E D I TO R I A L
EDIÇÃO IV
REEXPERIMENTAÇÃO
ANO II - Nº 01 MARÇO | ABRIL 2018 (bimestral)
Primeira edição do ano da revista traz renovação em conteúdo e estética visual
DIRETORIA DO CT Carlos Almir Monteiro de Holanda (Diretor) Diana Cristina Silva de Azevedo (Vice-Diretora) DIRETORIA ADJUNTA DE ENSINO (DAE) E NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (NOE) Bruno Vieira Bertoncini (Coordenador da DAE) Yangla Kelly Rodrigues (Coordenadora do NOE) André Bezerra de Holanda (Administrador) ENDEREÇO Campus do Pici - Bloco 710 CEP 60440-900 - For taleza - CE CONTATO 85 3366 9600 | 85 3366 9609 daect@ufc.br / daectufc@gmail.com www.ct.ufc.br /daectufc @daectinforma DIAGRAMAÇÃO, REPORTAGEM, E PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Lucas Casemiro de Sousa lucascasemirodesousa@gmail.com REVISÃO André Bezerra Bruno Vieira Yangla Oliveira
Produção do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará. Reprodução livre desde que creditada fonte.
REALIZAÇÃO
Se houver mudança, que seja para melhor. Na UFC, natural que toda transformação seja direcionada a quem a constrói. Em 2018, a revista CT News chega à sua quarta edição repaginada. Com novos projetos editorial e gráfico, o periódico eletrônico empresta experiências leitoras mais orgânicas a quem se aventura a conhecer mais sobre o Centro de Tecnologia, seja em termos de conteúdo ou na estética que o envelopa. Aos alunos, a capa. Nesta edição, a e-revista traz à discussão o perfil de egressos formados a partir da validação da reforma curricular por que passam as engenharias do CT. Que profissionais a UFC quer formar no futuro? Questionamento que deve envolver a participação de todos. A seção Páginas Azuis incentiva o debate em torno de metodologias de ensino e aprendizagem em entrevista com a coordenadora do curso de Design, professora Mariana de Lima. No curso, disciplinas de projeto são ministradas em integração a outras para uma melhor assimilação de conteúdo por parte dos estudantes. Inspiração para que outros profissionais da sala de aula possam transformar a Universidade. Por falar em transformação, não poderíamos esquecer de quem todo dia “prepara o terreno” para que tudo possa funcionar dentro das melhores condições possíveis na UFC. Perfinamos Francisco das Chagas Nunes de Oliveira, o Chiquinho. Com mais de 30 anos de dedicação ao CT, o ícone coleciona homenagens em placas de formatura de turmas. Exemplo de carisma, Chiquinho é muito mais do que aparenta. Ainda, em Pesquisa, conheça o projeto internacionalmente inovador desenvolvido pelo Laboratório de Combustão e Energias Renováveis (Lacer/UFC) que transforma problemas de saneamento de Fortaleza em negócio. Seja aluno, professor ou servidor técnico-administrativo, a CT News convida a outras leituras e ângulos de experimentação da Unidade Acadêmica.
REDAÇÃO CT NEWS
ÍNDICE
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REPORTAGEM
O PODER DA DECISÃO Entenda as implicações da reforma curricularnos dos cursos de Engenharia do CT
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PERFIL CHIQUINHO, O PATRIMÔNIO DO CT Quem estuda no Centro de Tecnologia e nunca ouviu falar do Chiquinho, ícone da cultura de prestação de serviço acadêmico? Muito mais que um simples funcionário, Chiquinho é amor.
PÁGINAS AZUIS ENTREVISTA Professora Mariana de Lima conversa sobre metodologias ativas de ensino e aprendizagem no curso de Design
PESQUISA
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SUSTENTABILIDADE Pesquisa de destaque internacional produzida no Laboratório de Combustão e Energias Renováveis da UFC (Lacar/UFC) tranforma problemas de saneamento em negócio
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ACONTECEU NO CT DIA A DIA - Boas vindas aos calouros - Dia internacional da Mulher - Engenharia de Computação passa por avaliação de reconhecimento do
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FALA, ALUNO! DESTAQUE Curso de Engenharia Química recebe 4 estrelas em avaliação do Guia do Estudante. Presidente do Centro Acadêmico do curso comenta sobre nota.
VIDA DOCENTE
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DIA A DIA
Ensino a Distância em pauta no Centro de Tecnologia Metodologias ativas na engenharia discutida em envento internacional
ACONTECEU NO CT FEVEREIRO
BOAS VINDAS AOS FUTUROS TRANSFORMADORES DO MUNDO Recepção dos novos ingressantes do CT acontece nos campi do Pici e Benfica
Tanta gente em cargos de chefia, à frente da empreitada coletiva em busca de uma educação cada vez mais qualificada, que a mesa de abertura do cerimonial – e o auditório como um todo – apequenou-se. Cientes da magnitude do CT, percepção que se teceu ao longo das décadas de experiência na recepção de ingressantes, a cerimônia foi pensada em dois momentos. Na parte da manhã, compuseram a mesa os coordenadores das Engenharias Ambiental, Civil, de Energias Renováveis, de Petróleo, Metalúrgica e Química. Na tarde, foi a vez de se fazerem presentes os coordenadores das Engenharias Elétrica, de Computação, de Produção Mecânica, de Telecomunicações e Mecânica.
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Três figuras presentearam ambos os momentos: o Diretor do Centro de Tecnologia, Prof. Carlos Almir Monteiro de Holanda, a ViceDiretora da Unidade Acadêmica, Profª Diana Cristina Silva de Azevedo e o Coordenador de Programas Acadêmicos do Centro, Prof. Bruno Vieira Bertoncini. Após a fala dos integrantes da mesa de abertura, representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia na sua versão júnior (Crea Jr) apresentaram o projeto aos calouros. Na sequência, foram homenageados estudantes que obtiveram destacado desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2017). Os três primeiros colocados no Sistema Único de Seleção (Sisu) para cada um dos cursos de graduação em Engenharia do CT foram homenageados com certificados entregues pelos coordenadores dos cursos de cada área.
O evento encerrou-se, nos dois turnos, com a palestra “Ceará 2050 e os desafios para a Engenharia”, proferida pelo Engenheiro Civil, professor e presidente da Fundação de Apoio a Pesquisas no Ceará e Nordeste (Fundação Astef) José de Paula Barros Neto. Arquitetura e Urbanismo + Design Já no Campus do Benfica, os ingressantes do curso de Arquitetura e Urbanismo e do curso de Design participaram, dentre outras atividades, de visita guiada ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), de oficinas, de palestras, de rodas de conversa e houve também apresentação de projetos dos cursos, cada curso com programações individuais. As duas programações juntas se distribuíram nos dias 21, 22 e 23 de fevereiro.
FOTO/ ANDRÉ BEZERRA
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Auditório Cândido Pamplona, do Centro de Tecnologia, esteve lotado durante todo o dia 22 de fevereiro de 2018. É que nessa data se pode conhecer os rostos dos novos ingressantes nos cursos de Engenharia do CT, em cerimônia de recepção especialmente voltada aos calouros. Em meio às apresentações de diretores do Centro e coordenadores de cursos, às homenagens a recémingressos e à palestra sobre o lugar da Engenharia na plataforma Ceará 2050, do governo estadual, efetivou-se o primeiro contato com a educação superior daqueles que se tornarão profissionais com potencial de salvar o mundo.
FOTO/ RENATA PINHEIRO
ACONTECEU NO CT MARÇO
AÇÕES EM HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER INCENTIVAM REPRESENTIVIDADE NO CT Evento é novidade num ambiente predominantemente masculino; Transformação do quadro de gênero vem mudando inclusive a forma de fazer gestão no Centro de Tecnologia
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Na segunda metade de 1970, por exemplo, o Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC (DEHA), vinculado ao CT, era conhecido por ter um corpo docente bastante limitado. Além disso, todos os professores do DEHA eram homens e havia turmas em que todos os estudantes eram do sexo masculino. Hoje, o departamento tem 4 mulheres em meio a 20 professores homens, e ações de incentivo à representatividade feminina contribuem para a chegada, acolhimento e permanência delas na Universidade. Para compor a programação do Dia, a estudante de Engenharia Quem conta é a primeira mulher a de Energias Renováveis Ana lecionar no DEHA, Profª. Marisete Beatriz Furtado ajudou a organizar Dantas de Aquino. Ela esteve uma oficina de defesa pessoal presente na roda de conversa que oferecida às mulheres no anfiteatro reuniu servidoras docentes, técnico- do Departamento de Engenharia administrativas e terceirizadas do Metalúrgica e de Materiais (DEMM). CT na sala do Conselho de Centro “O dia da mulher não é só sobre (Bloco 710) para compartilhar bombons, rosas, flores, é sobre vivências nessa Unidade que é uma resistência e luta, e a gente precisa com mais presença masculina na aprender a se defender nesse Universidade. mundo”, diz.
Eu quero crer que a minha presença no CT seja inspiradora”
FOTO/ DIVULGAÇÃO CT
dia que homenageia a luta em busca de condições mais equânimes para as mulheres na sociedade, inclusive nos aspectos acadêmico e profissional, foi celebrado no Centro de Tecnologia (CT) da Universidade Federal do Ceará com atividades que envolviam café da manhã, roda de conversa, plantio de mudas, oficina de defesa pessoal e até foto coletiva para as participantes. Mas ações como essa nem sempre existiram – e nem mulheres, em alguns espaços do CT.
Ela não está só nessa empreitada de buscar uma Unidade Acadêmica com mais presença feminina. A figura que desde 2015 tem sido responsável por promover essas e outras ações mais voltadas para as mulheres no CT é a Profª. Diana Azevedo, primeira mulher a assumir a Vicediretoria do Centro. “Eu quero crer que a presença dessas mulheres que eu citei, que a minha presença na vice-direção do Centro, pode ser inspiradora e motivadora para que outras colegas se coloquem, porque avalio que as mulheres trazem uma maneira complementar e diferente à maneira masculina de fazer gestão, de liderar, e as organizações só têm a ganhar com isso”, incentiva.
DADOS Apenas 15,7% dos cargos de chefia no CT são ocupados por mulheres. São 11 professoras num universo de 70 cargos. CT NEWS MARÇO | ABRIL 2018
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ACONTECEU NO CT ABRIL
ENGENHARIA DE COMPUTAÇÃO PASSA POR AVALIAÇÃO DE RECONHECIMENTO DO MEC
FOTO/ ESTELA OLIVEIRA
Verificação in loco das condições institucionais é passo importante para levar o curso a um novo patamar de qualificação
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ma comissão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), visitou o curso de Engenharia de Computação da Universidade Federal do Ceará nos dias 03 e 04 de abril para realizar avaliação de reconhecimento do curso, de responsabilidade do Departamento de Engenharia de Teleinformática (DETi) e do Departamento de Computação (DC).
FOTO/ ESTELA OLIVEIRA
Os dois representantes do Banco de Avaliadores (BASis) do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) do MEC observaram a organização didáticopedagógica, o corpo docente, discente, técnico-administrativo e as
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instalações físicas do curso. A avaliação de reconhecimento verifica se foi cumprido o projeto apresentado para autorização do curso, que dispõe sobre a legalidade da oferta de ensino. Ou seja, todo curso de nível superior deve funcionar com autorização prévia do MEC. O parecer oficial sobre a situação da Engenharia está previsto para ser divulgado ainda em 2018, podendo reconhecê-lo, solicitar ajustes ou negar seu reconhecimento. Entretanto, o curso já obteve um conceito preliminar nível 4, significando “muito bom”, tendo como pontos positivos a infraestrutura, os corpos discente e docente do curso.
VIDA DOCENTE
ENSINO A DISTÂNCIA EM PAUTA Formação capacita docentes a lidar com ambientes virtuais de educação e contribui para atualização tecnológica das metodologias de ensino e aprendizagem
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lexibilização do currículo, ganho de tempo, dinamicidade nas disciplinas, mais autonomia para os estudantes... Esses são só alguns dos benefícios do Ensino a Distância (EaD), tema recorrente nas capacitações e formações promovidas pela Diretoria Adjunta de Ensino e pelo Núcleo de Orientação Educacional (NOE) do Centro de Tecnologia a docentes vinculados à essa Unidade Acadêmica da UFC. A última delas buscou formar novos professores/tutores EaD na Ação Tutorial em Ensino a Distância, que aconteceu entre os dias 3 e 10 de abril. “Legislação para sistemas de EaD”, “o aluno de Educação a Distância” e “tutoria e avaliação da aprendizagem na Educação a Distância” foram alguns dos
tópicos contemplados pela atividade. A ação tutorial foi ministrada por João Ciro Saraiva de Oliveira Neto, tutor a distância do Instituto UFC Virtual. Essa é a terceira vez que a temática ensino a distância aparece desde que atividades de capacitação docente passaram a ser oferecidas pelo Noe, no segundo semestre do ano passado. Do total de 27 atividades, a escolha pela temática EaD em quatro delas demonstra interesse do Centro de Tecnologia em expandir o percentual de aulas a distância nos cursos presenciais, que podem ter até 20% de aulas nessa modalidade, de acordo com a Portaria nº 4059 de 2004 do Ministério da Educação (MEC).
Mudança como objetivo
Logo do Instituto o UFC Virtual
O objetivo das ações é melhorar as metodologias de ensino e aprendizagem no Centro de Tecnologia, assim como as relações interpessoais entre colegas docentes e estudantes, formando professores mais capacitados para lidar com as exigências contemporâneas da sala de aula num ambiente de relações saudáveis e potencializando o desempenho dos discentes dentro e fora da Universidade.
Yangla Oliveira, Coordenadora do NOE, diz que a Diretoria Adjunta de Ensino tem incentivado as formações todo semestre por conta dessa possibilidade dos cursos presenciais terem aulas a distância e da observação da relevância tanto do ponto de vista da metodologia de ensino do professor como também da flexibilização do currículo. “Existe ainda quem tenha preconceito com Ensino a Distância, achando que é uma formação de segunda categoria, e isso não tem porquê. Para quem já teve a oportunidade de conhecer o SOLAR, todas as ferramentas, o acompanhamento que é feito, mas é uma volume de atividades, de conteúdo igualzinha ao ensino presencial. E tem muitas ferramentas pensadas, como por exemplo o fórum, o chat, portfólio… Então uma complementa a outra.”
AGENDA Um workshop de Gamificação Baseada em Perfis Motivacionais acontecerá no mês de maio na sala 22 do Bloco 708. A oficina incentivará, dentre outras cosias, a aplicação da metodologia de ensino que os facilitadores, Prof. Glaudiney Mendonça e o bolsista Vicenzo Pegado, desenvolveram com base na gamificação. MARÇO | ABRIL 2018 | ABRIL CT NEWS CT NEWS MARÇO 2018
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VIDA DOCENTE
EVENTO INTERNACIONAL DISCUTE METODOLOGIAS ATIVAS NA ENGENHARIA Professor do Centro de Tecnologia participa apresentando trabalhos a partir de sua experiência na UFC
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vanços na Educação em Engenharia pela Inclusão e Diversidade” foi tema da edição 2018 do PAEE/ALE, evento que aconteceu entre os dias 28 de fevereiro e 02 de março, na Universidade de Brasília (UnB). O objetivo foi discutir a aprendizagem ativa, problema e aprendizagem baseados em projeto na educação em Engenharia. O evento, organizado pela UnB e pela Universidade do Minho, de Portugal, reuniu o 9º Simpósio Internacional sobre Abordagens de Projetos em Educação de Engenharia (PAEE) e o 15ª Aprendizagem Ativa na Oficina de Educação em Engenharia (ALE). Foi promovido o envolvimento ativo dos participantes em sessões handson, workshops, debates, painéis da indústria, sessões de pôster e papel.
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O professor do Departamento de Engenharia Química, Ivanildo José da Silva Júnior, viu aí a oportunidade de discutir pesquisa e práticas atuais em educação para a engenharia a partir de suas experiências na Universidade Federal do Ceará. Ele representou o Centro de Tecnologia no evento apresentando dois trabalhos no formato de pôster. “O evento foi muito interessante visto que foi uma imersão em assuntos ligados a educação em engenharia. As palestras (key-notes), apresentações de trabalhos e as atividades ‘hands-on’ foram bem interessantes devido à constante troca de experiência”, comenta.
Seus trabalhos discutiram o uso de recursos tecnológicos como um facilitador no processo de aprendizagem e o uso de metodologias ativas, a exemplo da sala de aula invertida, no ensino de engenharia química na UFC.
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REPORTAGEM
O PODER D A
produção de c o n h e c i m e n t o s n o mundo fica mais robusta a cada ano que passa. E a cada dia, mudamse as mentalidades, avançam-se as tecnologias, reconfiguram-se as formas de comunicação com o outro, consigo próprio. Essas mudanças incidem de maneira mais forte em algumas pessoas, impulsionando também a transformação de sua estadia no mundo. Em outras, isso acontece num ritmo lento – mas não deveria. Aí, acontece o retrocesso. De forma análoga são as experiências na universidade. Entendendo-se que escolhas podem mudar significativamente o rumo de nossas vidas, que perfil de engenheiro a UFC quer formar? A pergunta tem em suas raízes uma profundidade nem tão aparente. É pensando nela que desde 2014 vem acontecendo um processo de reforma curricular nos cursos de Engenharia do Centro de Tecnologia, – e a participação de cada um nesse processo é fundamental. Mas, afinal, o que é uma reforma curricular, a quantas andam a nossa e como isso pode mudar o perfil de engenheiro que a UFC formará? Diferentemente do que se pensa, reforma curricular não é sinônimo de atualização da grade curricular de um curso. Ela implica uma mudança de maior escopo, que reconfigura as estruturas basilares dos cursos. Reformar é repensar as metodologias de ensinoaprendizagem do professor, as formas de avaliação dos cursos, a organização das atividades
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Entenda como o processo de refo pode mudar o per
complementares e a revisão do conjunto de disciplinas ofertas, num processo complexo que envolve diversos interessados – cada um com perfis particulares. Currículo, por sua vez, é um conjunto de experiências que os alunos têm quando estão na universidade. É também, de forma indireta, tudo o que está relacionado isso. Pode ser resumido como tudo o que precisa existir para que os estudantes se formem com um determinado perfil profissional, este, traçado pela Universidade. Uma reforma curricular altera inclusive a infraestrutura dos cursos. Yangla Oliveira, coordenadora do Núcleo de Orientação Educacional (NOE), diz que quando há oportunidade de se rever o currículo dos cursos, problemas como a demora no processo de manutenção em laboratórios e ausência de material de uso rotineiro para
experimentos devem ser observados. “Não que nossa infraestrutura seja ruim. A gente quer formar um engenheiro com mais competências, então percebe-se a necessidade de criação de novos laboratórios, trocar equipamentos, mudar a infraestrutura da sala de aula para comportar novas metodologias de ensino, como as que requerem trabalho em equipe…” Essa mudança, contudo, tem que ser dada numa construção coletiva, uma vez que é de interesse de muitas pessoas, o que acaba sendo um
CAPA
DA DECISÃO
orma curricular das Engenharias do CT rfil de futuros egressos
processo naturalmente lento. UM PROCESSO LENTO As instâncias que estão mais à frente nas tomadas de decisões da reforma curricular são os colegiados das coordenações de cursos e Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs), por serem as instâncias legais responsáveis por promover alterações nos projetos pedagógicos dos cursos. Mas o trabalho de pensar um novo futuro não pode se restringir somente a eles, uma vez que as disciplinas são ofertadas pelos departamentos da Universidade, que também devem opinar na reforma. Ainda, além dos departamentos do CT, existem disciplinas ministradas às Engenharias que são ofertadas por departamentos de outras Unidades Acadêmicas, como as do ciclo básico, ofertadas pelo Centro de Ciências. A mudança
só acontece de fato se todos os departamentos estiverem envolvidos no planejamento da reforma. Por fim, um outro fator que colabora para a demora na finalização da reforma curricular dos cursos é o processo de mudança por que passam as diretrizes curriculares do Ministério da Educação (MEC), instrumento que norteia a formação de engenheiros no Brasil. É que no ano passado a Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge) propôs novas diretrizes e encaminhou a proposta para o Conselho Nacional de Educação em janeiro de 2018, com a expectativa de que seja homologada até metade do ano. Então, se as diretrizes passam por momento de transição, alguns colegiados consideram que congelar as discussões sobre a reforma é menos desgastante para os cursos.
O ENGENHEIRO DO FUTURO A Divisão Adjunta de Ensino (DAE) do CT assessora todo o processo de reforma curricular na Unidade Acadêmica. Periodicamente, é feita uma agenda de reunião e os coordenadores dos cursos e representantes do Núcleo Docente Estruturante (NDE) são convidados para debate. Essa assessoria é feita com base nas diretrizes curriculares do MEC. Flexíveis, elas dão autonomia para que as instituições elaborem seu currículo, o que vem sendo feito no decorrer das discussões da reforma. O processo de discussão dos princípios norteadores indispensáveis à formação dos engenheiros da UFC aconteceu entre 2014 e 2015 a partir de uma avaliação em que discentes e docentes opinaram sobre os currículos atuais. Os princípios foram consolidados e aprovados no Conselho do CT. Após isso, cada curso ficou incubido de pensar o perfil do egresso, avaliando, dentre outras coisas, as competências que desejam desenvolver no estudante, as metodologias de ensino, as formas de avaliação, entre outros aspectos. Cada curso, por ser de áreas diferentes dentro da engenharia, tem especificidades no perfil do engenheiro do século que
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CAPA
quer. No entanto, existem características comuns ao desejo de todas, como:
um profissional crítico, reflexivo, com domínio linguístico e ético, que considere os aspectos políticos, ambientais, econômicos e sociais, que tenha perfil empreendedor e que reconheça a importância das humanidades em sua formação.
Esse último ponto já vem ganhando força na Universidade nos últimos anos, em especial na parte da comunicação, de acordo com a Coordenadoera do NOE.
Mas apesar da autonomia conferida aos cursos no processo de reforma, existe uma estrutura mais consolidada à qual não se pode fugir. São documentos que vão além das diretrizes do MEC, como o instrumento de avaliação dos cursos dessa pasta, a Lei do Estágio, as resolulções da Universidade que dispõem das atividades complementares, entre outras. A autonomia reside em como isso vai ser desenvolvido dentro de cada curso. 12 12
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EVASÃO Um dos principais objetivos da reforma curricular, ao lado da atualização do perfil dos egressos, é diminuir a evasão nos cursos de Engenharia, que é alta. Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com base em uma análise inédita de dados do Ministério da Educação (MEC) concluiu que mais da metade dos estudantes de engenharia do Brasil abandona o curso antes da formatura.
DESAFIOS A flexibilização de currículos amplia as margens de escolha dos estudantes. Apesar de todos os avanços na reforma curricular, mexer com esse ponto é especialmente difícil para o CT, porque algumas áreas possuem uma base maior de conhecimentos imprescindíveis. Por essa mesma razão, a quantidade de disciplinas obrigatórias é elevada. Há de se reavaliar também a grande quantidade de pré-requisitos em vários componentes curriculares, que torna o currículo rígido, dificultando a trajetória de muitos alunos.
PERFIL
FOTO/ LUCAS CASEMIRO
CHIQUINHO, O PATRIMÔNIIO DO CT Por Lucas CASEMIRO MARÇO | ABRIL 2018 CT NEWS
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PERFIL
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uem o vê andando faceiro pelos corredores dos cursos de engenharia não imagina que o homem de um metro e sessenta é uma das figuras mais antigas do Centro de Tecnologia. Tão antiga que lhe rendeu o aposto de “patrimônio”. Ele não tem bicho com idade, diz mesmo: quarenta e nove anos de pura disposição. Desses, mais da metade passou trabalhando na Universidade Federal do Ceará, em seu primeiro e único emprego. Mas não só isso faz de Francisco das Chagas Nunes de Oliveira um patrimônio para o CT. O homenzinho de jeito simples é muito mais. É mais porque conhece as artimanhas para conquistar o coração alheio. Não falo das três mulheres com quem se meteu em relacionamentos durante a vida – a última lhe deu a mão e outras coisas mais há três anos, para a alegria sempre estampada no sorriso e na aliança dourada no dedo anelar do ícone. Falo do amor-não amoroso cotidiano, tão essencial quanto. Fosse segredo, Chiquinho seria o guru conquistador do coração de toda “gente do bem”. Não sendo um segredo, conquistar as pessoas é ainda mais natural para o homem que conhece o CT como a palma da mão: o jogo é cativar a confiança. Professor Chiquinho! Talvez ele não saiba, mas diariamente ensina os amigos (que são muitos, convenhamos) a matéria de ser uma pessoa melhor na vida. Gerações e gerações de alunos e professores que ajudou a formar, patrões e colegas de mesma patente institucional, todos se rendem às suas gaiatices. Não é à toa que tem mais de 20 placas de formatura em sua homenagem, além, é claro, de receber muito carinho dos colegas. “Eu não tenho nem vergonha de dizer, me sinto mais bem aqui do que lá em casa”, confessa, rezando para a esposa não escutar. Desde que chegou no CT, nunca mais saiu – e nem pretende! Por necessidade, sim. Mas por amor também, e amor declarado. Declaração que não se constrói apenas na obviedade do discurso falado, mas nas humildes atitudes rotineiras. Amante da organização, ele dá carão mesmo quando vê algo fora do lugar. E de todo lugar. Pois é, parece que ele sempre chega antes de todo mundo. Funcionário público, sim! Mas formado na labuta do dia a dia como um faz-tudo, profissão que ocupa na Universidade como terceirizado. Não prestou concurso para cargo público porque nunca teve a oportunidade de se aventurar pelos estudos. É que agruras da vida não permitiu a Chiquinho nem a formação de nível médio. Se a desigualdade no país não fosse tão grave, talvez conhecêssemos a pompa de um outro homem na Universidade, um doutor com ar de superioridade. Ou não, o que é mais provável. Chiquinho não parece se importar com a “chiqueza”, é mesquinho demais para sua grandiosidade. Só podia ser canceriano. “Eu sempre digo: eu moro na favela, no meio de gente muito pobre, e convivo com os dotô”, relata para dizer que “não confunde as coisa que é pra não ter problema”. É feliz com o pouco e mais feliz ainda com o muito, como julga o Centro de Tecnologia, em sua opinião “o verdadeiro patrimônio”.
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CHEIROSO HINO DE HOMEM INTELIGENTE
QUERIDO UNO IMENSURÁVEL NOTÁVEL
HONORÁVEL ORDEIRO
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PESQUISA
SUSTENTABILIDADE
PROJETO DO CT VAI REUTILIZAR INSUMOS DE ESGOTOS DE FORTALEZA PARA MELHORAR O MEIO AMBIENTE E GERAR RENDA O investimento milionário traz na inovação o segredo da sustentabilidade, empreendedorismo e movimentação da economia local
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m dos problemas ambientais ocasionados pelo processo de tratamento de esgoto é a geração de lodo ativado, material que geralmente é despejado em aterros sanitários, poluindo lençóis freáticos, por exemplo. Isso acontece porque no Brasil o esgoto não é integralmente tratado, gerando, além do lodo, outros resíduos sólidos, como areia e gases nocivos ao meio ambiente, insumos sem utilização.
FOTO/ LUCAS CASEMIRO
IONEIRO
William Magalhães Barcellos possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Gama Filho, mestrado e doutorado na mesma área pela Universidade Federal do Rio de Janeiro COPPE e pós-Doutorado em Combustão pela Universidade de Illinois em Chicago (UIC).
Com a promessa de encontrar destinações sustentáveis para esses resíduos, reduzindo gastos para as Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), diminuindo a poluição do meio ambiente e até possibilitando a criação de um novo negócio, um projeto de pesquisa está sendo desenvolvido pelo Laboratório de Combustão e Energias Renováveis da UFC. O Lacer desenvolve novos processos e equipamentos para o aproveitamento sustentável de
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PESQUISA efluentes domésticos e industriais. Pioneiro nacional e internacionalmente, o Projeto de Estação de Tratamento de Efluente sustentável é desenvolvido em parceria com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que juntos investiram mais de R$ 4 milhões e 800 mil na pesquisa. A parceria, que se iniciou em 2013, tem prazo de 13 anos, sendo três de execução e 10 de uso, com possibilidade de ser prorrogada. TRANSFORMAÇÕES Como um dos maiores insumos das ETEs é a energia, a destinação dos resíduos poluidores será feita a partir da criação do Sistema de Tratamento e Aproveitamento de Biomassa (STAB), um biodigestor que produz um biogás capaz de ser utilizado nas próprias unidades operacionais da ETE-Herval, propriedade da Cagece localizada em Quixadá. Além disso, também a água que resta no biodigestor após a captura do biogás pode ser tratada para reutilização na indústria. Também o CO2 produzido a partir da purificação do biogás é sequestrado para virar negócio.
é a grande quantidade de areia que é empurrada para os esgotos, que se contamina ao entrar em contato com as impurezas do meio. Segundo William Barcellos, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (PPGEM/ UFC) e coordenador do Lacer, só na Estação de Pré-Condicionamento (EPC) de Esgoto da Leste-Oeste, por exemplo, são acumuladas 1.400 toneladas de grãos por mês, gerando gastos para a emrpesa no descarte. Como solução, o projeto desenvolveu uma caldeira onde a areia, juntamente ao lodo ativado, são esterilizados a mil graus, gerando matéria prima de comprovada excelência para uso na construção civil e indústria mecânica, possibilitando um novo negócio na venda desse material. Além disso, a pesquisa estuda a viabilidade do aproveitamento da sílica da areia esterilizada na construção de painéis fotovoltaicos. Por fim, a caldeira utiliza gases de combustão para secar o lodo. Em estado seco, ele tem potencial calorífico e será transformado em um combustível a ser comercializado no futuro.
O Lacer realizou estudos que granulação da areia é ideal para utilização nesse imercado.
Desenho Esquemático da Estação de Tratamento d
PROJETOS Além do projeto em parceria com a Cagece e BNDES, o Lacer tem mais dois projetos de desenvolvimento sustentável de comunidades isoladas. Eles são desenvolvidos em parceria com o Governo de Estado e utilizam biomassa produzida no laboratório para gerar sobrevivência e “alta qualidade de vida” para as pessoas no interior do Ceará. 1616
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O estudante de Engenharia de Energias Renováveis e responsável pela secagem do lodo no projeto conta que está no Lacer há um ano e meio. Diz que é gratificante participar do projeto pelas possibilidades que encontra de desenvolver habilidades tanto na pesquisa quanto no empreendedorismo.
FOTO/ LUCAS CASEMIRO
Outro problema para a Companhia
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ILUSTRAÇÃO/ REPRODUÇÃO LACER
Etapa atual – Hoje o projeto passa por estudos de simulação em um protótipo de laboratório na parte subterrânea do Lacer, de onde se vão gerar dados para o posterior escalonamento em um protótipo de campo. A usina vai ser a primeira do país a utilizar a tecnologia e tem previsão para iniciar suas operações em dezembro de 2019, em Quixadá.
de Esgoto de Quixadá – ETE Herval
O professor William explica que o projeto é multidisciplinar, com a participação técnico-científica de cerca de 20 professores de oito departamentos da UFC, sendo sete do CT e um do Centro de Ciências. “Hoje é um projeto do Centro (de Tecnologia), não é só do Laboratório, porque o Centro percebeu a importância de juntar vários departamentos.” Ele explica ainda que as patentes geradas no futuro serão compartilhadas com os professores. Desafios – Um projeto de tamanha magnitude implica assumir desafios aos quais nem uma empresa alemã contatada para ajudar na pesquisa nem ninguém além da UFC se dispôs a assumi-los, conta o coordenador do Laboratório. Ele também aponta os riscos de se misturar pesquisa e engenharia. Os pesquisadores não estão desenvolvendo apenas a construção de algo existente, mas estão produzindo os equipamentos, desenvolvendo a engenharia. Existe auditorias do BNDES e da Cagece que os pressionam, “é uma pressão de empresa”, comenta.
Por fim, os pesquisadores trabalham com a ajuda de estudantes de graduação e mestrado, que têm outras responsabilidades para além do projeto, não havendo participação exclusiva de todos os envolvidos. “Eu tenho que formar equipe, preparar alunos, formar líderes. Muitos deles não sabiam nem apertar um parafuso e hoje estão desenvolvendo tecnologia”. Uma nova visão do futuro – De acordo com o professor, o projeto do Lacer trabalha água, energia e resíduo, três das cinco necessidades que elenca como basilares para a sobrevivência em sociedade, ao lado de alimento e saúde, que são trabalhadas indiretamente pelo projeto. Ele diz que sua inspiração sempre foi poder fazer um trabalho social. “Ser engenheiro não significa muita coisa. Ser professor, um pouco mais. Mas eu sempre pensei que tinha que fazer algo diretamente para as pessoas, então eu agora estou fazendo.”
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FOTO/ LUCAS CASEMIRO
Na foto, a vasilha à esquerda contém amostra de esgoto com areia. A vazilha à direita contém lodo gerado no reator. A placa mostra o material em estado seco.
PÁGINAS AZUIS
QUANDO O PROFESSOR NÃO CONTROLA A DISCIPLINA – E ISSO É BOM Metodologia diferenciada no curso de Design tem proporcionado avanço na assimilação de conteúdos na aprendizagem dos alunos
O
modelo tradicional de ensino, que se baseia na ideia de “transferência” de saberes, já não é suficiente ante as exigências contemporâneas para a produção de conhecimento no meio acadêmico. Sua subversão, ou ao menos o ensaio dela, já é realidade no Curso de Graduação em Design da Universidade Federal do Ceará, que iniciou suas atividades em 2012. A sessão Páginas Azuis entrevistou a professora Mariana Monteiro Xavier de Lima, coordenadora do curso, para saber mais sobre essa tarefa que promove a aprendizagem baseada em projetos (PBL, na sigla em inglês). Ela própria revela: não é capaz de controlar as disciplinas que ministra. Entenda por que isso é bom.
CT NEWS – Resolver problemas (cerne da aprendizagem baseada em projetos) é essência do curso
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de Design. Foi assim desde o princípio? Mariana – Sim, o projeto pedagógico do curso já lança essas bases, dessa questão da inserção do regional, de lidar com problemas locais. (…) Realmente é uma coisa que já vem desde o início. CT NEWS – Quando você chegou ao curso, ele já estava estruturado dessa forma ou você ajudou a construir?
Mariana – Um curso nunca está cem por cento estruturado, né? (risos) Ele sempre está em processo. Mas quando eu cheguei, a gente não tinha todas as instalações que a gente tem hoje e a gente ainda não tinha formado turma, então algumas disciplinas nunca haviam sido ministradas e também não tinha todo o corpo docente que a gente tem hoje. Ainda estava no processo inicial de estruturação do curso. Mas algumas coisas que são basilares já havia talvez desde o primeiro semestre.
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Professora Mariana de Lima diz que é “nascida e criada na UFC”, pois veio ao mundo na maternidade-escola da Universidade. É formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFC, tem mestrado em Engenharia Civil e doutora do em Arquitetura, Tecnologia e Cidades pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Começou a lecionar no curso de Design em 2013, sendo coordenadora desde 2014.
CT NEWS – A exemplo de quê? Mariana – Como por exemplo a questão dos trabalhos integrados, que é uma das coisas que a gente trabalha muito fortemente aqui no curso. A gente desenvolve projetos que envolvem várias disciplinas. No começo, era quase que óbvio, porque como nós tínhamos cinco professores (ri, com um “q” de vergonha), que tinham que dar todas as disciplinas do curso, então às vezes o aluno estava fazendo uma disciplina com um professor e outra disciplina com o mesmo professor!
Essa integração era quase que inerente. Mas depois a gente começou a regulamentar como é que poderia ocorrer para que isso fosse prática dentro do curso. CT NEWS – Na prática, o que são esses projetos integrados? Mariana – Os alunos têm que desenvolver um projeto e para fazer isso eles precisam do conteúdo de mais de uma disciplina. Geralmente a gente integra, dentro do mesmo semestre, (as disciplinas de) Projeto Gráfico e Projeto de Produto, e às vezes outras disciplinas, como
Materiais e Processos... “N” outras disciplinas que estejam ocorrendo dentro do mesmo semestre. Com isso, ele vai ser avaliado de forma independente dentro de cada uma. É como se fosse um trabalho que vai servir pra todas as disciplinas. Isso acaba aumentando o nível de complexidade do problema e da solução que você vai abordar. CT NEWS – Na sua opinião, existe uma metodologia ideal de aprendizagem? Mariana – Não. Na minha opinião
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não existe uma metodologia ideal. Tudo vai depender do que é que precisa ser ensinado, e do perfil de quem ensina e do perfil de quem aprende. Então uma determinada filosofia de ensino ou uma determinada metodologia pedagógica pode ser muito boa pra uma pessoa e péssima para outra. Eu acho que identificar a metodologia adequada – e não ideal –, é um desafio, porque vai depender do tipo de conteúdo que você quer passar, do perfil do aluno… CT NEWS – Mas existem bases pedagógicas de metodologias, como o construtivismo, que podem ser aplicadas em qualquer espaço. Pensando nisso, que tipo de metodologia você utiliza nas suas aulas? Mariana – A gente tem um conteúdo básico que a gente tem que passar. Uma das coisas
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fundamentais é que a gente não pode deixar de dar aquele conteúdo básico, independente de qualquer coisa, porque está nas diretrizes curriculares, estão nos planos de ensino… O que a gente tem que refletir é como é q a gente vai passar esse conteúdo. Eu ministro disciplinas de projeto, que têm ⅓ de carga horária teórica e ⅔ de prática. Eu não costumo dar esse ⅓ exclusivamente com aulas expositivas. Então a gente passa uma teoria e os próprios alunos vão ter que de alguma forma construir o conhecimento baseado naquela teoria. A gente faz seminário, estudos dirigidos, uma série de dinâmicas que propiciem que eles vão em busca e se apropriem daquele conhecimento. Existem as aulas expositivas, mas são muito mais no sentido de direcionar, de conduzir o grupo. Mas o que eles vão aprender é muito mais com o que eles vão buscar além do que a
“O meu objetivo aqui não é ensinar, é fazer o aluno aprender, que é uma coisa totalmente diferente” gente fala em sala de aula. Isso aí é uma das coisas principais em se tratando mesmo de conteúdo teórico e técnico. Aí os outros ⅔ de carga horária são práticos e é quando a gente entra com o problema que eles têm que resolver. (...) Acho que esse é o grande “x” da questão. CT NEWS – Quais as dificuldades dessa metodologia? Mariana – A grande dificuldade
é porque a gente nunca tem um domínio da disciplina. Se o professor quiser começar o semestre já com todas as aulas dele preparadas, do começo meio e fim, e pronto… Ele não deve ir por aí. Porque, realmente, cada aula é um desafio. Tanto é desafiador para o aluno como é desafiador para o professor também. Imagine que cada aluno vai chegar com um problema totalmente diferente que eu mesma nunca vi, então vou ter que estar apta a orientar, a conduzir aquele grupo de alunos. Ou seja, a grande dificuldade é porque é tudo muito imprevisível, exige realmente que a gente tenha uma dedicação, exige um estudo extra sala por parte do professor também muito grande, porque às vezes o aluno chega com determinados questionamentos para os quais a gente não tem a solução ou a gente não sabe como conduzir aquela situação e a gente vai ter que pesquisar, vai ter que se aprofundar em determinado tema que às vezes não é do nosso domínio mesmo, para poder ajudar o aluno ou dar orientações para que ele mesmo consiga encontrar suas respostas. CT NEWS – O que de mais essencial você poderia dizer que aprendeu com os alunos? Mariana – Pergunta difícil! É quase existencial! (risos) Olha, uma das coisas que eu aprendo muito com os alunos é que a gente tem que entender cada um de forma particular. Cada aluno tem as suas dificuldades, tem as suas facilidades, tem questões que são pessoais, mas que interferem diretamente no aprendizado dele, são questões de cunho emocional… No final, o que a gente quer é fazer com que cada um aprenda, não é ensinar. O meu objetivo aqui não é ensinar, é fazer o aluno aprender, que é uma coisa totalmente diferente.
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CT NEWS – Isso envolve muito um cuidado pedagógico, de estudo, de conhecimento... Imagino que você não começou a fazer isso do nada. Mariana – Olhando pra minha trajetória de aluna, eu tive muitos professores que estavam dentro do senso comum, e tive outros professores que eram todos fora da curva, mas do ponto de vista positivo. Que não estavam ali fazendo “feijão com arroz”, digamos assim, mas fazendo de uma forma diferente, e que me inspiraram a buscar outras formas de fazer. A partir dessa inspiração, você vai buscar as bases técnicas, vamos dizer assim. Mas na Universidade isso ainda é um processo muito individual. Nós somos avaliados pelas nossas capacidades técnicas, para ser professor, mas somos contratados para uma atividade que não é uma atividade técnica. Essa formação didática do professor existe dentro da Universidade, mas ela ainda caminha de forma muito lenta diante do grande desafio que a gente tem. CT NEWS – Um dos questionamentos em geral do CT é justamente que alguns professores se voltam muito mais para pesquisa e executam o ensino mais como uma obrigação que como um prazer. O que a senhora sugere como alternativa para mudar esses rumos? Mariana – Olha, a Universidade está baseada no ensino, pesquisa e extensão. É muito difícil a gente criticar esse tipo de postura porque o professor que se dedica mais à pesquisa também está dentro do papel dele, porque ele tem que fazer pesquisa. Mas, apesar das três atividades, e eu incluo uma
“Se o professor quiser começar o semestre já com todas as aulas dele preparadas, do começo meio e fim, e pronto… Ele não deve ir por aí” quarta que não é muito citada, que é a questão da administração, porque nós professores é que administramos a universidade, então essas quatro atividades são extremamente relevantes, mas o que move no fim das contas a universidade… No sentido de todas as atividades, o ensino é o coração da Universidade. A busca pela melhoria da qualidade do ensino ainda é uma coisa muito pessoal, e muitas vezes é difícil o professor superar o que aprendeu a vida toda. A gente acaba sendo produto do que a gente tem como referência. E aí o que tem que acontecer mais são essas atividades em que o professor tem que refletir e pensar mais na atividade didática dele, e isso de uma forma mais sistematizada dentro da universidade. Isso até de uma forma “compulsória”. Agora se isso vai mudar o perfil dele como professor, aí não tem como dizer. CT NEWS – No curso de Design existe algum investimento do tipo?
Mariana – A gente tem várias reuniões pedagógicas em que a gente discute o andamento da disciplina, e isso é com todo o colegiado do curso. Então o professor de uma disciplina está ali dando pitaco no conteúdo de uma disciplina que nem é a dele. CT NEWS – Em geral, os alunos aprovam? Mariana – A gente inclui os representante de turma nessas reuniões. Os alunos não deliberam sobre, mas são consultados sobre. (...) E por mais que melhore todos os pontos que eles digam, a gente nunca vai ter a garantia do sucesso, porque a turma é diferente, a turma vem com outra bagagem. Daí a dificuldade que eu tinha dito: é totalmente imprevisível. (...) Então, meio que conhecendo o perfil da turma seguinte, a gente já tenta fazer adaptações para que se tenha resultados mais positivos. CT NEWS – Esse modelo é replicável? Mariana – (Hesita) Eu acho que não. A gente não consegue replicar nem aqui (no curso de Desig)! (Risos). Não é um modelo, é uma coisa extremamente experimental. Por mais que a gente tenha tentado regulamentar nossos projetos integrados, a nossa própria regulamentação é muito aberta. A gente discute questões mais operacionais, é algo ainda que está em processo e eu acho que vai estar sempre.
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FALA, ALUNO
CT TEM 12 CURSOS DESTACADOS EM AVALIAÇÃO DO GUIA DO ESTUDANTE A CT News conversou com um representante do Centro Acadêmico do curso de Engenharia Química para expor sua opinião sobre o assunto
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Centro de Tecnologia foi uma Unidades Acadêmicas da Universidade Federal do Ceará com mais cursos destacados na edição 2018 de avaliação de cursos do Guia do Estudante (GE). Do total de 14 cursos, 12 foram destacados, recebendo 3 ou mais estrelas. A classificação atribui três estrelas para os cursos avaliados como bons, quatro para os muito bons e cinco estrelas para os cursos considerados excelentes na avaliação. Gutembergue Patricio de Aquino, atual presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Química, diz concordar com as quatro estrelas que seu curso recebeu. Ele aponta como elementos propulsores da boa avaliação a qualificação dos professores e os laboratórios de pesquisas, que na sua opinião são “bem equipados”. ”Para que o curso venha a ser um curso de excelência, portuaria somente a falta da conexão universidade-indústria para que possam ser formados profissionais qualificados em todos os quesitos: conhecimento teórico e prático”, considera.
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Laboratório de Bioengenharia Sistemas Microbianos, do cruso de graduação em Engenharia Química.
Já o colega Daniel Mesquita, do 7º semestre de Engenharia Química, critica a infraestrutura do curso, que segundo ele carece de materiais básicos em laboratórios, e aponta como dificuldade para suprir essa demanda as limitações financeiras da Universidade, que sofreu corte de R$ 36 milhões neste ano. ESFORÇO DIÁRIO – A professora Maria Valderez Ponte Rocha, que assume a coordenação do curso desde 2015, diz que as críticas dos alunos são válidas e que é preciso melhorar os quesitos apontados, apesar de existir um esforço coletivo na Engenharia para isso. Ela enxerga como um dos motivos para a falta de materiais básicos nos dois laboratórios profissionalizantes do curso a burocracia do sistema público, que impossibilita o atendimento às solicitações de material feitas desde 2015. “Infelizmente nós temos essa deficiência na questão de infraestrutura. Mas eu observo toda uma força-tarefa dos professores para que sejam ministradas as aulas”. Sobre a falta de conexão entre a Universidade e a indústria,
ela considera que a relação tem melhorado gradualmente nos últimos anos, porque vários professores estão fechando projetos em parcerias com empresas, que acabam conhecendo os alunos e o curso, gerando ofertas de estágios e algumas de efetivação. AVALIAÇÃO – A avaliação consiste em uma pesquisa de opinião feita com o corpo docente e coordenadores de cursos presenciais (bacharelado ou licenciatura) e considera aspectos como projeto didático-pedagógico, produção científica, atividades de extensão, entre outros. O GE é uma publicação da Editora Abril que analisa os cursos de graduação das universidades e faculdades brasileiras. A edição de 2018, que traz estes dados, será lançada no dia 16 de outubro. UFC – Em um ano, a UFC mais que dobrou o número de cursos avaliados com nota máxima pelo GE. Foram 11 os cursos que receberam o selo de 5 estrelas, mais que o dobro dos 5 do ano passado. Ao todo, o guia destacou 72 cursos da UFC, quantidade 33% superior à da última avaliação, quando o número chegou a 54.