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ALGARVE INFORMATIVO 21 de agosto, 2021
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«CRIAÇÕES DO VENTO» | PEOPLE POWER PARTNERSHIP | FERNANDO DANIEL ALGARVE INFORMATIVO #304 ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE | «FLORADOS DE LAGOA» | SALVADOR SANTOS
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90 - People Power Partnership em Loulé e Quarteira
26 - Florados de Lagoa
44 - «Criações do Vento» em Sagres
70 - Música JA do IPDJ em Lagoa
OPINIÃO 118 - Ana Isabel Soares 120 - Fábio Jesuíno
58/102 - Fernando Daniel e OJA em Tavira ALGARVE INFORMATIVO #304 ALGARVE INFORMATIVO #304
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34 - Salvador Santos publica «Selvagem»
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Ana Martins, José Águas da Cruz, Anabela Simão e Luís Encarnação
MUNICÍPIO DE LAGOA APOSTA FORTE NA REVITALIZAÇÃO DOS «FLORADOS DE LAGOA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina rrancou, no dia 12 de agosto, nos Claustros do Convento de S. José, em Lagoa, a Campanha de Reativação da Marca «Florados de Lagoa», com a assinatura de um acordo de parceria ALGARVE INFORMATIVO #304
entre o Município de Lagoa e, para já, as 10 entidades aderentes ao projeto de promoção deste doce conventual. O objetivo é recuperar este património gastronómico do concelho de Lagoa e do Algarve, através dos saberes históricos documentados, da arte do saber fazer e da memória coletiva. 26
Paulo Francisco
Os «Florados de Lagoa», com a sua composição à base de açúcar, amêndoa e fios de ovos, é um legado da cozinha tradicional algarvia, alicerçada nos milenares hábitos mediterrânicos e na fusão de sabores da alimentação árabe com a doçaria conventual. “Em Lagoa, a
presença de religiosas recolhidas no Convento de São José, desde o século XVII, estará na génese de um conjunto de receitas de doces registadas no concelho, entre os quais os agora conhecidos «Florados de Lagoa». Nos finais do século XIX, a Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, cuja fundadora foi 27
Teresa de Saldanha, instalou-se no Convento de S. José, onde ainda subsistiam algumas das freiras Carmelitas. Na correspondência trocada entre as madres superioras do colégio de Lagoa e a Madre Teresa de Saldanha, que se encontrava em Benfica – Lisboa, é retratado o seu dia-à-dia no convento, as atividades, o ensino, as visitas pastorais, a ajuda das senhoras mais abastadas da Vila, inclusivamente, o fato das irmãs confecionarem bolos, a pedido das ditas senhoras mais ricas da então Vila de Lagoa sempre que recebiam visitas em ALGARVE INFORMATIVO #304
suas casas”, recordou Paulo Francisco, coordenador das Atividades Culturais – Programação Cultural da Câmara Municipal de Lagoa. A receita destes doces surgiu mais tarde integrada na primeira edição d’O Livro de Pantagruel, da autoria de Bertha Rosa Limpo, publicado em 1946 e considerado uma das maiores obras da culinária escrita na língua portuguesa, sob a designação «Floradas». “Se
inicialmente podemos não entender qual a relação de Bertha Rosa Limpo, cantora lírica e senhora da alta sociedade lisboeta, com este ALGARVE INFORMATIVO #304
doce conventual tão característico do nosso território, mas ao mesmo tempo tão secreto, rapidamente descobrimos que Bertha, nascida em Quelimane (Moçambique 1894), é filha de pai alentejano e mãe algarvia. Ela própria o afirmou, em resposta a uma leitora da Revista M&B, na qual era colunista”, contou Paulo Francisco, acrescentando que, nas últimas décadas, “a confeção dos
«Florados de Lagoa» caiu em desuso e no esquecimento de 28
muitos e gerações mais recentes perderam completamente referência à existência deste doce”. “Por outro lado, a D. Cremilde, doceira conceituada do nosso concelho, mantendo o legado da família desde a sua avó, é prova viva desta existência. Transmitiu-nos que se lembra dos florados e que era considerado uma iguaria/guloseima que, não sendo um bolo que se confecionasse com regularidade, estava destinado a momentos festivos, casamentos, batizados. Relatou-nos, inclusive, alguns locais onde se vendiam, tais como uma
pastelaria em Portimão cujo dono era de Lagoa”. É, pois, intenção do Município de Lagoa recuperar esta verdadeira marca identitária da pastelaria tradicional algarvia. Para esse efeito, foram feitas várias experiências, testes e provas de superação, até se chegar ao resultado final, apurado e classificado por diversos especialistas na matéria. A segunda fase do projeto aconteceu a 17 de julho de 2019, com a apresentação ao público dos «Florados de Lagoa» aquando da XVII Mostra do Doce Conventual de Lagoa, seguindo-se a Feira de Gastronomia de Santarém e a FATACIL do mesmo ano. “A fim de
mobilizar os profissionais
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doceiros do Canal HORECA, nomeadamente pastelarias, restaurantes, hotéis do nosso concelho, foram organizados dois workshops com a doceira Cremilde Paias a demonstrar a sua confeção. Em 2020, tivemos uma paragem forçada no projeto e, em maio deste ano, o presidente deu-nos «luz verde» para avançarmos para a terceira fase, «Do Convento para a Mesa», uma campanha que pretende colocar os «Florados de Lagoa» nas pastelarias, restaurantes e hotéis do concelho. E, para isso, garante-se o fornecimento do produto e pretende-se gerar o interesse do público na sua compra”, frisou Paulo Francisco. Para além da recuperação da antiga receita, houve também necessidade de a adaptar aos dias atuais, esclareceu, por sua vez, Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, devido às normas da Organização Mundial de Saúde e da Direção-Geral de Saúde. “Parece
que a receita original tinha demasiadas calorias e Lagoa é um concelho ativo e saudável”, lembrou o edil, com um sorriso. “Queremos levar bem longe a identidade de Lagoa, que se revela nas mais variadas formas e naquilo que nos distingue dos outros. Vivemos essencialmente do turismo e esta pandemia veio realçar a necessidade de se diversificar o ALGARVE INFORMATIVO #304
tecido económico, mas, no curto e médio prazo, o que nos vai ajudar a sair desta crise, aquilo que vai criar emprego e estimular a economia, será o turismo. E, hoje, são mais as pessoas que viajam no mundo motivadas pela gastronomia e pelos vinhos, do 30
que propriamente pela qualidade das praias, o sol e mar, os campos de golfe”, sublinhou o autarca. “Temos praias fantásticas, campos de golfe extraordinários, excelentes unidades hoteleiras, gente que gosta de acolher – e que o sabe fazer melhor do que ninguém – mas 31
temos igualmente uma incrível gastronomia e vinhos para a acompanhar. E, assim, quem nos visita parte com a ideia de que provou algo diferente e fica com vontade de regressar”, acredita Luís Encarnação .
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SALVADOR SANTOS PUBLICOU «SELVAGEM», MAS CONTINUA A NÃO SENTIR-SE UM POETA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ascido em Chaves, em 1979, Salvador Santos vive no Algarve desde os quatro anos de idade, tendo crescido em Salir. Após estudar em Loulé rumou para Faro para frequentar o curso de Estudos Portugueses na Universidade do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #304
e por ali ficou a viver, tendo, entretanto, assumido funções de editor da «Sul, Sol e Sal». Há cerca de quatro anos mudou-se de malas e bagagens para Loulé e foi aí que nasceu, de forma inesperada, «Selvagem», um livro de poesia editado pela D. Quixote e que apanhou de surpresa o próprio autor. “Toda a minha vida persegui
um romance. Sempre sonhei, 34
percurso como escritor e jornalista, e percebendo um grande silêncio na cidade”. “A minha poesia foi fruto de uma inquietação filosófica muito grande, de os dias de Loulé me parecerem sempre noites, de existir uma noite perpétua”, explica. E se escrever poesia não foi premeditado, muito menos o foi a publicação de «Selvagem», algo que ficou a dever-se bastante à conhecida escritora Lídia Jorge. “Fui fazendo
desejei e trabalhei para um romance, tudo o que escrevi até há quatro anos está em cadernos e no computador e nada ligado à poesia. Nunca quis, nem me senti, poeta”, reconhece o entrevistado, à conversa na «Casa do Meio-Dia», em Loulé. Foi o seu regresso a Loulé que despoletou, de facto, a veia poética de Salvador Santos, após um confronto de ideias com Carlos Albino, “depois de
passar muitas horas a falar com ele sobre a Revolução, sobre o seu 35
textos com o intuito de colocá-los nas redes sociais, as pessoas liam ou não, comentavam ou não, e depois até os apagava, por já terem cumprido a sua obrigação. Mas nunca entendi que esses poemas tivessem pertinência, que fossem necessários. A Lídia Jorge pediu-me os poemas para os ler, juntei-os todos, dei-lhes um alinhamento coerente, ela acreditou neles e apresentou-os à Cecília Andrade, a editora”, relata. Escrever um poema e colocá-lo numa rede social era um risco facilmente assumido por Salvador Santos, já partir para a publicação de um livro é uma história bem diferente, como bem sabe o editor da «Sul, Sol e Sal». “Precisas
ter consciência do meio e entender que aquilo é realmente muito bom e que merece passar ao papel, o que depois acarreta uma série de custos. Quando o colocas num livro é como se o ALGARVE INFORMATIVO #304
poema ficasse institucionalizado, como se fosse uma chancela de qualidade, é bom, pertinente e deve ser lido. Numa rede social tudo parte da minha iniciativa, escrevo num sítio que é meu e que é gratuito, e faço isso por minha conta e risco. Ao avançar para um livro, penso que deve ser outra pessoa a dizer que aquilo deve ser lido”, declara, concordando que «Selvagem» não combina com a imagem que muitas pessoas continuam a ter da poesia de frases curtas e que rimam umas com as outras. “Felizmente temos
pessoas que já percebem que a poesia não é só isso e sinto-me privilegiado por estar a escrever para um público que sabe distinguir as duas coisas. Mas não sei se estarei muito distante de um poeta popular, tenho bastantes dúvidas em relação à profundidade filosófica das ideias que transmito nos meus poemas. Se pegar neste livro, tenho uma grande dificuldade em mostrar dois ou três poemas que considere muito bem conseguidos”, refere, com humildade. “Acho sempre que não está bom, que podia ser melhorado”, justifica. Não significa isso que os poemas tenham passado diretamente da rede social para o papel, houve uma necessária pré-produção, mas os próprios textos originais foram escritos e reescritos várias vezes antes de serem publicados na internet. “Há poemas que começam ALGARVE INFORMATIVO #304
de uma maneira e que depois se misturam com ideias de outros, acabando três ou quatro por se juntar num só. É tudo bastante mastigado, não tenho facilidade de escrita e de pensamento”, admite, sem problemas, o entrevistado. E é essa constante dúvida que gera também uma constante insatisfação com aquilo que escreve.
“Parecem-me sempre coisas fracas e superficiais, daí ficar surpreendido quando alguém me diz que aquele poema o tocou, porque sentiu aquilo, porque passou por aquilo. É algo esquisito porque os meus poemas são absolutamente imperfeitos”. Uma constante insatisfação com o que escreve que, como se imagina, nunca se coadunaria com a produção de poemas comerciais, que fossem fáceis de ler, que se ajustassem às tendências de mercado. “É muito
difícil fazer a ti próprio essa proposta, até porque nunca sabemos o que é que vende. Não é fácil perceber e estar em sintonia com a grande massa de leitores. Eu, felizmente, nunca escrevi para publicar, portanto, nunca me submeti a esse tipo de censuras”, garante, pensando somente na ideia e na estética dos poemas que escreve. “Não sei se
estaria disponível para abdicar da minha forma de pensar e de escrever da maneira como eu vejo 36
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o mundo para ter mais 100 ou 200 vendas. É uma traição que não consigo assumir, porque não consigo fazer o contrário do que fiz neste livro. E também acho que não conseguiria escrever um tipo de poesia que vendesse mais”.
“AINDA NÃO QUERO DESISTIR DO ROMANCE” Escrever a pensar em publicar pressupõe criar-se também, logo à partida, um plano, um esquema, um fio condutor. Como foi então no caso de «Selvagem», que, conforme referido, não era suposto ver a luz do dia. “Eu
consegui dar lógica ao corpo porque, no fundo, não escrevo assim sobre muitos temas diferentes”, responde, enquanto folheava o livro. “Não faço uma poesia lírica no sentido tradicional, olho pouco para dentro de mim quando estou a escrever. O meu motor é sempre aquilo que está fora de mim e existe um eixo muito nítido que tem a ver com a relação campo/cidade, a vida nas cidades, a arquitetura dos espaços e o que ela provoca na vida das pessoas”, indica. “Viver em Olhão deu também uma dimensão marítima à minha escrita, o mar e as salinas. Depois, há também uma vertente política, poemas cuja preocupação é a governação, a exploração humana, as liberdades, uma noite metafórica ALGARVE INFORMATIVO #304
do sentir que a catástrofe está sempre eminente, que novas ditaduras regressam, que os atentados às nossas liberdades fundamentais pesam sobre nós, que caímos outra vez num fosso, numa guerra”. Alguns temas são, então, recorrentes, não foge muito deles, resta perceber se a poesia de Salvador Santos é fruto de inspiração ou de trabalho, se surge espontaneamente ou se tem rotinas de 38
escrita. “Estou vários dias sem
escrever e, depois, há períodos em que tudo aquilo que vejo se transforma em poemas. Uma história que ouço no café, qualquer coisa que vejo na televisão, dá lugar a um poema. Noutras ocasiões, aponto ideias ou frases num bloco, mas não me forço a ser poeta todos os dias. Prefiro esperar pelos momentos em que a minha cabeça está em sintonia com o querer 39
criar”, declara, admitindo que essa é, provavelmente, a razão do seu primeiro romance estar há vários anos em banho-maria. “Se calhar a única
capacidade que tenho, enquanto escritor, é para fazer poemas, mas quero pensar que não, para não desistir já do romance”, diz, com um sorriso. “Um romance exige um trabalho constante, investigação, existe um tema ao qual não podemos fugir. O poema é mais ALGARVE INFORMATIVO #304
livre, é uma resposta a um sentimento”, compara o autor. «Selvagem» está publicado, mas, por força da covid-19 e de todos os constrangimentos inerentes à pandemia, ainda nem sequer foi formalmente apresentado. “Estamos a tentar
perceber como é que vamos fazer a promoção do livro e eu, como editor, sei bem quais as dificuldades que existem nesse processo, por muito boa-vontade que os autores tenham. Não pressiono a editora em nada, mas estou disponível para ALGARVE INFORMATIVO #304
tudo aquilo que ela pedir de mim”, indica, até porque não tem feitio para ser figura mediática, gosta de estar sossegado e resguardado na sombra. “Não sou um homem
público e não me causa transtorno nenhum que não associem o «Selvagem» à minha pessoa. Sei que, hoje, publicam-se tantos livros e que há tão pouco espaço mediático para os autores, que é nas apresentações ao vivo que os próprios leitores têm oportunidade de conhecer melhor o livro. Falar-se do 40
muito responsável e tenho noção que possuo alguns instrumentos que me distanciam do comum cidadão, que tenho um público e uma forma diferente de transmitir ideias”, sublinha, revelando que tem material suficiente para um segundo livro, mas que também não tem pressas em colocar esses poemas no papel impresso.
«Selvagem» do Salvador Santos se calhar não diz nada a ninguém, contudo, se alguém ouvir um ou dois poemas do livro, se calhar fica com vontade de comprá-lo. Mas a conjuntura não é propícia a preparar digressões para apresentação de livros”, analisa o entrevistado. Certo é que «Selvagem» não vai alterar a forma de escrever de Salvador Santos, porque sempre teve um tremendo respeito pelas palavras que partilha com os outros. “O uso da palavra é algo 41
“Não sei o que o futuro me vai trazer, a única coisa que quero é continuar a escrever, e com algum critério e qualidade. Se é editado ou não é algo que não me dá canseiras. A partir do momento em que um poema é escrito, ele acabará sempre por ser lido, seja num telefone, num e-book ou em papel. O que tu queres, quando escreves, é que alguém te leia, o suporte é acessório”, garante. “E, ao olhar para este livro, fico a pensar naquilo que eu acrescento ao mundo, em que é que o «Selvagem» pode mudar a vida das pessoas. Acho sempre que é pouco, pelo que terei sempre dificuldade em publicar algo só para estar nas bancas ou por satisfação pessoal. Aquilo em que aposto, verdadeiramente, é na minha missão cultural no Algarve enquanto editor da «Sul, Sol e Sal». Penso que, à poesia, trago muito pouco, daí não estar preocupado com uma carreira literária” . ALGARVE INFORMATIVO #304
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«CRIAÇÕES DO VENTO» DÁ A CONHECER ARTISTAS DE VILA DO BISPO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Ricardo Soares/Município de Vila do Bispo Forte do Beliche, em Sagres, acolhe, até 5 de setembro, a exposição de artes plásticas «Criações do Vento», que integra originais de oito artistas do concelho de Vila do Bispo. Ana Bellande, Janete Akemi, Manuela Caneco, Maria Paula Correia, Michael Gottfried Herrmann, Paula Curi Garnett, Søren Ernst e Tineke Smit são os artistas que, abraçando o desafio de se inspirarem na relação emocional que os une ao ALGARVE INFORMATIVO #304
concelho, criaram as obras apresentadas ao público, no dia 15 de agosto, nas áreas da linogravura, escultura, pintura e artes decorativas.
“Estes oito magníficos são, sem dúvida, um exemplo daquilo que temos de tão bom no nosso concelho e este projeto permitenos igualmente abrir o Forte do Beliche à comunidade. É uma iniciativa muito boa para esta terra, para o turismo, para dar a conhecer o vosso trabalho”, 44
agradeceu Rute Silva, presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo. O «Criações do Vento» é organizado pela Câmara Municipal de Vila do Bispo e integra o «Bezaranha – Há ventos que vêm por bem!», programa da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve financiado pelo Programa Operacional CRESC Algarve 2020 e pelo FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. “O programa
tem como objetivos apoiar os artistas locais, incentivar os eventos culturais ao ar livre, no Rute Silva, presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo património, e em sítios não convencionais. E tudo isso representando estes animais, uma se verifica com esta exposição. Mas presença constante em Barão de também queremos promover a São Miguel. Para o bom e o itinerância dos projetos, portanto, menos bom, falta de silêncio. alguns artistas presentes no Alegoria ao Dragão, parte do «Criações do Vento» poderão ir Brasão do Concelho. O velho expor noutros concelhos”, explicou isqueiro, que precisava de licença Pedro Bartilotti, coordenador do Bezaranha.
Quanto aos artistas, Manuela Caneco apresenta a peça «O Tribalismo está de volta», um totem que, de cima para baixo, homenageia os antigos, que colhiam o funcho, para fazerem esteiras e secarem os figos. “Os ossos dos cães, 45
durante o fascismo e era sujeito a multa. A palma transformada em corda; tal como o funcho, trazidos do passado para o presente. Raízes de plantas, procurando as nossas raízes. Por fim, a corneta, por onde o futuro soprará, para ALGARVE INFORMATIVO #304
anunciar uma revolução humana, onde o sentir, o pensar e o querer serão mais sociais e menos egoístas”, descreve a artista. Paula Curi Garnett integra a mostra com «O Portal» e a linha condutora da sua obra é a transição da sua vida desde que saiu do Brasil, a sua mudança para Portugal e a sua vinda para Budens, em Vila do Bispo. “Esta obra fala sobre a
minha trajetória artística que, para existir, exigiu mudanças, atravessar portas através das quais eu não sabia o que iria encontrar, encarar o desconhecido de uma viagem para ALGARVE INFORMATIVO #304
terras com as quais eu não era familiarizada. Neste processo de mudança houve uma grande «reciclagem» em tudo o que eu era e que hoje sou, o que também se manifesta nos materiais reciclados que uso na criação das minhas peças”, explica a brasileira. “Foi neste concelho que criei raízes e com isso pude finalmente materializar todo o crescimento pessoal que decorreu em minha vida e que se expressa através do meu trabalho artístico. Sinto Vila do Bispo como um «segundo 46
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berço», sinto-me aconchegada pela familiaridade com as pessoas, com o pequeno comércio, com a linda geografia e tudo isto me faz sentir acalentada e segura para me expressar sem inseguranças”. «Instante em Barão», de Ana Bellande, tem como protagonistas os habitantes de Barão de São Miguel. “São pessoas que
vejo todos os dias na aldeia, que aqui viveram toda a sua vida e que a conhecem de cor. São pessoas que levam consigo uma tradição que, devido às mudanças na economia global e consequente alteração da configuração territorial, está a desaparecer. São testemunhas das mudanças, os seus corpos e os seus ALGARVE INFORMATIVO #304
rostos estão impressos de memória, de história, estão carregados de vivências e experiências. Quis trazer à luz estas pessoas para serem relembradas, reconhecidas e resgatadas do seu anonimato, por serem elas o património vivo deste território”, sublinha. Maria Paula Correia tem nesta exposição «Flores d’Mar». Nascida, criada e sempre a viver no concelho de Vila do Bispo, “num território
virado ao mar, umas vezes quieto, cálido e acolhedor, outras vezes revolto pela tempestade e pelo vento quase omnipresente”. “O meu pai foi pescador a sua vida 48
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toda e, através dele, o mar, a praia, o peixe e o marisco, o convívio entre as gentes do mar, sempre fizeram parte da minha vida. Esta ligação ao mar e ao vento que, em noites de tempestade, aperta os corações de quem, em terra, espera o regresso dos pescadores, inspiraram-me a criar estas «Flores d’Mar», filhas desta terra e do seu mar, representado pela principal matéria-prima utilizada na sua criação: a escama da corvina, capturada na nossa Costa Vicentina”, conta a artista, lembrando que, depois de um longo processo preparatório, as escamas são delicadamente cortadas e trabalhadas.
“Combinadas com fio de prata, revelam esta singela homenagem às gentes deste concelho e aos elementos da natureza que lhes dão vida, cor e sustento”, frisa. ALGARVE INFORMATIVO #304
«Encantamentos» é o contributo de Janete Akemi para «Criações do Vento», refletindo os seus passeios semanais de bicicleta desde Salema, onde mora, até Vila do Bispo. “O
cenário é irresistível e as imagens inspiradoras, um verdadeiro alimento à minha alma de artista. A orquestração das cores na Primavera que vão desde o branco suave e dançante das estevas, às florezinhas rosas e delicadas do fel-da-terra. As roselhas e as alfazemas. As papoulas vermelhas, poderosas e cheias de vida. As ondas do vento de Verão que transformam os campos de trigo em prata reluzente e trazem emoção aos caracóis que escalam as ervasdoces do campo. As azedas amarelo-limão que pintam o verde refrescante do Outono. As amendoeiras com seus galhos 50
floridos em branco e rosa ao final do Inverno. E, enriquecendo esta paisagem, os pastores com seus rebanhos em marrom, creme e preto; boiadeiros com suas boiadas, a quem dão nomes especiais”, partilhou a artista com o público presente na inauguração da exposição. Uma exposição onde o alemão Michael Gottfried Herrmann» está com «Cavaleiros na Tempestade», lembrando-se da primeira vez que esteve em Portugal, em 1981, quando se viu encurralado no «fim do mundo». “Fiquei
impressionado com a Natureza incrível e com o poder do mar. A 51
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tolerância e o orgulho das pessoas que aqui vivem fizeram-me voltar ano após ano. Em 2001, quando comecei a viver aqui, além do meu trabalho como ourives, iniciei a criação de objetos a partir de ALGARVE INFORMATIVO #304
materiais recolhidos na Natureza e no lixo, e de peças inúteis oferecidas por amigos, seguindo a lei universal de que «nada se perde, tudo se transforma»”, recorda, apontando que o seu trabalho 52
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para o projeto Bezaranha é uma criatura, na tempestade, a montar uma lagosta natural transformada.
“Porque nós, gentes do «fim do mundo», não vivemos apenas no lado bom da vida. Enfrentamos o poder da Natureza, bem conscientes de que não podemos existir sem ela. Por isso, não lutamos contra ela, mas vogamos juntos. Somos todos «cavaleiros na tempestade»”, apontou. Quando pensa no Algarve, Tineke Smit sente ar puro, vento, vontade de voar, cores maravilhosas, natureza, e assim nasceu «Andando no Ar».
“Com esta ave consigo misturar todos esses sentimentos, a liberdade de ir, de andar, de olhar à nossa volta, de nos sentirmos felizes. Como não consigo voar, fiz uma ave andante, com botas, entre as flores, entre as nuvens. Eu sou a ave, a ave sou eu”. A única peça não exposta no Forte do Beliche devido à sua dimensão encontra-se no Jardim do Infante, em Sagres, e é a escultura «Portal da Luz», de Søren Ernst. “Cada um de nós
tem os seus motivos para aqui estar e para gostar desta paisagem, das suas condições climatéricas, das suas gentes e da proximidade com algumas das mais belas praias da Europa e ALGARVE INFORMATIVO #304
do Oceano Atlântico que nos rodeia. Para mim, enquanto escultor que vive neste concelho há quase 30 anos, tudo o que foi acima descrito é um sentimento pessoal. Uma liberdade de escolha que deriva de uma inspiração artística que se expressa melhor através de um poema do que por mil palavras: ‘A luz, terra, vento e mar/ Criaram aquelas gentes/ Entre quem eu quero ficar’. Este poema figura numa placa colocada aos pés da figura humana”, indicou o artista. “A cabeça está rodeada por um arco de ágata, apoiado em dois pilares talhados em calcário nativo, e a sua face encontra-se virada a sul. Quando iluminada, o arco de ágata brilha, revelando um rico matiz amarelo-laranja”, acrescenta, referindo ainda que
“este «Portal da Luz» encontra o seu lugar permanente na costa sudoeste, no centro de Sagres, sobranceiro ao mar e ao horizonte”. “Integra também a Rota Europeia de Escultura, um símbolo europeu da interligação entre todos os seus povos e suas diferentes culturas, credos e cores”, finalizou Søren Ernst .
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LOUCURA EM TAVIRA COM FERNANDO DANIEL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Miguel Pires (https://www.mpalgarve.com/)
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o âmbito do Dia Internacional da Juventude, Fernando Daniel, um dos artistas pop mais relevantes da atualidade, rumou, a 12 de agosto, a Tavira, para atuar no Parque do Palácio, com o intuito de dar a conhecer o seu mais recente álbum, «Presente», que recebeu recentemente o galardão de ouro. O disco entrou diretamente para o primeiro lugar do ALGARVE INFORMATIVO #304
top nacional de vendas e permaneceu na liderança durante seis semanas consecutivas, com temas como «Se Eu» (single de platina) com a participação dos brasileiros Melim, «Melodia da Saudade» e «Tal Como Sou», estes premiados com o single de ouro. E o êxito de Fernando Daniel ficou mais uma vez bem patente na lotação esgotada do Parque da Galeria, num concerto que perdurará na memória de todos os presentes . 60
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«SAÍDA DE EMERGÊNCIA» VENCERAM «MÚSICA JA 2021» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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recinto da FATACIL, em Lagoa, foi palco, no dia 12 de agosto, Dia Internacional da Juventude, da grande final do Música JA – Concurso de Música Moderna do IPDJ do Algarve. O evento pretende incentivar a imaginação e a criatividade dos jovens residentes no Algarve, com idades compreendidas entre os 14 e os 35 anos, promovendo o intercâmbio, a troca de conhecimentos e experiências entre os jovens músicos da região e dando-lhes palco, assim criando condições para o seu crescimento. Depois das eliminatórias disputadas em Faro e São Brás de Alportel, nesta terceira edição do Música JA foram à final Petr Gdsoon, Saída de Emergência, Unforseen e WTDPG. Os vencedores foram os Saída de Emergência, banda de rock proveniente de Loulé, seguindo-se WTDPG e Petr Gdsoon, ambos de hip-hop, ALGARVE INFORMATIVO #304
e Unforseen, de heavy metal. Os quatro projetos finalistas terão direito a concertos em eventos das Autarquias de Faro, São Brás de Alportel e Lagoa, da Associação Académica da Universidade do Algarve e da Associação Recreativa e Cultural de Músicos, a um show case na FNAC Portugal e ainda à inclusão de um tema na programação diária da RUA FM – Rádio Universitária do Algarve. Os Saída de Emergência vão também gravar um EP em formato digital. A terceira edição do MÚSICA JA foi uma iniciativa do Instituto Português do Desporto e Juventude em parceria com as Câmaras Municipais de Lagoa, Faro e São Brás de Alportel, a Associação Académica da Universidade do Algarve, a Associação Recreativa e Cultural de Músicos, a FNAC Portugal e a Rádio Universitária do Algarve – RUA FM, com produção a cargo da Mentecapta. 72
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JOVENS BAILARINOS DO «PEOPLE POWER PARTNERSHIP» ATUARAM EM LOULÉ E QUARTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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6 jovens oriundos de Loulé e da cidade alemã de Friburgo, participantes no «People Power Partnership», projeto de cocriação artística de grande escala, na área da dança, realizaram uma residência artística em Loulé durante a primeira quinzena de agosto e apresentaram-se ao público com dois espetáculos onde mostraram algumas das competências adquiridas, primeiro no dia 12 de agosto, na Cerca do Convento Espírito Santo, em Loulé, depois, no dia 14 de agosto, no Passeio das Dunas, em Quarteira. As produções artísticas tiveram como fonte de inspiração temas escolhidos pelos próprios participantes, constituindo reflexos únicos de cada espaço urbano em particular e das pessoas que o habitam. Mas esta não foi a primeira vez ALGARVE INFORMATIVO #304
que estes bailarinos trabalharam em conjunto, já que, em junho, os jovens louletanos integrados no PPP estiveram na Alemanha, em Friburgo, onde efetuaram uma troca de experiências na área da dança com os seus congéneres germânicos. O Município de Loulé é, a par da Câmara Municipal de Lisboa, um dos dois parceiros portugueses no «People Power Partnership», projeto liderado pela Alemanha, através do Aktionstheater PAN.OPTIKUM de Friburg. Ao todo, o PPP conta com 14 parceiros europeus, sendo os bailarinos provenientes de 11 países. O projeto prolonga-se até 2024, é financiado pelo programa Europa Criativa da União Europeia e prossegue os objetivos da Agenda Europeia para a Cultura, relativamente ao diálogo intercultural. 92
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ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE ARRANCOU NOVA DIGRESSÃO EM TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Miguel Pires (https://www.mpalgarve.com/)
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omeçou, no dia 13 de agosto, no Parque do Palácio da Galeria, em Tavira, a Tour «Jazz Fusion & Beyond» da Orquestra de Jazz do Algarve, que contemplou igualmente espetáculos em Lagoa e Quarteira. Para a sua proposta de Verão, a OJA, liderada pelo Maestro Hugo Alves, convidou Cherry, que se tem ALGARVE INFORMATIVO #304
vindo a revelar como uma das mais versáteis vozes portuguesas da atualidade. O resultado é um repertório que funde diversas linguagens e visivelmente mais leve, como já é habitual no quente mês de agosto, e onde constam temas como «Georgia On My Mind», «Birdland» ou «Sir Duke», com versões da responsabilidade dos mais renomeados orquestradores de jazz . 104
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OPINIÃO Trigésima tabuinha - Tomate Ana Isabel Soares (Professora Universitária)
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omo te chega esse fruto ao saber? Começa na cor. Onde viste primeiro o tomate? Estaria na mão de quem te alimentava? Viste-o nalguma das extremidades dos ramos, frágeis garras verdes, a gota verde que uma flor exsudou? Viste-o no fundo da cerâmica do prato de Verão, no tacho onde se transformou em tomatada, papa indistinta, clareada pela gema de ovo? O primeiro tomate é o modelo: o olhar reconhecerá todos os outros, por mais tons de vermelho, rosa e verde que te apresentarem, lisura de pele, estrias em costura, forma mais esférica, forma mais oblonga, forma mais achatada [o turbante de Iznogud sempre te pareceu um tomate esverdeado e branco] – o redondel terminando em baixo com um ponto mínimo, vestígio do final da flor que foi; em cima com um umbigo-botão, sinal de ter deixado o ventre-ramo da tomateira, lugar em volta do qual o bico da lâmina ferirá. Depois, abrindo-se ao fio da faca que prepara o prato – ou aos dedos, esmagando –, descobre, banhadas na água rosada, grainhas e galerias).
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Para fazer a tomatada, prato bem quente para os dias quentíssimos de Verão, que é quando amadurece o ALGARVE INFORMATIVO #304
tomate, se avermelha, amolece a polpa, quando ele mais ganha sabor, que o sol mexe, pela finura da pele, no caldo das galerias – tem de se começar pelo trabalho mais lento e preciso: a preparação do tomate. (Melhor: o rigor começou antes, com a escolha dos frutos, que terão de ser os mais amadurecidos, aqueles que o tempo só, com o calor, já fez rachar, aqueles que deitam o cheiro mais forte, no abismo de apodrecer). A quantidade resolve-se conforme o número de comensais: dois ou três tomates por pessoa, maiorzinhos, a que se retiram pele e grainhas, mas poupando o mais possível o suco, que o cozinhado agradecerá. Refoga-se num tacho largo e alto (nunca é demais, mesmo para pouca quantidade: em fervendo, a tomatada borbulha e lança altas as erupções queimosas; a largueza é precisa, para espaço de mexer), em bom e abundante azeite, alho e cebola picados muito pequeninos, sem deixar torriscar (uns salpicos de água bastam para o evitar). Muito alho (dentes em número ímpar), uma cebola grande, ou mais ainda, muita cebola, que cebola e alho nunca são em demasia. Pode juntar-se, para adensar o gosto, uma folha de louro, que antes do final se retirará. Estando transparentes os pedacinhos de cebola, junta-se ao lume uma boa tira de toucinho e um bocado de presunto, cortados em 118
Foto: Vasco Célio
quadradinhos iguais de minúsculos. Quando esta gordura nova estiver à beira de estar frita, acrescentam-se os frutos, cortados aos pedaços. Se forem mesmo, mesmo madurinhos, a tomatada nem chamará máquina de triturar, manual ou elétrica: a colher de pau, mexendo, os desfaz. Vai-se apurando enquanto coze – acerta-se o sal, mas pouco será necessário, que a gordura animal estará temperada, e não se quer ocultar o sabor do tomate (alguém mais amigo de sal pode sempre adicioná-lo no prato). A mistura não deverá secar muito; mas, se for secando, junta-se o suco que ficou de o arranjar: estar aguado, de início, não será problema, pois se juntará um naco de pão com dois ou três dias, esfarelado 119
entre os dedos (há quem goste da côdea: terá de usar uma picadora, para que o rijo do pão se uniformize com o mole e de trincar, no prato, sejam só os pedacinhos do presunto), à medida que se mexe e se mistura com tomate, gordura, alho, cebola e o aroma do louro. Em estando tudo mais para o seco, envolvem-se ovos (um por pessoa, também), muito bem batidos, na tomatada, ainda ao lume. Estando a mistura homogénea e o ovo bem cozinhado, está o prato pronto e servese imediatamente a acompanhar o peixe assado, entrecosto na brasa, jaquinzinhos fritos, ou nada além deste molho, cozinhado e deleitável, de tomate . ALGARVE INFORMATIVO #304
OPINIÃO As tendências do Marketing Digital para 2022 Fábio Jesuíno (Empresário) Marketing Digital tem um impacto enorme nas organizações, sendo cada vez mais indispensável a sua utilização, estar informado das suas principais tendências é fundamental para uma definição clara e objectiva das estratégias de comunicação. Como é tradição, decidi novamente escolher e analisar as principais tendências de marketing digital para o próximo ano: TikTok É a grande rede social do momento em todo o mundo com mais de três mil milhões de downloads, pelo que considero ser uma das grandes tendências em termos de marketing digital para o próximo ano. Um dado importante a ter em conta, para além do sucesso em termos de utilizadores, também apresenta grandes resultados financeiros, conseguindo receitas brutas de 2,5 mil milhões de dólares, obtidas maioritariamente através das receitas de publicidade. Esta rede social é muito mais do que uma simples plataforma de vídeos divertidos, quer conquistar o mundo captando e ALGARVE INFORMATIVO #304
apresentando a criatividade, conhecimento e momentos únicos. O TikTok é altamente viciante e divertido, vai continuar a apresentar níveis altos de crescimento e é, sem dúvida, uma rede social a ter em conta nas estratégias de comunicação das organizações. Clubhouse É uma das redes sociais mais populares do momento e a que apresenta uma abordagem diferenciada devido a funcionar exclusivamente com áudio. O Clubhouse é baseado em chats de voz, aqui não se publica fotografias, vídeos e nem textos. Todo o seu funcionamento é baseado em áudio ao vivo. Neste momento, qualquer pessoa pode criar uma conta e ter seguidores e seguir outros utilizadores, pode também aderir e criar salas de conversação e receber notificações sobre conversas dos seus interesses. Como é uma plataforma muito recente, ainda não existem ferramentas para criar campanhas, mas pode ser utilizada por organizações para criar salas de conversação sobre os seus produtos e 120
serviços, sendo uma grande tendência para o próximo ano. Inteligência Artificial Uma das principais tendências nos próximos anos funciona com base em algoritmos, que permitem às máquinas aprenderem sem serem explicitamente programados para esse fim. A inteligência artificial é hoje em dia utilizada nas mais diversas formas, como 121
no Predective Customer Intelligence, que personaliza a experiência do cliente com base no seu comportamento de compra, atividade na internet ou redes sociais. Estas são as três tendências principais que, na minha opinião, vão fazer a diferença no próximo ano na área do marketing digital e impulsionar em grande escala os resultados das organizações . ALGARVE INFORMATIVO #304
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #304
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