Assinatura & cartas Flavio Daflon e Cintia Adriane Rua Valparaíso, 81 / 401 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ. Cep 20261.130 Tel.: (21) 567-7105 E-mail: fator2@pobox.com www.webspace.com.br/ciaescalada/fator2
Fator2-Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.
Atenção Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um Instrutor ou Guia de escalada em rocha. Caso você não conheça ou possua dúvidas em relação às técnicas de segurança para a prática do esporte, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. Capa: Antônio Paulo no Ácido Glutâmico (VIIc) em 1986 com conguinha nos pés. Foto: Arquivo Antônio Paulo. Nº13 Fevereiro 15 / Abril 1, 2001
N o s s a
P a l a v r a
Faltando Espaço... A Fator2 tem o prazer de dedicar o editorial desta edição, a todos os nossos colaboradores. O número 13 da revista bateu o recorde em recebimento de artigos! Alguns foram publicados, entre eles dois excelentes textos: um contando a história da escalada esportiva no Brasil, escrito pelo Antônio Paulo (RJ), escrito pelo Oswaldo Cruz (ES). Também publicamos 3 notas muito interessantes, a da viagem do Tartari a Yosemite (EUA), da Francine Machado com dicas de escaladas no Chile, e as novas vias de Brasília, do Duda e Bera. Isso sem falar nos dois artigos que inauguram a seção Opinião, com o Cristiano Requião e o Nilton Campos (ambos cariocas), e que está aberta para todos que quiserem expressar suas idéias em relação ao montanhismo em geral. Queremos ainda agradecer as matérias enviadas pelo Luís Carlos Silva, PR (sobre as escaladas móveis em São Luís do Purunã), Alex Ribeiro, RJ (sobre a Conquista da Maria Comprida, em Petrópolis), André Ilha, RJ (com conquistas no Ceará), Marcos Iwamura, PR (sobre o Cerro Pissis, na Argentina), Julio Campanella, RJ (com conquistas no Rio), Kawamura, PR (escaladas na Argentina) e José luis Capachào, PR (conquistas no Ibitiraquire). Textos estes que só não foram publicados por falta de espaço. Agradecemos imensamente a todos que colaboram com a Revista, escrevendo, dando sugestões, respondendo a perguntas, distribuindo, etc... A Fator2 é para vocês! Muito obrigado e boas escaladas!
Cintia Adriane
O p i n i ã o Sucateamento do Esporte Muitos já se dão conta de que o Meio Ambiente vem sofrendo demasiado nos últimos anos. Isso não tem sido diferente com nossas trilhas. E vem sendo causado pelo assédio indiscriminado de centenas, milhares de pessoas em curtos espaços de tempo em nossas montanhas. Os danos são notáveis e vemos que, em poucos meses, um determinado acesso pode alterar-se completamente. E o que se faz atualmente para mudar este quadro? Pouco, ou muito pouco, até mesmo nada! Está havendo uma absoluta falta de critérios com relação às capacidades de carga de nossas trilhas. Se, por um lado contamos com profissionais que se preocupam com a preservação ambiental, há outros que não observam este quesito e acabam produzindo prejuízos irreparáveis. E isto não ocorre somente com os profissionais. Até mesmo um tradicional clube de montanhismo aderiu ao pagou, levou aceitando até participantes que se inscrevem através da sua página na internet! Leva-se qualquer um a qualquer tempo e em qualquer quantidade. E agora? É claro que essas pessoas se dão conta do que está acontecendo, do mal que elas, voluntariamente, estão causando em troca de trinta moedas, que não vão resolver suas dificuldades econômicas e jamais servirão para reverter o processo destrutivo. Ora, não possuímos infra-estrutura suficiente nos Parques, nossas montanhas raramente têm suas trilhas recuperadas porque usar todo mundo sabe, mas participar de replantios, recuperações, muito poucos. E ainda não há fiscalização neste sentido. É um prato cheio para oportunistas que estão interessados somente no que isto pode render financeiramente. Mas, o que fazer? Eu apelaria primeiramente para o bom senso das pessoas. Devemos preservar e proteger nossos ambientes naturais - se não porque é um dever constitucional, então por uma questão de hombridade e decência, predicados raros. Mas isso só vai mudar, infelizmente, quando houver um empenho maciço por parte dos profissionais e dos órgãos representativos. Se esperarmos pela conscientização espontânea, ficaremos a ver navios. Precisamos fazer campanhas, levantar esta bola nos clubes, nas associações,
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nos cursos básicos, tentar fazer valer os princípios tão elementares de preservação do meio ambiente. Saudações montanhistas, Cristiano Requião.
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Dona Marta resinada e melhorada Ao ler o Fator2 número 10, me deparei com a matéria sobre as vias que foram abertas no mirante Dona Marta. Nada demais, pois a revista está aí para divulgar as realizações de nossos abnegados escaladores informando seus leitores sobre as novidades. Mas uma revista tem como obrigação não só informar, mas informar certo e com clareza. A não informação de que todas, ou quase todas as vias foram abertas com agarras resinadas e ou agarras melhoradas com resina, foi uma falha grave, pois a maioria dos escaladores não gostam desta prática e não querem vê-la espalhada por aí. Querendo ou não a revista é formadora de opinião mesmo que procure ser mais isenta possível, portanto não pode e nem deve se eximir. Como a matéria foi publicada faz parecer que tudo que lá foi feito é bem natural e uma prática corriqueira, o que não condiz com a nossa realidade. O que mais estranhei foi que os responsáveis sabiam que as vias foram abertas desta forma e não se manifestaram, inclusive jornalisticamente, omitindo uma informação de grande relevância para um escalador. Ou será que para os responsáveis por esta revista tanto faz se as vias são abertas com agarras artificiais ou não? Acho importantíssimo acrescentar que uma das vias, não sei o nome, que foi melhorada com resina poderia, um dia, ser escalada sem este recurso. Portanto em nome da evolução e da modernidade cometeram um crime irreparável com as gerações futuras brecando uma possível evolução. Abraço e muito sucesso. Nilton Campos.
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A Fator2 informa que recebe artigos e reportagens do Brasil inteiro e fica impraticável ir ao local e verificar a veracidade de todas as informações por nós publicadas. Por isso a revista não se responsabiliza por matérias não escritas por nossos editores. No entanto, estamos abertos para publicar qualquer crítica, opinião ou correções que devam sofrer os textos e informações aqui contidas. Gostaríamos de esclarecer que não apoiamos atos de resinar ou melhorar agarras em rocha. Os Editores.
N o M u n d o Tartari em Yosemite Serginho Tartari, um dos melhores escaladores de parede do Brasil passou 2 meses num paraíso norte americano: Yosemite e Joshua Tree. Na companhia de José Luis Hartman de Curitiba (o Chiquinho) e Juan de Minas Gerais, por quem Serginho foi contratado como guia, para escalar a via The Nose no El Capitan, uma belíssima montanha que com certeza aparece nos sonhos de todo bom escalador. Para esta fascinante empreitada passaram duas semanas escalando outras vias para se adaptarem e prepararem física e psicologicamente. Uma delas foi a Astroman , uma das vias mais belas do parque, na opinião do Seginho, com 10 enfiadas praticamente todas em fissuras. Após todo esse preparo lançaram-se na via, a qual levaram três dias desfrutando todo tipo de dificuldade e sensações até chegarem vitoriosos ao cume. Sem a companhia do Juan, que precisou voltar para casa, Chiquinho e Serginho permanecem nos Estados Unidos, onde encontraram a Roberta Nunes, também de Curitiba e o venezuelano, José Pereyra. Juntos escalaram o Half Dome. Mais tarde seguiram para escalar a West Face do El Capitan e outras pequenas escaladas das quais elegeram como o melhor point o Cookie Cliff . Com a mudança do clima e a chegada das chuvas eles seguiram para Joshua Tree, onde permanecem mais uma semana, curtindo vias curtas, numa rocha abrasiva e de excelente aderência, para depois voltar para casa com a deliciosa lembrança daqueles granitos.
Piolet de Ouro 2000 O alemão Thomas Huber e o suíço Iwan Wolf ganharam o 10º Piolet de Ouro Francês, que premia a escalada mais significativa do ano. Os dois montanhistas receberam o prêmio pela conquista da via Shiva s Line . São 1500m de escalada conquistada em maio de 2000, no Pilar Norte, na montanha Shivling, de 6543m, situada no Himalaia Indiano. A 6200 metros de altitude a via passa por um negativo de 200m, com dificuldades de até A4. Interessante é que Wolf não era o parceiro original de Huber para aquela escalada, seu irmão Alex Huber ficou doente e teve que abandonar a mesma. Thomas então encontrou Iwan, que estava escalando próximo e eles decidiram então continuar juntos. De acordo com Thomas Huber, Shiva s Line é a via mais difícil que ele já escalou. Ele já abriu várias vias extremas, entre elas El Ninho em 1998, Golden Gate em 2000 (ambas no El Capitan, em Yosemite, e em livre) e uma outra via na face oeste do Latok II (7108m) em 1987.
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Dicas no Chile! Para quem busca vias negativas, e de diferentes graduações, Las Chilcas , no Chile, é o lugar ideal! Esse setor de escalada fica à 80 km de Santiago, pela rodovia norte, em direção ao litoral (Concon, Viña de Mar, Valparaíso). Uma vez nesta rodovia, impossível não encontrar Las chilcas , pois na beira da estrada se vê vários blocos de pedra. Além da rocha (conglomerado), também tem um riacho, onde você pode refrescar a cabeça ou o corpo. Quem tem objetivo de escalar várias vias, há uma clareira onde se pode acampar. Quanto as vias, há um grande número delas, algumas mais curtas outras com mais de 20 metros, vias que vão do grau mais fácil ao mais difícil. Na maioria das vias a distância entre uma chapeleta e outra, não passa de 2,5 metros. Escalar é bom onde quer que seja, e quando podemos conhecer outra cultura, outra língua e outras vias, é fantástico... Francine G. Machado escaladora de Curitba que tem o apoio da Snake.
Brasília Muitos ainda não sabem o grande potencial que tem a escalada esportiva no Planalto Central, desde grandes afloramentos de calcário a infinitos boulders de quartzito. A escalada em Brasília existe há cerca de dez anos, mas sua evolução tem se dado há mais ou menos 4 anos, com a abertura de diversas vias esportivas, surgindo assim uma nova safra de escaladores com uma mentalidade diferente, preocupada com a divulgação e evolução do esporte coisa que não acontecia até então. No ano passado em meados de agosto em plena seca forte do Cerrado, os escaladores Rodrigo (Bera) e Gilberto (Índio) abriram a primeira possibilidade de um nono grau, Raízes Indígenas . Uma via bem técnica com várias seqüências de regletes divididas por um descanso razoável, cerca de 30 movimentos em 15 metros de via, cuja primeira ascensão foi feita pelo Duda após 4 tentativas, e a possibilidade de um nono grau foi confirmada, mas ainda há duvida com relação a letra a ou b. Na mesma época os escaladores Alessandro (Piriquito), Duda e Ricardo Linhares (Carioca), grampearam o Plano Cartesiano uma via extremamente boulderística com proteções, um 9c de muita pressão que depois de diversas tentativas foi encadenada pelo Duda. Tirando a Raízes e o Plano existem ainda 3 projetos que ninguém da região conseguiu encadenar, Ratreice , Kathose e Linha de Montagem . Esperamos que desta maneira escaladores de outros Estados venham a conhecer o setor, assim como Ricardo Linhares, Marcelo PV, Arno Brande e alguns gringos que já tiveram o prazer de escalar no Cerrado. Duda e Bera (DF).
Errata Na edição nº 10 da Fator2, a nota sobre a conquista da via Devaneios do Repouso , em Salinas (RJ), acabou saindo sem os créditos: o texto é do Sergio Poyares e foi enviado para a lista de discussões HangOn. Pág.6-
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Abertura de Temporada 2001. Todos os anos, os clubes de montanhismo e entidades afins do Rio de Janeiro reúnem-se no já tradicional evento de Abertura da Temporada de Montanhismo. Será realizado no dia 6 de maio de 2001, domingo, das 8 às 17 horas, na Praia Vermelha - Urca. O evento acontece na chegada do outono, pois é considerada época propícia para o início da prática do montanhismo. O patrocínio é da Prefeitura, através da Secretaria de Esportes e Lazer. Entidades como Guarda Municipal, Comlurb, Instituto Estadual de Florestas (IEF), Sociedade de Amigos do PARNA-TIJUCA, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Parque Nacional da Tijuca, já são presenças confirmadas. Consta da programação, caminhadas, escaladas e limpeza de trilhas, a realização de uma gincana entre os clubes de montanhismo e escalada esportiva. Além de demonstração de resgate e primeiros socorros. Várias lojas de equipamento de montanhismo fornecem material e equipamentos a serem sorteados entre os participantes no final do evento. Para se inscrever é necessário a doação de 1 kg de alimento não perecível, a ser destinado a instituições da caridade.
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Resultados 1º Campeonato de Escalada Esportiva de Londrina - PR
Dificuldade Masc. Iniciantes
Esse evento reuniu 1. Patrik Pinho - Londrina. nos dias 10 e 11, 64 atletas de escalada no Dificuldade Masc. PróMaster Catuaí Shopping 1. Rodrigo Martins - Londrina. Center, em Londrina, Dificuldade Feminino no Paraná. Os primeiro classificados 1. Flora Kesselring- Curitiba. das provas somaram Dificuldade Infantil pontos para o 1. Paulo Rossato - Londrina. Ranking Paranaense e Norte Paranaense de Velocidade Feminino Iniciantes e Pró- 1. Flora Kesselring Master. O evento foi Curitiba. promovido pela Velocidade Masculino Fundação de Esportes 1. Taka - Maringá. de Londrina em Velocidade Infantil parceria com o Clube 1. Paulo Rossato - Londrina. de Montanha Norte Paranaense.
I Etapa da Copa Ferrino de Boulder Este foi o 3º campeonato amador no CEB, que aconteceu nos dias 15 e 16 de março, com 35 participantes e patrocínio da Ferrino e apoio da Equinox. Umas 150 pessoas presenciaram o evento que teve como route setter Alexandre Aguiar.
Masculino
Oswaldo Cruz - ES. Cleantro Portilho - Petrô. Luis Paulo Guimarães - SP. André Santos - RJ. 5. Daniel Manuel - RJ. 1. 2. 3. 4.
Feminino
Infantil
1. Lucia Fragoso - ES. 2. Raquel Guilhon - RJ.
1. Gustavo Wagner - RJ. 2. Pedro Gomes - Niterói
3. Vanessa Wagner - RJ. 3. Sônia Regina - RJ. 4. Vanessa Wagner - RJ. 4. Pedro Nort - RJ. 5. Julhia Morais - RJ. 5. Bianca Castro - RJ.
As Agulhas do
Espirito Santo
T alvez seja novidade para muitos o que eu vou dizer, mas existem escaladas e escaladores no estado do Espírito Santo. Do ponto de vista geográfico, o Espírito Santo é uma região abençoada por Deus. Temos lindas montanhas e paredes rochosas que enchem os olhos de qualquer montanhista que a visite. Os primeiros montanhistas capixabas começaram suas atividades em meados da década de 1980 na região da Grande Vitória e em Cachoeiro do Itapemirim. Na época, havia poucos escaladores para o grande potencial do estado. O montanhismo crescia de forma lenta. Não existiam referências para quem desejasse tornar-se um escalador. Todavia, há dois a prefeitura de Vitória ofereceu um curso gratuito de montanhismo em um parque municipal. A mídia fez uma ampla divulgação do evento e isto significou o empurrão que o montanhismo capixaba precisava. Um grande público tomou conhecimento de que esse tipo de atividade era praticado no estado e a lista de espera para o curso aumentou consideravelmente. Em fevereiro de 1999, foi fundado o CUMES Clube de Montanhismo do Espírito Santo, em função da necessidade de troca de informações entre montanhistas e em 2000 esporte começou a ganhar mais adeptos com o surgimento do Centro de Montanhismo Planeta Vertical, criado por mim e Eduardo Poltronieri, uma empresa que
ministra, cursos de escalada, vende equipamentos, explora o turismo de aventura e possui o primeiro muro de escalada da Grande Vitória. O Espírito Santo tem hoje um bom número de montanhistas, em maior número na capital, onde escaladas urbanas são de mais fácil acesso.
As
escaladas
Imponentes agulhas rochosas recortam a paisagem capixaba para quem quiser visitar as lindas pequenas cidades do interior do estado e confirmar a gentil hospitalidade do povo capixaba. O grande número de extensas paredes torna o estado atraente para que curte a escalada tradicional e as big walls. As primeiras conquistas no Espírito Santo foram feitas por escaladores cariocas na década de 1940. O pico do Itabira (em tupi pedra empinada), montanha símbolo da cidade de Cachoeiro do Itapemirim, com cerca de quatrocentos metros em forma de um dedo indicador, foi conquistado em 1947 por Sílvio Mendes, Reinaldo Santos, Índio do Brasil, Júlio Freitas e Reinaldo Benkhen (CERJ). Esta via,
Conj. dos cinco Pontões. Da esquerda para a direita: Foca, Filhote de Foca, Língua de Boi, Topão Rachado e Topão Maior
batizada de Sílvio Mendes, foi considerada durante muito tempo a escalada mais difícil do Brasil. Treze anos depois Patrick White , Gilberto Vilela e Mauro de Andrade (CEC) alcançaram o cume do Itabira por um sistema de chaminés, fendas e fissuras chamado Chaminé Cachoeiro, onde foram utilizados pitons pela primeira vez no Brasil, além de muitas cunhas de madeira. Esta via limpa e bonita foi desfigurada há pouco tempo pelo UNICERJ que lhe acrescentou grampos desnecessários. É preciso que se registre que a via já havia recebido correntes e cordas que eliminavam seus dois pêndulos iniciais. Este ato de vandalismo não tem autores identificados.
A terceira via do Itabira, a Face Nordeste, foi conquistada em 1999, por Luciano Bender, Marcel Leoni, Leandro Bidu e Magno Santos. Graduada em 6º A2+, é uma linda escalada que pode ser feita em dois dias. Possui aproximadamente 320 metros, constituindo em um conjunto de fendas em rocha negativa e de cor alaranjada que chama muito a atenção. É a melhor opção de descida para quem escale por qualquer das três rotas. Em torno do Itabira existem várias paredes com muitas vias que formam o que chamamos Conglomerado do Itabira . As vias medem de cem a quatrocentos metros. As mais famosas são: o Macaco, 5º VIsup com cerca de quatrocentos metros e o Lagarto, 6º VIsup A1/VIIc com trezentos metros. Em Cachoeiro ainda temos o Frade e a Freira. As duas montanhas formam um curioso perfil que lembra a silhueta de dois religiosos postados frente a frente. O Frade, conquistado em 1985, pode ser escalado sem dificuldades pelo seu costão de 150 metros, e a Freira ( 4º A1), uma conquista também de Sílvio Mendes et alli (e outros), de 1948. Para escalar essas duas montanhas uma boa tática é subir o Frade e dormir em seu pequeno cume, onde é possível ver o Itabira de um lado, e de outro o litoral capixaba. No dia seguinte, rapela-se duzentos metros pelo rosto do Frade até atingir a mata que
separa as duas montanhas, por onde caminha-se até atingir a base da via Amâncio Silva, na Freira. Esta escalada tem duzentos metros, sendo a primeira enfiada em A1, seguida de uma chaminé de 4º, e um trepa mato até o cume. Ao contrário do Frade é pouco freqüentada.
E m Domingos Oswaldo no cume da Pedra da Freira. Ao fundo a pedra do Frade. Martins, uma linda região serrana, com excelentes hotéis, está a bela pedra Azul, um paredão de quase 450 metros, repleto de cavidades tal qual um gigantesco queijo suíço. Em seu Lagarto, há uma conquista do CEB, de 1976. A escalada é feita em um conjunto de chaminés de largura variável onde fazem ninhos centenas de andorinhas e maritacas. Seu cume é enfeitado de bromélias e lá se encontra o livro original da conquista, no qual tive a oportunidade de assinalar com o Fábio Gava o registro da 5ª repetição em 25 anos. Pitons e cunhas de madeira da época da conquista estão intactos garantindo a segurança das próximas repetições. Não muito distante da Pedra Azul, encontramos, em Afonso Cláudio, um conjunto de agulhas com cerca de quatrocentos metros de altura que formam os Três Pontões. Sua conquista data de 1958 e foi realizada pela difícil chaminé de cinqüenta metros, que possui apenas um grampo a 25 metros da base. O crux, (VI em tesoura) no lance final da chaminé, foi realizado apenas na conquista por Patrick White e Drahomir Vrbas (CEC). A segunda via conquistada nesta montanha, a Chaminé Afonso Cláudio, de 1970, é um conjunto de fendas, fissuras e chaminés, sem nenhum grampo e está situado na face norte. Seus conquistadores são também do CEC: Carlos Braga, Jean Pierre Weid, José Carlos Almeida, Luís Penna Franca e Rodolfo Chermont.
Pedra Azul com a Pedra do Lagarto à direita.
A mais recente via dos Três Pontões, Inferno na Torre (4º Vsup A1,) de 1995, é d o s capixabas
Roberto Tristão e Gilberto Azevedo. Esta localizada no Dedinho, que segundo os moradores locais, está prestes a cair. O Dedinho impressiona pelo seu formato, por ter a base mais estreita que o cume, dando impressão que vai tombar.
A área que talvez seja a mais famosa e menos freqüentada do Espírito Santo são os Cinco Pontões, em Laranja da Terra.. Na realidade são nove cumes que vistos do leste parecem ser cinco e à primeira vista lembram os imensos paredões dos cerros patagônicos, cenário inimaginável no Brasil. Devido à sua forma os picos foram batizados de: Foca, Filhote da Foca, Pontão Rachado, Língua de Boi e Pontão Grande. É um território de conquistas do CEC. Apenas três vias, da oito existentes, não pertencem aos Carioca. O Pontão Grande, com altitude de 1.150m, possui dois cumes. O culminante e maior foi conquistado em julho de 1960, por Patrick White, Drahomir Vrbas, Ricardo Menescal e Gilberto Mendonça. O outro cume do Pontão Grande foi subido também em 1960 por Friderich Arnholz, montanhista de Santa Catarina. O Pontão Rachado, conquista de Gilberto Vilela, Drahomir Vrbas, Mauro de Andrade, e Ricardo Menescal (CEC), apresenta duas rotas para sua ascensão: uma canaleta de duzentos metros com chaminés, e um costão de trezentos, ambos sem grandes dificuldades. Foi alcançado primeiro pelo costão. O Pontão 17 de Julho é uma conquista de 1970 feita por Jean Pierre Weide, José Carlos Almeida, Luís Penna Franca e Rodolfo Chermont. Sua ascensão é feita ou pelo anfiteatro ou por rapeis no Pontão Grande, numa travessia conquistada por Gustavo
Telles, Ivan Calou, Jean Pierre Weid e Ricardo de Moraes, em 1998.
A Foca (Augusto Vilela, Carlos Braga, Rodolfo Chermont e Rogério de Oliveira) é grande conquista em estilo alpino idealizada e realizada por Rodolfo, em 1971. Tem quatrocentos metros em grampos de ¼, muito distantes, com paradas de ½ e 3/8. Sua classificação é 5º VIsup A1. Só foi repetida cinco vezes. O Filhote da Foca (Jean Pierre Weide, José Carlos Almeida, Luís Penna Franca e Carlos Braga) de 1973 tem duzentos metros de extensão. Seu início é o maior teto do Brasil com cerca de trinta metros, classificado em A3. A Língua de Boi (1974) outra conquista do CEC ( Carlos Braga, Heckel Capucci, Jean Pierre, Luís Pena Franca, Marcelo Werneck e Orlando Butler) é uma longa artificial em grampos de ¼ Salewa, e dois esticões finais de 4º. Em janeiro de 2000. tive a oportunidade de repeti-la com Emerson Pedrosa quando levamos um novo livro de cume, já que o original foi trazido de volta ao CEC pela cordada anterior que lá esteve. As últimas conquistas (1998) no grande anfiteatro do Cinco Pontões foram a Travessia dos Cumes do Pontão Grande (três rapéis e a escalada da via de Arnholz), o Pontão Casagrande (15m de IIIsup), Pitoco do Alemão (10m de 3º), todas de Gustavo Telles, Ivan Calou, Jean Pierre e Ricardo de Moraes. Mais próximo da fronteira do Espírito Santo com Minas Gerais, em Ipituba, o mesmo grupo conquistou também em 1998 a Pedra de Ipituba ( 110m, graduada em 5º VI A1). Ainda na região sudoeste do estado, em Arapoca, distrito de Castelo, a Pedra do Fio (5º VIsup A1)é uma escalada
de setecentos metros em agarras, chaminés e fissuras. Foi conquistada por Heckel Capucci e Jean Pierre em 1973. Permanece sem repetição.
Em Pancas, no norte do estado, temos a Chaminé Brasília, na Pedra da Agulha, que é provavelmente a maior escalada neste estilo do Brasil. Foi conquistada em 16 de julho de 1959 por Guisepe Pellegrini, Nelson Braun, Emílio Mesquita, Carlos Russo e Rodolfo Kern. São 450 metros de extensão e 95% em chaminés de largura variável. Outra chaminé de 1960 é a do Pico do Dedo, em Nova Venêzia, conquistada por Cláudio Castro e Corrozinho, que recebeu a primeira repetição, por André Ilha e Bernardo Collares, 41 anos após a conquista. Em Atílio Vivacqua, há também uma conquista de 1988, a Chaminé UNICERJ, feita pelo clube de mesmo nome. Estas escaladas são uma pequena amostra do grande o potencial do Espírito Santo. A maior parte de suas paredes de granito ainda permanece virgem. O futuro da escalada em rocha tem em nosso estado a grande fronteira da expansão. Coloco-me à disposição para qualquer tipo de informação a quem quiser visitar as lindas montanhas capixabas: Texto e fotos de Oswaldo Cruz (ES). Tel.: (27) 314.3365/9998.4485. E-mail: planetavertical@escelsa.com.br Pico do Itabira.
Informações adicionais José Ivan Calou Filho (RJ) Tel.: 522.9636. Email: ivancalou@yahoo.com.br.
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Historia da Escalada Esportiva no Brasil
(parte 1) da escalada esportiva no Brasil foi O começo uma evolução natural, que se estabeleceu
lentamente devido às novas tendências da época, da mesma forma que aconteceu na Europa e posteriormente nos EUA no final da década de 70 e ao longo dos anos 80. Um conceito que ajudou muito o estabelecimento da escalada esportiva por aqui foi a MEPA (máxima eliminação de ponto de apoio), introduzida por alguns escaladores em 1979/80. Entre eles: André Ilha, Alexandre Portela, Dário dos Santos, Geovani Tartari, Sérgio Bruno, Sérgio Poyares e Sérgio Tartari. Com este novo desafio fazíamos as escaladas tradicionais tentando eliminar todos os pontos de apoio. Eram comuns escaladas com graduação média fácil e com trechos difíceis onde os grampos muito próximos permitiam escalar em artificial A0, o que era comum no Brasil e em outros países. Esse era o desafio na época, eliminar o A0 e os escaladores
que mais se destacaram foram: André Ilha, Marcelo Braga, Sérgio Poyares e Sérgio Tartari. muitas escaladas com graduação P orde exemplo, 4/VI tinham os lances de sexto grau feitos
em A0, mas teoricamente não existia ainda o sétimo grau devido à limitação do sistema de classificação da época. Isto é, existiam lances de sétimo grau mas eles não eram oficialmente reconhecidos. O material também não ajudava porque não existiam calçados próprios como os de hoje, usávamos Conga, Kichute e botas rígidas (para uso em gelo). Também não se conhecia o uso do magnésio para escalar e as cadeirinhas geralmente eram maiores e cobriam até os ombros,
A direita, a via Ácido Gluatâmico , um VIIc feito em 1986 de conga . A esquerda, o Sérgio Poyares na via Ácido Úrico , 1986.
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dificultando os movimentos. Enfim, o material que existia não era o adequado e era muito difícil conseguir os melhores da época que eram importados, mesmo para quem tinha dinheiro. início dos anos oitenta eram mitos N oescaladas como Lagartão (grau antigo 6°
sup/A1), Ás de Espadas (grau antigo 5° sup/A1), Patrick White (grau antigo 6°/A1), Sombra e Água Fresca (grau antigo 5°/A1), Waldemar Guimarães ou Contra Secundo (6° sup/A1) e até o Trinta de Julho (5°/A1), que era considerada a aderência mais difícil do Brasil . Hoje sabemos que esta última via tem muitas agarras e não é propriamente uma escalada de aderência. O grau de artificial A0 era antigamente considerado como A1. As escaladas que tinham lances em pequenos trechos negativos, conhecidos como barriguinhas , eram as mais temidas. Muitas vezes, quando um escalador era convidado para ir a uma escalada nova ele indagava - Tem barriguinha? Se tiver eu não vou! - Vale salientar que as vias novas conquistadas eram entregues aos clubes e tinham inauguração. Escolhido o dia, várias cordadas iam escalar, formando, às vezes, enormes filas que subiam sob Sol quente. Isso era uma tradição devido ao reduzido número de escaladas na época. Lembro que na inauguração do Urbanóide, em pleno verão de 1983, algumas pessoas passaram mal devido ao calor insuportável. época existiam pouquíssimos escaladores e N atodos se conheciam, ao ponto de uma
cordada escalando o Lagartão pudesse ser reconhecida de longe, porque eram poucos os que tinham condições de subir tal dificuldade técnica. da maioria das barriguinhas das vias D epois clássicas terem sido feitas em livre, resolveu-
se então abrir vias com negativos maiores, para aumentar o desafio. Aí entram os Ácidos no Morro da Babilônia. Alguns escaladores consideram que o Ácido Lático (7a) foi a primeira via esportiva de importância do Brasil, devido à extensão dos lances em declividade negativa. Porém, ela foi conquistada de baixo para cima e todos os lances foram conquistados em livre, após várias tentativas de André Ilha, Marcelo Braga e Marcelo Ramos. De fato, este foi realmente um marco que ajudou muito o estabelecimento da escalada esportiva. Depois foram abertas outras vias na mesma parede. Pedra do Urubu, situada na base do Pão de A Açúcar, teve papel relevante, apesar do Pág.13-
Via Italianos, em 1981, Antônio Paulo e Paulo Macado.
tamanho reduzido. Antes, ela servia como campo escola para aqueles que queriam aprender a escalar artificial A0, porque havia duas vias com grampos de metro em metro. A primeira situava-se onde é hoje o Urubu Capenga (7a), mas já em 1984, o Marcelo Braga fazia tudo em livre com corda de cima, mas calçando Conga. Era inacreditável! Muito tempo depois os grampos originais (parafusos de 15 cm) foram removidos e a via foi regrampeada para ser guiada em livre. Posteriormente foram abertas outras vias. O Urubu Mestre (8c) era o grande desafio e teve sua origem também numa via de artificial A0, com dezenas de grampos de meia polegada. Em 1987, Wolfgang Gullich abriu o Southern Confort (10a) e mostrou a distância que separava os escaladores europeus dos brasileiros na época, porque o grau mais difícil escalado por nós, teoricamente, era 8c. Somente seis anos depois a via foi repetida pelo Luiz Carlos Bitencourt (Pita), mas de corda de cima. A pedra do Urubu, quem diria, se tornou o ponto de reuniões dos primeiros escaladores esportistas ou falesistas . Todos se encontravam lá e o Paulo Bastos (Macaco) era o que melhor escalava no local e era também o melhor escalador de boulder do Brasil, tendo sido o primeiro a fazer os dois blocos mais difíceis da época, o Olhos de Fogo no Grajaú e o Expressão Corporal , na Praia Vermelha. Dessa forma, as escaladas esportivas eram praticadas ou na Pedra do Urubu ou nos Ácidos.
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o Marcelo Ramos abriu no Morro do E mSão1986, João (Copacabana), a priori, o primeiro
8c brasileiro, batizado de Andrômeda e teve também significado especial por ter sido a via mais difícil da época (feita em livre). É importante frisar a participação fundamental do Ramos na história da escalada esportiva no Brasil. Além de muitas outras vias conquistada por ele, também foi o inaugurador do Campo Escola 2000 . A primeira via aberta, em 1987, foi a Pedrita (8a), mas a conquista foi de forma curiosa porque ele subiu numa árvore fina e colocou dois grampos que serviam de top rope, porque não havia a certeza de que era possível escalar naquela parede, tão negativa. E para fazer a escalada tínhamos que subir pela árvore para colocar a corda. Só depois de muito tempo a via foi totalmente grampeada para ser feita guiando. do nome Campo Escola 2000 veio Adeorigem um grupo de pessoas de um clube de
excursionismo que caminhava pelo lugar no início dos anos oitenta. Eles pensaram que era impossível escalar naquela parede, talvez só no ano 2000, cerca de vinte anos depois. Na época, a prática de bouldering era restrita aos campo escolas, que eram lugares onde as pessoas aprendiam a escalar ou treinavam, como no Campo Escola do Grajaú, no C.E Pedra Rachada (Cascadura), no C.E. de Itacoatiara (Niterói) etc. Daí o nome, que era uma alusão a um futuro campo escola para o ano 2000. do Pedrita, o Ramos novamente inovou, Depois porque viu uma linha muito boa por onde
poderia passar uma bela escalada, mas o início e o fim eram impossíveis para a época. E já que as pessoas faziam vias artificiais com grampos, ele resolveu colocar algumas agarras de resina. Sabendo do falatório que isso daria, ele batizou de Estória Sem Fim . Foi outro marco na história da escalada esportiva. Aos poucos a via foi perdendo as agarras artificiais porque os lances foram sendo feitos sem elas, primeiro pelo Alexandre Portela e muitos anos depois pelo Helmut Becker. Hoje ela é ainda uma das vias mais difíceis do Brasil (10a). Ironicamente, muitos escaladores foram contra a idéia da remoção das agarras e para resolver o problema, foi feita uma votação entre os escaladores e prevaleceu a boa ética, o Helmut tirou todas as agarras artificiais restantes. (continua na próxima edição). Texto e fotos: Antônio Paulo Faria.
H e l m u t B e c k e r C o l u n a
d e
E s p o r t i v a
R a l f C ô r t e s C o l u n a
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T r a d i c i o n a l
Trabalhando uma via - ii
Falésia da São Sebastião
Na edição passada, foram sugeridas algumas dicas que podem ajudar na escolha de uma via para se trabalhar. Agora pode-se tratar de outros aspectos técnicos que podem fazer grande diferença no final. Escolhida a via, aquela que preferencialmente tem-se a noção de que não levará uma eternidade para fazer, deve-se primeiramente ser feito um reconhecimento de toda ela. É fundamental que sejam trabalhados todos os movimentos da via,
Mais uma dica de esportiva tradicional no Rio de Janeiro: Falésia da São Sebastião, se localiza no intervalo do morro da Urca para o Pão de Açúcar, no lado norte, virada para a praia de Botafogo. São 5 vias de pura esportiva tradicional. Citarei em ordem da esquerda para a direita: 1. Chega Mais VIsup E5/6, Ralf Côrtes e Álvaro Loureiro. 2. O Rio de Janeiro Continua Lindo VIIc E6, Ralf Côrtes e Neil Gresham. 3. Terror na Ópera VIIb E5/6, Ralf Côrtes e André Félix. 4. Satisfação VIsup E5/6, Ralf Côrtes e Fernando Vieira. 5. Novas Tendências VIsup E5, Ralf Côrtes e Valcenir Coelho. A falésia tem 3 grampos e muitas ávores para top rope , e para escalar todas as vias é necessário os seguintes equipamentos: 1 jogo de Stopers (principalmente); 1 jogo de Micro Friends; 1 jogo de Friends. Nessa falésia não é necessário grampo, pela grande possibilidade de colocações móveis em rocha sólida. Maiores informações sobre acesso ou proteções móveis com Ralf Côrtes, tel.: (21) 295-3802.
mais importante é memoriza-los muito bem. A memória é a chave para não haverem erros técnicos numa tentativa de encadeamento. Todas as seções da via devem ser trabalhadas, devem ser identificados todos os crux, saber quantos são, onde estão e ordem de dificuldade entre eles. Devese também descobrir todos os pontos possíveis para recuperar um mínimo de energia, etc... uma balançada de braço conta muito para os movimentos seguintes. Sem querer exigir muito, mas inevitavelmente necessário, é vital que se memorize os movimentos de pé, quanto melhor e mais completa é a memória de uma via, mais fácil e rapidamente será encadeada. Uma dica que pode ajudar bastante é, tentar encadear a via, apenas se todos seus movimentos estiverem memorizados, mas se ainda assim, houverem seguidas quedas no mesmo ponto, procurar verificar se a movimentação deve ser trabalhada, ou se é uma questão de condicionamento físico. É bastante detalhe, mas assim é a escalada em geral, os detalhes fazem grande diferença nos resultado finais. Por enquanto é só, antes que comecem a achar muito complicado encadear vias esportivas. Muita concentração e força a todos e até a próxima... Helmut Becker é patrocinado por: DMM, Sterling Ropes e Saltic Shoes.
N a P a r e d e Acidentes com mosquetões... Todo escalador sabe o que é um mosquetão e para que serve. Um bom mosquetão é feito de alumínio 7075 (uma liga de alumínio com zinco) e deveria reunir certas qualidades: 1. Ter uma carga de ruptura (fechados) acima de 23 kN (2.300 kg) e com o gatilho aberto, acima de 9 kN (900 kg).
mais leves, porém menos resistentes. Para evitar que acidentes dessa natureza aconteçam pode-se tomar algumas precauções: - utilizar somente mosquetões que tenham resistência a ruptura com gatilho aberto, de pelo menos 9 KN;
2. Diâmetro de 10-12 mm para evitar castigar a corda.
- usar mosquetões com trava de segurança em pontos estratégicos, onde se sabe que uma queda teria uma sobrecarga muito grande;
3. Mola de dureza média ou alta (preferível para as vias de parede) para evitar aberturas indesejáveis.
- usar fitas expressa mais estreitas, respeitando a margem de segurança;
4. Teste individual, que garante que o mosquetão aguente pelo menos 50% de sua resistência total. E outros...
- fixar a fita no mosquetão através de borracha elástica (existem algumas próprias para esse fim);
Assim sendo, parece impossível a quebra desse material, mas apesar de raro esse tipo de acidente pode acontecer. Como já aconteceu.
- evitar mosquetões em lugares com saliências na mesma altura do gatilho;
Um jovem francês de escalada desportiva, por exemplo, acabou paraplégico após uma queda de 6 metros. Ele já havia sofrido esta queda outras vezes, mas desta, não contava que o mosquetão que sofreu o impacto estivesse com o gatilho aberto. Como é possível? Um mosquetão aberto (por mínimo que seja) ao sofrer uma sobrecarga, baixa sua resistência de 20 kN para 6 ou 10 kN. Aberto, o impacto recai somente no eixo principal (lado maior). Com o gatilho fechado isto não acontece, porque a carga é distribuída igualmente por ele todo. Mosquetões são peças extremamente seguras se usados de maneira correta. Há diversas situações perigosas, que podem terminar por abrir o gatilho do mosquetão, o que o torna menos resistente. Como por exemplo: a abertura do gatilho pode ocorrer devido ao contato com a rocha; por causa de uma fita mais larga que o impeça de fechar inteiramente; ou quando de uma queda chocar-se contra a parede; ou ainda, por inércia, provocando a abertura do mesmo por segundos. Veja na figura ao lado. Antes dos anos 50, os mosquetões agüentavam muito mais até mesmo com gatilho aberto, mas seu peso era bem maior. Depois começou-se a fabricação de peças
- não usar os mosquetões em alavanca.
- e por último mantendo o equipamento sempre limpo e lubrificado, livre de impurezas que possam ocasionar seu mal fechamento. A revisão e o uso correto de seu equipamento é a certeza de um regresso são e salvo de uma escalada.
Texto: Cintia Adriane e Flavio Daflon. Fonte: Seguridade e riesgo, Pit Schubert. Como Escalar Vias de Vários Largos, Ignacio Luján e Tino Núñes, Ed. Desnivel.
L i s C o l u n a
M a r i a d e
C a m i n h a d a
Excursionismo na virada do Milênio Na primeira metade deste século todas as atividades de contato com a natureza no Brasil, denominavam-se excursionismo. Numa época onde andar a pé, além de ser moda, era meio de locomoção, nasceram no Estado do Rio de Janeiro agremiações que reuniam amantes da prática de atividades ligadas a natureza, relacionadas às viagens, montanhismo, expedições, acampamentos, escaladas, passeios e peregrinações a pé a lugares pitorescos que poderiam variar de um simples pic-nic até ir a Roma para ver o Papa. Nessa linha de pensamento em 1919 surgiu o Centro Excursionista Brasileiro que atraía desde atletas a intelectuais e pessoas comuns, que através de campanhas em jornais influíram na implantação do Parque Nacional da Serra dos Órgãos e Itatiaia. Os anos se passaram, a torre de babel de esportes ligados a natureza se multiplicou a partir da década de 80, e aquele excursionismo ganhou novas denominações como o montanhismo (escaladas e caminhadas), alta montanha, orientação, observadores de pássaros, safaris fotográficos, big-wall, rafting, canioning, bouldering, trekking, off-road, camping, paragliding, eco-challenges etc, e toda a terminologia inglesa, com respaldo de toda a mídia que passou a denominar genericamente de ecoturismo. Cada qual fala sua língua inclusive os ecochiitas que abominam todos os demais praticantes das outras atividades, e preferem filiar-se a ONGs. Muitos locais antes abertos à prática são proibidos ou sofrem algum tipo de restrição. A prática independente esta sendo tolhida para a prática assistida de um monitor ecológico. Atividade classista esta que já esta sendo regulamentada como profissão à parte das federações. Países tecnologicamente desenvolvidos usam satélites, helicópteros, sensores e câmeras em diversos lugares para monitorar os usuários, além de guardas florestais, sinalizam trilhas e rodovias mais freqüentadas para facilitar a orientação, dispõem de freqüências AM-FM para distribuir previsões meteorológicas em locais mais perigosos, e pregam técnicas de mínimo impacto como grupos pequenos para visitação de locais. Países em desenvolvimento como o Quênia e o Brasil implantam a figura de um monitor ecológico ao seu lado, que lhe vigiam a todo instante, levando grupos com no mínimo 10 pessoas. Monitores estes que com sua experiência restrita, e conhecimento somente de sua localidade, ferem o direito do indivíduo responsável que quer o contato puro com a natureza. Desse jeito é melhor ir à praia com a galera, ou comprar um sítio para ter um contato mais íntimo com a natureza. A home page da Lis está no endereço: http:// www.geocities.com/yosemite/1219/
INFOFEMERJ Número 1
Um pouco de história... A Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro já nasce com uma história “velha” de quase sete anos... Naquela época, lá pelos idos de 1993, o montanhista Cristiano Requião convocou os clubes para um trabalho de recuperação dos cabos de aço da sensível trilha do Dedo de Deus. Isto aconteceu pouco tempo depois da extinção do PROPAR, uma ONG de montanhistas que vinha atuando em atividades de apoio ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. A partir desta atividade, outras se seguiram e muitas reuniões foram feitas para que decisões importantes fossem tomadas na nossa pequena comunidade montanhista. Entre elas destacamos a Abertura da Temporada de Montanhismo, evento anual que faz parte do calendário de eventos da Prefeitura da Cidade. No entanto, apenas a partir de 1996 começaram a acontecer as reuniões mensais, uma idéia do André Ilha e com a participação até então inédita das principais escolas de escalada que atuavam no Rio. Isto fez com que conseguíssemos uma maior abrangência nos assuntos e uma representatividade considerável junto aos escaladores. Os principais assuntos tratados e realizados até hoje pelo antigo Fórum Interclubes – atual FEMERJ foram: 1. Realização de três seminário para elaboração, revisão e atualização do Sistema de Graduação; 2. Realização de um seminário sobre proteções fixas (qualidade dos grampos); 3. Luta para reabertura do acesso as Aderências do Sumaré; 4. Organização de uma Croquiteca Digital das vias do Rio de Janeiro; 5. Currículo Mínimo para cursos básicos de escalada, comuns a todos os clubes e escolas de escalada, unificando o ensino da escalada; 6. Campanha pela ética na escalada: foram distribuídas duas mil cópias da “Carta aos Montanhistas”; foram tapadas agarras cavadas na rocha, removidas pichações de escaladores e arrancados grampos batidos sem autorização dos conquistadores. 7. Regrampeação de vias como ‘Vermelho’ e ‘Diedro Infernal’, entre outras. E, uma curiosidade: uma das principais decisões
INFOFEMERJ
tomadas nas primeiras reuniões do que viria a se tornar a FEMERJ foi das escolas formarem uma associação para, junto com os clubes, formarem uma futura federação de montanhismo. Hoje, quatro anos depois, isto está se realizando... Acaba de ser criada a Associação de Guias e Profissionais de Escalada do Estado do Rio de Janeiro e estamos aqui justamente apresentando a Federação de Montanhismo do Estado do Rio...
Reuniões As reuniões acontecem na última terça-feira do mês, às 19 hs, e está aberta a todos que quiserem participar. Sua presença é muito importante para o desenvolvimento do nosso esporte. Março – dia 27, no CEB Abril – dia 24, no CERJ Maio – dia 29, na Limite Vertical Junho – dia 26, no CEL Julho – dia 31, no CEC Agosto – dia 28, no CEB Setembro – dia 25, no CERJ Outubro – dia 30, na Limite Vertical Novembro – dia 27, no CEL Dezembro – dia 18, no CEC
Curtas Na reunião de janeiro, realizada no CEB, teve a eleição da última diretoria para o biênio 2001/2002, assim composta: Presidente: Bernardo Collares Arantes. Vice-Presidente: Gustavo Sampaio Rego. Departamento Tecnico: Dalton Chiarelli, auxiliares: Jana Assad e Flavio de Aguiar. Departamento de Competição: Alexandre Diniz, auxiliares: Sandro Sperandei, Patricia Mattos e Rodrigo Milone. Departamento de Meio Ambiente: Priscilla Botto, auxiliares : Cristiano Requião, Aline e Katia Torres. Departamento de Finanças: Guilherme Condé, auxiliar: Alfredo Neto. Departamento de Secretaria: Thiago Bastos,
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INFOFEMERJ auxiliares: Patricia Duffles e Fernando Barroso. Departamento de Relações Públicas: Helena Artmann e Gabriela Saliba. Projeto Especiais: auxiliares: Paulo Henrique e Cissa Biasoli. Coringas: Flávio Wasniewski, Marcelo Roberto Jimenez, Frederico Noritomi, Sandra Corso (EUA), Guilherme Rocha (Itatiaia). Conselho Fiscal: Titulares: Natanael de Oliveira, Ricardo Penna e Flavio Aguiar. Suplentes: Flavio Carneiro, Marcela Chaves e Marcelo Roberto Jimenez.
· Vantagens de ser um federado: 1. 50% de desconto na entrada do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PNSO) – necessário apresentar a carteira da FEMERJ. 2. 10% de desconto em diversas lojas de montanhismo da cidade – divulgaremos a lista no próximo informativo. 3. Participação nos campeonatos da FEMERJ. 4. Outros acordos estão sendo firmados. Divulgaremos em breve... · Valores para se federar: JÓIA – R$ 20,00 (vinte reais) ; ANUIDADE – R$ 30,00 (trinta reais).
Como se federar? Notícias, sugestões e Informações Qualquer interessado pode ser FEDERADO, desde que: a) tenha feito algum Curso Básico de Montanhismo (CBM) homologado pela FEMERJ; b) apresentando o respectivo certificado; c) respeite os critérios de conduta e ética estabelecidos pela FEMERJ; d) apresente atestado médico declarando que esta apto para a prática de esportes; e) seja maior de 18 (dezoito) anos. Os menores de 18 (dezoito) anos terão que apresentar autorização assinada pelo responsável; Art. 17 - O interessado que quiser ser FEDERADO da FEMERJ sem ter participado de um CBM reconhecido pela FEMERJ, e demonstra suficientes conhecimentos técnicos, será submetido a um teste prático e teórico a ser ministrado pelo Departamento Técnico da FEMERJ.
· Os interessados em fazer parte da lista de discusão da FEMERJ deverão mandar um email sem título para o seguinte endereço: FEMERJ-subscribe@egroups.com · Pedimos a participação e colaboração dos montanhistas para que enviem informações, para o e-mail abaixo, do estado das trilhas e vias que existem no nosso estado. · A FEMERJ está fazendo uma votação para saber que via deverá ser a próxima a ser regrampeada. Sugestões para infofemerj@ yahoo.com.br Notícias, sugestões e qualquer tipo de contato e informação deverá ser enviada para o endereço: infofemerj@yahoo.com.br
E n t r e v i s t a Bernardo Collares É Presidente da Federação de Esportes de Montanha do Rio de Janeiro. A Federação é composta por quem? Quem tem poder de voto? A FEMERJ é composta, neste momento, pelo Centro Excursionista Brasileiro, Clube Excursionista Carioca, Centro Excursionista Guanabara, Clube Excursionista Light, Centro Excursinista Petropolitano e pelo Centro Excursionista Rio de Janeiro. Existe ainda a Associação dos Guias Profissionais que já foi criada e esta finalizando os tramites burocráticos. Assim que estiver tudo OK ela também irá compor a FEMERJ. Somente essas entidades tem direito a voto nas assembléias. Sabemos que a Federação foi recém fundada, mas é verdade que já sofre bastante cobrança por parte dos escaladores? O Rio de Janeiro já necessitava de uma federação há bastante tempo, e com isso os problemas foram se acumulando. Com o surgimento da FEMERJ, as pessoas procuram soluções para esses problemas. Existe uma cobrança, é claro, mas ela tem sido bastante positiva. As pessoas cobram e também se oferecem para ajudar na solução, e isso é fundamental para termos uma federação cada vez mais forte e representativa. O que está sendo trabalhado neste momento? Qual o objetivo a curto prazo? Externamente estamos catalogando os problemas e iniciando os trabalhos a fim de solucioná-los. Temos o caso do fechamento da trilha Horto-Paineiras, no Jardim Botânico, que além de fechar uma trilha secular do Parque Nacional da Tijuca, fechou também o acesso a um excelente local de escaladas, que são as aderências do Sumaré. E com relação a outros acessos fechados ou que em breve estarão, vamos marcar uma audiência com o Secretário Municipal de Urbanismo a fim de começarmos a procurar soluções para esse complexo e gravissímo problema. Estamos inciando acordos com os parques nacionais a fim de dar facilidades as pessoas que possuirem a carteira da federação e participar/ajudar na solução dos problemas existentes nos parques. Estamos fazendo a manutenção das principais vias de escaladas. Estamos homologando o sistema de graduação iniciado pela então Interclubes. Em breve será lançado uma espécie de livreto contendo o sistema de graduação, terminologias inerentes a escaladas. Já teve início a homologação dos cursos básicos. Agora internamente o trabalho também é imenso. Todos nós que estamos
trabalhando pela FEMERJ nunca fundamos uma federação, tudo é novidade. Estamos tendo que criar toda a infraestrutura necessária ao funcionamento de uma federação. Ficha de inscrição, papel timbrado, arquivos. Já solicitamos junto a Secretaria de Esportes e Lazer uma sala para ser nossa sede, etc...etc..e etc... Que outros problemas a Federação deve encontrar? Esta surgindo um grande interesse pelo montanhismo em geral. Teremos um árduo trabalho na organização dessa demanda. Temos visto as pessoas invadirem as montanhas de forma desordenada e com isso provocando um enorme dano ecológico. É muito urgente criarmos formas de educarmos/orientarmos essas pessoas a fim de que elas não destruam os locais por onde passam. Que grandes conquistas uma Federação poderia trazer um dia para os escaladores? A FEMERJ é um meio pelo qual os escaladores podem, de fato, organizar o montanhismo e torná-lo mais seguro. Além de solucionar os problemas que vão surgindo, temos uma instituição que fala em nosso nome junto a mídia, aos órgãos oficiais, a sociedade, etc... Quem está querendo começar a praticar o montanhismo, poderá saber qual a melhor forma e quais os bons cursos. Qual o caminho que a Federação deve seguir com relação à ética no esporte? Existe uma questão crucial que é o direito autoral da via. A posição da FEMERJ é: Para fazer qualquer alteração em vias de escaladas alheias, é necessária a autorização do(s) conquistador(es) ou do clube responsável. Entendase por alteração a colocação ou a retiradas de proteções fixas. Caso contrário vira o samba do crioulo doido . Cada um fazendo o que acha melhor. Aqui no Rio temos vias para todos os gostos. Vias com grampeação curta, média e longa. A pessoa escolhe a que melhor lhe agrada. As fendas com possibilidade de proteção móvel, não deverão receber proteções fixas. Felizmente, de uma maneira geral, isso já é consenso. Agora as fendas que já foram conquistadas há vários anos com proteções fixas, somente poderão sofrer alterações se o conquistador ou clube responsável autorizar. Tivemos o caso do Diedro Infernal (no Babilônia). Os grampos foram retirados sem autorização e, apesar de ser uma fenda perfeita para proteção móvel, o conquistador quis que os grampos continuassem, o que já foi feito. Aproveito para fazer uma pergunta: se as pessoas que retiraram os grampos acham que estão fazendo algo correto, por que fizeram escondido?