ÁFRICA ANGOLA
RICARDO DAVID LOPES, PRÉMIO
CRESCER VOTANDO
N
o próximo mês de Agosto, os angolanos vão às urnas, para escolher os deputados que os irão representar nos próximos cinco anos, e assim o Presidente da República, o líder do partido mais votado. Uma eleição é sempre importante e determinante – e mais ainda quando está em causa a escolha de um Chefe de Estado e de Governo. É através desse acto que os cidadãos de um país decidem a quem confiar o exercício do poder e da gestão dos destinos da Nação, mas a quem é igualmente delegada a defesa e garantia de usufruto dos seus direitos, por um determinado período. Nos países democráticos, com várias forças políticas, que têm diagnósticos do presente diferentes e visões distintas do futuro e dos caminhos a seguir para concretizá-lo, os actos eleitorais são sempre saudavelmente antecedidos, mesmo antes da campanha eleitoral, de debates acesos no espaço público, às vezes inflamados, opondo ideias e diagnósticos, objectivos e abordagens, métodos e escolhas. O debate pré-eleitoral em Angola está já lançado, como temos vindo a assistir, e vai, naturalmente, 106
“animando” à medida que se aproximar o “Dia D”, num exercício de democracia que todos os angolanos desejam e acarinham. Será também com base neste debate de ideias e de escolhas que os eleitores vão decidir quem os vai representar até às eleições gerais de 2027. Vale a pena, hoje, reflectir sobre o que mudou face ao cenário de 2017, no que diz respeito a factores que são importantes na forma como os eleitores são informados e envolvidos no debate político. Há, desde logo, mais participação da sociedade civil. A sociedade civil angolana está mais forte e organizada do que há cinco anos, com novos movimentos, causas e rostos nos ‘media’ e no debate público. Reflecte um reforço da maturidade social e democrática, contribuindo positivamente para o debate e esclarecimento públicos. Também a disputa política está mais acesa. Poucas vezes a arena política angolana esteve tão disputada como hoje, com os partidos da oposição reforçarem as suas críticas à governação e a procurarem formas de, em conjunto, poderem vir a ser uma alternativa de poder face à força política que tem sido escolhida pelos angolanos nas eleições anteriores.
A oposição está mais organizada, mais agressiva e ganhou espaço nos ‘media’, o que também permite aos eleitores perceber melhor que diferenças poderá trazer se vencer o escrutínio de Agosto. Isto, num contexto sócio-económico complexo. As eleições deste ano ocorrem num cenário delicado do ponto de vista económico e social. A pandemia de Covid-19 veio criar uma enorme pressão sobre as empresas e as famílias, mas também sobre as contas públicas. O desemprego tem aumentado, os sistemas de saúde e de suporte social enfrentam um enorme desafio, e a contestação nas ruas, naturalmente, vai crescendo, como um pouco por todo o mundo. Os angolanos são hoje mais exigentes e esperam mais de quem governa. Estão mais informados, mais integrados, mais maduros do ponto de vista da defesa da democracia, sabem o que querem e o que não querem. Estão mais atentos ao discurso dos políticos, mais envolvidos no debate necessário e imprescindível que se faz em democracia, com serenidade, verdade e respeito pelo próximo, mesmo que pense diferente, sem demagogias ou promessas vãs. Os dados estão lançados para uma pré-campanha e uma campanha históricas. l