Viverbem 168 - 3ª Parte

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ESPORTE 31

GRANDE BH, OUTUBRO DE 2013

FANATISMO NO FUTEBOL: DOENÇA OU PAIXÃO? Por Ricardo Adriano ricardo.rigaray@yahoo.com.br

Diante disto, surgem as mais diversas teorias que tentam dar conta deste fenômeno tão diferenciado que move milhões de pessoas em todo o mundo. As vibrações e o nervosismo, característicos da hora dos jogos, demonstram as principais sensações vivenciadas pelos torcedores. Por outro lado, podem revelar muito mais do que uma simples admiração. Inexplicavelmente, muitas formas de dedicação ao time ou ao jogo são condutas observadas em torcedores, com maior frequência, do que nos próprios jogadores do time. O sujeito (neste caso, o torcedor) joga pelo outro (jogador) através do olhar e da emoção. Em cada torcedor há um técnico, um jogador, e mais, há um conhecedor de futebol. Todos sob sua própria perspectiva vislumbram um jogo melhor, uma escolha técnica melhor, um posicionamento excelente de cada jogador e sob seus próprios elementos já conhecidos e postos, constrói

O futebol é um esporte que não tem barreira social e tem o poder de unir pessoas das mais diversas classes sócio-econômico-cultural. Isto acontece pelo objeto de amor em comum: o seu time. novas teorias, que em geral, divergem das utilizadas em campo, principalmente quando seu time perde. Após cada jogo, são intermináveis os debates entre profissionais e leigos, sempre dando conta de um inexplicável, resolvendo o que não há solução, na tentativa de preencher o vazio deixado pelo jogo.

REPRESENTAÇÃO DO FUTEBOL Apesar de toda esta disposição das pessoas que torcem, devemos pensar sobre o que representa o futebol, principalmente, no Brasil, que é considerado o país do futebol. Talvez o futebol brasileiro traga consigo a marca do reconhecimento, da existência, da possibilidade de se representar ao resto do mundo, longe da figura selvagem que éramos submetidos. O Brasil passou a ser re-

conhecido por seus títulos e seus jogadores. Há no mundo quem conheça Pelé, Romário, Ronaldo Fenômeno, mas não saiba nada sobre o nosso país. Nossa vantagem em copas do mundo e outros títulos mundiais nos fizeram reconhecidos como o país do futebol e nisto cantamos vitória. Mas também pede uma reflexão sobre o que pensam os brasileiros em relação à forma como são vistos pelo resto do mundo. Paramos cidades inteiras para assistir aos jogos da Copa e decisões dos clubes do coração; a economia para no país: empresas privadas, bancos, serviços e até o trânsito fizeram silêncio para “sua majestade, o futebol”. Mesmo carregados de controvérsias frente ao time ou as táticas, os brasileiros se submeteram ao futebol. Seria então, o futebol a salvação da pátria? Deveríamos então, utilizar o futebol como característica política para desenvolver na popula-

ção o tão desejado sentimento de patriotismo? Qual será o real interesse dos brasileiros frente às suas questões sociais, econômicas e culturais se somente o futebol demonstra força de mobilização? Dentre os questionamentos dessa fragilidade emocional do brasileiro perante o futebol, trago à tona as relações de fanatismo e agressividade tão presentes nas partidas e depois das partidas. Ao mesmo tempo, que mobiliza a população, nos terrenos particulares de seus clubes, faz emergir entre muitos torcedores sentimentos de posse, egoísmo e intolerância, e caminham para uma forma de fascismo recheado de sofrimento, violência, totalitarismo, induzindo a destruição da comunidade social e do direito de escolha.

QUEM É O FANÁTICO O fanático é aquele que

acredita que a única forma de ser feliz ou de viver é através de um símbolo idealizado, por exemplo, um time (ou mesmo a seleção). Esta fixação idealizada pode surgir na infância com os exemplos e ensinamentos oferecidos pelos pais, familiares e a sociedade. Algumas formas de fanatismo podem dizer algo relacionado à fuga de realidade, visto que está ligado a um prazer muito particular. Portanto, ao fixar um símbolo ideal, ameniza-se os sofrimentos que a vida pode suscitar. O fanático é impossibilitado de perceber as escolhas alheias, os gostos, o comportamento e os pensamentos das outras pessoas que são contrárias aos seus e age com agressividade quando o que vem do outro agride ou ofende sua idealização. Acredito que ao fazer uma reflexão sobre o futebol e suas particularidades, devemos voltar nossos olhares para todas as formas de manifestação atribuídas como consequência deste esporte, que tem sua atuação cada vez mais presente, justamente pela variedade e contradição de suas representações e manifestações.


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