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# 164 ano XL JANEIRO/FEVEREIRO 2013

Gestos essenciais As ações que possibilitam às empresas da Organização Odebrecht exercerem seu papel social


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www.odebrechtonline.co Edição online

> Grupo angolano reúne depoimentos para compor arquivo e realizar documentário sobre a independência do país.

Acervo online

# 164 ano XL JANEIRO/FEVEREIRO 2013

> A partir de experimentos interativos, museu em Camaçari (BA) ensina ciências a crianças e adolescentes. > Concurso premia escolas autoras de projetos de sustentabilidade e promove educação ambiental. > Doação de sangue e capacitação profissional mobilizam integrantes das obras do Píer IV e seus familiares.

GESTOS ESSENCIAIS As ações que possibilitam às empresas da Organização Odebrecht exercerem seu papel social

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> Acesse as edições anteriores de Odebrecht Informa, desde a número 1, e faça o download do PDF completo da revista.

> Relatórios Anuais da Odebrecht desde 2002.

> Publicações especiais (Edição Especial sobre Ações Sociais, 60 anos da Organização Odebrecht, 40 anos da Fundação Odebrecht e 10 anos da Odeprev).

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m.br

> Edição de Odebrecht Informa na internet. > Reportagens, artigos, vídeos, fotos, animações e infográficos.

Videorreportagem

> Apoio a pequenos negócios e combate à malária fazem parte de ações que estão contribuindo para o desenvolvimento de comunidades na Guiné. > Princípios do cooperativismo aplicados à reciclagem de plástico resultam na qualificação de trabalhadores e na geração de renda. > No Valongo, região de comunidades carentes em Santos (SP), o futebol é instrumento de inclusão social para jovens.

Blog

> Produção de própolis vermelha, produto brasileiro sem similar no mundo, dinamiza economia de municípios de Alagoas.

> Palestrante do Fronteiras do Pensamento 2012, o escritor moçambicano Mia Couto fala sobre a importância da África para o Brasil.

> Siga Odebrecht Informa pelo twitter @odbinforma e saiba das novidades imediatamente.

> Comente os textos do blog e participe enviando sugestões para a redação.

> Reciclar é viver

Apoiando projetos de reciclagem, a Braskem gera oportunidades de trabalho e renda nos estados de São Paulo, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Sul.

> Você também pode ler Odebrecht Informa no seu iPad. A revista está disponível para download gratuito na APP Store.

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Capa: Lauren Pereira, da Odebrecht, com crianças e jovens da vila de Tamiandou, na região de Kissidougou, na Guiné. Foto de Guilherme Afonso.

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Nascido nas obras da Hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, o Programa Acreditar consolida-se em âmbito internacional

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Nas concessionárias de rodovias, os caminhos também são feitos de investimento na educação básica, na formação de jovens profissionais e no suporte a pequenos empresários

18

Panamá: a história de uma parceria pela saúde que vem dando frutos altamente positivos dentro e fora dos canteiros de obra

21

Gente: Rafael Tamashiro, Minerva Gómez e Thamara Wanderley e sua ajuda para melhorar realidades coletivas no Peru, no Panamá e no Brasil

22

Arena Fonte Nova proporciona oportunidade de reinserção social a egressos do sistema carcerário

26

Na reforma do Maracanã, no Rio de Janeiro, algumas importantes vitórias estão sendo comemoradas, entre elas, a alfabetização de integrantes

30

Em São Lourenço da Mata, em Pernambuco, o Programa Arena Educar oferece aulas de informática a jovens e adultos

33

Programa desenvolvido em Santa Catarina, no Espírito Santo, na Bahia e em Tocantins evidencia a importância do papel social dos agentes de saúde

36

Entrevista: Francisco Martins e as histórias, os aprendizados e os atuais desafios de uma pessoa cuja maior paixão é ajudar pessoas a crescer

40

Teatro, dança, música, conferências: as diversas (e qualificadas) faces da contribuição da Braskem à cultura

46

Apoio a pequenos negócios, inclusão digital e combate à malária levam novas expectativas de crescimento a comunidades da Guiné

50

O futebol garante alegria, ocupação e, sobretudo, perspectivas para crianças e jovens do Valongo, em Santos (SP)

52

Consórcio responsável pela construção da Refinaria Abreu e Lima, em Suape, ajuda a deixar ainda mais animado o Carnaval de Olinda

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Transnordestina abre seus canteiros para que a comunidade conheça, em detalhes, como a ferrovia está sendo construída

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ações sociais 56

Das obras do Trensurb, na região metropolitana de Porto Alegre, um relato sobre a alegria e o orgulho de aprender a ler e a escrever

59

Trabalho de reciclagem em quatro estados brasileiros, focado no pós-consumo do plástico, mostra uma forma de superar um grande desafio ambiental

62

Comunidade: em Rondônia, uma iniciativa de qualificação profissional que se tornou, mais que um instrumento empresarial, um sólido elo social

64

Angola: em Huambo e Cambambe, iniciativas contribuem para a promoção da cidadania, da saúde, da educação e da qualificação profissional

68

Do Projeto Vias Estruturantes, em Luanda, vem a confirmação do quanto é positivo o envolvimento das famílias na realidade de uma obra

70

Orquestra formada por jovens faz turnê que inclui o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Teles Pires

72

Em Portugal, na região das obras do Aproveitamento Hidrelétrico do Baixo Sabor, um exemplo de valorização e preservação do patrimônio imaterial

76

Perfil: Cláudio Castro e a atuação cotidiana com um tipo de trabalhador que ele conheceu e aprendeu a admirar ainda na infância

78

A inspiradora transformação na vida de um grupo de mulheres que se tornou possível graças à persistência de uma pioneira

80

Argumento: Ana Cristina Barros e a necessidade da participação da empresa no aprimoramento das condições de vida das comunidades nas quais está inserida

82

Baixo Sul da Bahia: a colocação em prática do princípio de que todos podem contribuir para o equilíbrio do meio em que vivem

No mapa, estão indicados, em bege, os países e os estados brasileiros onde são realizados os projetos e programas retratados nesta edição de Odebrecht Informa e onde vivem e trabalham as pessoas que protagonizam as reportagens

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EDITORIAL

N “O espírito de servir, quando vivenciado da forma como deve ser, ou seja, aperfeiçoado e aprofundado de maneira contínua, leva ao desejo e à necessidade de fazer cada vez mais e melhor”

Iniciativas que fazem diferença

a Guiné, Madeleine Kondiano sabe que o sonho de mandar seus seis meninos para a faculdade está mais próximo da realização. Orlando Quintero agora tem melhores condições de levar adiante sua luta contra a aids no Panamá. Geraldo Simme, Roberto Silveira e Gabriel Garcia experimentam um novo momento em sua vida por causa das perspectivas abertas por seu trabalho com reciclagam, no Rio Grande do Sul, mesmo estado onde Francisco Alves e Claudino Guareski descobrem o fascinante mundo da palavra escrita. Em Portugal, a arqueóloga Rita Gaspar celebra as circunstâncias que lhe possibilitam oferecer, com seu trabalho, resultados mais alentadores à comunidade, e, em Angola, Conceição Jamba pode, enfim, como ela mesma diz, ir aonde quiser, porque conseguiu tirar seu Bilhete de Identidade. Esses são alguns dos casos – emocionantes, exemplares e inspiradores – que você encontrará nas páginas desta edição de Odebrecht Informa, dedicada às ações sociais realizadas com a participação das empresas da Organização no contexto de sua atuação no Brasil e no mundo. São iniciativas voltadas ao aprimoramento das condições de saúde e educação, à qualificação profissional, à geração de trabalho e renda, ao resgate da cidadania e a outras frentes de decisiva importância para que as pessoas vivam melhor. Alicerçadas com firmeza e entusiasmo nos princípios da Tecnologia Empresarial Odebrecht, as equipes da Organização buscam oferecer contribuições que façam a diferença. O espírito de servir, quando vivenciado da forma como deve ser, ou seja, aperfeiçoado e aprofundado de maneira contínua, leva ao desejo e à necessidade de fazer cada vez mais e melhor. Um exercício que evidencia o quanto de relevância social uma empresa pode e deve ter. Boa leitura.


crer É ver para

Experiências internacionais do Programa Acreditar confirmam sua capacidade de adaptação às mais diversas e desafiadoras realidades

texto Fabiana Cabral (coordenação e Moçambique), Cláudio Lovato Filho (Panamá), Elea Almeida (Guiné), Júlio César Soares (Argentina) e Luciana Lana (Angola)

O

Departamento de Malargüe, na Pro-

Claudio Alejandro Flores, 36 anos, trabalhava

víncia de Mendoza, na Argentina, des-

como pedreiro. Sem especialização, inscreveu-se

toa da fama de produtora de vinhos

no Creer para o curso de eletricista. “É bom ter um

da capital provincial. Batata, cebola e

ofício e conhecer todas as etapas de uma obra”,

alho são os principais produtos da re-

diz. Após a conclusão do curso, Claudio abriu uma

gião. Outro ponto forte da economia é a mineração.

pequena empresa de construção. A ex-costureira

No departamento, a Odebrecht e Techint constroem

Orfilia Roca, 47 anos, formou-se técnica em eletri-

para a Vale a mina de potássio de Rio Colorado, com

cidade no programa para dar exemplo aos filhos.

capacidade de produção de 2,9 milhões de t/ano. A

“Nunca tive condições de terminar os estudos, e

chegada da mina e o aquecimento da economia ge-

essa sempre foi uma pendência”, conta. Dois filhos

raram crescimento a Malargüe e a outros seis de-

já concluíram o módulo básico do Creer.

partamentos mendocinos. A consequência disso foi o aumento da demanda por trabalhadores capacitados. Nesse cenário, nasceu a primeira edição do Programa de Qualificação Profissional Continuada Acreditar (Creer) em terras argentinas.

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Segundo Jorge Alfredo De Angeli, coordenador do programa na obra do Rio Colorado desde o início do Cre-

baixo índice de escolaridade e a diferença no grau de instrução entre os trabalhadores.

er em Mendoza, em dezembro de 2011, mais de 2.800

“A partir da experiência brasileira, foi desenvolvida

pessoas inscreveram-se, 775 concluíram os módulos

uma dinâmica educativa adaptada para e pelo povo

básico e técnico, e 85 ingressaram nas obras da mina

angolano”, explica Adriana Correia Bezerra, respon-

de potássio. Marina Gonzalez Ugarte, responsável pelo

sável pelo programa. No primeiro ano, mais de 3.200

programa na Odebrecht Argentina, afirma: “É preciso

pessoas se inscreveram e 1.200 foram certificadas (e,

pensar no desenvolvimento local com inclusão social”.

em algumas categorias, o aproveitamento dos forma-

Do Brasil para o mundo

de 2.900 formados e 6.200 inscritos. Outras empresas

Criado pela Odebrecht em 2008, em Porto Velho,

passaram a contratar profissionais qualificados pelo

o Acreditar foi concebido para capacitar trabalhado-

programa, que também está possibilitando a crescen-

res locais para as obras da Usina Hidrelétrica Santo

te inserção de mulheres no mercado de trabalho.

Antônio. Após quatro anos, a iniciativa é realizada em

As mulheres também são destaque no programa em

10 estados brasileiros. Mais de 117 mil pessoas foram

Moçambique, onde a Odebrecht desenvolve os projetos

inscritas, 53.300 qualificadas e 34.500 contratadas.

de construção do Aeroporto Internacional de Nacala e

Atualmente, 10 países, além do Brasil, desenvolvem o

a expansão do Projeto Carvão Moatize: 20% dos partici-

programa (Angola, Argentina, Cuba, Colômbia, Guiné,

pantes são do sexo feminino.

Libéria, Moçambique, Peru, Panamá e Venezuela) e

Em um país no qual 48% dos adultos não sabem

somam 36.900 inscrições, 18.200 pessoas capacita-

ler nem escrever, Nacala apresenta um índice ainda

das e 7.600 admitidas.

mais alarmante: 81% das mulheres são analfabetas.

Em 2009, o programa chegou a Angola e adap-

O Acreditar Alfabetização foi concebido em agosto de

tou-se à realidade de um país em crescimento

2012 para proporcionar formação aos educadores da

acelerado. O passo inicial foi diagnosticar as de-

região, por meio de uma metodologia que valoriza a

mandas nos diversos contratos. O estudo revelou

leitura e a escrita. Em três meses, 45 alfabetizadores

o que viria a constituir um dos grandes desafios: o

foram certificados.

Geraldo Pestalozzi

dos pela Odebrecht foi de quase 100%). Hoje, são mais

Jennifer Bartley e Mauricio Castillo, na Cidade do Panamá: qualificação profissional, com benefícios para o indivíduo e para a coletividade

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Já os jovens moçambicanos (de 13 a 18 anos) têm

1.244 pessoas. Implantado também em Moatize, em ju-

oportunidade de iniciar a carreira, por meio do Acre-

lho de 2012, com parceria da Vale, o programa formou

ditar Aprendiz, iniciado em Nacala em abril de 2012 e

578 pessoas nas funções de carpinteiro, pedreiro e ope-

destinado a familiares de integrantes. “Consideramos

rador de escavadeira.

os adolescentes como protagonistas da mudança so-

A exemplo de Angola e Moçambique, na Guiné

cial”, salienta Adriana Brito, Responsável por Progra-

o Acreditar também passou por adaptações. A pri-

mas Sociais da Odebrecht em Moçambique. Em sete

meira foi o nome, Programme Espoir, pois o país

meses, dos 56 jovens formados, 65% apresentaram

tem o francês como idioma oficial. Segundo Lauren

evolução no desempenho escolar, e mais de 90% re-

Pereira, Coordenadora de Relações Institucionais

velaram mudanças positivas de comportamento. Com

e Comunitárias e de Programas Sociais, o Espoir é

novos conhecimentos, os aprendizes criaram a Asso-

destinado aos moradores já contratados pela empre-

ciação de Jovens Protagonistas (AJP), que realiza mu-

sa, da região de Kissidougou, cidade sede do projeto

tirões de limpeza e arrecadação de roupas e apoia a

rodoviário Simandou. No módulo básico, acompa-

venda de quadros feitos com materiais reciclados. So-

nhado pelo módulo técnico todos recebem informa-

fia Saide, 17 anos, é coordenadora da AJP. “Ser prota-

ções sobre saúde, meio ambiente e comportamento,

gonista é ser o primeiro a desempenhar um papel e

abordadas de maneira que os integrantes possam

unir forças para buscar soluções.”

levá-las aos familiares e vizinhos. “Ao influenciar os

realizado em Nacala desde janeiro de 2012 e já formou

Programa Creer na Argentina: o professor Miguel Arturo Conesa (à direita) com os alunos Ramón Chaile (ao centro) e Walter Javier Molina. Na página ao lado, formandos do Acreditar em Moçambique: desenvolvimento com inclusão social

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trabalhadores, transmitimos conhecimento a pessoas de fora da empresa”, diz Lauren.

Holanda Cavalcanti

O Acreditar Qualificação Profissional, por sua vez, é


Arquivo Odebrecht

Um grupo de 16 integrantes participa do piloto do pro-

diz Jennifer. “Mas eu gosto de construir e transformar

grama e outros 72 já foram capacitados para a manuten-

coisas.” Após trabalhar em salão de beleza e com car-

ção de equipamentos no canteiro. “O Espoir foi muito bem

pintaria, ela participou do módulo básico do Creer em

recebido pelo cliente, a Rio Tinto, que tem um plano de 50

outubro de 2011. Começou no projeto Cinta Costera III

anos no país”, comenta Raimundo Filho, Coordenador de

como ajudante geral, buscou novos desafios, tornou-se

Treinamento de Equipamentos.

almoxarife e hoje é apontadora na equipe de Pessoas.

O instrutor Souleymane Doumbouya foi identificado

“Quero aprender a ler plantas de projeto. Na Odebrecht

entre os mecânicos contratados. Fluente em francês,

o aprendizado nunca para.” Mauricio Castillo foi dono

inglês e idiomas locais, sua fama de bom professor

de barbearia, fez serviços eventuais de solda e vendeu

espalhou-se pela comunidade, e ele passou a oferecer

lanches. Participou do módulo básico do programa, foi

aulas gratuitas em sua própria casa. “Por saberem que

ajudante geral e depois passou a soldador, sua função

a Odebrecht está aqui formando pessoas, os jovens es-

atual. “Quero estudar engenharia”, revela.

tão se esforçando mais nos estudos para melhorar de

O Programa Creer começou nas obras da Cinta Coste-

vida e crescer”, conta. “Queremos capacitar guineenses

ra III em outubro de 2011. Os dois primeiros grupos eram

para trabalhar em outras empresas ou até começarem

compostos de 500 trabalhadores, todos do Chorrillo, uma

o próprio negócio”, reforça Daniel Fernandes, Gerente

região que apresentava um longo e grave histórico de vio-

de Construção do projeto.

lência. “Foram certificadas 440 pessoas, e mais da metade foi contratada para trabalhar na obra”, informa Arturo

Mais trabalho, menos violência

Graell, Gerente Administrativo e Financeiro.

De volta ao continente americano: no Panamá, Jenni-

Os participantes têm entre 18 e 60 anos, e 30% de-

fer Bartley, 30 anos, e Mauricio Castillo Harding, 45 anos,

les são mulheres. A Cinta Costera é o primeiro projeto

aproveitaram as chances proporcionadas pelo Creer.

da empresa no país a realizar o Creer. Os benefícios do

Eles nasceram e vivem no Chorrillo, comunidade caren-

programa para a comunidade vão além da geração de

te da Cidade do Panamá, onde a Odebrecht executa a

oportunidades de trabalho e renda. “A violência caiu. O

terceira etapa do projeto Cinta Costera.

Creer está ajudando a comunidade do Chorrilo a elevar

“Minha mãe dizia que obra é coisa para homem”,

sua autoestima”, assegura Arturo.

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avançar vamos

juntos!

Concessionárias desenvolvem programas sociais em diversas frentes – da saúde à inclusão digital, da capacitação de empresários à promoção da cidadania –, em quatro estados brasileiros texto Eduardo Souza Lima fotos Élvio Luiz, Fernando Vivas e Rogério Reis

C

oncessão é via de mão dupla. O conceito, que norteia e deu nome ao programa de qualificação profissional adotado nas concessionárias Bahia Norte e Litoral Norte, também orienta iniciativas em outras concessionárias da Odebrecht TransPort, como o Via Escola, da Rota dos Coqueiros, em

Pernambuco, o Rota da Educação, o Caia na Rede e o Ação Contra Dengue, da Rota das Bandeiras, em São Paulo, e o Aprendiz SuperVia, no Rio de Janeiro. O programa Mão Dupla está capacitando 400 micro e pequenos empresários baianos estabelecidos ao longo das rodovias BA-093 e BA-099, o Via Escola tem como meta beneficiar cerca de 4.800 estudantes pernambucanos, e o Aprendiz SuperVia é a oportunidade da primeira experiência profissional para 160 jovens cariocas. Motivos de esperança de um futuro digno e realizador.

Mariana Lopes: “Aqui estou aprendendo a me soltar”

“Minha vizinha foi convidada, mas não quis participar. Hoje, eu acho que ela se arrepende”, conta Marcos Santana, que herdou do pai o pequeno restaurante Mário do Mocotó, na Vila de Abrantes, Distrito de Camaçari. O estabelecimento comercial de propriedade de Marcos fica às margens da BA-099, mais conhecida como Estrada do Coco. Realização do Consórcio OAS-Odebrecht, das concessionárias Bahia Norte e Litoral Norte e do Sebrae, o Mão Dupla começou a ser implantado em janeiro de 2011 pelo Instituto de Pesquisa e Tecnologia Gerencial Aplicada (IPGA), com o apoio do Instituto Invepar. O programa abrange os municípios de Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, Dias D’Ávila, Mata de São João, Ipojuca, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaira. O primeiro desafio foi ganhar a confiança do empresário de beira de estrada. “Percebemos que eles estavam ressabiados. É um trabalho novo, ninguém nunca tinha se interessado por eles, que temiam perder

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os seus negócios”, explica Wellington Ribeiro, gestor

ção e tirou seu CNPJ. A iniciativa já rende dividendos:

do projeto pelo IGPA. “A gente atende desde a pessoa

“Às vezes perdia cliente porque não tinha nota fiscal”,

que vende milho na rua até o dono de borracharia. Não

relata. Dona Aquelina Moreira, que tem um pequeno

é um trabalho fácil atrair esses empreendedores para

ateliê perto do restaurante, agora pode pegar enco-

a sala de aula. Eles pensam que se fecharem o negócio

menda grande, pois comprou uma máquina de costura

para estudar, por menos tempo que seja, irão perder

industrial e tirou alvará: “Estou fazendo o fardamento

dinheiro. Mas quando passam a confiar, nos tornamos

de uma empresa”.

parte da família”, diz a supervisora do IGPA, Arlete Cruz.

Em Simões Filho, o faturamento da Livraria e Pape-

Os pequenos empreendedores foram capacitados

laria Livro da Vida, administrada por Maria Aparecida

por agentes do Sebrae em cursos nos quais obtêm

Ribas, quase duplicou, graças a medidas simples: “Eu

noções de manuseio de alimentos, gestão financeira,

enfrentava dificuldade para vender, pois tinha bastante

marketing pessoal, educação ambiental, entre outros

mercadoria, mas não havia uma vitrine para expor os

temas. “A ideia não é apenas qualificá-los profissional-

produtos. Meus clientes eram só os vizinhos. Agora, às

mente, é também promover o resgate da cidadania e

vezes, alguém passa de carro, vê os artigos na vitrine

o aumento da autoestima”, afirma Wellington Ribeiro.

e entra para comprar”. Outro aprendizado valioso: con-

Além dos cursos, os empresários recebem visitas

trolar custos e estipular uma retirada mensal. “Aprendi

mensais de orientadores do Sebrae, são incentivados

também a comprar, vender, cuidar do estoque. Muitas

a legalizar seus negócios e têm direito a recorrer a um

vezes eu ia fazer compras e não tinha noção do que

fundo de apoio para qualificar e expandir seu empreen-

estava faltando na loja. Passei a botar custos no preço

dimento. “Percebemos que existia um entrave ao cres-

final. Eu não levava em conta o que gastava com gaso-

cimento desses empreendimentos causado por limita-

lina, com almoço... E confundia o faturamento da loja

ção material. É difícil falar sobre como atender bem o

com o orçamento doméstico. Antes, minha filha me

cliente se, muitas vezes, faltam condições estruturais,

pedia R$ 10 e eu não anotava. Hoje, tenho controle”,

como mesas, cadeiras, prateleiras e freezer”, enfatiza

detalha Maria Aparecida.

Leana Mattei, coordenadora de Desenvolvimento Socioambiental da Concessionária Bahia Norte. Com recursos do Fundo de Apoio do Projeto, Mar-

Combate à dengue, educação no trânsito e inclusão digital

cos Santana não só comprou mais um freezer para o

A Concessionária Rota das Bandeiras, que adminis-

seu estabelecimento, como aprendeu direitinho a li-

tra rodovias do Corredor Dom Pedro, implantou três

Marcos Santana: perda de clientes por não ter nota fiscal

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Aquelina Moreira: “Antes eu só vendia para os vizinhos”

projetos sociais para atender a 17 municípios paulistas.

O Caia na Rede, por sua vez, é dirigido a pessoas de

O Ação Contra Dengue está levando a peça de teatro

todas as idades e será implantado em 17 municípios.

“Os Meninos Perdidos contra o Capitão Dengue e seus

A meta é criar, em cinco anos, 150 salas de aula ao

Mosquitos” a escolas de Campinas, Paulínia, Atibaia,

longo do Corredor Dom Pedro. “Trata-se de um pro-

Cosmópolis, Mogi Guaçu e Louveira. Mais de 1.200

jeto de inclusão digital que tem o objetivo de oferecer

alunos já assistiram ao espetáculo. “Constatamos que

às comunidades acesso a informação, conhecimento

seis cidades do Corredor Dom Pedro estavam com

e relacionamento. As prefeituras fornecem as insta-

epidemias de dengue. Então, produzimos a peça e a

lações onde vão funcionar as salas, nós arcamos com

apresentamos nas escolas localizadas nos bairros com

os custos das reformas e com o equipamento”, detalha

maior incidência da doença, de acordo com a Secreta-

Adherbal. O Caia na Rede é composto de cursos bási-

ria Municipal de Saúde. A ideia é ensinar, de maneira

cos de 20 horas, nos quais os alunos recebem noções

lúdica, a prevenir e combater a dengue”, explica Adher-

de informática. Atualmente, as atividades ocorrem em

bal Vieira da Silva, gestor de Responsabilidade Social

10 salas, em três cidades, beneficiando 280 alunos.

da Rota das Bandeiras. Estudantes do Ensino Fundamental da rede mu-

Ajudando passageiros

nicipal também são o público-alvo do Rota da Edu-

Já o Aprendiz SuperVia é um projeto voltado para a

cação, um programa de educação no trânsito que

própria empresa: faz parte do programa de melhorias

possibilita o aprendizado de conceitos de mobilidade,

que a concessionária vem implantando no transporte

cidadania e meio ambiente. O programa é desenvol-

sobre trilhos no Rio de Janeiro. “O foco é o atendimen-

vido em 22 escolas de sete cidades: Conchal, Igara-

to ao público, a meta é servir melhor nosso cliente”,

tá, Jarinu, Bom Jesus dos Perdões, Artur Noguei-

explica a Responsável por Pessoas e Organização Ro-

ra, Mogi Guaçu e Itatiba. “Oferecemos treinamento

berta Tanajura. Foram selecionados 160 jovens, de 18

aos professores do 1º ao 5º ano. O objetivo é que as

a 22 anos, muitos deles filhos de integrantes da em-

crianças transmitam os conhecimentos à família e

presa. Sua tarefa é tirar dúvidas e ajudar passageiros

aos amigos”, explica Adherbal.

com deficiências a se locomoverem.

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“A ideia nasceu de uma visita minha à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, em São Pau-

noções sobre sistemas ferroviários.

lo, que tem um projeto semelhante. Nossos jovens

Aquilo que aprenderam em sala de aula estão levan-

aprendizes recebem uma bolsa que vai além do que

do para a vida. “Sou muito tímida. Vim para cá também

estipula a Lei do Aprendiz. Eles têm direito a previ-

com o intuito de me soltar, de perder a timidez. Outra

dência privada, assistência médica e a todos os direi-

coisa que aprendi foi a ter mais paciência e a controlar

tos trabalhistas. E recebemos muitos elogios ao tra-

o estresse”, conta Mariana Lopes, 19 anos, moradora

balho deles via SAC”, diz, orgulhosa, a Responsável

do Morro da Providência, que pretende cursar Arquivo-

Comercial, Sonia Antunes, idealizadora do programa.

logia ou Serviço Social. A oportunidade de trabalho na

Os trens da SuperVia transportam, em média, 540

SuperVia, sua primeira experiência com carteira assi-

mil passageiros por dia útil. São 270 km de trilhos

nada, possibilitou ainda que Mariana pudesse continuar

que atravessam o Rio de Janeiro e mais 11 municí-

a fazer o curso pré-vestibular: “Transferi o meu curso

pios da região metropolitana (Duque de Caxias, Nova

para o turno da manhã. É tranquilo, são seis horas de

Iguaçu, Nilópolis, Mesquita, Queimados, São João

trabalho”, diz.

de Meriti, Belford Roxo, Japeri, Magé, Paracambi e Guapimirim).

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de cidadania, atendimento ao público, português e

Morador do Engenho Novo, Lucas Silva Carvalho, 18 anos, tinha completado o Ensino Médio e procura-

Mais de 2 mil currículos foram recebidos duran-

va a primeira oportunidade de trabalho antes de fazer

te o processo de seleção de aprendizes. Os jovens,

faculdade. Como quer cursar Publicidade, já vislum-

cuja maioria mora nas proximidades das estações

bra seu futuro dentro da própria empresa: “Soube

da ferrovia, foram recrutados e treinados por duas

que a SuperVia pensa em aproveitar os aprendizes

semanas pela Fundação Mudes, onde tiveram aulas

em outras funções depois do fim do nosso contrato.

informa


formação de alunos leitores e produtores de texto ainda nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Para isso, o Via Escola oferece formação continuada para 397 educadores, entre professores, supervisores, diretores e membros das equipes técnicas das secretarias de Educação dos três municípios participantes. “Nossas ações sociais, em geral, eram pontuais e atendiam a determinadas comunidades por um tempo específico.

“Antes, era ler por ler. Hoje, existe o prazer da leitura. O aluno já conhece nome de autor, tem mais cuidado com o livro”

Estávamos justamente procurando um programa mais duradouro, que pudesse ser adotado por todas as concessionárias. O Via Escola marca o início dessa nova política. Elegemos a educação básica, pois o início da alfabetização é um momento crucial na educação de uma criança. A ideia é replicar o programa em todas as nossas concessionárias e disponibilizar a experiência para outras empresas”, explica Renato Mello, diretor regional Norte/Nordeste/Centro-Oeste da Odebrecht TransPort. “Estou na rede municipal há 17 anos e hoje vejo um programa que me deixou feliz e empolgada. Esse foco na formação era tudo de que precisávamos. Ainda estamos no começo, mas hoje a biblioteca não fica mais fechada”, comemora Arleide Santana Vieira, supervisora pe-

Vilma Guedes

dagógica do Ensino Fundamental 1 da Escola Municipal José Rodovalho, de Jaboatão dos Guararapes. “Antes, era ler por ler. Hoje, existe o prazer da leitura. O aluno já conhece nome de autor, tem mais cuidado com o livro”,

Quem sabe não me encaixo no programa de marke-

acrescenta Vilma Guedes, professora dos anos iniciais

ting ou comunicação?”

do Ensino Fundamental I da Escola Municipal Maria Ma-

Educação de qualidade

dalena Tabosa, de Cabo de São Agostinho. “O projeto atinge as equipes técnicas e indiretamen-

“Grande parte dos integrantes da concessionária

te alcança toda a rede, mas o sonho é atingir todas as

mora nas comunidades vizinhas, e alguns têm filhos que

escolas. Queremos que não seja um projeto assistencia-

estudam nas escolas participantes do Programa Via Es-

lista, e sim que o município possa dar continuidade com

cola, o que contribui para aproximá-los da educação dos

seus próprios formadores”, explica Flávia Queiroz.

filhos”, diz Flávia Queiroz, coordenadora de Sustentabi-

Em Jaboatão dos Guararapes, isso já começa a

lidade da Concessionária Rota dos Coqueiros, em Per-

acontecer: “Escolhemos como escolas-piloto as que ti-

nambuco. Em parceria com o Grupo Cornélio Brennand,

nham os menores Idebs (Índice de Desenvolvimento da

a empresa deu início em 2012 ao Via Escola, um progra-

Educação Básica). Resultado em educação demora a

ma de responsabilidade social que visa contribuir com o

sair, mas já dá para notar melhorias. Estamos buscan-

desenvolvimento da educação básica, por meio da for-

do elevar os indicadores educacionais e diminuir o índi-

mação continuada de educadores de escolas que se lo-

ce de evasão e a distorção idade/ano. Supervisores das

calizam no raio de influência da rodovia, nos municípios

escolas-piloto fazem a formação de outros supervisores,

de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e

que, por sua vez, formam os seus professores. Também

Ipojuca. Projeto-piloto com previsão de consolidação em

temos trocado experiências com os outros municípios. O

2014, o Via Escola já funciona em 19 escolas.

objetivo é que não seja uma política de governo, mas de

Com metodologia do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), o programa tem como objetivo a

Estado”, afirma Edilene Soares, secretária Municipal de Educação daquele município.

informa

17


passos

confiança nos próprios

18 18

informa

No Panamá, parceria leva aos canteiros de obra informação sobre o combate ao HIV/aids

texto Claudio Lovato Filho fotos Geraldo Pestalozzi

Trabalhadores no canteiro de obras da Linha 1 do Metrô da Cidade do Panamá: beneficiários e agentes da troca de informações


O

dia a dia de Orlando Quintero é uma pro-

Na luta pela superação de seus obstáculos, a Probi-

fusão de visitas a comunidades, órgãos

dsida recebeu um reforço de peso em 2011, quando foi

governamentais e instituições de ensino,

firmada a parceria com a Odebrecht Panamá. A empre-

contatos com a imprensa e, mais recen-

sa identificou, no apoio à fundação liderada por Orlando

temente, idas a canteiros de obra. Aqueles

Quintero, uma oportunidade de contribuir para a busca

mais apegados a números dirão que ele não parece ter

de solução de um problema grave enfrentado pelo país,

os 57 anos que seu documento de identidade registra.

por meio do fortalecimento de uma de suas instituições

Médico pediatra por formação, ele não poderia mes-

com maior credibilidade e experiência. Com essa parce-

mo ter um ritmo de vida lento. Quintero é fundador e

ria, a Probidsida está realizando todos os exames admis-

Diretor-executivo da Fundação Pró-bem-estar e Digni-

sionais nas obras que a Odebrecht executa hoje no país.

dade das Pessoas Afetadas pelo HIV/aids, organização

Esse, porém, foi apenas o primeiro movimento, o pontapé

não governamental que é referência no Panamá no com-

inicial no relacionamento.

bate ao vírus da aids.

Contribuindo em seu foco específico e em sua princi-

Em um mapa na parede de sua sala na sede da Probi-

pal missão, a Probidsida desenvolveu, em sinergia com a

dsida, no centro da Cidade do Panamá, Quintero mostra

equipe de Sustentabilidade da Odebrecht Panamá, uma

à equipe de Odebrecht Informa a situação de seu país no

ampla campanha de combate ao HIV/aids, destinada a

que se refere à incidência da infecção pelo HIV. Quintero,

beneficiar os integrantes da empresa, suas famílias e as

que há 25 anos descobriu ser soropositivo e criou a Pro-

comunidades onde vivem, mas que também envolvem

bidsia em 1998, aponta para cores e números no mapa e

uma abrangente aliança entre empresas e o intercâmbio

comenta, em tom de lamento, mas sem desânimo, que

entre instituições de pesquisa panamenhas e brasileiras

o Panamá está entre os seis países com os mais altos

para troca de experiências e transferência de tecnologia.

índices da doença nas três Américas. As estimativas são

Os acordos de cooperação estão em fase de estudos

de que existem de 20 mil a 30 mil portadores do HIV no

e definições, mas já existem 15 companhias baseadas

Panamá. Isso é muito para um país cuja população é de

no Panamá que aderiram ao Comitê Empresarial do

menos de 3,5 milhões de pessoas.

programa, o que significa que elas se comprometem a

“Essa situação é resultado de um conjunto de fato-

adotar políticas e projetos corporativos para o combate

res”, diz Quintero. “Temos grandes portos, no Pacífico e

ao HIV. “A Odebrecht é a ponta de lança no Panamá nes-

no Atlântico, o movimento de turistas é constante, e a noi-

se processo no qual grandes empresas têm despertado

te em nossas maiores cidades é bastante agitada. Mas o

seu interesse para a importância do tema. É preciso que

principal problema é a deficiência de educação sexual.

elas entendam que precisam garantir a proteção de seu

Enfrentamos muitas dificuldades para falar abertamen-

patrimônio mais importante, que são as pessoas e seu

te, nas salas de aulas, sobre, por exemplo, a importância

conhecimento.”

do uso de preservativos.” Essas barreiras, que resultam de um conservadoris-

Na realidade do canteiro de obras

mo renitente em setores da sociedade com alto poder de

Nos canteiros de obra, a participação dos trabalha-

decisão, não são as únicas que a Probidsida enfrentou ao

dores nas campanhas colocadas em prática pela equipe

longo de sua trajetória. Até pouco tempo, era um grande

da Probidsida e da Odebrecht tem superado as melhores

desafio para Quintero e sua equipe garantirem os recur-

expectativas. O índice dos que assistem às palestras é

sos materiais e financeiros que assegurassem a conti-

superior a 90%. Desses, a quase totalidade opta por fa-

nuidade da fundação, que tem 42 integrantes, responsá-

zer, após as palestras – dadas por membros da fundação,

veis, entre vários outros serviços, por visitas hospitalares

que contam suas experiências pessoais –, o exame para

e domiciliares, produção de material educativo, orienta-

detecção do HIV, oferecido e realizado pela equipe da Pro-

ção psicológica e jurídica e campanhas de informação

bidsida. Os resultados são totalmente sigilosos. Uma das

com foco na prevenção, além da realização de exames

campanhas, intitulada “A aids não é um jogo”, realizada

(de HIV e exames gerais) e acompanhamento posterior

ao longo de 2012, que incluiu a distribuição de publicações

ao exame do teste do HIV. Apesar do apoio do Governo

e por meio da qual foi feito o convite para exames, cons-

Federal, os desafios mostravam-se cada vez maiores.

cientizou, até agora, mais de 3 mil trabalhadores.

informa

19


Os médicos Orlando Quintero e (de pé atrás) Belkis Santamaría com integrantes da Probidsida: parceria que rende frutos ao país

Na obra da Linha 1 do Metrô da Cidade do Panamá,

ceria da Probidsida, vem sendo adotado como parâme-

a Probidsida instalou uma clínica, fruto de investimentos

tro e referência por nossas empresas parceiras”, ela

próprios em equipamentos, na qual já foram feitos mais

acrescenta. Marlene Ribas, da equipe da Probidsida, está

de 20 mil exames, como audiometrias, eletrocardiogra-

vivendo sua primeira experiência profissional em um

mas, eletroencefalogramas e radiografias, além dos exa-

canteiro de obras. Antes, ela atuava em laboratórios. “É

mes para detecção do HIV.

emocionante acompanhar as pessoas em sua luta para

A médica Belkis Santamaría, especialista em emer-

20

se curar ou para melhorar a qualidade de vida.”

gências e em saúde ocupacional, é a Responsável por

A Probidsida chegou ao canteiro da Linha 1 do Me-

Saúde nas obras da Linha 1 do Metrô. Ela lidera uma

trô em setembro de 2011. Marcos Tepedino, Diretor do

equipe de 28 pessoas e conta com o apoio de 20 integran-

Contrato, destaca: “A Probidsida vem tendo um ótimo

tes da Probidsida. Em seu dia a dia no canteiro de obras,

desempenho, fornecendo um serviço de qualidade à

Belkis circula constantemente pelas diversas frentes de

empresa e, por consequência, à sociedade. Com essa

serviço, conversando com integrantes, verificando suas

parceria, tivemos a oportunidade de contribuir para que

condições de trabalho e estabelecendo com eles uma re-

a instituição desenvolvesse uma visão empresarial e se

lação de confiança.

fortalecesse.” Orlando Quintero concorda com o comen-

“Nossa obra tem mais de 4 mil trabalhadores e uma

tário de Tepedino: “Tem sido uma experiência nova para a

exposição muito grande em âmbito nacional”, observa

Probidsida, com a marca da capacitação. É uma relação

Belkis. “O trabalho que estamos realizando, com a par-

em que todos ganham”.

informa


gente Um profissional em seu ambiente

O vizinho agora conhecido

Rafael e um programa pioneiro de resgate de fauna e flora

T

Minerva e o sentimento de estar sendo útil ao seu país rabalhando para a Organização das Nações Unidas (ONU), por muitos anos, Minerva Gómez acompa-

O

biólogo Rafael

nhou processos eleitorais realizados após conflitos ar-

Tamashiro, 41

mados na Nicarágua, em El Salvador, na África do Sul e

anos, nasceu em

em Moçambique. Ela conta que, antes de ingressar na

Lima. Nos últimos

Odebrecht, não fazia ideia de que houvesse gente viven-

anos,

do em situação de pobreza e violência semelhante à que

de

conheceu naqueles países ali mesmo, perto de sua casa,

preservação peru-

parques

no Canal do Panamá. Há dois anos e meio, Minerva, que

anos. Atualmente,

é advogada, lidera as ações sociais da Odebrecht no Pro-

Lorena Carrillo

em

trabalhou

é Responsável por Meio Ambiente na Odebrecht

Peru,

jeto de Renovação Urbana Curundú, na Cidade do Panamá. A Odebrecht apoia iniciativas do governo de formação e inserção das pessoas no trabalho. “Gostaria que a

na construção da

transformação urbana e humana que se verificam em

Central Hidrelétrica Chaglla, realizada na região entre

Curundú ocorressem em outras comunidades. Sinto-me

a selva e os picos andinos. Não muito longe dali, fica o

útil para o meu país”, afirma.

Parque Nacional de Tingo María, criado há quase meio século. Rafael e sua equipe implementaram um programa de resgate de flora e fauna pioneiro no país. Eles estudam orquídeas, apoiam pesquisas da Universidad Nacional Agraria de la Selva – Unas e já identificaram

tais que contribuem para a preservação e a valorização

Holanda Cavalcanti

do patrimônio natural de meu país”, diz, satisfeito.

foto:

mento da biodiversidade peruana. Rafael também participa do resgate e da realocação de peixes dos rios da área do projeto. “Estamos inovando com ações ambien-

Geraldo Pestalozzi

novas espécies de répteis, um incremento ao conheci-

Caminhada realizadora A jovem Thamara e seu sonho de tornar-se líder na Braskem

T

hamara Wanderley, 24 anos, nasceu em Alagoinhas (BA). É técnica em processos industriais químicos e está por concluir o curso de Enge-

nharia. Atualmente, é operadora da Iese (Industrial de Energia e Serviços Essenciais), na Unidade Térmica, responsável pela geração de vapor para unidades da Braskem e para alguns clientes do Polo de Camaçari (BA). Thamara participou de uma seleção das mais rigorosas para chegar onde está. O Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) oferece um curso para Beg Figueiredo

operadores industriais. Na seleção de fevereiro de 2010, havia 3 mil concorrentes. Sessenta fizeram o curso. Thamara foi uma das 18 pessoas chamadas para ser trainee na Unidade de Insumos Básicos da Braskem. “Foi tudo muito bom. Um dia quero ser líder na Braskem”, diz.

informa

21


22

escola

uma obra que faz

Alfabetização, qualificação profissional, reinserção social: Arena Fonte Nova já é lugar de vitórias memoráveis texto Ricardo Sangiovanni fotos Márcio Lima

N

a mistura do concreto de cada um

O programa é parte de um conjunto de ações so-

dos pilares gigantes que mantêm de

ciais desenvolvidas pelo consórcio construtor da

pé a Arena Fonte Nova, em Salvador,

arena, formado pela Odebrecht Infraestrutura e pela

entrou o suor de Edmilson da Silva

OAS, que tem beneficiado não só os integrantes, mas

Santos, 39 anos. Carpinteiro, ele é um

também a comunidade.

dos operários que trabalham na confecção das peças

Antes do curso, o português de Edmilson era, como

de concreto de que é feita a estrutura monumental

ele próprio define, “rude, rude mesmo”. No curso, Ga-

da nova arena. Mas a grande obra de Edmilson (ou

lego diz ter aprendido a ler e a pronunciar “palavras

Galego, como é conhecido) foi outra: ter construído

difíceis”. “Hoje eu me comunico bem melhor. E, em

o próprio nome. Ele é um dos 15 trabalhadores da

casa, já consigo ajudar minha filha [Mônica, 9 anos]

obra que se formaram, em setembro, em um curso

com as tarefas da escola”, orgulha-se.

de alfabetização, que durou um ano, na Escola de Produtividade.

22

informa

Da alfabetização para a cidadania, é um pulo. “Com o curso, sinto que estou mais qualificado, que sou um


Edmilson da Silva Santos: “Hoje me comunico bem melhor”

profissional e tenho valor, que sou um cidadão bra-

Oportunidade

sileiro”, afirma Salvador Lisboa Conceição, 59 anos,

Aviso aos torcedores: favor não se esquecer de que

colega de classe de Galego. Salvador – que já era

foi Márcia da Conceição Santos, 31 anos, quem pintou

alfabetizado, mas precisava reavivar aprendizados

de cima a baixo as instalações da Arena Fonte Nova:

– é armador (integrante da equipe responsável pela

“Tudo o que você vir pintado de branco, quando vier

montagem das vigas de aço que dão sustentação ao

assistir a um jogo, pode saber que fui eu que fiz”, en-

concreto). “Meu trabalho não aparece tanto, vai ficar

fatiza. Ela foi contratada há nove meses, graças ao

escondido”, brinca.

programa Próximo Passo, que seleciona beneficiários

Para mostrar, no entanto, Salvador terá algo bem

do Bolsa Família para trabalhar na obra.

mais valioso: um “passaporte” do consórcio Odebre-

Em parceria com a Secretaria do Trabalho, Empre-

cht/OAS entregue aos “diplomados” no curso, que

go, Renda e Esporte da Bahia (Setre) e com o Serviço

certifica a capacitação. “Isso, no futuro, vai nos ajudar

Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o con-

a abrir portas. É um ‘currículo’ e tanto.”

sórcio selecionou e capacitou 18 pessoas – 10 das informa

23


mostrar que essa não é só uma obra, só um estádio. Somos um conjunto de pessoas que querem deixar um legado”. Além das ações voltadas para os integrantes, há também as que beneficiam o público externo, como o Caia na Rede – uma parceria com 15 empresas fornecedoras que viabilizou a compra de computadores, os quais no final são doados à comunidade, e o oferecimento de cursos de inclusão digital a moradores de bairros vizinhos à arena. O Caia na Rede já beneficiou 131 pessoas. Uma delas foi a secretária Leila Góes Pereira, 46 anos, que estava fora do mercado de trabalho porque não dominava o computador. O curso intensivo, com duração de 15 horas, foi para ela um empurrão imTatiana dos Santos: decisão de fazer Curso de Edificações em breve

portante. “Não podia mais ficar para trás”, afirma, animada. Outra ação social desenvolvida pela Arena é a parceria com a Junior Achievement, empresa voltada para a identificação de potenciais empreendedores

quais já contratadas. Os cursos tiveram duração de

entre crianças e adolescentes. Por meio da parce-

200 horas: 40 de conhecimentos gerais (leitura, ra-

ria, profissionais de diversas áreas da Arena foram

ciocínio lógico, segurança do trabalho, entre outros

capacitados e ministraram cursos de introdução ao

temas) e 160 de formação técnica, como armador de

empreendedorismo a cerca de mil jovens de escolas

vigas, carpinteiro, montador de andaimes e pedreiro.

públicas de Salvador.

Na obra, Márcia conta já ter feito “de tudo”. “Meu

Um dos “professores” foi o engenheiro Igor Coe-

forte é pintura, mas se tiver um colega precisando de

lho Dantas, 26 anos, que deu aulas básicas de finan-

ajuda com outra coisa, meto a mão na massa. Venho

ças, administração, estudos de viabilidade e marke-

em feriado, sou pau para toda obra.”

ting a jovens com idade entre 15 e 17 anos. “Nessa

Também selecionada pelo Próximo Passo, Tatia-

camada social, de baixa renda, há tanta dificuldade

na Próculo dos Santos, 34 anos, trabalha na Arena

que, às vezes, a vontade que o jovem tem de empre-

há pouco mais de um ano. Ela entrou como ajudante

ender acaba sendo freada. A Junior mostra que virar

de pedreiro e, em apenas seis meses, foi promovida.

empresário não é um bicho de sete cabeças”, ele diz.

“Fiz o curso de leitura de projetos [pelo Senai, com incentivo da Arena] e hoje sou apropriadora [profis-

Desafio

sional que checa o andamento de cada procedimento

Entre todos os programas que Thiago e sua equi-

de um setor da obra].”

tempo, o mais arrojado. Trata-se do Começar de

próximo passo: cursará o nível técnico em edifica-

Novo, uma ação voltada à reinserção social de pes-

ções a partir do próximo ano, assim que as obras da

soas condenadas pela Justiça.

Arena terminarem.

Legado

24

pe coordenam, um é o mais delicado e, ao mesmo

Motivada com a nova tarefa, Tatiana já definiu seu

Desenvolvido em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e com a Setre, o programa seleciona apenados em regime semiaberto e ofere-

Responsável por Comunicação, Pessoas e Or-

ce a eles cursos de capacitação para o trabalho na

ganização e Assistência Social no consórcio, Thia-

construção civil, antes de indicá-los à contratação.

go Cunha resume o propósito de todo o conjunto

Até agora, 14 participaram do programa dentro das

de ações sociais da Arena Fonte Nova: “Queremos

instalações da Arena.

informa


Salvador Conceição: sentindo-se mais capacitado e mais valorizado

Márcia da Conceição Santos: “Tudo o que você vir pintado de branco quando vier assistir a um jogo, pode saber que fui eu”

A incorporação deles às equipes do consórcio segue regras estritas de sigilo em relação à sua condição entre os colegas de trabalho. Apenas os líderes diretos têm conhecimento e assumem o compromisso de integrá-los e tratá-los igualitariamente. Um dos integrantes que ingressaram nas obras por meio desse programa é montador de andaimes desde dezembro de 2011. Ele pediu à equipe de

Odebrecht Informa que seu nome fosse mantido em sigilo e diz estar na fase final do cumprimento de sua pena, de 16 anos. A cada três dias trabalhados, um é abatido da pena - assim, ele espera ser liberto em 2013. Por ora, sua rotina resume-se a acordar cedo, ir à Arena e retornar no final do dia ao local onde está recluso. Pelas regras do programa, ele teria direito a 70% da remuneração de um integrante contratado de forma convencional. Mas, por seu bom comportamento e desempenho, desde o segundo mês recebe o mesmo salário integral que os demais integrantes do consórcio, além de horas extras, cesta básica e 13º salário. “Dentro de nós, tem que nascer o querer. Eu quis: enxerguei a oportunidade, e ela veio”, ele diz. “Encaro essa oportunidade com toda felicidade, toda alegria, todo prazer. Aqui, me sinto como se fosse uma pessoa qualquer”, afirma. E acrescenta, com um sorriso contido: “Na verdade, eu sou.”

informa

25


campeão espírito

texto Boécio Vidal Lannes fotos Américo Vermelho

26 26

informa


Q

uando o Maracanã for entregue ao público, em fevereiro de 2013, o Brasil ganhará muito mais que um estádio de futebol, reformado nos 30 meses de duração da obra. Os 60 pilares de concreto do seu entorno, as arquibancadas que

Canteiro de obras do Maracanã ambienta diversos programas educacionais e sociais

acomodarão 79 mil pessoas e o novo gramado são provas e testemunhas de inúmeras histórias de superação vividas pelos 5.400 integrantes homens e 300 integrantes mulheres que compõem o Consórcio Maracanã Rio 2014, formado pela Odebrecht Infraestrutura e Andrade Gutierrez, executor da reforma. Durante a obra, gerentes, engenheiros de campo e encarregados orientam cada profissional em suas áreas, a fim de garantir o máximo de qualidade, eficiência e segurança para o Estádio Mário Filho, seu nome oficial, uma justa homenagem ao jornalista esportivo que travou uma verdadeira luta com as autoridades da época para que a enorme estrutura redonda, que se tornaria um templo do futebol mundial, fosse erguida ao lado do Rio Maracanã, há 62 anos. Paralelamente a esse aprendizado técnico, salas de aula são formadas em torno de programas educacionais e sociais, preparados pelo consórcio com a finalidade de levar cidadania e inclusão digital para aqueles integrantes que almejam algo mais na vida e na profissão. Depois do expediente, eles trocam suas ferramentas por canetas, cadernos e computadores. Com olhar atento, acompanham cada explicação dos professores, em cinco programas distintos. Em todos eles, garra, motivação, otimismo e comprometimento são traços comuns.

Qualificação profissional e cidadania Aluno do projeto Educação em Campo, realizado em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), José Ronaldo Dias, 32 anos, é operador de betoneira. Nascido em Alagoas, está na terceira obra da Odebrecht Infraestrutura na cidade. Anteriormente, atuou no Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão) e nos serviços executados no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo do Alemão, onde mora com a esposa e o filho de 6 anos. O projeto proporciona oportunidade de estudo a quem não sabe ler nem escrever ou com escolaridade inferior ao 5º ano do Ensino Fundamental (antiga 4ª série). José Ronaldo revela que sua vida melhorou muito desde que entrou A professora Lídia Mota e sua classe de alunos-trabalhadores: “É prazeroso ver o esforço deles”

para o projeto em janeiro de 2012. “Hoje eu sei falar sobre energia hidrelétrica, eólica e solar. Aprendi tudo com a professora”, diz ele, referindo-se a Lídia Mota, que dá plantão no Maracanã de segunda à quinta-feira. Para ela, o convívio com os 25 alunos trabalhadores é “prazeroso”, especial-

informa

27


mente quando vê na classe o “esforço para recu-

é o primeiro assunto do dia. Em seguida, entre um

perar o tempo perdido”.

cafezinho e outro, surgem as mais variadas su-

“As empresas não só devem formar profissio-

gestões e reflexões conjuntas e orientações que

nais qualificados, mas também implantar ações

norteiam a gerência do consórcio a tomar as deci-

que estimulem a cidadania”, argumenta Wilson

sões no dia a dia da obra.

Busanello, Gerente Administrativo e Financeiro

As duas únicas mulheres na sala do café, Kás-

da obra, mais conhecido como “Prefeito do Ma-

sia Angelo de Oliveira e Débora da Silva Oliveira,

racanã”. Esse gaúcho que ingressou na Odebre-

ambas de 23 anos e trabalhando na parte elétrica

cht em 1978 lidera uma equipe de 300 profissio-

do Maracanã, contam que a vida mudou para me-

nais. “Por dia, nossa cozinha prepara 12 mil pães,

lhor após terem aprendido um ofício. Débora, que

450 kg de arroz, 250 kg de feijão e 1.200 kg de

mantém as unhas impecáveis, ensina o segredo:

carne”, contabiliza.

“Pinto as unhas toda semana lá no Morro da Mangueira, onde moro”. Kássia reforça que, por mais

Café com o líder

estranho que pareça para os outros, ela gosta

Outra iniciativa de destaque nas obras do Ma-

muito “do ambiente de obra”.

racanã é o Café com o Líder. Nos primeiros 15 mi-

A cada edição, o Café com o Líder apresenta

nutos, o ambiente fica tenso. Afinal, tomar café da

uma surpresa: um ex-jogador de futebol expe-

manhã com a “chefia” não é tarefa das mais fáceis

riente é convidado a aparecer e motivar a equipe.

para um grupo de 13 profissionais, 11 homens e

O convidado da sétima edição, acompanhada pela

duas mulheres. Eles estão na sala com um único

equipe de Odebrecht Informa, foi Ricardo Rocha,

objetivo: falar abertamente com os líderes acerca

que atuou na Seleção Brasileira nas copas de

das diversas questões relacionadas à obra e bus-

1990, na Itália, e 1994, nos Estados Unidos. Nes-

car soluções ali mesmo. Para descontrair, futebol

ta, sofreu uma séria lesão na partida de estreia, mas permaneceu no banco, a pedido dos colegas,

O estudante do Caia na Rede Elder de Souza Santos: personificação de um legado que vai muito além de um estádio

para dar força ao grupo com seu bom humor. Por sinal, alto-astral é sua marca. Depois de contar algumas piadas, ele encara a assistência e conclui, com seriedade: “Hoje, vocês são o Neymar. A bola está com vocês. Quando o Maracanã estiver pronto, tragam seus filhos aqui e digam que vocês o construíram”. Ricardo Rocha foi apresentado aos participantes do evento pelo Diretor de Contrato, Paulo Falcão, que aproveitou a ocasião para revelar um segredo. Ele informou que havia acertado com as autoridades do Rio de Janeiro que todos os integrantes do consórcio terão seu nome gravado em uma enorme placa no Maracanã. Todos adoraram a novidade.

Os 10 Mandamentos e o Caia Rede Programas que também deixam todos orgulhosos na obra são Os 10 Mandamentos dos Líderes do Maracanã e o Caia na Rede. O primeiro, lançado em 28 de abril de 2012, é um documento montado

28

informa


Ricardo Rocha, ex-jogador da Seleção Brasileira: “Quando o Maracanã estiver pronto, digam a seus filhos que vocês o construíram”

por 284 líderes e encarregados durante o curso de

cado, o aluno passa por um período de formação

capacitação de liderança, promovido durante dois

de oito a 12 meses no curso.

meses pelo consórcio. Todos se comprometeram

Diplomada em julho de 2012, Andressa Miguel da

a seguir os 10 mandamentos elaborados por eles

Costa já faz parte da equipe da obra do Maracanã.

mesmos e a cumprir o prazo de entrega da obra.

Aos 23 anos, ela sonha se tornar arquiteta ou enge-

Os mandamentos estão gravados em crachás co-

nheira civil. “Procurei o curso porque ele represen-

loridos no peito dos líderes. Diante desse entu-

ta mais um degrau em minha carreira profissional.

siasmo, Paulo Falcão complementa: “A motivação

Quero cursar a faculdade, mas, no momento, pre-

é o que faz as coisas se difundirem, e, hoje, eu

ciso trabalhar para poder arcar com os custos dos

sinto todo mundo motivado”.

meus estudos. O diploma de pedreiro é só o primei-

“O recomeço do Maracanã é o recomeço da minha

ro passo.”

vida”, confessa Elder de Souza Santos, de 30 anos, prestes a receber o certificado do projeto Caia na Rede, no qual o aluno aprende noções básicas de in-

José Ronaldo Dias: oportunidade para ler, escrever e se expressar melhor

ternet. Ele faz questão de destacar seus avanços em relação ao computador. “Com o Excel, vou planejar minha vida financeira.” Pai de duas meninas, Thainá e Eliza, esse pedreiro carioca é do tipo que agarra com mãos firmes todas as oportunidades que o consórcio lhe oferece. Além do Caia na Rede, já fez dois cursos de segurança no trabalho, o de Primeiros Socorros e o de Espaço Confinado. Elder conta que vai passar o carnaval de 2013 em Arraial do Cabo, cidade de belas praias do litoral norte do Rio. “Mas este ano vou pesquisar na internet a casa que vou alugar”, reforça.

Jovem Aprendiz Parceria bem-sucedida com o Senai, o programa Jovem Aprendiz já formou mais de 100 jovens nas funções de eletricista, carpinteiro, assistente administrativo e pedreiro. Para receber o certifi-

informa

29


o cuidadoso

cultivo

Arena Educar e Programa Acreditar abrem perspectivas de crescimento em Pernambuco

do futuro texto Renata Meyer fotos Lia Lubambo

Elivaldo dos Santos: “o Acreditar está fazendo sonhos acontecerem”

30

30 informa


Q

uando desligou o telefone naquele dia de outubro, Graziele da Silva Brito, 20 anos, mal conseguia esconder a alegria. Tinha

acabado de ser convocada por uma empresa de recrutamento e seleção para trabalhar na área de operações de uma importante rede de supermercados. A oportunidade surgiu dias depois de Graziele receber o certificado de conclusão do curso de informática que realizou por meio do projeto Arena Educar, promovido pela Odebrecht Infraestrutura na comunidade de Santa Mônica, localizada no entorno das obras da

A jovem Graziele Brito e sua mãe Ivonete: preparando-se para as exigências dos novos tempos

Arena Pernambuco, que estão sendo executadas no município de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife.

Segundo Rafael Batista, instrutor do curso (cuja carga horária total é de 60 horas), o conhecimento

“O curso agregou um importante diferencial ao

na área digital é pré-requisito para lidar com os de-

meu currículo e abriu as portas do mercado pro-

safios do futuro. “Esse tipo de ação é fundamental

fissional. Hoje, quase todas as áreas de um super-

para toda empresa que tem uma visão ampla sobre

mercado exigem conhecimentos em informática”,

o que a sociedade irá demandar daqui para frente.

afirma Graziele, que integrou a primeira turma de

Precisaremos, cada vez mais, de profissionais capa-

alunos, entre junho e setembro de 2012. “Nas aulas,

zes de lidar com as novas tecnologias, e essa aten-

aprendi a usar o computador, a acessar a internet

ção que a Odebrecht dedica à comunidade de Santa

e a operar alguns programas. Hoje, me sinto mais

Mônica certamente irá retornar para a empresa em

preparada para utilizar essa ferramenta”, completa.

forma de uma força de trabalho mais qualificada.”

Seguindo os passos da filha, Ivonete da Silva Brito, mãe de Graziele, também decidiu se inscrever no

A força do Acreditar

projeto. Aos 38 anos, ela vive suas primeiras incur-

Não é só o Arena Educar que está abrindo ca-

sões no universo digital. “O conhecimento em infor-

minhos para trabalhadores que vivem no entorno

mática se tornou básico em qualquer função. Já vi

das obras da Arena Pernambuco. Elivaldo Paulino

muita gente ser dispensada na empresa em que eu

dos Santos, 28 anos, é prova disso. Ex-comercian-

trabalhava por não ter noções de computação. Não

te, Elivaldo trabalhava no Mercado Público de São

quero ficar para trás”, afirma a dona de casa que

Lourenço da Mata como balconista de bomboniére,

planeja retornar, em breve, ao mercado de trabalho.

quando ouviu um carro de som anunciar a abertura

Realizado em parceria com o Serviço Social da

das inscrições para o Programa Acreditar, realizado

Indústria (Sesi), o Arena Educar contribui para a in-

pela Odebrecht com o objetivo de capacitar traba-

clusão digital de adultos, por meio do ensino de in-

lhadores em ofícios de engenharia e construção.

formática básica gratuito. As aulas, com duração de

Elivaldo conta que muitos amigos chegaram a

uma hora, ocorrem duas vezes por semana e incluem

desconfiar do programa, pelo fato de ser oferecido

atividades teóricas e práticas. O programa prevê a ca-

gratuitamente, mas seu desejo de mudar de área e

pacitação de 100 pessoas até o fim da obra.

entrar para uma grande empresa serviu de motiva-

informa

31


Rafael Batista: compromisso com o cidadão do futuro

ção para que ele se inscrevesse. Depois de cursar

Atualmente com 622 mudas, o viveiro também é

para trabalhar nas obras da Arena Pernambuco,

o destino de alguns resíduos gerados na obra. “Aqui,

uma emoção que ele descreve com voz embargada:

copos plásticos, sacos de gelo e pó de serra ganham

“Queria muito essa oportunidade, pensava que um

novas utilidades”, destaca Elivaldo, que também é

dia a minha hora ia chegar e felizmente chegou. O

um dos incentivadores do Programa de Educação

Acreditar está fazendo sonhos acontecerem e, gra-

Ambiental, promovido pela Odebrecht Infraestrutura

ças a essa oportunidade, consegui colocar minha

no município de São Lourenço da Mata. Por meio do

filha em uma escola particular, pagar um plano de

programa, integrantes da empresa visitam escolas

saúde e abrir uma poupança para que, no futuro, ela

da região para ensinar a crianças e adolescentes

faça uma faculdade. Hoje também posso levar a mi-

cuidados básicos com o meio ambiente. Durante a

nha filha para brincar no shopping e, para mim, o

visita, são escolhidos multiplicadores encarregados

sorriso dela não tem preço”, diz, emocionado.

de propagar os aprendizados com outros colegas e

Ele participou do Acreditar em julho de 2011. Em setembro do mesmo ano, começou a trabalhar

32

situado nas proximidades do futuro estádio.

a oitava turma e realizar uma prova, foi convocado

familiares. Ao final, crianças e integrantes realizam o plantio de mudas nos pátios das escolas.

nas obras da Arena Pernambuco, como ajudante de

“Esperamos dar continuidade a todos os pro-

montagem, e logo passou a apontador de serviço.

gramas sociais que implantamos na região. So-

Foi quando surgiu uma nova oportunidade: traba-

mente por meio do Acreditar já capacitamos mais

lhar na área ambiental, um desejo antigo desse

de 500 pessoas e investimos R$ 600 mil. Isso é

pernambucano de São Lourenço da Mata. Hoje ele é

fundamental para atender às perspectivas de ele-

responsável por operar a Estação de Tratamento de

vado crescimento do estado, o que gerará forte de-

Efluentes da obra e é um dos criadores do viveiro de

manda por força de trabalho nos próximos anos”,

mudas utilizadas para a recuperação das Áreas de

afirma Bruno Dourado, Diretor de Contrato da Are-

Proteção Permanente do entorno do Rio Capibaribe,

na Pernambuco.

informa


Egon Hoennicke com sua esposa, Alzira: “Um anjo salvou minha vida”

visitas

muito aguardadas Programa de capacitação de agentes de saúde da Foz do Brasil já formou mais de 1.200 pessoas

33

texto João Marcondes fotos Celso Doni

A

infância de Ana Paula Cabral de Castro não foi um mar de rosas. O pai e a mãe tiveram problemas com alcoolismo na pequena cidade de Cristalândia (TO). A menina magrinha, de pele morena de sol, ouvia, à boca pequena, que “não

daria em nada na vida”. Acabou criada pela avó, dona Rosa, uma senhora rígida, de poucos sorrisos e muita disciplina. Acostumada a nadar contra a corrente, aos 9 anos, Ana fazia cartazes com cartolina e pincel atômico para a reunião da Associação de Moradores local, presidida por um tio. Nos encontros, sentava-se em um banquinho sem encosto, concentrada, olhos apertados, ouvindo as reivindicações, tudo aquilo fermentando em sua cabeça. Ano de 2012. Hoje funcionária da Prefeitura de Palmas, Ana Paula percorre as ruas da capital de Tocantins, entrando de casa

informa

33


Ana Paula Cabral de Castro, agente de saúde, e Luiza França: uma visita muito especial

em casa para levar aos moradores o programa Saúde

O programa voltado para os agentes da Saúde é

da Família. Uma de suas visitas favoritas é à casa de

atualmente aplicado nas operações da Foz em Cachoeiro

dona Luiza Lima França, 76 anos, que sofre de diabetes

do Itapemirim (ES), Blumenau (SC), Salvador e em qua-

e perdeu o marido, Vicente, há apenas dois meses. Um

se todo o estado de Tocantins. Mais de 1.200 agentes já

estado emocional que só é compensado pelo abraço afe-

foram capacitados. O treinamento é feito por meio de pa-

tuoso da agente.

lestras realizadas por especialistas, nas quais a conexão

Ana Paula visita mais de 200 casas em seu itinerário.

entre saúde e saneamento básico é descortinada para

Crianças, trabalhadores, gestantes, adolescentes, todos

agentes multiplicadores do programa federal Saúde na

estão sob seus cuidados. “Mas o que mais gosto é de

Família.

tratar com os idosos, pois me lembram da minha avó,

De acordo com Mônica Queiroz, Responsável por

que me ensinou tudo na vida”. Dona Luiza oferece café e

Sustentabilidade na Foz do Brasil, a empresa procura

pão de queijo e depois diz: “Ana Paula é a mais desejada

desenvolver ações que aproximam a população do tema

por todos. É gente nossa. Uma extensão da família”.

saneamento, justamente para que as pessoas entendam o quanto o assunto impacta na saúde e na qualida-

34

“O social pela ótica da saúde”

de de vida. Além da capacitação dos agentes de Saúde,

Ana Paula tem hoje 34 anos. Assim como outras

a Foz, em parceria com o Ministério da Saúde, apoia um

agentes de saúde de Tocantins, ela participou de um

programa voltado para a prevenção da dengue. “Essas

projeto de capacitação da Saneatins, empresa contro-

ações nos possibilitam olhar o social pela ótica da saú-

lada pela Foz do Brasil, que visa inserir o saneamen-

de”, analisa Mônica.

to básico na abordagem às famílias. Na casa de dona

No Brasil, 15 crianças de 0 a 4 anos morrem por dia

Luiza, por exemplo, Ana Paula falou sobre a necessidade

em decorrência da falta de saneamento (segundo da-

de limpar a caixa-d’água e reutilizar a água da máquina

dos da Fundação Getúlio Vargas/Trata Brasil). A relação

de roupas para lavar o chão, de doenças de veiculação

entre água e vida saudável deveria ser óbvia para todos,

hídrica e do tratamento de esgoto.

mas não é. Os próprios agentes de saúde, durante sua

informa


capacitação, precisam, primeiramente, mudar a si mes-

Também ali, a empresa é muito bem-vinda nas casas,

mos, sua casa, sua família. “A melhor forma de atrair

muitas delas em estilo enxaimel, típico alemão. Como

seguidores é ser o exemplo”, destaca Lenice Fernandes,

no lar do aposentado Egon Hoenniche, 72 anos. “Aquele

responsável pelo programa na Saneatins e que também

anjo louro salvou minha vida”, diz ele, com entusiasmo,

atua como capacitadora dos agentes.

apontando para a enfermeira-chefe, Vera Janete Piesanti,

Adriana Abel Penedo, consultora que já treinou mais

da Unidade de Estratégia de Saúde da Família, próximo

400 agentes, tem uma linha de raciocínio: “A água como

ao bairro Glória. Sua equipe socorreu Egon durante uma

ética para a vida”. Ela explica: “As pessoas se acham no

crise causada por infecção intestinal.

direito de desperdiçar, de deixar uma torneira aberta en-

Vera foi capacitada de forma “indireta”, ao enviar suas

quanto escovam os dentes, porque pagam a conta, e aquilo

agentes ao evento da Foz. Na volta, viu que todas comen-

não fará muita diferença. Essa é a visão que tem de mudar,

tavam empolgadas sobre o que aprenderam e quis saber

pois afeta o bem-estar de inúmeros outros seres vivos”.

também. “Não sabia como era o tratamento de esgoto

No mundo inteiro, cerca de 1,2 bilhão de pessoas conso-

nem sabia que tinha uma estação aqui perto.”

mem água imprópria (segundo a Organização Mundial da

Quem contou a ela foi Liliana Dias Correa, 45 anos,

Saúde), sem tratamento, enquanto outras que a recebem

agente que fez o curso. Carismática, ela tem o dom de

em casa, deixam o valioso líquido escoar pelo ralo.

espalhar o conhecimento. Seja para Egon e sua mulher, Alzira, seja para a chefe Vera. “Aqui, o mais difícil é fazer

Verdes vales

as pessoas limparem a caixa-d’água ou convencê-las de

Fundada em um vale verdejante, na curva do Rio

que a água das fossas muitas vezes oferece perigo à saú-

Itajaí-Açu, por 18 imigrantes alemães, Blumenau tem

de”, comenta. “Isso é um trabalho de formiguinha, tem de

hoje parte de seu valioso meio ambiente cuidado pela Foz

ser feito um a um. O mais importante é mudarmos nós

do Brasil, que realiza o tratamento de esgoto local.

mesmos para influenciar tudo em volta”, argumenta.

A agente de saúde Mirian Ferreira da Silva e a família Nunes Lopes: trabalho de formiguinha para construir novos hábitos

informa

35


entrevista

Francisco Martins: relacionamentos que ficam para sempre

36

informa

36


pessoas

com o pensamento nas

E

texto Cláudio Lovato Filho

foto Geraldo Pestalozzi

le se lembra de Severino até hoje,

Odebrecht Informa – Desde seu início de carreira,

um pequeno agricultor de escassos

em 1986, quando concluiu o curso de Agronomia

recursos que acoplou uma polia à roda

na Universidade Federal Rural de Pernambuco

de seu Chevette para fazer funcionar a

(UFRPE), você vem se dedicando, de uma forma

bomba que irrigava a horta, em Jataúba,

ou de outra, ao trabalho social. O que o atrai mais

no Agreste de Pernambuco, no fim dos anos 1980.

nesse tipo de atuação?

Recorda-se também de Salvador, produtor de café

Francisco Martins – As pessoas. A oportunidade de

orgânico na Cordilheira Escalera, no Peru, que um

conhecê-las, de conviver e de aprender com elas.

dia conseguiu condições dignas de comercialização

Assim que me formei, fui trabalhar em projetos de

para seu produto, o que transformou sua vida e de

irrigação para pequenos agricultores na Secretaria

muitos em sua comunidade, na década passada. E

de Agricultura de Pernambuco. Minha primeira

de Hector, educador que realiza trabalho social no

experiência profissional já teve um componente social

Chorrillo, uma das comunidades mais pobres da

muito forte. Percebi que o maior desafio era ajustar

Cidade do Panamá. São mais que nomes gravados

as soluções à realidade local, e, para isso, seria

na memória. Francisco Martins não se esquece de

essencial entender o cotidiano dos beneficiários.

nenhum deles e de muitos outros porque não quer e porque jamais conseguiria. “As pessoas são feitas da

OI – E como se faz isso, na prática?

sua relação com as outras pessoas”, diz. “Elas são a

Francisco – Conversando com as pessoas. Na época

minha bagagem”. Responsável por Sustentabilidade

da Secretaria de Agricultura, eu estava baseado

na Odebrecht Panamá, agrônomo de formação,

em Recife, mas rodava por todo o estado, agreste,

Francisco Leite Martins Neto é um pernambucano

sertão... Eu ia à casa dos pequenos produtores,

nascido em Caruaru, que, ainda criança, chegou a

conversava com eles, era convidado para almoçar,

Olinda, a cidade que inunda seu coração, como o

ouvia as histórias deles. Eu me lembro de como

Sport Club do Recife. Ao lado da mulher, Bárbara

eles se sentiam honrados com a nossa visita. Eram

(que, em um exemplo de convicção nas práticas

pessoas muito simples, que colocavam dentro de

de sustentabilidade, lidera um movimento para

sua casa, sobre suas mesas, o fruto de seu trabalho.

melhorar as condições do ciclismo na Cidade do

Eram pessoas que sentiam na pele os próprios erros.

Panamá), com muita saudade do filho, Leo, de 18 anos, que mora em Recife, e evidenciando, a

OI – Em 1991, você deixou Pernambuco e foi para

cada palavra, uma motivação típica de quem está

a Europa para fazer uma pós-graduação em

fazendo aquilo de que mais gosta, Francisco fala,

Gestão de Recursos Hídricos. Em que medida essa

nesta entrevista, acima de tudo, sobre vínculos.

experiência foi importante para você?

“Precisamos nos colocar no lugar das pessoas

Francisco – Fui para a Inglaterra como bolsista

com as quais nos relacionamos e para as quais

do Conselho Britânico. Foram quase dois anos no

trabalhamos.”

National College of Agriculture. Uma experiência

informa

37


muito rica. Fiz amigos de todas as partes do mundo.

OI – Então, em setembro de 2010, você por fim

Aprendi ainda mais sobre a importância de saber

ingressou na Odebrecht...

ouvir e estar atento aos outros.

Francisco – Sim. Sérgio Leão [Responsável por Sustentabilidade na Odebrecht] e Felipe Cruz [hoje

OI – Ao voltar da Inglaterra, você teve sua primeira

Diretor de Investimentos do Polo de Capanda, em

experiência na iniciativa privada. Como foi isso?

Angola), que conheciam meu trabalho no Equador e

Francisco – Em 1993, fui trabalhar na Souza Cruz.

no Peru, fizeram o convite para que eu assumisse o

Novamente eu atendia pequenos produtores, só que,

desafio de ser responsável por apoio em programas

dessa vez, produtores de fumo, com propriedades

comunitários e mudanças climáticas na Odebrecht

no semiárido de Pernambuco, Rio Grande do Norte,

Panamá. Na época, o Diretor-Superintendente,

Paraíba e Ceará. Nessa época, morei em Patos,

[DS] André Rabello, e sua equipe direta estavam

na Paraíba. Foi um aprendizado importantíssimo.

estruturando o Programa de Sustentabilidade da

Depois de trabalhar no setor público, vi como era a

empresa no país. Em 2013, agregarei à minha atuação

realidade de uma grande empresa privada. Ali tive

o apoio aos programas de meio ambiente.

o primeiro contato com indicadores de desempenho. Na sequência, em 1995, regressei ao Governo do Estado, a convite do saudoso Miguel Arraes, para liderar o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor (Papp), e, quatro anos depois, outra vez retornei à iniciativa privada. Passei a integrar o quadro de consultores da Projetec, onde fiquei por 11 anos, em um maravilhoso ambiente de trabalho.

“Não se ganha a confiança das pessoas com conversa, mas sim com ações”

Sempre com foco na área social. Foi por meio da Projetec que comecei a interagir com a Odebrecht

Francisco Martins

profissionalmente.

OI – Como foram os primeiros contatos com a Odebrecht?

OI – O Panamá é um país pequeno, mas, ao mesmo

Francisco – No Equador, tive nova oportunidade

tempo, apresenta uma diversidade socioeconômica

de apoiar pequenos produtores em um projeto de

e cultural muito grande. Em que medida isso é

desenvolvimento agrícola, chamado Carrizal-Chone,

desafiador em sua atuação?

liderado pelo Diretor de Contrato Eleuberto Martorelli.

Francisco – É desafiador e gratificante. Nas obras

Depois, trabalhei para a [Rodovia] IIRSA Norte, no

da Cinta Costera [amplo projeto que envolve obras

Peru, também com Martorelli, um líder muito atento

viárias e de reurbanização, em execução na região

às relações comunitárias e com quem aprendi muito.

central da Cidade do Panamá], por exemplo, as

Essas primeiras experiências com a Odebrecht me

comunidades beneficiárias de nosso trabalho

fizeram aprofundar a convicção de que não se ganha

pertencem a todos os estratos sociais – do morador

a confiança das pessoas com conversa, mas sim com

de áreas carentes, como Chorrillo, à classe média

ações. No Peru, foi um grande desafio atuar em uma

alta da Avenida Balboa. Todos eles têm que ser

área social e ambientalmente sensível. Entre várias

tratados com o mesmo respeito e receber de nós a

iniciativas, apoiamos de produtores de café ao sistema

mesma dedicação.

cooperativo na Cordilheira Escalera, e esse foi um

38

dos episódios mais marcantes em toda a minha vida

OI – O Projeto Curundú, por meio do qual ocorre

profissional, por causa dos resultados obtidos no que

a reurbanização de uma das comunidades mais

se refere à melhoria das condições socioeconômicas

carentes e violentas da Cidade do Panamá, foi a

daquelas comunidades.

primeira obra com a qual você teve contato no

informa


Panamá. Que tipo de aprendizado isso lhe rendeu?

oferecemos a possibilidade de exames voluntários

Francisco – As lições que absorvi ao acompanhar

e sigilosos. Temos percebido bons resultados,

o trabalho de Júlio Lopes Ramos [Diretor de

sobretudo no que diz respeito à circulação de

Contrato] e sua equipe social foram extraordinárias.

informação qualificada e à quebra de mitos sobre

Eles conseguiram conquistar a confiança da

a doença, encorajando o diagnóstico precoce.

comunidade, estabelecer com ela canais de comunicação eficazes e, por meio deles, atenderam

OI – Um projeto inovador de educação ambiental

a todos os requisitos de sustentabilidade. Com

e relacionamento com a comunidade está em

isso, contribuíram de forma decisiva para que as

andamento no âmbito das obras da Planta de

obras se desenvolvessem de uma forma ajustada

Tratamento de Águas Residuais da Cidade do

à realidade local.

Panamá. Como você o descreve? Francisco – O Parque dos Manguezais Juan Díaz

OI – E a que você atribui esse êxito da equipe do

terá, em uma primeira fase, 10 hectares e se

Curundú?

destinará, sobretudo, à educação ambiental e à

Francisco – É uma equipe formada por profissionais

pesquisa científica. A área protegida do mangue é

preparados e maduros, que souberam identificar o

vizinha à obra, que foi concebida para proporcionar

perfil e as características da comunidade. Para isso,

um feito histórico: a detenção da poluição nos

conviveram com as pessoas, ouviram-nas, foram às

rios da Cidade do Panamá e na Baía do Panamá

suas casas e conseguiram fazê-las entender que as

por esgoto doméstico. Por ser um espaço onde

mudanças estavam vindo para melhorar a vida.

a população poderá se dar conta claramente dos efeitos da poluição sobre a natureza e refletir

OI – Como é o seu dia a dia de trabalho?

sobre os seus hábitos, como jogar lixo nas ruas e

Francisco – Minha missão é apoiar os contratos,

nos cursos de água, essa iniciativa poderá servir,

na realidade de uma Organização descentralizada.

inclusive, de modelo para outros países.

Apoio não se impõe. Ele é oferecido ou requisitado. Estamos permanentemente tentando identificar

OI – No que se refere à sustentabilidade, como é o

oportunidades que possam vir a interessar as obras.

momento do Panamá e da Odebrecht no país? Francisco – A empresa vem realizando obras

OI – Um dos destaques da atuação social da

fundamentais e oferecendo contribuições adicionais

Odebrecht no Panamá atualmente é o Programa

que, por seu impacto e seu alcance, têm chamado

de Combate ao HIV/aids (veja reportagem nesta

a atenção de toda a sociedade. Nossos projetos,

edição). Como você analisa a importância dessa

em sua totalidade, têm programas comunitários

iniciativa?

consistentes,

Francisco – O HIV/aids é um tema crítico no

estruturadas. Buscamos estabelecer uma rede

Panamá. O país está entre aqueles que apresentam

de alianças estratégicas no meio empresarial,

os índices mais elevados nas três Américas.

em uma mobilização que se reflete em ganhos

A Odebrecht, por sua vez, tem uma política

de imagem e produtividade para nossos clientes.

específica para aids desde 2008. Estabelecemos

Internamente, a integração dos programas de

uma parceria com a Probidsida [Fundação Pró-

Sustentabilidade, Saúde e Segurança do Trabalho,

Bem-estar e Dignidade das Pessoas Afetadas pelo

Comunicação e Relações Institucionais, conduzida

HIV/aids], uma instituição panamenha de grande

por Paulo Levita [Diretor de Sustentabilidade e

credibilidade e competência, e desenhamos um

Relações Institucionais na Odebrecht Panamá], tem

programa que abrange nossos seis projetos em

ajudado muito. Temos conseguido estimular nossos

andamento no país. Todos os canteiros de obra

integrantes a darem o exemplo em seu cotidiano. A

recebem palestrantes da equipe da Probidsida,

sustentabilidade do planeta começa na casa de cada

fazemos

um e é responsabilidade de quem respira!

campanhas

de

esclarecimento

e

conduzidos

por

equipes

bem

informa

39


a arte

texto Diego Damasceno fotos Mรกrcio Lima

40

40 informa

e seu poder de transformar


Prêmio Braskem de Teatro, Fronteiras do Pensamento, Neojiba, Porto Alegre em Cena. Frentes de contribuição de uma empresa que valoriza e vive a cultura

O diretor Luiz Marfuz, professor da Escola de Teatro da UFBA: ênfase para a preservação

informa

41


E

m 2007, poucos meses depois de ganhar o mais importante prêmio de teatro da Bahia por sua atuação na peça “A Casa dos Espectros”, a atriz Jussara Mathias recebeu um telefonema de que não se esquece. Do

Jussara Mathias: “O prêmio foi um salto para mim”

outro lado da linha, a diretora Fabiana Monsalú tinha um convite a fazer. “Ela me chamou para participar de ‘A casa de Bernarda Alba’, de Lorca”, recorda Jussara. A atriz repete com precisão as palavras da diretora: “Ela falou assim: ‘Eu sei que você acabou de ganhar o Braskem, e é um papel pequeno...’ Eu topei na hora”. Única premiação do gênero na Bahia, o Prêmio Braskem de Teatro elege desde 2003 os melhores espetáculos, diretores, dramaturgos, atores, atrizes e profissionais que se destacaram nos palcos baianos. “O prêmio foi um salto para mim. As pessoas passam a olhar para você depois disso”, diz Jussara. Homenageado na cerimônia de entrega do prêmio em 2011, o ator Wagner Moura recebeu o troféu das mãos de seu pai, José Moura (falecido naquele ano). No palco, Wagner lembrou ter conquistado o Prêmio Braskem de Teatro em 1997 e disse que esse foi o mais importante dos que recebeu em toda sua carreira. O troféu na categoria Revelação, em 2010, também deu notoriedade ao trabalho do diretor José Jackson. O espetáculo premiado, “Dois perdidos numa noite suja”, foi montado originalmente como trabalho de conclu-

da UFBA, pôde voltar a cartaz com o espetáculo “Meu

são de curso de Jackson, formado em Artes Cênicas

nome é mentira”, por conta das cinco indicações que

pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia

obteve na edição de 2011 do prêmio. Ele atribui ao prê-

(UFBA). “O prêmio mudou a forma como os artistas me

mio uma função de preservação. “O teatro acontece em

enxergavam. Deixei de ser um estudante da Escola de

um momento e, depois, fica só um registro fotográfico

Teatro cujo trabalho a poucos interessava”, ele comenta.

ou audiovisual. O prêmio se desdobra ao longo do ano

Natural de Caruaru (PE), Jackson tinha 15 anos

[as indicações ocorrem no ano anterior à premiação] e

quando foi convidado a participar de um grupo de teatro.

organiza uma memória daquele período. Ele resgata o

Nunca mais se afastou dos palcos. “A arte tem uma fun-

teatro de sua própria efemeridade.”

ção transformadora na vida do indivíduo. Quando entrei

Em 2012, o Prêmio Braskem de Teatro realizou ofi-

no grupo, aos 15, eu mal sabia ler e escrever. Foi um

cinas de formação cultural e artística para jovens baia-

grande crescimento.”

nos. Trinta estudantes da rede pública de ensino parti-

Com 25 anos de atuação em teatro, dança e mú-

ciparam de oficinas de audiovisual gratuitas, as quais

sica, a iluminadora Irma Vidal conquistou dois tro-

compuseram um curso de 80 horas de duração, com

féus. Segundo ela, porém, a simples indicação para o

atividades práticas e teóricas ministradas por profis-

Braskem já é um prêmio. “É um reconhecimento do

sionais experientes em roteiro, direção, direção de arte,

trabalho de todo o grupo”, avalia. Irma acredita que

produção e técnicas de áudio e luz. O resultado desse

o setor privado tem um papel a cumprir no fomento

trabalho fez parte da 19ª cerimônia de entrega dos tro-

à arte. “Hoje são poucas as empresas que investem

féus do prêmio, em 4 de abril, no Teatro Castro Alves.

em cultura na Bahia.” O diretor Luiz Marfuz, professor da Escola de Teatro

42

informa

O Prêmio Braskem de Teatro é uma contribuição de peso para a valorização da arte e da cultura, que está na


sua 20ª edição, mas está longe de ser o único aporte da

O Fronteiras não se esgota na realização de debates.

empresa nessa área, como será possível confirmar por

Ele funciona como fomento para a realização de outras

meio desta reportagem.

atividades culturais e educativas, em especial o projeto Fronteiras Educação: Diálogos com a Geração Z.

Fronteiras do Pensamento

“O Fronteiras é uma grande plataforma de conteú-

Aproximar palco e plateia por meio da reflexão tam-

dos, mas não atingia estudantes. Então, só tivemos de

bém é a finalidade do Fronteiras do Pensamento, pro-

pensar em um formato adequado para os jovens”, ex-

jeto apoiado pela Braskem que se tornou um dos mais

plica João Freire, gerente de Relações Institucionais da

importantes eventos do calendário cultural do país.

Braskem.

Curso de altos estudos em formato de conferências,

Desde 2009, são organizados encontros entre pales-

o Fronteiras reúne pensadores, cientistas e líderes de

trantes do Fronteiras, professores da Universidade Fe-

todo o mundo, vanguarda dentro de suas áreas de atua-

deral do Rio Grande do Sul (UFRGS) e alunos do Ensino

ção. O tema principal é a identidade do século 21. Todos

Fundamental da rede pública de Porto Alegre. A media-

os anos, desde o início do projeto, em 2006, esse de-

ção entre estudantes e os especialistas é feita pelo escri-

bate orienta palestras ministradas por personalidades,

tor Fabrício Carpinejar. Faz parte do projeto a distribuição

como a crítica literária Beatriz Sarlo, a escritora Ayaan

de fascículos didáticos, cujo conteúdo é produzido a partir

Hirsi Ali, o filósofo Alain de Botton, o jornalista Chris-

de conferências de diversas edições do Fronteiras.

topher Hitchens, a escritora Camille Paglia, o cientista

Linguagem, sustentabilidade, ciências e cultura afri-

Miguel Nicolelis, o antropólogo Edgar Morin, o médico

cana foram os temas escolhidos para a edição 2012 do

Denis Mukwege, o escritor Mario Vargas Llosa e o eco-

projeto. No último encontro, ocorrido em 13 de novem-

nomista Eric Maskin (os dois últimos, ganhadores do

bro, cerca de três mil estudantes conversaram com o es-

Prêmio Nobel).

critor moçambicano Mia Couto e professores da UFRGS. Mia Couto viu no nome do evento uma motivação para a sua palestra. “Falar para estudantes tem a ver O jovem diretor José Jackson: conquista de reconhecimento

com estender fronteiras. A gente tem que atravessar essas fronteiras entre o jovem e o mais velho, entre o mais erudito e o menos erudito.” O escritor avalia que conhecer a África é uma maneira de o Brasil se tornar um país melhor – e mais brasileiro. Alexia Martis, 13 anos, estava na plateia e saiu da palestra com interesse pelas histórias de Mia Couto. “Acho importante a gente sair da sala de aula para aprender em outros espaços”, disse. Para Alessandro da Silva, 17 anos, a palestra foi importante por trazer conteúdos em uma linguagem diferente daquela usada em sala de aula. “Vou poder conversar com minha família sobre o que aprendi aqui.” Fabíola Silveira, 11 anos, destacou que foi interessante descobrir que o Brasil e a África têm muitas semelhanças. “Na África existe conflito por causa da cor da pele das pessoas.” Joana Soares, 15 anos, disse: “Gostei muito de conhecer Mia, que é uma pessoa de fora e que veio falar conosco sobre o país dele. Não sabia que a África tinha países tão diferentes entre si”. Éderson Luiz de Lima, 15 anos, contou que só conhecia alguns nomes de países africanos, mas pouco sobre a cultura deles. “Foi uma surpresa saber que a literatura da África é conhecida aqui no Brasil.”

informa

43


Cléber Passus

Fronteiras: pensadores, cientistas, líderes mundiais, jovens e adultos refletindo sobre o mundo

Na avaliação de Jaqueline de Oliveira Natel, pro-

mio Eleazar de Carvalho, principal honraria do Festival

fessora de Língua Portuguesa da escola Chapéu do

de Inverno de Campos do Jordão, o maior do gênero no

Sol, o projeto é uma nova modalidade de atividade

Brasil e que concede ao vencedor uma bolsa de estudos

didática e pedagógica. “Hoje a sala de aula é um

de um ano no exterior. Yuri irá para o Instituto Peabody,

ambiente muito pequeno para os anseios dos alu-

em Baltimore, um dos melhores conservatórios dos Es-

nos. Essa oportunidade nos ajuda a preparar aulas

tados Unidos, para se dedicar à regência. “Ricardo me

mais interessantes.” O professor de história César

disse que eu tinha talento para reger, mas eu nem sabia

Augusto Queirós acredita que é fundamental propor-

o que era ter talento para isso.”

cionar o contato do aluno com outros ambientes de

O Neojiba é um projeto do Governo do Estado da

aprendizado. “Esse encontro entre a universidade e a

Bahia pioneiro no Brasil e tem apoio da Braskem. Fun-

escola deveria acontecer mais vezes. A universidade

dado por Ricardo Castro, em 2007, foi inspirado no El

deve ir até a escola também.”

Sistema, programa venezuelano de orquestras jovens

O professor Ricardo Menegotto participa do Frontei-

composto de 350 mil jovens daquele país.

ras Educação há três edições. Ele observa que o formato do evento, que inclui projeção de vídeos e grande interação da plateia, atrai os estudantes. “Às vezes a temática é nova e acrescenta ao nosso trabalho na escola. No caso da discussão sobre a África, já trabalhávamos isso. Então é um complemento.”

Neojiba Foi na saída de um recital de piano do maestro Ricardo Castro, em 2007, que Yuri Azevedo, 21 anos, teve a oportunidade de conhecer o Neojiba – Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia. Ele tinha 14 anos e fazia um curso livre de percussão na UFBA. Até então, sua ideia era de que se tratava de uma simples orquestra de jovens músicos. “Eu não tinha dimensão do projeto, mas me inscrevi para tentar participar do grupo, fiz uma audição e passei.” No Neojiba, Yuri trocou os instrumentos pelos estudos para se formar maestro. Neste ano, venceu o Prê-

44

informa

Ricardo Castro: “Na orquestra, somos todos iguais”


O Neojiba mantém um Núcleo de Gestão e Forma-

vêm das classes C, D e E. “A orquestra é um exemplo de

ção profissional (NGF), sediado no Teatro Castro Alves,

funcionamento ideal de uma sociedade, na qual todos

em Salvador, onde se encontram a Orquestra Sinfônica

se reúnem para criar beleza. Na orquestra, somos to-

Juvenil 2 de Julho, com 90 músicos, a Orquestra Castro

dos iguais”, afirma Ricardo Castro.

Alves, com 80 integrantes, a Orquestra Pedagógica Ex-

Elizabeth Ponte completa: “Uma pessoa sozinha não

perimental, que capacita músicos entre 7 e 15 anos, e

faz uma orquestra. Se alguém toca bem e outro não, a

um coral com 40 jovens. Existem também três Núcleos

orquestra não soa bem. Então você aprende a colaborar,

de Prática Orquestral e Coral (NPOs), localizados em

a escutar e ser escutado. Mais do que músicos, quere-

Salvador e região metropolitana e em Trancoso.

mos formar pessoas melhores por meio do Neojiba”.

O NGF forma músicos monitores, jovens capazes de passar adiante aquilo que aprenderam. “A multiplica-

Porto Alegre em Cena

ção é a base e o diferencial do nosso programa. Não é

Desde 2006, a Braskem promove o Prêmio Braskem em Cena, que elege os melhores espetáculos gaúchos entre os participantes do festival Porto Alegre em Cena,

Esdras Santana: o desafio de montar uma banda sinfônica em um bairro carente de Salvador

um dos mais importantes da América Latina. Para Isandra Ferminano, atriz e produtora do Grupo Cerco, vencedor em três categorias da edição 2012 do prêmio com o espetáculo “Incidente em Antares”, o investimento em teatro se justifica pela função socializante que ele desempenha. “O teatro ensina a refletir em conjunto sobre a sociedade. Ele é um meio de intervenção porque o público divide algo com o ator.” Daniel Colin, ator do grupo Sarcáusticos, vencedor na categoria melhor espetáculo com a peça “Breves entrevistas com homens hediondos”, afirma que os canais de financiamento aumentaram nos últimos anos, mas que muitas empresas ainda resistem a investir. “É preciso acordar para a importância do espetáculo”, ele diz.

preciso diploma para multiplicar, uma criança já pode fazer isso”, afirma Ricardo Castro. Os monitores são agentes fundamentais do projeto de mapeamento de orquestras no interior do Estado. Hoje, 23 delas são apoiadas pelo Neojibá. “A demanda que esses grupos nos apresentam é por capacitação e não por financiamento”, explica Elizabeth Ponte, di-

A atriz Isandra Ferminano: função socializante do teatro

retora administrativa do Neojiba. Esdras Santana, 25 anos, trompetista do Neojiba e também flautista, assumirá em breve a coordenação de um núcleo, situado no Bairro da Paz, periferia de Salvador. “Vamos reunir pessoas para montar uma Mathias Crammer

banda sinfônica. É um grande desafio, porque aquele é um bairro muito carente”, observa. O Neojiba desmistifica a ideia de que música erudita é coisa para a elite. Cerca de 75% dos músicos

informa

45


Pequeno e

forte

Voltada ao apoio a pequenos negócios, programa Petit et Puissant é uma das ações que estão ajudando no desenvolvimento de comunidades na Guiné texto Elea Almeida fotos Guilherme Afonso

46 46

informa


Madeleine Kondiano e companheiros: avanรงos no pequeno empreendimento com o apoio do programa Petit et Puissant

informa

47


H

á cinco anos, Madeleine Kondiano trabalha com outras 11 mulheres produzindo sabão, a partir do óleo reciclado, para bancar os estudos dos filhos na cidade de Kissidougou, no sul da Guiné (a 600 km

da capital, Conacri). Seu sonho é que seus seis meninos possam cursar uma faculdade. Há apenas alguns meses, porém, a instituição que Madeleine ajudou a fundar passou a operar com reserva de caixa. Isso ocorreu porque a Odebrecht firmou uma parceria com a organização não governamental Les Humanistes de Guinée, que atua no país e da qual Madeleine faz parte, para prover o óleo de cozinha e dar consultoria financeira e administrativa para o negócio prosperar. A parceria faz parte do programa de apoio a pequenos negócios e geração de renda Petit et Puissant, ação social implantada nos arredores das obras do Projeto Siman-

tem sido bastante positiva”, diz Daniel Fernandes, Res-

dou – General Road Works Area 3, sob responsabilidade

ponsável por Construção do projeto.

da Odebrecht África, Emirados e Portugal. A iniciativa é

O ponto de partida para o Petit e Puissant foi a neces-

apenas um exemplo de como a presença da Organização

sidade de dar um fim seguro para o óleo de cozinha, um

na Guiné e seus diversos programas sociais estão contri-

resíduo que pode ser muito prejudicial ao meio ambiente

buindo para o desenvolvimento da população local. A im-

se não for descartado corretamente. Agora, a ideia é ex-

plantação do programa de inclusão digital Réseau-lution,

pandir a abrangência para parcerias na área de produção

adaptado do Caia na Rede, ações de conscientização na

agrícola, uma vez que há demanda de alimentos na re-

área de saúde e uma campanha de voluntariado, parte do

gião, mas boa parte do que se consome não é produzido

programa Partagez, também fazem a diferença para me-

localmente.

lhorar a qualidade de vida de comunidades da zona rural guineense.

“Tentamos sempre engajar a população nas ações sociais para que ela cresça com isso, entendendo o motivo

O Petit et Puissant tem como objetivo não apenas

dessas ações existirem. Qualquer empresa pode fazer

transferir conhecimento, mas também contribuir para

doações, mas nós queremos ensinar, porque isso gera

aumentar a eficiência dos negócios e, consequentemen-

consequências que se sustentam e perpetuam”, explica

te, a renda da população nos arredores das obras do

Lauren Pereira, coordenadora de Relações Institucionais

Projeto General Road Works Area 3, que compreende a

e Comunitárias.

construção e reforma de mais de 300 km de rodovias e a preparação de terrenos para futura instalação de acam-

Inclusão digital

pamentos remotos, tornando viável a realização de um

Esse mesmo princípio levou a Odebrecht a pensar es-

projeto da cliente Rio Tinto. A mineradora australiana

tratégias que aumentassem a eficácia do programa Ré-

chegou à Guiné para explorar a Cordilheira de Simandou,

seau-lution, considerando o baixo acesso dos guineenses

uma das maiores reservas de minério de ferro conheci-

à eletricidade e a computadores. Segundo Lauren Perei-

das, e implantar a infraestrutura da mina, uma ferrovia

ra, o objetivo da ação era a inclusão digital da parcela mais

que atravessa o país e um porto para exportar o produto.

pobre da população de Kissidougou, região rural bastante afastada da capital, mesmo antes de a maioria do país ter

A confiança da comunidade

48

acesso a esse tipo de tecnologia.

“As ações sociais começaram logo que chegamos, por

Identificado pela empresa, o professor local Michel

meio do contato com as autoridades locais, sempre em

Bamy há poucos meses ingressou na Organização com a

alinhamento com o cliente. Aos poucos, fomos ganhando

missão de ministrar os dois cursos do programa Caia na

a confiança da comunidade ao nosso redor, e a resposta

Rede na Guiné: o módulo básico e o avançado, que, juntos,

informa


Saúde e voluntariado A atuação na área de saúde também foca o compartilhamento do aprendizado e a conscientização. De acordo com Geraldo Bruno, enfermeiro do Projeto General Road Works Área 3 e responsável pelas ações, as iniciativas são realizadas, principalmente, entre os integrantes locais, que não têm muita informação sobre as principais Lauren Pereira com participantes do Caia na Rede: inclusão digital como instrumento para a derrubada de barreiras

doenças que afetam a área de Kissidougou, como malária, cólera e febre tifoide. Por isso, a Odebrecht organizou palestras para a população da região e, para combater a proliferação da malária, distribuiu mosqueteiros. O desafio é saber até onde essas ações podem ir sem desrespeitar as diferenças culturais. “Tentamos questionar alguns costumes internalizados que podem ser prejudiciais à saúde. Estamos aqui para formar pessoas e nos formar, sem querer transformar as peculiaridades que fazem cada povo especial”, ressalta Geraldo. Esse exercício de influenciar e ser influenciado é o mais praticado durante o programa Partagez, que incentiva o voluntariado entre os integrantes. Expatriados e locais mobilizados pela Odebrecht em Kissidougou são convidados, quinzenalmente, a passar um dia no orfanato da região, o La Joie des Orphelins. A instituição é mantida desde 1983 pela diretora Marie Simone Camara e tem atualmente 45 crianças. Nas datas de visita, os integrantes costumam levar mosqueteiros, colchões e

O patriarca Ibrahima Dialloo, ao lado de David Bimou, da equipe de Pessoas da Odebrecht e tradutor: a família em primeiro lugar

alimentos e realizar palestras informativas sobre higiene pessoal, segurança alimentar e saúde. Essas conversas antes das brincadeiras com as crianças, segundo

atendem cerca de 40 alunos. Como as aulas ainda estão

Lauren Pereira, desenvolvem o relacionamento dos vo-

no começo, o número deve aumentar, ainda que estejam

luntários com os órfãos e fortalecem a relação com a

abertas apenas a integrantes.

comunidade local.

Michel afirma que o aspecto mais importante do pro-

Na vila de Tamiandou, a mais próxima da sede do

grama é fazer com que os computadores deixem de ser

Projeto General Road Works Area 3, o patriarca Ibrahima

objetos estranhos aos participantes, que poderão com-

Dialloo, líder de maior autoridade entre os moradores,

partilhar o que aprenderem em casa. “O computador e

concorda com a ideia de que a relação com a comuni-

a tecnologia são a base para o desenvolvimento. Quando

dade, pautada também pelas ações sociais, tem gerado

uma pessoa aprende sobre isso, uma barreira contra seu

bons frutos para os dois lados. “A coisa mais fundamen-

crescimento cai”, ele defende.

tal na vida são os seres vivos. Se você sabe cuidar de

O compartilhamento do aprendizado entre os próprios

sua família, sua vida vai para frente. E, desde que a Ode-

locais é um ponto incentivado pela Odebrecht para que as

brecht chegou, ela soube cuidar das nossas famílias e

ações sociais implantadas tenham um efeito ainda maior

ajudar a superarmos nossos desafios.” Sentado ao seu

de propagação. Como Kissidougou é, a exemplo do resto

lado, o chefe político do vilarejo, Fodé Traoré, concorda

do país, uma cidade com muitas carências de infraestru-

acenando com a cabeça, até o mais velho terminar a

tura e serviços, é importante que os participantes diretos

fala. Então, conclui: “Quando a população aprende a an-

dos programas multipliquem seu conhecimento dentro

dar com as próprias pernas, ela pode buscar o próprio

da comunidade.

desenvolvimento”.

informa

49


garra

Kamilla Alves (à direita) e colegas da turma de futebol feminino: jovens em situação mais segura

um time com muita

No Valongo, em Santos, o futebol é instrumento de inclusão social texto Alice Galeffi fotos Yann Vadaru

E 50

m Santos, no litoral de São Paulo, crian-

uniforme. O projeto, que ainda não tem um nome, foi

ças e jovens em situação de risco social

iniciado oficialmente em 5 de novembro de 2012 e já

encontraram a oportunidade que tanto

conta com 60 inscritos. Mesmo com tão pouco tempo,

esperavam. Eles participam de um pro-

seus efeitos já repercutem fortemente.

jeto da Odebrecht Realizações Imobili-

50

árias (OR), no Valongo, uma região formada pelos

O parceiro ideal

morros da cidade. Essa iniciativa está resgatando a

Apesar do crescimento econômico da cidade,

autoestima dos moradores e criando condições de

que se deve, entre outros fatores, ao descobrimen-

inclusão social.

to de petróleo na camada pré-sal em sua costa, os

Na terra do Rei Pelé e do garoto craque Neymar, o

morros de Santos registram conflitos entre trafi-

tema do projeto é futebol. Com a ajuda da comunida-

cantes, execuções sumárias, invasão policial, as-

de, a OR desenvolveu um programa no qual crianças e

sassinatos de jovens. Tudo isso tem feito parte da

jovens de 12 a 17 anos participam de aulas dessa mo-

rotina dessa região pobre da cidade, onde existem

dalidade esportiva. Eles recebem lanche e ganham

19 favelas.

informa


Aryane de Sousa: “Agora tenho técnico e conheci outras meninas”

Saionara Lawandovski Porto, coordenadora de

Longe das drogas e da marginalidade

Programas Sociais da OR em Santos, percebeu a

As aulas de futebol acontecem às segundas e quar-

situação crítica dessas comunidades, a falta de re-

tas-feiras, no turno vespertino. De 13h30 às 15h30, os

cursos básicos, a carência de lazer e o alto índice de

meninos jogam, e de 15h30 às 16h30 é a vez das me-

criminalidade e prostituição entre os jovens. Sabia

ninas. Elas ficam com o horário mais tardio porque a

que deveria agir, mas, antes, precisava encontrar

maioria tem que voltar para casa depois da escola e

parceiros.

ajudar a mãe nas tarefas domésticas. Só depois são li-

Foi então que conheceu Cosme Costa, assistente

beradas para treinar.

social e morador do morro de Vila Vitória, e conven-

Aryane de Sousa, 14 anos, moradora do Vila Vitória,

ceu-se de imediato que ele seria seu parceiro ideal.

destaca-se entre as jogadoras. Sonha ser a nova Mar-

Cosme conhece todos na comunidade do Valongo.

ta. “Sempre joguei futebol, mas só com meninos e na

Sem ele, Saionara não poderia subir os morros. É

rua. Agora tenho técnico e conheci outras meninas que

preciso ser uma “local” para circular livremente por

também jogam. Meu sonho é jogar na seleção.” Kamilla

lá. Saionara insistiu muito para que se reunissem.

Alves, 13 anos, jogava futebol na rua, escondida do pai,

Cosme identificou-se com a perseverança dela. A

que via o esporte como “coisa de menino”. Ficou saben-

princípio ele achou estranho, mas, “como precon-

do da oportunidade por intermédio de Cosme, e os pais

ceito é uma palavra que não existe no meu vocabu-

acabaram aceitando a ideia de ela participar do projeto.

lário, resolvi ver o que ela tinha para dizer”.

A mãe, Rosângela, é sua maior incentivadora: “Eu me

Conversaram muito, pesquisaram e chegaram à

alegro muito ao vê-la aprendendo e jogando melhor que

conclusão de que a melhor opção para atrair jovens

os meninos. Vejo um futuro para ela aí. Mas não é só

e tirá-los da rua seria o futebol. E assim o proje-

isso, me alegro em ver o empenho dela, correndo atrás

to nasceu. Cosme aceitou fazer a ponte entre a OR

de seu sonho, e não nas ruas, como os outros jovens, se

e as comunidades, enquanto Saionara cuidaria do

drogando e entrando para a marginalidade”.

planejamento e de todo o apoio necessário à ini-

Itamar Leal, técnico social que acompanha os jovens

ciativa. “Nunca imaginei que alguém da Odebrecht

durante o treino, diz que o objetivo maior não é trans-

fosse me procurar para desenvolver um projeto so-

formá-los em jogadores de futebol, mas sim protegê-

cial. Há muitas grandes empresas instaladas aqui,

-los. “Procuramos promover desenvolvimento integral,

e isso nunca aconteceu antes”, diz ele.

abordamos temas como corpo, saúde, sexualidade, ci-

Além de Cosme, outros parceiros foram integra-

dadania e direitos da juventude.” Saionara revela seus

dos ao projeto, como a Ordem dos Advogados do

próximos planos: “Quero adicionar outros esportes e

Brasil (OAB), que cedeu sua quadra para os jovens

trazer artes para o currículo”. Ela está à procura de no-

jogarem, e a Secretaria da Juventude, órgão da Pre-

vos parceiros. “Meu sonho é que o projeto perdure e ca-

feitura, que patrocina a contratação do professor de

minhe por conta própria depois que a OR concluir seus

Educação Física responsável pelas atividades.

trabalhos em Santos.”

informa

51


Integrantes da Companhia de Dança Acauã, em Olinda, com a pequena Karine Tamires ao centro: “Minha fantasia ficou linda”

do canteiro para a texto Luiz Carlos Ramos fotos Lia Lubambo

O

folia

tradicional Carnaval de Olinda, marca-

no Complexo Industrial Portuário de Suape. As obras

do pelo frevo e pelos enormes bonecos

da refinaria, das unidades de petroquímica e do mo-

que invadem as ruas ao lado dos foli-

derno porto somam mais de 50 mil trabalhadores.

ões, terá nova atração em 2013: a reci-

Karine Tamires, 9 anos, exibiu no ensaio de Olin-

clagem. Roupas utilizadas por milhares

da o modelo de fantasia então mantido em segredo

de operários do Conest, consórcio formado pela Ode-

para o Carnaval: em laranja e azul-marinho, cores

brecht Engenharia Industrial e pela OAS, nas obras de

do Conest, e também em dourado e prateado, sua

Suape, foram recicladas e transformadas em fanta-

roupa de bailarina é completada pela sombrinha

sias de um alegre grupo de crianças e jovens de Per-

colorida do frevo. “Minha fantasia ficou linda. Adoro

nambuco. Odebrecht Informa acompanhou os ensaios

dançar”, diz Karine, ao lado das companheiras Ma-

nessa cidade histórica, na região de Recife, e regis-

riana, Kécia, Bruna, Heloísa, Carla e Poli, que depois

trou o entusiasmo da Companhia de Dança Acauã,

receberiam suas fantasias. Poli é o apelido de Thay-

que recebe apoio do Conest por meio do Programa

sa Ramos da Silva, 9 anos, criança adotada por Maria

Reciclando.

José Xavier, que a acompanha nos ensaios. “Adotei a

O consórcio é integrado por 10 mil pessoas, que participam da construção da Refinaria Abreu e Lima,

52

Uniformes reciclados viram fantasias no carnaval de Olinda

informa

52

menina quando ela, bem pequena, morava no lixão”, conta.


A força das cooperativas Esse projeto não seria realidade sem a participação de duas cooperativas de costureiras: a Coopcoste, de Cabo de Santo Agostinho, que produziu as roupas do desfile Reciclando Fashion, e a Emenda, de Ipojuca, que cuida das fantasias de Carnaval. Djair Miralhe, Presidente da Coopcoste, conta que as 130 costureiras que se revezam nas máquinas da sede ganharam novo ânimo com o Conest: “Esse trabalho tem finalidade social para elas, que recebem mais dinheiro, e também para quem usa as roupas”. Risolene Gonçalves da Silva, Presidente da Emenda, diz que, com as encomendas para o Carnaval, foi possível comprar máquinas novas: “Agora, as fantasias são prioridade”. Dulcelina Domingas da Silva, 78 anos, controla a qualidade das peças. “Trabalhar assim é uma delícia e não sinto a idade”, afirma. O estilista Diego Rodrigo Monteiro, o DihRôh, 22 anos, cooperado da Coopcoste, revelação da moda pernambucana, desenhou as roupas do desfile de setembro. “Sou autodidata, idealizo moda desde os 10 anos. Eu me inspiro nos grandes Marc Jacobs, ReiVerônica Gomes dos Santos, a Vera do Frevo, coor-

naldo Lourenço e Zuzu Angel, mas com toque regio-

dena o Acauã, grupo criado há 10 anos para reunir e

nal”, explica DihRôh, que, assim como as costureiras

motivar crianças e jovens carentes por meio da dança.

e o grupo Acauã, não vê limites: “Já entrei em um cur-

“A música e a dança ajudam a superar problemas”,

so de design. Preciso continuar evoluindo”.

diz Vera. “Poli é um exemplo, menina ativa e saudável”. Acauã, ave da família do gavião, tornou-se sinônimo de inclusão social em Olinda. Waldir Martins Filho, coordenador de Sustentabilidade e do Programa Reciclando do Conest, segue cada detalhe dos planos para o Carnaval. Ele relata que o programa envolve a produção de vários artigos a partir de uniformes descartados pelos trabalhadores. “Eles recebem novas roupas a cada quatro meses. As roupas velhas não são jogadas no lixo, mas sim lavadas e higienizadas, e seus tecidos são reaproveitados”, diz Waldir. Na Vila Residencial do Consórcio ocorreu em setembro um desfile de moda, o Reciclando Fashion, com membros da Acauã usando as novas roupas diante dos integrantes da obra que moram lá. A TV Globo fez uma longa reportagem. O Diretor de Contrato do Conest, Antenor de Castro, está orgulhoso por causa dos resultados. “Tudo vem acontecendo gradualmente. O programa movimenta a comunidade, beneficia o meio ambiente, traz economia e agrega cultura em torno do frevo”, destaca.

O estilista Diego Rodrigo: inspiração nos grandes nomes da moda, sem perder os traços regionais

informa

53


Da escola para o canteiro: por meio de visitas guiadas, jovens aprofundam seus conhecimentos sobre a ferrovia Transnordestina e sua importância para a região e para o país

conversa de bons

vizinhos Lá vem o Trem e Ferrovia na Comunidade: a população mais perto da Transnordestina

L 54

texto Luiz Carlos Ramos fotos Ricardo Sagebin á vem o trem. A notícia espalha-se por

Martins, no sul do Piauí. A ferrovia é uma das prio-

três estados e amplia a expectativa pela

ridades do Programa de Aceleração do Crescimento

chegada das locomotivas. As obras da

(PAC) do Governo Federal. O trem está perto de ser

Ferrovia Transnordestina avançam em

uma realidade para transportar minérios, gesso e

Pernambuco, no Piauí e no Ceará. O que

grãos e para impulsionar a economia na região, onde

uma ferrovia traz de bom para o árido sertão do Nor-

também ocorrem a transposição do Rio São Francis-

deste? Acima de tudo, esperança. Essa certeza da

co e outras obras.

população é reforçada pela contribuição das ações

Odebrecht Informa visitou as obras da Transnor-

sociais realizadas pela Aliança entre a Transnordesti-

destina, em Salgueiro, e acompanhou duas ações

na Logística S.A. (TLSA) e a Odebrecht Infraestrutura

de valorização da cidadania que são promovidas nas

em várias regiões, entre as quais a de Salgueiro (PE).

comunidades ao longo do traçado da ferrovia: os

Ali, a Aliança mantém um dos seus canteiros da obra

projetos Lá vem o Trem e Ferrovia na Comunidade.

e a maior fábrica de dormentes do mundo.

Iniciadas em 2012, essas iniciativas já beneficiaram

54

Os trilhos avançam rapidamente. Com os inves-

diretamente mais de 10 mil pessoas em 10 municí-

timentos, as locomotivas farão o percurso entre o

pios. “Além de mostrar as obras, por meio de visitas

Porto de Suape, na região metropolitana de Recife,

guiadas, organizamos palestras sobre saúde, direitos

e o Porto de Pecém, no Ceará, passando por Eliseu

das crianças, prevenção contra o uso de drogas, en-

informa


tre vários outros temas, e incentivamos a prática de

transporte é importante”, comentou. Para a profes-

esportes”, explica o Gerente Administrativo e Finan-

sora Maria do Socorro Pereira de Queiroz, os alunos

ceiro, Alexandre Lima. A assistente social Kelly Bar-

voltariam para a escola com novos conhecimentos:

ros, uma das responsáveis pelos projetos, salienta:

“Nada como ir ao próprio local onde o trabalho é feito,

“Nesse trabalho, tem sido fundamental a união e a

receber explicações e aprofundar conhecimento”.

sinergia entre os integrantes da Aliança e prefeituras e entidades locais, que cedem instalações para a

Ferrovia na Comunidade

realização das ações e ajudam a convidar as pessoas.

A persistência na luta contra a seca faz parte da história da população adulta e da faixa de idosos

Lá vem o Trem

do sertão. Esses heróis da resistência são benefi-

Lá vem o Trem é o nome do projeto de visitação

ciados pelo projeto Ferrovia na Comunidade, que

ao canteiro de obras. A iniciativa reúne integrantes

consiste em oficinas multidisciplinares em parceria

da Aliança que atuam em outros lotes, autoridades,

com prefeituras, ONGs e associações de moradores

instituições públicas e ONGs, além de crianças e jo-

das áreas urbanas e rurais. Esse projeto, iniciado

vens das escolas da região de Salgueiro. “Por meio

há 10 meses, focaliza não apenas a construção da

Nada como ir ao próprio local onde o trabalho é feito, receber explicações e aprofundar conhecimento Orientação para uma vida saudável: o médico Ediflávio Gomes, da Odebrecht, atende idosos de comunidade do entorno das obras

Maria do Socorro Pereira de Queiroz

de palestras e campanhas, são explicados aos visi-

Transnordestina como também a cidadania e os

tantes os benefícios da Transnordestina e os cui-

cuidados com a saúde.

dados com o meio ambiente e a qualidade de vida”,

“Os encontros são conduzidos por nossos inte-

descreve o Diretor de Contrato, Pedro Leão. Nas

grantes que tenham suas áreas de atuação relacio-

visitas que fazem ao canteiro, eles têm acesso ao

nadas diretamente com o tema do mês. Com isso,

trabalho dos integrantes da Aliança Transnordes-

mobilizamos profissionais de engenharia, saúde, se-

tina Logística S.A. e da Odebrecht Infraestrutura,

gurança, meio ambiente, finanças, entre outros”, diz

desde a preparação do leito da ferrovia até a área do

Pedro Leão.

canteiro industrial, onde se situa a fábrica de dor-

Em uma das edições, em novembro, em Salgueiro,

mentes, que tem capacidade para produzir 4.800

o médico da Aliança, Ediflávio Gomes, falou para um

dormentes de concreto por dia.

público de mais de 60 idosos, de três cidades, explican-

Em uma manhã de novembro, 28 estudantes, de

do como evitar hipertensão, AVC, enfarte e quedas. “O

13 a 17 anos, da Escola Dr. Walmy Campos Bezerra,

importante é ficar atento e controlar o sal, o açúcar, a

da cidade de São José do Belmonte, estiveram nas

gordura”, disse. Atenta a essas regras, Iraci Alves, 81

obras de Salgueiro. Anderlândia Soares de Lima, 16

anos, sorriu. “Tive crises de pressão alta, mas agora es-

anos, interessou-se pelos detalhes. “Nunca andei

tou bem. Com 79 anos, terminei o curso de pedagogia”,

de trem e agora fiquei sabendo como esse tipo de

contou. “Quero ver o trem chegar por aqui.”

informa

55


56 caminhos

iluminados Programa de alfabetização abre novas perspectivas de crescimento para integrantes das obras do Trensurb

O 56

texto Alexandre Melo fotos Ricardo Chaves

simples ato de tomar um ônibus

dos seus braços poderia oferecer. Por isso, antes

mostrava-se uma enorme dificuldade

de completar 8 anos ele já estava longe da escola.

para Francisco de Souza Alves. Sem

Foi somente em 2010, aos 23 anos, quando passou

saber ler nem escrever, ele pedia aju-

a trabalhar nas obras de extensão da Linha 1 Nor-

da às pessoas para identificar o cole-

te do Trensurb, trem de passageiros que liga Porto

tivo. Filho de agricultor analfabeto, Francisco, em

Alegre a cidades da região metropolitana, realiza-

seu trabalho na roça de São Miguel do Tapuio, no

das pelo Consórcio Nova Via, que ele viu surgir à

Sertão do Piauí, nunca precisou de mais que a força

sua frente a grande oportunidade.

informa


Francisco de Souza Alves (à esquerda) e Claudino Guareski: de volta à sala de aula para escrever novas histórias de vida

Desde a formação do consórcio, liderado pela Ode-

ção no consórcio, Tássia Hoffmann. De 2010 a 2012, 34

brecht Infraestrutura, em 2009, foram diversas as

trabalhadores, divididos em duas turmas, participaram

contribuições oferecidas para o desenvolvimento sus-

do EJA, e 10 deles conseguiram se alfabetizar, entre

tentável das comunidades que vivem no entorno da

eles, Francisco, o mais jovem do grupo. As aulas eram

obra. “A convivência com um projeto desse porte nem

ministradas três vezes por semana, após o expedien-

sempre é fácil. Para nós, além de realizar uma obra

te, em uma sala do canteiro central. “Não saber ler e

com qualidade, mostrou-se necessário buscarmos

escrever é como andar no escuro”, sintetiza Francisco.

proporcionar uma contribuição adicional, voltada para

Silvia Helena da Silva Gallino, analista técnica de

a melhoria da qualidade de vida das pessoas, já que

Educação do Sesi, afirma: “O Consórcio Nova Via teve

interferimos diretamente nas comunidades”, explica o

a sensibilidade de perceber que a qualificação esco-

Gerente Administrativo e Financeiro da Odebrecht In-

lar é boa para a empresa, mas muito melhor para a

fraestrutura na obra, Pedro Reis.

vida das pessoas”. O nível de escolaridade na região

Aqui recomeça a história de Francisco. O consórcio

do Vale do Rio dos Sinos, onde estão localizadas Novo

firmou parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi)

Hamburgo e São Leopoldo, cidades beneficiadas com

para a implantação do Programa EJA (Educação de

a extensão do Trensurb, é baixo porque, segundo Sil-

Jovens e Adultos). Uma nova oportunidade para quem

via, o setor coureiro-calçadista, predominante na re-

não teve acesso à escola ou não concluiu os estudos

gião, de uma forma geral não exige qualificação. Essa

básicos. “Foi feito um levantamento entre os trabalha-

realidade historicamente vivida pelos municípios vem

dores, e verificamos que muitos estavam interessados

mudando, com a contribuição de parcerias como essa

em se alfabetizar”, conta a Responsável por Comunica-

firmada com o Consórcio Nova Via.

informa

57


Estação do Trensurb, próxima à Vila dos Tocos: combate à dependência química e à vulnerabilidade social

Aos 63 anos, Claudino João Guareski, carpinteiro

seus problemas.” Os trabalhadores de outros estados

no canteiro central do Consórcio, está de volta à sala

que deixaram para trás suas famílias sofrem com a

de aula. Formado no EJA (1º ao 5º ano), ele matricu-

solidão. “Às vezes lhes falta estrutura emocional para

lou-se em uma escola particular, onde cursa do 6º ao

suportar a distância”, diz Anildo Fernandes, integrante

9º ano. Nascido na roça, em Cruz Alta (RS), Claudino

do Grupo Executivo Nacional e Vice-coordenador Re-

abandonou os estudos na 4ª série, por imposição do

gional do CVV.

pai. “Com o estudo, a gente passa a ver o mundo de

Um dos trechos da extensão da Linha 1 do Trensurb

outra maneira e fica mais orgulhoso de si mesmo”,

(entre as estações São Leopoldo e Rio dos Sinos), no

afirma com simplicidade. Faltando um ano para a

município de São Leopoldo, passa pela Vila dos Tocos,

aposentadoria, Claudino decidiu: “Só paro de trabalhar

uma área de vulnerabilidade social. Por isso, álcool e

quando estiver com uma carreira definida, pois quero

drogas sempre foram temas frequentes na Semana

mostrar que nunca é tarde para aprender”.

Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho e na Semana Mundial de Combate às Drogas. O parcei-

58

Valorização da vida

ro nessa ação foi a Comunidade Terapêutica Desafio

A alfabetização, contudo, é apenas uma das várias

Resgate Jovem, instituída em Novo Hamburgo, em

frentes de contribuição social em que o Nova Via está

2007, nos mesmos moldes da norte-americana Teen

presente. Em Novo Hamburgo, funciona um dos sete

Challenge. O objetivo é ajudar jovens dependentes de

postos de atendimento do CVV (Centro de Valorização

drogas, orientando-os na sua recuperação e reinser-

da Vida e Prevenção de Suicídio) do Rio Grande do Sul.

ção social. “Uma pesquisa feita pelo Senad [Serviço

A ONG conta com 43 voluntários, que se revezam no

Nacional Anti-Drogas] revela que um trabalhador de-

atendimento 24 horas e nos 365 dias do ano. E foi du-

pendente químico afeta 5% da produção”, diz o psicó-

rante a Semana Mundial de Combate às Drogas, em

logo e coordenador da Comunidade Terapêutica, Odir

junho deste ano, que os trabalhadores do Consórcio

Olivaes Filho. Com um tema tão delicado, a sensibi-

Nova Via conheceram o CVV. Em torno de mil trabalha-

lização ocorreu por meio de uma peça teatral ence-

dores assistiram a quatro palestras no canteiro central

nada por ex-dependentes químicos no canteiro central

e nas frentes de serviço.

e nos demais canteiros da obra. “A ação fez circular

“Percebi um grande interesse das pessoas”, conta

informações e orientações fundamentais, transfor-

Nicolau Isaque de Araújo, que desde 2009 é voluntário

mando muitos integrantes em multiplicadores dessas

do CVV. “Após as palestras, muitos vieram falar sobre

informações”, comemora Tássia Hoffmann.

informa


na esteira da Apoio da Braskem a iniciativas de reciclagem contribui para a geração de trabalho e renda em quatro estados

O

texto Edilson Lima fotos Ricardo Chaves

ex-trabalhador rural, Geraldo Simme, 47

de materiais, nossos conhecimentos sobre cooperativa

anos, mora em Campo Bom (RS). Todos

e reciclagem eram poucos, vendíamos os plásticos, por

os dias, ele acorda cedo, toma seu café da

exemplo, tudo misturado, o que barateava os preços.

manhã, entra em sua Volkswagen Space-

Muitos abandonaram o trabalho”, relembra Geraldo.

fox e segue para o trabalho na cooperati-

A situação começou a mudar quando parceiros

va Coolabore, onde passa o dia com os amigos e, como

ajudaram os cooperados a estruturar o negócio e

ele mesmo diz, sorrindo, “ganha o pão de cada dia”.

torná-lo mais rentável. Foi quando a Braskem entrou

Esse sorriso não vem do acaso. Desde sua fundação,

em cena. “Com base em estudos e com a experiência

há 18 anos, somente nos últimos anos é que a coope-

da empresa relacionada à cadeia produtiva do plástico,

rativa passou por uma estruturação que tem possibili-

decidimos que daríamos apoio tecnológico e capaci-

tado bons rendimentos aos 37 cooperados.

tação aos catadores. Hoje são nove unidades no Vale

No início, os ganhos financeiros eram baixos, e a ro-

dos Sinos [onde se localiza Campo Bom] apoiadas pela

tatividade de pessoas era alta. “Não tínhamos equipa-

Braskem”, observa João Freire, Responsável por Rela-

mentos suficientes para selecionar um volume grande

ções Institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul.

Catadores da cooperativa Coolabore: resultados significativos na produção e na qualidade vida

59 informa

59


primeira do estado a realizar o processo de beneficiamento do plástico, mas com tecnologia mais simples e hoje já limitada. Enquanto dava entrevista à equipe de

Odebrecht Informa, ele apontava para os novos equipamentos recém-chegados que formarão uma nova linha de produção. “Com isso, ganharemos mais tempo e maior capacidade de produção, além de agregar valor aos materiais”, ele prevê. Roberto destaca que os treinamentos sobre cooperativismo, segurança do trabalho, manutenção de equipamentos, logística, entre outros, têm feito a diferença nas condições de trabalho e o aumento dos rendimentos. “Aqui não tem patrão, somos todos donos do negócio e trabalhamos juntos. Isso dá orgulho, gera autoestima e reconhecimento.” É com orgulho e autoestima que Gabriel da Cunha Garcia, 62 anos, ex-pintor e ex-catador de lixo nas ruas de Nova Santa Rita, conta a história da Associação dos Geraldo Simme: “Muitos chegaram aqui sem nada. Aos poucos, estão comprando casa e carro, e conquistando outros objetivos”

Trabalhadores e Prestadores de Serviços, Catadores e Reciclagem, fundada em 2005, por ele e outros colegas: “Andava nas ruas com uma carroça e catava os resíduos. Muitos começaram a me acompanhar. Então percebi que era o momento de nos organizarmos”, explica. Localizada no bairro Caju, hoje trabalham

Com a capacitação, Geraldo e seus colegas passaram a ver a reciclagem de forma diferente. Cada tipo

Gabriel e seus colegas chegaram a morar e traba-

de plástico, dos mais rígidos aos mais flexíveis, é se-

lhar em um barraco improvisado. Em janeiro de 2012,

parado. Depois, são inseridos na linha de produção,

com o apoio da Braskem, foram construídos dois gal-

recém-adquirida (composta de moinho, tanque de lava-

pões, que possuem banheiros e refeitório. Eles também

gem, secadora, aglutinadora e gaiola), onde o plástico é

conquistaram equipamentos, como balança, prensa,

moído, lavado, secado e, em seguida, ensacado, fican-

entre outros. “Nosso próximo objetivo é instalar o moi-

do, então, em condições de ser vendido a indústrias.

nho para o beneficiamento de plástico, aumentando,

Em parceria com o poder público, os cooperados,

60

11 associados.

com isso, os rendimentos”, ele almeja.

além de realizarem a triagem, prestam serviço de cole-

Outro desejo do grupo é firmar parcerias com a Pre-

ta nas ruas com os caminhões da prefeitura. Somando

feitura, para prestar serviço de coleta, e outras insti-

a prestação de serviço à venda dos materiais reciclados,

tuições: “Nosso sonho é ver cada um com seu plano

o salário médio de cada cooperado é de R$ 1.600,00.

de saúde, sua casa, seu carro etc.”, comenta. “Entrei

É com emoção que Geraldo recorda: “No começo, era

na reciclagem por necessidade, mas a cada dia fui me

difícil alcançar R$ 100,00 por pessoa. Muitos chegaram

apaixonando. Adquirimos conhecimentos técnicos e

aqui sem nada. Aos poucos, estão comprando casa e

damos palestras na região. Sei que estamos ajudando

carro, e atingindo outros objetivos”.

a preparar um mundo melhor para todos”, ele reflete.

Orgulho, autoestima e reconhecimento

Trabalho em parceria

Em outro município do Vale dos Sinos, Roberto

Além do Rio Grande do Sul, a Braskem apoia

Silveira, 36 anos, e mais 32 pessoas integram a Co-

projetos de reciclagem em São Paulo, em Alagoas

operativa de Recicladores da Cidade de Dois Irmãos.

e na Bahia. Embora estejam em um estágio não tão

Roberto diz que a cooperativa, criada há 18 anos, foi a

avançado quanto no Rio Grande do Sul (em alguns

informa


Catadores da cooperativa de Dois Irmãos: orgulho e reconhecimento

casos, a fase ainda é embrionária), essas iniciativas

garrafa PET. De janeiro a novembro de 2012, os núme-

começam a proporcionar resultados cada vez mais

ros registraram uma venda de cerca de 1.300 vassou-

significativos. São seis cooperativas no total, nos

ras. Por mês, os 15 cooperados estão vendendo 45 t de

três estados.

materiais reciclados.

A Coopmarc, cooperativa localizada em Cama-

“Ainda não atingimos a meta de dois salários míni-

çari (BA), é um bom exemplo. Fundada há 12 anos, a

mos para cada pessoa, mas queremos chegar a essa

cooperativa sempre esteve focada na seleção e ven-

marca logo”, diz Glória Martha da Silva, 43 anos. Ela foi

da de plástico, papelão e papel. A partir de 2008, foi

uma das fundadoras da Coopemarc e, antes de traba-

instalada uma fábrica de vassouras feitas a partir de

lhar com reciclagem, atuava como gari em Camaçari. “O apoio dos parceiros tem sido importante para nossa melhoria de vida, principalmente as capacitações e equipamentos.” Emmanuel Lacerda, Responsável por Relações Institucionais da Braskem na Bahia, reforça a importância da parceria entre o poder público e a iniciativa privada para o sucesso de projetos assim: “O trabalho dos cooperados é de extrema relevância para disseminar a cultura da reciclagem. Para que tudo dê certo, empre-

Gabriel da Cunha Garcia: aquisição de conhecimentos técnicos

sas e prefeituras devem apoiá-los”. André Leal, Responsável pela Área Socioambiental da Braskem, destaca que as origens dos catadores são variadas, mas muitos deles trazem em si características empreendedoras. “Nossa contribuição é melhorar os ambientes de trabalho e reforçar neles a autonomia e o espírito empreendedor, incluindo-os socialmente na cadeia produtiva”, salienta. Em 2012, 429 catadores foram diretamente beneficiados pela atuação da Braskem.

informa

61


Comunidade

Programa família Em Rondônia, uma comprovação da eficácia do Acreditar como canal de comunicação e aproximação entre a empresa e a comunidade texto João Paulo Carvalho foto Márcio Lima

E

divone Araújo da Gama, 33 anos, é uma das 1.209 mulheres que atuam na construção da Usina Hidrelétri-

ca Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho. Natural de Manicoré (AM), migrou há seis anos para a capital de Rondônia em busca de melhores oportunidades de trabalho, decidida a proporcionar mais qualidade de vida aos três filhos, à mãe e um irmão. Ex-vendedora de cosméticos, Edivone cadastrou-se no Programa de Qualificação Profissional Continuada – Acreditar e, há quatro anos e meio, trocou os lápis coloridos, sombras e glitters por serrotes, pincéis e equipamentos de proteção individual (EPIs). “Não tinha a menor esperança de ser chamada para esse trabalho. Eu me inscrevi no Acreditar, fiz o curso e hoje estou aqui, ao lado de outras mulheres que trabalham realizando serviços pesados, dirigindo caminhões, tratores e retroescavadeiras”, diz, com um sorriso no rosto. Edivone confiou tanto no programa que resolveu inscrever os filhos no Acreditar Jr., iniciativa derivada do Acreditar, ambos criados e aplicados nos empreendimentos da Odebrecht Energia. Eduardo, 17 anos, já concluiu o curso, e Lucas, 14, frequenta as salas de aula do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), instituição parceira da Odebrecht em Porto Velho, que cede o espaço físico para as aulas teóricas e práticas do Acreditar Jr. A filha mais nova de Edivone, Letícia, 11 anos, aguarda ansiosa a hora de começar no programa e poder

62

informa


escolher uma das sete especializa-

começou a mudar. Agora meu quarto

de implantação de Santo Antônio.

ções oferecidas.

está ficando do jeito que eu quero”,

Os relatórios iniciais apontavam que

“Espero terminar o curso, ganhar

relata o rapaz, que, com a bolsa que

seria preciso trazer de fora cerca de

meu diploma e ser um bom profissio-

recebe para estudar, ajuda nas des-

70% dos trabalhadores necessários

nal no mercado de trabalho”, afirma

pesas da casa recém-adquirida.

para a execução do projeto, o que

Lucas, que faz o curso de Assistente

A história de Edivone e sua famí-

certamente causaria dificuldades de-

de Produção. “Falei para minha mãe

lia é um dos numerosos exemplos

correntes do fluxo migratório desor-

que, quando a obra da usina acabar,

de aproveitamento da oportunidade

denado. Com a implantação do pro-

vou estudar inglês e japonês para

oferecida pelo Acreditar nos canteiros

grama, esse número foi invertido e,

trabalhar na Odebrecht”, conta com

da Odebrecht no Brasil e no mundo.

hoje, 80% dos trabalhadores da usina

a voz embargada. “Antes eu morava

O programa nasceu em 2008 para

são moradores da região. Os resulta-

em uma casa sem alvenaria. Quando

suprir uma carência de trabalhadores

dos apresentados foram tão benéfi-

minha mãe entrou no Acreditar, tudo

qualificados identificada nos estudos

cos e significativos que, atualmente, quatro anos depois, o que era para ser uma experiência localizada, já se

Edivone da Gama, carpinteira e ex-participante do programa Acreditar, com os filhos, Eduardo, Letícia e Lucas (de vermelho): “Não tinha esperança de ser chamada. Fiz o curso e hoje estou aqui”

espalhou por 10 países, beneficiando mais de 68 mil pessoas. Uma das pessoas responsáveis pelo sucesso do Acreditar é Fabiane Costenaro, coordenadora do programa em Porto Velho. Nascida em Capinzal (SC), ela foi para Rondônia em janeiro de 2008, com a ideia de que seria apenas mais uma pessoa a ajudar no trabalho do Consórcio Santo Antonio Civil (CSAC). Na época, liderada por Antônio Cardilli, recebeu a missão de implantar o Acreditar. “Nunca havia liderado uma equipe, mas aqui aprendemos com o exercício do trabalho”, ressalta Fabiane, hoje liderada por Marcelo Reis, Gerente Administrativo e Financeiro em Santo Antônio. “A transformação social em Porto Velho é visível nos últimos seis anos”, afirma Fabiane. Prédios com mais de 15 andares, até então raros na cidade, surgem na paisagem como marcos do desenvolvimento. O trânsito vai ganhando ares de cidade grande. Os números falam por si: Rondônia é o estado brasileiro que teve o maior crescimento percentual do PIB entre todas as unidades da federação (7,3%), de acordo com os últimos dados consolidados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2009.

informa

63


64

Conceição Jamba (à esquerda) e Maria Chocohonda: passo decisivo para o exercício pleno de seu papel na sociedade

Cada vez mais

cidadãos

Acesso a documentos, apoio à saúde e educação e oportunidades de qualificação profissional: boas novas que vêm dos municípios de Huambo e Cambambe, em Angola

M 64

texto Luciana Lana fotos Kamene Traça

aria Chocohanda, Henrique Jamba,

Filiação e idade também são novidades por lá. Alguns

Joana Kawape, Conceição Jamba.

já têm, além do BI, sua Cédula Pessoal (certidões de

Nomes que agora constam dos re-

nascimento).

gistros do Ministério da Justiça da

“Portar um documento é o primeiro passo para

Província de Huambo, em Angola.

a conquista da cidadania”, diz Vicente Ferreira, Res-

Jovens, adultos e idosos, esses moradores da aldeia de

ponsável por Sustentabilidade da Odebrecht em

Atuco Alunda exibem orgulhosos seus Bilhetes de Iden-

Caala-Huambo, onde a Odebrecht constrói a Rodovia

tidade (BIs). “Posso ir aonde quiser”, festeja Conceição.

Caala-Cuima. Foi da Odebrecht que partiu a iniciativa de

“Vou conseguir um emprego”, almeja Chocohanda.

registro dos moradores das aldeias, segundo revelou o

informa


Delegado Provincial da Justiça de Huambo, Ernesto Estevão, durante a entrega de 100 documentos aos moradores de Atuco Alunda. No total, mais de 4.500 pessoas já receberam o Bilhete de Identidade e Cédula Pessoal. “Nós, da Odebrecht, buscamos contribuir para a melhoria da qualidade vida das pessoas que encontramos no entorno das nossas obras, colaborando assim com o desenvolvimento socioeconômico da região”, comenta Javier Chuman, Diretor de Contrato do projeto Estradas do Huambo e Malanje, do qual faz parte a Rodovia Caala-Cuima. Na sede do Ministério da Saúde de Huambo, Vicente Ferreira caminha pelos corredores cumprimentando as pessoas. Ele é bem conhecido por lá. “A Odebrecht tem sido uma importante parceira nossa”, revela Frederico Juliana, Diretor Provincial da Saúde de Huambo, contando sobre o levantamento feito pela empresa para identificar as principais ocorrências em 16 aldeias da região – HIV/aids, malária, câncer e óbitos em decorrência de partos mal conduzidos, as mais frequentes. “A falta de instrução é o que aparece por trás de todos os casos. Mulheres que já passaram por até seis gestações nunca fizeram uma consulta médica”, informa Vicente. Por causa disso, a Odebrecht iniciou uma série de palestras para induzir a prevenção de doenças e está ajudando na construção de escolas e postos de saúde nas comunidades.

António Kalundongo: à espera da conclusão das obras e do início das aulas

informa

65


Margarida Gaspar: planos de avançar nos estudos

Moradores constroem escola

Além dos projetos Eu sou Cidadão e Saúde na Al-

Em Acolongonjo, a chamada “aldeia-mãe”, no cen-

deia, Vicente Ferreira coordena o Programa Associação

tro de todas as outras, os moradores trabalham diaria-

Quinta-Feira Mulher, que promove encontros quinze-

mente para eguer as paredes de uma nova escola, que

nais para debate e reflexão sobre temas como gravidez

terá 12 salas e área de lazer, em um total de 830 m .

na adolescência, violência doméstica, higiene e meio

“A Odebrecht fez o projeto e fornece o material, mas é

ambiente. Os encontros ocorrem no centro da Associa-

importante que os próprios beneficiados construam a

ção, construído pela Odebrecht, que inclui biblioteca e

escola, para darem valor a ela”, comenta o soba (au-

salas para aulas de música e reforço escolar. A empresa

toridade comunitária tradicional) da aldeia, Marcolino

também reformou e expandiu a creche Suku Ondjli e o

Xindandgi. Lá estudarão mais de 1.500 alunos. Serão

Hospital de Caala, que ganhou um Centro Nutricional

três turnos e, em cada um, 12 turmas de 45 alunos. Em

Suplementar.

2

Caala, professores aprovados em um concurso aguar-

66

dam a conclusão das obras e o início das aulas, previsto

Fique bem

para março de 2013. “Só o turno da noite é que ainda

Nas obras do Aproveitamento Hidrelétrico de Cam-

dependerá da chegada da energia elétrica”, pontua An-

bambe, as ações sociais da Odebrecht também são

tônio Kalundongo, diretor da escola.

diversas e foram reunidas em um mesmo programa

Na aldeia-mãe também foi inaugurado um Centro

chamado Chaleno Kiambote, que significa “fique bem”.

de Saúde, que possui posto de atendimento e farmácia.

O nome revela a intenção primordial de sustentabilida-

“Antes, os doentes tinham que percorrer até 40 km para

de: “Queremos promover um desenvolvimento que se

ir ao médico. Agora, a aldeia mais longe desse posto

sustente mesmo após o fim das obras da hidrelétrica.

está a 9 km. Com mais 10 desses, estaria suprida a de-

Daí o desejo de que a comunidade fique bem agora e

manda das 128 aldeias da comuna de Cuima”, calcula

quando não estivermos mais por aqui”, diz o Diretor do

Faustino Kapingana, administrador das aldeias.

Contrato, Gustavo Belitardo.

informa


Tão logo se instalou na região, a Odebrecht fez um diagnóstico socioeconômico/ambiental e buscou inte-

apresenta grande impacto”, salienta o representante da comunidade de Cambambe, Fernando Neves.

grar-se à comunidade para compreender suas necessi-

Quanto ao incentivo à agricultura familiar, a cerca de

dades. “Ouvimos das pessoas quais eram seus anseios

40 km da Vila de Cambambe, as lavouras de milho e

e potenciais e, a partir disso, desenhamos o programa”,

mandioca da aldeia Kalenge agora são orientadas pe-

relata o assistente social Afonso Maquiadi.

las equipes do Chaleno Kiambote. “Damos apoio para

Saúde, educação e geração de renda foram definidas

que as famílias produzam para consumo e para venda.

como vetores de ação. “Na área de saúde, seleciona-

Nosso próximo passo será oferecer um moinho para

mos e capacitamos agentes comunitários para difundir

que eles possam vender a fuba”, adianta Vanessa Silva,

conhecimentos e aumentar a prevenção de doenças

coordenadora do Programa de Responsabilidade Social

endêmicas, como a malária, e doenças sexualmente

da Odebrecht em Cambambe.

transmissíveis, como a aids. Na educação, oferecemos

O Chaleno Kimbote também contribui para a pre-

aulas de inglês e computação, alfabetização e reforço

servação cultural, conscientizando a comunidade da

escolar, esporte e lazer. Para geração de renda, cria-

importância de seu patrimônio histórico. “As novas ge-

mos oficinas de costura, culinária e agricultura fami-

rações estão conhecendo a história da região de Cam-

liar”, resume o Gerente de Sustentabilidade Socioam-

bambe e valorizando os marcos que temos por aqui”,

biental, Sérgio Rezende.

revela Luiz Rodrigo João, administrador da Comuna de

Na área de equipamentos da obra, a jovem Marga-

Massangano, onde estão o primeiro tribunal de Angola

rida Diogo Gaspar trabalha como soldadora e é benefi-

(construído no século 16), a primeira Câmara Municipal

ciada pelo Programa Igualdade de Gênero Mãos à Obra,

do país, entre outros monumentos.

que visa à criação de postos de trabalho para mulheres. É sua primeira oportunidade de trabalho. “Quero terminar o ensino médio, estudar Direito e trabalhar sempre”, ela diz.

“Uma luz no fim do túnel”

Janete Rossano: mais motivação com a máquina de costura

Segundo Alberto Carneiro, Diretor do projeto da Central 2 de Cambambe pela ENE (Empresa Nacional de Eletricidade), cliente do projeto, a chegada da Odebrecht à região deu nova perspectiva para a população. Ele destaca os programas de capacitação de jovens. Essas iniciativas, afirma Alberto, são “uma luz no fim do túnel”. Atualmente, 28 jovens participam do curso de pastelaria oferecido pelo Chaleno Kiambote, e 15 aprendem corte e costura. “Já estamos fazendo nossas próprias roupas e logo vamos começar a vender”, comenta Janete Rossano, 20 anos, entusiasmada com a máquina de costura. No Clube Recreativo da Vila de Cambambe, a Odebrecht reabriu a piscina e oferece aulas de natação. Também equipou uma sala com computadores e criou os cursos de informática e inglês, com três turmas cada um. “O índice de absenteísmo é zero. Já formamos cerca de 100 alunos, e alguns foram contratados pela Odebrecht”, diz Canga Neto, coordenador dos cursos. “O Chaleno Kimbote é um programa ambicioso, que já

informa

67


prevenção No compasso da

66

Campanha contra a malária faz parte do conjunto de ações desenvolvidas no projeto Vias Estruturantes, em Luanda

Q

68

texto Luciana Lana foto Kamene Traça

ue dança é essa que as pernas ficam

prido e magro requebra como se fosse ele um misto

moles? É uma dança mole, mole,

de mamulengo e dançarino de break. À sua frente,

mole.” Na Escola São João Baptista,

uma turma formada por mais de 30 crianças total-

no bairro do Patriota, em Luanda, o

mente fascinadas canta junto e imita os movimentos

Responsável por Serviço Social e Pes-

do instrutor visitante. Além da dança, elas sabem

soas no projeto Vias Estruturantes, Roque D’Oliveira,

que algumas doenças também deixam o corpo mole

entoa os versos da cantiga enquanto seu corpo com-

e cansado. De forma lúdica, Roque as ensinou sobre

informa

68


os sintomas e causas da malária e também explicou

vemos que aprender a conviver com a obra, alertar

a elas que, às vezes, um caminho mais longo é pre-

as pessoas, por exemplo, a não passarem perto das

ferível, por ser mais seguro. As crianças do Patriota

máquinas”, diz Hinhotua.

agora são mais precavidas. “E nós também”, diz a professora Eugénia Zefe-

Ciclo de Interesse

rino Carlos António, contando que a integração com

Integrar e promover avanços na relação da em-

a Odebrecht – responsável pelas Vias Estruturantes,

presa com as comunidades é tarefa que a equipe

que passam ao lado do bairro – está fazendo com

social do projeto desempenha com prazer e excelên-

que a comunidade compreenda melhor o que é a

cia. Nisso se incluem atividades desenvolvidas com

obra, seus benefícios e as medidas de segurança re-

as famílias dos integrantes. Em 2012, por exemplo,

queridas em suas proximidades.

foi criado o programa Ciclo de Interesse, por meio

No bairro do Kawelele, também vizinho às obras

do qual adolescentes, de 13 a 17 anos, filhos de in-

das Vias, Roque reúne-se com a comissão de mo-

tegrantes da empresa, visitaram o canteiro das Vias

radores e acerta detalhes para uma série de pa-

Estruturantes, assistiram a palestras sobre forma-

lestras que a Odebrecht realizará na comunidade.

ção profissional e completaram o dia com um pas-

Secretário da Comissão de Moradores, Gaudêncio

seio descontraído.

Hinhotua afirma: “As rodovias nos trouxeram muitos

O primeiro desses encontros ocorreu em maio

benefícios. Antes, todos os carros passavam aqui por

de 2012, com cerca de 20 participantes. Depois, em

dentro, era muito engarrafamento e transtorno. Ti-

setembro, outros dois eventos reuniram mais de 70 jovens. “Percebemos que, ao longo do ano, ocorrem pausas no programa escolar e que os alunos ficam desassistidos nesses períodos. Resolvemos então oferecer atividades que os incentivem, sobretudo, a pensar no futuro e na escolha da profissão. Nessas visitas, os jovens conhecem o ambiente de trabalho dos pais e os diversos serviços realizados pela empresa, recebem orientação pedagógica e praticam

Roque D’Oliveira com estudantes da Escola São João Batista: orientações transmitidas de forma lúdica

um pouco de lazer”, conta Roque. Auxiliar técnico, Honório Alves Correia contou que seu filho Bernardo, 17 anos, ficou bastante motivado depois do encontro: “Ele está na 7ª classe da escola e gosta de informática. Voltou da visita dizendo que quer ser engenheiro”, revelou o pai, com orgulho. Com sete filhos, o mecânico Luis Pedro Nhanqui também gostou de mostrar a oficina onde trabalha para a filha Madalena, 16 anos. “Ela ficou impressionada. Pensava que eu trabalhava em uma oficina de ‘fundo de quintal’ e achou tudo muito organizado por aqui. O programa teve um impacto muito forte.” O Ciclo de Interesse tem afinidade com a Visão 2020 da Odebrecht. “Nosso objetivo é formar pessoas, capacitá-las e atraí-las para garantir a perpetuidade da Organização. Esse programa mostra aos jovens as condições de trabalho oferecidas pela Odebrecht e desperta neles o desejo de estudar e trabalhar”, explica Tiago Britto, Diretor de Contrato do projeto Vias Estruturantes.

informa

69


a fascinante viagem da

música

Formada por músicos de vários pontos do país, Academia Jovem Concertante faz turnê que inclui Usina Teles Pires

O

texto Rubeny Goulart foto Carlos Junior

barulho das britadeiras que rasgam

morava nos Estados Unidos. “Queria fazer um traba-

as rochas junto ao Rio Teles Pires,

lho de base no Brasil que proporcionasse aos jovens

em Paranaíta, na divisa dos estados

músicos brasileiros uma formação orquestral”, expli-

de Mato Grosso e Pará, onde se lo-

ca Simone, doutora em Piano Performance e História

calizará a quarta maior hidrelétrica

da Música pela Universidade de Miami e diretora ar-

brasileira em construção no momento, deu lugar,

tística do projeto. O recrutamento dos instrumentis-

no último dia 10 de novembro, ao som adocicado de

tas ficou a cargo de Daniel Pires, que é professor de

flauta, violas, oboés, violoncelos e violinos, durante

violino na Universidade Federal do Rio de Janeiro

a apresentação da Academia Jovem Concertante,

(UFRJ), e resultou em 21 instrumentistas, de nove es-

patrocinada pela Odebrecht Energia. Sob a regên-

tados brasileiros.

cia do violinista Daniel Pires e o acompanhamento

Além do patrocínio de uma turnê por sete cidades

da pianista Simone Leitão, 21 jovens virtuoses to-

que abrangem grande parte da localização dos em-

caram peças de Villa-Lobos, Bach, Mozart, Guerra-

preendimentos da Odebrecht Energia (Rio de Janei-

-Peixe e Tom Jobim para milhares de integrantes

ro, Salvador, Natal, Porto Velho, Recife, Rio Grande e

da Odebrecht Energia, investidora da Usina Hidre-

Paranaíta) e de uma bolsa-auxílio para os músicos, a

létrica Teles Pires, e da Odebrecht Infraestrutura,

orquestra de câmara, formada por nove violinos, três

responsável pela execução das obras de constru-

violas, dois violoncelos, duas trompas, dois oboés, um

ção do empreendimento.

baixo e uma flauta, receberá o valor arrecadado nos

O projeto da Academia Jovem Concertante foi

concertos em que houve cobrança de ingressos. Nem

idealizado pela pianista Simone Leitão, que há anos

todos os integrantes têm como bancar os custos dos

70


Teles Pires: recorde de público De toda a turnê do grupo – que estreou em 31 de outubro no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e finalizou no dia 13 de novembro no Teatro Municipal de Rio Grande (RS) –, o concerto no canteiro da UsiJovem instrumentista concentrado com seu violino: oportunidade ímpar para jovens de várias partes do Brasil

instrumentos. A violinista carioca Thamyris Nasci-

na Hidrelétrica Tele Pires foi recordista de público. “Um concerto de música erudita faz bem ao espírito de todos”, diz o Diretor de Contrato Antônio Augusto de Castro Santos. No local, a Fazenda Rosa Branca, uma área de 300 hectares, trabalham e moram atual-

Integrantes das obras da Hidrelétrica de Teles Pires: pausa no trabalho para apreciar música erudita

mento, 23 anos, aprendeu a tocar na igreja evangélica que a família frequenta, na Zona Norte do Rio e, como revelou talento, aos 9 anos ganhou da professora um violino chinês. Somente aos 18 anos conseguiu adquirir um novo instrumento, fabricado artesanalmente, a exemplo dos que são utilizados por violinistas em estágio mais avançado. Obstáculos são superados por quem sonha em tocar um instrumento. A gaúcha Dora Queiroz era feliz tocando violão em uma banda de rock em sua cidade natal, Getúlio Vargas, até o dia em que, pela primeira vez, ouviu as suítes para violoncelo de Johann Sebastian Bach. “Eu preciso aprender a tocar isso”, pensou. Com sacrifício, comprou seu violoncelo e foi estudar música na Universidade Federal do Rio

mente 3.700 integrantes da Odebrecht Infraestrutura,

Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Em 2007, o

número que, no prazo de três anos, até a conclusão

instrumento, que sequer estava quitado, foi roubado.

das obras, deverá chegar a 6 mil.

Cerca de quatro meses depois foi encontrado durante uma batida policial.

Os milhares de integrantes da Odebrecht presentes ao concerto ouviram o “Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4”, de Villa-Lobos, o “Concerto nº 1 em Ré Menor para Piano e Cordas”, de Bach, a “Sinfonia nº 29 em Lá Maior”, de Mozart, o “Concertino para Violino e Orquestra de Câmara”, de Guerra-Peixe, com solo de Daniel Guedes e a participação de duas trompas, e a composição “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, com arranjo de Wagner Tiso e solo de Simone Leitão. “Foi bonito, nunca tinha assistido a uma orquestra ao vivo”, disse Ivani Santos, que trabalha na montagem eletromecânica da usina. “Não é o meu primeiro

Apresentação no Rio de Janeiro: uma das sete cidades que a Academia percorreu em sua turnê

concerto, mas este, no canteiro de obras, certamente foi único”, completou o namorado Tiago Neves, que atua na área de soldagem.

informa

71


perspectiva Memória e texto Zaccaria Junior fotos Bruna Romaro

“E

sta estrada vai dar à aldeia de Estevais, depois à Cardanha e Adeganha. O viajante não pode parar em todo o lado, não pode bater a todas as portas a fazer perguntas e a curar das vidas de quem lá mora. Mas como não sabe nem quer despegar-se

dos seus gostos e tem a fascinação do trabalho das mãos dos homens, vai até a Adeganha, onde lhe disseram que há uma preciosa igrejinha românica, assim deste tamanho(...). Enfim, a igreja é esta. Não caiu em exagero quem a gabou. Cá nestas alturas, com os ventos varredores, sob o cinzel do frio e da soalheira, o templozinho resiste heroicamente aos séculos. Quebraram-se-lhe as arestas, perderam a feição as figuras representadas na cachorrada a toda a volta, mas será difícil encontrar maior pureza, beleza mais transfigurada. A igreja de Adeganha é coisa para ter no coração, como a pedra amarela de Miranda.” O trecho, tirado do livro Viagem a Portugal, do escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, demonstra a riqueza cultural e histórica encontrada em Adeganha, uma das muitas aldeias portuguesas situadas na região de Trás-os-Montes, no nordeste de Portugal. Adeganha é ligada à vila de Torre de Moncorvo, no Distrito de Bragança, onde está sendo construído o Aproveitamento Hidrelétrico Baixo Sabor pelo Agrupamento Complementar de Empresas (ACE) Baixo Sabor, formado pela Odebrecht-Bento Pedroso Construções e pela Lena Construções. O AHE Baixo Sabor compreende a construção de duas barragens equipadas com grupos reversíveis – uma a montante e outra a jusante (rio acima e rio abaixo) do Rio Sabor para o cliente Gestão da Produção de Energia S.A. (EDP). Com 123 m de altura, a barragem de montante é a maior das duas que integram a obra e será a segunda mais alta de Portugal. Sua capacidade de armazenamento dará origem a mais significativa reserva estratégica de água na bacia hidrográfica do Douro.

Aldeia Viva Com a chegada da obra à região, um grupo de pessoas ligadas à equipe de arqueólogos do projeto (são 184 arqueólogos

72 Em Portugal, valorização da cultura é o foco de projeto na região das obras do Aproveitamento Hidrelétrico do Baixo Sabor, onde também tem destaque o investimento em geração de trabalho e renda


Maria Ang茅lica Lage: mem贸ria da cultura trasmontana

informa

73


no total) sensibilizou-se com o tema da valorização da cultura local e idealizou o projeto Aldeia Viva, voltado ao patrimônio intangível encontrado nas aldeias e que, em muitos casos, é desconhecido das pessoas que vivem nas grandes cidades. A arqueóloga Rita Gaspar, 35 anos, coordenadora de estudos da pré-história, e André do Carmo Tereso, 29 anos, técnico em conservação e restauro, ambos integrantes da AHE Baixo Sabor, contam que o Aldeia Viva começou com um contato com a comunidade local, interessada em preservar e transmitir seus conhecimentos ancestrais às novas gerações. “Começamos a perceber que esta é uma região que está muito isolada e envelhecida, que existem muitos problemas de trabalho e que isso acaba afastando a população jovem daqui”, comenta Rita, ao explicar que a ausência de jovens na aldeia impede que os conhecimentos populares dominados pelos mais idosos, entre eles métodos agrícolas, receitas, danças, cantigas e lendas, sejam perpetuados. “Queríamos mostrar às pessoas as memórias guardadas em uma aldeia e transmiti-las por meio de encontros”, explica Rita. Ela relata que já foram realizados encontros que envolveram outras aldeias da região para que todos pudessem vivenciar os costumes de Adeganha e para que as demais também se sentissem motivadas em realizar eventos semelhantes em suas próprias localidades, fortalecendo assim a cultura regional.

74

Geração de trabalho e renda

“As pessoas tinham um pensamento muito me-

Além da valorização da cultura local, outro

cânico de tudo o que faziam, mas nada de trans-

ponto de atenção com a chegada da obra foi a ne-

missão de conhecimento. Não queríamos que o

cessidade de geração de trabalho e renda para as

conhecimento fosse perdido”, diz André Tereso.

comunidades situadas na região do Aproveitamen-

Em um rápido passeio por Adeganha, a equipe

to Hidrelétrico Baixo Sabor. A Odebrecht-Bento

de Odebrecht Informa conferiu isso de perto. No

Pedroso Construções incentivou, desde o come-

emaranhado de vielas estreitas recheadas de ca-

ço, a formação e qualificação de empresas “Pro-

sinhas de pedra, repórter e fotógrafa foram con-

curamos incentivar os empreendedores locais”,

vidados a entrar na casa de Maria Angélica Lage,

conta Antônio Monteiro, Gerente Administrativo e

uma senhora de 90 anos que se aquecia sentada

Financeiro da obra. “Fomos à associação comer-

em frente à lareira, mexendo a lenha com um toco

cial local, em muitas reuniões, explicamos nossas

de madeira enquanto perguntava com um sorriso

necessidades e as oportunidades que poderíamos

no rosto: “Querem ouvir uma canção?” Em segui-

gerar na região, mostramos que estávamos aber-

da, começou a entoar cantigas que narravam o

tos. Ao mesmo tempo que focamos mais no nosso

cotidiano trasmontano, além de rezas e histórias

negócio, damos oportunidades ao desenvolvimen-

sobre seu pai, seu marido, seus filhos e de quando

to de negócios locais”, comenta Monteiro, que atu-

vivia em Angola. “Está vendo? Não podemos per-

almente recorre a empresas locais para demandas

der esse conteúdo todo”, disse André.

da obra que envolvam limpeza, lavagem de veícu-

informa


Francisco Fevereiro: “Confiaram em nós”

Maria Angélica Lage

los, manutenção de aparelhos de ar condicionado,

um pavilhão em Torre de Moncorvo e, com a crise

serviços específicos de serralheria e gestão dos

que começava a se instalar em 2008, acreditei que

restaurantes do canteiro de obras.

ficaria difícil de torná-lo rentável. Então, quando

Um dos exemplos é oferecido por Francisco

começaram os preparativos para a construção do

Braz. Quando soube da chegada da obra e do gran-

Aproveitamento Hidrelétrico Baixo Sabor, fui até

de volume de trabalho associado à construção da

os responsáveis e informei que estaria disposto

Barragem Baixo Sabor, montou a empresa Colhe-

em alugar uma parte do meu pavilhão. Dois dias

ventos, com sede em Torre de Moncorvo. Atual-

depois, recebi uma ligação do subempreiteiro que

mente, colaboram com a empresa 13 integrantes,

estava dedicado às obras de escavação do proje-

responsáveis pela limpeza da obra, incluindo es-

to. Foi um passo para que começassem a solicitar

critórios e dormitórios. “Antes de abrir a empresa,

alguns pequenos trabalhos de serralheria para o

informei-me com os responsáveis do Baixo Sabor,

lançamento da obra”, diz Fevereiro, que ressalta

que me garantiram que iam abrir uma concorrên-

que, para ele, o mais importante na história foi que

cia, da qual eu poderia participar, e que até privile-

os responsáveis pela obra tiveram a iniciativa de

giariam as empresas da região”, relata.

procurar na região uma empresa que pudesse de-

Já Francisco Fevereiro, proprietário de uma

senvolver o trabalho e acreditaram em uma em-

serralheria, relembra que seu envolvimento com

presa pequena. “Confiaram em nós, e não deixa-

o projeto ocorreu “da forma mais simples que se

mos a obra parar nenhum minuto sequer por falta

possa imaginar”. Eu tinha acabado de construir

de material”, comemora.

informa

75


PERFIL: Cláudio Castro

A ajuda de quem entende do riscado Hoje coordenador das ações de desenvolvimento sustentável na República Dominicana, ele conheceu cedo, na Bahia, a realidade dos pequenos agricultores texto José Enrique Barreiro foto Geraldo Pestalozzi

76

láudio Castro nasceu em

C

Na Fundação, onde ficou por cinco

Cláudio passou a integrar a organi-

meados da década de 1950,

anos, Cláudio Castro dirigiu o Instituto

zação dinâmica de Marco Cruz, Dire-

em Itabuna, sul da Bahia, no

de Desenvolvimento Sustentável do

-tor-Superintendente da Odebrecht

coração das “terras do sem fim”. Ali,

Baixo Sul da Bahia (Ides) e a Casa Fa-

no país, como Responsável por Apoio

como tão bem descreveu o escritor

miliar do Mar e coordenou a implan-

em Programas Socioambientais e Co-

Jorge Amado em alguns de seus ro-

tação da Casa Familiar Agroflorestal

municação: “Aqui na República Domi-

mances, a produção do cacau era o

de Igrapiúna. “Foi uma experiência

nicana, o meu xará Cláudio Medeiros

pano de fundo de uma ambígua rea-

marcante”, avalia. “Pude conviver de

me ensinou muita coisa. Agora tenho

lidade socioeconômica. Cláudio ainda

perto com Dr. Norberto Odebrecht, o

a oportunidade de conviver e aprender

conheceu os dois lados do ciclo do

que me trouxe grandes aprendizados,

com Marco Cruz neste novo desafio

cacau, cujo auge ocorrera nas três

e fazer o que gosto, o que penso que

em minha carreira”.

décadas anteriores à de seu nasci-

é o certo, que é contribuir com a luta

Casado, pai de três filhos e avô

mento: de um lado, o poderio de al-

para diminuir as desigualdades so-

coruja (“ganhei uma neta linda de

guns senhores de terras e, de outro,

ciais e criar oportunidades de gera-

presente este ano, e estamos na ex-

a dura realidade social de milhares de

ção de trabalho e renda para famílias

pectativa de ganhar mais um neto

famílias da zona rural que pouco se

da zona rural.” Ainda sobre sua pas-

em março”), Cláudio ressalta a im-

beneficiaram do esplendor cacaueiro.

sagem pela Fundação Odebrecht, ele

portância da família em sua vida

A pergunta é inevitável: teria sido

faz questão de citar dois líderes com

pessoal e nos programas em que

por conta disso que Cláudio chegou à

os quais muito aprendeu: Antônio

atua. “A valorização da família é a

Fundação Odebrecht, em 2002, para

Carlos Viard e Marcelo Walter.

base para o desenvolvimento social.”

atuar exatamente na zona rural do

Em 2007, Cláudio desembarcou na

Inquieto e extremamente crítico

Baixo Sul da Bahia em apoio às fa-

República Dominicana para continu-

consigo mesmo (“sempre fui assim

mílias pobres dessa região? Ele res-

ar a fazer o que gosta: coordenar as

e continuarei sendo assim”), Cláudio

ponde: “Eu havia trabalhado antes na

ações de desenvolvimento sustentável

sai do sério quando se vê diante da

construtora Góes Cohabita, na área

da Odebrecht no país. “Implementa-

hipocrisia (“uma das faces mais ter-

de processamento de dados, mas

mos programas voltados para a for-

ríveis que o ser humano pode exibir”).

entrar para a Fundação Odebrecht

mação de associações comunitárias

Em contrapartida, esbanja alegria ao

foi o grande marco profissional de

e de agricultura familiar, a educação

ver os resultados do seu trabalho. “O

minha vida. A oportunidade surgiu,

ambiental e a geração de oportunida-

que me deixa feliz é sentir que estou

e eu a abracei com muita motivação,

des de trabalho e renda.” Ele destaca,

contribuindo para a melhoria das pes-

provavelmente por ter conhecido, na

entre outros, o Projeto de Construção

soas, muitas vezes pessoas que nem

infância, a grande necessidade de

de Habitações na Comunidade de

conheço nem vou conhecer. Acredito

apoiar o desenvolvimento sustentável

Guayuyal e na Província de San Juan,

que viemos a esta vida para sermos

de zonas rurais da Bahia – como de

a Cooperativa de Costura e a Coope-

felizes e fazermos felizes outras pes-

resto, de todo o Norte e Nordeste de

rativa de Artesãos de Samaná e o Pro-

soas, e esse é o objetivo que temos

nosso país”.

grama Educar é Construir. Em 2010,

que buscar dia após dia.”

informa


Cláudio Castro: “Viemos a esta vida para ser felizes e fazermos felizes outras pessoas”

Carlos José: “Toda obra tem começo, meio e fim, mas esta aqui é permanente”

informa informa

77 77


coragem

crença firme no talento E na

Projeto Mulheres Reciclando possibilita inclusão social com geração de renda por meio do artesanato

M

texto Luiz Assumpção foto André Valentim

agali de Almeida Cesar Macha-

“Minha vida melhorou demais”

do buscou no artesanato uma te-

“Eu resistia à ideia de abandonar àquelas que tinham

rapia. Para vencer a depressão,

nos cursos uma esperança de vida melhor”, relembra

decidiu aprender uma atividade

Magali. “Precisava fazer alguma coisa. Eram muitas

diferente. Matriculou-se em um

mulheres, sozinhas, abandonadas, com filhos para

curso e passou a vender seus produtos em feiras.

criar. Eu precisava usar o que tinha aprendido para aju-

Não demorou a chamar a atenção. As amigas e

dá-las a ganhar dinheiro e assim poderem sobreviver.”

vizinhas da comunidade das Malvinas, em Macaé (RJ), demonstraram interesse pela habilidade desenvolvida por ela, que decidiu passar adiante seu conhecimento. A artesã convidou quatro amigas para desenvolver um projeto que abrangesse mulheres de sua comunidade. Acreditava que, a partir de seu conhecimento, outras pessoas poderiam se beneficiar. Assim, em 2007, surgiu o Projeto Mulheres Reciclando (Promur). Com retalhos, coletados em confecções locais, as participantes aprendiam a produzir bolsas, roupas e outras costuras. As oficinas eram aos sábados. Magali alugou um espaço para ministrar os cursos, pagando o aluguel com seu próprio salário. Após alguns meses bancando o projeto sozinha, a fundadora perdeu o emprego que pagava as contas do Promur. Com quase dois anos de atividade, o projeto teria fechado as portas, não fosse o apoio de um empresário

78

anônimo que se dispôs a pagar o aluguel do ateliê onde os cursos ocorriam.

De uma aula por semana, a fundadora passou

a se dedicar exclusivamente ao Promur, que hoje funciona diariamente, de 8 às 16 horas, promovendo oficinas gratuitas. O projeto, que visa à união, superação e inclusão social com geração de renda, passou a contar com o apoio da Odebrecht Óleo e Gás (OOG) em 2011.


Há três anos no projeto, a aposentada Maria Estela

aquisição de uma sede própria para o Promur. Após dois

Moura, 70 anos, sentia-se desamparada. Estava à procura

anos de parceria, a renda média das participantes do

de distração e encontrou muito mais no ateliê da comuni-

projeto já aumentou em 23%.

dade das Malvinas. “Eu me sentia muito sozinha. Com o

Cerca de 400 alunas já passaram pelas oficinas do

Promur, minha vida melhorou demais. Aprendi, ensinei,

Promur. Apesar de algumas participantes dos cursos

fiz amigas e ainda consigo ganhar algum dinheiro.”

buscarem apenas uma distração, grande parte pas-

Por meio do programa Escola em Ação, iniciativa da

sou a produzir de maneira independente e consegue

OOG em parceria com a Prefeitura de Macaé e a Unes-

atualmente sustentar suas famílias. “Algumas moças já

co, a empresa identificou no Promur algumas das ca-

abriram até loja com o que aprenderam nas oficinas”,

racterísticas presentes no próprio programa, como ges-

orgulha-se Magali.

tão participativa e capacidade de mobilização social. O

Pela iniciativa e perseverança de uma pessoa, cente-

apoio da OOG consiste no incentivo e na ajuda à realiza-

nas já se beneficiaram. Diversas moradoras de regiões

ção de cursos de qualificação profissional, participação

próximas reconhecem o trabalho realizado e anseiam

em feiras de artesanato e nas Bases de Apoio Logístico

por uma filial perto de suas casas. O Promur é um pro-

da empresa em Macaé, organização de oficinas de ges-

jeto que gera renda e contribui para o desenvolvimento

tão e encomenda de brindes para seminários e reuniões

socioeconômico de comunidades de baixa renda. Como

anuais. Além disso, OOG repassa recursos financeiros

a Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO) orienta e en-

provenientes da venda de materiais recicláveis, produ-

fatiza, Magali e sua equipe não dão o peixe. Elas ensi-

zidos em suas unidades marítimas de perfuração, para

nam a pescar.

A aposentada Maria Estela Moura (à esquerda) ao lado da amiga Maria Cruz: “Aprendi, ensinei, fiz amigas e ainda consigo ganhar algum dinheiro”

informa

79


ARGUMENTO

80

informa

80


Convergindo sobre sustentabilidade “Precisamos encontrar o caminho do ‘ganha-ganha’ na construção da infraestrutura necessária em cada país. Devemos sair da rota de conflitos e considerar um novo caminho para essa construção”

P

oucos conceitos são tão discutidos atual-

Precisamos encontrar o caminho do “ganha-

mente quanto o de sustentabilidade. Não

-ganha” na construção da infraestrutura

há divergência em relação à sua aplica-

necessária em cada país. Devemos sair da rota

bilidade a qualquer ramo da atividade humana,

de conflitos e considerar um novo caminho para

mas há, por vezes, descrença diante dos desa-

essa construção. Podemos colocar em práti-

fios, especialmente nas questões relacionadas

ca uma hierarquia nas questões dos impactos

à mudança climática e à eliminação da pobreza.

sociais e ambientais, para evitar, mitigar e,

Mas trato aqui do que já atingimos para balizar o

por último, compensar. Precisamos sair do

que devemos conquistar.

tratamento individual por projeto, que perde o

Há razões para otimismo e é o que nos

sentido do conjunto, e considerar um portfólio

impulsiona a agir, como disse em recente

de opções que tenha como base o território.

encontro em Doha o secretário-geral da ONU,

Devemos incorporar, nas avaliações de impac-

Ban Ki Moon.

tos, o balanço dos benefícios locais, regionais e

A última década do século passado e a

globais, em contraponto à visão somente local.

primeira deste marcaram um período em que

Em resumo, precisamos inserir cada projeto em

subimos vários degraus na escala da maturidade

seu contexto territorial e setorial.

do entendimento e de práticas no caminho da

Por fim, sem esgotar as oportunidades de

sustentabilidade. Começamos por posicionar os

melhorias, é hora de dotar os projetos de ele-

atores no lado do bem e do mal, onde estavam,

mentos que permitam ajustes e melhorias ao

respectivamente, o terceiro e o segundo setor,

longo do tempo. Esses elementos são os que

com o primeiro setor (governos) atuando no papel

estamos desenvolvendo em uma iniciativa deno-

de comando e controle. Levamos algum tempo

minada “nova inteligência para a infraestrutura”,

para deixar a visão de “quem está” e passar ao

retratando nosso compromisso rumo à susten-

“o que é” certo. Progredimos, pois ao sairmos das

tabilidade.

trincheiras encontramos um campo de demandas e oportunidades para chegarmos ao tangível do que é sustentabilidade. Como representantes de

Ana Cristina Barros

uma organização do terceiro setor, podemos dizer

é a responsável pelo

que esses resultados somente aconteceram onde

programa de Smart

houve alianças entre ONGs, comunidades, empre-

Infrastructure,

sas e governos.

conduzido pela

Progredimos, mas podemos ampliar o espectro dessas conquistas.

ONG TNC para a América Latina

informa

81


Em ĂĄguas harmoniosas e

produtivas

No Baixo Sul da Bahia, o entendimento de que todos podem contribuir para o equilĂ­brio do meio em que vivem texto Gabriela Vasconcellos fotos Almir Bindilatti

82 82

informa


T

odos os dias ao acordar e abrir a jane-

mais, pois é uma atividade que vem conquistando a

la, Adenilton do Nascimento, 31 anos,

confiança de todos.”

vê o Lago Antônio Rocha. Fonte de tra-

É, portanto, das águas de Antônio Rocha que o

balho para o produtor rural, que culti-

aquicultor tira o sustento de sua esposa e três filhos,

va peixes em suas águas, o manancial

mas o trabalho não termina ao alimentar as tilápias.

tem o nome de seu pai, morador da região há mais de

Deninho acredita que é sua e de todos da comunida-

30 anos, e é um ponto de referência na comunidade

de a responsabilidade por conservar o lago. Ele mora

Juliana, localizada no município de Piraí do Norte, no

perto da nascente e, em parceria com a Organização

Baixo Sul da Bahia.

de Conservação da Terra (OCT), implantou 1 hectare

Mais conhecido como Deninho, Adenilton é asso-

com diferentes culturas, como seringa e frutíferas,

ciado e tesoureiro da Cooperativa dos Aquicultores

método conhecido como Sistema Agroflorestal (SAF).

de Águas Continentais (Coopecon). Fruto de mobi-

“O SAF é inserido de forma gratuita, possibilitando

lização social de piscicultores e famílias da zona

um meio de garantir renda à unidade-família. Fun-

rural, a Coopecon foi fundada em 2010. Deninho foi

ciona como uma contrapartida para o produtor rural,

um dos primeiros a integrar a cooperativa. “O retor-

que destina parte de sua terra para conservar a mata

no financeiro vem crescendo a cada dia. Hoje ganho

nativa”, explica Volney Fernandes, Líder da Aliança

cerca de R$ 1 mil e acredito que vai aumentar ainda

Cooperativa de Serviços Ambientais vinculada à OCT.

Adenilton do Nascimento, a esposa e os três filhos no Lago Antônio Rocha: com ajuda de parceiros, o aquicultor está realizando cultivo de peixe e reflorestamento


“Observamos que, ao desmatar, a água estava diminuindo. Com o reflorestamento, protegemos os recursos para as futuras gerações. Nunca pensei que um dia iria fazer isso. Eu era um agressor da natureza e hoje sou um defensor”, afirma Deninho. O produtor implantou, também com apoio da OCT, 1 hectare de eucalipto. “Esse cultivo vai nos trazer um benefício grande, porque, em vez de derrubar a mata, vamos ter a nossa própria madeira”, garante. “Aqui as pessoas não tinham essa consciência”, completa. Leandra Santos, esposa de Deninho, confia no marido. “Meus filhos pensam em seguir os passos do pai”, comemora a agricultora, que revela seu sonho: construir uma nova casa. Deninho se preocupa com o futuro das crianças. “Não tive a oportunidade de estudar, mas quero dar a eles uma boa educação, ensinando a importância de viver em comunidade e

Yasmin, a filha mais velha de Adenilton: ela quer ser técnica aquícola

de preservar a natureza”, diz. Sua filha mais velha, Yasmin, está cursando o 5º ano no Colégio Estadual Casa Jovem (CECJ), localizado no município de Igrapiúna (BA), e pensa em ser técnica aquícola quando crescer. “Incentivo Yasmin todos os dias”, assegura Deninho.

Fortalecimento dos quatro capitais

84

busca Deninho. Com apoio do Instituto Direito e Cidadania (IDC), conquistou um direito básico para sua família e comunidade: documentação civil. “O IDC

Coopecon, OCT e o CECJ são instituições ligadas

realizou uma ação aqui, e aproveitamos para emi-

ao Programa de Desenvolvimento e Crescimen-

tir as carteiras de identidade de meus filhos. Muitos

to Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de

vizinhos não tinham nem o registro. Sabemos que

Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia

uma pessoa sem documento não é um cidadão”, ar-

(PDCIS). Fomentado pela Fundação Odebrecht, em

gumenta.

parceria com o poder público, sociedade civil e insti-

Referência em sua comunidade, o produtor

tuições privadas, o PDCIS promove simultaneamen-

assumiu também o compromisso de liderar a As-

te o fortalecimento de quatro capitais: produtivo, ao

sociação dos Pequenos Produtores Rurais da Re-

implantar alianças cooperativas estratégicas para

gião do Juliana. Com apoio da Associação Guardiã

geração de trabalho e renda; humano, representa-

da Área de Proteção Ambiental do Pratigi (Agir),

do por centros educacionais que contribuem para

que, assim como o IDC, também integra o PDCIS,

a formação de jovens empresários; social, incenti-

a associação tem mobilizado as 40 famílias que

vando a construção de uma sociedade mais justa e

compõem a região do Antônio Rocha. “Quero reu-

igualitária; e ambiental, ao promover atividades que

nir as pessoas para discutir o melhor”, salienta.

priorizam a recuperação e conservação dos recur-

Para ele, o importante é fortalecer o sentimento

sos naturais.

de pertencimento entre os moradores e, assim,

O programa carrega, em sua essência, a premis-

alcançar o oitavo objetivo do milênio: todos tra-

sa de que o desenvolvimento representa o proces-

balhando pelo desenvolvimento. “Com a nossa

so evolutivo dos seres humanos e que todos podem

união, conseguiremos alcançar resultados como

contribuir para o equilíbrio do meio em que vivem

a ampliação de nossa renda e a conservação dos

e, assim, possibilitar o progresso. É o que também

recursos naturais”, acredita.

informa


Próxima edição: Sinergia

RESPONSáVEL POR COMuNICAçãO EMPRESARIAL NA CONSTRuTORA NORBERTO ODEBREChT S.A. Márcio Polidoro

Fundada em 1944, a Odebrecht é uma organização brasileira composta de negócios diversificados, com atuação e padrão de qualidade globais. Seus 180 mil integrantes estão presentes nas três Américas, na África, na Ásia e na Europa.

RESPONSáVEL POR PROGRAMAS EDITORIAIS NA CONSTRuTORA NORBERTO ODEBREChT S.A. Karolina Gutiez COORDENADORES NAS áREAS DE NEGóCIOS Nelson Letaif Química e Petroquímica| Andressa Saurin Etanol e Açúcar | Bárbara Nitto óleo e Gás | Daelcio Freitas Engenharia Ambiental | Sergio Kertész Realizações Imobiliárias | Antonio Carlos de Faria Infraestrutura e Transporte | Josiane Costa Energia | Letícia Natívio Engenharia Industrial e Defesa e Tecnologia | Herman Nass Construção Naval Coordenadora na Fundação Odebrecht Vivian Barbosa COORDENAçãO EDITORIAL Versal Editores Editor José Enrique Barreiro Editor Executivo Cláudio Lovato Filho Editora de Fotografia Holanda Cavalcanti Arte e Produção Gráfica Rogério Nunes Ilustrações Adilson Secco Tiragem 5.400 exemplares • Pré-impressão e Impressão Pancrom Redação: Rio de Janeiro (55) 21 2239-4023 / São Paulo (55) 11 3641-4743 e-mail: versal@versal.com.br informa

85


Rogério Reis

“É característica do gênero humano a insatisfação com o que existe. Inseparável da pessoa que possui espírito empresarial é sua tendência para o otimismo” TEO [Tecnologia Empresarial Odebrecht]

86

informa



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