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ALGARVE INFORMATIVO 16 de outubro, 2021
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«CINEMA MIAMI» | «À MESA DO BAIXO GUADIANA» | «O NINHO» | «ALFORRIA» ALGARVE INFORMATIVO #311 «TIVE 1 IDEIA PARA 1 DUETO» | CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEVÓLEI
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66 - «Cinema Miami» em Faro 16 - Campeonato Nacional de Futevólei
110 - Festival Internacional de Trompete do Algarve em Loulé
52 - «Alforria» em Olhão
80 - «O Ninho» em Faro
OPINIÃO 94 - «O Urso e outros dois» em Loulé
120 - OrBlua 126 - Ana Isabel Soares 128 - Adília César 130 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 132 - Nuno Campos Inácio 134 - Lina Messias 40 - «Tive 1 ideia para 1 dueto» em Loulé 136 - João Soares ALGARVE INFORMATIVO #311
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26 - «À Mesa do Baixo Guadiana»
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FINAL DO CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEVÓLEI JOGOU-SE NA PRAIA DOS PESCADORES, EM ALBUFEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vítor Pina/Federação Nacional de Futevólei iguel Pinheiro e Filipe Santos, representantes do Clube Desportivo da Póvoa, campeões europeus em 2019 e com diversos títulos nacionais no seu palmarés, sagraram-se, no fim-de-semana de 2 e 3 de outubro, campeões nacionais de futevólei, na Praia ALGARVE INFORMATIVO #311
dos Pescadores, em Albufeira. A Fase Final da 16.ª edição da principal prova nacional da modalidade contou com 16 equipas finalistas, em representação de nove clubes nacionais, incluindo um da Região Autónoma da Madeira. A Final juntou em confronto direto os atletas com mais títulos nacionais e europeus. De um lado Miguel Pinheiro, agora a formar equipa com Filipe 16
Santos, do outro Nelson Pereira, a fazer dupla com Beto Correia, sendo que ambas as equipas representam o CD Póvoa. Depois de um primeiro set muito renhido, com o marcador a parar a sua marcha nos 18 x 14, Miguel Pinheiro e Filipe Santos conseguiram a vantagem no segundo set e fecharam o jogo em 18 x 11, vencendo a partida e sagrando-se campeões nacionais de 2021. Filipe Santos conquistou assim o seu segundo título nacional, a juntar ao título europeu, enquanto Miguel Pinheiro soma agora 17
oito títulos nacionais, que engrandecem um palmarés composto ainda por dois títulos europeus. O evento voltou a contar com a presença de público nas bancadas, que vibrou com o magnífico espetáculo desportivo proporcionado pelos principais atletas da modalidade. O Campeonato Nacional foi organizado pela Federação Nacional de Futevólei, com o apoio do Município de Albufeira. ALGARVE INFORMATIVO #311
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DELÍCIAS DA SERRA, RIO E MAR JUNTAS «À MESA DO BAIXO GUADIANA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oi formalmente apresentado, no dia 12 de outubro, nas instalações da «Sal Marim», em Castro Marim, o projeto «À Mesa do Baixo Guadiana: a serra, o rio e o mar», que pretende valorizar e reconhecer os produtos alimentares produzidos no território do Baixo Guadiana. Para tal propõe-se um périplo pelas paisagens, concelhos, produtores e produtos desta região algarvia, viagem ALGARVE INFORMATIVO #311
essa conduzida pelas mãos do Chef Rui Silvestre (Restaurante Vistas, 1* Michelin), que é o embaixador da iniciativa graças à sua versatilidade e excelência, sendo também a estrela Michelin com maior proximidade geográfica ao cabaz de produtos do território. Foi no «Armazém» da Salina do Moinho das Meias, à beira da EN 122, entre Castro Marim e Vila Real de Santo António, que a comunicação social 26
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Filipe Raiado, Rui Jerónimo, Filomena Sintra, Sílvia Madeira e RuiALGARVE Silvestre INFORMATIVO #311
Jorge Filipe Raiado, da «Sal Marim» ficou a conhecer o projeto, um local escolhido porque o sal, mais concretamente a flor de sal, é um dos protagonistas maiores do projeto.
“Castro Marim tem uma condição privilegiada para fazer sal. Primeiro, estamos no estuário salgado do Rio Guadiana, com marés que sobem e descem. Depois, raramente chove, à exceção deste ano que choveu bastante cedo, o que fez com que a temporada terminasse logo em meados de setembro”, começou por explicar Jorge Filipe Raiado, da «Sal Marim». “O normal, porém, é termos
praticamente quatro meses ALGARVE INFORMATIVO #311
consecutivos sem chuva, o que nos permite produzir um sal de maior qualidade, num sistema de salinas solares, naturais, em que o homem se limita a apanhar o sol. O resto é a natureza que faz. Temos uma comporta que deixa entrar a água das marés para os tanques e depois existe um sistema de evaporação em tanques sucessivos”. De acordo com Jorge Filipe Raiado, já os romanos produziam sal em Castro Marim, mas os processos atuais surgiram no século VII, com a água a concentrar-se de uns tanques para 28
outros e, mercê da evaporação natural, o que está em suspensão na água vai-se afundando nos primeiros tanques, num caminho até aos tanques esterilizadores.
“Chegam a uma salmoura que, numa forma natural, se transformam em sólidos, passam a sal, ou se evaporam e nasce um segundo produto, a flor de sal. Aqui usufruímos do sol, calor e vento para termos um produto fantástico que a natureza nos dá, e num local também ele único”, sublinha o anfitrião, lembrando que estas salinas acabam por beneficiar a própria nidificação das aves migratórias, devido aos níveis de águas controlados nos tanques. “Este ano aconteceu, no
Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, uma coisa 29
fantástica, com mais de 500 casais de flamingos a nidificarem aqui pela primeira vez, desviando-se cerca de 100 quilómetros do seu trajeto normal e com uma taxa de sucesso muito boa. Ou seja, juntase a atividade económica com a biodiversidade”, destaca. A flor de sal é o prato forte da «Sal Marim», mas houve tempos em que este produto não era aproveitado em termos comerciais, era um subproduto, algo indesejável. De facto, à medida que a água ia evaporando, a parte mais pesada ficava ao de cima da água, os tais cristais que, mais recentemente, ganharam uma tremenda notoriedade e, com isso, um enorme valor. “Numa
tonelada e meia de sal tiramos cerca de 80 quilos de flor de sal, ALGARVE INFORMATIVO #311
uma grande disparidade que depois se reflete no preço. Na gastronomia, querem um sal que se dissolva rapidamente em contacto com a comida e que tenha uma textura mais fina e fácil de esmagar entre os dedos. Os produtos quimicamente são muito semelhantes, as diferenças são físicas”, esclarece Jorge Filipe Raiado, acrescentando que o seu foco não é produzir quantidade, mas sim qualidade topo de gama. “Nos vinhos há muito
tempo que se privilegia a qualidade, nos azeites isso também já acontece, eu faço o mesmo na flor do sal. Produzo embalagens, deixei de pensar em toneladas. O certo é que cada vez são reativadas mais salinas no concelho de Castro ALGARVE INFORMATIVO #311
Marim e a maior parte da produção é exportada. Neste momento, representamos mais de metade da produção de flor de sal da Europa”, revela o empresário, reconhecendo que a falta de mão de obra é um dos problemas com que se debate regularmente. “Há salinas
paradas porque depois não temos recursos humanos para apanhar a flor de sal. Já se trabalhou de sol a sol, agora não, é um trabalho mais ardiloso e penoso por causa do calor. Começamos a apanhar a flor de sal às quatro da tarde e vamos até às oito ou nove da noite. Se for sal grosso, tem que ser uma coisa mais rápida, são preocupações diferentes. E é um 30
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Rui Jerónimo, Sílvia Madeira, Jorge Filipe Raiado e Rui Silvestre
trabalho sazonal”, aponta o produtor de flor de sal artesanal. Numa rápida visita às salinas, Jorge Filipe Raiado conta que tudo funciona gravitacionalmente e por evaporação, com a água a ir circulando cada vez mais devagar e em menor volume pelos vários tanques, até chegarem à «salina», onde o volume diminui ainda mais até se atingirem os cristalizadores. “Estamos
num terreno de sensivelmente um hectare, cada cristalizador tem 45 metros quadrados. No sal industrial, os cristalizadores são de oito ALGARVE INFORMATIVO #311
hectares e é tudo tirado à máquina”, aponta o anfitrião. “São duas realidades completamente diferentes que encontramos em Castro Marim, a produção artesanal e a extração industrial, com formas distintas de trabalhar o sal e tendo também em vista mercados diferentes”, declara Sílvia Madeira, diretora da Associação Odiana, a promotora do projeto. “As
embalagens de flor de sal da «Sal Marim» vão passar a estar, por exemplo, nos menus executivos 32
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Rui Silvestre, do Restaurante Vistas
da TAP. Exportamos direta ou indiretamente para praticamente todos os continentes e continuamos a abrir mercados através do «bocaa-boca» e de contactos com chefes de cozinha”, refere, entretanto, Jorge Filipe Raiado, licenciado em História da Arte e que era, antes de rumar ao Algarve, empresário da construção civil. A «Sal Marim» especializou-se, então, num mercado gourmet, com restaurantes mais refinados e clientes empresariais de grande expressão, apontando sempre ao topo da pirâmide. “Nem sequer me
esforço em ter uma segunda marca ALGARVE INFORMATIVO #311
de valor comercial mais baixo. O produto que não se enquadra na nossa estratégia, não usamos no mercado”, garante o entrevistado, com Sílvia Madeira a enaltecer a importância destes empresários dinâmicos num território de fronteira, e de baixa densidade, como é o Baixo Guadiana. “Permite uma maior
diversidade da atividade comercial e a extração do sal tem, sem dúvida, um impacto imenso. E isso só é possível graças ao investimento, ao empreendedorismo e dedicação de pessoas como o Jorge”, frisa a 34
diretora da Odiana. “Um investigador
da Universidade do Algarve trabalhou connosco até se reformar, o que foi bastante positivo, os cozinheiros são uma grande ajuda, mas o design e a arte foram a mola principal para nos diferenciarmos dos concorrentes e termos sucesso num segmento que busca o requinte e a exclusividade”, salienta ainda Jorge Filipe Raiado. «À Mesa do Baixo Guadiana: a serra, o rio e o mar» é uma iniciativa promovida pela Associação Odiana através do projeto INTERPYME – Plataforma para Internacionalização das Pequenas e Médias Empresas do Algarve e das Províncias de Cadiz e Huelva, e uma iniciativa de cooperação entre o Algarve, 35
Alentejo e Andaluzia, Programa Interreg V-A Espanha- Portugal 20142020 (POCTEP), cofinanciado pelo FEDER. “A ideia é promover os
nossos produtos além-fronteiras e tivemos uma grande recetividade da parte dos pequenos produtores locais, desde o figo, amêndoa e mel ao queijo de cabra, laranja e enchidos. Queremos mostrar como podem ser utilizados diariamente nas nossas casas, porque são comercializados com relativa facilidade, mas também na alta gastronomia”, esclarece Sílvia Madeira. “Estamos a falar de micro projetos que fazem a diferença pela sua especificidade. ALGARVE INFORMATIVO #311
Não trabalhamos em larga escala, mas com produtos endógenos e típicos do sotavento algarvio, nomeadamente dos concelhos de Vila Real de Santo António, Castro Marim e Alcoutim, com pessoas que têm uma produção consciente e muito cuidada. O nosso objetivo é ajudá-los a criar um maior valor acrescentado, quer ao nível da comercialização, como da comunicação e das parcerias nos circuitos de distribuição”, indica a diretora da Odiana. Nesse sentido, foi contratado um serviço de curadoria gastronómica, por via do Chef Rui Silvestre, um Estrela Michelin do território, que demonstrará a potencialidade destes produtos típicos na alta gastronomia, assim como na cozinha simples, mas com requinte. “Mas
também serão realizadas visitas aos próprios produtores, porque muitas vezes são pequenas empresas familiares que nem os próprios algarvios conhecem. Estamos a falar da flor de sal de Castro Marim, dos enchidos do Zambujal, do queijo de cabra do Azinhal, da muxama de Vila Real de Santo António, do peixe fresco apanhado em Monte Gordo, ou do peixe apanhado no Rio Guadiana. O principal objetivo do projeto é dar a conhecer e criar valor, para que estas empresas possam atingir outros patamares”, enfatiza Sílvia Madeira. “Nós ALGARVE INFORMATIVO #311
respeitamos mais os produtos quando conhecemos quem os fazem e todos os trabalhos artesanais devem ser valorizados”, referiu, por seu lado, Rui Silvestre. “O que estou aqui a tentar fazer é dar uma roupagem diferente a produtos do dia-a-dia, como a amêndoa, queijo-fresco ou mel, a partir de receitas familiares e de outras desenhadas por mim”, acrescenta o Chef do Restaurante Vistas, do Monte Rei Golf & Country Club, em Vila Nova de Cacela. “E a flor de sal, para além
de salgar, ajuda a equilibrar todas as componentes que estão no prato e dá-lhe crocância”. Depois da conversa, e da teoria, passou-se à prática, com o menu «À Mesa do Baixo Guadiana» a ter pão de Castro Marim, azeite e manteiga como couvert e, nas entradas, queijo de cabra de Castro Marim, salada de ovas, ovos mexidos com farinheira de Alcoutim, Cromesqui de berbigão de Vila Real de Santo António, muxama de Vila Real de Santo António, salada montanheira de grão e batata, pimento assado e amêndoa do Baixo Guadiana, frutos secos do Baixo Guadiana e batata soufflé com presunto de Alcoutim. Os pratos principais foram cataplana e peixe do dia na grelha de Vila Real de Santo António, culminando a refeição com Dom Rodrigo e torta de alfarroba do Baixo Guadiana .
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MÁKINA DE CENA ESTREOU «TIVE 1 IDEIA PARA 1 DUETO» NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino
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streou, no dia 8 de outubro, a quarta produção teatral da Mákina de Cena, «Tive 1 ideia para 1 dueto», que marca mais um salto no percurso da «MdC Teatro», ao apostar fortemente numa equipa de profissionais qualificados e numa abordagem muito arrojada ao fenómeno teatral. “Tirando
do confinamento obrigatório o melhor partido possível, a saudável loucura destes criadores soube aproveitar a «falta de ar» para se permitir rédea solta. Pesquisas e partilhas online transformaram-se em autênticos desafios: e se roubássemos? E se nos atrevêssemos a reproduzir excertos de espetáculos que nos inspiraram profundamente? Porque não contrariar esta quase psicose de termos de ser «absolutamente originais»? Qual é, afinal, o «plágio»? Que diferença entre «plágio», «apropriação», «roubo», «transformação»?”, questionam Carolina Santos e Susana ALGARVE INFORMATIVO #311
Nunes, as cocriadoras e intérpretes da peça. As duas atrizes enfrentaram, assim, duros meses de residências artísticas, de trabalho físico rigorosissimamente orientado pelo cocriador e Diretor de Movimentos Pedro Filipe Mendes,
“numa pesquisa constante, num esticar de limites físicos e emocionais, resultando num espetáculo, afinal, original e extremamente eclético”, explicam. “Bebemos de outras fontes. Assimilámos, transformámos, copiámos… Roubámos. Foi preciso, e com muito rigor. Sem pudor, recolhemos excertos performáticos, literários e musicais, e repetimo-los até se fundirem connosco. Perdemo-nos, e encontrámos praticamente todo o resto no imediatismo das pesquisas online. Obrigada, Youtube, Google, Pinterest, Vimeo, Facebook – vocês sabem porquê”, referem Carolina Santos e Susana Nunes, com um sorriso . 42
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FESTIVAL FOME LEVOU «ALFORRIA» A OLHÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Festival FOMe
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nserido no FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, o espetáculo «Alforria – a vida numa carroça», da Boca de Cão – Teatro de Rua e Formas Animadas (Arcozelo), surpreendeu o público presente no Largo de São Sebastião Martins Mestre, em Olhão, no dia 19 de setembro, com a história da procura de uma vida mais feliz. ALGARVE INFORMATIVO #311
“Xica e Tibério, trabalhadores incansáveis viviam escravizados, mas, nos olhos de Silvestre, o simpático Javalicão, descobriram que a amizade e a coragem são os guias do coração. Dentro e fora da carroça mostra-se a vida e o ato de viver rumo à liberdade”, descrevem os criadores e intérpretes Hugo Ribeiro e Muni Joana Domingos. 54
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Teatro Lethes transformou-se no Cinema Miami Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova
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Grupo de Teatro Comunitário de Quarteira, projeto do JAT – Janela Aberta Teatro, levou, no dia 9 de outubro, ao Teatro Lethes, o seu êxito «Cinema Miami», inspirado no antigo cinema de Quarteira e na atualidade algarvia. A peça é uma crítica e divertida comédia que conta a história de uma comunidade que vê o seu cinema fechar devido à construção de um furo para descobrir petróleo. ALGARVE INFORMATIVO #311
«Quarteira Fora da Caixa» é um projeto de Teatro Comunitário do Colectivo JAT composto por membros da comunidade quarteirense, vizinhos-atores e vizinhasatrizes de todas as idades “que fazem
do palco um espaço de encontro, reflexão, crítica social e expressão artística”, referem os encenadores Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo sobre esta peça criada há vários anos e cuja longevidade atesta a sua qualidade. 68
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O Ninho falou da amizade verdadeira Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Festival FOMe
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Gimnásio Clube de Faro acolheu, no dia 18 de setembro, «O Ninho», inserido no FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de ALGARVE INFORMATIVO #311
Teatro do Algarve. O espetáculo criado e interpretado por Carlos Silva, com encenação de Leonor Bandeira, teve como inspiração «Segredo», um dos poemas mais singelos do escritor português Miguel Torga, que em poucas linhas revela que um segredo bem guardado pode fortalecer uma amizade verdadeira . 82
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AO LUAR TEATRO LEVOU TEXTO DE TCHEKHOV AO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Cineteatro Louletano foi palco, no dia 10 de outubro, de «O Urso e Outros Dois», peça da Companhia Ao Luar Teatro em que uma viúva, um credor e uma trama amorosa revelam a suscetibilidade humana e dão vida a uma acutilante crítica social. “Trata-se de
uma comédia de costumes que brinca com a guerra dos sexos, ao mesmo tempo em que expõe as mazelas de uma sociedade regida por uma moral frágil e repressiva. Procuramos a riqueza das nuances e detalhes expressivos que fazem de Tchekhov um dos maiores dramaturgos de todos os tempos e ALGARVE INFORMATIVO #311
encontramos nesta obra do autor russo um tipo de comédia diferente do estilo que habitualmente desenvolvemos”, indica o encenador Rui Penas. “Uma escolha de texto que assentou exatamente na diversidade que os autores sugerem e que, dentro do estilo comédia, pode ter diferentes e aventureiros caminhos a explorar. De resto, a companhia prossegue o objetivo de abordagem a diferentes autores e estilos que iniciou com a fundamentação da escolha de produção para o «Cenários» de 2020”, reforça Rui Penas, que partilha o palco com Célia Martins e Daniel Romeiro . 96
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FESTIVAL INTERNACIONAL DE TROMPETE DO ALGARVE COM PROGRAMAÇÃO DIVERSIFICADA EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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epois de ter sido adiado devido à pandemia por Covid-19, o Festival Internacional de Trompete do Algarve (FITA) regressou, na sua quarta edição, nos dias 8, 9 e 10 de outubro, desta feita à cidade de Loulé. Organizado pela Casa da Cultura de Loulé e coorganizado pelo Conservatório de Música de Loulé – Francisco Rosado e Direção Artística de João Mogo, o FITA contemplou várias atividades vocacionadas para o Trompete e a sua prática, desde masterclasses e workshops a concertos, conferências, debates e exposições. O FITA apostou em artistas nacionais e internacionais e, no dia 9 de outubro, o Cineteatro Louletano apresentou o concerto dos mundialmente aclamados «Septura», septeto de metais britânico que junta os solistas das principais orquestras de Londres. “Os principais objetivos do
festival passam por contribuir para a formação e valorização dos alunos de trompete das escolas de música portuguesas, fomentar a troca de experiências musicais e pedagógicas entre os participantes, bem como projetar a cidade de Loulé para o exterior, tornando-a num ponto de confluência entre trompetistas e num ponto de encontro de jovens músicos oriundos de todo o país”, sublinhou a organização, numa iniciativa que teve como público-alvo alunos e professores de trompete de escolas de música (superiores, profissionais e conservatórios), músicos e amantes da música em geral.
“Trata-se de um Festival de Trompete com um formato único e pioneiro na nossa região que junta o útil ao agradável e concentra profissionais nacionais e estrangeiros de vários agrupamentos e orquestras, bem como alunos oriundos de todo o país e do estrangeiro, para partilhar conhecimentos, boa disposição e celebrar este tão nobre instrumento que é o Trompete”, acrescentou a organização . ALGARVE INFORMATIVO #311
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OrBlua - Um Folhetim Semanal que Celebra a sua Vida e o seu Final Episódio 10 Texto: António Pires | Foto: Jorge Jubilot, Eduardo Pinto e OrBlua , finalmente… «Finisterra». Ou, como referido no CD homónimo (e último) dos OrBlua, o fim da terra; o extremo do mundo; o último som de uma banda… Feito de ideias apenas experimentadas em ensaios, de canções apresentadas em concertos ou em parcerias com outros artistas, mas nunca gravadas, de
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apontamentos sonoros e líricos que não chegaram a ter uma versão final, os onze temas incluídos em «Finisterra» (sem contar com o bónus que é «Azul (remix)» em que a banda recupera a sua primeira canção criada em conjunto dez anos antes, agora com a ajuda, nas electrónicas, de um misterioso Argonautus Ensemble), são uma aparentemente desconjuntada manta de retalhos canoros, instrumentais e
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poéticos, e no entanto, com uma unidade tão perfeita, dinâmica e coerente. Editado a 2 de Junho de 2021, uns exactos dez anos depois do primeiro ensaio da banda, «Finisterra» é também uma enorme celebração de amor contínuo entre os seus fundadores e cultores de sempre – Carlos Norton, Inês Graça e Nuno Murta – e dos inúmeros amigos que 121
fizeram pelo caminho que têm em comum com os OrBlua a sua assumida condição de gente marafada: as Moçoilas (colectivo feminino que canta a capella e que recupera tradicionais de muita música algarvia e alguma alentejana), a harpista Helena Madeira, o Lat 66 (projecto paralelo de Norton centrado na recolha de paisagens sonoras dos países nórdicos), o ALGARVE INFORMATIVO #311
cantautor Mauro Amaral (também conhecido como Oruam Larama váse lá saber porquê), o contrabaixista Bruno Vítor (que assim regressa alegremente aos OrBlua dez anos depois de ter feito parte da sua préALGARVE INFORMATIVO #311
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história), os CAL (duo experimental que integra Carlos Norton e Inês Graça, cantora que em CAL se estreia também como fabulosa letrista), Vasco Gonçalves Ribeiro (o irmão que os grava e atura, sendo o viceversa de certa forma igualmente verdadeiro) e o multi-instrumentista Luís Peixoto. Se isto fosse uma simples crítica de discos à maneira antiga, e não o capítulo final (será?) de um livro dedicado ao insondável e 123
misterioso percurso musical de uma banda, os OrBlua, falar-se-ia ainda aqui de como o joik dos lapões pode entrar Algarve adentro («Viajante do Norte»), um theremin inventado pelo senhor que lhe deu nome (o único instrumento musical que é tocado… sem ser tocado) em «Mãos II», de um bouzouki que se funde na perfeição com sanfonas e gaitas-de-fole (no hino às muitas folks deste mundo que é «Bailaria»), de um baixo eléctrico dançante e de uma guitarra eléctrica em furiosa distorção que rebentam com o (pré) conceito de banda acústica que geralmente é associada aos OrBlua, de um trocadilho inventado a meias pelo autor destas linhas e o camarada Norton – «Berlenga-Lenga», pois… –, de umas uilleann-pipes irlandesas que celebram, sem o saber, o passamento do chefe Paddy Moloney ou das sarroncas, cataplanas, darbukas, bombos e adufes que Murta percute com uma perfeição única e exemplar. Mas, como não é, aqui fica a nota, a confissão, o desejo, o sonho, a utopia: se eu, algum dia, ainda vier a ser músico e não só um mero jornalista que tem feito da sua vida… viver à conta dos músicos (e do que eles sabiamente criam) e se os OrBlua alguma vez ressuscitarem, quero tocar com vocês! . ALGARVE INFORMATIVO #311
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OPINIÃO Primeira visita ao polvo Ana Isabel Soares (Professora universitária) hegas pelo escuro do mar, pela noite do fundo. Vogaste um tempo raro, flutuante, na treva do mundo. Quando o dia abriu e a luz inundou a água, passeaste nas rochas junto da costa, a descansar da viagem. Era numa praia de ilha, numa ínsula dentro da ilha maior. Os homens dão aos lugares nomes de santos – polvos humanos – e a este chamavam Sant’Antioco (ou nomes do que comem, e esta praia seria Portu de su Trigu – a tua cartografia nem sempre coincide com as deles). Encostado à pedra, ouviste chegar da praia os ecos da vozes. Eram duas ou três crianças (um adulto com elas?) na surpresa marítima e hesitante dos pequenos passos de gente. Quiseste chamá-los, juntar-te a eles, fazê-los dançar contigo. “Uma estrela!, papá!”, ouviste. Eras uma estrela. Eras uma estrela tão brilhante que nem o cintilar da água nem a força do sol dissimulava aos olhos daquele pequeno. Eras um astro da água a transformar em céu o chão, em alto o baixo. “É um polvo!, olha, Francesco!”. Ah!, afinal reconheciam-te, restabeleciam a ordem das coisas e foram juntar-se a ti. Bailaste com todos, feliz, na tontura das ondas. Bailaste nas ALGARVE INFORMATIVO #311
águas com as mãos humanas que depois, felizes, te levaram, no jogo de caça que com elas brincaste. Deixaste que levassem com eles a tua carcaça mole e fina: foi o prémio que ofereceste aos caçadores humanos na graça do baile que dançaram – mas regressaste à tua dança solitária e levaste contigo os risos, as vozes a ecoar entre as pedras, a areia macia do fundo, o baile das mãos, seguindo a viagem noturna. Com os muitos braços cheios de ecos, de risos, da música da água e de areia, do chão tornado céu, do baixo em alto, foste ondulando até às águas de Palaicastro, onde descansaste. Na manhã seguinte, apareceu à tua frente, rosto meio enterrado na areia do fundo, um túmulo em cerâmica. Era coisa pequenina, palmo e meio de pessoa: talvez tivesse ali ficado um polvo jovem, ou a terra feita barro se modelasse ao tamanho de uma concha mais ampla. Lembrou-te os teus dias iniciais, quando a saída do ovo te fez trocar uma macieza de mundo, mas enevoada, pelas rugas claras da terra aquática. Magoaram-te essas primeiras rochas, o pontiagudo da vida, até endureceres nos tentáculos cada uma das ventosas – o tempo de enrijar não se conta pelos regressos do sol. Abraçaste o barro arredondado, as pequenas asas do topo (reconhecias as 126
Foto: Vasco Célio
mãos que as agarraram, dançaras com elas), e deixaste que a massa delicada do teu corpo se fixasse àquela parede, como quem entra no ovo primordial e, na morte, se permite renascer. O sol caiu, o sol voltou – o sol baixou de novo, de novo desapareceu. Durante séculos, a noite acompanhou-te o ritmo, as batidas múltiplas dos teus corações: viu as ideias que se acendiam e se apagavam dentro da transparência dos teus tentáculos, de cada uma das tuas ventosas, da tua imensa cabeça. Vezes e vezes e vezes dançou o sol, dançou a lua por cima, caçaram os homens, dançaram todos. Um dia, as mãos humanas reapareceram e de novo as saudaste. Deram por ti e, com cuidado, retiraramte da água. Secaram-te a humidade antiga, limparam de ti as algas milenares e devolveram-te o brilho: eras agora tinta retida no barro, desenho a negro 127
sobre a areia clara da cerâmica, linhas da imagem de um polvo que sempre ali estivera. (O Museu Arqueológico de Heraklion, no Chipre, guarda um pequeno vaso – menos de 30cm de altura – decorado com o desenho de um polvo. Duas das fotos que o mostram, de Wolfgang Sauber e de Olaf Tausch, podem ser vistas aqui: https://www.khanacademy.org/humaniti es/ancient-art-civilizations/aegeanart1/minoan/a/octopus-vase. Foi a imagem de Wolfgang Sauber que o veneziano Mariano Sartore mostrou ao meu irmão, e com que este último quis ilustrar a sua segunda Crónica do Polvo, publicada neste mesmo número do Algarve Informativo) . ALGARVE INFORMATIVO #311
OPINIÃO Notas Contemporâneas [23] Adília César (Escritora) “Essa cousa tão maravilhosa, de um mecanismo tão delicado, chamada «o indivíduo», desapareceu; e começaram a mover-se as multidões, governadas por um instinto, por um interesse ou por um entusiasmo”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) OSTARIA de pensar que a espécie humana está a evoluir, mas quase tudo o que me rodeia diz-me precisamente o contrário. Não creio, contudo, que seja mero pessimismo da minha parte. Na verdade, a existência humana teve sempre como palco a ambição, o caos, a necessidade intrínseca de pertença a um qualquer grupo. Este movimento instintivo de actores impreparados implicou comportamentos excessivos, irreais.
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A MULTIDÃO parece ter-se tornado o sujeito da democracia. E o interesse superior do indivíduo, se não desapareceu já, tornou-se desconfortável para a maioria, como a transparência ameaçadora da alforreca ainda viva. * ALGARVE INFORMATIVO #311
“ESTUDAR onde é bom viver” é o slogan escolhido pela Universidade do Algarve para angariar alunos para os seus cursos superiores, exibido em alguns outdoors da cidade de Faro. Faro é igual a tantas outras localidades portuguesas de dimensão similar: alguma alegria natural, muita degradação; um grande entusiasmo pela praia, uma fraca adesão à cultura; e, todavia, alguma esperança, a par de uma grande descrença no futuro. * A SEMANA ACADÉMICA é um dos maiores constrangimentos da cidade; as quintas-feiras de arraial universitário, também provocam o mesmo asco nos cidadãos. O comportamento dos jovens, nestas alturas, é difícil de descrever: alguma alegria natural, muita degradação; um grande entusiasmo pela praia, uma fraca adesão à cultura; e, todavia, existe alguma esperança, a par de uma grande 128
descrença no futuro. E assim vamos andando. * RECORDO quando soube que iria ser criada uma universidade em Faro: foi em 1979. A dinâmica estudantil era ainda tímida, embora com tendência a crescer, como veio a acontecer. Aqui estudei, orgulhosamente. Hoje em dia, lamento que a própria universidade compactue com os actos ignóbeis dos estudantes universitários actuais: praxes, vandalismo, noites ruidosas e incomodativas. Não creio que a liberdade desses jovens passe pelo estorvo que me causam, que nos causam. Não creio que as autoridades não possam proteger os habitantes da cidade. Não creio que seja admissível que o Magnífico Reitor nada possa fazer para minimizar os estragos. * ESTUDAR onde é bom viver? Para quem? Se os comportamentos dos estudantes universitários são tolerados porque são considerados indivíduos com necessidades emocionais e sociais de pertença à matilha (assim o justificam os psicólogos), os outros parecem ser meros copos de angústia, receptáculos impotentes da incivilidade universitária. 129
* É DIFÍCIL acreditar que aqueles mesmos jovens vão ser um dia os dirigentes da nação. É difícil aceitar que aqueles mesmos jovens continuarão a invocar a liberdade e a democracia como apanágio da sua própria estupidez. Que desperdício de capital humano. Ou apenas: que desperdício . ALGARVE INFORMATIVO #311
OPINIÃO Identidade (s) * Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) identidade é uma palavra que tem sido objeto de muita análise e diversas abordagens. Longe de desejar numa crónica contribuir para uma discussão profunda e alargada do conceito, que por sua vez é bastante complexo, venho partilhar algumas ideias soltas. As sociedades humanas produzem objetos, documentos, ideias, representações simbólicas e comportamentos, que compõem a sua matriz cultural e patrimonial, e que a história ajuda a dar a conhecer. Em outubro de 2015 comemorávamos 10 anos da Convenção de Faro (**) e no discurso proferido nas comemorações reforçávamos a importância da nossa identidade cultural. É comum afirmar-se que: a identidade cultural é uma forma de identidade coletiva caraterística de um grupo social, que partilha as mesmas atitudes e referências. Esta identidade faz com que os indivíduos se sintam mais próximos e semelhantes. É responsável pela identificação e diferenciação dos diversos indivíduos de uma sociedade. ALGARVE INFORMATIVO #311
A identidade cultural está ligada a memórias, mas não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade da qual faz parte. Assim como também não resulta de impulsos individuais sem contexto. Faz parte do processo de sobrevivência das sociedades a incorporação de elementos novos e isso é o que as mantêm ao longo do tempo. A identidade cultural é fator condicionante da relação individuosociedade, pois é através dela que o individuo se adapta e reconhece um ambiente como seu. A identidade cultural encontra-se hoje particularmente ameaçada, apesar de todos os mecanismos legais de salvaguarda, dos vários níveis de planeamento e proteção, e das várias formas de inventariação e registo (vejamos as constantes ameaças ao património cultural e natural, mas também os movimentos de aculturação globais que devoram os saberes locais). Que identidade cultural estrutura o nosso Estado-Nação e a nossa região? Ou seja, o que somos e como aqui chegámos? Determinante principal para a resposta a esta questão são: a nossa morfologia, o 130
outros. Devemos pensar na identidade cultural como um todo, composto por diversas partes, todas de fundamental importância, como um mosaico que ainda tem muitas peças por completar.
nosso território, a nossa situação geográfica. Não só a dimensão cultural é formatada por estes elementos, mas também as nossas instituições, a nossa sociedade num todo, a sua história e a sua organização.
Que memória coletiva queremos se não acautelarmos a salvaguarda e valorização do nosso património cultural enquanto garante da nossa identidade? O património cultural não é só passado, não é só material. O património cultural é dinâmico, tem um discurso histórico e uma memória, mas também possui uma experiência contemporânea. O seu melhor conhecimento, estudo e disseminação é prioritário.
Duas ideias relevantes do ensaio do nosso colega dizem-nos que: a nossa história não se faz sozinha, nem os limites do nosso Estado-Nação, pelo que, importa conhecer os fundamentos da identidade dos outros e sobretudo dos nossos vizinhos; o mar emerge como recurso marcante em valor e como força transformadora, não só da nossa riqueza e do nosso território, mas também daquilo que é o povo português (mesmo antes do período dos Descobrimentos).
Deixo-vos hoje com uma afirmação do grande cineasta português Manoel de Oliveira, cuja fonte já só consigo precisar que é de 2005: “A Identidade é o Fundamental. Sempre pensei que a identidade é o fundamental. (...) Sem identidade não se é. E a gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há identidade, sem estas duas não há liberdade” .
Pensar e conhecer melhor o nosso passado transfere conhecimento para o presente. Aquele conhecimento deve ser partilhado de forma acessível e dinâmica como contributo essencial para uma responsabilidade partilhada relativa ao património cultural e à salvaguarda do nosso território.
(*) esta reflexão foi motivada pela participação na apresentação efetuada do livro «Portugal geopolítico: História de uma Identidade», Lisbon International Press: Lisboa, de Virgílio Miguel Machado, Professor da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo, da Universidade do Algarve. (**) texto disponível em http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media /uploads/cc/ConvencaodeFaro.pdf.
Se perdemos um aspeto da identidade cultural, perdemos automaticamente 131
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OPINIÃO Algarve - Uma região à deriva Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) ecentemente, numa troca de ideias com o ilustríssimo arquitecto João Cabrita, que faz o favor de ser meu amigo, este chamava-me a atenção para o facto de o concelho de Loulé ser maior do que a ilha da Madeira. Surpreendido, como provavelmente a esmagadora maioria dos leitores, pensei: “como é isso possível?”. Quando cheguei a casa fui pesquisar e comparar a dimensão geográfica do concelho de Loulé, com os seus vastos 763,67 quilómetros quadrados, efectivamente superior aos 741 quilómetros quadrados da ilha da Madeira. No entanto, o espanto do: “como é isso possível!?”, não se resumiu à mera comparação geográfica, mas antes ao confronto de duas realidades regionais completamente antagónicas. É incomparável a capacidade reivindicativa, o nível de desenvolvimento, a rede viária e mobilidade, o crescimento económico e social, a projecção cultural e a promoção turística da Região Autónoma da Madeira, quando comparada com a da região algarvia, mesmo sabendo-se que toda a ilha é mais pequena do que ALGARVE INFORMATIVO #311
apenas um dos dezasseis concelhos algarvios. Estando ambas as regiões alicerçadas na mesma base económica (o turismo), sendo ambas contribuintes líquidas para o Orçamento Geral do Estado, tendo o Algarve quase o dobro da população madeirense, o que falta à região algarvia para atingir a capacidade reivindicativa e o nível de desenvolvimento da Madeira? Só consigo encontrar uma justificação, que é a autonomia regional. Ao contrário da Madeira, que pensa o território num todo, com uma voz única, que mete o interesse regional acima das orientações partidárias, o Algarve é uma manta de 16 retalhos, cada um com especificidades próprias e concorrente dos outros. A falta de unidade reivindicativa leva a que concelhos mais pequenos se tornem cada vez mais desérticos e empobrecidos, sem capacidade de investimento ou potencial atractivo, levando à migração das camadas mais jovens da população, agravando esse problema social e geográfico. Os mais ricos e populosos tentam ganhar protagonismo regional, chamando a si todos os serviços e investimentos, sem qualquer lógica que vá além do seu próprio umbigo.
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O municipalismo, factor importante no desenvolvimento social do pós-25 de Abril, sem um manto mais amplo que o cubra, impede o surgimento de uma voz regional forte, capaz de se impor aos interesses do centralismo. Os líderes políticos regionais, completamente dependentes das cúpulas partidárias para a sua integração nas listas ou para o desempenho de cargos de nomeação, não se importam de votar contra os interesses da região, se for melhor para qualquer um deles. Só isso justifica que se continue a pagar para circular no carreiro que é a Via do Infante, a única alternativa à rua 125; que se apregoem ajudas 133
extraordinárias para fazer face à crise, que nunca chegaram; que se repitam promessas anos após anos sem qualquer concretização; que o próximo orçamento do estado, mais uma vez, não contemple o Hospital Central do Algarve… Somos uma região permanentemente adiada, à deriva, à espera de uma voz, de um «homem do leme», ou melhor: à espera de um leme, porque homens e mulheres com competência existem, o que não existe é uma unicidade regional. Enquanto assim for, assistiremos impávidos ao desenvolvimento dos outros, que têm vontade própria e executam-na, mesmo quando são mais pequenos do que o concelho de Loulé . ALGARVE INFORMATIVO #311
OPINIÃO Casas Marca Branca Lina Messias (Especialista em Feng Shui) ssim como há produtos «Marca Branca», também há pessoas e Casas «Marca Branca»! Num Mundo onde se anulam as diferenças, onde todos temos que pensar da mesma forma, vestir as mesmas roupas, inevitavelmente as nossas Casas são também cópias umas das outras e sem identidade própria. O primeiro movimento de decoração em massa que me lembro de assistir, foi há cerca de 25 anos atrás. Depois de decidirem casar, logo de seguida os casais alugavam uma carrinha para a viagem até Paços de Ferreira, e vinha com ela atolada de «conjuntos»; era o conjunto quarto de casal, o conjunto sala de estar, etc. O melhor destes «conjuntos» é que não era preciso pensar muito, já vinha tudo pronto a enfiar nos sítios certos, comprava-se o edredom e umas almofadas para o sofá e a casa ficava decorada. Nos últimos anos assistimos a outro grande movimento, esse sim digno do nome «Casas Marca Branca», porque ALGARVE INFORMATIVO #311
efectivamente são mesmo brancas, até na cor! As Casas de hoje estão cheias de mobiliário sem história, mobiliário que foi apenas um número, uma referência; cheias de objectos decorativos iguais; caramba, até a roupa de cama é igual… socorro! Na minha profissão, como consultora de Feng Shui, nada me faz mais feliz que entrar numa casa que reflecte na perfeição a personalidade de quem lá vive. Não interessa que não seja digna de capa de revista, o que interessa é que seja uma casa vivida, onde cada peça tem uma história, um propósito. É tudo isso que torna Casas em verdadeiros Lares, em Casas inesquecíveis. Assumir a nossa personalidade, a nossa criatividade, as nossas diferenças, é cada vez mais um acto de grande coragem, e com certeza que essa coragem se reflecte no lugar onde vivemos. Não se cria um Lar só com «Marca Branca», um Lar é feito de momentos, de viagens, de família, de amigos, de peças e personalidades únicas. Como a nossa Vida, a nossa Casa pode e deve ser de todas as CORES, desde que tenha a nossa «Marca»! .
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OPINIÃO Memórias do polvo II João Soares (Arquiteto e Professor universitário) ueridas e queridos leitores, estamos de volta à coisa de oito braços. Toda a razão desta inquietação em torno do polvo tinha sido despoletada por um episódio vivido num final de tarde do Verão passado (não este, o outro antes ainda), em Portu de su Trigu, uma pequena, maravilhosa, praia de rochas na também pequena ilha de Sant’Antioco, na Sardenha. Todos os Verões, de certa maneira, algo de peculiar acontece. Esse Verão, em particular, foi condicionado pela estranheza da contingência mundial que nos uniu planetariamente: a difusão do vírus que agora nos é tão familiar. Ali, porém, parecia estar-se um pouco fora do mundo. Todos os Verões, sim, algo de especial acontece. Muitas vezes, apesar de se tratar de episódios fulgurantes, parece só retroativamente perceber-se-lhes a fulminância... é quando, pelos finais de agosto, inícios de setembro, se vai assomando uma inquietação de tempo perdido – tempo mal aproveitado – (e afinal, antes do Verão aquilo com que se sonha é mesmo poder-se desbaratar o tempo!), é nessa aflição que, ou se procura ALGARVE INFORMATIVO #311
ainda fazer coisas, ou se vai relembrar aquilo passado. E o que recordo tinha acontecido, mais ou menos, assim: Numa tarde de mar menos sereno do que faria adivinhar, uma tarde que concentrava e antecipava essa ânsia de parecerem as coisas escaparem-se-nos dos dedos, já mais para o final do dia, desci a Porto su Trigo – a enseada de escolhos abaixo da casa do Pino e da Elvira. Era perto do fim da tarde, mas não ainda aquela hora já tardia, de maneira que foi breve o momento de dúvida: dar por terminada a jornada, ou esticá-la ainda um pouco? Convenci e deixei-me convencer pelos meus filhos Francesco e Martino para descermos a dar um mergulho. De cá de cima vê-se bem o mar, e percebe-se também, se está agitado, pois faz entrever, ritmadamente, uma pequena mancha branca de rebentação da onda na rocha. Na verdade, parecia ver-se e não ver, ao mesmo tempo (mas estava lá). Fomos. Fizemos o caminho, atravessando as diferentes partes da sua geografia: A primeira parte, mesmo no início, em curva, ainda dentro do terreno da casa até 136
ao portão de ferro preto queimado do sol; depois a parte de caminho «sterrato», por onde não conseguem já passar os carros, apenas o da casa mais a baixo e um ou outro de alguém que conhece o lugar e até ali se aventura. Mais à frente já o caminho é só para coisas pequenas ou animais. Sobre a terra e as pedras secas, a bosta fresca de cavalo é o vestígio de passeios de grupos de fim de tarde em fila indiana. Depois, o troço de sulcos escavados, mais acentuados onde aflora uma crista de cal que deixa um pó fino em nuvem baixa, ao caminhar. Tudo com os dois rapazinhos parece uma aventura amplificada – tudo com eles é uma aventura amplificada. De maneira que essa pequena crista, que terá coisa de cinco metros, ou pouco mais, de comprido, parece assemelhar-se a um canyon, e atravessá-la de chinelos, um feito! A seguir a toda esta parte com terras diferentes entramos no verde seco e poeirento dos zimbros, para depois sair, do «outro lado», já só com o mar à frente. Foi só aí, junto já à parte próxima do que chamamos «la grotta» – que mais não é do que uma enorme boca de rocha, para onde tudo é empurrado com o vento e com a maré – que percebi a ondulação forte. Naquele fio da navalha, no princípio de poder começar a assustar.
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Mas já até ali tínhamos chegado, e foi o não querer voltar para trás a valer. A última parte da descida daria, por si só, para mais umas largas linhas de escrita, mas se agora o fizesse, no momento em que chegássemos à água seria já noite... Estamos então nesse momento em que já molhámos os pés. O mar está, de facto, agitado. Mas a teimosia já antes tinha levado a melhor, de maneira que se prosseguiu na senda dessa coleção de decisões mais sem sentido do que outra coisa. O Martino está pronto, junto à água, o Francesco atrás de mim, entretido com a rede pequena e comprida que trouxemos, eu naquela luta de pôr e tirar óculos, enrolá-los à volta da t-shirt, pousar coisas esparsas aqui e ali... Nisto, o Martino diz – lá à sua maneira, num pequeno espanto tranquilo: “uma estrela!”
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Viro-me, olho para a parte plana da rocha e vejo, trazido com a onda que agora se retirava, junto aos pés pequenos, a estrela. Mas não era uma estrela, era fininha! Grito, excitado!: “É um polvo! Olha, Francesco!”. O meu grito, de espanto, de susto, de surpresa!, assusta o Martino, que se põe a chorar – coitado –, hirto no sítio onde está. Olho para um lado e para o outro e tiro das mãos do Francesco a máscara de mergulho para tentar apanhar o animal. Na fração de tempo que durou toda esta algazarra, o polvo continuou, mais ou menos no mesmo sítio, mole e clarinho, indiferente às ondas que o cobriam e destapavam, indiferente ao medo do Martino, à minha excitação e à atenção do Francesco. (Indiferente, digo eu, mas provavelmente não terá assim ficado e, sabe-se lá se, por dentro e por fora, não estaria a mudar de cor e também ele, contagiado, a entrar num estado de excitação irracional). Agachei-me, pus a máscara a jeito e empurrei o pequeno bicho para a parte de dentro. Os braços escorregadios deslizavam para fora enquanto aproximei a boca da rede que o Francesco numa ponta segurava. E enfiámo-lo lá para dentro. Uau! Que adrenalina! Recomposto, fui abraçar e acalmar o Martino (e a mim mesmo também) e, juntando os dois, dei expressão ao contentamento da raça predadora sobre a
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presa que sucumbe, exclamei: “Apanhámos um polvo!”. E senti um alívio, que se seguiu à excitação, mas também chegava pelo facto de se ter automaticamente apresentado a decisão que estava a adiar, de, afinal, não irmos mergulhar. E não seria mais por ter que dar o braço a torcer face à evidência da agitação do mar, mas face à necessidade de tratar agora da questão que se tornara principal: a caça. De maneira que, com o mesmo cuidado com que tínhamos começado a despir-nos e a preparar-nos, voltámos a vestir e preparar para o regresso triunfante. Chegámos lá acima com o bicho já meio moribundo, mas contentes e orgulhosos. Com o Pino falámos um bom bocado – que é coisa a que se não nega – desta e daquela vez em que apanhou um, de como o bicho era pequeno, falámos sobre como o iríamos comer... Sobretudo ficou esclarecido, e estabelecido que não se chama «pólipo» como estávamos a fazer, mas «polpo» (e também não é «piovra», como no livro e no filme sobre a máfia). A Elvira não ficou particularmente impressionada, mas, mais do que isso, um pouco incomodada por aquele acontecimento lhe alterar as rotinas de tachos e bicos de fogão. Tratei de a tranquilizar, dizendo que me ocuparia eu de tudo, fora do horário de serviço. Esperava que me pudesse dar uma receita secreta, mas disse que não o sabia fazer (eu esqueço-me sempre que a Elvira não é uma criatura de mar, mas de montanha – da Emília-Romanha). Disse-me que quem o sabia fazer bem era a Pina, que também estava na ilha de férias. 138
Liguei à Pina, que ficou contente em saber-se procurada para a especialidade – explicoume todos os factos que não estarei aqui agora a contar – mais por os não recordar, do que por preguiça. Recordo, porém, a parte em que me disse que, para ficar tenro e não fibroso, tinha de tratar de o bater bem.
Porto de su trigo
“Lo devi sbattere con cattiveria”, dizia: tens que batê-lo com força (com maldade)! E foi só a lembrança da Monica Bellucci a encarnar uma personagem daquelas de seminua e agreste beleza mediterrânica, a bater desalmadamente um pobre polvo, que me fez imitar esse arrepiante gesto. (Na realidade, não era a Bellucci, era «la poutanna» no filme Mediterrâneo de Salvatores. Mas a beleza dela e a agressividade do gesto eram equivalentes – se é que há beleza com igual e maldade também). Todo este ritual era feito com a menina calçando elegantes sandálias amarelas num degrau entre casas e o porto de uma ilha grega. E à noite, sozinho na cozinha, meio envergonhado, meio com o sentido de ter de cumprir a tarefa, preparei a cozedura do que restava do flácido animal, com uma cebola. Quando acabei, sobravam umas partes gomosas de cor branca e fiapos rosa em volta. Arrefeci-o e pus num pratinho no frigorífico. 139
No dia seguinte, ao almoço, apresentei o prato servido como salada de polvo, simples, com um fio de azeite. Estava bom! Não tenho a certeza, mas creio não ter voltado a comer polvo, desde essa vez. Esta história, contei-a mais tarde à minha irmã Ana (de quem agora sou vizinho esporádico nesta revista). Senti que percebeu logo do que eu estava a falar e acrescentou mais histórias sobre monstros marinhos antigos e autores de literatura B, reavaliados e particularmente apreciados pelos amantes das ficções científicas. Tenho pensado que poderia ser bonito vir a Ana «aqui» contar pelas suas palavras, mas não sei se estas visitas a crónicas vizinhas são coisa que se possa fazer nas revistas. Percebi mais tarde que não tínhamos «caçado» um polvo – não tinha havido, de facto, nenhuma particular destreza manual
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aplicada, ou tática por trás desse, agora sei-o, infeliz momento. O polvo veio ter connosco, e vou querer acreditar que nem sequer aconteceu vir na onda. Ele estaria ali junto, já desde a nossa chegada, e terá visto o Martino, desde cá de baixo, em contrapicado. Através da lente deformada da espessura grossa da água em movimento terá visto, com nitidez, a beleza daquele menino, a sua luz tranquila, e terá querido vir cumprimentálo – mais às vozes outras que escutava (talvez nas pontas vibrantes dos seus tentáculos). Quis vir visitar-nos na sua curiosidade pura e afoita. Seria ele um jovem polvo, e terá sido levado pela imponderação e descuidado que levam a pôr à frente o impulso curioso? Seria um já maduro animal, e terá, porventura, na sua superior inteligência, considerado a hipótese de um diálogo entre espécies? Em todo o caso, tinha sido àquela hora que se tinha assomado cá acima – ao pôrdo-sol: será que os polvos, como Dalí, apreciam esse lugar do dia? Já depois de ter escrito estas linhas, revivendo a pequena aventura, estremeci! A primeira vez que tinha chegado àquele bocado de paraíso – em 2008, talvez? – mergulhei. Mergulhei com aquela certeza do corpo que sente o que o olho e a cabeça veem: a cor da água, a sua transparência, as profundidades que os diferentes azuis e verdes, e dourados, mostram, e as temperaturas, e a consistência do espaço líquido que envolve – aperta e distende, e do ar que passa, em bolhas pequenas, em toda a volta da parte mais leve e quase aérea da pele. ALGARVE INFORMATIVO #311
Esse mergulho tinha essa memória de perfeição, de coisa nunca sentida e, ao mesmo tempo, de certeza antiga. E nesse mergulho, as brincadeiras e desafios de uma primeira vez a descobrir todos os pequeníssimos espaços, lugares – o fofo das mais diferentes algas nas covinhas das rochas – a ver o mundo debaixo de água, como se fosse um filme com lente ampliadora, num tempo que parecia muito longo, mas não era mais do que o do suster da respiração. Nessa maneira de olhar a parede de rocha, frente a frente, acompanhando as bolhas de ar na subida, como num travelling vertical, aparecem, à altura dos meus olhos – a fitar-me – outros olhos! Um espelho! Um polvo! Encaixado numa pequena reentrância com a sua forma, o pequeno Ser olhava-me envolvido em algas, minúsculos pompons cor-de-rosa. E eu, a partir dos seus olhos, procurava perceber o resto do corpo malhado, de manchas iguais às da rocha e das algas, onde acabasse o bicho e começasse a pedra. E num impulso meio estúpido quis tocá-lo – e creio ter chegado a fazê-lo – e ele, no seu impulso, escapuliu-se, e voou para baixo. Ele estava lá, já, desde essa primeira vez. Seria o mesmo que agora, anos mais tarde, tinha reencontrado? Gostava tanto de pensar que sim, quanto queria que não. Inquietação doce e salgada . 140
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #311
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