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TECNOLOGIA
COALIZÃO QUER Wi-Fi turbinado
A Abranet defende a destinação de toda a faixa de 6 GHz, ou 1200 MHz, para a nova geração da tecnologia sem fio. Anatel sinaliza a intenção de atender a esse pleito, mesmo com a pressão das teles e dos fabricantes tradicionais.
COMO PLEITEIAM DIVERSAS entidades e empresas, a faixa de 6 GHz, entre 5,925 GHz e 7,125 GHz, deve ser alocada para uso não licenciado. Isso, na prática, significa que a frequência ficaria disponível para aplicações de Wi-Fi, em especial do Wi-Fi 6E. A indicação, feita pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 10 de dezembro, foi aplaudida pela Coalizão Wi-Fi6E Brasil, da qual a Associação Brasileira de Internet (Abranet) é signatária ao lado de outras instituições e empresas como a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Associação dos Provedores de Serviços e Informações da Internet (Internetsul), Amazon, Apple, Facebook, Google, Oi e Qualcomm. A Coalizão Direitos na Rede também celebrou a decisão da agência.
A sugestão está em consulta pública – que até o fechamento desta edição estava prevista para terminar em 24 de janeiro – e passou de forma unânime no Conselho Diretor da Anatel, apesar de toda a pressão em contrário exercida pelas operadoras de celular e pelos fabricantes de equipamentos de rede móveis.
A destinação de todo o espectro da faixa de 6 GHz para o Wi-Fi atende a uma lógica econômica. Há uma projeção que o uso não licenciado vai gerar ganhos superiores a R$ 900 bilhões ao longo da próxima década só no Brasil, como indicou o relator da matéria no Conselho Diretor da agência, Emmanoel Campelo. Ele apontou que o Wi-Fi é a tecnologia preferencial de conexão no País, mesmo
NO BRASIL
quando o acesso é feito pelo celular.
“Além de cobertura doméstica, conectando dispositivos diversos, as redes locais sem fio se destacam para escoamento de tráfego, conexão de clientes em áreas sem cobertura móvel e para o provimento de soluções tecnologias como smart home e internet das coisas”, ponderou Campelo, para completar em seguida que “mais da metade do tráfego móvel trafega por offload, em Wi-Fi, o que já demonstra a relevância das redes locais hoje e que terão papel ainda mais significativo em futuro breve.”
Em carta enviada ao Conselho Diretor da Anatel, a Coalizão WiFi6E Brasil disse que o uso não licenciado da faixa de 6 GHz possibilitará a massificação da conectividade em banda larga e a democratização do acesso à internet no Brasil, especialmente por meio da atuação das empresas de internet de pequeno porte. “O valor econômico acumulado entre 2020 e 2030 associado à destinação de 1200 MHz na banda de 6 GHz será de US$ 112,14 bilhões [cerca de R$ 570 bilhões] em contribuição para o PIB; US$ 30,03 bilhões [R$ 150 bilhões] em superávit do produtor para as empresas brasileiras; e US$ 21,19 bilhões [R$ 100 bilhões] em superávit do consumidor à população brasileira, a partir de 2021”, destacou a Coalizão no documento encaminhado à Anatel.
Um dos pontos favoráveis à destinação da faixa para aplicações não licenciadas é o impacto imediato caso a
“O valor econômico acumulado entre 2020 e 2030 associado à destinação de 1200 MHz na banda de 6 GHz será de US$ 112 bilhões em contribuição para o PIB; US$ 30 bilhões em superávit do produtor para as empresas brasileiras; e US$ 21 bilhões em superávit do consumidor à população brasileira, a partir de 2021.”
Coalizão WiFi6E Brasil, em carta enviada ao Conselho Diretor da Anatel
decisão seja confirmada pelo órgão regulador. Como lembraram empresas e entidades, “já há empresas fabricando equipamentos Wi-Fi 6 no Brasil e, tão logo o Wi-Fi 6E seja liberado, eles entrarão na linha de produção”.
OFFLOAD
O Wi-Fi também é usado para descarga do tráfego móvel (offload), e isso tende a crescer ainda mais. A Cisco projeta um crescimento anual do tráfego móvel via Wi-Fi na casa dos 53%, sendo que, até 2022, somente 22% do tráfego internet será acesso móvel “puro”.
Nada disso impediu um forte lobby de operadoras e fabricantes para que, no lugar de destinar os 1200 MHz para sistemas não licenciados, a Anatel permitisse o uso no Wi-Fi de apenas 500 MHz, deixando o resto guardado para, quem sabe um dia, ser usado em aplicações licenciadas – ou seja, para a telefonia móvel.
Em carta à Anatel, foi usado o argumento de que haverá discussão global na União Internacional das Telecomunicações (UIT) sobre uma possível identificação da faixa de 6 GHz para a telefonia móvel, mas não se mencionou que esse debate não inclui a destinação dessa fatia do espectro nas Américas, apenas na Europa e Ásia.
Como também lembrou Campelo em seu voto, ao rejeitar a reserva de espectro para o futuro, “tal paralisação seria injustificada por impor aguardar até 2027 [quando é possível que venha a ter uma discussão na UIT que afete a região do Brasil] sem qualquer sinalização internacional afeta às Américas”.
No mais, concluiu o relator, vale lembrar que o uso não licenciado não deixa a telefonia móvel de fora; pelo contrário. “A adoção do Wi-Fi 6E não afasta possibilidade de uso da faixa futuramente para provimento de 5G. Isto porque o 3GPP já expediu padronização para operação do 5G por meio de uso de faixas não licenciadas, o chamado 5G NRU, de modo que a proposição não restringe o uso da faixa, mas o amplia”, apontou o relator.
ADOÇÃO MAIS RÁPIDA E EMERGENTE NO BRASIL
“É muito importante compreender todas as tecnologias sem fio disponíveis no mercado e aplicar uma solução adequada, destacou Evair Gallardo, diretor da Abranet, no painel “Desmistificando o oba a oba: 5G e Wi-Fi 6E — evolução, desafios e limitações”, que contou também com a participação do presidente da Abranet, Eduardo Neger, no Internet Festival, realizado em dezembro.
Nesse cenário, aliar a tecnologia mais adequada a um modelo de negócio potencializa sua utilização e permite rentabilizar a solução. “Tem de se compreender todas as tecnologias sem fio do mercado e saber qual é mais adequada para cada uso, para a realidade do local e para os usuários que estarão lá”, frisou Gallardo.
Duas tecnologias sem fio estão em alta nas discussões: 5G e Wi-Fi 6E. Ambas devem revolucionar o mercado, mas em setores e com aplicações diferentes e, em muitos casos, serão complementares. Enquanto o 5G está mais voltado para redes externas, o Wi-Fi 6E foca no ambiente interno.
“De 4G para 5G e de Wi-Fi 5 para Wi-Fi 6, foram saltos tecnológicos que realmente vão mudar as telecomunicações”, enfatizou o executivo da Abranet. “Wi-Fi 6 e 5G vão trabalhar concomitantemente, inclusive com o Wi-Fi 6 sendo offload para redes 4G e 5G, mas acho que o Wi-Fi 6, nesse momento, vai ter mais penetração, porque é frequência não licenciada”, acrescentou Gallardo, tocando no principal diferencial das tecnologias.
Por não precisar de frequências licenciadas, a adoção de Wi-Fi 6 tende a ser mais rápida. “Tudo que é licenciado pela Anatel é muito bom, porque atende a preocupações com interferência de serviços e a regras de implantação, metas, mas as pequenas e médias empresas, que fazem parte do grupo de provedores de internet da Abranet, só cresceram porque havia uma regra diferenciada e não licenciada de alguns rádios”, observou Eduardo Neger, presidente da Abranet.