Atualidade Cosmética 165

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Ano: 27/2019 • R$ 40,00

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PERSPECTIVAS PARA A BELEZA

O que as consultorias apontam (e apostam) que vai ser tendência regulatório:

os dados e o risco

Em um mundo movido na base dos dados, o setor precisa atentarse para a LGPD

uma entrevista com Renato Porto, diretor da ANVISA




08.

36.

Painel

NEGÓCIOS ESTRATÉGIA

A New Avon tem um novo dono, a Sephora Brasil uma nova presidente, a Basf investe no mercado de cáspulas e a Dr. Jones no de assinaturas.

A Vertix, marca profissional da Belliz, entra no mercado de elétricos.

10.

37.

Os fornecedores premiados por Natura e Grupo Boticário em suas respectivas premiações.

Num mundo em que os dados pessoais são usados em quase todos os processos, é preciso estar atento à LGPD, a legislação brasileira de proteção de dados pessoais.

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eventos reconhecimento

tecnologia legislação

14.

40.

mercado perspectivas

regulatório entrevista

Algumas das principais consultorias de tendências e de mercado compartilham suas expectativas para este ano.

Renato Porto, diretor da ANVISA fala do momento da Agência e da sua relação com a indústria de beleza.

24.

44.

categoria coloração

sustentabilidade microesferas

As mulheres querem cor. E, ao mesmo tempo, querem parecer natural.

Tida como uma nova vilã, as microesferas plásticas estão sendo banidas das formulações cosméticas no Brasil.

34.

48.

canal distribuição seletiva

clássicos da perfumaria devos, l’bel

Duas décadas de sofrimento e a distribuição seletiva continuou viva no Brasil. Será que agora ela conseguirá algum destaque?

Um dos grandes sucessos da gigante peruana.

editorial _____________ 06 express ______________ 28

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EDITORIAL

A indústria avança na viabilização do cosmético personalizado

J

á faz algum tempo que as consultorias de tendências de mercado batem na tecla da personalização dos produtos de beleza, fruto da busca de consumidores cada vez mais personalistas (na prática, algo cada vez mais em voga, em que pese todos os discursos em prol do coletivo e do pensar no próximo), por itens que sejam concebidos para ele, para atender as suas necessidades, do seu jeito e que falem diretamente a ele. O grande desafio para que as indústrias conseguissem dar vazão a essa tendência sempre foi o de em como entregar um produto individualizado – ou que seja percebido como tal pelo consumidor – dentro de uma lógica que as permitissem viabilizar um nível de escalabilidade que fizesse sentido do ponto de vista econômico e operacional? Afinal, uma indústria cosmética não é uma farmácia uma manipulação. A evolução recente e veloz na tecnologia de manufatura, com processos cada vez mais flexíveis, digitalizados e rápidos é um aspecto importante na resposta para essa equação dentro das fábricas. Parte da resposta pode vir, também, da experiência de outros mercados, que de certa forma, já estão tendo a sua aplicação e viabilidade testadas por atores do mercado de beleza. Uma dessas soluções vem do mercado de tintas, no qual, já a algum tempo, é possível produzir a cor desejada na hora, a partir da combinação de pigmentos em uma base pronta misturados num equipamento que hoje é facilmente encontrável em lojas de tinta ou material de construção. A solução permitiu ampliar a oferta disponível ao catálogo completo, dando ao consumidor o poder de escolher na hora a sua cor favorita,

sem precisar ficar correndo de loja em loja, ou tendo que esperar que o seu pedido fosse produzido e entregue, dias, ou até, semanas depois. É mais ou menos com essa lógica que uma marca francesa de luxo tem oferecido às consumidoras bases personalizadas, que ficam prontas em poucas horas. A marca ainda não deu capilaridade a oferta desses produtos. Mas, com a velocidade que essas tecnologias podem ser difundidas, é bem provável que a solução, muito em breve, alcance um bom equilíbrio entre custo, complexidade operacional e preço ao consumidor, tornando-a uma solução plausível de personalização em larga escala. Outro exemplo é o de equipamentos caseiros, que permitem preparar cosméticos em casa por meio de uma máquina equivalente as que preparam cafés em cápsulas, criando um sem número de combinações possíveis para que o consumidor prepare em casa, de forma prática e pretensamente segura, o seu shampoo ou creme de tratamento com os ativos e a fragrância que melhor lhe convir naquele momento. As máquinas de cafés em cápsulas, hoje bastante difundidas em mercados mais desenvolvidos, Brasil incluso, criou um mercado novo e mudou a forma como boa parte da população se relaciona com o hábito de tomar café. Podemos ver o mesmo com o mercado de beleza? Não é possível afirmar ainda, mas saber que teremos condições de testar, na prática, o quanto os consumidores desejam escolher um produto “feito exclusivamente para ele”, é algo bastante empolgante.

Boa leitura!

editor-assistente: RAFAEL mendonça (rafael@cusmaneditora.com.br) Gerente da marca: Jenifer vieira (jenifervieira@cusmaneditora.com.br)

fundador: José Luiz de Paula Jr. editor e Publisher: Aûani Cusma de Paula

executivos de vendas: Wanessa de Souza (wanessa@ cusmaneditora.com.br)

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Administração e Redação Rua aNTONIO TAVARES, 59 Cambuci CEP 01542-010 SP – Brasil

Daryus felisbino (daryus@cusmaneditora.com.br)

Para anunciar, ligue: (11) 3392-2584

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painel

Achando novos canais

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ar da Dr. Jones. Embora pouco explorado por aqui, o negócio de assinaturas foi visto como uma séria ameaça ao domínio da centenária Gillette, hoje uma marca da P&G. Isso levou a arquirrival Unilever a adquirir o Dollar Shave Club, serviço pioneiro de assinatura de lâminas nos Estados Unidos, que alcançou vendas de US$ 150 milhões em 2015 e que foi vendido, em 2016, por US$ 1 bilhão. A própria Gillette, respondendo ao movimento, estabeleceu também um serviço próprio de assinaturas.

pós inaugurar um formato de quiosque, para expansão vias franquias, a marca Dr. Jones, especializada em produtos masculinos, abriu uma nova frente para acessar diretamente aos consumidores. A empresa fechou a aquisição do Home Shave Club, o primeiro clube de assinaturas de lâminas de barbear no Brasil, estabelecido em meados de 2014. Com a operação, os assinantes do clube poderão receber os itens de barbe-

Nova tentativa

A

s operações nos Estados Unidos, onde a empresa foi criada 12x anos atrás, representaram por muito tempo, o calcanhar de áquiles da Avon. Em larga medida, a recente derrocada da empresa tem muito a ver com os problemas do negócio na América do Norte e com as inúmeras tentativas de resgatá-lo, levando a muitas decisões de impacto global pensadas sob a perspectiva de resolver o problema no seu mercado original, o que muitas vezes resultou em estratégias erráticas para muitos dos seus melhores mercados, Brasil à frente. Agora, dois anos após ter sido segregadas da operação global, a Avon nos Estados Unidos e Canadá, chamada de New Avon LLC, tem um novo dono: a coreana L&G Household & Healthcare. A New Avon era controlada pelo fundo de investimentos Cerberus. A Avon manteve uma participação de cerca de 20% no negócio, que, agora será comprada também pela LG. A transação não terá impacto nas atuais operações ou estratégias da Avon e não está relacionada à venda anteriormente anunciada pela empresa de sua operação fabril em Guangzhou, na China, para a própria LG, que passou a atuar como um terceirista para a empresa de venda direta. Antes disso, em abril de 2018, a LG já havia adquirido a operação japonesa da Avon. Em negociações paralelas e que seguem em andamento, a Natura, segue conversando sobre eventuais possibilidade de negócios com a Avon. Em um primeiro comunicado ao mercado, a empresa brasileira disse que estava em conversações tanto com a Avon quanto com a New Avon LLC. “Acreditamos que essa transação é uma prova da crença da LG na força da marca e do modelo de negócios da Avon. Estamos ansiosos para ver o progresso que a Avon North America fará como parte da LG H & H”, disse Jan Zijderveld, CEO da Avon.

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convenção dA NEW AVON LLC EM PORTO RICO: de agora em diante, caberá aos coreanos a missão de resgatar a empresa nos Estados Unidos.

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Mudança na perfumaria

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ede de perfumarias da LVMH, a Sephora está mudando o comando da sua operação no Brasil. A partir de maio, Andrea Orcioli (foto) será a CEO da varejista em substituição a Flavia Bittencourt, que estava na companhia desde 2013 e acumulava a liderança da Sephora na América Latina. A executiva vai assumir a liderança da Adidas no País. Desde 2014, Andrea é a vice-presidente de Marketing e Merchandising da Sephora na América Latina. A executiva soma 21 anos de experiência no marketing de companhias como Unilever e Avon, onde foi responsável pela di-

retoria de Marketing de Maquiagem para a América Latina. “É um desafio e tanto que assumo agora com a missão de continuar contribuindo com o crescimento da rede no país, atraindo novos clientes e marcas desejadas. Estou muito feliz com este convite e confiante com essa nova fase”, comenta Andrea Orcioli. A Sephora conta com 23 lojas e 15 pop-up stores em 11 estados brasileiros, além do e-commerce.

Uma Nespresso para a pele cuidados pessoais personalizados escolhendo cápsulas, colocando-as na máquina e recebendo o produto final – por exemplo, para os cabelos, proteção solar ou cuidados com a pele. De acordo com a empresa, a máquina permanece perfeitamente limpa para atender aos padrões mais rígidos de higiene com o mínimo esforço. As cápsulas foram projetadas para serem de material único e reciclável. O negócio chamou a atenção da alemã BASF, maior empresa de ativos e ingredientes cosméticos do mundo, que fez um investimento para ficar com parte da companhia, além de estabelecer uma parceria para a venda das suas próprias soluções cosméticas. “Esta cooperação vai nos permitir estabelecer e comercializar a tecnologia e o dispositivo”, afirma Grégoire Tutenuit, CEO da B2B Cosmetics. De acordo com Renata Oki, gerente de Personal Care da BASF na América do Sul, máquina, em princípio, a ideia da BASF é vender o sistema inteiro: a máquina e as cápsulas, além de desenvolver a formulação. “Uma das grandes tendências do mercado é, justamente, fazer cosméticos personalizados, customizados. E essa máquina ajuda a entegar isso”, diz a executiva. A ideia é que o produto seja lançado em vários mercados internacionais, de forma faseada, a partir deste ano. As limitações regulatórias variam em cada país, por isso a BASF está trabalhando individualmente para gerenciar estas questões em cada mercado e viabilizar a solução. A B2B Cosmetics recebeu o “Prêmio Inovação” na feira de exposição Consumers Electronics Show (CES) realizada recentemente em Las Vegas, EUA, pela sua tecnologia Emuage pelo segundo ano consecutivo.

A

s máquinas de café em cápsulas representaram uma novidade disruptiva no mercado, criando um mercado completamente novo e mudando a forma como as marcas de café se posicionam e distribuem os seus produtos em todo o mundo. Ainda hoje, outros segmentos do próprio mercado de bebidas tentam, sem sucesso, emular o formato. Agora, a indústria de beleza, cada vez mais às voltas com uma busca por individualização, é quem tenta estabelecer um negócio de “cápsulas” consistente. Uma empresa avançada nesse processo é a A B2B Cosmetics, fundada no final de 2014 por dois engenheiros químicos, Julien Gros e Grégoire Tutenuit. A empresa desenvolveu a tecnologia Emuage, que permite aos usuários criarem seus próprios produtos de

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evento Premiações

Parceiros em destaque as duas principais empresas brasileiras de cosméticos reali-zaram suas tradicionais premiações de parceiros, reconhecendo dezenas de fornecedores da cadeia de valor do mercado >>> da redação

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o último dia 4 de abril, seu aniversário de 15 anos, o Qlicar premiou 23 parceiros em diversas áreas da atuação entre 179 empresas participantes do programa de qualificação de fornecedores da Natura em diversas áreas de atuação, como marca, inovação e sustentabilidade. No ano em que a Natura completa 50 anos, os fornecedores foram reconhecidos também pelo tempo de relação com a empresa, com destaque para as casas de fragrância IFF, Firmenich e Givaudan e a fabricante de embalagens Wheaton, que comemoram 50 anos de parceria com a empresa. Outro importante reconhecimento foi concedido à Patrus Transportes, que além de receber o prêmio como melhor Transportadora, foi premiada também na categoria transversal Destaque Socioambiental. A Patrus foi a primeira transportadora do mundo a receber o selo B Corp, uma rede global de empresas, da qual a Natura também faz parte, que associam crescimento econômico à promoção do bem-estar social e ambiental. “Temos tanto a agradecer nesses 50 anos de Natura e 15 anos do Qlicar, nosso programa de relacionamento e desenvolvimento de parceiros fornecedores”, comenta Josie Peressinoto Romero, vice-presidente de operações e logística da Natura. “No ano que completamos meio século de história, lembramos de todos aqueles que nos ajudaram a construir essa rede de afeto e empreendedorismo. São histórias incríveis de superação e desenvolvimento que se entrelaçam à nossa e nos fazem acreditar que estamos em boa companhia”, finaliza. Poucos dias antes, em 21 de março, o Grupo Boticário realizou em Curitiba, a 22º edição do seu tradicional prêmio de fornecedores, agora rebatizado de Encontro de Parceiros do Grupo Boticário. Ao todo, foram 53 fornecedores premiados pelo grupo em diferentes áreas de negócios e prestação de serviços.

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fornecedores do grupo boticário premiados: 22 anos de trabalho de reconhecimento e desenvolvimento dos parceiros.

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Josie romero, da natura e marcelo patrus, da patrus transportes: duplo destaque para a transportadora mineira.

Vencedores do qlicar 2018:

joão paulo ferreira, ceo da natura: empresa comemora 50 anos e 15 edições do Qlicar.

Experiências e BTL: SS EVENTOS Criação: INOBI

qlicar produtivos

qlicar tecnologia digital

(fornecedores de insumos e produtos acabados) Fragrância: IFF Matéria-prima: CRODA Embalagem: CARTONDRUCK Produto acabado: FABER-CASTELL Terceiristas América Latina: JUST Qualidade assegurada: NATIVE Atendimento à superação de fornecimento: IFF

(fornecedores de produtos e serviços digitais) Serviços: COMPASSO Produtos: SAP

qlicar facilities (prestadores de serviços) Prestador de Serviço: ORION qlicar corporativo (ações sociais e/ou ambientais dos

qlicar bio

fornecedores) Destaque Socioambiental: PATRUS

(comunidades fornecedoras de insumos da biodiversidade) Melhora performance: ATAIC Maior evolução: D’IRITUA

Vencedores do 22º Encontro de Parceiros do Grupo Boticário:

qlicar do ciclo (fornecedores de logística) Transportadora: PATRUS Operador logístico: FEDEX Transportadora Abastecimento: COOPERCARGA

DIAMANTE: Firmenich OURO: IFF, Evonik, Silgan, Symrise, Faber Castell, Schwan Cosmetics,

qlicar inovação (parceiros de pesquisa e desenvolvimento)

Rigesa, Leclair, Patrus Transportes

Parceiro de tecnologia: AMSILK Parceiro de produto: ALBÉA Performance cosmética: NARCISSUS

PRATA: Wheaton, Givaudan, Mane, Box Print, Dow, Basf, Antilhas,

qlicar da marca

BRONZE: Globalpack, Bristol, Grupo Pochet, Albéa do Brasil, Kingraf,

Igaratiba, Cosmotec, Grupo Aptar

(fornecedores que contribuem para a construção da marca Natura) Pesquisa: KANTAR Propaganda: AFRICA

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Weener Brasil, Impacta

DESTAQUE SUSTENTABILIDADE: Patrus Transportes

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Da fábrica ao ponto de venda.

B2B

Seja qual for a rota, a Patrus Transportes é a solução certa na entrega de cargas fracionadas.


Do centro de distribuição até a sua casa.

B2C A Patrus Transportes é destaque em distribuição para o setor de cosméticos e oferece a maior cobertura e a melhor tecnologia em transporte com 75 unidades em todo o Sul, Sudeste, Bahia, Sergipe e Ceará. É esse compromisso e a qualidade no atendimento que fizeram nossa www.patrus.com.br parceria com o Grupo Boticário um caminho de sucesso. São dez anos de trabalho conjunto, mas com muita estrada ainda pela frente.


mercado Perspectivas

Ageless é o novo genderless É estatístico: viveremos mais anos e melhor. E os discursos pró-juventude eterna ou de combate ao envelhecimento prometem dar lugar a desejos mais realistas e amigáveis com a passagem do tempo >>> Por Iza Dezon e Vânia Goy

E

m 2050, uma em cada seis pessoas do mundo terá mais do que 60 anos. De acordo com Serge Guérin, sociólogo e um dos autores do livro La Silver Économie, 60 Acteurs de L’Économie des 60+ (A Economia Prateada: 60 atores da economia dos 60+, em tradução livre, não publicado no Brasil), o fato nos leva a imaginar uma sociedade mais preocupada em discutir longevidade do que combater o envelhecimento. E poucas expressões se relacionam mais com o mercado de beleza do que envelhecimento: ou melhor, anti-envelhecimento, anti-aging, em inglês. Ainda segundo o sociólogo francês, a chave para a mudança do discurso que fala de idade é justamente encarar o passar dos anos com olhar positivo, valorizando a qualidade de vida, a felicidade e o conforto, na tentativa de reduzir o onipresente discurso que relaciona envelhecimento apenas com a decadência física e vulnerabilidade. Abaixo, listamos iniciativas inspiradoras e já alinhadas com essa vontade

de vivermos uma era mais democrática, menos conectada à tensão geracional e seus valores unicamente físicos.

A era sem-idade Investir em imagens que enaltecem a beleza real, a diversidade de corpos e gênero virou a regra do jogo nos discursos atuais das marcas de moda e beleza. Agora é a vez do pensamento sem idade definida. Segundo um estudo conduzido pelo site The Fashion Spot, as campanhas de moda do inverno 2017 tiveram sete vezes mais modelos acima de 50 anos do que na estação anterior. Ótimos exemplos: Lauren Hutton, que atravessou a passarela de verão 2017 da italiana Bottega Veneta e, em seguida, foi uma das estrelas da campanha da Calvin Klein Underwear -- o casting tinha celebridades dos 18 aos 73 anos. Nesta temporada, Grace Jones, cantora e ícone dos 80’s, foi destaque, aos 70 anos, da pista disco armada por Tommy Hilfiger para apresentar sua colaboração com a cantora Zendaya, na semana de moda de Paris. O desfile ainda contava com modelos emblemáticas como Be-

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verly Johnson, 66, Pat Cleveland, 68, e Veronica Webb, 54. Ainda mais realista é a proposta da Lonely, marca de lingerie australiana que ficou conhecida pelas campanhas que falam da diversidade de corpos. Uma delas tinha como protagonista a modelo Mercy Brewer, de 57 anos. Helen Morris, fundadora da grife, afirma ter a intenção de “desafiar o que vemos na mídia com uma imagem mais autêntica da beleza, para que possamos ampliar o vocabulário visual de todos”*. E completa: “A realidade é que vamos todos envelhecer e há vários aspectos maravilhosos neste processo. Infelizmente, na maioria das vezes, a mensagem ao redor do conceito da idade é intervenção, o que é uma resposta muito frustrante para um processo natural e inevitável.”*

Reescrevendo as regras As mensagens enviadas pela mídia também enfatizam a necessidade de mudança da mentalidade coletiva. Nesse contexto nasce a Renaissance, revista direcionada para mulheres acima dos 40, questionadoras dos estere-


ótipos da idade. “Tememos o futuro, escondemos os anos e lutamos contra as nossas rugas. Eu queria uma plataforma que mostrasse que este momento de vida – nossa meia-idade – é uma oportunidade de crescimento, descoberta e liberdade para viver a vida que escolhermos”**, diz Mikella Lowe, editora da publicação. Em 2017, a Allure, publicação de beleza mais importante do mundo, escolheu a icônica atriz inglesa Helen Mirren como a estrela da capa de setembro, a mais importante do ano entre as revistas femininas e de moda. Nessa edição, bania o termo “anti-aging” das suas páginas para sempre. Em seu manifesto, evocava a celebração da aceitação da nossa própria pele – com rugas e tudo. Segundo a editora chefe da revista Michelle Lee, “ninguém está sugerindo que abandonemos o retinol, mas uma mudança sobre como pensamos e falamos do processo de envelhecimento.”***

Pró-idade em vez de anti-idade Mais do que uma tendência, pensar em todas as gerações vivas é um compromisso inegociável para moldar um futuro próspero e mais justo. Times de pesquisa e desenvolvimento já trabalham na oportunidade de desenvolver produtos e serviços que celebram a idade avançada e ajudam idosos a viver um cotidiano com mais autonomia, em ambientes cuidadosos e benevolentes, pensados para ampliar o bem-estar físico, mental e espiritual. Enraizada na tendência de encarar o passar dos anos como algo natural e não como uma patologia, a exposição Aging Pride (Orgulho de Envelhecer, em tradução livre), exibida no Beveldere Museum, em Viena, na Áustria, tinha a intenção de desconstruir estigmas relacionados ao envelhecimento. Uma das obras, chamada The Last Droplets of the Day (As Últimas Gotículas do Dia, em tradução livre), assinada pela pintora

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americana Aleah Chapin (e exposta acima), celebra um corpo nu e maduro, ressaltando o fato que não há idade para florescer e se sentir radiante. Que os produtos e imagens do futuro consigam reproduzir este estado de espírito livre: enaltecendo a essência, sabedoria e a singularidade criativa em vez da idade biológica ou aparência física. Iza Dezon, especialista em tendências, trabalha com a PeclersParis, desde 2011 e, em setembro de 2018, fundou a Dezon Consultoria Estratégica, representante oficial da PeclersParis no Brasil. Vânia Goy, fundadora do belezinha.com.vc, é jornalista e escreve há 10 anos sobre beleza e bem-estar. É parceira da Peclers Paris no Brasil para discutir temas ligados ao assunto. Fontes: * http://www.bandt.com.au/ marketing/fifty-six-year-old-model-facelingerie-brand / ** https://www.lsnglobal. com/news/article/21093/the-beauty-of-age / *** https://www.allure.com/story/alluremagazine-phasing-out-the-word-anti-aging


mercado Perspectivas

Beleza e tecnologia

As tendências e exemplos tecnológicos que já movem e podem mexer com o mercado de beleza >>> Por Juliana Martins

O

mundo está em acelerada evolução tecnológica. E o segmento de beleza tem acompanhado esse avanço tanto com produtos que utilizam novas e diferentes tecnologias (por exemplo, com texturas que se transformam durante o uso do produto), quanto com lojas no varejo físico e online que proporcionam maneiras de interação entre consumidores e produtos. Dispositivos de realidade virtual, de realidade aumentada, espelhos virtuais e personalização de produtos são alguns exemplos do que já existe hoje em dia. Porém, no Brasil o varejo de beleza ainda realiza ações simples para atrair os consumidores às suas lojas, se compararmos com o varejo de países como Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.

realidade virtual e realidade aumentada Aplicativos de smartphones e tablets que usam a tecnologia de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) estão se tornando essenciais para criar experiências de consumo inesquecíveis. Eles eliminam barreiras de consumo, como o acesso a lojas, além de ajudar os consumidores a testar os produtos que mais combinam com seu tipo de pele antes da compra final. Diversos aplicativos para smartphones permitem, hoje, que clientes testem diversas maquiagens e esmaltes de acordo com seus gostos e preferências: YouCam Makeup, MakeUp Genius,

Nailsnaps, entre outros. A Shiseido, por exemplo, criou em parceria com a Microsoft o TeleBeauty App, um aplicativo de realidade aumentada para que mulheres possam fazer vídeo conferências e escolher a maquiagem (virtual) que desejarem, não importa a hora ou a ocasião. A ideia é evitar ter que se maquiar rapidamente para uma chamada de vídeo profissional, por exemplo. Mas esses aplicativos estão fazendo com que o varejo de produtos cosméticos tenha que se adaptar a essa nova realidade. Este fato é importante, já que o relatório da Mintel Varejo de Beleza de novembro de 2018* revelou que 29% dos brasileiros estão interessados em tecnologias no varejo para poder testar maquiagens, assistir a tutoriais, etc. A Lynx, da Irlanda, abriu uma pop-up de barbearia em julho de 2017 que usava a tecnologia de realidade aumentada para ajudar seus clientes a achar o visual perfeito. Através de um “espelho mágico”, eles podiam testar virtualmente seis penteados diferentes, que podiam ser visualizados de vários ângulos. Esse tipo de experiência pode agregar valor à marca, pois fica na memória do consumidor, mais do que uma simples compra. A marca sul-coreana Innisfree realizou, na abertura da sua loja na Disneylândia de Shangai, um evento para mostrar de onde vinham os ingredientes de seus produtos. Com bicicletas dentro da loja, as consumidoras colocavam óculos de realidade virtual do Google e tinham a oportunidade de “voar pedalando” às ilhas de

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Jeju, na Coreia do Sul, onde podiam coletar os ingredientes naturais presentes nos cosméticos, como noz-moscada, flores de canola e folhas de chá verde.

Espaços “instagramáveis” Falando sobre produtos e varejo físico, hoje tudo o que é consumido e comprado precisa ser registrado. Restaurantes e marcas de alimentos e bebidas já perceberam isso, desenvolvendo pratos e produtos que sejam “instagrammables” (“instagramáveis”, ou seja, atraentes para serem postados nas redes sociais como Instagram). As marcas de beleza também têm desenvolvido produtos que oferecem mais interação com seus clientes, como produtos para misturar, embalagens originais ou frases provocativas. Portanto, o varejo de beleza precisará ficar atento a essa tendência, criando espaços “instagramáveis” para atrair os consumidores a ir, tirar fotos e compartilhar suas experiências nas redes sociais, chamando a atenção de outras pessoas para visitarem o ponto de venda. Em Londres, a loja da Charlotte Tilbury, uma das maquiadoras mais famosas mundialmente, oferece um espaço onde a consumidora senta, testa várias maquiagens em realidade virtual e, com a ajuda de um espelho e de iluminação, tira foto do look escolhido e dali mesmo já pode compartilhá-lo nas redes sociais.

Personalização de produtos Outro ponto importante das novas tecnologias no varejo tanto físico quanto


apresentação do telebeauty app: novos aplicativos estão revolucionando a maneira como indústria, varejo e consumidoras se relacionam.

online é a possibilidade de personalização de produtos. O relatório da Mintel Varejo de Beleza de novembro de 2018 revelou que 21% dos brasileiros têm interesse na possibilidade de personalização nos canais de venda para desenvolver produtos especificamente para eles. Dentre esses brasileiros, 23% são mulheres e 19% são homens. Diversos aplicativos e sites já oferecem aos consumidores serviço de personalização de produtos, baseados em um quizz sobre cada indivíduo, principalmente as marcas de produtos capilares. É o caso da Function of Beauty, Shtrands, Cloud10Hair entre várias outras. A Madison Reed, por exemplo, ajuda o consumidor a encontrar a melhor tonalidade para seu cabelo. Porém, o varejo físico também tem oportunidades de atrair os consumidores com esse tipo de serviço. Por exemplo, a Schwarzkopf Professional apostou na tendência e lançou um dispositivo chamado SalonLab. Através dele, o cabelo do cliente é escaneado com sensores de luz visível e o consultor capilar pode verificar a saúde dos fios, seu nível de hidratação e a coloração natural do cabelo. As informações depois são enviadas para um aplicativo de smartphone ou tablet do consultor capilar. Além disso, o cliente pode ver como seu cabelo ficaria com diferentes cores ou estilos

através de um vídeo em 3D. Após essa experiência, uma máquina dentro do salão de beleza faz na hora a mistura personalizada e ideal para aquele cabelo, de acordo com as suas necessidades. Em junho de 2018, a YSL Beauté realizou um evento em Hong Kong em parceria com o aplicativo de bate-papo WeChat. Usando tecnologia de reconhecimento facial, as marcas ofereceram uma viagem de compras personalizada na pop-up store da marca francesa “Mon Paris Couture” em Hong Kong. Os clientes puderam criar perfumes personalizados usando seu próprio “Mon Paris ID”, para o qual podiam enviar suas fotos antes e durante o evento. Além disso, também puderam gravar seus nomes em seus frascos de perfume. Na categoria de maquiagem, há alguns exemplos de pop-up stores que permitem que os clientes criem seus próprios batons na loja. Alguns exemplos são a marca sul-coreana Laneige, que abriu em outubro de 2016 em Seoul um pop-up lab onde as consumidoras podiam criar batons customizados, e a marca de Londres AiNSEL. Em maio de 2018, ela abriu o Lip Lab pop-up shop, com a mesma proposta da Laneige. Os clientes podiam escolher entre 17 tonalidades de batons e vê-los sendo feitos em menos de 15 minutos. Essas experiências em

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espaços físicos oferecem praticidade aos clientes e evitam o desperdício de produtos, já que o consumidor pode obter exatamente o produto que quer. Locais como aeroportos e shoppings centers, com alta frequência de consumidores, são espaços a explorar para a instalação de quiosques ou pop-up stores que ofereçam produtos personalizados aos clientes.

Pagamentos por meio de dispositivos móveis Ainda no varejo físico, o mesmo relatório mostrou que 37% dos brasileiros têm interesse em aplicativos que permitam realizar o pagamento de compras feitas na loja através de um smartphone/tablet (por exemplo, Apple Pay, Samsung Pay). Os homens são mais propensos do que as mulheres a concordar com isso: eles representam 42%, em comparação a 32% das mulheres. Usar esses novos meios de pagamento em lojas que oferecem produtos para homens pode facilitar a compra pelo público masculino, que geralmente busca praticidade e conveniência em suas compras. Juliana Martins, especialista Sênior de Beleza e Cuidados Pessoais da Mintel Fonte: *Pesquisa realizada online com 1.500 consumidores brasileiros com 16 anos ou mais


mercado Perspectivas bases personalizadas da lancôme: consumo cada vez mais individualizado.

O futuro da beleza e da tecnologia Marcas de beleza estão adotando a tecnologia mais do que nunca em uma oferta para oferecer maior customização e personalização aos consumidores. A agência global de previsão de tendências BEAUTYSTREAMS compartilha insights sobre esse desenvolvimento empolgante >>> Por Fernanda Pigatto

B

eleza e tecnologia podem parecer mundos separados, mas ambas se baseiam em constantes inovações e mudanças. “O em-

parelhamento dos dois mundos é um jogo natural”, diz Lan Vu, fundador e CEO da BEAUTYSTREAMS, a renomada agência global de previsão de tendências de beleza. “A tecnologia apresenta infinitas possibilidades criativas para aplicação no mundo

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da beleza, enquanto a indústria da beleza, setor baseado em sentimentos e pessoas, traz um toque de humanismo para a indústria de tecnologia”, complementa. Como visionária com quase 30 anos de experiência ajudando as


marcas em todo o mundo a antecipar tendências futuras, Vu acredita que a tecnologia desempenhará um papel central na evolução e na sobrevivência das principais marcas de beleza. “A tecnologia ajudará as principais marcas de beleza a atualizar e se reinventar constantemente de diagnósticos precisos, formulações personalizadas, gestos inovadores e embalagens inteligentes a novos e emocionantes displays integrados, design de varejo e canais de marketing”, observa Vu, cuja empresa oferece uma fonte de informações B2B para previsões de beleza, análises de tendências e insights de consumidores para as principais marcas de beleza em seis continentes para clientes, como: Chanel, Dior, Estée Lauder, L’Oréal, Procter & Gamble, Boots, Samsung, Philips e Unilever. Ao mesmo tempo, marcas de beleza independentes estão proliferando e prosperando graças à agilidade e velocidade de mercado de rápida mudança dos marketplaces, bem como à reduzida barreira à entrada na Internet. O comportamento do consumidor também evoluiu dramaticamente nos últimos dez anos. Vu aponta que a tecnologia via mídia social democratizou a imprensa e colocou o poder nas mãos do consumidor individual. Isso é composto por muitos millennials que preferem pequenas marcas independentes que são diferenciadas e têm uma presença autêntica em comparação com grandes multinacionais. A facilidade e a conveniência das compras on-line também estão forçando os varejistas a oferecer um atrativo adicional aos consumidores além da própria compra. “Comprar tem que se tornar uma experiência divertida e envolvente que abrange todos os sentidos para criar memórias e visuais instigáveis. Os aspectos táteis e físicos das lojas de ‘tijolo e argamassa’ podem ser misturados com a nova tecnologia para criar experiências incomuns que envolvam os compradores e continuem atraindo-os de volta”, aposta Vu. A inovação tecnológica nas principais marcas de beleza é liderada pela

demanda do consumidor, ou as marcas estão forjando o caminho a seguir com a inovação? “Acho que hoje em dia são os dois”, avalia Fernanda Pigatto, diretora de Marketing internacional da BEAUTYSTREAMS, sediada no Brasil. “Trabalhamos com muitas marcas líderes e elas são muito atentas às necessidades e estilos de vida de seus consumidores. No entanto, os profissionais de marketing estão cientes de que às vezes os consumidores não sabem o que querem até vê-los, por isso, as marcas trabalham com agências como a nossa para prever necessidades futuras e criar ofertas exclusivas de produtos. Desta forma, eles definem e moldam a tendência, empacotando-a em uma marca ou história empolgante e atraente para os consumidores”, emenda. Vu aponta a AI (inteligência artificial) como sendo a área mais excitante do desenvolvimento tecnológi-

zir produtos de beleza em casa diariamente, dosados e ajustados de acordo com nossas necessidades diárias com base na análise da pele”, vislumbra Vu. “Empresas como a L’Oréal estão agora cultivando pele humana em laboratórios baseados em células vivas de doadores humanos. Isso não apenas ajudará a reduzir os testes em animais, mas também abrirá novas possibilidades, como as operações de substituição da pele para a pele jovem e fresca, para substituir apenas partes do rosto, conforme necessário”, exemplifica ela. Esta é, obviamente, uma tendência de longo alcance. No curto prazo, novos avanços em embalagens inteligentes atingirão o mainstream. A embalagem indicará frescor do produto, adulteração, informações sobre o item (por exemplo, ingredientes, a história do produto e como usá-lo),

No futuro, a AI poderia embelezar o tom da nossa pele, criar tratamentos de saúde e beleza baseados em exames diários da nossa pele e urina e controlar robôs que realizam cirurgias plásticas co atual. “Estamos apenas no início desta área. No futuro, a AI poderia alimentar todo o nosso regime pessoal de saúde e beleza, desde controlar a iluminação e a temperatura da casa, embelezar o tom da nossa pele, criar tratamentos de saúde e beleza baseados em exames diários da nossa pele e urina e controlar robôs que realizam cirurgias plásticas”, diz ela. A personalização é uma palavra de ordem importante na indústria da beleza. Medicamente, diagnósticos precisos podem permitir tratamentos direcionados e não invasivos para as condições da pele. A coleta de dados pode ajudar a analisar e prever futuros problemas de pele, bem como propor os produtos preventivos mais eficazes. “Algumas empresas já estão fazendo linhas de cuidados com a pele baseadas em DNA. No futuro, a personalização nos permitirá produ-

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além de oferecer a possibilidade de conexão com outros compradores. A tecnologia tem o potencial de levar a embalagem a uma nova dimensão. Além dessas tecnologias revolucionárias, a definição e a percepção da beleza também estão sendo impactadas pelo advento da tecnologia. “Na Coreia, existe um ideal de beleza muito específico, e a tecnologia serve para aproximar as pessoas desse ideal através de produtos para a pele e cirurgia. O resultado é uma aparência de beleza muito homogênea. Por outro lado, nos Estados Unidos há um aumento da beleza multirracial, onde a beleza e a tecnologia permitem que as pessoas acentuem suas características distintivas para que se destaquem”, finaliza Vu. Fernanda Pigatto, diretora de Marketing Internacional da BEAUTYSTREAMS


mercado Perspectivas

Um olhar sobre o varejo O desempenho do varejo dentro do mercado de beleza e o que esperar do canal em 2019 >>> Por Victor Camillo Palandi

D

epois de dois anos seguidos de retração no PIB brasileiro em 2015 e 2016, foi no ano de 2017 que os primeiros sinais de recuperação da economia apareceram. No comparativo do que se lia nos noticiários no começo de 2017, como “Inflação começa 2017 pressionada por preços administrados” (IBGE); “Desemprego ainda deve subir mais em 2017” (Estadão), ao que se estabelceu no final do ano, como “Desemprego fica em 12,2%” e “Inflação oficial fecha 2017 em 2,95%” (G1), desprende-se que essa tendência positiva estava se concretizando, o que é evidenciado pela variação em volume das Cestas Nielsen – agregado de mais de 130 categorias de bens de consumo de massa – que iniciou o ano com uma variação negativa de -6,7% e encerrou com uma retração menor, frente ao ano anterior, de -3,5%. Nesse contexto, 2018 começou com grandes expectativas de superação completa da crise no Brasil e retomada de crescimento. Ao longo do ano, entretanto, alguns acontecimentos impactaram essa dinâmica, entre elas, a polarização política, corrida eleitoral, Copa do Mundo e a greve dos caminhoneiros – esta trazendo um impacto negativo à economia da ordem dos R$ 50 bilhões, de acordo com a FGV. Assim, a expectativa de crescimento do PIB para 2018, que começou com +2,7%, encerrou por volta dos +1,3%. Trazendo essa realidade para o con-

sumo, observa-se que, apesar de os índices de confiança do consumidor estarem mais positivos, os lares brasileiros ainda seguiram bastante cautelosos, reduzindo seus gastos em todos os níveis socioeconômicos. Logo, a retração das Cestas Nielsen em 2018, que começou com -2,5% fechou o ano com -2,8%, demonstrando que o otimismo do ano de 2018 não trouxe um resultado correspondente no mercado de FMCG. Diante dessa conjuntura, o mercado de Higiene e Beleza apresentou-se como dos mais resilientes, com -1,8% de retração em 2018, versus -2,8% de FMCG. Apesar da retração na frequência de compra dessas categorias em -5,9%, o ticket médio aumentou em +1,8%, indicando que os consumidores de Higiene e Beleza têm ido menos vezes ao PDV comprar essas categorias, mas, em média, gastam mais a cada visita. Sobre as categorias dessa cesta, produtos de cuidado com o cabelo como shampoo e pós-shampoo são os que mais contribuem para a retração da cesta, enquanto desodorantes, cremes para pele e papel higiênico frearam a retração.

Heróis em um cenário de altas expectativas não concretizadas Um estudo realizado pela Harvard Business Review, que analisou mais de 300 empresas em países que passaram por crise, percebeu-se que nenhum consumidor saiu da crise da mesma maneira que entrou. Isto é, mesmo tendo recuperado os padrões aquisitivos,

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os consumidores simplesmente não retomaram os velhos hábitos de consumo, principalmente por conta de alterações psicológicas. Observa-se, então, duas tendências fortes durante a crise e que continuam crescendo nesse momento de retomada: o avanço da mixidade de canais e as novas escolhas que o consumidor faz visando o equilíbrio de seus gastos.

Mix de canais Muito se fala sobre o consumidor omnichannel e a tendência de mix de canais de acordo com as missões de compra estabelecidas. É nesse cenário que os primeiros dois heróis despontam: o Cash&Carry (atacarejo) que teve crescimento de H&B de 13,9% - e as Cadeias de Farmácias que cresceram 2,6% nesse mesmo mercado, com uma proposta de sortimento e experiência de compra diferenciada. O canal Farma está em um processo de transformação já há alguns anos. Enquanto em 2009 o faturamento decorrente de medicamentos representava 73% do canal, atualmente este número alcança 66%, abrindo espaço para os produtos de beleza. Além disso, o canal tem se desenvolvido significativamente com a abertura de lojas. Foram, aproximadamente, 5,6 mil em 2013 para cerca de 8 mil novos espaços em 2018. Dentro do ponto de venda, o canal se desenvolve focando em produtos especializados, concentrando seu negócio em um set limitado de categorias, apostando em sortimento exclusivo e através da pro-


loja do assaí, o atacarejo do grupo pão de açúcar: o formato segue como um “herói” do crescimento no varejo. ximidade e conveniência de suas lojas para os shoppers. Já o Cash&Carry assume o papel de herói não só para a indústria de Beleza, como para todas as categorias de bens de consumo de massa, com um crescimento que se estabelece tanto por abertura de novas lojas – inclusive com a migração de Hipermercados – como por assumir a missão de abastecimento com uma proposta de custo benefício atrativa, já sendo o canal com maior penetração entre os domicílios. Mesmo ainda não tão robusto e pensando nas perspectivas futuras sobre evolução do canal, uma menção especial ao e-commerce faz-se necessária. No Brasil, a penetração de categorias de H&B no canal já atinge 41% (9p.p superior à média LATAM) e as informações em sites já são a segunda mais importante fonte de informação para uma tomada de decisão de compra – perdendo apenas para as lojas físicas. Essa tendência é corroborada pelo maior evento associado a esse canal, a Black Friday, que movimentou cerca de R$ 2,6 bilhões, alta de 23% frente a 2017. Em 2018, as categorias de Beleza foram a segunda mais vendida, com um share de pedidos de 15%. Esse canal deve ser muito estratégico em 2019 e ainda está em fase de crescimento no Brasil, já que, até as categorias mais vendidas de H&B possuem taxas de crescimento

expressivas, a saber: perfumes (87%), cabelos (138%) e rosto (132%).

NOVAS ESCOLHAS Com a finalidade de equilibrar gastos, o consumidor também se vê obrigado a fazer novas escolhas como trade up/down, substituição de produtos, poupança, embalagens com menor desembolso, experimentação de marcas, tamanhos maiores, entre outros. Diante disso, algumas categorias foram priorizadas nessa retomada do consumo, com um aumento no ticket de compra e contribuição positiva para a cesta. As estratégias de crescimento dessas categorias estão associadas às marcas ou segmentos premium; de diferenciação e compra de tamanhos maiores para abastecimento. Um primeiro exemplo aparece com Protetor Solar, que tem 72% de seu ganho advindo do segmento premium, cuja importância é de 45%. A categoria de Escovas de Dentes também se beneficia dessa tendência e 45% do seu ganho vem de apenas uma marca premium, cuja importância é de 6%. Sobre diferenciação, a categoria de Pós-Shampoo é um exemplo importante já que 12% do crescimento vem de apenas uma marca focada na identidade de cada tipo de cabelo, atuando com um portfólio amplo e com estratégias fortes de comunicação. Ainda nesta

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categoria, observa-se a tendência de crescimento via embalagens maiores, já que 41% do crescimento ocorre via promopacks. É um fato que a indústria de FMCG e, consequentemente, as categorias de Beleza movimentam-se em função da conjuntura econômica do País e ainda é cedo para afirmar se os desdobramentos desta serão pró ou contra o consumo. Em todo caso, é usualmente possível encontrar aqueles – canais, produtos ou hábitos – que se destacam e, potencialmente, as perspectivas para o ano giram em torno dessas novas escolhas, tanto com uma tendência maior de mix de canais, quanto com tendências de inovação e diferenciação de produtos como, por exemplo, o uso de produtos naturais e de alta tecnologia.

Victor Camillo Palandi, Executivo de Atendimento Sr da Nielsen Brasil. A Nielsen Holdings é uma empresa global de mensuração e análise de dados, que fornece a visão mais completa e confiável de consumidores e mercados do mundo. Nossa abordagem une dados da Nielsen com informações de outras fontes para ajudar nossos clientes ao redor do mundo a entender o que está acontecendo no presente e no futuro e como agir corretamente com esse conhecimento. Como uma das 500 maiores empresas de S&P, a Nielsen opera em mais de 100 países, cobrindo 90% da população mundial. Para mais informações, visite www.nielsen.com/br


mercado Perspectivas

Pontos quentes nas farmácias Quais serão as tendências que ditarão o ritmo dentro do Canal Farma em 2019? >>> Por Rodrigo Kurata

O

varejo farmacêutico cresce consistentemente nos últimos anos e ultrapassa a marca dos R$ 122 bilhões de faturamento em 2018 (valor a preço consumidor), seguindo com crescimento de dois dígitos. A performance positiva do canal acontece em todos os segmentos, dos medicamentos de prescrição aos MIPs e produtos de consumo, como higiene, beleza, nutrição e cuidados ao paciente. O principal movimento dos últimos anos que está se consolidando é a transformação do varejo farmacêutico em um espaço cada vez mais voltado para a experiência de consumo e atendimento em todos os âmbitos que envolvem a saúde da população, assumindo um papel mais amplo na vida dos brasileiros. De olho na mudança de comportamento dos “consumidores de saúde”, as grandes corporações mundiais estão investindo cada vez mais em não somente “entregar produtos farmacêuticos com perfil de consumo”, mas “prover produtos de consumo que entregam saúde e bem-estar”, aumentando as capacidades de marketing/ vendas e buscando economia de escala para os produtos de maior valor agregado para o consumidor. A compra da Merck CH pelo grupo P&G, Mead Johnson pela RB, portfólio Boehringer (exceto família Buscopan) pela Sanofi, Divcom e Melora pelo grupo FQM e a fusão da GSK com a Pfizer Consumer são alguns dos movimentos de em-

presas que estão investindo e focando seus esforços em atender aos consumidores com um portfólio melhor e mais horizontalizado. Por outro lado, temos o varejo farmacêutico que também vem evoluindo rapidamente nos últimos anos e se profissionalizando com iniciativas importantes ao longo dos anos. As grandes redes farmacêuticas da Abrafarma, por exemplo, puxaram o movimento de abertura das clínicas farmacêuticas, que estarão presentes em mais de 2.000 PDVs até o final de 2019, com a missão de expandir o papel das farmácias no contexto da Assistência Farmacêutica. Além das grandes redes, o médio e pequeno varejo também vêm evoluindo com a melhoria da gestão das lojas e a profissionalização de processos, capacitação de pessoas e foco cada vez maior em prover boa experiência de compra do shopper do canal. Para 2019, alguns temas continuam quentes no contexto de desenvolvimento do mercado de Consumer Health no Brasil, são eles:

Envelhecimento da população Com o aumento da expectativa de vida e uma população mais educada, o varejo e indústria terão o desafio de aumentar as ofertas de produtos e serviços voltados para o público sênior, que hoje é muito limitado ao tratamento de doença e ainda com pouco foco em prevenção e produtos para saúde e bem-estar.

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Autocuidado É um tema relativamente recente na América Latina e Brasil e que vem ganhando corpo nos últimos anos. O autocuidado vai além da reatividade a doença e abrange um contexto mais holístico de saúde e bem-estar, tendo como ponto focal a educação continuada da população em relação a gestão de sua própria saúde. Neste contexto, o varejo farmacêutico é chave para garantir grande parte desta entrega de saúde e bem-estar à população e deve neste ano dar um salto qualitativo, abrangendo todos os segmentos de consumo, como MIP, nutrição, higiene, beleza e cosméticos.

Rx-to-OTC switch Alguns medicamentos de prescrição estão em processo de alteração de enquadramento, de medicamentos com venda sob prescrição médica para medicamentos isentos de prescrição. A lista dos elegíveis a “swtich” abrange muitas moléculas importantes e tem potencial superior a R$ 2 bilhões/ano – produtos que passariam de trás do balcão para o autosserviço. Os impactos no varejo são grandes não só pelo menor espaço relativo dedicado aos MIPs como o desafio de comunicar o consumidor adequadamente quando estes produtos estiverem nas prateleiras, garantindo a segurança do uso e conhecimento sobre estes medicamentos.

Varejo 4.0 A integração do ambiente físico e digi-


clínica da pague menos: até o final do ano, as grandes redes farmacêuticas deverão somar 2000 unidades como essas.

tal em healthcare será um tema quente de discussão durante este ano. Alguns varejistas no Brasil já começam a implementar e pilotar iniciativas para diminuir a “fricção” na jornada de compra do consumidor, como por exemplo os lockers e self-checkout, desenvolvimento de estratégias de e-commerce, click & collect, entre outros. As iniciativas já sinalizam uma vontade do varejo de fazer acontecer, mas ainda há oportunidade de integrar todas essas ações em um plano único de omnichannel, atendendo às necessidades do consumidor de comprar e buscar informações sobre produtos e serviços onde, quando e como desejar.

CRM Diversas ferramentas de CRM estão sendo implementadas no varejo farmacêutico nos últimos anos, cujo principal objetivo é garantir a satisfação e fidelização dos clientes por meio da compreensão do perfil e da jornada de compra dos diversos segmentos de consumidores, que vem sendo cada vez mais explorados pelos varejistas. Portanto, o famoso “cartão fidelidade” tem a importante função de integração e automação das ferramentas de marketing, planejamento de campanhas customizadas e criação de um fluxo de trabalho mais eficiente, reduzindo

custos e aumentando suas vendas. No entanto, apesar do grande crescimento das plataformas de CRM nos últimos anos, o uso ainda é limitado a alguns grupos varejistas e este movimento deve crescer, inclusive no universo do médio e pequeno varejo.

Gestão de categorias O gerenciamento de categorias (GC) é uma prática muito importante na relação colaborativa e estratégica na relação indústria-varejo. Num canal tradicionalmente transacional, os processos de GC ainda estão começando a ser incorporados nas estratégicas e táticas dos varejistas, cujo desafio ainda está em como escalar as boas práticas de gestão de categorias em todos os tipos de PDVs, das grandes redes ao canal independente.

Gôndola verde Ofertas de produtos e serviços voltados para a saúde e bem-estar devem ganhar espaço neste e nos próximos anos. Com a tendência do autocuidado da população e o foco na prevenção, produtos fitoterápicos e naturais tendem a se consolidar no canal farmácia, assim como produtos não-medicamentos com a função de suporte a saúde, como suplementos e complementos alimentares, probióticos e apa-

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relhos de saúde (inaladores, medidores de pressão, outros).

Higiene e beleza Os consumidores do canal farma não só incluem os produtos de HB em sua cesta de compras, mas também já frequentam o canal como destino de compra de algumas categorias. Segundo pesquisa da IQVIA, aproximadamente 30% dos shoppers compram produtos para os cabelos, banho e higiene oral sempre ou na maioria de suas visitas no canal. Protetor solar, cremes e loções e os dermocosméticos também têm alta frequência e penetração. A tendência para 2019 é de que as grandes redes continuem com foco no crescimento das categorias no canal trazendo inovação e sofisticação para a cesta dos consumidores e o médio e pequeno varejo comecem a trabalhar de maneira sistemática para o desenvolvimento de HB, começando com a disponibilização dos produtos de maior giro no autosserviço (aumento de distribuição), ajuste de precificação e melhoria do mix de produtos e ações promocionais por tipo de PDV.

Rodrigo Kurata, diretor Unidade de Negócios Consumer Health Brasil e América Latina Andina


CATEGORIA Coloração

Transformar com poucos danos algumas consumidoras buscam a beleza natural dos fios com produtos menos agressivos. outras não abrem mão dos produtos permanentes, mas buscam a naturalidade dentro da coloração >>> CAROLINA RODRIGUES

O

movimento em busca do natural, que já passou pela alimentação, chegou com intensidade aos cuidados com os fios do cabelo. Do uso dos alisantes à adesão dos fios cacheados, o foco agora é a preocupação quanto à composição das colorações. Seja para diminuir a agressividade ou mesmo aderir aos fios brancos, as consumidoras têm mostrado outras necessidades às empresas atuantes na categoria.

Um estudo da consultoria Kantar Worldpanel sobre “As escolhas do consumidor de higiene & beleza”, apontou uma queda de três pontos percentuais no consumo de tinturas para cabelos. Ao contrário da queda no uso de alisantes, a mudança no hábito da coloração é vista em menor proporção. Porém, indica uma tendência no Brasil em linha com outras regiões como a Europa. Segundo Ericka Gordiano, coordenadora de Marketing da Amávia Cosméticos, nos últimos anos, o perfil do público tem apresentado mudanças e por isso a

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marca tem investido em produtos mais saudáveis para os fios. Sediada em Lauro de Freitas, na Bahia, a Amávia trabalha com tinturas há cerca de quatro anos, e tonalizantes há dois. “Procuramos desenvolver produtos que atendam as necessidades dos clientes. A nossa missão é proporcionar a sensação de estar bem aos consumidores”, diz Ericka. Ao encontro da tendência, a Amávia aposta nos matizadores e nos tonalizantes. A Make Tom é uma coloração semipermanente, que faz a cobertura de 60% a 70% do branco de forma suave, e tem


durabilidade de fixação na superfície de 6 a 12 lavagens. “Ele leva para o cabelo o óleo de argan e a Vitamina E, que promovem um cuidado especial sobre a fibra do cabelo”, explica Sidnei Oliveira, coordenador técnico da Amávia. Já o 4D Gloss é um intensificador da cor, que atua na manutenção, e é composto por pigmentos balsâmicos desenvolvidos a partir de condicionadores umectantes, que tratam o fio do cabelo e, consequentemente, geram menos agressão para os fios. “Ela dura um pouco mais porque pega a porosidade e o ressecamento do fio e transforma em algo positivo para a fixação do produto. Com o Gloss, é possível trocar a cor do reflexo do cabelo de forma mais suave”, diz. No entanto, a durabilidade dependerá de cada pessoa e região onde mora. Em Salvador, por exemplo, segundo Oliveira, devido à temperatura elevada o pigmento escuro não tem durabilidade. “O vermelho fica laranja muito fácil e o loiro platinado torna-se dourado. A durabilidade não está só na coloração, mas no clima, na água, na forma como a pessoa conduz a manutenção. Estamos trabalhando para ter uma melhor concentração de cobertura em maior tempo”, antecipa.

E o branco, ainda demanda a tintura? A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde e a atriz americana Meryl Streep são lembradas constantemente quando o assunto é mulheres que assumiram os fios brancos. No Brasil, temos algumas referências como as atrizes Cássia Kis e Vera Holtz. Recentemente, a jornalista Sandra Annenberg anunciou que também assumirá os fios brancos. Mas em território brasileiro o processo é mais lento, quando comparado a outras regiões. As mulheres ainda são focadas na coloração permanente por conta da cobertura de brancos. Diante disso, a Amávia já trabalha em uma forma de a consumidora ter uma cobertura 100% de forma mais suave. Uma justificativa para isso é o fato de as mulheres na América Latina serem mais vaidosas. Por isso, no Brasil, vê-se que as idades mais maduras con-

alessandra, da l’oréal professionel: brasileiras procuram mais por colorações permanentes.

tinuam na categoria para cobertura do branco. “As brasileiras são vaidosas, assumem vários papéis e tempo é desafio”, destaca ainda o estudo da Kantar sobre higiene & beleza. Ao encontro da pesquisa está o fato de uma mulher de 50 anos hoje ter um aspecto jovial. “As consumidoras de coloração permanente buscam a cobertura dos fios brancos. A categoria é fundamentada na cobertura desses fios e isso não mudou. Elas são as consumidoras mais fiéis”, observa Juan Pablo Dubini, diretor das marcas Garnier e Niely Brasil, do grupo L’Oréal. Vale destacar que a tintura muda o tom permanente, contém amônia e pode não ser compatível com outras químicas, e é mais agressiva por atuar na parte interna do fio. Por isso, resseca mais. A grande vantagem é a cobertura 100% dos fios brancos e a durabilidade. Já o tonalizante é uma coloração semipermanente que deposita pigmentos de cor na cutícula do fio. É menos agressivo, não resseca o fio e dá brilho, porém, a cobertura é parcial.

Pluralidade de gostos Se por um lado há o movimento em busca da beleza natural que motiva, inclusive, a saída de mulheres das colorações, assumindo os brancos, por outro, há algo diferenciado no Brasil: a pluralidade de gostos das consumidoras de colo-

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rações. “Há pessoas que transformam o cabelo permanentemente, outras temporariamente e ainda há quem não esteja em transformação. Isso em termos gerais, não só pela coloração, mas corte, forma, etc. São gostos e tendências das consumidoras que não podemos ir contra. Temos de nos adaptar ao que elas gostam”, destaca Dubini. Segundo um estudo da Kantar sobre o “Mercado de produtos de cabelos”, o loiro claro está perdendo adeptos em todo o País, por exemplo. Em contrapartida, os tons castanhos e pretos ganham adeptas, o que reflete uma tendência às cores mais naturais. Para se ter uma ideia, a consumidora de Cor&Ton, de Niely, procura uma cor mais intensa. “Ela quer mostrar que pintou o cabelo. A cor da vez é o preto. Estamos lançando um preto 1.7, com reflexo azulado”, exemplifica o executivo de L’Oréal sobre a aposta da empresa para a temporada. Por outro lado, o fator econômico tem impedido a entrada de consumidoras mais jovens no mercado, um reflexo da crise financeira que atinge o país. “Hoje, uma consumidora de 15 anos não tem R$20 para investir em coloração como se fazia há cinco anos. Antes, as mulheres ingressavam mais cedo na categoria coloração por múltiplos fatores, não somente por causa da qualidade da coloração”, explica o diretor de Garnier e Niely. As marcas de L’Oréal possuem uma variedade de tecnologias aplicadas à coloração. “Temos as tecnologias permanentes e as semipermanentes, estas não têm amônia, um importante benefício porque a consumidora pode combinar


CATEGORIA Coloração o produto com as suas outras químicas, como o alisante”, ressalta Dubini, ao lembrar que, atualmente, a consumidora está mais preocupada em encontrar os benefícios do produto. Segundo ele, hoje, a cartela de mecha de cor são um dos materiais de pontos de vendas mais solicitados, isso significa que a consumidora continua a utilizar e a pesquisar sobre coloração. Para auxiliar as consumidoras na assertividade do desejo, a marca lançou um aplicativo cuja finalidade é salvar a escolha de cor. Na Embelleze, mantenedora das marcas de coloração Maxton, Maxton Free, Natucor e Fleury, a categoria de tintura ainda é a mais representativa em comparação às categorias de tratamento e transformação. “A grande maioria das consumidoras busca tinturas permanentes em detrimento dos tonalizantes. Quem costuma buscar esse último tipo de produto se preocupa em utilizar algo menos agressivo aos fios, porém as tinturas permanentes têm ficado cada vez mais modernas, entregando maior durabilidade da cor e ao mesmo tempo mantendo os fios tratados”, explica Vinícius Ribeiro, gestor da marca Maxton, Embelleze. Embora ele observe um pequeno nicho de consumidoras aderindo ao movimento beleza natural, também destaca que a idade média das consumidoras que utilizam tintura tem sido reduzida a cada ano. “Hoje a consumidora não espera mais os cabelos começarem a ficar brancos para experimentar mudar as cores de seus cabelos e, por consequência, revelar um pouco de suas personalidades ao mundo”. Até por isso, a cada ano, a Embelleze renova cerca de 20% do portfólio de produtos e tem investido em cores como Louro Rosé cor da Personalidade Louro Mais Vip, Azul Denin na Você Mais Antenada, Cinza Charcoal em Você Mais Iluminada e o Nude na Loura Mais Delicada. “Constantemente buscamos o que há de mais moderno no mercado para atualizar nossos produtos. Inovação faz parte da essência da empresa”, assinala o gestor de Maxton.

58% usam coloração Se diretamente para as consumidoras

ericka gordiano e sidnei oliveira, da amávia: empresa aposta em matizantes e tonalizantes. as marcas disponibilizam inovações, não é diferente para os produtos direcionados aos profissionais. “Somos pioneiros na arte de transformar os cabelos, empoderando os cabeleireiros com os melhores produtos para que possam entregar os melhores resultados e, consequentemente, atender às necessidades da consumidora”, ressalta Alessandra Valença, diretora de L’Oréal Professionnel, multinacional francesa cujos produtos são vendidos exclusivamente para cabeleireiros. Segundo dados da L’Oréal U&A (sigla para Use & Attitudes, em português, Hábitos e Atitudes) 2018, no Brasil, hoje a penetração de coloração é 58%. “A consumidora brasileira busca mais por produtos permanentes do que por tonalizantes, ainda assim, a penetração é alta quando comparamos com outros países do mundo”. No portfólio de tonalizantes da marca estão Dia Light e Dia Richesse, que têm cuidado com a fibra capilar, além de entregar textura para o cabelo. Já em coloração, desde 2010 a marca possui em seu portfólio a INOA. Considerada pela marca uma grande revolução devido a sua fórmula sem amônia, que hidrata e está alinhada com a nova necessidade da mulher em manter um visual natural com produtos menos agressivos. “Para completar, possuímos também uma linha de descolorantes com

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diversas possibilidades de entrega, que vai desde um clareamento expressivo de até 9 tons, nosso mais recente lançamento, até um pó descolorante sem amônia, que também atende a uma fatia de mercado que vem crescendo, das pessoas que tem cabelos finos ou enfraquecidos, quimicamente tratados, mas que mesmo assim têm o desejo de se tornarem loiras saudáveis”, explica Alessandra. Alessandra antecipa que em 2019 será lançada uma nova campanha para ressaltar os benefícios da fórmula de INOA no Brasil, com o lançamento de mais cinco nuances, sem amônia, sem odor e 100% de cobertura de cabelos brancos com até 6 semanas de nutrição intensa, 50% mais brilho, devido à tecnologia ODS², à base de óleos. Para a diretora de L’Oréal Professionnel, a tendência de colorações no Brasil é a naturalidade, além da busca por cabelos saudáveis, coloridos e descoloridos. “Por isso, a nossa preocupação em respeitar a fibra capilar. Smartbond é um aditivo de uso profissional que pode ser usado durante os principais serviços técnicos de transformação. O sistema inteligente, que combina o ácido maleico e de ceramida fortalece a fibra capilar, que se torna mais resistente, suave e brilhante. Assim, a consumidora pode transformar os seus cabelos sem danificar os fios”, encerra.



Express Energia dos palcos O cantor, compositor e instrumentista, Luan Santana, assina seu novo perfume em parceria com a Jequiti, LS&You Live. O lançamento é inspirado na emoção dos shows ao vivo, na energia que contagia e no sentimento coletivo de entusiasmo das pessoas na plateia. LS&You Live traz notas vibrantes de pimenta preta, couro, ameixa negra e também um amadeirado adocicado que fascina. O frasco desenhado em formato de microfone, estilo retrô, na cor azul, reforça o conceito da diversidade artística de Luan Santana. Distribuição: venda direta e e-commerce. Preço: R$ 99,90 (100ml). SAC: 0800 776 7575. Site: www.jequiti.com.br

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uma fórmula diferenciada e superior aos

formato Aerosol. Nos anos 2000, lançou

produtos presentes atualmente no mer-

Rexona Clinical, produto que até hoje

cado e, por isso, protege 3x mais do que

tem a melhor performance da categoria.

os antitranspirantes comuns. Disponível

E, desta vez, traz a proteção de Clinical

em duas variantes femininas e uma mas-

em Aerosol – formato que representa

culina, e a versão em creme permanece

80% do mercado de desodorantes no

no mercado e ganhará uma nova identi-

Brasil. Isso só foi possível com a nova

dade visual alinhada à inovação.

e exclusiva tecnologia Defense+, patenteada pela marca.

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O novo Rexona Clinical Aerosol tem

Site: www.rexona.com

Aposta na babosa A Embelleze lança a Família Novex SuperBabosão, um tratamento completo para os fios que entrega um resultado devido sua ação potencializada. A família de tratamento é composta por Shampoo, Tratamento Condicionante e Creme de Tratamento Ultraprofundo, sendo o creme nas versões 1kg e 400g. A Babosa tem entre seus benefícios deixar os cabelos super hidratados, reparados e nutridos, sedosos e protegidos. Também conhecida como aloe vera, a babosa é um dos ativos naturais mais conhecidos entre as mulheres para cuidados com a pele e o cabelo. Os produtos ainda ajudam a reduzir a queda por quebra. Ações completas para todos os tipos de cabelo se beneficiarem com o lançamento. Distribuição: farmácias, perfumarias, supermercados e e-commerce. Preços: R$ 11,90 (shampoo e tratamento condicionante), R$ 13,90 (creme 400g), R$ 19,90 (kit) e R$ 26,90 (creme 1kg). SAC: 0800 881 2667. Site: www.embelleze.com

Atualidade COSMÉTICA

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Express

Cores da felicidade Risqué, marca do grupo Coty Inc, apresenta sua nova coleção: Risqué Coca-Cola Felicidade em Cores. Como seis novos tons de esmaltes, segundo a marca, o lançamento celebra a Felicidade, seja ela vinda da sensação de abrir uma garrafa de Coca-Cola gelada ou do prazer de pintar as unhas com um novo esmalte Risqué. Inspirada no universo descontraído e moderno em torno do refrigerante mais famoso do mundo, a coleção traz nomes e cores que ilustram a parceria, como por exemplo: o “Ultima Coca-Cola do Deserto”, “Vermelho Coca-Cola” e “Abra a Felicidade”. Hipoalergênicos, todos os esmaltes da linha possuem embalagens especiais, com exclusiva tampa metalizada com glitter e logo da Coca-Cola. Distribuição: farmácias, perfumarias, supermercados e e-commerce. Preço: R$ 5,10. SAC: 0800 012 6888. Site: www.lojacoty.com.br

Look natural

Pensando em atender exclusivamente às necessidades

com acabamento ideal para o dia a dia, pois oferece cobe-

das consumidoras brasileiras, a Ruby Rose apresenta sua

rtura média, sem pesar. Além disso, a novidade é muito

nova linha de Bases Líquidas Natural Look. Com for-

fácil de espalhar e traz total conforto à pele.

mulação de acabamento leve e natural, são 14 opções de

Preço: R$ 14,56. SAC: atendimento@rubyrosemaquiagem.com.br. Site: www.

tons, divididos entre as nuances nude, bege e chocolate,

rubyrosemaquiagem.com.br

Controle dos poros A marca francesa Clarins apresenta o lançamento de um novo aperfeiçoador de pele, o Pore Control. Enriquecido com dois grandes avanços fisiológicos e vegetais, este sérum especializado busca ajudar a reduzir a aparência dos poros, suavizar visivelmente a textura da pele e iluminar o rosto, promovendo uma pele mais bonita. O produto traz uma

Atualidade COSMÉTICA

inovação vegetal: extrato de células da flor da videira obtido por biotecnologia verde. Ao contribuir para a síntese de colágeno e elastina na pele ao redor dos poros, o extrato das células da flor da videira ajuda a reduzir a aparência dos poros. Já os extratos de células da flor da videira e de morangos orgânicos ajudam a tornar os poros menos visíveis. E os ácidos da polpa do tamarindo ajudam a remover as células mortas que podem entupir os poros: a superfície da pele é suavizada e a textura é refinada. Distribuição: distribuição seletiva. Preço: R$ 329. SAC: 0800 704 3440. Site: www.clarinsusa.com

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Express

Convite a um “detox” Natura Tododia convida as mulheres a se reconectar com o corpo e a repactuar a maneira como se enxergam. Para isso, propõe que elas tentem eliminar neste “detox” todas as culpas, ideais e padrões de beleza que possam ter, vivendo seu corpo, centímetro por centímetro, todos os dias. Isso com o novo Tododia Folhas de Limão e Graviola, que conta com uma fragrância revigorante, em um caminho

De 0 a 100 anos

leveza irresistível. O Óleo de Camélias confere à cada fibra capilar

Água Micelar e Balm Protetor Hidratante completam a linha Nossos Amores, da Alergoshop, que hoje é composta por Emulsão para Banho e Condicionador. Com fragrância de lavanda suave, hipoalergênica e que transmite tranquilidade, a linha é livre de 105 substâncias potencialmente alergênicas e nocivas. Também é multifuncional, com ativos e fórmulas ainda mais suaves e seguras. O cuidado e carinho que os pais e familiares têm com filhos, avós e parentes idosos fez com que a Alergoshop desenvolvesse a linha Nossos

uma maior elasticidade com dose extra de brilho natural e dura-

Amores.

olfativo inédito na marca, o aromático cítrico, que traz energia e frescor para o seu dia. O novo Tododia Folhas de Limão e Graviola é uma linha completa de cuidados diários que inclui Desodorante Hidratante Corporal e Refil, Spray Corporal Perfumado, Sabonete em Barra Puro Vegetal e Desodorante Roll-on Antimanchas. A estrela do lançamento é o inovador Gel Creme Detox Revigorante, que hidrata e perfuma com a alta tecnologia detox. Distribuição: venda direta, lojas próprias e e-commerce. Preços: R$ 17,40 (desodorante – 70ml), R$ 17,40 (desodorante – 70ml), R$ 31,90 (gel creme – 200 ml), R$ 44,90 (hidratante corporal – 400ml) e R$ 49,90 (colônia spray – 200 ml). SAC: 0800 762 8872. Site: www.natura.com.br

Sagrada e preciosa A linha Elixir Ultime, de Kérastase, apresenta nova fórmula prometendo ainda mais brilho e nutrição. A linha chega agora com uma nova fusão dos óleos de Marula Sagrada e de Camélias Preciosas e a nova fórmula foi criada para a mulher que deseja ter cabelos esplendorosos. Cada gota nutre intensamente a fibra capilar, exaltando os seus cabelos com brilho duradouro. Combinado com um complexo anti-frizz, os fios ficam macios, maleáveis e com uma

douro. Já o Óleo de Marula Sagrada oferece nutrição sem deixar os fios pesados e alta proteção antioxidante. Distribuição: profissional e e-commerce. Preços: de R$ 172 a R$ 306. SAC: 0800 701 7237. Site: www.kerastase.com.br

Atualidade COSMÉTICA

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Distribuição: lojas próprias. Preços: sob consulta. SAC: (11) 3022-2920. Site: www.alergoshop.com.br


FESTIVAL

28 • 29 DE AGOSTO

MAKSOUD PLAZA • SP


canal Distribuição Seletiva

Enfim, um alento

premidos por instabilidades cambiais e mercadológicas pelos últimos 20 anos, a distribuição seletiva no brasil sobreviveu e, agora, encontra caminhos para avançar >>> sílvia herrera

O

cenário nacional para as perfumarias seletivas resiste há 50 anos. Resiste, porque ainda hoje a sua participação no total da venda de perfumes e cosméticos por aqui é ínfima, apenas 4% das vendas. O varejo seletivo brasileiro é composto por um grupo heterogêneo de empreendedores, mas que, grosso modo, podem ser divididos em dois grandes grupos. De um lado, perfumarias independentes, muitas delas com apenas uma loja, que se espelham pelas principais cidades brasileiras, a maior parte delas, em shoppings centers. Em geral são lojas pequenas, com não mais do que 50 m2 que apostam quase tudo na venda de perfumes importados. Apesar de estarem no escopo da distribuição seletiva, essas lojas acabam tendo boa parte do seu mix composta por produtos de marcas que não figuram no panteão do mercado de luxo. Mas são essas marcas que, na prática, acabam garantindo o giro do estoque.“Tiro meu chapéu a todas essas famílias que atuam há décadas no Brasil enfrentando vários desafios e cenários adversos”, elogia Nicolas Mojica, empresário francês à frente da rede de lojas Top Internacional, funda-

da em 1965, e da distribuidora TFS. Dentro desse grupo, existem ainda algumas redes mais bem estruturadas, como as tradicionais bandeiras paulistas Opaque e Suil (dona também da Caléche e da Vent Vert) a Fragrance (parte do mesmo grupo empresarial que controla a RR e a Água de Cheiro) e a própria Top Internacional. Com maior poder de fogo, essas bandeiras contam com o créme de la créme em termos de produtos, marcas e material de merchandising, algo essencial para compor a aura de luxo que envolve o mercado de distribuição seletiva. Desde o final dos anos 1990, a instabilidade e a imprevisibilidade acompanham pari passu os empresários do canal. Primeiro, esse negócio é totalmente refém do câmbio. Primeiro, porque a oferta de produtos é composta, basicamente, por itens importados. Diferentemente de uma indústria, que negocia os ativos e ingredientes em moeda estrangeira, o que impacta apenas uma parte do custo de fabricação do produto, para os lojistas da distribuição seletiva as variações do Real em relação às moedas estrangeiras impacta o negócio na veia. Como estamos no Brasil, onde os processos de desembaraço aduaneiro e a logística não são rápidas, muitas vezes é preciso trabalhar com níveis de estoque de meses, quando todo o res-

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tante do varejo se mata para derrubar os estoques para a casa das semanas, quando não, dos dias. Mas o câmbio também afeta o comportamento da consumidora brasileira. Ali por volta do inicio da década, os brasileiros eram estrelas globais do travel retail, o varejo praticado especialmente em aeroportos. Com a moeda favorável ao nosso lado, as pessoas iam à Miami para fazer compras, e, de quebra, aproveitavam para passear um pouquinho. Isso, obviamente, impactou o mercado local de distribuição seletiva, fazendo com que muitos consumidores de classe A (e da classe B também), simplesmente esperassem pela próxima viagem internacional para abastecer seu estoque de perfumes e cosméticos. Passada a fase da euforia, os brasileiros estão viajando menos, muito menos, e, por consequência, comprando mais aqui. “Isso aquece o mercado e movimenta os pontos de venda nos quais estamos presentes. O Brasil ainda tem outros atrativos que favorecem a compra: a alta do dólar tornou o consumo local mais vantajoso e no Brasil temos a oportunidade do parcelamento, por exemplo, o que não acontece lá fora”, explica Christian Campillo, diretor comercial da Divisão de Luxo da L’Oréal. No entanto, estudos encomendados pela empresa mostram que ainda existe


loja da top internacional e christian, da l’oréal luxo: neste momento, o mercado de distribuição seletiva cresce por aqui.

um grande potencial para o segmento a ser explorado: ainda hoje, dois terços das consumidoras compram no exterior. É fato que o preço de alguns perfumes importados está bem favorável para o consumidor final. Hoje é possível comprar o La Vie Est Belle de Lancôme (50ml) no Brasil por R$ 399, valor que pode ser parcelado. O mesmo produto, no site oficial do fabricante na França, sai por 82,5 euros (cerca de R$ 360 pelo câmbio atual). Há cinco anos, o preço em Paris seria cerca de 40% a 50% mais barato. Atenta as oportunidades, a L’Oréal identificou aceleração do consumo nas regiões Nordeste e Centro-oeste e já investiu fortemente na distribuição em parceria com clientes relevantes nessas regiões, aumentando capilaridade e presença para acesso a um número cada vez maior de consumidoras. E para impactar focam em oferecer uma experiência de compra única, lançamentos exclusivos, ampliar a gama de portfólio presente na loja, oferecendo serviços diferenciados e incentivos à compra como brindes e eventos, por exemplo, que são ferramentas capazes de movimentar ainda mais um circuito tão competitivo e dinâmico como o circuito de beleza. No digital, através do e-commerce, buscam estratégias que atraiam a consumidora para as marcas e produtos através de dinâmicas

de comunicação personalizada e frete grátis, por exemplo.

Os grandões do pedaço O segundo grupo de atores da distribuição seletiva é composto por dois perfis distintos: As grandes redes de perfumaria, basicamente a multinacional Sephora e a The Beauty Box, do Grupo Boticário; e as lojas de departmento. E são essas últimas que têm impactado fortemente o cenário local. Pioneira, a Renner é, há tempos, a maior vendedora de perfumes importados do Brasil. O movimento foi seguido pele rival Riachuelo dois anos atrás. Cada uma dessas bandeiras soma cerca de 300 unidades espalhadas pelo território brasileiro. “As lojas de departamento são muito importantes por facilitarem o acesso ao consumidor a bons produtos, independentemente do tamanho da marca que os produzem, visto que seu grau de exigência é alto, atuando como verdadeiras curadorias sobre as marcas”, argumenta Luana Lohn, CEO da Ciclo Cosméticos – empresa catarinense que atua no segmento de perfumaria. Além dos dois nomes, a Marisa e a C&A também estão prontas para fincar os pés na distribuição de perfumes e cosméticos de luxo, o que deve elevar em um curto espaço de tempo, o mercado para algo próximo dos 1000 pontos de venda, considerando

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apenas essas grandes redes. Campillo, da L’Oréal, acredita que o crescimento do canal seletivo se dará, exatamente, por meio das lojas de departamento. “Acreditamos que elas são um canal que vai crescer nos próximos anos por causa de um aumento de capilaridade que vai garantir presença em praças onde não há perfumarias, por exemplo. Nossa função, como grupo, é acompanhar esse movimento e desenvolver esse canal, promovendo uma experiência de luxo com estratégias personalizadas à sua demanda.” A Ciclo está presente em mais de dois mil pontos de vendas, espalhados por todo o País. “Nosso critério de escolha (dos pontos) foi a relevância no mercado da perfumaria. Considerando que o nosso produto está posicionado como masstige, contamos que os consumidores que não podem pagar por um produto de prestígio acabe optando pelo nosso”, explica Luana, que acrescenta que esse tipo de canal funciona também como vitrine, despertando o interesse de potenciais varejistas interessados em revender os produtos da marca. O diretor comercial da Divisão de Luxo da L’Oréal explica que no Brasil, o mercado seletivo de beleza aponta grandes oportunidades. A TFS conseguiu aumentar significativamente a distribuição em três anos e as unidades da Top Internacional também vão muito bem. Nicolas Mojica explica que há quatro pontos cruciais que têm de ser gerenciados de forma estratégica pelo empreendedor do canal da distribuição seletiva: precificação dos produtos levando em conta a desvalorização do real e a concorrência; aumento dos pontos de venda com a entrada das lojas de departamento; controle de estoque perfeito; e segurança para evitar furtos nas lojas.


negócios Estratégia

Ligada na tomada A marca vertix, da belliz, aposta no mundo da eletrobeleza para expandir sua presença no mercado profissional >>> aûani cusma de paula

M

arca profissional da Belliz, companhia com forte atuação na área de escovas e acessórios de beleza, a Vertix está se lançando em um novo universo, o da eletrobeleza, um mercado que a empresa acredita ser quatro vezes maior do que o de escovas de cabelos. A empresa apresentou recentemente uma linha completa de secadores, pranchas, modeladores e barbeadores com foco nos profissionais. Para desenvolvê-la, processo que teve início dois anos atrás, a empresa foi escutar os profissionais para ver o que poderia ser criado ou aperfeiçoado nos itens que faziam parte do seu dia a dia. As respostas permitiram à marca agregar aos seus novos produtos muitas soluções que podem até parecer simples num olhar mais superficial, mas que fazem muita diferença para quem atende no salão. Um exemplo é o tamanho dos cabos elétricos dos secadores. “Eles diziam: ‘Eu estou atendendo uma cliente e quando vou para o outro lado o secador sai da tomada. Acontece direto’. E questionavam por que não lançar produtos com cabos maiores do que três metros”, conta Daniela Brilha, diretora de Marketing da Belliz. Outra “dica” dada pelos profissionais e que a Vertix incorporou à linha diz respeito ao canhão de íon nas pranchas. Segundo a executiva, algumas marcas utilizam o canhão de íon por dentro da chapa, o que não torna pleno o benefício do íon para eliminar totalmente o frizz. “Na nossa prancha, o canhão fica por fora da chapa e o íon age ao mesmo tempo em que a prancha desliza pelos fios. É um modelo de chapa exclusivo nosso”, explica Daniela. As conversas também permitiram à Vertix lançar um modelador de cachos

para um segmento da população ainda não atendida por esses produtos, às pessoas que estão passando por transição capilar. Nesse processo, um pedaço do cabelo ainda apresenta o histórico do alisamento. Isso deixa uma parte do cabelo mais cacheada e a outra lisa. Daniela conta que os modeladores disponíveis no mercado eram muito grossos, formando cachos muito largos, disformes em relação aos cachos naturais. “Trouxemos o primeiro modelador de 10 mm do mercado, que faz o cacho bem fininho”, afirma. É um produto que responde a uma demanda recente do mercado, para o qual a indústria de beleza, em geral, ainda oferece poucas opções efetivas. Mas não só. O produto atende também às pessoas com cabelos crespos ou com cachos bem ondulados, que precisam de um modelador bem estreito para criar esse cacho natural. A proposta de valor da nova linha de elétricos da Vertix é bastante clara. Produtos verdadeiramente profissionais - pela potência e pela ergonomia - num posicionamento de preço cerca de 30% mais baixo do que as marcas líderes de mercado. Embora tenha produtos, como as para desembaraçar os cabelos, vendidas em farmácias, os produtos elétricos terão suas vendas centradas no varejo especializado em beleza. Nas conversas com o canal, ficou claro para a empresa que existia um espaço para ser explorado. “Existem produtos e marcas já consolidadas e de boa qualidade, mas extremamente caras. E existem outras marcas que, em algum ponto, deixaram a desejar em termos de qualidade ou no serviço de assistência técnica adequado, o que faz com que os lojistas tenham restrições em relação a essas marcas de preço menor. A gente está num espaço de preço intermediário, mas com uma

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daniela, da belliz: foco da marca Vertix é o varejo de beleza.

qualidade superior”, garante a diretora de Marketing. Antes de abrir vendas ao público, a empresa já tinha cadastrado uma rede de 200 assistências técnicas em todo o Brasil para os seus produtos. A categoria de eletrobeleza é bastante presente no varejo especializado em beleza. O que muda bastante é como a categoria é trabalhada dentro de cada loja, em especial em função do seu porte. Em lojas grandes, com mais de mil metros quadrados, você vai ter grandes paredes de secadores e pranchas. Essa exposição é importante, porque esse é o tipo de compra que em quase 100% das situações é planejada e, de alguma forma, já direcionada por pesquisas na internet. Mas nas perfumarias de menor área, a categoria também se faz presente, e é preciso se diferenciar para chamar a atenção. “Estudamos quantos produtos cabem em cada lugar e montamos sugestões de mix de produtos para todos os formatos de loja”, pontua Daniela. A entrada no segmento de élétricos é parte do processo de evolução natural dentro da estratégia de expansão da marca Vertix, que nasceu fazendo escovas (ainda o coração do negócio) e evolui para outros acessórios fundamentais na bancada do profissional de beleza. “Você não abandona o que você tinha antes, você continua lançando. Tudo que o profissional precisa para trabalhar entre a cadeira e a bancada é o nosso mercado”, conclui Daniela Brilha.


tecnologia Legislação convenção da hinode: as empresas dependem dos dados pessoais para o dia a dia dos seus negócios. Agora, a lei as responsabiliza por cuidar bem deles.

Para a riqueza não virar multa

Falta mais de um ano e meio para a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Pode parecer muito tempo, mas, pela dinâmica do trabalho que precisa ser feito para que as empresas estejam adequadas à nova realidade, não é >>> aûani cusma de paula

D

atacracy, Data analytics, Data oriented, Data marketing, Data is the new oil... Hoje em dia, parece que tudo gira em torno do poder dos dados. O sucesso econômico das empresas de mídia social ou mesmo de gigantes de e-commerce, tem muito a ver com a capacidade dessas companhias de capturar dados pessoais e, a partir de uma análise acurada entregar, supostamente, exatamente aquilo que você deseja ler, ouvir ou comprar. De um simples e-mail marketing promocional, ao en-

vio de notícias que poderão influenciar a aceitação ou a rejeição a um determinado candidato, tudo fica mais fácil e assertivo quando se é possível determinar com precisão cirúrgica não só com quem você está falando, mas sobre toda a vida, os gostos, anseios e outras coisas mais sobre aquela pessoa com quem você está falando. Dados são uma fonte de riqueza para as empresas. E, também, uma fonte de poder. Por isso, é cada vez mais forte o esforço de diferentes países no sentido de regular o uso e a guarda dessas informações por instituições privadas. Daqui

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para frente, dados pessoais serão para as empresas não só um ativo de alto valor, mas também de alto risco. Como se trata de um daqueles riscos de negócios inevitáveis – afinal, cada vez mais integramos esses dados aos nossos trabalhos –, a única saída é mitigar o risco, dando aos dados pessoais o tratamento e a proteção adequadas. A entrada em vigor da GDPR, a rígida lei europeia de proteção de dados pessoais, em maio do ano passado, já obrigou as grandes empresas europeias – e todas as multinacionais que operam no velho continente – a adotarem uma


tecnologia Legislação série de medidas para garantir a guarda e o uso dos dados de cidadãos europeus dentro das regras da nova legislação, que entre outras medidas, demanda o consentimento da pessoa para certos usos e estabelece limites de tempo de guarda daquela informação. Agora, o Brasil também conta com a sua própria lei de proteção de dados pessoais, a LGPD. Sancionada em agosto do ano passado, ela entra em vigor em dezembro de 2020. A legislação coloca o País ao lado de mais de 100 outras nações que já estabeleceram suas legislações locais sobre o tema. O seu principal objetivo é garantir a privacidade dos dados pessoais das pessoas e permitir um maior controle sobre eles, com regras claras sobre os processos de coleta, armazenamento e compartilhamento dessas informações exigindo mais transparência para o uso de dados pessoais e a respectiva responsabilização por esses dados. A legislação também estabelece o princípio da adequação do uso dos dados pessoais com as finalidades informadas, ou seja, os dados só devem ser utilizados para as finalidades específicas para as quais foram coletados e previamente informados aos seus titulares. Por fim, deve ser aplicado o princípio da necessidade, limitando o uso dos dados ao mínimo necessário para o objetivo pretendido, considerando, inclusive, a possibilidade de exclusão imediata dos mesmos após o objetivo ter sido alcançado. O não cumprimento do que dispõe a regulamentação pode gerar multas de até R$ 50 milhões. A adequação à LGPD demanda muita atenção de todas as empresas, sejam elas grandes ou pequenas. Afinal, qualquer empresa hoje está repleta de dados pessoais. Em primeiro lugar, é preciso entender que o conceito de dados pessoais é bem mais amplo do que meramente as informações de identificação objetiva, como nome ou número do documento. Qualquer informação ou conjunto de informações que permitam identificar uma pessoa já é enquadrado como dado pessoal. Num negócio como o de beleza, para o qual informações como tipo e cor de pele e cabelos, por exemplo, confi-

guram uma mina de ouro, tais informações, a depender de como são obtidas, guardadas e utilizadas podem ser consideradas dados pessoais perante à lei. É importante ressaltar que a lei não trata só de dados externos, de consumidores, por exemplo. Os dados que permitem ao RH processar a folha de pagamento, por exemplo, ou mesmo informações referentes a fornecedores e parceiros de negócios, também são dados pessoais, e como tal, precisam receber o mesmo tratamento. Pois bem, para saber como lidar com os dados pessoais nas empresas a partir dessa nova legislação é necessário saber quais são esses dados, onde eles estão, como são obtidos, guardados e para o que são utilizados. E aí reside um dos grandes desafios: mapear esses dados e os fluxos nos quais eles estão envolvidos. “Imagina, dentro de uma única área, quantos são os fluxos de trabalho que envolvem o uso dados pessoais? Agora pense que tudo isso precisa ser analisado e documentado”, expõe a advogada Camilla Jimene, sócia do escritório Opice Blum, especializado em Direito digital. Trata-se de um processo bastante trabalhoso, que envolve entrevistar todas as áreas da empresa, para entender como cada uma delas obtém, armazena e usa dados pessoais na sua rotina de trabalho. Por isso, é importante não se acomodar com o prazo para a entrada em vigor da lei. Parece muito tempo, mas, para quem ainda não começou o processo é bom correr. O tempo necessário para a implementação de um projeto de adequação à LGPD costuma levar de seis até 14 meses. Em empresas de maior porte, o tempo mínimo costuma ser de 10 meses. É um processo que, na maioria das vezes, começa do zero, já que não era uma exigência legal e as empresas, ainda que tivessem uma política de uso de dados pessoais, via de regra, não tinham os processos que envolvem esses dados mapeados de acordo com o que pede a nova lei. O mapeamento de dados é o ponto de partida e a maior dificuldade do projeto de adequação à LGPD. Sem saber quais são os fluxos e como eles funcio-

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nam é impossível avaliar a base de dados e os processos que precisam ser estabelecidos para cada situação. “É preciso entender que o RH, por exemplo, pega essa informação pessoal e manda para o e-social porque está cumprindo uma lei; ou o que o marketing se vale daquela informação porque tem um termo de uso num site no qual a pessoa autorizou a entrega aqueles dados para tal finalidade. Tudo isso você só vai saber se mapear corretamente. Qualquer outra coisa é achismo”, garante Camilla.

As multinacionais saem na frente Por estarem expostas a mais legislações, em geral, a algumas mais avançadas ou rígidas que as brasileiras, em vários aspectos – incluindo a questão da proteção de dados pessoais – as companhias multinacionais costumam sair na frente na hora de se adequar a essas novas realidades regulatórias. Um exemplo disso é a companhia de venda direta Avon. A empresa, que hoje tem sede no Reino Unido, está exposta à GDPR, a rígida legislação europeia de proteção de dados pessoais. “A Avon é uma empresa que desde sempre e independentemente do advento de novas leis, leva muito a sério questões de privacidade de dados”, lembra Tatiana Alcantra, legal counsel da Avon. Ela explica que, antes mesmo da vigência da GDPR, a companhia já vinha globalmente fazendo adequações aos seus processos e políticas. “Já temos grande parte desse trabalho concluído”, afirma. Com a introdução da Lei Geral de Proteção de Dados, todos os processos, sistemas, políticas e contratações das Avon estão sendo revisitados para que todos os pontos da lei sejam atendidos. “No Brasil, um Comitê de Data Privacy com as mais diversas áreas da empresa vem fazendo um mapeamento de todos os dados já coletados e como são tratados, além da aplicação de melhorias em nossos processos e sistemas para atender às exigências da nova lei”, explica Tatiana. Segundo ela, o processo deve estar concluído até fevereiro de 2020, bem antes do prazo limite.


problemas com a aplicação da lei, algo que é de responsabilidade da empresa. A Avon possui um time global, específico para Data Privacy, incluindo um Data Protection Officer. Aqui no Brasil, o departamento Jurídico é o responsável por conduzir esse tema.

camilla jimene, do opice blum: na média, os projetos de LGPD levam de seis até 14 meses para serem implementados.

O risco nos terceiros

Problema transversal Embora o mapeamento constitua o grande desafio em relação à adequação das empresas em relação à LGPD, é preciso ter em mente que a nova legislação impõe também uma necessidade de mudança, ou ao menos de ajuste, na cultura empresarial no que diz respeito ao uso de dados pessoais nos negócios. É preciso conscientizar todas as áreas da empresa para que todos possam estar na mesma página e, a partir daí engajar as equipes no processo. Esse engajamento é importante para evitar que as áreas achem que as questões da LGPD vão ser resolvidas, automaticamente, pela TI ou pelo Jurídico. “O Jurídico, junto ao time de TI, Digital e Vendas são os mais impactados, mas é claro que isso se estende também à outras áreas da empresa, que passarão por adequações. Na Avon, por exemplo, além das políticas globais sobre privacidade de dados, diversos treinamentos foram e ainda são feitos para conscientizar os times sobre a importância desse tema e impactos que ele pode ter no nosso negócio. Tatiana também reforça a necessidade de um traba-

lho de aculturamento da organização, a fim de repensar a real necessidade de coletar determinados dados. Uma vantagem é que hoje, as pessoas já tem uma visão mais clara da importância que a questão da privacidade de dados tem hoje na sociedade em que vivemos. Isso faz com o nível de maturidade em relação ao tema seja mais elevado em relação a outros temas de natureza legal. “Na grande maioria dos casos o desafio é fazer as pessoas entenderem qual é a dinâmica da legislação, quais são os princípios e as bases que a norteiam. Mas, quando você mostra explicitamente o tamanho das penalidades, fica bem claro que é algo que exige muita atenção”, reforça a sócia do Opice Blum. Um das disposições da LGPD é o apontamento de um profissional encarregado, o DPO (da sigla em inglês Data Protection Officer). Até por ser um tema multidisciplinar, a medida é importante para evitar, justamente, uma situação onde o problema tem muitos, ou pior, nenhum dono. Apesar disso, o DPO não responde legalmente por eventuais

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Outro ponto importantíssimo no processo de adequação das empresas à LGPD diz respeito ao compartilhamento de dados ou ao uso de dados por terceiros. A legislação estabelece a responsabilidade solidária. A sociedade digital permite uma economia mais aberta e colaborativa. Mas a conexão em rede de vários agentes traz também um risco sistêmico – em que estando integrados, a falha em qualquer um deles, pode afetar os outros agentes conectados –, aumentando a responsabilidade solidária entre os agentes. Mas, em geral, é sobre as maiores empresas e não sobre as startups que a responsabilidade e os problemas de reputação devem recair. Até porque, em geral, são elas as responsáveis maior pelos dados (ou a beneficiária final do seu uso, caso não seja responsável pela guarda deles). Na Avon, parte do trabalho de mapeamento de riscos envolve os fornecedores da companhia. “Hoje, todo novo fornecedor que tem acesso a informações pessoais passa por um processo de due diligence específico, além de firmar um compromisso contratual que garanta, no mínimo, as mesmas condições de segurança da informação que a Avon adota”, conta Tatiana Alcântara. Camilla explica que é preciso que as empresas entendam muito bem como esses parceiros, que eventualmente vão usar dados pessoais em ações que envolvam a empresa. Para a advogada, esse é um processo que deve evoluir naturalmente. “Hoje, dificilmente uma empresa faz negócio com a outra sem que esta garanta que está em conformidade, que não usa trabalho escravo, que não pratica corrupção... Agora, todo mundo vai exigir dentro da sua cadeia de valor que os dados pessoais estejam recebendo o tratamento adequado perante a lei”, reforça.


REGULATÓRIO Entrevista

Caminhando juntos renato porto, diretor da anvisa, fala dos desafios da agÊncia reguladora para flexibilizar e desburocratizar, ao mesmo tempo em que garante segurança aos consumidores >>> Aûani Cusma de Paula

O

s aspectos regulatórios estão sempre entre os mais complicados no processo de desenvolvimento de produtos de beleza. Mas, também, talvez baseado num histórico de dificuldades recentes entre o setor e a ANVISA, agência regulatória so setor, para muita gente essa relação parece mais difícil do que ela realmente é de fato. O regulador e as associações de classe vêm trabalhando de forma mais próxima, para tornar os processos que envolvem o setor mais eletrônicos, menos burocrárico, ao mesmo tempo em que é preciso assegurar a segurança dos produtos que o setor disponibiliza aos consumidores. Nesta entrevista, Renato Porto, diretor da ANVISA que tem entre outras áreas, a responsabilidade sobre a regulamentação da área de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, fala com Atualidade Cosmética sobre os esforços da Agência para modernizar e simplificar os processos do regulador.

Como a ANVISA avalia o relacionamento da agência com a indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos? A principal forma de relacionamento entre a ANVISA e quaisquer setores regulados pela Agência é por meio do processo regulatório, considerando que

a participação dos agentes afetados é um dos pilares para a construção da regulação sanitária. A indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos tem participado ativamente dos processos regulatórios por meio das Associações representativas do setor. Porém é importante qualificar essa relação. O fornecimento de dados e informações qualificadas auxiliam a mensuração dos impactos das opções regulatórias, sempre no intuito de buscar a decisão mais adequada para a solução do problema apresentado. A ANVISA, como uma moderna instituição da estrutura do Estado brasileiro, também está apta a aprimorar sua relação por meio de Acordos de Cooperação Técnica, considerando o interesse mútuo na promoção e proteção à saúde da população, no desenvolvimento do setor e no aprimoramento contínuo da sua regulação. Em maio de 2018, foi firmado um Acordo entre a ANVISA e a ABIHPEC, que permite a realização conjunta de atividades, trabalhos, programas e projetos de comunicação, científicos, normativos e técnicos de interesse comum na área de Vigilância Sanitária. Por fim, a Agência sempre esteve, e está, à disposição de todos, e hoje tem a oportunidade, por meio dos mais modernos canais, de receber demandas da sociedade organizada, ou mesmo de cidadãos isolados, que apresentam suas sugestões, dúvidas e críticas, acrescen-

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tando ao processo de regular um importantíssimo ingrediente. Uma crítica contumaz dos profissionais da indústria diz respeito à demora para a obtenção de licenças para o lançamento de produtos Grau 2, que demandam mais documentação e análise prévia da agência. O que acontece nesses casos? A maior parte do problema diz respeito realmente à ANVISA – por falta de mão de obra, por exemplo; ou os processos enviados pela indústria para a agência são, em sua maioria, falhos, o que acarreta na necessidade de questionamentos, pedidos de novos estudos e, naturalmente, acaba acarretando em atrasos para a liberação? Atualmente, menos de 3% do total de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes regularizados na Agência são sujeitos a registro, em que há a necessidade de análise e anuência prévia da Agência anteriormente à comercialização dos produtos, são eles: os protetores solares, os alisantes capilares, os repelentes de insetos e os géis antissépticos para as mãos. Para todos os demais, as empresas já podem iniciar a comercialização imediatamente após a notificação dos produtos no sistema eletrônico da Agência. Nota-se, portanto, que a grande maioria de produtos de Grau de risco 2 já não são sujeitos a registro. Esse cenário atual é resultado de um trabalho regulatório que vem sendo realizado desde 2015, iniciado a partir da publi-


Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

QUESTÃO URGENTE: para Renato Porto, a instabilidade do sistema de notificação é um problema que precisa ser enfrentado e resolvido rapidamente.

outras autoridades já trabalharam, no que outros mercados já passaram.

cação da Resolução da Diretoria Colegiada nº 7/2015, que vem buscando transferir o controle pré-mercado dos produtos a um modelo de controle pós-mercado. O objetivo desse caminho é que cada vez menos a Agência seja barreira para o lançamento de novos produtos. Para uma indústria tão dinâmica, essa perspectiva de esperar a autorização da Anvisa para colocar novos produtos no mercado é extremamente prejudicial. Porém, não podemos deixar de perceber que ainda temos altos prazos para os produtos que precisam de registro. Preciso lembrar aqui que os prazos para cumprimento das exigências técnicas pelas empresas também impactam fortemente no prazo final para avaliação dos registros. Em 2018, cerca de 40% dos registros publicados passaram por exigência técnica, cuja maior parte se referem a erros nas rotulagens dos produtos, aspectos extremamente importantes, já que as rotulagens falam diretamente com o consumidor. Se estamos falando de colocar o consumidor no centro do controle sanitário precisamos nos comunicar com ele adequadamente, seja a Anvisa, sejam as empresas. Portanto, é importante que cada ator do processo de regular esteja ciente das suas responsabilidades, sem isso a balança sempre poderá pesar para o agente que regula.

Outro problema que costuma ser apontado por atores da indústria de beleza, é que a ANVISA, por conta da demora na aprovação de novas tecnologias cosméticas (ativos e ingredientes), acaba comprometendo a capacidade da indústria local de se manter em linha com as novas tecnologias globais. É uma crítica justa, na opinião de vocês? Temos sido, cada vez menos, barreira para o lançamento de novos produtos, porém acredito que ainda é necessário antecipar etapas. Acredito que a ANVISA, entendendo melhor e mais rapidamente as demandas que virão, pode se antecipar e retirar essa pressão de tempo. Se conhecemos quais são as novas tecnologias que desembarcarão no Brasil, que serão objetos de registro, que obrigarão a uma nova regulação, conseguimos agir antes, conseguimos resolver os problemas antes mesmo de eles acontecerem. E aqui vejo um caminho muito claro para o Brasil: CONVERGÊNCIA, HARMONIZAÇÃO e RELIANCE regulatório. Neste caminho, cada vez mais se fazem necessários os instrumentos de cooperação internacional. O setor precisa estar atento a isso, se juntar à Anvisa e buscar entender o que outros países já viveram. Temos muitas vezes a oportunidade de não perdermos tempo no que

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A ANVISA está investindo na digitalização e na automação dos seus processos? O que você pode compartilhar conosco nesse particular? Não restam dúvidas de que a digitalização e a automação de processos são ferramentas fundamentais para garantir a eficiência do serviço público, sendo essa uma das diretrizes do Governo Federal. O Sistema de Automação de Registro de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes (SGAS) foi um importante avanço para a Agência quando se trata de automação de análise técnica. Como exemplo, o sistema impede que substâncias proibidas sejam inseridas na composição dos produtos, sem a necessidade da avaliação de um servidor para detectar tal irregularidade. No entanto, é fato que os sistemas eletrônicos da Anvisa são um dos principais problemas que enfrentamos nos últimos anos. Na área de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, esse problema é agravado ainda mais pelas constantes instabilidades. É preciso enfrentar esse problema urgentemente! Nessa linha, a ANVISA vem trabalhando na aquisição de novos sistemas de peticionamento que propiciem uma solução definitiva a este problema, não só na área de cosméticos, mas em todas. Problemas relacionados ao uso de claims (ou até comunicação off label), representam um problema para a ANVISA na relação com a indústria de beleza? A utilização de claims inadequados é um dos problemas que vem sendo encontrados na rotulagem de produtos cosméticos. Além da identificação desses claims durante a análise dos produtos registrados, é comum recebermos denúncias ou identificarmos irregularidades através do monitoramento dos produtos no SGAS. As irregularidades normalmente estão relacionadas a ale-


REGULATÓRIO Entrevista gações de produtos cosméticos que se assemelham a medicamentos ou produtos para saúde, com indicações para tratar, corrigir, dentre outras. Como disse, é preciso falar claro com o consumidor! As associações da indústria que se relacionam mais diretamente com a ANVISA têm comentado a disposição da agência de desburocratizar, simplificar os processos de registro e passar a dedicar mais atenção a fiscalização. Me parece ser o modelo mais correto e apropriado, mas, do ponto de vista prático, a ANVISA está preparada para ir às ruas e garantir que a fiscalização na ponta seja verdadeiramente efetiva? Como citei, a ANVISA está buscando fortalecer o controle sanitário de produtos no pós-mercado e há diversas formas de se fazer isso, não se limita a “sair às ruas”. É claro que, pelo tamanho do mercado brasileiro, e isso é um fator que deve sempre ser considerado numa regulação, a Agência não dispõe do número de servidores suficientes para fiscalizar tudo e em todo lugar. As Vigilâncias Sanitárias Municipais e Estaduais são nossas grandes parceiras nesse processo. Por outro lado, só vejo uma forma de conseguirmos equalizar o pós-mercado, o consumidor precisa compreender o seu papel e ser o principal agente de fiscalização. Veja os produtos de menor risco, aos poucos, nota-se que a sociedade tem sido cada vez mais atuante na disseminação de informações relacionadas a irregularidades e ineficácia dos produtos. Além disso, a Anvisa tem analisado as denúncias e notificações de eventos adversos e queixas técnicas recebidas e tem aumentado substancialmente a realização de auditorias no SGAS para monitoramento dos produtos que foram inseridos no mercado sem anuência prévia da ANVISA. Acredito que esse seja o caminho. Vocês têm algum projeto para envolver mais a população no seu processo de fiscalização, ou seja, criar mecanismos e, mais importante, divulgá-los para que as pessoas possam acessar facilmente a ANVISA para fazer reclamações e denúncias? É fundamental que o consumidor participe ativamente do processo de fiscali-

zação dos produtos. A ANVISA já conta, atualmente, com diversos canais de comunicação com a sociedade, como a Central de Atendimento e a Ouvidoria, além do Notivisa, sistema informatizado desenvolvido pela Agência para receber notificações de incidentes, eventos adversos e queixas técnicas relacionadas ao uso de produtos sujeitos a vigilância sanitária, incluindo os cosméticos. A Anvisa também tem buscado conversar mais com os cidadãos, em uma linguagem acessível a todos. Nossa comunicação tende a mudar, estamos trabalhando para que o portal, cada vez mais, seja um canal com o cidadão e não somente um portal que presta informações ao setor regulado. A cada dia vemos que as redes sociais, as mídias modernas, se tornam um recurso útil para o funcionamento do Estado, não podemos deixar isso passar. Atualmente nosso site apresenta manuais de como fazer essas notificações, além de alertas e informações sobre os produtos que estão regulares ou irregulares. Nessa linha, incentivo fortemente a todos os cidadãos a seguirem a ANVISA nas redes sociais, que diariamente apresentam informações de extrema relevância para os cidadãos. Na outra ponta, vocês avaliam que a indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, no seu conjunto, tem maturidade e responsabilidade para operar de forma mais “livre” em categorias que hoje ainda demandam autorização prévia da ANVISA? Hoje são pouquíssimos os produtos que ainda necessitam de anuência da ANVISA prévia à comercialização, essa é uma prova que, para essa categoria de produto, o setor produtivo pode e tem que assumir sua responsabilidade. Recentemente, os produtos infantis também foram excluídos dessa necessidade. Como venho falando, acredito que a tendência é de uma redução ainda maior do controle pré-mercado desses produtos. Por outro lado, é preciso fortalecer rapidamente os níveis de compliance regulatório dos dois lados. Para a ANVISA, que obrigatoriamente deve ter um sistema de pós-mercado mais bem estruturado, são necessários mais investimentos, tanto financeiros, como de recursos huma-

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nos no controle pós-mercado. A ANVISA é uma agência reguladora e, como tal, deveria funcionar de forma independente do governo. Mas, é inegável que o governo de turno acaba influenciando (para o bem ou para o mal), no funcionamento das agências. O novo governo teve como um pilar importante da sua campanha, temas como desburocratização e flexibilização regulatória. Como a ANVISA encara esses posicionamentos e, o que pode eventualmente ser feito em termos de desburocratização e, também, o que podemos entender por flexibilização, caso a ANVISA tenha planos nesse sentido? Parece ser um grande desafio buscar a “desburocratização” e a “flexibilização” regulatórias ao mesmo tempo em que a Agência garante a segurança, a eficácia e a qualidade dos produtos regulados, cumprindo a sua missão institucional de promover e proteger a saúde da população. Porém, isso é possível, de diversas maneiras, e estamos trabalhando para tanto. Os regulamentos editados pela ANVISA são necessários para assegurar a proteção da saúde dos brasileiros e vários deles também contribuem para reduzir falhas de mercado, na tentativa de promover uma relação mais equilibrada entre os agentes de mercado. Alguns desses regulamentos impõem obrigações às empresas, entre outros agentes,


PROBLEMAS COM AS “LETRINHAS”: erros de rotulagem e claims inadequados estão entre as maiores causas de notificações à indústria pela ANVISA.

que podem, por exemplo, resultar em um volume considerável de horas e dinheiro gastos com coleta e envio de dados, preenchimento de planilhas e formulários, exigências de informações e notificações. Essas obrigações geram custos, sendo que muitos deles poderiam ser minimizados ou até evitados. Neste sentido, é importantíssimo que as informações cheguem a nós, que os dados e estudos sejam aportados no processo regulatório, ou mesmo nos dossiês de registro, mas é preciso saber o que pedir, como utilizaremos essas informações, senão teremos um custo administrativo inadequado. Cada dia mais se faz importante esse trabalho, os recursos do Estado são finitos, já cobramos impostos altíssimos, como fazer então com que o Estado incentive a economia, talvez com uma desburocratização e diminuição do chamado fardo regulatório. Não gosto dessa palavra, mas neste exato caso é correta: o que não é necessário é fardo. Nessa linha, a ANVISA publicou um Guia para auxiliar a análise dos custos da carga administrativa, conferindo aos tomadores de decisões uma visão geral e descomplicada da carga administrativa e permitindo uma aplicação direta no processo de simplificação das normas sanitárias. A revisão do modelo regulatório da Agência, que entra em vigência em abril e institucionaliza a Análise de Impacto Regulatório, fornece subsídios sobre os

impactos de cada exigência regulatória, buscando uma regulação mais proporcional e eficiente. A ANVISA também tem trabalhado com ações de gestão do estoque regulatório, como a Guilhotina Regulatória, que já reduziu em torno de 18% o estoque regulatório da Agência, e deve chegar em breve a 30%. Essa é a diretriz que dou na Agência, qualquer regulamento que não seja justificado como legal e necessário deve ser eliminado. Já qualquer regulamentação legal e necessária, mas com impactos significativos consideráveis, deve ser simplificada na medida do possível. Por fim, diversas outras medidas de simplificação administrativa têm resultado na redução ou na eliminação da carga administrativa para a comunidade empresarial, como exemplo do peticionamento eletrônico de atividades administrativas, da ampliação de produtos que não necessitam de registro sanitário, da facilitação de emissão de alvará de licenciamento sanitário para empresas de baixo risco e da implantação de serviços de atendimento virtual. A ANVISA cobre vários segmentos da indústria, cada qual com as suas peculiaridades. Sei que lá atrás a indústria atuou bastante para treinar essa equipe sobre como funciona o mercado, e, num dado momento, a rotatividade se tornou tão grande que esse conhecimento não se assentava no departa-

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mento. Como está a política de RH da ANVISA hoje em relação a isso? A rotatividade de servidores entre as áreas técnicas pode trazer algumas desvantagens, principalmente em relação à necessidade de capacitação frequente dos servidores atualmente lotados na área técnica e perda na continuidade de projetos. Por isso a institucionalização de projetos estratégicos nas áreas técnicas, especialmente quando falamos de qualificação de pessoas, é tão importante. Estamos falando de um corpo técnico que já tem em média mais de 10 anos de experiência, é preciso ter projetos para que essas pessoas devolvam ao serviço público o conhecimento adquirido. Estruturar projeto a médio e longo prazo é fundamental para evitar que influências externas interfiram no trabalho da área e no atingimento das suas metas, cada área precisa refletir fortemente sobre isso. Mas não condeno de plano a rotatividade, desde que maneira controlada, pois pode trazer novas visões para a área, compartilhar experiências, harmonizar processos e procedimentos entre as diferentes áreas. Por fim, manter os servidores entusiasmados e motivados com o trabalho é um grande desafio no serviço público, então pensar em oxigenar áreas e pessoas é fundamental. Para finalizar, vocês têm alguns pontos focais, os aspectos que vocês consideram ser os mais relevantes, na agenda de relacionamento entre a ANVISA e o setor cosmético? Acredito que os pontos fundamentais neste momento são a transparência e a novo momento de controle sanitário, que chamo de controle de pós-mercado ou pós-registro. Um é meio, é como se deve tratar a relação público-privada, com absoluta transparência, mostrando claramente, com um racional cientifico, onde se pretende chegar. O outro é resultado, é dizer que sem um bom modelo de controle pós-registro não conseguiremos avançar, o país é grande, o mercado é aquecido, portanto ser barreira a entrada de produtos, ou ao desenvolvimento não é o trabalho da ANVISA, e isso só acontecerá com o setor mais corresponsável, assumido seus ônus e cobrando o bom trabalho da Agência. Isso já está acontecendo!


sustentabilidade Microesferas

Vilões na berlinda Não é de hoje que o mercado de beleza acordou para os riscos trazidos à natureza pelas microesferas plásticas utilizadas em alguns tipos de produtos. Entretanto, as ações no Brasil para banir este material vêm se tornando mais efetivas recentemente >>> Rafael Mendonça

E

m um mundo que parece se voltar cada vez mais com maior atenção para questões sustentáveis, os olhares têm se direcionado para diversas pontos mais específicos de cadeias produtivas. Um desses alvos já há certo tempo são as microesferas plásticas, tidas como um dos grandes poluidores dos mares. A justificativa para este status negativo é que essas minúsculas partículas esféricas de plástico, presentes em produtos cosméticos e de higiene pessoal, como cremes dentais, esfoliantes, sabonetes e shampoos, não conseguem ser devidamente retiradas da natureza quando são levadas pela água e, mesmo em tratamentos mais adequados, uma parte acaba chegando ao sistema de esgoto. Por fim, esses componentes têm como destino final os rios e mares. A consequência disso pode ser bastante danosa, sobretudo dentro da biota marinha, em que seres acabam ingerindo essas microesferas, levan-

do até a morte de animais por engasgamento, além da possibilidade de também entrarem na cadeia alimentar humana pela contaminação dos animais. Com o intuito principal de proporcionar viscosidade, esses produtos de higiene e beleza chegam a ter 20% desse componente em seu volume. Essas microesferas de plástico são provenientes de diferentes polímeros, como de polietileno (PE), polipropileno (PP), polimetilmetacrilato, náilon (Poliamida ou PA), entre outros. Com a questão ganhando corpo em discussões sobre o impacto desse tipo de material no meio ambiente nos últimos anos, alguns países tomaram atitudes mais severas. Os Estados Unidos é quem mais avançou nesse combate, tendo inclusive alguns estados que já proibiram completamente o uso. Em outros países, a proibição já está em andamento, com governos tendo estipulado prazos para a adequação. Enquanto isso, no Brasil, o Rio de Janeiro é quem mais está avançado. Em setembro de 2018, o estado

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exemplos de micoesferas plásticas em produtos de higiene e beleza: a indústria brasileira está comprometida com a extinção deles em suas fórmulas.

aprovou uma lei que visa “proibir a fabricação, distribuição, comercialização, importação, venda e divulgação de produtos de higiene e beleza que contenham pequenas esferas de plástico”.

Movimentando o mercado Com o clamor popular aumentando e com as autoridades se posicionando nessa luta contra a utilização de microesferas plásticas, a indústria cosmética também começou a se mexer, com muitas empresas organizando suas próprias iniciativas. No início de 2019, a Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) firmou um compromisso voluntário junto à indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, visando eliminar o uso de micropartículas plásticas sólidas insolúveis em produtos enxaguáveis. Com isso, o setor terá de buscar alternativas de outros ingredientes, com função semelhante, mas biodegradáveis. Segundo a entidade, este era um desejo da própria indústria, ou seja, abolir o uso das chamadas MPSIs (micropartículas plásticas sólidas insolúveis). De acordo ainda com a Abihpec, apesar de ser “apenas” um compromisso voluntário e mesmo que não haja nenhum tipo de fiscalização, a expectativa é que ele seja cumprido pela indústria até 2021, prazo estipulado para que as empresas reduzam até que eliminem por completo o uso de micropartículas plásticas sólidas insolúveis em pro-

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dutos enxaguáveis. A ideia é atender também a um movimento global para redução da poluição oceânica, sem comprometer a qualidade e a segurança para os consumidores. A Abihpec lembra ainda que estudos independentes realizados internacionalmente comprovam ser muito baixo o impacto ambiental oriundo dos produtos cosméticos que utilizam estes ingredientes. “Relatório do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, por exemplo, intitulado Marine Plastics debris and microplastics (2016), conclui que ‘embora o uso de micro plásticos em produtos de cuidados pessoais possa parecer representar uma fonte significativa, é relativamente pequeno em comparação com outras fontes’”, diz o comunicado emitido pela associação, que também conta que, de acordo com estudos realizados na Europa, o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos contribui apenas com cerca de 0,1% a 1,5% dos microplásticos emitidos em todo o mundo. Para entidade, haverá um grande desafio pela frente para que este compromisso seja atendido. Isso porque considera ser complexo identificar outros ingredientes que sejam comprovadamente seguros e eficazes para o uso dos consumidores. “Novas formulações e ingredientes necessitam ser avaliadas e testadas, bem como submetidos às exigências legais que normatizam este segmento”, ressalta a entidade.

Indústria já atenta Mesmo antes desse compromisso firmado junto à Abihpec, já haviam empresas se movimentando nesse


sustentabilidade Microesferas

GISELE CARAMORI, DA BUONA VITA: em 2015, companhia paranaense removeu totalmente de seu portfólio de cosméticos as esferas plásticas.

sentido. Multinacionais assumiram posicionamentos em outros lugares do planeta e as ações já começam a ter reflexos também aqui no Brasil. No caso da Johnson & Johnson, por exemplo, a companhia de origem norte-americana assegura que foi uma das primeiras empresas a se comprometer com a remoção de micropartículas de plásticos de polietileno em seus produtos cosméticos e de higiene pessoal, isso em 2013. Segundo a J&J, naquela época, “paramos de usar este tipo de micropartículas plásticas em novos produtos e, em 2017, concluímos reformulações para retirar globalmente esses ingredientes de nosso portfólio completo de produtos. No Brasil, estamos utilizando soluções biodegradáveis em nossos produtos”, afirmou, em posicionamento enviado à Atualidade Cosmética.

MÁRCIO ACCORDI, DA BIOZENTHI: substituir as microesferas plásticos por ceras e esferas de sementes foi um processo difícil, mas que valeu a pena.

rinho e nos cursos d´água são motivo de preocupação para ela. De acordo com o compromisso da companhia, a L’Oréal não usa mais microesferas de plástico como agentes de limpeza ou esfoliantes em seus produtos com enxágue. Segundo posicionamento da empresa, “a reformulação foi concluída. No entanto, alguns produtos contendo microesferas ainda podem estar presentes no mercado. Todas as novas fórmulas estarão em breve amplamente disponíveis, usando ingredientes alternativos seja isoladamente ou em associação, como minerais como argilas ou pó de caroços de frutas”, afirma. A nota ainda diz que a L’Oréal permanecerá atenta aos novos desenvolvimentos científicos neste campo e está comprometida em trabalhar em colaboração com todas as partes interessadas.

De acordo com a Abihpec, apesar de ser “apenas” um

compromisso voluntário e mesmo que não haja nenhum tipo de fiscalização, a expectativa é que a eliminação das

microesferas plásticas seja cumprido pela indústria até 2021 Enquanto isso, no caso da L’Oréal, a multinacional francesa garante que detritos de plástico no ambiente ma-

Processo de adaptação Além de dirigir a empresa catarinense Biozenthi Laboratórios Cosmético,

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Márcio Accordi também é biólogo geneticista. Por conta desta sua especialidade em cosmetologia, ele sempre costuma participar de pesquisas sobre sustentabilidade e busca ler muito a respeito de questões ligadas ao meio-ambiente. Ele recorda que, há cerca de oito anos, começou nos Estados Unidos essa discussão sobre as consequências trazidas pelas partículas de plásticos à natureza. Lembra também que esse material era muito utilizado em todo mundo na época. “Quando eu li isso, pesquisei quem fornecia algo diferente e trocamos. Deixamos de usar na época estas partículas de plásticos e passamos a usar ceras ou esferas de sementes”, revive. O diretor da Biozenthi recorda que, na época, foi bem difícil a substituição. “Estamos falando de quase dez anos atrás. E ainda considerando que a Biozenthi era uma empresa de pequeno porte, tínhamos que comprar uma quantidade extremamente grande para atingir o pedido mínimo de venda do fabricante. Mas quando pensamos que estamos contribuindo para um meio ambiente melhor, vale a pena”, explica. Márcio enfatiza ainda que, na pele, as micropartículas de plásticos ou as ceras não fazem diferença, pois os plásticos são partículas


pequenas que não agridem a pele e o objetivo tanto das ceras quanto das partículas de plástico é o de esfoliar, renovar as células da pele, retirando as mortas. “Portanto, é uma troca que vale a pena”, reforça. Já Gisele Caramori, diretora técnica da Buona Vita, lembra do seguinte dito quando se trata desse tipo de material: “microesferas, macro problemas”. Diante de todo o cenário que está sendo construído de alguns anos para cá, a dirigente crê que a tendência mundial de vegetalização das matérias-primas utilizada em cos-

méticos, já aplicada em alguns países em todo o mundo, chegou ao Brasil já há alguns anos, porém aqui ainda não é proibido a sua utilização na fabricação de produtos de higiene pessoal e de tratamento. “A Buona Vita utilizava esta matéria-prima em seus cosméticos, porém em sua constante busca por inovação, removeu totalmente de seu portfólio de cosméticos estas esferas plásticas desde 2015, agregando esfoliante de origem 100% natural e biodegradável”, destaca ela. O substituto utilizado pela paranaense Buona Vita são as microesfe-

Flexibilidade nas hastes

ras vulcânicas. “A vantagem é que a matéria-prima substituta, além de exercer a mesma função esfoliante, tem certificação Eco Cert, pois se trata de uma matéria-prima mineral de origem 100% natural, não causando danos ao meio ambiente e aos animais marinhos. Essa é uma troca consciente, que envolveu algumas pesquisas. E o produto tem a mesma eficiência, contribui para a sustentabilidade e não prejudica o meio ambiente. Dessa forma, acredito que o custo benefício sem dúvida é vantajoso”, complementa.

IMPACTO NOS MARES: foto tirada por Justin Hofman em 2017, na Indonésia, viralizou na época e rendeu até prêmio ao fotógrafo.

O

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Foto: reprodução instagram/justinhofman

utro produto que virou alvo de investidas visando uma redução do impacto na natureza são as hastes flexíveis. Como é sabido, uma grande quantidade de plásticos vai parar no mar todos os anos. Estamos falando aí de quase dez toneladas e, desse número alarmante, um dos itens que mais tem este destino são as hastes flexíveis. Caso seja retirado os algodões de suas extremidades, as hastes de plásticos podem ser recicladas. Entretanto, basicamente por conta de seu tamanho, elas acabam sendo “desprezadas” quando o lixo reciclável está sendo separado ou são descartados com outros tipos de lixo e seu fim quase sempre é o mar. Para piorar este cenário, há lugares – como em diversos países da Europa – onde é muito comum o descarte de hastes flexíveis em vasos sanitários, chegando ainda mais rápido a águas marinhas. Diante dessa triste realidade, o governo da Escócia tentou por meio de campanhas conscientizar a população sobre o mau descarte das hastes flexíveis. Como não obteve tanto sucesso, decidiu tomar uma atitude mais drástica, proibir a fabricação e venda deste tipo de produto com plástico, apontando como caminho o uso de tubos de papel biodegradável para a confecção das hastes. A decisão entrou em vigor no país há um ano e, de lá para cá, outros países do Velho Continente também vêm tomando o mesmo rumo. Para ajudar, a União Europeia decidiu proibir, a partir de 2021, o uso de alguns plásticos descartáveis, entre eles os utilizados em hastes flexíveis. Um dos principais fabricantes deste tipo de produto, a Johnson & Johnson já está de olho nessa situação há algum tempo. Dona da emblemática marca Cotonetes, como são popularmente conhecidas as hastes flexíveis no Brasil até hoje, a J&J iniciou a substituição do plástico de suas hastes flexíveis em algumas regiões, sendo que na Europa isso já foi implementado e, em outras localidades, as avalia-

ções já estão sendo realizadas. “Estamos empenhados em reduzir os impactos ambientais de nossas operações globalmente e sempre buscando viabilidade de melhorias contínuas: investigando, acessando e melhorando nossos produtos, serviços e operações”, conta Fabiana Gargaro, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento na Johnson & Johnson Consumo Brasil. Ela destaca também a assinatura da Johnson & Johnson Consumo ao compromisso global para a redução de plástico, o New Plastics Economy Global Commitment. “Juntamente com a Fundação Ellen MacArthur, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e mais de 240 empresas que são líderes globais do setor, além de governos e ONGs, a Johnson & Johnson Consumo ratifica seu compromisso e esforços em enfrentar uma das questões ambientais mais urgentes do nosso tempo: resíduos plásticos”, completa. No Brasil, já há marcas produzindo hastes biodegradáveis. A Needs, marca exclusiva da Droga Raia, produz hastes flexíveis com papel reciclável com pontas de algodão em espirais, visando facilitar o uso. Enquanto isso, a marca Affagio foi a primeira no País a lançar hastes nesse formato.

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clássicos

da perfumaria Força da atração A atratividade da personalidade do homem conquistador, estabelecida no imaginário popular, foi o norte de um dos primeiros perfumes de sucesso da marca peruana L’Bel no Brasil, o Devos Magnetic

P

rimeiro de sua linha, o Devos Magnetic foi lançado em 2004 e chegou ao Brasil apenas no ano de 2011, cimentando as bases da L’Bel, da Belcorp, no mercado com um forte oriental especiado masculino. Originalmente idealizado com base nas histórias de grandes sedutores ao redor da história da humanidade, figuras como Don Juan e Casanova, homens que não somente conseguiam o que queriam, mas que inspiravam nas mulheres o desejo e até mesmo o fascínio. As notas de abertura com tangerina e bergamota, aliadas ao corpo de pimenta-negra, cravo, noz-moscada e o fundo com sândalo, vetiver e cedro, planejadas pelo perfumista Ilias Ermenidis, visam chegar às narinas tão instigantes quanto a própria personalidade dos conquistadores contemporâneos. O destaque da fragrância cai principalmente na presença da pimenta-negra, para o perfumista da Firmenich, ocorre para dar a ênfase no traço instigante e sensual do homem. O nome Magnetic do produto é justamente a tradução do conceito da figura do homem magnético, atraente em vários sentidos – principalmente ao sexo oposto, porém não exclusivamente. “Inspirei-me na profunda atração que os grandes sedutores da história exerceram sobre as mulheres com o decorrer dos tempos, fazendo com que muitas delas perdessem a cabeça”, afirmou Ilias, acerca do principal conceito por detrás do produto. Sua embalagem também foi desenhada em sinergia com todo o conceito da fragrância. Com apenas frasco negro e tampa prateada, sua embalagem visa trazer todo o tom instigante que as notas de pimenta-negra e noz-moscada trazem. A peculiaridade do perfume e seu lançamento no Brasil foi seu nome, apenas saindo como “Devos”, sem o Magnetic no frasco do produto.

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Fórum abre de

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