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A experiência estética como conhecimento
Os estudantes que permanecem no tempo integral do Colégio Medianeira da Rede Jesuíta têm um amplo currículo na formação acadêmica e humana, contando com a orientação de profissionais, que auxiliam na organização do hábito de estudo e oferecem acompanhamento no desenvolvimento de suas aprendizagens.
A criança que permanece em tempo integral tem à sua disposição aulas exclusivas para a prática de atividades esportivas e vivências artísticas/culturais, promovendo para as meninas e os meninos contextos ricos de aprendizagens, auxiliando-os na sua formação integral, compreendendo enquanto sujeitos que são complexos e são formados na composição de suas variadas dimensões.
Na oficina de Artes do Colégio Medianeira, são oportunizadas experiências diversas, a partir da linguagem artística privilegiada, sendo: Artes Visuais, Dança e Teatro. Os conteúdos são explanados e desenvolvidos por meio de processos e procedimentos criativos, gerando mais aprendizagens; em tais processos a criança é protagonista da sua ação imaginativa, exercitando seu pensamento estético e intelectual. O exercício do pensamento estético é promovido por meio da manipulação de diferentes materialidades, leituras de vídeos, imagens, literatura, obras de arte, manifestações artísticas e culturais, que ampliam o repertório expressivo e de comunicação da criança. A partir dos fatos mencionados, cabe refletirmos: o que a experiência artística oportuniza para uma educação integral?
Na edição da Revista Mediação do ano de 2018, a equipe diretiva do colégio medianeira discorreu sobre o tema educação integral no capítulo: Aprendizagem e formação integral nas diferentes fases e dimensões da vida escolar. Nesta passagem da revista, deparamo-nos com a seguinte atribuição: “uma aprendizagem que perpassa e transpassa o campo da experiência” (MIRANDA, et. al. 2018, p.17).
Jorge Larrosa (2002), professor de Filosofia da Educação na Universidade de Barcelona, na Espanha, doutor em Pedagogia e membro de conselhos de redação e comitês científicos de revistas internacionais, nos apresenta uma nota sobre experiência e o saber da experiência. “A primeira coisa que gostaria de dizer sobre a experiência é que é necessário separá-la da informação” (BONDÍA, 2002, p.22).
Segundo Jorge Larrosa, a experiência é diferente da informação, pois essa última tem como finalidade informar sobre um acontecimento, um fato, uma notícia, ou seja, informar sobre algo, como neste texto, em que você lê informações sobre a Arte no contexto da Educação. Mas, a “experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca” (BONDÍA, 2002, p21). Cada experiência é única e singular para cada sujeito que passa pela vivência. Para o autor, esse sujeito de experiência seria algo como um território de passagem, aquele que é afetado e afeta, que está aberto à transformação.
Deste modo, a experiência tem muito a ver com a formação e a transformação do sujeito, que, por sua vez, tem muito a ver com a educação dos sentidos, a educação da nossa percepção sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre os encontros, sobre as leituras que fazemos das realidades. A educação do sentido esbarra no território da estética, que está profundamente imbricado na Arte.
A experiência, a possiblidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito ter paciência e dar-se tempo e espaço. (BONDÍA, 2002, p.24).
Conforme enfatizam o professor Marcos Camargo (2019) e a professora Solange Stecz (2019), ambos professores do mestrado profissional em Artes da Universidade Estadual do Paraná, todo conhecimento humano não depende exclusivamente do verbo (informação) e do número para ser processado, porque pode ser também por meio de outras linguagens e experiências de caráter estético. Para Camargo (2021), entende-se por estética “o conhecimento processado por meio de percepções, sintomas, sensações, sentidos, afetos e intuições” (2021, p. 21).
Pensar em uma educação integral faz rememorar a palavra: memória que, por sua vez, está em interação constante com o nosso corpo e a experiência promovida por ela. Tudo que passa por meio dos nossos sentidos, dependendo do grau da experiência, nos produz uma memória. Conforme argumenta Camargo (2021), sendo memória implícita, que se constitui a partir da formação de conhecimento que ocorre de modo independente da consciência. Essa memória do conhecimento é difícil de ser passada por meio de conceito (informação), mas pela experiência do corpo. Por exemplo, o andar de bicicleta, pintar, cantar, representar etc. Para cada sujeito a experiência será diversa e muito singular, produzindo conhecimento.
Deste modo, promover uma educação integral na Oficina de Artes é oportunizar aos estudantes experiências que passam pelo corpo, pelo pensamento estético. Nesta caminhada, cada criança atribuirá sentido para o seu fazer artístico, relacionando-se com diferentes saberes e conhecimentos. O objetivo para uma educa- ção integral é valorizar e respeitar a forma como cada criança (se) expressa e (se) comunica além da linguagem verbal, compreendendo que as linguagens servem para instrumentalizar pensamentos, ideias, sentimentos de um sujeito em constante devir na sociedade.
A oficina de Artes engaja o protagonismo e a autoria de cada criança pensando fora dos modelos, mas a partir de si, para e com os demais.
Nesse ato de pensar a estética no contexto escolar, segue abaixo uma experimentação de como se oportunizam experiências para a oficina de Artes do Colégio Medianeira.
A Oficina de Arte nas turmas do integral do Colégio Medianeira tem como tema norteador os procedimentos e processos criativos, críticos, reflexivos, cognitivos, artísticos e estéticos de aprendizagem “minha marca no mundo: identidade e autoria”. Sabemos que todos os seres humanos deixam a sua marca no planeta, assim, todo o trabalho desenvolvido pelas crianças terá como foco central o seu protagonismo expressando a sua marca pelos caminhos que percorrer.
A Oficina de Artes tem oportunizado aos estudantes experiências diversas com foco na alfabetização artística e dos sentidos e apresenta a ideia de que todos nós necessitamos expressar, comunicar e deixar as nossas marcas no mundo, nos diferentes caminhos que percorreremos ao longo de nossa trajetória escolar e na vida. Essas passagens devem ocorrer de forma responsável, respeitando o outro e o ambiente, seja ele natural e/ou de convivência.
A intencionalidade do trabalho se difere do ensino de Arte na Educação Básica, por ter características do currículo escolar flexível, ampliando os diálogos entre o desejo do que o estudante quer aprender e os conteúdos a serem ministrados, oportunizando aos estudantes um maior aprofundamento nos conhecimentos práticos e estéticos, bem como desenvolver e aprender habilidades e competências transdisciplinares, por meio da linguagem híbrida na o professor organiza sua ação docente de tal forma que favorece aos estudantes o contato, a apropriação, a formulação e a reformulação em relação ao conhecimento, atuando sempre para tornar efetiva a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para o exercício da autonomia” (PEC 42, 2021, p.39).
Arte, assim, a partir do interesse em comum da série/grupo de estudantes, a criança escolhe o que quer aprender e o professor irá abordar os interesses, por meio dos gêneros artísticos, que abarcam o grande escopo das linguagens da Arte.
Conforme os pressupostos educativos da Rede Jesuíta de Educação,
Nesse sentido, essa autonomia científica, técnica, estética e tecnológica será exercitada e desenvolvida através da promoção de experiências diversas, por meio das linguagens da Arte. O contato com tais experiências fará com que a criança, futuramente, possa realizar escolhas autônomas e aprofundar os seus conhecimentos técnicos, estéticos e culturais no interpretar, apropriar, experimentar, criar e comunicar por meio da Arte.
No ambiente de criação e de convivência se valoriza o tempo e o processo de criação de cada criança, variando suas aprendizagens.
Qual é a marca que você quer deixar na vida das pessoas e por onde quer passar?
Assim como Santo Inácio deixou a sua marca na Educação, artistas e cientistas que passaram pelo mundo depois dele deixaram as suas marcas também na humanidade. Pensando na contemporaneidade, sem apagar a memória dos demais artistas, Sebastião Salgado se utilizou da linguagem fotográfica para registrar, expressar e comunicar para o mundo lugares intocados pelo “Homem”, mas também um banquete à reflexão sobre as desigualdades geradas a partir da ação humana. Vik Muniz deixou a sua marca ao realizar trabalhos voltando o nosso olhar para o cuidado com a nossa casa comum, ao compor a sua obra: Lixo Extraordinário, provocando o olhar, por meio da arte, para os impactos da produção de resíduos. Esses temas possibilitam diálogos e proximidades com o contexto da educação globalizada.
As oficinas pretendem, intencionalmente, iniciar os trabalhos a partir de artistas, autores(as), sobretudo pessoas que deixaram as suas marcas na humanidade, oportunizando aos estudantes deixarem as suas também de forma responsável, sensível e humana.
Para garantir uma educação integral que abranja e corresponda ao contexto social contemporâneo e que fortaleça e desenvolva características necessárias para uma sociedade mais globalizada e diversificada, as passagens trimestrais terão como enfoque o: olhar para si, olhar para o outro e olhar para nós. Tais dimensões correspondem às aprendizagens necessárias para que o estudante possa comunicar, transformar, manipular, criar, discernir, sistematizar, relacionar, expressar, recriar, interpretar em diferentes suportes visuais, corporais e expressivos da linguagem da Arte.
Olhar para si: momento, em que o estudante com ou sem mediação do professor, exerce/desenvolve a inteligência intrapessoal, maneira de entender o próprio comportamento, sentimento, conduzindo na criação da sua identidade, expressando e comunicando suas ideias/sentimentos;
Olhar para o outro: capacidade de dialogar, escutar e compreender as diferentes opiniões, lidando com as adversidades, mas ao mesmo tempo reconhecendo que para sermos únicos dependemos do outro, ao identificarmos o sentido das palavras: empatia, equidade e alteridade.
Olhar para nós: momento, em que os estudantes serão mediados, para discutirem sobre assuntos emergentes na sociedade, exercitando e sugerindo soluções sustentáveis, promovendo intervenções nos espaços da escola/ comunidade, por meio da Arte. comente este artigo: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
As aulas e o método de ensino percorrem os três domínios interdependentes e correlacionados designadamente: leitura e reflexão, experimentação e criação e interpretação e comunicação.
Pensar em uma sociedade que está em relação com o todo é projetar um planejamento que está em relação com a sociedade. O modo como pensamos a educação globalizada e a ecologia integral deve ser encarado como critério nos momentos de projetar os planos de aula. Elaborar um planejamento para as aulas da oficina de Arte é escutar as vontades, as dificuldades, as necessidades das crianças, dando voz, corpo e espaço, valorizando as expressividades da infância, educando os meninos e as meninas a exercerem de forma autônoma seus papéis de sujeitos conscientes, compassivos, comprometidos e criativos frente aos desafios do presente e do futuro.