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Editorial Ficha técnica
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Resumo do processo contra o Cartão do Adepto
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História do movimento organizado de adeptos na Grã- Bretanha
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Era uma vez a Adeptos
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Uma breve história dos equipamentos
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À conversa com “Jota”
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https://issuu.com/culturadebancada
culturadebancada@gmail.com
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Memórias de Bancada
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A Bola também é delas
Resumo de Bancada
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Comunicação em tempo de pandemia
Entre o Céu e o Inferno Sport Comércio e Salgueiros
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Estranho caso do Varziela
Revoltas Populares: Trofada
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As Claques e a Internet
50+1
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Cultura de Bancada
Da escola à bancada
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Futebol no interior
facebook.com/culturadebancada
cultura.de.bancada
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Director J. Lobo Redacção L. Cruz G. Mata J. Sousa Design J. Leite S. Frias Revisão A. Pereira Convidados Martha Gens Luís Monteiro João Freitas Ricardo Santos Fabian Boker José Rocha Bruno Sampaio Fábio “Poveiro” Pedro Melo Eupremio Scarpa João Peixoto José Ricardo P. Alves M. Bondoso J. M. Bessa
editorial Mas que prazer nos dá esta vida de adepto! É justamente nesse prazer que retiramos da nossa vida e do sonho que aponta para utopia, que vamos encontrar forças, semana após semana, dia após dia, para continuar em frente com este projecto. Aceitamos que possa ser estranho associar a palavra utopia às nossas bancadas mas, visto que a estrutura à qual pertence o campo do desporto é, por ligação directa, um reflexo da nossa matriz social, devemos considerar que é também um campo de trabalho e que as sua orientações devem ir ao encontro da comunidade cultural que o preenche. Uma maior democratização da bancada, e do próprio desporto, é necessária! Vemos a informação como um elemento essencial no processo da democratização. E é isso que tentamos fazer em cada número da nossa publicação. Esperando que um dia, de alguma forma, possamos contribuir um pouco para atingir resultados positivos. Não podemos deixar de endereçar uma palavra de força a um dos nossos convidados, participante no número anterior da Cultura de Bancada, o Jorge Moreira. Actualmente, está perante um desafio particularmente difícil, e essencial para a sua vida. Da nossa parte, endereçamos um sentimento de força e deixamos votos para que triunfe rapidamente, contra um adversário implacável, por uma equipa que é de todos nós, a vida. Se tudo correr bem, vemo-nos de novo a 12 de Junho de 2021!
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resumo da acção judicial contra o cartão do adepto
No dia 11 de Fevereiro deste ano, a APDA e os demais requerentes foram notificados da sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa quanto à providência cautelar que visa congelar os efeitos do cartão do adepto. Nunca nos tinhamos sentido tão ansiosos como ao saber desta notícia. Era uma espécie de curiosidade mórbida - entre conhecer a fundamentação, a decisão, e o que fazer.... Foi uma luta a que nos propusemos e que assumimos de punhos fechados, contra uma medida que, no fundo, todos sabem de que se trata: Política. Foi num misto de descrença e, quase esmorecimento, que lemos a sentença que deu razão ao poder instituído. Rapidamente ganhámos fôlego para continuar. Esta sentença, como se costuma dizer “passa como cão por sentença vindimada”. Não questiona, aceita. Não problematiza, acata cegamente. Acolhe todos os argumentos do Ministério da Educação. Ministério esse que, por puro desconhecimento, cita desastres que a história insiste em esquecer, para justificar medidas falhadas e teimosias certas, com uma falta de vergonha gritante.
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Este tribunal não quis sair do conforto da concordância. Porque não dá grande trabalho, porque é mais linear, e porque sobretudo era preciso ter coragem de dar razão aos adeptos e admitir que “isto não está certo e eles têm razão”. A sentença não acolheu nem um dos argumentos apresentados pela APDA. Será possível que numa petição inicial com centenas de artigos e páginas, redigidas por competentíssimos advogados, não haja nem uma vírgula que tenha sido colocada no sítio certo? No dia seguinte, era notícia nos jornais que o Tribunal não tinha dado razão aos adeptos. E, de repente, acreditamos em notícias encomendadas, porque e quando dá jeito. Num processo que pouca atenção dos media mereceu, de repente, perdendo os adeptos, já se tornou notícia. Com frieza, consciência e muita força, resolvemos não esmorecer. E quem lê este texto, acredite ou não, vemo-nos num dos momentos em que precisamos de ter mais força, garra e vontade de continuar esta cruzada. E demos
entrada de um recurso, para o Tribunal Central Administrativo Sul. Demos entrada de um recurso que foi elaborado internamente, a muito custo de horas de sono e sacrifícios pessoais. Hoje, acreditamos que nenhum dos doutores que governa o desporto em Portugal terá a menor ideia do que isto é. Temos a certeza que nunca tiveram de lutar com as suas próprias mãos, até ao fim, até onde desse, por algo em que acreditam, sem contrapartidas, sem favores, sem interesses ou benefícios pessoais. Temos ainda a certeza, porque estamos atentos e continuamos a trabalhar em prol de todos nós, que estamos a incomodar. E agora, que aguardamos o Acórdão do nosso recurso, é o momento em que temos a maior das certezas. É também por estarmos a incomodar que vamos continuar. Por Martha Gens, Presidente da APDA
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História do movimento organizado de adeptos na Grã- Bretanha No final do século XIX, o Futebol começava a tornar-se o desporto do povo, numa altura em que os estádios ganhavam maior capacidade para acolher adeptos. A classe trabalhadora surgia nos jogos em maior número do que até meados desse século. Com eles levavam o orgulho nas suas origens, apoiando entusiasticamente as suas equipas locais. Uma forma de estar no desporto que constrastava com o desportivismo com que as classes mais altas encaravam o mesmo. Curiosamente, os distúrbios eram criados por pessoas de todos os extratos sociais. No últimos anos da década de 1890, em solo escocês surgem os “brake-clubs”. Estes eram uma espécie de grupos organizados de adeptos, divididos por localização, que eram compostos por sócios. Os sócios pagavam uma quota semanal ou mensal, o que lhes conferia a oportunidade de viajar com o grupo para os jogos fora. Inicialmente, as deslocações dos “brake-clubs” eram realizadas de carroça a cavalos, que estavam decoradas com bandeiras e faixas alusivas ao clube. De referir, que o estandarte principal deste tipo de grupos, costumava ser alusivo ao clube, como também ao jogador favorito da sua equipa. O apoio às suas equipas era complementado com instrumentos de sopro. Nessa época, os próprios jogadores também se deslocavam para os jogos em carroças a ca-
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valo. Uma carroça de grandes dimensões, era capaz de levar cerca de 25 adeptos. Durante as viagens a terrenos adversários, por vezes alguns “brake-clubs” de clubes rivais encontravam-se nas estradas, o que levou a diversos confrontos. A violência associada às bebidas alcoólicas (dois factores que a maioria dos fundadores dos “brake-clubs” não gostava) o aumento dos veículos motorizados e a expansão da rede ferroviária (após a Primeira Guerra Mundial) contribuiram para a queda destes “núcleos”. A palavra “Hooligan” começa então a surgir repetidamente na imprensa britânica, para se referirem a grupos de jovens desordeiros, que provocavam tumultos. Desde a década de 1870, há registos de incidentes nos jogos de Futebol, tais como invasões de campo, agressões a árbitros e a elementos de outros clubes, danos em bens materiais de ruas e estádios, confrontos entre adeptos e com a polícia, bilheteiras incendiadas, etc. Este fenómeno social continuava a ganhar espaço, isto entre o início e o final da década de 30 do século XX, especialmente na Escócia, onde se fazia notar repetidamente a participação de grupos de Hooligans de diferentes clubes em lutas nos estádios e nas imediações dos mesmos. Curiosamente, na Inglaterra, a tendência de casos diminuiu. Entre as duas Grandes Guerras a economia britânica cresceu devido às inovações na área industrial, o que ajudou a melhorar o nível de vida da maioria dos britânicos, mas não fizeram com que a pobreza e o desemprego desaparecessem. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, notou-se um aumento da capacidade financeira de todas as classes sociais, tendo isso contribuído para que se registassem as maiores assistências de sempre nos jogos. Tal não escondeu a desigualdade social e a insatisfação dos menos abastados, o que resultou no aumento da instabilidade política, na décadas seguintes, com diferentes partidos a serem eleitos para governar o povo inglês. A maioria da juventude oriunda da classe trabalhadora desacreditava no futuro devido às políticas dos governos, encontrando no estádio um ambiente no qual podiam manisfestar-se livremente. Lá, por algum tempo e em conjunto, faziam frente ao sistema, sobretudo enfrentado a polícia, mas
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também a sociedade em geral. A insatisfação fazia-se sentir em diversos sectores, incluindo a cultura onde principalmente através da música o povo contestava a monarquia e as suas próprias condições de vida. No cinema, uma obra que se destacou na influência dos jovens foi “A Clockwork Orange”(Laranja Mecânica, em português), uma vez que a violência estava muito bem representada na mesma. No sector do emprego, as greves e os protestos eram constantes, sendo a polícia do Reino Unido uma força repressiva nesse contexto, e em outros mais como o Futebol. Pode dizer-se que a forte aposta das autoridades na mudança do “modus operandi” da polícia no combate ao hooliganismo foi fracassada. Uma dessas mudanças, implicava a junção e segregação do máximo de hooligans nos topos dos estádios, numa altura em que os jovens contribuiam muito para as grandes atmosferas vividas nas bancadas. A estratégia policial tinha como fundamento a protecção do espectáculo desportivo e dos demais adeptos, criando uma diferenciação decorrente do estigma e da pouquíssima capacidade para lidar com os adeptos, por parte das autoridades. Nos “terraces” era possível ver várias tendências como Mods, Teddy Boys, Rockers, Skinheads ou Punk. Ali fomentou-se ainda mais a mentalidade de apoio ao clube e a defesa do seu território aquando da visita de adeptos forasteiros. As rivalidades e a forte competição pelo prestígio das “firms” levaram a uma melhor organização e preparação das mesmas, tal como ao aumento e agravamento da violência. Também ali foram criados muitos cânticos provocatórios ou insultuosos para os adversários. Portanto, estas medidas discriminatórias, levadas a cabo pelas autoridades, contribuiram para a evolução deste fenómeno social. Desde cedo que, nas bancadas das ilhas do Reino Unido, inovou-se no apoio aos clubes e por quase toda a Europa sentiu-se que, a cultura de adepto britânica, foi “bebida”. Logo nos primeiros anos do século XX, os adeptos começaram a utilizar mais adereços de apoio, como cartolas, roupas personalizadas para os seus clubes, muniam-se de “rattles” e “rosette flags”, criavam estandartes onde pintavam símbolos e/ou palavras de incentivo, entre 10
outras coisas mais. Também era habitual o uso de bandeiras, muitas delas transpirando o sentimento de pertença. A bandeira do Reino Unido “invadiu” as redes e grades dos estádios da maioria dos países europeus, mesmo em partidas onde não se encontrava nenhum clube britânico, o que comprova a influência exercida pelo movimento de apoio/Hooligan daquela nação insular. As gaitas de foles também costumavam marcar presença nas bancadas, tal como os bandeirões gigantes. Este movimento foi um dos mais criativos no que toca a músicas de apoio. Algumas malhas foram integralmente usadas, como o caso de “You’ll Never Walk Alone”, da banda Gerry and The Pacemakers, enquanto que outras foram apenas adaptadas. Nos anos 70 e 80 aconteceram inúmeros casos antes, durante e depois dos jogos a nível interno. Diversos países já tinham os seus próprios problemas de hooliganismo, mas foi nestas décadas que os britânicos se mostraram ao mundo. Alguns dos casos mais mediáticos, pela sua dimensão e contexto, acabaram por ser cometidos em 1975 e em 1977, quando o Leeds United e o Manchester United, devido a graves incidentes provocados pelos seus adeptos, receberam castigos da UEFA. O Leeds United deslocou-se ao Parque dos Príncipes, em Paris, para defrontar o Bayern Munique na final da Taça dos Campeões Europeus. Os alemães derrotaram os “whites” por 2-0, numa final muito polémica, na qual os ingleses foram prejudicados pela arbitragem. A frustração dos adeptos do Leeds levou a tentativas de invasão de campo, confrontos com a polícia francesa, ao arremesso de tudo o que viesse à mão para o terreno de jogo e outras coisa mais. A revolta continuou noite dentro nas ruas da capital francesa, com danos a propriedades públicas e privadas e com muitos confrontos. Tal culminou num castigo da UEFA ao Leeds United ficando o clube impedido de ingressar nas competições da UEFA por um período de 5 anos. Dois anos depois, França voltou a ser palco de incidentes provocados por adeptos ingleses. O Manchester United deslocou-se a casa do Saint-Éttienne para jogo da Taça das Taças. Na noite anterior ao jogo, um grupo de homens de Manchester assaltaram um hotel e uma loja, tendo também partido algumas montras 11
de lojas. Já nas bancadas do Estádio Geoffroy-Guichard, vários aconteceram confrontos entre “verts” e “reds”. Consta que os ingleses queriam ver o jogo instalados por trás de uma baliza e que os caseiros os expulsaram. Munidos de paus, garrafas e facas, só pararam com diversas intervenções policiais. Há registo de uma centena de feridos, que fizeram desabar uma grade da bancada, enquanto fugiam da situação. Inicialmente o Man. United foi banido das competições europeias, mas após uma reunião entre representantes do clube e a UEFA, os ingleses foram readmitidos na competição, sendo condenados a pagar uma multa e a jogar a segunda-mão da eliminatória num terreno a 200 quilómetros de Old Trafford. Na primavera de 1985, a Juventus e o Liverpool jogaram a final da Taça dos Campeões Europeus, no Heysel Park, em Bruxelas. Antes da partida, aconteceu uma tragédia que culminou na morte de 39 pessoas e num número indeterminado de feridos. Isto foi fruto de diversos ataques que os hooligans do Liverpool lançaram aos italianos, no topo norte. O clube de Merseyside acabou por ser banido das competições europeias por 6 anos, algo que também aconteceu a todos os outros clubes ingleses, por um período de 5 anos. A imprensa, desde sempre, publicou artigos relacionados com o que os jogos envolviam. Muita da comunicação social era sensacionalista, algo que até ia ao encontro da procura de reputação das “firms”. Embora a abordagem da imprensa fosse negativa, a verdade é que os hooligans faziam o que podiam para deixar a pior imagem possível nas cidades. A partir daí, a repressão começou a ser ainda mais forte, sendo que o Futebol ficou mais elitizado, em consequência disso. O governo de Margaret Thatcher intensificou a luta ao hooliganismo. A “Dama de Ferro”, como era chamada Thatcher, foi protagonista do que aconteceu após a tragédia de Hillsborough. Na mesma, morreram 96 adeptos, devido à desorganização policial, no jogo entre Liverpool e Nottingham Forest nas meias-finais da Taça de Inglaterra. Thatcher criou uma comissão de análise a este episódio tendo, à posteriori, elaborado o Relatório Taylor. 12
As “firms” começaram a concentrar as suas lutas nas ruas, principalmente nas ruas circundantes aos estádios e nas estações ferroviárias. Começaram também a combinar entre elas locais e horas para combaterem fora da vigilância policial. A vertente “Casual” surge da necessidade dos “hool’s” não sofrerem com o controlo das autoridades, tendo estes grupos, que eram compostos principalmente pela classe trabalhadora, procurado ir à bola com roupas de marcas caras, algo que os ajudava a passar despercebidos perante o olhar estereotipado que a polícia tinha sobre eles. Apesar da fortíssima repressão levada a cabo pelas autoridades nas décadas seguintes com as detenções e consequentes proibições de assistir aos jogos, o impedimento dos “hool’s” de viajarem para o estrangeiro, a melhor monitorização da polícia, a implementação das CCTV’s nas cidades, o aumento dos bilhetes de jogos, entre outros, a verdade é que este movimento resiste. Não só resiste, como se expandiu pela Europa, visto que os britânicos influenciaram diversos adeptos na criação de grupos locais deste género. Por L. Cruz
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era uma vez a a O projeto Revista Adeptos começou a ser pensado em meados do ano de 2002 visto que, durante um certo periodo, não havia qualquer publicação a no nosso país. Apesar de, logo após do desaparecimento da Super Ultra, ter sido criado um novo projecto, em forma de fanzine, com o nome de Ultras Magazine, este apenas esteve activo cerca de um ano. Corria o ano de 2003 e, num periodo de ressurgimento do movimento Ultra português, até porque vinha aí o euro 2004, verificou-se a necessidade de criar uma nova publicação. Foi então que, eu em Lisboa e o Luís Macedo no Porto, iniciamos um projeto ao qual chamamos Adeptos. Esta fanzine, no nosso pensamento, deveria ser imparcial e abranger todos os grupos Ultras nacionais. A ideia principal era dar a conhecer o movimento Ultra, tanto a nível interno como internacional. O primeiro número esgotou. Nesta altura ainda não tínhamos a internet tão difundida na população como nos tempos que correm, logo, este meio em papel era importante na passagem da mensagem e também havia a ideia de ser importante manter o registo físico deste tipo de publicações, algo que com o passar dos anos se perdeu. Contudo, uma publicação deste género é muito trabalhosa. Pessoalmente já tinha estado envolvido noutras, como foi o caso da Ultra Um Modo de Vida e da Super Ultra, e a experiência que fui adquirindo deu-me a noção da carga de trabalho que iria ser necessária na sua concepção. Desde a paginação, a recolha de artigos, a pesquisa sobre um tema, as entrevistas etc. Tudo é trabalho que requer tempo e, mesmo não sendo uma publicação profissional, era certo que iria exigir muito do nosso tempo. As fotografias também não eram em formato digital,
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adeptos como hoje em dia, eram todas em papel e por isso era preciso digitalizar uma a uma. Resumindo, naquele tempo era um conjunto de processos lentos e, muitas vezes, sem as ferramentas adequadas. Ao longo do tempo fomos aperfeiçoando e, todos os meses, tentavamos fazer sair um número. Depois havia também outro desafio de logística, a distribução. O processo para fazer chegar a revista às pessoas foi feito de duas formas. Criando pontes com os grupos que vendiam a Adeptos nas suas bancas e também cirando condições para que possibilitassem a distribuição em pontos de venda de várias cidades (quiosques), como já tinha acontecido no passado. Com o passar do tempo o projecto foi perdendo força, reflexo do interesse do movimento. A perda de alguns valores na curva levou a que, a dada altura, o projecto cessasse. Durante um periodo a revista foi disponibilizada gratuitamente no formato digital mas, passado algum tempo, resolvi reactivar. Desta feita saiu uma nova versão da fanzine, onde apresentávamos sobretudo fotografias de jogos da primeira, se-
gunda e terceira liga portuguesa. Somente para não deixar cair a única publicação ultra. Mais tarde regressamos ao estilo de revista, com um formato diferente mas, com o conteúdo que estávamos habituados, as entrevistas, as reportagens, as cartas abertas... Também foi importante a colaboração de muitos que, por essas curvas, nos fizeram chegar material, comunicaram problemas e demais. Com as novas leis, o ataque aos ultras feito pelo governo e outras entidades a a perda de valores dentro das curvas, foi caindo o interesse por esta revista e, com isso, a sua procura. Entretanto as novas maneiras de comunicação despontavam e este tipo de publicações iam ficando para trás. Com muita pena tive de pôr cobro à revista, pois já nem a ela própria se sustentava, sendo incomportável mante-la. Infelizmente em Portugal perdeu-se este tipo de referências, até mesmo no estrangeiro o papel perdeu para a internet, mas era interessante e saudável aparecer ou alguém reativar uma coisa deste género, para os poucos que ainda acreditam na maneira ultra de outros tempos. Por Luís Monteiro
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UMA BREVE HISTÓRIA DOS EQUIPAMENTOS Uma breve história dos equipamentos Estamos em 2021 e a prática do futebol, ao estilo do que agora conhecemos, tem mais de uma centena de anos. Hoje o futebol está orientado por um conjunto de regras que facilitam a organização dos jogos e das várias competições, mas nem sempre foi assim. No período Vitoriano, principalmente na segunda metade do século XIX, parte dos jogos, principalmente aqueles de menor relevo, eram realizados de acordo com as regras definidas pelas equipas que se iam defrontar, exclusivamente para esse encontro. As primeiras regras a serem publicadas são produto de uma escola pública inglesa mas, porém nos anos seguintes, mais concretamente em 1859, surge uma publicação que merece nota por ter sido feita por um clube, o Sheffield FC. Já em 1863, é a vez da Football Association publicar um conjunto de regras que seriam adoptadas, embora não de forma universal, pelos clubes ingleses. De uma forma abreviada, este foram os primeiros passos para a uniformização do futebol. Repetindo o que foi dito umas umas linhas acima, as regras vieram para facilitar na gestão e até na preparação dos confrontos. Mas se recuarmos até à génese da prática do futebol percebemos que, pela inexistência de regras, era comum que vários problemas aparecessem. Neste artigo, escolhemos falar de um problema que marcou a história da evolução do futebol. Afinal como poderiam duas equipas defrontarem-se sem que, elas próprias, confundissem os jogadores em campo? Ou posteriormente, como podiam os adeptos distinguir os jogadores ao longe? No início não havia equipamentos com as cores identificativas dos clubes mas, as hipóteses
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para se distinguirem foram algumas e variaram de acordo com a criatividade. A título de exemplo, naqueles tempos foi possível observar os jogadores de uma equipa a usarem um lenço ao pescoço, sobre a roupa de jogo ou até jogar com chapéus, de modo a a criar uma distinção, diminuindo a possibilidade de confundirem os seus integrantes. Em alguns casos uma equipa poderia jogar com camisola e outra sem, como também podiam jogar com roupas de cores diferentes ou até de um lado com camisola lisa, de uma só cor, e do outro com camisola listada. Algo importante a reter é o facto de, nos primeiros tempos dos equipamentos, as “cores próprias” não terem sido um elemento preponderante visto que, à época, uma grande parte das equipas não possuír uma identificação com “cores próprias”. A primeira referência que chegou sobre a utilização de cores, que sobreviveu até aos dias de hoje, chega através das regras criadas pelo Sheffield FC, onde se podia ler: “Cada jogador deve se munir de um boné de flanela vermelho e azul escuro, uma cor para ser usada por cada equipa.” Percebemos assim que naquele context, o mais importante era distinguir os jogadores para não caírem no erro de fazer um passe para um jogador da
outra equipa. Só em 1863, como já demos nota anteriormente, com o aparecimento da Associação de Futebol (Inglesa), foi unificado um conjunto de regras para o jogo, entre as quais o conceito de que cada equipa teria de ter o seu próprio uniforme. Por volta de 1870 a distinção dos uniformes, ou equipamentos, começa a ser parte do futebol mas nem tudo era organizado da melhor maneira. Prova disso é um artigo, de 1879, quando da realização de um jogo do Birmingham, a contar para a taça de Inglaterra, onde um jornalista da época escreve: “No futebol, é um ponto essencial que os membros de uma equipa devem ser claramente distintos um do outro. A única maneira de fazer isso é cada equipa ter um uniforme distinto, já que a diversidade de roupas usadas ontem não apenas confundiu os membros da equipa, mas os espectadores foram incapazes de dizer que homem pertencia a uma equipa ou a outra”. Assim se justificava a necessidade urgente da aplicação da regra. Para melhor entendimento do tema temos de, obrigatoriamente, contextualizar este assunto no seu devido tempo. O futebol começa por ser praticado por jovens com algumas posses, mas nem todos
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na sociedade conseguiam despender grandes quantias, em alfaiates, para produzir um equipamento com as suas cores. Em alguns casos, os jogadores compravam-nos em sítios diferentes e, embora dentro da mesma equipa os jogadores usassem a mesma cor, os modelos dos artigos podiam variar. O branco era a cor mais barata e mais fácil de adquirir, sendo por isso a mais comum entre os atletas. Posteriormente outras cores foram exibidas, em muitos dos casos por influência de questões de ordem social e religiosa. Os equipamentos multicoloridos também ganharam o seu espaço mas foram sendo menos comuns por razões ligadas à facilidade de percepção. Por exemplo, num jogo com más condições climatéricas, uma camisola multicolor ficava mais difícil de distinguir ao longe e, assim, poderia prejudicar um passe de longa distância. Até mesmo no momento em que se massificava o jogo e os estádios ganhavam maiores dimensões, era importantíssimo que os espectadores identificassem quem era quem. Aos nossos olhos são coisas simples e comuns mas que naquele período tinham outro peso. Outro ponto, que merece atenção, tem a ver com o aumento do número de equipas a praticar este desporto. Tornou-se normal a existência de mais que uma equipa com o mesmo padrão de cores no equipamento. Assim, tornou-se necessária a existência de um segundo equipamento, alternativo às cores principais. De novo ficou assegurada a distinção das equipas. Hoje os equipamentos e as suas cores são dos elementos de identificação mais importantes para os clubes, algo que é potenciado em 1891 quando clubes foram obrigados a registrar suas cores para a temporada seguinte, com a nota de que dois clubes não poderiam registrar as mesmas cores. Ninguém podia imaginar que, o que um dia foi criado para ajudar a diferenciar os jogadores, hoje iria tornar-se num elemento de união entre os seus seguidores. Por J. Lobo
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à conversa com jota “Os autores das bárbaras agressões estão aqui nesta sala, disso não tenho dúvidas. Só não sei é quem foram ou se foram todos, porque ninguém os conseguiu identificar.” Juíz Presidente na leitura do acórdão
Neste quarto número foi vez de trazer até à Cultura de Bancada um adepto do Boavista. Advogado de profissão, João Freitas, também conhecido por Jota, conta 40 anos e era um habitual frequentador dos estádios onde o seu clube jogasse. Este adepto carrega consigo uma história pesada, um fardo para a vida, consequência de um episódio gravíssimo ocorrido em 2014. A 3 de outubro de 2014 Jota foi vítima de uma brutal agressão que o deixaria cego de um olho para o resto da sua vida. Um dia que jamais poderá ser esquecido e, por isso, achamos muito importante ter presente nesta publicação uma pessoa que merece toda a nossa solidariedade e respeito. Como muitos de nós, que conhecemos o caso, dizemos: Ontem o Jota, amanhã podemos ser nós. Obrigado desde já, ao João Freitas, por ter aceite esta entrevista.
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Antes de mais quero agradecer-vos o convite, bem como dar-vos os parabéns pelo trabalho que têm vindo a realizar. Quem gosta de futebol, gosta da Cultura de Bancada. Como nasceu o seu amor pelo futebol e pelo Boavista? O amor ao Boavista nasce como qualquer amor, sem sabermos bem como, nem quando, pela mão de um pai ou avô que desde cedo nos levam aos estádios, no meu caso, ao velhinho Bessa. Claro que, quando somos novos achamos piada a ir a um estádio ver um jogo, ouvir berros, insultos, palmas, festejos, etc. Depois, com o passar dos anos, percebemos que esse amor vai evoluindo, começamos a perceber melhor as coisas, no caso o clube em si, os valores que representa. E talvez seja isso que me fez apaixonar pois, como sabem, os títulos e troféus, muitos ou poucos, não podem nunca definir o amor a um clube, mas sim os valores e o sentimento de pertencer a um sítio, a um lugar, a um clube. Muitas vezes digo que gosto mais do Boavista do que de futebol, por muito estranho que isto pareça. Como é para si viver o seu clube? Juntamente com o meu irmão mais novo, sempre vivi o clube de uma forma muita própria, apaixonada e presente. Íamos os dois, desde cedo, sozinhos para o Bessa. Sempre fomos sócios com as quotas em dia, pois, para mim, isso é essencial, ainda por cima sendo o Boavista um clube que precisa de todo o dinheiro, não faz sentido não ser sócio. Claro que entendo que, muitas vezes, é complicado pagar quotas e estar presente, mas o amor também é isto, sacrifícios. Mais tarde, e numa altura em que o clube precisava dos Boavisteiros de verdade, e não dos “para-quedistas “ , fui ajudar nas modalidades, nomeadamente no Futsal, onde fui director durante alguns anos, experiência essa que me marcou e me deu a possibilidade de ensinar o que era o Boavista FC a muitos atletas. Aliás, aconselho a todos os Boavisteiros a terem essa mesma experiência, de ajudar sem receber nada em troca, até porque de Futsal sempre percebi pouco, mas sobre o amor ao Boavista, sempre percebi muito.
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Para os adeptos, o seu estádio é como uma segunda casa. Quais os episódios que mais o marcaram, até hoje, no estádio do Bessa? No Bessa, tanto no antigo estádio como no novo, como devem imaginar, as histórias são muitas. Escolher apenas algumas é sempre muito difícil, e podia falar-vos das grandes noites europeias, em que recebíamos o Manchester United, o Inter, o Bayern, o Dortmund etc , onde muitas vezes até batemos o pé a muitos destes gigantes. Ou podia falar do título, mas gosto também de relembrar quando nos “mandaram” injustamente para as divisões inferiores. Assistimos a um pouco de tudo. Desde adversários e árbitros a andarem, no aquecimento e no intervalo, com os telemóveis a tirar fotos ao estádio, aos bancos, ao túnel, etc. Para eles, jogar contra o Boavista, e não querendo ser pretensioso, talvez tenha sido dos momentos mais altos das suas carreiras. Depois claro, temos aquelas histórias com árbitros, com polícias, com malta de outros clubes, mas essas ficarão sempre guardadas para mim. Considera que ser adepto tem importância relevante na sua vida e na sua construção pessoal? Sem adeptos não existe futebol. Ser adepto é tudo, mas adepto presente. Como disse em cima, não consigo imaginar como se gosta de um clube e não se é sócio, não se vai ao estádio, não se acompanha. É certo que não conseguimos ir sempre ou quase sempre, mas esse amor que sentimos tem que ser demonstrado e não é num sofá aos gritos. É no estádio, é na bancada. Até porque nos 90 minutos de um jogo de futebol, temos alegrias, tristezas, justiças, injustiças, gritos, silêncios, às vezes desfrutamos do jogo, outras estamos com a adrenalina a mil, o que demonstra que o futebol é e vai ser sempre como a vida. Por muito que digam: “É só um jogo” eu não concordo: futebol é muito mais que um jogo! Agora, claro, se ficares no sofá a comer pipocas e ver futebol, isso sim, são só 90’ de entretenimento. Para mim, futebol nunca será isso. Existe melhor sensação a um domingo, depois do almoço, ir a um estádio com familiares, amigos ou mesmo sozinho ver a nossa equipa a jogar?!
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Inevitavelmente, temos de perguntar. O que aconteceu naquele dia antes do jogo entre o Vitória Sport Clube e o Boavista Futebol Clube? Muito resumidamente, e não por não querer falar do assunto, até porque é público, mas sim porque não tem muito para contar. Chegamos a Guimarães nas camionetas e, ao sair da camioneta, cheguei-me um pouco para o lado para esperar pelo meu irmão. Fui abordado por um polícia a insultar-me que não poderia estar ali, a quem disse que estava à espera do meu irmão. O mesmo polícia empurrou-me para sair dali e começaram as agressões. Depois só me lembro de acordar no hospital e o resto já se sabe. Após o incidente, apresentou queixa e o caso foi levado à justiça, isto se for possível associar este termo. Pode descrever-nos como se desenvolveu o seu processo? O processo decorreu como quase todos em Portugal, muito mal e de forma vagarosa. Mas também fruto da minha profissão, sempre soube que o desfecho desse processo seria quase de certeza este. Apesar de nada estar terminado, e até termos tido “uma pequena vitória”, pois ficou provado que as agressões foram da autoria da PSP, o resto já sabemos: a cobardia e o corporativismo da PSP. O caso foi público assim como foram públicas as seguintes palavras, que não podemos deixar de recordar, proferidas pelo Juíz Presidente na leitura do acórdão. “Os autores das bárbaras agressões estão aqui nesta sala, disso não tenho dúvidas. Só não sei é quem foram ou se foram todos, porque ninguém os conseguiu identificar.” Está aqui justificada a nossa dúvida ao associar a palavra justiça a este caso. Como sentiu estas palavras? Relativamente a essa frase proferida pelo Juiz Presidente, como deve imaginar, vai-me acompanhar o resto da vida e será sempre difícil de aceitar. É como vocês dizem, fica difícil associar justiça a uma declaração destas. O que nos devemos perguntar é: “Se dez indivíduos, amanhã, espancarem um polícia na rua, o deixarem abandonado sem socorro e ele ficar cego para a vida, será que vão estar numa sala de audiência essas dez pessoas e o juíz as vai mandar embora a dizer: ” Eu sei que foram vocês, só não sei quem, por isso estão todos em liberdade?!” Cla22
ro que sabemos que isso nunca aconteceria. Ainda sobre esta decisão, por um lado, tive pena de aquela audiência, naquele dia, não ser um julgamento transmitido pela televisão, pois ver um tribunal a abarrotar de polícias, os arguidos eram só treze, mas seguramente estavam quase cem polícias e, quando o juíz proferiu a sentença, abraçaram-se, festejaram, sorriram, uns até gritaram, acho que nem uma vitória da champions é tão festejada, como aquela sentença naquele dia. E repare, eles sabem que foi a polícia que me agrediu, isso nunca negaram, por isso basicamente festejaram o facto de quem bateu não ter sido condenado. Estranho, no mínimo, a nossa polícia, paga por todos nós, festejar assim. Atualmente todos nós conhecemos o caso do ucraniano Ihor Homeniuk, espancado e morto pelo SEF, e como o caso está a ser tratado. Todos os casos deveriam merecer a mesma atenção e não ser este a excepção à regra. Entre os adeptos, foram vários os atos de apoio de que tivemos conhecimento. Os mais atentos conhecem bem o lema “justiça para o Jota”, viram as frases de alguns grupos de adeptos que diziam “Justiça que cega”, ou até aquele que foi um episódio improvável, durante uma partida entre velhos rivais, o Vitória SC e o SC Braga, quando se pôde ler, em ambos os setores, a frase “Um minuto pelo Jota e por todos os adeptos” acompanhada, em uníssono, por um cântico de protesto. Esperava que o seu caso tomasse esta dimensão? Como sentiu esta força? Senti essa força de uma forma que não consigo explicar. Sendo eu Boavisteiro, ter a malta do Vitória e do Braga, no mesmo jogo, juntos a cantar “por mim” é daquelas coisas que arrepia e que nunca esquecemos. Nem consigo enumerar a quantidade de clubes nacionais e internacionais que me deram força, que falaram no caso, mostrando realmente que o futebol será sempre algo à parte de tudo o resto. Muitas vezes, pensava sobre essas manifestações. “Esta malta está a arriscar, vão arranjar problemas com a polícia”, mas, mesmo assim, lá metiam um pano, uma faixa, um cântico. Isto vale muito mais que qualquer vitória nos 90’!
Quais as consequências deste episódio na sua vida e de que forma o afetou a si e à sua família? Mudou toda a minha vida e só tenho de agradecer à minha mulher, aos meus dois filhos, à minha família, amigos e até desconhecidos, toda a força que me deram, seja na bancada, numa palavra num café, num texto numa rede social, sei lá, nunca serão esquecidos. E nunca vão imaginar a força que me conseguiram dar. Seja pelas visitas do Hospital: um dia acordar e estar lá o Petit, o Jorge Couto e o Alfredo a brincar comigo, ou, no dia seguinte, o meu irmão dizer: “ Jota, não podes dormir, estão quase cem pessoas lá fora à porta do hospital que querem estar contigo” , são coisas que ficam. Sabemos que o programa Sexta às 9, da RTP, esteve frente a frente com Paulo Rodrigues, um dos arguidos. Como se sentiu? Sobre o senhor agente e arguido Paulo Rodrigues, apenas duas palavras: Cobarde, Mentiroso. Quer deixar mais alguma palavra sobre este tema? Talvez seja preferível o silêncio! Acredita que o país, e principalmente a polícia, tem dado sinais positivos de mudança no âmbito da segurança no desporto? Tenho dúvidas! Eu e meu irmão fomos algumas vezes “apertados” pela PSP, mesmo enquanto o julgamento decorria. Seja por um olhar de lado num jogo, seja por nos abordarem em jogos a tentar arranjar algo para nos incriminar, por queixas-crime ou até mesmo por cenas dignas de um filme de gangsters, tal como o “túnel “ que nos fizeram no corredor do tribunal, enquanto nos dirigíamos à sala de audiências. Claro que eu e meu irmão nos rimos, ter ali quase cem policias fardados a tentar intimidar, mostra bem o medo da PSP neste processo. Aliás, o diretor da PSP quis processar o meu irmão, em cinco mil euros, devido a uma publicação do Facebook. Até spotters nos tentaram processar, mas tudo foi arquivado. Ver, nos dias de hoje, uma força da segurança - a PSP - a prestar-se a este papel, diz muito da forma como atua, seja no futebol ou em qualquer área. Até porque, o que me aconteceu nada teve que ver com futebol. Eu nem dentro do estádio estava, nem o jogo tinha começado, foi mais um ato exagerado da PSP, foi abuso de poder, 23
achando que podem bater conforme lhes apetece e depois deixar as vítimas ao abandono. A PSP, em vez de se preocupar com publicações nas redes sociais e andar de arrasto dos sindicatos e movimentos extremistas, devia começar uma profunda remodelação, na que, por exemplo, os exames psicológicos deviam ganhar nova importância. Temos assistido à existência de cada vez mais a agentes mal preparados, que facilmente perdem a calma, e com acessos de raiva cometendo estas e outras atrocidades. As substâncias proibidas também deviam fazer parte desse controlo, tal como uma maior formação na vertente ética e deontológica. E, acima de tudo, fazer ver à PSP que eles são uma ferramenta da Lei e não são juízes e, muito menos, carrascos. Um exemplo: dos treze arguidos do meu caso, pelo menos um deles já tinha sofrido uma queixa de um vizinho por alegadas agressões, ou seja, não é a primeira vez que aqueles arguidos são alvos de queixa, nem o meu caso será o último. Mas esta transformação negativa da PSP a que temos assistido de forma quase diária, com ligações à extrema-direita, ao movimento zero, não para. Ainda hoje mais dois polícias vão a julgamento por alegado tráfico de droga e abuso de poder. E sim, claro que sei que devem existir bons profissionais na PSP, obviamente, mas infelizmente esta força de segurança está a enveredar por caminhos escuros, seja no futebol, seja noutra área qualquer, e os bons profissionais estão a dar lugar aos maus. E, para agravar, o corporativismo cada vez mais presente nesta força de segurança, vai abafando estes casos. Quem anda no mundo do futebol, por exemplo, já sofreu ou assistiu a inúmeros confrontos começados e provocados pela PSP, sem consequência alguma. E no fim, tudo fica por provar por causa do pacto de silêncio que eles assumem. Mas esse pacto de silêncio que eles adotam é ignóbil. De casos como o meu deveriam resultar castigos e processos pesados, até para o chefe daquela equipa que me agrediu e cegou pois, parece-me, que qualquer chefe digno teria todo o interesse em afastar os culpados e maus agentes. Mas não, eles sentem orgulho no tal corporativismo, que protege os polícias que não cumprem a lei e que, no fundo, não sabem ser polícias. Aliás, nunca fui eu que identifiquei os treze ‘ilibados’, pois, como é público e notório, naquelas alturas, as identificações são guardadas no bolso. Foi
o chefe deles, o mesmo que, a dada altura, nas suas declarações em tribunal, afirma ”São como cães, só obedecem ao dono”. Faltou coragem ao juíz, e isso toda a gente percebeu, pois, no mínimo, responsabilizava e castigava o chefe da equipa, que até de cães apelidou aos seus subordinados. Tudo isto é “pidesco” e demonstra como a PSP se pode afastar perigosamente da sua missão e valores, fazendo-nos pensar numa autoridade repressiva de má memória. Vejamos bem, temos até um partido novo, apoiado por sindicatos policiais e inúmeros agentes que quer prender quem insultar a PSP. Sabemos que isto ia agradar muito aos altos dirigentes da PSP mas, felizmente, Portugal segue a ser um país democrático, para mal dos pecados de alguns. Por algum motivo a Amnistia Internacional coloca a PSP todos os anos, no topo da violência policial. Isto é gravíssimo e uma vergonha para o nosso país e é altura do governo fazer uma profunda reforma na PSP e torná-la uma força digna e séria. E quem anda no mundo do futebol, por exemplo, já sofreu ou assistiu a inúmeros confrontos começados e provocados pela PSP, sem consequência alguma. Considera que há cultura de adepto em Portugal? Infelizmente podíamos estar melhor, relativamente
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a este assunto. Temos vários clubes emblemáticos em cidades, completamente abandonados pelas populações locais, pois preferem apoiar os ditos grandes. Ainda temos muito a mentalidade de apoiar quando se ganha e apenas quando se ganha. Todos os clubes sofrem disso, no meu, sentimos isso quando nos “mandaram” injustamente para as divisões de baixo. Sentimos na bancada mas, como costumo dizer, eu e muitos Boavisteiros de verdade, “antes vinte verdadeiros na bancada, que quinhentos que só apoiam quando estamos bem” . Mas nem tudo é mau, há muitos adeptos que continuam a viver o futebol como ele deve ser vivido: por amor. Temos pessoas a trabalhar para melhorar a tal cultura do adepto, tal como vocês o fazem, através desta fanzine. Por isso, é juntar os bons e irmos para a luta.
te só contribuem com mais lodo para o pântano em que está mergulhado o futebol. Atualmente, o passo mais importante é dizermos todos um grande NÃO ao cartão do adepto, que só serve para discriminar e impedir quem gosta de futebol de acompanhar as suas equipas.
Quer deixar uma mensagem final aos nossos leitores? O conselho que dou aos leitores é o mesmo que me deram a mim em novo: acompanhar sempre os seus clubes, por amor ao símbolo e à bandeira, nos momentos bons, mas, acima de tudo, nos momentos maus. Ah e claro, sigam a fanzine Cultura de Bancada, pois é feita por verdadeiros para verdadeiros, ao contrário de tanta porcaria que existe para aí, que só serve para desunir e enterrar ainda mais o futebol Considera que as fanzines podem ter importância português. Fanzines como esta são uma lufada de ar na formação ou reforço da cultura de adepto? Que fresco no panorama nacional. outros “caminhos” aponta nesse sentido? Sim, considero que sim. Aliás, basta acompanhar o Agora, fugindo um pouco ao tema e antes de tervosso trabalho, para entender bem isto. Existe muita minar, não queria deixar passar esta oportunidade, coisa a ser feita, desde os preços dos bilhetes, aos sem mandar um abraço com muita força ao leixodireitos de televisão e à distribuição dos mesmos, nense Jorge Moreira que, como sabem, está a pasaos horários dos jogos, acabar de uma vez por todas sar por uma luta ingrata, mas não está sozinho. Ascom os “paineleiros” das televisões, que diariamen- sim como eu nunca estive, ele também não está.
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MEMÓRIAS Da BANCADA
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resumo de bancada
Nesta fase complicada para todo o país, em que não se saiu do Estado de Emergência, não é de estranhar que ter público em estádios fosse (quase) uma impossibilidade. Apesar do elevado movimento nas várias estradas portuguesas, em virtude das questões laborais, a realidade é que houve enorme repressão sobre a permanência de pessoas nas ruas. Os apoios presenciais dos adeptos reduziram-se praticamente a pequenos instantes, nos viadutos e nas chegadas dos autocarros aos recintos desportivos. Pese embora a situação adversa, não faltaram ocorrências para se destacar neste Resumo da Bancada. Apoio portista antes do jogo no Jamor: B-SAD x FC Porto | 04-02-2021 Destaque para o duplo apoio com que os Super Dragões brindaram a sua equipa. A primeira demonstração de apoio na partida do Dragão, na véspera do encontro, e a segunda já no caminho para o estádio proporcionada pelo núcleo de Cascais, num viaduto, no momento em que o autocarro seguia em direcção ao estádio. Novo apoio dos adeptos portistas: SC Braga x FC Porto | 07-02-2021 Mais uma vez os viadutos foram o palco preferencial para os incentivos à equipa portista, sobretudo na A3, a autoestrada que liga as cidades de ambos os clubes. Por onde o autocarro do FC Porto passou, não faltaram momentos de tarjas e pirotecnia aberta para dar uma força neste embate entre duas equipas que se encontram em posições cimeiras do campeonato. 32
Pirotecnia na chegada da equipa verde-e-branca a Barcelos: Gil Vicente FC x Sporting CP | 09-022021 Não faltaram incentivos à equipa leonina na ida para o Estádio Municipal de Barcelos. Tochadas de vários grupos sportinguistas que queriam (e conseguiram) a sexta vitória consecutiva, tiveram lugar nos diferentes viadutos do caminho e embelezaram a deslocação feita pelo autocarro. SC Braga x FC Porto | 10-02-2021 Novamente um encontro entre estas equipas, mas agora a contar para a Taça de Portugal, mais concretamente para a primeira mão das meias-finais da competição. Um pequeno “déjà vu” do jogo que ocorreria três dias antes. Novamente a terminar empatado dentro de campo (e ambas as vezes com ânimos bem quentes lá dentro), mas também semelhante na forma como os adeptos portistas incentivaram a sua equipa antes do encontro, no que toca à utilização dos viadutos sobre a autoestrada como palco de incentivo. No entanto, o destaque aqui vai claramente para a forma como os muitos adeptos azuis-e-brancos receberam o autocarro da sua equipa, junto ao Dragão, no regresso do mesmo. Quiseram dar força aos seus jogadores, mostrando que estavam orgulhosos pelo seu esforço. De qualquer maneira, o corpo de intervenção da polícia acabou por protagonizar uma carga policial para os afastar, o que originou alguma tensão... Dérbi da Cidade Invicta: FC Porto x Boavista FC | 13-02-2021 Rivalidade presente em tempos de confinamento, num dia que ficou marcado pelas tarjas e incentivos de ambos. O território portuense acordou com duas tarjas do lado boavisteiro. A primeira junto ao seu estádio, direccionada para a sua equipa que estava numa posição complicadíssima e as previsões não lhes eram, logicamente favoráveis para o encontro, a segunda a provocar o rival num viaduto sobre a Via de Cintura Interna (via rápida que liga ambos os estádios). Os adeptos axadrezados ainda deram força à sua equipa no momento em que estava em estágio para o jogo. Relativamente aos portistas, deram o seu habitual apoio junto ao hotel, na partida para o estádio. 33
Ultras do Paços de Ferreira a apoiarem a sua equipa no treino | 14-02-2021 Na véspera do encontro da sua equipa em Alvalade, os adeptos pacenses quiseram incentivar a sua equipa no treino. O clube da Capital do Móvel está a fazer uma época acima de todas as expectativas e os elementos da claque quiseram também dar uma força extra antes de um jogo complicadíssimo. Descontentamento de adeptos do Benfica A equipa encarnada teve uma série de resultados fraquíssimos tendo em conta o nível e o investimento feito. Isto levou os seus adeptos a revoltarem-se naturalmente. Os maiores alvos das críticas eram o treinador, Jorge Jesus, e a direcção, com especial ênfase para o presidente Luís Filipe Vieira. Foram deixadas mensagens junto a várias casas do clube, foram colocadas muitas tarjas em diferentes dias, nas imediações do estádio e do centro de estágio (com toques de maior agressividade ou humor). Também se criaram movimentos contra o presidente que organizaram iniciativas como buzinões e até ilustraram as ruas do país com o termo de “Rua Vieira”. Adeptos boavisteiros a incentivar a sua equipa na porta do hotel: Boavista FC x Moreirense FC | 1902-2021 Apesar do forte contingente policial presente nas imediações do Estádio do Bessa, não faltou apoio axadrezado na porta do hotel junto ao estádio, onde a equipa estava instalada, com pirotecnia à mistura. Numa altura em que o clube se encontrava numa posição complicada, os adeptos quiseram dar seguimento aos sinais de união que já tinham tido para com a equipa antes do encontro no Dragão, culminando, desta vez, numa importante vitória. Dérbi de Milão: AC Milan x FC Internazionale Milano | 21-02-2021 Cerca de 7.000 adeptos do Milan e 5.000 adeptos do Inter concentraram-se, junto ao estádio, para mais um famoso “Derby della Madonnina”. Números completamente loucos e invulgares, para aquilo que temos sido habituados desde há cerca de um ano, deram ainda mais destaque ao encontro de dois velhos rivais da cidade italiana que se encontram finalmente, após praticamente uma déca34
da de sucesso da Juventus, nas duas primeiras posições do campeonato (à data do encontro). Houve alguns momentos de tensão e picardias, multidões em êxtase na chegada de ambos os autocarros e muitos cânticos, com o habitual material, que deram cor ao exterior daquele palco que é casa de ambos os clubes. O Inter venceu por 0-3 e carimbou um importante passo para voltar a vencer um “Scudetto”. Acções dos South Side Boys: SC Farense x SL Benfica | 21-02-2021 Pese embora as elevadas restrições feitas pela polícia junto ao Estádio de São Luís, o grupo farense conseguiu receber o autocarro da sua equipa antes do encontro. Com cânticos e muita pirotecnia, o incentivo foi, certamente, bem perceptível pela comitiva que lá seguia. Nota para o facto dos South Side Boys também terem preparado uma tarja, que iriam abrir no seu sector (que estava naturalmente vazio) no início do jogo, mas esta ter sido retirada pela polícia. Na tarja ler-se -ia a mensagem: “Não nos vão VARgar”. Civitas Fortíssima 1514 a receber a sua equipa: Feirense x Académica | 22-02-2021 O duelo entre duas equipas que pretendem a subida ao principal escalão nacional foi, infelizmente, realizado numa 2ª feira à noite. De qualquer maneira, a claque do Feirense fez questão de incentivar a sua equipa, na chegada da mesma ao estádio, com muita pirotecnia. No final, a vitória sorriu mesmo aos fogaceiros. Adeptos leixonenses protestam contra a Câmara Municipal de Matosinhos | 23-02-2021 Foi através de cinco tarjas que os adeptos do Leixões SC decidiram expor a sua revolta contra a situação actual do seu património, mais concretamente sobre a degradação e indefinições do mesmo, tal como relativamente às promessas que ainda estão por cumprir. A zona envolvente ao Estádio do Mar encontra-se em obras, o que obrigou também a uma remodelação do estádio. Uma das bancadas foi demolida e outra encontra-se sem quaisquer condições de receber público. As queixas dos leixonenses recaíram sobretudo sobre a autarquia da cidade matosinhense. 35
Falecimento de Quintana | 26-02-2021 Um acontecimento que deixou em choque o desporto nacional. Alfredo Quintana, guarda-redes de andebol que nasceu em Cuba e se naturalizou português, faleceu quatro dias após ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória. Um dos melhores jogadores da modalidade no nosso país, e um símbolo do FC Porto, partiu com apenas 32 anos. As mensagens de força já tinham surgido da parte de diversas instituições quando ainda se encontrava hospitalizado e, naturalmente, teve diversas homenagens dos adeptos portistas depois de se ter confirmado a sua trágica morte. Para além da presença de muitos adeptos para dizerem um último adeus, fica a menção para um mural realizado pelo Colectivo 95, à imagem do que já tinha feito com Reinaldo Teles. Incentivos de ambos os lados: Vitória SC x Boavista FC | 26-02-2021 Um encontro entre dois rivais históricos do nosso país que viu limitadas as formas de apoio às equipas antes do jogo pelas restrições que já todos sabemos estarem em rigor. Na partida do autocarro do Boavista, alguns ultras axadrezados decidiram incentivar, num viaduto sobre a via onde passava a equipa, com uma fumarada preta. Do lado vitoriano, uma tarja com um simples e visível “Ganhar ou ganhar”, junto ao estádio, foi mensagem suficiente para se perceber as suas intenções e a importância do encontro em questão. Protestos da Fúria Azul Foi com simples e práticas mensagens, espalhadas pela cidade de Lisboa e arredores, sob os lemas “Belenenses não tem SAD” e “Belenenses ≠ B SAD”, que o grupo do emblema da Cruz de Cristo decidiu distanciar-se novamente de qualquer SAD e de qualquer ligação à equipa profissional que compete actualmente no Jamor. As tarjas foram colocadas poucos dias depois de ter sido conhecido que o Tribunal da Propriedade Intelectual autorizou a SAD a utilizar o nome de “Belenenses SAD”, em mais um dos muitos confrontos e disputas legais que têm ocorrido entre as duas partes.
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Grupo 1958 no treino da equipa do Fafe | 27-022021 “Lutem por nós, sejam valentes. Força Fafe!” e “Olhem para o nosso símbolo e lutem por ele!”. Com estas duas mensagens e com algum fumo, o grupo “justiceiro” criado esta época fez questão de surpreender e incentivar a sua formação, na véspera do encontro com a equipa secundária do Rio Ave, num duelo entre dois dos conjuntos mais competitivos da sua série do terceiro escalão português. Público de volta a um jogo dos campeonatos profissionais portugueses: CD Santa Clara x FC Paços de Ferreira | 27-02-2021 Beneficiando do facto de estar inserido numa Região Autónoma, o Estádio de São Miguel teve público nas bancadas pela terceira vez nesta temporada. Evidentemente, com as devidas limitações sanitárias e de lotação, o facto de se ter visto e ouvido numa transmissão televisiva de um encontro foi, por si só, já uma grande e positiva novidade! Incentivos e acções no clássico: FC Porto x Sporting CP | 27-02-2021 O campeão em título a receber o primeiro classificado, num dos clássicos que mais despertava interesse entre ambas as equipas nos últimos anos. Os sportinguistas, nitidamente mais satisfeitos com o desenrolar do campeonato, estão na expectativa de serem novamente campeões e proporcionar espectáculos de elevado nível. Na véspera do encontro, em plena auto-estrada entre Lisboa e Porto, fizeram vários espectáculos pirotécnicos, com destaque para um corredor humano de tochas abertas na berma. Do lado portista, o ambiente era mais pesado pela morte de Quintana e os seus adeptos viveram o acontecimento de forma menos eufórica. Super Dragões e Colectivo 95 criaram uma tarja em conjunto para o encontro, com a mensagem: “Façam das tripas coração como no Porto é tradição”. Ainda na véspera, a Juventude Leonina decidiu abrir várias tochas junto ao Estádio do Dragão, uma provocação em terreno inimigo. Os momentos que
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antecederam a partida também ficaram marcados por outras provocações entre os rivais, sendo exemplo a forma como o Solar do Norte (casa sportinguista que não se situa muito longe do estádio portista) acordou, na manhã seguinte, com inscrições por parte de ultras do FC Porto. No dia do clássico, ocorreram os habituais incentivos de parte a parte na saída das equipas. Os portistas fizeram uma grande tochada junto ao hotel e ainda deixaram várias mensagens em viadutos por onde o autocarro passava. O jogo acabou empatado, sendo um resultado que mais interessava ao Sporting. Durante a madrugada, e no regresso dos leões a Lisboa, nota para mais pirotecnia por parte dos seus adeptos, com destaque para a abertura de fogo de artifício na zona de Coimbra. Mancha Negra no treino equipa da sua equipa | 28-02-2021 Podia ler-se numa tarja: “A vossa garra e forma de lutar fazem-nos crer e acreditar”. Também com algumas tochas abertas, os ultras academistas quiseram demonstrar que estavam orgulhosos e com vontade que a equipa continuasse a sua boa forma. Tudo isto, na véspera do encontro em casa frente ao Varzim. Aniversário do AR São Martinho | 01-03-2021 A equipa de São Martinho do Campo cumpriu o seu 63º aniversário e o seu grupo de apoio, a Frente Campense, comemorou em grande estilo, em plena bancada do Estádio Abílio Ferreira de Oliveira, com várias tochas e fogo de artifício, mostrando que existe apoio e amor a este clube do terceiro escalão português e que se situa numa pequena freguesia do concelho de Santo Tirso. 36º Aniversário da Mancha Negra | 03-03-2021 O histórico grupo da Académica de Coimbra somou mais um aniversário e festejou com um espectáculo pirotécnico, em que foi possível observar fogo de artifício espalhado pela sua cidade.
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Espectáculos dos ultras do Braga antes e depois da segunda mão: FC Porto x SC Braga | 03-03-2021 A equipa arsenalista carimbou a passagem à final da Taça de Portugal com uma vitória em pleno Estádio do Dragão e os seus adeptos não ficaram atrás nos níveis de incentivo e festejos que se poderiam esperar. Na véspera do encontro, quando o autocarro partiu em direcção ao estágio, fizeram um festival de pirotecnia, que também não faltou no dia seguinte, à chegada da equipa à sua cidade, com uma excelente tochada na recepção à mesma! Rangers campeão escocês | 07-03-2021 Uma década depois, o Rangers voltou a ser campeão, quebrando a hegemonia do Celtic. Foi curiosamente o empate destes últimos que decidiu o título. Os adeptos do clube azul de Glasgow já tinham criado uma grande moldura humana na véspera, junto do seu estádio, aquando do jogo da sua própria equipa, que proporcionou imagens épicas, como a chegada do treinador Steve Gerrard com o seu carro no meio da loucura dos adeptos! No dia seguinte, e depois do final do jogo dos seus rivais, milhares de adeptos saíram para as ruas da capital escocesa. Resta lembrar que, nestes últimos anos, o Rangers chegou mesmo a declarar falência e a descer até à quarta divisão. Grupos do Fafe a incentivar a sua equipa antes da curta deslocação a Guimarães: Vitória SC “B” x AD Fafe | 07-03-2021 Os ultras do Fafe fizeram questão de incentivar a sua equipa, antes do dérbi, com as mensagens: “Que a vossa entrega seja igual ao nosso amor” e “A conquista do sonho passa pelo assalto ao castelo”, dos Figters Boys e Grupo 1958, respectivamente, em dois viadutos diferentes que sobrepunham o breve trajecto do autocarro da equipa até ao reduto do adversário. Em ambas, uma fumarada acompanhava a exposição das tarjas exibidas pelos elementos de cada grupo.
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Festa portista após passagem aos quartos-de-final: Juventus FC x FC Porto | 09-03-2021 Algo que não vemos todos os anos, por parte de uma formação portuguesa, mas que a equipa azul-e-branca conseguiu: ser uma das últimas oito resistentes da Liga dos Campeões. Um dia antes do encontro, na partida da equipa para o aeroporto, Super Dragões e Colectivo 95 aproveitaram a tarja que já tinham feito em conjunto para o encontro contra o Sporting [“Façam das tripas coração como no Porto é tradição”] para incentivar, com algumas tochas pelo meio, a equipa a conseguir a árdua tarefa de passar a eliminatória em Turim. A verdade é que conseguiram e a festa foi grande. O conjunto do FC Porto chegou de Itália logo de madrugada e muitos adeptos surpreenderam a mesma, numa estação de serviço de uma autoestrada, com muita pirotecnia. Mensagens e pirotecnia à volta do dérbi do Minho: SC Braga x Vitória SC | 09-03-2021 Ao estilo do que tem vindo a acontecer em grandes jogos, nesta altura em que os adeptos estão privados de ir aos estádios, o encontro entre os dois maiores rivais do Minho foi apimentado com várias tarjas provocatórias a cada um dos rivais e, várias vezes, na própria cidade “inimiga”. Do lado braguista, aproveitaram, por exemplo, recentes afirmações do treinador da equipa rival (que criticava os próprios adeptos do Vitória SC pela forma como comentavam na Internet sobre o desempenho da própria equipa) para depreciar, com humor, os seus grandes rivais, tanto antes como depois de ganharem o dérbi por 3-0. Importa salientar a grande tochada feita pelos mesmos na recepção à equipa. Do lado vimaranense, para além das mensagens insultuosas ao adversário, ainda fizeram uma tochada na partida do autocarro de Guimarães. Em ambas as situações de apoio pré-jogo, houve infelizes cargas policiais que culminaram com incidentes.
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SC União Torreense x FC Alverca | 10-03-2021 Partida entre as duas primeiras classificadas da sua série do Campeonato de Portugal e novamente o Topo SCUT em bom plano. Num encontro disputado numa tarde a meio da semana, os ultras do Torreense fizeram um bom espectáculo pirotécnico junto do hotel onde a equipa estagiava, na noite anterior ao jogo, ao mesmo tempo que exibiam uma mensagem, tendo deixado também outras tarjas espalhadas pela sua cidade. Dois adeptos visitantes nos Açores: CD Santa Clara x Portimonense SC | 13-03-2021 Em qualquer outra altura seria algo praticamente banal. Porém, neste momento, dadas as circunstâncias torna-se um facto de relevo. Pelo segundo jogo consecutivo em casa, o Santa Clara voltou a poder jogar com público presente nas bancadas. E ainda houve espaço para dois adeptos do Portimonense, pertencentes ao grupo Orgulhe 1914, terem viajado até à Ilha de São Miguel e poderem apoiar a sua equipa. Não foi a primeira vez que tal aconteceu esta época (o Sporting também teve direito a apoio no interior desse mesmo estádio), mas a viagem dos dois adeptos algarvios merece menção por tudo aquilo que nos temos habituado a, infelizmente, não poder ver e fazer! Adeptos sportinguistas novamente com várias acções de incentivo à sua equipa: CD Tondela x Sporting CP | 13-03-2021 Sporting em primeiro lugar isolado e estadia em Viseu antes de um jogo são, certamente, motivos de grande rejúbilo. Numa cidade com uma grande falange de apoio leonina, não foi de estranhar o clima de festa com que a equipa foi recebida. Acabaram por vencer, novamente, no dia seguinte, tendo havido mais uma vez espectáculos pirotécnicos na viagem de regresso a Lisboa.
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Incentivos dos seus adeptos antes de jogo grande do terceiro escalão: Vitória FC x Amora FC | 14-032021 Os dois primeiros classificados da sua série defrontaram-se num jogo importantíssimo para ambos, e os seus adeptos não quiseram ficar parados. Os apoiantes do histórico emblema setubalense fizeram questão de aparecer em bom número, nas imediações do Bonfim, para estimular os seus jogadores com uma bela fumarada a acompanhar. Do lado do Amora, o seu grupo Espírito Azul fez questão de também incentivar os jogadores e espalhar algumas mensagens pela sua cidade. Adeptos leixonenses após conquista da taça de voleibol feminino: Leixões SC x Sporting CP | 1403-2021 Três décadas depois, o Leixões voltou a vencer a Taça de Portugal de Voleibol Feminino, sendo a equipa mais titulada na história da competição. A ‘final-four’ que decorreu em Matosinhos motivando, logicamente, incentivos iniciais e festejos finais dos seus adeptos, que costumam contribuir com grandes ambientes nesta modalidade, principalmente neste tipo de encontros decisivos. Estes concentraram-se junto ao pavilhão, com cânticos e pirotecnia à mistura, o que culminou em festa com as suas jogadoras. Turma 1933 a festejar o 88º aniversário do SC Freamunde | 19-03-2021 Com um bonito espectáculo pirotécnico numa bancada do seu estádio e com várias mensagens espalhadas pela sua cidade, o grupo freamundense fez questão de assinalar mais um aniversário do seu clube, que se encontra neste momento a disputar as divisões distritais da AF Porto. 45º aniversário da Juventude Leonina O grupo ultra mais antigo português cumpriu mais um aniversário e festejou em grande estilo, não faltando pirotecnia. Editaram um vídeo a assinalar esses festejos que foi bastante partilhado pelas páginas internacionais, dada a forma como registaram o momento e a própria antiguidade do grupo que em si, impõe respeito. 42
Festa dos adeptos leixonenses pela passagem à final do campeonato de voleibol feminino: Sporting CP x Leixões SC | 28-03-2021 Mais uma vez os apoiantes do clube do Mar a serem interventivos por causa de um encontro desta modalidade. No quinto e decisivo encontro entre o Leixões e o Sporting, para as meias-finais dos play-offs do campeonato nacional, após duas vitórias para cada lado, o Pavilhão João Rocha, palco das modalidades do emblema leonino, foi o local para tal “negra”. A equipa leixonense acabou por ir vencer a Lisboa e a festa foi grande na chegada a Matosinhos, já durante a noite, com muita pirotecnia e cânticos. Nota para o facto de, no dia anterior, as jogadoras já terem sido incentivadas na partida do autocarro para a capital, também com pirotecnia cânticos e uma mensagem que se podia ler numa tarja: “Querem intimidar-nos, querem pisar-nos... Mas não nos vergamos!” Música criada pela APDA contra o Cartão do Adepto | 29-03-2021 A Associação Portuguesa da Defesa do Adepto tem combatido a implementação do Cartão do Adepto, como é público e também pelas diversas vezes que continuamos a abordar o tema na nossa fanzine. Desta vez, mais do que com um texto ou algum tipo de formalidade, inovou com uma canção em que a mensagem de união está bem presente nesta luta que deve ser colectiva e generalizada em Portugal! Incentivo dos Desnorteados antes de encontro determinante: Lusitânia de Lourosa FC x SC Espinho | 03-04-2021 O histórico Sporting de Espinho não viveu uma temporada fácil, antes pelo contrário. Chegado à penúltima jornada do Campeonato de Portugal, o terceiro escalão, estava três pontos abaixo da “linha de água” e com uma complicada tarefa de defrontar o rival Lourosa, no terreno do adversário, num encontro matinal. Os ultras espinhenses mobilizaram-se e foram incentivar os seus jogadores, antes da partida dos mesmos, com muito fumo e uma tarja que dizia: “Tragam os 3 pontos”. A realidade é que alcançaram mesmo a vitória, e logo 43
por quatro bolas a zero, confirmando um percurso ascendente nesta recta final da época. Novo incentivo de ultras do Fafe para mais um jogo decisivo: Berço SC x AD Fafe | 03-04-2021 A equipa “justiceira” voltou a fazer uma curta deslocação até território vimaranense, desta vez até Berço, naquele que seria o seu último encontro da fase regular. Só com uma vitória poderia subir ao primeiro lugar, apesar de estar dependente do Pevidém, adversário directo naquela altura. Os Fighters Boys decidiram fazer uma coreografia para incentivar a sua formação, na saída da mesma, com a mensagem: “Uma cidade inteira a torcer por vós”. Já o Grupo 1958 fez questão de apoiar o autocarro com vários cânticos, fumo e uma mensagem clara: “Última final - Ganhar para acreditar”. O Fafe venceu mesmo com o golo decisivo a ser marcado nos instantes finais da partida. Brigada 1920 com coreografia e mensagem: Vila Real SC x Leça FC | 03-04-2021 O grupo do Vila Real, clube que cumpriu no ano passado o seu centenário, decidiu pintar uma camisola gigante da sua equipa e expor no seu campo, num jogo que decorreu naturalmente à porta fechada, de modo a incentivar a sua equipa para um dos derradeiros encontros na luta pela permanência no Campeonato de Portugal. Para além disso, expuseram também uma tarja que continha a mensagem: “Sintam o símbolo - Honrem a camisola”. O jogo acabou empatado a duas bolas, com o golo dos transmontanos a ser feito muito perto do apito final. Pese embora esse facto, o Leça passou para o primeiro lugar no final do dia e a sua equipa também teve direito a uma recepção num clima festivo, por parte da Brigada Verde, na chegada à sua cidade.
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Festa vitoriana após garantir primeiro lugar: Louletano DC x Vitória FC | 03-04-2021 A equipa setubalense garantiu a passagem à fase final de subida ao segundo escalão, após empatar no Algarve. Foram recebidos num clima de grande euforia por parte de muitos adeptos, tanto do Grupo 1910, VIII Exército e outros simpatizantes, com muito fumo verde, pirotecnia e cânticos. Magia Tricolor ajuda o Clube Desportivo das Aves | 04-04-2021 Não, não é engano. A claque amadorense anunciou o seu contributo financeiro de 157 euros para o clube avense que fez um apelo, dias antes, para que todos os seus simpatizantes ajudassem neste momento turbulento que vai passando. O Aves fez um comunicado, indicando o seu IBAN e o seu número de MB Way, referindo que necessitava de uma verba urgente a rondar os 30 mil euros para evitar a penhora do seu complexo desportivo. A Magia Tricolor não ficou indiferente e anunciou, em pleno dia de Páscoa, esse contributo que conseguiu recolher junto dos seus elementos, num espírito de cooperação, tendo recordado que o emblema da Reboleira já chegou a extinguir-se também devido a problemas financeiros.
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EntreSport o Céu e o Inferno Comércio e Salgueiros De Alma e Coração Nos últimos anos a hashtag “De Alma e Coração” passou a estar presente no dia a dia da vida do Sport Comércio e Salgueiros. Desde as redes sociais às camisolas de jogo, esta junção de palavras que expressa bem aquilo que os Salgueiristas sempre tiveram ao longo dos seus 109 anos de história, passou a ser uma espécie de catalisador de motivação para o jogadores e adeptos. A Alma, tão conhecida por Alma Salgueirista (cujo nascimento será explicado adiante) e o Coração que representa toda a capacidade de superação do clube nos momentos mais críticos ao longo da sua história. A expressão Alma Salgueirista é algo imaterial que cada adepto ou pessoa que esteve ligada ao clube sente de forma diferente. Torna-se complicado, enquanto adepto explicá-la, contudo, é algo que se sente de imediato à flor da pele de cada pessoa que nutre carinho pelo Salgueiros e que já acompanhou a vida do clube de perto. Todas as expressões carregam uma história e esta não foge à regra. Para a contar, recuamos até ao ano de 1917, a um episódio protagonizado por Machado, um dos jogadores que foi transferido do Salgueiros para o Boavista. Ao equipar-se no balneário boavisteiro para o primeiro jogo pelo seu novo clube, Machado envergou a camisola do Salgueiros. De imediato, um dirigente do Boavista, achando que tal ato tinha sido por engano ou distração, interpelou o jogador esticando-lhe a camisola do clube axadrezado e dizendo a sorrir “Não é essa, é esta..”, ao que o jogador respondeu “Eu sei, mas essa é para o público ver. Para mim, é esta, a do clube que trago no coração”. E seria com duas camisolas, a do Boavista por fora e a do Salgueiros junto à pele que Machado entraria no Campo do Bessa naquele dia. Com este ato, Machado fazia nascer uma nova expressão que passaria a caracterizar o clube e todos aqueles que gostavam dele – Alma Salgueirista.
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A 8 de Dezembro de 1911, Joaninha, Jorginho e Medina, três jovens rapazes com idades entre os 10 e 12 anos, reuniram-se junto ao poste n.º 1047 entre a Rua da Constituição e a Rua Particular de Salgueiros e cumpriram o sonho de crianças. Fundaram um clube de futebol. Assim nascia o Sport Grupo e Salgueiros que poucos anos mais tarde viria a chamar-se Sport Comércio e Salgueiros, nome pelo qual é conhecido até aos dias de hoje. Rapidamente se tornou num dos clubes mais populares do país com uma massa adeptos bastante aguerrida e composta maioritariamente pela classe operária portuense. Sempre ligado a ideais antifascistas, o clube teve um episódio que quase lhe custou a extinção e uma perseguição durante anos a fio pelo regime do Estado Novo de Oliveira Salazar. Em 1949 o General Norton de Matos decidiu candidatar-se à presidência da República contra o Marechal Carmona, confesso apoiante de Salazar tendo inclusive feito ascender este ao cargo de Presidente do Conselho. Como seria de prever, a candidatura de Norton de Matos não foi vista com “bons olhos” pelo Regime. Em consequência disso, um pouco por todo o país, quase todas as portas de instituições com capacidade para receber comícios foram-se fechando com medo de represálias. O Salgueiros foi o único clube a permitir. Juntaram-se mais de 30 mil pessoas no Estádio Vidal Pinheiro num verdadeiro comício antifascista sem precedentes até então no país. Em 2003 aquando da apresentação de Luís Norton de Matos, sobrinho bisneto do General, para o cargo de treinador, aquele celebre comício de 1940 foi relembrado “Este é um clube que sempre me disse muito. Lembro-me que quando era jogador e vinha jogar ao Vidal Pinheiro o meu pai lembrava-me sempre o simbolismo que tinha este local para a família. Em 1949 o meu tio-bisavô foi candidato à presidência da República e o Salgueiros foi o único que se prestou a recebê-lo. Por isso, para mim é uma grande emoção estar aqui e tenho a certeza que se ele fosse vivo ficaria muito contente”. Com este ato de “rebeldia” o Salgueiros passou a ser um alvo a abater e não tardou a cair nas divisões inferiores por onde se manteve por muitos anos. 47
Anos Dourados
No final dos anos 80 e início dos 90 o Sport Comércio e Salgueiros viveu os seus momentos mais marcantes a nível futebolístico. Com a sua “armada” do Leste sob o comando de Zoran Filipovic na época 89/90 o clube voltaria ao principal escalão do português. Num jogo impróprio para cardíacos, última jornada o Salgueiros deslocou-se a Espinho ao Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas para defrontar o clube local. O cenário era o seguinte: O Salgueiros precisava de ganhar para subir de divisão, Por outro lado, ao Espinho bastava um empate para tomar o único lugar disponível na 2ª Divisão - Zona Centro. Como já se previa o estádio estava cheio e os adeptos do clube de Paranhos marcaram presença em grande número. O jogo começou bem para o Salgueiros com um golo de pontapé de bicicleta de Tozé ao minuto 10 da 1ª parte (no ano seguinte transferiu-se para o Sporting). Este golo não permitiu grandes festejos por parte dos salgueiristas uma vez que, passados 10 minutos, o já falecido jogador Rui Filipe empataria o jogo, colocando assim temporariamente o Espinho na 1ª divisão. Na segunda parte veio à tona toda a Alma Salgueirista. O espírito de sacrifício, a união e a
vontade de vencer falaram mais alto e ao minuto 70, Álvaro Maciel, produto das escolas do Salgueiros, arrancaria pelo lado esquerdo e faria o 1-2 para o Salgueiros. Foi uma das maiores explosões de alegria jamais vividas pelos salgueiristas. Entre muito sofrimento o Salgueiros conseguiu aguentar a vantagem e voltar assim à 1ª Divisão. A época seguinte foi o culminar da fantástica caminhada da época anterior. Depois de um breve período ausente do maior patamar do futebol português o Salgueiros voltou em forma e terminou a época 90/91 em 5º lugar acedendo automaticamente à Taça UEFA, momento celebrado por muitos Salgueiristas na Baixa do Porto. O Sorteio da competição europeia ditaria que o clube portuense defrontaria os franceses do Cannes, clube que na altura contava com várias estrela do futebol mundial como o internacional camaronês François Omam-Biyik, o experientíssimo internacional francês Luís Fernandez, o croata Asanovic e ainda aquele que, anos mais tarde, viria a tornar-se um dos melhores jogadores do mundo, de seu nome Zinedine Zidane. O Salgueiros ganhou a primeira mão disputada no Estádio do Bessa por 1-0 com golo de Jorge Plácido. Em França o clube de
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Paranhos perderia por 1-0 levando assim o jogo para a marcação de grandes penalidades acabando por perder por 4-2. Independentemente de ter sido eliminado na primeira eliminatória, todo o mundo do futebol ficou rendido àquele pequeno clube da cidade do Porto que na época anterior estava na 2ª divisão portuguesa. Desde a subida em 89/90 o Salgueiros mante-se na 1ª divisão durante doze épocas consecutivas. De destacar, na época 92/93, no último jogo do campeonato uma nova “ida” a Espinho, já com este a competir na mesma divisão do Salgueiros. Desta vez não jogavam para subir de divisão, mas sim para evitar a descida. Ao Salgueiros bastava um empate para evitar uma nova caída nos escalões inferiores e o Espinho precisava de ganhar para evitar também esse mesmo fim. Mais uma vez, à semelhança de três anos antes, os salgueiristas compareceram massivamente. Todos juntos com a sua enorme Alma dariam força ao avançado cabo verdeano Vinha para marcar o golo do empate para lá do minuto 90. As lágrimas de tristeza rapidamente se transformaram em lágrimas de
alegria. Foi um momento épico que ainda nos dias de hoje é recordado com muito carinho por todos os salgueiristas. Da mesma forma que houve momentos de alegria, também houve momentos de tristeza. O último jogo da época 96/97 ficaria marcado na memória do clube. Não se disputava uma descida de divisão, mas sim uma nova presença na Taça Uefa. O Salgueiros jogou o último jogo em Faro. Dependia de si próprio para garantir o 5º lugar. Para isso tinha de ganhar ao já “safo” Farense. Depois de ter estado a ganhar e se ter deixado empatar, o Salgueiros beneficiou de uma grande penalidade em cima do minuto 90. Abílio, exímio marcador de livres e penaltis e autor do golo que na primeira parte tinha dado a vantagens aos homens de Paranhos, falharia o castigo máximo. Ainda sobre o peso do desânimo, o mesmo Abílio, para lá do minuto 90 enviaria uma bola à trave da baliza farense. O jogo terminaria com um empate, ficando o Salgueiros assim em sexto lugar e a 1 ponto do Vitória de Guimarães.
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Princípio do Fim
No início do novo milénio as dificuldades do Salgueiros começaram a surgir. Na época 99/00 o clube vê, na última jornada, o Sporting ser campeão em Vidal Pinheiro e consegue evitar a descida graças a um empate do União de Leiria no Estádio do Bonfim, em Setúbal, fazendo assim com que os Sadinos descessem de divisão. Na época seguinte, embora tivesse feito um campeonato regular permitindo ao clube acabar a temporada a meio da tabela classificativa, já se começavam de denotar fragilidades financeiras no clube. A falta de pagamento de ordenados e constantes atrasos começou a ser habitual, facto que começou a indicar que o futuro ia ser duro e nada risonho. Em 2001/2002 confirmaram-se os piores receios dos salgueiristas. O clube caía para a segunda liga do futebol português. Embora tivesse abalado muito a estrutura e a fé dos adeptos, a meu ver, enquanto salgueirista, o princípio do fim deu-se a 22/09/2002. Esta data ficará para sempre gravada na memória de todos que gostavam do clube. Neste dia, num jogo contra o União de Lamas, que o clube de Paranhos ganhou por 3-1, o Salgueiros realizou a sua última partida no Estádio Vidal Pinheiro. O terreno tinha sido vendido um ano antes à empresa Metro do Porto com o intuito de instalar uma estação de metro no local onde ficava o estádio. A partir dessa data o clube passou a andar com a “casa às costas” e a jogar em estádios emprestados. Aquilo que tinha sido prometido e garantido que seria temporário passou a ser eterno e a promessa de o clube ver o seu novo estádio construído na Arca D`Água nunca passou do projeto. Mesmo com a venda de Vidal Pinheiro, o clube continuava muito fragilizado e afundado em dívidas. Na pré-época de 2004/2005 o clube
parecia indicar aos seus associados que as coisas estavam a melhorar. O clube parecia estar a formar um plantel para atacar o regresso à Primeira Liga. Entre os jogadores contava-se José Fonte (defesa central internacional Português), Marcelo Moretto (guarda redes que dois anos mais tarde representara o Benfica), Mário Heitor (ponta de lança com passagens pelo Setúbal, Famalicão e Portimonense), entre outros. Contudo, como diz o ditado, “o que é bom acaba depressa”. Ainda antes de começar a época o clube recebe uma notificação da Liga de Clubes a dizer que, devido a uma irregularidade relacionada com um cheque de garantias (até hoje os salgueiristas ainda não conseguiram compreender bem essa a irregularidade em questão), o clube viria a ser punido com a descida de divisão, para a 2ªB e com o impedimento de inscrever novas contratações. Como seria de esperar, todos os jogadores contratados procuraram novos clubes e, ao clube, não restou outra alternativa senão jogar com a equipa de juniores. Rapazes com idades entre os 16 e os 20 anos carregaram nos seus ombros a responsabilidade de representar um clube histórico como o Salgueiros numa divisão semi-profissional. Avizinhava-se uma época muito difícil, mas nem assim os Salgueiristas deixaram de marcar presença nos estádios onde o clube jogava. Em 38 jornadas aqueles bravos “miúdos” conseguiram fazer 5 pontos, sofreram 128 golos e marcaram 19. Até aos dias de hoje são recordados como uns heróis que dignificaram como nunca o nome do clube. Esta época viria ser a última de futebol sénior que o Salgueiros viria a realizar. No ano seguinte manteve a atividade da formação e de todas modalidades, contudo, o velho Salgueiros, pela primeira vez na sua história não iria competir no futebol sénior.
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Renascimento O ano de 2008 ficou mercado pelo regresso do Salgueiros ao futebol. Com um novo nome (Sport Clube Salgueiros 08) e com um novo símbolo, mas com a mesma massa adepta apaixonada de sempre. Adotou a casa do Sport Clube Senhora da Hora como seu reduto e começou por disputar a 2ª divisão distrital da Associação de Futebol do Porto. Rapidamente o clube ficou novamente nas “bocas” do mundo do futebol e da comunicação social. No último escalão do futebol nacional, o clube de Paranhos conseguia movimentar mais adeptos que a grande maioria dos clubes da Primeira Liga. O clube conseguia, sempre que jogava em casa, “meter”, em média, cerca de 3000 pessoas no estádio. Quando se deslocava aos redutos dos adversários era enchente garantida. A época do renascimento terminou com a subida de divisão e com o Salgueiros campeão de série. Os festejos desse campeonato, como não podia deixar de ser, foram no espaço onde outrora o clube viveu anos de glória. Os terrenos do Estádio Vidal Pinheiro. Os adeptos ocuparam a antiga e única bancada que ainda resta no local e festejaram como nunca. Ao longo dos anos seguintes o clube conseguiu uma de subida e algumas manutenções.
O ano de 2015 ficou marcado por ter sido o ano em que os adeptos do Salgueiros receberam a notícia que há muito ansiavam. O clube voltava a recuperar o símbolo, nome original e todos os troféus ganhos ao longo da sua história. O clube voltaria a chamar-se Sport Comércio e Salgueiros e voltaria a competir com o seu nome de sempre. A par desta notícia o clube inauguraria a sua sede social em Paranhos. Em dois edifícios em ruína, arrendado à CM do Porto, os sócios do clube voltaram a dar significado à expressão - Alma Salgueirista. Gratuitamente, arregaçaram as mangas e reabilitaram os edifícios. Num deles o clube fez a sua sede social com um bar e um pavilhão para eventos e no outro a casa da formação, inaugurada em 2020 com a presença de Ricardo Sá Pinto, jogador da formação do Salgueiros com mais internacionalizações e de Jorginho, eterna glória do clube, ao serviço do mesmo há mais de 40 anos. O Sport Comércio e Salgueiros é assim. Um clube que fez da sua Alma e Coração as suas maiores forças para ultrapassar todas as dificuldades ao longo dos seus 109 anos de existência. Enquanto houver Alma e pessoas o Salgueiros continuará a existir. Por Ricardo Santos
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revoltas populares: Trofada Na temporada 1992/1993, a Zone Norte da IIª Divisão B ficou marcada por uma série de imbróglios jurídicos que viriam a desvirtuar a competição e a dar aso a uma grande confusão. O primeiro contratempo neste campeonato foi a desistência do Valpaços, que abandonaria a competição depois da 30ª jornada, tendo a FPF anulado todos os jogos realizados pela equipa transmontana, subtraindo a todas as equipas os pontos conquistados contra estes. Esta decisão começou a inflamar os ânimos, especialmente das equipas que lutavam pela manutenção nesta divisão. Duas dessas equipas eram o Varzim e o Trofense, que se defrontaram na mesma 30ª jornada que marcou a última aparição do Valpaços na competição. Mas este jogo viria a mergulhar numa imensa polémica. O jogo realizou-se em Marco de Canaveses, depois da FPF ter interditado o campo do conjunto Varzinista, e acabaria por resultar numa vitória por 1-0 do conjunto da Trofa. O Varzim SC, insatisfeito com a decisão, re-
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correu da interdição do seu recinto, tendo a decisão deste processo sido imensamente demorada. A decisão viria a ser anunciada já depois do término da competição, com o Conselho de Justiça da FPF a dar razão ao Varzim e a declarar nulo o jogo realizado em Marco de Canaveses. Esta decisão veio adensar o imbróglio, pois com a anulação do jogo, o Varzim que tinha terminado o campeonato abaixo da linha de água ficava agora em igualdade pontual com o Trofense, e seria na repetição do encontro que se decidiria qual dos clubes seria despromovido à IIIª Divisão. O Trofense recusou-se a jogar mas a decisão final do CJ da FPF seria a repetição do jogo, que foi agendado, imagine-se, para 2 de Setembro de 1993, já com a nova temporada a começar. É neste momento que se inicia a “intifada” que viria a ficar para a história como a “Trofada”. Os adeptos do CD Trofense iniciaram uma onda de protestos. As Assembleias Gerais Extraordinárias do clube foram-se sucedendo, marcadas pela indefinição e pelos constantes adiamentos da decisão sobre a comparência ou não na repetição do jogo. O presidente da direcção do clube defendia que a equipa se deveria apresentar, mas a opinião maioritária dos associados era precisamente a contrária. Na última AG realizada para definir este processo, a votação acabou mesmo por avançar, e a maioria dos sócios do CD Trofense, mais precisamente 546, decidiram-se pela não comparência, tendo apenas 108 votado pela “aparição” da equipa. A revolta das gentes da Trofa não se fez calar, e todo este processo se celebrizou por uma onda de protestos e um rasto de violência que mergulhou a terra num verdadeiro “cenário de guerra”. Os populares começaram por cortar a Estrada Nacional 14, manifestaram-se junto à Associação de Futebol do Porto e cerca de 250 pessoas chegaram mesmo a deslocar-se a Lisboa para se fazer ouvir em frente à sede da Federação Portuguesa de Futebol, no dia para o qual estava agendada uma reunião do Conselho de Justiça em que se previa ser determinado o veredicto deste processo. Essa reunião acabou por não se realizar por falta de “quórum” do órgão em questão, sendo adiada, o que provocou um sentimento de revolta nos populares que se tinham deslocado até à capital, e que chegariam mesmo a tentar invadir a sede da FPF 54
a fim de demonstrar o seu desagrado. Esta situação levou também os trofenses a “tomar de assalto” as ruas da localidade, situação que deu aso a longas madrugadas de confrontos entre populares e GNR. Estradas e linha de comboio cortadas, viaturas destruídas, pneus em chamas e vários confrontos registados. Os populares apedrejaram as viaturas da GNR que chegou mesmo a ser forçada a retirar, voltando depois a carregar sobre os manifestantes com recurso a gás lacrimogénio, balas de borracha, canhões de água e com cargas da cavalaria. A noite em que se registou a AG que viria a determinar a não comparência do clube na repetição do jogo, e a consequente despromoção à IIIª Divisão, foi a de maior violência, resultando num total de 57 feridos admitidos nos hospitais circundantes. O Presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso compareceu junto ao Salão dos Bombeiros onde os adeptos estavam entrincheirados, a fim de tentar apaziguar a situação, mas sem sucesso. Os populares só viriam a desmobilizar por volta das 6 horas da manhã, depois de várias “conversações” e do célebre apelo dum militar da GNR que dizia que os dois lados da barricada já tinham “marcado as suas posições e que eram todos pais de família”, portanto era hora de irem dormir. Outras peripécias marcaram a “intifada” como o manifestante que se queixava de ter sido atingido por uma bomba “atóxica”, ou o bombeiro que reclamava de ter sido atacado com uma “bazuca ou uma bomba”, que seria na realidade uma bala de borracha. Resultado desta situação, ponderou-se acabar com o futebol na Trofa, mas os associados decidiram pela continuidade e participação na IIIª Divsão Nacional na temporada 1993/1994, e o CD Trofense viria mesmo a alcançar o maior feito da sua história em 2008, ao ser promovido ao escalão maior do futebol português. Este episódio, que aconteceu no início da década de 1990, é demonstrativo do poder do futebol, e das emoções e reacções que este desporto provoca. A controversa decisão do CJ da FPF fez toda uma comunidade unir-se e sair à rua para defender o emblema representativo da sua terra e das suas gentes. Este espírito de pertença e de “bairrismo” é imagem de marca do futebol e da sua ligação à cultura popular! Por J. Sousa 55
50+1 A regra 50+1 é uma regra específica na Alemanha que obriga a que os clubes tenham um mínimo de 51% de participação nas sociedades desportivas. A sua origem foi em 1998, quando foi permitido aos clubes de futebol tornarem-se empresas/sociedades. Desde esse ano que foi possível aos clubes de futebol “retirarem” a sua equipa de futebol do clube, um pouco à imagem do que se passa nas SADs em Portugal. “Retirar-se” do clube significa que a equipa de futebol já não é parte oficial do clube, ou seja, o resto do clube (por exemplo, todos os outros departamentos desportivos como o basquetebol, o voleibol ou o andebol, que muitas vezes fazem parte do clube) permanece como uma associação registada, enquanto que a equipa de futebol profissional (e às vezes também as equipas das camadas jovens) torna-se uma empresa. Como empresa é possível, por exemplo, tornar-se pública (na bolsa de valores), ou vender participações a investidores e ganhar mais dinheiro. No entanto, esta venda está regulamentada e é daí que vem o nome “50+1”. Os clubes podem vender o número de participações a quantos investidores quiserem, mas a associação registada (o clube) deve sempre deter, no mínimo, 51% de participação. Nos Estatutos da DFB (federação alemã de futebol) está explícito que “a associação-mãe detém uma participação maioritária na empresa (sociedade) se tiver 50% dos votos mais, pelo menos, uma participação adicional na assembleia de acionistas.” Mas, se há uma regra, também há exceções. Estas exceções são o Bayer Leverkusen, o VfL
Wolfsburg e o TSG Hoffenheim. Estas exceções são possíveis porque as empresas comerciais estão envolvidas no clube há mais de 20 anos. Assim, em Leverkusen, a equipa de futebol profissional pertence a 100% à Bayer, empresa farmacêutica com sede na cidade, em Wolfsburg a situação é a mesma, a Volkswagen detém 100% da equipa de futebol. Em Hoffenheim, Dietmar Hopp detém 96% das participações, sendo que os restantes 4% pertencem à associação registada. O RB Leipzig, por exemplo, não é exceção, uma vez que a associação registada mantém 51% das participações. Com base nestas exceções houve várias tentativas para abolir a Regra 50+1 por parte de algumas pessoas, especialmente Martin Kind, presidente da Hannover 96, que quis abolir a regra para o seu clube por também ter estado ligado ao mesmo por mais de 20 anos. No entanto, o tribunal decidiu que esse período de tempo não era suficiente e, numa assembleia geral do Hannover 96, em 2019, a oposição venceu contra Martin Kind, sendo este obrigado a retirar o seu pedido de exceção da regra 50+1 em Hannover. Este exemplo mostra a importância de manter e capacitar os direitos que os sócios têm e a oportunidade de os fazer valer através da participação nas assembleias gerais. A ideia por trás da regra 50+1 é que os sócios tenham sempre o poder de formar o clube, de ser o clube, sendo que todas as decisões importantes têm de ser tomadas em assembleia geral, e todos os sócios devem ser a parte mais forte dos clubes, participando ativamente na vida dos mesmos. 56
Se a regra 50+1 fosse abolida, seria possível que um investidor ficasse poderoso a ponto de decidir tudo sozinho, sem a autorização dos membros/sócios. Isto é o que acontece em países como a Inglaterra, onde se pode constatar tudo o que pode acontecer se não houver regulamentação e poder de decisão dos membros/sócios do clube. Assim sendo, na Alemanha, muitos adeptos lutam para manter a regra os 50+1. As formas de protesto e ativismo ao longo da história foram diversas, havendo muitas coreografias e frases, listas de assinaturas, sessões de informação e esclarecimento, entre outras iniciativas. Os grupos ultras e os chamados clubes/associações de adeptos (fan clubs/supporters associations) informam o resto do público nas suas revistas, fanzines e outros meios de comunicação, tentando influenciar a discussão. Em alguns clubes, os sócios conseguiram fixar uma regra nos estatutos, em que é proibido vender mais de 49 % das Participações. Por exemplo, em Frankfurt, a regra 50+1 faz parte dos estatutos do clube sendo que, seria necessário ter 2/3 dos votos dos membros/sócios para abolir isto. Na Bundesliga, neste momento, ainda há quatro clubes única e exclusivamente e.V., a sigla alemã para os clubes que não têm qualquer tipo de ligação empresarial, sendo eles o Schalke 04, SC Friburgo, Union Berlin e Mainz 05, sendo que todos os outros se afastaram. Por Fabian Böker e traduzido por José Rocha
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da escola À bancada
Há mais de um século que há uma sólida ligação entre o desporto e a juventude. Muitos jovens fizeram-se e fazem-se homens, sendo formados no contexto desportivo, entre as bancadas e os campos, quadras ou pistas. Nos peões ou nas bancadas, após a segunda metade do século XX, surgiram inúmeros grupos de apoio que tinham como base a massa juvenil. A irreverência, a vontade de fazer e o entusiasmo dos “putos” pode combinar bem com a experiência e maturidade da “velha guarda”, o que é fundamental para a renovação geracional das bancadas, renovação essa que, entedemos, dever ser sempre regida sob princípios e valores que norteiam os clubes, as massas adeptas e seus grupos de apoio. Não é por acaso que vemos, em Portugal, desde 1976 a palavra “juventude” associada a falanges de apoio. Pela Europa, há vários casos em que “Youth” está inserida em nomes de grupos. Partilhamos convosco de seguida um caso, possivelmente único no movimento Ultra. Os Red Demons 2002 foram mais do que uma claque, foram também um projecto social, que contribuiu para a formação pessoal de jovens. A comunhão entre os “novos” e o “velho”, que tão bem resultou, está documentada na história do grupo, que deixamos na próximas linhas.
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História O início do novo século trouxe ao Leixões Sport Club uma nova fase na sua história. O clube melhorou os seus resultados, a nível desportivo e económico, escrevendo assim uma “época dourada”. Os leixonenses apoiavam intensamente, comparecendo em massa aos jogos da sua equipa de Futebol. Apesar do apoio efusivo das claques de Matosinhos, era habitual verem-se grupos que durassem pouco tempo desde 1983, ano em que foi fundado o primeiro grupo de apoio, os Piratas do Mar. Em 2002, ano em que o Leixões foi finalista da Taça de Portugal e segundo classificado na Zona Norte da II Divisão B, o grupo de apoio mais antigo em atividade era o Ultras Leixões, fundado em 1996. Era um grupo formado fundamentalmente por gente “da pesada” que, muitas vezes, não queria “miúdos” no seu meio e que baseava o seu material de apoio na sua faixa principal, devido aos parcos recursos financeiros dos membros. Na Escola Secundária João Gonçalves Zarco, alguns Ultras Leixões conheceram o professor Bruno Sampaio, o qual já tinha militado nos Dragões Azuis e pertence ao Colectivo. O professor lecionava a disciplina de Educação Visual. A sua aptidão para o desenho, ao nível do seu gosto pelo movimento Ultra contribuiu para que desenhasse a faixa principal dos U.L.96’. Posteriormente, a Frente Leixonense também se faz notar no apoio aos rubro-brancos. Fundada em 2000, tinha um estilo diferente, com mais material de apoio na bancada, todo ele pintado à mão. Alguns ex-elementos dos Ultras Leixões e de outros grupos participavam na F.L.00’, tendo o professor Bruno ajudado na elaboração do primeiro cachecol do grupo (o qual viria a ser o primeiro cachecol dum grupo leixonense), desenhando-o. Na época e no ano letivo 2002/2003, o Leixões participou em duas eliminatórias na Taça UEFA, foi Campeão da Zona Norte da II Divisão B e o professor Bruno Sampaio arriscou uma experiência na EB 2/3 Prof. Óscar Lopes. Mesmo depois de ter ouvido falar muito mal daquela escola, ingressou na mesma por vontade própria. A instituição escolar estava inserida no Bairro da Cruz de Pau,
zona onde localiza-se o Estádio do Mar, um bairro tradicionalmente problemático e de muitos leixonenses. Mais de quatrocentos alunos compunham as turmas entre o 5.º ao 9.° e CEF’s, sendo que, na Escola, os jovens encontravam alguma atenção, que por vezes escasseava em casa, passando muito do seu tempo em atividades extracurriculares. À segunda-feira, o prof. Bruno aproveitava uma dessas “horas extra”, ao final do dia e até à hora do jantar, para trabalhar com jovens problemáticos na pintura de camisolas com técnicas de Graffiti (stencil). Numa dessas sessões, o professor ouve falar pela primeira vez em “Red Demons”. Questionando o aluno, o mesmo explicou-lhe que era uma ideia de criar uma nova claque para o L.S.C., tendo o nome Red Demons surgido numa aula de Inglês (no ano letivo precedente), com ajuda de uma professora. A partir daí, Bruno Sampaio começa a desenvolver a ideia, tendo também criado o logo e desenhado material. Trocaram-se as atividades extracurriculares de pintura pelo “Espaço Red Demons”, dando assim um cariz ainda mais social a um projeto dum grupo de apoio. Para tal e muito mais, contribuiu a professora Aurora Anastácio que era, à altura, a diretora da Escola e uma leixonense ferrenha. Aproveitando o espaço, a nova geração Ultra era cultivada, com reuniões do grupo, desenho e pintura de material e coreografias, criação de cânticos, etc. Alguns jovens já tinham o “bichinho” das curvas, outros faziam parte da formação do Leixões e outros aderiram por influência da dinâmica criada entre a escola e as bancadas. O apoio dado semanalmente traduziu-se num crescimento exponencial, chegando os R.D.02’ a ter cerca de seis núcleos em pouco tempo. Um desses núcleos era o Red Girls, o qual contava com raparigas de valor, que mais tarde viriam a ter um cachecol próprio, algo que pode ser considerado como um dos primeiros grupos femininos a fazer material no panorama nacional. O apoio vocal e a pirotecnia improvisada com extintores, com tochas artesanais feitas de prata e bolas de Ping-pong ou até mesmo com cal comprada em drogarias, a qual punham em gar-
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rafões que à posteriori abanavam, também contribuíam para o espetáculo que proporcionavam. Algo que foi motivo de orgulho para todos, foi o facto de serem fotografados em diversos jogos para a revista Adeptos. De referir, que o professor, em algumas partidas, esteve lado-a-lado na bancada com os seus alunos. Com trabalho e constantes presenças nos jogos, surgem os cartões de membro e o protocolo entre o clube e o grupo, no qual Bruno Sampaio e mais uma professora, Sandra Lessa, deram-se como responsáveis pelo grupo de adolescentes. Outro momento marcante, foi quando o professor mostrou a prova do primeiro cachecol do grupo a alguns jovens, algo que era como o concretizar de um sonho para miúdos que, muitas vezes, viam as suas expectativas desfeitas. Igualmente memoráveis são momentos como o primeiro aniversário, festejado na Escola, na qual a comunidade escolar recebeu uma comitiva do clube, onde perfilavam dirigentes, jogadores como Pedras (originário daquele bairro), Brito, etc. Marcante é ainda o facto dos adolescentes e o professor passarem parte das férias escolares a pintar material na Escola, o facto de nos dias de torneio inter-turmas as faixas e estandartes estarem afixados nas redes do campo e, à volta do mesmo, haver um ambiente de estádio. Com o surgimento da Máfia Vermelha e com o intuito de fortalecer o apoio ao clube, ambos os grupos partilharam algumas vezes o mesmo sector (e também uma sede, disponibilizada pelo clube), algo que já tinha acontecido antes entre Ultras Leixões e Red Demons. Numa altura em que menos de cinco membros ainda resistiam à tentação de pertencer à Máfia Vermelha, os R.D.02’ findaram a sua existência em 2004/2005, com cerca de três anos de atividade. 60
Agora, apresentamos diversas questões que a equipa Cultura de Adepto fez ao prof. Bruno Sampaio, o qual respondeu de forma a enquadrar-nos melhor no projecto Red Demons. Como surge a ideia de ajudar estes jovens a serem melhores enquanto grupo? Enquanto Pedagogo/Professor é premente “ouvir” os alunos, saber quais os seus gostos, anseios e desejos mais profundos, porque é a partir desse pressuposto – o conhecimento – vero e real dos jovens com quem se trabalha, que poderemos efetivamente rentabilizar os seus pontos fortes e minimizar/colmatar os fracos. Assim, quando se inicia um novo percurso, temos de “agarrar” nos projetos que habitam as suas mentes, e como o caminho se faz caminhando, aproveitamos as ideias deles, porque é assim que se sente a Escola e, deste modo, se “abrem” as mentes para também nós (Professores) termos/conquistarmos “espaços” para os educarmos e ensinarmos. Assim, o conhecimento do que eles são, de facto permite-nos “entrar” na vida deles, porque não nos limitamos a “vomitar conteúdos”, mas sim conversamos e sabemos que nos estão a ouvir, pois o retorno e a dádiva são uma constante. Claro que dá trabalho, que nos obriga a dar muito de nós enquanto Professores pois, num ápice, como que o horário previamente estabelecido deixa de fazer sentido, e o tempo segue ao sabor da aragem e do vento. E numa zona de horizonte e mar, temos que ser efetivamente o TIMONEIRO do Barco e levar a bom porto os projetos, o que foi o caso, pois a viagem foi realizada por TODOS, e todos crescemos e aprendemos. Umas vezes era eu o Professor e eles os alunos, mas sinceramente, muitos momentos existiram em que eu é que fui o aluno e eles os professores. Aprendi mesmo muito com eles/elas, as suas histórias de vida permitiram-me crescer enquanto pessoa e enquanto professor, e eles certamente que não devem imaginar o quanto grato me senti e sinto. Aquela Escola e aquele Grupo foram e ainda são a MINHA CASA. Como decorreu o processo de transportar um projeto de apoio a um clube para um projeto social e educativo? Quais eram os objetivos? Julgo que a “transição” acabou por surgir de um modo simples, na medida em que a génese se
encontrava na escola, os valores pelos quais nutrimos o nosso trabalho e nos “balizamos”, essa plácida sintonia facilmente se fundiu. É premente referir que estes jovens, todos eles, mesmo quando apoiando um outro clube, o Leixões era “o seu grande Amor”, nada mais importava. E foi cultivando esse sentimento de pertença que se edificou a base do projeto – Red Demons 02. Os objetivos foram crescendo à medida que o projeto evoluía. Inicialmente, pretendia-se que se corrigisse o domínio atitudinal, ou seja, o comportamento em contexto escolar/sala de aula, aditado por um incremento/melhoramento na assiduidade e pontualidade por estes protagonizada. Posteriormente desenvolveu-se a qualidade e empenho no âmbito do estudo e numa melhoria efetiva nos hábitos e nos métodos regulares de estudo, o que se veio a refletir-se nas notas destes jovens. É premente referir que estive com eles dois anos e a evolução foi evidente e enobrecedora, mas o busílis da questão, o objetivo primordial foi, sem dúvida alguma, o sentimento de pertença para com a Escola e para com o Projeto Red Demons. Eles, em uníssono, começaram a sentir que não existiam barreiras e que o sonho era possível, e assim fizeram acontecer e, sobretudo, fizeram a diferença. Como seria de prever, quando se olha para algo como seu/nosso, o cuidado, o brio, o empenho, o empreendedorismo, a corresponsabilização crescem exponencialmente. Os Red Demons permitiram o “desmoronar” das paredes da Escola, pelo que a Escola no decurso desses dois anos, abrangia o Bairro da Biquinha, o Bairro dos Pescadores, o Bairro da Cruz de Pau, o Estádio do Mar, em suma a Cidade, FOMOS UMA FAMÍLIA ALARGADA, todos eram bem-vindos, e todos faziam parte de um grupo, liderado e formado por jovens, um “lugar” onde pensavam, decidiam e sobretudo agiam e construíam. O que é que esta experiência lhe ofereceu? Sinceramente, sinto que me tornei um melhor Professor, não pelo que ensinei, a operacionalização do currículo, mas sim, pela transparência e pela humildade que “ali” foi partilhada. Foi um crescendo de emoções e de responsabilidade, e os resultados escolares/académicos, bem como o reconhecimento do Projeto Red Demons no seio 61
da Comunidade Escolar e no meio envolvente foi conceito em relação a grupos de apoio? O profesevidente e irrefutável. sor ou seu projeto foram alvo do mesmo? Sim, inicialmente não foi fácil “impor” estas ideias O que é que os Red Demons trouxeram à comuni- no que concerne ao Conselho Pedagógico, mas dade escolar? tínhamos uma vontade imensa, eu e os outros Os RD02 foram, sem dúvida alguma, uma lufada docentes, em particular os elementos que comde ar fresco, porque foi possível “olhar” para os punham a Direção Escolar, em “criar”, ou melhor, alunos através do seu contemplar, sem subterfú- consentir o edificar de um espaço e projeto DEgios. Eles foram ouvidos e os seus anseios e dese- LES, e esta sintonia envolta em doses infinitas de jos mais profundos foram concretizados, SEMPRE responsabilidade, permitiu o nascimento e conseenvoltos pelos valores intrínsecos a uma colabo- quente progressão do Projeto RD02, pelo que graração sadia, e onde também se trabalharam dia- dualmente a Comunidade Educativa no seu todo, riamente, como é por demais notório e evidente, acabou por “abraçar” o projeto como sendo seu os valores circunscritos a uma cidadania respon- também. sável. A Escola tornou-se num “porto de abrigo” Mas não nos podemos esconder da verdade, pois e começou a ser vivida na plenitude. Até íamos existem determinados comportamentos inerentes para a Escola nas Interrupções letivas, a Direção a grupos de apoio que não são reveladores de uma foi Extraordinária, pois permitiu que as “portas” cidadania sã, pelo que tivemos de estar sempre se mantivessem abertas. No decurso destes dois atentos e em sintonia com o clube, onde tivemos anos, 2002/2003 e 2003/2004, a Escola foi, sem uma aceitação e ajuda fantásticas, desde termos dúvida alguma, a nossa Casa, pelo que humilde- sido ouvidos, até ao “abrir” das portas do estádio mente digo que VIVEMOS a Escola no seu Todo. A para que este Projeto tivesse espaço para progredir ideia de Escola “cresceu” na mente destes jovens, e crescer. Até fomos monitorizados por uma psicópois a “Escola” como que possibilitou a construção loga do clube, e até as estruturas máximas do clude um sonho, já não era somente um espaço onde be, Presidente, Treinadores (principal e camadas iam aprender, mas também um “lugar” de constru- de formação) e jogadores, todos nos acolheram no ção, um “espaço” que não suprimia e muito menos seu leito com muita ternura e disponibilidade. Os amordaçava as ideias, um “castelo” que permitia/ “miúdos/miúdas” foram SEMPRE acarinhados pela permitiu “o Fazer Acontecer”! Instituição, pelo que, logicamente, o sucesso também terá de ser partilhado com “eles”, pois fazem Considera que na comunidade escolar existe pre- e fizeram parte do sucesso do Projeto RD02.
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Não poderíamos terminar este artigo sem lançarmos algumas perguntas ao elementos dos Red Demons, os quais se prontificaram a ajudar-nos.
do grupo , apesar de todos sermos leixonenses , e já participarmos na vida do clube , foi o elo que nos juntou para criar este projeto! Todo este processo motivou-vos a ter um melhor comportamento e melhores notas? Perguntas a Fábio Poveiro: Sim, isto é quase como, hoje em dia, se diz às crianças que, se fizerem algo de bom , os pais compenO que ficou em si dos Red Demons até aos dias sam. Naquela altura sentíamos que se tivéssemos de hoje? boas notas , os nossos pais nos deixavam ir ver o Ficaram em mim, até aos dias de hoje, memórias Leixões onde jogasse , era a “recompensa” que nós lindas, histórias fantásticas e, acima de tudo, ainda queríamos! hoje alimento de um modo geral, na minha vida, duas características que tínhamos naquela altura: Originalidade e Criatividade!! Sente que o professor Bruno teve influência na tua formação pessoal e no desempenho do grupo? Claramente!! Sem qualquer margem para dúvidas foi uma pessoa super influente na minha formação pessoal. Nunca deixo de o frisar quando as conversas vão nesse sentido, com a minha Esposa, amigos chegados, conhecidos e até desconhecidos. Foi o principal cérebro por trás dos Red Demons e, a coisa mais fascinante que tinha, é que tudo o que fez por nós nunca o fez à espera de algo em troca. Costumo dizer que talvez seja dos seres humanos mais incríveis que tive o prazer de conhecer na minha vida. Todo este processo motivou-vos a ter um melhor comportamento e melhores notas? Certamente. Até porque quando as notas não correspondiam minimamente ao aceitável ficava de castigo em casa e não podia ir ao jogos. Quando isso acontecia era a pior coisa que me podiam fazer. As minhas notas melhoravam logo em seguida com toda a certeza (risos). Perguntas a Pedro Melo: O que ficou em ti dos Red Demons até aos dias de hoje? Uma grande aprendizagem em todos os níveis , tanto a nível de futebol , como na vida ! Sente que o professor Bruno teve influência na tua formação pessoal e no desempenho do grupo? Claramente que sim , foi o grande impulsionador 63
a bola também é delas A vinda de 28 jogadoras francesas para realizar algumas partidas em 1923 foi o início da epopeia do futebol feminino em Portugal. Nos dias de hoje falar de futebol feminino é discorrer sobre uma luta de emancipação para que também as mulheres pudessem desfrutar o prazer de correr atrás de uma bola. Em Portugal o binómio mulheres-futebol já não é tão hostilizado como antigamente. Porém, regressemos com a máquina do tempo até ao início do século XX e aqui começa a nossa história. Noutros países europeus, as mulheres já tinham conseguido algum sucesso no caminho da emancipação futebolística: na Inglaterra, durante a Grande Guerra, substituíram os homens enviados nas trincheiras, nos trabalhos das fábricas, e aqui tomaram conta também do futebol, com torneios, campeonatos e estádios sempre cheios de gente faminta de bola! Na França também, o movimento futebolístico teve um “boom” durante a Primeira Guerra Mundial, em parte pelas mesmas razões, e continuou a crescer nos anos 20 tanto que, só em Paris, existiam 18 clubes de futebol feminino! E em Portugal? A prática desportiva feminina em geral era ainda uma raridade, apesar de, nalguma imprensa nacional, começar a ser promovida e incentivada: jornais como Os Sports, Sport Nacional, Os Sports Ilustrados, entre outros, apresentavam secções de desporto feminino. Imaginem como deviam ser ainda mais raras as notícias de mulheres a praticar futebol, aliás, há toda uma literatura de “experts” da época a falar do jogo da bola como desporto não idóneo para as mulheres; a brutalidade viril do futebol não era compatível com o corpo da mulher – visto que precisavam de se preservar para a maternidade (outros tempos…) O ano de 1923 representou um ponto de viragem no futebol feminino luso; sim, pois as mulheres “da bola” tiveram o seu primeiro momento de visibilidade e interesse por parte da opinião pública e dos adeptos. Entre 30 de Setembro e o dia 7 de Outubro, 28 atletas francesas realizaram uma tournée desportiva de atletismo e futebol, com exibições em Lisboa, Coimbra e Porto. A chegada das belas francesas despertou curiosidade ; no primeiro jogo disputado entre o «Femina Sport»(Belo nome com a palavra latina a significar mulher!), campeão de França, e um grupo misto constituído pelas melhores jogadoras de outros grupos parisienses, no dia 30 de Setembro, no campo de Palhavã, em Lisboa, assistiram 5000 pessoas!!!! E o jogo disputado no Porto teve direito à capa do jornal Sporting (jornal desportivo portuense). 64
Citar a crónica do dia seguinte no Diário de Lisboa é um exercício delicioso: “O público assistiu interessadíssimo ao encontro que, diga-se de verdade, foi interessante. Sempre fôramos adversários da prática de determinados sports – os sports violentos – por mulheres. O melhor elogio que podemos fazer à exibição de ontem é o de que ela nos deixou quase convencidos de que o football é sport adaptável aos recursos físicos do sexo fraco (!). Falta-lhe, evidentemente, …a rapidez, a emoção …como nós estamos habituados a vê-lo praticar. Falta-lhe a atração espectaculosa que leva os aficionados a não perder nem um dos bons e inúmeros matches masculinos duma época inteira. Ousaremos até afirmar que se houvesse desafios de mulheres todos os domingos, acabavam por não ter espectadores. Contudo foi… um “match plaisant à suivre”(DL 1-10-1923) Simpáticas, mas…Percebe-se claramente como a imprensa e o público (masculino) consideram ainda o futebol feminino um fenómeno quase circense, carnavalesco, interessante mas para não levar a sério. E assim será considerado ainda por muitas décadas. Durante o Estado Novo, a prática desportiva feminina era fortemente incentivada mas não certamente o futebol. Surgiram equipas ao longo dos anos mas, muitas vezes, os jogos resumiam-se a exibições durante o Carnaval ou em feiras. Não era considerado “desporto”. Que as mulheres voltem ao seu lugar de “fada do lar”, mãe extremosa, esposa dedicada! Ainda não era altura de substituir a bola de “novelo” com a de couro. Ainda nos anos 70-80, os clubes que apostavam na modalidade eram pouquíssimos. Em 1981 só havia 400 atletas federadas e os grandes clubes ainda não acreditavam no seu desenvolvimento. Tirando o Boavista e mais alguns, eram sobretudo as pequenas coletividades que ajudaram na difusão da prática futebolística entre as mulheres: o amor pela “bola“ era geral entre a miudagem, sem distinção de género: rapazes e raparigas jogavam alegremente juntos nas ruas dos bairros. Mais um contributo das coletividades ao desporto popular! Passaram quase 100 anos e hoje em dia a bola é definitivamente “Fémina” Por VINTAGE FOOTBALL CITY TOUR Eupremio Scarpa 65
Comunicação em tempo de pandemia HAVERÁ FUTEBOL DEPOIS DOS ADEPTOS? Num país com alicerces em “três Fs”, nunca pensámos que chegasse o dia em que íamos ver um deles, o futebol, perder a base de toda a paixão e loucura que o acompanha: os adeptos. Numa altura em que passamos o marco de um ano sem público nos estádios, salvo exceções muito pontuais, olho para trás e lembro-me de pensar “Haverá futuro próximo para o desporto rei? Haverá futebol depois dos adeptos?”. Fiz essa pergunta a mim próprio com a mesma dúvida com que por vezes, colocamos, a tão famosa questão “Haverá vida depois da morte”, porque um futebol sem adeptos é mesmo isso: um desporto de emoções fortes em estado terminal, à espera que melhores dias cheguem. Até lá, cabe à comunicação de cada clube/ instituição desportiva a importante missão de ser os olhos e ouvidos dos milhares de adeptos que continuam a querer apoiar a sua equipa do coração. Felizmente, na Associação Desportiva de Fafe, a base para esse trabalho torna-o ainda mais fácil: a fiel massa adepta não quis largar a equipa. Há quatro anos que trabalho no departamento de comunicação da AD Fafe e é seguro dizer que, desde o dia 8 de março de 2020 (data em que a equipa fafense recebeu o Grupo Desportivo de Bragança para aquele que se tornou o último jogo com público antes da pandemia COVID-19 chegar em força a Portugal), entrei na fase mais complexa e desafiante da minha profissão. Afinal, como é que, após o regresso do Campeonato de Portugal na época 2020/21, eu e o meu departamento íamos conseguir dar continuidade à forte ligação entre o clube e os cidadãos de Fafe, 66
agora que os jogos se passavam a disputar com bancadas vazias? A palavra “jogo” foi imediatamente a primeira que nos veio à ideia, uma vez que seria nessas ocasiões que mais se iria sentir a diferença relativamente ao tempo “pré-COVID”. Senti que seria obrigatório termos nas partidas disputadas no Estádio Municipal de Fafe uma transmissão em direto que tornasse possível duas vertentes essenciais: garantir o acompanhamento da equipa por parte dos sócios/adeptos e permitir que os mesmos possam partilhar opiniões, conversar entre eles e comentar aquilo que vão vendo durante o jogo. Dessa forma, optámos pelo Facebook como plataforma para as transmissões em direto dos nossos jogos em casa, sempre com a funcionalidade dos comentários ativa, de forma a que haja ali um espaço de troca de ideias, de elogios e até de críticas, algo que está no ADN puro de qualquer adepto de futebol que viva o dia-a-dia do seu clube. A resposta a esta iniciativa tem sido extremamente positiva, com todas as transmissões a atraír milhares de adeptos e público geral a assistir, contando com uma média de três centenas de reações e comentários em cada vídeo, provando que o interesse e fidelidade dos fafenses à AD Fafe permanece bem viva, mesmo em tempos de pandemia e confinamento. Tirando as transmissões, que realmente surgiram devido às novas regras sanitárias que vivemos em Portugal, o resto da comunicação do clube manteve-se inalterada de uma forma geral, já que, mesmo antes do aparecimento do COVID-19, as redes sociais da AD Fafe sempre tiveram bastante conteúdo, principalmente sobre a equipa sénior de futebol em momentos mais descontraídos e até extrafutebol (um exemplo disso é a rubrica ‘À Prova’). Conteúdos desse género, onde vemos atletas em novos contextos, permitem que seja criado um vínculo mais forte entre os participantes e os adeptos, uma vez que acabam por demonstrar e revelar a personalidade desse atleta também como pessoa, além daquilo que já é evidenciado semanalmente como jogador de futebol. Sinto que, mais do que nunca, a população em geral está à procura de bom conteúdo, que possa gerar momentos divertidos e que, ao mesmo tempo, entretenha uma sociedade que, devido a períodos prolongados em lockdown, está cada vez mais horas ligada às redes sociais. Nesse sentido, nós (e creio que todos os profissionais da comunicação/marketing em geral) temos 67
de trabalhar ao máximo a nossa originalidade e sentido de oportunidade. Bom exemplo disso é o sucesso e mediatismo que tivemos com simples conteúdos como associar declarações do treinador Jorge Jesus à claque da AD Fafe: um vídeo curto, de simples visualização, com recurso a uma personalidade mediática e a servir de reconhecimento ao apoio que os adeptos dão ao clube. A SÁTIRA E MARKETING DE OPORTUNIDADE: ARMA DE REVOLTA E ELO DE UNIÃO “Sei que os adeptos estão a sofrer em casa, por não poderem estar no estádio, mas acredita que nós também sofremos com a ausência deles”. Esta é uma citação do José Oliveira, atleta e capitão da AD Fafe, numa entrevista que fiz com ele e onde falámos da falta de público nas bancadas. É certo que este é um sofrimento mútuo, o clube sente imenso a falta da massa adepta e do apoio que essa demonstrava em todos os jogos. Porém, sem haver a ligação direta entre os sócios e a equipa, que se criava nas bancadas dos estádios, tive de pensar numa estratégia que mantivesse a família justiceira unida à AD Fafe. Lembrei-me então do uso da sátira como forma de criar humor, mas, ao mesmo tempo, demonstrar que o clube reprova a constante recusa do Governo e DGS em permitir o regresso do público aos estádios. A manifestação original desse plano surgiu na primeira jornada do campeonato, quando recebemos a AD Camacha. Dada a possibilidade na altura de haver público/concentração de pessoas em eventos como touradas, idas ao Santuário de Fátima ou na Festa do Avante, peguei especificamente nessas três situações e promovi o jogo como se uma delas se tratasse. A aceitação por parte dos adeptos foi massiva, com a esmagadora maioria a elogiar a coragem e criatividade do clube em “picar” a DGS e, ao mesmo tempo, defender os interesses dos adeptos. Essa campanha chegou a ter impacto por todo o país, sendo partilhada por vários grupos/claques de clubes da Liga NOS e por órgãos de comunicação social a nível nacional. Tornei a recorrer à fórmula de sucesso da sátira algumas semanas depois, quando voltou a surgir uma nova polémica: milhares de pessoas a assistir ao
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Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1, que decorreu no Algarve em outubro do ano passado, com a devida autorização dos governantes portugueses. Achei importante estar novamente do lado dos adeptos e, no meio da revolta deles, mostrar que a AD Fafe também estava atenta e que não pararia de alertar para a forma injusta como o futebol estava a ser tratado. Criei assim o Manel Hamilton. Com o slogan “E assim, já poderemos?”, idealizei um vídeo onde aparece o Manel, o nosso tratador do relvado a conduzir o cortador de relva com um capacete, levantando a questão de que, se um jogo de futebol fosse afinal uma corrida de automóveis, já poderia ter público. Recebemos mais uma vez uma aceitação muito grande por parte do público fafense, dos adeptos de futebol no geral e da imprensa nacional, garantindo assim que a AD Fafe continuava a ser uma voz indignada, lado a lado com os milhares de sócios que só querem voltar a poder ver e apoiar de perto a sua equipa. PROJETOS FUTUROS NO RESCALDO DA PANDEMIA Olhando para o futuro, o departamento de comunicação da AD Fafe está já a preparar uma série documental, idealizada na sua maioria pelo João Marinho, membro do referido departamento, que vai retratar, ao longo de cinco episódios, como é que o clube e os seus funcionários se têm adaptado a trabalhar neste momento de pandemia. Uma ideia que acaba por estar ligada ao meu pensamento original: manter a ligação com os adeptos mesmo agora que eles estão afastados das bancadas. Para isso, além de contarmos com o efeito de compaixão que certamente o documentário irá produzir, um dos episódios será mesmo dedicado aos sócios, com declarações de alguns deles. Num mundo rodeado de tantas incertezas, há algo que acreditamos ser verdade: os adeptos vão voltar aos estádios, vão voltar a apoiar de perto os clubes e, até esse momento chegar, é a missão da nossa comunicação desportiva trabalhar com empenho e principalmente criatividade para manter e fortalecer o elo que une milhares de pessoas a este desporto na cidade de Fafe. Por J. Peixoto, do Departamento de Comunicação da AD Fafe
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estranho caso do varziela Foi em 1982 que, pela primeira vez em Varziela, se constituiu uma associação desportiva de forma organizada e, desde então, a paixão pelo jogo e pela terra foram crescendo ao ponto de nos dias de hoje o futebol ser a verdadeira tradição da nossa freguesia. No final do século XX, o clube tornou-se mesmo numa referência no futebol de formação do concelho de Felgueiras, onde todos os anos vários “tubarões” vinham a Varziela recrutar atletas. Clubes como FC Porto, Vitoria SC, Leixões SC, FC Paços de Ferreira e SC Freamunde chegavam mesmo a oferecer bolas em troca das “cartas desportivas” dos nossos jovens atletas. Recuando ligeiramente no tempo, em novembro de 2009, um grupo de rapazes da freguesia decidiu juntar-se e apoiar de forma organizada o clube da terra. Os jogos eram sempre ao domingo de manhã e nenhum dos elementos dos “Sardoniscas Verdes” tinha carta de condução, o que se tornava uma verdadeira aventura em todos os “away days”. Quer fizesse sol ou chuva, o grupo tinha sempre encontro marcado em casa do capitão da equipa às 8h da manhã. Ele levava-nos numa carrinha de 9 lugares para todos os jogos, mas o que é certo é que esses lugares eram poucos para nós. Sorte que as viagens eram curtas, mas cheguei a contar 18 pessoas na nossa, já extinta, Mitsubishi. Sem policiamento obrigatório, os jogos tornavam-se uma verdadeira diversão e, por onde Varziela fosse jogar, ninguém ficava indiferente aos adeptos visitantes. Algum colorido e cânticos à mistura, o vício e a paixão pela terra eram cada vez maiores, independentemente dos resultados desportivos e do nível de competição em que estávamos. No início da tenra idade de começar a sair à noite, nós sabíamos que a presença ao domingo era obri70
gatória e foram tantas as noitadas que fizemos e seguimos diretos para ver o verde e branco. Para nós, o Varziela era uma forma de nos juntarmos e vibrarmos em conjunto com aquilo que mais gostamos: o futebol e a nossa terra. Em 2016 deu-se a página mais negra da nossa história. Um grande passivo financeiro levou o clube a um vazio diretivo. Sem Direção e, consequentemente, sem futebol, os fins de semana tornaram-se cada vez mais angustiantes e, ao mesmo tempo, revoltantes. Como foi possível acontecer o inimaginável? Num clube como o Varziela seria impensável. E foi aí, na verdadeira ressaca dos jogos, que o grupo se uniu ainda mais e meteu mãos à obra. Alguma desconfiança e expectativa de toda a freguesia, fomos humildemente fazendo algumas iniciativas para tentar recuperar o fosso financeiro. Ao mesmo tempo, tentávamos reacender a chama social que o Varziela sempre teve, mas que, outrora, se desmoronou. Começamos por fazer um jantar de Natal em que levamos até esse jantar os tempos de ouro do Varziela, através de um vídeo e imagens daqueles tempos. Andamos a vender rifas, porta a porta, mostrando às pessoas a nossa seriedade e compromisso em trazer o futebol de volta.
Reabilitamos a nossa sede, o nosso campo e os balneários. Aos poucos, a época 16/17 tornou-se num ano de verdadeira reestruturação financeira e em 2017, 11 anos depois, o clube regressa aos distritais. Pelo meio, fizemos a tradicional “cagada da vaca” e com essa receita conseguimos comprar uma carrinha. Os jogos do distrital são fantásticos e nós que o digamos. Sempre que o Varziela vai fora torna-se numa autentica romaria. O senhor dos autocarros já sabe que no final da semana vai receber uma chamada para uma reserva. Dos mais velhos aos mais novos, pelo menos um autocarro é sempre garantido. Chega a hora da concentração ao inicio da tarde. Saímos do Jairipe e ainda temos duas paragens. Nas bombas da BP entra o pessoal de “Varziela de cima” e nos Mouchinhos chega o pessoal de “Varziela de baixo”. Já não sobram lugares sentados mas, não há problema, alguém não se importará de ir de pé. Começamos a aquecer as vozes e a bebida que aparentemente não é permitida mas que nas viagens escapa sempre em alguma brecha. Não sei se é assim em todas as terras mas, em Varziela, posso garantir que o jogo começa bem mais cedo do que a hora marcada. O jogo é, em muitas das vezes, uma “desculpa” para as pessoas se verem ao final da semana e até porem a conversa em dia. E que ritual tão lindo este! Para nós e para o adversário, pois onde o Varziela vai jogar é sempre uma saúde financeira para o clube visitado. As partilhas dos lanches, o convívio, a alegria e o sofrimento nos jogos. Por vezes, a alegria da viagem contrasta com a angústia do regresso. “Não venho mais”, “Acabou para mim este ano”, “Não perco mais tempo com eles”. Eram estes os desabafos, mas o que é certo é que na semana seguinte lá estavam eles. Sempre! E é essa resiliência que nos caracteriza. Honestamente, aquilo que inicialmente desejávamos era trazer o futebol de volta à terra mas, aos poucos, foi-se tornando cada vez mais num projeto desportivo/social verdadeiramente empolgante. Futebol sempre foi a verdadeira tradição da nossa freguesia e tinha chegado a hora da nossa Geração entrar em ação. Mais cedo do que esperávamos, é certo, mas havia um Legado 71
que tinha de ser respeitado e honrado. Em 2019, subimos à 1ª divisão da Associação de Futebol do Porto. A média de idades do plantel era superior à da Direção e conseguimos um feito fantástico. 19 anos depois, o clube e a freguesia voltam a estar em festa. Terminamos a época com uma média de assistência de 250 pessoas, o que parece pouco. Mas tendo em conta que Varziela tem pouco mais de 1500 habitantes, estamos a falar que cerca de 16,6% da população varzielense estava presente no Parque Desportivo Jairipe a apoiar a nossa equipa e a nossa terra. E sem dúvida que essa foi a nossa maior conquista: o bairrismo estar de volta. Com a subida de divisão, deparámo-nos com um novo problema. O nosso campo pelado não tem as medidas mínimas para competir nessa divisão e vimo-nos obrigados a treinar e jogar em casa emprestada. Confesso que tive receio que o bairrismo se pudesse perder um pouco,
pela ausência de futebol em Varziela, mas o que é certo é que, felizmente, estava redondamente enganado. Os varzielenses continuaram a apoiar-nos e, mesmo jogando fora, eles encheram sempre o nosso setor, fazendo jus a um dos nossos cânticos com mais popularidade “passar o domingo em família é o melhor plano”. Ainda conseguimos chegar perto da centena de atletas, o que reflete o nosso crescimento neste curto espaço de tempo. E só não subimos à divisão de honra porque não nos deixaram. Um Sonho não tem idade. Nunca é tarde nem cedo demais para o concretizar. E cuidar daquilo que é nosso é um privilégio. Com valores transgeracionais e mística associada, somos portadores de um Legado com muita história e muitas mais por contar. Por José Ricardo, Presidente do CRCD Varziela 1982
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As claques e a internet Na era moderna, os meios digitais têm sido cada vez mais usados para a oferta e procura de informações sobre aquilo que mais gostamos sendo que, esta subcultura pela qual somos apaixonados, a bancada e toda a sua envolvente não é excepção. A mudança de século fez com que a utilização da internet computadores e não só virasse rotina diária. Não é de estranhar, portanto, que quem quer divulgar os seus conteúdos recorra a páginas criadas por si próprio, como tal também os próprios grupos terem as suas próprias plataformas. Porém, foi na transição deste milénio que surgiram os primeiros assuntos e diálogos virtuais, através do mIRC. A famosa Internet Relay Chat em que, através de simples hashtags, sobre os mais variados temas, os utilizadores comunicavam entre si. Foi uma oportunidade para aqueles que se interessavam por claques, que fizeram questão de também entrar aí e participar, dando origem à primeira plataforma digital onde se podia discutir sobre este tipo de matéria, mesmo atrás de um simples ecrã. Pouco tempo e alguns avanços digitais depois, as preferências para a difusão e a interacção recaíam então para três meios online: Sites (pagos ou gratuitos), blogues e fóruns. As claques davam especial importância aos sites, alguns grupos chegaram mesmo a publicitar os seus respectivos endereços em material que expunham nas bancadas, como foi o caso do Colectivo, dos Panteras Negras e do Directivo Ultras XXI. Muitos deles mantêm a actividade actual com conteúdo mais ou menos recente, enquanto que outros foram simplesmente apagados ou desactivados, sendo o motivo para esse facto simplesmente o crescimento exponencial que as redes sociais tiveram na última década, meio esse que posteriormente analisaremos. Em Portugal, falando ainda nos primeiros anos deste século, surgiram duas páginas, em formato de blogue, que qualquer pessoa que gostasse 74
do movimento e navegasse na Internet naquela altura facilmente se recorda: Megafone e Claques de Portugal. O Megafone acaba por ser um nome mítico que traz nostalgia, primando pelas constantes notícias nacionais e internacionais sobre a vida ultra e por fazer reportagens no local, com dezenas de fotografias, em determinados encontros. Já o Claques de Portugal tinha um estilo semelhante, embora não fizesse um acompanhamento tão variado (seguia e fotografava sobretudo os encontros em Braga). Em ambos os casos havia destaques e análise do que se passava fora das quatro linhas. Infelizmente nenhum destes projectos sobreviveu até aos dias de hoje. Ainda sobre a questão de blogues da primeira década do século, mas já no final de 2009, surgiu o “Ultra, um Modo de Vida”, mas não podemos considerar que tivesse exactamente o mesmo estilo dos anteriores. Um assumido adepto do Vitória SC também partilhava conteúdos, que interessavam e fascinavam os ultras sobre os encontros e os acontecimentos que iam ocorrendo. Porém, diferenciava-se um pouco pela forma como partilhava as suas próprias visões dos assuntos. Esta página despertava bastante interesse, e facilmente cresceu, mas deixou de publicar no Verão de 2014. Os fóruns, em Portugal, eram outra ferramenta importante de comunicação entre os grupos quer internamente ou até para debate e interacção entre adeptos de diferentes clubes. Estes estão entre as vítimas do impulsionamento que as redes sociais tiveram uma vez que, actualmente, a grande maioria dos utilizadores de um computador, tablet ou smartphone prefere a facilidade e simplicidade de um simples “gosto” e comentário no Facebook ao invés da inscrição em fóruns e da forma de comunicação que estes proporcionavam. Neste campo não podemos deixar de recordar um fórum nacional, o Ultras 12, que sem dúvida marcou, por vários motivos, uma geração. 75
No plano internacional, como é lógico, nunca faltaram sítios para desfrutarmos sobre assuntos de adeptos. Destacamos a plataforma Ultras-Tifo.net, que foi criada no dia 24 de Dezembro de 2004 e mantém-se activa sob formato de site. Tem reportagens sobre os jogos que considera merecedores de artigo, mas também tem um fórum que é dos mais conhecidos sobre ultras, incluindo uma secção para se falar sobre o que se passa no nosso país Agora também aderiu às redes sociais, adaptando-se facilmente aos novos tempos. Se o virar do milénio marcou uma revolução na forma como a tecnologia entrou na vida das famílias, esta última década também teve grandes mudanças sobre como cada um de nós acede e interage online. Utilizam-se mais smartphones e menos computadores, a Internet existe em praticamente todo o lado e qualquer fotografia e vídeo cai-nos em tempo real. As famosas redes sociais massificaram-se, sendo raro quem não tenha uma simples conta aberta no Facebook, Twitter ou Instagram, seja ela de uma pessoa, empresa ou... Claque! Os grupos de apoio cada vez mais divulgam por aí, tanto comunicados, conteúdos de multimédia, como também, muitas vezes, informações para os seus elementos. Mesmo páginas históricas que têm as suas plataformas em sites, como é o caso do “Fotos da Curva”, que acompanha permanentemente os adeptos portistas (em especial os Super Dragões), também dão lá conhecer o seu trabalho. Por esse motivo, qualquer projecto novo de conteúdos ultras ou similares tem tendência a ser feito neste tipo de plataformas. Ao longo da última década, foram inúmeras as páginas que sugiram no Facebook como forma de fonte de informação sobre o movimento ultra nacional. A grande maioria delas já nem sequer se mantém activa, destacando-se, ainda na primeira metade desta última década, projectos como Supporters 1312, Mentalitá Ultras PT (MUPT), Ultras Style Portugal, Ultras Portugal (algumas repetidas, com cópias e mudanças de nome, etc)... No dia 25 de Julho de 2016 foi criada a Curva Ultra, a maior página portuguesa sobre o ramo em actividade, que aborda também conteúdos internacionais.
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Ainda nesta era digital que estamos a passar, as próprias redes sociais vão sofrendo várias alterações entre si. Se o Facebook há uns anos conseguiu “canibalizar” muitos sites e meios de interacção, comunicação e divulgação de conteúdos, a verdade é que, de um modo geral, uma grande parte das pessoas (principalmente entre as idades mais jovens) cada vez lhe dá menos valor e uso e prefere partilhar as suas próprias imagens no Instagram, que vai obtendo a preferência de quem deseja criar projectos sobre adeptos. A mais famosa, nesse aspecto, no nosso país acaba por ser a FirmsInfo. Embora se foque mais em determinados temas, ao invés das tradicionais contas de partilha constante multimédia das bancadas. Esta última acabou por ser criada muito motivada pela existência da Malavita Organizzata, que tem site, Instagram, Facebook e Twitter, que consiste numa página portuguesa activa que aborda subculturas ao gosto do autor, entre elas uma determinada envolvente e história dos grupos, mas também o cinema e o crime organizado. O tal gosto pela violência, pelos incidentes e por uma grande parte de movimentos casuais e hooligans acaba por ser, então, o tema predilecto e a finalidade de determinados projectos que vão surgindo cada vez com mais frequência no Instagram, essencialmente no estrangeiro, com um aumento exponencial nos últimos anos de páginas onde grande parte das suas publicações, principalmente durante o fim-de-semana, anunciam a ocorrência de determinados combates organizados entre grupos e com os seus respectivos resultados. É aqui que também se passa para uma nova rede social com cada vez mais utilizadores, o Telegram. No fundo, uma forma de partilha com menos censura sobre todo o tipo de assuntos. Em suma, a forma como se partilha informação sobre todo o tipo de actividade de adeptos foi um reflexo da forma como a sociedade também se foi adaptando à Internet. Em cerca de duas décadas muito mudou, mas a verdade é que os meios digitais têm um peso cada vez maior na forma como o utilizador e qualquer fascinado desta cultura de bancada recebe e sabe qualquer novidade sobre o que se vai passando. Por G. Mata 77
cultura de adepto
Por P. Alves e M. Bondoso
É com grande prazer que sacrificamos algum do nosso tempo pessoal para iniciar esta rubrica literária. Livros, na sua generalidade, traduzem-se em cultura, marcos que ficam para gerações futuras sobre a época em que foram escritos. No mundo ultra, os primeiros livros começaram a aparecer em meados dos anos 80, quando os grupos começaram a fazer 10 / 15 / 20 anos de atividade para, desta forma, contarem as suas peripécias e feitos. Como escreveu o Padre António Vieira, “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.”, o que quer dizer que mesmo que um grupo ultra acabe e tenha um livro, a sua história ficará ali para sempre para que ninguém se esqueça. Em Portugal, contam-se pelos dedos as experiências realizados neste âmbito pelos grupos. Esperamos que, com este humilde espaço, possamos incentivar mais grupos a escrever, bem como o essencial, por mais pessoas a ler. “Os homens só podem compreender um livro profundo, depois de terem vivido pelo menos, uma parte daquilo que ele contém.” Ezra Pound
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Internacional
Nella Fossa dei Leoni Nella Fossa dei Leoni – La storia della Fossa dal ’68 ai giorni nostri Autor Fossa dei Leoni Equipa: AC Milan Ano 2002 Páginas 320 Preço 30eur Quando se fala de livros relacionados com o movimento ultra, um dos que salta logo à cabeça é o famoso livro da Fossa dei Leoni. Seja por ter sido um dos primeiros grupos ultras no mundo, seja pelas estrondosas coreografias feitas na Sul de San Siro, seja pelos magníficos espetáculos pirotécnicos, a realidade é que a Fossa fez parte do nosso imaginário, servindo de inspiração para muito do que se fez no movimento ultra Italiano, e também internacional. O livro é uma narrativa cronológica dos principais jogos do Ac Milan, onde a Fossa esteve presente. Página a página, época após época, são mostradas imagens, documentos, material e cânticos, do melhor que a Fossa ofereceu desde o início de 1968, ano da sua fundação. P ese embora a sua extinção no final de 2005, a realidade é que este é possivelmente um dos livros mais cobiçados pelo colecionadores, seja pela qualidade do mesmo, seja pelo misticismo que este grupo sempre teve no movimento ultra internacional.
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Nacional
O nosso modo de ser Autor Sérgio Loureiro / Nuno Q. Martins Equipa SC Beira-Mar Ano 2005 Páginas 149 Preço 12 euros Um dos primeiros livros editados em Portugal começa por celebrar os 5 anos de vida dos Ultras Auri-Negros. Percorre os vários anos de uma forma leve, acompanhado de “pedaços de história” como os autores lhes chamaram. A parte central do livro foca-se na época 2003/04 em que o autor se propõe a acompanhar os UAN em todos os jogos, dando a perspectiva de um outsider a acompanhar o grupo. As crónicas são um relato fidedigno de um grupo com poucos recursos que tem de se desenrascar para estar sempre presente. A nível fotográfico é bastante razoável quer em fotos de grupo, quer em fotos mais particulares de elementos ou de pormenores das deslocações.
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futebol no interior O futebol é um desporto de massas e está indissociavelmente relacionado com a situação económica, social e política da região e do país onde é praticado. Partindo deste pressuposto, e para melhor compreender a realidade portuguesa temos que considerar a dicotomia entre o Litoral e o Interior que reflecte, de forma inegável, as duas velocidades a que se desenvolve o país, o que influência, determinantemente, o futebol nacional, mas mais à frente veremos como... Observando a realidade do Futebol Profissional Português atualmente na primeira liga temos somente o Tondela a representar o Interior, lutando, ano após ano, para evitar a despromoção. Na segunda divisão, de entre 18 equipas apenas 4 (Arouca FC, SC Covilhã, Académico de Viseu e GD Chaves) têm sede no interior do país. Desta forma, e atendendo à realidade concreta, em 36 clubes que disputam as ligas profissionais apenas 5 são do interior, algo que se revela irrisório se considerarmos que só o distrito de Braga tem na primeira divisão o mesmo número de equipas. Olhando agora para o futebol não profissional, com particular destaque para o Campeonato de Portugal, onde o número de equipas representantes do interior é bastante maior, os problemas, sobretudo os financeiros e de organização, não desvanecem, antes, e pelo contrário, revelam-se determinantes. O primeiro exemplo disso é o FC Crato, vencedor da AF de Portalegre, que acaba por não aceitar a subida e vê a sua vaga ser ocupada por (mais) uma equipa da AF do Porto (litoral). Um segundo prende-se com as equipas que, merecidamente, tiveram a sua manutenção assegurada mas que optaram por não se inscrever por motivos totalmente alheios à prestação desportiva, caso do Ginásio Figueirense. 81
Por fim, temos, ainda, que destacar os clubes que optam por subir, mas que não conseguem criar condições nem planteis competitivos para sustentar o “risco” da promoção, exemplo disso são o Mondinense, Moura, Vila Cortez ou Águias de Vimioso. Ora, urge saber os motivos que levam a uma diferença tão profunda. Primeiramente, cabe evidenciar a supramencionada questão financeira, visto que a maioria do tecido empresarial e industrial se encontra (ainda) no litoral, acompanhado, inevitavelmente, por uma grande parte da população que ai se fixa, desde logo pelas maiores e melhores perspetivas de futuro. Quem não se recorda de clubes umbilicalmente ligados a empresas, como o CUF Barreiro e Riopele, ambos localizados em zonas fortemente industrializados. Por outro lado, temos a dificuldade de atrair os jogadores de qualidade dos grandes centros do país para o interior, uma vez que, compreensivelmente, preferem receber menos, mas ficar perto da família e amigos, do que receber mais e ter que ir viver para locais de baixa densidade, com menos acessibilidades e mais isolados. A isto acresce que a competitividade ao nível da formação também é significativamente mais reduzida do que no litoral, o que, consequentemente, se traduz na qualidade dos jogadores formados localmente que, embora igualmente capazes, revelam mais dificuldades em igualar o ritmo e exigência de equipas formadas no litoral, bem como afirmar-se
como uma opção válida e viável para a integração e composição das equipas seniores. Quanto às condições, com particular enfoque na distrital, não raras vezes vemos os campos completamente pelados o que dificulta, imensamente, a qualidade do futebol praticado. Só no meu distrito, em Vila Real, conseguimos identificar na AF diversos casos como o Salto ou Lordelo. Identicamente, a dificuldade de rejuvenescimento e modernização das próprias direções que estão, ano após ano, década após década, à frente dos clubes, fruto da falta de massa critica, interventiva e, sobretudo, de oposição, é mais um dos factores que levam ao atraso do futebol no interior. Por último, é certo que nas ligas profissionais cada vez mais a influência de investidores internacionais tende a ser um dos fator decisivo para o sucesso desportivo, sendo algumas vezes um factor de esbatimento das desigualdade. Exemplo disso é o representante primodivisionário que é atualmente detido por um investidor chinês cujo grupo também integra o Granada FC. Ainda assim, a assimetria litoral-interior não deixa de ter repercussão na própria atração destes investimentos. Na verdade, é muito mais fácil o FC Famalicão atrair investimento externo, dada a pujança industrial e económica do território que representa, do que um clube do interior lusitano marcado por um crónico envelhecimento populacional, fruto de um êxodo rural e migratório, assim como de
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insuficiente vias de comunicação, o que resulta de uma economia pouco competitiva. Apesar do que fica dito, existem ainda vários casos de sucesso de equipas do e no interior, cabendo destacar o Tondela e o GD Chaves como principais embaixadores, mas também o caso do Montalegre, Mirandela, Benfica de Castelo Branco ou, mais recentemente, o Castro Daire, que tem revelando espirito combativo, fazendo das “tripas coração” para conseguir não só estabilidade financeiro como, em última instância, alcançar o sucesso desportivo. Estes parcos recursos, exigem uma gestão exemplar com uma reduzida margem de erro. Como exemplo perentório desta eficiente gestão, temos o supramencionado caso do Castro Daire, que, na época transata, não só atingiu precocemente o objetivo da manutenção nos campeonatos nacionais como também se intrometeu na luta pelos lugares cimeiros. Esta época, fruto de uma longa serie de jogos, em casa sem conhecer o sabor da derrota estão perto de alcançar novamente o objetivo da manutenção. Todavia, exemplos similares são bastante raros. Na próxima época, mais uma vez, irá haver uma reformulação dos quadros competitivos. Anseio que, com a criação de uma Terceira Liga, a diferença significativa entre o litoral e o interior seja gradualmente esbatida, apesar de nestes votos não depositar grande convicção. Como forma de rematar este artigo e despin-
do a veste de terceiro independente, quero dar nota da minha experiência como adepto de um clube com sede no interior. Não obstante Vila Real ser capital de distrito e ser uma região com uma vitalidade diferente da maioria dos territórios vizinhos, é visível que muito do que já elenquei continua, também aqui, a ser uma realidade . Pois bem, ser adepto do Bila não é nada fácil, em parte pela falta de cultura de apoio ao clube local existente em Portugal, que se extrema ainda mais no interior. De facto, ser do Bila é algo raro... Ser dos três grandes, pelo contrário, é o normal, mesmo quando estes estão a (…) km de distância. Por outro lado, e devido à divisão das séries operada pelo modelo da latitude, jogamos regularmente com as equipas do Porto e Aveiro, o que nos dificulta imenso a tarefa de estabilização nos campeonatos nacionais, uma vez que, se por um lado no submundo da distrital, somos os crónicos candidatos ao título e à subida, nos campeonatos nacionais as coisas mudam de figura o que dificulta de forma incalculável a estabilidade desportiva. Apesar de todas as dificuldades, é com um enorme orgulho que vivo o meu clube, que o acompanho para onde quer que jogue e sinto ferverosamente as vitórias e conquistas conseguidas que têm sempre um sabor especial e único, como se todas fossem a primeira e, simultaneamente a última. Por João Matos Bessa
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