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ALGARVE INFORMATIVO 25 de setembro, 2021
MARIONETAS À SOLTA NO ALGARVE | III FESTIVAL VENTANIA | «LENDA DO BARÃO» 1 ALGARVE INFORMATIVO #308 7.º FESTIVAL DE ACORDEÃO JOÃO CÉSAR | «RETROSPECTIVA DE UM FARO FUTURO»
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68 - «Noites de Silêncio»
16 - «As minhas mais… marionetas»
38 - «Confiando (Confinado)»
28 - «Lenda do Barão»
112 - Teatro de Robertos
112 - «Retrospectiva de um Faro futuro»
OPINIÃO 128 - OrBlua 134 - Paulo Cunha 136 - Paulo Bernardo 138 - Mirian Tavares 140 - Fábio Jesuíno 142 - Lina Messias 144 - João Soares 90 - 7.º Festival de Acordeão João César ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #308 #308
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54 - III Festival Ventania
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MANUEL DIAS TROUXE AS SUAS MARIONETAS PREFERIDAS AO FOME Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Festival FOMe
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espetáculo «As minhas mais… marionetas», da responsabilidade da «Trulé – Investigação de Formas Animadas», tem feito as delícias de algarvios de todas as idades que assistem aos espetáculos do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, sintetizando o percurso de Manuel Dias de mais de 40 anos de pesquisa e entendimento das diversas técnicas de construção e manipulação de marionetas. É, por isso, ALGARVE INFORMATIVO #308
um espetáculo de pura poesia visual em que os bonecos são tocados pelos dedos mágicos do bonecreiro e nos mostram pedaços de vida em histórias de encantar. Natural de Évora, Manuel Dias é marionetista, construtor e investigador em formas animadas há mais de quatro décadas, motivo pelo qual a sua vida se confunde com a dos bonecos que cria e recria de uma forma tão peculiar e única, quanto honesta e intensa. Uma dedicação que lhe trouxe muitas viagens à volta do mundo e o reconhecimento do seu trabalho com vários prémios internacionais . 18
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NAVE BARÃO CONHECEU A LENDA DO BARÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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o dia 10 de setembro, a Fonte da Lagoa da Nave, na Nave do Barão, interior do concelho de Loulé, Sérgio e Vanessa de Almeida representaram a «Lenda do Barão», uma peça de teatro/performance de rua inserida no «Geopalcos – Arte, Ciência, Natureza», no âmbito da candidatura do Geoparque Algarvensis a Geoparque Mundial da UNESCO.
Barão e ali decidiu criar um oceano, a magia das magias. “O poder do seu cajado desencadeou uma tremenda confusão e deu-se a divisão do novo mundo. A gestação do oceano começa e a terra separa-se, o oceano vai-se posicionando para lá dos vales e das montanhas. Um novo dia nasce, numa outra Era, e um pastor que passeava o seu gado irá contar, entre modas e modinhas, a um forasteiro perdido, o porquê da localidade se chamar a «Nave do Barão»”, explicam Sérgio e Vanessa de Almeida .
A «Lenda do Barão» assenta na história de um druida que se reuniu na Nave 31
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TEATRO LETHES ASSISTIU A «CONFIANDO (CONFINADO)» DA FIO D’AZEITE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina / Festival FOMe
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«Fio d´Azeite – Marionetas Chão de Oliva» de Sintra pegou no premiado texto de Rui Sousa e dele nasceu «Confiando (Confinado)», peça que integrou o programa do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve durante o mês de setembro em seis concelhos do Algarve Central. “Trata-se de uma história
explica o encenador e ator Nuno Correia Pinto.
feita de pequenas histórias da personagem principal de nome Vicente. Estas crónicas da vida do protagonista são viagens no tempo, formando uma linha cronológica desalinhada, mas remetendo a toda uma poesia visual de memórias aleatórias de uma vida tranquila”,
acrescenta Nuno Correia Pinto, referindo ainda que “o título
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De acordo com a companhia, “a
saudade é lembrada e o passado é revisitado em memória”. “E alguns momentos envolvem silêncio de texto, sobressaindo a musicalidade, privilegiando o gesto musicado, levando o público a interpretar as cenas através da poética da luz, da manipulação e do ritmo”,
«Confiando» em oposição ao subtítulo «Confinado» proporciona uma viagem entre sentimentos, revoltas, suspiros, sorrisos, entre outros surtos de abalo e esperança” . 40
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III FESTIVAL VENTANIA CHEGOU AO FIM EM PORTIMÃO Texto: Daniel Pina Fotografia: João Catarino
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VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento, assente nos ideais de desenvolvimento e promoção do ativismo artístico, terminou a sua terceira edição em Portimão, no dia 11 de setembro, com uma programação para todas as idades que incluiu dois espetáculos e uma oficina em que as questões ambientais e a economia desregulamentada estiveram em destaque, em dois olhares sobre as
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fragilidades da água e da terra e a sua relação com a Humanidade. A programação começou na Black Box do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão com a oficina de criação de marionetas de Marotte utilizando materiais e formas que, a princípio, pareceriam improváveis, promovida pela Companhia Teatro e Marionetas de Mandrágora. À tarde, a mesma companhia apresentou, no Auditório do Museu Municipal de Portimão, «Aurora», “um espetáculo
concebido através de um olhar
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sobre o habitar e cuidar a Natureza e a sobrevalorização que damos aos espaços citadinos, muitas vezes esquecendo as nossas raízes”, descreveu a organização O VENTANIA 2021 fechou o pano no Grande Auditório do TEMPO com «Océaniques Anonymes» de Poème en Volume & Kale Companhia de Dança. Com base no trabalho documental da fotógrafa Hélène David e do escritor Donatien Garnier, o coreógrafo Gaël Domenger transpõe para o palco o quotidiano dos marinheiros do séc. XXI,
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questionando as suas representações.
“O embarque proposto não deixa de ter eco político, com situações cada vez mais observadas em terra. Como os marinheiros de alto-mar são veículos da dependência global de matériasprimas, bens de consumo, indústrias extrativas e, em particular, da pesca. Ou como dois milhões de marinheiros, na sua maioria homens, estão entre as partes invisíveis da sociedade”, sublinhou a companhia .
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«NOITES DE SILÊNCIO»: A BELEZA DA REPRESENTAÇÃO SEM PALAVRAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Companhia JAT – Janela Aberta Teatro assinalou, a 17 e 19 de setembro, o Dia Mundial do Surdo, o Dia Mundial do Mimo e os 30 anos do IPDJ de Faro, abrindo, ao mesmo tempo, o apetite para o MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico Algarve (que se vai realizar em novembro, em Faro), com duas «Noites de Silêncio» no Instituto Português de Desporto e Juventude. No alinhamento tivemos algumas performances de máscara expressiva e objeto e a apoteose final com a representação da famosa «Alegoria da Caverna» pelos alunos das várias oficinas de formação de atores dinamizadas pela ALGARVE INFORMATIVO #308
Companhia JAT, mas o que provavelmente mais surpreendeu a assistência foram, sem dúvida, os fantásticos solos de mimo de estilo de Diana Bernedo, com «Filhos da Evolução», e de pantomima cómica de Miguel Martins Pessoa, com «Cocktail». Isto porque, apesar de estarmos habituados a ver os atores/formadores em peças de teatro tradicionais, mais raras são as oportunidades de os vislumbrarmos na sua principal arte, o teatro físico. E foram, de facto, momentos de rara beleza os proporcionados por Diana Bernedo, numa performance mais metafórica, com movimentos líricos a lembrar o ballet clássico; e de uma tremenda boa-disposição os representados por Miguel Martins 70
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Pessoa, que, sozinho num palco nu, nos transportou, como que num passe de magia, para uma agitada festa em que não faltaram algumas cenas de engate e até de pugilato. E, de repente, tornou-se mais fácil de perceber o motivo dos espetáculos levados a cabo pela Companhia JAT, interpretados por pessoas perfeitamente normais que frequentam estas oficinas de representação, são sempre tão bons. É que Diana Bernedo e Miguel Martins Pessoa são, realmente, extraordinários naquilo que fazem. “O Teatro é uma
janela que nos convida a viver na pergunta e no questionamento, convida à observação, à escuta, estimulando a nossa imaginação e convidando-nos ao movimento, faculdades do ser humano que não obedecem a hierarquias, condições, classes sociais, e que nos
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aproximam a uma comunicação mais primária e necessária. Porque nascemos do silêncio, mas também do grito, «Noites de silêncio» é a nossa homenagem à Arte do Mimo, à universalidade do Teatro sem palavras, uma arte milenar compreensível através da eloquência do gesto, da poesia das imagens e da imaginação do público. Uma viagem ao passado, presente e futuro”, explica a dupla responsável pela dramaturgia e encenação deste espetáculo que foi levado a cabo também por Ana Brandão, Elsa Fernandes, Graça Madeira, Ilda Nogueira, Isabel Costa, Luana Mendes, Rita Abreu e Vasco Seromenho .
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7.º FESTIVAL DE ACORDEÃO JOÃO CÉSAR ESGOTOU TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vera Lisa
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TEMPO – Teatro Municipal de Portimão foi palco, no dia 4 de setembro, da sétima edição do Festival de Acordeão João César, organizado pela Junta de Freguesia de Portimão em parceria com a Rádio Alvor FM. À imagem do que sucede todos os anos, os muitos amigos e familiares do músico e compositor falecido em 2013, bem como os apreciadores do acordeão em geral, encheram a principal sala de espetáculo de Portimão nesta noite que contou com as interpretações de Francisco Monteiro, Ricardo Alves, Jorge Alves e Maria Adélia Botelho.
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Ao longo de mais de duas horas escutaram-se temas originais e algumas peças clássicas e populares do homenageado, com particular destaque para «Portimão em Festa», já um hino do festival. Considerado um ícone da música algarvia, João César nasceu a 14 de abril de 1943, em Portimão. Começou a tocar aos 16 anos a solo e em grupos musicais, em hotéis e salões de baile de norte a sul de Portugal. O portimonense colaborou com inúmeros conjuntos de expressão musical da sua terra, compôs músicas para as marchas populares de Lisboa, Portimão e de outras localidades e acompanhou, com o seu acordeão, artistas como Mariette Pessanha, Fernanda Baptista e Simone de Oliveira. 92
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TEATRO DE ROBERTOS ANIMOU A BIBLIOTECA MUNICIPAL DE TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina / Festival FOMe
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e Espinho até ao Algarve veio a companhia «Teatro e Marionetas de Mandrágora» para participar em mais uma edição do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, dando a conhecer, na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, a tradição do Teatro de Robertos. “Estas histórias
partem de uma memória tradicional que chega até nós, provando, através de simples fantoches, como somos desafiadores quando queremos cumprir os nossos desejos”, refere a companhia. ALGARVE INFORMATIVO #308
“Num teatro profundamente interventivo com o público, jogando com a comicidade e com os sentimentos mais primários, o Roberto faz o público gritar, saltar das cadeiras, criar empatias, e, por momentos, o espectador é também o Roberto que desafia as leis e as convenções e que se torna invencível. E é através destes incríveis fantoches que vamos contar as histórias «O Barbeiro Diabólico» e o «O Castelo dos Fantasmas»”, afirmou Filipa Mesquita, especialista em bonecos tradicionais portugueses de mão enluvada . 102
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PLUTÃO DE VERÃO LEVOU «RETROSPECTIVA DE UM FARO FUTURO» ÀS RUÍNAS ROMANAS DE MILREU Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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nova associação cultural multidisciplinar Plutão de Verão levou a palco «Retrospectiva de um Faro futuro», no dia 4 de setembro, nas Ruínas Romanas de Milreu, em mais um evento inserido no DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos. O primeiro ano de existência da associação foi focado na criação do Young South Film Festival e, através de parcerias com o IPDJ, Loulé Film Office, Teatro Estúdio Fontenova, Cineteatro Louletano, Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, Cineclube de Faro e ALGARVE INFORMATIVO #308
com o artista Welket Bungué, foram exibidas dezenas de curtas-metragens a milhares de espectadores, organizadas inúmeras masterclasses com vários realizadores. A associação foi também a responsável pela preparação de vários projetos voltados para o nível educativo, que é um dos principais focos da associação.
“Queremos criar sinergias entre entidades culturais e participar ativamente na educação e capacitação das próximas gerações”, explica Diogo Simão, diretor artístico da associação. Quanto a «Retrospectiva de um Faro futuro», consistiu na leitura de oito 114
lendas sobre a cidade de Faro ao som de hip-hop, tendo as Ruínas Romanas de Milreu como pano de fundo. A criação dos instrumentais originais esteve a cargo de Nuno «Kabula» Esmael, produtor farense e membro da Plutão de Verão. Já as leituras foram feitas por membros de todas as companhias/associações de teatro de Faro, designadamente André Canário (te-Atrito), Catarina SIlva (DoisMaisUm), Fúlvia Almeida (ArQuente), João de Brito (LAMA Teatro), Luís Vicente (ACTA), Miguel Martins Pessoa (JAT – Janela Aberta Teatro) e Tânia Silva (AFera), ao mesmo tempo que Vasco Seromenho (JAT – Janela Aberta Teatro) as interpretava em língua gestual portuguesa. As lendas foram escolhidas
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através do aconselhamento científico do Centro de Estudos Ataíde Oliveira da Universidade do Algarve, com exceção de uma escrita por Diogo Simão sobre um potencial futuro de Faro. “Através
da leitura das lendas urbanas de Faro perpetuamos as memórias «fictícias» que formaram a identidade coletiva que os farenses reconhecem como sua”, afirma Diogo Simão. A execução técnica foi obra da Associação Recreativa e Cultural de Músicos e a noite contou com o apoio local especial da Associação Charola Amizade Estoiense .
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OrBlua - Um Folhetim Semanal que Celebra a sua Vida e o seu Final Episódio 7 Texto: António Pires | Foto: Jorge Jubilot e OrBlua Episódio 7 etratos Cinéticos», o primeiro álbum dos OrBlua, editado em 2015, é bem capaz de ser a opus magnum do trio.
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Depois de um EP – «Trihologia Noctiluca» – que tinha uma música belíssima e contida, por vezes até próxima do silêncio, e que era sempre agradável, digamos assim, de ouvir e fruir, a música dos OrBlua evolui em «Retratos Cinéticos» para um universo muito mais alargado de sonoridades e, desta vez, tendo já lugar para asperezas, distorções, ruído e
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explosões sónicas (afinal, o «Aviãozinho Militar» faria detonar mesmo algumas bombas no futuro!). Mais experimental, mais aberto em termos melódicos, harmónicos e tímbricos, «Retratos Cinéticos» (também assim chamado porque o CD era acompanhado por um livro com fotos,
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maravilhosas, de Jorge Jubilot), dá-nos uns OrBlua ao mesmo tempo ainda mais agarrados às suas raízes algarvias – o díptico «Corrido Algarvio» e «Quem Manda Aqui Sou Eu», temas 9 e 10 do disco, são disso prova mais do que evidente, estando esse sabor local também presente, embora de uma forma mais subliminar, noutras canções
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– como no abrir de portas a alguns ídolos musicais da banda: os Gaiteiros de Lisboa – eles que, apesar de terem o nome da capital portuguesa no nome, tanto podem ser transmontanos («Romance da Lhoba», «La Sarandillera»…) como algarvios («Leva, Leva»…) – em «Tempo Estado»; e Janita Salomé (um dos pioneiros das viagens entre a música portuguesa, mais concretamente alentejana, com o flamenco da Andaluzia e com a música árabe) em «Calendário», um inédito com autoria do saudoso Sérgio Mestre, cuja faceta de compositor e poeta – como acontece nesta canção – fica muitas vezes esquecida por trás da imagem de fiel escudeiro e flautista mágico de José Afonso.
abre também a porta a uma enorme panóplia de instrumentos musicais oriundos de todo o mundo – uma colecção que nunca deixou de aumentar – e a uma maior ligação da edificação musical a outras formas de arte visual, não só as fotografias de Jorge Jubilot, mas também a uma diferente abordagem do palco como um espaço teatral, cenográfico e – depois disso – até coreográfico (a entrada em cena, vestida por Inês Graça, de um bioco, uma espécie de burka algarvia, viria a tornar-se uma marcante imagem identitária dos OrBlua. Mas estas e outras aventuras da banda serão retomadas já, já, de seguida, assim o Diabo da Velha o permita! .
Paralelamente, «Retratos Cinéticos» ALGARVE INFORMATIVO #308
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OPINIÃO E que, entre os melhores, ganhe o melhor! Paulo Cunha (Professor) ico satisfeito e orgulhoso por ter entre os meus amigos e conhecidos muitos candidatos a ocupar os vários lugares a votação nas próximas eleições dos órgãos das autarquias locais. Independentes ou filiados numa qualquer força partidária, sei que através do seu percurso humano e profissional irão dar muito e o melhor de si à causa pública, e isso deixa-me tranquilo quanto às suas intenções. Não fazendo condição necessária terem de pensar como eu para com eles conviver e trocar ideias, independentemente do seu posicionamento no espetro político, tento ter a mente suficientemente aberta para ouvir e ler as suas ideias e ideais e assim tentar perceber da sua real exequibilidade. Ao contrário do resultado das eleições legislativas, em que os deputados eleitos deixam praticamente de ter contacto com os cidadãos do seu círculo eleitoral logo que tomam assento na Assembleia da República, os candidatos eleitos para as várias estruturas autárquicas acabam por ser a parte visível e contatável do poder. Estando perto de nós e tornando o seu trabalho imediata e facilmente ALGARVE INFORMATIVO #308
escrutinável, é natural que muitos dos eleitores votantes valorizem mais o currículo e o percurso cívico e social dos candidatos do que as forças partidárias que os apoiam. Por isso, não é difícil constatar que cada vez mais os partidos recorrem a candidatos independentes para integrar as suas listas autárquicas. Havendo uma enorme desconfiança e descrédito por parte de muitos portugueses pela constituição, orgânica e objetivos dos aparelhos partidários (vá-se lá saber porquê…), mais de metade da população portuguesa prefere não votar. É também de referir que muitos cidadãos capazes, habilitados, competentes e honestos preferem não abraçar a gestão da coisa pública, para assim não verem a sua imagem, reputação e bom nome associados aos fenómenos de compadrio, troca de favores e corrupção que têm feito história na conduta política de alguns filiados que usam as estruturas partidárias para atingir e conseguir o que não conseguiriam doutra forma. Sempre que se aproximam as eleições autárquicas, invariavelmente, recebo convites para manifestar publicamente o meu apoio por este ou por aquele candidato. Sendo tantos e vindos de vários quadrantes políticos, sempre me 134
senti reconhecido e lisonjeado por tal facto. Acreditando nas boas intenções e seriedade dos candidatos com quem privo, neles deposito confiança e as melhores expetativas. Por isso, habitualmente, respondo que o meu sincero apoio se reflete no não apoio dos seus adversários. Podendo este texto parecer datado, sei que o mesmo pode servir de reflexão e de debate sempre que for lido, constituindo uma espécie de lembrete sobre a importância de colocar à frente dos destinos das nossas regiões pessoas que, além de parecer, dão garantias de ser o que parecem. Mais do que as promessas plasmadas em «flyers», na internet, nos «outdoors» e nos meios de comunicação, antes de 135
irem votar, questionem-se se o vosso candidato preferido reúne as características e qualidades necessárias para escolher, coordenar e liderar as várias equipas com quem vai trabalhar. Por mais assessores que lhes façam os resumos, tracem as agendas e planifiquem e priorizem as atividades, só os eleitos serão julgados após o término do mandato. Não se esqueçam: os autarcas não são, estão. Desempenharão, por um período de quatro anos, cargos para os quais foram escolhidos. Estando, poderão fazer avançar ou retroceder o progresso e o bem-estar das populações que, desejavelmente, deverão servir. Assim sendo: que ganhem os melhores! .
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OPINIÃO O Brasil precisa de nós Paulo Bernardo (Empresário)
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e cá das bandas do Algarve acompanhei com apreensão o 7 de Setembro, data em que se comemora a independência do Brasil dos domínios portugueses. Lá se vão 199 anos e, infelizmente, neste ano os brasileiros quase nada tem que comemorar. A despeito do que tenha sido a colonização portuguesa na terra descoberta por Pedro Álvares Cabral, o último Imperador Dom Pedro foi responsável pelo o que eles chamam de Grito da Independência ou Grito do Ipiranga e que marca a data histórica. Em outro momento, tratarei do assunto com mais profundidade. Mas vamos aos factos daquilo que me proponho dissertar. Já são quase 600 mil mortos pela pandemia da Covid19, inflação caminhando para os dois dígitos - já chega a 8,99 por cento - gasolina a mais de 1 euro por litro, 14 milhões de desempregados, o PIB sofrendo reavaliações futuras negativas e uma crise hídrica sem precedentes na história recente, com risco iminente de racionamento de energia. Sem falar no crescente desmatamento da Amazônia, com queimadas cada vez mais frequentes e uma exploração de ouro em terras indígenas, através de um garimpo ALGARVE INFORMATIVO #308
predador que usa mercúrio indiscriminadamente, poluindo os rios, comprometendo a fauna e a saúde dos indígenas de forma irreversível. Em meio a todo esse cenário devastador, o atual presidente da República Jair Bolsonaro convoca manifestações populares para ameaçar a Suprema Corte, xingar juízes e anunciar que a partir de agora não cumprirá decisões judiciais que não lhe agradem. E mais: acusa de fraude a eleição presidencial que acontecerá em 2022, insinuando que não aceitará um resultado que não seja a sua vitória. Em nenhum momento nos discursos proferidos diante da multidão de seguidores que se reuniu em Brasília e São Paulo, onde fez questão de comparecer, tocou nas questões que afligem a população diretamente, como a pandemia, o preço da gasolina, a inflação e o desemprego. Parece mentira, mas é a mais pura verdade. Creiam. Como empresário aqui em Portugal e com negócios no Brasil, causa-me espécie esse momento que vive o povo brasileiro. Mas não somente por isso. Como muitos de nós, tenho amigos portugueses e brasileiros naquela terra, sem falar da minha admiração pelo seu povo e sua cultura multirracial, fruto da contribuição lusitana, da diáspora africana e de muitas 136
outras nações que para lá tiveram seus cidadãos migrando em busca das oportunidades que aquela imensidão territorial tinha e tem a oferecer. O Brasil precisa sair desse patamar de país em desenvolvimento e galgar de verdade o andar de cima, dos países desenvolvidos. Para isso, precisa avançar nas pautas que lá tramitam no Congresso e que interessam para o seu povo e para o mundo. Arrastam-se as reformas, administrativa e tributária, preponderantes para um crescimento estável, contínuo e seguro, capazes de garantir investimentos nacionais e internacionais sólidos e robustos. E precisa, também, abrir uma 137
agenda internacional sobre o meio ambiente com foco na Amazónia. Os estadistas europeus não podem omitir-se diante das reais ameaças à democracia brasileira. Todos temos responsabilidade para com os brasileiros e o destino daquela nação. Longe de mim insinuar ingerência na soberania do seu povo, mas existem formas e meios para exprimir a sua importância para o cenário mundial. A globalização implica, também, dividir responsabilidades entre os povos .
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OPINIÃO Da Morte na Arte Mirian Tavares (Professora universitária) unca consegui fazer listas do tipo: os 10 filmes preferidos, as músicas de que mais gosto. No entanto, há coisas que fazem parte destas listas nunca escritas, como um dos quadros que mais me emocionam, e de que mais gosto: La Mort de Marat (1793), de Jacques-Louis David. Não sou particularmente fã do resto da sua obra, apesar de admirar a sua mestria, mas o quadro que ele pinta em homenagem ao amigo, e herói, morto no período revolucionário, é uma obra magnífica. Consegue ser, ao mesmo tempo, fria e imparcial e extremamente emotiva. A imagem de um corpo, semidespido, numa banheira, com o braço a pender (referência a imagem da deposição de Cristo da cruz), com uma expressão serena, ladeado pela singela homenagem do artista, escrita numa caixa/mesa de madeira: À Marat, contém, em si mesmo, toda uma lição de História da Arte, consegue congelar, numa imagem, séculos de discussões artísticas e filosóficas, quer sobre a representação, quer sobre a própria morte. O que sempre me atraiu foi o vazio, propositadamente visível, que ocupa quase dois terços do quadro e que, sem nada dizer, diz tudo sobre o ALGARVE INFORMATIVO #308
morto, sobre a morte e sobre as convicções laicas do artista. Lembrei-me da «Morte de Marat» quando visitei a recém-inaugurada exposição de Bertílio Martins na 289, em Faro. O enfrentamento do artista com a morte, e a representação da mesma através do vazio, é, sem dúvida, mais intensa, porque penetrável e experienciável. Ao contrário da pintura de David, que só pode ser contemplada à distância, mas que pode ser reproduzida infinitamente em diversos suportes, e assim visitável, mesmo que à distância (o que não substitui de todo a relação que temos diante do original), a obra de Bertílio Martins só existe em presença, in situ. Nenhuma fotografia ou imagem é capaz de torná-la visível. É, sem dúvida, uma experiência limite – põe em causa a questão da representação e do lugar que arte ocupa, enquanto objeto, ou ainda, remete-nos ao momento da desobjetificação extrema da Arte, nos anos 60, em que os artistas, cansados de criar imagens, e objetos, consumíveis, decidiram criar experiências. Entrei nas salas escuras, que antecedem a sala onde está a obra, mas a escuridão aqui não é um figurante, é também parte ativa daquilo que nos aguarda na sala final. Claustrofobia foi a primeira coisa que senti. Caminhei, lentamente, sem saber no que podia esbarrar, mesmo 138
Foto: Victor Azevedo
conhecendo o espaço, temia uma qualquer parede, ou obstáculo, que me fizesse cair. Ao fundo, a luz. Uma luz difusa, branca. Uma sala inteira pintada de branco, de um branco excessivo, que dói na vista. E ao centro, a peça, que faz parte do todo, não funciona sem o escuro/claro, sem a antessala, sem o vazio e sem a escuridão. E a minha memória levou-me para um dia longínquo: final da manhã, à saída da escola, entrei, com uma colega, na sua casa – na sala, estavam a velar o seu pai. O corpo jazia num caixão roxo e ele estava vestido como um franciscano. Eu tinha sete anos e esta imagem fixou-seme na memória. Não como uma imagem 139
terrível, mas como algo que faz parte da vida, a morte, como um acontecimento banal, de uma banalidade revestida de cenografia e de histórias. Uma banalidade adiada e, às vezes, ocultada. E senti-me, novamente, diante deste momento, e senti-me novamente, com sete anos, a olhar e a sentir, mas sem compreender realmente, sem ter verdadeira consciência da ideia de morte como um fim, como um ato terminal. Passados muitos anos, a exposição de Bertílio Martins fez-me voltar à infância e ao momento exato em que a morte, com o seu esplendor, banalidade, conversas sussurradas e espanto, me entrou pela vida adentro . ALGARVE INFORMATIVO #308
OPINIÃO O sucesso do Marketing da Apple Fábio Jesuíno (Empresário) reconhecimento do sucesso da marca Apple é global e a sua estratégia de marketing foi a grande impulsionadora que a tornou numa das empresas mais valiosas do mundo.
torna numa espécie de herói com superpoderes.
A Apple foi criada, em 1976, por dois estudantes universitários, Steve Jobs e Steve Wozniak, numa garagem, em Los Altos, Califórnia. O primeiro produto lançado foi o computador Apple I, que era muito avançado para a época, conseguindo um grande destaque. Ao longo dos anos, a empresa foi crescendo, baseada em dois pilares importantes, a inovação e o marketing, fundamentais para o sucesso.
A Apple consegue comunicar os seus valores de uma forma permanente e transversal, nos seus colaboradores, no apoio ao cliente e na qualidade dos produtos e serviços, sendo essencial para apresentar valores mais elevados.
O seu posicionamento de marca está baseado em três características, simples, divertida e amigável, fazendo com que seja reconhecida amplamente e recomendada pelos seus clientes. Uma das formas que a Apple utiliza para mostrar que as suas soluções e produtos são diferenciadores é criticando a grande complexidade dos seus concorrentes, onde a marca se
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Esta marca não vende só hardware, vende inspiração e motivação para mudares o mundo, como o exemplo na sua magnífica campanha lançada em 1984 «Think diferente», incentivando as pessoas a pensarem diferente.
A simplicidade no design está fortemente presente em tudo, para além dos produtos e serviços, a comunicação em termos de gráficos e de texto é simples e de fácil entendimento. Outros dos aspectos importantes são os seus lançamentos, que criam uma grande expectativa, antes e depois, visto que os produtos só ficam disponíveis no mercado algum tempo depois. A Apple também se transformou numa marca de moda, fazendo com que os seus clientes se sintam mais atraentes a usarem os seus produtos, como 140
acontece quando se usa um casaco Louis Vuitton ou Chanel. O sucesso no Marketing da Apple só é possível devido à sua aposta na 141
inovação, sendo uma das empresas que investe nesta área e a empresa mais inovadora a nível global, segundo um ranking criado pelo Boston Consulting Group para o ano 2021 . ALGARVE INFORMATIVO #308
OPINIÃO O coração da casa! Lina Messias (Especialista em Feng Shui) cozinha, desde tempos ancestrais, está associada à nutrição, à cura e é o ponto chave, o CORAÇÃO da Casa. Desde que a Humanidade se tornou sedentária, que a fogueira, ou seja, o local de preparo das refeições, é o local destinado à socialização. Ela representa a responsabilidade pessoal para nos nutrirmos, e, em Feng Shui, cozinhar activa a abundância e prosperidade nas nossas Vidas, sendo a cozinha um dos elementos energéticos mais importantes na nossa casa. Ainda sou do tempo que não havia entregas em casa nem «drive-ins»… as refeições eram sempre feitas à mesa e era o momento em que toda a família se reunia e conversava, sem telemóveis e sem televisão. O que unia e dava sentido ao conceito de família, hoje é quase um sonho distante!
optar por não ter mesa de refeição e preferem comer no balcão da cozinha, no sofá a ver televisão ou até nos quartos, cada elemento da família come num horário e espaço diferente. Numa família de quatro pessoas, uma é vegana, outra é vegetariana, outra está a fazer detox e a quarta a dieta da sopa! O que reunia, agora é motivo de separação! Estamos a perder a construção de memórias, tão importante na criação de raízes e sentido de família e ancestralidade. Nunca me vou esquecer do sabor do bolo de café da minha avó Mariana, nem do cheiro das fatias douradas nas manhãs de Domingo. São essas memórias que perduram no tempo e são elas que me ligam aos meus antepassados. Ninguém consegue «crescer», evoluir de forma sustentável se as suas raízes não forem fortes! Cozinhar e partilhar a refeição é uma forma de Amor, amor próprio e amor aos outros… Que a cozinha continue a ser o CORAÇÃO da casa, em todas as Casas! .
Nas minhas consultas de Feng Shui, verifico que muitas famílias estão a ALGARVE INFORMATIVO #308
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OPINIÃO Memórias do polvo João Soares (Arquitecto e professor universitário) ueridas e queridos novos leitores (que assim o são para mim),
saem, sons que incomodam, que desnorteiam, que fazem viajar o pensamento em caminhos distraídos, sons que vêm da noite, até à luz. Sempre os mesmos sons. De cada vez, diferentes.
Obrigado pela vossa escuta.
Desta vez, sons com calor.
Como não vos conheço, nem vocês a mim, iniciamos de maneira paritária. É uma bela «ilusão» para qualquer início (ajuda, aqui, lembrar o modo como os amigos espanhóis usam o termo...).
Mas nada disto tem que ver com o que queria dizer.
Escrevo de um quarto em semipenumbra de meio-dia, num quinto andar de um prédio, alto catorze andares, num intervalo urbano da cidade de Faro. O intervalo não é urbano, mas é o meu intervalo temporal no espaço muito urbano do centro da cidade. Com tanta altura, não é o centro pitoresco, que costumamos considerar «típico» nas vilas e cidades, mas o centro mais hard-core, logo à volta desse outro, mais aprimorado.
Sobre ela, mas, em boa verdade, a partir dela – de dentro dela – se fosse possível.
Vê-se – sente-se – o cheiro, e creio chegar a escutar-se daqui a Ria Formosa, ao fundo, por trás dos ruídos de uma segunda-feira urbana qualquer, mais ou menos igual às segundas-feiras de qualquer cidade neste planeta: sons, rumores de rotores – de viaturas que passam, de palavras em partes de conversas, de sopros. Vento. Apitos agudos, sons que entram e ALGARVE INFORMATIVO #308
Gostava de convidar-vos a pensar sobre uma criatura que todos conhecemos.
É, ao mesmo tempo, assustadora e amigável; reconhecível, e, absolutamente estranha! Tem vindo a fazer sentido, para mim, passar tempo a nela pensar, e, por ela, literalmente, repensar o mundo todo. Creio que poderá fazer sentido, agora, aqui, convosco partilhar esses fiapos de pensamento, por encontrar neste intervalo um lugar condizente, um contexto apropriado: O mar, «mar oceano», como aparece escrito nos mapas antigos.
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A partir da terra, o mar. E, de permeio, a Ria, que é uma espécie de mar que era terra, ou uma terra que já foi mar. depende de onde se olha e de quando se olha. A questão ótica é muito relevante: é metáfora, mas tornarse-á mais do que tal, e será objetiva (e o termo convocado para o esclarecimento a continuar a conter em si uma mecânica retórica interior que, ao mesmo tempo, esclarece e complica). Por querer fazer um pouco de suspense – mais por pudor do que por estratégia –, pedi ao editor que colocasse o nome da(s) crónica(s) no final deste texto. Pelo menos no final deste primeiro texto. (Talvez o editor não o tenha podido fazer por questões de princípio gráfico, fica declarada a intenção.) Queria então falar-vos de um parente de Paul, um qualquer parente. Imagino que se recordarão de Paul, não? Para quem não se lembrar, pode ser útil visitar a sua entrada na wikipedia. O que o tornou mais conhecido entre nós foi a sua capacidade de adivinhar resultados dos jogos de futebol do Mundial – de 2008? Com certeza saberão já de que Paul se trata: «Paul, the Octopus», referência pela qual dá entrada na plataforma internáutica do saber. De um polvo se trata, então. E dito isto, tudo fica esclarecido, e tudo, a partir daqui, está ainda por dizer. Ainda como premissa poderá ser relevante ter presente que, não obstante a 145
excentricidade científica, o lugar de onde parto para pensar sobre Paul e os seus congéneres, enquanto assunto, é a arquitetura (e aqui caberia outra premissa ainda, a arquitetura de onde olho, é, antes de mais, um modo de entender o mundo, e não necessariamente paredes e telhados, e janelas e portas). Mas poderia fazê-lo de muitos outros lugares – e será mesmo o que procurarei fazer nestas memórias que hoje se inauguram – guiado pelas maneiras de ver de outros, que, dos seus centros de agir e de pensar, irão colocar o centro focal das suas atenções no Paul & friends. Porquê pensar no polvo, escrever sobre polvos – e não no sentido culinário (e também essa foi uma das coisas que mudaram, como dizia antes...)? O simples fascínio pela criatura, sem necessidade de explicação, seria já suficiente, mas o facto de ter vindo, progressivamente, a encontrar nesta entidade (mais do que efetivamente ALGARVE INFORMATIVO #308
criatura – entendida enquanto coisa criada – pelo Senhor[?]), aspectos tão peculiares, tão dificilmente enquadráveis nas operações de categorização com que o mundo sempre se preocupa, torna-o, por si só, já suficientemente estimulante. As «operações de categorização» que têm entretido o mundo serão algo que encontra raiz no pensamento que Descartes produziu – e que demoradamente se tem constituído numa dissociação das coisas, e por tal dissociação, numa – literal – desagregação do mundo. (Será injusta uma completa crítica a Descartes, na medida em que será também por via dele que conseguimos hoje articular ideias que, de outro modo, não teriam tido sequer suporte especulativo). Mas o polvo, esse Ser, será a mais anticartesiana das entidades – anti-cartesiana; anti-lineuiana; anti-diderotiana, por ordem decrescente dos tempos em que existiram. Anti-coperniquiana, também. Foi por Copérnico, assim aprendemos na escola, que passámos de uma perceção teocêntrica do mundo para uma visão antropocêntrica. E teremos aqui perdido a primeira grande ocasião de iniciar o caminho em direção a uma visão cosmológica e, sobretudo excêntrica, ou multicêntrica – com certeza, não cêntrica. Mas, na realidade, Copérnico, Bruno e Galilei, poderiam ter indicado o sentido desses caminhos, que não conseguiram ser seguidos, ou não os soubemos nós seguir, ou não souberam os caminhos deixarem-se ser seguidos, parafraseando o Padre António Vieira a falar de peixe e de sal.
E, de novo, o que tem o polvo a ver com tudo isto? Pelo conhecimento sobre o funcionamento do polvo e sobre os seus modos de agir (de pensar?), tem sido possível não só aprofundar e corrigir muito do saber que se tinha já, precedentemente, constituído, como, e sobretudo, tal conhecimento, por fugir tanto àquilo que nos habituámos a enquadrar, permite-nos o exercício tão necessário de colocar as coisas em perspectiva. Por exemplo, tendemos a simplificar – e a separar – o mundo entre razão e coração, ou entre mente e corpo. Pois o polvo trocanos as voltas, pois o modo como o seu cérebro opera, e a relação deste com as diferentes partes do corpo, é distinta do modo como nos habituámos a perceber os seres vivos. No polvo, não é necessariamente um cérebro central que dá ordens aos braços e tentáculos, mas também os tentáculos, autonomamente, a identificar pelo toque (que também parece servir para cheirar), a realizar ações e a comunicar ao cérebro (se achar que vale a pena). Mas serve também o interesse pelo pequeno animal para o exercício de colocarmo-nos no lugar do outro – de nos pormos na pele do outro. Exercício, hoje, mais do que sempre, necessário, não por uma questão, digamos assim, de empatia, de pendor filo-cristão, de um certo anulamento pelo outro (e posso ser eu a interpretar erradamente a índole cristã), mas pela capacidade de, mimando o outro, pelo outro, perceber as suas lógicas, e, por elas, os sistemas de contextos em que age. Serve tal exercício, sim, para o reconhecer vital do espaço do outro. Mas o
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outro aqui é mesmo um outro total, um outro que é pedra, é tronco, ou escama, um outro com que somos afins neste lugar que é, em si, uma entidade: o planeta no seu todo. Do ecossistema que o universo cristão criou, a figura talvez mais aberta à diversidade será a de Francisco, que sabe falar com outras criaturas, e que, descalço – ou quase – tem com a terra um contacto direto. Os pássaros no ar e na terra, os polvos, na água e na terra, ajudam-nos a pensar. Com os seus oito braços, o polvo fulmina tudo o que se diz de espetacular, ligado ao número e às proezas, que se atribuem a criaturas com (idealizadas) semelhanças humanas. Com os seus oito braços, e um cérebro disperso pelas diferentes partes do corpo, o polvo consegue ser, efetivamente, «multitask». Já me parece tão incrível o camaleão que consegue ter um olho fixo num ponto preciso, enquanto o outro gira, a perscrutar o espaço à volta! Pois o polvo, ao que parece, mete numa algibeira as proezas do camaleão – e também sabe mudar de cor! Gato de sete (ou nove) vidas, homem dos sete instrumentos, monstro de mil caras... e, contudo, não tenho memória de expressões idiomáticas construídas em torno da figura do polvo. 147
Os animais têm mantido ocupados muitíssimos cientistas, das mais diferentes áreas, escritores, pensadores ou, por último, e não menos importante, amadores. John Berger, o pouco ortodoxo historiador inglês, perguntava-se «Why look at animals», o cantor John Parish canta sobre «How animals move» (que podemos assumir como banda sonora mental desta primeira crónica). O físico italiano Carlo Rovelli, que tem escritos, já fez, em torno do polvo, uma pequena reflexão. Feita esta introdução (que está já acabar, para dar espaço à crónica que num próximo número virá), gostaria de recentrar a atenção sobre os focos das crónicas a vir: o polvo (mesmo apenas e simplesmente pelo Ser incrível que é); por ele, a atenção ao efetivo universo vivo com que partilhamos o espaço (e aqui parece tornar a Arquitetura), portanto, não só o polvo, não só os bichos, como em Torga, mas tudo à volta deles, e à nossa volta: as árvores; os mares; os penhascos; as nuvens… . ALGARVE INFORMATIVO #308
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