). Entre 1984 e 2014, trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e no Instituto Brasileiro de Museus, em especial na curadoria da Coleção Geyer (brasiliana doada ao Museu Imperial), onde desenvolveu atividades de preservação, pesquisa e divulgação desse acervo, reproduzido em várias páginas deste livro. Como pesquisadora visitante, trabalhou no Departamento de Fotografia do Museu Carnavalet (Paris, 2001) e realizou um pós-doutorado na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (2012). É autora de artigos e capítulos de livros publicados na Inglaterra, França, Argentina, Espanha
e Portugal, além de diversos artigos e livros sobre fotografia, patrimônio e história do Rio de Janeiro, lançados no Brasil. Entre os livros que publicou, destacam-se: Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo, 1839-1889 (1995); Marc Ferrez (2000); Iconografia e patrimônio: a Exposição de História do Brasil e a fisionomia da nação (2009); Rio, um porto entre tempos (2016) e, em coautoria, Rio de Janeiro-Buenos Aires, duas cidades modernas (2004); O Brasil de Marc Ferrez / Le Brésil de Marc Ferrez (2005); Ensino de história: diálogos com a literatura e a fotografia (2012), obra selecionada pelo Programa Nacional de Biblioteca na Escola; Um porto para o Rio; imagens e memórias de um álbum centenário (2012); Rio 400+50; comemorações e percursos de uma cidade (2014). Estudando a história do Oriental-Hydrographe, esteve em quase todos os portos alcançados pela expedição, bem como no local de seu naufrágio.
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O objetivo do Centro de Fotografia de Montevidéu (CdF) é estimular a reflexão, o pensamento crítico e a construção de uma identidade cidadã baseada na promoção de uma iconosfera próxima. Isso implica, de um lado, colocar em circulação imagens ligadas à história, ao patrimônio e à identidade dos uruguaios e dos latino-americanos, que os ajude a se relacionar entre si e a ter a possibilidade de se questionar como sujeitos sociais, no entendimento de que, apesar de que sua vida cotidiana é marcada pela circulação massiva de imagens, poucas têm a ver com esses aspectos. De outro lado, este objetivo implica a necessidade de facilitar o acesso, tanto dos autores de imagens uruguaios e latino-americanos quanto dos cidadãos em geral, às ferramentas técnicas e conceituais que lhes permitam elaborar seus próprios discursos e linguagens visuais. Com base nesses princípios e considerando enfoques e perspectivas plurais, pretendemos ser uma instituição de referência nacional, regional e internacional; gerando conteúdos, atividades, espaços de intercâmbio e desenvolvimento nas diversas áreas que compõem a fotografia. O CdF foi criado em 2002, e é uma unidade da Divisão de Informação e Comunicação da Prefeitura de Montevidéu. Desde julho de 2015, opera no denominado Edifício Bazar, prédio histórico localizado na Av. 18 de Julio 885, inaugurado em 1932 e onde funcionou, desde 1940, o emblemático Bazar Mitre. A nova sede, dotada de maior superfície e
um espaço para a pesquisa e geração de conhecimento sobre fotografia em seus diversos aspectos. Contamos com uma equipe de trabalho multidisciplinar, comprometida com seu trabalho, em constante capacitação e profissionalização nas diferentes áreas do fazer fotográfico. Para isso, promovemos um diálogo fluido e o estabelecimento de vínculos com especialistas de todo o mundo, propiciando a consolidação de um espaço de encontro, difusão e intercâmbio de conhecimentos e experiências com pessoas e instituições do país e da região. Em 2013, o CdF tornou-se a primeira instituição cultural pública no Uruguai a obter um certificado de qualidade em todos os seus processos de trabalho (Norma ISO 9001: 2008).Em 2017, obtivemos a certificação através da Norma ISO 9001: 2015, que nos permitiu manter um crescimento organizado em todo o funcionamento e melhorar os serviços dedicados aos diferentes públicos. Apoiamos instituições sociais e culturais no uso da fotografia como ferramenta para divulgar seus conteúdos. Isso implica a construção de discursos e estéticas visuais que maximizem o potencial comunicativo das imagens. Temos os seguintes espaços destinados exclusivamente à exposição de fotografia: as três salas localizadas no edifício sede, Térreo, Primeiro Andar e Subsolo, e as fotogalerias Parque Rodo, Prado, Cidade Velha, Peñarol, EAC (Espaço de Arte Contemporâneo), Goes, Capurro e Unión, instaura-
melhor infraestrutura, aumenta as possibilidades de acesso aos diferentes meios fotográficos e diversos serviços do CdF. Gerenciamos, sob regulamentos internacionais, um acervo que contém imagens dos séculos XIX, XX e XXI, em permanente expansão e com ênfase na cidade de Montevidéu. Além disso, criamos
das como espaços ao ar livre de exposição permanente. Todo ano realizamos convocações abertas para todos os públicos, nacionais e internacionais, para a apresentação de propostas de exposições. As propostas são escolhidas por meio de um comité de seleção externo e são adicionadas às exposições convidadas e às quais co-produzimos juntamente
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com outras instituições, no âmbito da nossa política de exposições. Entre 2007 e 2013, organizamos quatro edições do Fotograma, um festival internacional de fotografia de caráter bienal, no qual foram expostas obras representativas de produção nacional e internacional, gerando espaços de exposição e promovendo a atividade fotográfica em todo o país. Em 2014 foi anunciado o encerramento do Fotograma para apresentar um novo modelo de festival fotográfico, privilegiando processos criativos a partir da pesquisa de diferentes temas. Assim, foi criado o MUFF (Festival de Fotografia Montevidéu Uruguai), que acontece a cada três anos. A primeira edição do MUFF (2016 - 2017) incluiu laboratórios de reflexão, conferências, workshops, performances e mais de vinte exposições derivadas de longos processos individuais e coletivos de pesquisa. O Festival foi concebido como uma incubadora de ideias e uma maneira de produzir e multiplicar experiências e conhecimentos. Desde 2007 produzimos f/22. Fotografia em profundidade, programa de televisão em que são divulgadas noções de técnica, é difundido o trabalho de vários autores do mundo inteiro e é feita entrevista a pessoas ligadas à fotografia das diferentes áreas. Todos os programas do ciclo podem ser visitados em nosso Website. Além disso, fizemos Fotograma Tevé, um ciclo que abarcou as quatro edições do festival Fotograma, MUFF Tevé, ciclo que abrangeu os processos de trabalho do novo Festival, e participamos e produzimos audiovisuais específicos, como o documentário Ao pé da árvore branca, que conta a descoberta de um grande arquivo de negativos de
de especialistas do país e do mundo, criadas para aprofundar a reflexão e o debate em torno de temas específicos: arquivos, história, fotografia e política, educação, era digital, entre outros; e o Primeiro Encontro Internacional de Fotografia Patrimonial, realizado em 2017, que contou com a participação e contribuição de especialistas convidados, como Anne Cartier Bresson, Sylvie Penichon, Luis Pavão, Grant Romer, Joan Boas e Rasset, Fernando Osório e Sérgio Burgi. Por causa da constatação da falta de oportunidades de treinamento em questões de conservação do patrimônio fotográfico, e porque este não só é um problema exclusivo do Uruguai, mas também da região e do mundo, o CdF criou o Centro de Formação Regional que tem como primeira linha de ação a conservação do patrimônio fotográfico. Este Centro surge da necessidade de se ter um lugar para formar capital humano responsável pela sobrevivência dos arquivos de imagens e, em consequência, da rede de conhecimentos e contatos que o CdF desenvolveu com vários especialistas latino-americanos, o que torna isso possível. Visando estimular a produção de obras fotográficas e livros de fotografia, realizamos anualmente uma convocatória aberta para a publicação de livros fotográficos de autoria e pesquisa, e consolidamos a linha editorial CdF Ediciones. Também fizemos o encontro de fotolivros no CMYK, composto de palestras, exposições, workshops, feiras, entrevistas e revisão de modelos. Na nova Loja do CdF, os visitantes têm publicações disponíveis e vários objetos relacionados com a fotografia. Os recursos gerados pela venda
imprensa perdidos por mais de trinta anos. Como parte de nossas atividades de treinamento e divulgação, realizamos palestras anuais, workshops e diferentes atividades. Estes incluem Fotoviaje, uma trajeto fotográfico através do tempo e destinado às crianças; as oficinas sobre fotografia, que realizamos desde 2005 com a presença
desses produtos são destinados à continuidade da produção editorial, bem como à promoção e formação em fotografia. A comunicação com os mais diversos públicos se torna mais forte por meio das pontes criadas pelas redes sociais e pela transmissão online de todas as nossas atividades públicas.
Intendente de Montevideo Christian Di Candia Secretario General Fernando Nopitsch Director División Información y Comunicación Marcelo Visconti
Equipo Centro de Fotografía Director: Daniel Sosa Asistente de Dirección: Susana Centeno Jefa Administrativa: Verónica Berrio Coordinador: Gabriel García Coordinadora Sistema de Gestión: Gabriela Belo Comité de Gestión: Daniel Sosa, Gabriela Belo, Verónica Berrio, Susana Centeno, Gabriel García, Lys Gainza, Francisco Landro, Johana Santana, Javier Suárez Planificación Estratégica: Gonzalo Bazerque, Luis Díaz, Lys Gainza, Andrea López Secretaría: Gonzalo Bazerque, Martina Callaba, Natalia Castelgrande Administración: Martha Liuzzi, Marcelo Mawad, Silvina Carro Gestión: Gonzalo Bazerque, Johana Maya Producción: Mauro Martella, David González Curaduría: Victoria Ismach, Natalia Viroga Fotografía: Andrés Cribari, Luis Alonso, Ricardo Antúnez Ediciones: Lys Gainza, Andrés Cribari, Nadia Terkiel Expografía: Claudia Schiaffino, Mathías Domínguez, Laura Núñez, Serena Olivera, Martín Picardo, Jorge Rodríguez, Nadia Terkiel Conservación: Sandra Rodríguez, Jazmín Domínguez, Valentina González Documentación: Ana Laura Cirio, Mauricio Bruno, Alexandra Nóvoa, Lucía Mariño Digitalización: Gabriel García, Horacio Loriente, Guillermo Robles Investigación: Mauricio Bruno, Alexandra Nóvoa, Lucía Mariño Educativa: Lucía Nigro, Mariano Salazar, Juan Pablo Machado, Ramiro Rodríguez Atención al Público: Johana Santana, Gissela Acosta, Andrea Martínez, José Martí, Darwin Ruiz, Valentina Chaves, Camila Rivero, Mariana Sierra Comunicación: Francisco Landro, Elena Firpi, Natalia Mardero, Laura Núñez, Ernesto Siola, Santiago Vázquez Técnica: Javier Suárez, José Martí, Darwin Ruiz, Pablo Améndola, Miguel Carballo Actores: Pablo Tate, Darío Campalans
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© Maria Inez Turazzi © Centro de Fotografía de Montevideo cdf.montevideo.gub.uy cdf@imm.gub.uy Intendencia de Montevideo, Uruguay. Primeira edição (português): 500 exemplares, dezembro 2019. Primeira edição (espanhol): 700 exemplares, dezembro 2019. Primeira edição (inglês): digital, dezembro 2019. O conteúdo desta publicação é propriedade e responsabilidades dos autores. Proibida a sua reprodução total ou parcial sem prévio conhecimento. Realização: Centro de Fotografia / Divisão de Informação e Comunicação / Intendência de Montevidéu (Uruguai) Coordenação: Lys Gainza/ CdF Planejamento: Luis Díaz/ CdF e Mauricio Bruno/ CdF Texto de apresentação do CdF: Mauricio Bruno/ CdF Tradução para o espanhol: Federico Brum Tradução para o inglês: Inés Trabal Tradução do prólogo para o inglês e o espanhol: Federico Brum Tradução da apresentação e do texto do CdF para o português: Carolina Ferrín Tradução da apresentação do CdF para o inglês: Federico Brum Tradução do texto e da equipe do CdF para o inglês: Lindsey Cordery e Pablo Deambrosis Padronização do espanhol: María Eugenia Martínez Revisão dos textos: Claudio Figueiredo (português); Sandra Porteous (inglês) Pesquisa e edição de imagens: Maria Inez Turazzi Produção de imagens: Vanina Inchausti e Lys Gainza/ CdF Reproduções fotográficas e/ou digitalização: Academia Brasileira de Letras – Rio de Janeiro (Brasil), Archives départementales de Loire-Atlantique – Nantes (França), Archives diplomatiques de Belgique – Bruxelas (Bélgica), Bayerischen National museums – Munique (Alemanha), Biblioteca Nacional de Chile – Santiago (Chile), Bibliothèque municipale de Toulouse – Tou-louse (França), Bibliothèque nationale de France – Paris (França), Coleções particulares Alexandre Ramires e António Rami-res (Portugal), Andrés Linardi (Uruguai), George Ermakoff e Ruy Souza e Silva (Brasil), Conservatoire national des arts et métiers / Musée des arts et métiers – Paris (França), George Eastman Museum – Rochester (Estados Unidos), Institut Royal du Patrimoine artistique – Bruxelas (Bélgica), Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro (Brasil), John Carter Brown Library – Providence (Estados Unidos), Musée Carnavalet – Paris (França), Musée National de la Marine – Paris (França), Musée Nicéphore Niépce – Chalon-sur-Saône (França), Museo Historico Cabildo – Montevidéu (Uruguai), Museo Histórico Nacional – Buenos Aires (Argentina), Museo Historico Nacional de Chile – Santiago (Chile), Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro (Brasil), Museu Imperial – Petrópolis (Brasil), National Maritime Museum – Greenwich (Inglaterra), Service historique de la Défense / Département de la Marine – Vincennes (França), Société française de photographie – Paris (França), The Bowes Museum – Durham (Inglaterra), The J. Paul Getty Museum Los Angeles (Estados Unidos), Westlicht Photography Museum - Viena (Aus-tria), Centro de Fotografia de Montevideo – Montevidéu (Uruguai) Tratamento digital: Andrés Cribari/ CdF e Gabriel García/ CdF Projeto gráfico: Nadia Terkiel/ CdF Impresso e encadernado no Uruguai na Gráfica Mosca Depósito Legal 376.889. Edição Amparada pelo Decreto 218/96 COM O APOIO DO IMS O Oriental-Hydrographe e a fotografia. A primeira expedição ao redor do mundo com uma “arte ao alcance de todos” (1839-1840) / Maria Inez Turazzi 1er ed. en portugués - Montevideo: CdF, 2019 384p. il.color; 21x21cm. ISBN: 978-9974-906-03-7 1. FOTOGRAFIA – HISTÓRIA 2. DAGUERREOTIPIA 3. VIAGENS AO REDOR DO MUNDO
Sede CdF. Av. 18 de Julio 885. 16 de fevereiro de 2018. Foto: 70732FMCMA.CDF.IMO.UY - Autor: Andrés Cribari/CdF.