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Você já pensou como seria se as CRIANÇAS GOVERNASSEM O MUNDO?

Puro engano quem pensou que as crianças pensariam somente em transgredir as regras e as ordens que lhe são “impostas”. Os pequenos têm uma capacidade de pensar sobre o mundo de forma global e local de maneira muito complexa e crítica. E cabe a nós, adultos, acolher todo esse potencial que pulsa nelas, para percebermos o quanto elas podem nos surpreender e nos ensinar sobre cidadania, amor ao próximo e cuidado com a casa comum.

Justamente por acreditar que as crianças são construtoras de conhecimentos, identidades e culturas, sujeitos históricos e de direitos, que os estudantes do Infantil 5, da Educação Infantil do Colégio Medianeira, foram desafiados, por meio da obra “Se criança governasse o mundo...” de Marcelo Xavier, a pensar e refletir sobre as possíveis ações para essa tarefa tão complexa.

Esse projeto partiu de um momento de reflexão entre as professoras sobre a função atribuída ao ajudante da turma, e escolheu-se o livro “Se criança governasse o mundo...” para dialogar e escutá-las sobre um assunto tão complexo em nossa sociedade. Após a leitura do livro, com mediação das professoras, as crianças refletiram sobre suas ações no contexto em que vivem, e compartilharam experiências sobre as potencialidades e problemáticas da nossa casa comum. Esse momento permitiu o entendimento sobre consciência coletiva e individual e sobre como nossas ações afetam as pessoas e os lugares em que habitam e se relacionam.

Provocar as crianças a pensarem sobre a possibilidade de governar o mundo é contribuir para a formação integral, pois “toda ação educativa converge para a formação da pessoa, enfatizando a necessidade de reconhecer as potencialidades do indivíduo e garantindo o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, socioemocionais e espiritual-religioso.”

(PEC 40, p. 39, 2021-2025)

A partir desse movimento, as crianças começam a tomar consciência, a se responsabilizar em suas ações e a perceber em quanto podem modificar o meio em que vivem de forma crítica, criativa, ética e reflexiva. Mas as hipóteses e reflexões das crianças são tão simples quanto complexas, pois ao mesmo tempo que nos mostram ingenuidade sobre assuntos tão profundos, nos fazem perceber o quão potentes são suas ideias quando nos dão respostas sobre o relançamento do título do livro como um questionamento: Se você (criança) governasse o mundo, o que faria?

- Se eu governasse o mundo, eu ia viver no espaço e levar todos os cachorros para lá.

(E. 6 anos e 11 meses).

- Se eu governasse o mundo, todas as pessoas se gostariam e se ajudariam.

(A. 6 anos e 5 meses)

Essas respostas evidenciam o quanto as crianças fazem uma relação direta com o contexto vivenciado e experienciado. Afinal de contas, o que motivou a pensarem dessa forma? Podemos perceber uma certa empatia sobre a temática dos animais e seus cuidados. O quanto a interação com esses animais lhe afetam socialmente e emocionalmente? Como estão sendo suas experiências relacionadas em seu contexto familiar e social? Quais as dificuldades encontradas para estabelecer em vínculos com seus pares e com os adultos? O que já internalizavam e aprenderam sobre relacionamentos?

A literatura infantil é um instrumento potente para o desenvolvimento integral da criança, pois gera a possibilidade de se conhecerem e interagirem de maneira autônoma consigo, com o outro e com o mundo. Além disso, pode ser acessada por estudantes e professores/as de forma independente e/ou mediada, permitindo simultaneamente o dialogismo entre as linguagens verbais e não verbais, e entre as ilustrações, que ganham protagonismo tanto quanto as narrativas. Esse processo é perceptível pelo encantamento dos pequenos e pelas relações estabelecidas logo nas primeiras páginas.

Desta forma, percebemos que a literatura, em/para todas as idades é espaço e tempo de construção imagética, que promove empatia e alteridade, além dos diversos objetivos que a fazem ser necessária na formação do indivíduo e na rotina diária das crianças. Pensando nisso, entende-se que esse foi o disparador para uma reflexão que fomentou a vontade de promover um mundo melhor, mais justo e igualitário, sob a ótica da infância e a prática do Magis Inaciano, tão atual no cotidiano.

A tessitura dos conhecimentos e ideias se mostram presentes desde muito cedo no Colégio Me - dianeira, fazendo parte da formação do sujeito integral, auxiliando na promoção de atitudes para a cidadania global. Esse conceito fica evidenciado quando as crianças se deparam com a seguinte parte da história:

“GUERRAS, SE EXISTISSEM, NÃO TERIAM TIROS NEM BOMBAS. TERMINARIAM SEMPRE BEM, COM AMIGOS E INIMIGOS GUARDADOS JUNTOS NA CAIXA DA PAZ” (XAVIER, p. 8, 2009)

Ao serem questionados sobre o que entendem por guerra, rapidamente expõem suas teorias:

- Guerra é separação dos pais e dos filhos. As crianças podem morrer. (J. 5 anos)

- Guerra é morte. (A. 5 anos)

- A Ucrânia e a Rússia estão brigando e não se conversam. Os reis são bobos. (R. 5 anos)

A partir do exposto, é possível ampliar o debate e iniciar uma construção macro sobre o conceito de guerra com as crianças, que aos poucos vão estabelecendo relações com as diferentes realidades e ressignificando as infor- mações que lhe chegam de diferentes maneiras e interpretações.

As crianças dessa faixa etária já tomam consciência entre o faz de conta e o real e verbalizam as opiniões de forma clara, mesmo que quando simbolicamente as brincadeiras são de lutas, espadas e armas. Ao opinarem sobre a realidade das guerras, há relatos como:

- Não gosto da guerra! (T. 6 anos).

Essa temática sobre o ato de governar está refletindo em diferentes âmbitos. No atual momento da escrita deste artigo, estamos investigando com as crianças a possibilidade de refletir sobre “E se as crianças governassem o Colégio Medianeira” como ele seria? Com essa reflexão, iremos buscar juntos a possibilidade de praticar algumas das sugestões delas, contribuindo para a gestão participativa e sistêmica na qual o Colégio se respalda, cooperando para uma formação de cidadãos competentes, conscientes, compassivos, criativos e comprome -

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