E N T R E V I S TA S
“A S E N H O R A T E M U M B O T E ( D G S ) O N D E AT E R R A M AV I Õ E S ! ”
NÃO SE REVÊ NA IDADE QUE TEM, COLECIONA ALFINETES DE PEITO (PREGADEIR AS) E GOSTOU DE SE V E R A D A N Ç A R C O M J O H N T R A V O LT A . G O U V E I A E M E L O É A L M I R A N T E , M A S G R A Ç A F R E I TA S C O M A N DA U M “ B O T E ” T R A N S F O R M A D O E M P O R T A - AV I Õ E S . É U M A F A L S A F R Á G I L E R I - S E A C A D A R E S P O S T A Q U E D Á . É A D I R E T O R A G E R A L D A S A Ú D E C O M O , TA LV E Z , N U N C A S E T E N H A D E I X A D O L E R . P E L A P R I M E I R A V E Z C O N F E S S A Q U E C H O R O U – NO CHUVEIRO, PORQUE É ONDE SE CHORA MELHOR.
De uma avó, encontramos sabedoria no olhar, generosidade no sorriso e proteção nos abraços. Sente que se tornou na “avozinha” de Portugal? Gosto e não gosto do que me perguntou. Quando a pandemia começou, tinha uma atitude próxima da minha família e dos amigos, mas não dos portugueses em geral. Vivia na retaguarda e aparecia de vez em quando. Por outro lado, também não tinha muito a noção do meu próprio envelhecimento. Nessa altura só me via mesmo avó das minhas netas (da parte do marido). Não me via no papel de avó, nem de avó de muita gente. Com a exposição da pandemia comecei a perceber que chegava a muito mais gente e que interagiam comigo. Comecei na altura, não por ser a avó, mas a Diretora Geral da Saúde e, talvez, a tia. Prefere ser chamada “tia”? No final das conferências de imprensa, amigos e até jornalistas, mandavam-me mensagens a dizer que os filhos, sobrinhos e primos 38
LUÍS CASTRO
achavam que a “tia Graça” era uma velhota simpática. A primeira vez que recebi uma ‘sms’ assim nem sei se fiquei contente ou aborrecida, pois tinha lá a palavra “velhota”. Depois fui percebendo. Ainda não me habituei muito a esse papel, pois obriga-me a ver num papel mais velho em que ainda não me sinto. Acho que não envelheci assim tanto durante a pandemia, mas, na verdade, quando vou ao mercado, em Alvalade, sinto que as pessoas me tratam assim, como uma avó, mas uma avó, que é a Diretora Geral da Saúde, que desempenha o seu papel profissional com competência e dedicação. Não a vemos como “avó” pela idade, mas pelo sorriso com que nos olha e pela serenidade com que nos fala… (ri-se) Se é assim, então gosto de me
ver nesse papel. Vou contar-lhe: eu saio pouco e quando vou ao mercado parece que vou à Austrália. E é engraçado o que me está a dizer, porque quando era abordada na rua, comecei por ser a “Diretora Geral”, depois passei a ser a “Dra. Graça Freitas” e neste momento sou a “Dra. Graça” – a minha aspiração é chegar a ser só a “Graça”. Tornei-me isso que está a dizer, alguém quase da casa e da família. Gosto de ser chamada assim, pois tem um significado. Dra. Graça… (rimo-nos os dois) Estamos a caminho do Luís me tratar só por Graça. (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)