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ALGARVE INFORMATIVO 2 de dezembro, 2023
MINISTRA ANA ABRUNHOSA VISITOU PROJETOS NO ALGARVE | FESTIVAL DA BATATA-DOCE ALGARVE | BUBBA BROTHERS 1 INFORMATIVO #413 PEDRO INOCÊNCIO TEM NOVO LIVRO | PEDRA DURA | LINDA MARTINI | «ONDE VAI O PIÃO VAI O FERRÃO»
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ÍNDICE Ministra Ana Abrunhosa visitou projetos no Algarve (pág. 14) Festival da Batata-Doce de Aljezur (pág. 24) Bubba Brothers (pág. 34) Pedro Inocêncio tem novo livro (pág. 44) «No Limite da Dor» no Teatro Municipal de Portimão (pág. 54) Linda Martini no Cineteatro Louletano (pág. 70) Festival Pedra Dura em Lagos (pág. 86) «Onde vai o pião vai o ferrão» (pág. 98)
OPINIÃO Mirian Tavares (pág. 112) Fábio Jesuíno (pág. 114) Sílvia Quinteiro (pág. 116)
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Ministra da Coesão Territorial visitou projetos apoiados pelos fundos europeus no Algarve Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, deslocou-se, nos dias 21 e 22 de novembro, a vários concelhos do sotavento do Algarve para visitar projetos desenvolvidos com o apoio dos fundos europeus geridos na região, em curso ou em fase de conclusão. “A preocupação
é fecharmos o Portugal 2020 com a ALGARVE INFORMATIVO #413
maior taxa de execução possível. No Algarve, há alguns projetos que não ficarão concluídos até 31 de dezembro, mas conseguimos encontrar uma solução financeira no âmbito do Portugal 2030 ou do Plano de Recuperação e Resiliência. Esta proximidade permite fazer alguma pressão junto dos empreiteiros e dos donos 14
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de obra e resolver pequenos problemas que dificultem a execução”, explicou Ana Abrunhosa. No dia 21 de novembro, a Ministra da Coesão Territorial foi a Loulé conhecer investimentos de infraestrutura científica na área da Saúde, promovidos pelo ABC – Algarve Biomedical Center, numa parceria entre a Universidade do Algarve e o Centro Hospitalar e Universitário do Algarve. Com o valor global de 8,87 milhões de euros, os dois investimentos visam a criação de um centro de excelência de investigação e têm como objetivo potenciar a cooperação de um conjunto de valências multidisciplinares com elevado impacto na produção científica, proporcionando infraestruturas equipadas com tecnologia de ponta com enfâse na investigação translacional e clínica, assente nas seis unidades: banco ALGARVE INFORMATIVO #413
de soro – Seroteca; Banco Público de Células do Cordão Umbilical; Biobanco; Centro de Investigação Entomológica; Unidade de Investigação Avançada em Tomografia Computorizada; e Laboratório de Genética Clínica. De Loulé, Ana Abrunhosa viajou depois para São Brás de Alportel para visitar a ampliação e renovação da Estrutura Residencial para Idosos da Santa Casa da Misericórdia, em São Brás de Alportel. Com um investimento total de 3,5 milhões de euros, a operação pretende ampliar e renovar o edifício da Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel, onde funcionam a ERPI, o Centro de Dia e o Serviço de Apoio Domiciliário, tornando-o num espaço moderno, eficiente e seguro para os utentes, com 11 novos quartos com capacidade para mais 22 utentes, uma sala de estar e 16
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atividades, com copa, e quatro instalações sanitárias com banho geriátrico. No final da intervenção, a capacidade será: Lar Residencial – 85 utentes; Centro de Dia – 10 utentes; e SAD – 20 utentes. O dia 22 de novembro começou com a visita à obra de ampliação, reabilitação e modernização da Escola Básica 23 Prof. Paula Nogueira, em Olhão. Com um investimento total de 4,5 milhões de euros, esta operação prevê a ampliação, reabilitação e modernização de uma infraestrutura que se encontra degradada, desadequada e desadaptada às necessidades do ensino atual, aumentando a sua capacidade de 20 para 24 salas de aulas. Depois de visitas ao futuro Centro de Atividades Ocupacionais (CAO – ALGARVE INFORMATIVO #413
Deficiência) da Casa do Povo do Concelho de Olhão, em Moncarapacho, ao Mercado de Moncarapacho, e ao futuro Centro de Atividades Ocupacionais (CAO – Deficiência) da Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais (AAPCDM), em Faro, a comitiva deslocou-se ao Hospital de Faro para ficar a conhecer melhor os investimentos em infraestruturas e equipamentos de saúde realizados no CHUA. Seguiu-se, no itinerário, a reabilitação do Cineteatro António Pinheiro, em Tavira, que passará a contar com a capacidade máxima de 590 lugares (divididos entre o balcão e a plateia), dos quais 368 lugares são sentados, num investimento total de 7,69 milhões de euros. A sala de espetáculos ficará vocacionado para a apresentação de teatro, dança, música e cinema, mas também poderá ser utilizada como sala de congressos e workshops. A 18
intervenção no edifício foi bastante profunda, alterando-se a fachada exterior e, sobretudo, o interior, dotando-o das condições, infraestruturas e compartimentações necessárias ao seu perfeito funcionamento e ao desenvolvimento das atividades artísticas e polivalentes previstas. A visita terminou, já depois do solposto, na Ciclovia Castro Marim-Altura, junto ao Troço Espargosa – EN125 Praia Verde, em Castro Marim. A operação diz respeito à construção de ciclovia na EM 125-6, numa extensão de cinco quilómetros, com início na EN 125, no cruzamento que dá acesso à Praia Verde, e terminando na Espargosa (passando pelas povoações de Vista Real, Urbanização Quinta do Sobral e São Bartolomeu), onde vai ligar à 19
extremidade da ciclovia já implantada e de acesso à Vila de Castro Marim, num investimento total de 876 mil euros. O perfil transversal atual da E.M. 125-6 não dispõe de bermas pavimentadas, pelo que a sua utilização por ciclistas e peões é realizada em condições de muita insegurança. Com esta intervenção é criada uma faixa ciclável lateral à via atual, com ordenamento e sinalização viária adequados, proporcionando mais segurança aos utilizadores. O perfil transversal terá 2,5 metros de largura, acrescido de 0,50m de zona de proteção à faixa de rodagem. Será ainda efetuada a drenagem pluvial e colocada sinalização vertical e horizontal, sendo a segregação do corredor ciclável assegurada por desnível com lancil. ALGARVE INFORMATIVO #413
No final da dupla jornada de trabalho, a governante fez um balanço bastante positivo desta sua deslocação ao Algarve.
“Temos bons projetos apoiados pelos fundos europeus, desde escolas a equipamentos culturais que vão contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações. Tudo isto resulta da solidariedade europeia e ninguém entenderia se não aproveitássemos estes fundos europeus na sua totalidade”, declarou, aproveitando para deixar uma palavra de agradecimento aos autarcas da região, que, mesmo durante a pandemia, continuaram com os seus ALGARVE INFORMATIVO #413
projetos, assim como às empresas e outras entidades.
“E, evidentemente, um elogio especial ao presidente da CCDR Algarve e à sua equipa, pois têm sido incansáveis nesta caminhada. Não há um dia que o José Apolinário não me faça o ponto da situação e acredito que esteja também em permanente contato com todos os autarcas da região. Isto é gestão de proximidade e é isto que queremos no nosso país”, reforçou Ana Abrunhosa . 20
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Aljezur voltou a homenagear a batata-doce lira Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Festival da Batata-Doce de Aljezur regressou para mais uma celebração dos sabores autênticos e da cultura local, nos dias 24, 25 e 26 de novembro, no Espaço Multiusos de Aljezur, numa oportunidade única para mergulhar na rica herança da batata-doce típica da região.
como mais inovadores, que homenagearam a batata-doce lira. Alguns chefs locais criaram as receitas mais saborosas e criativas tendo a batatadoce como ingrediente principal, ao passo que os artesãos locais apresentaram os seus trabalhos exclusivos. Desde cerâmica, ao vestuário ou joias, foram muitos os produtos artesanais que deram ainda mais cor ao espaço nesta iniciativa de divulgação dos produtos genuínos da região.
Na zona de restauração, o visitante podia deliciar-se com uma incrível variedade de pratos, quer tradicionais,
Para as crianças foi também disponibilizada muita diversão, com jogos, pintura facial, modelagem de
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balões e muitas outras surpresas. Em paralelo, os confeiteiros locais mostraram o seu talento na criação de uma sobremesa de batata-doce lira, cujo resultado final foi alvo de avaliação por júri e devidamente premiado. O palco do festival também ganhou vida com uma emocionante programação musical que contou com artistas locais e convidados especiais.
Aljezur, que reconhece também o papel desempenhado pela Associação de Produtores de Batata-Doce de Aljezur na promoção deste produto de qualidade, uma preocupação que se reflete, tanto na ação da associação, como do próprio Município. O Festival é também o momento da celebração da variedade única «Lyra», que contribui para a reputação da melhor batata-doce do mundo .
O Festival da Batata-Doce de Aljezur é organizado pela Câmara Municipal de
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«Bubba Tribo» não para de crescer e 2024 promete ser um ano de loucos Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina om a próxima atuação dos Bubba Brothers agendada para dia 10 de dezembro, no AP Eva Senses Hotel, em Faro, fomos encontrar Eliseu Correia bastante entusiasmado de volta da mesa de mistura que já faz parte da «mobília» do seu escritório na EC Travel, em Olhão.
“Escuta, é assim que vai começar o set, escuta bem”, disse, mal a porta se abriu. E assim se passaram os primeiros ALGARVE INFORMATIVO #413
minutos da entrevista com o conhecido empresário do ramo turístico e, de há uns anos para cá, estrela da música eletrónica, a ouvir, quase em estreia, a homenagem que a dupla de djs algarvios vai fazer a Sara Tavares. Não estamos a exagerar. Não é uma superestrela porque é português – algarvio ainda por cima – e porque a «máquina» está montada de tal forma que a fama chega mais facilmente para uns do que para outros, independentemente do talento, mas 34
poucos conseguem negar que os Bubba Brothers, o Eliseu Correia e o Justino Santos, já conquistaram um lugar de destaque na cena internacional. O início da conversa, em jeito de balanço do ano que está a terminar, e de antecipação para um 2024 que promete ser de loucos – os Bubba Brothers vão festejar uma década de existência – já vai sendo semelhante, porque, de facto, todos os anos têm superado as melhores expetativas e sido melhores que os anteriores para estes dois «jovens» naturais do Montenegro. “Fomos os
únicos djs portugueses com uma residência em Ibiza, e também os únicos a tocar no ADE, em Amesterdão, tivemos passagens por Londres, atuamos em grandes eventos em Portugal, portanto, foi
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um 2023 muito positivo. No Spotify estamos com quase 60 mil seguidores, uma barbaridade, em 2019 tínhamos 219. E as três músicas do último EP, «Euphoria», entraram todas para o Top 50 do Beatport. As pessoas não têm noção do que isto significa”, afirma, sorridente. O ano de 2019 foi, sem dúvida, o momento de viragem dos Bubba Brothers, com o lançamento de «Carla’s Beat», e ter dado o nome da esposa ao tema deu realmente sorte. “Criou-se
uma comunidade à nossa volta que é incrível, às vezes temos que nos beliscar para termos a certeza de que é real”, confessa, admitindo
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que os primeiros anos dos Bubba Brothers foram levados mais em jeito de brincadeira, para descontrair e curtir com os amigos. “Houve, de facto,
é desiludir os promotores que nos contrataram e as pessoas que ouvem a nossa música”.
diversas coisas que mudaram assim que começamos a levar isto mais a sério, desde a criação dos temas à preparação dos espetáculos. Quando não nos pagam para fazer seja o que for, a responsabilidade é menor, se metermos uns «pregos» não há problema porque somos amadores. Em Amesterdão, algumas pessoas foram lá de propósito para nos ver, mas alguma vez isto nos passou pela cabeça”, declara Eliseu Correia. “Hoje, a última coisa que queremos fazer
Atingir este patamar não foi simples e implicou, desde logo, a aposta nos originais, ao invés de tocar simplesmente os sucessos dos outros com novas remisturas. “Somos os amadores
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mais profissionais que conheço, por isso, a evolução e a superação fazem parte do nosso dia-a-dia. Quando percebemos que as pessoas gostavam genuinamente de nos ouvir, começamos a criar o nosso próprio som e estamos cada vez mais tribais”, explica, adiantando que nos concertos dos Bubba Brothers se vislumbram frequentemente três gerações da mesma família. “Sempre 36
houve o cliché de que a música eletrónica é só barulho e que quem passa e ouve essa música é o famoso pessoal da «pastilha». Nós queríamos demonstrar que isso não é verdade, que há boa e má música em qualquer género. Depois, gostar ou não depende das preferências de cada um”, entende. Os anos passaram, Eliseu e Justino ficaram com a certeza de que tinham mesmo jeito para a coisa, que tinham queda para o palco, e deu-se o clique: se queriam tocar em palcos maiores, tinham que dar um passo em frente, o que levou o entrevistado a rumar a Londres para tirar o curso de dj na London Sound Academy. “Não quer dizer que seja
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tecnicamente muito bom, mas estou incomparavelmente melhor do que há 10 anos. A vontade de fazer mais e melhor foi decisiva. O nosso som é agregador, não exclui ninguém, toda a gente sente a energia e dança ao longo dos sets, limpam completamente a cabeça. Há ali qualquer coisa diferença, uma química, uma empatia total na Bubba Tribo”. Os Bubba Brothers estavam a disparar, tudo parecia correr sobre rodas, quando surge uma pandemia mundial que coloca praticamente toda a cultura, todo o meio musical, em stand-by. “Foi frustrante
porque era uma coisa que gostávamos de fazer, mas mais frustrante foi para os nossos
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colegas que vivem exclusivamente da música. Estávamos a bombar, a começar a criar asas, e depois andámos a apanhar papéis durante quase dois anos”, recorda, um tempo que, contudo, não foi desperdiçado. “Deu-me
oportunidade para ouvir mais música e para tentar perceber como produzir melhor música. De tal modo que, hoje, as letras dos temas são todas escritas por mim e até os vocais masculinos sou eu que gravo. Não é fácil encontrar um fator diferenciador e aproveitamos essa paragem para apurar o nosso som”, conta. ALGARVE INFORMATIVO #413
A nova grande referência da música tribal Dos clichés de «velhotes» ou «avôs» não se safam Eliseu Correia e Justino Santos, porque os djs, por tradição, não são cinquentões, e também há quem não os encare com a devida seriedade por não se dedicarem à música a 100 por cento, mas tudo isso torna os êxitos dos Bubba Brothers ainda mais saborosos. “Em
Portugal temos o Xinobi, Moullinex e Kura num patamar elevadíssimo, mas nós somos um caso sério na segunda linha. Imaginava eu que uma música dos Bubba Brothers ia ser ouvida mais de um milhão de vezes? 38
Praticamente todas as nossas músicas entram logo no Top 100 do Beatport mal saem, e isso é espantoso para o Eliseu e o Justino, da mesma forma que é para o Xinobi, Moullinex e Kura”, compara o entrevistado. “Ainda há dias, em Londres, Los Angeles, Vancouver e Chicago, o «Euphoria» estava entre os temas mais ouvidos do Spotify. Estamos no meio dos U2, dos Coldplay, do David Guetta, mas continuamos a ter mais reconhecimento no estrangeiro do que no nosso próprio país”, desabafa, não
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escondendo a tristeza pelos temas dos Bubba Brothers passarem em rádios de todo o mundo… menos em Portugal. “A
«máquina» funciona desta forma e o nosso problema, se calhar, é que não olhamos para a música como um negócio, mas sim como uma coisa que nos faz feliz e aos outros também”. Fruto desta mentalidade, os Bubba Brothers criaram a sua própria editora, mas, entretanto, em 2023 passaram a ser agenciados pela Soundvision de Eddy Romero, o que, se calhar, vai abrir algumas portas em Portugal. “Não
seria um caso único e virgem. A
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Joana Vasconcelos, a Fátima Lopes, o Pauleta, vários fadistas, enquanto não foram considerados muito bons além-fronteiras, não foram valorizados em Portugal. Eu e o Justino temos mais de 50 anos e, no meio de milhões de indivíduos que poem música, já fomos considerados, em artigos da ALGARVE INFORMATIVO #413
especialidade publicados no Brasil, Espanha, Inglaterra, Holanda e Alemanha, como a nova grande referência da música tribal”, indica. Os Bubba Brothers atingiram, de facto, um tal patamar que Eliseu Correia se viu mesmo obrigado a ter uma mesa de mistura completamente apetrechada no seu escritório, porque todos os minutos 40
explica, acrescentando que, no que toca às letras, mal lhe surge algo, grava de imediato no telemóvel. “Para fazer
uma música são muitas dezenas de horas. Às vezes aquilo encaixa logo, fazemos os primeiros 90 segundos, pensamos que vai ser rápido, e depois encalhamos no drop e não saímos dali. É um grande desgaste emocional e mais vale deitar aquilo fora e ir a jogo outra vez. E o mesmo acontece quando estamos a preparar um set. Não basta escolher 25 ou 30 músicas, temos que criar diferentes ondas de energia para o público não rebentar logo com as baterias, e porque eu próprio preciso descansar”, esclarece, com uma risada. Descansar é que vai ser difícil em 2024, porque os Bubba Brothers vão festejar os 10 anos de existência e porque Eliseu Correia está a preparar muitas surpresas, entre elas o «Ameixial Electro», no dia 13 de julho. “Toda a gente se ri quando
importam nesta fase do campeonato.
“Antigamente, tinha um pico de inspiração e guardava-o até chegar a casa, mudar de roupa, descer à cave, ligar a mesa de mistura, na esperança de que ele não se tivesse ido embora. Quando se acende a luz, tenho de ir logo a correr para a mesa, não se consegue congelar as ideias”, 41
falo disso, mas, quando virem o cartaz, vão deixar de rir. É um local com uma energia única, aquele espelho de água à noite é fantástico, a postura das pessoas é incrível, e daqui a três ou cinco anos vai ser uma das maiores referências eletrónica do nosso país, um festival onde os grandes nomes vão querer tocar. Estejam atentos”, avisa. Estaremos! . ALGARVE INFORMATIVO #413
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Pedro Inocêncio e Cristina Gião Tavares
“Espero que muitos destes textos deixem de fazer sentido no futuro”, diz Pedro Inocêncio sobre «Extremismos, Tabus e Preconceitos» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina rofessor de Educação Física na EB2,3 D. Afonso III, em Faro, mas natural de Elvas, Pedro Inocêncio estreou-se no mundo literário, em 2015, com «Tudo acontece por uma razão», a que se seguiram os romances «A Herança Nazi» (2017), «A Princesa do Índico» (2019) e ALGARVE INFORMATIVO #413
«Sem nada a perder» (2022). «Extremismos, Tabus e Preconceitos», lançado há poucas semanas, não é, porém, um romance... e também não é um livro de autoajuda. “Esta coletânea
de textos é, acima de tudo, um grito de revolta contra o pensamento único e estereotipado, um manifesto de 44
solidariedade para com todos os que ousam pensar fora da caixa e agir de acordo com as suas convicções. Mas é, também, um hino ao Amor”, descreve o autor, que começa logo por deixar alguns pedidos aos seus leitores: “Libertem-se dos
extremismos inúteis e preconceitos medievais que esta sociedade nos impõe. Vivam os tabus na sua plenitude e aceitem gentilmente tudo o que de bom esta vida tem para nos oferecer. O segredo da felicidade está em viver o mais próximo possível da ignorância”. Aguçada a curiosidade, fomos conversar com Pedro Inocêncio para saber o porquê desta mudança inesperada de rumo, depois de quatro romances muito bem-sucedidos.
“Comecei a fazer o «Tudo acontece por uma razão» por acidente, nem sequer sabia, na altura, que aquilo ia acabar num romance, mas sempre gostei de colocar no papel os meus pensamentos e estados de alma. E estes textos retratam a minha visão do mundo, a forma como eu sinto as coisas e as pessoas, sejam aquelas que me enchem o coração de alegria, amor e paixão, ou aquelas que me desagradam profundamente”, refere o entrevistado. “Questiono-me se não eramos capazes de fazer um mundo melhor do que este? Se 45
Deus é assim tão perfeito, por que razão este mundo é tão imperfeito? Como é que seria este mundo se suprimíssemos a dor física? Se calhar algumas destas questões um pouco filosóficas e existenciais até podem ser estúpidas e parvas”, admite. Muito longe de ser, conforme avisa, um livro de autoajuda, encontramos, no entanto, neste livro muitos textos que nos dão pistas de como poderemos ser pessoas melhores, tanto para nós próprios como para aqueles que nos rodeiam. “Eu quero ser feliz e que as
pessoas que estão à minha volta também sejam felizes. Posso estar ALGARVE INFORMATIVO #413
a ter o melhor dia da minha vida, mas, se acontecer alguma coisa má a alguém que eu amo, esse dia esfumou-se”, indica, esclarecendo que a maior parte dos textos que surgem em «Extremismos, Tabus e Preconceitos» nunca foram lidos por mais ninguém. “A
minha mulher, Cristina, encontrouos e desafiou-me a publicá-los, mas senti uma enorme insegurança, porque isto não é a «minha praia», não faço a mínima ideia de qual será a reação do público. Aqui é o Pedro, não é uma personagem de um dos meus livros, e sei que muitas pessoas não vão compreender certas coisas que escrevi. Algumas darão para rir, outras para ficarmos tristes, mas o importante é fazer-nos refletir sobre assuntos que, por vezes, parecem não ter nenhuma importância na nossa vida”. Ora, se para conceber um romance, um policial, um thriller, é necessário ter uma forte imaginação para se criar o enredo e as personagens, a tarefa parece ser mais fácil quando escrevemos sobre aquilo que se passa no nosso dia-a-dia… e assuntos para isso, infelizmente, não faltam. O que não significa que seja uma tarefa fácil produzir-se um livro desta natureza. “A
escrita é um desafio que faço a mim próprio, porque não quero que me aconteça o mesmo que na minha passagem pela música. Lancei para o mercado discos que dificilmente o Pedro Inocêncio ia a ALGARVE INFORMATIVO #413
uma loja comprar, não me identificava com aquela sonoridade, mas, os meus livros, ia de certeza comprar. Todos temos histórias para contar e isso tem-se notado, por exemplo, no cinema. A vida do cidadão comum por 46
vezes tem uma riqueza, uma narrativa, muito superior, porque são essas pessoas que se debatem com os problemas do dia-a-dia, e não aquelas a quem tudo é dado de mão-beijada, em que tudo é fácil”, entende Pedro Inocêncio. 47
Sempre atento ao que acontece ao seu redor, e com um pensamento crítico que tem que ser deitado cá para fora, «Extremismos, Tabus e Preconceitos»
“fala muito da natureza humana e da necessidade de vermos a desgraça alheia para nos sentirmos ALGARVE INFORMATIVO #413
melhor connosco… e eu ponho-me dentro destas críticas”. “Já sei que os telejornais só mostram desgraças e tristezas, mas, mesmo assim, vejo-os todos os dias. Até fico contente quando os miúdos mudam para um canal de música, porque eu não preciso daquela informação toda”, desabafa Pedro Inocêncio, um desabafo que, como se adivinha, deu origem a um texto no novo livro que, à semelhança dos seus romances, tem uma forte componente descritiva, não fosse tirar um curso de realizador de cinema um dos seus sonhos de criança. “São cerca de 250
páginas, alguns textos com 15 anos, a maioria deles produzidos nos últimos dois anos. Foi só quando o «Sem nada a perder» estava pronto para ser lançado que pensei que isto podia dar um livro, mas nunca tive grandes rotinas ou processos criativos rígidos. Escrevo quando estou inspirado, até porque a minha vida profissional é ser professor. E se tenho crescido mais enquanto autor, é graças à ajuda da Cristina”, assume. Esposa que, curiosamente, conheceu quando lhe foi entregar pessoalmente uma cópia do «Tudo acontece por uma razão». Imagine-se as voltas que o destino dá. “Escrever é, e será
sempre, um ato solitário, mas convém ter alguém que nos acompanhe, que nos dê algumas indicações, que partilhe connosco ALGARVE INFORMATIVO #413
as suas opiniões durante o processo. Às vezes, as «pequenas insignificâncias» fazem toda a diferença”, acredita.
Um simples intervalo nos romances Pedro Inocêncio foi escrevinhando aquilo que seria «Extremismos, Tabus e Preconceitos» sem pressas, e sem partilhar nas redes sociais alguns textos para ver qual seria a reação dos seus leitores, do grande público, para perceber se estava a ir na direção correta, a seguir as melhores tendências do mercado. Porque essa é, aliás, uma das críticas que faz à maior parte dos tais livros de autoajuda. “Posso estar a ser muito
injusto, é apenas a minha opinião, mas acho que estão a escrever um livro com o objetivo de abranger o maior número de pessoas que se identifiquem com aquilo, para assim venderem mais. Isso de certeza que não aconteceu com este livro, julgo mesmo que algumas pessoas vão ficar ofendidas com certos textos”, admite o entrevistado, do mesmo modo que reconhece que, quando a obra chegar à mão do leitor, se calhar alguns textos já estarão desfasados da atualidade. Aliás, o livro começa logo com um aviso: as próximas páginas serão preenchidas com uma série de coisas que, no dia em que são redigidas, até parecem importantes, mas que, com o passar do tempo, revelarse-ão perfeitas inutilidades. “Espero
que muitos destes textos deixem 48
de fazer sentido no futuro, excetuando aqueles em que falo do amor. Só se vive o tempo em que se ama, tudo o resto são intervalos”. Intervalo nos romances é aquilo que «Extremismos, Tabus e Preconceitos» é, e só isso, pois Pedro Inocêncio não pretende enveredar por outros rumos literários… se bem que já aprendeu a nunca dizer «nunca». “Sempre disse
que nunca faria um livro de textos soltos, e ele está aqui nas minhas mãos, depois de ter sido fortemente incentivado pela minha mulher para o escrever. E sempre disse que nunca faria uma sequela, e está bem avançada a continuação do «Tudo acontece 49
por uma razão»”, revela o autor. “Todos os meus livros surgiram de ideias que me apareceram do nada, e que depois foram maturando com o tempo. Gosto de todos os meus livros, mas tenho um carinho especial pelo primeiro, porque foi escrito de uma forma bastante espontânea e natural. A minha intenção é continuar com os romances”, garante. Por enquanto há que promover «Extremismos, Tabus e Preconceitos», uma obra na qual se comprova que Pedro Inocêncio é alguém que observa a sociedade e os comportamentos das pessoas, e que reflete também sobre os seus próprios comportamentos e formas de estar na vida. À venda desde o dia 18 de novembro nas lojas físicas e online, o ALGARVE INFORMATIVO #413
autor não sabe se este formato será ou não mais fácil de divulgar e de chegar à mesa de cabeceira das pessoas, mas tem a certeza de que a sua vida profissional como professor nem sempre se coaduna com a agenda de um escritor. “Sei, sim,
que pretendo apresentações interativas, não preciso de um orador conhecido, quero que sejam as pessoas comuns a falar sobre as suas experiências com os meus livros. Também tenho noção de que é mais fácil ser criticado por causa destes textos do que por causa de um romance. Acredito que os textos sobre sentimentos ALGARVE INFORMATIVO #413
ou questões existenciais serão mais pacíficos, agora, quando falo de questões sociais, poderá haver mais polémica”, comenta. “Regra geral lido bem com as críticas, desde que sejam construtivas, e para escrever um livro deste género convém ter alguma experiência de vida. Fazem-me confusão os atentados à dignidade das pessoas, coisas aberrantes com que nos deparamos no dia-adia, e são esses sentimentos que estão em «Extremismos, Tabus e Preconceitos»”, finaliza Pedro Inocêncio . 50
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«NO LIMITE DA DOR» REFLET TRAUMATIZANTES DURANTE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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TE EXPERIÊNCIAS A DITADURA SALAZARISTA
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grande auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão foi palco, no dia 17 de novembro, da peça «No limite da dor», interpretado pela Companhia Lendias d'Encantar e que reúne quatro histórias que se entrelaçam e refletem a experiência vivida por muitas portuguesas e portugueses nas mãos da PIDE/DGS durante os anos da ditadura. Integrada na programação dos Outonos de Teatro 2023, a peça desafia os espetadores a refletirem sobre a resistência, o medo, a humilhação, a dor e a dignidade do ser humano, sensibilizando as novas gerações para a dura realidade do Salazarismo e do Estado Novo, no sentido de possibilitar uma compreensão aproximada da brutal dimensão social que marcou o período entre 1926 e 1974. 57
Segundo a sinopse, duas mulheres e três homens (Georgina, Conceição, Manuel, Luís e Domingos,) transitam durante 60 minutos ante o olhar dos espetadores. Não são personagens teatrais, são personagens reais que testemunham através do corpo, da voz e da emoção de um ator, experiências vividas na primeira pessoa e que chamam a atenção para a importância dos ideais, das convicções e da família. Para os responsáveis pelo espetáculo, que integrou as comemorações em Portimão dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, essa perspetiva ganha maior importância num momento em que a democracia enfrenta sérias ameaças. A produção da Companhia Lendias d'Encantar foi concebida a partir do livro «No Limite da Dor», de Ana Aranha e Carlos Ademar, e tem interpretação de António Revez, com encenação a cargo de Julio César Ramirez, que partilha a cenografia com Ana Rodrigues . ALGARVE INFORMATIVO #413
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LINDA MARTINI AR NO CINETEATRO LO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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RRASARAM OULETANO
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Cineteatro Louletano foi ao rubro, no dia 18 de novembro, com a passagem da tournée «20 anos de Merda & Ouro» dos Linda Martini por Loulé. Banda incontornável do panorama nacional das últimas duas décadas, André Henriques (voz e guitarra), Cláudia Guerreiro (baixo e coros), Hélio Morais (bateria e coros) e Rui Carvalho (guitarras), têm cimentando um culto fervoroso que os segue de norte a sul do país, com concertos que são verdadeiros momentos de comunhão, em 73
que público e músicos celebram e cantam em uníssono as suas canções mais icónicas. O último trabalho da banda, «ERRÔR», foi lançado em 2022 e deu origem a um espetáculo com densidade e doçura poética, complementado pelo trabalho gráfico desenvolvido pela baixista e artista plástica Claúdia Guerreiro, que transpõe em vídeo o processo desenvolvido para a criação da imagem da capa deste sexto disco. Um concerto que ficará, certamente, na memória do público que esgotou o Cineteatro Louletano . ALGARVE INFORMATIVO #413
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FESTIVAL PEDRA DURA AGITOU VIDA CULTURAL DE LAGOS (II) Texto: Daniel Pina| Fotografia: Filipe Ferreira
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e 9 a 18 novembro, o Pedra Dura – Festival de Dança do Algarve levou a Lagos espetáculos de dança nacionais e internacionais, filmes, masterclasses, noites com DJ´s e diversas propostas relacionadas com a ciência e com as escolas do concelho.
“Nesta segunda edição do festival, as portas voltaram a abrir-se a uma dança atenta, esventrada, brilhantemente escondida na matéria. Um convite a que nos percamos e deixemos levar, como se o corpo e as arribas se permitissem a ser escavados de dentro para fora”, explicou Daniel Matos, da CAMA a.c., a organizadora do evento. 89
No dia 16 de novembro, o Centro Cultural de Lagos assistiu a «Haze Gaze», a segunda parte de um projeto que parte da apropriação livre que Silvana Ivaldi faz do universo da Divina Comédia de Dante Alighieri. Após «Dolce Still Nuovo», parte dedicada ao capítulo do Inferno, surge agora um espetáculo dedicado ao capítulo do Purgatório. No dia seguinte, mas no Armazém Regimental de Lagos, o Pedra Dura apresentou «Coreografia para uma Santificação», obra que parte de figuras mitológicas e bíblicas, como Salomé, Maria de Madalena ou Helena de Tróia, e onde Mélanie Ferreira e Tiago Vieira questionam a ligação entre o sagrado e o profano. O corpo é encarado como um lugar de anunciação, milagre, pecado e desejo; a dança como espaço privilegiado do ritual e do encontro com o êxtase; e o ALGARVE INFORMATIVO #413
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fulgor sexual como oração revolucionária, de resistência e procura de milagres quotidianos, num bailado de aproximação ao inexplicável.
cara de vermelho para desfazê-la, apagando a sua identidade, um ato de escavar a pele para sair de si e regressar em outras, agenciando ancestralidades de visionária transmutação.
Nos dias 17 e 18 de novembro, no Espaço Jovem de Lagos, Luara Raio, performer, bailarina e coreógrafa de funk sapatão, deu a conhecer «Flecha» e «Pedra Lançada». A performance Flecha é ativada por imagens-animais de caça e caçador no corpo cor em constante degeneração e regeneração. Uma dança Ebó que contra-ataca, chamando bichos de outros mundos, para fazer crescer na pele, dentes, escamas, unhas, garras. Nesta performance, Luara Raio tinge a
Quanto a «Pedra lançada», é a performance ativação do livrooráculo «Pedra y Apocalypso» de Luara Raio. Aqui, o gesto de lançar implica impacto e receção, vibração e reverberação, também quebra, fratura, estilhaçamento. O título faz referência ao provérbio de matriz religiosa afrobrasileira que diz: “Exú matou um pássaro ontem com uma pedra que atirou hoje”.
“Assim, recebemos e atiramos pedras na encruzilhada entre dança, palavra, espiritualidade e performance celebrando e conjurando mundos para lançar ALGARVE INFORMATIVO #413
feitiços na espiral de tempo”, explica a coreógrafa. A 17 de novembro, o LAC – Laboratório de Actividades Criativas recebeu «TRYPAS CORASSAO», projeto composto por Tita Maravilha e Cigarra, dupla brasileira formada por corpos urgentes de mulheridades marginais e fúria trans, numa proposta híbrida e sensual, que traz um live act cheio de ruídos e apelos cremosos. Este é um projeto estético e político de criação híbrida entre música eletrónica e performance, onde o corpo, que carrega várias lembranças e deslembranças da violência, tem agora nas mãos o poder da mudança. A segunda edição do Pedra terminou, no dia 18 de novembro, no Centro Cultural de Lagos, com «AeReA», que lança um olhar sobre um objeto que é normalmente usado para expressar ideias ALGARVE INFORMATIVO #413
de pertença e separação, marcando a distinção entre um hipotético nós e um eles: a bandeira. Neste espetáculo de Ginevra Panzetti e Enrico Ticconi, vindos de Itália, pessoas e bandeiras emergem da escuridão como parte de uma mesma anatomia. “Estas bandeiras surgem
em palco depuradas de quaisquer signos e símbolos, sendo assim trazidas à sua essência plástica. Um ponto inicial sem conotações, onde tudo pode surgir ou desaparecer. Como se pertencessem a um passado próximo ou remoto, figuras espectrais tomam forma através de uma série de desvelamentos, evocando uma irmandade próxima e antiga entre a bandeira e aquele outro objeto têxtil pleno de significado, a mortalha”, explica a organização . 92
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EXPOSIÇÃO «ONDE VA O FERRÃO» ASSINAL DE ARTES VISUAIS FL Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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VAI O PIÃO VAI LA FINAL DO CURSO LAD EM LOULÉ
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Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, em Loulé, acolhe, até 20 de janeiro, a exposição que reúne os trabalhos realizados pelos alunos do Curso de Artes Visuais FLAD – Fundação LusoAmericana para o Desenvolvimento. «Onde vai o pião vai o ferrão», ditado popular algarvio que significa «já que se começou, vai-se até ao fim», é um momento final, de materialização, mas também de experimentação, da segunda edição deste curso.
questionaram-se metodologias e práticas, trocam-se referências, e imaginaram-se possibilidades de futuros. Esta edição do curso, realizada em Loulé em parceria com as Galerias Municipais de Loulé, foi marcada e definida por três formas de encontros das participantes: com as professoras artistas convidadas e a tutora (Gabriela Albergaria, Rommulo Conceição, Sonja Thomsen, Démian Flores, Claire Pentecost, Amy Yoes e Catarina Botelho), e as suas propostas; com o território do Algarve, e as suas diferentes realidades; entre si, que trabalharam e viveram juntas ao longo dos dois meses que durou o curso.
Ao longo deste intenso período de aulas, conversas, tutorias e visitas de estudo, mas também festas, passeios, jantares e mergulhos no mar, debateramse trabalhos, projetos e investigações,
A exposição pode ser visitada de terçafeira a sábado, das 10h às 13h30 e das 14h30 às 18h. A entrada é livre .
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Traga seu amor de volta Mirian Tavares (Professora) O que é que pode fazer o homem comum Neste presente instante Senão sangrar tentar inaugurar A vida comovida Inteiramente livre e triunfante (...) Pois sou uma pessoa Esta é minha canoa Eu nela embarco Eu sou pessoa Belchior cidade é grande e dificilmente palmilhável. É uma cidade para carros e não pessoas. Enquanto me desloco, como passageira anónima de mais um Uber, olho à volta. Espalhados pelos muros e postes vejo sempre o mesmo cartaz: Trago seu amor de volta. Não diz como, nem quando. Há dois números de telefone e três vezes esta sentença/afirmação (pois não há espaço para dúvida, o resultado deve ser garantido). Não promete dinheiro, sucesso, trabalho. Sequer saúde. Apenas uma coisa: Trago seu amor de volta. De que amor estará a falar? Do amor personificado em alguém, duma pessoa específica e particular que ocupou, em dado instante, um lugar tão importante na vida de outra pessoa que esta não consegue viver sem? Porque quando amamos sabemos, no íntimo, que o amor ALGARVE INFORMATIVO #413
é eterno, mesmo que seja enquanto dure. E não queremos perder alguém que nos faz feliz, que nos faz levantar de manhã e pensar: que bom que não estou só e que posso partilhar minha vida ao lado de fulano(a) e que faz com que as dores sejam mais suaves. Quando era pequena a mãe soprava a ferida, como se o sopro tivesse efeito curativo. Quando crescemos pensamos nas bactérias que o sopro continha, que não curava, que podia mesmo piorar. Mas quem quer saber? Quem não prefere ter de novo o sopro/alento a cicatrizar feridas, como uma brisa leve, um remédio que vem de dentro. Um remédio de amor? Encontrei, nos papeis do mano, umas folhas soltas que eu tinha escrito aos 14, 15 anos. Nessas folhas está uma carta que escrevi, não sei para quem, não há data, não há destinatário. Talvez fosse um registo, uma tentativa de me entender escrevendo, pois a carta fala de mim. Daquela pessoa que eu era. Uma pessoa que dizia coisas sobre o amor e sobre a 112
Foto: Vasco Célio
sua capacidade de amar. Sobre a sua necessidade de amar e de espalhar o amor, como um sopro, uma brisa. Como algo que não se podia extrair. Será que é desse amor que falam os cartazes? Trago seu amor de volta – não uma pessoa, mas uma capacidade. Trago de volta a sua ideia de amor, o seu desejo de amar. A sua capacidade de sentir e de desejar espalhar pela cidade, como os cartazes, esse amor. Como um sopro de mãe que cura ferida. Trago seu amor de volta . 113
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As tendências do empreendedorismo para 2024 Fábio Jesuíno (Empresário) empreendedorismo emerge como um dos principais propulsores do desenvolvimento social, ao gerar empregos e fomentar a inovação, tornando-se uma das estratégias mais eficazes para enfrentar crises econômicas. Chegou o momento de mais uma vez vislumbrar o futuro e antecipar a direção que o empreendedorismo poderá tomar no próximo ano.
prevalente na sociedade, ganhando importância globalmente. Diversos movimentos e grupos relacionados à sustentabilidade estão se destacando na opinião pública. Dadas as mudanças climáticas e suas consequências para nossas vidas, é inevitável uma maior ênfase na preservação do ambiente no futuro, visando uma abordagem mais sustentável. Neste cenário, destacam-se negócios focados em alimentação saudável e orgânica, atividades físicas e iniciativas de reciclagem. Empreendedorismo social
Na minha opinião, estas serão as principais tendências de empreendedorismo para o próximo ano: Empreendedorismo sustentável O empreendedorismo sustentável está ganhando relevância à medida que os consumidores se tornam mais conscientes do impacto ambiental de suas escolhas. Empreendedores que oferecem produtos e serviços sustentáveis estão encontrando uma demanda crescente. A busca por uma melhor qualidade de vida está se tornando cada vez mais ALGARVE INFORMATIVO #413
Considero o empreendedorismo social como uma das principais tendências para os próximos anos, cada vez mais empreendedores se dedicam a resolver desafios sociais através de modelos de negócios inovadores. O empreendedorismo social é um modelo de negócio que visa gerar lucro, mas com o propósito principal de solucionar necessidades sociais que não estão a ter resposta pelo mercado. Ao abordar questões sociais complexas, como pobreza e a educação, os empreendedores sociais estão gerando 114
impacto positivo na sociedade e atraindo investidores que buscam retorno financeiro e social. Empreendedorismo de saúde e bem-estar Com o aumento da preocupação com a saúde e o bem-estar, o empreendedorismo no setor de saúde ganha destaque, sendo uma das áreas mais promissoras. As inovações tecnológicas que estão ocorrendo nesta área contribuem para um aumento da longevidade, que vai ser acompanhado 115
com o aumento dos produtos e serviços relacionados. É importante mencionar que esta área é também desafiante, devido a um grande número de regulamentos, que exigem um investimento em tempo e dinheiro e a um mercado muito competitivo. Estas são as três tendências que vão fazer a diferença no próximo ano na área do empreendedorismo e impulsionar a criação de negócios .
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A Simone de Beauvoir tomou café no Aliança! Sílvia Quinteiro (Professora) correu-me, há algum tempo, desenhar atividades de lazer baseadas na relação entre literatura e território. Deitei mãos à obra. Selecionei textos e autores, percorri os lugares da minha cidade, recolhi histórias. Em pouco tempo o projeto começou a ganhar forma e o desejo de o partilhar também. Não sendo guia nem empresária, o meu objetivo era disponibilizar gratuitamente estes produtos à comunidade. Assim, colocou-se a inevitável questão: Como fazê-lo? Imaginei algumas possibilidades: uma aplicação digital, uma página web… Ambas adequadas, porém dispendiosas. Era, pois, urgente encontrar um parceiro. Uma entidade que percebesse o potencial do projeto e ajudasse a implementá-lo. Alguns telefonemas feitos. Outros tantos e-mails enviados. Surge, então, um contacto. Marca-se uma reunião. Envio todo o trabalho feito até ao momento. O mais difícil parece ter sido alcançado: a oportunidade de apresentar pessoalmente a ideia. Um entusiasmo enorme apodera-se de mim. Vai acontecer. Não tenho quaisquer dúvidas. Ao chegar ao local da reunião, a rececionista informa-me de que vou ser recebida pelo Vice. Uma piscadela de ALGARVE INFORMATIVO #413
olho. Um sorriso cúmplice. Aproxima a cabeça e confidencia-me: ⎼ É Vice, mas por pouco tempo. O outro vai sair e fica ele. Entro na sala. A janela ampla oferece uma vista privilegiada sobre a cidade. O Vice ocupa uma secretária imponente. Limpa. Nem um papel. A um canto da sala, uma senhora grisalha. Reconheço-a. Não percebo a razão da sua presença. Certamente ficará claro com o decorrer da reunião. O futuro Presidente dá início à conversa. Durante alguns minutos debita sugestões e dá palpites sobre a forma como o trabalho deve ser feito. Rapidamente me apercebo de que não leu nada do que lhe enviei. Tem uma vaga ideia do tema. De resto, desconhece em absoluto o conteúdo da proposta. Nada que o impeça de continuar a opinar. Sobre o assunto que levou à marcação da reunião, nada. Sobre as questões que deveria dominar e que me levaram até ali, nada. Mas sobre Literatura… Upa, upa! O homem é um Ás! São pérolas atrás de pérolas. O Vice continua a discorrer encantado consigo próprio. A senhora grisalha anui com a cabeça. Percebo agora o seu papel na reunião: concordar com as palavras sábias do Vice, que em breve deixará de o ser. Mas não se pense que a senhora não tem nada a dizer. Na verdade, faz várias 116
intervenções, todas com uma única frase: – A Simone de Beauvoir tomou café no Aliança! Não sei se por influência desta afirmação, mas o que é facto é que o Vice-quase-Presidente tem subitamente uma ideia genial. Convenhamos que era de esperar. Não é à toa que se chega a um cargo desta importância e se vai a Presidente dentro em pouco. Mérito, inteligência, brio profissional, cultura. – Sabe o que tem de ser feito? – Perguntame, crescendo na cadeira: – Uma rota literária da escrita do Sudoeste! – Fico sem palavras. A senhora grisalha, que aos poucos fui percebendo coberta de penas verdes e possuidora de um volumoso bico retorcido, levanta voo. Pousa no ombro do Vice. Incha o peito e anui novamente com a cabeça enquanto emite o inevitável: – A Simone de Beauvoir tomou café no Aliança!
Acontece-me quando o entusiasmo é grande. Afinal não é todos os dias que temos o privilégio de estar presentes na génese de projetos visionários como este. Mas não fica por aqui, não se pense. Um criativo é um criativo e o Vice, entusiasmado com o seu próprio génio, avança com outra ideia verdadeiramente singular: criar passeios literários com paragem junto às casas de uns residentes estrangeiros «muito importantes»: – Engenheiros do petróleo. – Esclarece. Não perceberam? Claro que não. Nem eu! É por essas e por outras que nunca chegaremos a Vices, quanto mais a Presidentes. A reunião termina. O Vice chegará a Presidente uns meses mais tarde. A senhora grisalha nunca mais abandonará a penugem verde nem o movimento do pescoço que lhe garante uma carreira sólida. Este ombro irá escapar-lhe, mas saltará rapidamente para outro. Voltarei a encontrá-la. O mesmo anuir, a mesma frase: – A Simone de Beauvoir tomou café no Aliança! – Coerente, persistente, sem qualquer brilho nos olhos. A continuar assim, ainda ali temos Ministra .
Não consigo conter a gargalhada. 117
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #413
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