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ALGARVE INFORMATIVO 2 de outubro, 2021
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LUÍS BARRIGA | «BZZZOIRA MOIRA» | «LIÇÕES DE VOO» | CHOQUE FRONTAL AO VIVO ALGARVE INFORMATIVO #309 «ESTE NÃO É O NARIZ DE GÓGOL… » | ÁGUAS DO ALGARVE | «CONSONÂNCIA»
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84 - «Lições de Voo»
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36 - Luís Barriga tem novo livro
60 - Reflect no Choque Frontal ao Vivo
112 - «Este não é o nariz de Gógol… mas podia ser… »
72 - «Consonância»
98 - «O lugar do canto está vazio» 16- «Águas do Algarve»
OPINIÃO 126 132 134 136
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OrBlua Adília César Júlio Ferreira Nuno Campos Inácio
48 - «Bzzzoira Moira» 11
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«ÁGUAS DO ALGARVE»: UMA «MÁQUINA» PERFEITAMENTE OLEADA PARA QUE NUNCA FALTE ÁGUA NO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Águas do Algarve elebra-se, a 1 de outubro, o Dia Nacional da Água, data que pretende chamar a atenção para o uso eficiente deste bem escasso e que é indispensável à vida humana, uma problemática que devia estar bem presente no dia-a-dia de todos os portugueses e, neste caso concreto, de todos os algarvios, não vivêssemos nós numa região que conhece fortes períodos de seca. E uma região que, entre os cerca de meio milhão de residentes e os outros milhões de turistas, nacionais e ALGARVE INFORMATIVO #309
estrangeiros, consome à volta de 72 milhões de metros cúbicos de água por ano. A montante e a jusante do consumo de água encontra-se a «Águas do Algarve», empresa responsável, nas últimas duas décadas, pela gestão do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais do Algarve, num ciclo urbano da água que engloba as fases de captação, tratamento e abastecimento de água, em alta, aos 16 concelhos algarvios, e depois o tratamento e reutilização das 16
águas residuais. O armazenamento e a captação de água para consumo, acontece nas Barragens de Odelouca, Odeleite e Beliche e nos aquíferos de Querença/Silves e Almádena/Odiáxere, e foi precisamente na Barragem de Odelouca que estivemos à conversa com Bruno Lobato, Responsável Técnico de Operação da Gestão das Origens de Água.
“Trabalho na definição macro da estratégia de utilização dos recursos hídricos, conforme as suas disponibilidades e a sua procura, e ainda o planeamento da atividade e operação das instalações, em interligação com colegas de outras áreas, nomeadamente da manutenção”, explica, à conversa na sala de controlo. “Aqui realizamos toda a exploração da barragem, monitorizamos eventuais situações de cheias que afluam à albufeira de Odelouca, a evolução das quotas de
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nível e de armazenamento (…). Controlo de cheias que, por vivermos numa região com escassez de água, nunca foi necessário fazer. Temos aqui a tomada de água de montante e jusante, quer do caudal ecológico, como da descarga de fundo, que foi utilizada apenas no primeiro enchimento da barragem para se controlar os níveis de armazenamento de água. Isto porque existiam quotas préestabelecimentos pelo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) para garantia de que o comportamento estrutural da barragem era o mais adequado”, diz, enquanto ia apontando para os monitores de computador. A montante da barragem há, então,
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um sistema que permite controlar a quota de água captada, ao passo que a descarga de fundo servirá, na eventualidade de ocorrer alguma grande avaria ou anomalia na infraestrutura, para se esvaziar completamente a albufeira ou se controlar os sedimentos nela existentes.
“Aqui é também gerido o túnel Odelouca-Funcho, local onde é captada a água que será depois encaminhada para a ETA (Estação de Tratamento de Água) de Alcantarilha. A barragem propriamente dita armazena apenas a água proveniente da precipitação direta sobre a albufeira e escorrências na bacia hidrográfica”, esclarece Bruno Lobato. “É uma gestão complexa e, infelizmente, ainda nunca conseguimos chegar ao nível pleno de armazenamento, o que nos obriga a todos a um uso ALGARVE INFORMATIVO #309
eficiente da água”, acrescenta, enquanto observava uns sinais vermelhos de alerta que estavam a piscar no monitor. “São alarmes
provocados por nós, para ver se está tudo a funcionar como deve ser”, tranquiliza, com um sorriso. “Lembramo-nos logo daqueles filmes com acidentes graves em barragens, que são raros de acontecer, mas não são impossíveis de acontecer. Odelouca é considerada uma grande barragem, o que requer uma enorme diversidade de equipamentos para a sua monitorização e planos periódicos de observação. Há questões que são decididas e implementadas numa base diária, outras são quinzenais, mensais, 18
trimestrais ou semestrais. Temos sensores de aceleração sísmica e de precipitação, baterias de assentamento – para ver se a barragem está assentada ou não – e inclinómetros, marcas de superfície de nivelamento, marcas de deslocamento horizontal, sensores de pressão, caudalímetros (…) muitas variantes que, em conjunto, nos permitem obter uma análise de funcionamento da barragem. E, até ao momento, o seu comportamento tem estado exatamente de acordo com o que foi projetado e ensaiado antes da sua construção”, destaca o quadro da «Águas do Algarve». Mil e um pormenores técnicos, a maior parte deles de grande complexidade, que passam despercebidos ao cidadão 19
comum, que apenas repara se as barragens estão cheias ou vazias quando por elas passam e param para tirar umas fotografias. “Antes da
covid-19 era habitual recebermos visitas guiadas, nomeadamente de escolas, e a principal questão das pessoas prendia-se com o facto de a Barragem de Odelouca, cuja construção ficou concluída em 2009, ser de aterro e não de betão. Não percebiam como é que a água estava de um lado e não do outro, mas há zonas da estrutura que são impermeáveis e que não permitem essa passagem da água”, diz-nos Bruno Lobato, adiantando que, apesar de não se vislumbrar, do exterior, nenhum funcionário nas instalações, eles lá estão a trabalhar, 24 horas por dia, 365 dias por ano. “A monitorização é ALGARVE INFORMATIVO #309
Miguel Maia na ETAR de Faro/Olhão
contínua, a barragem não dorme. Ainda por cima, provavelmente estamos sobre uma falha geológica, o que motivou a instalação de um sistema de aceleração sísmica com cinco acelerómetros: um mede a aceleração sísmica num maciço rochoso normal, como se não estivesse aqui a barragem; três estão ao longo dos diversos níveis da barragem; e mais um está à superfície. Já registamos alguns eventos de baixa intensidade e, como é óbvio, existe um plano interno de emergência e de alerta da população em caso de risco de descarga grande de água”, revela Bruno Lobato. “Imagine-se igualmente que estávamos perto do ALGARVE INFORMATIVO #309
nível pleno de armazenamento e que se iniciava um período de intensa precipitação. Nesse caso, um sistema automático abriria uma, duas ou três comportas – conforme a tendência de subida de água a montante – e de acordo com diversos patamares de abertura, para nunca se colocar em risco a própria barragem. Como, até agora, nunca tivemos necessidade de utilizar esses automatismos, fazemos simulações periódicas em que testamos os equipamentos todos e para todos os cenários. E, se o sistema automático falhar, as comportas podem ser abertas manualmente”. 20
“EM MINHA CASA SÓ BEBO ÁGUA DA TORNEIRA” Do túnel de Odelouca a água segue, ao longo de 12 quilómetros, por uma conduta com 2,5 metros de diâmetro até à ETA de Alcantarilha, que trata igualmente água subterrânea proveniente das captações de Vale da Vila e de Benaciate. A infraestrutura da «Águas do Algarve» situa-se a cerca de 10 quilómetros de Silves, junto à localidade de Alcantarilha-Gare, e está em funcionamento desde 1999, possuindo uma capacidade máxima de produção de 259 mil metros cúbicos/dia, equivalente a uma população de 620 mil habitantes, prevista para o ano de 2025. Devido ao carácter flutuante da população a servir, a 21
ETA de Alcantarilha é constituída por três linhas de tratamento em paralelo, assim respondendo às necessidades de abastecimento em alta de água, tanto em época alta, como em época baixa, aos concelhos de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Loulé (Oeste e Norte), Silves e Vila do Bispo. Pode ainda, se necessário, através da Estação Elevatória Reversível, abastecer os concelhos de Faro, Olhão e Tavira. E é no «cérebro» da ETA de Alcantarilha que encontramos Lisete Costa, Engenheira de Processo e Técnica de Tratamento.
“Os operadores estão aqui em permanência para assegurar que tudo decorre dentro da normalidade, desde a chegada da água bruta e a pré-oxidação, ALGARVE INFORMATIVO #309
Sílvia Condinho no Laboratório da ETA de Tavira
filtração e decantação, até ao sistema de adução, a partir do qual é distribuída para os concelhos do Barlavento”, descreve, aproveitando para distinguir que uma ETA trata água para consumo humano, ao passo que uma ETAR lida com as águas residuais. “A
esmagadora maioria da água que aqui tratamos vem de Odelouca, apenas 7,5 por cento é proveniente de furos. Depois, adicionamos uma série de reagentes essenciais para a remoção de sólidos, cheiro, sabor e microbiologia. Na última fase incluímos cloro e, depois do tratamento, segue pelas nossas ALGARVE INFORMATIVO #309
condutas para o sistema de adução”. Percebe-se, então, que a água que vislumbramos numa albufeira ainda não está própria para consumo humano, precisando, antes disso, de passar por etapas bastante minuciosas e rigorosas. “É como se
estivéssemos a cozinhar um bolo, temos que colocar os ingredientes adequados nas medidas e nas alturas certas. Só assim se conseguem eliminar os parâmetros indesejáveis”, compara Lisete Costa. “A água sai daqui em excelente qualidade, seja para 22
Bruno Lobato na Barragem de Odelouca
beber, para cozinhar ou para as lides domésticas, contudo, temos que saber rentabilizar ao máximo este bem escasso. E todos os dias são realizadas análises microbiológicas e químicas no nosso laboratório para atestar essa qualidade. Aliás, em minha casa só bebo água da torneira”, garante, compreendendo que nem todas as pessoas partilhem desse hábito, provavelmente por falta de informação.
“Há muitos anos, realmente, a água não era devidamente tratada, sabia mal e tinha mau cheiro, mas isso pertence ao passado”, reforça. 23
Entretanto, para manter os elevados níveis de qualidade da água que sai das torneiras do consumidor final, já em 2021 foi inaugurado um edifício de flotação, um processo diferente da tradicional decantação. “Era uma
necessidade que sentíamos há alguns anos, porque começámos com esta ETA a tratar água do Funcho e depois começámos a tratar a água de Odelouca, que tem características diferentes. E essa mudança fez com que conseguíssemos tratar um maior volume de água, cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo”, ALGARVE INFORMATIVO #309
Nuno Silva na ETAR da Companheira
indica Lisete Costa, recordando ainda que a qualidade da água fornecida pela «Águas do Algarve» é, há vários anos, certificada por diversas entidades. “A
ETA funciona 24 horas por dia, com técnicos e operadores constantemente a monitorizar o sistema de adução e o sistema de tratamento, sete dias por semana, mas a população não tem noção do trabalho que aqui se faz. E aqui nada se desperdiça. As lamas que resultam do processo de tratamento da água são encaminhadas para a CIMPOR para a valorizarem e utilizarem, e a água utilizada na lavagem dos filtros é reencaminhada para a «cabeça da ALGARVE INFORMATIVO #309
estação» para ser novamente tratada”.
“AS PESSOAS SABEM QUE É PRECISO TRATAR AS ÁGUAS RESIDUAIS” Da ETA de Alcantarilha, e das outras três da «Águas do Algarve» espalhadas pela região, a água segue então para os 16 municípios algarvios, que depois são os responsáveis pelo abastecimento direto ao consumidor final deste bem indispensável à vida humana. Água que é utilizada nos mais variados fins, como todos nós o sabemos, umas vezes de modo mais eficiente, outras, nem tanto, mas engane-se quem pensa que o ciclo urbano da água termina desta forma. De facto, há que tratar as águas 24
Susana Santos no Laboratório da ETA de Tavira
residuais, as que resultam da utilização humana, seja nas nossas casas, nos nossos empregos, nos estabelecimentos comerciais, nos espaços públicos. E aí entram em ação as ETAR’s, entre elas a da Companheira, onde fomos recebidos por Nuno Silva, Coordenador do Saneamento da Zona Poente. “Estamos neste
momento a reabilitar a ETAR de Lagos, estão a surgir alguns projetos muito interessantes que se prendem com a reutilização das águas residuais e teremos que desenvolver infraestruturas para dar resposta às alterações climáticas. Há sempre trabalho a fazer”, começa por dizer. ETAR da Companheira, à entrada de Portimão, que iniciou a sua atividade em 25
2018 e veio resolver o problema dos odores resultantes do funcionamento da sua antecessora, antiga e de lagunagem, e que também já estava subdimensionada. “O processo era
adequado na altura em que foi construída, contudo, com o aumento da cidade e das águas residuais que aqui afluem, tornouse muito pequena. Esta instalação veio melhorar a qualidade do tratamento das águas residuais, num enquadramento paisagístico bastante interessante e que permitiu libertar a área das antigas lagoas para eventuais projetos que a Câmara Municipal de Portimão queira vir a desenvolver no futuro”, afirmou ALGARVE INFORMATIVO #309
Nuno Silva, acrescentando que a ETAR da Companheira serve todo o concelho de Portimão, a vila de Monchique e, do outro lado do Rio Arade, Ferragudo. “Aqui é
retirado às águas residuais tudo aquilo que pode constituir um problema para o meio recetor, sejam sólidos ou concentrações de matéria orgânica, através de um processo biológico com recurso a lamas ativadas. Basicamente, as lamas vão «alimentar-se» da poluição que vem nas águas residuais, o que nos permite tirar a água já com boa qualidade. Seguese um processo de desinfeção e ainda as vamos descarregar nas antigas lagoas, o que vai melhorar ainda mais a sua qualidade. Só depois de tudo isto é que as águas residuais são descarregadas no ALGARVE INFORMATIVO #309
meio recetor”, explica o quadro da «Águas do Algarve». Ora, se as águas resultantes da utilização humana seguem, por um sistema de coletores e estações elevatórias, para estas ETAR’s, diferente destino têm as águas pluviais, que seguem diretamente para o meio recetor. “Quando pegamos numa
beata, num plástico ou papel, e jogamos para a sarjeta, estamos a lançar diretamente esse resíduo para o mar, porque é para lá que ele segue quando chover. Outra coisa que é bastante difícil de tratar são os óleos e gorduras, pelo que as pessoas os devem recolher à parte e levar para os oleões ou outros locais próprios, e nunca os deitar para as sanitas ou ralos”, aconselha Nuno Silva, 26
Lisete Costa, na ETA de Alcantarilha mostrando-se satisfeito por verificar que o cidadão comum está cada vez mais desperto para esta realidade. “As
equacionada, em Portugal, para consumo humano, confirma Nuno Silva. “Para já pensamos na rega
pessoas têm noção da necessidade de se tratar e reutilizar as águas residuais, ainda mais quando se sucedem os períodos de seca. Infelizmente, em 2020 não foi possível organizar as habituais visitas das escolas, mas é fundamental criar esta consciência ambiental nas crianças, porque depois elas chegam a casa e «educam» os pais para não terem comportamentos incorretos”, refere
de pomares ou jardins, mas há países onde isso já acontece, porque a seca é de tal forma que não têm outra hipótese. Neste momento, a água que sai da ETAR da Companheira tem qualidade para rejeição no meio recetor, para a sua reutilização é necessário um tratamento adicional de afinação. Isto porque as pessoas podem contatar diretamente com essa água, no caso da rega de alimentos que depois vamos consumir. Mas depois coloca-se ainda o
o entrevistado com um sorriso. Reutilização de águas residuais que, pelo menos no futuro próximo, não é 27
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Teresa Fernandes, responsável pela Comunicação e Educação Ambiental
problema do transporte dessas águas reutilizáveis para jardins, hortas e pomares que, na maior parte das vezes, não estão próximas das nossas instalações”, aponta Nuno Silva, que coordena a equipa de operação que controla e regula em permanência todo este processo. “As águas
residuais têm uma grande variabilidade, não têm sempre a mesma característica à entrada, quer em termos de qualidade como de quantidade. A par disso, possuem matérias que são muito agressivas, inclusive para os equipamentos, o que exige uma equipa de manutenção em ALGARVE INFORMATIVO #309
constante alerta. E ainda enviamos as águas, de entrada e saída, para fazer análises em laboratórios. Outra variável é a própria sazonalidade do Algarve, o que nos obriga a ter uma amplitude muito grande de processos, o que, por sua vez, também gera um maior desgaste nos equipamentos e nas equipas. Quando chega o Verão, nada pode falhar, caso contrário, é uma bandeira vermelha que é hasteada e uma praia que perde, no ano seguinte, a sua Bandeira Azul”, sublinha Nuno Silva. 28
“AS PESSOAS HABITUARAM-SE A TER ÁGUA EM ABUNDÂNCIA” A sociedade civil está mais consciente para a importância de se utilizar a água de forme racional e eficiente, e para isso muito tem contribuído a «Águas do Algarve» e o Grupo Águas de Portugal, com inúmeras ações de sensibilização conduzidas junto dos mais novos, mas também dos seus pais e avós, em suma, da população em geral. Porque nunca se pode dizer que o trabalho está concluído, apesar de, no Dia Nacional da Água, as pessoas estarem mais despertas para a temática. “O 1 de outubro marca
também o início do novo ano hidrológico e, felizmente, as nossas reservas estão melhores do que no mesmo período do ano passado e as perspetivas são boas. É um assunto que vivemos intensamente, 365 dias por ano, até porque as alterações climáticas trouxeram novas preocupações que aumentaram a nossa responsabilidade”, assume Teresa Fernandes, responsável pela Comunicação e Educação Ambiental da «Águas do Algarve». “Nem todas as
pessoas percebem que a água é o bem mais valioso que possuímos, sem ela nada mais existe. É fundamental o reconhecimento do real valor da água por parte do utilizador. Só quando isso acontecer é que o uso eficiente da água passará a fazer parte da nossa rotina diária de forma inconsciente, 29
e não somente em períodos de seca”, reforça. A par dos desperdícios e maus usos, outra questão que preocupa Teresa Fernandes é o facto de muitas pessoas ainda teimarem em não beber a água que sai diretamente da torneira, facto que atribui à sua má qualidade até ao ano de 2000. “A rede de
abastecimento era bastante deficitária e a água era, de facto, imprópria para consumo, porque provinha sobretudo de captações subterrâneas, com excesso de nitratos e intrusão de salina. Entretanto, nestas duas décadas, foram investidos cerca de 650 milhões de euros pela «Águas do Algarve» no Sistema Multimunicipal de Abastecimento e Saneamento de Águas Residuais do Algarve, melhorando-o significativamente, mas muita gente ainda não esqueceu aquela altura em que não podiam beber água da torneira”, justifica. “Ao mesmo tempo, as pessoas habituaram-se a ter água em abundância e, apesar de alguns períodos de seca, a «Águas do Algarve» conseguiu sempre manter a quantidade e qualidade de água nas nossas torneiras. Se calhar é por isso que algumas pessoas continuam a não lhe dar o devido valor e a desperdiçá-la”, lamenta a entrevistada. ALGARVE INFORMATIVO #309
Antes que a água falte em definitivo, há que prevenir e ser pró-ativo, mesmo que muitos prefiram apontar o dedo à agricultura, à indústria, às atividades económicas, entendendo que não é no consumo humano que está o principal foco de preocupação. “Cada gesto
conta. Se desperdiçarmos menos água nas nossas casas, os recursos disponíveis nas origens, em vez de serem suficientes para dois anos, sem chover, provavelmente darão para três anos. Por que razão a torneira está aberta se não estou a utilizar a água? Por que razão rego o jardim na hora de maior calor?”, questiona Teresa Fernandes, admitindo que a pandemia por covid-19 obrigou a uma readaptação das ações de sensibilização, nomeadamente junto das escolas e dos turistas. “Tivemos que
começar a comunicar num formato exclusivamente digital para continuarmos presentes junto dos alunos e dos professores, mas a parte presencial é fundamental e insubstituível. Aliás, temos uma lista enorme de pedidos de visitas às instalações da «Águas do Algarve», aguardamos apenas que a situação se normalize, reavaliando a possibilidade para recebermos os mais jovens, mas também grupos de técnicos de outras entidades, idosos, entre tantos outros. Vamos voltar a agir, no terreno, com novos meios e projetos”. ALGARVE INFORMATIVO #309
E tudo isto se torna mais fácil porque os 190 funcionários da «Águas do Algarve» vestem esta camisola e sentem, como ninguém, a importância de se usar a água de forma eficiente.
“É o nosso trabalho, respiramos a sustentabilidade, vivemos todos os dias com os perigos advindos das alterações climáticas. É natural que estejamos mais atentos a estas situações e que tenhamos mais conhecimento do que se passa no mundo. Somos uma equipa multidisciplinar em que todas as peças são fundamentais para que a máquina funcione e, acima de tudo, o que queremos é que nunca falte água nas torneiras e que continuemos a ter estas praias maravilhosas”, salienta Teresa Fernandes.
“NÃO BASTA POUPAR ÁGUA, É PRECISO REUTILIZÁ-LA” A liderar esta «máquina» está, desde 15 de março de 2021, António Eusébio, presidente do Conselho de Administração que inclui ainda Isabel Soares e Hugo Nunes. E se é verdade que as reservas de água estão, neste momento, acima das existentes em 2020, o futuro nunca é certo, porque as chuvas também nunca são certas. Por isso, em condições de seca prolongada, pretende-se ter mais origens de água que garantam o funcionamento do sistema, mas o problema é que todas as soluções são bastante dispendiosas. 30
António Eusébio, presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve Uma realidade que motivou, em 2020, uma alteração ao contrato de concessão existente e que terminava, no que toca ao abastecimento de água, em 2025, e, no caso do tratamento de águas residuais, em 2031. “Unificamos os dois
contratos, que agora se estendem até 2048, e isso permitiu acrescentar, aos cerca de 600 milhões de euros investidos até final de 2018, mais 400 milhões à capacidade de investimento. Esse valor serve para a reabilitação constante que o sistema precisa, tanto no abastecimento da água como no saneamento básico, que tem um desgaste mais rápido”, sublinha o presidente da «Águas do Algarve». “Em 20 anos, esta empresa 31
modificou por completo o cenário que se verificava no Algarve, com abastecimento de água deficitário, e a própria água não tinha a mesma qualidade que ostenta atualmente. Esse paradigma mudou, mas, mais do que nunca, a «Águas do Algarve» faz falta ao Algarve, porque as dificuldades vão aumentar face a condições ambientais mais extremas”. A par da construção e manutenção das infraestruturas físicas, António Eusébio lembra que a própria tecnologia de tratamento de água e dos efluentes tem evoluído nas últimas décadas, o que obriga depois a ALGARVE INFORMATIVO #309
Isabel Soares, vice-presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve adaptações dos equipamentos, já para não falar das questões ambientais e da legislação em vigor e nos aumentos de volume derivados do crescimento gradual dos aglomerados populacionais. “Mas
não basta reduzirmos o consumo da água. Cada vez mais é necessário ter a perceção do seu todo e os novos projetos que estão previstos no âmbito da reutilização podem vir a ajudar nesse aspeto. A água que sai da ETAR pode ser utilizada para regar jardins e campos de golfe, aproveitada para a agricultura ou até para a lavagem das ruas. Está previsto, no Plano de Recuperação e Resiliência, conseguirmos captar, até 2025, oito milhões de metros cúbicos de água, anuais, para esse ALGARVE INFORMATIVO #309
fim. Ou seja, são menos oito milhões que tiramos, todos os anos, ao sistema de abastecimento”, destaca. António Eusébio salienta, todavia, que esta caminhada não pode ser feita apenas pela «Águas do Algarve», sendo fundamental que todos estejam motivados para enfrentar os novos desafios que já se colocam, no presente, e que se vão intensificar no futuro. “Podíamos construir todo o
sistema, mas, se depois não houver vontade de quem o utiliza, o investimento não serve de nada”, avisa. “Até 2025, poderemos fazer a diferença se conseguirmos aproveitar estes 32
Hugo Nunes, Administrador Executivo da Águas do Algarve
fundos europeus. Não é mais do que aquilo que se faz constantemente, mas com mais intensidade, pois passamos de investir 10 milhões de euros por ano para investirmos 40 a 50 milhões de euros por ano”, compara o entrevistado. Para já, estão definidos no Plano de Recuperação e Resiliência investimentos para se ir buscar água ao Rio Guadiana, para se avançar com a dessalinização, para se reforçar a interligação do sistema entre sotavento e barlavento e para melhorar as condições das ETAR’s que conduzam à reutilização de água pelos privados. “A estes valores somam-se
cerca de 400 milhões de euros 33
advindos da renegociação do contrato de concessão até 2048, que preveem a constante remodelação, manutenção e alteração das estruturas existentes nos vários concelhos, para que funcionem na sua perfeição, de modo a garantir um produto certificado para consumo humano e o normativo de descarga dos efluentes das ETARs nas linhas de água, rias e parques naturais da região. É um sistema que cada vez faz mais falta ao Algarve e que é necessário que funcione cada vez melhor”,
defende António Eusébio .
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EXPLORAÇÃO HUMANA, PROSTITUIÇÃO E DROGA CONVIVEM COM A VIDA ACADÉMICA NO NOVO ROMANCE DE LUÍS BARRIGA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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epois do romance histórico «Em nome d’el Rey», o escritor Luís Barriga está de regresso às prateleiras das livrarias, físicas e virtuais, com «Perversa Mente Manipulada», um drama psicológico passado nos tempos modernos e, ALGARVE INFORMATIVO #309
imagine-se, nos corredores do antigo INUAF, em Loulé. Na bibliografia do psicólogo clínico de profissão constam ainda mais dois livros dedicados ao antes e pós-25 de Abril e mais um romance histórico está na calha, abordando as invasões francesas e tudo aquilo que rodeou os seus defensores e opositores.
“Entretanto, ia escrevendo umas 38
conhecimento sobre a mente humana e da minha experiência como professor e como psicólogo clínico em consultório. Mas não queria transmitir estes saberes de uma forma demasiado científica, porque é mais fácil a sua apreensão quando a emoção também está envolvida”, explica o autor, à conversa nos claustros do Convento Espírito Santo, em Loulé. Nasce, assim, um enredo repleto de relações humanas, conflitos, sofrimentos e momentos de prazer e bem-estar, para que o leitor se identifique com estas histórias de vida, com a particularidade do livro ir à profundeza da mente humana e abordar temas que apenas os psicólogos escutam na santidade dos seus consultórios. “Todos temos
coisas sobre o funcionamento da mente humana, uma sequência natural da minha tese de mestrado e da minha experiência profissional, como psicólogo e como docente, precisamente neste edifício onde decorre a ação do livro, que acaba por ser o resultado do meu 39
inibições que não nos permitem falar de emoções e sentimentos e que normalmente guardamos para nós, mas isso vai ser facilmente visível na vida destes personagens. Os seus comportamentos atuais derivam de emoções e vivências do passado”, indica Luís Barriga, que sempre viveu na fronteira entre o biológico e o psicológico. “Vejo a
mente humana como uma consequência do funcionamento do sistema nervoso e do cérebro e, na história deste livro, existem aulas de biologia e psicologia que vão levar o leitor a conhecer o ALGARVE INFORMATIVO #309
porquê de as coisas acontecerem desta forma e não de outra. Depois, entro um bocadinho na ficção científica, porque já se consegue perceber que áreas do cérebro se ativam para determinados comportamentos, pelo que é possível percecionar como funciona o cérebro de um deprimido, de um obsessivo, de um paranoico. No futuro, provavelmente poderemos acompanhar a psicoterapia com neuroimagens para ver se um indivíduo está a evoluir na direção mais saudável, ou se, pelo contrário, precisamos alterar a forma como estamos a tratar um paciente”, antevê o entrevistado. Em «Perversa Mente Manipulada» abordam-se, então, temáticas de alguma complexidade, vivenciadas no dia-a-dia de um estabelecimento de ensino superior que tinha uma grande dinâmica e que recebia alunos de todo o Algarve e Alentejo, bem como professores oriundos de diversos pontos do país. Pessoas que se encontravam no antigo INUAF para trocarem conhecimentos e que, naturalmente, acabavam por criar relações de amizade ou mesmo amorosas. “Os personagens – alunos
e professores – têm vidas complexas e, ao longo da história, vão revelar as suas problemáticas psicológicas. Todos nós temos as nossas características, umas são defeitos, outras são virtudes, e o enredo do livro vai levar-nos aos ALGARVE INFORMATIVO #309
mundos da exploração humana, da droga e da prostituição, aos conflitos mais privados do ser humano”, desvenda Luís Barriga. Ação que, conforme referido, se centra no antigo INUAF onde Luís Barriga deu aulas durante vários anos, 40
pelo que considera que todos os romances possuem uma dimensão autobiográfica. “É uma espécie de
quebra-cabeças em que montamos peças que nós vivemos e que outros viveram e que nos fazem sentido naquele momento. Em simultâneo, utilizei acontecimentos reais destes 41
últimos dois ou três anos em que andei a escrever o romance. Há uma ligação histórica a uma determinada época, ainda que com uma certa ficção, uma vez que o INUAF já estava encerrado”, explica o autor, acrescentando que a geografia de «Perversa Mente ALGARVE INFORMATIVO #309
Manipulada» é exatamente aquela que os louletanos estão habituados a percorrer no seu dia-a-dia, “umas vezes em fuga,
outras vezes passeando ou namorando”, mas incluindo também locais de Faro, Estoi e São Brás de Alportel. O novo livro de Luís Barriga aborda, porém, temas que não associamos, logo à primeira, com o mundo académico e onde é mais corriqueiro o stress de ter boas notas, de concluir o curso, de não deitar por terra os sonhos de vida. “A
universidade não é um sítio isolado do mundo, daí levar a história para outras vertentes para além do sucesso académico, dos alunos ALGARVE INFORMATIVO #309
alcançarem os seus objetivos pessoais enquanto seres humanos. Enquanto psicólogo entendo, por exemplo, a sexualidade como um contínuo de desenvolvimento, embora as pessoas tenham a apetência de colocar as coisas todas em caixinhas separadas. Não há fronteiras rígidas, é uma evolução influenciada pela identificação sexual e psicológica de cada um de nós ao longo da vida”, defende o entrevistado.
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“ESTAR VIVO É ESTAR EM CONFLITO” Vários temas cozinhados com mestria num livro que deixará muitos leitores «com a pulga atrás da orelha», a olhar para este mundo por outro prisma, até porque, segundo Luís Barriga, “as
pessoas tendem a pensar que as vidas são todas normais e tranquilas, algo que a psicologia clínica demonstra não ser verdade”. “Os nossos conflitos são extremamente violentos e dolorosos, daí existir tanta gente a necessitar de apoio psicológico. Aliás, Portugal é um dos países com maior consumo de psicotrópicos, de medicação para o sistema nervoso. Qualquer pessoa que está a atravessar um problema psicológico acredita que toda a gente está feliz menos ela, algo que é completamente irreal. Estar vivo é estar em conflito”, avisa. “O modo como levamos o nosso dia-a-dia, como nos identificamos com as questões sociais, políticas, tudo depende do nosso contexto, da família que nos criou, dos valores com que fomos educados, das figuras de referência que tivemos ao longo da vida, que podem ser positivas ou negativas, que podem ou não ter um comportamento saudável e socialmente aceite. A «normalidade» é um conceito estatístico que não existe”. 43
Neste contexto, Luís Barriga entende que o leitor de «Perversa Mente Manipulada» poderá reter noções importantes para a sua própria vida, aperceber-se de questões que, se calhar, nunca tinha pensado nelas.
“Quando fazemos uma leitura ou estamos a vivenciar uma situação de outro, é uma característica humana imediatamente identificar-nos com esse episódio, pelo que os leitores vão criar empatia com os personagens e, muitos vezes, autoavaliar-se em função da história que é contada. Claro que haverá quem se vai ligar ao romance mais pelas questões do amor, pelos conflitos amorosos; outros estarão mais atentos à vertente científica, tentar compreender o porquê do comportamento daquelas personagens perante determinadas situações. Eu gostaria que o leitor fosse capaz de seguir as duas dimensões do romance, para ficar com uma perspetiva global dos processos psicológicos que estão por detrás dos comportamentos das pessoas e compreenderem que não existe imutabilidade”, refere Luís Barriga. “Através do tratamento psicológico, da mudança de comportamentos, mentalidades e pensamentos, é possível alterar os processos de socialização e de ALGARVE INFORMATIVO #309
relação com os outros. O que quero transmitir é que, por muito complexa e sofredora que seja a vida de um sujeito, se ele for capaz de ir à profundidade dos seus problemas e conseguir arrumá-los – de forma a que o passado seja facilmente acessível e contável – ele poderá sempre encarar o futuro de um modo mais saudável e feliz”,
que as escolas e as bibliotecas continuem a desempenhar o seu papel e que os jovens comecem a sentir aquilo que nós, os mais velhos, sentimos quando pegamos num livro e ficamos agarrados a uma história que é, sobretudo, construída pelo leitor”.
acredita o psicólogo clínico.
«Perversa Mente Manipulada» já está à venda nas lojas, com a chancela da «Cordel d’ Prata», segue-se agora a fase de promoção, na qual se inclui uma apresentação, no dia 9 de outubro, no edifício do antigo INUAF. E Luís Barriga não tem dúvidas em relação à importância do contato direto entre escritor e leitor. “Se o escritor for
Resta saber como é que, num mundo em que as alternativas de entretenimento são cada vez mais modernas e aliciantes, e onde proliferam séries e filmes sobre as temáticas da mente, se consegue captar a atenção das pessoas para um livro.
“Como diz a escritora Lídia Jorge, já somos uma espécie de «tribo», esta gente que escreve, compra e lê livros, mas a leitura tem vantagens relativamente ao audiovisual. O que vemos no ecrã é uma visão prétrabalhada por alguém, ao passo que a escrita permite que cada leitor realize a sua própria série ou filme, o que se torna bastante mais estimulante para o sistema nervoso”, distingue o autor. “Na televisão ou cinema, os estímulos visuais são muito fortes e, ao fim de pouco tempo, já estamos cansados, o nosso corpo fica apático. Mas é preciso motivação, esforço e concentração para se ler um livro, o que nem sempre é fácil nos tempos acelerados que vivemos. Esperemos ALGARVE INFORMATIVO #309
uma personagem bastante conhecida, não terá que se implicar muito no processo de divulgação da obra. Para todos os outros, é fundamental estarmos perto das pessoas, organizarmos apresentações, sermos ativos nas plataformas digitais, porque o objetivo de qualquer escritor é que os seus livros sejam lidos. Penso que, neste patamar, a dimensão económica é pouco relevante”, admite o psicólogo clínico de profissão. “A minha felicidade é alguém mandar-me uma mensagem a dizer que leu o meu livro e que gostou. É isso que me estimula a escrever”, garante .
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TAVIRA DEIXOU-SE ENCANTAR COM A LENDA DA «BZZZOIRA MOIRA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina / Festival FOMe
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etembro foi mês de mais uma fantástica edição do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, e um dos destaques foi, certamente, o «Bzzzoira Moira» da companhia «Teatro e Marionetas de Mandrágora», a que tivemos oportunidade de assistir na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira. Na génese do espetáculo estão as lendas de mouras encantadas e seres fantásticos que povoam todo o país. “Do ALGARVE INFORMATIVO #309
Norte, conheço de perto, desde criança, algumas histórias que se contam sobre estes locais. Esta é a história sobre um poço negro que dizem esconder um tesouro guardado por uma moura encantada por um feitiço. Durante a noite a jovem chora, enquanto se penteia, mas durante o dia é transformada num animal que afugenta o aguadeiro a caminho do poço, onde vai buscar água”, relata Filipa Mesquita, diretora artística e intérprete de «Bzzzoira Moira» . 50
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CHOQUE FRONTAL AO VIVO REGRESSOU AO TEMPO COM REFLECT Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vera Lisa
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programa Choque Frontal ao Vivo voltou a animar, no dia 15 de setembro, o Grande Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão com o HipHop/Rap de «Reflect». O músico algarvio Pedro Pinto, a solo ou em parceria, já pisou alguns dos maiores palcos do país, casos do MEO Sudoeste, Festival Iminente, Hard Club, Casa da Música, Festival MED, Festival da Sardinha, Fatacil, TEMPO, Teatro das Figuras, entre muitos outros. Em 2018, o seu tema «Barco de Papel» foi distinguido com o Prémio Melhor Música Algarve 2018, pelo Choque Frontal ao Vivo.
Coelho e Júlio Ferreira, de tudo um pouco se falou nesta edição do Choque Frontal ao Vivo, desde a infância de Pedro Pinto às inesperadas mortes do seu amigo Dezman, em 2021, e da sua antiga companheira, em 2014, de uma carreira que festejará, em 2023, as suas duas décadas, e até mesmo do seu recente noivado com a bailarina Laura Abel e da sua dificuldade em aprender a dançar no seu casamento que estará próximo. A par da música, foi igualmente apresentada, em estreia mundial, uma nova tela do artista plástico João Sena e o Presidente da Teia D`Impulsos Luís Gonçalves abriu o apetite para a edição deste ano da Rota do Petisco, que está no terreno até meados de outubro .
Com a música interlaçada pela conversa com os mentores do projeto Ricardo ALGARVE INFORMATIVO #309
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IGREJA DA MISERICÓRDIA DE TAVIRA RECEBEU TEATRO DOS ROBERTOS AO SABOR DO PIANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina / Festival FOMe
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Igreja da Misericórdia de Tavira acolheu o espetáculo «Consonância», da S.A. Marionetas – Teatro & Bonecos, inserido na programação do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. O projeto da companhia vinda de Alcobaça junta duas artes que têm em comum o improviso e a consonância pelo movimento livre na musicalidade e na teatralidade.
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No ano em que o teatro tradicional itinerante de marionetas português entrou para a lista de Património Imaterial de Portugal, José Gil, o executante deste teatro com origem no século XVIII, juntou-se ao pianista Daniel Bernardes numa aventura de sons e movimentos, criando uma realidade abstrata num paralelo teatral tradicional com sons de modernidade, criando um jogo improvável entre um piano e o Teatro Dom Roberto. A apresentação incluiu as peças «O Barbeiro», «A Tourada», «O Castelo dos Fantasmas», «A Rosa e os três namorados» e «O Saloio de Alcobaça». 74
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TEATRO LETHES VIBROU COM AS «LIÇÕES DE VOO» DO TEATRO DE MARIONETAS DO PORTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina / Festival FOMe
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ições de Voo» do Teatro de Marionetas do Porto foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. Foram duas sessões esgotadíssimas no Teatro Lethes para se assistir, ao vivo e a três dimensões, ao resultado das ilustrações de João Vaz de Carvalho usadas para a criação deste espetáculo, e em sequência de experiência de colaboração realizada em 2013, em «Pelos Cabelos», que se revelou muito estimulante. “O desejo de voo, o
secreto desejo humano de realizar o irrealizável, é uma poética ALGARVE INFORMATIVO #309
recorrente no trabalho da encenadora. «Lições de Voo» é uma criação sobre a poética do ar, dos sonhos e do voo, num lugar especial onde cada um pode experimentar a leveza do corpo, a suspensão e a emoção de descolagem. É a nossa viagem com o público até lá, onde todos somos pessoas/pássaros do vento”, explica a prestigiada companhia portuense. Com conceito e encenação de Isabel Barros e marionetas de Hernâni Costa Miranda, a partir das ilustrações de João Vaz de Carvalho, «Lições de Voo» foi protagonizado por Micaela Soares e Vítor Gomes . 86
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COMPANHIA MAIOR TROUXE «O LUGAR DO CANTO ESTÁ VAZIO» A LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Cineteatro Louletano recebeu, no dia 23 de setembro, o espetáculo «O Lugar do Canto Está Vazio», que surge do confronto das ferramentas de pesquisa e composição coreográfica de ALGARVE INFORMATIVO #309
Sofia Dias e Vítor Roriz com os corpos e sensibilidades da(o)s artistas da Companhia Maior. “A peça começa
com um apelo à experimentação e que não é mais do que uma tentativa de encontro com aquilo que não dominamos ou que nos coloca numa zona de conflito, de 100
De acordo com a Companhia Maior, «O Lugar do Canto Está Vazio» é um jogo de alternâncias entre o abstrato e o figurativo, o reconhecível e o estranho, o individual e o coletivo, o biográfico e o ficcional. “Uma composição
de partituras sonoras, gestos que se ligam com palavras, breves narrativas interrompidas por movimentos e objetos que dão lugar a vozes”, descrevem.
risco e até mesmo de falência. Parece-nos que é nesse lugar, entre o que se domina e o que se desconhece, que o corpo adquire a qualidade do presente – uma transparência que permite ver o seu modo de agir e pensar”, entendem os
Com direção, texto e coreografia de Sofia Dias e Vítor Roriz e direção da Companhia Maior por Miguel Honrado, Paula Varanda, Susana Martinho Lopes, o espetáculo de dança é protagonizado por Angelina Mateus, Carlos Fernandes, Carlos Nery, Catarina Rico, Cristina Gonçalves, Edmundo Sardinha, Elisa Worm, Isabel Simões, João Silvestre, Júlia Guerra, Kimberley Ribeiro, Maria Emília Castanheira, Maria Helena Falé, Michel e Paula Bárcia. O projeto é financiado pela República Portuguesa/Direção Geral das Artes e a sua apresentação acontece no âmbito do projeto «Causa Maior», com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação «la Caixa», através da iniciativa PARTIS & Art for Change e da Fundação GDA .
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NARIZES PARA TODOS OS GOSTOS SUBIRAM AO PALCO DO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina / Festival FOMe
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um extensíssimo programa com propostas para todos os gostos, o FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, levou até ao Teatro Lethes, em Faro, o espetáculo «Este não é o nariz de Gógol, mas podia ser… com um toque de Jacques Prévert», de «A Tarumba – Teatro de Marionetas», de Lisboa. A importância de ter um nariz, para não dar com o nariz na porta, não meter o nariz onde não se é chamado, ser dono do seu nariz ou para meter o nariz em tudo, tudo isso é debatido nesta criação ALGARVE INFORMATIVO #309
inspirada no universo de Gógol e Jacques Prévert, com objetos e figuras articuladas de papel, “qual cadavre
exquis de cenas e jogos de palavras, mas sempre com muito nonsense, onde está presente o mundo surreal que nos rodeia, num ambiente kitsch, insólito e de festa com reminiscências russas, algures entre o Festival da Eurovisão e a Rússia dos anos 70”, descreve a companhia. O espetáculo de figuras de papel articuladas e objetos teve direção artística, cenografia, marionetas e interpretação/manipulação a cargo de Luís Vieira e Rute Ribeiro, a partir de textos de Rute Ribeiro . 114
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OrBlua - Um Folhetim Semanal que Celebra a sua Vida e o seu Final Episódio 8 Texto: António Pires | Foto: Jorge Jubilot e OrBlua vida de dez anos exactos dos OrBlua e a sua produção musical foi muitas vezes feita de acasos do destino, de golpes de sorte inusitados, de desvios a algo previamente programado a que os fados e os feitiços do tempo, as sortes e os azares (muito mais aquelas do que estes, está bem de ver), os golpes do vento e os desvarios das marés, os nasceres do Sol e da Lua viriam a moldar de forma radicalmente diferente daquilo que os nossos três heróis – Carlos Norton, Inês Graça e Nuno Murta, sempre com a companhia do seu
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engenheiro e técnico de som Vasco Ribeiro, a quem todos nós tratamos com amor como «Lobo Mau» – tinham inicialmente previsto ou programado. E um dos (a)casos mais flagrantes disto mesmo foi a maneira como os OrBlua chegaram ao seu terceiro disco e segundo álbum, que nos seus primórdios não foi pensado como CD, mas sim como a banda-sonora de uma série documental de dezasseis episódios filmados pelos realizadores Vico Ughetto e Filipe Correia. Uma série dedicada aos produtos cultivados, manufaturados, inventados e/ou criados no Algarve para a qual os
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OrBlua gravaram duas horas de música original durante uma longa residência artística que teve lugar no LAC – Laboratório de Actividades Criativas, em Lagos. E lá está, por uma dessas inesperadas chicotadas do tempo que foge ou por sortilégios lançados pelas parcas atlânticas ou mediterrânicas, essa série de filmes nunca seria acabada, nem o seu resultado divulgado. Mas a música, 127
essa existia: duas horas de música instrumental e não feita de canções, pensada com um objectivo claro, mas mais ou menos facilmente adaptável ao formado CD. Um CD, de nome «Paisagens», que veria a luz do dia em 2018 e que de outra forma viria a celebrar o Algarve e as suas gentes, a sua cultura e a sua ALGARVE INFORMATIVO #309
História. E, claro, um objecto diferente dos que o antecederam ou do que aquele que viria encerrar a sua história, «Finisterra», editado dez anos (e um dia) depois do primeiro ensaio da banda. E, não sendo como já se referiu um álbum de canções, os oito temas de «Paisagens» – ilustrados desta vez por fotografias de Eduardo Pinto, partem de frases musicais ou líricas do cancioneiro tradicional algarvio, com a excepção de um tema inspirado na música árabe. E que, assombrado pelo legado eterno de Ennio Morricone e das suas bandas-sonoras para clássicos do western-spaggheti, transforma os OrBlua em inventores, com
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a ajuda de mais de cem instrumentos musicais de todo o mundo (num record digno do Guinness), de delirantes sinfonias polirítimicas muitas vezes atonais que poderiam facilmente ser baptizadas como western-xarém (rico ou pobre), western-arroz de lingueirão, western-muxama, western-medronho ou western-dom rodrigo. Mas esta banda sonora não foi a única incursão dos OrBlua nos meios cinematográficos. Aliás, a vida dos OrBlua dava um filme, como veremos no próximo capítulo .
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OPINIÃO Notas Contemporâneas [22] Adília César (Escritora) “Considerando o estado mental da sociedade portuguesa, ele reconhecia quanto a sua doutrina e as suas conclusões pareceriam incompreensíveis, estranhas, fantasmagóricas. No seu país, Antero era como um exilado de um Céu distante; era quase como um exilado no seu século. Para que, pois, mergulhar na multidão, anunciar uma verdade que a todos se afiguraria um sonho, e um sonho nem ao menos composto com os elementos e os pedaços de realidade que entram sempre no arranjo dos sonhos?” Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) OJE passei a pé junto a um bairro degradado. No pequeno parque, automóveis de gama alta decoravam o sítio com o glamour próprio da sociedade de consumo. “É uma questão de prioridades”, pensei eu. As casas são rascas, mas os carros dão nas vistas. A sociedade de consumo ensinou-nos isso mesmo: é preciso comprar, adquirir mais bens e melhores serviços; é preciso possuir algo palpável a que chamamos de «nosso»; é preciso exigir um maior crescimento económico (é mesmo necessário um «maior crescimento económico»?...). Que verdade é essa? * ENQUANTO deambulamos pelas lojas nas compras (ah, pois, mas agora somos tão ALGARVE INFORMATIVO #309
ecológicos porque levamos o saquinho de casa), estamos entretidos a escolher o novo tablet ou o milagroso suplemento alimentar para o almejado emagrecimento, ainda que não necessitemos de perder peso (tudo isto está «tão» na moda). Sim, é uma questão de prioridades que hoje já não são as mesmas de ontem. Parar para pensar nas prioridades, é a minha maior urgência. O resto (as coisas e os serviços), é como a literatura irrelevante e inócua: bem escrita, bem arrumadinha nas páginas dos livros, mas... desinteressante. * MAS NÃO RESISTO a adquirir mais um livro. Serei mais feliz porque leio muitos livros? Não sei responder. A ser verdade que também já tive a experiência de ler maus livros, tenho de admitir que na maior parte do tempo estou de luto pela literatura, porque um mau livro mata sempre qualquer coisa que não é apenas do foro 132
literário: a leitura de um mau livro torna-me menos humana. * ÀS VEZES, sinto-me como uma exilada no meu século. Ou então a minha realidade é feita de pedaços de sonhos que fui buscar ao real que me é oferecido, mesmo que eu não o queira. Ainda assim, o tempo apropria-se das misérias citadinas, sem piedade pelos seus habitantes. Entretanto os políticos fazem promessas, outra vez. Que tédio. Resta-me interceder através do que está ao meu alcance. Procuro agarrar a energia do sonho que me arranca ao meu quotidiano e enfrento-a de frente: a donzela e o dragão medem forças e tomam decisões. Eu saio sempre vencedora. Eu sou o dragão. Há uma linha de escrita visível do espaço porque é feita de fogo: é um vulcão que abre os braços ao mundo, mas depois morre para dentro. * INSISTO NA ARTE da mesma maneira que pareço ansiar por uma doença, um eczema incomodativo: sinto um ímpeto e 133
escrevo compulsivamente, mas não quero apesar de querer. A experiência estética vai muito além do entretenimento, da compreensão natural de um fenómeno artístico, causando por vezes uma espécie de náusea emocional. A obsessão pela escrita perdura para lá de um frágil equilíbrio, atravessa uma fronteira que eu nem sabia que existia. Escrever porquê? Só tenho uma «nãoresposta»: escrevo porque sim . ALGARVE INFORMATIVO #309
OPINIÕES, REFLEXÕES E DEMAIS SENSAÇÕES
E depois querem paz no Mundo? Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) ocês os três, que perdem o vosso precioso tempo a ler as parvoíces que escrevo, sabem que, segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, desde a entrada em vigor do sistema de «carta por pontos», foram cassadas 1.494 cartas de condução e 2.386 condutores têm zero pontos? No caminho matinal para levar a filhota à escola, divirto-me (quando não é comigo) normalmente a olhar para dentro dos automóveis que invariavelmente contêm no seu interior mamíferos fora de si, numa fronteira esquisita entre o assassínio de massas e a histeria compulsiva. Portugal é o único país no Mundo onde o principal objetivo de conduzir um automóvel não consiste no simples deslocar de A para B. Se um monge budista conduzisse em Portugal, esquecia logo aquela mania do voto do silêncio e da calma perante as adversidades da vida e passava-se como qualquer um de nós. Para nós, portugueses, a condução é, acima de tudo, uma terapia para aliviar tensões, debelar ansiedades, resolver ALGARVE INFORMATIVO #309
depressões, insultando furiosamente outros portugueses, com a vantagem óbvia de ao mesmo tempo conseguirem chegar mais rápido ao seu destino. O tuga mais calmo e pacato do mundo transforma-se num javardolas alucinado dentro do seu automóvel, correndo a palavrão e buzinadela todos os seres vivos que se atravessem no seu caminho. Desde que alteraram o código, ninguém sabe fazer rotundas. Os que mudam de via sem pisca para cima de nós, sempre existiram, mas a coisa parece piorar com o tempo. Não fazer piscas ao mesmo tempo que muda de faixa e sexo anal são coisas não podem ser assim de repente. Temos que fazer sinal, esperar por uma «aberta» ou que a outra pessoa diga "Pode meter agora". É exatamente o mesmo, só com a diferença que, no sexo anal, só o casal é que fica chateado se a coisa corre mal e, na estrada, são todos os outros que têm que estar no trânsito porque um anormal decidiu que ia ser o Tomás Taveira da estrada, provocando até choques em cadeia, lá está…por trás. Mas o que é que custa fazer um simples gesto que consiste em mover dois ou até um dedo para deslocar o manípulo um centímetro? Esta gente se é assim tão preguiçosa com os dedos 134
noutras áreas não conseguem satisfazer ninguém. Os homens é porque pensam que os piscas se tratam apenas de ornamentos para tornar o carro, mais bonito e luminoso, as mulheres pensam que são um berloque nas unhas de gel que só estão lá para enfeitar. A função do automóvel em território nacional extravasa os simples e originais desígnios do chegar em segurança a qualquer sítio (se bem que os portugueses também sejam exímios nisto, a julgar pela quantidade absurda de acidentes por excesso de velocidade, que em português significa falta de 135
lentidão). A situação é tão peculiarmente nacional que alguns fabricantes de automóveis estão neste momento a testar modelos específicos para o mercado português: automóveis equipados com megafones multidirecionais, em que o condutor poderá apontar diretamente para a sua vítima, berrando os impropérios habituais, em estereofonia e com um nível decibélico capaz de acordar um cachalote estremunhado. Como alguém diria: “E depois querem paz no Mundo???” . ALGARVE INFORMATIVO #309
OPINIÃO As lições da Democracia Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) s eleições autárquicas são, frequentemente, apelidadas de «grande festa da democracia». De facto, é o evento político mais plural, no número de candidatos, na abertura a candidaturas independentes, na celebração de acordos de coligações e na renovação dos eleitos. Cada eleição autárquica é, também, uma lição política e de vida. Muitos candidatos contactam pela primeira vez com a dinâmica de uma campanha, vivenciam a experiência do contacto de rua, com o cidadão comum, aprendendo a trocar argumentos, conhecendo melhor as localidades e a realidade social de cada freguesia e concelho. No entanto, não são apenas os novatos a retirar ensinamentos desta experiência. Muitos seniores, verdadeiros profissionais da política, personalidades com elevada projecção local e regional, também aprendem com a vontade do povo. Nestas eleições, na região algarvia, o povo manifestou-se e ensinou que:
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1 – A população não gosta de regressos à ribalta de quem teve a oportunidade de exercer o poder e foi afastado por vontade própria, ou pela limitação de mandatos. Nestas eleições, quatro antigos presidentes, que fizeram um trabalho notável enquanto exerceram os respectivos cargos, tentaram regressar ao leme dos mesmos municípios e não atingiram os seus objectivos. 2 – As siglas partidárias ainda pesam na hora de colocar a cruz no voto, tanto em sentido positivo, de impulso em votar, como em sentido negativo, de repulsa ao voto. As candidaturas independentes e as coligações de partidos continuam a não conseguir vingar nas eleições autárquicas. 3 – O eleitorado gosta de perpetuar o poder. Nenhum dos presidentes recandidatos perdeu a eleição e todos os «delfins», que assumiram a presidência durante o mandato anterior, foram ratificados pelo eleitorado. 4 – O eleitorado não gosta de transferências partidárias. Os políticos que deixaram a militância do seu partido para concorrerem nas fileiras 136
de outro, ainda que tenham sido eleitos, não obtiveram resultados brilhantes. 5 – Mesmo que absolvidos judicialmente, os candidatos que tiveram problemas com a justiça não conseguiram obter a absolvição política e eleitoral. 6 – O eleitorado prefere ficar em casa do que ter de optar por uma alternativa democrática. 7 – A dimensão da vitória é proporcional ao reconhecimento pelo trabalho autárquico realizado.
profundas em dois municípios, onde os presidentes em exercício não se recandidataram, fica evidente que a «festa da democracia» está a tomar contornos de ressaca, revelando sinais de um sistema democrático anémico. O alheamento do cidadão comum da política, também pode ser visto como uma lição: a população não se revê no sistema político actual. Algo terá de mudar radicalmente na orgânica democrática, sob pena de o poder vir a ser tomado por movimentos mais radicais, a nível local, regional e nacional, que acabem por impedir a continuação da «festa da democracia» a médio ou longo prazo .
Com uma abstenção regional de 54 por cento, que apenas provocou alterações 137
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #309
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