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ALGARVE INFORMATIVO 17 de julho, 2021
JÚLIO ANTÃO EXPÕE EM ALBUFEIRA | IMPERFECTHUS NO IPDJ | TURISMO DE FRONTEIRA 1 «PARA ONDE VÃO OS ESPELHOS QUANDO MORREM» EM LAGOS | BMX EM ALGARVE INFORMATIVO #299 QUARTEIRA
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68 - Imperfecthus em Faro
22 - Turismo de Fronteira
30 - Quarteira tem nova pista de BMX
70 - «Para onde vão os espelhos quando morrem» em Lagos
OPINIÃO 92 - Ana Isabel Soares 94 - João Ministro ALGARVE INFORMATIVO #299
38 - Vanessa Barragão 8
56 - «Terra» de Júlio Antão em Albufeira
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ALCOUTIM E SANLÚCAR DE GUADIANA UNEM-SE PARA PROMOVER UM TURISMO DE FRONTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oi apresentada, no dia 10 de julho, no Espaço Guadiana, em Alcoutim, a marca «Alcoutim Sanlúcar de Guadiana – Turismo de Fronteira» que, com base numa estratégia de desenvolvimento local, visa potenciar o crescimento turístico de ambos os territórios. O projeto dos Municípios de Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana ALGARVE INFORMATIVO #299
“pretende aproximar ainda mais as duas margens do Rio Guadiana, unindo estes dois povos, algo que temos vindo a conseguir através de eventos como o Festival de Caminhadas, as Noites de Fado e Flamenco e o Festival do Contrabando”, explicou Paulo Paulino, vice-presidente da Câmara Municipal de Alcoutim. 22
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Tratando-se de eventos sazonais, as duas localidades sentiram, todavia, a necessidade de criar algo mais definitivo e assim nasceu a marca «Alcoutim Sanlúcar de Guadiana – Turismo de Fronteira», com os propósitos de dinamização turística e valorização dos seus recursos culturais, integrando-os numa estratégia de promoção conjunta deste território transfronteiriço. “Queremos fomentar
a dinamização empresarial, a cooperação transfronteiriça e a criação de um destino de qualidade, por via da melhoria de ALGARVE INFORMATIVO #299
infraestruturas e da diversificação e inovação da oferta de produtos, serviços e recursos turísticos, apostando na promoção do património cultural através da gastronomia, do artesanato, do património construído, das tradições e da natureza”, sublinhou Paulo Paulino. A marca agora constituída vem enfatizar um desejo partilhado por Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana há vários anos e que já se concretizou em 24
José Maria Pérez, alcaide de Sanlúcar de Guadiana. “Com este símbolo
queremos também evidenciar que nós somos um único lugar e um lugar único. Sempre sentimos que pertencemos a um lugar especial e que, convivendo e lutando juntos, conseguiremos alcançar os nossos objetivos”, acrescentou. José Maria Pérez lembrou ainda que Sanlúcar de Guadiana, embora pequeno, pertence à grande Comunidade das Astúrias, do mesmo modo que Alcoutim faz parte do Algarve Norte, o que não impede que sofram dos problemas do despovoamento e de um tecido económico fragilizado. “Muitas
pessoas querem viver neste território, contudo, para isso precisam de condições dignas, seja para residir como para trabalhar”, apontou o alcaide espanhol. diversas iniciativas de referência, com o expoente máximo a ser, sem dúvida, o Festival do Contrabando, evento que atrai cerca de 30 mil pessoas a estas duas localidades que, no seu conjunto, não ultrapassam o milhar de habitantes.
“Mas fazia falta algo que aglutinasse tudo o que estes dois municípios realizam em conjunto. Com esta marca queremos que as pessoas identifiquem rapidamente aquilo que Sanlúcar e Alcoutim têm para oferecer a quem nos visita, enquanto turismo, cultura, gastronomia, património”, destacou 25
Sob o slogan «Dois países, uma viagem», coloca-se em destaque o Rio Guadiana, as suas pessoas e cultura, demonstrando-se que um turista pode ir a Alcoutim e, em simultâneo, visitar Sanlúcar de Guadiana, e vice-versa. Esta união vai ser reforçada através de vários vídeos e brochuras promocionais e existirá igualmente um micro sítio de internet, em português, espanhol e inglês, no qual constará toda a oferta turística de ambos os concelhos, tanto a que existe na direta proximidade do Rio Guadiana, como a que se encontra mais para o interior dos territórios. “É
evidente que existem zonas mais ALGARVE INFORMATIVO #299
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apetecíveis do que outras, locais com mais oferta do que outros, mas o nosso objetivo é trabalhar todo o concelho”, garantiu Paulo Paulino. E tudo isto contou com apoio dos fundos comunitários, nomeadamente do Programa Interreg, recordou José Pacheco, vice-presidente da CCDR Algarve, que deu igualmente os parabéns a Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana por
“uma iniciativa muito boa e que certamente dará bons frutos”. “Estes dois locais, que nunca estiveram de costas viradas um para o outro, vão ter agora maior facilidade para cruzar uma fronteira que também nunca existiu”, acredita. A finalizar a sessão de apresentação da marca «Alcoutim Sanlúcar de Guadiana –
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Turismo de Fronteira», Fátima Catarina, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, entende que a junção das duas localidades neste projeto lhes irá conferir maior escala em termos promocionais, o que se traduzirá, previsivelmente, num maior número de visitantes. “Estes territórios
sempre estiveram separados e, ao mesmo tempo, unidos pelo Rio Guadiana, com paisagens lindíssimas que se podem desfrutar dos dois lados. A marca está muito bem concebida e poderá ser também divulgada na nossa rede de postos de turismo espalhados pela região e nos nossos canais promocionais online”, referiu a dirigente .
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PISTA DE BMX EM QUARTEIRA QUER ATRAIR EVENTOS INTERNACIONAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Câmara Municipal de Loulé inaugurou, no dia 7 de julho, a Pista de BMX de Quarteira, um investimento que vem fortalecer o papel desta modalidade num concelho marcado pelo ecletismo desportivo. As condições de excelência da nova infraestrutura poderão mesmo atrair treinos e estágios de atletas estrangeiros, assim como eventos internacionais. Em conjunto com Portimão, que viu recentemente remodelada a sua Pista de ALGARVE INFORMATIVO #299
BMX situada no Parque da Juventude, Quarteira poderá passar a ser o destino para muitos atletas do centro da Europa. “O Algarve tem duas
pistas de topo, o que é importante para trazer atletas internacionais para treinar e estagiar. Os franceses, holandeses e alemães estão todos a ir para o sul de Espanha (Alicante) e nós estamos a tentar criar aqui um núcleo para trazer esses atletas para cá”, explicou Dário Piedade, presidente do Clube «Asas da Cidade» 30
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BMX Team, que marcou presença na inauguração do equipamento. Por sua vez, Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, relembrou o compromisso de Loulé com o desporto, que teve o reconhecimento com a chancela de «Cidade Europeia do Desporto» em 2015. “Temos um
movimento desportivo massificado e somos um concelho democrático do ponto de vista do acesso a quem quer praticar desporto, em quase todas as modalidades. O BMX fica a ser mais uma delas porque as condições existentes agora são excecionais”, evidenciou o edil. Para já, está prevista a realização em Quarteira do ALGARVE INFORMATIVO #299
campeonato regional, taças regionais e a possibilidade da pista receber a final da Taça de Portugal, nos dias 3 e 4 de outubro. Caso a situação pandémica o permita, até ao final do ano, no inverno, o clube de Quarteira pretende realizar uma prova internacional e convidar atletas estrangeiros para conhecerem esta infraestrutura. Quarteira é, desde há várias décadas, uma terra com forte tradição no BMX, que teve a sua génese nos idos anos 90, com a criação do então Radical Juventude de Quarteira. Entretanto, o clube foi reestruturado em 2007, passando a formar muitos talentos, contando já com diversos campeões nacionais em todas as categorias, vice32
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campeões do mundo e campeões da Europa. Atualmente tem o maior número de atletas de BMX a nível nacional, uma média de 55 por ano, conforme revelou Dário Piedade. “No entanto, desde
acolher provas de âmbito nacional e internacional de BMX nas diversas categorias.
2015 que a pista existente, localizada junto ao Estádio Municipal de Quarteira, não satisfazia os atletas e praticantes de BMX, uma vez que, devido às suas dimensões que não reúnem todas as condições de segurança para os praticantes, deixou de poder receber algumas provas”, explicou o
Localizado ao lado de dois bairros sociais – a Abelheira e a Amendoeira – o equipamento agora inaugurado será também um fator de inclusão social para os jovens que aí vivem. O «Asas da Cidade» tem vindo a realizar um importante trabalho ao nível da ação social, disponibilizando bicicletas a todas as crianças e jovens que queiram iniciar-se no BMX e integrar a formação do clube. “Era uma coisa que
dirigente. Já esta nova pista, marcada pela inovação, vai ao encontro das atuais exigências das entidades oficiais da modalidade. De facto, o traçado radical e competitivo que se prolonga por 420 metros foi certificado pela Federação Portuguesa de Ciclismo, podendo assim
Aleixo relativamente a esta aproximação dos moradores dos bairros à modalidade .
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encheria o nosso coração de alegria, até porque o desporto é importante para a boa formação dos jovens”, disse o presidente Vítor
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A ARTE TÊXTIL COM PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS DE VANESSA BARRAGÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Diogo Sousa, Ruben Guerreiro e Studio Vanessa Barragão ALGARVE INFORMATIVO #299
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or estes dias é possível assistir, na Ponte Medieval de Paderne, à impactante obra «Algarvensis» de Vanessa Barragão, concebida especialmente para o GeoPalcos a convite do Município de Albufeira. Sobre a velha ponte por onde os antigos passavam com produtos para comercializar ou com flores para as festas sazonais, encontramos agora, até 12 de setembro, uma instalação artística têxtil feita a partir de lã natural de ovelha algarvia, lãs recicladas provenientes da indústria têxtil a Norte, resina e outros materiais, cujo processo, para além da lavagem e cardagem da lã, levou também a artista a ALGARVE INFORMATIVO #299
optar por técnicas de feltragem, manipulação têxtil e crochê. Este poderá ser, para alguns algarvios, o primeiro contato com o trabalho de Vanessa Barragão, mas a verdade é que a paixão desta jovem de Albufeira pelas artes vem desde pequena e o seu trajeto profissional cedo começou a traçar-se. “Na escola
ia sempre para a parte do desenho, das artes, porque também cresci numa família cheia de artistas. O meu avô e o meu pai trabalham muito bem a madeira, a minha mãe pintava, as minhas avós estavam sempre de volta do crochê. Isso despertou-me o 40
gosto pela manualidade, mas o meu sonho inicial era ser designer de moda”, conta Vanessa Barragão, à conversa, logo pela manhã, no seu atelier nos Olhos de Água. Na universidade tirou o curso de Design de Moda e seguiu-se um mestrado, fase em que percebeu que aquilo que realmente a fascinava era a componente têxtil e não propriamente desenhar as roupas no papel. Começou a fazer tapeçarias e a primeira venda ainda a motivou mais para seguir este caminho, mas não se livrou das naturais preocupações dos pais relativamente ao seu futuro, pois sabiam bem que as artes não garantem um rendimento regular.
“Claro que conversamos sobre isso e preferiam que tirasse primeiro o
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curso de Arquitetura e só depois Design de Moda, mas as pessoas devem focar-se naquilo que gostam. Também é verdade que nem toda a gente consegue descobrir cedo qual é a sua verdadeira paixão, mas eu tive essa sorte”, admite, sorridente, acrescentando que ir para o turismo nunca lhe passou pela cabeça. Fosse nas roupas para as Barbies quando era criança ou nas suas próprias roupas, quando era mais crescida, Vanessa Barragão evidenciava um talento natural para o têxtil e sabia que tinha que partir para Lisboa para fazer a sua formação. Depois de 10 anos na capital, regressou ao Algarve,
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mas a vontade de explorar mais a vertente têxtil levou-a a partir novamente, desta feita para o Porto, onde foi designer têxtil durante quatro anos numa fábrica. “A moda está
massificada, há imensas marcas e designers, e percebi que ninguém me ia comprar uma peça de roupa por mil euros, porque não sou uma «Prada». No entanto, se pedir mil euros por uma peça de arte têxtil, a resposta, se calhar, já é diferente. Felizmente as coisas correram bem e estou a fazer realmente aquilo que gosto”. Não se pense, todavia, que este ramo é fácil, até porque a maior parte das pessoas olha para os têxtis como simples peças de decoração que são bem mais baratas numa loja do IKEA ou Conforama. ALGARVE INFORMATIVO #299
“Em Portugal não existe, de facto, tanta sensibilidade para a parte artística e cultural como noutros países, porque estas peças podem ser decorativas, mas são peças únicas e que podem constituir, inclusive, um investimento a longo prazo. Quem comprou a minha primeira peça, se hoje a quiser vender, vai fazê-lo por muito mais dinheiro. Também reconheço que, nos primeiros anos, o que fazia eram peças de decoração, mas depois compreendi que estava a conceber peças de arte que têm uma mensagem por trás e que resultam de um processo bastante peculiar e artístico que 42
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consome bastante tempo”, distingue a entrevistada, acrescentando que as técnicas artesanais que emprega não diferem muito daquelas que as suas avós utilizavam quando ainda era uma simples menina. “Uso várias técnicas têxtis,
sobretudo a Esmirna e o Crochê, e tudo sem maquetes ou desenhos. São peças que, algumas, demoram meses a serem produzidas e, se ficar ALGARVE INFORMATIVO #299
agarrada a um esboço, não tenho liberdade criativa. Um dia acordo assim, outro acordo assado, tudo me influencia, mas tento não desmanchar nada, porque cada parte da peça também simboliza uma etapa do processo”, descreve. E como é que transmitimos uma mensagem através de uma peça de 44
arte têxtil, questionamos, ao que Vanessa Barragão responde ser através das cores e das formas. “Tento focar-me nos
ecossistemas que se estão a degradar, especialmente os recifes de coral, que nem toda a gente tem oportunidade de ver ao vivo. Não fazemos ideia do que a poluição que causamos em terra faz ao que está escondido dentro do mar. Os corais 45
são um pilar importantíssimo na vida marinha e, quando desaparecerem, o mesmo acontece com os peixes pequenos que fazem deles o seu habitat. E depois os peixes grandes deixam de ter alimento e cria-se um problema gigante e um desequilíbrio enorme no ALGARVE INFORMATIVO #299
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planeta”, avisa a albufeirense. “A maior parte dos materiais que uso são reciclados e tenho as minhas mãos, não preciso comprar uma máquina de 50 mil euros para concretizar uma ideia que tenho na cabeça. Este culto da manualidade deve estar presente das pessoas, elas devem sentir que são capazes de fazer coisas com as suas próprias mãos”, defende Vanessa Barragão. 47
REGRESSAR ÀS ORIGENS NO MOMENTO CERTO O êxito crescente de Vanessa Barragão leva a que já não consiga fazer tudo sozinha, daí perguntarmos se é fácil, nos tempos que correm, encontrar pessoas que partilhem da sua ideologia e que tenham conhecimentos para trabalhar o têxtil. “A mão-de-obra ALGARVE INFORMATIVO #299
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especializa-se aqui no atelier, basta terem aptidão para a manualidade, para agarrarem na agulha, terem esse gosto. Neste momento somos seis, incluindo uma rapariga que veio da Estónia para fazer um estágio comigo”, conta, destacando a importância dos mais jovens aderirem a estes costumes e práticas antigas. “Se
não forem passados para as próximas gerações, vão acabar por desaparecer”, justifica. Depois de uma década em Lisboa e quatro anos no Porto, Vanessa Barragão regressou, pelos vistos definitivamente, a Albufeira, mas a mudança não tem diminuído os pedidos e encomendas, assegura. “Posso estar em qualquer 49
parte do mundo, mas precisava de mais tempo para mim, de me reconcentrar no meu «eu». Também necessitava de um atelier maior e com muita luz natural, por causa das cores, e, acima de tudo, queria trabalhar com a minha família. Voltei em janeiro de 2020 e, de repente, apareceu o covid-19, o que tornou a minha decisão de regressar às origens ainda mais benéfica”, reconhece, salientando ainda que, no «seu» Algarve, acaba por estar mais concentrada no trabalho. “No Porto estava no
Bonfim, uma zona bastante artística, com muitos ateliers e a Escola de Artes, e sinto um ALGARVE INFORMATIVO #299
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pouco a falta desse ambiente cultural mais fervilhante. Mas ganhei mais ao vir para o Algarve do que se tivesse ficado no Porto”, garante, com um sorriso.
artistas têxtis, mas todos são diferentes uns dos outros.
“Obviamente que não sinto que o IKEA possa ser meu concorrente, nem sequer quero entrar nesse estilo de peças. O meu processo é lento e atento, artesanal, sentimental e preocupado, produzo peças de arte e não objetos de decoração, que se compram e, passado uns anos, se substituem por outro”, distingue
Trabalho não falta, sem dúvida, a Vanessa Barragão, e assim se desvaneceram as preocupações dos pais em relação ao seu ganha-pão, mas a entrevistada admite que, se calhar, continua a ser uma perfeita anónima para o cidadão comum. “Na área têxtil sou
Vanessa.
conhecida porque crio algo diferente e, neste último ano, tenho tentado divulgar mais o meu trabalho aqui no Algarve. Não para ser famosa, mas para sensibilizar os outros para as questões ambientais”, indica. Quanto à
Por tudo isto, os clientes da albufeirense são bastante diversificados, desde galerias que representam o seu trabalho em várias feiras de arte, aos particulares, hotéis e restaurantes. E o prazo de entrega de encomendas, neste momento, é de
concorrência, claro que existem outros 51
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abril de 2022, “mas as pessoas
esperam, porque sabem que vão ter uma peça especial e única”. “Tive uma cliente dos Estados Unidos que me disse que gostava imenso do meu trabalho e que ia começar a guardar dinheiro para me comprar uma peça. Passado um ano e tal enviou-me um email a informar-me que já tinha o dinheiro e que queria fazer a encomenda. Eu já nem praticava esses preços, mas fiz um jeito porque achei a atitude super querida”, conta. “E há pessoas que também já compram as minhas peças como uma forma de investimento, porque duram para a vida. Claro que exigem alguns cuidados porque são fibras naturais, maioritariamente lã, que tem tendência para adquirir traças se o ambiente não estiver limpo. No que toca à matéria-prima, tenho acordo com algumas fábricas do Porto que me dão os seus desperdícios, o que também influencia os tons e cores que uso nas peças. Mas isso até torna o processo criativo mais interessante”, refere. Na hora h surgiu, entretanto, o desafio para criar uma instalação têxtil na Ponte Medieval de Paderne, confessa Vanessa Barragão, com mais um dos seus largos sorrisos. “Sentia uma grande
vontade de levar o meu trabalho para o exterior, mas ainda não tinha testado o suficiente para dar esse 53
passo. E o meu objetivo era, precisamente, decorar pontes, porque acredito que faço parte de uma «geração ponte», de passagem de conhecimentos do passado para o futuro”, explica. “Carregamos o dever de transmitir as tradições antigas para os mais novos e, quando a Câmara Municipal de Albufeira me fez o convite, aceitei de imediato. Tivemos que adaptar os materiais, por causa da chuva, vento e sol, e foi preciso aplicar uma resina para as cores não descolorarem, o que já não bate certo com a parte da reciclagem de que tanto falo. Mas sinto que aquilo que faço aqui no atelier vai compensar essa vertente menos ecológica”, entende a artista, revelando que vai passar a focar-se mais nas instalações ao ar livre, a par do seu trabalho tradicional. “Estando
no Algarve tenho mais qualidade de vida, saio do atelier e posso ir a pé para casa. Sinto-me muito melhor a nível pessoal desde que voltei às minhas origens, as encomendas de clientes particulares continuam bastante boas, tenho novos desafios pela frente e vou começar agora a fazer uma peça para o restaurante de um novo prédio do Dubai. Está tudo a correr bem”, termina Vanessa .
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JÚLIO ANTÃO REGRESSA A ALBUFEIRA COM «TERRA» Texto: Daniel Pina Fotografia: Daniel Pina Fotomontagem: Júlio Antão
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úlio Antão dá a conhecer em Albufeira, sua terra natal, uma exposição de abordagem multidisciplinar, intitulada «Terra», que estará patente, na Galeria de Arte Pintor Samora Barros, até dia 28 de julho. Com curadoria de Maria Trindade, esta mostra consta de escultura, assemblage, instalação, fotomontagem e pintura e apresenta ‘um
cenário perturbador sobre a vida trágica do nosso planeta, que tão depressa desconcerta o estado emocional do espetador, como de seguida abre uma fresta de esperança para a humanidade’. ‘Júlio Antão traz-nos um projeto específico para o tempo de ALGARVE INFORMATIVO #299
pandemia e esta amplia o pessimismo que atravessa a sua obra. A sua narrativa visual levanos em longa viagem, desde os tempos mais remotos, passando pela atualidade, até à visão profética de um futuro sombrio’, descreve Maria Trindade. Para além de pintura e da escultura, Júlio Antão explora outras vertentes da arte, como cerâmica, fotografia, design de equipamentos, interiores e publicidade, e o seu regresso a Albufeira resulta de um convite feito por João Reis, responsável por esta galeria situada no centro histórico da capital do turismo, na sequência de um prémio conquistado, em junho de 2020, no concurso «Cores e Formas» 58
organizado pela Câmara Municipal de Albufeira. “A preocupação ambiental
e a sensibilização para que o mundo seja um pouco melhor é algo que me acompanha desde sempre. As esculturas «Vida e Luz» e «Mutante» já existiam, tudo o resto foi concebido e produzido nestes últimos seis meses”, indica o artista plástico, admitindo que criar em tempos 59
de pandemia não é fácil, mas garantindo que também nunca produziu nenhuma peça com um propósito comercial. “Se assim o
fizesse, estava logo a limitar a minha criatividade. Também não quis representar aqui pessoas de máscara e toda essa atmosfera que rodeia a covid-19, mas sim os problemas que existem na ALGARVE INFORMATIVO #299
própria Terra e de uma forma que desse algum prazer estético ao observador”. Ora, se é verdade que as preocupações ambientais estão na ordem do dia há largos anos, quando Júlio Antão deu os primeiros passos nas artes plásticas isso ALGARVE INFORMATIVO #299
não sucedia, motivo pelo qual as suas obras não eram devidamente apreciadas. “Quando fui para a
fotografia baseava-me muito na biodiversidade, especialmente na animal. Depois, passei a tentar transmitir essa minha preocupação através do acrílico, 60
da escultura e das fotomontagens. Agora, como o tema é atual, as minhas exposições são mais visitadas”, comenta o entrevistado, adiantando ainda que não gosta de estar circunscrito a um único estilo artístico.
“Comecei, aos 17 anos, na pintura a óleo, seguiu-se a escultura, depois a 61
fotografia. Mais recentemente, com os conhecimentos que tenho adquirido ao longo dos anos, aventuro-me nas instalações e, sobretudo, na fotomontagem, porque me permite expor
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internacionalmente e ficar com a matriz”, explica. Prova disso é que, ao mesmo tempo que tem uma exposição individual em Albufeira, participa igualmente numa exposição coletiva na Coreia do Sul e noutra no Perú e, em agosto, vai inaugurar uma outra no Brasil. Mas isto não quer dizer que esta seja a última paragem, simplesmente a mais recente, na sua caminhada artística. “O meu
percurso tem sido bastante semelhante nesse aspeto, ou seja, quando sinto que estou a atingir a perfeição num estilo, saio da minha zona de conforto e vou à procura de outros desafios. Gosto de ser diversificado, de descobrir novas técnicas, de nunca estar parado”, assume, com um sorriso, o membro ALGARVE INFORMATIVO #299
fundador e atual presidente da PAS – Peace and Art Society (Portugal), membro honorário da Gogyoshi Art Project International (Holanda), presidente honorário no Art Committee of International Culture & Arts Federation (Coreia do Sul) e membro honorário da Nigde Fine Arts Association (Turquia). Um percurso riquíssimo e amplamente reconhecido alémfronteiras, mas que não tem tido igual destaque na sua terra, reconhece, com um encolher de ombros. Do mesmo modo, estar envolvido em tantas associações retirou-lhe tempo para criar, pela vontade de ajudar outros artistas. “Senti bastante
dificuldades no início da minha carreira, por isso, dá-me um certo 62
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prazer auxiliar na promoção de novos talentos. Entretanto, este estado pandémico permitiu-me ter tempo e espaço para criar a maior parte das peças que aqui estão. No que toca ao público, antes da pandemia, notava-se um grande interesse pela cultura, nem que fosse nas inaugurações e nos 65
eventos sociais ligados à arte. Com as restrições impostas para combater a pandemia, verifico que as pessoas que vão às galerias o fazem efetivamente pela arte e, como as salas estão menos congestionadas, até conseguem apreciar as obras com outra amplitude”, observa Júlio Antão. ALGARVE INFORMATIVO #299
«Terra» tem sido disso reflexo, muito concorrida na inauguração, mas também nos dias que se seguiram e as críticas têm sido elogiosas. Mas será que o ser humano, que agora voltou a dar primazia aos valores imateriais, ao ambiente, ao sentimento de comunidade, continuará a ser assim depois desta batalha ter sido vencida? “O ser humano,
infelizmente, tem memória curta. Quando está numa situação difícil existe um forte espírito de união, mas, quando os problemas são ultrapassados, voltamos a ser o que éramos, ou ainda piores. Desde o início da humanidade que tem sido assim. Quando éramos nómadas, vivíamos em comunidades e fluíamos pela natureza, somente com preocupações alimentícias e de convívio. Nos tempos modernos impera o consumismo e o individualismo, o ter um carro melhor que o vizinho ou colega de trabalho, o que me preocupa bastante”, responde Júlio Antão,
que tenho peças que se vendem, as instalações são mais complicadas, mas tenho outros recursos que me permitem sobreviver, de maneira que não preciso pintar ou esculpir para me alimentar”, afirma. “Voltei a Albufeira para tentar iniciar um novo ciclo, porque, há 10 anos, quando fundei a Peace and Art Society, praticamente fiquei por Faro. Quanto ao reconhecimento,
antevendo que, assim que a covid-19 ficar para trás, prosseguirá o declínio humano. Uma apreensão e pessimismo que não desaparecem quando lhe perguntamos se é fácil viver apenas da arte, nomeadamente quando não se cria com fins comerciais em mente. “Se assim
fosse, estava na rua a fazer imagens de barcos de pesca e de amendoeiras em flor para os turistas comprarem. Obviamente ALGARVE INFORMATIVO #299
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não há dúvida de que ele é maior em termos internacionais”. E porque as dificuldades são as mesmas há muito tempo, que futuro vê Júlio Antão para a nova geração de artistas que está agora a sair das universidades e a tentar iniciar uma carreira? “Quem está
ligado às artes clássicas terá mais problemas do que aqueles que se dedicaram às novas artes visuais. O digital continua a crescer imenso e tem muitas opções para se explorar em termos criativos e que são
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monetariamente rentáveis”, comenta o entrevistado, cujos próximos meses serão dedicados, quase exclusivamente, à sua nova «Terra». “Trabalhei seis meses para
esta exposição e vou tentar que, depois de Albufeira, ela vá para outros espaços culturais do Algarve. Certo é que, em setembro ou outubro, irá para Cascais. O momento, agora, é de parar alguns meses, meditar, e depois criar outra exposição”,
conclui Júlio Antão .
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A SOLIDÃO DA VELHICE REPRESENTADA NO CENTRO CULTURAL DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ilménia Magalhães está de volta aos palcos com a encenação da peça de teatro «Para Onde Vão os Espelhos Quando Morrem?», uma adaptação do texto de Arnold Wesker que estreou no Auditório do Centro Cultural de Lagos nos dias 9 e 10 de julho. Presidente do Teatro Experimental de Lagos durante duas décadas e professora de Interpretação Poética do Centro de Estudos de Lagos desde 2018, Silménia propõe uma criação que reflete a sua própria experiência com a comunidade sénior lacobrigense, através dos monólogos de três mulheres – Maria Rojas, Rosário Magalhães e Teresa Boniné – que interpretam três vidas no final do seu ciclo. É, por isso, um espetáculo real, duro e sensível, que conduz o público para a teia emocional da solidão na velhice. A nova produção do Teatro Experimental de Lagos é “uma reflexão sobre a sociedade
atual, direcionada para o consumismo e com uma ausência crescente de valores, alertando para a indignidade e desprezo a que são sujeitos os mais velhos, muitas vezes rotulados e deixados ao abandono”. “Três mulheres, três vidas que se cruzam e entrelaçam, numa teia esmagadora, onde apenas uma réstia de vida as prende por um ténue fio. Mulheres que se alimentam de uma revolta surda e cega contra os que as rodeiam, num grito de desespero e negação, contra uma realidade na qual se sentem prisioneiras, tendo apenas por companhia uma imensa solidão”, descreve Silménia Magalhães este projeto de criação artística que foi apoiado pelo Município de Lagos, pela Direção Regional da Cultura do Algarve e pela Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos . ALGARVE INFORMATIVO #299
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IMPERFECTHUS DIVERTIRAM FARO EM MAIS UMA SEXTAFEIRA DO IPDJ Texto: Daniel Pina Fotografia: Irina Kuptsova
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Centro de Juventude do IPDJ do Algarve, em Faro, promoveu, no dia 9 de julho, mais uma das suas animadas sextas-feiras, desta feita dedicada à stand-up comedy dos Imperfecthus. O projeto nasceu durante o Verão de 2009, no YouTube, por iniciativa de André Martins e Cristiano Rodrigues, simplesmente para fazer vídeos cómicos que exploravam observações originais e diferentes perspetivas sobre situações quotidianas.
Imperfecthus começaram a apostar na criação regular de conteúdos e na introdução de personagens caricatas que permitissem aprofundar ainda mais a exploração do ridículo e da falta de noção. Com uma imagem inspirada nos capacetes de guerra dos vikings e nas máscaras de teatro clássico da Grécia Antiga, o projeto foi crescendo rapidamente, dando lugar a espetáculos de stand-up comedy, podcasts, séries de episódios com um fio condutor e até uma longametragem. E foi a um pouco de tudo isto que o público farense teve oportunidade de assistir, na capital algarvia, no dia 9 de julho .
A André e Cristiano juntou-se, em janeiro de 2014, Ivo Soares Jorge e os ALGARVE INFORMATIVO #299
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OPINIÃO Vigésima sétima tabuinha - Bem Bom! Ana Isabel Soares (Professora Universitária) À Gabriela, à Ana Marta, à Inês Sofia, ao João Gabriel, à Filipa Obrigada, Fátima Padinha, Laura Diogo, Lena Coelho e Teresa Miguel magine-se quatro adolescentes (na verdade, três préadolescentes e uma pouco mais que criança), pelos idos de 1981 ou 82, numa cidade pequena, interior – praticamente insular, que até 2004 o Algarve, apesar de geograficamente ligado ao resto do continente, era de acesso chato, difícil, pouco atraente fora do queridíssimo mês de agosto (aquele em que, por regra, só por obrigação me acha no reino). Quatro moças pequenas – Internet nenhuma, televisão, só a certas horas do fim do dia e aos fins de semana –, mas rádio sim, e gira-discos e toca e grava cassetes de fita, oh oh. Quatro filhas de santa gente, pacientes pais que não temiam que estivéssemos fora de casa (“Mas põe os olhos na Ana, que ela é a mais ajuizada”, e o que ríamos...). (O nosso «fora de casa» era tantas vezes só as escadas e os patamares do prédio onde todas menos uma vivíamos, ou, vá lá, o espaço bondoso e sem automóveis do monumento a Duarte Pacheco, ali a uma corrida de distância de casa.) Ah, e um quinto elemento ainda, o «técnico de som» ou «de luzes», que o meu irmão não havia de ficar de fora, está claro, e os irmãos das outras eram mais velhos e ALGARVE INFORMATIVO #299
olhavam para nós (se olhavam) com A condescendência. Bem. Estas quatro almas moças distraíam-se vestindo a pele de quatro mulheres, dançarinas e cantarinas, que davam pelo dulcíssimo nome de grupo Doce e usavam no palco trajos ora espampanantes, ora mínimos, mas sempre coisas de fazer espantar as miúdas que éramos e animar a festa em que a nossa calma vida, na verdade, decorria, mesmo que na rua chovesse e a água das sarjetas inundasse os passeios (“É tão doce agora / a chuva a cair, assim lá fora...”). Avanço rápido de quarenta anos: imagine-se três mulheres no pleno da vida (onde vão já as balzaquianas...?), combinações por telemóvel e salvíficas redes sociais, sentadas numa sala de cinema, julgando-se as únicas destinatárias das imagens que uma desmesurada tela debita, num agigantado e a-todo-o-redor sistema de som, a assistir ao filme Bem Bom e a pensar que bem bom tem sido cada dia, que bem bom é poder recordar aquelas loucuras (“É demaaaááis!”) antigas, bem bom é haver quem se lance a rodar uma obra sobre as Doce, as mulheresfenómeno da música pop daqueles jovens anos 80 e a dar a conhecer, com 92
Foto: Vasco Célio
entusiasmo igual, com ambiente semelhante (que excelente trabalho de figurinos!) a quem não teve a alegria de os viver na altura, como se fosse hoje, a excitação da novidade e o destemor daquelas pessoas. Bem bom é ter à frente um documentário que passa para o espectador como história fabulosa, a invenção de uma sequência de acontecimentos (belo argumento, moças!, obrigada!) que passa como registo da vida das bravas pessoas – daquelas incrivelmente ousadas mulheres – que criaram e deram vida às Doce (mesmo se o preço dessa coragem 93
lhes tem amargamente sabido). Imagine-se essas três mulheres feitas a sair da sala em cantoria e dançaria, a fazer chamada de vídeo ao quarto elemento feminino, logo logo a seguir à sessão, a falar ao telefone com o quinto elemento (a gargalhada que ele deu!), e o mundo a aparecer-lhes à frente como se fosse a imensidão sem paredes de um patamar de prédio, os trapos coloridos e mal costurados à volta dos corpos de quatro miúdas, felizes, felizes, porque havia canções tão novas para cantar e elas existiam para todos esses sonhos . ALGARVE INFORMATIVO #299
OPINIÃO Linces e caniches João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) uando pensávamos que dificilmente se poderia tornar mais complicada a vida do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), eis que recebe uma nova incumbência nacional: a de garantir o bem-estar dos animais de companhia! Sim, leu bem. Além da exigente missão em salvaguardar e proteger espécies selvagens de Portugal, como o Lince-ibérico ou a Águia-imperial, o ICNF tem agora de agir igualmente em prole do bem-estar do gato siamês, do caniche ou do papagaiofalante! Nada contra estes simpáticos companheiros, obviamente, e tudo a favor do seu bem-estar, mas nos sítios certos e com as competências adequadas. A origem do ICNF remonta ao ano 1975, na altura sob a designação de «Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico», por iniciativa do visionário Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. Esse serviço publico foi criado com propósito específico de agir em prole da preservação da vida selvagem portuguesa, incluindo a de milhares de espécies de fauna e flora, de centenas ALGARVE INFORMATIVO #299
de habitats naturais e a de criar e gerir áreas protegidas (e mais tarde ainda as classificadas), articulando tudo isso com a actividade humana. É essa ainda hoje a sua vital missão para a qual, infelizmente, mal consegue desempenhar as funções convenientemente, tendo em conta todas as dificuldades em recursos, sejam eles humanos, técnicos ou financeiros, ou outras. Basta pensar que 8% do território português está sob sua directa gestão - correspondendo à rede nacional de áreas protegidas - e 22% sob sua atenta fiscalização e actuação (Rede Natura 2000), sem esquecer ainda a extensa área florestal, incluindo Matas Nacionais e Perímetros Florestais. E perante esta quase impossível missão de gerir, cuidar e vigiar este titânico território, o ICNF recebe agora outra «singela pasta», que é tão só a de gerir o bem-estar animal em Portugal. Uma tontice. Uma descredibilização até do seu papel e claro, um desvario da realidade. Alias, é caso único na Europa e atrevo-me a dizer, no planeta. Esta remodelação - sim porque é de uma remodelação que se trata - foi contra a opinião técnica nacional e internacional, inclusive da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e a da 94
Federação dos Veterinários da Europa, podendo vir até a pôr em causa a saúde pública, tal como refere o Bastonário dos Médicos Veterinários numa recente entrevista ao DN. Mas os caprichos políticos, neste caso de um certo partido com assento parlamentar, levou-nos a isto. A ignorância e a falta de humildade neste e noutros temas afins, nomeadamente os relacionados com o desenvolvimento do mundo rural, sujeitam-nos a estas decisões desastrosas. E agora? Agora, além de tentar contrariar a difícil situação portuguesa ao nível da perda de biodiversidade e da paisagem - tal como o demonstram recentes estudos - o ICNF vai ter ainda de proceder à elaboração do «Regime Geral de Bem-Estar dos animais de companhia», à «Estratégia Nacional para os Animais Errantes», à criação de uma «Rede Nacional de Respostas para acolhimento temporário», à concepção de um «Programa Nacional de Adoção de Animais de Companhia», ao «Guia de procedimentos para gerir situações de acumulação de animais», etc. etc. Terá, claro, de fiscalizar canis, vigiar mercados e eventos comerciais, responder a denúncias, entre outras operações no terreno e dar seguimento a um novo 95
mar de tarefas burocráticas. Ou seja, afundou-se ainda mais no fosso de dificuldades e obstáculos que sempre o acompanharam. E, muito sinceramente, não acredito que de lá consiga sair. Resta saber o que irá acontecer com a nossa fauna e flora, os nossos parques naturais ou a nossa paisagem. O que terá prioridade, quando ocorrerem casos de conflito ou ocorrências em simultâneo. Ou quem acudirá aos atropelos ambientais, quando começarem a reencaminhar para o ICNF as centenas ou milhares de denúncias de maus-tratos animais ou de abandono, hoje infelizmente tão comuns. Bom será que tanto linces e caniches possam viver bem e condignamente. Mas o mundo real que os separa não pode unido à força de jogos e interesses políticos e menos ainda administrativos. O risco de caos e o perigo de insucesso é tremendo. Para eles e para nós . ALGARVE INFORMATIVO #299
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Diogo Sousa A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #299
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