ÁFRICA MOÇAMBIQUE
PEDRO CATIVELOS, DIRECTOR EXECUTIVO DA MEDIA4DEVELOPMENT
CRIAR UM CICLO QUEBRANDO O CICLO
D
izem-nos as notícias que estamos, todos, a entrar num novo ciclo. Foi necessário a pandemia acelerar como nunca para, porventura, acabar para sempre enquanto tal, tornando-se endémica no mundo como um todo, e também em Moçambique. Mas as cicatrizes, sejam elas económicas, sociais ou humanas permanecerão e, como não poderia deixar de ser, deixarão a sua marca. A este nível, o novo normal assemelha-se bastante com a mais antiga casualidade – a de quem tem mais, conseguir lidar melhor com as circunstâncias desafiantes, especialmente em épocas em que há menos – e o seu exacto inverso. Num ano de 2022 que será marcado por inflação, aumento dos combustíveis e de preços da logística (todos interligados e a compactuarem 108
entre si), há vencedores que lutam e lutadores que perdem. Quem detém, pertence ao primeiro grupo. Quem não tem, luta, e sem grande aventureirismo de prognóstico, deverá continuar a ter de lutar, mantendo-se na segunda, terceira ou quarta divisões económicas do planeta, onde estão aqueles que encaram o desafio da sobrevivência como apenas mais um grau da existência económica, até que chegue 2023, e o ano seguinte (e o seguinte e por aí fora, numa escada temporal degenerativa que nada tem de regenerativa). Quem tem mais degraus para subir, sabe, na dureza do dia-a-dia, a que distância vai o grupo da frente, mas não vê como lá
chegar. Costuma dizer-se que dar um passo atrás pode ser bom, para ganhar balanço para os dois seguintes para a frente, mas o que o mundo nos ensina, quando lemos as notícias, é que, como tantas vezes na vida, os passos que temos de dar não são todos iguais nem valem todos o mesmo. O que vale é que, na maioria dos chamados países em gerúndio desenvolvimento, que ocupam mais de três quartos do mundo, este atravessar