Cultura de Bancada, 15º Número

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2 resumo do mundial 62 HISTÓRIA DO MOVIMENTO ORGANIZADO DE ADEPTOS na austrália o futebol e os vídeo jogos 08 14 26 16 30 52 36 06 um memorando para a história à conversa com a FSA a vida de um ultra emigrante entre o céu e o inferno LEÇA FC sporting clube de braga um mundial de histórias resumo da bancada memórias da bancada 38
3 RW ESSEN X MSV DUISBURG ULTRAS COM HISTÓRIA LUÍS SILVA 72 74 80 78 82 94 86 68 A FINAL DA TAÇA DA LIGA SPORTING CP X FC PORTO PIPAS, FUTBOL Y SEAREIROS VOLTAR A SER FELIZ AD FAFE X VARZIM SC SCU TORREENSE X SC FARENSE LOOKING FOR ERIC CULTURA DE ADEPTO 90 65 ÉS ADEPTO, ÉS CULPADO!

Já tinham saudades? Pois bem, estamos de volta com o 15º número da história da Cultura de Bancada.

Desde sempre nos apresentamos como uma alternativa à comunicação para adeptos. Optamos, porque conhecíamos, por divulgar o que de bom existe em torno da nossa cultura. Mostramos o passado, falamos do presente, sonhamos o futuro e, assim, tentamos cultivar o que for possível para que um dia esta forma de estar seja defendida por cada vez mais pessoas. Porém, a vida é uma contagem decrescente e faz com que a mesma se transforme ou, por outras palavras, se reinvente. Para os mais distraídos, nós estamos a passar por essa fase na bancada.

Não fugimos à nossa natureza, tudo é um ciclo que nos faz adaptar e evoluir sob os novos paradigmas da nossa cultura.

Achamos que a consciência permite ao ser humano encontrar padrões que o levam a prever, ou pelo menos suspeitar, das consequências de algumas dessas mudanças. É por isso que tememos a mudança que se

vem a aproximar, fruto de mais uma alteração à lei contra a violência no desporto. Combater a violência não nos parece o problema e evoluir não é o que tememos, mas, no fundo, e a vir cada vez mais à tona, é o fim de uma forma de estar na bancada que tememos e tentamos evitar a todo o custo.

Não podemos aceitar que o adepto seja o bode expiatório de um sistema falido e corrupto, que não tem a coragem de resolver o problema daqueles que fazem com que o Estado perca milhares de milhões de euros. Isto sim, precisava de ser feito, só que não querem! Então, não venham atirar areia parar os olhos dos portugueses tentando desviar atenções da miséria em que nos encontramos, por responsabilidade histórica da classe política, atacando o palco mediático que é o futebol.

Sabemos bem que o futebol e o desporto não é o nosso pão, mas, para alguns políticos, é aquilo que os romanos chamavam de circo. Para quem não conhece a história, os romanos desenvolveram uma política

Director

J. Lobo

Redacção

L. Cruz

G. Mata

J. Sousa

Convidados

Marco Fernandes

Raúl Faria

J. Rocha

FSA

João Oliveira

Raúl Rodrigues

Editorial2
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Editorial2

denominada de panem et circenses, que consistia numa manipulação das massas onde a aristocracia fazia as populações virarem as suas atenções para a procura de alimento e para o divertimento. Só que nem sempre esta prática é eficiente e, por vezes, ao invés de anestesiar as pessoas, acorda-as e dá-lhes um incentivo extra para sair da redoma e ir à luta.

Traduzindo para este caso, a percepção que o Governo quer criar, de que está a responder aos hipotéticos anseios da população, muito por culpa de serem potenciados pela imprensa sensacionalista com interesses dúbios, vai criar uma sensação perigosa para o Governo, não só entre os adeptos, mas também na população em geral.

É injusto ver o dedo sempre apontado ao mesmo segmento de pessoas, quando não faltam problemas muito maiores que a classe política teima em não resolver. Não sabemos se por vontade própria ou por incapacidade, a verdade é que, no final, o escape é sempre o mesmo – os adeptos!

Ao invés de trazer os adeptos para

Design

S. Frias

M. Bondoso

Bruno Ferreira

S. Peixoto

Luís Silva

R. Faria

Raquel Veiga

E. Gigante

o estádio, o Governo, a Liga, a FPF e mais um conjunto de instituições continuam a incentivar a que se afastem por culpa de, continuamente, promoverem o modelo hiper securitário que existe em torno do futebol. Restava aos adeptos unirem-se e fazerem ouvir a sua voz, mas, nem isso, são poucos os que demonstraram vontade para tal. “Se queres ser ouvido, fala”, era um dos motes iniciais da APDA e que devia ser mais recordado e considerado por todos os que estão preocupados com o que está a passar… Temos de reconhecer publicamente que esperávamos mais dos adeptos. Certamente que há vários caminhos para lutar e, caso não seja possível encontrar um em comum, pelo menos não desistam e façam algo! Não fiquem à parte, está muita coisa em causa a começar pelas nossos direitos, liberdades e garantias. Hoje não basta ser vigilante, embora não possamos deixar de o ser, precisamos de agir e comunicar à sociedade o que está a acontecer.

Todos pelo adepto, todos pela bancada!

Revisão

A. Pereira

Convidados

Faxica P. Alves 5
Gonçalo

UM MEMORANDO PARA A HISTÓRIA

Foi no passado dia 23 de janeiro em Nyon, na Suíça, que a Football Supporters Europe assinou um memorando de entendimento (MoU) com a UEFA. Este acordo reconhece formalmente o papel dos adeptos como parte interessada e é um produto do trabalho que tem sido levado a cabo nos últimos anos, desde 2008. Como curiosidade, uma das quatro assinaturas que oficializou este momento foi a de Martha Gens, Presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto.

O memorando transporta a relação entre as duas organizações para um nível superior definindo as prioridades e a estrutura de cooperação, trazendo novos desafios até 2026 que se irão traduzir numa progressiva relação. Este acto dá sinais da importância de reunir toda a comunidade do futebol europeu na construção e proteção do futuro das competições europeias. Desde as federações, os clubes, os jogadores, os treinadores, os árbitros e, sim, também os adeptos.

É então de saudar este compromisso inclusivo para que os adeptos também possuam uma voz participativa neste centro de decisão importante. Esta aproximação nasce essencialmente em consequência da tentativa de criação da Superliga Europeia, num momento em que as competições domésticas e europeias estiveram postas em causa pela influência de um punhado de clubes.

Reforça-se então o apoio ao modelo desportivo europeu, o compromisso com a pirâmide do futebol europeu, incluindo o papel central das federações na supervisão da organização e funcionamento do desporto, o sistema aberto de promoção e rebaixamento nas ligas nacionais culminando com a qualificação para as competições europeias, solidariedade financeira de cima para baixo, bem como o papel do futebol na identidade cultural e suas funções sociais e educativas. Para além de proteger e melhorar os direitos e a experiência dos adeptos que assistem aos jogos das competições a cargo da UEFA, a

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promoção e integração do Oficial de Ligação aos Adeptos e o desenvolvimento de políticas estruturadas de diálogo com adeptos ao nível nacional e em toda a Europa. Sem esquecer a promoção dos direitos humanos, a diversidade, a inclusão e a acessibilidade no futebol europeu, garantindo que o jogo seja aberto a todos. Por fim, promover a representação dos adeptos por toda a Europa, certificando a devida representação da opinião dos adeptos nos processos de tomada de decisões nas estruturas do futebol europeu.

O caminho faz-se caminhando e este é mais um passo na afirmação dos adeptos. Presto, por isso, o meu reconhecimento.

Declarações do Presidente da UEFA, Aleksander Čeferin: “Sem a lealdade contínua dos adeptos de futebol, o jogo não teria todo o seu sucesso e popularidade. A UEFA está empenhada em garantir que as necessidades e pontos de vista dos adeptos sejam uma consideração fundamental. O acordo histórico de hoje mostra que aqui na UEFA

este não é um sentimento vazio. Estamos ansiosos para trabalhar com a Football Supporters Europe em nome dos adeptos de futebol nos próximos anos para garantir que o futebol seja um lugar seguro e acolhedor para todos”.

Em declarações, o director executivo da Football Supporters Europe, Ronan Evain, acrescentou: “Hoje é um marco emocionante para o FSE. O MoU demonstra que a UEFA compreende o valor e a importância dos adeptos do futebol, seja na proteção do futuro do futebol europeu, ajudando os adeptos a terem influência nos seus clubes; seja a nível nacional, protegendo os direitos humanos ou sensibilizando para o contributo positivo que os adeptos dão aos jogos. Acreditamos que os compromissos conjuntos no acordo beneficiarão todos os adeptos e estamos entusiasmados para iniciar um novo capítulo de trabalho conjunto”.

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A VIDA DE UM ULTRA EMIGRANTE

Sou o Marco Fernandes, tenho 40 anos, nasci e vivo no Luxemburgo desde 1982. Sou filho de pais emigrantes que decidiram vir para o Luxemburgo nos anos 70.

A minha ligação ao mundo do futebol deve-se ao meu pai que sempre gostou do Benfica e que, durante um certo tempo, depois de voltar da guerra de Angola, viveu em Lisboa. Quando podia assistia aos jogos do Benfica no antigo Estádio da Luz. Essa paixão pelo Benfica foi, desde cedo, transmitida ao meu irmão mais velho e a mim.

Nas férias de verão, quando voltávamos a Portugal e íamos no sentido norte para sul, parávamos pelas cidades onde havia estádios e aproveitávamos para os ir visitar. Foi assim que fiquei a conhecer o estádio da Luz. Logo desde pequeno fiquei apaixonado e impressionado pela sua dimensão e grandeza. Depois dessa visita, o meu pai prometeu-me que voltaríamos à Luz para assistir ao vivo a um encontro do Benfica. Essa promessa só aconteceu alguns anos mais tarde, tinha eu 12 anos, em 1995, num Tirsense x Benfica, no Estádio Abel Alves Figueiredo onde o Benfica venceu por 0-1. Lembro-me perfeitamente da tochada fumarada dos grupos do Benfica, todos

presentes com as faixas, destacando-se os Diabos com a mítica faixa a dizer “DIABOS ON TOUR”. Nesse dia também tive o prazer de me cruzar, nas imediações do estádio, com o Presidente em funções, Manuel Damásio, que ainda se deu ao trabalho de assinar a bandeira que levava comigo.

Novamente de férias em Portugal e desta vez o meu sonho de assistir a um jogo do Benfica no Estádio da Luz veio a ser concretizado. Foi em 1998, numa partida de qualificação para a Liga dos Campeões contra o Beitar Jerusalém que o meu desejo se concretizou. Assisti ao jogo no 3º anel da antiga Luz e a cada golo do Benfica (foram 6-0) o estádio tremia e vibrava de todos os lados, parecia que a todo momento ele ia a baixo. Foi um ambiente infernal por parte de todos os Benfiquista e sobretudo pelos grupos presentes no estádio nesse dia. Houve um pequeno detalhe que me chamou logo a atenção, as várias bandeiras gigantes que os Diabos Vermelhos utilizavam na central para colorir o seu sector... Fiquei apaixonado.

Foi exatamente esse pequeno pormenor que me fez pesquisar e conhecer mais sobre esse grupo de adeptos da central com o nome DIABOS VERMELHOS 1982. Como na minha cidade do Luxemburgo,

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Ettelbruck, havia pessoas mais velhas e já ligadas a outros grupos Ultras dos clubes deles, perguntei-lhes se me podiam ajudar a encontrar algo sobre os Diabos Vermelhos. Indicaram-me que os Diabos tinham um website, o que era muito raro naquela altura, em 1999. Também me falaram de um site chamado Ultras12 e sobretudo de um IRC onde diferentes Ultras comunicavam entre eles. Foi exatamente através do IRC que fiz os meus primeiros conhecimentos com alguns elementos dos Diabos e com ajuda deles consegui fazer-me sócio dos Diabos. Em 2001 decido viajar até Lisboa para assistir o meu primeiro jogo com os Diabos. Foi contra a Fiorentina, um jogo de pré-época. Viajei do norte do país até Lisboa, sozinho de autocarro com a minha t-shirt dos Diabos, sem alguma vez pensar no risco que corria por ir identificado num autocarro público com uma paragem no Porto... grande erro de novato!

para o sector dos Diabos. Que momento inesquecível quando subi as escadas para o nosso sector e pude estar no meio dos Diabos no antigo Estádio pela primeira vez, foi um momento arrepiante e mágico por poder fazer parte do grupo de apoio ao clube do meu coração. Nesse mesmo jogo foi a apresentação do novo símbolo com ligação os Diabos, era o Doc Devil. Equipado à Benfica, “percorreu” a passadeira vermelha até ao relvado da Luz. Foi o começo de muitas viagens, aventuras e, sobretudo, amigos para a vida.

Na viagem até Lisboa tinha um Benfiquista sentado ao meu lado e, naturalmente, logo simpatizámos um com o outro. Foi ele que me levou para o estádio após a nossa chegada à estação em Lisboa. Daí segui para a nossa sede que na altura estava situada por baixo da rampa 4. Deparei-me com o pessoal com quem tinha comunicado no IRC, com o líder da altura o Emanuel Lameira e o restante pessoal dos Diabos. Depois de muito convívio e conversas era hora de entrar para o estádio, finalmente,

Em 2002 propus a alguns amigos Benfiquistas que se juntassem a mim para começarmos a viajar e apoiar o Benfica pela Europa fora. Foi assim que, no mesmo ano, juntamos uns 10 gajos e viajamos até Paris para apoiar o Benfica na Taça Amizade onde defrontamos o Celta Vigo. Nesse jogo juntamo-nos a mais sete elementos do grupo que viajaram desde Lisboa para também poderem assistir à partida. Pela mesma ocasião conheci o responsável do núcleo do Luxemburgo, que também estava presente, e trocamos os números de telemóvel para ficarmos em contacto para futuras viagens. O meu primeiro jogo para a Taça UEFA foi em 2003 em Charleroi, na Bélgica, contra o La Louviere. Nesse jogo o responsável do núcleo deu-me a tarefa de levar a faixa para a pendurar na rede. Um cargo bastante importante, tendo em conta a minha idade e principalmente o meu

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diminuto conhecimento do movimento Ultrá. No final consegui gerir tudo isso da melhor maneira e sem problemas.

A partir desse jogo fiquei responsável pela faixa e por tudo o que se relacionava com os Diabos Luxemburgo. Para isso, pesou a minha vontade de apoiar o Benfica por toda a Europa e, também, o facto de o antigo responsável já não ter tempo para se ocupar do núcleo. Assim, entregoume oficialmente o cargo de responsável do núcleo.

Pouco depois desse jogo o Benfica volta novamente à Europa, mais precisamente ao Luxemburgo, para um jogo amigável contra o F91 Dudelange. Foi mais uma ocasião para conviver e conversar sobre o estado do grupo com o Líder da altura. Nesse jogo foi decidido eu marcar presença no primeiro derby de Lisboa no novo Estádio da Luz, acabado de construir para o Europeu de 2004, em Portugal.

Viagem marcada com a companhia aérea Virgin Atlantic de Bruxelas rumo a Lisboa. Naquela altura ainda não havia companhias Low-cost a sair do Luxemburgo. Foram três dias fantásticos passados com os elementos e amigos DV. No dia 4 de Janeiro o Estádio da Luz acolhia o seu primeiro derby e os Diabos Vermelhos tinham decidido fazer um mosaico alusivo à bandeira tricolor do Grupo. Seria a primeira coreografia com cartolinas realizada no novo estádio. O resultado foi simples e bonito!

Logo a seguir ao derby tivemos o prazer de defrontar o Inter de Milão, para a Taça Uefa, no mítico San Siro. Um sonho de puto que se realizou. Tive a possibilidade de apoiar o meu clube de coração num dos palcos mais conhecidos do mundo do futebol, mas, também, era a pátria dos ULTRAS! Fomos seis Diabólicos do Luxemburgo, arrancamos cedo, numa viagem bastante rápida e sem stress. Chegados a Milão, fomos ter com os 250 elementos que tinham viajado desde Lisboa num avião organizado exclusivamente para os Diabos.

Foi literalmente uma invasão a Milão, composta por seis mil Benfiquistas vindos de Portugal e da Europa. O dia foi passado com os elementos mais próximos dos Diabos com muita risada e copos pelo meio. Ainda tivemos tempo de passar por uma loja “Casual”, a Coolness Milano, sem esquecer a compra da mítica revista Ultrá, a Super Tifo, a bíblia dos Ultras Italianos. A poucas horas do começo do jogo, lá nos metemos nos cinco autocarros e uma carrinha a caminho do mítico SAN SIRO... Simplesmente impressionante e fantástico. Um canto inferior e a zona atrás da baliza estava completamente cheia com adeptos Benfiquistas. Entre tochas, bandeiras, apoio brutal, uma frase da parte dos Diabos a pedir ao Rui Costa para voltar connosco e, mesmo com a derrota, esta foi uma noite de futebol mágica e inesquecível!

Para acabar em grande, nessa época, viajamos até Lisboa para marcar presença na final da Taça de Portugal contra o grande rival do Norte. De manhã cedo encontramo-nos com a direção e os elementos da organização para a preparação da coreografia para esse dia. Fizemos um mosaico de cartolinas com o número 23 na parte da cima da bancada (alusivo às conquistas da Taça de Portugal pelo Benfica). No meio das 2 bancadas um estandarte gigante a dizer “VAMOS CONQUISTAR” e na parte de baixo foi feito um “+1”. Durante o jogo ainda foi feita uma pequena coreografia dedicada o falecido Miklós Fehér, com as cores da bandeira nacional da Hungria. O apoio foi fantástico durante todo o jogo que terminou com uma

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vitória amplamente merecida pela equipa Benfiquista. Durante os festejos da vitória na Taça, em frente ao nosso sector, voltamos a abrir bandeira dedicada a Fehér. Nota para uma picardia nossa para os do Norte que, na semana a seguir, jogavam a final da Liga dos Campeões contra o Mónaco. E como não podíamos deixar passar essa ocasião, para dar um bocado de força às nossas cores, apresentamos a seguinte frase: “Apesar de tudo, vão representar as nossas cores. Boa sorte na final de dia 26. Força Mónaco!”

a sorte do meu círculo de amigos conter diferentes nacionalidades dentro da onda Ultras, consigo assistir a jogos de outros clubes com os Ultras locais. Também na Bélgica, França, Alemanha e acabando em Itália. Sempre tive a oportunidade de estar em contacto com outros grupos Ultras com os quais se pode aprender o verdadeiro contexto e mentalidade Ultras.

Na Europa, onde o Benfica joga, tentamos estar presentes e representar os Diabos Luxemburgo em todos os estádios possíveis. Nem sempre é fácil de lá chegar, mas por o Luxemburgo estar no centro da Europa, rodeado por três países, arranjamos algumas soluções. Todos os meios são utilizados para viajar e agora, com os Lowcost, ainda é mais fácil viajar atrás do nosso clube de coração.

Como nem sempre se pode viajar até Portugal para assistir a jogos, e tenho

Tive o imenso privilégio de assistir ao derby da Roma com alguns elementos dos Diabos que tinham boas amizades com elementos de bastante valor na Curva Sud da Roma. Aliás, na semana anterior a esse jogo foram dez dias de viagens. Primeiro para apoiar o Benfica no derby numa sexta-feira à noite, de seguida fomos em direcção a Manchester para apoiar os vermelhos e brancos num jogo da Liga dos Campeões contra o Manchester United, depois continuamos viagem até Roma para assistir o eterno derby da Capital. Sem esquecer que no dia anterior ao derby ainda fomos assistir ao Frosinone x Brescia da Seria C. Foram simplesmente dez dias à Ultras com momentos que me marcaram para a vida inteira.

Na Bélgica tive várias vezes a oportunidade de assistir a jogos do Standard de Liège com um amigo Benfiquista que vive em Liège. Apesar do movimento Ultras ainda ser bastante pequeno na Bélgica foi uma bela experiência com os Ultras Inferno 1996. Durante muitos anos o movimento nas bancadas era mais a cena Hooligan devido às influências da Holanda.

Na Alemanha, o fenómeno Ultras teve um enorme boom nos últimos 20 anos, com muitos jovens a integrar os grupos Ultras em quase todas as cidades. Desde então, naturalmente, comecei a interessar-me pela cultura Ultras nesse país. Tive a oportunidade de assistir a jogos do Frankfurt com os Ultras Frankfurt 1996 que, a meu ver, são os melhores na Alemanha em tudo que toca à cena Ultras.

Fruto de um encontro inesperado durante um jogo do F.C.Etzella, equipa que eu

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apoio no Luxemburgo, tive o grande prazer de conhecer Ultras de Duisburg que estavam a fazer groundhopping num jogo do Etzella. Desde daquele dia ficamos em contacto e, ao longo dos anos, fortaleci essa amizade que hoje já conta com 20 anos.

Em França, por intermédio de um amigo de longa data, tive o prazer de assistir a jogos do Marselha com os Commandos Ultras 1984. Foram jogos e viagens até St Etienne, Troyes, Strasbourg, Sedan e, sem esquecer, uma final da Taça da França entre o Paris SG e o Marselha. Uma experiência muito boa que também me fez evoluir bastante e entender melhor o movimento Ultras em França. Como esse amigo tinha bons contactos com elementos dos Ultras Tito Cucchiaroni da Sampdoria, tivemos o prazer de assistir ao jogo da Taça UEFA entre o Lens -Sampdoria, em 2005, no meio de todos os grupos Ultras da Sampdoria. Fiquei fascinado pelos cânticos e melodias de apoio durante todo o jogo dos grupos da Gradinata Sud. Podem dizer

o que querem, mas o movimento em Itália, mesmo com a repressão e as mudanças de mentalidade dos grupos, é e será para sempre pioneiro na forma de viver Ultras. Simplesmente em Itália vive-se e respira-se o “Calcio e Ultras”. Uma verdadeira bíblia para todos os Ultras do mundo.

Ao longo dos anos comecei cada vez mais a concentrar-me nos jogos pela Europa fora. Acho que é o meu dever representar os Diabos em todo o lado onde o Benfica estiver a jogar. A minha maneira de pensar é simples, o grupo principal a apoiar em Portugal e nós pela Europa fora! E foi mesmo isso que alcancei na época 201314 com 3 outros elementos dos Diabos. Conseguimos a fazer todos os jogos da Champions League e depois da Taça Uefa até a final em Turim contra o Sevilha. Claro que, ao longo destes quase trinta anos de núcleo, nem sempre conseguimos estar presentes. Claro que nem sempre dá, devido à vida profissional (pois nem todos vivem a custa de

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um grupo) e familiar que deixamos sempre para trás quando vamos apoiar o nosso clube de coração. Muitas vezes nem um obrigado nos dão, nem um bater palmas do meio do campo, que já nos chegava, mas isso é outra conversa.

Assim vão passando os anos e uma pessoa tenta sempre fazer o seu papel de adepto, estar sempre presente nos bons como nos maus tempos e, sobretudo, tentando manter o nosso estilo de vida que é o de ser ultras, aqui como em Portugal, num país que impõe leis sem pés nem cabeça. Esse ser Ultrá está cada vez mais difícil de viver livremente como em outros países pela Europa fora, pela forte repressão que, cada vez mais, está a matar a nossa liberdade de cidadãos no apoio o nosso clube, com as nossas faixas, bandeiras, etc.

Atualmente a situação está mesmo complicada para a maioria dos grupos que não se renderam a essas leis e continuam a lutar jornada após jornada contra um sistema imposto pelos políticos. Acho que está na hora de haver mais união entre os poucos “verdadeiros grupos Ultras “ e de, unidos, fazerem ainda mais ações contra as novas leis e também tentarem envolver os clubes nessa luta. Acho que só assim é possível modificar ou até anular essas leis.

Muito obrigado pelo vosso interesse de conhecer a vida de um Ultra emigrante. Desejo-vos muita felicidade e boa sorte neste projeto da revista!

Longa vida aos Ultras!

Por Marco Fernandes

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A FPF eFootball, divisão de futebol virtual da Federação Portuguesa de Futebol, nasceu em 2017 com a criação do Allianz Challenge, um torneio no maior videojogo de futebol, o EA Sports FIFA, que contou com a participação de mais de 1500 jogadores e um prizepool superior a 20 mil euros. Desde então os valores e objetivos da divisão de futebol virtual da FPF têm tido como base o desenvolvimento da modalidade em Portugal. Queremos oferecer mais e melhores condições aos atletas nacionais e garantir o crescimento do futebol virtual, não só em Portugal, mas também a nível internacional para que os jogadores portugueses possam ter bons resultados nas grandes competições como a FIFAe World Cup e a FIFAe Nations Cup. O nosso objetivo é posicionar o futebol virtual lado a lado com as restantes modalidades da FPF, como o futebol, futsal e futebol de praia. Para isso a FPF garante aos jogadores de FIFA e eFootball, uma plataforma

com competições, prémios, eventos para promover o crescimento de mais praticantes e clubes de futebol virtual. Neste momento, estão inscritos na plataforma efootball. fpf.pt mais de 30 mil jogadores e já foram disputados mais de 25 mil jogos de futebol virtual entre a mais de 100 competições organizadas desde 2017.

Atualmente, os videojogos relacionados com futebol permitem uma ligação ímpar com o universo do futebol e que dão a entidades como a FPF inúmeras possibilidades para promover o próprio futebol. Ter a possibilidade de jogar com lendas do futebol português, como o Eusébio, Luís Figo, Deco ou Rui Costa, é uma nova forma de dar conhecer aos mais jovens quem eram estes jogadores, a sua história e até o seu estilo dentro de campo. Ter conhecimento dos novos talentos do futebol através dos videojogos é uma prática cada vez mais comum, basta olhar para

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uma das últimas iniciativas do EA Sports

FIFA 23 com a campanha “Future Stars” e onde jogadores como Fábio Vieira, Cherki, Adeyemi ou Vitinha recebem uma projeção do seu valor com base no seu talento e são depois utilizados por milhões de jogadores do Ultimate Team, um modo de jogo do FIFA 23. O futebol virtual também pode ser utilizado enquanto meio para aprender sobre futebol, seja a nível tático, seja a nível de processos onde uma criança pode facilmente aprender os princípios básicos, como por exemplo a necessidade de passar a bola e jogar de forma coletiva para chegar à baliza adversária. Movimentos como o “Joga em Casa”, criado pela FPF eFootball durante a quarentena e que teve torneios como o Diogo Jota Challenge, onde o vencedor teve a oportunidade de jogar FIFA contra o craque da Seleção Nacional e Liverpool, ou até outras iniciativas dedicadas a famílias e jogadoras de futebol virtual feminino, são provas que no universo do gaming e esports existe uma excelente oportunidade de inclusão, igualdade e aprendizagem.

Seja a nível competitivo, seja a nível lúdico, acreditamos que podemos e estamos a utilizar o futebol virtual como mais um meio para dinamizar e desenvolver o futebol. No meu caso em particular, desde as escolinhas que pratiquei futebol ou futsal federado e a

paixão pelos videojogos, sobretudo aqueles relacionados com futebol, esteve sempre presente de uma forma orgânica e como mais um elo de ligação ao futebol. E é com este espírito que queremos desenvolver o futebol virtual dentro da Federação Portuguesa de Futebol.

Por Raúl Faria – Coordenador de Futebol Virtual da Federação Portuguesa de Futebol

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Mais longe não “podíamos” ir... Embora tenhamos voado por de mais de 18 horas, esta foi a travessia mais curta que conseguimos arranjar para chegar à Austrália. Aterrados em Sydney, pisamos pela primeira vez a placa tectónica indo-australiana. Vamos então conhecer mais um país, mais um continente que até hoje a Cultura de Bancada não conhecia. Qual é a primeira coisa que vos vem à cabeça quando vos falam da Austrália? Será o Harry Kewell, o Mark Viduka, o Tim Cahill ou serão os cangurus? Já lá chegamos, vamos antes rebobinar a cassete. O dia 1 da Comunidade da Austrália (nome oficial que advém da colonização britânica) dá-se no primeiro dia de 1901. Contudo, o país continuou nos anos seguintes a estar intimamente ligado às lideranças do Reino Unido. Apesar de, até 1973, o país viver sob a política “Austrália Branca”, com restrições de imigração de pessoas “não brancas”, a verdade é que, há mais de 65 000 anos, os primeiros povos a descobrirem aquele território não eram brancos, mas sim, gentes que chegavam pelo sudeste asiático e que, possivelmente, foram dos primeiros africanos que migraram do seu continente. Falamos dos Aborígenes australianos, o povo original daquela que é a maior ilha do mundo. Até ao final do século XVIII, a população aumentou gradualmente devido à colonização, tendo o Império Britânico usado o território como “depósito” de presos. Nos entretantos destes pedaços de história, surgiu o Aussie Rules (Futebol Australiano), modalidade criada em Melbourne, por volta de 1857, que surge dos jogos “primitivos” com bola dos Aborígenes e que se assemelha ao Râguebi. O Futebol Australiano desenvolveu-se bem até ao início da Primeira Guerra Mundial, tendo a mesma desfalcado os clubes de muitos e bons praticantes o que, à posteriori, levou ao declínio da prática do jogo. Até aos dias de hoje, esta modalidade divide constantemente com o Râguebi e Cricket os principais “holofotes” do desporto da Austrália.

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Recuando novamente alguns anos, durante o século XIX, no período de vigência do Império Britânico, houve vagas massivas de migração, fundamentalmente pela “corrida” à extração de minerais, sobretudo de ouro. Foi aí que se deram os primeiros jogos de Futebol “à britânica”, a modalidade que por cá é desporto-rei. Mais tarde, em 1921, deu-se o primeiro jogo entre equipas femininas, o qual foi acompanhado por 10 000 adeptos. A prática deste desporto continuava a ser residual, intensificando-se após a Segunda Guerra, num período de êxodo de povos do centro e, principalmente, do leste europeu para as terras australianas. Inicialmente os britânicos e depois os demais foram jogando à bola e formando as suas colectividades, que contavam com um forte sentimento de pertença e simbologia identitária às suas terras natais. Só nos anos 50 o “nosso” jogo de bola começa a ser mais difundido pelo país, consequência do aumento do número de equipas e criação de associações estaduais. Contudo, os australianos descendentes de britânicos desprezavam o Futebol, por uma questão de respeito aos seus antepassados que tinham sido expulsos das suas terras pela Coroa Imperial. O Futebol até era denominado por “Soccer”, dado estar em quarto plano no panorama desportivo do país. O ponto de viragem para a afirmação do Futebol foi a qualificação e participação inédita no Mundial de 1974, o que levou a que se olhasse e pensasse o futuro da modalidade de outra forma. Em 1977 o sonho de alguns tornou-se realidade com a introdução do campeonato nacional, a National Soccer League, em detrimento dos campeonatos estaduais. A liga atraiu um número considerável de adeptos até 1983, tendo decaído o número de presentes nos estádios entre 1984 e o final da década. Acontece que a partir de 1989/1990 os dirigentes máximos implementam mudanças consideráveis na gestão do campeonato. Terminaram com os jogos no Inverno, adaptando o calendário para não coincidir tanto com as épocas do Râguebi e do Futebol

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Australiano, considerando ainda ser importante oferecer melhores condições para quem visitasse os recintos. As altas instâncias forçaram os clubes a tornarem-se mais apetecíveis aos média, mudando os seus nomes e símbolos, proibindo bandeiras e cânticos étnicos, tudo isto sem o aval dos adeptos, como nos casos do South Melbourne Hellas (origem grega) e do Melbourne Croatia (origem croata). Isto afastou os adeptos e os clubes tradicionais por consequência. Nos anos seguintes, o Futebol, que era praticado de forma semi-profissional, viu-se envolvido na intensificação do processo de comercialização, com imensos clubes a serem fundados e dissolvidos após uma, duas, três épocas de actividade. Em 1996/1997 deu-se a maior assistência num estádio australiano, por ocasião da final do campeonato, presenciada por cerca de 40 000 adeptos.

O novo milénio trouxe redobrada instabilidade à National Soccer League, que não conseguiu criar uma base sustentável de adeptos até ali. Neste período há a destacar a criação do Adelaide United, que ocupou o lugar do Adelaide City, captando nova atenção na cidade, sendo prova disso as multidões que arrastava. Em 2003, o governo assume a revisão do modelo de competições e cria o “Crawford Report”, um relatório que dava a NSL como falida e que assumiu a violência entre adeptos como algo negativo para o desenvolvimento do jogo. Então, o governo decidiu criar a A-League, competição que teve início em 26 agosto de 2005. Cinco clubes transitaram do NSL para esta nova competição, tendo sido criados mais três clubes para perfazer o total de oito participantes. Foi definido que só seria possível inscrever uma equipa por cidade e que cada uma delas teria de depositar uma franquia no início da época, ao estilo NBA. Algo que contribuiu para o impulsionamento do novo modelo competitivo e aumento da popularidade do Soccer foi o factor da selecção voltar a qualificar-se para um Mundial, o de 2006 na Alemanha, e

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o facto de jogadores como Dwight Yorke, Romário, Del Piero, entre outros, jogarem na A-League. Com a nova liga, os clubes tradicionais, que até detinham os fiéis e apaixonados adeptos, foram relegados para as divisões inferiores. Foi implantado um sistema de mercado de transferência que prejudicou os clubes com menos recursos financeiros e beneficiava os clubes (empresa) primodivisionários, uma vez que permitiu transferências nacionais de forma gratuita. Os novos clubes-empresa conseguiram atrair os adeptos, como nos casos do Sydney FC e do Melbourne Victory que, desde logo, contaram com grupos de apoio organizados, que se tornaram relevantes neste âmbito. Dessa forma, em 2005 foi possível assistir à fundação de grupos como The Cove (Sydney FC) e North Terrace (Melbourne Victory), que procuraram seguir as pisadas do movimento Ultra europeu. Daí surgiu o incentivo para a criação de mais grupos em diversos clubes, uns aproximando-se do estilo Ultra, outros da cena Casual (South City Crew 2015 - Adelaide United; Hindmarsh Service Crew - Adelaide; Gate 12 - Adelaide; C.Y.L. - Melbourne Knights; Harbour City Service; Y-Ville). Há casos de grupos de clubes ligados às suas origens étnicas como o Sydney United Supporters (2009), que apoiam o Sydney United, clube esse ligado ao povo croata, como também o grupo Rockdale City Suns Supporters que são afectos o Rockdale Ilinden, colectividade fundada por macedónios, sendo quase como que o Vardar Skopje da Oceânia. O Rockdale City Suns Supporters funciona basicamente como núcleo de Sydney do grupo de apoio do Vardar, o Komiti.

O Futebol passou a atrair curiosos, não só pelo espetáculo dentro das quatro linhas, uma vez que era a modalidade em que há melhor ambiente nas bancadas. Os grupos procuraram inovar ao longo dos anos, importando cânticos e fazendo coreografias, algo inédito em solo australiano. Os grupos queriam mostrar-se e alguns procuraram ser mais viris, como aconteceu

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com o Horda do Melbourne Victory. O Horda roubou/conquistou várias faixas e estandartes de outros colectivos. Então, este grupo viu proibida a entrada do seu material nos recintos, e no seu sector a presença policial foi aumentando. Diversos membros do grupo receberam multas e interdições, o que levou a que todos os grupos que compunham o North Terrace entrassem em protesto. Supostamente, no ano de 2011, o grupo foi dissolvido, embora no ano passado tenha marcado presença com a sua faixa nos jogos do seu clube. Sintomático do futebol negócio é a fundação do Western Sydney Wanderers, uma vez que o clube foi criado pela federação e integrado na A-League, tudo isto em 2012. Este caso torna-se ainda mais estranho quando conhecemos a forma como a massa adepta foi “gerada” instantaneamente. A federação auscultou a comunidade da zona ocidental de Sydney (zona na qual há uma maior multiculturalidade na cidade) sobre o que pretendiam ver reflectido no “seu” novo clube. Facto é que hoje em dia o Western Sydney Wanderers tem uma das duas maiores massas adeptas do país, a par da do Melbourne Victory. Em 2013 foi fundado o grupo de apoio Red and Black Bloc, que se tornou uma referência no movimento do país dos cangurus. Em poucos anos, a rivalidade entre os clubes da maior cidade australiana levou a que o derby entre Sydney FC e Western Sydney Wanderers se tornasse o jogo com mais fervor envolvido, seguido do “The Big Blue”, o clássisco que opõe o Sydney FC ao Melbourne Victory, emblemas das duas maiores cidades.

O ano de 2015 marcou a história deste movimento de apoio, uma vez que nesses 365 dias foram registradas 198 interdições de adeptos. A federação levou a cabo uma forte onda repressiva, acusando e afastando adeptos por posse de pirotecnia, por injúrias, por excesso de álcool, invasões de campo acidentais em festejos de golos, etc. O pior ainda estava por chegar.

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A jornalista Rebecca Wilson, que é conhecida como inimiga do Futebol e seus adeptos, levou a cabo um ataque sem precedentes. Rebecca preparou um artigo para o jornal Sydney Sunday Telegraph sobre estes 198 interditos, estando alguns adeptos avisados dias antes para tal situação. Membros de grupos de apoio tentaram que a federação pusesse cobro à situação e não permitisse a exposição pública dos acusados. Facto é, que os nomes e as caras dos adeptos castigados saíram na capa e no interior do jornal. Diversos adeptos foram acusados pela jornalista de crimes pelos quais nunca foram julgados, sendo ainda comparados aos terroristas que levaram a cabo os ataques de 13 de Novembro de 2015 em Paris. Importa referir que isto só aconteceu devido à conivência dos dirigentes da federação de Futebol, que passaram toda a informação pessoal dos interditos.

Por aquela altura, as interdições eram aplicadas sem os acusados terem direito a conhecer as acusações e sem terem direito a recurso. Os protestos dos grupos subiram de tom, tendo contribuído para isso a união geral, independentemente de clubismos. Um dos protestos foi abandonar em massa as bancadas aos 30 minutos de jogo, o que causou o impacto esperado. À posteriori, algo que contribuiu bastante para o marcar de posição dos apoiantes foi a solidariedade, defesa dos direitos e reconhecimento do trabalho desempenhado pelos grupos, por outros jornalistas. Exemplo disso foi o que se passou na estação televisiva Fox australiana, após um jogo, em que um responsável da federação foi confrontado pelos jornalistas em relação à falta do direito de defesa dos adeptos nos processos aplicados. O elemento da FFA assumiu outra posição em relação aos recursos e aí os grupos ganharam alguma vantagem e intensificaram a pressão, com um boicote geral à jornada seguinte do campeonato. A federação cedeu à ideia de mudar a sua política de interdição e aceitou que os jornalistas da Fox mediassem uma reunião

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com os grupos de apoio. Resultado? Um acordo que determinou que, antes de se efectivar a penalização, os acusados saberiam do que estavam a ser acusados, sendo demonstradas as evidências, e passavam a poder apresentar recurso.

Entretanto, o North Terrace dissolve-se em 2016. O grupo que sempre assumiu a sua independência dos responsáveis do clube viu-se desgastado pela repressão, uma vez que eram impedidos de realizar cortejos, de apresentar o seu material de bancada, tal como coreografias. Anos antes passou a ser obrigatório ser sócio do clube para aceder ao sector do grupo, sendo que a afiliação ao clube não é comum na Austrália.

Com dias melhores e com dias piores, o pequeno movimento de apoio da Oceânia foi-se mantendo activo, contando com cerca de uma dezena de grupos no total. Em 2019, é reacendida em força a chama do Melbourne Victory através da fundação do colectivo Original Style Melbourne, que recuperou membros do antigo North Terrace e juntou os grupos Horda e Nomadi.

Os últimos meses de 2022 foram complicados para o panorama australiano. Em Outubro disputou-se a final da taça. O Sydney United fez história como primeiro clube, não primodivisionário a ser finalista. Alegadamente a massa adepta de origem croata vaiou o ritual tradicional do país “Welcome to Country”, entoou cânticos fascistas ao passo que faziam saudações nazis. Isto valeu 15 000 dólares de multa ao clube e, pelo menos, duas interdições vitalícias a adeptos.

Já em meados de Dezembro, os grupos de adeptos rivais de Melbourne combinaram um protesto conjunto durante o derby. O objectivo era reforçar a insatisfação da comunidade futebolística australiana em geral contra a decisão de disputar as próximas três finais da A-League

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em Sydney. A Australian Professional Leagues mudou os moldes da competição, retirando a hipótese do primeiro classificado disputar a final do campeonato em sua casa, a troco de 15 milhões de dólares. Ficou definido entre os grupos que aos 20 minutos iriam abandonar o estádio. Acontece que no sector visitante o Original Style Melbourne abriu tarjas contra a liga e lançou artefactos pirotécnicos para o relvado, de forma a interromper a partida. Um pote de fumo caiu perto do guarda-redes do Melbourne City, que prontamente o atirou para a bancada de onde tinha saído. Face a isto, cerca de uma centena de membros do OSM invadiu o campo, seguindo-se agressões ao guarda-redes envolvido, ao árbitro e a um operador de câmara. O clube foi multado em 550 mil dólares e está sujeito à perda de 10 pontos na classificação, caso haja algum caso de mau comportamento dos adeptos até ao final da época 2025/2026. Quanto aos adeptos do Victory em geral, estiveram impedidos de presenciar jogos fora por um mês, ao passo que o grupo OSM viu o seu sector encerrado nos jogos em casa. Pelo menos 29 adeptos foram detidos, sendo que dois deles receberam ordens de interdição vitalícia e outros oito receberam interdições pelos prazos variáveis de 5 a 20 anos. Adivinham-se tempos muito difíceis para todos os aficionados australianos, numa altura em que o Original Style Melbourne veio por duas vezes a público lamentar o sucedido e reiterar que o seu futuro só depende dos seus membros.

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Na era digital em que nos encontramos, a forma mais atual de mostrar uma viagem do céu ao inferno a bordo do Leça Futebol Clube era com um Time Lapse das últimas duas épocas. Mas em 110 anos, tivemos oportunidade de ter vários episódios dignos de uma epopeia de Homero.

que a partir dela cimentam o símbolo que as representa e une.

O INÍCIO

1912. Data dos primeiros registos históricos encontrados sobre o Leça Futebol Clube. Um recorte de jornal no Primeiro de Janeiro, onde o capitão do “Leça Football Club” convoca os atletas para um “match”, é até agora o primeiro registo encontrado do emblema de Leça da Palmeira.

A Reorganização

Durante 1916-1918, período da 1ª Guerra Mundial, os registos são extremamente raros. No final de 1921, ocorre a fusão entre o Cruz Branca e a União Sportiva de Leixões e assim surge a famosa reorganização do clube, oficializada através da inscrição a 1 de Janeiro de 1922, importante data para o clube, por força das gentes da pequena Vila de Leça da Palmeira

A HISTÓRIA

Assim se lança a história do Leça Futebol Clube, direcionado para ser a bandeira dos habitantes de Leça da Palmeira. Um clube feito por Leceiros, desenvolvido por leceiros e transportado aos 4 cantos do mundo por todos os que cá passam. A história do Leça é escrita por várias modalidades e eventos sociais, criando assim um forte impacto no associativismo e desporto local - Futebol, Andebol, Basquetebol, Bilhar, BodyBoard, eventos musicais, Fanfarra, entre outros. Este ritmo de associação pela comunidade aglomera os cidadãos leceiros à sua volta, que, em conjunto, empurram o clube durante os 110 anos da sua história para palcos nacionais e internacionais - desde o Futebol ao BodyBoard, desde o Bilhar ao Subbuteo, adeptos, dirigentes ou atletas, preenchem recortes de jornal e pedaços de história com os seus nomes. Os Flechas, equipa que representa a importante reorganização do clube em 1922, liderados por António Lino Moreira e Domingos Ramos

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são a primeira grande equipa do clube, que volta a ganhar heróis através da equipa que conquista a II Divisão Nacional - Série Douro Litoral em 1940/41, frente ao Leixões. No ano seguinte, o Leça Futebol Clube está presente na primeira edição do Campeonato Português a 10 equipas.

Anos mais tarde, há uma geração que marca a história do Leça: entre 1954 e 1957, o Leça sagra-se 2x Campeão Regional e 1x Vice-Campeão Nacional de Juniores.

conseguiram erguer o famoso estádio que se encontra à esquerda de quem viaja desde Norte na Autoestrada que liga Viana do Castelo ao Porto. A família de Custódio Antunes cedeu os terrenos adjacentes ao pavilhão que albergava as modalidades (que recebeu o nome da família como homenagem) e aqui se começa a desenhar a nova fortaleza leceira.

Desta Geração surgem históricos nomes como José Henrique, Martinho e Gentil, mas, acima de tudo uma geração de verdadeiro “lecismo” - Todos passaram vários anos no clube em várias funções e ainda hoje alimentam o clube, com as suas descendências. Um símbolo que se mantém vivo de geração em geração.

O NOVO ESTÁDIO

Durante a história, há uma frase que marca o clube - “Em Leça luta-se sempre até ao fim” -, que é brilhantemente espelhada quando o Leça é despejado do Campo Hintze Ribeiro.

Foi dado ao Leça um ano para erguer um novo estádio, o que parecia uma tarefa hercúlea - era necessário encontrar um terreno, idealizar um estádio e colocá-lo de pé (Portugal já foi bem menos burocrático, ao que parece).

Os leceiros juntaram-se e ao leme do presidente José Archer de Carvalho

A partir daqui a cidade entrou numa missão: o estádio foi idealizado e começaram a surgir os materiais, as máquinas e as pessoas que o tornariam como a nova casa dos leceiros. Hoje, este estádio continua a albergar o nosso clube, apesar da turbulência que a viagem tem sofrido até ao dia de hoje.

O SONHO DE REGRESSAR AO TOPO DO FUTEBOL

Manuel Rodrigues foi eleito presidente do Leça Futebol Clube. Com ele, juntava a antigos dirigentes a nova energia e ambição dos mais recentes e carregavam em conjunto o sonho de ver o Leça na primeira divisão.

Em 1994/95, o clube consegue a histórica ascensão à 1a Divisão Nacional. Um plantel composto por nomes como Serifo, Constantino ou Sérgio Conceição, que com Joaquim Teixeira ao leme chegaram ao topo do futebol nacional orientados pelo farol das gentes de Leça da Palmeira.

Entre 1995 e 1998, o Leça foi uma das equipas sensação da primeira divisão. O histórico matador Constantino colocava as defesas adversárias em alerta sempre que

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Serifo e companhia carregavam a equipa do Leça em direção à baliza adversária. Vladan, e outros, conseguiram históricas vitórias no campeonato e honrosas prestações na prova rainha do futebol nacional.

DO CÉU AO INFERNO

Em 1998, surge o mais negro episódio da história do clube. O “caso Guímaro”, para sempre lembrado pela rábula dos “quinhentinhos”, teve consequências funestas para o Leça. Em casa do árbitro de Coimbra foi encontrado um cheque de 500 contos emitido pelo presidente do clube leceiro, Manuel Rodrigues. As investigações viriam a conduzir à condenação de Guímaro por corrupção passiva, mas também de Manuel Rodrigues, do seu pai Manuel Gonçalves Rodrigues e António Ramos. Embora nenhum destes cumprindo prisão efectiva. (Fonte: Jornal Record)

Na justiça desportiva, o caso também deu que falar. A 26 de Junho de 1997, a CD da Liga contrariou o acórdão do Tribunal de Matosinhos e do Supremo Tribunal de Justiça, após recurso, considerando ter havido “tentativa de corrupção”. A 23 de Julho de 1998, o Conselho de Justiça da FPF corrigiu o veredicto e o Leça desceu de divisão, administrativamente.

Esta descida leva à perda de parceiros, que consequentemente entrega o Leça a um mar dividas insustentáveis.

Manuel Rodrigues acaba por sair da presidência do clube e os presidentes seguintes lutam diariamente por manter o clube vivo, apesar da dívida acumulada de 12 Milhões de Euros.

A BANCADA

Antes de continuar a falar sobre a montanha russa que é ser adepto do Leça Futebol Clube, queria dedicar espaço ao assunto que dá nome a esta publicação: A Cultura de Bancada.

Durante a sua história, o Leça foi motivação de muita gente para encher estádios de norte a sul. Antes do futebol profissional, quando ainda se valorizavam as rivalidades vizinhas (mesmo havendo grande entreajuda entre as partes), as bancadas enchiam-se principalmente em confrontos contra equipas como o Lixa, União de Lamas e, claro, o vizinho Leixões S.C.

Mais recentemente, a partir dos anos 90, os grupos de adeptos começavam a ganhar nomes. Surgem os Ultras Leça em 94, a Brigada Verde em 97 e vários núcleos pelas bancadas leceiras.

Os adeptos leceiros sempre tiveram uma grande afluência aos jogos, apesar da dimensão da cidade apenas ter disparado nos anos 90 e 2000. As bancadas pintavam-se de cores e tarjas de apoio e davam ao estádio do Leça a fama de ser uma visita muito dificil para qualquer clube.

No momento profundo, da descida do clube aos distritais, as claques foram a grande força motriz que empurrou a equipa de volta ao espaço nacional.

1998 - 2023

Long Story Short. (Ou nem por isso) - 12 Milhões de Euros em dívidas.

Tal como no caso do despejo do Estádio, o Leça volta a ver-se numa situação

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semelhante à de passar o Cabo das Tormentas - Não sabemos o que vem aí, mas é assustador só de ver ao longe.

Desde aí, o Leça perdeu muito património para se tentar manter vivo, (o que até parecia impossível) e, em 2006/2007, conquista um título nacional de 3ª DivisãoPensou-se que este seria o momento em que poderíamos trocar o Cabo das Tormentas, pelo Cabo da Boa Esperança, mas as ondas de processos fiscais continuavam a ameaçar o navio.

O Leça acabou por descer aos distritais em 2013, quando é decidido que não existe capacidade financeira para suportar a equipa nos nacionais. Os grupos de apoio ao clube - Ultras Leça 94 e mais tarde Brigada Verde 97 - voltam a ganhar força e ajudam a puxar o clube do fundo do poço. Criam-se movimentos à volta do clube e o regresso aos nacionais acontece.

DOIS ANOS DE RESISTÊNCIA AO AMOR

Esta força transporta o Leça durante a viagem no Campeonato de Portugal e acaba mesmo por chegar a bom porto com a subida à Liga 3 - Ou pelo menos parecia.

As dívidas fiscais acabam por impedir o Leça de se inscrever na Liga 3. Esta subida poderia ser um grande passo para a resolução dos problemas financeiros do clube, mas acaba por empurrá-lo ainda mais para baixo.

A época seguinte tinha tudo para correr mal - ou até nem correr.

Início tardio da pré-época, incerteza de investimento, falta de jogadores. Tudo estava mal. A 4 semanas do início da época o plantel era composto por 6 jogadores.

Mas, quando tudo parecia destinado ao desastre, a equipa consegue a primeira vitória no terreno emprestado dum Espinho candidato à subida e a partir daí é história. O Leça consegue eliminar 2 clubes da 1ª Liga na Taça de Portugal, consegue repetir a melhor qualificação de sempre do clube e alcança a Fase de Subida para a Liga

3. Uma onda gigante de Leceiros acompanha a equipa para todo o lado e, mesmo jogando contra o Sporting em Paços de Ferreira numa noite muito fria de quarta-feira, mais de 1500 Leceiros se deslocam até à Capital do Móvel. A SAD do Leça é adquirida por um profeta e empresário italiano que promete em direto na televisão devolver o clube à 1ª Liga em 5 anos - Mas alguém se esqueceu de lhe dizer que o custo de vida em Portugal é mais barato do que em Itália, mas o Futebol não é gratuito. Ao fim de 2 meses, as promessas mantiveram-se como tal - Para um dia se realizarem - e os pagamentos começam a falhar. O Leça (Ou Leça SAD, não sei se em Italiano se diz assim) acaba por falhar a subida à Liga 3, por um ponto. Quem diria que uma época tão bonita se tornaria tão frustrante?

HOJE

Quando todos achávamos que o Leça conseguiria finalmente passar o Cabo das Tormentas, deparamo-nos com o Leça a tentar salvar o navio com fita cola, para pelo menos voltar para junto dos seus.

Hoje temos uma bebé SAD nos braços e o pesadelo teima em não terminar. O Futebol enfrenta uma fase muito complicada e o clube não consegue dar por terminadas as dívidas, apesar da redução dos 12 Milhões para cerca de 1 Milhão e 500 mil. O crescimento contínuo da formação, o apuramento do Bilhar para a Taça dos Campeões Europeus, as novas modalidades ou a persistência dos Leceiros em não deixarem de seguir o seu clube dão alento e esperança de que o futuro ainda pode ser risonho.

Tal como o Titan do Molhe Norte, o Leça vai-se mantendo enferrujado, mas ainda de pé, com a motivação e resiliência de uma nova geração de leceiros. No entanto, pedemse mais mãos, mais energia e mais apoio do poder público e privado local para conseguir manter este barco de pé e transformar o Cabo das Tormentas no Cabo da Boa Esperança.

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Neste número convidamos a Football Supporters Association, uma associação adeptos que actua na Inglaterra e no País de Gales. A título de curiosidade, a FSA é membro fundador da Football Supporters Europe. Agradecemos desde já a disponibilidade em responderem às nossas questões.

À CONVERSA COM A FSA

obrigados a ter boa gestão nas suas próprias estruturas baseadas em “um membro, um voto”, com contas auditadas, etc. Estes são os nossos “afiliados”, e organizamo-los em redes, dependendo do nível do jogo em que estão envolvidos. Assim, temos uma rede da Premier League para os nossos afiliados nos clubes da Premier League, e de forma semelhante uma rede para o Campeonato, uma para as Ligas Um e Dois, e uma para aquilo a que chamamos o “national game” - basicamente, todos os níveis de futebol masculino abaixo das quatro primeiras divisões. Temos também uma rede de afiliados nossos, no jogo feminino.

Quando e como nasceu a Football Supporters Association?

A Football Supporters Association (FSA) não nasceu, ou pelo menos, diria que evoluiu. A história das organizações de adeptos de futebol em Inglaterra e no País de Gales remonta a mais de cem anos - tem sido uma história de construção de organizações e depois de fusões de organizações que anteriormente eram quase rivais; a última edição (do seu formato) foi a fusão entre a Federação de Adeptos de Futebol (FSF) e a Supporters Direct (SD) em 2019 para formar a que agora é a Associação de Adeptos de Futebol (FSA).

Como é que se organizam?

Os nossos membros dividem-se em três categorias. A primeira é a dos trusts ou associações de adeptos, democraticamente organizados ao nível do clube; estes são

A segunda categoria de membros é de membros individuais - qualquer pessoa pode aderir, e a adesão é gratuita. Os membros (singulares) de outros afiliados (colectivos) também podem aderir como membros individuais. Todos esses membros têm direito a votar em questões políticas e na eleição dos membros nacionais da FSA.

A terceira categoria é efectivamente qualquer pessoa que não se enquadre em nenhuma das duas primeiras categorias - ou seja, são mais do que um simples indivíduo, são um colectivo, mas não estão organizados numa base comprovadamente democrática.

Originalmente, essa era uma categoria para fanzines, que têm uma voz mais forte do que um membro individual, mas que não têm necessariamente qualquer responsabilidade democrática. Actualmente, esta categoria também inclui feeds do Twitter, grupos do Facebook, contas Instagram, alguns grupos ultra, etc.

Todas estas categorias têm representação no nosso Conselho Nacional, que é eleito na nossa Assembleia Geral anual - que também decide as políticas, determina as prioridades de campanha e elege o Conselho, o presidente

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e o vice-presidente.

E isto é apenas o princípio. O trabalho da FSA é principalmente organizado e liderado pelo nosso staff, que conta actualmente com 17 membros, a maioria dos quais empregados a tempo inteiro. Pode descobrir quem eles são no nosso site.

foi que não basta saber que temos razão: se não conseguirmos persuadir outras pessoas, particularmente as que têm o poder de tomar as decisões, então não mudaremos nada. Assim, mudámos a nossa abordagem, e começámos a envolver-nos com aqueles que tinham autoridade para iniciar um verdadeiro diálogo sobre quais eram as suas objecções à posição, e começámos uma campanha de persuasão, de investigação, de diálogo, lenta e meticulosamente para derrubar, uma a uma, todas as suas objecções. Descobrimos que a maioria das pessoas no futebol quer manter os adeptos felizes - querem-nos ver entrar através dos portões e pagando os bilhetes, afinal de contas - bem como ver na televisão - e que a maioria das suas razões para não permitir a posição de pé se baseavam em preconceitos e mal-entendidos.

Quais são actualmente as vossas maiores bandeiras/lutas?

Fazemos campanhas sobre quaisquer questões que os nossos membros tragam à nossa atenção, e que obviamente podem variar de tempos a tempos. Tivemos alguns sucessos ao longo do tempo; mais recentemente conseguimos que a lei fosse alterada de modo a termos agora áreas licenciadas em pé em todos os níveis do jogo, incluindo na Premier League e mesmo o estádio nacional, Wembley. Esta campanha ensinou-nos muita coisa. Levou-nos mais de vinte anos a alcançar esse resultado. Com a vantagem de, a posteriori - e com todo o respeito pelos defensores que dedicaram tanto tempo e energia ao seu trabalhodesperdiçamos talvez quinze desses anos a gritar à margem, exigindo mudanças e denunciando todos os que não nos quiseram dar. Sabíamos que os adeptos queriam áreas em pé - de qualquer forma, milhares de adeptos continuavam em pé em todos os jogos - e sabíamos que a posição em pé não era intrinsecamente insegura. Mas o que essa campanha nos ensinou mais do que tudo

Tivemos de ser pacientes, e parte do trabalho foi árduo - o encontro com as famílias das vítimas de Hillsborough, por exemplo, exigiu muita sensibilidade - mas acabámos por convencer uma maioria no jogo de que a posição de pé poderia ser segura, e que a sua introdução teria um apoio maioritário e seria popular entre os adeptos. Depois disso, era apenas uma questão de tempo, e só tínhamos de ser pacientes enquanto eles realizavam os ensaios e esquemas-piloto. As áreas em pé estão agora a regressar ao futebol de alto nível, e a atmosfera e a extensão da “escolha do cliente” serão melhoradas com isso.

Também temos tido sucesso com algumas campanhas em torno do preço dos bilhetesnos últimos nove anos, o preço máximo para um bilhete de saída da Premier League foi de 30 libras, e isso graças a uma campanha que fizemos. Mas muitos dos progressos que fizemos não se devem a campanhas específicas de grande visibilidade, mas ao trabalho paciente de convencer as autoridades do futebol do valor de envolver os adeptos como partes interessadas, e depois utilizar essa posição para defender os interesses dos adeptos.

Este trabalho foi enormemente melhorado

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com a profissionalização do nosso trabalho. Temos agora um financiamento de mais de um milhão de libras por ano, e temos o equivalente a dezasseis funcionários a tempo inteiro. Isso permite-nos dedicar tempo a manter um contacto regular com os nossos membros em toda a pirâmide, de modo a estarmos sempre em contacto com o que eles querem e quais são as grandes questões para eles. Contudo, as organizações de adeptos a nível de clube são quase inteiramente dirigidas por voluntários, pelo que fazemos o que podemos a nível nacional para apoiar o seu trabalho também.

de futebol profissional a tempo inteiro, e depois um enorme ecossistema de clubes semi-profissionais e amadores abaixo disso.

Como caracterizam a participação dos adeptos na FSA?

Mais de 40 clubes são agora propriedade de adeptos ou da comunidade, e a FSA é a principal instituição que que apoia e aconselha o seu trabalho. O movimento de confiança dos adeptos tem sido crucial para isto, e fornece um modelo para uma estrutura legal através da qual os adeptos podem ser colectivamente proprietários de parte ou da totalidade dos seus clubes locais. Em muitos casos, os trusts salvaram literalmente os seus clubes, resgatando-os da falência sob um mau proprietário, e trazendo-os de volta à vida. No entanto, a propriedade comunitária ainda é provavelmente a estrutura de propriedade mais saudável para um clube de futebol. Porque nem sempre é financeiramente viável, o que temos analisado através do nosso recente trabalho em torno da regulamentação é a introdução do mesmo tipo de poderes e influência para os adeptos que a propriedade lhes teria dado, sem a necessidade de angariar uma fortuna para a comprar.

No vosso contexto, quais são as maiores dificuldades que os adeptos sentem?

As questões com impacto nos adeptos variam enormemente ao longo da pirâmide. A Inglaterra é extraordinária na medida em que temos bem mais de uma centena de clubes

É claro que a todos os níveis há questões com que temos de lidar em torno do policiamento e da gestão, do preço dos bilhetes, do impacto da transmissão televisiva nos horários de arranque, etc., mas para tantos clubes - mesmo ao mais alto nível - existe uma ameaça semi-permanente à existência do clube, uma vez que muitos são geridos de forma insustentável. Temos clubes no Campeonato, por exemplo, que gastam 200% do seu volume de negócios em salários de jogadores - isso não pode durar para sempre, e o que me vem à cabeça em cada clube é que um dia, para o seu clube, o proprietário pode cansar-se de subsidiar as contas e irse embora, e todo o futuro do futebol na sua comunidade está em dúvida. É por isso que demos prioridade ao regulamento,

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particularmente ao regulamento financeiro dos clubes e de todo o jogo como o foco do nosso trabalho - ele sustenta tudo o resto. Após anos a levantar a questão da sustentabilidade junto das autoridades do futebol e a pedir-lhes que tornem as suas regras mais rigorosas, chegámos relutantemente à conclusão de que o futebol é incapaz de se regular a si próprio, e que precisamos de um regulador legal independente. Isto não se deve ao facto de as pessoas individuais que trabalham nas autoridades do futebol não serem simpáticas ou não se importarem, mas sim ao modelo de governação. As regras da Premier League, por exemplo, são votadas pelos clubes - são necessários os votos de 14 dos 20 clubes membros para aprovar uma alteração às suas regras. A experiência ensinou-nos que é pouco provável que esses clubes votem a favor de regras que restrinjam as suas próprias actividades, e por isso se não quisermos abandonar o futuro do jogo aos caprichos dos actuais proprietários bilionários, precisamos de regulamentação externa com poderes para enfrentar a ganância e o interesse próprio de alguns proprietários.

Como se desenvolveu a relação entre os adeptos e as entidades governamentais?

Onde se desenvolve e o que esperam para o futuro?

Este também tem sido um processo longo e difícil, mas estamos num ponto em que o governo (ainda mais improvável, um governo conservador!) está prestes a anunciar legislação para estabelecer um regulador independente com poderes estatutários.

Estamos optimistas que parte desta legislação será garantir aos adeptos uma voz a todos os níveis do jogo, desde a gestão dos seus próprios clubes até às autoridades nacionais de futebol. É claro que já temos diálogo regular com as ligas e a FA - existem representantes da FSA no conselho da FA - e com o governo, mas ter isto como requisito de um sistema de licenciamento legal de clubes

poderia ser, literalmente, uma mudança de jogo.

Qual é a vossa opinião sobre a reacção que os adeptos ingleses têm tido ao longo dos anos com as medidas repressivas?

Em geral, o tratamento dos adeptos pela polícia e pelos comissários de estádio melhorou enormemente ao longo do tempo do meu envolvimento no jogo (que é reconhecidamente medido mais facilmente em décadas do que em anos!). Faz quase 40 anos que fizemos campanha com sucesso contra os planos de Margaret Thatcher (lembram-se dela?) de introduzir cartões de identificação obrigatórios para os adeptos de futebol. Temos de admitir que tivemos, no futebol inglês, um verdadeiro problema com a violência e o hooliganismo, alguns dos quais influenciados e organizados pela extremadireita, e a grande maioria dos adeptos queria ver isso mudar - até porque éramos os mais susceptíveis de sofrer em consequência disso. Os adeptos de futebol eram muito provavelmente as vítimas da violência - que nunca se restringiu apenas àqueles que escolheram participar - e todos nós sofremos devido ao estereótipo dos adeptos de futebol pelos meios de comunicação social, e pelo facto de a polícia ter tratado TODOS os adeptos como se fôssemos hooligans. A legislação introduzida por volta da viragem do milénio que introduziu o sistema de ordem de proibição foi de facto bem-vinda pela maioria dos adeptos, e foi apoiada pela FSA. Isto pode parecer estranho, mas o essencial para nós foi o facto de ter marcado uma mudança na abordagem das autoridades, na medida em que estas começaram a lidar com os perpetradores individuais de delitos, em vez de punirem colectivamente os apoiantes como um todo. As ordens de proibição estavam também limitadas a delitos envolvendo violência e desordem, e não a delitos menores como a embriaguez. Tiveram geralmente um efeito positivo em retirar do jogo pessoas que francamente

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não queríamos, e em acabar com as práticas de banir todos os adeptos dos jogos, por exemplo.

No entanto, descobrimos que temos de permanecer vigilantes em torno desta legislação, pois existe uma tendência inevitável por parte das autoridades policiais para querer alargar os seus poderes, e houve tentativas - algumas das quais resistimos com sucesso, outras em que fomos derrotados- de acrescentar mais delitos à lista de coisas pelas quais os adeptos podem ser banidos. Somos resistentes a qualquer legislação adicional, pois sentimos que a polícia já tem poderes suficientes e, em particular, recuamos contra quaisquer leis que tratem os adeptos de futebol de forma diferente de qualquer outra pessoa. Por exemplo, existe uma lei contra “tentar entrar num campo de futebol enquanto se está bêbado” - porquê? Já existe uma lei contra estar “bêbado e incapaz”, e uma lei contra estar “bêbado e desordenado”

- porque precisamos de uma especificamente sobre os campos de futebol? É um crime beber álcool num treinador a caminho de um jogo de futebol - mas é legal fazê-lo a caminho de um jogo de râguebi - porquê?

Ao fazer campanha contra estas medidas, é sempre útil ser capaz de demonstrar a força do sentimento entre os adeptos sobre estas coisas. Mas também aprendemos que o equilíbrio de forças é tal que não somos capazes de FORÇAR o Estado a mudar nestas questões - sobretudo por causa do papel da imprensa no despertar de sentimentos contra os adeptos de futebol. Por isso, mesmo nesta área, alcançámos o maior sucesso através do envolvimento com as autoridades, e persuadindo-as do nosso caso - e isso funciona particularmente bem quando podemos demonstrar que também é do seu interesse. O custo do policiamento do futebol é muito mais barato quando não se tem uma abordagem conflituosa com requer muita polícia de ordem pública, o diálogo pode poupar-lhes muito dinheiro!

Há álcool a ser vendido dentro dos estádios? Quais são as regras para o seu consumo e que batalhas legais travou para que isso acontecesse?

Sobre o tema do álcool, aqui é uma ofensa beber álcool “à vista do campo” - por isso não podem levar álcool para o vosso lugar na bancada. Mas o consumo de álcool é legal noutro local dentro do estádio, pelo que pode beber no átrio. Temos um problema com esta regra porque só se aplica ao futebol - os jogos de râguebi realizam-se muitas vezes exactamente nos mesmos estádios, e no entanto a regra não se aplica lá, e podem levar a sua cerveja para os seus lugares com eles. Isto parece-nos discriminatório. Para ser honesto, porém, não recebemos muita pressão dos nossos membros para mudar isto - as opiniões dividem-se. Para cada adepto que quer beber enquanto assiste ao jogo, parece haver pelo menos um outro, se não mais, que não quer que lhes seja derramada cerveja quando as equipas marcam, tendo por isso de se levantar ou mover-se sempre que alguém na sua fila quer ir ao bar. E muitos sentem que certamente se consegue passar 45 minutos sem uma cerveja, se se beber o suficiente antes e depois!

A possibilidade de venda de álcool dentro de um recinto desportivo é um factor para os adeptos entrarem mais cedo no estádio e um factor para reduzir de confusão fora do estádio?

Em teoria, deveria haver uma vantagem em vender cerveja no estádio, mesmo não à vista do campo, pois poderia encorajar os

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adeptos a irem mais cedo ao estádio e aliviar o congestionamento pouco antes do pontapé de saída. Na prática, isto não funciona muitas vezes para a maioria das pessoas, por duas razões: primeiro os espaços não são lugares confortáveis ou acolhedores, em segundo lugar os clubes cobram muitas vezes muito mais pela cerveja do que os pubs lá fora. Há um ou dois lugares onde funciona, tais como Brighton (onde o estádio fica fora da cidade e não há pubs em nenhum lugar próximo), ou Tottenham, onde o novo estádio tem realmente boas instalações. Mesmo nestes casos, não creio que seja coincidência, os seus preços de cerveja também não sejam baixos.

A APDA está a começar do zero e olham para a FSA como um verdadeiro exemplo do movimento dos adeptos. Quais seriam as vossas palavras para eles tendo em conta o caminho que percorreram ao longo destes anos?

Desejo todo o sucesso à associação de adeptos portugueses, e esperamos trabalhar convosco e apoiar-vos, tanto directamente como através do nosso envolvimento conjunto na FSE Teremos todo o prazer em ajudar de todas as formas possíveis, e a nossa porta está sempre aberta para si. Talvez possamos oferecer-lhe conselhos contínuos para os ajudar a evitar cometer todos os erros que cometemos e com os quais tivemos de aprender - o que poderá poupar-lhe algum tempo e sofrimento! No entanto, não há substituto para o trabalho árduo, e por vezes pode ser um verdadeiro desafio. Terá de ser capaz de mostrar que fala por todo o tipo de adeptos, e também isso é por vezes um desafio em si mesmo, na medida em que nem todos os adeptos concordam sobre tudo. Mas a nossa adesão está aberta a todos - ou pelo menos a todos os que podem declarar a sua oposição à violência, ao racismo e à discriminação e podem tratar os outros com respeito.

Se pudessem escolher apenas uma opção, destruir o sistema a partir do interior ou manter uma resistência total, qual seria? Sobre a última pergunta: se puder ser ousado, penso que a pergunta está errada. Não queremos destruir o futebol ou o seu sistema. Há muito dentro dele para admirar, particularmente a sua importância para as pessoas e comunidades. Há também uma enorme quantidade que precisa de mudar, e isso exigirá muito tempo e esforço - e, para além de demonstrações ocasionais de força, exigirá poderes de persuasão e mesmo encanto. Assim, eu recomendaria o envolvimento com os clubes e autoridades, e a demonstração na prática do valor real que uma voz forte dos adeptos pode trazer ao jogo como um todo, e aos clubes individuais. A resistência total permanente é exaustiva e, em última análise, não há muitas provas de que tenha conseguido muito. E como disse anteriormente, estar certo não é suficiente, é preciso ser capaz de mudar as coisas.

Não percam de vista o facto de que o futebol é brilhante, e as pessoas adoram-no. Mas a maioria das pessoas não vai ao futebol para iniciar uma nova campanha, ou alista-se para uma nova ronda de reuniões porque lhes apetece trabalhar - vamos fugir a tudo isso, e relaxar. Temos de garantir que também podemos falar por essas pessoas, e usar o nosso próprio tempo como activistas dos adeptos da forma mais produtiva e eficaz que pudermos.

Boa sorte, e solidariedade da Inglaterra e do País de Gales!

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Homens simples, mas organizados, alcançam feitos extraordinários. Esta frase define, por excelência, a forma de estar e a resposta aos desafios a que a Bracara Legion se propõe. A abordagem à tertúlia realizada no dia 25 de novembro de 2022, não pode ser feita sem uma contextualização de acontecimentos prévios, que deram o mote para que este evento se concretizasse.

Há uns anos, na sua sede, os Ultras da BL 03 realizaram uma tertúlia com antigas glórias e directores do Sporting Clube de Braga. Num ambiente familiar e restrito, foi uma noite muito bem passada, com histórias e memórias que nos deixam orgulhosos do clube que somos e do nosso espírito local.

Mais recentemente, um “quiz” sobre a história da colectividade e da Bracara Legion, foi preparado por elementos do Grupo que, de forma autodidacta, se dedicam a estudar a vida do clube. Esta foi uma actividade bastante bem acolhida no seio do Grupo, em especial pelas novas gerações, tantas vezes alheadas e, até, privadas do conhecimento do percurso centenário do S.C. Braga. A experiência do “quiz” despertou, nos membros mais activos e com maior responsabilidade, uma vontade enorme de fazer uma actividade, de forma autónoma e de

índole totalmente associativa, que honrasse os mais de 100 anos de história do clube e orgulhasse o universo Arsenalista. Assim surgiu a ideia da realização de uma tertúlia aberta a toda a comunidade Bracarense, que viria a denominar-se, “Sporting Clube de Braga – Um mundial de histórias”. O processo de organização do evento foi delimitado e pensado ao pormenor por uma equipa formada para o efeito. A selecção do local para a realização da tertúlia gerou bastante discussão. O “Theatro Circo” foi escolhido como o espaço de eleição. Apesar de ser um recinto emblemático, o preço do aluguer era incomportável para um orçamento tão parco. Após muito debate, o Teatro Sá de Miranda foi o sítio que reuniu consenso entre todos. Por ter sido um lugar onde o Sporting Clube de Braga disputou jogos de futebol nos seus primórdios, tornou-se o factor determinante para ser selecionado, pelo simbolismo que a zona representava para uma tertúlia que tinha como objectivo versar sobre os mais de 100 anos de história do clube.

Um clube eclético exigia um painel de oradores eclético. Esta foi uma premissa respeitada e cumprida. O Prof. João Fernandes (autor do livro do centenário do clube), Prof. Sameiro Araújo (vice-presidente do Comité Olímpico Português e ex-treinador da secção de atletismo do SC Braga) e Paulino Carvalho (ex-director do SC Braga e ex-delegado da liga) foram os oradores convidados e que prontamente aceitaram o desafio.

Existia, também, um desejo antigo, por parte de alguns membros do Grupo, de prestar a devida homenagem a um jogador que deixou a sua marca no Sporting Clube de Braga, na década de 90 e que é um ídolo para nós: Mladen Karoglan. A tertúlia

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afigurava-se a oportunidade ideal para fazer cumprir essa aspiração. Desde cedo foram encetados esforços para chegar ao contacto com o “Astro”, que se encontra a milhares de quilómetros na antiga Jugoslávia. A proximidade e a amizade existente com ex-jogadores que jogaram com o craque à época, acabaram por desbloquear a situação e conseguimos chegar à fala com o Karoglan. “Pelos sócios e pelo Braga eu irei ter convosco. Eu amo Braga! Braga é a minha casa!” Estas foram as palavras finais do craque ao convite que lhe endereçamos. Depois de um avião perdido, contrariedade que nos provocou taquicardias pela dificuldade em arranjar um vôo alternativo, o “Astro” lá aterrou em Portugal e foi recebido à boa maneira Minhota.

A tertúlia decorreu numa sala cheia onde se partilharam experências e conhecimento sobre a jornada centenária do Sporting Clube de Braga e o desporto em geral. Há três episódios que tenho de destacar:

- O vídeo preparado para a abertura da tertúlia comoveu todos os presentes, pois um clube que nunca foi abastado, construiu um legado absoltamente impressionante, sendo a única associação desportiva fundadora da Associação de Futebol de Braga ainda no activo e com estatuto de utilidade pública desde 1926;

- A gratidão demonstrada pelos adeptos para com o percurso e conduta de Mladen Karoglan e outros ex-jogadores que marcaram presença no evento, levaram a que alguns dos mesmos chorassem copiosamente ao testemunharem o respeito e reconhecimento que os sócios lhes dedicam. Esta é a evidência de que, num mundo do futebol, cada vez mais desguarnecido de valores, os Homens que se mantêm leais ao jogo e aos clubes, sempre serão agraciados e reconhecidos pelos adeptos;

- O hino do Sporting Clube de Braga, cantado fervorosamente no encerramento da tertúlia, foi o exacerbar da paixão Bracarense,

de gerações heterógeneas unidas pela fidelidade a Braga e ao Sporting Clube de Braga.

Neste contexto, e citando Eça de Queiroz: “É o coração que faz o carácter”.

Quando me perguntam porque teimamos em ter tantas noites mal dormidas e tantas horas investidas em prol do clube da nossa terra, a resposta é simples e sempre a mesma - “Porque vale a pena”! E quantos homens terão o privilégio de viver por algo que valha a pena?

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Por João Oliveira

MEMÓRIAS Da BANCADA

Por Raúl Rodrigues

Durante os saudosos anos 90 era possível ver por essas bancadas fora a “arte” de muitos adeptos através de desenhos, desenhos esses que poderiam ser observados em faixas, bandeiras, cachecóis, panos, t-shirts e por vezes até em pinturas nas paredes. A arte de desenhar tinha tanta importância que era bastante comum as revistas e fanzines da altura elaborarem concursos de desenhos, que muitas vezes eram aproveitados para o material oficial dos grupos. Os próprios editores das revistas/ fanzines não raras vezes recorriam aos desenhos, tanto para embelezar as páginas como para marcar um ponto de vista ou até mesmo como forma de humor. Nas páginas seguintes poderão observar algumas dessas obras de arte, boa viagem!

PS: Caso queiram (re)ver alguma coisa nesta rubrica nos próximos números, façam chegar até nós as vossas sugestões.

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Depois de um período com menor actividade do que o habitual, pelo facto de ter acontecido o Mundial de selecções, o campeonato regressou. Deixamos, então, mais um Resumo de Bancada.

Varzim SC x SC Braga “B” | 17-12-2022

Nota para a coreografia apresentada pelo grupo Os De 1915, de maneira a comemorar o seu quinto aniversário. Feita à mão, com o seu símbolo e com o do Varzim, foi apresentada no Topo Norte do estádio, antes do início do encontro, acompanhada pela seguinte mensagem: “5 anos a defender um ideal - Apenas Varzim SC”.

101º aniversário da AD Ovarense | 19-122022

Logo no início da madrugada de Domingo para 2ª feira, vários elementos do grupo Fans 1921 juntaram-se perto do Estádio Marques da Silva exibindo uma pequena coreografia, alguns panos e pirotecnia (inclusive com o lançamento de fogo de artifício), para comemorarem mais um aniversário do clube de Ovar.

FC Vizela x Vitória SC | 30-12-2022

Um dos bons dérbis actualmente em Portugal voltou a não defraudar as expectativas no que toca ao ambiente vivido. Um grande número de vitorianos presentes, não surpreendendo, nesta curta deslocação, lotando a habitual parte visitante e ainda compondo grande parte da outra bancada existente. Do lado caseiro, destaque para a Força Azul, que praticamente encheu o seu sector, colorindo com muitas bandeiras alusivas ao

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seu concelho, dado o facto de Vizela ter ficado independente de Guimarães há poucos anos atrás, o que também motivou o seu recémtreinador, Tulipa, a mobilizar as hostes com o discurso sobre isso para este jogo. No final, os vizelenses venceram por 3-0, gerando uma grande festa naquele reduto.

SC Braga x SL Benfica | 30-12-2022

Cerca de 20 mil espectadores estiveram presentes na Pedreira, numa noite de 6ª feira em que a meteorologia poderia não ser a mais favorável. Um Braga a fazer um dos melhores campeonatos da sua história e um Benfica que seguia invicto até esta partida motivaram, obviamente, um bom ambiente de parte a parte no que às bancadas diz respeito.

Do lado forasteiro, mais um bom espectáculo de pirotecnia, à imagem do que tem acontecido nestas deslocações encarnadas a Braga, acompanhadas também por um apoio audível. Ainda assim, foi o Braga que sorriu, com uma excelente vitória por 3-0, levando a uma enorme explosão de alegria dos adeptos da casa, com especial destaque para a parte onde estavam instalados os ultras braguistas.

CS Marítimo x Sporting CP | 08-01-2023

Quase 10 mil espectadores estiveram presentes no Estádio do Marítimo. Uma assistência impressionante, se repararmos no contexto da fraca campanha que a formação madeirense tem feito durante a época. Ainda assim, este empolgamento levou a que a sua equipa conseguisse uma importantíssima vitória, contra um dos “grandes” do futebol nacional, levando naturalmente a um excelente ambiente naquele recinto.

Do lado sportinguista, estiveram presentes as suas várias claques, que compuseram o sector visitante, salientando-se alguns protestos antes e durante a partida contra o custo dos ingressos, de 30€, gerando-se também uma troca de insultos e picardias entre os apoiantes de ambos os conjuntos.

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Varzim SC x SL Benfica | 10-01-2023

Segunda vez este ano que os varzinistas recebem um clube de topo nacional para a Taça. Depois de eliminarem o Sporting em Barcelos, agora recebem o SL Benfica no seu estádio. E, pela segunda vez em menos de um mês, o grupo Os De 1915 voltou a realizar uma coreografia. A bancada norte foi coberta, na entrada das equipas, com plástico preto e cinza, ao mesmo tempo que expunham a seguinte mensagem: “Seja contra quem for, ninguém nos tira o sonho do Jamor”. Foi um belíssimo ambiente aquele se viveu na Póvoa de Varzim, com os adeptos da casa a não deixarem que a sua formação parecesse que estava a jogar fora. A bem dizer, foi a segunda vez que os benfiquistas experenciaram algo do género este ano na Taça, depois da visita ao terreno do Caldas. Do lado encarnado, nota para um bom apoio, em que o resultado favorável ajudou, e também para as várias tochas abertas.

SC Braga x Vitória SC | 11-01-2023

O sempre especial dérbi do Minho merecia um melhor horário, uma vez que foi jogado a meio da semana às 18h45. Ainda assim, neste encontro a contar para os oitavos-de-final da Taça de Portugal, os adeptos de ambos os conjuntos marcaram uma boa presença no estádio. Os vitorianos praticamente lotaram o sector visitante e deram um excelente recital de apoio, que foi bem audível, durante grande parte do jogo. Já do lado bracarense, destaque para uma mensagem dos seus ultras precisamente contra o horário da partida e nota também para a enorme explosão de alegria que se viveu na parte final, com a formação da casa a virar um 0-2 para 3-2 em pouquíssimos minutos!

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Sporting CP x SL Benfica | 13-01-2023

Clássico do futsal português, com a particularidade de ter acontecido a dois dias do mesmo dérbi acontecer em futebol. Realizou-se numa 6ª feira à noite, mas o pavilhão João Rocha esteve muito bem preenchido pelos adeptos dos dois conjuntos e, acima de tudo, com um ambiente fascinante. As quatro bancadas estavam compostas por diferentes grupos de apoio, podendo dizer-se que havia mais gente em pé do que propriamente sentada a limitar-se a assistir, o que é uma raridade no nosso país, mas algo naturalmente de elogiar. O Sporting venceu numa partida com vários golos de parte a parte, levando a uma grande explosão de alegria no final. Ainda assim, nota para o facto dos benfiquistas também se terem feito ouvir em vários momentos diferentes.

SC Braga x Boavista FC | 14-01-2023

Dois dias depois de ter sido aprovado pelo Governo a criminalização da utilização de pirotecnia, os ultras do Braga decidiram protestar de maneira exímia. Com a mensagem “500 mil para a Xana e companhia, mas crime é abrir pirotecnia! Filhos da puta” e também com um bom espectáculo pirotécnico, os bracarenses demonstraram a incoerência das autoridades governativas do nosso país, aproveitando também para provar que não é assim que vão impedir os adeptos de embelezar as partidas. Destaque também para a boa deslocação boavisteira. Para além de um número interessante de adeptos forasteiros, nota para o facto de se terem feito ouvir durante a grande maioria do encontro, mesmo em desvantagem no marcador.

CD Aves 1930 x SC Campo | 15-01-2023

Encontro em que a Força Avense aproveitou para comemorar o seu 23º aniversário. Com uma bonita coreografia seguida de uma fumarada vermelha e branca, o grupo do Aves festejou mais um ano.

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SL Benfica x Sporting CP | 15-01-2023

Clássico na Luz, com mais de 62 mil espectadores na bancada. O típico ambiente deste tipo de dérbis, que já dispensa apresentação. Bons momentos de pirotecnia dos vários grupos, apoio vocal com altos e baixos de ambos os lados, tendo em conta que foi uma partida que terminou com um empate a dois golos, e o tradicional cortejo bastante numeroso dos adeptos visitantes.

Académica de Coimbra x UD Leiria | 15-012023

Dérbi do centro do país, que foi apimentado um dia antes por alguns ultras da Académica que se deslocaram até ao estádio dos rivais e deixaram uma mensagem exposta, referindo que Coimbra é a capital do Centro.

Eram duas formações em momentos de forma totalmente distintos: Os estudantes no fundo da tabela, ao invés dos leirienses, habituados a estarem no topo da classificação. Ainda assim, pese embora alguma desmoralização do público de Coimbra, marcaram presença em bom número no seu reduto para apoiar o seu conjunto.

Foi um encontro com bom ambiente de parte a parte, sendo que, no final, a vitória sorriu aos visitantes, motivando uma boa festa entre a sua equipa e as várias centenas de adeptos presentes, com particular destaque para a claque Armata.

Gil Vicente FC x Vitória SC | 16-01-2023

Nota para a presença vimaranense, nesta curta deslocação até Barcelos. Apesar da sua equipa passar um mau momento de forma, a verdade é que os adeptos do Vitória voltaram a marcar uma forte presença, mesmo com o forte dilúvio que se fez sentir nessa noite de 2ª feira. Para além do bom apoio dos seus ultras, em mais um jogo em que até acabaram por sair derrotados dentro de campo, destaque para o facto de três jovens apanha-bolas terem recebido impermeáveis, da parte de adeptos do Vitória, para se protegerem da chuva, num bom momento de solidariedade fair-play.

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Protesto conjunto contra a criminalização da pirotecnia | 21-01-2023

Um assunto que marcou estes últimos dois meses foi, sem dúvida, a aprovação da lei que criminaliza o uso de engenhos pirotécnicos, mais uma medida repressiva em Portugal a visar os adeptos. Não foi de estranhar que surgissem actos de revolta e de indignação, como até já abordámos. O protesto mais organizado, unindo, desta feita, 15 grupos, teve uma mensagem genérica: “Tanta corrupção e pedofilia, mas o problema é a pirotecnia?”. Várias tarjas com esta inscrição foram colocadas em diferentes pontos do país, principalmente na madrugada de Sábado, dia 21.

Também outras acções de grupos, com mensagens diversificadas, foram abertas tanto dentro como fora de estádios.

FC Paços de Ferreira x SC Braga | 21-01-2023

O Paços, afundado no último lugar da classificação, levou uma campanha de incentivo de oferta de bilhetes para tentar empolgar os pacenses neste encontro bastante complicado. Não foi, portanto, de espantar que as bancadas estivessem muito bem compostas, com cerca de 6 mil adeptos presentes.

Um bom ambiente, numa tarde agradável de Sábado, com um jogo que foi disputado até ao fim, e no qual os bracarenses sorriram com um golo nos instantes finais da partida, motivando uma grande festa entre os muitos visitantes presentes e a sua equipa.

Nota para o facto dos ultras bracarenses terem exposto a seguinte mensagem: “De prenda de aniversário queremos: 50+1”. Uma clara intenção de verem o seu clube a deter a maioria da sua SAD, algo que infelizmente não acontece neste momento.

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Sporting CP “B” x Académica de Coimbra | 21-01-2023

Cerca de uma centena de adeptos afectos à equipa da Briosa estiveram presentes nesta partida realizada no final da manhã de um Sábado. Entre algumas carrinhas e carros particulares que viajaram os mais de 200 quilómetros que separam Coimbra de Alcochete, juntaram-se outros simpatizantes da Académica que residem em Lisboa ou nas suas proximidades, de maneira a incentivarem a sua formação, pese embora a fase decepecionante que o clube atravessa. O jogo começou da pior maneira para os estudantes, com o conjunto secundário sportinguista a marcar cedo. Mesmo assim, quem se encontrava no sector visitante não desmoralizou e não abrandou no apoio, tendo sido recompensado com uma excelente reviravolta, que deu um novo alento àqueles fiéis academistas, motivando muitos festejos, no final, entre público e jogadores.

Vitória SC x FC Porto | 21-01-2023

Jogo grande em Guimarães, com quase 20 mil espectadores presentes. Destaque para bons registos de pirotecnia feitos pelos apoiantes de ambas as equipas, muitos cânticos e picardias de parte a parte, num daqueles ambientes que todos gostamos.

De salientar algumas altercações, no exterior do recinto, entre locais e vários portistas que não foram no cortejo organizado para os visitantes.

CD Tondela x SC Farense | 22-01-2023

A assistência nem foi nada de especial para um encontro de Domingo, em que, oficialmente, nem 900 espectadores estiveram presentes, mas a presença dos grupos das respectivas equipas fez com que este desafio da segunda liga tivesse um ambiente ao mesmo nível ou até melhor do que muitos do principal escalão.

Os South Side Boys deslocaram-se, num autocarro, com várias dezenas de elementos,

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dando um bom recital de apoio durante grande parte da partida, não obstante a desvantagem no marcador. Já a Febre Amarela, com um sector bem composto, tomou conta dos incentivos aos da casa. Curiosamente, ambas as claques estiveram presentes na mesma bancada, compondo uma boa parte da lotação presente.

SC Salgueiros x Lusitânia de Lourosa FC | 2201-2023

Destaque para a simples e bonita coreografia da Alma Salgueirista a comemorar o 38º aniversário do seu grupo. No seu habitual sector, com plástico vermelho e branco, com a inscrição do número de anos alcançado e com a mensagem “ao teu lado desde sempre”, deram cor na entrada das equipas para esta partida a contar para o quarto escalão nacional.

CF União de Lamas x SC Espinho | 22-012023

Um dos melhores dérbis da região norte aveirense teve palco numa bela tarde de Domingo e, naturalmente, com muita afluência. Destaque para a coreografia apresentada pelo grupo da casa, os Papa Tintos, com a mensagem: “Orgulho corticeiro”. Os Desnorteados marcaram também presença e em bom número. O União de Lamas venceu por uns largos 3-0, motivando uma grande festa nas bancadas.

CS Marítimo x GD Estoril Praia | 22-01-2023

Já mencionámos a boa presença de adeptos do Marítimo no encontro contra o Sporting. Contra um adversário com “menos nome”, a verdade é que a assistência oficial voltou a ser muito semelhante, com os madeirenses a aparecerem em grande número e a preencherem as bancadas do seu estádio, sendo que o resultado também foi igual, a seu favor. Uma prova da força do público como solução para contornar fases menos positivas desportivamente!

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FC Famalicão x Rio Ave FC | 22-01-2023

Dando sequência a destaques de boas presenças humanas junto de equipas não muito confortáveis na tabela classificativa, também os famalicenses marcaram presença em bom número nas suas bancadas para este encontro de Domingo à noite. Os registos fotográficos comprovam isso mesmo. À excepção das aberrantes ZCEAP, a grande maioria da bancada estava composta, tendo o apoio dos Fama Boys sido regular e empolgado o restante público.

FC Porto x Académico de Viseu FC | 25-012023

Quase 10 mil espectadores estiveram presentes em Leiria, nesta 4ª feira à noite. Para além dos grupos portistas presentes, que deram um apoio regular e foram empolgados pelo resultado positivo da sua equipa, nota para os muitos beirões presentes que também se fizeram ouvir em muitos momentos, principalmente através do seu grupo Viriathus 1914.

Sporting CP x FC Porto | 29-01-2023

Final da Taça da Liga, realizada em Leiria, com direito a clássico do futebol nacional. Quase 20.000 espectadores estiveram presentes nas bancadas, com os vários grupos das respectivas equipas a darem cor às mesmas, sendo que antes já tinham “aquecido” as vozes no exterior do recinto, em cada uma das zonas destinadas aos adeptos de ambas as formações.

Jogo muito “quentinho” dentro de campo, o que se reflectiu também com o que se passou fora das quatro linhas, com muitas provocações de parte a parte. Houve pirotecnia aberta durante vários momentos e nos dois lados, com destaque para um “pyro show” proporcionado pela Juventude

Leonina. A própria bancada, onde estavam instalados os ultras sportinguistas, acabou mesmo por ver deflagrado um pequeno incêndio.

No final, a vitória sorriu aos dragões, levando

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a uma grande festa azul e branca pela conquista de uma competição que sempre lhes fugiu.

SC Braga x SL Benfica | 29-01-2023

Partida a contar para as meias-finais da Taça da Liga em futsal, que se realizou em Gondomar durante essa semana, sendo que o destaque vai para a falange de apoio trazida de Braga. Muitos adeptos, entre eles várias dezenas de ultras (especialmente da Bracara Legion, como já é habitual nesta modalidade) compuseram a bancada que lhes foi destinada, tomando conta da animação fora das quatro linhas. O Braga até perdeu com uma derrota algo pesada, por 6-1, mas no final houve grande sintonia entre os seus simpatizantes e a equipa.

De referir que também estavam naturalmente muitos encarnados no pavilhão, mas sem grande presença de grupos organizados.

Sporting CP x SC Braga | 01-02-2023

Encontro em Alvalade, em dia de semana que foi notícia no nosso país de uma operação policial que deteve 29 elementos de grupos sportinguistas e benfiquistas. Logo por aí o ambiente poderia não ser dos mais alegres entre os apoiantes leoninos. Ainda assim, cerca de 26 mil espectadores, entre eles algumas centenas de braguistas, animaram numa noite que correu de feição ao conjunto da casa, com uma vitória por largos números (5-0!).

Nota de destaque para, ao minuto 12 da partida, os ultras terem entoado em conjunto o famoso cântico de protesto contra a Liga.

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CASOS INSÓLITOS DESTE MUNDIAL PARTE 2

Damos sequência aos destaques fora das quatro linhas deste último Mundial de Futebol, com o que mais deu que falar na parte final da competição.

Limpeza das bancadas por parte dos adeptos japoneses

Uma situação que aconteceu em todos os jogos dos nipónicos, estendendo-se inclusivamente ao momento em que foram eliminados do Campeonato do Mundo, nos oitavos-de-final, diante da Croácia. Os nipónicos, que são conhecidos por serem um dos povos mais disciplinados do planeta, fizeram questão de limpar o lixo deixado no chão das bancadas dos vários estádios, após o fim de cada encontro.

Uma atitude que deixou muita gente agradavelmente surpreendida, mas que foi vista como um acto natural para aquilo que estão habituados internamente. O próprio seleccionador da equipa japonesa, Hajime Moriyasu, fez questão de mencionar isso mesmo, através destas palavras: «Para os japoneses, isso é normal. Quando tu sais de um lugar, tens que deixá-lo mais limpo do que estava antes.»

E, por falar em Moriyasu, ele fez questão de agradecer aos milhares de apoiantes, após a derrota no desempate por grandes penalidades, com um gesto bem simbólico, baixando a cabeça enquanto se dirigia aos mesmos, uma vez que, para além das limpezas, os muitos nipónicos presentes também deram um peculiar e regular apoio, com ritmos e cânticos menos habituais para os nossos ouvidos e bastante prolongados.

As enchentes, loucuras e incidentes envolvendo marroquinos

Quem também jogou praticamente sempre em “casa” foi a selecção marroquina. Muitos milhares de apoiantes magrebinos invadiram o Qatar e proporcionaram ambientes

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bastante “calorosos” nos sete encontros em que participaram durante a competição, empolgados também pelo desenrolar da prova, uma vez que a sua formação foi considerada, praticamente de forma unânime, a grande revelação, alcançando um surpreendente 4.º lugar!

A comunidade marroquina é conhecida pela sua grande franja migratória espalhada por vários pontos da Europa. Curiosamente, ditou o destino que jogasse contra três adversários, cujos países representam o destino de grande parte desse fluxo: Bélgica, Espanha e França. Isso levou a vários confrontos e cenários de destruição nas ruas europeias, envolvendo milhares de emigrantes e locais. O expoente máximo dos acontecimentos ocorreu na cidade francesa de Montpellier, após a vitória gaulesa nas meias-finais, quando um grupo de dezenas de marroquinos cercou um carro que levava uma bandeira francesa. O condutor fugiu em grande velocidade, atropelando mortalmente um jovem de 14 anos. Depois do melhor registo de sempre da sua selecção de futebol num Mundial, dezenas de milhares, receberam na capital Rabat, o autocarro da sua equipa em completa apoteose.

Festa croata após mais um pódio

A Croácia, pelo segundo Campeonato do Mundo consecutivo, voltou a ficar entre as três melhores selecções, superando as expectativas que muitos analistas desportivos tinham sobre esta equipa. Não foi, portanto, de estranhar a enorme festa que se viveu um pouco por todo o país, com destaque especial para a capital Zagreb, local onde a sua equipa foi recebida após a vitória sobre Marrocos, no duelo para verificar quem garantia o 3.º lugar. Muitos milhares saíram às ruas para festejar até largas horas após as vitórias croatas, proporcionando boas imagens com a muita pirotecnia que foi aberta. Curiosamente, após eliminarem o Brasil nos quartos-definal, sismógrafos do Departamento de Geofísica da Faculdade de Ciências Naturais

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de Zagreb registaram movimentos sísmicos provocados pelos festejos. Verdadeiramente impressionante!

Argentina campeã

36 anos depois, a Argentina voltou a vencer o Mundial de Futebol, o terceiro da sua história. Um prémio para os adeptos que, para muitos, foram considerados os mais apaixonantes do Qatar. Desde logo em número, pois foram vários milhares os que viajaram para o Médio Oriente durante a competição, fazendo com que a sua equipa jogasse também praticamente sempre em “casa”, principalmente após a fase de grupos, que foi onde se começaram a ver mais na bancada os famosos grupos de “barras bravas”, que foram comandando os cânticos de apoio ao conjunto alviceleste.

À medida que o torneio avançava e o sonho passava a realidade, o ambiente dos seus jogos também se tornava cada vez melhor, atingindo o auge na grande final, contra a França, com uma vitória no desempate por grandes penalidades, depois de uma partida verdadeiramente emocionante. Os festejos no relvado e na bancada foram extraordinários.

O que dizer, então, das cenas que se passaram no próprio país sul-americano, e em especial em Buenos Aires. Estima-se que, só na capital, cerca de 2 milhões de pessoas estiveram presentes nas ruas, no regresso dos “heróis”. Assistiu-se a um pouco de tudo na Argentina. Adeptos a invadirem o Obelisco de Buenos Aires e a subirem os quase 70 metros de altura do mesmo. Pessoas a atirarem-se de viadutos para tentarem chegar ao autocarro onde se encontravam os jogadores. Alguns feridos depois desse tipo de peripécias a serem levados em maca, mas a cantarem enquanto eram transportados. Tatuagens, grafitis e desenhos magníficos a registarem o momento, com destaque para duas das imagens mais marcantes da festa argentina: Messi a levantar o troféu no relvado e o carismático Emiliano Martínez a provocar os adeptos franceses depois de receber o troféu de melhor guardaredes.

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ÉS ADEPTO, ÉS CULPADO

Em abril de 2022, durante uma sessão parlamentar a propósito de um comentário sobre um incidente com um elemento de uma minoria étnica, Augusto Santos Silva interrompe a intervenção do deputado André Ventura. Nesse momento ele disse e passo a citar: “permita-me que o interrompa para lhe dizer que não há atribuições coletivas de culpa em Portugal”. Portanto, pelo conteúdo desta intervenção de Augusto Santos Silva, a intervenção merece a minha atenção. Relembro que Augusto Santos Silva é Presidente da Assembleia da República, a segunda figura do país atrás do Presidente da República e, por isso, a responsabilidade das suas palavras é obrigatoriamente redobrada. Contudo, sabemos quanto baste que a classe política usa e abusa da força da retórica das palavras em seu proveito e é por isso que, apesar da afirmação atrás enunciada ser positiva, acaba por ser posta em questão quando a comparamos com a realidade do nosso país. Vamos a factos. Se um número considerável de políticos pertencentes a um partido, estiver de mãos dadas com casos de corrupção deve considerar-se esse partido um problema ou, no limite, considerar os partidos um problema? Se existirem 400 casos de pedofilia associados

à igreja, mesmo que o nosso Presidente da República não considere o número particularmente elevado, haverá razões para se considerar os padres, ou até mesmo a igreja, como um problema? Em ambos os casos a resposta política parece-me evidente, não. Por outro lado, mas na mesma linha de pensamento, posso também perguntar se, por haver problemas no desporto com alguns elementos de grupos organizados, se pode ou deve considerar os grupos organizados um problema? Neste tema a resposta política é bem diferente. Assim, facilmente caem por terra as palavras de Augusto Santos Silva. É lamentável dizer, mas há atribuições de culpa colectiva em Portugal. A atuação perante os grupos organizados de adeptos são a prova inequívoca.

Analisando as acções legislativas onde estão inseridos os grupos organizados podemos perceber que os valores orientadores de um segmento elevado da classe política têm vindo a ser progressivamente esquecidos ou alterados. Felizmente há algumas exceções, pese embora sem o peso necessário para combater a perversidade a que se assiste. Este histórico teve o seu início no final dos anos 90 e vemse acentuando a partir de meados de 2000. Posso dizer que, na minha perspectiva, há vários anos foi posta em marcha uma operação contra os grupos organizados que culminou com a criação de um sistema repressivo de uma dimensão comparável à de países que nem merecem a menção. Senão vejamos, os grupos que querem manter a sua expressão cultural própria tem de identificar os seus membros num organismo do estado, também são obrigados a permanecer em sectores isolados altamente vigiados, foi criada uma polícia própria para os controlar e, para além disto, enquadra-se um sistema

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penal que se tem vindo a agravar de modo desproporcional e injusto, se compararmos a crimes bastante mais graves. Afinal, há ou não há atribuição de culpa colectiva em Portugal?

Legislar contra a violência não é o problema, o problema é a forma como o fazem. Na verdade, posso simplificar, dizendo que ajudava perceberem estes três pontos. Em primeiro lugar estão a confundir o fenómeno da violência com os grupos organizados. Em seguida, por consequência do primeiro, misturam a violência com o apoio e a sua forma de expressão. Por fim, hoje, tudo e mais alguma coisa é considerado violência. Há dados referentes à época de 81/82, numa altura em que não havia o fenómeno dos grupos organizados de adeptos, que indicam a existência de violência em 30,16% dos jogos disputados. É plausível dizer que hoje mais que nunca a violência em contexto desportivo é divulgada de forma massiva, seja pelos órgãos de comunicação social ou pelas redes sociais, o que influencia a percepção que a sociedade tem acerca deste tema. O próprio Diretor Nacional da Polícia de Segurança Pública, Superintendente-Chefe Magina da Silva, afirma na sua introdução ao relatório de análise da violência associada ao desporto (RADIV) o seguinte: “Durante a época desportiva em análise, volvida a crise pandémica e com a retoma e consequente normalização das competições e eventos, destacamos o aumento do número total de incidentes, que não representa,

necessariamente, um aumento da violência, visto resultar, essencialmente, do aumento da proatividade policial, com maior qualidade no registo dos incidentes, e incremento da ação de fiscalização, traduzido num acréscimo de registo de incidentes.” Não pretendo esconder que existem problemas de violência no desporto, mas será que se justifica mais uma investida desta natureza? O que se está a fazer em termos legislativos tem um efeito contraproducente e acaba por atingir de forma discriminatória os adeptos. Cada vez mais limitam a esfera da emoção exprimida no apoio aos clubes, levando a que cada vez menos adeptos sejam “filiados” nos estádios. Dá a entender que algumas pessoas anseiam pela implementação de um modelo onde o adepto se torna num mero espectador com direito a estar sentado e vigiado por stweards, polícias, sistemas de vídeo vigilância e sabese lá o que mais ainda vão introduzir para aumentar o controlo nas bancadas. Isto tudo é grave e quem perde, para além dos adeptos, é o próprio futebol! Perante isto, a Liga e a Federação Portuguesa de Futebol, que são cúmplices no processo legislativo, deviam, no mínimo, procurar antever as consequências das medidas que vão promovendo junto do Governo e, mesmo internamente, junto das competições que tutelam.

Ainda assim, para quem tem dúvidas, se olharmos para os dados actuais, os mesmos mostram que houve um aumento dos incidentes em comparação com a última época pré COVID, mas, ao analisar de

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perto o escalar dos números, percebemos também que os incidentes na 1ª Liga, onde a proatividade já existia, diminuíram em relação à última época. Aqui, podemos entroncar com as palavras do Diretor Nacional da PSP e concluir que este aumento dos incidentes é enganador, visto que o mesmo se deve à proatividade das autoridades. Isto leva-me a questionar o seguinte: Qual a verdadeira razão para justificar maiores penas e mais legislação? Pelo que percebo ainda estão a terminar de implementar o funcionamento da lei em vigor e já se está a meter outra em cima. Com isto, sentimos o peso dos erros que se transformaram numa bola de neve que continua a aumentar, e creio que as autoridades que acompanham mais de perto o fenómeno já se aperceberam através dos novos problemas com que se deparam.

Até a mediática posse e uso de pirotecnia tem diminuído e se quisermos ser ainda mais concretos, podemos recordar que, para além da lamentável morte de um adepto em 1996 com um artefacto que não é usado nos dias de hoje, são raros os casos em que houve acidentes. Não confundam mais very lights com tochas e fumos.

Confesso, estou cansado de me sentir perseguido e discriminado pelo governo e pelas autoridades apenas por pertencer a um grupo Ultra e gostar de faixas, bandeiras, estandartes, coreografias, frases, tochas, fumos, e de ver a bola em pé enquanto me expresso através de cânticos.

São demasiados anos a sentir e a assistir a muitos atropelos dos nossos direitos mais elementares. Vivemos num país carregado de hipocrisia onde os Ultras se tornaram no, já falado, escape para que alguns políticos possam descarregar o que de pior possuem. É tempo de a mentalidade evoluir pois esta forma de entender, que o governo mostra ter sobre o fenómeno da violência, só está a conduzir a uma transformação que pode ser ainda mais problemática do que o que tem acontecido em Portugal. Sem esquecer que não é só de violência que se trata, é a

transformação cultural das bancadas numa perspectiva da indústria do lazer eliminando a nossa cultura popular e associativa. Já perdemos voz nos clubes com a criação das SAD e agora querem tirar a voz da bancada. Alias, já tiraram. Com as várias restrições de expressão já existentes, no fundo, estão a terminar a demanda. Torna-se por isso urgente travar este processo de higienização e procurar dar a conhecer o que acontece em países, ao que parece, socialmente mais evoluídos, onde existe abertura política para criar processos inclusivos com os adeptos e, quem sabe, esperar também que algum dia a comunicação social deixe de ser tão tendenciosa. É hora de nos juntarmos de forma organizada, aproveitar o que já existe e ampliar a nossa força, mas, acima de tudo, sermos conscientes e responsáveis na forma como vamos exprimir a nossa revolta sob pena de, neste período tão sensível, dificultar ainda mais a luta de todos nós.

Finalizo citando as palavras, mesmo que não passem disso, do Primeiro Ministro António Costa quando em 2019 disse que “as leis não mudam o comportamento, o que muda o comportamento é a cultura” e concluo afirmando que era bom que alguns, principalmente os que têm muita responsabilidade perante os portugueses, não sofressem constantemente da síndrome de amnésia selectiva e tivessem consciência sobre o significado das suas próprias palavras.

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Mas desde que RA é treinador do Sporting tem-nos presenteado com boas sensações e alegrias. Fui a todas as finais, desde o Algarve, Braga e agora Leiria. Não me posso queixar e até tenho histórias engraçadas nestas localidades distintas.

É dia de jogo, dia de final, e é obrigatório viver este dia por inteiro e, acima de tudo, ganhar!

No nosso grupo de adeptos, fiéis, doentes, sócios, casuais etc., há sempre um nome para cada jogo, normalmente, chamamos operação x ou y, depende do contexto, da ideia, do dia, do momento e pode não ter nada a ver com o jogo ou adversário.

Neste sábado é a Operação Leitão! Este nome porquê? Ah ah ah! Podia ter algum segredo, mas não, é mesmo porque combinámos o almoço no Carlos dos Leitões na Lourinhã. Desta operação ficou responsável o meu amigo M., que é da Lourinhã e já nos andava a chatear para lá irmos, ainda por cima o Sr. Carlos e o filho André são fanáticos pelo Sporting.

Por norma, em dia de clássicos ou dérbis, começamos sempre por fazer um PAC (pequeno-almoço Champions), a bela da bifana com minis a acompanhar. Pode ser em Lisboa, no caminho de alguma deslocação ou até mesmo na Taverna do P. Este jogo não foi o caso, embora Lourinhã fique a caminho de Leiria pela A8, toda a gente quis ter fome para comer o tão almejado Leitão!

Depois de fazermos, a lista de participantes, definir hora e preço, lá fomos nós até ao estabelecimento do Sr. Carlos.

que estavam com os filhos nossos amigos de 30/40 anos. Afinal este é o maior património do clube, sem a mínima dúvida, a paixão que se passa e os valores que as gerações mais velhas transmitem aos mais novos, é bom, é diferente ser-se do Sporting!

O almoço foi calmo, não foi aquele almoço de grandes cantorias e de extrema animação, podemos dizer que os envolvidos ainda não estavam no espírito do jogo! Bom leitão e acima de tudo que belo vinho branco… 3 ou 4 copos e já fiquei alegre, e com essa alegria começámos a ficar entusiasmados!

No fim do almoço, foto da praxe. Gosto muito de ficar com estas recordações e ver a evolução do grupo, não esquecendo que é difícil ser Sporting, mas todos têm muito orgulho de o ser e do núcleo de amigos que temos.

Partida para Leiria em mais de 10 carros, rumo ao ponto de encontro que nos deu sorte o ano passado: o Lidl de Leiria.

Quando chegámos já estava cheio

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e foi impossível beber uma imperial, gente como nunca, pouca imperial e condições como sempre. Acho que cortou um pouco o clima e continuámos bastante abaixo da minha expectativa, mas parece-me que o problema foi mesmo esse. Mais uma vez os melhores momentos são os espontâneos, e o ano passado foi considerado por muitos o melhor away do ano: cantámos, dançámos, tifámos, pirotecnia até mais não, e o jogo ainda nem tinha começado.

Entrámos no estádio e já perdíamos até que surge o golo do Sporting. Explosão de alegria para segundos depois ser anulado!!!

O VAR trouxe um pouco mais de justiça, mas também tirou aquele clímax máximo da hora do golo.

Clima nada eufórico apesar do Sporting ter estado sempre por cima do jogo, em relação ao apoio (apesar de, na tv, dizerem que nos ouviam) sentir que cada grupo e grupeto cantava por si, raramente alinhados e, ainda mais raro, nunca estivemos a uma só voz. Tenho pena, mas temos que voltar a ser todos em prol de um, o Sporting Clube de Portugal!

Os grupos do FCP só cantaram com força quando fizeram o 2-0.

Pelo meio, um show pirotécnico que, infelizmente, correu menos bem, pois fagulhas caíram para a bancada de baixo. Não se atiraram tochas para a bancada de baixo, atenção. O ator principal nos clássicos com o Porto decidiu aparecer e, a partir daí,

o ambiente ficou completamente morto e amorfo. É pena porque poderia ter sido uma noite memorável de reviravolta como já acontecera no passado.

Saímos com as mãos nos bolsos, cachecol à garganta e golas altas, mas o principal problema não era o frio mas sim o sabor amargo da derrota. Enfim, saímos com o “até morrer Sporting Allez” e, no fundo, é isso mesmo. Quarta lá estávamos nós outra vez, juntos, às 21:15H de um dia de semana, porque o amor a Ele é maior que tudo, e é o que nos move!

P.S: a viagem para baixo depois de uma derrota é sempre igual, azia, ninguém fala. Silenciam-se os grupos, chega-se a casa e enfia-se a cabeça na almofada sem ligar a televisão.

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Como é habitual nestes jogos, boa falange de adeptos dos dois lados, perfazendo cerca de 20 mil. No entanto, dava a ideia de que estariam mais Portistas do que o contrário.

Grande parte dos adeptos afectos às claques ficou na bancada superior. Os Super Dragões com a habitual maioria, espalhados entre os sectores de ZCEAP e restante bancada, e o Colectivo, ligeiramente abaixo dos 200 elementos, em bloco, a confluir no apoio à equipa.

relvado, jogo dividido, com ligeiro ascendente por parte do Sporting. O segundo tempo foi polémico na sua globalidade. No relvado, pouco se jogou. Entre o festival de cartões, protestos, agressões e afins… salva-se o segundo golo do Porto e, com isso, praticamente se pôs um ponto no final na história do jogo. Já na bancada, entrada vigorosa da Juve Leo, primeiro com um ligeiro confronto e posteriormente com arsenal pirotécnico, complementada por uma frase do Directivo, contra os adeptos adversários. Desta acção resultou nova confusão, agora com os adeptos do próprio clube presentes na bancada inferior. Uma situação perfeitamente evitável, mais ainda, numa altura tão sensível para os grupos Portugueses, sobre os quais, à boa maneira Portuguesa, todos têm uma critica a fazer, embora com pouco conhecimento de causa. Semana após semana são dados “tiros nos pés” e a luta de todos acaba por ser colocada em causa por minorias. A Torcida Verde e a Brigada também marcaram

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presença. A Torcida mantém a linha dos pequenos “espectáculos” coreográficos e a Brigada, também à sua imagem, permaneceu discreta.

Do lado do Porto o apoio foi constante, com alguns momentos dignos de destaque, alguma pirotecnia e sem conflitos. No final, e pela primeira vez, festa Tripeira no municipal de Leiria. Talvez fruto da habituação ou, quem sabe, fruto do pouco valor dado ao troféu em questão, a festa fezse mais no decorrer do jogo do que depois da conquista. Para quem viaja de autocarro, o regresso à Invicta fez-se com o tradicional convívio, sempre com animação, uma boa dose de copos e imaginação fértil q.b. Resultado final, exceptuando alguns “iluminados” e meios de comunicação social, o Futebol Clube do Porto saiu por cima, dentro e fora das quatro linhas!

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VOLTAR A SER FELIZ

A paixão pelo futebol, começou a germinar em mim, tal como na maioria de nós, desde tenra idade. Foi-se desenvolvendo em primeiro lugar com os jogos disputados na escola e na rua, em que as regras eram feitas à medida dos mais espertos e os terrenos de jogo estavam longe de ter as condições ideais. Apesar das derrotas, conflitos, discussões insanáveis e alguns arranhões, a diversão e a felicidade eram uma certeza para todos os participantes. Ainda que adorasse jogar futebol, aquilo que mais me entusiasmava era o ambiente místico que experienciava na bancada superior do velho estádio do meu clube, num domingo à tarde de jogo. Talvez pelo facto de não ser dotado de grande talento para a prática futebolística, cedo percebi que o meu lugar era exatamente ali, na bancada, e que era ali que poderia fazer a diferença. O facto de, na infância, não poder ir com a frequência desejada ao estádio é, de facto, a única mágoa que guardo em relação ao futebol desses tempos. Perder era difícil, mas perder e não poder estar lá era realmente o único desgosto insuportável.

Dessas idas ao estádio recordo com alegria as romarias de fim de almoço pela Avenida da Liberdade, as almofadas vermelhas com o símbolo do clube bordado para fornecer algum conforto que a pedra não tinha, dos

rádios sintonizados no relato que depressa se transformavam em arma de arremesso e também dos miúdos que faziam duma lata a bola e que passavam o encontro mais preocupados com o “jogo deles” do que com o que acontecia nas quatro linhas. O ambiente era saudável, ainda que com os naturais conflitos próprios da cultura popular, mas tudo se resolvia sem a necessidade de transformar o espetáculo num show próprio duma sociedade repressiva e policial. A verdade é que desses tempos só restam mesmo as lembranças. A sociedade transformouse e o futebol transformou-se com ela e, hoje, ir ao futebol é um hábito penoso e frustrante do qual não me consigo libertar. Em primeiro lugar, a quantidade absurda de jogos disputados pelas equipas que participam nas competições europeias é insano, os horários não são pensados em função dos adeptos mas apenas dos interesses das operadoras televisivas, todo o ambiente de constante vigilância e intimidação promovido pela polícia é assustador e, a juntar a tudo isto, temos um completo alheamento das generalidade das massas adeptas que aceitam, sem grande consciência e contestação, que de sócios com poder decisório se tenham transformado em meros clientes duma empresa e duma indústria que

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tem como objectivo único encher os bolsos de uns poucos.

Nada daquilo que escrevo será novidade para alguém que apoia regularmente uma equipa de futebol profissional, é um quotidiano ao qual já se habituaram e sentem que pouco ou nada podem fazer para transformar, conclusão que me deprime profundamente. Aquilo que representava um espaço de diversão e escape, converteu-se num ritual que mantenho por mera resistência e convicção.

Por muito que amemos um clube, uma cultura e a bancada, torna-se difícil continuar em sacrifício permanente. A verdade é que voltei a encontrar-me com a alegria perdida e com a diversão, não nos campos de futebol, mas nas modalidades ditas amadoras. O cheiro a liberdade é inconfundível, e deslocar-me a pavilhões que se localizam em localidades pouco badaladas, em que conseguimos fugir do ambiente militarizado, e em que podemos mover-nos sem restrições, desfrutar dum fino durante

o jogo e até confraternizar com os locais sem problema absolutamente nenhum é reconfortante.

É inegável que se perdem coisas, a adrenalina que um jogo de futebol de alto nível nos provoca, com bancadas povoadas por milhares de pessoas desesperadas pela vitória, a loucura do festejo dum golo, são sentimentos que não se conseguem reproduzir neste “universo paralelo”. Mas também não desejo que se transportem, até porque não abandonei o futebol nem a equipa profissional de futebol do meu clube. Ainda assim, sinto um prazer autêntico cada vez que assisto a um desses jogos das modalidades. Regenero as energias e a vontade de lutar para que o futebol volte a ser o local que a todos nos fazia felizes!

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ULTRAS COM HISTÓRIA LUÍS SILVA

Voltamos com uma das páginas que vocês mais gostam, as dos Ultras com história. Neste número convidamos o Luís Silva, fundador da Fúria Azul, que por mais de que uma vez já participou na Cultura de Bancada. Agradecemos ao Luís por ter aceite o nosso convite para nos ajudar a ver a história através da sua vivência.

Quem é o Luís Silva?

Nesta altura um “Ultra Reformado”, mas que continua a acompanhar nos estádios e pavilhões as equipas do Belenenses. Continuo a ajudar o Grupo sempre que posso ou acho que o devo fazer. Sou, nesta altura, o OLA do Clube, um regresso a funções que já desempenhei, e diretor do Clube há mais de 20 anos.

Como começou a tua ligação com o Belenenses e com a Fúria Azul?

Sou Belenenses desde que me lembro, mas só me fiz Sócio em 1982 por iniciativa minha e logo no ano em que o Clube desceu pela primeira vez de divisão. Lembro-me de ir ao estádio com o meu pai e com o meu avô em puto. Depois, devido à guerra no Ultramar o meu pai deixou de ir e o meu avô também e eu resolvi aos 12 anos fazer-me sócio. Como era menor tive que pedir ao meu pai para

assinar a proposta. Com a Fúria a ligação é umbilical, sou um dos 6 fundadores do Grupo, foi minha a ideia de nome e fui eu que pintei a primeira faixa a dizer Fúria Azul. Pintei-a no vão de escada do prédio onde morava e usei tanta tinta que ainda hoje há lá marcas no chão.

Como vivias um jogo nos teus primeiros tempos de Fúria Azul?

Com ansiedade e adrenalina, passávamos a semana toda à espera dos dias de jogos e na altura não havia telemóveis e redes sociais pelo que a malta ou se via na Escola ou na rua e era nesses sítios que combinávamos as coisas para o fim de semana. Tudo era feito de maneira artesanal, as faixas eram lençóis roubados ou pedidos em casa, as bandeiras eram feitas em casa pelas mães ou avós na máquina de costura. Vivíamos todos os jogos como muita intensidade e com a alegria de o estares a fazer junto daqueles que, como tu, sentiam o símbolo.

Nos dias de hoje, ainda se vive da mesma maneira? O que mudou para ti?

Muito honestamente, hoje em dia não tem nada a ver, é tudo muito falso. Uma moda porque é fixe dizer aos amigos que se é

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membro de uma Claque, dá status, mas um status da treta. Não estou a dizer que não há sentimento e paixão, porque isso é algo que nunca irá mudar, mas, sinónimo da evolução dos tempos, a sociedade já não vive as coisas tão intensamente como nos anos 80 e 90.

uma descoberta constante. Os extintores de fumo foram dando origem a pirotecnia, as bandeiras da Banca a estandartes em que cada um exprimia o seu sentimento, os seus ideais e uma época em que todos os Grupos cresceram em mentalidade e foram ganhando a luta contra a opinião pública de que os Ultras eram todos “bandidos” e não jovens com uma paixão enorme pelos seus Clubes.

E nos dias de hoje, como avalias?

Quais as deslocações e episódios que te marcaram mais?

São várias, mas a primeira foi em 1985. Foi uma deslocação ao Bessa feita de Expresso que saiu de Lisboa à meia-noite e chegou ao Porto pelas 7h da manhã, éramos 9, mas levámos material para uns 50. Foi épico e de uma logística surreal! O regresso foi na excursão organizada pelo Clube que foi no dia anterior ao jogo.

Mas há muitas mais, a viagem a Leverkusen para a Taça UEFA, as viagens a Chaves que, sem autoestrada, eram uma aventura, e demoradas, o que permitia ao pessoal chegar ao destino em estado impróprio, LOL. São muitas e vão estar destacadas no livro que estou a escrever sobre a história da Fúria.

Quais são as coisas que mais valorizas dentro de um grupo?

A Amizade, a confiança, o respeito e os valores que vais passando de geração para geração. Sem isso as coisas não funcionam.

No geral, como avalias o movimento Ultra nos anos 80 e 90?

Foi a época em que tudo era novidade e

Hoje em dia é complicado avaliar. Ao longo dos anos só os mais fortes sobreviveram e os que conseguiram merecem todo o respeito, independentemente de serem muitos ou poucos. A mentalidade, a amizade e a paixão continuam lá. Veja-se os casos da Alma Salgueirista, dos Desnorteados, da Mancha, dos South Side, dos Panteras e até da Fúria, entre outros que são Grupos de Clubes de menor dimensão em número de adeptos, mas que resistiram estes anos todos devido à enorme paixão e espírito dos seus membros. Isso hoje já quase não existe, o negócio do futebol alastrou-se a muitos grupos e isso trouxe outro tipo de Ultras. No entanto é sempre de louvar a paixão de quem faz milhares de quilómetros atrás das suas equipas numa altura em que as leis tudo fazem para acabar com o movimento. Honra aos verdadeiros!

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Como comparas a repressão policial que existia no passado com a que vai acontecendo no presente?

Não é comparável, hoje em dia aos olhos das autoridades somos todos “bandidos” e “alvos a abater”, não há respeito e diálogo, há prepotência e excesso de autoridade e as leis feitas por quem nunca foi ao futebol ou saiu dos gabinetes não são feitas para ajudar, mas sim para controlar de forma despropositada . Quais são, para ti, os melhores grupos que existiram em Portugal?

Além da Fúria Azul, o movimento teve e tem grandes Grupos, mas acho que os Diabos Vermelhos e a Juve Leo marcaram uma época em Portugal a que juntaram mais tarde os Super e os grupos do Vitória, mas como disse antes, o movimento também tem grandes exemplos de grandeza nos Clubes mais pequenos.

Hoje, ao recordares o teu passado, o que é que te deixa mais orgulhoso?

O legado que passei aos meus filhos, a paixão pelo Clube e pelo Grupo onde andam desde que nasceram e onde já assumem responsabilidades na direção da Fúria.

Se atualmente um pequeno jovem for ter contigo, dizendo que pretende juntar-se a um grupo, dás-lhe algum conselho em especial?

Sim, que respeite os mais velhos do Grupo e que aprenda com eles os valores que eles, certamente, lhe irão passar.

Quais foram as tuas maiores influências no contexto das bancadas?

Sem dúvida o movimento Ultra italiano pela paixão e, numa segunda fase, o movimento alemão pela organização e poder de estar nos centros de decisão de tudo o que diz respeito aos Ultras do país. Mas a nível de grupos sempre admirei os Ultras Tito da Sampdória.

Qual o papel da Fúria nos Ultras Portugal?

Ao fim de tantos anos, o que significa para ti a palavra Ultra?

Continua a personificar uma paixão desmedida pelo meu Clube. Sempre disse que enquanto tiver força e agilidade para saltar e festejar da mesma forma os golos do Belenenses continuo a ser Ultra, quando isso deixar de ser possível vou ver os jogos no meu cativo na central do Restelo que pago há vários anos, mas onde nunca me sentei porque não gosto de ver os jogos sem ser ao nível do relvado, é aí que está a emoção.

Estivemos na sua criação e isso diz tudo. Na altura atravessava-se um momento conturbado em Portugal e foi organizado um mini congresso com os principais Grupos em Algés. Nessa reunião um dos temas em cima da mesa era a criação de um Grupo único de apoio à seleção nacional e houve várias propostas e nomes, mas a proposta mais completa e que a maioria gostou foi a que a Fúria apresentou, embora com outro nome “Ultras Viriato” que teve menos votos do que aquele que foi escolhido por todos: “Ultras Portugal”.

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Ainda hoje guardo com carinho o meu primeiro cartão de Sócio dos UP com o número 6.

Como foi a famosa reunião com o Jorge Sampaio na Câmara Municipal de Lisboa?

Foi na sequência de vários incidentes em vários estádios num curto espaço de tempo e, na altura, o Jorge Sampaio, Presidente da CML e o Luís Duque que, salvo erro, era Presidente da AF Lisboa, elaboraram um protocolo com os 3 principais grupos de Lisboa. Basicamente era um tratado de paz, em troca de apoios e reconhecimento de fair play por parte das entidades de Lisboa. Na assinatura estive eu, o Emanuel Lameira e o Fernando Mendes e há uma foto histórica onde estamos os 3.

com bastante paixão. Com a evolução e massificação das formas de comunicação foi-se perdendo o hábito e hoje em dia são poucas as que resistem, mas sem dúvida que foram uma “ferramenta” importante para os Grupos mais antigos.

Qual a tua opinião sobre o nosso projeto?

É importante para dar voz e visibilidade a todos os Grupos, principalmente aos mais pequenos, e é importante porque o faz de forma imparcial, o que nem sempre é fácil. Sou leitor e colecionador assíduo pois nos dias de hoje é difícil arranjar quem o faça com a dedicação e paixão com que a vossa equipa o faz.

Uma mensagem para os nossos leitores a pensar no futuro do movimento.

Mais que uma mensagem deixo um apelo, aos mais velhos que continuem a transmitir os valores e paixão pelo movimento aos mais novos e aos mais novos peço que se unam, independentemente dos símbolos e cores clubísticas, na defesa pela liberdade das curvas. Somos adeptos e cidadãos como todos os outros, apenas vivemos a paixão pelos nossos Clubes com maior intensidade e dedicação.

O que faz falta no movimento Ultra português?

Organização a nível global, a APDA tem feito um trabalho notável, mas acho que o seu trabalho em prol do movimento ganhava muito mais peso com a união de todos os grupos na defesa dos interesses coletivos.

O que significam as fanzines para ti? Sempre admirei e respeitei todos os que as faziam, na altura não havia redes sociais e as Zines eram a forma de os Grupos transmitirem a sua mensagem e de comunicarem para dentro. Quando comecei a fazer o AZULÃO, Fanzine da Fúria Azul que existiu durante 24 anos, era tudo feito manualmente com as fotos originais a serem recortadas, tudo era montado manualmente e depois fotocopiado

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Desde a pandemia que ainda não tinha tido a hipótese de fazer um tour sem ser para ver a minha equipa. No início da época após sabermos que ia haver derby de Duisburgo com o Essen, que não acontecia para o campeonato desde 2007, decidimos marcar presença. Como o jogo da primeira volta foi muito cedo, marcámos viagem para o jogo fora.

Chegados a Duisburgo na noite anterior, a atmosfera era de alguma tensão e espectativa em relação a alguma incursão de alguém de Essen o que não se veio a confirmar. Uma noite bem dormida e foi tempo de estar cedo em frente ao estádio para a concentração.

Cerca de 500 ultras de Duisburgo rumaram num comboio regular até Essen,

havendo outro comboio especial para adeptos normais. Uma organização tipicamente alemã, tudo estudado ao mínimo detalhe, estando autocarros da cidade prontos para transportar cerca de 2500 adeptos até ao estádio, com a policia munida de alti-falantes a dar indicações sobre como aceder. Ao chegarmos ao estádio, foi-se bebendo mais umas cervejas cá fora até o grupo entrar todo junto.

Colocação do material e últimos detalhes para a coreografia decorreram impecavelmente e foi tempo de subir o lençol feito à medida do sector visitante. Aqui um ponto de destaque: as medidas do sector visitante foram cedidas pelo Clube através dos contactos entre os 2 OLA’s. É sempre de destacar este ponto, onde o espetáculo e os

RW ESSEN x MSV DUISBURG
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adeptos de ambos os lados estão acima de qualquer mesquinhez. Receber bem para ser bem recebido! Após o lençol, bandeiras de 3 tipos, azuis, azuis e brancas e brancas a fazer um degradê em toda a bancada acompanhadas logo de seguida por uma grande tochada na parte baixa da bancada.

De salientar a preparação deste momento e da capacidade e cultura para não haver tochas no relvado.

No que toca ao apoio vocal, estando no sector visitante foi praticamente impossível ouvir a curva da casa, mas também se notou pouco movimento de braços e palmas. Os cânticos são muito mais ritmados, embalados pelos tambores, e as vozes são muito mais graves e nota-se essa ênfase. No sector visitante houve bons momentos até ao intervalo, depois na segunda parte sofrendo logo um golo o apoio caiu um pouco tendo recuperado nos últimos 20 minutos, explodindo com o empate aos 89 minutos.

Durante todo o jogo foram acendidas inúmeras tochas pelo sector visitante e houve ainda uma troca de frases, o que fez despertar algumas saudades de quando as bancadas portuguesas não viviam sob ditadura. Para finalizar deixo o preçário das bebidas com cerveja de meio litro com álcool por 4euros, bem como vinho quente que se vendia a bom ritmo perante o frio que se fazia sentir. Um sonho ainda longínquo para Portugal.

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AD FAFE x VARZIM SC

Numa competição onde se apregoa o #PuroFutebol é de estranhar que a maioria dos jogos não se realize a um domingo à tarde. Sendo assim, lá tivemos sair à pressa do trabalho, reunir e arrancar para Fafe para mais um jogo da Liga 3. Este é sempre daqueles jogos a que a malta da Póvoa gosta de ir, e onde sempre fizemos boas deslocações. Pelo horário, até ficamos surpresos com os 300 varzinistas presentes, e com o setor visitante à pinha, para combater o frio que se fazia sentir no Estádio Municipal de Fafe.

Entrada com passagem no corredor mesmo em frente ao setor da casa. Mal chegamos ao setor, soubemos a primeira boa notícia da noite: cerveja com álcool no bar. A partir daí começaram dois jogos a decorrer. Vinte e dois jogadores dentro das quatro linhas, e cinquenta ultras varzinistas a correr para o bar. Da nossa parte um bom apoio nos 90 minutos, e comandados em alguns momentos por um mini-ultra, daqueles que só sentem o Varzim SC, para completa loucura da malta. Não é comum, em Portugual, e estando há mais de 20 anos fora do patamar mais alto do futebol português, ouvir uma criança dizer, sentir e cantar que é só do Varzim. O setor da casa pareceu algo despido e pouco audível, mas também é dificil perceber o que se passa noutros setores do estádio quando estamos constantemente a cantar. Sobre o jogo em si, para aqueles que conseguiram aguentar, foi apertado, mas conseguimos trazer os três pontos para a nossa casa. Continua a nossa caminhada aliada a um bom momento fora do campo, com as bancadas sempre bem compostas seja em casa ou fora. Na Póvoa, com muita luta e esforço conseguimos mudar o paradigma no nosso estádio nos últimos 5 anos. Sabemos que demorará anos até o biclubismo não se

notar na nossa cidade, mas temos cada vez mais certeza de estar a caminhar na direção certa, com mentalidade e coerência, sem nos vendermos ou optarmos por caminhos mais fáceis. O que para uns é apenas uma criança a dizer que apenas é de um clube, para nós é sinónimo de todo um trabalho recompensado, porque hoje é um, amanhã serão cem e daqui a anos serão muitos mais.

Ala-Arriba Varzim SC!

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Há um ditado popular que diz que Vigo é para quem quer trabalhar, Santiago é para quem quer rezar e a Corunha é para quem se quer divertir. E a Galiza é para quem quer ver futebol e comer pipas. A última parte não faz parte do provérbio original. Sinto-me na obrigação de alertar o leitor de que fui eu quem, depois de percorrer alguns estádios galegos para ver futebol – e quase nunca para comer pipas –, a decidi acrescentar. É que entre os Balaídos e Riazor, há muitas histórias para conhecer e um movimento ultra que prospera sobretudo nas divisões inferiores. Na Galiza – assim como no resto de Espanha – vê-se futebol enquanto se comem pipas. Se o leitor já esteve num estádio espanhol, já deve ter reparado nas cascas das sementes de girassol que se espalham pelo chão das bancadas. Apesar de as pipas serem vendidas com um saco de papel para descartar as cascas, consta que só sabem bem se as cascas forem atiradas ao chão. Depois de provar os hambúrgueres do Estádio Municipal de Riazor, na Corunha, a pizza do Estádio Municipal Vero Boquete de San Lázaro, em Santiago de Compostela, finalmente provei as pipas no Estádio Municipal de Pasarón, em Pontevedra. Descobri que, afinal, as pipas não sabem a nada. Desconfio que seja um entretenimento que ajuda a distrair os adeptos que, sentados, precisam de se manter ocupados para não perder a calma. No estádio, os seareiros – “persoa que sente unha grande afección por un determinado equipo”, de acordo com o Dicionário de

Galego – raramente estão sentados e as pipas, que precisam de ser descascadas antes de serem consumidas, mantêm as mãos ocupadas por demasiado tempo. Os seareiros costumam fazer barulho: cantam, batem palmas, encorajam os jogadores e os outros adeptos. Deve ser por isso que, nos lugares que ocupam os seareiros, há menos cascas de sementes de girassol no chão. Geralmente não há tempo para distrações.

Bebeto e a camisola dos Riazor Blues

Franzino e de baixa estatura, Bebeto nunca encaixou na definição de ponta-de-lança. Podia alegar-se até que não tinha a altura nem a robustez física para vingar perto da baliza ou para se tornar num dos melhores finalizadores de sempre. No entanto, o futebol incomum do brasileiro –que tinha velocidade e bom toque de bola –fez dele um prodígio e, mais tarde, um ídolo. Com o drible deixava os adversários para trás e depois, na cara do guarda-redes, costumava levitar para tornar a bola indefensável. Bebeto chegou ao Real Club Deportivo de La Coruña em 1992. Na primeira época ao serviço do clube galego, que procurava fazer história em Espanha, o assalto ao título acabou em fracasso, mas ainda assim foi o brasileiro que se destacou ao ser o melhor marcador do campeonato com 29 golos. Na primeira época, o título fugiu para o Barcelona, na segunda para o Barcelona – ainda que tenha sido disputado até ao último segundo e decidido na diferença

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de golos –, depois para o Real Madrid e, enfim, na última época de Bebeto ao serviço dos blanquiazules, a luta pelo título acabou muito antes da derradeira jornada, com o clube galego a ficar no nono lugar da tabela. Apesar de não ter conseguido ser campeão espanhol, feito que o Deportivo alcançou poucos anos depois com outros atores, Bebeto tornou-se no maior ídolo do clube corunhês. Campeão do Mundo pelo Brasil em 1994, quando ainda representava os galegos, foi protagonista, em 1996, de uma despedida apoteótica e inesquecível, reservada apenas para entidades divinas. A época 1995/1996 acabou no Riazor, com uma receção ao Barcelona e com o Deportivo a saber que já não deixava o meio da tabela, depois de anos a disputar o título máximo do futebol espanhol. Nas bancadas, apesar da época dececionante, os adeptos prestavam homenagem a Bebeto. “Deus existe, mas vai para o Brasil”, podia ler-se num dos muitos cartazes espalhados pelas bancadas.

Deus. Era assim que os deportivistas viam Bebeto: como um Deus. A devoção era testemunha das qualidades ímpares do jogador, do drible e do golo, mas também da relação que estabeleceu com os adeptos ao longo das épocas que passou na Galiza. Não era – nem é – incomum que os jogadores do Deportivo desenvolvam relações estreitas com os adeptos e era – e é – menos incomum ainda que os jogadores desenvolvam relações próximas com os Riazor Blues, o grupo ultra do Deportivo de La Coruña. E a relação de Bebeto com os Riazor Blues é, porventura, a demonstração mais clara da importância dos ultras para o clube corunhês. O último ato, no jogo da despedida, é prova suficiente.

No derradeiro jogo que fez ao serviço dos blanquiazules, Bebeto fez o que sabia fazer melhor: marcou. Duas vezes.

E festejou como habitualmente festejava: virado para a bancada do Riazor onde estavam os Riazor Blues, a mandar-lhes beijos com as mãos, um gesto carregado de carinho que se tinha repetido centenas de vezes

nos quatro anos anteriores. No entanto, da última vez foi diferente: correu em direção à bancada e levantou a camisola do Deportivo para revelar uma t-shirt azul do grupo ultra mais representativo da Galiza. “Riazor Blues on Tour 94/95”, podia ler-se.

Corunha: o azul da nostalgia

Não é preciso calcorrear muito mais do que 100 metros desde o Estádio de Riazor até à Rúa Julio Rodriguez Yordi. É nesta rua que os deportivistas se reúnem depois dos jogos. Com uma Estrella Galicia na mão, os adeptos do Real Club Deportivo de La Coruña ocupam a rua para falar sobre o jogo e sobre o clube, mesmo depois de perder o derradeiro encontro da temporada que dava acesso ao segundo escalão da pirâmide do futebol espanhol. Uma rua perpendicular conduz à Rúa Jimmy Vive, que não tem mais do que um grafiti que presta homenagem a Francisco Javier Romero Taboada, Jimmy, o ultra deportivista que foi assassinado em Madrid no ano de 2014.

“Asesinaron a nuestro hermano, pero intentaron matar al grupo”, disse recentemente um membro dos Riazor Blues em entrevista. A morte de Jimmy, o avô Jimmy, como era conhecido e tratado, foi um (novo) ponto de inflexão no percurso do grupo fundado em 1987. Um duro golpe do destino. Outro. Era a segunda vez em pouco mais do que uma década que, na Corunha, se discutia a dissolução deste grupo histórico. A primeira tinha sido em 2003, quando o deportivista Manuel Ríos, de 31 anos, foi brutalmente agredido por um membro dos Riazor Blues e morreu minutos depois. A tragédia proporcionou uma reflexão: “no sabemos quien fue el que machó de sangre nuestras ilusiones, pero no podemos negar que fuimos la catapulta y nada más lejos de nuestras intenciones”.

Apesar da dificuldade dos últimos anos, da repressão e das multas, os Riazor Blues nunca deixaram a bancada e nunca saíram do Fondo Marathon. Durante

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alguns anos, a faixa não esteve lá e não se denominavam assim. No entanto, nunca abandonaram o Deportivo. E, eventualmente, regressaram. Regressou a faixa, o grupo, o coletivo na bancada, as viagens. Pelo caminho viram o clube, depois de ser campeão espanhol, descer uma divisão. E depois outra. E mais uma. Até à terceira. Hoje, o Riazor proporciona um dos ambientes mais apaixonantes do futebol espanhol. Em junho de 2022, quando o Deportivo disputou – e perdeu – o playoff de acesso ao segundo escalão do futebol espanhol, a cidade voltou a mobilizar-se pelo clube, com ruas cheias e com o Fondo Marathon a comparar-se aos seus melhores dias do passado. Com muito azul e muita nostalgia. Blues sempre foi, afinal, uma palavra de duplo sentido.

de A Malata ou quando viajam para outros estádios espanhóis. É importante entender como é a vida em Ferrol para entender os ferrolanos.

Costumava dizer, ainda antes de me cruzar com os adeptos do Racing Club de Ferrol num dérbi galego em Pontevedra, que eram o Millwall da Galiza. “No one likes us, we don’t care” é um lema que lhes assenta bem. Não gostam de ninguém a não ser de si próprios, orgulham-se das inimizades que criam, preferem o ódio ao amor dos demais e, naturalmente, na Galiza só têm inimigos. Reconhecem que há pouco para ver ou para fazer em Ferrol, que a cidade é sobretudo desinteressante e, por isso, orgulham-se de fazer parte do que põe Ferrol nas notícias: o seu Racing e os Diablos Verdes, o grupo ultra fundado em 2012.

Ferrol: Cem anos de solidão na quinta província galega

“Ferrol ha muerto”. Há uma crónica de opinião publicada na La Voz de Galicia que começa com estas palavras, a declarar a morte à cidade de Ferrol. O autor explica por que razão considera que Ferrol, no noroeste da Galiza, “es el Detroit español”. É a cidade mais envelhecida de Espanha, com maior índice de desemprego e de emigração juvenil. É fácil imaginar que ali, no interior da ria de Ferrol, a vida é, para muitos, mais difícil do que nos outros sítios. Também é fácil imaginar que, para muitos, nomeadamente para os jovens, o melhor momento da semana é quando se abrem os portões do Estadio Municipal

Nas paredes do Estadio Municipal de A Malata escreveram que são “odiados por todo el país” e nas paredes dos outros estádios galegos foram os outros que escreveram o nome do Ferrol, normalmente seguido de algum impropério. É difícil ver futebol na Galiza sem que se fale do Racing e de Ferrol. São omnipresentes e é fácil saber porque é que nenhum adversário gosta de os receber: são muitos, são barulhentos e são provocadores. Para Pontevedra viajaram em cinco autocarros, encontraram-se no centro da cidade e deslocaram-se a pé, horas antes do jogo, para o Pasarón. Antes, durante e depois do jogo, foram ensurdecedores.

Os Diablos Verdes, fundados em 2012, rejeitam associações políticas. Preferem ser apolíticos a alimentar associações à esquerda ou à direita, pese embora os grupos ultras espanhóis sejam altamente politizados. No entanto, ocupam o espaço que antes pertencia ao extinto grupo Infierno Ferrolano, associado à extrema-direita. As únicas cores que defendem são o verde e o branco do Racing. Para os ferrolanos, há beleza em viver “cem anos de solidão”, um lema que roubaram à literatura, enquanto apoiam um clube centenário que nunca alcançou

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o primeiro escalão do futebol espanhol. Pelo caminho, há uma reivindicação que ainda falta cumprir: fazer de Ferrol a quinta província galega.

ambiente do Pasarón: em dérbis galegos, frente ao SD Compostela ou ao Racing de Ferrol, os adeptos da casa sentem dificuldades para serem superiores ao adversário.

Pontevedra: o Fondo Norte em mudança Quem vai ao Estadio Municipal de Pasarón, em Pontevedra, é recebido pela señora Lola. A fachada do estádio é guardada pelo olhar terno de Dolores Calviño mais de duas décadas depois do seu desaparecimento. A sua imagem está imortalizada junto a uma das esquinas do Fondo Sur, onde ficavam os antigos balneários do estádio e onde a señora Lola cuidava dos equipamentos e do material de treino do clube. Foi ali que, depois de o Real Madrid se esquecer dos equipamentos, a señora Lola os lavou e cuidou para os devolver ao clube merengue. Foi também dali que saiu quando, depois de o Pontevedra Club de Fútbol carimbar a subida de escalão, os adeptos gritaram, na bancada, “que salga la madre de los jugadores”.

Do Fondo Norte, onde ficam os grupos ultras do Pontevedra, quase se vislumbra o desenho da señora Lola. O uso do plural não é um acaso: nos últimos anos, foram muitos os grupos que ocuparam o Fondo Norte, sem que nenhum conseguisse, desde 2014, manter-se unido durante muito tempo. A história do movimento ultra em Pontevedra é atribulada. Pelo Fondo Norte passaram, na última década, quatro grupos diferentes. A instabilidade reflete-se no

A instabilidade começou em 2014 com o desaparecimento dos Furya Granate. O grupo histórico, que recebia o Real Madrid com tifos antimadridistas e bons números na bancada, anunciou publicamente o fim depois de “14 anos de fidelidade ás cores do Pontevedra”. A decisão foi a consequência natural de tempos de “desilusión”, “cansazo” e “falta de relevo xeracional”. Foi difícil preencher o vazio. No mesmo ano em que os Furya Granate se dissolveram, foi constituído o grupo Mocidade Granate. Este grupo associou-se “a ciertos valores políticos como la izquierda y el nacionalismo” e assumiu que a maioria dos membros se revia no movimento hooligan, mas quanto a isso havia um problema: “el problema es que ese movimento va relacionado com la violencia e nosotros de violentos, de momentos, no tenemos nada”.

Eventualmente, a Mocidade Granate deu lugar ao grupo Norte 1941. E o grupo Norte 1941 deu lugar, pouco tempo depois, aos Siareirxs Granates. É este o grupo que, por estes dias, tenta fazer renascer o movimento ultra em Pontevedra: está a criar ligações à comunidade com ações solidárias, tenta mobilizar mais adeptos para o estádio e, em nome da “cultura de bancada”, lançaram uma fanzine que vendem em dias de jogo. É difícil rivalizar com o a beleza do Municipal de Pasarón numa tarde solarenga. Há gente na rua e ambiente de jogo antes do encontro. Falta a estabilidade que o tempo dará a um grupo no Fondo Norte para que possa mobilizar os ultras e os adeptos de Pontevedra. Apesar da instabilidade dos últimos anos, o Pasarón é a melhor porta para entrar no futebol galego.

Por Raquel Veiga com fotos de Hugo Marcelo

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e um dos melhores grupos nacionais, no que toca à mentalidade.

encontra-se numa posição bastante complicada, que tem afastado as pessoas da bola e do apoio ao nosso clube. Andamos a ser alvo de uma forte repressão e perseguição nunca antes vista por aqui.

Para terem um ideia, neste jogo com o Farense, quando alguns membros nossos iam entrar no estádio foram logo surpreendidos pela polícia local para irem soprar ao balão. Isto num jogo que se realizou às 11h da manhã e quando estava tudo tranquilo, sem nenhum problema. Levou logo a uma revolta geral e, mais uma vez, os poucos que iriam entrar acabaram por ficar lá fora. Talvez não só por esta situação, mas por tudo o que temos vivido esta época, com um controlo fora do normal em cima de nós, sem nenhuma forte razão aparente.

A última vez que tínhamos recebido o Farense em casa, em 2017, foi num jogo a contar para a fase de subida à segunda liga, jogo decisivo e importante para ambas as equipas. Estádio cheio, muita gente de Faro e, da nossa parte, como grupo, uma enorme presença e um forte apoio. De referir, por curiosidade, ocorreu na época de fundação do nosso grupo. No final do jogo registaramse alguns confrontos fora do estádio, tal como já tinha acontecido no jogo da primeira volta,

O maior exemplo que posso dar foi um jogo com o Académico Viseu, às 11h, a contar para a taça da liga. Um jogo sem interesse, sem um único adepto visitante e com cerca de 300 pessoas no Manuel Marques. Um jogo onde os spotters, polícia, polícia de intervenção e seguranças eram o dobro da malta que tínhamos na bancada. E nós perguntamos: porquê?? ? Com que razão, todos os jogos, a equipa de intervenção tem de entrar para ao pé da nossa bancada? Só para ficarem a olhar para nós? Com que razão precisamos de 10 spotters para nos controlarem todos os jogos, sejam eles contra o Farense ou contra a B-Sad, por exemplo?

Enfim, coisas do futebol moderno e do preço que se paga por subir a uma divisão profissional.

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Como se não bastasse isso, a nossa relação com a direção neste momento é inexistente. A nossa própria direção é a primeira a ir contra nós e a cortar-nos as pernas. O Torreense sempre foi um clube grande a nível de adeptos, relembro até o último ano que esteve na primeira divisão, apesar da descida, foi o 5º clube com melhor média de assistência no estádio! Isso diz muito sobre o nosso clube e sobre o quanto as pessoas aqui gostam dele! Mas com esta direção tudo mudou… O preço de bilhetes mais caro da 2ª. divisão, o ano passado, na Liga 3, um bilhete de visitante aqui em Torres custava 12,5€. E quem mais sofreu com isto, quem foi? Fomos nós, que sempre acompanhámos a nossa equipa e que em qualquer estádio que íamos faziam-nos esse preço pois era o preço que praticamos em nossa casa.

Uma direção sem noção da realidade dos adeptos, uma direção que fez com que, no nosso clube, ser sócio ou não sócio, seja praticamente igual.

Uma direção que nunca nos deu uma palavra de agradecimento e que sempre nos tentou derrubar. Uma direção que, apesar de estar a fazer um trabalho excepcional a nível desportivo, conseguiu afastar muita gente do clube da nossa cidade.

E isto é tudo muito difícil de explicar… Estivemos 24 anos para voltar ao segundo escalão do futebol nacional, durante esses anos tivemos épocas boas e outras menos boas, mas nunca conseguimos sair do mesmo sítio. Esta época, finalmente, conseguimos voltar, mas como podem perceber muita coisa não está bem aqui. Neste momento, apesar do regresso ao segundo escalão, a cidade e os adeptos no geral não estão com o clube. Há várias divergências e enquanto não houver outra postura da direção em relação aos adeptos isto não mudará. Consigo aqui relembrar um jogo no Campeonato Portugal contra o Vitória Sernache, em que vínhamos numa série de 10 jogos sem ganhar, sem nenhum objetivo e

estiveram 1500 pessoas a assistir ao jogo. Esta época, na divisão a que queríamos regressar há anos, apenas houve um jogo com mais de 1000 espetadores. E nós perguntamos, o que é que mudou? Será que os Torreenses deixaram de gostar do Torreense? Ou será que a falta de condições e de valor que se dá aos adeptos, o preço elevado dos bilhetes, os horários e os exemplos acima dados, que nada têm a ver com o jogo em si, estão a ter impacto? Infelizmente é esta a realidade do nosso clube. No fundo nunca deixaremos de apoiar, mas esperamos que brevemente venham dias bem melhores por aqui… Um dos maiores orgulhos do Topo SCUT foi conseguir cativar gentes Torrienses para virem à bola e, notar que cada vez mais miúdos respondem que o clube deles é o Torreense quando questionados sobre Benfica, Porto ou Sporting. Apesar de todos os problemas com que nos temos deparado esta época, da estagnação do grupo e pela dificuldade de aproximar pessoas ao clube da sua terra, a garantia é que o Topo SCUT nunca se irá vergar e iremos sempre manter-nos fiéis ao nosso ideal. “Torreense com orgulho e com vaidade”.

Por E. Gigante

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Desde a altura do covid que houve uma “adaptação “ externa das pessoas. Assumiram outros compromissos e o “vício” da bola foi ficando de lado, acompanhado pelo facto de termos passado várias opiniões internas e dissidências. Então, não posso deixar de começar esta crónica por dizer que estou muito orgulhoso destas duas trasfertas de autocarro, no espaço de uma semana, e sei que posso dizer isto em nome de todo o grupo, pois sentimos a nostalgia de outros tempos.

Vivemos uma época em que o Farense luta pela subida e temo-nos esforçado para estar presentes, mesmo que por vezes não tenhamos conseguido grandes mobilizações devido aos horários, à situação financeira actual e às longínquas deslocações.

rendimento e perdeu alguma consistência, deparámo-nos com a oportunidade de ir em duas trasfertas ao domingo, embora os jogos tenham sido disputados em horários manhosos. E foram daquelas à antiga. Duas deslocações distintas, mas muito parecidas. Domingo de bola, concentração de madrugada, autocarro bem composto, geleiras cheias, convívio com aquele espírito de grupo, e o regresso de vários ultras que já não tínhamos nas deslocações há algum tempo. À antiga, passar frio nas áreas de serviço, estádios bem compostos para apoiar as equipas da casa, jogo inteiro com o sol a bater na bancada e, mesmo assim, um apoio incansável, um regresso, já mortos, mas felizes, e com a mesma boa disposição, entre abraços e insultos uns com os outros, como irmãos! Duas vezes numa semana, praticamente!

Nem as duas derrotas nos tiraram este orgulho no nosso clube e no nosso grupo pois, para nós, é isto! O Farense é as suas gentes e nós, de certeza, fomos nestes dias como o somos sempre! E um bem haja a todos os adeptos do Farense que se deslocaram também para apoiar a equipa em transportes públicos e individuais. Agradecemos a todos os que estiveram presentes! Sentimos que, neste momento, a chama está a reacender, os novos vêem-nos como exemplo, e os mais velhos agradecemnos por termos absorvido bem os valores que nos passaram e de os estarmos a tentar passar aos mais novos. E é continuar! O nosso maior objectivo é continuar a fomentar esta

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mística e união. Com coerência, mentalidade e atitude. Como uma família, de geração em geração, passando o conhecimento, a causa , e a nossa ideologia, que nunca é mais do que o que queremos ser! Somos South Side Boys!

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CULTURA DE ADEPTO

Por P. Alves e M. Bondoso

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Soli Contro Tutti

Internacional

Autor: Alberto Lomastro, Francesco Grigolini

Equipa: Hellas

Ano: 2011

Páginas: 336

Preço: 50€

Capa dura, título e a scala em verniz brilhante. Design simples e impactante.É

assim o primeiro contacto com o livro que tinha a tarefa de recontar a história da BG quase 15 anos depois da bíblia que é o I Guerrieri di Verona.

O livro percorre o mesmo estilo do anterior, época a época e fotos a acompanhar. Destaca-se sobretudo pela qualidade da fotografia, não fosse o co-autor um famoso fotógrafo veronese.

Diferencia-se também pelos vários testemunhos dos membros da Brigate ao longo dos anos e de diferentes gerações.

Termina com a transposição do comunicado de dissolução a 14 de Novembro de 1991, no mês em que o grupo cumpria 20 anos de actividade. Comunicado histórico pois os restantes grupos também se dissolveram em solidariedade. Um sentido de união de outros tempos.

Somos ainda contemplados com 40 páginas de fotografias que não tiveram espaço no decorrer do texto, e que dão um prazer imenso rever a cada passagem.

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UltraMarines 1987 - 2007

Internacional

Autor: N/A

Equipa: Bordeaux

Ano: 2013

Páginas: 392

Preço: N/A

Um dos clubes mais míticos de França, tem igualmente umas das curvas mais interessantes do panorama ultra francês.

Falamos da Virage Sud Bordeaux, onde o principal grupo são os Ultramarines. Este grupo decidiu assinalar os seus 20 anos com a edição de um livro comemorativo de quase 400 páginas.

A estrutura é em tudo semelhante a outros artigos do género.

Os primeiros capítulos dedicamse a falar sobre a “Tribune Populaire”, o estádio e a formação do grupo. Seguemse 20 capítulos, cada um dedicado a uma época desportiva. Os últimos três falam da mentalidade ultra, das amizades/rivalidades e, por fim, dos principais núcleos do grupo.

O livro é bastante rico em fotos o que permite atestar a evolução do grupo ao longo dos anos, seja em coreografias, material ou até em termos de postura na Bancada.

Apesar de não terem a força ou fama de outros grupos gauleses, acaba por ser um trabalho muito bem conseguido e uma boa relíquia para colecionadores.

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Soli Contro Tutti UltraMarines 93

Looking for Eric é uma produção que data do ano de 2009, cuja história se centra no drama dum carteiro de Manchester que vê a sua vida arruinada por um conjunto de circunstâncias que lhe fogem ao controlo, e que consegue reabilitar-se com a ajuda do futebol e de um velho ídolo.

Realizado pelo cineasta britânico Ken Loach e escrito por Paul Laverty, Looking for Eric mistura uma série de condimentos que tornam esta história bastante impactante. Steve Evets desempenha o papel de Eric Bishop, um homem que se viu traído pela vida, que entra num processo de degradação pessoal depois da morte da sua segunda esposa, que deixa a seu encargo dois enteados. Tendo de lidar com problemas do foro psicológico, Eric é incapaz de controlar os seus enteados que tomam opções de vida pouco recomendáveis.

Durante todo este processo, Eric é apoiado pelos seus amigos carteiros e adeptos do FC United, que é intitulado por um deles como “o clube do povo”. Para além do apoio

dos amigos de sempre, Eric Bishop recebe uma surpreendente ajuda do seu velho ídolo Eric Cantona, que aparece aparentemente no subconsciente do carteiro, e os dois vão protagonizando uma série de diálogos no decorrer do filme. É desta forma que o velho carteiro se vai reabilitando, procurando reconquistar o amor da sua primeira mulher e mãe da sua filha, enquanto reorganiza a sua casa e a educação dos enteados.

Paralelamente a este drama,

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podemos assistir à adesão ao FC United por parte destes carteiros, outrora frequentadores de Old Traford, mas cuja mercantilização do futebol e do seu clube os afastou do estádio onde vivenciaram tantas emoções. Há uma cena icónica, que se desenrola num típico pub britânico, no qual o grupo de amigos assiste através da televisão a um jogo do Manchester United a contar para a Liga dos Campeões. Alguns dos carteiros começam uma discussão com os restantes adeptos presentes no pub sobre o FC United e a alegada traição que estariam a cometer ao seu clube de sempre. No seguimento desta discussão, um dos amigos de Eric abandona o pub alegando que já não se incomoda com os resultados dos red devils, afirmação que se percebe ser falsa quando os restantes simulam o festejo dum golo e este regressa ao pub a correr.

Apesar de cómica, esta cena faz-nos perceber que, apesar de todas as

incongruências e desvios que nos possam afastar do nosso clube por razões ideológicas, o amor pelo símbolo é uma coisa tão profundamente cravada no adn de um adepto que se torna difícil de apagar.

O desempenho de Steve Evets no papel de Eric Bishop é bastante positivo, e, a prestação de Eric Cantona, é também assinalável, com destaque para a brilhante cena em que o mago francês afirma com a sua habitual petulância: “I am not a man, i am Cantona”.

Neste enredo temos contacto com o drama da saúde mental e de como este problema afecta e destrói a vida de tanta gente, temos também o drama da perda de um ente querido, o problema social de ver jovens enveredar pelo caminho da criminalidade e as consequências que lhe estão associadas. E, para além de tudo isto, temos a importância do futebol na vida de um adepto, como este mágico jogo pode transformar vidas e formar alianças inquebráveis. Isto tudo enquanto se assiste a uma crítica bem formulada da instauração do modelo mercantilista e neoliberal no futebol e na sociedade!

Por J. Sousa

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