Revista de Escalada Fator 2 - nº 26

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N o M u n d o Assinatura & cartas Flavio Daflon e Cintia Adriane Rua Valparaíso, 81 / 401 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ. - 20261.130 Tel.: (21) 2567-7105 E-mail: fator2@guiadaurca.com www.guiadaurca.com Assinatura anual: R$ 20,00

Fator2-Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.

Atenção Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um instrutor ou guia de escalada em rocha. Caso você não conheça as técnicas de segurança para a prática do esporte, ou possua dúvidas, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. A Fator2 não se identifica necessariamente com as opiniões expressadas por seus colaboradores. Jornalista Responsável: Marcio Carrilho. (20900/122/50)

Distribuição Lojas de equipamento, clubes de montanhismo, academias de escalada e na entrada do Babilônia, na Urca. Capa: Fábio Muniz na Tridedo Perdido, IXb, Petrópolis . Foto: Marcela Chaves. Fator 2 - número 26 - 2005

Chapada Diamantina Ao contrário do que alguns diziam, a Chapada Diamantina tem muita rocha sólida pra ser escalada. As vias esportivas começaram a ser abertas mais ou menos de dois anos pra cá, na cidade de Lençóis no Parque da Muritiba. As falésias são no leito do rio, você escala com o barulhinho da água, Deus caprichou na brincadeira, o lugar é lindo! As formações são de arenito, quartizito rosa e conglomerado, mas nas redondezas rola calcário e muitas paredes de granito (Milagres). As vias vão do IV grau até VIII com projetos de IX grau. As mais clássicas: Boca de Escopeta, Arame Liso e Parabelo VIIb, Curisco (miserável) VIIIc, Caroço Quente VIIIb, Emboscada e Tocaia VIIc/VIIIa, Ametista, Rei do Cangaço e Mandacaru VIsup, fora o universo de boulders. Pra quem nunca escalou em conglomerado a surpresa com as infinitas formas das agarras é fato consumado. Tem é coisa pra ser conquistada, o potencial do pico é como a fama de Lampião e a beleza é como a de Maria Bonita. Os baianos estão bem servidos. E quem deu o ar da graça por lá foram os Paulistas “massas”, que não pensaram duas vezes em botar a mão na massa, quero dizer na rocha. Algumas das vias conquistadas nos últimos tempos foram: Aresta dos “Aresta Macacos Macacos” (3º V E3 60m) por Luiz Coslope, Carlos Charlie Alves, Silvio Bisedão Coisinha, “Bisedão Bisedão” (VII E3 100 m) Rafael, Bruno Cabeção, Silvio Coisinha. Maresia Baiana “Maresia Baiana” (VIsup A3 170m) por Carlos Charlie Alves, Bruno Cabeção, Silvio Coisinha, Amigos Del “Amigos Calavarro Calavarro” (V E3 A2/ A2+ 200m) por, Carlos Charlie Alves, Luiz A. Coslope. Todas são vias tradicionais, algumas de mais de um dia talvez, proteções móveis e algumas chapeletas nas paradas.

Escalando em típico conglomerado. Foto e texto: Dodi Echternacht e Fernando Bagana de Diu Guimarães.

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N o

M u n d o

Exposição Fotográfica de Escalada... A designer Marcela Chaves, escaladora há quase dez anos, juntou sua paixão pela fotografia com o esporte e acabou se tornando uma especialista em imagens de montanha. Após sete anos clicando escaladores e paisagens nas alturas, ela resolveu reunir suas imagens na exposição InstHabilidade, para mostrar ao público, iniciado ou não, a essência da escalada em rocha. A lente da escaladora-fotógrafa passeia por diversos temas, como a explosão do movimento, a plasticidade de um bom posicionamento, o risco da exposição, as inúmeras tentativas de encadeamento, a instabilidade no limite do equilíbrio e a satisfação de mais um dia de escalada. A mostra faz parte do Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro – FotoRio 2005 -, com abertura na quinta-feira 16 de junho, às 19h, na Casa Mercado (Rua do Mercado, 45 - Centro, ao lado do Espaço Cultural dos Correios). A exposição fica em cartaz de quinta a domingo, das 14h às 22h, até 26 de junho.

Fabio Muniz na Tridedo Perdido em Petrópolis. Foto Marcela Chaves.

Boicote a via no Babilônia... Abaixo está um trecho da carta divulgada pela Femerj sobre o Boicote a via no Babilônia: “Em 2002, foi realizado o Seminário de Mínimo Impacto em Parede, o primeiro da história do montanhismo no País. Como modelo, foi escolhido para este seminário a Urca, por possuir a maior concentração de escaladas do Brasil e, conseqüentemente, ser um dos locais mais vulneráveis. Este evento foi divulgado durante meses em listas na internet, nos principais pontos de escaladas do Rio e também nos clubes e escolas de escalada. Desde 1999 que se discutia a importância de um comportamento coerente e adequado com relação ao meio ambiente natural. Em razão disso, nesta mesma época foi proposto um acordo, entre todas as entidades e montanhistas, para que não fossem mais feitas conquistas no Morro da Babilônia, devido ao grande número de vias já existentes no local. No entanto, na semana que antecedeu o seminário, Rafael Wojcik e o Rogério de Oliveira, o “Pica-Pau”, numa atitude de afronta à comunidade - já que Rafael fazia parte da lista de discussão da Femerj, onde este acordo já havia sido amplamente divulgado –, foram ao Babilônia e conquistaram uma via logo à esquerda do Paredão M2. Naquela mesma semana, durante a conquista, inúmeros escaladores e diretores da Femerj entraram em contato pessoal e pediram para que eles interrompessem a escalada e participassem do seminário. Eles não interromperam a conquista e não apareceram no evento. Tal comportamento individualista e anti-social causou repúdio na comunidade montanhista. Na primeira reunião, logo após o seminário, todas as entidades que compõe a Femerj (CEB, CEF, CERJ, CEC, CEL, CEP, GEAN, CEG, CET e AGUIPERJ) decidiram boicotar a via e divulgar ao máximo este repúdio. É importante a divulgação sistemática deste fato para que sirva de alerta, não só para informar, mas como exemplo para as novas gerações de escaladores.” A carta na íntegra pode ser lida em www.femerj.org



Textos e fotos: Edmilson PPadilha, adilha, da Conquista Montanhismo.

Sinto o gélido ar da madrugada através das rajadas suaves de vento que batem no meu rosto. O único som que escutamos vêm do crispar do metal dos grampons, debaixo de nossas botas, contra o gelo duro do glaciar. Nossas lanternas iluminam alguns metros adiante, o suficiente para distinguirmos as gretas no gelo. Diante de nós começa a se formar a imagem de um gigante de pedra: o Cerro Torre, uma montanha mítica e uma das mais difíceis do mundo. Somos três minúsculos pontinhos que se movem no glaciar, porém somos escaladores e escaladores são seres com elevada auto-estima. Estamos nos encaminhando para o começo da primeira parte da escalada que nos levará até o “ombro”, o nosso ponto de bivaque. Escalamos os 300 metros iniciais de rampa de gelo e rocha, fácil, porém, cheio de pedras soltas e gelo derretendo e chegamos ao ombro cedo, com tempo suficiente para almoçarmos e escalarmos mais uns 100 metros, deixando as cordas fixas para o outro dia. Descansamos relativamente bem, o quanto possível, pois quando se tem em mente a escalada que estamos para empreender, torna-se difícil dormir profundamente. Passam pelos meus pensamentos as imagens de tudo que fizera nas 3 semanas anteriores, quando havíamos escalado mais três agulhas e me sinto muito confiante para uma tentativa a uma montanha tão respeitada como o Torre. A cordamos muito cedo com aquela sensação de responsabilidade e começamos a subir pelas cordas. Quando amanhece estamos muito adiantados. Acima de nós há mais 4 equipes de escaladores: ingleses,

eslovenas e duas equipes sulafricanas. Em poucas horas e 400 metros escalados, alcançamos uma equipe sulafricana que progredia lentamente. Pedimos passagem e conseguimos nos desvencilhar do tráfego. Já havíamos deixado para trás o primeiro terço da via, que foi habilmente guiado por um de meus parceiros, o

Escalada à Agulha Guillaumet.

argentino Gabriel Otero. Adentrávamos agora o tramo de misto de gelo e rocha que tocava ao catalão Isaac Cortes. Como escalávamos em três, sempre um de nós guiava a cordada e os outros seguiam-no carregando a maior parte do peso. E assim progredíamos rapidamente sempre olhando para o céu à procura de nuvens que denunciassem a chegada de mau tempo, e tomávamos cuidado com os pedaços de gelo que se desprendiam a cada golpe de piqueta. No segundo terço da via, molhamo-nos muito com a água que escorre pelas fendas devido à elevação da

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Travessia sobre as TTorres orres e Gelo, na via do Compressor orre. Compressor,, no Cerro TTorre.

dia vai chegando ao fim e temos consciência de que temperatura. De repente o gelo acaba e dá lugar a escalaremos à noite a parte mais difícil da via. Anoitece muros de rocha vertical. Já havíamos vencido 800 e encontramos tráfego; agora do pessoal que chegou metros e agora restavam “apenas” 300 metros para o no cume e que está rapelando a montanha. Primeiro cume. Chego à reunião (ponto de parada) onde está d o i s sulafricanos, depois os ingleses e então, Isaac e ele me passa a bola. “as” eslovenas. É verdade, a primeira A garro os equipamentos de cordada feminina a escalar o Cerro que vou necessitar e começo Torre desce do topo e uma delas tem guiar a primeira cordada do duas costelas quebradas por um meu turno. Os últimos passos pedaço de gelo! Mônica nos alerta da cordada são delicados, pois que há gelo sob o compressor que há um misto de rocha e gelo se desprende quando o tocamos. derretido. Fixo a corda e meus Você pode achar estranho, mas parceiros sobem “como titanes”. quase no topo do Torre há um É interessante notar a compressor de ar de 70 quilos complexidade da escalada, pois desativado; ele dá nome à rota lançamos mão de técnicas muito conquistada em 1970 pelo lendário variadas: escalada com escalador italiano Cesare Maestri. sapatilhas; escalada com botas Ele o utilizou para bater perto de duplas para gelo; com grampons 350 grampos no muro final da - aqueles inventos pontiagudos de montanha. metal que acoplamos sob as botas; Em poucos instantes estou em pé e ainda usamos as piquetas de sobre o trambolho de metal, o que gelo. E muitas vezes temos de fazer é muito surreal. Exatamente 40 a transição de um tipo de escalada metros de escalada em rocha nos para outro, no meio da parede. 0 metros de os últimos 20 separam do triunfo. Meus ll, wa . ad re rre or He T To A A cada passo nos acercamos mais Cerro escalada do companheiros confiam na minha do cume. Já o visualizamos, porém o


A história da conquista do Cerro Torre 1958 1958: Partem da Itália duas expedições rivais, formadas pelos melhores escaladores da época, numa delas Cesare Maestri e Cesarino Fava (ítalo-argentino), e na outra Carlo Mauri e Walter Bonatti. Não obtêm sucesso e começa a fama de montanha impossível do Cerro Torre. 1959 1959: Maestri e Egger entram na parede norte e na descida Toni Egger perde a vida em uma avalanche. Maestri volta para a Itália como herói, mas depois de alguns anos começam a questionar sua escalada devido à complexidade da parede e ao fato de nunca poderem ter repetido a rota. E as fotos que poderiam comprovar o fato, segundo Maestri, se perderam durante a avalanche. 1968 1968: Outras expedições tentaram o Torre, mas os ingleses foram os mais persistentes e os que chegaram mais perto, agora pela aresta sudeste. Desistiram a 300 metros do cume, por um erro de estratégia. 1969 1969: Carlo Mauri retorna à Patagônia 11 anos depois, pela mesma face oeste que tentara em 58 e que possui muito mais gelo e está sob constante ação do vento e das baixas temperaturas. Dois integrantes de sua expedição, Rava e Ferrari, são obrigados a retroceder a 200 metros do cume devido ao mau tempo. Neste ano Mauri afirma que “aquele que fotografar as formações de gelo do cume do Cerro Torre poderá reclamar verdadeiramente os direitos de ter ido além dos limites do extremamente difícil”. E a polêmica sobre a conquista do Torre estava acesa. 1970 1970: Maestri, irritado com as críticas, retorna ao Cerro Torre disposto a conquistar uma rota a qualquer preço. Passa todo o inverno, enfrentando temperaturas em torno de –25º C, porém não atinge o topo. No verão do mesmo ano recomeça de onde parou e vence a aresta sudeste, lançando mão do uso de um compressor de ar, que com todos os apetrechos, pesava 180 Kg. É duramente criticado por usar este tipo de artifício. Todavia, Maestri decide não subir até o cume. Desce do final da escalada em rocha e afirma que o cogumelo de gelo não faz parte da montanha. Coloca, então, mais um pouco de tempero na controversa história da conquista do Torre. 1974 1974: Casimiro Ferrari, outro escalador que se sentiu profundamente atraído pela Patagônia, volta à parede Oeste e conquista a Via Ragni, mais conhecida como Via Ferrari, considerada uma das melhores escaladas em gelo do mundo. São 1200 metros com gelo de até 95º de inclinação. Muitos autores consideram esta como a primeira escalada do Cerro Torre. 1979 1979: Jim Bridwell faz a primeira repetição da Via do Compressor com visita ao cume. Brasileiros no cume do Cerro Torre: 1990: LLuiz uiz Makoto Ishibe 1992: Alexandre PPortela ortela 2005: Edemilson PPadilha adilha

Na hora de procurar um curso ou guia de escalada busque por profissionais certificados. Os guias e instrutores da Aguiperj possuem um vasto currículo e recebem treinamentos periódicos de primeiros socorros e autoresgate. É a garantia de uma escalada com segurança. Guias e Instrutores

Instrutores

BERNARDO COLLARES (21) 9685-2646 bernardo@femerj.org Escalador desde: 1995.

ANDRÉ KÜHNER (21) 2247-5840 / 9354-0400 akuhner@zipmail.com.br

DANIEL BONELLA (21) 2286-2775 / 9242-3261 serravertical@yahoo.com Escalador desde: 1994. FLAVIO DAFLON (21) 2567-7105 / 9742-0098

Escalador desde: 1987. EDUARDO R. DA COSTA (21) 2475-2116 / 9167-5928 rcaventuras@yahoo.com.br Escalador desde: 1994. FELIPE E. M. MARTINS

www.guiadaurca.com/companhia (21) 2266-7091 / 8166-9020

companhia@guiadaurca.com Escalador desde: 1989

a5escoladeescalada@hotmail.com Escalador desde: 1997.

GUSTAVO SAMPAIO (21) 2205-1669 / 8712-0589 vertalp@hotmail.com Escalador desde: 1992.

FLAVIO CARNEIRO (21) 2527-4938 / 9243-8972 Limitevert@skydome.net Escalador desde: 1987.

NILTON CAMPOS (21) 8183-2013 ncampos@masterlink.com.br Escalador desde: 1977.

FLAVIO LEONE (21) 2266-5552 / 9113-5712 flavioleone@globo.com Escalador desde: 1994.

RALF CÔRTES (24) 2222-0107 ralfcortes@hotmail.com Escalador desde: 1986.

KIKA BRADFORD (21) 2422-0692 / 9221-8741 kika@aribira.com.br www.aribira.com.br Escaladora desde: 1998.

SÉRGIO TARTARI (22) 2543-3504 ROBERTO GROBA sergio_tartari@hotmail.com.br (21) 2225-1268 / 2557-0321 Escalador desde: 1979. Escalador desde: 1979.

www.aguiperj.org.br

Os profissionais da Aguiperj são identificados

destreza em artificial para vencer a última cordada, que alguns dizem ser um A3. Quando dividimos a via em três partes e fiquei com a última, não podia imaginar que teria que liderar este trecho depois da meia-noite. Passo a passo, esta é a regra. De movimento em movimento, delicadamente, “deslizando”, como diria meu amigo Vicente Labate, passando pelos rivets, stopers e coper-heads. Cair ali não estava em meus planos. E com muita alegria grito para meus parceiros: “seguro

www.geocities.com/andreescaladas

pelo Selo abaixo.

SERGIO ROZENCWAIG (21) 2265-4148 sergiobula@yahoo.com Escalador desde: 1993.

A Aguiperj é filiada a Femerj e seu curso básico é homologado.


El Chaltén O vilarejo de El Chaltén está localizado na entrada do PParque arque Nacional LLos os Glaciares, a 443 Km de Rio Gallegos, capital da PProvíncia rovíncia de Santa Cruz. Este povoado está encostado na Cordilheira dos Andes. É possível comprar de mantimentos a equipamentos técnicos para escalada aí. Há bons restaurantes, hotéis e muitas agências de turismo. Daí partem as caminhadas e acessos para escaladas da região. Sites para pesquisa: www .climbinginpatagonia.freeservers.com www.climbinginpatagonia.freeservers.com www .patagonia.com.ar/santacruz/elchalten/index.php www.patagonia.com.ar/santacruz/elchalten/index.php www .elchalten.com www.elchalten.com

Como chegar: Avião: São PPaulo aulo - Buenos Aires - El Calafate. De El Calafate tomase um ônibus para El Chaltén toma-se que leva 4 horas para percorrer 240 Km (T otal (Total ida e volta passagem aérea + terrestre + taxas: US$700,00). Época: De novembro a março. Melhores meses janeiro e fevereiro. Agradecimentos: À minha família. Ao pessoal da Conquista. Aos meus companheiros de escalada. Patrocínio:Conquista Equipamentos para Montanhismo

www .conquistamontanhismo.com.br www.conquistamontanhismo.com.br

na última reunião da via!” Fixo as cordas entre os gritos deles. Agora era só escalar o neveiro final e nos “saludarmos” no cume. Subimos mais uns 100 metros de gelo fácil e estamos sobre o cume mais desejado e mais controverso da história do alpinismo mundial. Entre meus pensamentos estão a emoção de chegar, a sensação de ter valido a pena todos os esforços que fizera para estar ali e a preocupação pela descida que teríamos pela frente. Do cume, conseguimos ver as luzes do vilarejo de El Chaltén, nosso ponto de partida de alguns dias antes. Tiramos fotos, nos abraçamos e descemos do cogumelo de gelo. Encontramos um buraco para passarmos as últimas horas da noite, pois tivemos problemas com nossas lanternas. Nos sentamos sobre os equipamentos para esperar o tempo passar e quando começa a clarear levamos um susto, pois uma nuvem “engole” o Torre. Iniciamos uma corrida para rapelar rapidamente antes que o tempo piore ainda mais. Os primeiros rapéis sob vento e os seguintes com muita água e gelo caindo. Pequenos blocos de gelo caem por todos os lados e nos encostamos o máximo possível na parede para nos escondermos. Somente a partir da metade da descida é que não caem mais pedaços de gelo e o sol nos brinda com seu calor e podemos nos descongelar. Foram 10 horas duras para rapelar do cume até o ombro. Aí estávamos seguros e nos sentíamos aliviados. Passamos a noite muito bem e no outro dia descemos até El Chaltén. Aí sim pudemos comer uma bela pizza e comemorar com os amigos!


Nós escaladores percebemos que cada vez mais o esporte está crescendo e vemos cada vez mais pessoas escalando, isso é muito bom, pois eleva o nível do esporte de forma seletiva, mas também tem seus problemas.

passado tive o privilégio de ver um escalador gringo na Barrinha. O cara era ninguém menos que Scot Milton, escalador que já mandou até XIc. Ele a cada entrada na via, descia escovando agarra por agarra para a próxima pessoa que fosse entrar na via. Gostei muito da sua atitude. Ele achou as vias daqui muito boas, porém muito sujas.

Cada vez mais o acúmulo de magnésio nas agarras atrapalha ou às vezes derruba o escalador da via. Isso vem acontecendo porque quando escalamos, Podemos reverter este quadro! enchemos a pedra de magnésio e Vamos escovar tudo, agarra de depois vamos embora. Esse pé, de mão... acho que essa Foto: Daniel Coçada. Site: www.viacrux.net problema poderia ser evitado ou atitude deveria ser de praxe, muito amenizado se a grande mesmo porque faz parte da ética massa escaladora incluísse a escovinha no seu material de escalada: manter o local limpo. de escalada. Aliás muitos saquinhos de magnésio tem Enfim, peço que todos escovem. As paredes e outros espaço reservado para esse equipamento que é escaladores agradecem. Boas escaladas a todos! indispensável para a limpeza e manutenção das vias. Escalo há 4 anos, freqüento muito as falésias e boulders do Rio de Janeiro e em meados do ano

Allan Rodrigues de Araujo. Allan.alpinista@ig.com.br



Raquel Guilhon e Daniel Coçada

O muro do Neto tem 3,60 metros de largura por 3,00 metros de altura. O pé direito do quarto é menor do que isso, mas como o muro tem uma inclinação de 30º/35º, chega aos três metros. Ele está fixo na parede por buchas e braços de madeira e tem a superfície texturizada. As placas foram compradas do antigo Escalada Café. As agarras são presas nas porca-agarras por parafusos de 1/4 e 5/16. Uma vez por ano, Neto tira e lava as agarras aproveitando para mudá-las de posição. Atualmente tem abertas 11 vias do V ao IX grau e 30 boulders.

O muro do Pita tem 3,30m x 3,30m e precisou de cinco placas de 15mm de espessura de compensado

(2,20m x 1,60m) para construí-lo. Muro do Antônio Paulo São mais ou menos 300 agarras fixas nas porca-agarras com parafusos de 5/16. No momento Pita tem marcadas no muro 20 vias que vão de 15 a 100 movimentos. Ele anota cada via escrevendo o nome e a seqüência de cada agarra, por exemplo: “1- pinça azul, 2- invertida, 3- disco-voador, etc.” e dá um grau também. Os pés são livres, a não ser para alguns boulders que abre. A metade esquerda do muro tem inclinação de 45º e o lado direito 35º. Pita escala no muro de duas a três vezes por semana.

Daniel Coçada tem um muro em seu quarto com 400 agarras e 130 vias abertas. As agarras são do Pita (www.bypita.com.br), do Sidney (vdoze@ig.com.br), do


Luis Cláudio “Pita”

Gláucio de Petrópolis e do Portela. As vias são anotadas num caderno de vias pelo nome e seqüência e possuem de 20 a 60 movimentos, algumas tem os pés marcados. A inclinação é de 35 graus e os parafusos de 5/16 para as agarras de mão e 1/4 para os pés. O tamanho total do muro é de 4,40m x 3,60m e foram utilizadas placas de compensado naval de 15mm. Ele está fixo na parede e no teto com buchas e braços de madeira. Daniel e Raquel escalam nele mais ou menos cinco dias por semana e como ele está no quarto de dormir ele afasta a televisão e levanta a cama num sistema que a deixa presa a parede, para ganhar espaço.

Muro do Rodrigo Gaúcho

Muro do Neto

Daniel também fabricou um Campus Board removível. Quando necessário fixa ele no teto e no muro.

Antônio Paulo construiu seu muro utilizando três paredes e o teto. Conseguiu assim positivos, negativos e tetos. Um dos negativos foi montado na estrutura de uma escada e por isso chega a 55º de inclinação. O outro tem 30º. Uma viga no teto também foi utilizada para unir o maior negativo ao positivo, assim é possível dar uma volta completa passando por todos os muros.



Foram utilizados compensados navais de 18mm de espessura. São 470 agarras de diversos fabricantes, principalmente Pita, VDoze, Helmut e Ricardo Linhares. No momento existem três vias de 50 movimentos abertas. Elas são marcadas com um número ao lado de cada agarra utilizada. Uma das vias é bastante técnica e está inteira no positivo. Os parafusos são de 1/4 e 5/16. O Antônio Paulo escala no muro de uma a duas vezes por semana e o objetivo é treinar a resistência.

pontos de descanso. É claro que há muitos boulders também, todos anotados num fichário e organizados por grau. Outro ponto interessante é que assim como no muro do Coçada, há algumas “costuras” clipadas no muro e vias em que a cada cinco movimentos devese “costurar”. O objetivo é simular ao máximo uma guiada.

Saiba Mais

O muro do Rodrigo “Gaúcho” é um dos mais

O Pita da ByPita constroi muros de grande

freqüentados. Regularmente a “galera dos boulders” passa por lá, principalmente o Luciano “Lupa”, o Gerardo, o Rodrigo Leo, Allan e Cleantro. Com tantos nomes de peso não é de se espantar a quantidade de vias abertas, cerca de 600. Tudo anotado no caderno de vias. Na hora de dar o grau, cada um dá sua sugestão e chega-se a uma média. São dois muros negativos, um de frente para o outro, formando uma pirâmide. Um deles tem inclinação de 45º e mede 2,20m x 3,20m. O outro tem inclinação de 30º, medindo 4,10m x 4,20m, onde foram utilizados compensados de 15mm e 20mm, num total de seis placas e meia, e parafusos de 5/16. Eles treinam resistência em vias que tenham mais de 50 movimentos com algum ponto de descanso no meio e treinam força-resistência em vias de até 30 movimentos sem

As fotos deste artigo foram feitas por: Flavio Daflon, Bruno Maibon e Rodrigo “Gaúcho”. Texto: Flavio Daflon e Cintia Adriane.

qualidade. Além de inúmeros mini-muros, construiu os muros da Onze A em Niteroí, da Adventure Bike em Botafogo, do antigo Escalada Café e no New York City Center, entre outros. O investimento é alto, em média R$ 300,00 por metro quadrado, mas inclui além da mão de obra, os compensados, parafusos, porca-agarras, agarras, pintura texturizada e toda a fixação na parede. A inclinação normalmente mais utilizada é de 30/35 graus. Mais informações em www.bypita.com.br (tem algumas fotos de muros) ou nos telefones (21) 25520624 / 8157-7214

Todas as fotos destes cinco muros e mais o muro dos autores podem ser vistas em www.guiadaurca.com


T é c n i c a Loop do Baudrier... Em 1978, o fabricante inglês Troll criou para seus baudriers o primeiro loop da história, um pequeno anel que une as alças da perna e da cintura. Desde então surgiram dúvidas de quanto ele agüentava e se servia somente para prender o freio do rapel ou para dar segurança também. A norma CE exige um mínimo de 16KN para o loop e para o baudrier, mas é comum encontrarmos baudriers que suportam 16KN, com loop suportando 22KN ou mais. O mosquetão do freio deve ser sempre preso ao loop. Caso o mosquetão do freio seja preso diretamente nas duas pontas do baudrier, corre-se um sério risco, além de não permitir uma movimentação do mosquetão para se alinhar na direção do tranco em caso de queda. O acúmulo de fitas tão largas pode forçar o mosquetão do freio em três direções. Veja as fotos abaixo. Em quedas curtas tudo bem, mas em quedas mais sérias o mosquetão pode partir, como aconteceu fatalmente duas vezes na Inglaterra, em 1998. Porém, nem tudo são maravilhas com o loop. O italiano Emanuele Pellizzari, um dos maiores especialistas em equipamentos de montanha da Europa, realizou alguns testes com baudriers usados e descobriu que loops com alguns anos de uso podem agüentar bem menos do que os 16KN da norma CE. Um de seus baudriers, com dois anos de uso, teve o loop rompido com 10KN. Já em outro, o rompimento aconteceu com 11KN e, num terceiro, com três anos e sete meses de uso, o loop se rompeu a 7KN. Pelos poucos testes realizados, ainda não se pode garantir que a perda de resistência comprometa a segurança de todos os baudriers existentes. Por exemplo: o loop do baudrier do escalador espanhol Daniel Andrada, famoso por ter encadenado mais de mil vias de IXc ou mais, com dois anos de uso, ainda assim resistiu no teste 27KN. Existem baudriers no mercado cujos loops suportam 32KN e que, provavelmente, mesmo perdendo resistência

com o tempo, podem resistir aos 16KN da norma CE. Outros fatores que devem ser levados em consideração para que um loop perca resistência são a freqüência e a forma de sua utilização. Escaladores esportivos que estão sempre segurando quedas, normalmente são jovens e podem escalar quase todos os dias, devem portanto se preocupar mais. O problema é que eles também costumam usar o equipamento até praticamente se desfazer, seja por economia ou falta de dinheiro mesmo. Por sorte, em outro teste verificou-se que a grande maioria das quedas não forçam o loop em mais de 4KN. Quem escala em paredes em geral força menos o loop, que normalmente acaba sendo mais exigido no rapel, ainda que pouco. Em compensação, nas paredes fica-se mais exposto ao sol, o que deteriora mais rapidamente as fibras que formam as fitas do baudrier. O ideal seria trocar o baudrier a cada ano, em caso de utilização diária, o que é o caso de escaladores esportivos ou guias profissionais. Para quem escala todos os fins de semana, ele deve ser trocado a cada três anos e, para escaladores ocasionais, cinco anos são satisfatórios. Se o seu baudrier ainda parece novo, mas você está com a pulga atrás da orelha sobre a resistência do loop, não utilize as duas pontas do baudrier, mas faça melhor: utilize um reforço para o loop. Neste caso, o mais aconselhável é utilizar um cordelete de 5.5mm de kevlar ou dyneema, fazendo um segundo loop e colocando ao lado do loop original. Para emendar o cordelete utilize um nó de pescador triplo. Um metro de cordelete dá de sobra e é barato. A resistência de um cordelete de kevlar ou dyneema varia de 13 a 18KN. Deve ser dada preferência a um cordelete, pois com uma fita pode aumentar em excesso o diâmetro do conjunto, o que reduziria desnecessariamente a resistência do mosquetão de rosca do freio. É o mesmo princípio pelo qual as costuras modernas possuem fitas com no máximo 20mm de largura.

Texto: Flavio Daflon. Fonte: Revistas Desnivel nº 130 e 150 e www.desnivel.com

Um último detalhe: para se queimar a ponta do cordelete de kevlar deve-se cortar a alma menor do que a capa. Esta é feita de poliamida e é o que efetivamente será queimado, já que o kevlar (aramida) da alma não se funde com o calor.



W a l d e c y C o l u n a

d e

M a t h i a s C a m i n h a d a

Abrigos Barracas – As barracas têm a função de proteger o montanhista das intempéries, como chuva, frio e vento. Uma boa barraca para duas pessoas deve pesar em torno de três quilos. Evite barracas importadas do tipo quatro estações, pois funcionam bem apenas em alta montanha. O chão e o teto devem ser de náilon impermeável, com costuras seladas e sobreteto permeável, para facilitar a ventilação. O teto deve ir quase até o chão, protegendo o sobreteto da chuva e, ao mesmo, tempo facilitando a ventilação. Uma boa montagem é fundamental, pois o teto quando colado ao sobreteto impede a ventilação, condensando a umidade do ar dentro da barraca. O ideal é que a barraca seja auto-sustentável, do tipo iglu, o que permite sua montagem sem o uso de estacas (specs), o que facilita a escolha de um local mais confortável e longe de pedras e desníveis. Após a montagem, a barraca deve ficar o mais esticada possível, usando-se para isso todos as estacas e cordeletes, o que também ajuda a melhorar a ventilação e impermeabilidade. A armação pode ser de alumínio ou fibra, com um cabo elástico correndo por dentro, o que facilita a armação

e o armazenamento da barraca. Não se deve esquecer ainda do avancet, local onde ficam as mochilas e calçados durante a noite, protegendo-os sa chuva e do orvalho, além de servir, em caso de chuva ou muito frio, de cozinha improvisada para uso do fogareiro. Tarpes – São pedaços de náilon com ilhoses ou alças nas extremidades, para a sua montagem. Podem ser montados em uma ou duas águas, como o telhado uma de casa, sendo sua fixação feita através de cordeletes amarrados em árvores ou galhos. São ótimos recursos para grandes explorações ou conquistas, devido ao seu pouco peso e volume. Funcionam muito bem conjugado com um saco de bivaque, mas podem ser bem desconfortáveis no caso de tempestades e ventos. A escolha de um bom local para a montagem da barraca, livre de ventos e possíveis inundações, é fundamental. Jamais cozinhe dentro da barraca, pois é muito perigoso. Tanto a barraca quanto o tarpe devem ser periodicamente ventilados e guardados bem secos, o que prolonga bastante sua vida útil. Também não esqueça do cobertor metalizado de emergência, mesmo em caminhadas de um dia. Barato, leve e pouco volumoso, cabe em qualquer lugar da mochila e pode salvar uma vida. Boas caminhadas e até a próxima. Waldecy Mathias Lucena


R a l f C ô r t e s E n t r e v i s t a

Eliseu Frechou São Paulo sempre foi um estado onde a escalada em rocha evoluiu devagar, com poucas pessoas conquistando, equipando novas rotas e puxando o grau pra cima. A região de Bragança Paulista, mais próxima da capital, já há anos precisa de um descongestionamento, assim como as falésias mais esportivas da região da Pedra do Baú, que também sofrem com o excesso de escaladores. Para citar um exemplo, a Pedra da Divisa tem sido fechada três meses por ano por conta do uso excessivo. O recém-lançado Manual de Escaladas da Pedra do Baú e Sul de Minas mostra claramente que menos de uma dezena de pessoas são responsáveis por 90% das conquistas na região. Como se não bastasse, a crise econômica que afeta o País tem atingido de forma brutal nosso mercado e seus praticantes, desacelerando ainda mais seu desenvolvimento. Mais estamos reagindo. Algumas ações têm sido tomadas para tentar reverter o quadro, como o Festival de Escalada BloX , que anualmente desenvolve um novo ponto para ser estreado no dia da festa. A renda obtida com inscrição e patrocínio é que paga o desenvolvimento do lugar, como uma espécie de vaquinha, onde todos que participam do evento são responsáveis pela existência do novo setor. Mas isso ainda é pouco. Precisamos de mais idéias, locais, vias e uma manutenção constante nas rotas mais freqüentadas e antigas, para que São Paulo possa garantir o interesse dos escaladores pelo esporte. O CMSM (Clube de Montanhismo Serra da Mantiqueira) tem agido de forma eficaz na

manutenção de diversos locais de escalada em São Paulo, além de ações isoladas de grupos menores, que têm sido importante em locais como Salesópolis, Morro do Maluf, Dib, Visual das Águas e Pico do Jaraguá. Como vivo do esporte, insisto em ter uma visão otimista do que está por vir. Atravessamos uma grave crise no País e a escalada sofre com isso, da mesma forma que o vôo livre, o mergulho e todos os outros esportes caros, que dependem de itens importados. A escalada é um dos esportes que mais crescem no mundo, e quem tem a oportunidade de viajar vê isso claramente. Esta é a hora dos gringos. Aliás, nunca tivemos tantos escaladores estrangeiros aportando no país. Nos Estados Unidos ou na Europa aumenta assustadoramente o número de praticantes a cada ano. E nós (o Brasil) somos um reflexo do que acontece lá fora. Basta esperar, pois a tempestade será passageira. Eliseu FFrechou rechou, 37 anos, é montanhista há 22, rechou instrutor e guia de escalada em São Bento do Sapucaí (SP) e editor do Jornal Mountain Voices (www.mountainvoices.com.br).


C r o q u i s 11 Invasões Bárbaras 6º VIIb E3 D3 A trilha para o Contraforte do Corcovado começa no final da Rua Viúva Lacerda, no Humaitá. A descrição e um desenho da caminhada está no Guia de Escaladas da Floresta da Tijuca, assim como o croqui de outras cinco vias do local. A base da Invasões Bárbaras está há uns dez ou 20 metros antes da base da via Macacos Chapados. A base da Macacos é fácil de identificar por um vergalhão cravado na rocha. O rapel pode ser feito pela própria via com uma corda ou pela Macacos Chapados. É uma via de aderência, com alguns lances longos, no estilo Salinas, mas os trechos de sétimo são melhor protegidos. Conquistadores: Miguel Monteza, Pedro Aragão, Adrian Giassone, Manuel Pimenta. Realizada entre novembro de 2004 a Janeiro de 2005. Fotos: Miguel Monteza.


C r o q u i s

Via Crucis 5º VIIa A1 - 85 metros Conquistada pelos escaladores do CET (Centro Excursionista Teresopolitano) Daniel Fernandes Guimarães, Diogo Marassi e Eduardo (Edu do Ligth), a via fica na Pedra da Cruz, na Serra dos Órgãos. Sua base localiza-se um pouco antes e à direita do Paredão Paraguaio. Ela começa em cliff numa parede lisa e negativa, mas logo em seguida segue em livre até o final. Deve-se tomar cuidado com agarras podres. São necessárias nove costuras, um par de Talon, um par de estribos, Friends nº 0,5, nº0,75 e nº 1 (camalots), e stoppers.


C r o q u i s





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