CT NEWS EDIÇÃO VI, ANO II, Nº 2 | JUL_AGO 2018
VIVÊNCIAS ACADÊMICAS Um panorama da integração universitária de estudantes do Centro de Tecnologia
EXTENSÃO
DOCÊNCIA
PESQUISA
Pró-ExaCTa incentiva consciência social e transforma vidas por meio da educação
Projeto LER une literatura e Engenharia por meio de reflexões interdisciplinares
Estudo diganostica impacto de ruído do trânsito em escolas de Fortaleza
E D I TO R I A L
EDIÇÃO VI
VIVÊNCIAS
ANO II - Nº 03 JULHO | AGOSTO 2018 (bimestral)
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DIRETORIA DO CT Carlos Almir Monteiro de Holanda (Diretor) Diana Cristina Silva de Azevedo (Vice-Diretora) DIRETORIA ADJUNTA DE ENSINO (DAE) E NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (NOE) Bruno Vieira Bertoncini (Coordenador da DAE) Yangla Kelly Rodrigues (Coordenadora do NOE) André Bezerra de Holanda (Administrador) ENDEREÇO Campus do Pici - Bloco 710 CEP 60440-900 - Fortaleza - CE CONTATO 85 3366 9600 | 85 3366 9609 daect@ufc.br / daectufc@gmail.com www.ct.ufc.br /daectufc @daectinforma DIAGRAMAÇÃO, REPORTAGEM, E PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Lucas Casemiro de Sousa lucascasemirodesousa@gmail.com REVISÃO André Bezerra Bruno Vieira Yangla Oliveira
Produção do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará. Reprodução livre desde que creditada fonte.
REALIZAÇÃO
omo se sentem os estudantes do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará em relação a seus cursos, professores, perspectivas de carreira e outras questões? Ciente do impacto dessas respostas na evasão no ensino superior, o Núcleo de Orientação Educacional (NOE) da Unidade Acadêmica traçou as percepções dos estudantes em relação a suas vivências na Universidade. A matéria de capa desta edição da CT News traz uma inforreportagem que narra visualmente esse panorama. Complementando essa temática, nossas Páginas Azuis entrevista os professores Leandro Almeida, ex-vice reitor da Universidade do Minho (Portugal), e Acácia Angeli dos Santos, coordenadora adjunta na área de Psicologia da CAPES. Eles refletem sobre o Questionário de Vivências Acadêmica em sua versão reduzida (QVA-r), instrumento desenvolvido e aprimorado por eles e utilizado pelo NOE para avaliar a integração acadêmica dos estudantes. Já a seção Acontece no CT vem carregada de arte e traz solidariedade como pano de fundo. Nela, você confere a solenidade de Colação de Grau 2018.1, a reativação do Coral do CT e as ações do Fundo de Apoio ao Centro de Tecnologia da UFC. Na mesma perspectiva, a seção Vida Docente apresenta o trabalho coordenado pelo professor Luis Gonzaga, do Departamento de Integração Acadêmica e Tecnológica (Diatec), que relaciona Engenharia e Literatura por meio do incentivo ao consumo de arte e cultura pelos estudantes do Centro. Em Pesquisa, entenda como o ruído sonoro proveniente do trânsito pode impactar a educação de crianças e adolescentes com base no estudo que traçou o diagnóstico acústico de três escolas públicas em Fortaleza. A pesquisa, ligada ao Centro de Tecnologia e publicada em um dos periódicos de maior referência global em acústica, segue para a segunda etapa. Já em Perfil, saiba o que Seu Gadelha, supervisor de manutenção do Centro, tem a ensinar sobre o serviço público. No dia primeiro de outubro, ele completará 35 anos de dedicação à UFC. Em Fala, Aluno!, conheça também o Projeto de Aprofundamento em Ciências Exatas, que oferece aulas gratuitas de aprofundamento em Matemática, Física, Química e redação a estudantes do ensino médio interessados em gabaritar o Enem. O Pró-ExaCTa beneficia também os graduandos, desenvolvendo a consciência social deles e conferindo uma série de outras competências. Uma excelente leitura! REDAÇÃO CT NEWS
ÍNDICE
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ACONTECE NO CT DIA A DIA
VIDA DOCENTE
- Colação de grau 2018.1 e o papel social das profissões - Coral do CT - Fundo de Apoio a Engenharia da UFC
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LITERATURA Professor incentiva leitura de estudantes de engenharia
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CAPA VIVÊNCIAS ACADÊMICAS Núcleo de Orientação Educacional traça perfil de integração acadêmica de estudantes de engenharia do CT
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PERFIL
SERVIDOR O que Seu Gadelha, supervisor de manutenção do CT, tem a ensinar?
PESQUISA
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ACÚSTICA: IMPACTO DOS TRANSPORTES Pesquisadores estudaram como o ruído de modais de transporte afetam três escolas públicas em Fortaleza
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PÁGINAS AZUIS
ENTREVISTA Criadores do Questionário de Vivências Acadêmicas conversa sobre internacionalização do Centro de Tecnologia
FALA, ALUNO! CONSCIÊNCIA SOCIAL Pró-ExaCTa, projeto de extensão do CT, atua contra distorção histórica do ensino brasileiro ao oferecer aulas gratuitas à comunidade
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ACONTECE NO CT
LICENÇA PARA POTENCIALIZAR O FUTURO – O PAPEL SOCIAL DAS PROFISSÕES NA COLAÇÃO DE GRAU DO CENTRO DE TECNOLOGIA A nova geração de graduados que aprendeu a pensar o mundo como um lugar mais engenhoso e humanitário
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ara o futuro, um objetivo: “Espero realmente realizar o próprio significado da palavra Engenharia”. Para o momento, o orgulho de ter superado os desafios tradicionais de se estudar essa área do conhecimento na Universidade Federal do Ceará. Esse é o sentimento que Luiza Guedes guarda quando o assunto é formatura. Na noite de 18 de julho, ela e outros 436 formandos foram recebidos na Conha Acústica da Reitoria para o segundo dia do ciclo de colações de grau do semestre 2018.1 na UFC. Um misto de emoções, oficialização de competência técnica e responsabilidade social que eles levam para a vida.
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Além do Centro de Tecnologia, o Centro de Ciências e o Centro de Ciências Agrárias foram as outras unidades acadêmicas contempladas no segundo dia do ciclo de colações de grau do semestre 2018.1.
UFC, estagiar no Laboratório de Pesquisa em Corrosão em um projeto com a Companhia Siderúrgica do Pecém, entre outras.
Os aprendizados foram imensos. No decorrer de seu percurso na graduação em Engenharia Metalúrgica, Luiza teve a oportunidade de participar de várias ações, como ser voluntária no Laboratório de Ensaios Mecânicos, ser bolsista do PET da Engenharia Metalúrgica, estudar em uma universidade inglesa pelo programa Ciências sem Fronteiras, atuar na empresa júnior de seu curso, ser diretora de projetos no time Enactus Luiza Guedes formouse em Engenharia Metalúrgica. FOTO / ARQUIVO PESSOAL
FOTO / RIBAMAR NETO / UFC
ACONTECE NO CT
Não é diferente para Roberto Barreto Neto, que se formou em Engenharia de Produção Mecânica. A colação de grau significou para ele “um momento de passagem, de concretização do que eu vinha fazendo. Eu senti também como se fosse uma licença para um novo
futuro, uma nova condição de vida mais a frente”, conta o formado que conseguiu experiência de mercado antes de concluir o curso. Para ele, o maior aprendizado foi saber colocar-se no controle de sua própria vida. “Em termos de conhecimento, de amadurecimento profissional, é a gente que tem que ir atrás. É o aluno que faz a condição, que vai atrás do conhecimento, que busca se desenvolver e a partir desse interesse é que quem está em volta vê e passa a colaborar, seja professor, seja chefe na empresa, seja quem for.”
FOTO / ARQUIVO PESSOAL
Agora, ela quer levar todo esse conhecimento para a sociedade da forma mais humana possível. “Espero utilizar os conhecimentos e experiências que adquiri durante esses anos de graduação na realização de projetos que aliem a tecnologia ao impacto social positivo, com foco nas pessoas, gerando inovação tecnológica e social a partir das necessidades de um coletivo.”
Roberto Barreto posa com a mãe no dia da formatura.
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ACONTECE NO CT Roberto utiliza a engenharia no dia a dia da fábrica de calçados onde trabalha e o exercício dessa ciência já lhe oportunizou alcançar resultados de impacto social. Segundo conta, ele ajudou na implementação de um novo processo na empresa, que inovou ao converter um dos resíduos industriais em um dos componentes do produto final, reutilizando matéria prima e beneficiando o meio ambiente. “O novo processo implementado na fábrica gerou 36 postos diretos de trabalho. A operação se iniciou em 2011 e continua até hoje, tendo sido reconhecida em 2012 pelo Prêmio FIEC de Desempenho Ambiental na modalidade Produção Mais Limpa.”
Mas tudo isso valeu a pena para ela. Após ter sido representante de sua turma na colação de grau, Marianna retornou a Teresina como engenheira mecânica formada pela UFC e já se prepara para a pós-graduação, estando a Universidade entre suas primeiras opções.
ESFORÇO RUMO À MUDANÇA Uma nova consciência sobre as profissões vem se formando no Centro de Tecnologia. Pensar as ciências sob a ótica da interdisciplinaridade é fazer valer seus papéis de impacto positivo na vida das pessoas. Consciência que o CT vem continuamente tentando construir com os alunos no decorrer da graduação, envolvendo-os em discussões que trabalham da ética às artes plásticas.
“Sempre tive muito orgulho de ser estudante da UFC e sempre procurei honrar com o nome da Universidade por todos os lugares que frequentei, no Brasil e no exterior. Considero que minha formação foi de excelência, com professores muito bem conceituados. Ainda temos muito o que melhorar como um todo, mas devo dizer que, de maneira geral, fui muito bem acolhida pela UFC.”
Isso tudo acaba refletindo na atuação da Universidade, a exemplo das ações e projetos e da elaboração de políticas públicas voltadas às comunidades e regiões de baixa renda do Ceará. A após ter parabenizado os formandos no dia da colação de grau, o reitor Henry Campos também apresentou os índices positivos que a UFC vem conquistando, em níveis acadêmicos e de gestão.
Dever cumprido
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Marianna cita outros desafios durante o percurso, como a vivência em um outro país durante o intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras e o lado negativo da convivência em um curso predominantemente masculino.
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FOTO / RIBAMAR NETO/ UFC
emoção veio forte quando os familiares de Marianna Barbosa chegaram de Teresina para sua formatura. “Sensação de dever cumprido. Me emocionei quando minha mãe falou que meu pai estaria muito orgulhoso”, diz a recém-formada engenheira mecânica, que passou pela experiência de perda do pai logo no início da vida acadêmica. “O meu maior desafio foi conciliar a minha rotina de estudante com a rotina de quem mora longe de casa”, conta.
Marianna Barbosa na cerimônia de colação de grau ao lado do coordenador do curso de Engenharia Mecânica, Prof. Luiz Soares Júnior.
"Diligentemente estamos construindo a Universidade que sai de seus muros, que qualifica o ensino pela inserção do aluno no mundo real, exercitando, junto com os professores, uma escuta das comunidades e buscando construir soluções para seus problemas mais pungentes", disse o reitor na cerimônia. Com informações do Portal da UFC.
ACONTECE NO CT O PODER DO COLETIVO
FERRAMENTA DE APRIMORAMENTO INTELECTUAL DE ESTUDANTES, A MÚSICA CHEGA AO CT COMO COMPLEMENTO PEDAGÓGICO
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ozes que somadas se tornam mais potentes. Expandindo integralmente essa noção, a forma que o Coral do CT encontrou para voltar a musicalizar o Centro de Tecnologia foi recorrer a colaborações de todos os seus interessados mais diretos e de ações externas à unidade acadêmica. Agora, reestruturado e contando com o apoio do Projeto Casa da Voz: Movimento Coral da UFC, o Coral do CT renasce com uma nova estrutura organizacional. A massa sonora que carrega a mistura de vários timbres, cada um especial em sua individualidade, solidifica no CT um importante legado cultural. A experiência do canto coral foi trazida ao Centro de Tecnologia a partir da vivência musical do professor do Departamento
FOTO/ THALLES EMÍLIO
Após três anos desativado, Coral do CT ressurge com novas perspectivas e promessa de enraizamento
de Engenharia Metalúrgica e de Materiais Ricardo Emílio, cultivada desde a infância e vivenciada em outros espaços dentro e fora da UFC. Acreditando no potencial transformador que a educação musical traz para a vida humana, ele também percebeu a potência da arte enquanto recurso pedagógico. Para ele, a experiência de participar do coral é “muito importante porque você está numa formação mais humanística. Uma formação mais ‘completa’, em que o aluno desenvolve mesmo a parte da sensibilidade. Tem a parte cultural e histórica, onde a gente passa as músicas. Tem a história da música, do compositor… Então aumenta a cultura geral, aumenta o espírito de equipe. O trabalho do coral
é muito importante para isso, você aprender a ouvir e respeitar o outro, aprender a tolerância, a conviver com pessoas de outras áreas e trabalhar junto para um fim comum, que são as apresentações.” A iniciativa de Ricardo foi posta em prática em 2009 e levada a cabo até 2015, quando o Coral do CT foi desativado. O professor lembra que, no ápice de seu funcionamento, o grupo era chamado para se apresentar em “toda solenidade”, congresso e outros eventos do CT, tendo inclusive um repertório natalino. Mas as atividades de regência e acompanhamento do projeto eram divididas com outras funções da academia, o que acabou sobrecarregando o professor e levando à desativação do projeto artístico.
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ACONTECE NO CT Agora, a nova proposta do coral, reativado no final de 2018.1, é mais sólida, uma vez que recebe apoio da Secretaria de Cultura Artística da UFC (Secult-arte UFC), que em 2017 passou a incentivar a cultura de canto coral da Universidade através do Projeto Casa da Voz: Movimento Coral da UFC, vinculado ao Programa de Promoção da Cultura Artística (Bolsa Arte). Fruto da junção de vários corais individuais da UFC, a iniciativa tem por objetivo primeiro “viabilizar o fortalecimento de atividades que envolvam o canto individual ou em grupo, através do estabelecimento de ações de apoio à criação e permanência de grupos corais na Universidade”. Atualmente, além da participação do próprio professor Ricardo como regente, o Coral do CT também conta com um preparador vocal e um bolsista co-regente. Essa é a primeira vez que o professor tem alguém da área da música para o auxiliar nas atividades do coral. A maior vontade de Felipe Caetano, estudante de graduação em Música e membro do Bolsa Arte, é que as pessoas adquiram consciência musical.
“Uma formação mais ‘completa’, em que o aluno desenvolve mesmo a parte da sensibilidade”
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FOTO/ THALLES EMÍLIO
Tendo com a música uma relação que descreve como de “puro amor”, Felipe pretende deixar um “ótimo legado” enquanto estiver à frente do projeto. “É bom você ter uma vivência musical, é bom você ser musicalizado, é bom você conhecer um pouco desse universo, porque só te traz benefícios. Além de um momento relaxante, claro, você aprende muita coisa nova”, reflete. Fora a característica mais óbvia, de ser uma alternativa para quem tem dificuldades de canto e busca desenvolvimento vocal, a prática de coral, assim como de outras experiências
em música, auxilia na formação dos estudantes na parte do desenvolvimento cognitivo, aprimorando o raciocínio lógicomatemático, por exemplo. Breno Freitas vivenciou isso de perto. O estudante de Engenharia Elétrica já fazia parte do Coral do CT antes de ser desativado e o integra neste novo momento. Foi no Coral do CT que diz ter superado a timidez e introversão. “Eu tenho uma consideração muito grande pelo Coral do CT, pois foi nele consegui aprender mais sobre minha voz e até mesmo em como ajustar meu tom de voz para outras situações.”
ACONTECE NO CT
Mas por ter sido reativado há pouco tempo, o Coral do CT ainda busca definir uma identidade. Ela será construída a partir do gosto de cada integrante do grupo, numa busca democrática e que findará somente quando encontrar uma unidade coletiva, com base na preferência e necessidades de cada membro. Isso implica a inclusão de músicas renascentistas no repertório do coral para esse momento, porque são mais fáceis de cantar, segundo o coregente do projeto. Ao centro, professor Ricardo Emílio rege o Coral do CT. Interessados em participar do projeto podem conversar com ele em sua sala no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, que fica no Bloco 709, atrás do Santander.
Momento de reestruturação Saber cantar não é critério para participar do Coral do CT, basta ter força de vontade, se dedicar ao projeto e cumprir as responsabilidades
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e “Banaha”, música folclórica congolesa, a “Dona Nobis Pacem”, de Mozart: o repertório musical do Coral do CT é hoje composto em sua maioria por peças curtas internacionais do gênero Cânone. Há também a permanência de cânones hebraicos, legado trazido pelo professor Ricardo Emílio, que já trabalhava as formações musicais antigas desde o primeiro momento de existência do Coral do CT. Atualmente, os coralistas ensaiam o hino da resistência italiana “Bella Ciao” e a música “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho.
Para se consolidar e crescer, expandindo as possibilidades de música no repertório, o Coral do CT busca alcançar vozes femininas, mais especificamente as do naipe “soprano”. Mas enfrentam desafios como a baixa frequência e evasão. Para o fundador do projeto, devido a natureza dos cursos de engenharia exigir muita dedicação dos estudantes, é comum a falta de tempo para se entregar ao coral. Visando mudar essa realidade de abandono, o projeto aposta em ações de incentivo a permanência, como a garantia de horas complementares para seus membros, além de seguir recebendo novos coralistas. Aberto a toda a população da UFC e seu entorno, saber cantar não é critério para participar do Coral do CT, basta ter força de vontade, se dedicar ao projeto e cumprir as responsabilidades exigidas. Apesar do pouco tempo de reestruturação, o Coral do CT já se apresentou no Dia Internacional das Mulheres na Engenharia (Dime), que aconteceu em junho, e já tem presença marcada em outros eventos neste semestre, como nos Encontros Universitários 2018, que acontecerá em outubro, e no Dia do Engenheiro, em dezembro.
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ACONTECE NO CT APOIO
FOMENTO À ENGENHARIA: A FUNDAÇÃO ASTEF E O APOIO HISTÓRICO AO CT Fundo de Apoio ao Centro de Tecnologia da UFC incentiva financiamento de pequenas atividades de manutenção
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om os objetivos de apoiar o Centro de Tecnologia em pequenas ações de manutenção e de criar uma rede de relacionamento dos ex-alunos do Centro e da antiga Escola de Engenharia, equipamento da UFC que deu origem ao CT, a Fundação de Apoio a Serviços Técnicos, Ensino e Fomento a Pesquisas – Fundação Astef criou e gerencia o Fundo de Apoio ao Centro de Tecnologia da UFC. A ideia de criar a rede de apoio surgiu originalmente na primeira metade da década de 1990, quando o então diretor do CT, professor Antônio Nunes de Miranda, se viu diante de uma crise de financiamento do serviço público. A ideia foi colocada em prática somente em maio de 2017, mas com uma nova vertente para além daquela de atuar em pequenas ações de manutenção do Centro: o objetivo é também aumentar o contato com ex-alunos para que estes ajudem no processo de formação dos atuais estudantes.
Na foto, parede da fachada da Fundação Astef, no bloco 710 do C e n t r o d e Te c n o l o g i a .
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Para o Diretor do Centro de Tecnologia, professor Carlos Almir, a iniciativa junta duas vertentes aparentemente distintas, mas
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que se complementam: “Trazer o ex-aluno para que esteja mais próximo da nossa realidade, para que dialogue, para que a gente possa ter esse feedback e melhorar o processo educacional, e ter o apoio de quem já teve nosso apoio quando foi aluno, afinal de contas recebeu educação de qualidade de forma gratuita”, explica. As ações de manutenção do Centro são de responsabilidade da Prefeitura do Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra, que tem postos de atendimento no Centro de Ciências (CC), no Centro de Ciências Agrárias (CCA) e no Centro de Tecnologia. O Fundo de Apoio ao Centro de Tecnologia quer otimizar ainda mais o processo de manutenção da Unidade Acadêmica atuando no quesito burocrático. “A Fundação Astef é para o Centro de Tecnologia indispensável, porque contribui muito na gestão do Centro, na manutenção do Centro”, diz o supervisor de manutenção do CT, Ernani Gadelha. Ele conta que há um retardo na eficiência de entrega de materiais de manutenção, o que muitas vezes faz com que os profissionais fiquem ociosos. De acordo com ele, devido a essa burocracia, uma simples fechadura demora cerca de um mês até que a empresa responsável entregue e em casos como esse, a Fundacao Astef tem sido de grande ajuda. A ideia é, com o Fundo de Apoio ao CT, expandir essa contribuição. Os recursos do projeto são arrecadados por doações simbólicas de ex-alunos, engenheiros e empresas onde atuam. A colaboração acontece por meio do site do do Fundo de Apoio (www.apoioct.ufc.
br). O valor mensal mínimo é de R$10,00 por ex-aluno ou engenheiro e de R$100,00 por empresa, totalizando uma quantia anual de R$ 120,00 e 1.200,00 reais, respectivamente. Mas segundo o presidente da Fundação Astef, professor Barros Neto, o projeto ainda é invisibilizado. “O principal desafio é as pessoas acreditarem e apoiarem o Fundo. Ele ainda está muito pequeno. Então, acho que precisa muito de um trabalho de divulgação para as pessoas se convencerem desse apoio.” Para ele, não é da cultura do brasileiro o estímulo a doações para universidades, diferente do que acontece em outras partes do mundo, como Canadá, Estados Unidos e países da Europa. Já o Diretor do CT acrescenta que o Fundo tem baixa visibilidade porque ainda não foi lançado oficialmente. “Nós fizemos o lançamento internamente, por assim dizer, mas nós estamos esperando o site do egresso, pra que a gente possa de fato fechar essas duas vertentes.” O site que colocará o Centro de Tecnologia em contato mais próximo com seus ex-alunos será lançado em evento no dia 11 de dezembro, quando se comemora o Dia do Engenheiro.
Não é da cultura do brasileiro o estímulo a doações para universidades
Fundação Astef e o CT A gênese da Fundação Astef está no CT. Criada em 2007 por professores e ex-alunos da Escola de Engenharia, ela foi instituída pela Associação Técnica Científica Eng. Paulo de Frontin – Astef. Desde então, atua junto à UFC oferecendo serviços em gestão administrativa e financeira de projetos de interesse social e da universidade, sendo a ponte que une pesquisador e financiador. Contando com mais de 77 projetos vigentes em ensino, pesquisa e extensão e outros 150 realizados ao longo de sua existência, a Fundação tem contribuído principalmente com o apoio aos projetos desenvolvidos junto ao Centro de Tecnologia da UFC. A expansão da Fundação Astef para outras unidades acadêmicas é a maior premissa da atual gestão de sua Diretoria Executiva. “Um dos motivos por que eu assumi a Fundação foi para aumentar essa interação. E a Fundação nos últimos anos tem crescido a partir desses projetos”, conta o seu presidente, professor Barros Neto. Conforme o Relatório Anual de Gestão para 2017 da Fundação, apesar do momento de crise pelo qual o país atravessou no ano passado, houve um crescimento de 20% no número de projetos captados. Entre eles, estão a exclusividade no gerenciamento dos recursos do Parque Tecnológico da UFC, criado em março deste ano, e a participação no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Longo Prazo – Ceará 2050.
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VIDA DOCENTE
Inter discip linar OUTRAS FORMAS DE LER O MUNDO: PROJETO EXPLORA AS POTENCIALIDADES DA ARTE NA CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES “LER” relaciona arte, cultura e engenharia a partir do empréstimo de livros paradidáticos à base da confiança facebook e instagram/ @ler.ufc www.lerufc.wixsite.com/blog
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“A
lice no País das Maravilhas tem tudo a ver com Física”, diz o homem de nome homófono ao do cantor pernambucano de MPB. Do centro de sua sala bagunçada que mais parece um mar de livros, Luis Gonzaga filosofa sobre Ciência, Arte, Literatura e Pedagogia. Para o professor vinculado ao Departamento de Tecnologia (Diatec), a literatura possibilita outras formas de leitura do mundo, revelando o lado humano que existe nele e na sala de aula. “Eu acho que ela (a leitura) te dá a visão mais ampla do mundo, da realidade. Ela amplia seus horizontes para que você consiga ver melhor também a realidade do aluno. Porque se não, você fica só na questão da Ciência em si,
“A arte está para chacoalhar os preconceitos. A Ciência também.” A ideia foi posta em prática neste semestre e tem apoio da PróReitoria de Assuntos Estudantis (Prae). Em pleno funcionamento, a estante fica no bloco 707, ao lado da cantina, onde está localizado o Diatec e onde circulam muitos alunos, principalmente dos primeiros semestres. O objetivo é criar uma cultura de compartilhamento também na vida fora da internet, onde essa prática ainda não está fortemente estabelecida, explica Luis Gonzaga. “Ele (o aluno) tem que ter a consciência de que aquilo está sendo construído coletivamente, no sentido de doações, no engajamento de outras pessoas que estão oportunizando o acesso à leitura”, diz, ressaltando a importância da devolução do material após o uso.
Foi nesse sentido que o projeto Engenharia, Literatura e Reflexão (LER) ganhou o Centro de Tecnologia no ano passado, nascendo a partir do desejo do professor em estimular a leitura dos estudantes na unidade acadêmica. A mais nova ação do LER nesse sentido é uma estante de compartilhamento de livros.
FOTOS/ LUCAS CASEMIRO
como se o seu papel fosse só o de passar o conteúdo de acordo com a ementa, mas sem se colocar no lugar do outro, do aluno. É um processo de humanização também”, diz o professor, que vem diuturnamente refazendo sua prática pedagógica na relação que encontrou entre o prazer de ler e a capacidade de transformação proporcionada por ele.
A iniciativa tem parceria com a Biblioteca Central do Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra, que administra o projeto “Livros Livres” e serviu de inspiração a Luis Gonzaga na criação da estante. Ele conta que já vinha observando outras ações semelhantes, como a geladeira de compartilhamento de livros no Benfica, o projeto da Biblioteca da UFC e a parceria entre Biblioteca Dolor Barreto e Prefeitura de Fortaleza, cujo ação acontece nos terminais de ônibus da cidade. O maior desafio do projeto no Centro de Tecnologia foi
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VIDA DOCENTE conseguir o material para expor os livros. A estante precisa ter um formato específico, com prateleiras mais inclinadas, como uma vitrine. Após encontrar no Centro uma estante que estava esquecida, Luís, com a ajuda de bolsistas do projeto, a adaptou e contatou a manutenção do CT para pintála, estando o equipamento finalmente pronto para uso. O passo seguinte foi trabalhar na logística de arrecadação do material paradidático, que começou com uma campanha de divulgação o terna da estante. Somente de professores de seu departamento foram arrecadadas 100 doações, entre livros, quadrinhos e revistas de notoriedade no ramo da arte, arquitetura e literatura. Além de “biblioteca”, a estante funcionará ainda como espaço para divulgar eventos de dentro e fora da Universidade, em diálogo com uma outra ação do LER.
Isso garante segurança ao livros de tal forma a reduzir as chances de eles pararem em sebos de Fortaleza, por exemplo. O professor Luis Gonzaga disse ter relação próxima com donos desses locais e já ter informado sobre o projeto, aconselhando a não comprarem materiais com os selos do LER. Ainda, os bolsistas que convivem diariamente no campus verificam a ausência de livros, fazendo um levantamento semanal dos títulos que saíram, bem como dos que estão há muito tempo na estante e dos que retornaram a ela, para otimizar a experiência dos leitores. Os livros também possuem marca textos com tirinhas que divulgam o projeto e a relevância da literatura. A ideia é personalizá-las no futuro com desenhos e histórias autorais de alunos de outros projetos da UFC voltados para artes visuais, integrando ainda mais
FOTO/ DIVULGAÇÃO LER
Hoje todos os livros são catalogados por gênero literário, existindo um acompanhamento a partir de um inventário estatístico para controle de saída e retorno dos títulos. Cada publicação possui vários carimbos, que divulgam o LER e
o parceiro “Livros Livres”, com carimbos que também informam a origem da doação e, por fim, que a venda é proibida.
Participantes do projeto visitam a exposição Design por Mulheres, no MAUC.
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os projetos da Universidade e levando à “transposição”. “Eu quero um projeto para o Centro de Tecnologia, mas ao mesmo tempo eu percebo que ele já está criando as suas conexões fora do CT. Esse projeto já me levou a pessoas de outros centros que eu não conhecia”, diz o professor.
Folhetos culturais Outro espaço de incentivo ao amadurecimento intelectual dos estudantes promovido pelo LER é o Projeto Cultura e Arte, que busca debater diversas linguagens artísticas contemporâneas por meio de visitas a equipamentos culturais da UFC e de Fortaleza, nessa ordem de prioridade. Aberto a todos os interessados com ou sem vínculo com a Universidade, o objetivo do projeto é agendar previamente visitas no decorrer do semestre a equipamentos como a Casa Amarela Eusébio de Oliveira, o Conservatorio de Música Alberto Nepomuceno, o Museu da Fotografia e o Theatro José de Alencar, de forma que os estudantes também possam se programar e assim fazer com que a arte e cultura alcancem ainda mais gente. Após as visitas, os bolsistas fazem resenhas das experiências adquiridas, que são publicadas no site do LER (lerufc.wixsite.com/blog). O Projeto Cultura e Arte também divulga no blog resenhas de textos do clube de leitura e incentiva a divulgação de textos autorais, já tendo sido publicadas produções de outros professores da UFC.
Leitura em grupo Além da estante de compartilhamento de livros, uma outra ação do LER que coloca os estudantes do Centro diretamente em contato com a literatura é o clube de leitura do projeto, que desde o segundo semestre do ano passado incentiva a discussão de textos literários. Conto, crônica, trechos de romance, poemas, letras de música e até textos autorais de alunos são discutidos às quartasfeiras quinzenais, das 12h30 às 14h, na sala 24 do bloco 708 (Engenharia Civil). O material de cada reunião é escolhido a partir de uma seleção democrática feita pelo professor
“Para criar Ciência, tem que ter essa visão muito parecida com a arte… A liberdade! Se não tiver liberdade, você não faz arte, não faz Ciência.”
e bolsistas, que estimulam os participantes do clube a enviar textos de autores que desejam ver colocados em pauta. O grupo, entretanto, é flexível e não obriga os participantes à assiduidade continuada nos encontros para acompanhar as discussões. O modelo proposto também não faz com que o estudante leve para casa mais compromissos. Dessa forma, os textos são lidos no momento dos encontros, para serem discutidos logo em seguida.
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Ciência não é uma construção arbitrária. É uma construção humana. Por isso, é falha. Convicções e convenções se desmancham à luz de novos postulados, novas teorias, novas letras. As publicações que revolucionaram a forma como entendemos o mundo estão envoltas em um processo histórico que leva em conta uma continuidade de pensamentos concebidos à luz da criatividade humana. É o que defende o professor Luis Gonzaga. “Para criar Ciência, tem que ter essa visão muito parecida com a arte… A liberdade! Se não tiver liberdade, você não faz arte, não faz Ciência”, explica.
Liberdade que é alcançada por meio do conhecimento artístico, que transforma o mundo e no qual a Ciência deve se inspirar. “A arte está para chacoalhar os preconceitos. A Ciência também.” Para ilustrar sua lucidez, Luis cita o trabalho do físico Alan Lightman, que fez uma “interpretação poética” sobre a teoria da relatividade de Einstein. “Ele emaranhou mundos relativistas completamente diferentes. E quando você vê isso, você acaba vendo a importância do universo, do lado imaginativo, da criatividade. E isso é importante para o engenheiro. Se não exercer essa capacidade de inventar, de criar, ele não faz nada novo.”
Esse é o mistério. A prática pedagógica precisa despertar o interesse dos estudantes pela resolução criativa de problemas. “Às vezes, numa aula, eu falo das três leis de Newton em duas horas. Isaac Newton, para formular essas leis... foram mais de 20 anos. E você às vezes quer resumir e quer que o aluno entenda em uma aula”, diz o professor, com a certeza de que toda vez que discute textos com os estudantes no clube de leitura, toda vez que falam de poesia juntos, pegam livros emprestados da estante ou que escrevem resenhas das visitas no blog, estão ganhando camadas importantes de sensibilidade.
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Núcleo de Orientação Educacional traça panorama da integração acadêmica de estudantes com base em suas vivências no Centro de Tecnologia
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considerando suas capacidades intelectuais, seus relacionamentos interpessoais com amigos, colegas e com professores, sua saúde física e psicológica, entre outros fatores.
A
lguns ordinários, outros significativos, mas todos com algo em comum: únicos. Assim, sem possibilidade de volta, são os momentos que constroem a vida de uma pessoa. Por sua vez, um dos mais marcantes é o ingresso no ensino superior. Dotado de fortes elementos sígnicos, essa etapa da vida funciona como um rito de passagem que marca não apenas a escolha de uma profissão, mas também o início de um futuro de muito amadurecimento a partir de vivências que a pessoa nem desconfia que um dia passará neste ambiente. Mas a adaptação ao ensino superior, principalmente no primeiro ano, onde os impactos da fase de transição do ensino médio são maiores, muitas vezes ocasiona um sentimento de deslocamento do estudante, que adoece física e psicologicamente, contribuindo para a problemática da evasão. Esse momento de adaptação acadêmica ainda é agravado pela nova realidade do ensino superior no Brasil.
Motivado por essa responsabilidade social, o Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará (CT/ UFC) resolveu agir. De 3 de março a 16 de abril, o Núcleo de Orientação Educacional (NOE) da Unidade Acadêmica quis saber como seus estudantes se sentem no ambiente onde estão se formando. A pesquisa procura compreender como se dá a integração acadêmica dos estudantes do Centro de Tecnologia com base em suas vivências na universidade. Os dados gerados a partir desse levantamento servem de auxílio para que a Universidade Federal do Ceará tome medidas mais assertivas e qualitativas em relação a problemas estritamente relacionados ao bem-estar dos estudantes e à evasão. Nas páginas que seguem, a CT News analisa a média das respostas dos estudantes para cada uma das seis dimensões abordadas na pesquisa, aprofundando algumas questões em cada quadro.
À medida que o acesso à educação foi democratizado, as universidades não foram preparadas para receber toda a pluralidade de etnias, culturas e classes sociais a que abriu as portas, adicionando mais esse gargalo à fórmula da evasão no ensino superior nas últimas décadas. Para tornar medidas cada vez mais acertadas, é essencial que as instituições procurem compreender a complexidade e diversidade de elementos que integram a vida acadêmica dos estudantes,
Colaboraram Yangla Oliveira, Bruno Bertoncini e Maria Estela.
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17 17
inforREPORTAGEM
Instrumento
A
pesquisa aplicada pelo Centro de Tecnologia utilizou o Questionário de Vivências Acadêmicas em sua versão reduzida (QVA-r), instrumento de autorrelato que procura compreender o processo de adaptação e integração dos estudantes ao contexto universitário. Idealizado por professores de universidades portuguesas, o QVA-r possui hoje uma versão adaptada ao Brasil (confira entrevista com os desenvolvedores da metodologia na página 36).
Esta versão possui 55 itens que contemplam cinco dimensões da vida do estudante: Pessoal, Interpessoal, Carreira, Estudo e Institucional. O Núcleo de Orientação Educacional do CT resgatou uma sexta dimensão do instrumento original, intitulada “Relacionamento aluno-professor”. Para a realização da pesquisa, o questionário foi disponibilizado em plataforma do Google Forms. As respotas se deram a partir da participação voluntária dos estudantes, resultando na amostra utilizada pela avaliação. O questionário foi composto por 60
frases afirmativas, com opções de respostas variando de 1 a 5, de acordo com a escala de Likert. Embora direcionado prioritariamente a pessoas em fase de adaptação ao ensino superior (geralmente estudantes dos primeiros anos da graduação), o QVA-r também possibilita um levantamento valioso da situação de estudantes de qualquer semestre, servindo como ferramenta para reflexão e avaliação da relação entre estudante e universidade.
1. Nada a ver comigo, totalmente
Perfil dos Respondentes
R
esponderam o QVA-r estudantes dos 13 cursos do Centro de Tecnologia, contabilizando um total de 510 respondetes. Destes, 36% se declaram do gênero feminino e 64% se declaram do gênero masculino.
A predominância do gênero masculino no CT tem respaldo na literatura nacional sobre estudantes de engenharia, que em sua maioria são homens, apesar do momento de mudança pelo qual esses cursos passam, recebendo cada vez mais mulheres a cada ano. Os gráficos de rosca aprofundam informações sobre curso, semestre e idade dos respondentes.
Arquitetura e Urbanismo 3%
Design 4%
Eng. Química 20%
Curso Eng. Ambiental 7% Eng. Civil
Eng. Metalúrgica
14% Eng. da Computação 8%
4% Eng. Mecânica 11%
CT NEWS MAIO | 2018 JUNHO 2018 JULHO | AGOSTO CT NEWS
Eng. de Energia Renováveis 5% Eng. de Petróleo
Eng. Elétrica 13% Eng. de Telecom. 3%
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em desacordo, nunca acontece; 2. Pouco a ver comigo, muito em desacordo, poucas vezes acontece; 3. Algumas vezes de acordo comigo e outras não, algumas vezes acontece, outras não; 4. Bastante a ver comigo, muito de acordo, acontece muitas vezes; 5. Tudo a ver comigo, totalmente de acordo, acontece sempre.
Eng. de Produção 7%
2%
CAPA
Idade
Semestre
22 a 25 anos
10º 4%
29%
9º 9%
Fatorial 28%
26 a 29 anos 7%
8º 0,7%
30 anos ou + 3%
7º 10% 6º 0,2%
- 18 anos 7%
5º 11%
1º 26% 4º 0,5%
3º 12%
18 a 21 anos 55%
2º 0,4%
Análise
1 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12. 13. 14.
Dimensão Pessoal
Refere-se ao bem-estar físico e psicológico dos alunos; abordam aspectos como o equilíbrio emocional, a estabilidade afetiva, o otimismo, a tomada de decisões e a autoconfiança.
510
1
FRASES DESTA DIMENSÃO
01. Costumo ter variações de humor. 02. Nos estudos não estou conseguindo acompanhar o ritmo dos 3 meus colegas de turma. 4 03. Sinto-me triste ou abatido. 5 * 04. Ultimamente me sinto desorientado e confuso. 05. Há situações em que sinto que estou perdendo o controle. 06. Nos últimos tempos, me tornei mais pessimista. 07. Sinto cansaço e sonolência durante o dia. 08. Sinto-me em forma e com um bom ritmo de trabalho. 09. Tenho momentos de angústia. 10. Não consigo concentrar-me numa tarefa durante muito tempo. 11. Penso em muitas coisas que me deixam triste. 12. Sinto-me fisicamente delibitado. 13. Tenho dificuldades em tomar decisões. 14. Tenho me sentido ansioso. 2
* Opções de respostas que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo).
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inforREPORTAGEM
A
identidade de uma pessoa é construída a partir das vivências nas esferas sociais que a cercam e a universidade ocupa um lugar importante nesse processo. É nela onde o estudante passa a conhecer mais a si próprio e desenvolve uma visão particular do mundo, criada a partir do contato com a pluralidade de culturas, pensamentos e linguagens presentes neste ambiente. A fase de adaptação ao ensino superior exige o desenvolvimento da maturidade nas relações interpessoais, implicando uma maior habilidade na identificação, aceitação
e adequada expressão das próprias emoções, assim como da tolerância e respeito ao outro. É nessa fase, que geralmente coincide com os primeiros anos da vida adulta, que o estudante conhece a relação de interdependência que tem com o outro, entendendo que seus atos têm sempre implicações na vida de outras pessoas. A primeira dimensão do questionário trata do entendimento do estudante para com ele mesmo. Ela é importante no sentido em que avalia os níveis de motivação no ambiente acadêmico.
Nesta análise, selecionamos três dos 14 itens que compõem a dimensão Pessoal. Eles revelam que: 1. 43% dos entrevistados discordam da frase “sinto-me em forma e com um bom ritmo de trabalho”; 2. 36% dos estudantes disseram sentir dificuldades em tomar decisões e 3. 36% dos respondentes apresentaram problemas de concentração.
Ansiedade NA GRADUAÇÃO, É cada vez mais comum ouvir relatos de estudantes com transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade. Uma pesquisa divulgada em 2016 pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) mostrou que 30% de graduandos de instituições federais do país procuraram atendimento psicológico dois anos antes e 10% fazem uso de medicamentos psiquiátricos, em alguns casos, devido à ansiedade.
A ansiedade em si é um sentimento comum em todas as faixas etárias. No Centro de Tecnologia, 60% dos estudantes que responderam ao QVA-r tendem a discordar da afirmação “tenho me sentido ansioso”, revelando que, em geral, ansiedade não é um fator que pesa no quotidiano dos alunos. Os estudantes que têm se sentido muito ou totalmente ansiosos correspondem a 17% dos respondentes. 22 a 25 anos 24% 26 a 29 anos 3% 30 anos ou + 2% - 18 anos 10%
18 a 21 anos 59%
20 20
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Analisando os dados pela perspectiva etária, 59% do total de estudantes mais ansiosos no CT têm entre 18 e 21 anos e 24% ocupam a faixa de 22 a 25 anos, conforme demonstrado no gráfico no canto inferior esquerdo da página. Entretanto, 58% dos estudantes do CT afirmam não ter momentos de angústia. Por outro lado, 44% afirmam pensar em muitas coisas que lhes deixam tristes. Fazendo um recorte de gênero, 24% das pessoas que disseram se sentir muito ou totalmente ansiosas são do gênero feminino e outros 76%, do gênero masculino. Pelo menos no CT, a realidade diverge das tendências globais de pesquisa que apontam as mulheres como mais propensas a sentir ansiedade.
CAPA
2
Dimensão Interpessoal
Refere-se às relações com os colegas e às competências de relacionamento em situações de maior intimidade; inclui o estabelecimento de amizades e a procura de ajuda.
1
01.
FRASES DESTA DIMENSÃO
2
01. Faço amigos com facilidade na minha universidade. 02. Meus colegas têm sido importantes para meu crescimento pessoal. 4 03. Acredito possuir bons amigos na universidade. 5 * 04. Tenho desenvolvido amizades satisfatórias com os meus colegas de curso. 05. Tenho dificuldades em achar um colega que me ajude num problema pessoal. 06. Tenho boas relações de amizade com colegas de ambos os sexos. 07. Quando conheço novos colegas não sinto dificuldades em iniciar uma conversa. 08. Sou visto como uma pessoa amigável e simpática. 09. Procuro conviver com meus colegas fora dos horários das aulas. 10. Tomo a iniciativa de convidar os meus amigos para sair. 11. Minhas relações de amizade são cada vez mais estáveis, duradouras e independentes. 12. Não consigo fazer amizade com meus colegas.
02.
3
03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12.
* Opções de respostas que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo).
A
universidade deve servir como espaço de fomento à inteligência interpessoal, que pode ser definida como o conflito de mundos: quando as nossas convicções se chocam com o mundo do outro. As relações interpessoais dizem da habilidade em lidar com o outro, com suas características diferentes, seu humor, seus pensamentos, sentimentos, com sua forma de se expressar, entre outros aspectos. Tem boa inteligência emocional quem busca conviver harmoniosamente diante desse cenário.
É nesse lugar onde muitas vezes os estudantes lidam com situações delicadas, que exigem uma postura mais madura para com professores, colegas de convivência e figuras de autoridade. Em termos relativos, quando o ambiente universitário é lugar de boas relações interpessoais, o estudante tem mais chance de se sentir integrado ao curso, melhorando seu aprendizado e reduzindo os índices de evasão. A análise da média das respostas desta dimensão, expressas no gráfico da página seguinte, mostra uma boa relação interpessoal entre
os estudantes do CT, revelando que 59% acreditam possuir bons amigos na Universidade. Ainda em relação à amizade, 41% dos estudantes afirmam que algumas vezes têm facilidade em fazer amizades e outras vezes não. Ao mesmo tempo, 67% dos estudantes que disseram concordar muito ou totalmente que não conseguem fazer amizade com os colegas que já possuem. Além disso, mais de 43% afirmam ter muita ou total dificuldade em achar um colega que os ajudem num problema pessoal.
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inforREPORTAGEM
Amizades AS AMIZADES SÃO uma importante rede de apoio aos calouros e veteranos, contribuindo no processo de adaptação à universidade, podendo inclusive reduzir os índices de evasão. Aprofundando a análise descrita anteriormente por um recorte de semestre, 40% dos estudantes do Centro de Tecnologia que disseram não conseguir ajuda num problema pessoal estão no primeiro ou segundo ano da faculdade.
Muitos alunos, por diferentes motivos, não conseguem cursar todas as disciplinas de seu semestre e acabam “perdendo” a turma, tendo de reiniciar o processo de criação de novas amizades. Outro caso comum de estudantes pertencentes à categoria de “fatoriais” acontece quando eles chegam à UFC como transferidos de outras Instituições de Ensino Superior (IES) e devem cumprir disciplinas distribuídas em vários semestres.
Essa maior incidência de respostas vindas desses anos pode ser explicada pela hipótese de que, devido aos estudantes ainda estarem se conhecendo, ainda não criaram entre si laços firmes o suficiente que os dê liberdade para contar intimidades da vida pessoal.
Luiz Henrique, estudante do quinto período de Engenharia Civil, diz que não tem dificuldades quando o assunto é resolver problemas pessoais com os amigos que fez na faculdade. Segundo ele, é comum no começo do curso os professores estimularem a interação entre os alunos, “principalmente no primeiro semestre”.
O mesmo acontece com os estudantes identificados como “fatoriais”, ou seja, aqueles que estão fazendo disciplinas de diferentes semestres. Eles representam a segunda maior porcentagem das respostas (29%) à afirmação “Tenho dificuldades em achar um colega que me ajude num problema pessoal” (ver gráfico abaixo).
1º 29%
2º 0,5%
Mas ele conta que notou um distanciamento entre os colegas de turma com o passar do tempo. “Com o decorrer do curso, já no segundo semestre, foi observado um afastamento. Até mesmo porque, devido à correria do próprio curso, tornou um pouco complicada a questão de entretenimento, de convidar o pessoal para sair, essas coisas”.
3º 11% 4º 0,5% 5º 9%
10º 5%
7º 9%
Fatorial 29%
8º 1% 9º 8%
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“Uma das coisas que eu pude observar é a questão, por exemplo, de provas. Devido à competitividade, acabava separando muito a gente. Digamos que uma pessoa de um grupo conseguia uma determinada prova, um determinado material. Aquele grupo não compartilhava com o outro justamente para tentar se sobressair na questão das notas, por exemplo. Então isso foi meio que segregando”, relata o estudante. Relações difíceis entre colegas não é algo incomum. Especialistas do assunto diferem amizade de coleguismo pela questão da presença ou ausência de acordos tácitos entre as pessoas. Enquanto na amizade existem camadas a mais de “contratos”, muitas vezes até despercebidos, no coleguismo não há. Na universidade, o coleguismo nasce de interações eventuais, provocadas, por exemplo, por trabalhos em grupo. Embora pareça existir uma certa dificuldade em encontrar um colega que ajude num problema pessoal, 45% dos estudantes afirmaram procurar conviver com os colegas fora dos horários de aula, o que indica uma busca por maior aproximação e convivência entre os pares.
CAPA
3
Dimensão Relacionamento Aluno-Professor
01. 02.
Refere-se à relação que alunos têm com professores de seu curso; a avaliação que fazem das práticas pedagógicas docentes e o estímulo que recebem para o desenvolvimento no curso. 1
FRASES DESTA DIMENSÃO
2
01. Tenho sido estimulado pelos meus professores na universidade a me desenvolver profissionalmente. 02. Gosto das aulas do meu curso de graduação. 03. Há situações em sala de aula que os professores diminuem minha autoestima. 04. Sinto-me encorajado para falar com meus professores. 05. Sinto-me feliz com a forma como meus professores me tratam.
3
03.
4
04.
5*
05.
* Opções de respostas que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo).
A
nova configuração metodológica para a sala de aula do mundo contemporâneo desloca o foco do processo de ensino-aprendizagem da figura do professor e passa a reconhecer o protagonismo discente. Somado a isso a qualidade do relacionamento entre professores e alunos também interfere na aprendizagem e no bem-estar do estudante na universidade. A dimensão que avalia a relação entre alunos e professores não existe no QVA-r original, tendo sido incluída na aplicação do instrumento no Centro de Tecnologia. Por aqui, os resultados revelam um quadro
preocupante: a maioria de todas as respostas do instrumento são negativas para a relação entre discentes e docentes na Unidade Acadêmica. O assunto também apareceu como crítica na maioria das manifestações espontâneas dos estudantes na pergunta aberta disponibilizada ao final do questionário, que pedia para que os respondentes avaliassem a experiência do QVA-r.
Química, que parecem sentir prazer em não explicar o conteúdo direito e com isso gerando altos índices de reprovação”, escreveu um estudante da Engenharia de Produção Mecânica. Os resultados da aplicação do QVA-r revelou que 51% dos alunos disseram não se sentir estimulados por seus professores para se desenvolver profissionalmente e 45% disseram não se sentir encorajados para falar com os mestres.
“O que me desmotiva às vezes nos cursos de Engenharia na UFC é essa base extremamente acadêmica e desmotivante com professores, especificamente de Cálculo, Física e
Autoestima COMO MOSTRA O gráfico na página seguinte, o maior percentual dos estudantes que concordam com a afirmação “Há situações em sala de aula que os professores diminuem minha autoestima“ vêm de “fatoriais” e estudantes do primeiro semestre, com 23% e 46% das respostas, respectivamente.
A forma como os professores advertem seus alunos em momentos de baixo rendimento da turma contribui para esse sentimento, diz Raul Gomes, estudante do quarto semestre de Engenharia Civil. “Alguns professores ficam botando um pouco de medo para a pessoa
estudar. Às vezes é bom, mas tem aluno que não se dá muito bem com esse tipo de método”, comenta. Ele completa dizendo que a prática de professores pressionar os alunos funciona para alguns, mas que outros se sentem abatidos e rebaixados.
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inforREPORTAGEM Fatorial 23% 10º 3%
1º 46%
9º 2% 8º 1% 7º 5% 5º 8%
4º 1%
4
3º 12%
Dimensão Carreira
A relação aluno-professor no CT também não dá muita abertura para proximidades. “Eu não falo com quase nenhum, só se for para tratar de algum trabalho. Mas para tirar dúvidas do próprio curso ou alguma aplicação da minha área, eu geralmente não tiro, porque eu não sinto uma proximidade com os professores que eu deveria ter para conseguir esse contato”, diz Raul. A sensação é a mesma para a estudante Evani Pereira, do décimo semestre de Engenharia Elétrica. Apesar da educação que relata que os docentes de seu curso têm com os alunos, ela enxerga uma barreira que coloca os docentes numa posição superior, desencorajando os estudantes a interagirem com eles, mesmo para tirar dúvidas. “Acho que, porque o curso é muito antigo, os professores vêm de uma outra tradição e eu acho que é difícil outra forma de chegar nos alunos”.
Refere-se à avaliação de sentimentos relacionados com o curso, as perspectivas de carreira e os projetos vocacionais dos alunos. 1
01.
FRASES DESTA DIMENSÃO
01. Acredito que posso concretizar meus valores na profissão que escolhi. 02. Olhando para trás, consigo identificar as razões que me levaram 4 a escolher este curso. 5 * 03. Escolhi bem o curso que frequento. 04. Tenho boas qualidades para a área profissional que escolhi. 05. Sinto-me envolvido com o meu curso. 06. Minha trajetória universitária corresponde às minhas expectativas vocacionais. 07. Acredito que o meu curso me possibilitará a realização profissional. 08. Escolhi o curso que me parece mais de acordo com as minhas aptidões e capacidades. 09. Sinto-me desiludido com o meu curso. 10. Meus gostos pessoais foram decisivos na escolha do meu curso. 11. Estou no curso que sempre sonhei. 12. Mesmo que pudesse não mudaria de curso. 2
02.
3
03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12.
* Opções de respostas que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo).
D
efinir objetivos de vida não é tarefa fácil porque envolve escolhas. Entre elas está a da profissão a ser desempenhada. Somada a essa natural dificuldade diante de tantas opções de ecolha, vem a pressão social, que faz com que seja comum estudantes entrarem na universidade sem necessariamente estarem matriculados no curso que realmente queriam. Isso pode implicar na falta de afinidade com a graduação e resultar na evasão.
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No CT, as respostas ao QVA-r mostram que a maioria dos estudantes (61%) escolheu o curso de graduação com base em suas aptidões e capacidades, tendo os gostos pessoais sido decisivos nesta escolha para 66% dos respondentes. Além disso, a 45% deles disseram estar onde sempre quiseram em relação à escolha do curso em que hoje estão matriculados. Do total, 42% dos estudantes da Unidade Acadêmica sentem-se envolvidos com o seu curso de graduação.
CAPA
Relação com o curso DOS PARTICIPANTES DA pesquisa, 46% disseram concordar muito ou totalmente com a assertiva “Sinto-me desiludido com meu curso”. Os percentuais dispostos nos gráficos abaixo foram calculados considerando apenas essa resposta em relação ao próprio curso do respondente. Os cursos de Design, Engenharia de Produção Mecânica e Engenharia de Petróleo foram os que tiveram maior quantidade de estudantes que concordaram com a assertiva ao responder ao QVA-r. Do total de 18 estudantes do curso de Design que responderam ao QVA-r, 12 (67%) concordam com a afirmativa acima. Na Engenharia de Produção Mecânica, 21 estu-
dantes (64%) disseram concordar muito ou totalmente com a frase, enquanto que na Engenharia de Petróleo, o grau de concordância foi expresso por 5 estudantes (56% do total de respondentes). Note que esses três cursos aparecem entre os melhores colocados no gráfico que avalia a escolha da graduação em que os respondentes frequentam, revelando uma aparente contradição: como é possível um estudante acreditar que escolheu bem o curso que frequenta e ao mesmo tempo se sentir desiludido com o mesmo curso?
ESCOLHI BEM O CURSO QUE FREQUENTO
01.
01.
02.
02.
03.
03.
04.
04.
05.
05.
06.
06.
07.
07.
08.
08.
09.
09.
10.
10.
11.
11.
12.
12.
13.
13.
40%
50%
Isso significa que os resultados expressados no gráfico são válidos para o universo dos respondentes, mas não necessariamente para a realidade dos cursos, pela insuficiência de representação de estudantes por curso nas respostas à pesquisa.
Uma das hipóteses que justifica a situação é pluralidade semântica da palavra “curso”, que pode ser
SINTO-ME DESILUDIDO COM MEU CURSO
30%
interpretada, na segunda afirmação, como “área” ou “profissão”. Ou seja, os alunos estão satisfeitos com a escolha da área que estudam, mas na prática se desiludiram com a estrutura dos cursos que frequentam, em especial nessas três graduações.
60%
70%
40%
50%
60%
70%
80%
01. Arquitetura e Urbanismo; 02. Design; 03. Eng Ambiental; 04. Eng Civil; 05. Eng de Computação; 06. Eng de Energias Renováveis; 07. Eng de Petróleo; 08. Eng de Produção; 09. Eng de Telecomunicações; 10. Eng Elétrica; 11. Eng Mecânica; 12. Eng Metalúrgica; 13. Eng Química.
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inforREPORTAGEM SINTO-ME DESILUDIDO COM MEU CURSO
ESCOLHI BEM O CURSO QUE FREQUENTO Concorda
Concorda 46%
59%
Discorda ou concorda parcialmente 54%
Discorda ou concorda parcialmente
5
41%
Dimensão Estudo
Refere-se a hábitos de estudo e à gestão do tempo; inclui as rotinas de estudo, a utilização de recursos de aprendizagem e a preparação para os testes. 1
01.
FRASES DESTA DIMENSÃO
01. Administro bem meu tempo. 02. Faço um planejamento diário das coisas que tenho para fazer. 3 03. Consigo ter o trabalho escolar sempre em dia. 4 04. Sei estabelecer prioridades no que diz respeito à organização do 5 * meu tempo. 05. Faço boas anotações das aulas. 06. Consigo ser eficaz na minha preparação para as provas. 07. Procuro sistematizar/organizar a informação dada nas aulas. 08. Tenho capacidade para estudar. 09. Sou pontual na chegada às aulas. 2
02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 10/15
* Opções de respostas que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo).
09.
A
entrada na universidade é um momento distinto na vida dos estudantes: ao mesmo tempo que representa uma importante conquista, traz novos desafios. Diferentemente do ensino médio, no ensino superior é necessário que o estudante seja mais autônomo e corresponsável pela sua aprendizagem. Nos cursos de Engenharia, há também um aumento do conteúdo e da complexidade de matérias que o aluno achava que dominava no
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Ensino Médio, como Matemática, Física e Química, o que muitas vezes pode gerar frustração e dificuldade de adaptação ao curso.
ser desafiador na sociedade contemporânea, onde a presença das tecnologias concorrem para desviar a atenção.
Além disso, a metodologia de ensino e as formas de avaliação adotadas pelos docentes na universidade são diferentes daquelas as quais os estudantes estavam acostumados nas escolas.
Na análise geral da dimensão Estudo do Questionário de Vivências Acadêmicas, o ponto que mais se sobressalta é que a grande maioria dos estudantes se julga capaz de estudar (78% das respostas), mas 38% pecam por não manter trabalhos escolares em dia. Ainda, 38% dos estudantes não conseguem administrar bem o seu tempo.
Assim, para acompanhar o novo ritmo, é necessário ter disciplina, organização e foco, o que pode
CAPA 2º 1%
3º 14%
Organização
1º 24%
5º 12% 7º 5% 8º 1% 9º 10%
Fatorial 27%
6
COM EXCEÇÃO DO nono e décimo semestres, todos os estudantes que responderam ao QVA-r tendem a não se planejarem diariamente para a realização de suas pendências. Daqueles que fazem, que corresponde a 37% das respostas, a maioria são “fatoriais” (27%), seguidos por estudantes do primeiro (24%) e terceiro (14%) semestres, de acordo com o gráfico ao lado.
10º 5%
Dimensão Institucional
Refere-se à apreciação da instituição de ensino frequentada; inclui os sentimentos relacionados à instituição, o desejo de permanecer ou mudar de instituição, conhecimento e apreciação da infraestrutura. 1
01.
FRASES DESTA DIMENSÃO
01. Mesmo que pudesse não mudaria de universidade. 02. Gosto da universidade em que estudo. 03. Conheço bem os serviços oferecidos pela minha universidade. 4 04. Gostaria de concluir o meu curso na instituição que agora 5 * frequento. 05. A minha universidade não me desperta interesse. 06. A biblioteca da minha universidade é completa. 07. Simpatizo com a cidade onde se situa minha universidade. 08. O meu curso tem boa infraestrutura. 2
02.
3
03. 04. 05. 06. 07.
* Opções de respostas que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo).
08.
A
integração do estudante à universidade é um importante fator motivador para a continuidade ou desistência do curso. Essa integração se refere à percepção sobre o grau de sua congruência pessoal com as atitudes, valores, crenças e normas da comunidade universitária. Para analisar a integração do estudante à vida acadêmica considerando a instituição em que estuda, não apenas variáveis diretamente ligadas ao campus e estrutura de serviços oferecidos
pelas IES devem ser consideradas, mas também a sua relação com a cidade e o transporte, por exemplo. Analisando as respostas desta dimensão, observa-se que 53% dos estudantes avaliam que seu curso tem uma boa infraestrutura e 57% simpatizam com a cidade de Fortaleza. A dimensão Institucional é composta por dados em sua maioria positivos, revelando que os estudantes da Unidade Acadêmica em geral gostam da UFC. A
Universidade Federal do Ceará é uma das mais prestigiadas no país, sendo a melhor universidade da região Norte-Nordeste entre instituições públicas e privadas, de acordo com o ranking do Ministério da Educação (MEC) divulgado em novembro de 2017. Isso se reflete nas respostas dos estudantes. Do total dos respondentes, mais de 46% disse não ter interesse em mudar de instituição, mesmo se pudesse. Ainda, de todas as dimensões analisadas, a afirmação com o
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inforREPORTAGEM número mais expressivo de avaliações 5 na escala de Likert (tudo a ver comigo, totalmente de acordo, acontece sempre) diz do desejo do estudante de concluir o curso na Universidade em que está, computando 57% das respostas. Se somada com as avaliações 4 na escala (muito de acordo), esse número chega a 80%.
Discriminação de gêneros que não se sentem atraídos pela UFC
Masculino 38%
Interesse APESAR DE 64% dos estudantes terem afirmado que gostam da Universidade Federal do Ceará, 60% consideram que a instituição não os desperta interesse. O gênero masculino é o que mais concorda com isso, contabilizando 38% das respostas, enquanto que o percentual de concordância feminina para o caso é de 23%, conforme o gráfico ao lado.
Gêneros feminino e masculino que se sentem atraídos pela UFC 40%
Para não concluir
O
s esforços para melhorar a qualidade da vida acadêmica no Centro de Tecnologia não se esgotam mesmo na realização de ações relevantes, como a aplicação do Questionário de Vivências Acadêmicas em sua versão reduzida. O empenho contínuo reclama a necessidade de aprofundamentos e acompanhamento das ações que já estão em funcionamento, realizados junto a todos e todas que fazem a Universidade. Para maior divulgação dos resultados do QVA-r aplicado no CT, bem como para melhor compreender as respostas dos estudantes, o Núcleo de Orientação Educacional realizará reuniões segmentadas, dispostas ao lado. “A partir do conhecimento dos diversos dados obtidos com a aplicação do QVA-r, que permitem entender melhor como se dá a vivência acadêmica dos
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estudantes no CT, o NOE intenciona levar as demandas levantadas para os setores da Universidade que possam atendê-las, assim como implementar novas ações no âmbito do CT a fim de melhorar a qualidade da vida acadêmica dos alunos”, explica a coordenadora do NOE, Yangla Oliveira.
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Estudantes O objetivo será tanto divulgar os resultados como também ouvir os estudantes para melhor compreensão das respostas ao QVA-r.
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Gestão
Os resultados da pesquisa serão apresentados para o Conselho do Centro de Tecnologia. A iniciativa deve ajudar outras áreas da instituição, como próreitorias, por exemplo.
Comunidade Acadêmica
A apresentação e debate dos resultados serão estimulados em seminário aberto a toda comunidade acadêmica do CT, evento que será amplamente divulgado.
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XIII SEMANA D E TECNOLOGIA DA UFC
O AVANÇO TECNOLÓGICO NA REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES
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FOTO/ LUCAS CASEMIRO
PERFIL
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Para reparar o valor do mundo Por Lucas Casemiro
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o seio daquilo que é novo, encarar um grande medo como um imenso desafio. Diante de novos tempos – e que se diga, não necessariamente tempos bons –, mais que dizer: agir. Em frente do novo com cheiro de velho, é preciso reparar o mundo para que se caminhe para frente, para que não se dê passos retrógrados: em nossa casa, nas praças, nas instituições públicas, nas universidades. Perguntam como se faz ética nos dias de hoje. A resposta? Com o fundamento das pequenas coisas com propósito. Essa que parece envolver de ponta a ponta o Centro de Tecnologia da UFC. Se a nós fosse dada a chance de arriscar qualquer conjecturação sobre a essência do CT, talvez a alternativa mais próxima da realidade seja a de que o nosso Centro é feito por uma rede de colaboração que atravessa gerações e gerações de gente empenhada em melhorá-lo diariamente. Uma dessas pessoas é visivelmente Francisco Ernani Abreu Gadelha. Sim, o querido e por vezes cabeça-dura Seu Gadelha, na medida da complexidade humana.
o problema da lâmpada. Diz-se de alguém tão intimamente ligado ao CT que literalmente conhece por onde passa todas as suas tubulações. Talvez até mesmo no escuro. O supervisor de manutenção do Centro de Tecnologia diz ter chegado em seu “segundo lar” há 35 anos, quando tudo, inclusive o próprio CT, era ainda muito jovem. Entre realocações na Prefeitura do Campus do Benfica e na Imprensa Universitária, ele permanece como funcionário exclusivo desta unidade acadêmica desde que o então professor Alexandre Diógenes teve a ideia de criar um apoio técnico para o CT. Seu Gadelha chegou e foi ficando para pôr ordem na casa ao cumprir as inúmeras demandas de
“O trabalho é sentido quando ele completa a pessoa. E hoje eu me sinto completo aqui. uma nova era.
Num crepúsculo ordinário, o homem de 56 anos não reclama de trabalhar mesmo quando já tem cumprido seu horário. Uma lâmpada já vagabunda incandeia a sala de aula tal qual vagalumes, num pisca-pisca fora de época natalina. Chama o Seu Gadelha! – logo dizem. Uma estrela no céu, uma ordem de serviço na mão. Lá vai Seu Gadelha resolver
Demandas que multiplicaram-se anos depois, quando o professor Jesualdo Farias resolveu criar uma estrutura maior para o CT. “Houve uma explosão de ensino no Centro de Tecnologia”, comenta. Ele narra com orgulho e com um “Q” de saudade o momento de expansão e interiorização da UFC. Ampliou-se
a quantidade de novos cursos, de novas salas, de novas sedes. Inflouse a infraestrutura, veio o momento da terceirização de funcionários e uma equipe maior para coordenar. Com isso, novos desafios diários. Hoje, ajudado pela equipe de onze pessoas que supervisiona, chega a atender por mês cerca de 120 ordens de serviço. Nas férias acadêmicas é quando trabalham mais, para aproveitar as salas de aula vazias. Solícito, seu Gadelha sempre ajuda com o que pode. E às vezes com o que não pode também. Talvez isso explique o fato de ele passar mais tempo no CT que em sua própria casa. Mas o tempo de fartura passou. Os desafios aumentaram. Agora, ele vem tentando dar o seu melhor dentro das limitações desses nossos novos tempos, ensinando sábias filosofias. “Tem gente que diz pra deixar os problemas do trabalho em casa. Não dá para deixar os problemas de casa fora do trabalho porque ninguém tem duas cabeças”, dispara curiosa reflexão. Se carregamos para os espaços, incluindo o de trabalho, o peso das injustiças e também das coisas positivas, Seu Gadelha trouxe para o CT a luta, a participação política realizada no dia a dia, a vontade de transformação. Ele trabalha com afinco, de forma tão organizada que chega a ser perfeccionista. Quer tudo no lugar e hora certos: os serviços devem ser executados da melhor maneira
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possível, gerando até mesmo um estresse quando algo não está de acordo com seu senso de perfeição – característica que vem matutando trabalhar em si. Mas toda essa exigência de um trabalho bem feito tem nome. Amor. Esse é o fundamento das pequenas coisas com propósito. Mesmo uma função humilde, que às vezes passa despercebida, faz toda a diferença quando é guiada pela prudência. “O trabalho é sentido quando ele completa a pessoa. E hoje eu me sinto completo aqui.”
Seu Gadelha ama o ofício, ama o Centro de Tecnologia e a Universidade Federal do Ceará. Foi atuando no Centro que teve a oportunidade de estudar mais, tendo graduado-se em Gestão do Ensino Superior e especializado-se em Gestão Universitária, ambos os cursos oferecidos a funcionários públicos pelo governo federal. Ali aprendeu uma noção de responsabilidade social que todo cidadão deveria ter com a coisa pública. Tanto afinco nesse trato reclama dedicação e cobrança de um trabalho bem feito – questão de consciência ética e política. A consciência da necessidade de se fazer o que tem de ser feito com uma postura autônoma diante da escassez. Ele pede mais dedicação de todos os funcionários, inclusive dele próprio, “para honrar o dinheiro que o povo nos paga”, recomendando a “otimização dos recursos” e o bom atendimento ao público.
Entretanto, isso não é tudo. Francisco Ernani Abreu Gadelha tem ainda muito a fazer enquanto pai e esposo, ciclista, coordenador de projetos da igreja, servidor do Centro de Tecnologia e pessoa multifacetada que é, atuando em outros espaços. Mas por aqui e por enquanto, se aposentar for preciso, não quer. Mais da metade da vida dedicada à UFC e prefere fazer o que melhor sabe, permanecendo no CT quanto tempo for necessário. Essa experiência acumulada ao longo da vida converge agora num esforço, segredo revelado em seus olhos: todo verbo conjugado no futuro se constrói no presente. É preciso agir agora para mudarmos o amanhã. Um agir que repara, às vezes literalmente, as coisas que precisam ser reparadas. E ele sabe disso.
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Ele fala, e fala muito. Fala de desesperança com a esperança de ascender o fogo que aquece e agita a passividade tão confundida com calmaria de que é feito nosso
mundo hoje. É que antes, quando alguma ameaça de prejuízo rondava o Centro, Seu Gadelha relembra que havia intensa mobilização da comunidade acadêmica. Hoje “falta cidadania política. Parece que temos uma sociedade menos questionadora”, lamenta.
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PESQUISA
PESQUISA TRAÇA DIAGNÓSTICO ACÚSTICO DE ESCOLAS FORTALEZENSES A PARTIR DO RUÍDO DO TRÂNSITO Entenda como a poluição sonora pode interferir na saúde e desempenho escolar de crianças e adolescentes
A
s grandes cidades já não dormem. Por onde quer que se vá, informações sensoriais variadas disputam atenção. Entre elas está o ruído proveniente da rua, mais especificamente dos modais de transporte. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o impacto acústico do transporte nos tecidos urbanos é o segundo maior poluidor ambiental do mundo em grandes metrópoles, atrás apenas da poluição atmosférica. Cientes disso, pesquisadores vinculados ao Centro de Tecnologia da UFC estudam a situação acústica de escolas de Fortaleza e a forma como isso vem atingido a educação de crianças e adolescentes. A pesquisa foi dividida em duas etapas. A primeira delas, que consistiu em um diagnóstico
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acústico de três escolas da capital cearense, foi publicada em março deste ano na revista Canadian Acoustics, periódico de maior autoridade global no assunto. A segunda etapa se debruçará na investigação da relação do ruído com fenômenos psicológicos na esfera educacional. O estudo do impacto do ruído sonoro causado pelo trânsito não é algo novo. Mas a pesquisa aplicada à realidade fortalezense revela que as instituições públicas de ensino básico na cidade seguem o exemplo nacional e apresentam proteção acústica precária. É o caso de uma escola na Avenida João Pessoa, que além de sofrer pela desagradável interferência sonora do tráfego de veículos, também é afetada pelo barulho do metrô e de aviões, por estar
localizada abaixo da rota do trânsito aéreo da cidade. Na primeira etapa, o estudo traçou o impacto do ruído sonoro em escolas com realidades distintas do ponto de vista acústico e do nível de escolaridade, abrangendo crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos. Para não identificálas de forma tão explicita, os pesquisadores se referiram às escolas pela numeração de 1 a 3. Enquanto a escola 01, que trabalha com educação infantil, está localizada numa região pacífica da cidade e com baixo fluxo de trânsito, as escolas 02 e 03, respectivamente de nível fundamental II/médio e fundamental II, recebem maiores quantidades de ruído, sendo a escola 02 a mais afetada (ver mapa acima).
PESQUISA MAPAS DE RUÍDO As imagens ao lado, elaboradas pelo software CadnaA, mostram as variações acústicas no ambiente onde se localizam cada uma das escolas analisadas. Para a elaboração fidedigna dos gráficos, foram considerados vários fatores que influenciam na propagação do som, como a vegetação, absorção atmosférica, reflexão e difração, objetivando quantificar a atenuação causada por barreiras e reflexão de superfícies opostas. O estudo revelou que o barulho observado em todas as escolas estavam acima do valor permitido pela legislação nacional e internacional, mesmo na escola 01, localizada em um bairro relativamente quieto. Neste caso, o maior barulho veio de dentro da própria escola, e não de fontes externas a ela. Isso justifica-se pela arquitetura do prédio, que é acusticamente inadequada, e pela série (a escola trabalha com educação infantil).
De cima para baixo, mapas do ruído da área das escolas 01, 02 e 03.
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Impactos
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iferente de outros tipos de poluição, a sobreposição de sons indesejáveis não se acumula no meio ambiente de forma tão perceptível. Isso porque, quando o ruído sonoro é constante, nosso cérebro algumas vezes se acostuma com o barulho e passa a ignorá-lo. O ruído sonoro causa vários danos ao corpo e à qualidade de vida das pessoas, bem como na fauna e flora. Além dos danos à audição, como a perda auditiva e o zumbido no ouvido, existem também os efeitos extra auditivos, tais como perturbação e desconforto, o prejuízo cognitivo (principalmente
em crianças) e até mesmo a ocorrência de doenças cardiovasculares. Na sala de aula, o barulho médio deve estar entre 45 dB (ideal) e 60 decibéis (aceitável) para que não cause prejuízos a alunos e professores. Níveis acima de 80 dB podem causar agressividade e retração em crianças. O ruído é um estressor que aumenta a dificuldade de compreensão auditiva e de leitura de alunos e ocasiona dispersão de atenção e irritabilidade, comprometendo assim a comunicação. Para os professores, a poluição sonora dentro do ambiente de trabalho é também onerosa.
GRÁFICO 01 Você percebe problemas associados ao barulho em seu local de trabalho? ESCOLA 01
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NÃO
Diante de uma interferência sonora externa, para se fazerem ouvidos eles muitas vezes aumentam o tom de voz em sala de aula. Isso justifica o fato de o barulho ser o fator que mais causa doenças relacionadas ao trabalho, como rouquidão, dor de garganta e lesão das pregas vocais. Os pesquisadores aplicaram um questionário padronizado para sete professores de cada escola, contendo questões com foco no impacto da poluição sonora na saúde do professor e no desempenho estudantil. Em seguida, uma breve entrevista foi feita para que os profissionais fizessem observações adicionais concernentes ao problema. As entrevistas representam uma amostra de 88%, 58% e 55% do corpo docente das escolas 01, 02 e 03, respectivamente. No caso das escolas analisadas, os professores relataram problemas frequentes com distração, agitação e falta de concentração durante as aulas, fazendo-se necessário aumentar a voz em alguns casos, conforme o gráfico 01. Na escola que atende o nível infantil (escola 01), 100% dos professores observam que os problemas de saúde estão associados a ambientes de trabalho barulhentos. Na escola 02, esse número foi de 57% e na escola 03, apenas 33% dos professores não associam problemas de saúde ao ruído sonoro (GRÁFICO 02). Segundo Ivan Ary, professor do Departamento de Engenharia de Transportes (DET) do Centro de Tecnologia e um dos responsáveis pela pesquisa, juntamente ao professor Mário Filho, do Departamento
PESQUISA de Engenharia Hidráulica e Ambiental (DEHA), o ruído atinge a qualidade de vida humana a médio e longo prazos, podendo causar nas crianças irritabilidade, dispersão e isolamento, entre outras consequências, contribuindo para a diminuição do potencial intelectual delas.
oportunidades. “Principalmente num país como o nosso, onde as escolas públicas têm pouca infraestrutura de proteção. Aí nesse ponto é que efetivamente a gente está se concentrando, porque isso repercute não só na saúde do aluno, mas na sociedade como um todo”, coloca Ivan Ary.
O estudo focou na linha educacional por os pesquisadores entenderem que o ruído é mais um fator que ocasiona desigualdade de
O professor endossa que quando a escola não está adequada no sentido acústico, o ruído cria “um elemento de injustiça social” ao limitar oportunidades.
Segunda Etapa
A
segunda etapa da pesquisa, com duração de três anos, consiste em estudar a relação entre poluição sonora e desempenho escolar de estudantes ao longo dos anos. Na primeira fase, com conclusão prevista para o final de 2019, os pesquisadores fazem um mapeamento de 25 escolas públicas localizadas em Fortaleza e realizam um trabalho de modelagem para identificar aquelas mais afetadas pelo ruído dos transportes. A partir daí, será escolhida uma instituição para transformá-la em escola-modelo de proteção acústica, que funcionará como um “laboratório” para a pesquisa. O estudo será realizado em convênio e parcerias com os órgãos públicos de planejamento urbano e secretarias de educação do estado e município, com a iniciativa privada em suas mais diversas áreas, além de tentar interagir com outras universidades que já pesquisam formas de atenuar o ruído dos transportes.
Ainda, os pesquisadores procuram fazer convênio com outros pesquisadores da área médica ligada a esse problema, para que seja feito um diagnóstico anual das escolas observadas pelo estudo. “O que concluímos na primeira etapa foi que eles [impactos acústicos] são extremamente significativos. Mas não temos a mensuração feita com base em levantamentos que precisam ser aprofundados no aspecto de um diagnóstico médico”, comenta o professor Ivan Ary. Ele lembra, por fim, que apenas o melhoramento acústico não é o suficiente para ajudar as crianças em seu desempenho escolar, uma vez que existem outras problemáticas sociais que são estressantes em outros aspectos e que a pesquisa não pode controlar, dentre eles o problemas violência escolar. “Nosso ponto é muito específico, que é o impacto dos transportes nas escolas. E ele é geral. Agora vamos ter o cuidado para ter a sensibilidade para que esse diagnóstico referente a acústica possa ser triado.”
Responsabilidade
O
barulho de uma moto ligada e acelerando, de um caminhão e de uma buzina de automóvel estão entre os maiores poluidores que extrapolam o limite sonoro aceitável para a saúde humana. A poluição sonora é caracterizada por uma sobreposição de sons indesejáveis que causam perturbação. A legislação sobre a problemática tem como objetivo garantir o sossego, do trabalho e da saúde, em qualquer horário. Sua fiscalização é de responsabilidade das prefeituras municipais e entidades ambientais e de gestão de trânsito. No caso de Fortaleza, a Lei nº. 8097 especifica um limite de 55 decibéis na escala de compensasão A durante o dia ou 50 dB(A) durante a noite para ruídos emitidos por máquinas, motores, compressores e geradores estacionários. Para outros tipos de barulho, como altifalantes, o limite é de 70 dB(A) para o dia e 60 dB(A) para a noite. A OMS considera a poluição sonora um problema de saúde pública. Sendo assim, a questão exige uma responsabilização pública, que pode ser feita a partir de um plano de ordenação da estrutura acústica urbana. São técnicas que trazem, além da amenização de ruídos indesejáveis, benefícios como conforto, melhoria da qualidade de vida e prevenção de doenças. Dessa forma, o estudo destaca a importância da implementação de políticas públicas contra a poluição sonora ambiental estritamente relacionadas a escolas infantis.
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_Pisicologia Educacional_
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INTEGRAÇÃO ACADÊMICA EM DEBATE – DIÁLOGOS SOBRE EDUCAÇÃO SUPERIOR E PERTENCIMENTO Referências internacionais em Educação, pesquisadores comentam sobre metodologia que avalia integração de estudantes a IES
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Questionário de Vivências Acadêmicas em sua versão reduzida (QVA-r) é uma ferramenta relevante para que as Instituições de Ensino Superior (IES) entendam as dores de seus alunos e assim possam orientá-los rumo à permanência. A versão integral do questionário (QVA), mais extensa, foi desenvolvida em Portugal pelo professor Leandro Almeida e posteriormente adaptada à realidade brasileira pela professora Acácia Santos, figuras de renome internacional na área de Psicologia da Educação. A CT News conversou, por e-mail, com os dois catedráticos com vistas a melhor elucidar a ferramenta, aplicada ao Centro de Tecnologia no primeiro semestre do ano.
CT News – O que os motivou a desenvolver o Questionário de Vivências Acadêmicas (QVA)?
CT News – O que o QVA traz de inovador em relação a outras metodologias de pesquisa?
Leandro Almeida – A diversidade de estudantes que hoje ingressam no ensino superior deixa antever que alguns deles apresentarão dificuldades na sua adaptação académica. Por outro lado, essas dificuldades podem ter a ver com muitos fatores, como saudade de casa e dos amigos, métodos pedagógicos dos professores, falta de métodos eficazes de estudo, pouca autonomia para gerir seus recursos económicos. Então este questionário, aplicado nas primeiras semanas de aulas, permitira sinalizar estudantes vivenciando dificuldades e quais essas dificuldades para se poder intervir e apoiar os estudantes em função das suas necessidades.
Almeida – Para se proceder a uma avaliação em larga escala, por exemplo todos os estudantes que ingressam numa instituição, importa ter um questionário que possa ser aplicado com facilidade a todos esses alunos. Acácia Santos – Os estudos no Brasil com o QVA-r têm ajudado a identificar aspectos importantes de como ocorre o processo de adaptação acadêmica. Em razão disso alguns pesquisadores dos dois países, incluindo os criadores do QVA-r se propuseram a criar um outro instrumento: o Questionário de Adaptação ao Ensino Sperior (QAES). Os estudos de validação
“O ensino superior necessariamente coloca desafios aos seus estudantes. Não se trata de eliminar as exigências mas assumir que alguns estudantes podem ingressar com níveis de competência e autonomia mais reduzidos” – L.A
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estão em fase de conclusão em ambos os países e comparação dos dados com os estudantes de lá e daqui mostra a possibilidade de o questionário ser usado com os mesmos 40 itens. CT News – Em que aspecto sua utilização é mais indicada? Almeida – O questionário pode ser aplicado com maior utilidade após os estudantes estarem pelo menos com um mês de aulas. Nessa altura, o estudante começa a sentir certas dificuldades na sua adaptação como não ultrapassáveis. O ensino superior necessariamente coloca desafios aos seus estudantes. Não se trata de eliminar as exigências mas assumir que alguns estudantes podem ingressar com níveis de competência e autonomia mais reduzidos precisando se serem apoiados na sua adaptação. CT News – Qual a importância dessa ferramenta para as universidades?
de “A diversidade e estudantes qu m no hoje ingressa r ensino superio deixa antever les que alguns de apresentarão a dificuldades n o sua adaptaçã académica.” – L.A
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Almeida – Geralmente as dificuldades de adaptação dos estudantes, não sendo ultrapassadas, consolidam-se em dificuldades permanentes e isso vai afetar negativamente o seu investimento acadêmico. Sem este investimento, o estudante com alguma facilidade entra em situação de insatisfação e insucesso académico, podendo inclusive abandonar o ensino superior. As universidades podem ter a preocupação de sinalizar os estudantes com maiores dificuldades na sua adaptação acadêmica e apoiar os alunos nas dificuldades que vivenciam. CT News – A primeira versão do QVA é composta por 170 itens, sendo um tanto extenso. Esse fato resultou na elaboração do Questionário de Vivências Acadêmicas-Reduzido (QVA-r). Que critérios foram considerados para que se fizesse esse enxugamento? Leandro Almeida – A versão do QVA agiliza a sua aplicação. O questionário fica agora reduzido nos aspectos que avalia, contudo para efeitos de sinalização podem ser mais que suficientes. Por outro lado, alguns estudantes verbalizavam que o questionário era demasiado extenso e que em vários itens se perguntam as mesmas coisas ou coisas muito similares. A redução do número de itens faz diminuir o risco de alguns estudantes, com o cansaço, poderem responder aos itens de forma pouco séria e retirando validade aos resultados obtidos. Santos – O QVA em sua versão completa também foi utilizado no Brasil no início da década de 2000. No entanto, observamos por aqui as mesmas dificuldades em relação aos
muitos itens do questionário. Sem dúvida a aceitação e o interesse em responder o QVA-r é bem maior. CT News – Por que motivo o QVA-r não contempla a dimensão “professor-aluno” para a análise da situação dos estudantes? Santos – A relação professor-aluno é muito relevante no processo de adaptação dos estudantes ao ensino superior. Mesmo não havendo uma dimensão específica para essa relação, é certo que na dimensão relacionada com o curso aparece algum item sobre as aulas e o feedback dos professores pela sua importância para a satisfação do estudante e seu sucesso acadêmico. CT News – Como se deu o processo de elaboração do instrumento, em suas versões original e reduzida? Que desafios encontraram no percurso? Almeida – Foi importante auscultar os estudantes sobre as dificuldades que vivenciavam procurando assim que as perguntas colocadas tivessem muito a ver com as suas dificuldades concretas. Este esforço também ocorreu na adaptação do QVA-r para os estudantes brasileiros. Neste caso, foram introduzidas mudanças na formulação e alguns itens e outros foram suprimidos, ou outros acrescentados, pois as realidades acadêmicas no Brasil e em Portugal têm as suas especificidades. CT News – Considerando casos de seu conhecimento em que o QVA-r foi aplicado a estudantes brasileiros, que semelhanças e diferenças apresentam os estudantes do Brasil em relação aos de Portugal, em aspectos gerais?
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Almeida – É sempre difícil comparar dados de dois países quando as realidades institucionais e escolares são diferentes. Veja-se por exemplo que em Portugal aproximadamente 50% dos estudantes que ingressam no ensino superior não conseguem entrar no curso que desejariam pois existe um sistema bastante apertado de “numerus clausus” para certos cursos, tendencialmente mais prestigiados socialmente como a medicina e a arquitectura. Claro que quem não entra nestes cursos e tem médias de acesso vai ocupar as vagas de farmácia ou engenharia civil e afasta os estudantes que, querendo estes cursos, têm médias de acesso mais baixas. Santos – No Brasil a realidade do ensino superior em muitos pontos se aproxima da de Portugal visto que também há cursos muito mais concorridos do que outros. Dessa forma, muitos estudantes também não conseguem entrar no curso de sua preferência. Ademais, o QVA-r, ao ser adaptado para o Brasil, manteve a estrutura da versão original de Portugal, com a perda de cinco itens que não fizeram sentido para os estudantes brasileiros. Isto mostra que o processo de adaptação ao ensino superior e as vivências dos estudantes em ambos os países têm muitas semelhanças. CT News – Quando o QVA foi divulgado pela primeira vez, o debate sobre o rendimento acadêmico nas universidades era ainda muito tímido. Após o desenvolvimento e divulgação do questionário, os senhores identificaram uma atenção maior ao tema na agenda de discussões acadêmicas? Almeida – Sim, as universidades brasileiras e portuguesas estão cada vez mais atentas às formas de
“ Temos observado maior interesse nas IES brasileiras em criar formas para conhecer mais os estudantes por ocasião do seu ingresso.” – A.S acolhimento dos seus estudantes, procurando que estes se envolvam e tenham sucesso no seu curso. A nível do ensino público, aluno que abandona deixa de contar para o financiamento da instituição. Santos – Temos observado maior interesse nas IES brasileiras em criar formas para conhecer mais os estudantes por ocasião do seu ingresso. Sabendo que o abandono ocorre especialmente nos primeiros semestres, a disposição em criar mecanismos para observar os estudantes nesse período tem aumentado.
as dificuldades de adaptação dos estudantes que ingressam no ensino superior, as instituições podem contribuir para reduzir as taxas de insucesso e de abandono dos estudantes, reconhecendo-se pela investigação internacional que tais taxas são mais elevadas precisamente juntos dos estudantes do 1º ano e traduzem o impacto das suas dificuldades de adaptação acadêmica. Santos – Concordo inteiramente com o professor Leandro. Embora não se possa afirmar que haja uma relação direta, conhecendo mais sobre os estudantes ingressantes é possível criar-se formas para ajudálos na transição do ensino médio para a universidade. Além disso, o uso do instrumento possibilita identificar em quais aspectos está havendo maior dificuldade, dando elementos para que as IES criem alternativas para minimizá-las. Muitos programas de intervenção têm sido criados com base na identificação dessas dificuldades.
CT News – Comentem sobre a relação entre o QVA e a democratização do Ensino Superior. Almeida – Não se pode estabelecer uma relação direta entre qualquer questionário que seja e as políticas de ensino superior. O que se sabe é que existem maiores oportunidades de acesso, também traduzido em maior democraticidade do acesso, do que igualdade de oportunidades de se obter sucesso no ensino superior. Conhecendo
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FALA, ALUNO SOLIDARIEDADE
UM PROJETO QUE TRANSFORMA VIDAS ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AO DESENVOLVER CONSCIÊNCIA SOCIAL EM GRADUANDOS A CT News conversou com integrantes do Pró-ExaCTa para conhecer mais de perto o projeto que ajuda estudantes de escolas públicas a ingressar na UFC
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etribuir na mesma medida, gratuita e qualificadamente, o que também recebem de graça. Essa é a filosofia do Programa de Aprofundamento em Ciências Exatas — Pró-ExaCTa, projeto extensionista composto por 36 graduandos dos sete Programas de Educação Tutorial (PET) do Centro de Tecnologia. Ao longo de oito anos, o Pró-ExaCTa vem ajudando estudantes de escolas públicas a ingressar no ensino superior. Mas antes de oferecer um ensino conteudista, a maior alua aprendida no projeto chama-se solidariedade. O resultado é transformação que inspira. Antes mesmo do período letivo 2018.2 da graduação presencial iniciar na UFC, na manhã de sábado do dia 4 de agosto eles já estavam reunidos para aprimorar os conhecimentos em Física, Química, Matemática e Redação. De um lado, alunos regularmente matriculados em escolas públicas e concludentes com até três anos de formados, todos interessados em gabaritar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De outro, estudantes da graduação ansiosos por impactar, ao menos minimamente, a vida desses jovens. Criado em 2010, o PróExaCTa contribui no combate ao fenômeno da distorção
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histórica que acomete a educação brasileira, a qual leva estudantes de escolas públicas a ocuparem as últimas colocações no processo de admissão no ensino superior em universidades públicas. “Os alunos integrantes do projeto adquirem um maior conhecimento sobre tais áreas de uma forma mais aprofundada do que as comumente vistas em suas escolas, por conta de o tempo total de uma aula ser de cerca de 100 minutos, o que representa duas aulas seguidas nas escolas da rede pública”, comenta Dylan Sousa, estudante de Engenharia Metalúrgica e coordenador da disciplina de Física do PróexaCTa. Isso faz com que os alunos conheçam a duração de uma aula na UFC, aproximandoos ainda mais da experiência do nível superior. Assim, estudantes que geralmente não podem pagar por cursinhos pré-vestibulares tradicionais têm a oportunidade de acessar aulas de qualidade. A simples participação destes no projeto contribui, às vezes mesmo sem que percebam, para o aprimoramento das habilidades pedagógicas e de comunicação dos petianos, bem como para o despertar da consciência social deles. Isso tudo aconteceu com Lucas Abdis, estudante de Engenharia
Química e coordenador da disciplina de Redação do Programa. “Sem dúvida alguma o mundo seria bem melhor se as pessoas tivessem e desfrutassem a oportunidade de compartilhar o conhecimento e aprender o altruísmo. Sou muito grato pelo privilégio de participar do projeto, contribuir com o pouco que tenho sido ensinado e aprender com todos os que fazem parte desta iniciativa”, relata.
O PET-CT é composto pelos PETs da: 1. Engenharia Elétrica; 2. Engenharia Civil; 3. Engenharia Química; 4. Engenharia Mecânica; 5. Engenharia Metalúrgica; 6. Engenharia de Teleinformática e 7. Engenharia de Produção Mecânica.
FALA, ALUNO!
Mais Os estudantes são selecionados conforme o edital semestral do projeto de extensão, com uma prova que avalia seus conhecimentos nas quatro disciplinas trabalhadas do PróExaCTa. Mas se dependesse da estudante de Engenharia Química e coordenadora discente do Pró-Exacta Vitória Nunes, não existiriam catracas. Seu sonho é alcançar todos que têm interesse em aprender sem a necessidade de um processo seletivo. “Eu, particularmente, desejo muito que o projeto primeiro se organize da melhor forma aqui e
depois se expanda para outros lugares, porque a demanda é muito grande”, comenta. Segundo ela, somente a dedicação dos petianos, que abdicam de tempo nos finais de semana para elaboração de provas, correção de exercícios, planejamento de aula, entre outras atividades, não é o suficiente para expandir o projeto, sendo necessário ainda mais apoio da comunidade externa e da Prórpia UFC. O CT contribui oferecendo material de manutenção das atividades, como pinceis e impressões, oferecendo também infraestrutura de pessoal para organização do ambiente antes, durante e depois das
aulas. Entretanto, problemas de burocracia impedem a participação voluntária de estudantes de outras unidades acadêmicas, por exemplo, o que impede a expansão do Pró-ExaCTa para locais mais próximos de pessoas interessadas em aprender mais. Estudante do terceiro ano, Mirelly Ferreira se desloca de Guaramiranga todo sábado para aprimorar seus conhecimentos. Ela e os colegas de estudo saem entre 5h30 e 5h50 de sua escola, localizada em Pacoti, no Maciço de Baturité, para chegar pontualmente às aulas, que começam às 8h e finalizam às 12h. O transporte foi cedido pela prefeitura do município mediante um requerimento. Ela conta que sem o ônibus, não teria outra forma de chegar ao CT. “Das vezes que tivemos que faltar foi justamente pela questão da falta de transporte, pois a Prefeitura estava com os ônibus no concerto. E também com poucos alunos interessados no curso, tivemos uma dificuldade muito grande em reunir um bom número de pessoas para dar motivo à Prefeitura mandar o transporte”, relata a estudante, que acredita estar sendo recompensada por todo o esforço.
O material didático que os alunos recebem também é gratuito, elaborado pelos próprios universitários, que adquirem mais essa competência.
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FALA, ALUNO AMANDA INGRID [Matemática] LUCAS ABDIS [Redação] O Pró-ExaCTa traz satisfa ção e realização inigualáveis. Poder compartilhar conhecimento com os alu nos é uma tarefa muito prazer osa e gratificante, pois eles são como nós mesmos há poucos an os. Ainda mais inspirador é qu ando essa oportunidade pode mu dar suas histórias e de sua s famílias por várias geraçõe s ao alcançar o curso unive rsit ário de seus sonhos e, conseq uentemente, uma mudança na perspectiva financeira, cul tural e social. Além disso, tem sido um grande treinamento pa ra minha formação profiss ion al, além de fortalecer minha ap rendizagem. Tenho certez a de que estou aprendendo quando consigo transmitir o assun to com clareza e, assim, adquirir exp eriências e habilidades did átic as e de comunicação.
O Pró-ExaCTa recebe doações de livros didáticos da área de Ciências Exatas, facilitando a vida de quem quer se livrar do material (mas também não quer jogá-lo no lixo) e ajudando quem tem muito interesse em aprender. Os livros podem ser deixados na sala do PET da Engenharia Química (Bloco 709). Ao final de cada ciclo, o projeto promove uma feira de doação de livros para os alunos com maior assiduidade.
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É muito gratificante poder contribuir, de alguma forma, com o crescimento pessoal e profissional de cada um dos alunos, além de ser extremamente satisfatório notar que existe interesse, por parte dos mesmos, de aprender cada vez mais através da participação nas aulas, dos esclarecimentos de dúvidas, de comentários sobre os assuntos, dentre vários outros aspectos. O Pró-Exacta permite, a todos aqueles que participam, um amplo acesso ao conhecimento compartilhado e tem sido uma das melhores experiências que já tive. Por isso, espero que mais pessoas tenham a oportunidade de conhecer e participar desse projeto, bem como aproveitar cada um dos benefícios que ele pode oferecer. Espero ainda que os alunos sintam-se cada vez mais atraídos pelas disciplinas trabalhada s nas aulas e desenvolvam mais ainda o gosto pelo conhecimento.
Sucesso alunos do projeto que viraram professores. É o caso de Ítala da Silva Santos, ou Melly, como é conhecida. Foi a partir da participação no evento O CT Quer Você, enquanto estudante do ensino médio, que ela conheceu o Pró-exaCTa, ao mesmo tempo em que apaixonou-se pelo curso de Engenharia Química, apresentado no evento. Uma vez ativa participante do PróexaCTa, Melly então ingressou em Engenharia Metalúrgica na UFC. Durante o ano em que atuava no
projeto como professora pelo PET Metalúrgica, aprendia tanto com a prática ao ponto de ser capaz, numa segunda tentativa, de ingressar no curso que de Engenharia Química, onde permanece até hoje. Aprendizado que não se restringe a um conhecimento técnico. “Percebi com o projeto que sempre temos algo novo a aprender, algo até sobre quem realmente somos. Nunca me vi como uma possível profissional da educação, mas foi por conta do Pró-exaCTa que hoje eu posso afirmar que um dia lecionarei para universitários.”
FALA, ALUNO!
NATHANAEL VASCONCELOS [Química]
DYLAN SANTOS [Física]
“Esse projeto foi importantíssimo para mim, pois antigamente eu era uma pessoa muito tímida com apresentações e coisas similares. Porém, com a oportunidade de dar aula no PróExaCTa, eu desenvolvi bastante minha oratória. Além disso, a essência do projeto é incrível e dá a todos os professores uma sensação de gratificação, principalmente por você ter a oportunidade de saber que um aluno seu gosta de sua aula, ou até que ele conseguiu passar no [curs o] que queria e vem agradecer ao professor, pois todos sabemos que, infelizmente, o ensino público não é dos mais capacitados.”
Ser professor do PróExaCTa está sendo uma das minhas maiores experiências dentro da UFC, pois antes de entrar para o curso de engenharia Metalúrgica eu havia decidido ser professor de nível médio, mas com o passar dos anos acabei mudando de opção. Contudo, sempre mantive em meus planos que algum dia eu iria ser professor. Quando decidi entra r no PET Metalúrgica descobri que poderia realizar o que eu tinha planejado anteriormente ainda mais cedo do que eu esperava, tanto é que um dia após a minha admissão no PET surgiu uma vaga de professor de Física para o Pró-ExaCTa e, como esperado, eu aceitei. Desde então passou-se um ano que sou professor no projeto e a cada aula é uma nova surpresa e um novo aprendizado, que sem dúvidas me ajuda com as cadeiras da graduação. Mas o maior prazer que tenho dentro de sala é ver as expressões dos meus alunos quando eles descobrem como a natureza se comporta. Eles apresentam um rosto de espanto e ao mesmo temp o de maravilhado com tal fato.
Evasão Neste semestre o Pró-ExaCTa auxilia 7 turmas, sendo uma composta por alunos matriculados no primeiro ano do ensino médio, duas turmas composta por estudantes do segundo ano e quatro turmas compostas por estudantes do terceiro ano e recém-formados. Na última seleção, mais de 100 pessoas foram admitidas como alunos do projeto. Apesar disso, poucos permanecem até o final de cada ciclo.
Os professores discentes ministram aula em dupla, para que se ajudem <3
De acordo com os gestores do Pró-ExaCTa, um dos principais pontos a serem trabalhados é a evasão. A coordenadora do projeto, Vitória Nunes, acredita que o maior desafio é manter os alunos interessados de forma contínua. “Acho que a evasão dos meninos é uma coisa que acaba machucando, porque a gente trabalha muito duro e quando eles vão embora, para mim quer dizer que a gente está fazendo alguma coisa que não é certo.”
O estudante de Engenharia Elétrica Nathanael Vasconcelos, coordenador da disciplina de Química, diz que está desenvolvendo estratégias
para melhorar o quadro. “Venho testando um método de ensino com minha dupla em turma para tornar as aulas mais dinâmicas, menos cansativas, que faça com que os alunos se interessem mais pela matéria e que estejam mais próximos de nós, professores, para evitar o desânimo de estudar e tentar reduzir essa evasão do projeto.” Em caso de resultados positivos, a ideia será discutida com a organização do Pró-Exacta e trabalhada com outros professores.
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