Cultura de Bancada, 12º Número

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2 away: budapeste44 HISTÓRIA DO MOVIMENTO ORGANIZADO DE ADEPTOS NA argentina o número 12 e os adeptos0636403013201108 European Football Fans UMQUANDOEdadosvladivostokumamemóriasacadémicaENTREresumoCongressdabancadaOCéueoinfernodecoimbradabancadaviagemdeoutromundobiométricosavigilânciaTecnológicaOSOVNIsPARARAMJOGODEFUTEBOL38

3 84 awaydays 80 cultura de adepto 46 calcio storico 54 o belenenses não dobrou 60 ultras com história JP 48 depor: um clube esquecido pelos deuses mas lembrado pelos adeptos 58 guerra nos balcãs 66 leixões sc uma luta à vista 74 coleccionismo ultra livros 52 era uma vez a invicta ultra

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também a saber que serão apenas três estádios portugueses, distribuídos por duas cidades, os contemplados na candidatura Ibérica para a organização do Mundial 2030. Por outro lado, existem 11 vagas para estádios em território Espanhol. Se o futebol português não cresceu o suficiente para que a grandeza dos seus clubes seja marcada pela pluralidade então temos de ter a coragem de aceitar a realidade e pagar a factura. Não há condições para Portugal concorrer? Então não concorremos! Perante toda a história portuguesa, em que se tratou a grande parte do território nacional como paisagem, só podemos dizer que isto é um ultraje aos portugueses.Começamos este editorial com uma carga negativa mas, nestes últimos dois meses, nem tudo foi mau. Durante este tempo, reservamos um dia para realizar um almoço entre alguns membros da nossa equipa e contou com a presença especial da Martha Gens, presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto. À saída deste encontro, o nosso espírito de missão ficou ainda mais reforçado e com a certeza do que queremos, para além de que também ficou patente a necessidade de mais gente se envolver

Director J. Lobo

Editorial2

As férias estão a acabar e, como se fosse por ritual, já se ouvem as habituais vozes a dizer que souberam a pouco. Talvez pouco tempo para uns, mas o suficiente para outros. Que o digam os grupos que, ainda há poucos meses eram totalmente contra o cartão do adepto e, neste curto período de “férias desportivas”, já conseguiram ceder à luta e moveram-se para as ZCEAP’s. Apesar de insólito já não surpreende e, até para aqueles que já conhecem o ecossistema da bancada, o impacto gerado por quem se apresenta pela contradição só consegue ser ultrapassado pela hipocrisia presente nas narrativas criadas para tentar justificar o injustificável. Errar é condição humana, mas estar sempre a cometer os mesmos erros não é errar, é uma escolha! Zero valores... com excepção do teatro, aí alguns têm nota 20! Neste período também ficamos a saber que, aqueles cujo acrónimo é a abreviatura da palavra televisão, foram ao Parlamento em mais uma tentativa de condenar qualquer tipo de futuro positivo para as nossas bancadas. É por estas e por outras que, cada vez mais, nos congratulamos com a decisão de barrar a entrada desse grupo no conteúdo das nossas páginas. Redacção L. J.G.CruzMataSousa

ConvidadosFicamos

Martha VariaçõesFranciscoGensSobral J. EupremioStepanCamposRomanovScarpa

Design S. M.FriasBondoso Revisão A. Pereira D. Carvalho J. RaquelRochaVeiga Hugo RuiMarceloSilvaJP nos desígnios dos adeptos portugueses. Acaba por ser engraçado pois é isso que tentamos fazer desde a génese da Cultura de Bancada. Já no final do passado mês de julho realizou-se em Frankfurt mais um congresso de adeptos organizado pela FSE e , mais uma vez, contou com a presença da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto. Esta foi mais uma iniciativa onde foram discutidos vários pontos essenciais para a defesa dos adeptos no presente e também no futuro. Mais recentemente, a UEFA anunciou um programa de observação para os adeptos assistirem de pé a um jogo de futebol com o objectivo de averiguar se existem condições de voltar a reintroduzir esta realidade, de forma segura, nas suas competições. No final desta temporada teremos o veredito que irá ditar o futuro. Por fim, deixamos uma palavra para aquela pequena fatia de adeptos que ainda se interessa verdadeiramente pelo futuro das nossas bancadas. Para todos aqueles que são fieis aos verdadeiros princípios do associativismo independente e livre, aqueles que não cedem a pressões do sistema, que não estão vinculados a um grupo que não os representa, e que apoiam todos aqueles que estão na linha da frente a lutar e a representar o movimento de adeptos. Queremos deixar uma opinião muito importante que explicitamente afirma: é em cima de vós que está a responsabilidade de organizar e manter a resistência que nos levará a uma contra ofensiva que permita reconquistar tudo o que perdemos em nome de um negócio sujo e de uma pseudo segurança! Enquanto vocês existirem há esperança e, enquanto estivermos unidos, nós somos a Aproveitemesperança!o12ºnúmero da Cultura de Bancada!

ManuelP.SoaresAlves Convidados 5

Editorial2

Três anos depois do European Football Fans Congress, em Lisboa, e depois de uma pandemia em que durante quase dois anos foi impensável reunirmo-nos novamente – o pensamento de cerca de 200 adeptos à chegada a Frankfurt era o mesmo – que bom que é estarmos todos de volta.

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O European Football Fans Congress, organizado pela FSE, é o maior evento de adeptos da Europa, e um dos mais aguardados a cada dois anos. Na verdade, cada vez que um destes eventos termina, é visível que ficamos todos expectantes pelo próximo. Este ano, o EFFC realizou-se na cidade de Frankfurt am Main, e foi acolhido pelo Fan Department do Eintracht Frankfurt. A ligação entre este departamento e a FSE é conhecida por ser bastante estreita, e não podíamos ter sido melhor acolhidos. É ainda sabido que os adeptos deste clube alemão são conhecidos pelas suas incursões sempre em números abismais, principalmente quando o seu clube joga na qualidade de visitante nas competições europeias. A grande maioria de nós há de se lembrar certamente do estádio Camp Nou vestido de branco, nos quartos de final da Liga Europa, enquanto mais de vinte mil adeptos sem bilhete viam o jogo na cidade de Barcelona. Foram debatidos temas extremamente interessantes e controversos como a utilização de dados biométricos com o intuito de identificar adeptos, a preterição dos direitos humanos no mundial do Catar ou mesmo violência com base no sexo e formas de a combater. Por outro lado, já é um clássico podermos frequentar workshops com temas que são parte recorrente do quotidiano dos adeptos como away fans, segurança, safe standing ou os fóruns dedicados às associações nacionais de adeptos ou o fan lawyer network. Mais uma vez a APDA esteve presente neste congresso – é sempre uma lufada de ar fresco aprender com quem trabalha com as melhores prácticas, trocar experiências, e dar a conhecer o nosso país e o nosso contexto enquanto adeptos – as nossas dificuldades, a nossa bancada, as nossas lutas. Apenas com esta aprendizagem podemos crescer e defender os interesses de quem confia no nosso trabalho. Louvamos e damos ainda nota da presença do grupo afecto ao Estrela da Amadora, Magia Tricolor, que marcou também presença no EFFC, como associados da FSE. Naturalmente, e como adeptos que somos, não vivemos em pleno sem o convívio – fomos ainda presenteados com um jantar convívio num centro de treinos do clube, e com

European Football Fans Congress

uma noite de fecho com uma festa num barco. O intercâmbio entre clubes, grupos e culturas e bancadas diferentes é um dos pratos fortes deste tipo de eventos – trocas de cachecóis, autocolantes, contactos. Convites para visitar cidades que nunca conhecemos ou convites para ir ver grandes jogos – são estes os exemplos saudáveis dos convívios entre adeptos. Onde todos estão unidos pelos valores, os valores da bancada falam mais alto, e o resultado apenas podem ser dias verdadeiramente memoráveis. Marcaram presença adeptos de mais de 30 nacionalidades – adeptos franceses, ingleses, irlandeses ou noruegueses, bem como participantes israelitas e turcos.

europeia de adeptos – uma só voz, um só caminho, uma força mais forte. Com esta fusão, o espectro de actividade ficou ainda mais amplo, o que garante um melhor e mais eficiente trabalho em prol dos Foramadeptos.ainda aprovadas moções apresentadas por vários associados, o que representa um marco óbvio de representatividade directa dos associados no trabalho levado a cabo pela FSE. Por último, foram eleitos os elementos que fazem agora parte do comité (“Board”) directivo da FSE – Com uma cara nova, Sofia Bohlin, da Suécia. Mais uma voz feminina a juntar-se à representação da APDA neste órgão. Uma nota de apreço e já saudade deixa Jim Spratt, que abandona o Board da FSE, mas se mantém activo no projecto das Fans Embassies. Para nós, APDA, é sempre um prazer reunirmo-nos com tantos outros que todos os dias lutam por um futuro melhor para as suas bancadas – num trabalho de adeptos, para adeptos – é aqui, e entre todos aqueles que nos seus países desempenham este mesmo papel, que nos apercebemos que estamos no caminho certo. E é sempre com muita motivação que representamos o nosso país e as nossas bancadas. Mas é sobretudo com muita motivação adicional com que saímos destes encontros – com mais força, mais conhecimento, mais ligações – com a certeza que o nosso trabalho valerá sempre a Porpena.Martha

Esta assembleia teve um marco importantíssimo – foi votada e aprovada por unanimidade que a FSE e a SD Europe entrem formalmente em processo de fusão, e que doravante, exista apenas uma associação

Gens, Presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto

Ainda, e como organização democrática que a FSE se orgulha de ser, teve ainda lugar a sua assembleia geral, onde todos os membros têm a hipótese de adicionar moções promotoras de alguns trabalhos em concreto, e as eleições para os órgãos sociais da FSE.

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O início e as décadas de sucesso 3 de Novembro de 1887. Esta é a data de fundação da Associação Académica De Coimbra, a mais antiga associação de estudantes do país e, por inerência, o clube mais antigo. Conhecida por Briosa ou “Velha Senhora”, representa um dos clubes com maior tradição no nosso país. O clube da tradição dos estudantes e do F-R-A. Onde no dia-a-dia se usa o negro e no luto se usa o branco. O clube das capas e batinas que sempre pareceu indestrutível e sempre se viu como que resistente ao futebol moderno. O primeiro jogo disputa-se apenas em 1912, uma partida frente ao Ginásio Clube em que a Briosa se apresentou de camisola branca e calção preto. As primeiras décadas, digamos assim, são de grande sucesso para a Académica. Em 1913 sagra-se campeã do Norte ao bater o Porto por 3-1. Em 1934, com a criação da 1ª liga, a Briosa inicia uma travessia pelos campeonatos “profissionais” que só teve término agora em 2022. Esta é uma década especialmente brilhante para os “capas negras”, visto que em 1939 o clube conquista a primeira edição da Taça de Portugal ao bater o Benfica por 4-3 no campo das Salésias com 30 mil espectadores. Este seria o seu primeiro triunfo na prova. Os anos seguintes são marcados por alguma instabilidade e uma descida de divisão pelo caminho. Em 1949 é inaugurado o Estádio Municipal de Coimbra ou, como é tratado carinhosamente entre os conimbricenses, “O Calhabé”. Este veio a revelar-se um autêntico teatro dos sonhos para a Briosa e seus adeptos, abandonando assim o Campo de Santa Cruz. Os anos 60 são especialmente triunfantes para o clube. Não pelos títulos (que não os ganhou), mas por ser uma das décadas de maior afirmação no panorama do futebol português. Nesta década são conquistados dois 4º lugares e, em 66/67, a melhor classificação da história do clube: um 2º posto, apenas 3 pontos atrás do Benfica de Eusébio. Mas nem só de futebol vive a história da Briosa e, em 1969, na final da Taça frente ao Benfica, em plena crise estudantil e numa altura de grande repressão para a população, o Jamor encheu-se de capas e batinas e protestos pois a direção geral da AAC viu naquele encontro mediático uma chance de promover as suas revindicações contra o regime. Foi, até hoje, o jogo de futebol mais politizado de sempre em Portugal (curiosos e interessados podem ver ao detalhe no documentário “Futebol de causas”). A década de 60 é rica em história e em nomes. Por esta altura (e não só nesta década) já nomes marcantes tinham passado

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ENTRE O CÉU E O INFERNO ACADÉMICA DE COIMBRA

“Nessa altura, erguemos os olhos e fizemos a promessa de seguir-te para sempre, para onde quer que fosse, mesmo que para o céu. Porque se fosse preciso, todos nós morreríamos por instantes, só para a ver jogar” – Emílio Campos Coroa sobre a Mancha Negra. 2012, o último sorriso Se perguntarem a qualquer adepto da Briosa qual foi a última vez que foi verdadeiramente feliz a resposta certamente será o dia 20 de Maio de 2012.

Neste período destacam-se presidentes muito queridos entre a massa associativa tais como Fausto Correia, Mendes Silva, ou Emílio Campos Coroa. Em 2002 o clube volta à primeira. Após vencer a Naval por 2-1 num Municipal de Coimbra já em obras, com vista ao Euro 2004, a Académica é empurrada pela sua enorme massa humana para uma vitória que lhe permite carimbar o regresso ao convívio dos grandes. Por aqui a Briosa estabelece-se até 2016.

Após 43 anos a Briosa chegava ao Jamor carregada de esperança, de sonhos e nostalgia. A vitória por 1-0 frente ao Sporting, com um madrugador golo de Marinho foi o concretizar de um sonho de gerações. Crianças, jovens e idosos, trajados de capa e batina, vestidos com camisolas negras ou até em tronco nu, meio Jamor estava 9

pela Académica como Gervásio, os irmãos Campos, Augusto Rocha, Jorge Humberto, Artur Jorge, Toni, Rui Rodrigues, Manuel António, entre tantos e tantos outros. Destaque ainda para as participações honrosas do clube nas competições europeias, nomeadamente para a participação na “Taça das Cidades com Feira” onde a Briosa é eliminada pelo Lyon no desempate por moeda ao “Sear.fosse poeta escreveria um soneto para expressar a alegria e orgulho que sinto em representar a Académica “Otaviano Oliveira, após a vitoria de 1939.

DO CAC AO ORGANISMO AUTÓNOMO e o nascimento da Mancha Negra Em 1974 /1975, após a extinção do futebol no seio da Associação Académica, é criado o CAC (Clube Académico de Coimbra), o reconhecido e legítimo herdeiro da AAC. Mas foi algo efémero, visto que em 1984 é criado o Organismo Autónomo de Futebol com o intuito de haver uma maior profissionalização no futebol, de modo a que o clube conseguisse, dentro das suas tradições, competir ao mais alto nível e, claro, manter vivo o nome ACADÉMICA. Apenas um ano volvido, nasce a 3 de Março de 1985 aquela que é a maior e mais reconhecida falange de apoio à Briosa: a Mancha Negra. Nascida com o intuito de apoiar a Académica nas mais diversas modalidades, mas com especial foco no futebol, a MN afirmou-se rapidamente como uma enorme referência no panorama Ultra Nacional. Daqui para a frente e até 2002 a Académica passa por períodos conturbados, marcados por problemas financeiros, tendo oscilado constantemente entre a 1ª e a 2ª liga.

pintado com as cores da AAC, meio Jamor chorou copiosamente no final. Eram as lágrimas de várias gerações. Eram as lágrimas e os sorrisos do povo que em 1939 havia sorrido. 73 anos depois, a Briosa voltava a erguer a Taça de Portugal, numa alegria e emoção sem precedentes. Foi o tocar do céu para qualquer adepto. Ainda em 2012, a Briosa volta a orgulhar os seus adeptos com uma honrosa participação na fase de grupos da Liga Europa. Destaque para a vitória frente ao Atlético de Madrid e para a deslocação de cerca de duas mil almas Briosas ao antigo Vicente Calderón. Mais uma página escrita a ouro, e um autêntico privilégio para quem o viveu. 2012, pode então dizer-se, foi quando o Academista “sorriu” verdadeiramente pela última vez. Descida ao inferno Em maio de 2016, a Briosa vê confirmada a descida à 2º liga, 14 anos depois. Como é de conhecimento, uma descida de divisão, hoje em dia, acarreta um enorme prejuízo para qualquer clube, fruto da inerente perda de receitas. Ainda assim, entre 2016 e 2022 a AAC esteve por 3 vezes perto da subida, tendo mesmo em 2017/2018 e 2020 /2021 ocupado durante várias jornadas os lugares de subida, mas não tendo conseguido capitalizar tal estatuto. Em 2021/2022 acontece algo inédito. Após uma época em que a Briosa não sobe de divisão por uma “unha negra” as expectativas seriam de uma nova aposta na luta para subir,

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Pela primeira vez na sua história, a Académica de Coimbra irá disputar em 22/23 um campeonato não profissional. Acabamos de cair numa realidade que nunca nenhum adepto da Académica experimentou e temos a perfeita noção de que os próximos anos poderão significar uma autêntica travessia no deserto. Uma descida à Liga 3 significa uma redução ainda maior das receitas (patrocínios, receitas de direitos televisivos, etc) num clube cujo passivo já ronda os 12M de euros. Significa também um desinteresse ainda maior no clube, numa cidade em que os simpatizantes e adeptos se têm vindo a desvincular progressivamente do clube, onde o apoio de empresas e indústrias da região é quase nulo. Estarão a Académica /OAF e os seus adeptos prontos para tamanha aventura? O nosso lema diz que se Ela jogasse no céu, nós morreríamos para a ver jogar. Sempre apontámos ao céu, e nunca ao inferno, mas por muito penoso e triste que a nossa condição atual possa ser, isso dá-nos ainda mais força e motivação para continuar a batalhar e lutar por ela. Pois a nossa missão é tentar fazer Dela um clube melhor e mais próximo dos seus valores a cada dia que passa. “A Académica, que se não define, porque é ideal que se vive. É amor com dedicação, e é essa a Académica. E é para ela que eu vivo. Viver e morrer com Ela é destino de homens. Viva a Nossa Académica” Por Francisco Sobral e Variações

ainda que os adeptos soubessem que seria difícil lutar contra outros clubes com outro tipo de argumentos. Mas o soco no estomago não poderia ser maior: últimos classificados com apenas 17 pontos, 62 golos sofridos e um estrondoso número de 23 derrotas numa só época!

Quem nunca ouviu falar do 12º jogador? A expressão foi usada pela primeira vez no contexto do futebol americano, numa revista publicada pela Universidade de Minnesota em Setembro 1900, na seguinte referência: “the mysterious influence of the twelfth man on the team”. A seu tempo, pela semelhança do número de jogadores entre as duas modalidades, a expressão 12º jogador iria ultrapassar fronteiras e acabaria por chegar ao nosso futebol.

O futebol tem um léxico característico e quem o conhece sabe que, apesar de só existirem 11 jogadores em campo, há sempre um elemento que costuma estar presente em todos os jogos.

Um elemento que é capaz de levar uma equipa aos ombros e empurrá-la para a vitória. Alguém que, mesmo não fazendo parte da convocatória, vai sempre a jogo! O 12º jogador são os adeptos e são eles os responsáveis pela atmosfera de apoio que encoraja a sua equipa para a vitória, mas que também é capaz de fazer tremer as pernas aos jogadoresElesadversários.estãoaqui desde o início, desde o tempo em que não havia bancadas e o terreno de jogo estava a um palmo dos seus olhos. São do tempo em que o jogo era apenas uma simples prática desportiva. Primeiro eram famílias e amigos, meros observadores mas, rapidamente passaram a apaixonados e, de repente, o jogo existia, não só pela sua prática, mas também por eles! Não fossem os enormes contributos e apoio dos adeptos, e o futebol era apenas uma modalidade como muitas outras, com pouca expressão.A encorajar os seus jogadores desde a bancada, ou simplesmente a provocar o adversário, os adeptos tornam-se obreiros de muitos resultados. O vazio nos estádios, resultante das restrições à COVID, demonstraram que até mesmo para aqueles que assistem ao jogo através de um ecrã, os adeptos são fundamentais para dar vida ao espectáculo pois sem eles tudo parece mais artificial. Não é à toa que o factor casa é tão mencionado pelos jogadores da bola, eles sabem a importância que os adeptos têm nos seus pés, na sua mente e no seu coração. A leitura do adepto que apenas incide em factores económicos e comerciais, embora continue a ser praticada, está totalmente ultrapassada. Os adeptos são a alma do jogo! Assim, também não é por acaso que o Rangers informou que a partir da época 2011/2012 a camisola com o número 12 ia ser retirada para ficar exclusivamente para os seus adeptos, com a justificativa de estarem sempre ao lado do

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O NÚMERO 12 E OS ADEPTOS

clube mesmo após os graves problemas que o clube sofreu. Cá em Portugal, ainda antes desta situação, a 29 de Outubro de 2010, por iniciativa de um grupo de adeptos, o Vitória Sport Clube viu aprovado em Assembleia Geral um ponto que visava retirar a camisola 12 aos jogadores, para a atribuir aos adeptos, numa clara manifestação de homenagem. Este fenómeno não é geral, mas aconteceu em alguns pontos da Europa onde, vários clubes, também retiraram o número 12 para o entregar aos adeptos. 2“...–

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DISCUSSÃO E APRECIAÇÃO DA PETIÇÃO PARA A RETIRADA, A TÍTULO DEFINITIVO, DA CAMISOLA 12 COMO HOMENAGEM A TODOS OS ADEPTOS VITORIANOS, IMORTALIZANDO O SEU CONTRIBUTO DECISIVO NA HISTÓRIA DO CLUBE, APRESENTADA PELA ASSOCIAÇÃO VITÓRIA SEMPRE; ...” Por curiosidade, são várias as referências ao número 12, desde nomes de fanzines a nomes de grupos. Por cá, falando da Cultura de Bancada, também nós fizemos questão de usar a simbologia do número 12 para elevar, à nossa maneira, a importância do adepto. Essa é a razão pela qual, de dois em dois meses, esteja reservado o dia 12 para o lançamento de um novo número deste projecto e o facto do presente número da Cultura de Bancada ser também o número 12 é o mote para esteSótexto.que, na verdade, aos adeptos não é dado o devido respeito e reconhecimento, às vezes reservam-nos umas poucas palavras, simpáticas e oportunas, como se fossem um prémio de consolação pela nossa intervenção activa junto dos clubes que os nossos antepassados criaram e nós ajudamos a crescer. Cada vez mais, para o bem dos nossos clubes, urge a necessidade dos adeptos erguerem a sua voz para reclamarem o lugar a que têm direito. Ninguém sua a camisola (12) como nós! Por J. Lobo Ponto da Ordem de trabalho da Assembleia Geral

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Há mais de 12000 anos que o território argentino é povoado. Inicialmente pelo povo indígena que mais tarde viu o Império Inca ocupar o norte do país. Em 1516, dá-se o início da colonização levada a cabo pelos espanhóis. Também nós, portugueses, fazemos parte da história do país das pampas, visto que em 1776 os índios guaranis e os espanhóis entraram em conflito armado com os portugueses, numa disputa pela exploração mineral no Rio de la Plata. O início do século XIX trouxe ao povo argentino períodos de grande instabilidade, com uma guerra com os ingleses, que tentaram conquistar o país em 1806. Dez anos mais tarde, os argentinos viriam a festejar a independência da sua nação. A independência da Argentina foi seguida por disputas de territórios, o que originou uma guerra civil duradoura. Entre esses valentes anos de conflito, eis que em 1840 desembarcam alguns ingleses nos portos de Buenos Aires em busca de mais qualidade de vida. Levaram consigo o gosto pelo desporto, principalmente pelo Futebol e reza a lenda que foi a chutarem uma bexiga de vaca para balizas feitas de pedras que começaram a fomentar a prática do “Foot-ball” naquele país. Mais e mais britânicos foram chegando, espalhando-se pelo território argentino, muito pela melhoria da rede ferroviária, tendo surgido de seguida os primeiros colégios bretões.

Quase dois anos depois, voltamos a “viajar” até à América do Sul. A nossa “expedição” tem como objectivo aprofundar o conhecimento sobre um movimento de apoio peculiar, que tem no fervor, no entusiasmo e na paixão dos “hinchas” as características que contagiam quem vê de fora o “carnaval” que criam. O nosso “destino” é interessante. Pode dizer-se que é um país de belos e ricos recursos naturais, que é o terceiro mais populoso do sul americano e que se destaca naquele continente pela sua economia e mais alguns indicadores sociais, como ser o maior produtor alimentar continental. Naturalmente, falamos da Argentina.

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O ano de 1853 ficou marcado pelo término da guerra civil e pela promulgação da Primeira República da nação. Já em Maio de 1867, os irmãos Hogg publicaram um edital no jornal “The Standard” a convidar os leitores a participar numa reunião para fomentar a prática do Futebol. Em dias fundou-se o “Buenos Aires Foot-

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Ball Club”, que no dia 20 de Junho de 1867 realizou o primeiro jogo de Futebol “a sério” no território Argentino, disputado por duas equipas do seu clube. Os bretões continuaram a procurar viver no país da Patagónia, facto comprovado pela chegada de muitas dezenas de milhares britânicos entre 1880 e 1882. Por essa altura, um dos imigrantes foi Alexander Watson Hutton, natural da Escócia e considerado o “pai” do Futebol argentino. O professor Watson Hutton chegou à Argentina formado em Filosofia e com algumas bolas de couro nas malas. Inicialmente, lecionou no Saint Andrew’s School, no qual difundiu a prática desportiva entre os alunos, com foco naquele que viria a tornarse o desporto-rei. Dois anos depois, fundou a “English High School”, continuando o seu caminho de impulsionar o desporto. Desde cedo que a Argentina se destacou no âmbito organizacional, aparecendo a primeira associação de clubes em 1891, denominada por “Argentine Association Football League”. Esta entidade foi responsável pela organização do primeiro campeonato, disputado em Buenos Aires, que teve como campeão o Saint Andrew’s School. Apesar disso, não era consensual entre todos, o que levou a que o Quilmes Rowers não participasse no torneio e não apoiasse a associação. O Quilmes Rowers foi fundado por Watson Hutton e era considerada a principal equipa da altura. Em fevereiro de 1893, alguns clubes participam na fundação de outra associação, que contou com o mesmo nome da anterior e com o apoio do professor escocês. Foi essa nova associação que hoje é conhecida por “Asociación de Fútbol Argentino”, a actual federação nacional. Trata-se da federação mais antiga e da primeira a afiliar-se à FIFA na América do Sul. Cada vez mais o Futebol despertava o interesse das pessoas, num país com uma grande “mancha” espanhola e italiana. Os nativos também se iam afirmando enquanto futebolistas, ao passo que a influência britânica ia decrescendo e o Futebol começava a representar não só uma actividade lúdica, como também um ritual entre as comunidades mais desfavorecidas. Diferentes ideias levaram que se fundasse outra associação de clubes, de seu nome “Associación Amateurs”, que organizou um outro campeonato durante vários anos.

corria o ano de 1927 e o primeiro lugar do campeonato estava a ser disputado por San Lorenzo, Boca Juniors e Huracán. Sentindo que o San Lorenzo estava em boas condições de chegar à glória,

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É a partir dessa década que se formam os primeiros grupos de apoio mais entusiastas. Estes conjuntos pouca organização tinha e praticamente só compareciam nos jogos caseiros. Tradicionalmente tornou-se muito difícil jogar como visitante, visto que os argentinos faziam de tudo para influenciar o jogo através do “factor casa”. Isto contribuiu para uma escalada de violência, para a qual a polícia muito contribuiu, uma vez que a mesma nada impedia, chegando muitas vezes a participar em agressões contra quaisquer elementos forasteiros. Este tipo de situações mexeu com os “hinchas”, levando a que a presença de visitantes aumentasse apesar das dificuldades para viajarem.Adiante…

Em 1913, dá-se o primeiro episódio de violência digno de registo. River Plate (1901) e Boca Juniors (1905) disputam uma das maiores rivalidades a nível mundial, apesar de ambos os clubes terem sido fundados no bairro La Boca em Buenos Aires. Acontece que o primeiro jogo disputado entre ambos data de 24 de Agosto de 1913, o qual terminou com uma vitória do River Plate por 1-2. O final do jogo ficou marcado por agressões físicas entre adeptos de ambos os emblemas. Nos anos 20, o povo viveu uma fase do crescimento económico, tal como viu o seu gosto pelo Futebol a aumentar. Exemplo disso é a história de Victoriano Caffarena, que em 1925 ganhou a alcunha de “jugador número 12”. No ano anterior, o Uruguai fez furor em Paris, ao conquistar a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos em Futebol. A federação argentina quis aproveitar o sucesso dos vizinhos e propôs aos clubes que fizessem uma digressão à Europa, na qual passariam por três países. Com as contribuições de quatro adeptos, o Boca Juniors conseguiu seguir viagem. Um desses filantropos era Victoriano Caffarena, que aproveitou e acompanhou a equipa na digressão, apoiando nas bancadas e peões, sofrendo, vibrando e não só. Na altura o jovem, de 22 anos, ajudou como massagista, roupeiro e chefe de delegação, passando a ser reconhecido entre os atletas como o 12° elemento, durante os cinco meses de estadia na Europa.

adeptos dos outros dois clubes unem-se para bater nos jogadores do clube blaugrana e em árbitros. Numa altura em que faltavam sete jornadas para o final do campeonato, não satisfeitos, alguns adeptos do San Lorenzo que paravam no Café Dante muniram-se de bastões de borracha e enfrentaram todas as massas adeptas que encontraram nessas últimas partidas, fossem de que clube fossem, pois sabiam que nelas estariam infiltrados adeptos do Boca e do Huracán. Nasceu assim a “Barra de la Goma” (“goma” quer dizer borracha, em clara identificação dos bastões), que ocupou parte da “tribuna” coberta do Estádio El Nuevo Gasómetro e daí partiu para a violência até ao sector visitante. Facto é, que o San Lorenzo, no final da época, festejou o título e o grupo dissolveu-se. Mais tarde, alguns antigos membros deste colectivo criaram a “Banda de la Tribuna Chica”. O país era governado por governos totalitários, um dos quais foi liderado por Juan Domingos Perón entre 1946 e 1955. Viveu um período dourado ao que em desenvolvimento económico diz respeito. Perón acabaria deposto, após golpe militar. E é em Avellaneda que surgem dois grupos históricos no panorama argentino, um de cada “lado” da cidade. Em 1958, foi fundada “La Guardia Imperial” afecta ao Racing Club, ao passo que apareceu a “La Barra del Rojo” para apoiar o Independiente, também durante a década de 50, embora sem data definida. Quanto à “La Guardia Imperial” pode dizer-se que é o grupo de apoio mais antigo do seu clube, se não o mais antigo em actividade de todo o país. Esta “barra” é fonte de inspiração no mundo, sendo exemplo disso a ligação que tem actualmente com a “Geral do Grêmio”, um dos poucos grupos brasileiros virados para a estilo de apoio Oargentino.anode58 fica também marcado por um jornalista usar, pela primeira vez na história, o termo “barra brava” para nomear um grupo de adeptos violentos. Foi na sequência da morte de um “hincha”, de seu nome Alberto Liniker, com apenas 18 anos. Num jogo contra o Vélez Sarsfield, um dos “populares”, houve confrontos entre “hinchas” do River Plate e a polícia. Um agente disparou uma munição de gás lacrimogéneo e matou à queima roupa Lineker, que foi atingido na cabeça.

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Também no decorrer de 1958, dá-se a criação de mais uma “barra” do San Lorenzo, que se “juntou” à já falada “Banda de la Tribuna Chica”. A convivência entre ambos os grupos era boa e houve uma evolução no apoio. No seguinte ano, os mesmos deslocaram-se para uma “tribuna” localizada atrás duma baliza, lançando vários cânticos que tiveram grande impacto no movimento de apoio da nação, levando a que muitos adversários copiassem os seus originais. Outra iniciativa marcante da “hinchada del Ciclón” foi a introdução das cascatas de papel higiénico e papel cortado à entrada da equipa em campo. Um célebre adepto começou a aparecer nos jogos com um saco de sarapilheira, usado para guardar batatas, cheio de papéis e assim fomentou algo que ainda é muito usual. Esta aproximação dos grupos foi o “rastilho” para a criação da “La Gloriosa Butteler”. A partir daí, o caminho para abrilhantar o espetáculo desportivo foi aumentando. Ao longo dos anos a “cultura del aguante” foi sendo desenvolvida em vários clubes no quais surgiram, por exemplo: “Los Piratas Celestes de Alberdi” (1968 – Belgrano), “La Barra del Cocusa” (1969 – Boca Juniors), “La Barra de Fierro 22” (1970 – Gimnasia y Esgrima), “Los Borrachos del Tablon” (anos 70 – River Plate), “Los Guerreros” (Rosario Central) e “La Banda Descontrolada” (1974 – Los Andes).

O espetáculo proporcionado nas “populares” é algo de entusiasmante e, para isso, os grupos usam bombos e testos para marcar o ritmo da “fiesta e carnaval”. Também as bandeiras foram surgindo, tendo sido aumentadas as suas dimensões a cada passo. Os líderes e demais entusiastas subiam para cima das “paravalanchas” (varandins anti-avalanches) para puxarem cânticos e retirarem dos outros mais e mais apoio. Apareceram também os “tirantes”, algo muito característico daquele movimento, que são as faixas que estão presas de cima a baixo da “popular” e que suportam a faixa principal dos grupos. Importa referir que antes dos jogos, os grupos costumam organizar churrascos que são seguidos da preparação da bancada, montando a “banderas” e “trapos” (panos), preparação dos instrumentos musicais da própria banda. Algo também muito bonito de se ver é a entrada da banda na bancada, muitas vezes acompanhada por adeptos que brincam com guarda-chuvas pintados com as cores do seu clube, momentos esses que contagiam toda a bancada. Muitas

vezes, à entrada da equipa os “telones” cobrem a “popular”, eles que na nossa língua são denominados de “panal”. Na década de 90 continua a crescente onda de fundação de grupos e também um aumento brutal da violência, passando o uso de armas a ser o “prato do dia”. Infelizmente, o apoio aos clubes é ultrapassado por outros interesses e o crime organizado toma as bancadas. Grande parte das lideranças foi tomada por pessoas que não estavam focadas nos grupos e clubes, dando primazia a uma enorme promiscuidade com os dirigentes dos clubes que, supostamente, financiavam os grupos. Os bilhetes e as deslocações pagas aos colectivos de apoio passaram a ser negócio e abriram espaço a que muitos “barra bravas” trabalhassem e trabalhem como seguranças de dirigentes e até de políticos. O tráfico de drogas infiltrou-se em massa e as disputas pelo poder dos grupos tornou-se banal, com tiros e facadas contra membros do mesmo grupo e contra rivais a tirar a vida a muita gente. Até aos dias de hoje, entre 250 a 350 vidas de adeptos foram ceifadas. Não esquecendo que, para isso, também contribuiram algumas actuações policiais. Apesar de tudo isto diminuir em muito a imagem dos “hinchas”, a realidade é que o brilho que emanam durante 90 minutos é de tal ordem que encanta qualquer um. L. Cruz

Por

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Ultras Gil Boys Gil Vicente x Frente1994/1995SalgueirosFlavienseChavesxFCPorto1995/1996 MEMÓRIAS Da BANCADA 20

Insane Guys Vitória SC x 1995/1996SalgueirosCUCFCaldas x 1995/1996Beneditense 21

Non Stop Boys Felgueiras x LeçaUltras1995/1996SalgueirosLeçaxSalgueiros1995/1996 22

UniãoEspinhoDesnorteadosxSporting1996/1997PapaTintosdeLamasxFCPorto1995/1996 23

MarítimoTempláriosxSalgueiros1997/1998ManchaNegraFCPortoxAcadémica1997/1998 24

Fighters Boys Famalicão x Red1998/1999FafeBoysSC Braga x FC 1997/1998Porto 25

Frente Leiria FC Porto x BelenensesFúria2001/2002LeiriaAzulxFarense1999/2000 26

Furacões Sadinos Vitória FC x FC Porto SantaUltras2001/2002SantaClaraxFCPorto2001/2002 27

White Angels Vitória SC x FC Porto LeixõesUltras2002/2003LeixõesSCxMarítimo2001/2002 28

Diabos Vermelhos SL Benfica x FC PortoColectivo1998/1999Ultras 95 FC Porto x 2001/2002Varzim 29

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Eléctrico FC x SC Braga/AAUM | Play-off Futsal Dupla deslocação da Bracara Legion a Ponte de Sor, num intervalo de dois dias (uma numa 6ª feira e outra num Domingo), a contar para os quartosde-final do campeonato de futsal. Estamos a falar em viagens entre duas localidades separadas por mais de 300 quilómetros, o que torna ainda mais especial este apoio. A equipa bracarense acabou por perder estes dois encontros, depois de ter vencido o primeiro em sua casa, não conseguindo a passagem às meias-finais.

116º aniversário do Sporting | 01-06-2022 Os ultras do Sporting fizeram questão de comemorar mais um aniversário do seu clube. De salientar duas tochadas diferentes junto ao seu estádio. Uma do Directivo, a outra (e com um espectáculo de relevo) por parte da Juventude Leonina.

Sporting CP x SL Benfica | Play-off Hóquei em Patins Cinco jogos intensos entre os rivais lisboetas (três em casa do Sporting, dois na Luz) nestas meias-finais do campeonato, com bom ambiente em praticamente todos eles. Houve presenças de adeptos visitantes, grupos dispersos por várias bancadas (o Directivo, por exemplo, ficou atrás de um dos bancos nos encontros no Pavilhão João Rocha). De lamentar uma carga policial, na última partida, sobre a Juventude Leonina, com imagens a mostrarem um cenário de violência gratuita por parte dos agentes da PSP. Esse derradeiro duelo sorriu ao Benfica, que passou à final.

De realçar que, no quarto jogo, em casa do Benfica, houve uma invasão durante o intervalo, até junto da tribuna presidencial, por parte de vários elementos dos Diabos Vermelhos, que obrigaram à saída de Luís Sénica, actual presidente da Federação Portuguesa de Patinagem, que, curiosamente, já foi treinador dos encarnados.

Sporting CP x SL Benfica | Play-off Futsal Terminamos aqui o registo dos vários clássicos das modalidades, sendo que foi o play-off mais curto (uma vez que o Sporting venceu os três jogos), mas provavelmente os mais animados e com melhores ambientes. Duas partidas realizadas no Pavilhão João Rocha e a outra na Luz, que contou sempre com grupos organizados em quase todas as bancadas. O Directivo voltou a situar-se atrás de um dos bancos, nas partidas em Aindacasa.por causa dos acontecimentos que ocorreram no hóquei em patins, a Juventude

FC Porto x SL Benfica | Play-off Hóquei em Patins Infelizmente, sem presença de visitantes como tem sido habitual nos jogos das modalidades de pavilhão entre estes rivais. Foram três encontros no Dragão Arena e dois na Luz sendo que, nos cinco, o factor casa prevaleceu sempre no que ao resultado dos encontros diz respeito. O Porto acabou, portanto, por ser campeão nacional, levando a uma grande festa final entre os adeptos e os jogadores. No geral, os pavilhões estiveram bem compostos e com grandes ambientes, como é natural neste tipo de momentos.

GD Aldeia Nova x CD Aves 1930 | 12-06-2022 A Força Avense marcou presença em bom número em Folgosa da Maia, neste encontro a contar para o Apuramento de Campeão da 1ª Divisão Distrital da AF Porto. A sua equipa até perdeu e, praticamente, hipotecou as aspirações de vencer essa divisão (mesmo que a promoção já estivesse consumada). Ainda assim foi uma bancada bem preenchida e com um apoio de se fazer notar. De salientar que, no dia anterior, este grupo também se deslocou a Penafiel para apoiar a sua formação de futsal.

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Leonina apresentou-se no jogo inicial com a seguinte mensagem numa tarja: “Liberdade para os Ultras”. No único encontro realizado no reduto do Benfica, de referir que houve mesmo confrontos entre alguns adeptos rivais após o mesmo.

Primeiro treino aberto do Vitória SC | 02-072022 Momento pouco habitual para a realidade portuguesa. Cerca de 500 adeptos do emblema vimaranense estiveram presentes na Academia do Vitória para incentivar a sua equipa, neste que foi o primeiro treino com direito a receber público. O material, pirotecnia, aplausos e cânticos deram bastante vida ao momento. Treino aberto no Estádio do SL Benfica | 03-072022 Segundo as informações divulgadas pelos encarnados, estiveram presentes 23.470 adeptos neste primeiro treino aberto. Um número de salientar, sendo um dos maiores registos, nesse aspecto, nas estatísticas nacionais. Apesar da desilusão desportiva nas últimas épocas, os benfiquistas mostraram estar motivados com a nova equipa técnica e plantel. Leixões SC x SC Braga | 09-07-2022

Jogo de futebol de praia realizado em território portuense, mas na fronteira com Matosinhos, o que fez com que os leixonenses se mobilizassem em bom número no apoio à sua equipa. Os seus ultras animaram constantemente numa bela tarde de Sábado à beira-mar, mesmo com a pesada derrota sofrida (3-10). Primeiro treino da época do Varzim | 17-072022 Perto de 800 adeptos estiveram presentes no primeiro treino oficial dos varzinistas. Estamos a falar de um conjunto que acabou de ser despromovido para o terceiro escalão nacional! Uma manhã de fidelidade incrível para os apoiantes do emblema poveiro, com destaque para o grupo Os De 1915, que fez questão de mostrar tarjas e abrir pirotecnia, num claro sinal que está mais próximo do que nunca da sua equipa.

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Aproximadamente 4.000 simpatizantes do clube vimaranense estiveram presentes na Plataforma das Artes e Criatividade, numa noite de Domingo em que houve a apresentação do plantel.

Vitória SC x Puskás Akadémia FC | 21-07-2022

Meia casa no primeiro jogo oficial do Vitória, num encontro europeu com um bom apoio e com um resultado que deixou a equipa confortável para garantir a passagem à fase seguinte. Porém, foi manchado com lamentáveis acontecimentos ocorridos durante o intervalo da partida, em mais um episódio de repressão policial. Neste caso, contra os ultras que se localizavam na bancada Durantenascente.os festejos de um dos golos no primeiro tempo, um pequeno tubo de uma bandeira foi parar ao relvado. Sob esse pretexto, houve uma intervenção policial, para tentar deter um adepto, uns minutos mais tarde. Os ultras lá presentes uniram-se para evitar, o que provocou uma reacção completamente desproporcionada por parte da polícia. Até ficou registado o momento em que um dos agentes estava de ‘shotgun’ levantada em direcção frontal aos adeptos, que se encontravam a escassos metros. Tudo isto levou a que o início da segunda parte fosse adiado. Apresentação da equipa do Varzim | 23-07-2022 Decorreu durante quatro dias o “Convívio Varzinista”. Uma tenda montada no centro da cidade da Póvoa de Varzim, com animação, som, entre outras actividades, dedicada aos adeptos do clube do concelho. Na terceira noite, no Sábado, o conjunto poveiro decidiu lá fazer a apresentação da sua equipa aos simpatizantes, estimando-se cerca de 1.500 pessoas presentes nesse momento, dando sequência ao espírito de fidelização dos apoiantes do Varzim, pese embora a recente desilusão que tiveram com a descida de divisão.

Sporting CP x Sevilla FC | 24-07-2022

Apresentação da equipa do Vitória SC | 17-072022

Um dos jogos mais animados da pré-época, especialmente se considerarmos o contexto fora

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Benfica x Newcastle United FC | 26-07-2022

Puskás Akadémia FC vs Vitória SC | 28-07-2022

Nota para o bom registo pirotécnico dos No Name Boys, durante o encontro para a Eusébio Cup, que deu cor à parte superior do anel superior da bancada sul da Luz. Uma boa casa, tendo em conta tratar-se de um amigável, com mais de 45 mil adeptos presentes.

das quatro linhas. Uma visita dos ‘sevillistas’ a Portugal acaba sempre por ser interessante, e desta vez não foi excepção. A Biris Norte organizou uma turma com dezenas de elementos, que foram percorrendo as ruas lisboetas durante o dia. Do lado sportinguista, um jogo interessante para observar os novos posicionamentos dos seus diversos grupos, especialmente depois das notícias dos vários protocolos estipulados com a direcção. Por exemplo, o Directivo regressou, como era sua vontade há algum tempo, à bancada norte, enquanto a Brigada se deslocou, sem mudar de bancada (na sul), para a Zona com Condições Especiais de Acesso e Permanência de Adeptos (ZCEAP). O ambiente foi, portanto, algo diferente do que tem sido ao longo das últimas épocas, com diversos cânticos vindos de vários locais do estádio, com os visitantes também a fazerem-se ouvir.

Algumas dezenas de vitorianos deslocaram-se até Felcsút, na Hungria, carimbando a passagem à terceira pré-eliminatória da Liga Conferência, graças ao bom resultado levado da primeira mão. Não faltou, portanto, apoio à equipa vimaranense, que agora vai ter dois duelos europeus bem interessantes contra o Hajduk Split! SC Braga x RC Celta de Vigo | 29-07-2022

Jogo de apresentação do Braga contra a equipa galega que tem algum historial de acções neste tipo de encontros em território nacional. Os “celtarras” não desiludiram e marcaram presença, mesmo com a partida a ter lugar numa 6ª feira. Uma turma do grupo Tropas de Breogán, com algumas dezenas de elementos, apareceu em território bracarense sendo que os ultras

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O jogo de apresentação dos trofenses foi marcado por alguns acontecimentos algo inesperados e espontâneos. Os ultras boavisteiros aproveitaram a tarde de Sábado para fazer a curta deslocação até à cidade da Trofa e assistir a um encontro que decorreu sem policiamento. Durante o intervalo, os Ultras Trofa ausentaramse da bancada, deixando lá algum do seu material. Os boavisteiros não deixaram escapar a oportunidade e ficaram com duas bandeiras, o que fez com que os momentos de tensão se estendessem até ao exterior do estádio.

Primeiro jogo oficial da época em Portugal, com direito a um bom ambiente em Aveiro. À imagem do que se passou no Jamor na final da Taça, os portistas ocuparam a grande maioria do estádio e tiveram naturalmente o maior destaque a nível de apoio, em que o próprio resultado também contribuiu naturalmente. De qualquer maneira, nota também para a presença tondelense, que fez questão de ter um bom momento com a sua equipa, no final da partida, pese embora a derrota. Apresentação da equipa do Braga | 30-07-2022

O SC Braga regressou com o “Braga Day”, uma iniciativa para os bracarenses ao longo do dia, que terminou com a apresentação do plantel à noite. A verdade é que este último momento teve uma excelente moldura humana, com magníficos registos fotográficos, em que a pirotecnia contribuiu para isso.

SL Benfica x FC Arouca | 05-08-2022

braguistas tentaram atacá-los, o que despoletou alguns incidentes com a polícia.

CD Trofense x Boavista FC | 30-07-2022

Destaque para uma tochada dos No Name Boys, novamente na parte superior do último anel da bancada sul, que embelezou aquela zona do estádio. Uma excelente assistência no primeiro jogo do campeonato, com um apoio constante ao longo do encontro, em que o resultado positivo ajudou a isso.

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FC Porto x CD Tondela | 30-07-2022

Ou apenas mais sorrateiros do que eu. Em Vladivostok tive um jet-lag duro. Nunca tinha acontecido antes, mas há sempre uma primeira vez… Reuni-me com os outros tipos de Moscovo, eramos mais ou menos 10. Mais de metade deles estava sob o efeito do Capitão Rum, um verdadeiro e forte espírito local. Conheço um tipo do Spartak de Moscovo que viajou de Vladivostok de volta a Moscovo de comboio (7 noites na estrada!) e bebeu Capitão Rum durante a viagem toda. Durante o tempo todo, ele apenas soletrou duas palavras mas, os seus amigos, não conseguiram reconhecer o que ele disse e encheram o seu copo de Rum uma e outra vez.Os adeptos de Lutch são neutros para com o Torpedo, pelo que nada deveria acontecer antes do jogo, o futebol moderno como ele é. Tentei encontrar algum bar com adeptos ou apenas adeptos de Lutch. Literalmente, perguntei a estranhos na rua perto do estádio sobre bares com Ultras do Lutch mas, normalmente, eles apenas me perguntavam de volta: “o que é o

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O meu sonho era simples. Apoiar a minha equipa o mais longe possível, sou eu ou não. Graças ao calendário, o nosso jogo contra Luch Vladivostok foi marcado para Agosto e eu comecei a planear no início do Verão. Havia tantas formas de passar quase um dia na estrada, se o voo era directo ou não - por causa dos fusos horários e da diferença de 7 horas entre duas cidades. Escolhi não voar via Irkutsk, com um dia no lago Baikal, algo que foi escolhido pelos meus camaradas, mas voar sozinho para Khabarovsk e depois tomar o comboio da noite com turistas chineses para Vladivostok. Muito bem, viagem marcada e tudo preparado, aqui vamos nós. Não imaginam, foi duro. Por sorte, duas cadeiras perto do meu lugar estavam vazias. Um sono pesado, patrocinado pelo álcool, e um sonho verdadeiramente limpo, que me leva para muito longe de casa, são as únicas companhias que preciso.Não tenho boas palavras sobre Khabarovsk, encontrei-me com um maluco local com a sua própria cabra a apenas 10 minutos a pé do centro da cidade, é assim que me lembro da cidade.Parte da minha viagem de comboio, entre Khabarovsk e Vladivostok, foi passada na carruagem da restauração na companhia de uns chineses. Tinham a mesa cheia de vodka e comida, eles gostam de gastar dinheiro onde quer que possam. A meio do caminho, ainda tirei umas fotos deles às escondidas. Imagino a minha surpresa quando estes tipos vieram ter comigo, no miradouro de Vladivostok, e mostram fotos minhas em carne e osso. Ratazanas sorrateiras!

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Lutch? Oh, futebol, não estou interessado”. Infelizmente, o futebol em Vladivostok já não interessava aos cidadãos. Dia de jogo. 27 rapazes e raparigas de Moscovo e de outras cidades no estrangeiro e um adepto local, velhote que apoia o Torpedo há muitos anos. Um dos nossos homens fez uma viagem de comboio a Vladivostok, durante 7 noites. Não sei como e porquê, mas ele veio com um tipo coreano que encontrou no comboio. Perguntei-lhe sobre a língua que eles falavam e a resposta foi “espanhol”. Está bem, um coreano na nossa bancada que fala coreano ou espanhol. Muito bem, coisas Ganhámosestranhas.1-0e,graças aos nossos jogadores que entraram em campo logo após o voo de Moscovo e venceram um adversário forte. Um bom e velho estádio com pistas de atletismo e o nosso sector visitante a apoiar a equipa durante o jogo todo. Foi um orgulho para mim por estar presente, perto da equipa, sem pensar na distância percorrida. Passei mais dois dias sozinho em Vladivostok com jet-lag, experimentei todas as cervejas coreanas e chinesas e toneladas de macarrão. Nenhuma loja de adeptos de Lutch foi encontrada, mas encontrei-me com um bom rapaz de um grupo de adeptos activos de Lutch que ainda é meu amigo nos dias de hoje. Apoia a tua equipa em todo o lado onde puderes, um dia poderão ser boas recordações.

Por Stepan Romanov

Ao longo dos anos assistimos a jogos de futebol suspensos pelas mais variadas razões: chuva, neve, granizo, vento, tempestades, invasões de campo por adeptos, rixas, entrada em campo de cães, gatos, galinhas, enxames de abelhas, vespas, gafanhotos, exibicionistas nús, etc. etc. Mas o que vamos contar agora é absolutamente extraordinário: houve um jogo interrompido devido ao avistamento de um OVNI!!! Era uma friorenta quarta-feira de outubro de 1954 (mais precisamente dia 27); no estádio Artémio Franchi, em Florença, decorria o jogo do Campeonato de Reservas entre a Fiorentina e a Pistoiese (Pistoia é uma cidade a cerca de 40 km de Florença). A bancada estava bem composta: 10000 adeptos para um jogo marcado ao meio dia, numa quarta feira, é obra. Francesco Rosetta, lenda “viola”, depois de uma modesta primeira parte, incentiva os companheiros para começar o segundo tempo com mais vigor. Não deu grande resultado: começa a partida e…golo da Pistoiese. O público começa a ficar inquieto, mas não pelo resultado; começam a levantar-se vozes “OLHA LÁ! OS OVNI LÁ NO CÉU!!!”. Um estádio inteiro levanta a cabeça e olha um objeto que realmente parecia

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um OVNI. Entretanto, os vestuários dos presentes enchiam-se de esquisitos e pegajosos filamentos. O árbitro apita três vezes suspendendo o jogo. No seu relatório escreveria “jogo interrompido pela presença de qualquer coisa no céu”. Mas o que terá sido? Realmente os OVNI apareceram? Assustava esta substância pegajosa que caía como se fosse neve. A imprensa nacional especulou sobre tudo, aumentando ainda mais a histeria coletiva que naqueles dias se espalhou em Florença.

Uma investigação do CICAP (Comitato italiano per il Controllo delle Affermazioni sul Paranormale) referiu que, naquela semana, estavam a ser realizados exercícios militares que usavam instrumentos que criavam reflexos no céu. Uma hipótese plausível… No que diz respeito aos filamentos, deveu-se a um fenómeno natural chamado balooning, com o qual algumas espécies de aranhas emigram. Estas aranhas produzem longos filamentos esbranquiçados que, levados pelo vento, levantam as aranhas e as transportam por longas distâncias. O período da migração destas aranhas, coincidiu com este mês de outubro de avistamentos. O fenómeno foi objeto de inúmeros documentários; não sabemos, de fato, o que aconteceu na realidade, quer se acredite ou não nos OVNI. Única certeza: o jogo retomou e a Fiorentina ganhou 6-2! Por Eupremio Scarpa

Falando do exemplo que nos atinge, é necessário referir, para um enquadramento nacional, que em Portugal existe uma agenda para reforçar a utilização destes meios de identificação de pessoas. De uma forma algo sarcástica recordo o caso onde a propósito da falsificação de assinaturas, as famosas presenças-fantasmas, em dezembro de 2018, foi noticiado que os parlamentares rejeitavam o recurso a dispositivos de identificação por dados biométricos na Assembleia da República. Mais tarde, em 2019, os deputados não tiveram outra hipótese e foi implementado um controlo biométrico. A partir daí começaram a dizer a palavra “sim” após a colocação das próprias credenciais (username e password), impedindo que outros deputados tivessem a possibilidade de marcar a presença de terceiros de uma forma ilegítima. Em 2021 o Governo avançou com a proposta de aumentar o recurso a estes meios contrariando a posição da Comissão Europeia que considera ser uma utilização de alto risco da inteligência artificial e quer limitar o uso de sistemas inteligentes de videovigilância por parte das polícias, de modo a travar o que está a acontecer por toda a Europa. Deixo uma das

DADOS BIOMÉTRICOS E VIGILÂNCIA TECNOLÓGICA

Entendemos por dados biométricos as características físicas que nos tornam seres únicos e, por isso mesmo, nos distinguem. São detalhes próprios como as nossas feições, a nossa voz e as impressões digitais. A biometria é o estudo dessas propriedades, em especial para verificação automática de uma identidade. Algo que, de resto, só é possível graças, por exemplo, a sistemas de leitura da impressão digital, reconhecimento facial, identificador de íris ou o reconhecimento de voz.

Muitos progressos já foram feitos neste campo tecnológico, mas ainda há muitas discussões a fazer sobre as suas vulnerabilidades. Desde logo, o risco de sistemas biométricos serem enganados por hackers ou outros indivíduos mal-intencionados ou até os problemas de privacidade e consentimento sobre os dados compartilhados a par do desvirtuamento da utilização, abrindo a porta a que o cidadão veja os seus dados partilhados em situações que não aceitou.

A realidade negativa desta tecnologia não fica por aqui e já existem dados que suportam esse seu lado como o exemplo em que, por consequência da recolha de características físicas e comportamentais por parte da polícia de South Wales, foram gerados 2.400 falsos positivos após a análise das imagens reunidas em jogos de futebol da UEFA, entre outros. A isto acrescentamos que, ao sustentarem as investigações numa identidade falsa, a polícia poderá estar a prejudicar o desenvolvimento do seu trabalho, para não falar da vida do cidadão que erradamente foi identificado. Não obstante todas as vantagens, que também existem, a ameaça de uma cultura de videovigilância acabará com a sociedade civil da forma como a conhecemos.

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várias citações que merecem destaque: “a sua utilização em tempo real em espaço de acesso público para propósitos de forças de segurança é, por princípio, proibido”, embora devamos considerar que haja algumas excepções. Após esta introdução do tema, trago agora aquela que é a parte essencial, por se definir como objecto deste texto, a utilização de dados biométricos e a vigilância tecnológica em recintos desportivos - com foco especial nos estádios de futebol. Já vimos que a tecnologia de reconhecimento facial não é boa nem má, tratase apenas de uma ferramenta. A questão está no tipo de utilização que se dá a essa ferramenta, e é isso que preocupa diversos de grupos de direitos de privacidade, que fazem uma forte oposição à utilização destes sistemas por parte de clubes como o Manchester City, o Brondby IF ou até, no caso português, o Vitória Sport Clube. A vontade da aplicação destes meios tecnológicos tem como argumento a necessidade de controlar o acesso aos recintos desportivos dos adeptos que se encontram com medidas de interdição, mas também cumprem o propósito de identificar possíveis violações da conduta aceite. Seja através de varreduras integrais das bancadas ou do controlo no acesso ao recinto, esta medida tem sido alvo de contestações e por isso mesmo têm existido alguns atritos que, felizmente, impedem o seu avanço. Muitos pensam ser um passo longe demais, invasivo e desproporcional, temendo que o seu uso origine erros judiciais. O facto de gerar tantos falsos positivos é a prova de que esta tecnologia corre um grande risco de ser tendenciosa e discriminatória. Mais uma vez, estamos perante uma situação em que os adeptos são tratados como potenciais criminosos. Em comentário, Vince Alm, o porta-voz da Football Supporter’s Association Wales afirmou que: “É inacreditável que a polícia nos esteja a atacar com vigilância por reconhecimento facial novamente. Os adeptos

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Já existem casos, pela Europa, em que clubes querem substituir os bilhetes por um mecanismo de reconhecimento facial. Outros, em que os clubes estão a ser contactados por empresas que prometem a instalação gratuita desta tecnologia, provavelmente com o intuito de aumentar o seu banco de dados para ganhos financeiros futuros. A Footaball Supporters Europe tem-se mostrado preocupada e contra a implementação desta tecnologia à qual aponta três direitos fundamentais, que muitos consideram a base de uma sociedade democrática. O direito à privacidade, conforme estabelecido no artigo 12.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas e no artigo 8.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem; -O direito de associação, conforme estabelecido pelos artigos 11 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos; -O direito à expressão, conforme

que forem assistir a uma partida de futebol local, incluindo centenas de famílias e crianças, serão tratados como se estivessem em uma fila policial e terão seus rostos scaneados sem o seu consentimento”.

estabelecido no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas e no artigo 10 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.Para além disto, alegam um segundo problema - a discriminação. Quando se pronunciaram sobre este tema referiram estudos que mostraram que esta tecnologia de reconhecimento facial “identifica desproporcionalmente mulheres e minorias étnicas, o que significa que pessoas desses grupos têm maior probabilidade de serem paradas e questionadas pela polícia e de terem suas imagens retidas como resultado de um falso positivo.”. Este ponto abre-nos outra questão, a da eficácia que ficou privada pelos inúmeros falsos positivos.Porfim, para a FSE, também é preocupante a questão da confidencialidade dos dados, uma vez que o código do software não é transparente, o que impede uma verificação independente que possa dar alguma garantia de segurança aos adeptos. Já para não falar dos vários actores que podem ser mal intencionados, como são exemplo alguns hackers. Em Portugal também já ouvimos falar desta tecnologia no contexto da vigilância de adeptos. Foi em Setembro de 2020, quando se tornou público o pedido do Vitória Sport Clube

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à Comissão Nacional de Protecção de Dados, solicitando uma avaliação prévia do impacto sobre a proteção de dados da utilização de tecnologias de reconhecimento facial, em circuito fechado de videovigilância instalado no estádio D. Afonso Henriques. O pedido nasceu da intenção de identificar e impedir a entrada de indivíduos sobre os quais recaía a proibição judicial ou administrativa de frequantar recintos desportivos. Embora a CNPD tenha admitido a “potencial utilidade e adequação à finalidade” emitiu um parecer negativo por não existir um enquadramento legal. Nas minhas pesquisas encontrei uma afirmação muito interessante fazendo menção a uma partida de futebol entre Cardiff e Swansea onde 20270 adeptos foram submetidos a reconhecimento facial para monitorizar menos de 50 pessoas. Quem esteve atento ao texto facilmente percebe que não é só a discriminação que está em causa, muitos outros problemas se levantam a partir daqui. O tempo corre contra os adeptos e, mais dia menos dia, este ponto voltará a ser trazido à luz do dia. Torna-se imperativo para todos nós conhecer os cenários que podemos encontrar num futuro próximo. Só assim, se houver vontade, poderemos estar preparados. “O mundo em que vivemos é a era dourada da vigilância. Há câmaras em todo o lado, podes rastrear muitas coisas e é muito difícil voltar atrás. Não podemos encriptar as nossas caras, mas tens de fazer algo sobre isso. (…) Estou preocupado com o que acontece em escala. O sistema está construído para vigiar toda a gente, é aí que se torna perigoso para a democracia”

Philip Zimmermann Por J. Lobo

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sempre levar esse cachecol, mas ele mantém-se firme, sendo que tudo o que oferecem à loja, fica na loja. Logicamente, também deixámos lá a nossa marca, através de uns autocolantes.

Infelizmente o Vitória não tem marcado presença na Europa tão regularmente como os adeptos desejam, pelo que, com o clube a regressar às competições europeias a ansiedade crescia para se saber quem íamos defrontar. Com este novo modelo da UEFA, tem-se uma melhor noção de possíveis adversários antes do sorteio propriamente dito pois apenas há cinco opções.

Sobre Budapeste e os seus adeptos/ ultras (Ferencvaros e Ujpest): a cidade é demasiado grande para a percorrer em poucos dias, mas “apenas” passámos por um Fight Club dos Hooligans do Ferencvaros. Pensei que iria ver alguns murais grafitados com alusão aos grupos, mas não. Mesmo ao nível de autocolantes, os postes, placas, caixotes do lixo, etc., estão bem preenchidos, mas…por grupos de outros países. Acredito que, se “fugíssemos” do centro, certamente veríamos uma maior presença dos locais. Já ao nível das tatuagens, fomos vendo algumas, principalmente na noite, onde a maioria dos seguranças tem tatuado “ULTRAS”, “HOOLIGANS”, ou apenas os símbolos dos grupos. Na 4ª feira anterior ao nosso jogo havia eliminatória para a Champions, com o Ferencvaros a deslocar-se a Bratislava para disputar a segunda mão, depois de perder em casa por 2-1 e de a rivalidade estar acesa com os locais à espera dos Eslovacos, mas estes não conseguiram chegar a Budapest sem polícia. Com cerca de 200km a separar as duas cidades, os húngaros invadiram Bratislava e tomaram conta do topo reservado a eles na bancada. Quanto a nós, assistimos ao jogo num “pub” local onde os adeptos do Ferencvaros, que ficaram na cidade, vibraram com a reviravolta mesmo no final e conseguiram a passagem à próxima fase.

Site de voos aberto e, após conhecermos o adversário, faltava apenas saber se jogaríamos fora de casa na primeira ou segunda mão. Ditou o sorteio que nos deslocássemos à Hungria oito dias depois de jogarmos em Guimarães, sendo que, nessa altura, os preços estavam algo “proibitivos”. Monitorização de voos feita e, passado uns dias, lá se arranja viagem mais em conta. Era a minha vez de marcar, já depois de alguns companheiros de bancada o terem feito. Chegados a Budapeste, era hora de deixar as malas no alojamento para começar a explorar a cidade. A capital Húngara, sendo plana, facilita as caminhadas para os pontos turísticos que tínhamos delineado no itinerário que, com o calor que estava, seria sempre acompanhada com uma Dreher (cerveja típica local) para refrescar. Um dos primeiros sítios foi a “The Casual Store”, uma loja pequena no centro, que tem mais de 20 anos de existência, e que conta com as marcas características que a malta da bola aprecia. Dissemos que éramos de Guimarães, e o responsável pela loja mostrou-nos alguns autocolantes de malta que passa por lá e vão deixando recordações. Uma delas era um dos primeiros cachecóis dos Diabos Vermelhos que, segundo ele, os benfiquistas que lá vão querem

Mais gente de Guimarães aterrava na cidade que estava a preparar-se para receber, também no fim de semana, o Grande Prémio de Fórmula 1 (daí o preço das viagens estar mais elevado), que contava com muitos estrangeiros que vinham de propósito para o evento, entre os quais Ingleses que, como qualquer Britânico, não perdem uma oportunidade de ir à bola. Chegámos a falar com malta que nos mostrou os bilhetes que adquiriram para ver o nosso jogo.

Chegado o dia que todos ansiávamos, era a nossa vez de carimbar o passaporte para a próxima eliminatória da Conference League. O estádio ficava a cerca de 45 minutos do centro e, entretanto, soubemos que havia uma “fanzone” mesmo no recinto. Decidimos ir mais cedo para aproveitar e estar com os restantes vitorianos. Ao chegar, somos informados que apenas aceitam pagamento com moeda húngara, que nós não tínhamos, e estávamos no meio do nada, numa espécie de aldeia. A solução foi simples, numa das entradas para um parque de estacionamento do estádio estava um minimercado que ia passar a ser o nosso bar improvisado… isto durante meia hora, pois encerrou quando faltava mais de 1h para o Semjogo.nada mais a fazer cá fora, era hora de ir para o estádio, o que aconteceu ainda durante o aquecimento das equipas. O estádio é completamente diferente do habitual, por fora parece uma espécie de igreja gigante, e lá dentro as bancadas são sustentadas por colunas de madeira. Ainda na entrada, estamos tão habituados a fazer “30 por uma linha” para entrar com material que até nos esquecemos que “lá fora” esse tipo de esforços não é necessário e os seguranças nem querem saber. Após passar a revista para entrar, e ainda na zona dos corredores da bancada, o primeiro impacto... cerveja com álcool no bar. Depois de um jogo de pré-época em Melgaço, em que até garrafas de vidro entravam na bancada, ir a um jogo noutro país com estas condições é caso para nos habituarmos mal. Escusado será dizer que nos íamos revezando para ver quem era o próximo a pagar a rodada, de modo a que não faltasse a voz durante os 90 minutos. Na bancada, ficamos perto do relvado, o ideal para se “sentir o pulso” aos jogadores.

Quase uma centena de vitorianos dava início aos cânticos que, pelo que tomei conhecimento, se fizeram ouvir na TV mas, quem lá esteve, sentiu que podia ter sido bem melhor. Dos mais de 2000 adeptos da casa, destaque negativo para a inexistência de grupos de apoio, dado ser um clube sem história no país, visto por todos como um clube do regime, com o qual nenhum adepto com que falámos se identifica. A justificação prende-se com vários motivos mas, para terem uma ideia, é visto um pouco como o B-SAD em Portugal.

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Quanto ao jogo, foi algo amorfo, com o empate a zero a ser suficiente para prosseguir na prova. Para o fim da viagem, após cerca de 80 km percorridos a pé durante estes dias, decidimos visitar e usufruir das termas. É dos locais mais visitados pelos estrangeiros, maioritariamente no Inverno, em que as temperaturas exteriores são muito baixas e a água está entre 35 e 38 graus. No nosso caso, secávamos em menos de 5 minutos.Muitos quilómetros foram percorridos, novas culturas e cidades foram conhecidas, aumentamos a camaradagem/amizade e trouxemos algumas histórias engraçadas, como o Big Mac sem carne ou um dos nossos que teve de rapar o cabelo, por estar pintado de verde. Nunca me cansarei de percorrer o nosso país de uma ponta à outra para seguir o meu clube, mas as viagens ao estrangeiro para representar um grupo têm sempre um encanto especial.Como é incrível esta nossa “Estranha forma de vida”! Por D. Carvalho

24 de junho de 2022. Dia de S. João em Portugal, S. Giovanni em Florença. Depois de dois anos sem se realizar, devido à pandemia, a final do Calcio Storico regressa à cidade dos Medici. As meias finais, que ocorreram nos dias 10 e 11 de junho, viram os Azzurri (azuis) a derrotar os Bianchi (brancos) e os Rossi (vermelhos) a derrotar os Verdi (verdes). Para quem não sabe, cada cor representa uma zona de Florença, sendo que os Azzurri representam Santa Croce, os Bianchi representam Santo Spirito, os Rossi representam Santa Maria Novella e os Verdi representam San Giovanni.

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O objetivo inicial da viagem nestas datas era assistir à partida, mas apenas no dia do jogo isso se tornou uma realidade, pois a busca por bilhetes nas semanas anteriores à viagem revelou-se infrutífera. Por sorte, no dia do jogo, saiu uma notícia a dizer que iam ser colocados bilhetes de última hora à venda no Teatro Verdi. Uma hora antes da abertura anunciada, aquando da chegada ao local, já era visível uma fila considerável de pessoas à procura da sua sorte. Após mais de uma hora de espera, os bilhetes estavam na mão e a presença na final do Calcio iria tornar-se realidade. Tal como é tradição, as quatro equipas reuniram-se ao início da tarde em Santa Maria Novella, de onde partiram em cortejo para Santa Croce, local onde viria a decorrer a partida. Para além dos membros que iam a jogo, todas as equipas estavam acompanhadas de outras pessoas, que presumo serem amigos e/ou antigos jogadores das mesmas, tendo em conta a faixa etária de alguns dos presentes. O cortejo, que durou aproximadamente 1 hora, foi repleto de instrumentos musicais, bandeiras, e cânticos como aqueles que estamos habituados a ouvir nas curvas. A presença de pessoas ligadas ao movimento ultra é notória, como era possível verificar pelas tatuagens de muitos dosChegadospresentes.àBasílica de Santa Croce, foi altura de entrar para a bancada. Os bilhetes eram para a bancada lateral, que supostamente não era de apoiantes de nenhuma das equipas, mas

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Aos interessados em saber mais sobre o Calcio Storico, aconselho a visualização os documentários e artigos que existem sobre o mesmo. Quanto a mim, foi mais um objectivo riscado da lista. Já ansiava há uns anos e agora, com o fim da pandemia, foi possível ser realizado.

foi possível verificar que uma boa mancha de vermelhos estava junto ao topo Rossi, e o mesmo se verificou com os Azzurri. Apesar da forte ansiedade pelo início da partida, a mesma ainda demorou um pouco a acontecer, visto ter havido uma espécie de celebração durante quase uma hora com representantes das quatro equipas. Durante esse período de tempo foi constante a fumarada nos dois topos, havendo até lugar a pequenos tifos de um lado e de Terminadaoutro.acelebração, era hora do início da partida. Os primeiros minutos foram completamente frenéticos, tal era a quantidade de focos de acção a ocorrer ao mesmo tempo. Foi um bocado complicado acompanhar todo aquele movimento na fase inicial, mas após uns minutos tornou-se perceptível quem eram os melhores jogadores/lutadores e foi-se tentando deitar o olho a esses. Até ao meio da partida o resultado esteve constantemente equilibrado, sendo que as equipas se foram igualando até empatarem por 5 ou 6. A partir daí, a superioridade dos Azzurri começou a vir ao de cima, chegando a cavar-se um fosso considerável. Os Rossi ainda tentaram a reviravolta, mas acabaram por não conseguir, sendo que os Azzurri acabaram mesmo por se tornar os vencedores da edição de 2022 do Calcio Storico Fiorentino. Findo o jogo, o que me resta, para além das memórias, é um respeito enorme por todos os envolvidos nesta tradição que já conta com quase 500 anos. É notória a ligação dos fiorentinos a esta tradição, sendo que no dia do jogo era comum ver pessoas espalhadas pela aorgulhosamente,cidade,comcordassuasequipas.

Aconselho todos os que ficaram fascinados pelo jogo a tentar lá ir, pelo menos uma vez na vida, pois não é algo que aconteça todos os dias!

Por J. Rocha

Entre os milhões que circulam pelos túneis obscuros do mundo do futebol, os clubes cada vez mais reluzentes e o número cada vez maior de atores que circundam o esférico, é provável que os deuses do futebol se tenham esquecido do Real Club Deportivo de La Coruña. No entanto, embora seja curta a memória do futebol, a dos adeptos não é. E, por isso, este jogo parece não ser muito diferente do último jogo da época 1999/2000. A diferença é que, nesse 19 de maio, o Deportivo recebeu, no Estádio Riazor, o Espanyol para o derradeiro jogo de uma época inesquecível que selou o título de campeão espanhol. Desta vez, no último jogo da época 2021/2022, não há títulos para disputar, não há holofotes e os dias de glória já passaram há muito. Hoje já não há prefixo para acompanhar o nome do Depor, que deixou de ser Super há muitos anos. Hoje está em jogo a ascensão à segunda divisão da pirâmide do futebol espanhol ou, se tudo correr mal, a condenação a mais uma época no terceiro escalão. É a gran final, o jogo de futebol que não é só um jogo de futebol e que define o destino de um clube, de uma cidade e de uma região que viu o clube falhar, ano após ano, mas que nunca o abandonou e que nunca se esqueceu.

A Coruña: o azul do mar e o branco da espuma são as cores da cidade A viagem que liga Guimarães à Corunha dura quase três horas e, no primeiro impacto, A Coruña é uma cidade robusta. Os prédios altos dominam a primeira camada de uma cidade que tem muitas. Primeiro estão os prédios, depois o mar. Os indícios de que é dia de jogo estão em todo o lado e em todas as ruas. Pessoas de todas as idades vestem a camisola azul e branca, as bandeiras esvoaçam nas janelas e nos cafés, os autocarros vestem-se com as cores que dominam qualquer cenário na cidade. Começa a desenhar-se a tarde e ao fundo soam as buzinas das betoneiras

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Na fileira de bares e cafés em frente ao estádio é impossível encontrar uma linha de visão para um ecrã qualquer que não esteja obstruída e qualquer ângulo é bom, mesmo que não dê para ver o jogo e por mais desconfortável que seja. Há ainda os que desistem e procuram a esperança num relato radiofónico, esse velho amigo que nunca falha. Outros limitam-se ao telemóvel e esperam que uma notificação seja portadora de boas notícias. Há finalmente um café que tem um espaço à porta. Encosto-me e deixo-me ficar ao lado de duas crianças que não viram o Deportivo ser campeão nem desafiar os mais poderosos que hoje lhes enchem os ecrãs. No entanto, foi o azul e branco que escolheram. Não há mais nenhum lugar vazio, não há um único espaço disponível. Não há uma transmissão de qualidade, mas não interessa: o Deportivo – Albacete é, naquele momento, o jogo mais importante que já se jogou. Está na cara de todos, amontoados uns em cima dos outros, sentados nas mesas, no balcão. Antes da explosão, o estádio mergulha num silêncio que não dura mais do que dois segundos. É como se todos sustivessem a respiração para não cair em esperanças infundadas. A bola aproxima-se da baliza que já não está guardada por ninguém. Com 25 minutos de jogo, o barulho, depois do silêncio, é inconfundível: 1-0. Soriano, de 20 anos, tem um talento que não engana e não falha quando a baliza se abre perante si.

O silêncio que antecede o golo A azáfama começa a dominar as ruas. Há pressa para entrar no estádio para uns e há pressa em encontrar o melhor bar para outros. Não houve bilhetes para todos, não houve bilhetes suficientes. À porta do estádio ficam muitos. Contorcionistas que descobrem novas formas de ver futebol através de um torniquete, malabaristas que tentam fintar o olhar atento do segurança. Acumulam-se à porta por uma fresta do relvado: é a única coisa que se consegue ver, mas é suficiente para quem espera ansiosamente que se escreva a história há tantos anos esperada.

que, pintadas de azul e branco, tradicionalmente desfilam pela cidade quando há um jogo importante quase como se a anunciar que não há ninguém que possa ficar sem aviso. Hoje a cidade prepara-se para festejar. Não há cautela. As ruas fechadas dificultam a chegada ao estádio e quando a Avenida Buenos Aires e a Rúa Manuel Murguía se encontram, a vista é deslumbrante: de um lado ergue-se, imponente, o Estádio Riazor e do outro o mar parece estenderse para além da praia e encontrar continuidade nos milhares de camisolas azuis e brancas que enchem as ruas. Parece impossível que um autocarro, a carregar duas dezenas de potenciais heróis, vá abrir caminho por ali a qualquer momento. E parece impossível, nos segundos que antecedem a chegada do autocarro, que os deportivistas, condenados às divisões inferiores há tantos anos, consigam gritar ainda mais alto um nome que até os deuses do futebol já tinham esquecido. No entanto, o impossível acontece. Quando se avista, ao longe, o autocarro, os ânimos exaltam-se ainda mais. O volume sobe e os jogadores são empurrados para o estádio. Não podiam voltar atrás, mesmo que quisessem.

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Não há heróis aos 25 minutos O intervalo é a altura certa para sair da porta do bar: o chão já está impregnado com cerveja e o ar torna-se irrespirável. Não há ninguém que consiga estar quieto e os adeptos começam a espalhar-se pelas ruas e a aproximarse das portas como se estivessem a anunciar a festa. Aproximamo-nos dos torniquetes. Há mais 45 minutos de jogo. E o impossível volta a acontecer: os seguranças compadecem-se de quem viajou mais de três horas para ver um jogo de futebol mesmo sem bilhetes e deixamnos entrar. A tempo de ver o golo do empate: os heróis costumam aparecer não aos 25 minutos, mas aos 82. 1-1, prolongamento. O empate servia ao Depor: pelas regras da competição, e em caso de empate, sobe de divisão quem tiver melhor desempenho na fase regular. Os minutos passam muito devagar e já ninguém fica no lugar. Não há caras felizes. Há apreensão e lágrimas. As lágrimas de quem já viu o clube falhar mais do que uma vez quando tudo indicava que era naquele dia que não ia haver falhas. Naquele dia, o futebol tinha planos diferentes para o Deportivo: o golo do Albacete aos 112 minutos é o golpe final. 1-2. Não há tempo para mais. Soa o apito final. Ninguém está sentado, mas ninguém se mexe, paralisados pela dor de ver outra vez o mundo a desmoronar-se. E, no fim, ninguém se mexeu. Todos ficaram nos mesmos lugares onde tinham sentido esperança minutos antes, anos antes, décadas antes. “No pasa nada, cariño”, ouvi uma senhora dizer a um menino que, inconsolável, não conteve as lágrimas no fim do jogo. Com um sorriso no rosto, a senhora continuou: “aqui ya lloramos por todo y vamos a seguir llorando porque vamos a seguir viniendo. No pasa nada, cariño”. Como inexoravelmente aconteceu nos últimos anos, na próxima época a maioria vai regressar aos mesmos lugares, ver as mesmas caras, trocar as mesmas palavras de ilusão nos primeiros jogos e de frustração depois. Os deuses esqueceramse do Real Club Deportivo de La Coruña, mas os adeptos não. Por Raquel Veiga, com fotos de Hugo Marcelo

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que se

debatia a vida do Grupo através de cartas com respostas e contrarespostas ao longo de vários números, situação que hoje tem alguma piada recordar, mas na altura não deixava de ser algo estranho expôr a vida da claque daquelaTambémforma.eram constantes as notícias do estrangeiro, da Europa e América do Sul, fosse através de notícias do que se ia passando, ou apresentação de vários grupos no activo. Era uma forma de quem ainda não tinha internet saber o que se fazia no resto do mundo e estar a par de outras culturas existentes. Na época 2005/06 decidiu dar-se nova vida, em formato fanzine, mas com um layout de revista. Capa e contracapa a cores e o resto a preto e branco. Esta fase foi bastante activa na revista com edições especiais no 18º e 19º aniversários.

A INVICTA ULTRA Com cada vez menos interesse da parte do Grupo, o projecto foi caíndo e terminou com 80 números editados, tendo sido o último nos 20 anos do Grupo. O advento das redes sociais e da necessidade de informaçao rápida, de consumo imediato, ditou o fim do projecto, contudo, a ideia subsiste e pode ser que um dia outros a queiram retomar conforme foi feito no passado.

A Invicta Ultra nasce oficialmente em Julho de 2002. Até então, a fanzine do Colectivo Ultras 95 chamava-se Curva Norte, nascida em 95 aquando da criação do Grupo. Teve algumas vidas, totalizando 15 números até 2000. Com a aproximação do que viria a ser os Invicta Fans (núcleo directivo do Grupo), a revista foi melhorando consideravelmente, quer em grafismo, quer em conteudo, mas sobretudo na regularidade com que saía. Até Maio de 2002 foram editados mais 35 números ainda em formato fanzine, mas a terminar com um grafismo de revista. No 7º aniversário do grupo é então lançado o primeiro número da Invicta Ultra em versão revista e, em duas épocas, foram feitos mais 6 números, sendo um deles comemorativo de Sevilha em A4. Este grande investimento trouxe um decréscimo de números e apenas um número editado na época (bastante atribulada) em que ganhámos a ForamChampions.anosem

ERA UMA VEZ...

Um abraço a todos os que dedicaram o seu tempo à elaboração de textos para a fanzine, no seu design e também na sua distribuição na bancada. Por M. Bondoso

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Em 2014 a Codecity havia denunciado unilateralmente um outro documento – o chamado acordo parassocial – que tinha como objecto central o tema da recompra da SAD por parte do clube em janelas temporais prédefinidas. Ora, quando em 2017 um tribunal arbitral confirma, através da figura jurídica “supressio”, a validade dessa denúncia, os associados compreenderam que haviam chegado ao fim da linha na relação com uma entidade cujo responsável máximo afirmava na imprensa, triunfante, desejar liderar a coisa até aos 80 anos de idade.No Verão de 2018, momento em que a SAD saiu do Restelo para se fixar no estádio do Jamor, o Belenenses ainda detinha cerca de 10% do seu capital social. Esta participação não tinha, desde há muito tempo, qualquer expressão na tomada de decisão diária da sociedade, que se encontrava totalmente nas mãos do accionista maioritário.Seguiram-se sucessivos processos e conflitos.O mais conhecido foi aquele relativo à providência cautelar – cuja decisão ainda vigora – apresentada junto do Tribunal de Propriedade Intelectual relativa à utilização “das marcas” do Clube por parte da SAD.

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Importa esclarecer, porque a situação varia de entidade para entidade, que quando nos anos 90 do século XX o Belenenses criou a sua SAD, apenas a equipa principal de futebol transitou do clube para a sociedade. Ao contrário, os escalões de formação, a posse do Estádio, as receitas de quotizações, e as marcas – nome, símbolo, emblema, hino e demais elementos identitários – permaneceram na esfera do clube, sendo a sua utilização objecto do tal protocolo

Quando no passado dia 3 de julho o jornal Record publicou declarações do responsável máximo da B-SAD, Rui Pedro Soares, confirmando a decisão da sociedade de deixar de usar o nome do Clube de Futebol “Os Belenenses” na sua designação comum, utilizada no contexto da actividade desportiva das suas equipas, consumou-se uma importante vitória do CF “Os Belenenses” (dias depois confirmada com a adopção por parte da Liga Portugal da designação “B-SAD”, a propósito da participação da mesma no campeonato da Liga2), eventualmente a mais importante da sua história, só tendo paralelo com a da recuperação do Estádio do Restelo após quase 10 anos de “captura” por parte da CM de Lisboa, nos anos 60 do século XX.

A cronologia do conflito é longa e remonta ao final de 2012 quando, numa situação de desespero e de forte pressão sobre os associados, a Assembleia Geral aprovou a venda da maioria do capital social da “SAD” a uma entidade externa – a Codecity – detida por Rui Pedro Soares.Seguiram-se anos de crescente conflitualidade e distância entre as partes até que, em 2018, os sócios do Clube, em resposta a uma proposta lançada pela Direcção liderada por Patrick Morais de Carvalho, decidiram pela denúncia do protocolo de direitos e deveres mútuos que regulava as relações entre Clube e SAD, o que – perante a indisponibilidade da Codecity para o renegociar e rever – determinou a saída da SAD do Estádio do Restelo.

denunciado pelo Clube em 2018. Se assim não fosse, todo o processo desenvolvido teria sido muito mais complexo e difícil, se não mesmo impossível. A decisão que ainda vigora impedia e impede a B-SAD de se autodenominar “Belenenses”, de utilizar a Cruz de Cristo e de utilizar elementos passíveis de gerar confusão “no consumidor” – leia-se, nos adeptos de futebol – face ao Clube de Futebol “Os Belenenses”.

Os muitos e muitos meses de incumprimento desta determinação do tribunal colocam ainda a Codecity e a B-SAD perante a contingência de terem que pagar ao tribunal e ao Belenenses uma soma que já deve situar-se acima dos 2 milhões de Foi,euros.todavia, a decisão mais recente do Tribunal da Relação, validando a total separação entre Belenenses e B-SAD, que parece ter liquidado de vez as pretensões da B-SAD, circunstância que enquadra seguramente a decisão da sociedade de acatar, por fim, a determinação do Tribunal da Propriedade Intelectual acerca do uso das marcas do Belenenses. A lei das SAD refere, no seu articulado, princípios aparentemente contraditórios e que a decisão do Tribunal da Relação – primeira decisão e posterior confirmação, em sede de recurso movido pela B-SAD – vem clarificar. Vejamos: a lei refere por um lado que “a participação direta do clube fundador na sociedade anónima desportiva não pode ser inferior a 10 % do capital social” e, por outro, que “as ações das sociedades anónimas desportivas não podem ser objeto de limitações à respetiva transmissibilidade”. Ou seja, se por um lado parece “amarrar” o clube fundador a uma pretensa obrigação de participação directa “não inferior a 10 % do capital social”, por outro esclarece que as acções podem ser transmitidas sem limitações. No entanto, o facto da questão dos 10% de participação por parte dos clubes fundadores se encontrar plasmada no capítulo dedicado aos direitos especiais foi também determinante na interpretação defendida pelo clube.

O Belenenses interpretou correctamente a lei, sempre defendeu que num estado de direito 55

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nenhuma entidade pode ser perpetuamente amarrada a outra contra a sua vontade, e em julho de 2020 a Assembleia Geral de associados do Clube, mais uma vez por proposta da Direcção, decidiu a venda da participação do Clube na B-SAD, fechando assim a ligação formal do Belenenses a uma sociedade por si fundada em 1999, mas à qual já nada o ligava para lá de “acções”.

Naturalmente que nem todos os conflitos Clube/SAD assumem as características específicas que enquadraram nos últimos anos o processo vivido no contexto belenense. Por exemplo: se aquando da constituição da SAD o Belenenses tivesse transmitido para a sua esfera a propriedade das marcas – nome, emblema, hino e lema –, as equipas de futebol de formação ou qualquer tipo de direito duradouro relativamente ao Estádio ou ao Complexo Desportivo do Restelo, o caso poderia ter assumido outras características bem menos favoráveis às pretensões associativas. Seja como for, importa sublinhar que o desfecho “legal” que por hora se verifica é “apenas” parte da questão. Porque o Belenenses já havia ganho o processo sucessivas vezes no mais importante tribunal associativo: a Assembleia Geral de Associados. Sem esse apoio, sem esse respaldo – que a Direcção do Clube sabiamente procurou, decisão a decisão – dificilmente o clube teria suportado e ultrapassado momentos difíceis e decisões desfavoráveis (que também as houve) desde 2018.

Rui Pedro Soares, no seu habitual estilo de confronto, avisava que os sócios do Belenenses estavam a ser enganados, que o Belenenses chegaria às portas da Liga 2 e que ficaria impedido de participar na competição. Essa foi aliás uma linha de argumentação que o levou a convencer alguns (felizmente poucos) sócios e adeptos do Belenenses: a ideia de que a equipa que competia nas provas amadoras – distritais – jamais teria hipótese jurídica de participar em competições profissionais. Ora, a decisão do Tribunal, vem dizer exactamente o contrário, ou seja: que a venda dos 10% de acções detidas pelo Clube, em 2020, é legal e que o Belenenses já não é accionista da B-SAD, pelo que não existe nenhuma ligação formal nem informal entre as duas entidades; que a B-SAD deixou de ter “clube fundador”; e que, muito importante, o Belenenses poderá, no futuro, participar em competições profissionais de futebol, constituindo – se ainda existir essa necessidade legal – uma SAD ou SDUQ. Esta decisão trata-se de um elemento novo, que poderá influir de forma decisiva em processos paralelos de conflito entre Clubes associativos e sociedades anónimas por estes criadas no passado e que já não controlam, após processo de alienação da maioria do capital social.

Esta é uma luta de todos os adeptos que amam a essência associativa do futebol, a soberania dos associados dos vários emblemas sobre as decisões estruturantes que lhes respeitam e, não menos importante, que compreendem que este é o momento de defender o jogo de todos os múltiplos interesses especulativos que o ensombram.

O caso do Belenenses é relevante, mas é isolado. E uma andorinha não faz a primavera.

A Lei das SAD, essa, permanece. É urgente revê-la e, sobretudo, questionar de forma séria essa bizarria que é a obrigação de constituição de SAD ou SDUQ para participação em competições profissionais de futebol, um requisito que a realidade já demonstrou ser desprovido de sentido e que já não vigora noutros países com futebol mais profissional, mais evoluído e movimentando quantias de dinheiro muitíssimo maiores.

Por Rui Vasco Silva, sócio do CF “Os Belenenses”

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O dia foi inteiramente marcado por violentos confrontos entre os cerca de 3000 adeptos sérvios que se deslocaram até Zagreb e os locais. A falange de adeptos do Estrela Vermelha era maioritariamente composta por membros dos Delije, e entre eles estava Željko Ražnatović, o famoso criador da milícia Tigres de Arkan que lutou na Guerra dos Balcãs pelo lado sérvio e à qual são imputadas responsabilidades em inúmeros crimes de guerra. Já no estádio, os adeptos de ambos os lados entoaram cânticos nacionalistas e provocatórios para com a facção rival e a violência física não tardou a começar. Os Delije atacaram adeptos croatas e os Bad Blue Boys (BBB) deslocaram-se do topo contrário para tentar confrontar os rivais. A polícia interveio e reprimiu os croatas, que acusam as forças da lei de terem assistido impávidas e serenas ao ataque perpetrado pelos sérvios e só terem carregado sobre osEstaBBB.dualidade de critérios na actuação policial que, ao que consta, era maioritariamente

O Escocês Bill Shankly afirmou um dia que “o futebol não é uma questão de vida ou de morte, é muito mais importante que isso”, e os acontecimentos ocorridos em Zagreb, a 13 de Maio de 1990 são prova disso mesmo. Nesse dia estava agendada uma partida entre Dínamo de Zagreb e Estrela Vermelha que acabou por não se realizar, fruto de violentos confrontos registados entre adeptos das duas equipas, a polícia, e que envolveram também jogadores. Os eventos que se desenrolaram no Estádio Maksimir são apontados por muitos como a faísca que fez eclodir a Guerra nos Balcãs, cotado, ainda, como o mais mortífero conflito armado na Europa desde o final da 2ª Guerra Mundial. Para perceber o contexto em que esta história se desenrolou temos de recuar no tempo, até à criação da Jugoslávia, nação que agregava diversos territórios, etnias e religiões distintas, e que nasceu oficialmente após o término da 1ª Guerra Mundial, vivendo uma intensa instabilidade com a ocupação levada a cabo pelas “Potências do Eixo” durante a 2ª Grande Guerra. Deste conflito emergiu uma grande figura, o Marechal Tito, que comandou os partisans da resistência jugoslava, que em 1945 acabariam por expulsar os invasores da sua terra. Josip Broz Tito era um carismático líder comunista que dirigiu os destinos do país desde o final da 2ª Guerra, até ao ano da sua morte em 1980. Após o falecimento de Tito, e com o foram marcados por uma grave crise económica e pelo ressurgimento de velhas tensões entre as diferentes repúblicas e etnias da Jugoslávia. É durante o processo das primeiras eleições livres realizadas pela Croácia, ainda enquanto república integrante da Jugoslávia, que ocorre este famoso encontro que, na prática, não tinha importância para as contas do campeonato, uma vez que o Estrela Vermelha já se tinha sagrado campeão com uma grande margem pontual para o 2º classificado, Dínamo de Zagreb.

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Boban acabaria por se transferir para Itália no ano seguinte, aonde faria uma promissora carreira recheada de títulos ao serviço do AC Milan. Também o Estrela Vermelha alcançaria a glória ao vencer a Taça dos Campeões Europeus em 1990/1991 em Bári frente ao Olympique de Marselha, uma semana depois de ter voltado a defrontar o Dínamo de Zagreb, naquele que foi o último encontro das duas equipas a contar para o campeonato jugoslavo, uma vez que as equipas croatas bem como as eslovenas deixariam de integrar a competição nessa temporada. O ano de 1991 que trouxe estes momentos de glória desportiva para a região, foi bem menos risonho para a generalidade da população local e marcou a eclosão de um conflito que se alastrou pelos territórios da Jugoslávia e só viria a ser definitivamente sanado em 2001, com um lastro de mais 100 000 mortos e alguns milhões de desalojados. A Jugoslávia acabou por se fragmentar em várias nações: Sérvia, Montenegro, Macedónia, Croácia, Eslovénia e Bósnia Herzegovina. Os croatas utilizaram o poder mediático e aglutinador do futebol para disseminar o fervor nacionalista e para contestar a predominância sérvia em diversos momentos. Menos de um mês depois destes violentos acontecimentos, a seleção Jugoslava recebeu no Estádio Maksimir a congénere holandesa e os adeptos croatas assobiaram o hino jugoslavo e gritaram inclusivamente olés enquanto a «laranja mecânica» trocava a bola, o que causou grande estupefação nos holandeses. Estes episódios redundaram na declaração de independência da Croácia a 25 de Junho de 1991. A “Batalha de Maksimir” e o célebre pontapé de Boban figuram na memória futebolística como episódios tristes e violentos, mas ao mesmo tempo bem reveladores da importância que o chamado desporto rei tem na cultura popular e inclusivamente para o desenrolar do curso da história.

Zvonimir Boban, talentoso médio croata, há época com 21 anos, que se tinha sagrado campeão do mundo de sub-20 ao serviço da seleção da Jugoslávia em 1987, sai em defesa de um adepto croata que estava a ser agredido no relvado, e agride um polícia com um pontapé que o havia de tornar herói nacional. Desta espiral de violência resultaram mais de uma centena de feridos, e dizem vários relatos que só por “milagre” não se deu nenhuma tragédia.

Por J. Sousa

constituída por sérvios causou extrema revolta nos croatas presentes, inclusivamente nos jogadores. Aquando do início das agressões os jogadores do Estrela Vermelha refugiaramse nos balneários, ao invés dos futebolistas do Dínamo que permaneceram no relvado, e é aqui que se dá um episódio que ficou mundialmente conhecido.

Na minha entrada da Mancha no período em que comecei a ser mais assíduo, a minha vida familiar teve algumas mudanças, fui viver uns anos para a Cova Gala na margem sul da Figueira da Foz, e é com esta mudança que decido criar um núcleo da Mancha na Figueira da Foz, os Vikings FF. Com a criação do núcleo, a minha proximidade aos líderes da claque foi mais efetiva, depois fazia coleção de cachecóis e de diversos materiais ultras, fanzines, supertifos, e mais recentemente livros ultra, e ia com muita regularidade à sede comprar material para trocar… o gajo da Figueira era alguém que aparecia e se falava…os sucessivos anos de segunda divisão, falhar o objetivo

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Este espaço histórico está de volta e desta feita traz até aos nossos leitores mais um convidado que, para a maioria dos que vivem no seio dos grupos nacionais, dispensa grandes apresentações. JP é uma das caras históricas que ainda habitam nas bancadas portuguesas e é com satisfação que passamos a apresentar este adepto apaixonado pela Académica de Coimbra e membro da Mancha Negra. Desde já o nosso obrigado ao JP por ter aceite o nosso convite. Quem é o JP? O JP é um eterno Apaixonado pela Mágica Briosa… sou um jovem de 48 anos que adora futebol e que vê no mundo Ultra a sua ideologia e forma de ver a Bola. Nunca, para mim, foi uma moda, e é realmente uma forma de vida, e de estar na vida, que me criou um ADN na forma como encaro muitos assuntos do quotidiano. Fui mais de 20 anos Capo da Mancha Negra, algo que me marcou e levo para sempre na minha vida… Sou licenciado em Educação Física e especializado na gestão Desportiva. Atualmente estou ligado ao Futebol de formação da Académica, outra das minhas grandes paixões… Como começou a tua ligação com a Académica e com a Mancha Negra? A minha Ligação começa primeiro com a Académica, fui ao estádio pela primeira vez pela mão do meu Pai, também ele um apaixonado pela Briosa. Quando aprendi a ler e a escrever fui à sede da Académica fazer-me sócio… no Estádio, comecei a ver a Bola na Bancada central A, junto com o meu pai e com os meus tios, mas apesar de ser um louco por futebol, pois consumo diariamente, vejo e joguei futebol, muitas vezes perdia o olhar do campo para a bancada central B. Nesta altura, com 10/11 anos, o colorido, a agitação e o apoio vindo das bancadas começava a mexer comigo, estávamos na década de 80, e o grande boom das claques em Portugal estava a acontecer. No meu bairro havia uma claque de Apoio à Académica, Batalhão Negro e, junto com um dos meus tios, foi a minha primeira vivência numa claque… com a Extinção do Batalhão rapidamente transitei para a Mancha Negra, mas só mais tarde já com 16/17 anos comecei a ser assíduo e regular e comecei a viajar para fora… até lá ia indo somente aos jogos em casa. Tive a iniciativa de aparecer e ir fora sozinho. Como fui sempre bem recebido, rapidamente se tornou um ritual e um hábito, afinal tinha sido integrado no Grupo. Estive uns anos a morar na Figueira da Foz, criei um núcleo Vikings FF, e depois foram muitos km´s, muitas histórias e sobretudo muitas e boas amizades… Antes de seres líder da Mancha Negra tiveste o teu percurso. Queres contar um pouco sobre o teu caminho até à liderança?

ULTRAS COM HISTÓRIAJP

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de regressar ao máximo escalão do futebol nacional, estava a afetar a militância e a própria sobrevivência da Claque. E é num momento de menos fulgor da Mancha, onde num jogo nem a faixa tinham levado para a bancada que, ao querer afixar a faixa dos Vikings FF, perguntei pela faixa da Mancha aos responsáveis, para poder meter a do meu núcleo, e a resposta foi de tal forma indiferente e desinteressada que me virei e disse: “dá-me a chave da sede que vou lá buscá-la”, e acrescentei: “o jogo não pode começar sem a faixa presente”. Terá sido este o momento que terá marcado o meu destino para com o Grupo. Reconheceram-me dedicação e empenho e é então que, um atual grande amigo, João Francisco Campos me convida a pegar no Grupo. Num primeiro ano, ainda a viver na Figueira, foi sendo feita a coisa com uma comissão de gente que ia dando vida ao grupo, mas é com o meu regresso a Coimbra, já com 19 anos, que decido ser o Líder da Mancha… os primeiros anos sempre de uma forma discreta, a Bófia perguntava muitas das vezes quem é o líder… não temos líder, o líder sou eu, dizia outro, o líder sou eu, todos somos líderes. Foi uma forma de ir andando até as pessoas me verem verdadeiramente como o Capo e o líder do Grupo. Depois foram mais de 20 anos a conduzir a nave dos loucos… Como vivias um jogo nos teus primeiros tempos de Mancha Negra? Como qualquer membro que entra numa claque, respeitando os mais velhos, observando muito e seguindo as pisadas e indicações de quem pensávamos que seriam os líderes… e sobretudo dando o máximo apoio ao clube durante os 90 minutos. Nos finais dos jogos ia ficando pela bancada e saía com as pessoas do grupo à espera que notassem a minha presença, tenho bem guardado na memória a primeira vez que me pediram ajuda para dobrar a faixa. Um momento mágico, estava a tocar naquilo que é de mais sagrado a nossa faixa, ajudar a arrumar o material!!! Fantástico. Rapidamente aproveitaram a minha vontade e disponibilidade de ajudar, e passaram a pedir se podia ajudar a ir montar todo o material no início dos jogos, deixei de ser o Gajo da Figueira para passar a ser o JP!!! Estava integrado, fazia parte do grupo. Como costumo dizer aos mais novos, se já ganhaste uma alcunha já foste adotado pelo grupo, já és um dos nossos… Nos dias de hoje, ainda se vive da mesma maneira? O que mudou? Sinceramente acho que as coisas são diferentes, não sou dos que digo que agora são piores, não, não digo, somente e simplesmente acho que agora são diferentes. Reparo que a malta não dá tanto valor ao que identifica o grupo, sejam faixas, bandeiras, estandartes ou até o simples material, não usam cachecol do grupo nem t-shirt. Se calhar porque hoje em dia é tao fácil mandar fazer material que não se aprendeu a dar valor, não se aprendeu a poupar a mesada para comprar o cachecol do grupo, para ser um dos que podia ter o material… a honra e orgulho de ter a T-shirt do grupo… hoje em dia as coisas são

diferentes. As redes sociais vieram trazer a noção de que tudo é muito mais rápido e imediato. O meu filho, ao ver a minha coleção de fotos e ouvir-me dizer que era uma alegria quando o Caneças chegava com as fotos para vender!!! - Tu compravas fotos??? - Hoje em dia um gajo acabou de fazer a coreografia já está a receber a foto no Whatsapp e a ver as críticas na net de quem nada fez… Pelas Redes sociais as pessoas acham que nos conhecem, e vejo a forma como os putos se relacionam comigo, é totalmente mais descontraída e mais leve do que quando eu entrei no grupo, como nos dávamos e falávamos aos líderes… não é propriamente mau… é diferente.

No estádio estivemos 3000 adeptos, foi um ambiente e um apoio fenomenal. Tu estares em Espanha e parares o trânsito e gozar com aquela gente foi fantástico.

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Quais as deslocações e episódios que te marcaram mais? Hoje em dia, e depois de passar muitos anos a sonhar com idas ao estrangeiro, os anos de 2012/13 ficarão para sempre na minha memória. Começa em 2012, porque finalmente, e após termos sido o primeiro Clube a ganhar a Taça de Portugal, voltámos a repetir a vitória no Jamor frente ao Sporting. Isto permitiu o apuramento para a Liga Europa Fase de grupos. A maior alegria desportiva da minha vida estava-me a permitir ir viver o sonho de ir com a Minha Malta caminhar pela Europa… foram meses de enorme trabalho, programando as idas à Liga Europa (República Checa, Israel e Madrid em Espanha), nesse verão somente tirei uma semana de férias com a minha família, guardando os restantes dias para os jogos da Liga Europa. A preparação de todos os jogos em casa, onde realizámos sempre boas coreografias, foram momentos fantásticos e de grande partilha por muitos membros da claque. Mas as viagens à República Checa foram espetaculares! Entre viagens organizadas pelo grupo, idas pelos próprios meios, damos connosco no estádio com mais de 300 elementos só da claque, estando 700 adeptos no global. Numa casa de diversão noturna, aquelas de ocasião, onde a verdadeira expressão de tanto me faz, faz todo o sentido, chegamos a estar perto de 150 elementos do grupo, foi fantástico… Outro grande momento foi em Madrid. Quando saímos da Plaza Mayor, a Polícia vira-se para mim e diz: “vamos pelo passeio como vocês são poucos não há necessidade de interromper o transito”. Ri-me para eles e, quando pego no megafone a chamar a malta que estava pelos bares, e começa a chegar toda a gente que sabia da nossa concentração, eramos perto de 2000 no cortejo, ficaram completamente à toa.

A ida a Israel foi qualquer coisa de diferente, apesar de eu próprio ter ficado espantado. Alugamos um autocarro para ir ao jogo e estava lotado. Ainda fizemos um passeio turístico para conhecer e fazer o último caminho de cristo em Jerusalém, ainda fomos ao muro das lamentações que, ao fim ao cabo, é a vida da nossa Briosa… um mundo das lamentações. No geral, como avalias o movimento Ultra nos anos 80 e 90? Os anos 80 surgem as principais claques em Portugal, muitas delas inspiradas no mundo ultra italiano, mas verdadeiramente com influências das torcidas brasileiras. Olhando agora para esse passado era tudo muito visual

Hoje a força do dinheiro manda imprimir… não vale tudo e sobretudo não têm a noção do que perdem…

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e carnavalesco. Nos anos 90 sim, há uma forte influência do movimento ultra italiano em Portugal, começámos a fazer coreografias de grande dimensão, cânticos mais elaborados, a organização dos grupos sofre uma enorme evolução, as coisas passam a ser todas mais organizadas, as viagens melhor preparadas e, com tudo isto, começa também um maior e mais apertado controle policial. Houve, estou em crer, uma moda de pertencer aos grupos, o que em meu ver não nos permitiu passar e disseminar bem a mensagem da cultura ultra, das nossas ideias e daí eu referir que nunca houve um verdadeiro movimento ultra Português. Existem alguns ultras em Portugal com a mentalidade e ideologia correta. Mas atenção, o que é o correto para mim pode não o ser para outros… E os dias de hoje, como avalias? Hoje em dia não consigo perceber muito bem como vamos enquadrar o nosso movimento, a realidade é que nunca fomos muito unidos nas causas que nos são comuns e agora estamos a pagar uma fatura demasiado pesada. Pois as leis têm sido demasiado repressivas para o nosso contexto, nós não somos milhares como noutros países e a malta mais velha tem-se afastado, perdendo desta forma o movimento massa crítica e sobretudo perdendo as pessoas que ainda alimentavam e vivenciavam o dito velho estilo. Hoje em dia, o não haver faixas e material, se calhar é assim que esta nova malta gosta, serem casuais e mostrarem que são muito maus, e que é engraçado aparecer nas redes sociais, mas quando realmente a coisa aperta e dá para o torto, até calha bem ser casual e passar despercebido como se nada se passasse e fugir que nem um rato. E os verdadeiros, novamente, é que lá ficam a aguentar as consequências…

Como comparas a repressão policial que existia no passado com a que vai acontecendo no presente? Hoje em dia, fruto das novas tecnologias, a polícia está muito mais bem preparada e informada, no entanto,a prepotência e a arrogância mantemse igual. Com a criação dos Spotters a relação tornou-se mais fácil e acessível, no entanto, os abusos continuam e noto que são até muito mais abusivos que no passado. Todos nós também estamos muito mais documentados e informados e vamos dando a volta à coisa de forma legal (ex levar os panos 1m por 1m com iniciais do grupo) que os deixa loucos e sem argumentos. Levando mais uma vez a abusos desmedidos e a pegarem com coisas inacreditáveis.

Agora a mania de afastar as pessoas dos recintos desportivos pegou moda e creio que vai levar mesmo a um afastamento de muita gente que

Olho para as bancadas e, não ver as faixas e todo o material que identifica os grupos, a mim fazme enorme confusão, não ver coreografias então deixa-me triste, sobretudo porque sei e relembro os enormes momentos e horas passadas com os meus, que agora chamo de verdadeiros Amigos, a pintar a desenhar a comer e a beber pela noite dentro e no dia a seguir, com 2/3 horas de sono, ir trabalhar, para de novo à noite voltar a nova jornada de trabalho… mas deixava-nos tão felizes.

Quais são as coisas que mais valorizas dentro de um grupo? A Amizade e o Amor e dedicação ao clube…

Quais foram as tuas maiores influências no contexto das bancadas? Sem dúvida que sempre me deixei influenciar pelo mundo ultra italiano, era um consumidor habitual da Supertifo, e via nos grupos da Salernitana e do Verona (enquanto BG) uma inspiração. Gosto muito da forma de estar e do Amor que tem pelo clube os grupos da Atalanta, até agora no choque geracional que estão a passar, foram de uma rigidez tal que, no melhor período da história do clube, acabaram com o tifo organizado.

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juntando esta treta do Cartão do Adepto tem desmembrado muitos grupos ou tem levado alguns grupos a embarcar nas ZCEAP’s. Quais são, para ti, os melhores grupos que existiram em Portugal? Mancha Negra… em termos de atitude de mentalidade e de fidelidade fomos únicos, somos de um clube miserável que não ganha nada, não nos dá apoio em nada e muito da nossa história foi passada em divisões secundárias. Sempre fomos inovadores, fomos o 1º grupo ultra a ter um cachecol próprio, primeiro a fazer um livro, sempre andámos nas lutas contra dias e horas de jogo, combatemos sempre a repressão. Para mim aquele jogo em alvalade, onde antecipamos o que viria a ser a atitude do clube de não deixar entrar nada do grupo, irmos todos com a mensagem numa t shirt, “com ou sem faixa a mentalidade perdura. Mancha Negra 85” foi um baile tremendo. Sempre fomos pelo movimento, organizamos o 1º e 3º congresso de claques, agora perante o cartão de adepto, estivemos na linha da frente a juntar os grupos com a APDA. Agora há calques muito maiores que nós com outras capacidades onde, claro está, são muito bons. A Juve Leo e Curva Sul são fantásticos a criar novas músicas, os Super são dos melhores nas transfertas, a sua enorme capacidade em deslocar pessoas em massa é tremenda, os NN à sua maneira são muito fortes e temidos por todos. Os Desnorteados são amigos para uma vida, comungam muito dos nossos ideais, mas faz muita falta uma mentalidade mais ultra e global do movimento para bem de todos, afinal o que nos une é bem mais do que o que nos divide Ao fim de tantos anos, o que significa para ti a palavra Ultra? Claramente uma forma de estar na vida, muito do que aprendi enquanto ser humano com a mentalidade ultra e com o que daí retirei, aplico no meu dia a dia. Por isso muitas vezes no mundo laboral tenho muitos problemas pela minha franqueza e forma de estar e pela lealdade de pensamentos. A organização coletiva que o mundo ultra nos ensina, dá-nos oportunidade de aplicar em muitas situações da nossa vida.

Vai com tudo, vais entrar num mundo fantástico onde vais fazer amizades para a vida. Dá tudo sempre de forma consciente na defesa da Académica e do teu grupo. O que significam as fanzines para ti? Hoje em dia quando apanho uma ou outra zine nas arrumações, é como se entrasse numa máquina do tempo, viajo ao tempo que as comprei e não é raro ler um ou dois artigos ou, às vezes, a zine toda novamente… o que valorizávamos aquelas folhas de papel!… Impossível aos dias de hoje, onde tudo está ao clique de um telemóvel. Hoje, ao navegar nas redes sociais de cenas ultras, não sinto metade da emoção, é estranho e diferente. Uma mensagem para os nossos leitores, principalmente para os Ultras, a pensar no futuro do movimento.

Dizer que o meu habitat natural hoje em dia para ver a Briosa, continua a ser no sector Mágico da Mancha, já não com o mesmo protagonismo de megafone na mão, até porque não me deixam, mas lido mal com os minutos de pausa ou de silencio na bancada e costuma ser normal, com os outros VG´s que me rodeiam, começarmos novos cânticos quebrando esse silêncio… é importante não nos rendermos a estas leis hipócritas e sem sentido que nos querem impor e sermos inteligentes a contorná-las mostrando que os ultras estão vivos e com muito para dar. Tenham orgulho em apoiar o vosso clube, da vossa terra, mesmo que não ganhem títulos, alimentem as vossas origens, sintam que fazem parte delas e irão ver o prazer que dá fazer parte disto e não de ver à distância.

Recentemente os grupos nórdicos sobretudo os suecos têm-me surpreendido bastante. Hoje, ao recordares o teu passado, o que é que te deixa mais orgulhoso? Ter sido sempre igual a mim mesmo, nunca mudei como pessoa, sempre fui amigo do meu amigo e um doente e fiel dedicado adepto da Académica. Acho que o meu filho me vê como um bom exemplo e tem enorme orgulho em mim. Meti sempre os interesses do grupo e da Académica à frente dos meus, daí me ter prejudicado muito em termos laborais, mas sinto-me feliz e muito satisfeito pelo nível a que consegui elevar a Mancha Negra. Sempre consegui ter pessoas a meu lado que permitiram atingir o que conseguimos, alguns que, não sendo de sangue, hoje considero meus irmãos. Se actualmente um pequeno jovem da Briosa for ter contigo, dizendo que pretende juntarse a uma claque, davas-lhe algum conselho em especial?

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O Leixões Sport Club foi espalhando pela cidade o seu “rasto”, também por culpa de não ter um campo próprio, uma vez que alugava terrenos para servir de “casa”. Em Dezembro de 1958 foi dado o primeiro passo na compra do terreno onde se situa o Estádio do Mar.

Falar do Leixões é falar de comunidade. Desde a fundação, o Leixões é o reflexo da comunhão do nosso povo e seu espírito. O clube “sempre” viveu sustentado pela sua base social e humildemente sempre conseguiu deixar a sua marca nas pessoas e no desporto nacional. Fomos um dos maiores precursores do desporto no norte de Portugal, tendo sido um dos fundadores da Associação de Futebol do Porto, por exemplo. No que ao eclectismo diz respeito, pelo menos 30 modalidades já foram praticadas sob a camisola rubro-branca listada. Em relação à formação, desde 1940 que há equipas de “Bebés do Mar” no Futebol. Portanto, muitos milhares de pessoas por aqui passaram, a aprender e a escrever uma história de quase 115 anos.

A 28 de Novembro de 1907 concretizouse o desejo de alguém. Um desejo altruísta. Desejou-se então criar algo maior, para bem servir a comunidade local, e deu-se a fusão de três grupos desportivos nos quais os jovens matosinhenses praticavam desporto, sendo eles Lawn-Tennis Prado, Lawn-Tennis de Matosinhos e Leixões Foot-ballers. Nasce assim o Leixões Sport Club, com os seguintes objectivos: “Pretendem os fundadores do novo clube aumentar consideravelmente o número dos seus sócios, que presentemente é já quase de 100, e não só cultivarem nele quaisquer géneros de sport, como cuidarem de tudo quanto seja conducente ao desenvolvimento physico e intellectual dos associados, proporcionando-lhes recreios e distracções e cuidando por todos os meios legais do engrandecimento desta terra, de sua natureza tão bella e que reúne excepcionais condições de rápida prosperidade.”

O Futebol sempre foi a modalidade de maior destaque, na qual o Clube não teve extraordinários resultados desportivos até ao final da década de 50. Contudo, venceu um Campeonato do Porto (1928), oscilando entre os regionais e curtas passagens pela I Divisão Nacional, até à conquista do Campeonato Nacional de Juniores (1942/43). Já em 1959, novo título e subida ao principal escalão nacional. Aí iniciou-se a “era dourada” do L.S.C. Tal traduziuse em dezoito épocas consecutivas na Primeira Divisão, na conquista de uma Taça de Portugal e participação nas competições europeias por três vezes. Nos entretantos dessa “era dourada”, o povo matosinhense mostrou a sua capacidade de união, dedicação e sacrifício em prol do Leixões. Em Julho de 1960, foi lançada a primeira pedra para construcção do Estádio do Mar. E perguntais vós: “Porquê este nome?”. Os dirigentes do Clube apelaram aos mestres piscatórios para que contribuíssem com uma percentagem da venda

José Manuel Teixeira. Consigo tinha o apoio do seu sogro Manuel Carvalho, que investiu bastante dinheiro no Clube por essa altura, o que permitiu alavancar o arrojado projecto de J.M.T., claramente virado para a profissionalização e modernização da instituição. Em pouco tempo, o sucesso desportivo foi atingido. A época 2001/02 ficou marcada pela ida ao Jamor, numa viagem em que o mítico Estádio 1° de Maio (Braga) foi o palco da inesquecível meia-final, em Fevereiro de 2002. No mês seguinte, em assembleia-geral, os sócios aprovam a constituição da S.A.D. do Leixões. No campeonato, um golo de empate tardio do F.C. Marco na derradeira jornada foi o empecilho para a subida do Leixões à II Divisão,

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de cada cabaz de sardinha para a construcção do estádio. Acontece que a recolha foi um sucesso e que homens e mulheres não só “retiraram à boca” e doaram dinheiro, como também foram eles os construtores da infraestrutura. Matosinhos viu desfilar todas as equipas do Leixões pelas suas ruas, naquele que foi o dia da inauguração do Estádio do Mar, o dia 1 de Janeiro de 1964. Mais tarde, em meados de 1971, o L.S.C. não consegue evitar a descida à II Divisão, após o término da fase regular do campeonato. A direcção e a massa associativa entenderam que essa descida foi forçada pela Federação Portuguesa de Futebol, uma vez que foi imposta na secretaria. Liderados por Edison Magalhães, entre outros, durante vários dias seguidos os matosinhenses protestaram e fecharam as entradas e saídas da cidade, fosse pelas estradas, caminhos de ferros ou pela via marítima, não deixando comercializar nada enquanto a F. P. F. não voltasse atrás na sua decisão. Posto isto, o nosso Leixões recebeu a positiva notícia da parte da F. P. F. de que afinal haveria uma liguilha, a qual ultrapassou com sucesso, mantendo-se assim na primeira divisão. Tudo isto perante o regime ditatorial, liderado por Marcello Caetano, numa altura em que não eram permitidas manifestações.Numa altura em que o Voleibol já se assumia como uma modalidade com preponderância na vida do Clube, contando com diversos títulos nacionais e participações nas competições europeias, tanto na vertente masculina como feminina, o Futebol leixonense desce de divisão na temporada 1976/77. O regresso ao principal patamar nacional “da bola” deu-se em 1987/88, regresso esse que não foi prolífero, visto que descemos logo de divisão na época seguinte. Até 1994, as maiores alegrias do nosso povo foram dadas pelas equipas de Voleibol e por uma disputa da meia-final da Taça de Portugal de Futebol no nosso estádio. O final da época 1993/94 trouxe-nos um dos piores momentos do Clube. Outra descida de divisão e o início da longa travessia na “rua escura”. Por sua vez, em 1997, dá-se a desistência do campeonato nacional por parte da equipa sénior feminina de Voleibol, a equipa que mais títulos nacionais deu ao L.S.C. O século XX termina com os leixonenses nas ruas da Cidade a apelarem à salvação financeira da nossa instituição, com cartazes com dizeres como: “O Leixões não pode acabar”. O novo milénio trouxe uma nova direcção, liderada pelo antigo “bebé do mar”

que face à igualdade pontual perdeu o primeiro para os marcuenses devido à desvantagem no confronto directo. Então tinhamos batido um recorde. Nunca uma equipa do terceiro escalão tinha conseguido ser finalista da prova rainha portuguesa. Provavelmente, batemos outro: o primeiro Clube do terceiro escalão a constituir S.A.D. Sob o objectivo de viabilizar a continuidade do projecto, que, como dissemos, passava pela profissionalização e modernização do Clube. A sociedade anónima foi logo constituída em prejuízo para o Leixões, que para obter 40% das acções deu em troca a sua marca e as equipas juniores e seniores de Futebol. Esse “bolo” estava avaliado em dois milhões de Euros, que até hoje estão por pagar ao Clube. É o início de um grande problema do futuro do Leixões S.C. A influência social de dentro para fora como de fora para dentro do Leixões foi diminuindo. Como tal, o apoio da câmara municipal foi ganhando cada vez mais preponderância. O que era dado como garantido para a manutenção do poder do Clube foi um dos grandes factores para o agravamento da situação: promiscuidade entre política e o Clube. O Leixões vivia um estado de graça e, apesar de continuar a militar na II Divisão B, ainda disfrutava do sucesso da época anterior. Estádio remodelado para poder receber jogos da Taça UEFA, na qual passamos a primeira eliminatória, sucumbindo à posteriori em casa do PAOK. Foi o realizar do sonho de muitos leixonenses e algo preponderante para jovens como eu ganharem ainda mais afinidade com a camisola rubrobranca listada. A vitória sob os gregos no Estádio do Mar, por 2-1 após reviravolta no marcador, foi “a cereja no topo do bolo”. Épico, tal como o facto de sermos até hoje a única equipa europeia a disputar uma competição continental enquanto participante do terceiro escalão doméstico. Tivemos ainda a oportunidade de disputar a Supertaça, em Setúbal, numa temporada em que, finalmente, se deu a saída da “rua escura” e o regresso à II Divisão, nove anos depois.

A S.A.D. passou a ser presidida por um político que, passado algum tempo, foi eleito presidente da Câmara Municipal. Entretanto, os problemas internos começaram a reaparecer. A vontade de vender terrenos do Estádio do Mar começa a ser revelada, para fazer face às despesas. Talvez fossem os primeiros indícios de que a constituição da SAD não fosse solução.

Por volta de 2004, o Clube e a SAD começaram a ser liderados por um presidente ausente, que passou a pasta a um empresário de sucesso natural de Águeda. Uma pessoa que se inscreveu como sócio no primeiro dia de um ano... Apesar disso, o Leixões continua a impor-se na segunda liga e a olhar para cima, até que em 2006/07 sobe à primeira liga. O timoneiro Vítor Oliveira comandou o seu clube do coração até ao regresso ao lugar que pertence, após dezoito anos de Viveu-seausência. um período de imenso entusiasmo em Matosinhos, uma vez que as pessoas já estavam habituadas às dificuldades financeiras do Leixões e queriam era viver alegrias como uma subida à primeira liga. Certamente que a falta de sentido crítico no dia-a-dia da gestão da instituição abriu um grande espaço de manobra para o que se seguiu. Vendas, permutas e expropriações de terrenos do Estádio do Mar, que renderam cerca de 4 milhões de Euros ao Clube. Supostamente, esse dinheiro foi injectado

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na SAD. Na verdade, o que se verificou foi a um avolumar do passivo da sociedade anónima, que chegou a ser de mais de 9 milhões de Euros. Recordo-me que, em assembleia-geral, a direcção do Clube propôs que se votasse a possibilidade de hipotecar voluntariamente o Estádio devido à dívida do Clube perante entidades estatais. Os manobradores, que geriam tanto o Clube como a SAD, conseguiram hipotecar o nosso património como garantia das dívidas da SAD, algo que até hoje continua válido e que, possivelmente, é o problema mais grave da instituição e o principal entrave para o rompimento com a SAD. As penhoras de tudo e mais alguma coisa multiplicaram-se, os salários em atraso também e o Leixões viu as suas equipas a decrescerem muito o nível competitivo. Somaram-se insucessos para o Leixões e uma grande projecção pessoal para o “coveiro”, ele que não é matosinhense nem leixonense, assumiu que não gosta de Futebol, que em 2007 assumiu que foi um erro entrar para os órgãos sociais da instituição, que se demitiu cerca de dez vezes sem exagero, mas que comandou os nossos destinos de 2004 a 2015. Tudo isto é fruto da promiscuidade entre quem geria a Cidade e o Clube. Ao longo dos anos, o associativismo e militância leixonense foi decrescendo, com a perda de mais de 3 000 associados. Assembleias manipuladas, quotas pagas a quem seguisse a “cartilha”, um presidente “testa de ferro”, perseguição a quem comentava na internet (com entrada de processos em tribunal), lavagens cerebrais em reuniões privadas com adeptos, repressão à claque, falta de iniciativas para cativar os adeptos, a ideia de que quem questionava a direcção eram “profetas da desgraça” e que à frente do Clube estava uma figura imaculada... Isto contribuiu para o afastamento entre Clube e suas gentes, mas a realidade é que os principais culpados desta situação são os leixonenses! Permitimos isto tudo. Íamos mostrando a nossa insatisfação através da reprovação de diversos relatórios e contas anuais, o que levou a que nos fosse retirado o estatuto de instituição de utilidade pública. Nos estádios, também foram sendo feitos alguns protestos. Nas ruas, destacouse a marcha organizada pelo Movimento União Leixonense, que decorreu entre o Estádio do Mar e a Câmara Municipal de Matosinhos. Estiveram presentes cerca de 700 pessoas, que, numa fase financeiramente delicada, tinha como objectivo mostrar a vitalidade da instituição, responsabilizar, exigir a quem de direito e apelar a investimento. Mais uma vez, “adormecemos na parada” e o lobby conseguiu monopolizar as atenções.Desde a descida de divisão, em 2010, até 2016, praticamente todos os anos a inscrição da equipa sénior masculina era feita no último dia. Todos os anos se falava de potenciais investidores: dinamarqueses, vietnamitas, brasileiros... Chegámos a iniciar época 2012/13 com o primeiro treino a acontecer uma semana antes do primeiro jogo oficial, contando apenas com doze jogadores. Curiosamente, foi a época de maior sucesso desportivo (3° lugar da segunda liga) nos últimos 22 anos apesar de, no final da época, os jogadores e técnicos contarem cinco meses semEntretanto,receber. entre condenações por incumprimento fiscal, dá-se a Operação Harmónio. “O peixe que se vendeu” aos leixonenses foi que era necessário um aumento

de capital da SAD para viabilizar o futuro da mesma. Nessa operação, o “coveiro” converteu suprimentos (de dinheiro que investiu que tinha prometido nunca exigir receber) em acções. Ficou accionista maioritário da sociedade, uma vez que passou a deter 56% da mesma. Ele que era presidente do Clube e nunca informou os adeptos de que podia reverter os suprimentos do Clube em acções da SAD e fugiu a essa exigência de alguns sócios. Caso não se tivesse beneficiado a si próprio e tivesse “beneficiado” o maior credor da SAD (o Clube), a esta hora seríamos os donos por completo do Leixões. Uma fortíssima machadada! Após a última jornada da época 2015/16, a qual o Leixões venceu de forma dramática, o “coveiro” (presidente do Clube da SAD) e Nuno Silva (icónico ex-jogador e director desportivo) foram detidos no estádio da Oliveirense. Suspeitava-se de tentativa de aliciamento dos jogadores adversários, o que em muito envergonha e desprestigia o nosso nome. É aí que se dá a saída do poder administrativo, uma vez que as entidades judiciais impediram o “coveiro” de continuar a exercer funções no âmbito desportivo. Seguiu-se a liderança de uma comissão administrativa no Clube e de novos administradores na SAD. Desde 2016 até hoje, pelo menos três administrações passaram por cá, mas os sócios continuam sem saber se as acções utilizadas ainda são ou não posse de Carlos Oliveira. No Clube, uma direcção foi eleita, mas não completou o mandato, com debandada após uma tentativa de golpe de estado protagonizada por um “senhor” que hoje está na Amadora. O Leixões continua num marasmo, cheio de acontecimentos que em nada o dignificam. Paulo Lopo assume a administração da SAD, empresário vindo do Sintra Football. Muitas promessas de alguém que vem como responsável número um das acções compradas em nome de uma empresa chamada Playfair (em parceria com outra chamada Onebiz, mas que Lopo adquiriu a totalidade passados uns meses), passando a ter o controlo maioritário da SAD. Tentando dar sequência aos meses transitórios entre a saída oficial de Carlos Oliveira até à sua entrada, que ocorreu em Novembro de 2016, procurou continuar a passar uma imagem de “ar fresco” para uns adeptos leixonenses, que já estavam há anos desiludidos e habituados a mais contestações do que festejos. Muitos dos apoiantes do clube do Mar, completamente desgastados com o que estavam a viver anualmente, veriam qualquer vislumbre de alteração com um sentimento de esperança, pois a ideia era sempre: “Passar para pior é impossível”. Porém, quando estávamos convencidos que nunca veríamos algo de diferente para pior, o destino fazia questão de nos pregar uma partida que julgávamos impensável. Houve, de facto, uma demonstração inicial de fazer julgar mudanças na forma de comunicar com os sócios, tendo a Internet, através das redes sociais, sido um meio para isso. Uma ideia de maior transparência e abertura que não durou muito. Logo em 2017, começaram as divergências com a então direcção do Clube. Entre o não pagamento do protocolo ao Clube, entre ditos e não ditos, seja de maneira mais formal ou informal, houve troca de acusações entre ambas as partes. Foi o início do escalar de uma tensão que se estendeu até

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Em 2018, não se inibiu de se colocar numa lista para as eleições do Sporting, como líder para uma presidência da SAD, do candidato Rui Jorge Rego (que até acabou por ficar em último lugar), mesmo sendo Paulo Lopo no passado um confesso benfiquista, como várias fotografias o demonstram. A sua personalidade quase doentia de tentar passar por cima de tudo e de todos, como se nada se passasse e nada tivesse que justificar, tinha aí uma demonstração a nível nacional. Diga-se que Lopo esteve envolvido, por exemplo, em processos judiciais em que foi mesmo obrigado a pedir desculpas. Alguém que não tinha problemas em acusar publicamente seja quem fosse para cumprir as suas intenções, mas que depois lá era obrigado a voltar atrás noutras vias... Em 2020, encontra a oportunidade de entrar numa negociata (oficialmente através do seu filho), com André Geraldes, unindo o

Se ainda houve algumas tentativas ténues de fazer regressar ícones do futebol leixonense ou jogadores queridos pela massa associativa, a verdade é que todas elas revelaram a verdadeira face de quem estava à frente da SAD. O expoente máximo aconteceu com Bruno China, em 2020, quando era treinador da equipa sub-23, tendo sido completamente destratado e afastado, por se ter recusado a colocar em campo um jogador argelino a mando de Paulo Lopo (certamente para fazer algum favor a um empresário). Fazer bodes expiatórios de figuras bastante queridas do mundo leixonense foi mais uma jogada infeliz da Sociedade Anónima Desportiva. Passando novamente para acontecimentos fora do aspecto desportivo, convém relembrar o que foi escrito uns parágrafos acima. Carlos Oliveira adoptou várias políticas dictatoriais contra os sócios, chegando até vias judiciais. A verdade é que Paulo Lopo conseguiu superar na forma como lidava com as críticas.

ao ano seguinte, mais concretamente para uma Assembleia Geral do próprio clube, em que, no meio de traições internas da própria direcção do Leixões, com óbvia influência de Paulo Lopo, o então presidente Duarte Anastácio vê-se sem condições de continuar no cargo e demite-se.

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É nesse momento que Jorge Moreira, até então líder da Máfia Vermelha (e foi assim desde a fundação da mesma, a bem dizer), assume a sua candidatura para Presidente do Leixões SC, sendo eleito pouco tempo depois.

No plano desportivo, a gestão de Lopo caracterizou-se desde cedo por reformulações completas aos plantéis em praticamente todos os mercados de transferências disponíveis. Eram dezenas de dispensas, acompanhadas com “contentores” de jogadores que chegavam de todo o lado (e com uma variedade cada vez maior de nacionalidades). A instabilidade em termos de treinadores, que não duravam sequer uma época inteira, numa política que já assolava a gestão desportiva leixonense, também foi algo que continuou. O futebol ficava cada vez mais banalizado como uma eterna equipa de segundo escalão nacional, com campeonatos feitos sem grandes objectivos a meio da tabela. Mesmo quem não é tão exigente em termos do que se passa fora das quatro linhas, preferindo focar-se na bola a entrar na baliza, ia perdendo o interesse com a monotonia que se ia passando. Começava a ser difícil, até para os mais entendidos e “futeboleiros”, em decorar todos os nomes que iam passando pelo plantel, até porque muitos mal calçavam.

Ele próprio fazia questão de encarar, afrontar e provocar os sócios, protegendo-se desde cedo por seguranças. Não importava a idade dos críticos ou os meios com que era criticado. Fez questão de fazer encomendas para silenciar a crítica e de criar diversos heterónimos na redes sociais para dizer bem de si próprio e atacar os demais. Vivia-se um clima completamente surreal, querendo também optar pela famosa estratégia de “dividir para reinar”.

Estrela da Amadora ao Sintra Football para subir duas divisões consecutivas de uma só vez. Deu-se então o momento em que subitamente abandonou a administração da Leixões - Futebol, SAD, ficando o cargo de presidente nas mãos de André Castro, que era até então director desportivo. Este último acabou por transitar de lugar numa altura em que o acompanhamento no Mar era quase nulo, com um total desmoronamento de apoios organizados de adeptos, salientando-se que a Máfia Vermelha se encontrava já, nesta fase, suspensa. Houve tentativas de reaproximação e de chamadas da estrutura da SAD aos apoiantes leixonenses, algo que nunca conquistou totalmente, pois as políticas desportivas continuavam baseadas naquilo que já acontecia com Paulo Lopo, sendo os resultados e as posições na tabela classificativa na senda do que já acontecia.

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No plano financeiro, os problemas não paravam, antes pelo contrário. As notícias de turbulência em termos de licenciamentos e inscrições continuavam, cada vez mais relatos (públicos e em privado) de salários em atraso. Os adeptos cada vez menos acompanhavam o futebol e encontravam, por exemplo, no voleibol um escape para criar ambientes como o público leixonense é conhecido nacionalmente por fazer. As idas a fases finais do voleibol feminino ou as próprias conquistas da Taça de Portugal na mesma vertente contribuíam para isso, pese embora o futebol seja o “desporto-rei”. Por sua vez, a direcção está a cumprir o segundo mandato. O primeiro triénio da presidência de Jorge Moreira trouxe, sobretudo, a recuperação da credibilidade e transparência ao Clube; voltamos a cumprir todos os compromissos financeiros, a ter contas positivas, a aprovar os três relatórios e Recentemente,contas. mais concretamente no início do mês de Junho deste ano, foi convocada uma Assembleia Geral Extraordinária do clube para os sócios darem permissão a uma possibilidade de separação com a Sociedade Anónima Desportiva. Esta última foi acumulando a dívida do protocolo ao Leixões Sport Club, tendo faltado pelo menos 14 meses seguidos ao acordo de pagamento dos 8.500€ a que era obrigada, e atingindo os seis dígitos de dívida! Algo que fez o próprio clube ficar “entre a espada e a parede”, pois as escassas receitas que ia tendo noutras vias obrigavam a tomar uma decisão: Ou pagava as obrigações estatais ou pagava as despesas variáveis do Estádio do Mar, tendo optado pelas primeiras para não ficar duplamente penalizado. Esta questão do protocolo juntava outro inconveniente para o clube. Os apoios da UEFA para o futebol de formação são recebidos pela SAD, entidade que não partilha com o Clube qualquer percentagem desses 75 000€ desde 2016. E convém relembrar que as equipas da SAD (futebol profissional, equipa “B”, sub-23, sub-19 “A” e “B”) são formadas maioritariamente por jogadores estrangeiros de qualidade duvidosa, havendo uma escassa percentagem de aproveitamento de jovens da formação leixonense. Os sócios, que aderiram em bom número à AG, votaram favoravelmente, sem nenhum voto contra. As constantes ostracizações e manipulações contra os adeptos, as dívidas que vão prejudicando o dia-a-dia do clube e a fuga de identidade e, consequente, perda da mística, são razões mais que suficientes para verificarmos

Resta verificar se as instalações do clube serão utilizadas para as práticas desportivas desta

Sociedade Anónima que, a menos que aconteça um volte-face impensável, continuará sem pagar as suas obrigações financeiras perante o clube ou se os leixonenses vão finalmente participar da separação de ambas as partes. Julgo que a “bolha” vai rebentar mais cedo ou tarde e que o caminho deve ser a separação porque, com a SAD, os interesses do Leixões há muito não têm sido assegurados e temos perdido todo o potencial que temos para crescer novamente. Temos de reestruturar o Clube, criar condições para continuar a profissionalizar a estrutura, fazer o nosso caminho para devolver o nosso símbolo às principais divisões nacionais e criar uma SDUQ quando isso acontecer. Quanto aos adeptos, cabe-nos lutar! Havemos de continuar a marchar rumo à utopia, com a esperança de unir o povo matosinhense em volta do Leixões e dela criar uma onda tão grande que seja capaz de honrar aqueles que souberam ser e dar-nos tamanhos exemplos, como os que descrevemos. Viva o Leixões! Por L. Cruz e G. Mata (Artigo escrito a 07/07/2022)

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que não resta praticamente nada em benefício do que é o Leixões com a actual ligação à SAD. As tarjas pela cidade a fazerem pressão para que esse rompimento seja efectuado têm sido uma constante e uma forma de apoio e pressão até à direcção do clube. Ainda assim, recuando à parte introdutória deste texto, convém salientar que há uma total inércia dos leixonenses e da população matosinhense, comparativamente ao que foi a força social que se converteu em manifestações impensáveis em certas alturas, se contextualizarmos no plano histórico. No início de Julho, ou seja, um mês depois da tal Assembleia-Geral, continua sem haver novidades práticas. Contudo, desde o primeiro dia do mês que a SAD tem trabalhado a nova equipa, que fez testes médicos e todos os treinos fora do Estádio do Mar. A realidade é que tanto a direcção do Clube como a administração da SAD, nada comunicaram aos sócios até hoje, dia 08/07/2022. De resto, o filme é repetido dos últimos anos, isto é, a SAD continua a apresentar imensos jogadores de uma assentada no Estádio do Mar, enquanto anuncia a dispensa de outros tantos.

É a febre do momento dentro do mundo do colecionismo ultra, tendo conquistado um destaque e interesse entre as várias gerações de colecionadores. Os mais velhos revivem as páginas douradas do movimento ultra, os mais novos tomam conhecimento das páginas históricas. O lançamento de inúmeras publicações tem sido feito a um ritmo alucinante e há para todos os gostos e feitios: com fotos e texto, só com fotos, só com texto e demais conteúdos. Para acompanhar este ritmo editorial é preciso tempo (para os ver e ler), espaço (para os arrumar) e dinheiro (para os comprar). Num período em que o consumo e leitura de conteúdos é feito, cada vez mais, a partir de suportes digitais, é curioso que este tipo de artigo capte tanto interesse e se revele um sucesso comercial. Cada livro publicado constitui um valioso registo da atividade e da história dos grupos e dos seus ultras, que permite também enquadrar o papel e interação destes na vida dos seus clubes, e no futebol emMasgeral.quem julga que a publicação de livros relacionados com o movimento ultra é uma moda recente, está enganado. As primeiras obras ultras surgem, obviamente, na pátria do tifo, Itália, onde este movimento se tornou a subcultura mais importante, atraindo para as curvas milhares de jovens de todas as cidades à procura de uma identidade como grupo, como forma de manifestarem a sua rebeldia e inconformismo, num momento em que a sociedade italiana se encontrava em convulsão. A importância que este fenómeno assumiu, e o facto de ter sido fonte de inspiração noutros países, justifica o destaque dado neste texto às obras editadas em terras italianas.

Este artigo estará focado nas produções realizadas pelos grupos e por elementos relacionados com o mundo ultra, referindo pontualmente algumas obras realizadas por pessoas exteriores ao fenómeno e que se dedicaram a uma análise mais sociológica ou a artística sobre o movimento ultra. Formatos para todos os gostos e feitios Podemos encontrar edições com os mais diversos formatos físicos e narrativos. A opção pelo tamanho, número de páginas e orientação está sempre condicionada pelo custo de produção ou pelo volume de conteúdos a incluir. Nos últimos anos, têm surgido alguns livros com cerca de 600 páginas, caso do Ultras Dynamo Dresden, Curva Sud Milan e Kop of Boulogne. Existem casos em que, pela quantidade de material, são publicados vários volumes, como é

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Já em termos narrativos ou de apresentação dos conteúdos, fica ao critério dos grupos/autores, sendo que a opção cai maioritariamente por um formato linear que aborda cronologicamente a história de cada grupo ou curva, descrevendo momentos e episódios época a época, acompanhados por fotos, recortes e, por vezes, material de cada período descrito. Temos também o registo mais biográfico ou relato de vivências dentro das curvas por parte de membros destacados de grupos. Vita da Ultra (Conti Editore, 1992), escrito por Fábio Bruno, é um dos primeiros exemplos desse tipo de registo. O autor, membro dos Ultras Tito e um dos dinamizadores da Supertifo, descreve inúmeros episódios e experiências vividas ao lado da Sampdoria a partir de finais dos anos 70, e também algumas das experiências vividas fora de Itália. Mais recentemente, antigos carismáticos líderes de grupos do Bari e da Reggiana, Parigino e Carminello, publicaram uma espécie de livro de memórias, relatando episódios e momentos vividos durante os seus tempos. Em Portugal, o líder dos Super Dragões, também teve direito a um livro intitulado “Fernando Madureira, O Líder” (O Gaiense, 2009) a relatar as suas aventuras e desventuras ao lado do FC Porto e também da seleção nacional. Tatuagens, confrontos, graffitis ou determinados eventos, são matéria para livros orientados para temas específicos. Os Ultramarines do Bordéus realizaram o livro “Adieu Lescure” para assinalar a despedida do Estádio Lescure, composto sobretudo por fotografias captadas ao longo do dia, dentro e fora do estádio. Um formato muito particular, é o de livros celebrativos de amizades entre grupos. OS Ultras Tito, para homenagear a amizade com os Boys Parma, realizaram o livro intitulado “Boys - Ultras 1990-2010 Vent’anni Insieme Storia Di Un’amicizia”. Atitude semelhante por parte dos Ultras de Cremonese para os amigos da Reggiana, com a edição de “Dal 1978 Al 2008Tratto Da Una Storia Vera”. Os livros que celebram a amizade entre o Pescara e o Vicenza e, mais recentemente, entre os ultras do Salzburgo e da Udinese, partilham visões e relatos de ambas as partes. Alguns destes livros, dada a quantidade reduzida de cópias, e por geralmente serem dirigidos aos elementos dos grupos, são difíceis ou impossíveis de adquirir. Na mesma categoria de livros de difícil aquisição, estão livros produzidos para distribuição interna dos grupos. É uma prática bastante comum na Alemanha, onde publicam livros com o relato de uma temporada e que apenas podem ser adquiridos pelos membros do grupo. Completamente distinto, à imagem dos seus ultras, é o duplo livro lançado pelos Ultras do Arezzo apenas com a reprodução de todas as fanzines lançadas ao longo de 20 anos, de forma a acompanhar a evolução estilística e dos conteúdos. ITÁLIA

Como referido, o primeiro livro produzido por um grupo ultra surge em Itália, da autoria da histórica Fossa de Grifoni, que liderou a curva do Genoa até aos anos 90. “Il Vento della Nord” (1984) relata o aparecimento deste grupo desde os primórdios do apoio no Marassi e alguns dos episódios mais marcantes dos primeiros anos da sua história. Esta obra é o espelho do que acontecia noutros estádios italianos e leva-nos à descoberta das origens do movimento ultra, relatando como grupos de jovens se organizavam

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exemplo da coleção Atalanta Folle Amore Nostro, que para já conta com 3 volumes que relatam a atividade da Curva Nord Atalanta desde as suas origens até 2018, data da publicação do último volume.

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para apoiar a equipa do seu coração, com uma fiel descrição das suas incertezas e dificuldades perante caminhos nunca antes percorridos.

5 anos mais tarde, em 1989, chegaria às livrarias o livro do mítico Commando Ultra Curva Sud da Roma. Por esta altura, a curva sul da Roma era o expoente máximo do movimento ultra e o livro relata os primeiros 12 anos do grupo, e que mágicos foram esses anos. Está lá tudo: o retrato da curva pré-CUCS, o seu aparecimento, o episódio Pappareli, os derbies, o scudetto, a final da taça dos campeões contra o Liverpool, os ídolos e os Estesódios.livros são preenchidos sobretudo por texto, com presença pontual de algumas fotos e bilhetes relacionados com o jogo ou momento relatado. A riqueza está obviamente nas histórias e ideias partilhadas pelos intervenientes, que relatam a época dourada do movimento ultra italiano. Publicado no longínquo ano de 1979, o livro “Ragazzi Di Stadio” é talvez um dos mais belos registos acerca do movimento ultra italiano. Esta obra consegue transportar-nos para o meio da ação que decorre nas ruas de Turim e para o Estádio Comunale, a partir da narração de alguns intervenientes de ambas as partes (Ultras Granata e Fossa dei Campioni), que descrevem os rituais, as orientações políticas e a organização dos seus grupos. Não bastasse a riqueza documental de todos estes testemunhos, o livro oferece-nos também um conjunto de espetaculares fotos, que retratam com realismo todo este ambiente. Pela sua antiguidade e pela importância que adquiriu, este é um livro particularmente difícil de arranjar e com um valor de aquisição elevado. O autor do livro, o realizador Daniele Segre, lançaria também um documentário com o mesmo nome, onde espetáculoaçãolivroovisualmenteacompanharpodemostudoqueédescritonoenoqualtodaaculminacomodosultras no derby JuventusTorino. Nos anos 90 e inícios de anos 2000, a publicação de livros por grupos ultras tornar-se-ia mais regular, nomeadamente da parte de alguns grupos ou curvas com história, casos de “Nobilta Ultras” (Curva Nord Lazio, 1996), “I Guerrieri di Verona” (Brigate Gialloblu, 1997), “Dalla curva Fiesole con tutto il cuore i tuoi ultras” (1999), “Vent’Anni di Storia” (BNA Atalanta,1997), “20 Anni Stupefacenti” (Freak Brothers Ternana, 2000), “Nellla Fossa dei Leoni” (2001) e “Curva Nord Udine” (2004). O objetivo presente nestes livros é o de registar a história dos grupos,

Nele, encontramos toda a matéria necessária para ficar a conhecer a história e espírito distintivo da Cidade de Coimbra, da Académica e da claque. Numa abordagem original, são apresentados relatos de 20 viagens marcantes do grupo por 20 elementos diferentes e dos episódios que as tornaram tão memoráveis. Juntam-se mais uns capítulos com inúmeras fotos, recortes, material e curiosidades que ajudaram a escrever a história do grupo até então. Em 2011, seria a vez da Juventude Leonina imprimir o seu registo, para assinalar os seus 35 anos de atividade. O livro é ilustrado por bastantes fotos, acompanhadas de mensagens dos líderes do passado e do presente, excapitães, jogadores e dirigentes do Sporting. Ainda relacionado com a curva verde e branca, 77

por vezes de um ponto de vista mais favorável ao que realmente aconteceu. São inúmeros os livros que se propõem fazer um retrato do panorama ultra italiano e a contar a sua história. “Dove Sono Gli Ultrà?” (Zelig, 2005), da autoria do milanista Stefano Pozzoni, é um livro volumoso onde podemos encontrar a história dosclubes e grupos mais famosos e oferece a possibilidade de ouvir alguns dos seus cânticos a partir de um CD de oferta. Pierluigi Spagnolo, jornalista e frequentador da curva nord do Bari, escreveu “I ribelli degli stadi. Una storia del movimento ultra italiano” (Odoya, 2017), livro no qual nos propõe contar o nascimento e evolução desta subcultura a partir de diversos acontecimentos e testemunhos, com a abordagem de temas relevantes que afetaram os ultras italianos. Portugal No panorama nacional, seriam os Ultras Auri Negros o primeiro grupo a avançar com a edição de um livro. Esta publicação, com o título “O Nosso Modo de Ser”, visava celebrar o 5º aniversário da claque e nele podemos encontrar o balanço das atividades do grupo, momentos marcantes e um descritivo jogo a jogo da temporada 2003/04, tudo devidamente acompanhado por bastantes fotos e artigos de jornal. Este livro, totalmente a cores, foi produzido pelo grupo com o apoio do Diário de Aveiro.No mesmo ano, e a poucos quilómetros de distância, a Mancha Negra lançava o seu livro celebrativo do 20º Aniversário do Grupo, intitulado de “20 Anos, 20 Viagens”.

seria publicado o livro “Grupo 1143” (Chiado Books, 2016), escrito por um misterioso italiano, Andrea Sani, que durante a sua estadia em Lisboa para fazer Erasmus, acompanhou vários jogos do Sporting junto de um grupo muito particular do movimento ultra português. O autor descreve alguns dos episódios vividos junto deste grupo, analisa um momento particular do movimento ultra português e partilha alguma correspondência trocada com os contactos que estabeleceu durante a sua passagem pela curva sul de alvalade.Em2017, os Diabos Vermelhos também se aventurariam na publicação do seu livro, cujo resultado é uma compilação fotográfica dos 35 anos da história do grupo, sendo as fotos distribuídas por capítulos específicos. A aposta clara na imagem leva-nos ao encontro de algumas fotos nunca antes vistas, sobretudo referentes aos anos 80. Em plena pandemia e com os adeptos afastados dos estádios, Tiago Marques, também membro dos Diabos Vermelhos, lançava o livro “Benfica I Will Follow” (2021) com relatos de 38 viagens ao estrangeiro para apoiar o Benfica, livro já aqui apresentado no nº3. A mais recente publicação em terras lusas é o livro do Colectivo 95, intitulado de “6 de julho de 1995”, referente à data de fundação do grupo. Esta publicação começa por nos apresentar a história da cidade, do clube e do movimento ultra portista, dando-nos a conhecer os diferentes grupos que ocuparam as bancadas do Estádio das Antas e do Dragão. Nas páginas seguintes acompanhamos a história do grupo através do relato das diversas épocas e de inúmeras fotografias que ilustram a vida do grupo, até chegarmos às páginas finais dedicadas ao material, aniversários e amizades.

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Fora da produção dos grupos, referência para o livro “O envolvimento juvenil nas claques do futebol: o caso da Juve Leo” editado em 1988 pelo Ministério da Educação. Direcção-Geral dos Desportos. Nesta publicação é feito um retrato da atividade da Juventude Leonina e dos jovens que a compõem. No final somos presenteados com uma galeria fotográfica com bandeiras, bancadas e pinturas nas paredes da cidade. Algumas décadas depois, noutro tempo e noutra realidade, Daniel Seabra Alves, que colabora regularmente com esta revista, traz-nos um retrato sociológico do movimento ultra português, a sua história e influências, no livro “Claques de Futebol – O teatro das nossas realidades” (Edições Afrontamento, 2018). Os textos apresentados resultam de anos de estudo e de observação junto de vários grupos. Europa Por essa Europa fora, encontramos inúmeras publicações, maioritariamente lançadas pelos grupos. Aqui ao lado, em Espanha, grupos como os Ultra Boys (Sporting Gijon), Ligallo Fondo Norte (Zaragoza) e Ultras Sur (Real Madrid). Os principais grupos franceses também se aventuraram na produção de livros, casos do Comando Ultra Marselha, Magic Fans (St Ettiene), Ultramarines (Bordéus), Red Tigers (Lens), Ultra Boys (Strasbourg), entre outros. Vak 10 (Ajax/Holanda), Bad Blue Boys (Dinamo Zagreb/Croácia), Gate 13 (Panathinaikos/Grécia) e os Green Monsters (Ferencvaros/Hungria), Tornados (Rapid Viena/Áustria), são alguns dos grupos europeus cujas histórias passaram para o papel. Para continuares informado relativamente a novas e antigas edições, está atento à rúbrica Cultura de Bancada, que em cada número deixa algumas sugestões para leitura e colecionismo. Enquanto houver fotos para mostrar e histórias para contar, esta febre vai continuar! Nota: os livros aqui apresentados são apenas uma pequena parte de um vasto universo de livros publicados que abordam o movimento ultra. Não existiu qualquer critério preferencial em relação à sua menção, apenas a tentativa de enquadrar no assunto descrito e de acordo com o conhecimento parcial que o autor tem da publicação de obras relacionadas com esta temática.

Por Manuel Soares

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Por P. Alves e M. Bondoso CULTURA DE ADEPTO “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” Mário Quintana 80

TornadosInternacionalRapid Autor: Equipa:N/ARapid Wien Ano: Preço:Páginas:202235025eur

O livro está organizado em blocos de anos e, pelo meio, vai intercalando com outros capítulos como Material e Amizades, dedicando bons textos às amizades com Ferencvaros e Parma.

Internacional

Uma excelente novidade dos últimos meses foi este livro comemorativo dos 25 anos dos Tornados Rapid. Design e layout muito simplistas e de fácil leitura, o livro começa com vários prefácios a cargo de personalidades do clube e dos restantes grupos do Block West.

O capítulo das coreografias está extremamente recheado de bom conteúdo, passando de várias fotos do making-of até ao planeamento com programas 3D para simular a inclinação da bancada.

Tornados Rapid

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A qualidade fotográfica é acima da média desde o início do livro, o que se traduz num regalo para a vista de qualquer entusiasta do movimento.

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Grupo 1143

Autor: Andrea Sani Equipa: N/A Ano: Preço:Páginas:2016196N/A

GrupoNacional1143

Nacional

Decorria o ano de 2016 quando, sob o pseudónimo de Andrea Sani, um conhecido ultra da cena leonina decide editar um livro com o nome “Grupo 1143”. No livro, o autor encarna a pele de um rapaz Italiano, com afiliação ao Torino digase, e que vem estudar para Portugal, travando conhecimentos dentro da cena ultra do Sporting Clube deAoPortugal.longo do mesmo, o autor fantasia encontros e desencontros, sejam eles ao nível profissional, amoroso ou ultra. A ficção misturase com a realidade sendo, por vezes, complicado distinguir o que é verdadeiro ou apenas imaginação do autor - quiçá efeitos das canecas geladas que passou a beber constantemente no seu novo poiso. No final o leitor é ainda brindado com um conjunto de cartas e emails, ao género de entrevistas, algumas das quais sobre elementos mais ou menos conhecidos do universo leonino.

Não é propriamente daqueles livros que o movimento ultra Português se possa orgulhar, no entanto, o carácter por vezes fantasioso, misturado com aspetos reais, que aconteceram de facto, merece pelos menos uma hipótese de uma breve leitura sobre o mesmo.

TornadosGrupoRapid1143 83

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O fascínio pela moda, pela música, sexo, álcool, drogas e evidentemente pela violência são constantes durante toda a película, mas misturam-se com os dilemas pessoais dos jovens hooligans e com o relacionamento e tricas que vão acontecendo dentro do The Pack, grupo liderado pelo ex-militar Godden, o único “adulto” da firm, uma personagem que é interpretada por Stephen Graham, o actor com mais reputação do elenco.

Outra das personagens principais é Elvis, o responsável pela introdução de Carty na firm, que cria com o protagonista uma relação forte, que vai conhecendo altos e baixos, quer pelas dúvidas em relação à sexualidade de Elvis, quer pelo consumo de heroína que vai degradando o jovem até um final trágico. Em suma, Awaydays é uma ode aos anos de ouro do hooliganismo britânico, ao florescimento da cultura casual e ao estilo de vida desregrado da juventude britânica da época.

O guião gira à volta do protagonista Carty, um jovem de classe média de 19 anos, que vive fascinado com o The Pack, a firm de hooligans do seu clube, o Tranmere Rovers FC, equipa que milita nos escalões secundários do futebol inglês.

A primeira cena do filme é icónica e acontece no cemitério local, onde Carty, o pai e a irmã estão a “velar” o tumulo da mãe, mas, assim que tem uma oportunidade, o protagonista esgueira-se da família, veste a sua indumentária casual e corre para apanhar o comboio junto com o The Pack para o seu primeiro “away game”.

Awaydays é um filme editado no ano de 2009, dirigido por Pat Holden que se inspirou no livro com o mesmo nome da autoria de Kevin Sampson. A acção desenrola-se na cidade de Birkenhead (perto de Liverpool), condado de Merseyside durante o ano de 1979, no início do primeiro mandato de Margaret Thatcher, malograda chefe do governo britânico que criou a fama de ter mão dura com o hooliganismo e promover uma limpeza social nos estádios ingleses.

Marcado por um toque sombrio na gravação das cenas, a longa-metragem conta com uma boa banda sonora e bom desempenho das personagens principais, ainda que o mesmo não se possa dizer de todo o elenco. Ainda assim os amantes do registo inglês, e do movimento casual em particular, não darão o tempo do filme por mal empregue. Por J. Sousa 85

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