CT NEWS EDIÇÃO VII, ANO II, Nº 4 | NOV_DEZ 2018
PERSPECTIVAS Os desafios para o ensino da engenharia no Ceará
ENTREVISTA
DOCÊNCIA
PESQUISA
Ex-reitor Jesualdo Farias opina sobre a reaproximação do CT com seus ex-alunos
Projeto Ateliê de Ensino do CT estimula professores a rever didática em sala de aula
Professor Luiz Henrique Barreto analisa o panorama da produção acadêmica no Centro
E D I TO R I A L
EDIÇÃO VII ANO II - Nº 04 NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018 DIRETORIA DO CT Carlos Almir Monteiro de Holanda (Diretor) Diana Cristina Silva de Azevedo (Vice-Diretora) DIRETORIA ADJUNTA DE ENSINO (DAE) E NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (NOE) Bruno Vieira Bertoncini (Coordenador da DAE) Yangla Kelly Rodrigues (Coordenadora do NOE) André Bezerra de Holanda (Administrador) ENDEREÇO Campus do Pici - Bloco 710 CEP 60440-900 - Fortaleza - CE CONTATO 85 3366 9600 | 85 3366 9609 daect@ufc.br / daectufc@gmail.com www.ct.ufc.br /daectufc @daectinforma DIAGRAMAÇÃO, REPORTAGEM, E PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Lucas Casemiro de Sousa lucascasemirodesousa@gmail.com
PERSPECTIVAS
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ais um ciclo é iniciado. Nele, um novo cenário político se desenha no Brasil, mudando a forma como as universidades fazem gestão nos próximos anos. O futuro é uma matéria incerta, principalmente no que tange à Educação e Ciência e Tecnologia no País. Mas, localmente, já brotam algumas iniciativas que visam a um maior controle sobre ele. Como o ensino da engenharia, complexidade cheia de desafios intrínsecos, é afetado pela questão e como fica o Centro de Tecnologia diante disso tudo? Entenda na matéria de capa na VII edição da CT News. E para garantir um futuro cada vez melhor, boas ações! O curioso caso em que a gentileza tomou conta do Centro de Tecnologia é abordado na seção Acontece no CT, que também conta como foi a tradição anual que comemora do Dia do Engenheiro e do Ex-aluno do Centro. Conheça também o portal que vai aumentar o contato de ex-alunos com a Unidade Acadêmica a partir de uma formação continuada. Em Vida Docente, entenda como um grupo de professores está melhorando a experiência com seus alunos em sala de aula com o projeto Ateliê de Ensino do CT. A ideia é tornar o processo de ensino-aprendizagem menos engessado e mais tragável a todas as esferas envolvidas nele. E a CT News vem se consolidando como importante veículo informativo do Centro de Tecnologia, trazendo espaços para reflexões de figuras importantes. A exemplo da entrevista com o ex-secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC) e ex-Reitor da UFC, professor Jesualdo Farias, que em nossas Páginas Azuis pensa estratégias para reaproximar a Unidade Acadêmica de seus egressos, numa análise preocupada com os conflitos intergeracionais.
REVISÃO André Bezerra Bruno Vieira Yangla Oliveira
Tão grande, mas que cabe num abraço. A personalidade-abstração da professora Camila, coordenadora do Curso de Graduação em Design, é contada em Reconhecimento. Já na seção Pesquisa, veja o panorama da produção acadêmica do Centro de Tecnologia na visão do Diretor-Adjunto de Pesquisa do CT, professor Luiz Henrique Silva Colado Barreto.
Produção do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará.
Por fim, a seção Fala, Aluno traz exemplos de discentes reconhecidos internacionalmente por seus feitos em competições mundiais. O capítulo estudantil da Engenharia Química vinculado à AIChE Global e estudantes de Engenharia Metalúrgica ganharam reconhecimento internacional, respectivamente, pela qualidade do trabalho na UFC e pela conquista da etapa regional em desafio mundial de produção de aço.
Reprodução livre desde que creditada fonte.
REALIZAÇÃO
Boa leitura! REDAÇÃO CT NEWS
ÍNDICE
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ACONTECE NO CT DIA A DIA
- Dia da Genrileza é comemorado no Centro de Tecnologia - Portal Alumni CT é inaugurado em fase de teste - Homenagens dão tom ao Dia do Engenheiro do Ex-aluno do CT
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ATELIÊ DE ENSINO
CAPA
Em busca do aprimoramento: professores se reúnem semanalmente para aprender sobre didática
PERSPECTIVAS O desafio de ensinar engenharia em tempos de incerteza sobre o futuro. O que temos até agora?
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VIDA DOCENTE
RECONHECIMENTO PERSONALIDADE Antes que coordenadora do curso de Design, Camila Barros é professora e amiga de seus alunos.
PESQUISA
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PANORAMA
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A produção científica do Centro de Tecnologia na visão de Diretor-Adjunto de Pesuisa
PÁGINAS AZUIS ENTREVISTA Jesualdo Farias conversa sobre o resgate das relações do Centro de Tecnologia para com seus egressos
FALA, ALUNO! DESTAQUES MUNDIAIS
Estudantes das Engenharias Química e Metalúrgica obtém reconhecimento internacional em associação global e competição
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ACONTECE NO CT NOVEMBRO
O DIA EM QUE O CENTRO DE TECNOLOGIA SE ENCHEU DE GENTILEZA O FUTURO A vida gentil influi até mesmo nos ambientes de estudo e trabalho. Ações no CT mostraram outra Unidade Acadêmica possível
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m tempos de cólera, ofereça uma flor. Ou melhor, um chocolate! Por que não os dois? Pois bombons, rosas, mensagens positivas e mudas de árvores foram apenas algumas das ferramentas que concretizaram as diversas atividades de promoção da gentileza no Centro de Tecnologia no dia 13 de novembro. O incentivo da Diretoria do CT às ações de resultados intangíveis, mas sempre positivos, celebraram o Dia Mundial da Gentileza incentivando a valorização do respeito e cuidado mútuo, promovendo uma cultura de paz. E não é que é verdade! A parede do bloco 710 virou mural. Ali, os transeuntes puderam parar por um momento de sua rotina apressada e ler coisas gentis deixadas por pessoas gentis. Também os passantes podiam, caso quisessem, arriscar o grande desafio de ser um pouco gentil e deixar qualquer mensagem de um amor meloso, mas necessário, pregada em post-its de todas as cores. Logo surgiram coisas ao estilo de “Eu amo a professora Áurea”, passeando pelo clássico “Gentileza gera gentileza” para encontrar a mensagem-pop de um tom político acolá, à la pichações do Instituto de Cultura e Arte (ICA). O mural teve até participações ilustres, como a da menininha com farda pré-escolar e laço branco estirado na cabeça.
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Outros “mistérios” que apareceram no dia foram a) um “Correio do Coração” - caixa instalada nas paredes de vidro onde guarda a estante do projeto LER, coordenado pelo professor Luiz Gonzaga, e que estimulava alguém a escrever algo para outro alguém (e a melhor parte: entregar o bilhete); b) pessoas com plaquinhas oferecendo muitíssimos abraços grátis e apertados; c) distribuição de velinhas e caixa de fósforo nas copas do CT, para funcionários-aniversariantes utilizarem em seus aniversários; d) e outras coisas mais. Igor de Souza, estudante de Engenharia Elétrica, também contribuiu presenteando os colegas do Centro com uma experiência única de relaxamento. A aula de meditação aconteceu na tranquila tarde sobre as gramas do CT, sombreada pelas folhas da mangueira antiga. Perguntado sobre a atividade, o estudante foi comedido nas palavras. “Eu dei aula durante o ano todo para muita gente no Pici e no Benfica. As aulas foram legais. Fiquei feliz em ser útil. Acho que algumas pessoas se sentiram beneficiadas.” O CT agradece, Igor! A ideia de comemorar o dia veio direto do Núcleo de Orientação Educacional (NOE), que logo ganhou apoio da Diretoria Adjunta de Ensino (DAE), da Diretoria do CT e de várias pessoas da Unidade Acadêmica. Todas essas ações tinham uma maneira lúdica de explicar, sem usar palavras, que a gentileza deve ser imperativo cotidiano. Que a responsabilidade pelo nosso mau humor é totalmente nossa, embora ele tenha sido cau-
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sado por alguém (as outras pessoas não têm culpa). Que o nosso respeito deve ser grande o suficiente para não se restringir apenas às pessoas com posição de autoridade (é preciso respeitar inclusive os humanos com menos poder que a gente). E outras coisas mais. As ações também foram uma maneira de dizer que dá para fazer tudo isso em atitudes simples, como não empurrar os colegas na hora de entrar no intracampus do Pici, não furar as filas do erre-ú ou não riscar os livros da biblioteca quando se sabe que outras pessoas vão precisar deles. E para não ficar só nas proibições, o dia serviu sobretudo para lembrar que está permitido colecionar empatias em nossa Unidade Acadêmica.
Flagrada sendo gentil, menininha com farda pré-escolar e laço branco estirado na cabeça é filha da professora Talita de Vasconcelos, lotada no Diatec.
Contágio Positivo Falando bonito, a raiz etimológica da palavra “gentil” advém do latim “gentilis” e significa “cortês, delicado, pronto ou ansioso para fazer o bem aos outros”. E a ideia de criar um dia de louvor à gentileza veio lá de Tóquio, no Japão, em uma conferência realizada em 1996. O Movimento Mundial pela Gentileza foi oficialmente criado no ano 2000 por grupos de diversos países e, no Brasil, é representado pela Associação Brasileira da Qualidade de Vida (ABQV) desde 2005. Mas não é de hoje que as terras tupiniquins celebram o Dia da Gentileza. Antes, ele era comemorado em 29 de maio, data da morte do querido personagem urbano da cena carioca que deixava mensagens poéticas nas pilastras de viadutos. José Datrino, muito mais conhecido como o Profeta da Gentileza, foi inclusive lembrado na música “Gentileza”, de Marisa Monte. Não lembra a letra? Pega um pedacinho: “O mundo é uma escola/ A vida é o circo/ “Amor: palavra que liberta”/ Já dizia o profeta.” Mas fato é que as pessoas gentis são mais felizes, uma vez que a gentileza tem a o poder de transformar para melhor o ambiente, trazendo de volta boas ações a quem iniciou esse contágio do bem. A gentileza torna a vida da gente até mais saudável! É ciência: o ser humano tende a imitar comportamentos dos outros e, se o nosso bem-estar é diretamente relacionado ao ambiente em que vivemos, tudo isso reflete em nossa saúde.
Todas essas ações tinham uma maneira lúdica de explicar, sem usar palavras, que a gentileza deve ser imperativo cotidiano.
FOTO / ARQUIVO CT
Com a gentileza, relacionamentos melhores florescem e a produtividade nos ambientes de estudo e de trabalho aumentam. O Profeta Gentileza, se vivo e cearense fosse, talvez escreveria em nossas pilastras: “N’outros dias, a realidade será outra. E a gentileza há de contaminar a imensidão desse CT”. Espaço para deixar mensagens é o que não falta.
Acima, escada se veste de frases gentis. Ao lado, estudante se esbalda em doces que logo seriam distribuídos a seus colegas de CT.
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FORMAÇÃO CONTINUADA
PORTAL QUE BENEFICIA EX-ALUNOS É LANÇADO EM FASE PILOTO NO CT Novo ambiente virtual vai oferecer uma série de ferramentas aos egressos, criando uma comunidade simbiótica entre eles próprios, UFC e indústria
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exemplo do que acontece em outras universidades do Brasil e do mundo, o Centro de Tecnologia lançou um canal exclusivamente focado em seus ex-alunos. Pioneiro na Universidade Federal do Ceará, o Portal Alumni CT vem sendo desenvolvido desde 2017 pela Diretoria Adjunta de Ensino (DAE) do Centro. O projeto piloto foi oficialmente lançado em dezembro de 2018, devendo se consolidar e funcionar plenamente nos próximos anos. Antes mesmo de ser divulgada oficialmente, a iniciativa já vinha servindo de inspiração para outras unidades acadêmicas, como a que abriga o curso de medicina. Funcionando no endereço www.alumni.ct.ufc, o objetivo do Portal é buscar novos vínculos com estudantes que já passaram pelo Centro, auxiliando-os no mercado de trabalho e em outras atividades de seu interesse, de forma a estreitar laços com o CT.
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Essa proximidade também deve contribuir para um engajamento entre estudantes e egressos, também possibilitando para esses últimos o reencontro virtual de colegas de turma, o desenvolvimento da rede de contatos com outros egressos e com a indústria, assim como as chances de realização de parcerias profissionais e/ou acadêmicas. O ambiente virtual de formação continuada trará notícias de interesse do egresso sobre o Centro de Tecnologia a partir de um cadastro que pede algumas informações sobre o ex-aluno, gerando estatísticas sobre o perfil do egresso do CT. A ideia é compreender esse perfil para então melhorar diuturnamente sua experiência com a Unidade Acadêmica, bem como os processos educacionais do CT, beneficiando atuais estudantes e gerações futuras.
Pode se cadastrar toda pessoa que tenha se graduado em algum curso do CT, mas as que estão fora desse perfil, sejam atuais estudantes do CT ou demais interessados, também terão acesso ao portal na condição de visitantes, quando a plataforma adquirirá uma função mais informativa, com algumas restrições. O Alumni CT vai agrupar as matérias por ordem de interesse e data. Assim, o egresso cadastrado no portal ver primeiro as notícias mais recentes e de interesse dele, como por exemplo as relacionadas à sua área de atuação profissional. Para isso, a ideia é integrar um perfil social, profissional e acadêmico do egresso, explica Emílio Thalles, um dos desenvolvedores da plataforma. “O perfil do egresso vem com a área de atuação dele, a turma, as mentorias que está participando e ele pode sugerir matérias ou oportunidades. No perfil, ele pode cadastrar redes sociais e dados sobre emprego ou formação acadêmica.”
O ambiente incentivará ainda o compartilhamento de experiências acadêmicas e profissionais entre egressos e estudantes, em esquemas de mentorias. Os egressos poderão ajudá-los a tomar decisões mais efetivas nos seus percursos acadêmicos, contribuindo no aperfeiçoamento da Unidade Acadêmica para que os atuais e futuros estudantes possam ter uma formação cada vez mais qualificada. A mentoria pode ser qualquer ajuda aos graduandos, como auxílio na produção de artigos científicos, tirar dúvidas sobre o curso e mercado de trabalho ou até mesmo ajudar no processo de escolha sobre a área a seguir na pós-graduação. O critério de aproximação entre mentores e mentorados são os interesses que têm em comum. Os usuários deverão preencher um formulário que pergunta sobre área, disponibilidade e quantidade de mentorias desejados e os perfis com características mais semelhantes são notificados. A atividade pode ser ini-
ciada a qualquer momento, mas precisará ser renovada periodicamente. O portal foi desenvolvido pela Diretoria Adjunta de Ensino (DAE) do CT, por meio de bolsistas de projetos de apoio à graduação da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). O objetivo é que a plataforma cresça e ganhe mais funções a cada atualização.
O objetivo do Portal é buscar novos vínculos com estudantes que já passaram pelo Centro, auxiliandoos no mercado de trabalho e em outras atividades de seu interesse
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DEZEMBRO
HOMENAGENS DÃO TOM À COMEMORAÇÃO DO DIA DO ENGENHEIRO E DO EX-ALUNO DO CT Há mais de uma década, entrega de certificados e medalhas coincidem com as celebrações
“O CT mantém o seu diferencial, trazendo muita consistência e peso à nossa Universidade” - Reitor Henry Campos Na ocasião, foram entregues certificados de reconhecimento a três concludentes de cada uma das onze engenharias do CT. Os alunos foram agraciados por seu excelente desempenho acadêmico, tendo como base os estudantes com maiores Índice de Rendimento Acadêmico (IRA) de cada curso. Seguindo a tradição de mais de uma década, a solenidade também concedeu honrarias a personalidades de destaque no campo da engenharia com a edição 2018 da Medalha Engenheiro Paulo de Frontin.
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Receberam a medalha o engenheiro mecânico formado pela UFC José Maria de Sales Andrade Neto, professor aposentado da Instituição e chefe de Gabinete do Reitor; O engenheiro civil formado pela UFC Francisco de Queiroz Maia Júnior, atual secretário de Planejamento e Gestão do Governo do Estado do Ceará; e o também engenheiro civil formado pela UFC Francisco Ariosto Holanda, docente aposentado da Instituição e deputado federal licenciado.
Por fim, os professores José Lourenço Mont’Alverne e Raimundo Oliveira de Souza, que faleceram no ano passado, foram homenageados com certificados recebidos por familiares. O Dia do Engenheiro e do Ex-aluno do CT foi encerrado com um coffee-break oferecido aos presentes. (Com informações do Portal da UFC)
O reitor da UFC, professor Henry Campos, discursou sobre as conquistas recentes da Universidade, destacando as contribuições do CT nesse percurso. “O Centro de Tecnologia é, hoje, a maior unidade acadêmica da UFC e uma referência em termos de desempenho acadêmico e do número de alunos graduados. O CT mantém o seu diferencial, trazendo muita consistência e peso à nossa Universidade, que termina este ano como a melhor do Norte e Nordeste, seja qual for o indicador utilizado para avaliação”, disse. Dando prosseguimento às homenagens, os 50 anos de formatura de alunos de Engenharia Civil e de Engenharia Mecânica graduados em 1968 foi comemorado com uma placa instalada no centro, descerrada na ocasião. O engenheiro civil Cleto Prata Crisóstomo fez um discurso emocionado em nome da turma de veteranos, recordando a trajetória do jubileu de ouro dos colegas a partir da faculdade.
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FOTO/ EMÍLIO THALLES
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arte abriu o evento que comemora no Centro de Tecnologia o Dia do Engenheiro e do Ex-aluno do CT, com apresentação artística do Coral do Instituto de Cultura e Arte (ICA) da Universidade Federal do Ceará. Na tarde do dia 11 de dezembro, o auditório Cândido Pamplona recebeu professores, servidores técnico-administrativos, estudantes, amigos e familiares de profissionais da engenharia, além do reitor da UFC, professor Henry Campos, em cerimônia já tradicional no calendário acadêmico da UFC.
ACONTECE NO CT JANEIRO
TESE DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ABRE CAMINHOS PARA NOVAS PARCERIAS COM A FRANÇA Pesquisa desenvolveu tecnologia que estabelece conexão da rede elétrica convencional a futuras redes inteligentes
Davi passou 18 meses no país europeu desenvolvendo parte do seu estudo experimental. O intercâmbio foi viabilizado pelo Programa Erasmus Mundo Smart2, que possibilitou a ele a conquista do duplo diploma de doutorado. Seu trabalho foi desenvolver um conversor eletrônico capaz de regular e controlar o fluxo de energia das redes inteligentes para qualquer tipo de rede convencional. Davi explica que a energia segue sempre o sentido geração-distribuição na rede convencional: é gerada em usinas e distribuída aos centros consumidores. Já as redes inteligentes consideram não só todos os tipos de conexão, mas também os de geração de energia. “Pode ser que num momento do dia a (fonte) fotovoltaica envie energia (a um determinado ponto da rede) e no outro seja a eólica que faça isso”, exemplifica. Esse fluxo bidirecional provoca uma certa “confusão” do fluxo de energia. Daí a necessidade de um conversor.
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data 11 de janeiro de 2019 foi importante para Davi Rabelo Joca, então aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da UFC. Nesse dia, o jovem de 29 anos tornou-se doutor em Engenharia Elétrica com chancela franco-brasileira. Sua tese, além de servir de modelo a futuros trabalhos acadêmicos realizados na instituição onde fez parte dos estudos, Universidade Paris-Saclay, resultou na aproximação do Centro de Tecnologia com a França.
Da esquerda para a direita, Loïc, Jean-Claud, Tobias (na TV), Davi, Luiz, Demercil e Gustavo.
A tese tem um título grande: “Uma topologia CA-CC baseada em um conversor multinível modular entrelaçado viável para aplicações em transformadores de estado sólido”. Mas grandiosa também foi a contribuição do estudante para a área. É que, apesar de existirem na literatura diversos trabalhos semelhantes ao dele, inclusive com resultados similares, Davi inovou na forma como desenvolveu o estudo. Para além da vasta exploração da matemática, ele contribuiu simplificando um conversor complexo ao aplicar apenas três tipos de controle (normalmente são usados pelo menos cinco controles complexos), além de tê-lo construído com muitas proteções automáticas, de forma que ele raramente sofrerá defeito. “Nós sabemos que o conversor dificilmente irá se tornar um produto, pois é muito complexo, mas o material do estudo serve de base para outros tipos de conversor”, avalia Davi.
A defesa, que durou pouco mais de quatro horas, aconteceu na sala da UFC Virtual e contou com a participação, presencial e virtualmente, de oito avaliadores. Estavam presentes os orientadores principais, professores Luiz Henrique Barreto (UFC) e Jean-Claude Vannier (CentraleSupélec, França), os co-orientadores, professores Demercil de Souza Oliveira Júnior (UFC) e Loïc Quéval (CentraleSupélec), além dos professores Bruno François (École Centrale de Lille, França), Tobias Rafael Fernandes Neto (Valeo Siemens Automotive, Alemanha), Montiê Alves Vitorino (UFCG) e Gustavo Alves de Lima Henn (UNILAB). “De um projeto de parceria entre instituições de ensino, o maior e melhor resultado é a formação humana, e o Davi teve uma oportunidade ímpar de experimentar culturas diferentes e obteve êxito nas duas”, disse Jean-Claude Vannier, orientador principal de Davi na França.
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VIDA DOCENTE
DOCENTES DISCUTEM PROBLEMÁTICAS PEDAGÓGICAS EM GRUPO DE ESTUDO Ateliê de Ensino do CT debate conceitos a partir da análise do cotidiano dos próprios participantes
res de outros departamentos, inclusive de outras unidades acadêmicas. Em 2018, eles sistematizaram os encontros, estabelecendo uma rotina de estudos das 10h às 12h de toda terça-feira, quando tornam-se alunos novamente, tão convencionais quanto qualquer um dos seus – e com direito até a lição de casa. A responsável por provocar discussões e dar fundamentação teórica a elas é Bernadete Porto, professora da Faculdade de Educação (Faced) e coordenadora do Ateliê de Ensino. Ela se desloca da Faced até o bloco 710, onde as aulas acontecem, para tirar as dúvidas dos professores sobre a própria atuação deles em sala de aula e fora dela. Essas dúvidas guiaram inclusive o conteúdo do programa semestral de estudos do grupo, ferramenta coletiva que orienta os encontros. No semestre passado, por exemplo, eles se apropriaram das teorias da avaliação tendo como referência Cipriano Luckesi.
Mudar o mundo enquanto ele não muda. Essa é a máxima que vem inspirando os encontros do Ateliê de Ensino do Centro de Tecnologia (CT), projeto da Comunidade de Cooperação e Aprendizagem Significativa (CASa) da Universidade Federal do Ceará que visa encontrar os melhores caminhos para a formação docente na UFC. Ali, os participantes aprendem como subverter a lógica tradicional do ensino e da aprendizagem com base em investigações de seu próprio cotidiano. A ideia já atrai professores de outras unidades acadêmicas e quer espalhar essa corrente do bem a toda a UFC.
O projeto tem cerca de 10 professores (não há e nem exige-se quantidade fixa), entre eles físicos, matemáticos e engenheiros, e representa uma diversidade que traz riqueza ao passo em que eles dividem anseios, discutem metodologias usadas em sala, se autoavaliam e aprendem com os erros uns dos outros. Com isso, os professores visam suprir uma deficiência do ensino superior público brasileiro, que é a demanda por atividades de formação docente. Em geral, a avaliação de contratação de professores avalia muito mais a competência de pesquisa que as qualidades docentes do candidato, forçando que os aprovados só aprendam na prática as lições de ser um bom professor.
O que seria o embrião do projeto nasceu em 2009, quando professores recém ingressos do CT demonstraram interesse em estudar didática e assim o fizeram, em pequenas ações isoladas. Mas foi a partir de 2017 que o grupo passou a investigar esses desafios na prática e, aos poucos, foi agregando professo-
A UFC oferece algumas ações de combate a essa problemática, como a própria CASa, que é um programa de formação docente criado em 2009
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pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e faz parte da Escola Integrada de Desenvolvimento e Inovação Acadêmica (Eideia) e da Coordenadoria de Inovação e Desenvolvimento Acadêmico (Coidea), espaços institucionais que reúnem iniciativas voltadas para a inovação de práticas de ensino e aprendizagem e para a promoção da excelência no ensino, articulado à pesquisa e à extensão. Mas as ações de formação em didática não são obrigatórias e a busca pelo aperfeiçoamento em práticas docentes deve partir dos próprios professores. Motivação presente o tempo inteiro no Ateliê de Ensino. Toda a maturidade adquirida com a experiência em sala de aula, mas também com os estudos do Ateliê, possibilita que os encontros aconteçam independentemente da ausência de algumas pessoas, inclusive da coordenadora. É que o professor não pode se deixar abalar pela quantidade de alunos presentes em uma aula. “Se apenas um estiver presente, ele é importante”, pensam. Isso mostra a vontade dos participantes em aperfeiçoar sua didática. “Uma das grandes contribuições que esse ateliê trouxe
“A gente sai revigorado. Tem o que fazer, sabe? Eu acredito em mudar a forma de ensinar, eu vejo a forma como os meninos (seus alunos) estão aprendendo de uma jeito diferente.”
foi de identificar essas pessoas incomodadas (com a situação atual de ensino), essas pessoas que estavam com esse pensamento de evoluir sua forma de ensinar”, diagnostica o professor Estêvão Fernandes, lotado no Departamento de Integração Acadêmica e Tecnológica (Diatec) e um dos participantes do projeto. O grupo já vem gerando resultados para os alunos e também para os professores participantes. Caso de Ismael Furtado, docente do Curso de Sistemas e Mídias Digitais, que diz estar conseguindo “ter respaldo” em sala de aula. “Eu gosto muito do PBL, Problem Based Learning, que é uma das técnicas pedagógicas (estudadas no Ateliê). Eu trago uma problemática real, contextualizada, onde eu debato com os alunos para, em cima daquele projeto, encontrar conceitos”, relata. “Fica muito mais fácil do aluno aprender e absorver aquele conceito, e eles vão até adiante, relacionando conceitos com outras disciplinas”. Ismael atua junto à Prof. Bernadete dando suporte técnico na filmagem de aulas dos docentes em seus departamentos, trazendo aos encontros do Ateliê vídeos com resumo da aula documentada. Assim, os professores conseguem assistir a si mesmos e melhorar o que for preciso neles próprios para fazer com que seus alunos progridam. A análise é sempre feita na ótica dos alunos, suscitando questionamentos como “por que tal aluno está desconectado da aula?” e “como trazer sua atenção de volta?” Para a coordenadora do Ateliê, esse estudo da prática traz contribuições valiosas para a UFC. “A pesquisa e o ensino, especialmente no que diz respeito aos estudos sobre a epistemologia da prática e dos saberes da experiência, têm estreita vinculação. Assim, estudar a prática é uma etapa importante para a autonomia
destes docentes e sistematização dos conhecimentos que ali são estruturados. Considero uma experiência singular e de uma importância sem medidas para a formação docente e para a cultura acadêmica”, avalia Bernadete Porto. O professor Estêvão Fernandes diz que as reuniões funcionam como espaço de apoio, diálogo e troca de experiências que o faz ganhar “um novo fôlego”. “Isso é muito bacana. A gente sai revigorado. Tem o que fazer, sabe? Eu acredito em mudar a forma de ensinar, eu vejo a forma como os meninos (seus alunos) estão aprendendo de uma jeito diferente...” Ele destaca ainda que os resultados do Ateliê nem sempre são tangíveis, sendo difícil fazer uma avaliação qualitativa, com alguma métrica. “Não há nenhum estudo quantitativo que diga que eles estão aprendendo mais, que estão se desenvolvendo mais. Eu acho que tem muito de satisfação pessoal do professor, de estar feliz com a forma com a qual está trabalhando, de estar feliz com aquilo que ele vê de desenvolvimento dos alunos em sala de aula. Comparando com turmas anteriores, onde o desempenho na prova devia ser mais ou menos o mesmo, você vê na fala do aluno que ele tem uma maturidade, uma concepção diferente daquilo que fala”, diz o professor, orgulhoso. Habilidades e competências que vão além de um bom resultado na prova – servem para o engrandecimento da formação profissional e até da postura dos alunos no mundo, defende o professor Luiz Gonzaga, também vinculado ao Diatec. “Nas minhas aulas, venho tentando mudar a questão da nota. Em vez de, numa carga horária de 20 horas, eu passar uma prova, diluo a prova dentro delas e passo atividades que vão contar pontos. Eu avalio o processo como um todo, e
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não uma coisa individual. A avaliação também é um processo.” Ele deixa as dicas para o sucesso da metodologia. “Você vai fazendo atividades e acompanhando como está o desenvolvimento do aluno. E se de repente ele foi ruim numa certa habilidade, você pode fazer atividades – de simulação computacional, apresentação de trabalho, de pesquisa – que possam explorar outras habilidades. Então, à medida que você propõe atividades bem diversificadas, você vai explorar cada vez mais as potencialidades dos seus alunos, já que eles não são iguais.” A professora Aurea Holanda, coordenadora do curso de Engenharia Civil, não compareceu à maioria dos encontros do Ateliê de Ensino por ocupações com a coordenação, conta, demonstrando interesse em participar “ativamente” a partir do final de sua gestão, em fevereiro. Mas as poucas participações foram suficientes para que ela pegasse algumas “dicas”. “No início da aula, por exemplo, sempre passava uns slides com a revisão da aula anterior que eu mesma fazia. Depois do Ateliê, passei a fazer a revisão colocando perguntas nos slides. Os alunos, então, passaram a respondê-las sendo ativos, responsáveis pela própria revisão”, relata. Além disso, no semestre 2018.1 ela resolveu fazer da aula de Cálculo de Volume de Sólidos algo mais palatável aos alunos. Literalmente: ela usou bolos para a aula de matemática usando o Método das Cascas Cilíndricas. “Dividi os alunos em grupos e cada grupo ficou com um bolo. Um dos alunos era selecionado pelo grupo para cortar o bolo, que tinha que ter aquele furo central. O corte não era o convencional, a fatia. Era feito em torno do furo, de forma que fossem formados cilindros, um círculo dentro do outro. Daí, vão se formando as cascas. A ideia é fazer cortes su-
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cessivos até acabar o bolo. O volume do sólido é a soma dos volumes de todas as cascas”, explica, contando que ao final da aula, todos os bolos foram devorados.
“Comparando com turmas anteriores, onde o desempenho na prova devia ser mais ou menos o mesmo, você vê na fala do aluno que ele tem uma maturidade, uma concepção diferente daquilo que fala
Inspiração “Foi uma animação total. E os alunos do ano anterior ficaram reclamando que no ano deles não teve!”, revela, com um sorriso no rosto. “Acredito que o lúdico, além da diversão, faz com que o aluno aprenda a partir da associação com uma vivência leve. Quando voltava ao método, sempre dizia: ‘lembram do bolo?’ Ninguém tinha esquecido…” Já Ivanildo Júnior, professor do Curso de Engenharia Química, resolveu fazer videoaulas para estimular os alunos a aumentar o entendimento sobre os assuntos abordados nas disciplinas de Princípios dos Pro-
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cessos Químicos, Fenômenos de Transporte III e Operações Unitárias III. Ele conta que começou o projeto antes mesmo de participar do Ateliê, a partir de reuniões e discussão com a Prof. Bernadete Porto, que o convidou para somar ao projeto. “Eu queria mudar minhas aulas. E ainda não tinha noção de como fazer, mas muitas ideias. A partir de uma série de conversas, reuniões, e com auxílio do professor Ismael Furtado, nós começamos a definir e estruturar o projeto AtivaEQ. Foi aí que começamos a gravar as aulas.” O projeto vai além dos vídeos. O site www. ativaeq.ufc.br também disponibiliza materiais para estudo das disciplinas. O texto de introdução ao AtivaEQ disponível no endereço eletrônico afirma que o projeto “traz o desejo de melhor aprender para melhor ensinar”. Desejo compartilhado pelo projeto “Carona com a professora”, que também visa simplificar o aprendizado dos alunos. No semestre 2018.2, a professora Departamento de Engenharia de Transportes (DET) Verônica Castelo Branco resolveu dar carona aos alunos que aguardavam o transporte coletivo nas paradas de ônibus que cortavam seu trajeto até a Universidade. “A gente começava a aula dentro do carro. De uma maneira bem informal, onde eles diziam como estavam se sentindo. ‘Professora, estou com dificuldade com o projeto nessa fase; Não estou achando o material bibliográfico desses materiais’, e isso tudo servia para alimentar o Ateliê de Ensino.”
Para mudar enquanto não muda
Um exemplo disso é a mensagem deixada no livro de visitação da exposição “Olhar CIVILizado”, que retrata o percurso de alunos da Engenharia Civil durante o ano de 2018 e que permanece aberta à visitação no bloco 710. “A UFC destruiu o meu sonho. Estou arrependido de estudar aqui. Meus piores traumas pessoais são daqui. Obrigado por destruírem meu sonho”, dizia parte do texto. A professora, que também organizou a exposição, diz que o combate à falta de sensibilização dos professores, “que é dura e existe mesmo”, o melhor caminho é o inverso: provocar ações que vão gerar atitudes. “A grande mágica é juntar forças. Eu não posso esperar ter turmas de dez alunos para aplicar uma metodologia
ativa porque em turmas de 50 eu não consigo. Eu tenho que fazer o caminho inverso, tenho que buscar estratégias que me permitam aplicar metodologias ativas sem minha turma estar onerosa e sem me exaurir. Eu vou deixar de lutar por um ensino de mais qualidade? Não. Mas enquanto eu não for mudando enquanto não muda, eu vou criando esse desânimo. Essa é a beleza do Ateliê.”
FOTO/ ARQUIVO PESSOAL
“Ok, estamos sensibilizados. O que a gente faz com isso?”. O questionamento da professora Verônica Castelo Branco é profundo. Apesar de todo esse movimento que mexe com a forma como o Centro de Tecnologia vem atuando pedagogicamente, seus efeitos ainda são pequenos e o desejo por mudança precisa atingir cada vez mais gente. Não é incomum ouvir estudantes reclamarem da didática de seus professores e muitas vezes adoecerem por isso.
Verônica lembra ainda que ações como as promovidas a partir do Ateliê de Ensino são de médio e longo prazo, não podendo se esperar um imediatismo. Aparentemente pequenas, somadas elas vão transformando o CT. “A gente já está mudando enquanto não muda.” A coordenadora do projeto, professora Bernadete Porto, afirma que a melhor formação docente é a que responde aos desafios assumidos pelos professores. “Considero que o Ateliê já tem vários ‘filhos’. Além dos inúmeros debates e palestras dos quais seus integrantes participam, professores de outras unidades da UFC mostram interesse em conhecer e participar do Ateliê. Recentemente criamos o Ateliê de Russas e começamos a articulação do Ateliê do CC (Centro de Ciências)”.
Professora Aurea Holanda levou bolos para que seus alunos assimilassem melhor um conteúdo matemático.
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Desafio do novo professor ou dicas para tornar o aprendizado mais legal: Que tal começar o ano acadêmico de 2019 ponto em prática as atividades que listamos abaixo? O desafio é realizá-las no decorrer do semestre 2019.1.
Utilizar alguma metodologia ativa de ensino-aprendizagem em uma disciplina e comparar os resultados com estratégia de aula tradicional. Vale pôr em prática a “sala de aula invertida” (quando alunos estudam o conteúdo da disciplina em casa e as aulas funcionam como espaço de discussão de ideias), a gamificação, a “aprendizagem baseada em projetos” (PBL, na sigla em inglês) ou qualquer outra metodologia que julgar pertinente. Criar uma disciplina integralizadora, que junta assuntos abordados em outras disciplinas A estratégia ajuda a construção de uma visão mais global da área de estudo, permitindo que o aluno desenvolva autonomia e liderança, colocando-o na condição de protagonista do processo de aprendizagem.
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Abrir matrículas para estudantes de diferentes cursos em uma disciplinas eletiva. A potencialização da interdisciplinaridade incentiva os estudantes a resolver problemas reais com base no trabalho em equipe, fazendo com que entendam o valor da integralização das diferentes áreas do conhecimento.
Juntar estudantes de semestres mais avançados com de semestres iniciais em uma mesma formação/disciplina, incentivando o aprendizado mútuo. Há quem diga que a melhor forma de aprender é ensinando. Juntar estudantes do oitavo semestre com de terceiro, por exemplo, pode ser uma experiência positiva para todos.
VIDA DOCENTE
Convidar alunos para acompanhar o seu trabalho durante um período.
FOTOS/ ARQUIVO PESSOAL
Apesar de terem convivido por muito tempo com professores, muitos alunos não fazem ideia que a docência vai muito além da sala de aula. Que tal chamar estudantes para ver de perto como funciona um planejamento de aula ou uma reunião de departamento?
Acima, Professora Bernadete Porto, ao centro, em instalação do Ateliê de Ensino no campus de Russas da UFC. Ao lado, professores do CT reunidos em um encontro do grupo.
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REPORTAGEM
Ensinar a aprender
O ensino da Engenharia no Ceará ante às incertezas do futuro
O
fim do futuro é o presente. E, numa velocidade incalculável, este torna-se já passado. Não tendo o futuro um fim definido, é possível afirmar que a transformação está sempre em curso quando o assunto é o amanhã. Mas o futuro não é um esforço adivinhatório. Uma vez valendo-se de análises da realidade com o apoio da história e outras ciências, pode-se fazer previsões mais ou menos sólidas sobre seu desenrolar. Pois o ensino da Engenharia, um desafio por ele mesmo, é um território cercado de incertezas frente ao cenário político que começa a se desenhar. Educação, pesquisa e economia serão diretamente impactados, afetando tanto o engenheiro já atuante no mercado quanto os que ainda estão em processo de formação. Para contornar minimamente essa
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situação de incerteza, parece ser unânime que a melhor estratégia nunca deixou de ser a elaboração (e execução à risca) de um bom planejamento. É o que o Estado vem fazendo no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Longo Prazo – Ceará 2050, em parceria com a Universidade Federal do Ceará e com coordenação do professor José de Paula Barros Neto, da Pós-Graduação em Engenharia Civil do Centro de Tecnologia (CT) e Presidente da Associação Técnico Científica Engenheiro Paulo de Frontin (Astef). No mesmo rumo do planejamento, esta unidade acadêmica trabalha a atualização dos currículos dos cursos de graduação em Engenharia, prometendo formar profissionais com múltiplas competências.
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Enquanto a mudança não chega, a situação por aqui é semelhante à enfrentada pelo país inteiro. Há mais de uma década os projetos pedagógicos dos cursos não são atualizados no Brasil e no CT, os professores são em maioria muito academicistas e têm pouca experiência prática, adotam metodologias pedagógicas desestimulantes, a estrutura dos cursos dá pouca liberdade aos alunos, entre outras problemáticas que impactam diretamente o aprendizado dos estudantes e a consequente vitalidade do mercado de Engenharia. Diante desse cenário complexo, como o Centro de Tecnologia da UFC vem se preparando para minimizar os efeitos negativos disso tudo que o afeta, bem como para potencializar as expectativas de mercado na Engenharia para os próximos anos?
CAPA
Desafios e urgências no Brasil para as Engenharias O ensino em si, de modo geral, tornou-se um campo minado diante das novas e aceleradas transformações sociais, econômicas, políticas e ambientais que colocam em cheque sua previsibilidade. Novas tecnologias influenciam a forma como as pessoas se relacionam, sobretudo as juventudes, que naturalmente acompanham as inovações em proximidade e velocidade quase concomitante ao surgimento delas. De modo análogo, o ensino da Engenharia também é cercado por desafios intrínsecos e essa realidade exige adaptação. Vive-se então uma “complexidade-autofágica”: a Engenharia é justamente a produtora dessas disrupções, que modificam o mundo e a ela própria, levando-a a ruir em caso de inadaptação. O erro, por sua vez, não está nas transformações. Toda essa história começou com desvalorização. A cultura ocidental, que sempre reservou às atividades intelectuais o status de superioridade, admirado em detrimento de tudo aquilo que é mais corporal, mais artístico, relegou lugar de inferioridade às atividades consideradas “braçais”. Nos tempos antigos, pode-se dar como exemplo a construção de pontes, aquedutos e estradas pelos romanos. De lá para cá, muita coisa mudou nesse sentido. A engenharia banhou-se pela corrente academicista e, em meados do século XIX, adquiriu o status universitário. Mas o tempo é outro, as formas de aprendizagem mudaram e isso não bastou para que a área sofresse uma transformação quanto à maneira como forma novos profissionais nos dias de hoje. De forma semelhante
aos ofícios antigos, o ensino de engenharia ainda é, mesmo hoje, passado de mestres (professores engenheiros) a aprendizes (graduandos), que são avaliados com provas periódicas para verificar a transmissão de conhecimentos. O fato é que independentemente da época, o engenheiro sempre teve importância para o desenvolvimento econômico das nações. A infraestrutura, a qualidade de serviços e a resolução de problemas socioeconômicos de países emergentes de-
Vive-se então uma “complexidadeautofágica”: a Engenharia é justamente a produtora dessas disrupções, que modificam o mundo e a ela própria pendem desses profissionais, que são os grandes responsáveis pelo desenvolvimento de novas tecnologias e pela chamada “convergência tecnológica”, ou seja, pela adaptação à realidade brasileira de tecnologias desenvolvidas no exterior. Mas o Brasil ocupa um dos piores lugares no ranking mundial de engenheiros por habitantes.
Em relação a países como Coreia, Rússia, Finlândia e Áustria, que contavam com mais de 20 engenheiros para cada 10 mil habitantes em 2014, esse número era de 4,8 graduandos em engenharia no Brasil, de acordo com Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mais: os engenheiros que formamos são excelentes pesquisadores, mas muitas vezes não têm competências para atuar na indústria. O desafio é justamente aumentar o diálogo com o ecossistema empreendedor, estimulando que professores tenham experiências práticas no mercado para ensinar Engenharia. Dentro da sala de aula, o estudante seria então orientado a fazer análises de resultados e discussões mais conceituais, já que as novas tecnologias facilitaram o acesso à informação. Dessa forma, quando toda fórmula matemática está disponível na ponta dos nossos dedos e os cálculos tornam-se cada vez mais automatizados, devem ser estimuladas outras dinâmicas no espaço presencial de aprendizagem, criando condições para que os estudantes desenvolvam competências de liderança, trabalho em equipe, raciocínio crítico e interdisciplinar, entre outras. Para Barros Neto, professor vinculado ao Departamento de Integração Acadêmica e Tecnológica (Diatec) e ex-Diretor do Centro de Tecnologia, o futuro do ensino da Engenharia deve dar mais autonomia aos estudantes. “O conhecimento não está mais diretamente no professor. A visão do professor é muito mais de um tutor, de um orientador, de um aconselhador, do que efetivamente do que um professor que vai passar um conhecimento, tudo que ele sabe, para o aluno. Hoje a gente percebe que o aluno quer muito mais a questão de desafios, de solução de problemas e tudo mais. Eu acho que a gente tem que mudar a forma de ensinar dando muito mais autonomia para o aluno e capacida-
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de de orientação de trabalho para ele do que aquele ensino passivo”. Pensando nessas problemáticas, o Confederação Nacional da Indústria preparou em setembro do ano passado uma série de propostas para revisar a estrutura curricular e as metodologias de ensino, rever a Política Nacional de Formação de Professores e valorizar o magistério e a carreira docente para melhorar a qualidade da educação no Brasil. A proposta nª 7 diz respeito ao fortalecimento e modernização do ensino de Engenharia no País. A CNI defende uma “modernização dos currículos, avaliação dos cursos e formação e capacitação de docentes” como o tripé que solucionará a adequação dos novos engenheiros às expectativas do mercado. Para isso, diz, é preciso definir “terminologias, conteúdos e metodologias de ensino aderentes à demanda da indústria”.
“Uma coisa é saber calcular. Outra coisa é saber fazer, saber ser. Então isso é que dá competência. E nós não estamos preparando nosso engenheiro para isso.” - Diretor do Centro de Tecnologia
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As competências do engenheiro do futuro
Q
ual é o perfil de engenheiro que a gente quer formar? Essa continua sendo a pergunta que perpassa as discussões cotidianas do CT para a modernização dos currículos e atualização da didática dos docentes. Mas esses avanços precisam estar vinculados em metodologias de ensino, bem como sistemas de avaliação, que viabilizem a implantação de práticas inovadoras. “Como professor e gestor, eu entendo que a nossa forma de dar aula está exaurida. Nós não podemos mais trabalhar conteúdo. Temos que virar a chave para trabalhar competências. Aí a gente vai ter que trabalhar com cada unidade curricular para pensar o que é que o aluno tem que saber ao final de cada disciplina”, avalia o professor Carlos Almir, Diretor do CT. Ele
ressalta a importância das metodologias ativas no ensino da Engenharia para que essa meta seja alcançada. Na chamada “abordagem progressista” da educação, estabelecida em oposição à educação tradicional, os estudantes são responsáveis pelo próprio aprendizado, tomando iniciativas, cooperando com seus pares e sendo capazes de planejar, implementar e controlar projetos. As consequências da educação tradicional são manifestadas na baixa retenção de conhecimentos dos estudantes, na sua desatenção em sala de aula e, mais grave, nos números da evasão. Dessa forma, o professor tem um papel muito relevante na orientação educacional dos alunos, fornecendo meios para que eles se tornem cada vez mais autônomos.
Desafios 1. Professores inexperientes
2. Profissionais desqualificados
Na década de 1990, a maioria dos professores de Engenharia trabalhavam ou já tinham trabalhado na área. Muitos, além de professores, eram consultores ou empresários. Alguns eram trabalhadores aposentados que resolveram compartilhar experiências e conhecimentos com os jovens. Os conhecimentos transmitidos eram os que a indústria necessitava, com foco na funcionalidade e no lucro.
Por outro lado, é possível aprender novas práticas e processos de trabalho sem ter de lidar fisicamente com os materiais, em um ambiente seguro de realidade virtual, por exemplo. Fora isso, os softwares disponíveis no mercado atualmente poupam tempo e trabalho, deixando os estudantes mais livres para utilizar a criatividade. Se antes um engenheiro podia passar a vida toda realizando o mesmo tipo de trabalho, hoje ele é forçado a aprender e se adaptar constantemente.
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O bom profissional não é mais o que sabe, que é conteudista. “Uma coisa é saber calcular. Outra coisa é saber fazer, saber ser. Então isso é que dá competência. E nós não estamos preparando nosso engenheiro para isso. Essa é a mudança que estamos discutindo com os coordenadores e com os NDEs (Núcleos Docentes Estruturantes) e que a gente precisa avançar.” A inserção efetiva da engenharia na sociedade brasileira, entretanto, só ocorre se os estudantes são submetidos, durante sua formação, a problemas baseados em desafios reais. Projetos e aulas devem ser combinados com atividades em comunidades, centros industriais e urbanos, desenvolvendo soluções para questões como uso da água, aproveitamento energético, mobilidade urbana e segurança. O resultado é a formação de profissionais atuantes, em benefício da sociedade.
Para Isaque Brito, egresso de Engenharia Metalúrgica pela UFC, a formação que recebeu teve muita qualidade quando analisada pelo viés acadêmico. Mas o jovem é crítico quanto a capacitação trabalhada em seu curso voltadas para a atuação na indústria. “Nós temos pouquíssimas disciplinas de gestão, praticamente só temos as básicas, administração, economia, etc. As demais que achamos interessantes e necessárias podemos fazer em outros cursos, como por exemplo na Engenharia de Produção, que é bem mais voltada pra carreira industrial. Só que isso acaba sobrecarregando demais o estudante. Além de fazer as disciplinas teóricas da sua área, ter que fazer também (disciplinas) de outra área – e nossas disciplinas base são super carregadas de conteúdo e são todas bem diferentes – dificulta bastante.”
Ele enxergou na extensão a saída para o problema, bem como a participação em Programas de Educação Tutorial (PETs), Centros Acadêmicos (CA), empresas juniores e CREA Júnior. “Esses projetos auxiliam bastante na jornada profissional e você tem a oportunidade de lidar com problemas reais de empresas, como no caso das empresas juniores.” Ele próprio, por exemplo, passou quatro dos cinco anos da graduação vinculado ao CA de seu curso. Mas se por um lado a questão envolve os professores, por outro, arrebata justamente quem está no foco das discussões: os alunos. Também o estudante muitas vezes não está preparado para gerir com mais autonomia sua vida na universidade.
Fonte: Blog da Engenharia, adaptado. 3. Alunos sem competências adequadas
4. Engenheiros pouco segmentados
5. Menos engenheiros que o recomendado
Aquela velha história de que para estudar Engenharia basta ser bom em Exatas, curtir matemática e consertar coisas, ficou pra trás. Hoje, um aluno que não saiba Inglês, por exemplo, com certeza fica para trás na hora de aprender a utilizar softwares e ferramentas. É muito comum que um aluno entre na faculdade já sabendo mexer no Autocad ou que comece a fazer um curso de Solidworks logo nos primeiros semestres. Para entrar no mercado de trabalho e crescer, é necessário ter noções básicas de marketing, de como gerir pessoas e projetos, habilidades de comunicação e escrita, entre muitas outras coisas.
Há 20 anos não existiam tantas Engenharias como hoje. A tendência é que essa segmentação aumente, a medida que as necessidades surjam. Por exemplo, não fazia sentido que em meados de 1990 tivesse uma faculdade de Engenharia de Software ou de Sistemas. A tecnologia avançada também fez com que a Engenharia se misturasse a outras ciências, como aconteceu com a Engenharia Biomédica ou a Engenharia de Alimentos. Você faz ideia de quantas especializações nós temos disponíveis hoje?
Houve um aumento significativo de instituições que oferecem o curso de Engenharia. Consequentemente, o número de profissionais da área também cresceu. O resultado disso é um mercado de trabalho extremamente saturado. Se antes Engenharia era um curso restrito, hoje é um dos mais procurados. Com isso, as exigências aumentam e os alunos precisam se munir de todas as formas para conseguir um bom emprego. Não é raro que engenheiros, mesmo depois de tantos anos de esforço para conseguir o diploma, desistam da área logo nos primeiros anos pósgraduação.
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HISTÓRICO DA ATUALIZAÇÃO CURRICULAR DAS ENGENHARIAS DO CT A mudança da estrutura dos currículos do Centro de Tencologia é de grande escopo. O principal aspecto trabalhado é o desenvolvimento de competências para que o egresso tenha formação técnica sólida, combinada a uma formação mais humanística e empreendedora.
DIRETRIZES CURRICULARES Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) de 11 de março institui as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de graduação em engenharia, forçando a atualização de seus projetos pedagógicos. Antes das Diretrizes, as engenharias eram organizadas no esquema de currículo mínimo, com disciplinas obrigatórias que engessava a formação.
1996
2002
REESTRUTURAÇÃO DO ENSINO BRASILEIRO Lei nº 9.394 de 20/12/96 institui a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional, que reestruturou o ensino brasileiro em todos os níveis. A Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (Abenge) inicia uma discussão a respeito da atualização curricular das engenharias.
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2004
REFORMA CURRICULAR Novos currículos são implementados no primeiro semestre de 2005. A reforma resultou na diminuição da carga horária dos currículos, dando um pouco mais de autonomia aos estudantes fora da sala de aula e adicionando atividades complementares.
2005
DISCUSSÕES Pressionado pelas DCNs, o CT inicia as discussões dos projetos pedagógicos das engenharias existentes na época (Civil, de Produção Mecânica, Elétrica, Mecânica e Química). O curso de Engenharia de Teleinformática não foi contemplado porque sua primeira turma teve início em março de 2004.
2014 AVALIAÇÃO Professor Barros Neto, então Diretor do Centro de Tecnologia, inicia discussões internas sobre a necessidade de análise dos currículos vigentes para que abrangessem as novas competências exigidas pelo mercado.
Constatando que a atuação docente mudou pouco em relação a 2005, ano da última reforma curricular, entre 2016 e 2018 surgiram ações pontuais que romperam a forma tradicional de dar aula no CT. Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs) e coordenadores dos cursos de graduação foram conscientizados sobre toda as estapas da reforma curricular, em reuniões organizadas pela Diretoria do CT, DAE e NOE.
PREPARAÇÃO O novo diretor do CT, professor Carlos Almir, dá continuidade às discussões. Uma comissão foi criada para diagnosticar os currículos, aplicando questionário a alunos e professores e trazendo a visão da indústria e da Abenge sobre as competências da engenharia.
2015
2016
QUALIFICAÇÃO DO CORPO DOCENTE Discussões seguem integradas e novo currículo é montado de forma conjunta. Foram realizadas capacitações para orientar professores sobre didática em sala de aula focando em metodologias ativas e práticas de avaliação. Essa programação foi organizada pela DAE e pelo NOE do CT.
2017
ESTRUTURAÇÃO DA REFORMA Foi aprovado no Conselho de Centro o documento “Princípios Norteadores da Reforma Curricular do CT”, que define os objetivos, valores e diretrizes para essa reforma. Para colaborar na assessoria curricular, foi criado o Núcleo de Orientação Educacional (NOE), ligado à Diretoria Adjunta de Ensino (DAE). O referido núcleo desenvolveu um roteiro próprio para a elaboração dos novos projetos pedagógicos do CT, em especial das Engenharias. O roteiro foi pautado em concepções pedagógicas, curriculares e legais do MEC e da UFC.
2018
REFORMA CURRICULAR A previsão é que as novas Diretrizes Curriculares Nacionais sejam aprovadas em fevereiro deste ano. Após isso, os projetos pedagógicos sofrerão as alterações necessárias à adequação das DCNs e então serão implementadas.
2019
CNE PROPÕE NOVAS DIRETRIZES Disciplinas do ciclo básico, específicas e profissionalizantes foram repensadas. Mas enquanto os projetos pedagógicos dos cursos eram finalizados, o Conselho Nacional de Educação (CNE) preparou novas DCNs, desenvolvidas em conjunto pela Abenge, Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, Confederação Nacional da Indústria (MEI/CNI) e Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). A implementação do currículo foi adiada para o ano seguinte, evitando a necessidade de criação de outro projeto pedagógico para se adequar às novas Diretrizes.
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As potencialidades locais para a Engenharia Inovação e tecnologia são palavras cada vez mais comuns no vocabulário cearense. É que com a chamada “trinca de hubs” (nos setores aéreo, portuário e de dados), o Estado se destaca como um dos principais centros de conexões do Brasil em potencial. A trinca se refere ao hub aéreo das empresas Air France- KLMGOL (Aeroporto de Fortaleza); ao hub marítimo (Porto do Pecém), que mantém parcerias com outros portos mundiais; e ao hub tecnológico, que conecta o Ceará ao mundo por cabos de fibra ótica submarinos, também ligados ao cinturão digital, favorecendo as telecomunicações em todo o Estado. A meta do governo é transformar o Ceará num centro de tecnologia e inovação. E, para isso, é preciso investir pesado em educação e projetos inovadores, a exemplo da tecnologia em Inteligência Artificial (IA) já desenvolvida pelo Estado em vários ramos. A UFC é responsável pela formação de profissionais de qualidade reconhecida mundialmente em IA. Quando aliados à recuperação econômica, esses investimentos nos dão motivos para comemorar uma promissora explosão tecnológica que beneficiará a população no futuro. O Ceará deixa o ano de 2018 com vantajosa situação fiscal – tida como a melhor do Brasil, ao contrário de estados que declararam emergência, como Manaus. A continuidade da recuperação econômica por aqui é esperada por agentes econômicos, apontando para a abertura de novos postos de trabalho.
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Ainda, as estimativas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) divulgadas na publicação Farol da Economia Cearense, que traz previsões para a economia do Estado em 2019, apontam para um crescimento em torno de 2,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano corrente.
“Hoje, para o Ceará crescer, ele vai ter que investir, trabalhar a questão da inovação. E essa inovação passa, obviamente, pelas engenharias“ - Prof. Barros Neto A nossa privilegiada localização geográfica nos coloca com um dos estados brasileiros mais estratégicos para o mundo, favorecendo, por exemplo, o setor turístico, que já deu sinais de crescimento bastante positivos no último ano, e a Engenharia, colocando o engenheiro como uma das apostas para as “profissões do ano” entre os economistas. Mas nem só com fatores naturais se garante sucesso. Planejamentos estratégicos são apostas importantes do governo e da Universidade. O Plano Ceará 2050, por exemplo, trabalha para a consolidação de novas bases
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econômicas no futuro, unindo agentes sociais em prol de um Estado que deve ser capaz de desenvolver todas as suas potencialidades em três décadas e criar novas oportunidades. “Nós temos observado que um dos pontos fortes que pode ser considerado condutores desse processo é a questão da inovação. Hoje, para o Ceará crescer, ele vai ter que investir, trabalhar a questão da inovação. E essa inovação passa, obviamente, pelas engenharias, pela melhor formação nesse sentido. O Ceará 2050 tem tudo a ver com o Centro de Tecnologia”, afirma o professor Barros Neto, coordenador do plano estratégico na UFC. O professor lembra que o Estado tem vantagens comparativas em relação a outros locais, tendo se consolidado como um dos grandes produtores de energia alternativa. “Tudo isso, juntando o saneamento do Estado, à rede de universidades que o Estado tem, considerando o ensino superior privado e público... Se a gente conseguir juntar todas essas forças com a capacidade que temos no Estado, nós temos a chance de dar um grande salto nos próximos anos”, completa.
A construção coletiva do Ceará em nossas mãos
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A iniciativa tem por objetivo desenhar estratégias de aceleração do crescimento econômico do Ceará nos próximos 30 anos, atendendo de forma mais eficiente às expectativas da sociedade pela oferta de serviços essenciais, como saúde, educação, segurança pública, abastecimento de água, emprego e renda e considera questões sociais, econômicas e ambientais para o desenvolvimento sustentável do Estado. A ideia do programa é, de acordo com o governador Camilo Santana, resgatar a cultura do planejamento de médio e longo prazo. Ele defende que o Plano é um projeto de Estado, e não de governo. Além da parceria com a UFC, com apoio da Fundação Astef, contribuem com o plano demais universidades cearenses, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e, claro, a sociedade.
FOTO/ RIBAMAR NETO
em o início, nem o fim. O que mais vale a pena em qualquer experiência é o processo vivenciado entre esses dois pontos, que constam em todo ciclo de vida. Em outras palavras, o meio pelo qual se executa um projeto é o que garante sua qualidade. E foi acreditando no potencial da UFC que o Governo do Estado do Ceará a convidou, em 2017, para conduzir a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Longo Prazo – Ceará 2050, fortalecendo a integração que existe entre Universidade e Governo Estadual, trabalho da Universidade para que o Porto do Pecém se tornasse realidade.
Professor José de Paula Barros Neto, coordenador da Plataforma Ceará 2050 na UFC.
Na UFC, o plano estratégico é coordenado pelo professor vinculado ao Centro de Tecnologia da UFC, José de Paula Barros Neto, também diretor da Fundação de Apoio a Serviços Técnicos, Ensino e Fomento à Pesquisa (Fundação Astef). A equipe trabalhou com vistas a um modelo de desenvolvimento calcado na “gestão pública eficiente, sustentabilidade ambiental, combate à pobreza e no compromisso com a economia do conhecimento”, conforme o Plano. 2018 foi o primeiro ano de atividades do Programa Ceará 2050, que planeja o Estado para os próximos 30 anos, em vários eixos norteadores. Foram elaborados 29 objetivos estratégicos que devem ser postos em prática já neste ano. Para isso, o grupo de
Foi acreditando no potencial da UFC que o Governo do Estado do Ceará a convidou, em 2017, para conduzir a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Longo Prazo – Ceará 2050
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À Universidade coube conduzir o processo de desenvolvimento do Estado ao reunir e analisar pesquisas, ações e ideias advindas de vários setores da sociedade. A equipe de organização, composta por professores, ex-professores e docentes aposentados, traçou o processo metodológico do Plano. Foi feito o levantamento de dados estatísticos sobre o Ceará, que elencou informações de experiências bem-sucedidas no Brasil e fora do País. Isso possibilitou que o grupo fizesse tanto uma análise quantitativa, como uma discussão qualitativa sobre os diversos assuntos. A partir daí aconteceram muitas discussões com a sociedade civil. A construção da Plataforma Ceará 2050 tem cinco etapas. A primeira delas foi de diagnóstico. A segunda, de benchmarking (análise externa) e construção de tendências e cenários. A terceira etapa tratou da visão de futuro e objetivos estratégicos. A UFC também ficou responsável pela elaboração da Carta de Futuro da Plataforma, elaborada por diversos segmentos da sociedade em 14 regiões do Ceará, com participação popular. A quarta etapa, em processo de conclusão, trata da definição da governança da gestão. Por fim, será realizada a elaboração e detalhamento de projetos estratégicos do Ceará do futuro.
Novos planos para a educação superior
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futuro do ensino superior deve passar por profundas transformações caso se cumpram as promessas de campanha de Jair Bolsonaro. Já tendo declarado durante o período eleitoral que o jovem brasileiro tem “tara” por diploma universitário, a promessa é de que haja transferência de recursos da educação superior para a rede básica (níveis infantil, fundamental e médio), tida por especialistas da área como um dos grandes gargalos da educação brasileira. Atualmente, o Brasil investe aproximadamente 6% do produto interno bruto (PIB) em educação, de acordo com o relatório Aspectos Fiscais da Educação no Brasil, divulgado em julho de 2018 pela Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Fazenda. O valor é superior à média de 5,5% dos investimentos em educação dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Apesar de investir mais em termos absolutos, o estudo Education at a Glance (“Educação em revista”, na tradução livre do inglês) divulgado em setembro do ano passado revela que o gasto por aluno no Brasil “ainda está atrás da maior parte dos países parceiros e da OCDE.” De acordo com o estudo, o nível de ensino brasileiro que mais se aproxima da média da OCDE em termos de investimento por aluno matriculado é o ensino superior, mas ainda assim está abaixo dela. Em 2015, o País atingiu 14.261 pontos em investimentos nesse quesito comparado aos 15.656 pontos referente à média da OCDE. No mesmo ano, para o nível médio, a pontuação do Brasil foi de 3.986 diante dos 10.196 pontos da sigla. Nos níveis fundamental 1 e 2, a pontuação é de 3.762 e 3.789 investidos pelo Brasil
FOTO/ LUCAS CASEMIRO
elaborou um documento que retrata a gestão estadual nas últimas três décadas. A UFC ficou responsável por coordenar ações estratégicas com discussões técnicas, mas também em diálogo direto com a população, com participações presenciais públicas em plenárias e encontros menores, seja presencial ou virtualmente.
Professor Carlos Almir, Diretor do Centro de Tecnologia.
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em cada nível, respectivamente, em relação aos 8.539 e 9.941 pontos referentes à média de investimentos por alunos matriculados em países membros da OCDE. O Diretor do Centro de Tecnologia, professor Carlos Almir, diz não concordar com a redistribuição de verbas entre os níveis de ensino, apesar de concordar que deve haver bons investimentos em todos eles. Para o gestor, é preciso “fundamentalmente” investir no ensino básico para formar “uma massa de meninos e meninas pensantes que tenham condições de entrar em uma universidade pública e dar o resultado.” “Sem dúvidas nenhuma precisamos disso. Mas em nome disso maltratar e estagnar o ensino superior seria um golpe muito duro no já difícil ensino superior hoje”, teme o Diretor. Ele diz que se cumprida, a medida “sufocará” o nível que está dando resultados para o Brasil, referindose às universidades públicas, reconhecidas internacionalmente por sua qualidade. Dados do estudo “Pesquisa no Brasil - Um relatório para a Capes”, realizado pela empresa norteamericana Clarivate Analytics, aponta que pesquisa é sinônimo de universidade pública no Brasil. O estudo divulgado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) reflete dados de 2011 a 2016 e revela que 99% das pesquisas brasileiras são realizadas pelas instituições federais de ensino. De acordo com o programa de governo de Bolsonaro, registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
durante o período de campanha, as pesquisas deverão ser cada vez mais realizadas em parceria com empresas, de modo que cada região do Brasil possa se concentrar em suas “vantagens comparativas”. O documento, intitulado “O Caminho da Prosperidade”, também sinaliza que o empreendedorismo será a palavra de ordem promovida em todos os cursos nas universidades, prometendo gerar “avanços técnicos” para o País, de forma que “o jovem saia da faculdade pensando em abrir uma empresa”. Luiz Henrique Silva Colado Barreto, Diretor-Adjunto de Pesquisa do CT, julga positiva a implantação de modelos dessa natureza para a pesquisa no Brasil. “Existem muitos modelos fora do país de mestrado e doutorado que trabalham vinculados à empresa. É ela que financia o doutorado ou parte dele”, diz. Mas, na opinião do professor, essa articulação entre indústria e universidade tem entraves fortes, culturais.
“Existem muitos modelos fora do país de mestrado e doutorado que trabalham vinculados à empresa. É ela que financia o doutorado ou parte dele“ - Prof. Luiz Henrique Barreto
“O empresário vê a universidade como um lugar onde ele não precisa botar dinheiro e consegue aquilo que ele precisa. Isso não é verdade, não existe isso em lugar nenhum do mundo”, declara, apostando em uma demora de pelo menos três décadas até esse sistema funcionar a todo vapor por aqui. Para o professor, o empreendedorismo e relacionamento com a indústria é “crucial” na extensão universitária. “Hoje a gente fala muito em pesquisa. Mas a pesquisa mesmo não é puramente ‘pesquisa’, é mais extensionista que pesquisa. Se a Universidade desenvolve algo junto a uma empresa, isso é uma extensão. Às vezes as pessoas falam: ‘o Centro de Tecnologia não faz extensão’. A gente faz extensão, mas a gente chama de pesquisa”, diz, com um sorriso. Outro plano do novo governo é criar “hubs tecnológicos” nos quais as universidades se alinhariam à iniciativa privada, descentralizando de Brasília os recursos para a pesquisa nacional. Assim, o Nordeste seria um polo atuante na área de tecnologia em energias renováveis. O Diretor do Centro de Tecnologia, professor Carlos Almir, concorda com essa ideia, mas com ressalvas. “Filosoficamente, investir em hubs não é errado, mas eu tenho medo. Primeiro, porque quem vai definir as ilhas de excelência? Segundo, como será induzida a criação de ilhas de excelência? Porque (se a indução for mal feita) você vai continuar beneficiando quem já é grande. Eu tenho primeiro que ter por trás algo para induzir, porque se não eu penalizo grupos novos”,
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REPORTAGEM diz, lembrando que a indução é fundamental para descentralizar a pesquisa no Brasil. Ele argumenta que deve-se continuar fomentando os hubs, sobretudo induzir a formação de novos para garantir a continuidade da pesquisa de qualidade. “Um hub hoje é importante porque tem um grupo bom, mas não necessariamente esses hubs formam novos pesquisadores de ponta. E a partir do momento que a gente joga todo o recurso para ele, nós matamos os grupos potenciais e nós super atraímos competências de outras regiões. Tenho que ter ilhas de excelência espalhadas pelo País. Se for feito isso, eu acho válido, mas se apenas quiserem concentrar (recursos) no que já existe, para mim falha daí.” Sobre o assunto, o economista Aécio Alves de Oliveira, professor de Teoria Econômica da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (FEAAC), lembra ainda que a pesquisa deve sempre
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respeitar o meio ambiente caso queira fazer evoluir a sociedade. “A ciência e a tecnologia deveriam estar estreitamente conectadas às leis que regem os ecossistemas, tendo por orientação central a vida de todas as espécies. Para tanto, deveriam ter por princípio a minimização da entropia. Em não sendo assim, a pesquisa vai contribuir para aumentar as desigualdades e a concentração de renda e riqueza. Não existe pesquisa desinteressada.” Descartada a ideia de o ensino superior ficar sob a gestão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações, possibilidade ventilada por Bolsonaro na campanha eleitoral, outra promessa que pode transformar a educação superior é integrá-la aos níveis fundamental e médio, incentivando o ensino técnico desde a base, numa rede com “mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce”, conforme consta no programa de governo do presidente.
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A respeito da redução do orçamento nas federais e outros desafios futuros, o Diretor do CT vê a UFC e principalmente a Unidade Acadêmica que administra como um polo de referência nacional em ciência e tecnologia, o que pode fazer com que seja menos atingida pelos efeitos indesejados das novas políticas e administração da educação no Brasil. “Nós temos mostrar para o MEC, para a Capes, para o Cnpq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e para as empresas que investem em pesquisa, seja para quem for, que nós temos competência bastante forte e grupos bastantes consolidados. E para além disso, grupos que ainda não floresceram, mas que têm um potencial muito grande”, diz, encaminhando os rumos do Centro de Tecnologia deve tomar daqui para frente.
Uma página em branco é uma memória perdida no tempo. O Centro de Tecnologia quer ouvir você. Anuncie!
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RECONHECIMENTO
FOTO/ ARQUIVO PESSOAL
abs. tra. ta Por Lucas Casemiro
N
ão é um casamento qualquer. Aliás, “qualquer” é um pronome de verdade muito pequeno quando a inteligência de uma mulher se revela suficientemente grande para embelezar a digníssima profissão de ser professora nos dias de hoje. Um professor é dispensável? Alguns certamente acreditam que sim, talvez aqueles que nunca estiveram verdadeiramente preocupados com a educação. Mas conforta saber que existe em nossa Universidade pessoas que abraçam vidas alheias como se filhos seus fossem. I-rre-vo-gá-vel! Uma vez tomada a consciência do mundo, ignorar os percalços dele é equivalente a faltar com ética. E a professora Camila Bezerra Furtado Barros parece não ser de desistir fácil. Filha de filósofos, mãe e pai professores universitários, talvez tenha saído daí a coragem para ir permanecendo na academia, talvez mais do que uma jovem adulta no curso de Publicidade e Propaganda imaginaria. Hoje, mestre e doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), seguiu os rumos dos pais para embelezar a coordenação um curso de graduação, dentre várias outras coisas. “Quando você está dentro da universidade você se envolve com diversos mundos”, diz.
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Camila é casada com o Design. A história começou ainda na época em que namorava a Comunicação Social – há boatos de que a jovem se envolveu com o Design e, apaixonados, ninguém nunca mais soltou a mão de ninguém. Juntos, véu, grinalda e alianças simbólicas, espalharam a última mensagem dos tempos: o conhecimento é revolucionário. A Publicidade tem seu jeito próprio, correto à sua maneira, mas incongruente com seus objetivos pessoais. O Design, não! Ah, o Design! Ele tem aquela relação diferenciada no tratar com o outros, até mesmo diante da crueldade do mercado, sabe? E foi isso que a conquistou. Com uma outra visão, saiu para o mundo. Camila não está só por aqui, circulando pelo Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Design – DAUD (um “D” a mais na sigla faz toda a diferença), ou passeando por outros espaços da UFC. Está ali, lá fora, olhando o olho do menino que chora. E nos fazendo indignar com sua indignação sobre as coisas do mundo, algo que aprendeu com seu parceiro. Digo, com o Design. “O design atua numa perspectiva projetual-social, que faz com que haja uma relação de engajamento e compreensão, o que constrói a identidade”, defende a mulher que quer “contaminar a UFC com a importância do design”.
ABS TRA TA
E toda essa sensibilidade é trazida e ensinada na sala de aula. A professora sente os alunos, e, mais que isso, não os ignora, sempre os motivando e, quando possível, envolvendo-se nas iniciativas deles. Foi assim que nasceu o Grupo de Estudo em Design Editorial (Grude) e o Escritório Modelo, por exemplo. Este último foi parido em conversas com os alunos debaixo das mangueiras do DAUD em 2017, “apenas com a vontade de fazer”, conta, e “pedindo pra trabalhar”, acrescenta. Hoje o Escritório Modelo é um projeto de extensão que atende a comunidade, mas também (e principalmente) a UFC, procurando aumentar por aqui um sentimento de orgulho das pessoas pela Universidade.
A mulher que anda sempre bem arrumada é daquelas que se sentem vivas – e adoram essa sensação. Que parece estar em busca de encontrar, por seus próprios caminhos, um significado para a vida. Que se inspira em colegas de profissão. Que gosta de falar, e falar muito (“gêmeos com ascendente em gêmeos”, justifica). E não nega um abraço! “Existem dois grandes momentos em que você abraça os alunos: quando eles chegam e quando eles saem [da Universidade]. Porque eles saem deixando pedaços.” Ela, esperta que só, escolheu abraçá-los durante o percurso inteiro. E mais importante que isso, deixou-se abraçar por eles, fisicamente mesmo. Porque é uma troca, um diálogo.
É com esse abraço sensível, tão grande que cabe sei lá o que, que ela consegue criticar com ternura. Quem entende que por trás de cada resultado final de um trabalho tem sempre um aluno se esforçando num processo que não pode ser ignorado na hora da avaliação, merece o céu. “A gente tem que ter um olhar sensível com o outro porque no final das contas isso nos atinge e atinge a Universidade. Não adianta a gente se fechar no tecnicismo, no cientificismo, e fingir que não é com a gente”, deixa o sermão.
Zen? Nunca! Revela a professora que diante do repórter escancara sorrisos. “Sou muito ativa para me considerar zen.” Em troca, define-se como uma pessoa sensível ao outro, por isso é compreensiva, até porque... “Eu confio muito na competência dos meus alunos, sou parceira.” Na sala da Coordenação do Curso, Camila contou entusiasmada sobre os motivos que a faz, por exemplo, “stalkear” os alunos nas redes sociais: não apenas para satisfazer a curiosidade natural, fruto da relação de proximidade que cultiva com eles, mas também porque traz consigo a necessidade do cuidado no que diz respeito às suas vidas acadêmicas. Tem aluno que fica fazendo trabalho às duas da madrugada e postando no Ig. Ela vai lá e briga. Mas atenção. É preciso cautela para alcançar suas entrelinhas. Se olhar de pertinho, há quem perceba que Camila é assim, meio arte. Abstrata. Observá-la não é como observar uma obra de arte, que é finita em si mesma. Observá-la é enxergar a complexidade de uma artista, que se contradiz, que volta atrás para seguir adiante. Não nos enganemos: ela não está pronta. Talvez nunca estará. Enquanto estiver viva, há transformação. Aliás, toda boa professora tem um pouco desse abstracionismo lírico em si, que abandona as fórmulas-tradição para encontrar uma sintonia particular com cada pessoa que tem a sorte de ser aluna. Principalmente se for na Universidade Federal do Ceará. “A UFC é amor. A gente pode ter problema orçamentário, mas a gente veste a camisa e vai atrás”, conta, quase como quem dá um abraço apertado como despedida.
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PESQUISA PANORAMA
PESQUISA REALIZADA NO CENTRO DE TECNOLOGIA TEM QUALIDADE RECONHECIDA INTERNACIONALMENTE
O próximo passo é conseguir elevar todos os cursos de pós-graduação que tenham doutorado para o nível 5 e consolidá-los. A ideia é abrir novos cursos de doutorado nos programas desassistidos, como no caso da Engenharia Mecânica, se for do interesse do curso, para então galgar notas 6 e 7. Mas essa não é uma tarefa fácil.
O objetivo é que a política de excelência alcance todos os programas de pós-graduação da Unidade Acadêmica
FOTO/ LUCAS CASEMIRO
“É uma pirâmide. Você só consegue subir se derrubar alguém. Se você está em nível 4 e quer subir para o 5, você não tem que ser melhor que o último 5, você tem que ser quase igual ao primeiro 5. Porque no próximo quadriênio, todo mundo está querendo subir de nível”, avalia o professor Luiz Henrique Silva Colado Barreto, Diretor-Adjunto de Pesquisa do CT.
Laboratório de Bioengenharia - Sistemas Microbianos/ Centro de Tenologia.
C
om um dos melhores centros de Programas de Pós-Graduação (PPGs) em Engenharia Civil, Química e de Teleinformática do Brasil, nos últimos anos, quase todos os grupos de pesquisa do Centro de Tecnologia (CT) vêm conquistando ótimo desempenho nas Avaliações Quadrienais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entidade responsável pela tarefa no País. Os resultados mostram que o CT possui programas com desempenho equivalente a de grandes centros internacionais de excelência em sua área.
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É o caso do PPG em Engenharia Civil (Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental), coordenado pelo professor Marco Aurélio Holanda de Castro. No decorrer de uma década, o Programa saltou da nota 5 para a 7 na avaliação da Capes, o que o coloca em par de equidade com outros centros de pesquisa do mundo. No mesmo período histórico, compreendido entre 2007 e 2016, os cursos de Engenharia de Teleinformática e Engenharia Química saíram da nota 5 em direção à nota 6. (ver gráfico na página ao lado).
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O trabalho da Diretoria Adjunta de Pesquisa (DAP) junto aos coordenadores de pós-graduação, principalmente dos programas de nota 4, é tentar convencer os professores da importância da elevação da nota do curso, uma vez que quanto maior ela for, mais oportunidades surgem. “É um processo de convencimento. Mas já está mudando muito, hoje os professores já estão sabendo o que fazer, estão correndo atrás, não tem mais ninguém parado”, comenta Luiz Henrique. “Temos aqui uma massa crítica fantástica. E a ideia de nós conseguirmos ampliar essa massa crítica é crucial. Crescer os outros cursos – é nisso que nós trabalhamos mais dentro da Diretoria”, finaliza.
Reconhecimento A excelência na pesquisa do Centro de Tecnologia vem oportunizando avanços para os Programas de Pós-Graduação vinculados à Unidade Acadêmica, o que se manifesta, por exemplo, no fato de quatro dos 16 projetos de pesquisa que foram contemplados com o edital do Programa Institucional de Internacionalização (Print) serem coordenados por professores do CT. A Capes selecionou, em agosto passado, 25 de 100 Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil e investirá, durante quatro anos, o montante anual de R$ 300 milhões no Programa, que incentiva a mobilidade internacional de alunos e docentes. O projeto “Desafios da Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos contra as Alterações Climáticas” foi um dos contemplados pelo Print. Coordenada pelo professor Ronaldo Stefanutti, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (DEHA), o objetivo da pesquisa é propor melhorias no processo completo de tratamento de resíduos sólidos com uma operação de biodigestão custo-eficiente, e tratar os subprodutos líquidos resultantes aplicando-os à compostagem e purificação do biogás de forma integrada, em escala real.
“A gente aqui dentro do Centro de Tecnologia tem um desenvolvimento fantástico em energias renováveis, em análises hídricas… Temos uns dos maiores centros brasileiros de estudo hídrico. Somos referência nacional e internacional em cima dessa área”, aponta o Diretor-Adjunto de Pesquisa do CT. Segundo ele, o Centro de Tecnologia é a Unidade Acadêmica que mais arrecada em projetos de pesquisa dentro da Universidade Federal do Ceará. Ali, o interesse pela pesquisa começa cada vez mais cedo. “Temos uma grande quantidade de alunos do terceiro, do quarto semestre, que já entram com currículo tentando pleitear uma bolsa de pesquisa, o que não era comum em anos anteriores, há uns cinco anos”, relata Luiz Henrique. Para ele, esse fenômeno não é impulsionado pelo desaquecimento do mercado. Embora seja comum que alunos dos semestres finais se pre-
parem para programas de mestrado em momentos de crises – o que justifica o aumento pela procura de cursos de pós-graduação no CT nos últimos anos, num boom que dobrou a concorrência – alunos dos semestres iniciais não têm essa preocupação tão fortemente. “A mentalidade está mudando”, diz. Isso pode ter relação com o incentivo à parceria entre a pós-graduação e a graduação na Unidade Acadêmica, ideia que já nasceu junto à Diretoria Adjunta de Pesquisa. Mas essa associação de alunos, antes só uma ideia, de modo geral já ocorre de forma plena no CT – quase todos os projetos do Centro contam com a participação de alunos de graduação e pós-graduação. Além disso, uma grande quantidade de alunos do Centro são bolsistas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic).
“O próximo passo é conseguir elevar todos os cursos de pós-graduação que tenham doutorado para o nível 5 e consolidá-los. ” CT NEWS NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018
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PESQUISA
Administração de Excelência Pautadas na descentralização e horizontalidade, a ideia de estruturar o Centro de Tecnologia em diretorias-adjuntas foi posta em prática em 2015, no início da gestão do professor Carlos Almir de Holanda, com o objetivo de desafogar as demandas da Diretoria e Vice-Diretoria da Unidade Acadêmica. Ali, Pesquisa, Ensino, Extensão e Relações Interinstitucionais são nichos administrados por diretorias-adjuntas, de nome homônimo à sua área.
produtividade científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), buscando auxiliar o maior número possível de professores. Durante o ano, foram analisadas as propostas de várias áreas distintas dos docentes que procuraram a Diretoria Adjunta de Pesquisa. Ela também auxiliou coordenadores de pós-graduação, principalmente novatos. Paralelamente a isso, a DAP fomenta a busca de empresas para trabalharem em conjunto com projetos de pesquisa realizados no Centro. Não raro, empresas são convidadas para realizar eventos, palestras e dialogar com grupos específicos de interesse comum à sua área de atuação que atuam no CT.
FOTO/ LUCAS CASEMIRO
Hoje, se as produções científicas do Centro de Tecnologia são reconhecidas, é graças ao trabalho da Diretoria Adjunta de Pesquisa (DAP) do CT. Ela acompanha todos os projetos que dizem respeito à Pesquisa e aos PPGs, tendo autonomia para tomar decisões. É também função dela orientar programas de pós-graduação quando precisam de ajuda, prestando auxílio a professores que querem solicitar bolsas de produtividade ou elaborar projetos, por exemplo. No ano de 2018, a DAP teve um trabalho intensivo focado nas bolsas de
ENTENDA A AVALIAÇÃO
Vista interna do Núcelo de Pesquisas em Lubrificantes (NPL)/ Centro de Tecnologia.
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Os cursos de pós-graduação são avaliados quadrienalmente pela Diretoria de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A avaliação é atividade essencial para assegurar e manter a qualidade dos cursos de mestrado e doutorado no País. Os programas avaliados recebem uma nota final na escala de 1 a 7, baseada em conceitos (Muito Bom, Bom, Regular, Fraco e Insuficiente) atribuídos a cada item de uma ficha de avaliação, que considera tudo que envolve o dia a dia do programa avaliado, como a proposta do programa, o corpo discente e produção intelectual, a quantidade de artigos publicados no período, entre outros. Enquanto as notas de 1 a 5 consideram a adequação do programa a um conjunto de critérios, as notas 6 e 7 consideram o “merecimento” dos cursos, envolvendo reconhecimento local, nacional e internacional. Os requisitos básicos para que um programa atinja as notas 6 e 7 são a existência de cursos de doutorado, ter recebido nota 5 na atribuição da CAPES e ter atingido conceitos “Muito Bom” em todos os quesitos da ficha de avaliação.
INSTITUIÇÕES QUE TRABALHAM COM PREVENÇÃO AO SUICÍDIO E ATENDIMENTO ÀS FAMÍLIAS 1 – CCV – FORTALEZA Rua Ministro Joaquim Bastos 806 – Bairro de Fátima Telefones – 141 / 3257.1084
3 - INSTITUTO BIA DOTE Av. Barão de Studart. 2360 sala 1106 – Aldeota Fones – 3264.2992
2 – PROGRAMA DE APOIO À VIDA – (PRAVIDA) Rua Capitão Francisco Pedro 1290 – Rodolfo Teófilo Telefones – 3366.8149
4 – HOSPITAL NOSSO LAR Av. Carapinima 2350 – Benfica Fones – 3206.3550 / 3206.3599
REDE ASSISTENCIAL DE SAÚDE MENTAL DE FORTALEZA CAPS AD SER I – Rua Hildebrando de Melo, 1110 –Barra do Ceará Fones – 3101.2592/2593
CAPS SER III ESTUDANTE NOGUEIRA JUCÁ Rua Delmiro de Farias 1346 – Rodolfo Teófilo Fone – 3105.3721
CAPS GERAL I – Rua Alves de Lima, 1120 – Colônia Fone – 3105.1119
CAPS AD SER IV Rua Betel, s.n - Itaperi Fone – 3105.2006
SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO SER I Av. Dr Temberge, 1970 – Álvaro Weyne Fone – 3101.2590 OCA DE SAÚDE COMUNITÁRIA SER I Rua Profeta Isaias, 456 – Pirambu Fone – 3286.6041
CAPS GERAL SER IV Av. Borges de Melo, 201 – Jardim América Fones – 3131.1690 / 3494.2765 CAPS SER IV MARIA ILEUDA VERÇOSA Rua Tertuliano Sales, 400 – Vila União Fone – 3105.1510
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CAPS AD SER II Rua Manoel Firmino Sampaio, 311 – Cocó Fone – 3105.1625
- CAPS GERAL SER II Rua Coronel Alves Teixeira, 1500 – Dionísio Torres Fone – 3105.2632
UNIDADE DE SAÚDE ANA CARNEIRO SER II Rua Padre Antonio Tomaz, 2056 – 1º andar – Aldeota Fones – 3264.4722 / 3261.1265 CAPS AD SER III Rua Frei Marcelino, 1191 – Rodolfo Teófilo Fones – 3105.3420 CAPS GERAL SER III Rua Francisco Pedro, 1269- Rodolfo Teófilo Fones – 3433.2568 / 3105.3451
CAPS AD SER V Rua Antônio Nery, sem número (em frente ao 1058) – Granja Portugal Fone – 3105.1023 CAPS GERAL SER V BOM JARDIM Rua Bom Jesus, 940 – Bom Jardim Fones - 3245.7956 / 3105.2030 CAPS AD SER VI – CASA DA LIBERDADE Rua Ministro Abnes de Vasconcelos, 1500 - Seis Bocas Fones – 3105.2966 / 3278.7008 CAPS GERAL SER VI Rua Paulo Setúbal, 297 - Messejana Fones – 3488.3312/3316
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PÁGINAS AZUIS
RESGATAR RELAÇÕES PARA MELHORAR O COTIDIANO DO CENTRO DE TECNOLOGIA Programa Amigos do CT propõe mudança na forma como egressos se relacionam com a Universidade
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ncentivar relações de ex-alunos com o Centro de Tecnologia, criando uma rede de apoio pautada na gratidão de quem recebeu formação pública, gratuita e de qualidade. Esse é o objetivo do projeto Amigos do CT, posto em prática no início de 2017 e impulsionado por uma conversa informal de amigos de longa data, todos egressos da Unidade Acadêmica ou de sua antecessora, a Escola de Engenharia da Universidade do Ceará (EEUC). Uma dessas pessoas é o professor Antônio Nunes de Miranda, ex-diretor do Centro de Tecnologia. Para ele, o distanciamento dos alunos é algo “muito forte” nas universidades brasileiras. O professor acredita que, diferentemente de sua época e da atual cultura de outros países, não há por aqui uma identificação muito forte de ex-alunos com as universidades com que se formam, chegando a existir mesmo um não-reconhecimento do CT como lugar de formação por parte de alguns egressos. Mudar essa cultura é o desafio. “No primeiro ano, [o estudante] entrava e saia [da Universidade] com a mesma turma. Fazíamos muitas viagens, criávamos um vínculo”, relata o engenheiro civil que ainda hoje se reúne mensalmente com sua turma de 1996, ano da formatura. “Provavelmente por ser uma coisa nova em Fortaleza e por ter poucos ex-alunos, havia quase uma confraria dos ex-alunos da Escola de Engenharia”, completa. Durante sua gestão como Diretor do Centro de Tecnologia, Miranda esforçou-se para centralizar no CT as disciplinas que eram ministradas em outras unidades acadêmicas, implementando ainda o sistema anual de ensino nos três primeiros semestres da graduação, de forma a estimular as relações entre os estudantes.
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Ainda em fase de estruturação, o programa Amigos do CT tem como objetivo primeiro criar uma rede de conexão entre atuais alunos e egressos do Centro, de forma a evitar, para os últimos, o isolamento pós-formatura com a Unidade Acadêmica e oferecer aos primeiros um preparo mais sólido a partir do aprendizado com os que já passaram pela graduação. O grupo de amigos aposta na reaproximação do cotidiano do Centro os professores aposentados, muitos deles ex-alunos. Mas mudar um comportamento que se perpetua há anos não é tarefa fácil. São tentativas de mais de uma década que desafiam gestores do CT a lidar com a nova realidade cultural na qual a juventude brasileira está estruturada, tendo as novas tecnologias um papel fundamental na mediação de relações entre as pessoas, aspecto que não pode ser ignorado na elaboração de políticas de reaproximação do Centro com seus egressos. Desafio ainda maior se contarmos com a pluralidade de egressos do CT, cuja coexistência de gerações com valores e comportamentos distintos pode se tornar um problema. Em entrevista por telefone à CT News, o ex-Reitor da Universidade Federal do Ceará e membro recente do Amigos do CT, professor Jesualdo Farias, faz reflexões sobre essa e outras questões relacionadas ao Programa. Após uma longa trajetória de contribuições na educação superior do Brasil, ele retorna à docência no CT (com recepção calorosa, segundo conta) mantendo intocável o desejo de melhorar o Centro de Tecnologia. Reflexões sobre um programa ambicioso, que pretende se estender para a todos os cursos de engenharia da Universidade num futuro cada vez mais incerto.
FOTO/ ARQUIVO PESSOAL
Um outro objetivo do Programa Amigos do CT é criar uma cultura de gratidão para com a Universidade a partir de contribuições simbólicas. A ideia é incentivar pequenas doações mensais por parte de ex-alunos, engenheiros e empresas onde atuam. As colaborações podem ser feitas pelo site do projeto Fundo de Apoio ao Centro de Tecnologia (www.apoioct.ufc.br), administrado pela Fundação de apoio à Pesquisas no Ceará e Nordeste – Fundação Astef, organização mantenedora do projeto Amigos do CT, de acordo com o professor Miranda. O valor mensal é de R$ 10,00 por ex-aluno e 100,00 por empresas, totalizando R$ 120,00 e 1.200,00 anuais, respectivamente.
Professor Miranda reunido com sua turma de Engenharia Civil de 1969 (T-69) em visita a uma obra.
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Jesualdo Pereira Farias é professor titular da Universidade Federal do Ceará. Foi Reitor da Universidade de abril de 2008 a abril de 2015, foi convidado pelo governo da Ex-Presidenta Dilma Rousseff a assumir a Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação. Permaneceu no cargo até maio de 2016. Vinculado ao Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFC, Jesualdo Farias criou o Laboratório de Engenharia e Soldagem da Universidade, além de ser um dos fundadores de cursos de graduação e pós-graduação do Departamento. Sua relação com o Centro de Tecnologia tem início em 1985, quando era servidor do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec). Ingressou na Unidade Acadêmica como docente no ano de 1987. Durante seu percurso, teve ampla atuação na gestão universitária. Na UFC, desempenhou também as funções de chefe de departamento, coordenador de curso de pós-graduação, vice-diretor de centro, diretor de centro e vice-reitor. Seu último cargo público antes de voltar à atividade docente no Centro de Tecnologia foi como Secretário de Cidades do Estado do Ceará.
CT News – O que o senhor espera das ações do Programa Amigos do CT no próximo ano, diante desse novo cenário político que se desenha e que atinge a Universidade? Jesualdo Farias – Primeiro, é importante que possamos avaliar o contexto atual, que é de enfrentamento do orçamento da Universidade, e do sistema de Ciência e Tecnologia como um todo do País, já que na aprovação da Lei Orçamentária Anual [LOA] de 2019 não há previsão de aumento de recurso para investimento nem na Educação nem na Ciência e Tecnologia, então é importante que as universidades se preparem para [atuar em] duas frentes. A primeira delas é continuar lutando pela manutenção
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do financiamento e, mais do que isso, pelo aumento dos recursos para o sistema. E a outra, que é natural, que precisa ser feita, fortalecida, é a captação de recursos extra orçamentais. No caso do Amigos do CT, nós temos aí uma boa oportunidade de fortalecermos as relações com os nossos ex-alunos, porque nós sabemos que tem ex-alunos bem-sucedidos, tanto no campo público quanto no campo privado, portanto, acho importante que eles possam contribuir com as ações do Amigos do CT, além da contribuição com as suas presenças e as suas sugestões para que o Centro de Tecnologia continue nessa marcha de melhoria da qualidade em tudo aquilo que faz – o que vem sendo observado nos últimos anos – e contribuam tam-
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bém com recursos financeiros para poder ajudar o centro de tecnologia no desempenho de suas atividades no quotidiano. Podemos ainda destacar que além da contribuição, é importante também a manutenção dos
“No caso do Amigos do CT, nós temos aí uma boa oportunidade de fortalecermos as relações com os nossos ex-alunos”
laços entre os ex-alunos e a Universidade, e o Centro de Tecnologia. Isso é importante porque ajuda a acompanhar o egresso; é importante porque nós vemos a contribuição de estar dialogando com profissionais que estão no mercado em diferentes setores da economia, alguns até no exterior, e dessa forma podermos, dentro do processo de contínua atualização do nosso processo de ensino e aprendizagem, poder colher contribuições importantes para que os cursos de engenharia da Universidade Federal do Ceará continue sendo referência em todo o País.
-alunos e através de diversas ações, que até podem ser sugeridas por eles mesmos, manter um calendário anual de encontro das diferentes gerações dos nossos ex-alunos para poder consolidar esse projeto que considero extremamente importante, sobretudo no momento atual onde as universidades precisam do apoio da sociedade para que possam fortalecer suas ações na defesa daquilo que para nós é fundamental, que é a continuidade da universidade pública, gratuita, de qualidade, sobretudo com autonomia, que é uma prerrogativa garantida pela Constituição Federal.
CT News – Em termos mais práticos, o senhor tem sugestões de como aproximar esses ex-alunos da Universidade?
CT News – De acordo com a sua experiência, o senhor percebe que esse distanciamento dos ex-alunos com suas unidades acadêmicas, com as universidades nas quais eles se formam, é específico da UFC ou é algo mais geral? 8:34
Jesualdo Farias – A primeira coisa que precisa ser feita é o contato. Ao encontrar estudantes da Engenharia, eu pergunto, imediatamente, quanto tempo faz que eles tiveram contato com a Universidade. E para a minha surpresa, a grande maioria, eu diria mais de 80% das pessoas que eu tenho tido contato, a última vez que estiveram na Universidade foi quando ainda eram estudantes da graduação. E quanto aos outros 20% que têm contato com a Universidade, aproximadamente, ou estão ou estiveram recentemente em algum curso da pós-graduação ou participam de alguns programas que estão em desenvolvimento no âmbito da pesquisa e da prestação de serviços no Centro de Tecnologia. A grande maioria através da nossa Fundação Astef. Então é preciso um esforço muito grande de nós que estamos à frente desse importante projeto, que é o Amigos do CT, estreitar essa relação, intensificar esses contatos, para que possamos aí ter o cadastramento dos nossos ex-
Jesualdo Farias – Isso é uma questão cultural do Brasil. Se nós analisarmos, por exemplo, o processo nos Estados Unidos, onde a maioria das universidades inclusive não são gratuitas, os estudantes pagam caro em muitas delas para fazer seus estudos de graduação. Mesmo nessas condições, o estudante, ao sair da universidade, mantém a relação estreita e aqueles que têm sucesso na sua vida profissional contribuem com uma quantia razoável de recursos anualmente para as universidades em que ele estudou, em reconhecimento à importância dela na sua formação e também no seu sucesso profissional. Então é cultural. Nós precisamos debater com nossos ex-alunos, porque afinal de contas nós estamos falando de uma Universidade pública, onde todos os nossos egressos estudaram gratuitamente. Nós estamos falando
“As universidades precisam do apoio da sociedade para que possam fortalecer suas ações na defesa daquilo que para nós é fundamental, que é a continuidade da universidade pública, gratuita, de qualidade” de uma Universidade de qualidade, onde nossos egressos ostentam um diploma reconhecido no País e no exterior como sendo de qualidade e, portanto, esse egresso precisa compreender que o seu sucesso profissional, que a sua formação, se deve em muito ao que ele absorveu no período em que frequentou a nossa instituição. Eu tenho a expectativa de que a grande maioria dos nossos egressos darão apoio ao projeto, vão compreender a importância dele. Nós entendemos também que o momento não é muito bom para que os profissionais consigam financiar projetos que não estão na sua carteira de planejamento, porque nós estamos propondo uma coisa nova, e para isso a gente [precisa enfrentar] uma crise econômica que vem se agravando desde 2014. Então isso atinge os nossos ex-alunos que são empresários, que são profissionais liberais e que naturalmente sofrem com essa crise e certamente não poderão contribuir
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financeiramente com aquilo que seria desejado, mas acredito que contribuirão com aquilo que é possível. CT News – O senhor também defendeu que é preciso criar um debate sobre essa temática para que os egressos possam voltar à Universidade, numa interação maior dos alunos, mesmo após formados. Esse esforço já havia sido iniciado durante a sua gestão enquanto diretor do Centro de Tecnologia ou é um fenômeno recente? Jesualdo Farias – No início da minha gestão como diretor, nós criamos uma ponte que tinha como objetivo fazer a ligação do Centro de Tecnologia com
nossos ex-alunos: quando nós estabelecemos que anualmente iríamos comemorar o Dia do Engenheiro, que nós comemorávamos junto ao Dia do Arquiteto e Urbanista, precisamente no dia 11 de dezembro, e naquele momento nós estaríamos convidando os nossos ex-alunos para voltar ao CT para que pudéssemos, num momento de festa, estabelecer relações e a partir daí manter a continuidade dessas relações no sentido de que pudéssemos estabelecer uma forma de cooperação que terminou por se consolidar nesse projeto que nós estamos trabalhando, que é a busca dos ex-alunos para conseguir uma forma continuada de reencontros, de diálogo com esse pessoal.
CT News – Esse legado permanece até hoje. Neste mês foi comemorado o Dia do Engenheiro no Centro de Tecnologia, que tem colhido boas relações com egressos. Mas isso não parece ser insuficiente, professor? Jesualdo Farias – Sem dúvida. Isso foi uma decisão para se chegar a um momento de encontro. Até você conseguir identificar onde estão nossos ex-alunos não é uma tarefa fácil. Isso até veio melhorando ultimamente com a proliferação das redes sociais, fica mais fácil você se comunicar com as pessoas, mas nós estamos falando aí de algo que começou há quase 15 anos... Há 15 anos nós não tínhamos a facilidade que nós temos hoje. Então a ideia era estabelecer o dia do encontro, e nós estabelecemos internamente que o dia 11 de dezembro, além da comemoração ao Dia do Engenheiro e do Arquiteto e Urbanista, seria também denominado por nós o Dia do Ex-Aluno. E o Dia do Ex-Aluno tem exatamente esse simbolismo, trazer o ex-aluno para que reencontre seus professores, facilitar o encontro com seus colegas, para que ele reencontre o seu farol de partida, que foi o Centro de Tecnologia, que foi a estação de onde ele partiu para o mundo do trabalho. Isso para nós foi fundamental. Agora o desmembramento disso [do Programa Amigos do CT] numa associação ou numa fundação [...], isso nós ainda temos que cons-
“Esse egresso precisa compreender que o seu sucesso profissional, que a sua formação, se deve em muito ao que ele absorveu no período em que frequentou a nossa instituição.” 38
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truir. Mas para construir é preciso que nós tenhamos um espaço onde possamos encontrar diferentes gerações de egressos da Universidade para ouvir todos eles e poder construir um projeto coletivo, duradouro, para que o Centro de Tecnologia possa ter um diferencial tanto na questão do financiamento, como falei, das atividades do quotidiano, como também uma construção continuada de uma relação promissora também no campo acadêmico com nossos ex-alunos. Isso vai nos ajudar inclusive no desenho do futuro. Via de regra, o que nós temos visto no nosso Auditório [Cândido Pamplona] são os engenheiros mais antigos. Quando vem um ou dois engenheiros jovens é porque é filho de outro engenheiro mais antigo, que foi ex-aluno também e vem acompanhando o pai. precisamos construir. Eu acho que esse projeto precisa ser construído considerando essa diversidade, considerando as diferentes gerações que nós formamos, e com olhar muito especial para essa nova geração que está saindo há cinco, seis anos da Universidade.
CT News – Num mundo tão integrado, com tanto acesso a meios de comunicação, como nunca tivemos antes na História, a gente percebe que os ex-alunos são distantes não apenas da Universidade, mas também de seus próprios pares. Outros ex-alunos se reúnem com seus colegas de turma em jantares com certa periodicidade e a gente não observa isso nas gerações mais atuais. Na sua visão, como essa cultura de aproximação entre os alunos pode ajudar a melhorar a Universidade? Jesualdo Farias – A primeira coisa que nós precisamos fazer é compreender as novas relações existentes nesse mundo moderno. O que ocorre
é que muitas vezes a Universidade é gigante, para dar um passo é uma complexidade enorme. Uma universidade, para avançar alguns milímetros, precisa de muita energia, de muito esforço, de muito debate, e as questões que estão envolvidas nisso na maioria das vezes são muito complexas. Então eu sinceramente acho que o problema maior está na universidade, e não nos estudantes. Porque os estudantes entram nas universidades com uma expectativa muito diferente, inclusive uma expectativa que nós mesmos, que estamos na universidade, ainda não compreendemos, ainda não sabemos qual é. Precisamos primeiro ter humildade e tentar compreender esse novo espaço onde esses estudantes estão, que não é um espaço sólido, palpável, é um espaço difícil de ser definido. Então, antigamente, na minha geração, o nosso espaço era bem delimitado, nós tínhamos os
“A primeira coisa que nós precisamos fazer é compreender as novas relações existentes nesse mundo moderno.” nossos encontros, nós íamos para os mesmos bares, mesmos pubs, nas mesmas praias, enfim, nós tínhamos um coletivo que caminhava junto. Hoje o estudante entra na universidade já com uma estrutura social totalmente diferente da que nós entramos. Eu ainda não tenho elementos para isso, porque eu voltei para sala de aula há seis meses, então eu ainda estou construindo esse entendimento, mas eu até acredito que não exis-
te sequer a compreensão de turma hoje. “A minha turma de engenharia”. Não há essa compreensão. A aglutinação social é feita com base em novos valores. Então nós precisamos compreender esse novo espaço que esses estudantes estão frequentando, e repito, não é palpável, não tem endereço físico, não é uma rua, não é uma esquina, é um espaço imaginário que eles frequentam, e que nós muitas vezes não estamos. A Universidade precisa avançar rapidamente, respeitando todo o processo de debate necessário, porque a cabeça do jovem é outra totalmente diferente. Eu até acho que a importância que o jovem de hoje dá à universidade, não via de regra, não é a mesma que nós dávamos. Talvez a universidade não seja para ele o ambiente mais importante nesse período de quatro, cinco anos em que ele está fazendo esse curso de nível superior. Para a nossa geração, a universidade era o nosso templo sagrado. Então nós precisamos, por isso mesmo, conversar com os jovens ex-alunos que estão
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PÁGINAS AZUIS
saindo dessa dimensão universitária para compreender de que forma nós podemos construir uma relação com eles completamente diferente das gerações mais antigas, que são turmas que se reúnem com frequência, e isso tem uma metodologia definida que vem de décadas. Tem gente que se reúne há 30 anos. Então essa nova geração sai da universidade e talvez não tenha formado um par. Não tenha formado um trio. A Universidade, sobretudo nós, professores, precisamos entender que as relações que nós precisamos estabelecer com nossos alunos e com essa geração mais recente tem que se basear em outras premissas. Quem sabe aí num ambiente virtual, num aplicativo, em algo que possa ser feito para gente conquistar esse estudante para que seja atrativo para ele frequentar esse espaço. CT News – Durante essa comemoração do Dia do Engenheiro e do Ex-Aluno no Centro de Tecnologia foi lançado o Portal Alumni CT... Jesualdo Farias – Veja bem. Lançar o Portal é fundamental, é importante. O passo seguinte, e é o que eu acho que é mais complexo, é sensibilizar o ex-aluno, é chegar a mensagem nele,
“O patrimônio de uma universidade é o que ela construiu ao longo de sua história. E grande parte dessa construção se revela nos seus egressos.”
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da importância dele acessar esse portal e aí constituir o seu espaço e começar a frequentar dentro de uma lógica construtiva. Não é uma tarefa fácil. Se nós estamos aí há 15 anos, praticamente, trabalhando nessa perspectiva e ainda não encontramos um denominador comum, não foi por falta de esforço do Diretor nem das pessoas envolvidas. Nós temos dois aspectos a considerar hoje. O conceito de tempo e o conceito de espaço. Hoje, apesar de todas as facilidades que nós temos para viabilizar muita coisa do nosso cotidiano, é muito comum todo mundo se desculpar dizendo que não tem tempo, o que inviabiliza muitas vezes as pessoas irem a um encontro presencial. Então há uma expectativa muito grande das pessoas de suprir espaços virtuais, porque a qualquer momento do seu dia a dia elas podem frequentar, podem contribuir, podem participar. Talvez aí seja uma saída, o que já, de uma certa forma, excluiria uma certa quantidade de profissionais mais velhos, que já se formaram há 20, 30 anos, e não teriam o menor interesse, ou sequer teriam condições de acessar esse espaço, ou por não concordar com ele, ou às vezes até por não ter habilidade de manusear essas ferramentas disponíveis. E a melhor maneira de se construir isso é através do diálogo. É juntando todas as gerações e construindo esse espaço de encontro. CT News – Para finalizar, o senhor teria alguma consideração a deixar, que julgue importante? Jesualdo Farias – É importante destacar que uma universidade é valorada pelo seu patrimônio. O seu patrimônio não é o patrimônio físico. Não são os laboratórios, não são os prédios, não são os terrenos que ela tem. O patrimônio de uma universidade é o que ela construiu ao longo
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de sua história. E grande parte dessa construção se revela nos seus egressos. E esse patrimônio, pertencente à nossa Universidade, deve ser respeitado, mas mais que isso: ele deve ser reconhecido como patrimônio. Se ele não se reconhecer como patrimônio, ele não vai voltar à instituição. Então a Universidade Federal do Ceará é uma universidade de ponta. É, sem questionamento, uma das melhores do Brasil, ela está presente em todos os rankings internacionais. Normalmente estão aí não mais que 20, entre 18 e 20 universidade brasileiras, e a UFC está entre elas. Estamos entre as mil melhores universidades do mundo. Isso não é pouca coisa. Então o egresso precisa se orgulhar disso. O egresso tem que ter essas informações cotidianamente, para que ele possa ter orgulho do seu berço acadêmico. Então isso é o que nós precisamos deixar claro a ele para que esse projeto de trazer o egresso, construir um eixo para ajudar o Centro de Tecnologia, seja promissor.
FALA, ALUNO MARCO HISTÓRICO
Os estudantes de Engenharia Química Lívia Torquato, Victor Vasconcelos e Ana Galdino atuam na gestão responsável pelo reconhecimento do Capítulo.
UFC TEM PRIMEIRO CAPÍTULO ESTUDANTIL DO PAÍS NA ÁREA DE ENGENHARIA QUÍMICA A SER RECONHECIDO NTERNACIONALMENTE Capítulo integra grupo seleto que recebeu o Outstanding Student Chapter Awards
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o lado de instituições como Universidade Nacional da Colômbia, Universidade da Flórida e Instituto de Tecnologia da Geórgia, o capítulo estudantil do American Institute of Chemical Engineers na Universidade Federal do Ceará (AIChE UFC) foi um dos 27 entre os 200 outros grupos associados ao AIChE Global a serem agraciados em 2018 com o Outstanding Student Chapter Award (Prêmio Capítulo Estudantil Excepcional, em tradução livre). Desde que a premiação foi criada, em 2011, essa é a primeira vez em que um capítulo brasileiro é agraciado com a honraria que reconhece a excelência e relevância do trabalho dos capítulos associados.
Somando mais de cinco mil membros ao redor do mundo, O AIChE Global, sigla em inglês para Instituto Americano de Engenheiros Químicos, nasceu em 1908 e tem como principal missão a promoção da excelência no ensino e prática global da Engenharia Química. Na UFC, As ações desenvolvidas pelo capítulo estudantil são guiadas por projetos realizados junto à indústria e sociedade. O prêmio em questão é concedido aos capítulos que apresentam excepcional nível de participação, entusiasmo, qualidade, profissionalismo e envolvimento com a universidade e a comunidade em que se relacionam. Os organizadores do prêmio consideram dignos da honraria os capítu-
losque obtiveram, no ano acadêmico, uma excelente participação de alunos e professores membros, uma quantidade satisfatória de reuniões e eventos, participação em programas locais, regionais e globais do AIChE e variedade nas ações promovidas pelo, como orientação profissional, alcance comunitário, eventos sociais e esportivos, entre outros. No âmbito social, o AIChE UFC participou de eventos promovidos pelo Centro de Tecnologia, como a Semana de Engenharia Química (SEQ), O CT Quer Você, Dia Internacional das Mulheres na Engenharia (DIME), entre outros. Os estudantes também conseguiram arrecadar alimentos
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que foram doados à Associação Peter Pan. Nas redes sociais, estimularam o debate acerca de temas como consciência negra e outubro rosa, entre outros. A cerimônia de entrega da placa alusiva ao Prêmio Capítulo Estudantil Excepcional aconteceu na Conferência Anual de Estudantes do AIChE (foto na página ao lado). Na ocasião, presidente e tutor receberam um certificado que ratifica o excelente trabalho de todos que compõem o grupo. “A gente queria mostrar que os capítulos do Brasil são fortes. Queríamos mostrar que o AIChE Global reconhece a gente como um capítulo de destaque”, comenta Victor Vasconcelos, estudante do sétimo semestre da graduação e Presidente da AIChE UFC.
Uma iniciativa estudantil O AIChE UFC tem como missão fortalecer o elo entre a indústria local e a Universidade através da promoção de eventos e atividades extracurriculares que incentivem e desafiem os alunos de Engenharia Química com temas e problemas reais da área. Neste âmbito, o capítulo estudantil na UFC promove treinamentos, difusão de informações e contato com o meio profissional para os alunos de Engenharia e do Centro de Tecnologia. O projeto conta atualmente com 14 membros e tem como um dos principais objetivos conseguir parcerias com empresas e o reconhecimento por parte dos professores e da Universidade. Os estudantes querem garantir, por exemplo, uma sala própria para o projeto. “O AIChE só acontece pelo interesse dos alunos. O máximo que a gente ganha é networking. A gente trabalha pra fazer isso acontecer na Universidade”, defende Lívia Torquato, estudante do quinto semestre de Engenharia Química e Tesoureira do Capítulo. “De certa forma a gente tá internacionalizando a Universidade”, complementa, ao lembrar que o projeto atua em relação direta com outras universidades do mundo, nas chamadas Regional Liaisons.
“Esse é um projeto que faz a conexão da UFC com a comunidade internacional.”
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A colega de semestre Ana Galdino, Vice-Presidente do Capítulo, concorda. “Esse é um projeto que faz a conexão da UFC com a comunidade internacional. Então, quando eu fui escolher o nosso student chapter, eu pude ver a realidade lá fora, que é muito diferente, e você fica com muita vontade de ir para lá. E eu acho que isso me deu mais motivação”. O movimento liderado por alunos que tem por desafio superar a barreira entre as indústrias e Universi-
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dade nasceu na UFC em 2015, por iniciativa do então estudante de Engenharia Química Marcos Lailson, que durante seu intercâmbio nos Estados Unidos notou a forte presença de studentschapters, trazendo a ideia quando retornou à UFC. À época, o Brasil contava com apenas dois capítulos estudantis, em funcionamento nas cidades de Maringá e de Toledo, no Paraná. Uma vez criado, o objetivo do AIChE UFC era expandir a ideia pelo Brasil. Assim, os membros passaram a ministrar palestras em outras universidades país adentro, bem como em eventos, a exemplo do Congresso Nacional de Estudantes de Engenharia Química (CONEEQ). Mas o Capítulo só começou a engatar de verdade no ano acadêmico compreendido entre 2017 e 2018, a partir de uma parceria com a Federação Nacional de Estudantes de Engenharia Química (FENEEQ) e pela inserção em palestras locais. Hoje, os membros da AIChE UFC estimam que a partir dessa iniciativa, nasceram cerca de outros oito capítulos no País, existindo mais três em processo de abertura até o segundo semestre do ano passado. Motivo de orgulho para a Diretoria do Capítulo, percebido na fala empolgada de Victor Vasconcelos. “Em um ano, a gente conseguir o Outstanding foi um reconhecimento de que a minha liderança e o auxílio da galera que estava comigo deu certo”, diz, em tom de satisfação.
Acompanhe as ações da AIChE no Instagram! Siga @aiche.ufc ;)
Projetos desenvolvidos na UFC
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Colóquio EQ: Tem por objetivo trazer dois ou três convidados, a cada edição, para uma conversa íntima e aberta ao CT sobre temas variados de interesse dos estudantes, como mobilidade acadêmica, Aiesec, Vale do Silício, duplo diploma de graduação, relacionamento com a indústria, entre outros. Participantes levam dúvidas a serem respondidas pelos participantes.
Minicursos: Temas que abrangem o interesse do Centro de Tecnologia, como processo seletivo, são discutidos em atividades extracurriculares.
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Visitas Técnicas: Leva alunos do curso de Engenharia Químicapara conhecerem a indústria cearense, ao passo que traz profissionais atuantes no mercado para conversar de forma mais íntima com estudantes. O ingresso para participar das atividades são, em geral, alimentos não perecíveis, destinados à doação.
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AIChEStore: Projeto de arrecadação de fundos focado na venda de materiais de interesse dos estudantes do CT, como blusas de cursos. O dinheiro arrecadado é integralmente destinado ao financiamento das atividades do Capítulo, que até o momento não é assistido por nenhuma bolsa da Universidade.
Cenário EQ: É uma abordagem que busca trazer perspectivas do mercado de trabalho e da atuação do profissional de Engenharia Química através do compartilhamento de vivências. Na primeira fase do projeto, a AIChE mapeou as indústrias no estado do Ceará, divulgando semanalmente o histórico das empresas, as áreas de atuação dos engenheiros químicos e outras informações. A nova fase busca mostrar as pesquisas na área e entrevistas com estagiários.
FOTOS/ ARQUIVO AICHE
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Ao lado, professor Célio Cavalcante recebe a placa de Outstanding Student Chapter pela Presidente do AIChE, Dra. Christine Seymour, no Encontro Anual do AIChE, em Pittsburgh, EUA. Acima, foto da placa.
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CENTRO DE TECNOLOGIA REPRESENTA A AMÉRICA LATINA EM COMPETIÇÃO PARA PRODUÇÃO DE AÇO
FOTO/ ARQUIVO PESSOAL
Estudantes de graduação em Engenharia Metalúrgica arrecadam fundos para financiar participação na etapa mundial
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elo quarto ano consecutivo, a Universidade Federal do Ceará é destaque no continente latino-americano numa das principais competições do mundo na área de siderurgia: o Steel Challenge (13º Desafio do Aço), promovido pela Steel University, da Bélgica. O desafio de produzir o aço mais barato do mundo foi encarado por estudantes de Engenharia Metalúrgica, que conquistaram todas as colocações na etapa regional da competição, ocorrida em novembro de 2018. A competição é organizada pela Associação Mundial do Aço e tem como objetivo alcançar um processo siderúrgico mais sustentável na produção de aço, inspirando e motivando estudantes e funcionários da área siderúrgica. A disputa acontece
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por meio de simulações realizadas pelo site da Steel University, que, a cada edição, lança um desafio com um simulador diferente. Em 2018, entretanto, o nível de complexidade da competição aumentou, uma vez que dois simuladores de edições anteriores foram integrados. No desafio, os participantes têm 24 horas para simular a produção do aço com menor custo por tonelada, cumprindo os requisitos de composição química estabelecidos pelos organizadores. Com a inovação, eles tiveram ainda que analisar e tentar reproduzir composições químicas que convergissem para o ideal equilíbrio entre os dois simuladores. O produto mais barato da América Latina foi simulado por Dylan Santos, do quarto semestre da graduação, e
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custou U$ 369,014 por tonelada. O campeão regional conta como foi o processo para baratear o preço de produção da liga metálica. “Nós tivemos que fazer testes para entender como estava a termodinâmica do simulador em relação ao que nós estávamos habituados a usar. Depois de verificarmos isso, tivemos reuniões durante a competição sobre a escolha da melhor rota a se utilizar, qual a taxa de carbono que deveria ser entregue do refino primário para o refino secundário para minimizar os custos no secundário, qual a melhor massa de entrega para o refino secundário…”, relata o estudante, citando um conjunto de outras decisões. Apesar da competição ser individual, os estudantes do CT acreditam que
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Destaque
unir forças é o melhor caminho rumo à vitória. Crença comprovada nos resultados, já que um grupo formado na segunda metade de 2018 alcançou o TOP 3 na disputa. Além do campeão regional, os estudantes Bruno Saunders e Mateus Nunes conquistaram, respectivamente, os segundo e terceiro lugares da etapa. O quarto membro da equipe, Daniel Aquer, figurou como sexto colocado. A conquista deles é ainda mais significativa se for levado em consideração que todos os membros são graduandos. Isso porque o Steel Challenge não faz distinção entre nível acadêmico dos estudantes, colocando alunos de graduação, mestrado e doutorado para competir em par de igualdade. Além dos três primeiros colocados, os estudantes da pós-graduação em Engenharia Metalúrgica Darley Lima e Pablo Leão alcançaram, respectivamente, o quarto e quinto lugares na etapa regional.
FOTO/ ARQUIVO PESSOAL
A etapa mundial acontecerá em Madri, na Espanha, no dia 16 de abril. O desafio agora é arrecadar fundos
para financiar as despesas com a viagem. Para isso, o grupo organizou uma campanha de financiamento coletivo, que pode ser acessada no link https://bit.ly/2RoutKY . “Iremos nos preparar mais ainda para trazer esse título para o Brasil, mas antes precisamos de patrocínio para que consigamos ir para o país onde será sediado o mundial”, apela Dylan Santos. Os quatro estudantes contam que conheceram o Desafio do Aço e aprenderam o básico de siderurgia com o projeto desenvolvido pelo Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PET Metalúrgica). O Steelmaking orienta estudantes de qualquer semestre do curso a como atuar nos simuladores do Steel Challenge e tem importância fundamental na divulgação da competição na UFC, contribuindo para a manutenção do posto de liderança que a Universidade tem na América Latina.
O curso de Engenharia Metalúrgica da UFC tem sido destaque em várias edições do Steel Challenge, seja na categoria industrial, estudantil ou em ambas. A edição atual do desafio, que contou com a participação de 50 países registrados, teve como vencedor da categoria industrial o engenheiro metalúrgico formado pela UFC Marcelo Angelloto. No nono ano da disputa, os engenheiros Rodrigo Ramos e Necy Alves, ambos ex-alunos da UFC, conquistaram o vice-campeonato mundial na categoria industrial. Na edição seguinte, o engenheiro Marcos Daniel Gouvêia Filho, também ex-aluno, conquistou o campeonato mundial na categoria industrial, e o estudante Rui Alves alcançou o vice-campeonato mundial na categoria estudantil. O Brasil foi campeão mundial duas vezes, sendo uma delas em 2012, na categoria estudantil, pelos estudantes Helinton Morais e o Fernando Emerson. Apesar de não haver um sistema que organize na UFC os grupos interessados em competir no desafio, os campeões desta edição estimam que existem cerca de seis outras equipes empenhadas na conquista do troféu mundial.
Da esquerda para a direita, os estudantes Daniel Aquer, Mateus Nunes, Bruno Saunders e Dylan Santos em reunião de estudos.
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Victor Henrique Borges de Goes Nepomuceno Ex-aluno de Engenharia de Produção Mecânica 06.11.1995 - 26.11.2018
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