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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 15 de dezembro, 2018
O MUNDO IMAGINÁRIO DE VALUTE ALGARVIANA ULTRA TRAIL | DIA DA CIDADE DE PORTIMÃO | NAPOLEÃO MIRA PEP1 BOU | SÉRGIO GODINHO | LAGOA CIDADE EDUCADORA | FORTALEZA DE SAGRES ALGARVE INFORMATIVO #183
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CONTEÚDOS #183 15 DE DEZEMBRO 2018
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ARTIGOS 12 - Dia da Cidade de Portimão 22 - Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes 30 - Lagoa Cidade Educadora 42 - Fortaleza de Sagres 50 - Napoleão Mira 60 - «Valute» de Rui Neto 70 - Pep Bou 80 - Sérgio Godinho 92 - ALUT 124 - Atualidade
OPINIÃO
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106 - Paulo Cunha 108 - Adília César 110 - Ana Isabel Soares 112 - Fábio Jesuíno 114 - Antónia Correia 116 - Afonso Dias 118 - Fernando Cabrita ALGARVE INFORMATIVO #183
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REPORTAGEM
DIA DA CIDADE DE PORTIMÃO MARCADO POR MUITA EMOÇÃO E PELO ANÚNCIO DO PRÉMIO MUNICIPAL DO VOLUNTARIADO Texto:
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ortimão celebrou o Dia da Cidade, a 11 de dezembro, sob o mote da Solidariedade, para agradecer publicamente a generosidade e a onda de solidariedade manifestada em prol dos cidadãos afetados pelos grandes incêndios deste Verão que afligiram sobretudo o concelho de Monchique, mas que se estenderam igualmente aos vizinhos de Portimão, Silves e Odemira. Agosto de ALGARVE INFORMATIVO #183
2018 ficará, de facto, na memória, não só de todos os que foram diretamente prejudicados pelos fogos, mas também daqueles que uniram esforços e contribuíram para o sucesso de uma missão difícil e exigente a nível de apoio logístico e de sustentação à operação de proteção civil montada, que acabou por revelar um espírito de solidariedade e de mobilização cívica sem precedentes. «Portimão Solidário» foi, por isso, um momento marcante de uma Sessão 12
Solene do Dia da Cidade caracterizada por uma grande emoção, nas palavras e nos semblantes de todos os presentes, e que contou com os testemunhos do Padre Paulo Duarte, de Paula Teixeira, Diretora do Agrupamento de Escolas Júdice Fialho, de João Costa, locutor da Rádio Fóia, do conhecido ator e apresentador de televisão Fernando Mendes, e da bombeira Margarida Costa, que viria a ser, inclusive, homenageado pelos Bombeiros Voluntários de Portimão nesta cerimónia. Por entre os excelentes apontamentos musicais a cargo do Special Quartet da Orquestra de Jazz do Algarve, composto por Hugo Alves (trompete), Luís Henrique (contrabaixo), Paulo Franco (bateria) e Alexandre Dahmen (piano), escutaram-se as palavras de João Vieira, presidente da Assembleia Municipal de Portimão, fez-se o reconhecimento público a diversas entidades, empresas e instituições que se juntaram à onda de solidariedade para com os afetados pelos incêndios do Verão
e atribuíram-se Medalhas de Mérito Municipal a Pessoas Coletivas e Singulares que contribuíram para o engrandecimento e dignificação do Município de Portimão ou que se tenham elevado dos demais pelo reconhecido mérito e prestígio, cargo, ação, serviços ou contributos em prol da comunidade ou de serviço público. Coube, assim, ao Programa de Rádio «Choque Frontal ao Vivo», de Ricardo Coelho e Júlio Ferreira, e a Henrique Manuel Mendes Diogo a Medalha de Mérito Municipal Grau Bronze, a José Manuel Tengarrinha e a Emídio Pedro Águeda Serrano, ambos a título póstumo, a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro e o Título de Cidadã Benemérita a Isaura Assunção Silva Borges Coelho. A Sessão Solene terminou, como não poderia deixar de ser, com a intervenção da Presidente da Câmara Municipal de
João Vieira, Rui André e Isilda Gomes 13
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Portimão, que logo endereçou uma palavra especial ao seu colega autarca de Monchique, Rui André. “Há situações a que Portimão também é vulnerável e se algo acontecer – e espero naturalmente que isso nunca venha a suceder – tenho a certeza que contaremos com a ajuda de Monchique, tal como Monchique contou connosco este Verão e contará sempre que assim for necessário no futuro”, garantiu Isilda Gomes. “Portimonenses somos todos e queremos que todos sejam de Portimão, que partilhem os nossos valores de tolerância e fraternidade, que vivam de olhos postos no futuro, ultrapassando as dificuldades do presente. Portimão é imenso porque soube abrir-se ao exterior e receber as influências históricas dos períodos fenício, romano e muçulmano, e fazer o seu caminho, sem perder as suas referências. Mas também porque sabe, como ninguém, receber quem nos 15
escolhe como destino de férias e nos abre uma janela sobre a sua cultura e modo de viver. Ou na forma como recebe quem nos escolhe para trabalhar e chega a Portimão com a esperança de dar um melhor futuro aos seus filhos”, prosseguiu a edil portimonense. Histórias de coragem e superação fazem parte de Portimão e Isilda Gomes lembrou o seu mais ilustre filho, Manuel Teixeira Gomes, “um homem de personalidade complexa e multifacetada que ascendeu ao mais alto magistério da nação, sem nunca se deixar deslumbrar pelas mordomias próprias da função”. “Abdicou do poder antes de ser corrompido pela época política conturbada em que viveu e deixou a sua terra amada para não assistir à degradação das instituições da Nova República por que ALGARVE INFORMATIVO #183
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tanto se bateu. É um exemplo do que um político deve ser: humilde, sério, honesto, transparente, responsável e próximo dos cidadãos”, salientou, antes de saudar igualmente todos os autarcas que contribuíram para o trajeto de Portimão nas últimas décadas.
Aproxima-se, entretanto, um novo ano, que trará novos desafios para Portimão, sabendo-se que 2019 ficará marcado por ser «Cidade Europeia do Desporto», “uma honra, mas também uma enorme responsabilidade”. “Só o facto de termos sido escolhidos é bem demonstrativo da força da sociedade civil e do movimento associativo portimonenses. Durante anos não foi possível à autarquia promover, de forma sustentada, o desporto no nosso concelho. A gravíssima crise financeira a que estivemos sujeitos, e que não esquecemos, impediu-nos de cumprir os mínimos em termos de apoios às coletividades e clubes de Portimão. Seria de prever que tivéssemos assistido a uma paralisação total, a um decréscimo acentuado do número de atletas, o que manifestamente não sucedeu”, destacou Isilda Gomes, voltando a enaltecer a forma como os portimonenses sabem ultrapassar os obstáculos que lhes surgem pelo caminho. O próximo ano será marcado, então, por mais de 600 iniciativas de âmbito desportivo, mas também por várias intervenções nas instalações desportivas do município, de modo a que, no final de 17
2019, se consiga manter o ritmo alcançado por via do programa da «Cidade Europeia do Desporto». É disso exemplo a entrada em funcionamento do Pavilhão da Boavista, um investimento que rondará um milhão e 400 mil euros e que aguarda apenas o visto do Tribunal de Contas para se iniciar a obra. A autarquia vai igualmente apoiar o Clube Bicross de Portimão na remodelação da sua pista de corridas, que terá um novo traçado certificado pela Federação Portuguesa de Ciclismo. “Temos também algumas expetativas em relação à nossa Pista de Atletismo há tanto tempo desejada e esperamos que seja possível abrir, em 2019, o Polidesportivo do Instituto do Emprego e Formação Profissional e continuar o investimento em zonas de prática desportiva informal, a exemplo do que já fizemos na Praia da Rocha com o recinto de street work-out”, revelou a presidente da Câmara Municipal de Portimão. De acordo com Isilda Gomes, a «Cidade Europeia do Desporto» vai deixar como herança uma cidade mais saudável e melhor equipada para o futuro. “Não queremos que alguém que deseje praticar desporto esteja impedido de o fazer. Jovens atletas são jovens com alto sentido de responsabilidade, com espírito de equipa, mais resilientes e melhor preparados para lidar com dificuldades. São jovens com melhor poder de concentração e serão, certamente, melhores cidadãos, interventivos, reivindicativos, responsáveis e mais atentos às necessidades do seu semelhante”, ALGARVE INFORMATIVO #183
frisou a autarca, acrescentando que a «Cidade Europeia do Desporto» é muito mais do que uma “bandeira que ondula ao sabor do vento do marketing, é um desígnio para que todos sejamos uma cidade melhor”. Antes de terminar o seu discurso, e porque o drama dos incêndios do Verão permanece bem vivo na memória de todos, Isilda Gomes falou da justa ampliação do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Portimão, que conta com um apoio financeiro substancial da autarquia. “Nos momentos de aflição, e quando não sabemos a quem recorrer, é na imagem do bombeiro que depositamos as nossas esperanças. São eles o maior exemplo de coragem e altruísmo na defesa da vida. Bombeiros mais motivados e com melhores condições de trabalho são sinónimo de uma cidade mais segura e resiliente”,
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salientou a presidente da Câmara Municipal de Portimão, deixando ainda mais uma novidade a concluir. “Portimão tem milhares de cidadãos que dedicam parte substancial do seu tempo à solidariedade, são dezenas as instituições de cariz solidário e milhares as ações que tornam a nossa sociedade mais justa. Não existiria este Portimão sem o vosso esforço, por isso, queremos continuar a reconhecer o trabalho daqueles que todos os dias se levantam a pensar nos demais. Iremos, assim, criar o Prémio Municipal do Voluntariado para apoiar dois projetos, um individual, outro coletivo, no âmbito do voluntariado e da solidariedade, com um valor pecuniário de 10 mil euros cada, distinguindo projetos inovadores, complementares à oferta já existente e que tenham um impacto efetivo junto da população mais vulnerável”.
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REPORTAGEM
CARLOS VASCONCELOS VENCEU PRÉMIO LITERÁRIO MANUEL TEIXEIRA GOMES COM «BENJAMIM RENZO NO ALENTEJO» Texto:
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Carlos Vasconcelos e Isilda Gomes
Biblioteca Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, acolheu, na noite de 6 de dezembro, a cerimónia de entrega do Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes, num momento inserido nas Comemorações ALGARVE INFORMATIVO #183
Oficiais do Dia da Cidade de Portimão. O júri da edição de 2018 foi constituído por Adriana Nogueira, professora da Universidade do Algarve, Sandro William Junqueira, escritor, e Helena Tapadinhas, professora bibliotecária da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, e decidiu atribuir o prémio à novela «Benjamim Renzo no Alentejo», 22
de Carlos César Miranda de Vasconcelos, por considerar que reunia critérios de originalidade (quebra de géneros tradicionais e construção de outras realidades) e de solidez literária (domínio da língua e seus recursos) adequados à criatividade que se pressupõe neste tipo de obras. “Esperamos que a qualidade desta novela inspire futuros concorrentes, de modo a manter a qualidade dos premiados, como tem sido apanágio deste concurso”, referiram os elementos do júri. O vencedor, nascido, em Lisboa, em 1985, é editor de livros e gráfico na «Relógio de Água» e enalteceu a importância destes prémios literários, sobretudo para os jovens escritores, “porque há, de facto, muitas pessoas a
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escrever”. “Todos os dias recebemos na editora vários originais que nunca veem a luz do dia, que nunca são publicados, mesmo que tenham qualidade, porque é sempre um risco apostar-se em novos nomes. Estes prémios preenchem esse vácuo por dar um novo ânimo a pessoas que já escreveram tantas coisas, que já batalharam tanto com as palavras”, considerou Carlos Vasconcelos. No uso da palavra, Isilda Gomes começou por tecer largos elogios aos mentores do Grupo «O Teatro da Caverna», da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, que também comemora os 25 anos de existência, “por persistirem na arte e estimularem
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os nossos jovens”. “É preciso ajudar os mais novos a descobrir as artes, abrirlhes as portas e janelas para eles depois ganharem asas e voarem mais alto”, frisou a presidente da Câmara Municipal de Portimão. No que toca ao Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes, a sua atribuição esteve interrompida durante alguns anos, sendo agora retomado para se continuar a “homenagear um homem das artes e da política que é o exponente maior desta cidade e de Portugal e que muito nos orgulha”. “Deu grandes lições aos portugueses e ao Mundo, sobretudo em termos de humildade e integridade, algo que, hoje, há muito pouco na política. Merece de todos nós este respeito e esta seria, certamente, a forma com que ele mais gostaria de ver o seu nome evocado”.
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O Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes tem, pela primeira vez, um valor monetário, este ano de 500 euros, mas que deverá subir nas próximas edições, e a ideia é precisamente incentivar a escrita e os escritores mais jovens e que não têm muitas oportunidades para verem os seus trabalhos publicados “Se conseguimos que um jovem se lance na escrita através deste prémio, já estamos a atingir os nossos objetivos. Há dias estivemos aqui no lançamento de um livro da Maria do Vale Cartaxo, a vencedora da primeira edição do Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes, que nunca mais parou de escrever. Isto é extraordinário, não tem preço”, sublinhou Isilda Gomes.
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«Benjamim Renzo no Alentejo» é, então, o primeiro livro de Carlos Vasconcelos a ser publicado, pelas mãos da «Arandis Editora» de Nuno Campos Inácio, Sérgio Brito e Fernando Lobo, um thriller psicológico que tem como cenário as planícies alentejanas porque “as zonas calmas são os melhores sítios para os thrillers, daí o sucesso dos escritores nórdicos”, justificou o autor lisboeta que agora ficará para sempre marcado na história de Portimão. “Espero que nos continue a brindar com as suas palavras”, desafiou Isilda Gomes, ao que Carlos Vasconcelos prontamente respondeu: “Curiosamente, quando descobrimos que ganhamos um prémio literário, vamos logo a correr escrever uma coisa nova. É, sem dúvida, um grande incentivo”. “Quando se lança um livro estamos a colocar mais uma pedra no grande edifício que é a cultura e é um
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edifício sempre inacabado. Por muitas coisas que façamos, ainda temos muitas mais para fazer. Acredito que o Manuel Teixeira Gomes estará bastante orgulhoso do trabalho que estamos a realizar”, concluiu Isilda Gomes. De referir que o prémio se destina a todos os autores nacionais, a cidadãos de países de língua oficial portuguesa, cidadãos comunitários e demais cidadãos estrangeiros com situação regularizada de permanência em Portugal. A criação do Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes, para além de constituir uma justa homenagem ao respetivo patrono, cuja vida e obra se encontram intimamente ligados a Portimão, ao Rio Arade e ao próprio Algarve, consubstancia uma iniciativa de especial relevância no âmbito da literatura nacional .
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LAGOA DEDICOU UM DIA ÀS CIDADES EDUCADORAS Texto:
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dia 30 de novembro, data em que se comemora o Dia Internacional das Cidades Educadoras, foi palco de um amplo espaço de reflexão em Lagoa, por via do colóquio «Aprender a ser para melhor aprender» organizado pela Câmara Municipal de Lagoa. Sandra Barão Nobre, Dina Mendonça, Magda Gomes Dias, Lourdes Mata, Maria Helena Horta, Patrícia Constante e João Canossa Dias proporcionaram, no Auditório Municipal ALGARVE INFORMATIVO #183
Carlos do Carmo, um enriquecedor debate em torno de temas como Educação e Pedagogia e, para além das competências cognitivas – com destaque para a aprendizagem da leitura e da escrita – falou-se da importância do desenvolvimento das competências emocionais e da promoção da capacidade de reflexão, questionamento e resolução de problemas na formação de crianças e jovens. «Como criar experiências de literacia (emergente) para todos?», «Quais os benefícios da leitura em voz alta para bebés?», «Como interagem 32
mães, pais e filhos dentro do conceito de parentalidade positiva?» foram outros dos desafios lançados a uma plateia atenta e numerosa que obrigou, inclusive, à mudança de local, uma vez que o colóquio estava inicialmente previsto acontecer no Convento de S. José. As boas-vindas aos palestrantes e público foram dadas pelo Presidente do Município, Francisco Martins, que lembrou que Lagoa elegeu a Cultura e a Educação como bases da sua estratégia. “Mais do que aderirmos a redes ou termos mais uma bandeira ou uma chapa para colocar na fachada dos 33
edifícios, sentimos realmente a Educação e a Cultura como pilares da formação da nossa sociedade, esses são os nossos maiores investimentos”, frisou o edil lagoense. “Na minha época tínhamos tempo para sermos crianças, agora, os jovens têm tantas atividades que não é fácil gerir a agenda. E isso forma os nossos jovens de uma maneira diferente para o dia de amanhã”, reconheceu Francisco Martins. «Aprender a Ser para Melhor Aprender» é algo que deve a todos ALGARVE INFORMATIVO #183
mobilizar, concordou Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, defendendo que é necessário “estar num permanente desassossego para podermos fazer mais e melhor”. “A Universidade do Algarve procura sempre, dentro das suas possibilidades, ser parceira da região, embora não se confina apenas ao Algarve nos seus impactos, na captação ALGARVE INFORMATIVO #183
de estudantes e na transferência de conhecimento”, indicou, antes de referir que Portugal está classificado pelas Nações Unidas como um país muito desenvolvido. “No Índice de Desenvolvimento Humano, que assenta na esperança média de vida, os anos de escolaridade e o rendimento per capita, somos 41.º e, 34
como é obvio, queremos progredir e julgo que temos condições para tal”. De acordo com o Índice, Portugal é 22.º em termos de esperança média de vida, que irá aumentar ainda mais nos próximos anos, e está em 43.º lugar no rendimento per capita. Adivinha-se, por isso, que a componente dos anos de escolaridade não 35
será tão positiva no contexto nacional e, de facto, o nosso país está em 87.º, com 9,2 anos de escolaridade. “Todos sabemos que isso resulta da substituição de gerações, da fatura que foi contraída há 50, 60 ou 70 anos, quando Portugal não investiu nas pessoas. No Algarve, em 2015/2016, a taxa real de pré-escolarização foi de ALGARVE INFORMATIVO #183
85,6 por cento e temos que ficar muito insatisfeitos. A média nacional está nos 88,4 por cento e só a Área Metropolitana de Lisboa é que tem um valor inferior ao Algarve. E, se olharmos à taxa de desistência dos alunos do 1.º, 2.º e 3.º ciclos, a quantos concluem o ensino
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básico, também estamos abaixo da média nacional e pior do que nós só está a Região Autónoma dos Açores”, evidenciou Paulo Águas, mostrando-se, porém, convicto de que a situação se pode inverter caso os territórios se comprometam mais com a Educação.
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Francisco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa
Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve 37
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Depois da sessão de abertura, o colóquio prosseguiu com Lourdes Mata, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, especializada no estudo da literacia familiar, que falou sobre «As emoções na sala de aula - conhecer, reconhecer e gerir para Aprender a Ser». Depois, foi a vez do painel «Contribuição da Literacia Emergente para o desempenho em leitura no 1.º CEB», apresentado por Patrícia Constante, psicóloga na Câmara Municipal de Matosinhos e mentora de projetos escolares promotores de competências matemáticas e de literacia emergente. A manhã ficou ainda marcada pelas intervenções de João Canossa Dias, Diretor Técnico da Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã – ARCIL, com «Livros para a participação, histórias sobre inclusão!»; e da biblioterapeuta Sandra Barão Nobre, ALGARVE INFORMATIVO #183
com «Ler faz bem... aos Bebés XXS também!». Após o almoço, Dina Mendonça, investigadora na área da Filosofia das Emoções do Instituto de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, fez uma intervenção sobre «Filosofia para Crianças e Jovens: alguns aspetos fundamentais», área na qual tem vasta obra publicada. Seguiu-se Magda Gomes Dias, autora do blog «Mum’s the boss» e de best sellers na área da pedagogia, com «Quem tem medo da Parentalidade Positiva? Os cinco pilares» da Escola de Parentalidade e Educação Positivas, da qual é fundadora. A tarde foi ainda preenchida com três workshops: «Redescobrir e Reconstruir a Comunicação» (João Canossa Dias), «A 38
filosofia para crianças e jovens: O que fazemos com as nossas perguntas?» (Dina Mendonça) e «Desafios para a avaliação e intervenção nas dificuldades de aprendizagem no 1.º CEB» (Patrícia Constante).
lidos os 12 princípios do Direito a uma Cidade Educadora e foi enfatizado o compromisso da cidade de Lagoa nesta matéria por todos os elementos do executivo municipal liderado por Francisco Martins.
As conclusões do colóquio foram elaboradas por Maria Helena Horta (Escola Superior de Educação e Comunicação da UAlg) e o encerramento coube à Vereadora Ana Martins e ao Delegado Regional de Educação do Algarve, Alexandre Martins Lima. «Tecendo uma rede de cumplicidades» foi o título do espetáculo com que o Município de Lagoa concluiu o Dia Internacional das Cidades Educadoras, no Centro de Congressos do Arade, no Parchal, durante o qual foram
Recorde-se que a Autarquia de Lagoa declarou 2018 como o ano da «Cidade Educadora» e em todos os quadrantes da sua programação tem tido na Educação um dos grandes focos de interesse, na cultura, no desporto, na pedagogia, na cidadania, na igualdade de género. A vida do concelho tem, por isso, vindo cada vez mais a inspirar-se nos princípios da Carta das Cidades Educadoras e o programa «Lagoa, Cidade Educadora 2018» encontra-se
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em curso desde setembro, trazendo desafios à população através de um conjunto de atividades como apresentação de livros, leituras, colóquios, espetáculos, desporto, valorização do património local, capacitação de recursos humanos e gastronomia .
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REPORTAGEM
FORTALEZA DE SAGRES CONSIDERADA «LUGAR INTERNACIONAL DE CULTURA E PAZ» Texto:
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Observatório Internacional de Direitos Humanos atribuiu, no dia 10 de dezembro, à Fortaleza de Sagres, em Vila do Bispo, o título honorífico de «Lugar Internacional de Cultura e Paz». A distinção insere-se num cordão mundial de solidariedade, na esfera da cidadania global a favor da Paz e no reconhecimento pelo OIDH de alguns monumentos notáveis, hoje espaços de Cultura e de Paz, transmitindo tranquilidade, bem-estar e conhecimento a todos os que o visitam, promovendo os valores da interculturalidade, da igualdade e da paz. A cerimónia foi igualmente uma celebração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos 40 anos da adesão de Portugal à Convenção Europeia dos Direitos Humanos. O Observatório Internacional de Direitos Humanos, com sede mundial em Portugal, é uma organização sem fins lucrativos, livre e independente, que, através dos seus diversos núcleos, promove e participa em diferentes ações nacionais e internacionais, tendo como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana como valor inalienável e como objetivo primordial a defesa incessante dos princípios consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. “Acreditamos que é possível termos, na nossa vida quotidiana, atitudes de defesa dos direitos humanos, nomeadamente das pessoas que estão à nossa volta. Este tema pode parecer muito distante, mas, infelizmente, todos nós, de alguma forma, também violamos ALGARVE INFORMATIVO #183
os direitos humanos, cada vez que descriminamos alguém, que a desprezamos, que dizemos algo sobre ela pessoa que sabemos que não é verdade”, frisou Maria Luísa Francisco. A representante da OIDH recordou, a esse propósito, uma campanha das Nações Unidas de 2016 que tinha como título «Manifeste-se pelo Direito de alguém hoje», algo que podemos, e devemos continuar a fazer no nosso diaa-dia. “Passados 70 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem como um ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, importa insistir no apelo à razão e à consciência dos seres humanos, para assumirem o dever fundamental de agirem, uns com os outros, em espírito de fraternidade, condição essencial para a liberdade, a justiça e a paz”, apontou Maria Luísa Francisco, antes de entregar o título honorífico de «Lugar Internacional de Cultura e Paz» à Fortaleza de Sagres. “Sagres foi um lugar estratégico no início dos Descobrimentos Portugueses e é um monumento e lugar principal da história da Europa e do Mundo, tendo, por isso, sido distinguido, em 2015, pela União Europeia com a Marca do Património Europeu. Mas também é um lugar que associamos à paz. O patrimonium sacrum foi um local mítico e místico onde o mundo conhecido terminava e onde, desde sempre, a espiritualidade sobressaiu”, descreveu Maria Luísa Francisco. A edilidade de Vila do Bispo foi representada pelo Vereador Armindo 44
Maria Luísa Francisco, Alexandra Rodrigues Gonçalves e Armindo Vicente
Vicente, que avisou que “é muito fácil, hoje, pegarmos nos óculos da atualidade, com todo o seu crescimento e evolução, e fazermos juízos sobre o que aconteceu no passado”, numa alusão ao facto da Fortaleza de Sagres ter estado ligada, noutros séculos, à escravatura. “Quase toda a gente se esquece que este foi um equipamento militar e se transformou num equipamento de paz e união aonde toda a gente vai ter. Este património e espaço tem algo de diferente, basta pararmos e escutarmos o mar, somos completamente sugados pela força da natureza. Há aqui a conjugação da natureza e da vontade do homem para tornar a Fortaleza de Sagres ainda mais especial”, afirmou. E, à semelhança do que já tinha feito Maria Luísa Francisco, Armindo Vicente deixou uma palavra de enorme gratidão a 45
Alexandra Rodrigues Gonçalves por tudo o que fez, ao longo dos últimos cinco anos, como Diretora Regional de Cultura do Algarve. “Antes das pessoas partirem dos seus cargos é que devemos agradecer o que foi feito”, justificou o também Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo, entregando-lhe a medalha da instituição e uma placa em reconhecimento da ajuda prestada neste período. Sem esconder a emoção pelo gesto, Alexandra Rodrigues Gonçalves admitiu que, nestes cinco anos, “se construíram bastantes parcerias e se fez muito trabalho”. No seu último ato público na Fortaleza de Sagres, a Diretora Regional de Cultura do Algarve destacou o apoio da equipa sediada neste equipamento cultural, coordenado por Luciano Rafael. ALGARVE INFORMATIVO #183
“Todos deram o seu contributo e só assim é possível fazer mais e melhor. Certamente que há muitas iniciativas por desenvolver, mas hoje estamos aqui para assinalar um reconhecimento internacional da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. A Fortaleza de Sagres é um Monumento Nacional desde 1910, é um lugar de memórias e uma referência universal cujos valores simbólicos, históricos e naturais lhe dão uma maior visibilidade”, indicou. “Nesta finisterra do barlavento algarvio, território e espaço mítico da Antiguidade, o cabo do fim do mundo, ou do início, deu lugar a um espaço de santuários e de peregrinações. Aqui foi fundada a Vila do Infante, morada última do Infante D. Henrique, o iniciador dos Descobrimentos Portugueses, o percursor da globalização”, enfatizou Alexandra Rodrigues Gonçalves.
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De acordo com a Diretora Regional de Cultura do Algarve, a Fortaleza de Sagres é um dos lugares físicos que a memória europeia e universal associa ao início de importantes mudanças históricas, aos desenvolvimentos técnicos e científicos, ao englobamento de várias áreas do mundo que passaram a estar em intercomunicação, “contribuindo para novos diálogos entre mundos e civilizações e para o intercâmbio de valores humanos”. “Sentimo-nos muito honrados por esta distinção simbólica de «Lugar Internacional de Cultura e Paz». Muito se fala da Fortaleza de Sagres dos tempos da escravatura, da pirataria e dos corsários, de momentos menos felizes da história da humanidade, mas que são hoje exemplos de aprendizagem daquilo que não deve continuar a acontecer” .
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ENTREVISTA
VIAJAR PELA ÍNDIA ATRAVÉS DOS RETRATOS ESCRITOS DE NAPOLEÃO MIRA Texto:
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ascido em Castro Verde, corria o ano de 56 do século passado, Napoleão Mira estreou-se nas lides literárias com «Ao Sul», em 2010, um compêndio das crónicas que vinha escrevendo para alguns títulos de imprensa regional. Dois anos depois aventurou-se no primeiro romance, «Fado», e mais dois se passaram até lançar «De Coração d’Interiores», mais um tomo de crónicas. Em 2016 editou o disco «12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado» e já este ano criou a performance artística «Manual Prático Para Emoções Fortes», bem como publicou o livro «Luz de Santiago», em parceria fotográfica com Luís Salvador. Pode-se dizer que começou tarde nestas coisas da escrita e das cantigas, mas apanhou-lhe o gosto e tem sido, de facto, uma década bastante profícua para este alentejano, que desde o dia 15 de dezembro tem mais um título à venda, «Relatos da Índia», o primeiro de uma nova coleção – Olhares – assim desejem os leitores que haja mais volumes. Uma escrita sobre viagens que “não é um diário ou guia de viagens, mas sim um testemunho daquilo a que eu chamo palavras instante”, esclarece prontamente Napoleão Mira, adiantando que a maior parte dos textos foram produzidos em direto, no momento, nos locais onde se encontrava, porque algo assim o ditou. “Em muitos casos, como era a primeira vez que estava a ver determinada situação, até pensava que tinha descoberto a pólvora, mas, afinal, era uma banalidade. Este livro é uma ALGARVE INFORMATIVO #183
forma de as pessoas viajarem comigo pelos sítios por onde passei, sentirem as mesmas coisas que eu senti, sentando-se nas mesmas escadas ou mesas onde eu me sentei”. Emoções cruas, sem edição ou cortes, tirando as eventuais correções gramaticais, pouco apegado a questões literárias, do que fica bem ou menos bem, garante o autor. “Procurei traduzir por palavras aquilo que os meus olhos viram e foi assim que o livro ficou”, explica, de sorriso nos lábios, porque realmente lhe dá um tremendo gozo escrever. “Estou constantemente perante pessoas, situações, paisagens ou acontecimentos que me são novos e tenho uma necessidade intrínseca de os registar. Fiz várias viagens à Ásia das quais poderão surgir novos capítulos deste «Olhares», entre elas duas à Índia, em 2016 e no início de 2018, de cerca de dois meses, que aqui estão retratadas”, conta, adiantando que não se limitou a visitar a Índia dos conhecidos postais ilustrados. “A nossa maior preocupação foi viajar à indiana – uma experiência que recomendo vivamente a todos os que não sofrem de claustrofobia – comer à indiana e viver, muitas vezes, na casa dos indianos. Mais do que uma viagem turística, tratou-se de uma experiência antropológica, com pessoas de outro continente, religião, civilização e cultura, que têm um ADN e existência com mais quatro ou cinco mil anos do que os portugueses”. Napoleão Mira assegura que o próprio país é quase um continente em si, com 52
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realidades bem distintas entre os vários estados, e é esta magnitude que enriquece ainda mais a experiência. Entrevistado que nestas aventuras se faz sempre acompanhar pela esposa Natália, a grande impulsionadora destes projetos, admite, confessando-se um pouco preguiçoso nessas questões. “Ela normalmente ALGARVE INFORMATIVO #183
vasculha e procura tudo o que há para saber sobre os nossos destinos. Nestas duas vezes, contudo, apenas compramos um bilhete de avião para Nova Deli e Bombaim e reservamos um quarto de hotel porque chegávamos lá durante a noite. No dia seguinte metemos as mochilas às 54
aspeto civilizacional que vemos na televisão e no cinema. Algumas são grandes atrações turísticas, fortalezas e palácios, o tal luxo asiático. Noutros sítios as pessoas vivem como sempre viveram e é fantástico assistir a isso ao vivo”, comenta. Para visitar a Índia é preciso, todavia, estar preparado para o que se vai encontrar, aconselha Napoleão Mira, para os cheiros e sabores, para as loucas viagens nos autocarros e comboios superlotados de pessoas e animais. Isso não significa que tenha feito demasiados preparativos antes de abalar, quase nenhuns, nem se preocupou muito com as questões de saúde. “Eu sei como a televisão se faz e acontece, mas prefiro esquecer-me dessas coisas e simplesmente assistir à magia das imagens me entrarem pela casa adentro. O deslumbre é muito maior dessa maneira e é com essa mentalidade que parto para as minhas viagens. Claro que numas situações fiquei deslumbrado, noutras fiquei dececionado com o que encontrei”, confessa.
costas, vimos de onde soprava o vento e lá fomos. Isso fez com que, por exemplo, tenhamos ido parar a uma cidade que não interessava nem aos bichos-da-seda, não havia nada, nem centro tinha. No Norte, claro, é inevitável que se viaje pelo Rajastão, as cidades dos Marajás, onde está toda a imponência e aquele 55
Publicar um livro não era, diga-se de passagem, um objetivo pré-definido antes de rumar à Índia, e aos outros locais que poderão dar azo a novos «Olhares». Escreve apenas para memória futura, para mais tarde recordar as suas experiências, para não se esquecer dos sítios, das pessoas, das paisagens. “Depois mostrei os textos a ALGARVE INFORMATIVO #183
alguns amigos, que os consideraram brilhantes, disseram-me que estavam a viajar comigo à medida que iam lendo as minhas palavras. Não me interessava fazer o típico registo do escritor de viagens, não é um objeto literário na essência da palavra, é sim um exercício de espontaneidade de escrita”, considera Napoleão Mira, desvendando ainda que «Relatos da Índia» é um livro interativo. De facto, ao longo do livro é possível encontrar 11 «olhos» em forma de QR Code que transportam os leitores para as galerias de imagens publicadas no sítio de internet do entrevistado. “Não andei constantemente a tirar fotos a tudo e todos, mas estão lá cerca de 350 fotografias”, aponta. Site www.napoleaomira.com onde também é possível fazer a aquisição do livro, que para já não estará à venda nas lojas físicas. Ler «Olhares – Relatos da Índia» é, portanto, uma experiência diferente e ALGARVE INFORMATIVO #183
bastante interessante e o livro até nem demorou muito tempo a ser produzido, porque Napoleão Mira já tinha os relatos da viagem de 2016 mais ou menos finalizados. “Juntei-me com o Hélder Encarnação, o revisor e editor de todos os meus livros, e fizemos uns belos duns serões para aprimorar o produto final. Também estou muito satisfeito com a capa, feita pelo noivo da minha filha, o Martim Rose, que numa pequena simbologia retrata tudo o que está no interior do livro”, diz o entrevistado, confirmando que este poderá ser o primeiro de uma série de outros «Olhares». “Tenho outro livro pronto sobre a Bolívia e o Perú e, se os leitores disserem que «sim» a este, imediatamente avançarei para o próximo”, assegura. Este não é, no entanto, um romper com o passado, elucida de imediato, porque as pessoas estão constantemente a perguntar por um novo romance. “Para ser sincero, ele está a bailar-me no pensamento, mas continuo a sofrer do medo do segundo romance. No primeiro mergulhamos de cabeça, no segundo a responsabilidade é maior, tenho que surpreender os leitores. A história está num casco de carvalho francês a ganhar corpo e julgo que, por entre os concertos e as apresentações dos livros, conseguirei avançar brevemente para esse projeto. Para o próximo «Olhares» é só uma questão de ordenar o material por capítulos”, revela. As crónicas são outro aspeto do seu dia-a-dia do qual não abdica, uma 56
corrida contra o tempo mesmo quando não há inspiração ou tema para escrever. De repente, a torneira abre e jorram os caracteres. Os relatos das viagens são um gozo mais recente que lhe permite regressar, no futuro, aos lugares por onde vai passando. “Também escrevo poesia, mas o romance é o suprassumo da escrita. É um trabalho de alpinista, solitário, onde damos vida a personagens, que crescem e morrem por nossa vontade. Somos uma espécie de Deus que cria vidas e temos total poder sobre elas”, compara Napoleão Mira. Quanto a novas viagens, reforça, com uma risada, que é a esposa que trata de todo planeamento. “Às vezes dou a minha opinião, mas normalmente vou como se 57
fosse bagagem dela. Gostava de voltar a Cuba porque, quando lá estive numa típica viagem de turista, não escrevi nada e perdi todas essas memórias. Mas também gostava de regressar às Filipinas, Malásia e, claro, à Índia, porque é um país absolutamente devastador no sentido do tal deslumbre. São surpresas atrás de surpresas porque, antes de ser colonizada pelos europeus, era composta por cerca de 600 reinos, unidos sobretudo pela religião”, salienta, antes de autografar um exemplar destes autênticos «retratos escritos» para o jornalista. Que será certamente lido .
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RUI NETO TROUXE O MUNDO IMAGINÁRIO DE «VÄLUTE» AO CAPA Texto:
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DeVIR|CAPa encerrou o seu ciclo de programação do último trimestre de 2018, no dia 7 de dezembro, com a apresentação de «Välute», de Rui Neto, espetáculo que contou com a interpretação de Margarida Cardeal no papel de protagonista e de Cristina Milho, Drica Gomes, Martyn Gama e Roger Madureira. Välute que é um lugar imaginário, um território fronteiriço, invisível, onde tudo é possível, onde o sonho se confunde com a realidade. “O regresso a este texto (Luto, 2012) surge da vontade de o reescrever cenicamente, encontrando um universo mais maduro e criativo”, explica o conhecido ator, encenador e realizador de Lisboa. Mais do que bater na tecla da «morte», Rui Neto prefere associar o luto a estratégias de sobrevivência, “mesmo que se percam em memórias, sonhos e pensamentos circulares, ou em clichés teatrais”. “Inevitavelmente olho para Hamlet e para os seus fantasmas, mas afasto-me porque o meu compromisso, para já, não é para com ele. Prefiro brincar com as palavras e encontrar o feminino do seu luto: Luta”, refere o criador de «Välute», “porque é fértil, tem ganas, tem vida”, justifica. Mas este espetáculo é igualmente um reencontro de amigos “que incansavelmente dedicam o seu tempo a construir as minhas miragens, e a acreditar nelas, apesar do frio e dos dias frágeis”, agradece. Em «Välute», o homem é mulher, que é homem novamente, que é bicho, que não é coisa nenhuma, desvenda Rui Neto. “A memória surge difusa em breves fragmentos de lucidez, para logo se dissipar. Um regresso ao Éden, ou talvez seja este o lugar morte. Um luto mal resolvido, como o de Hamlet, ou uma efabulação de um purgatório. Talvez seja Välute”, deixa no ar o encenador .
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PEP BOU DESLUMBROU TEATRO DAS FIGURAS COM EXPERIÈNCES Texto:
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m espetáculo diferente, mágico, deslumbrante, encheu de cor e criatividade o palco do Teatro das Figuras, em Faro, no dia 7 de dezembro, com «Experiències» de Pep Bou, um conceito que tem por base três elementos simples: água, sabão e música. Desde a década de 80, altura em que decidiu aventurar-se no teatro de bolas de sabão, o espanhol já ganhou vários prémios de grande prestígio e visitou muitos dos grandes teatros e festivais de todo o mundo, surpreendendo e encantando públicos de diferentes idades e culturas. Em palco, Pep Bou apresentou o seu universo de bolas de sabão, resultado de um processo de investigação e criação impressionantes, com a mestria e o humor de um entertainer experiente. Por isso, o espetáculo para miúdos e graúdos deixou de boca aberta todos aqueles que se deslocaram ao principal equipamento cultural da capital algarvia e se deixaram envolver pelas esvoaçantes bolas multicoloridas de Pep Bou . ALGARVE INFORMATIVO #183
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OS ANOS NÃO PASSAM POR SÉRGIO GODINHO E O CINE-TEATRO LOULETANO RENDEU-SE A SEUS PÉS Texto:
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epois de um concerto inédito com Filipe Raposo e o Ensemble de Flautas de Loulé, a 30 de novembro de 2016, Sérgio Godinho regressou ao Cine-Teatro Louletano, sensivelmente dois anos depois, para mais um fantástico espetáculo, no dia 8 de dezembro. Com o mais recente disco «Nação Valente» na bagagem, e outros ALGARVE INFORMATIVO #183
temas incontornáveis do seu percurso musical, Sérgio Godinho subiu ao palco com a sua banda de sempre, «Assessores», e o pianista, compositor e arranjador Filipe Raposo, mas também com a Orquestra Clássica do Sul, em mais um desafio lançado pela programação artística deste equipamento cultural da cidade de Loulé. Desafios é do que este «escritor de canções» mais gosta, num percurso 82
artístico que tem sido marcado por passagens frequentes por Loulé, sempre bem-sucedidas, e a noite de 8 de dezembro não foi exceção, com lotação completamente esgotada e um público extasiado com a nova abordagem que foi feita à obra de Sérgio Godinho. «Nação Valente» é o seu 18.º trabalho de estúdio, um álbum que nos traz de volta ao conforto e à inquietação com que o autor nos tem brindado ao longo do seu trajeto. Porque olhar para a sua carreira é também descobrir uma parte significativa da nossa 83
própria vivência, do quotidiano, amor, lutas, perdas e alegrias do povo lusitano das últimas décadas. Um povo que se rendeu aos pés do inconfundível artista, um homem por quem os anos parecem não passar, sempre cheio de energia, de sorriso nos lábios ao ver o modo como a assistência reage às suas palavras e mensagens. Enfim… uma noite em cheio no Cine-Teatro Louletano. Mais uma .
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ALGARVIANA ULTRA TRAIL MOSTROU O ALGARVE INTERIOR AO MUNDO Texto:
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segunda edição do ALUT – Algarviana Ultra Trail decorreu entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro, mas a preparação teve início há um ano e, para além do reforçado apoio da RTA – Região de turismo do Algarve, contou também com o apoio da Almargem, entidade gestora da Via Algarviana. Neste evento, os participantes desafiam-se a correr por entre cerros e serras, desde Alcoutim até ao Farol do Cabo de São Vicente, no concelho de Vila do Bispo, sempre pelo interior algarvio ao longo de 300 quilómetros. Para além da distância e das constantes subidas e descidas, as noites escuras e as condições climatéricas são os principais fatores de dificuldade.
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Esta foi uma edição de consolidação, em que o limite máximo de inscritos passou de 60 para 100 atletas, sendo estas preenchidas por 22 atletas divididos por seis equipas (cinco quadras e uma dupla) e os restantes 88 inscritos a solo. As inscrições tiveram origem em 12 nacionalidades - Portugal, Espanha, França, Suécia, Escócia, Inglaterra, Luxemburgo, Polónia, Uruguai, Canadá, Estados Unidos e Japão - reforçando a internacionalização do evento que, entre outros, tem por objetivo promover o Algarve enquanto destino de excelência para a prática desportiva, em especial na época baixa, contribuindo assim para o combate da sazonalidade na região. Muito embora todos os atletas que comparecem junto à linha de partida 94
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sejam vencedores, do ponto de vista competitivo é de referir que apenas 28 atletas cruzaram a meta, com destaque para a disputa entre o João Oliveira e o japonês Wataru Iino, duas referências da modalidade a nível mundial. A competição entre as mulheres foi igualmente empolgante. De facto, na edição anterior apenas uma mulher ousou desafiar-se no ALUT a solo, contudo, nesta edição de 2018, foram oito as senhoras que partiram de Alcoutim rumo a Sagres nessa modalidade. Destas, cinco concluíram o ALUT, com Cidália Martins, da equipa «Vendas Novas Trail», a dominar metade da prova. No entanto, problemas com o GPS levaram-na a perder a posição para Sylvie Mathis, francesa que viria a subir ao lugar mais alto do pódio feminino. Um merecido destaque ainda para a atleta Patricia Carvalho, da ATR – Algarve Trail
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Running, que, não tendo conseguido concluir a prova em 2017 devido a lesão, este ano regressou e ascendeu ao segundo lugar do pódio. O ultramaratonista João Oliveira, da «Chaves Run Team-Associação Desportiva Dragões de Chaves», voltou a vencer isolado o ALUT – Algarviana Ultra Trail, desta feita tendo precisado apenas 41 horas e 40 minutos, menos uma hora e 24 minutos do que em 2017, para percorrer os 300 quilómetros do percurso. Apesar de repetente, João Oliveira garantiu, à chegada a meta, que isso não foi um fator adjuvante. “Sinceramente, não me lembrava de 95 por cento do percurso”, admitiu. Os problemas climatéricos, nomeadamente a chuva e o frio, aliados à lama que se
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formou no terreno, foram os grandes desafios da prova para este atleta. O segundo homem a ver o Farol do Cabo de São Vicente ainda de dia foi o japonês Wataru Iino. O atleta, que no ano passado venceu a Badwater, no EUA, e que já participou nas provas mais exigentes do circuito mundial, como a Maratona das Areias ou a Diagonal des Fous, precisou de pouco mais de 46 horas para terminar esta viagem pelo Interior Algarvio. O terceiro classificado, João Faustino, a correr pelo «Pronto a Comer A Cozinha Portimão», chegou à meta às 22h30, após 54 horas de prova. Os atletas atravessaram o Algarve interior e profundo onde as populações esperavam pela sua passagem de forma entusiasmada. Na primeira noite foram obrigados a vencer o frio, chuva e o forte
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nevoeiro que se fazia sentir na zona da segunda base de vida, em Cachopo, onde a Presidente da Junta permaneceu até às duas horas da manhã só para cumprimentar pessoalmente a primeira atleta feminina a chegar. Ao contrário da edição anterior, este ano todas as ribeiras levavam água, obrigando os atletas a molharem os pés, potenciando dificuldades acrescidas como bolhas e gretas, levando a uma decisiva e ponderada gestão do equipamento. À segunda noite muitos atletas passavam a zona de Messines com um céu estrelado e iluminado pela lua que deixava ver o cenário deixado pelos incêndios do último Verão. Foi uma noite com temperaturas amenas, o que permitiu uma boa progressão rumo
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a Monchique. As subidas à Picota e Foia, os picos mais elevados de toda prova, fizeram-se sentir nas pernas dos atletas, mas as vistas a 360.º de todo o Algarve fizeram esquecer qualquer dificuldade e deram ainda mais forças para os próximos destinos: as bases de vida de Marmelete, Barão de São João e Vila do Bispo. Para a maioria dos atletas, a terceira e última noite do ALUT foi passada entre Marmelete e Vila do Bispo, com muito frio à passagem pelas margens da barragem de Odiáxere, já no Concelho de Lagos, levando a que muitos atletas optassem por descansar e aquecer na base de vida localizada às portas da mata de Barão de São João antes de prosseguirem.
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Além da vertente a solo, o ALUT também podia ser concluído por equipas de dois, três ou quatro elementos. Nesta modalidade, a equipa «Helpo@ALUT», constituída por Paulo Alves, Francisco Dias, Rosa Silvestre e Marcelo Silva, voltou este ano também a ser a mais rápida a chegar à meta e a única a bater João Oliveira. Este ano, a equipa correu pela reflorestação de Monchique, o concelho mais afetado pelos incêndios deste Verão. Em segundo lugar chegou a equipa ATR - Algarve Trail Running, constituída por Ana Peixinho, José Pina, Ivo Roque e Lúcio Sustelo. A fechar o pódio ficou a «Loulegest», de Marisa Francisco, João Martins e Vicélio
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Mendes. “A prova superou todas as expetativas em termos de participação de atletas, equipas de apoio, famílias e envolvimento dos organismos e população locais”, assumiu Bruno Rodrigues, presidente da Direção da ATR. A cerimónia de entrega de prémios, que decorreu no dia 2 de dezembro, no Cabo de São Vicente, em Sagres, contou com a presença da Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Rute Silva, do Vice-Presidente da Associação Almargem, Edgar Figueiredo, do comandante do posto da GNR de Vila do Bispo em suplência, Paulo Amador, do chefe do Farol do Cabo de São Vicente, António Correia, e de representantes da Marinha. “As famílias dos faroleiros do Farol do Cabo de São Vicente fazem-nos sentir literalmente em casa, durante três dias rompemos pelas suas residências adentro e sentimo-nos verdadeiramente em família”, destaca Germano Magalhães, 101
presidente da Assembleia-Geral da ATR, adiantando ainda que “as relações que se criam entre organização, entidades e atletas são de uma profunda gratidão, amizade e cumplicidade”. “São amizades para a vida! São dias e noites vividas com tal intensidade que iniciamos esta prova como ilustres desconhecidos e acabamos como uma família”, garante. Depois de uma primeira edição na qual o ALUT teve como missão mostrar que poderia ser um cartão de visita para o Algarve, particularmente o Interior, a organização mostrou-se agradavelmente surpreendida pelo apoio recebido, não só dos parceiros RTA, ANA e Associação Almargem, como de todas as câmaras municipais, juntas de freguesia, bombeiros voluntários e grupos e coletividades locais, além da população que durante três dias incentivou os atletas ao longo ALGARVE INFORMATIVO #183
do percurso e fez questão de os mimar nas bases de vida, com produtos caseiros e regionais. Mais surpreendente ainda foi “o impacto que a prova teve a nível nacional e internacional, seja na vertente competitiva como no interesse gerado em acompanhar o evento e conhecer a região através dele”, realçou Bruno Rodrigues. Do ponto de vista do interesse no evento, para além das pessoas que se deslocaram ao Algarve para assistir à prova, mesmo não tendo familiares e amigos a competir, há que salientar o facto de as populações locais terem saído à rua para incentivar e apoiar os atletas. “E foi enorme o número de pessoas que acompanharam a prova através da plataforma online, uma média de 45 mil page views diárias durante os três dias do evento”, revelou Germano Magalhães. Para 2019 o ALUT – Algarviana Ultra Trail já tem data marcada, disputando-se entre ALGARVE INFORMATIVO #183
28 de novembro e 1 de dezembro e com algumas novidades. “Estamos já em busca de apoio financeiro que permita apresentar ao mundo uma inovação em provas desta envergadura. É uma tarefa árdua, mas estamos convictos que iremos conseguir e com isso afirmaremos definitivamente o Algarve como destino de excelência para a prática desportiva”, antevê Germano Magalhães, indicando que, apesar do interesse no evento cada vez mais crescente dos atletas, o número de inscrições disponibilizadas deve manterse nos 100. “Este número reflete o limite das nossas capacidades para conhecermos e tratarmos cada atleta de forma individual, com toda a dedicação e atenção. O ALUT não é uma corrida, é uma viagem. Uma viagem interior, pelo Interior e nada disto é compatível com um evento de massas”, justifica . 102
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Para quando: “Paz, pão, habitação, saúde e educação”? Paulo Cunha (Professor) á quase seis anos, no dia 20 de abril de 2013, escrevi este pequeno texto que então, fruto do que sentia, me fez todo o sentido: “Eu, simples português, atrevo-me a partilhar a minha angústia, consternação e desalento por vivenciar quotidianamente o drama de ver todo o meu país hipotecado para pagar dívidas contraídas para, supostamente, melhorarmos de vida. Constato diariamente que, em prol do crescimento económico se destroem carreiras, deitam-se para o lixo conhecimentos irrecuperáveis, perdem-se moradas de família, condenam-se seres produtivos a vegetar em casa dos pais e vilipendia-se a necessidade básica de ter o que comer para sobreviver. Pouco sei de economia e de finanças, sei apenas que um povo triste, amargurado e maltratado pouco ou nada fará para recuperar da depressão generalizada a que todos aqueles em quem confiaram para lhes traçar o rumo, o condenou. Quantos de nós, que temos ainda o privilégio de poder ler estas palavras, não temos uma situação destas a acontecer na família ou com os nossos amigos? Posso parecer inconsequente ou até inconveniente, mas os mercados financeiros não me fazem chorar… faz-me chorar ver várias gerações que em toda a sua vida acreditaram ser um mero joguete nas mãos de interesses anónimos e camuflados. Merecíamos mais… muito mais!”. Para além de estarmos seis anos mais velhos, questiono se estaremos, hoje, seis anos mais maduros e mais sábios? É que ao ler estas palavras escritas sobre o efeito da situação provocada pela crise económico-financeira que então assolava Portugal, questiono-me se as mesmas continuam a fazer sentido? Conseguireis vós, que ora me ledes, fazer uma análise isenta e equidistante das vossas mais
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fervorosas convicções partidárias e ideológicas e, assim, descortinardes qual é a real situação em que nos encontramos? Para além da cosmética e da manipulação a que os números que todos os dias nos são apresentados são sujeitos, temos que saber ler o que se passa, efetivamente, no terreno. A realidade acontece para além dos gabinetes e das agências de promoção e de marketing, basta estarmos atentos ao que nos rodeia e prestar também atenção aos sinais que vêm de fora. Numa economia global, tudo o que de anómalo acontece lá fora, inevitavelmente, contagiarnos-á cá dentro. Não estando vinculado a qualquer interesse ou cor político-partidária, continuo a preocupar-me com «coisas comezinhas» que muitos esquecem quando começam a subir nas suas almejadas escadas e escalas hierárquicas. Coisas comezinhas como a falta de comida no prato, a falta de assistência médica atempada e eficaz, a falta de um teto, enfim… a falta de igualdade nos deveres, mas sobretudo nos direitos. Por isso me confrange e entristece ver, cada vez mais, a sociedade civil a substituir-se a Governos mais preocupados em fazer boa figura do que ter na figura dos seus eleitores o orgulho de um trabalho bem feito. Não querendo parecer fatalista, derrotista nem negativista, (porque não o sou!) relembro aqui, também, o que a Assistência Médica Internacional (A.M.I.) escrevia há oito anos: “Os portugueses continuam a empobrecer. Há uma nítida tendência para um crescente número de casos de pobreza. A grande maioria das pessoas que pede auxílio encontra-se em plena idade ativa, entre os 21 e os 59 anos de idade”. A terminar os dezoitos primeiros anos deste novo século, Portugal encontra-se mergulhado num ciclo de greves e de contestação, resultantes das condições laborais a que grande
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parte dos trabalhadores dos setores privado e público foram empurrados e obrigados a viver na última década. Daí esta minha reflexão, questionando se, a nível estrutural e estruturante, foram ou estarão a ser tomadas as medidas necessárias e objetivas fruto do 107
desejo, convergência e apoio por parte de todas as forças políticas que têm assento na Assembleia da República? Quase cinquenta anos passados, “Paz, pão, habitação saúde e educação” continuam a ser um desígnio nacional, por cumprir! . ALGARVE INFORMATIVO #183
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Há poetas que são como autoclismos avariados Adília César (Escritora) “Dizem que não há mulher feia Também não há má poesia. Que a natureza a tudo premeia”. (Samuel Úria, Má Poesia Feia)
ir John Harington nasceu em Kelston, Reino Unido (baptizado a 4 de agosto de 1560 e falecido a 20 de novembro de 1612), era um cortesão inglês, poeta e tradutor. O que muita gente não sabe, é que ele ficou na história como o inventor do autoclismo, apesar de se conhecer a existência de espaços sanitários públicos, em forma de bancos conjuntos, nas cidades grecoromanas da antiguidade. Foi na corte da Rainha Elisabeth I que J.H. se notabilizou, sendo conhecido como o seu «afilhado atrevido», mas a poesia e outros escritos tendencialmente críticos em relação à monarquia contribuíram para a sua desgraça, passando a ser repudiado pela rainha. «Um Novo Discurso de um Sujeito Velho, chamada Metamorfose de Ajax» data de 1596 e é um texto controverso, uma alegoria política e um ataque à monarquia, ainda que codificado. Sem dúvida, a sua obra mais conhecida. Neste «novo discurso», J.H. descreve aquilo que seria hoje uma sanita moderna com descarga (o «autoclismo»), a qual chegou a ser instalada na sua casa em Kelston: esta nova invenção seria melhorada em 1778, por Joseph Bramah. O século XVI é referenciado como a época em que era vulgar o uso da cadeira de madeira com um recipiente colocado no seu interior, destinado à recolha os dejectos das pessoas, nas casas das famílias mais abastadas. Em 1739 é finalmente criado o primeiro WC público dividido por género feminino e masculino e em 1885, Thomas 109
Twyford lançou as inovadoras sanitas de porcelana que substituíram rapidamente, pelos motivos óbvios, as cadeiras de madeira: as peças de louça eram mais bonitas e de fácil limpeza. Sanitas com sifão foram colocadas à disposição dos potenciais utilizadores no final do século XIX, e no século XX a invenção ganhou popularidade: objectos funcionais e imprescindíveis no nosso dia a dia. É interessante referir que no livro As 100 maiores invenções da história, o escritor americano Tom Philbin classificou-o na 16ª colocação. Parecendo, esta crónica não é sobre sanitas e autoclismos, embora a introdução seja absolutamente necessária para a compreensão do que vem a seguir. Afinal o inventor do autoclismo também era poeta… Portanto, a minha reflexão vai para uma determinada linha de poesia rebuscada nos canos da inspiração e do sentimentalismo. A poesia, coitada, conspurcou-se. Agora, todos «têm vontade» e «sabem» escrever poemas, ou seja, ser poeta já não é uma condição inerente ao ofício literário, parecendo congregar funções terapêuticas, exibicionistas e decorativas: desabafos salteados, solturas metafóricas, palavras cruzadas de semântica indigesta. Em suma, matéria biodegradável, de perenidade imediata, porém, infelizmente, sempre imperativa. Há versos que são como dejectos, mas quando se trata de poemas inteiros, então, é preciso uma boa descarga de água para higienizar o pensamento poético. Eu entendo: há poetas que são como autoclismos avariados .
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Do Reboliço #19 Ana Isabel Soares (Professora) Reboliço acordou com a pulga atrás da orelha. “És tu, Firmina?”. Ela deu um risinho e acenou apenas, do cimo da ponta da orelha do Reboliço, a cabeça minúscula a roçar a pele do bicho canino e a fazê-lo levantar a pata de trás, subir o focinho apontado ao céu, esticar bem o pescoço, fazer um sorriso que tantas vezes, olhando para ele, se pensa ser um esgar, e coçar, coçar, coçar do cachaço para cima. Como se divertia com aquele balançar. Ouviu-a e sentiu-a o Reboliço: “Dianho da pulga, tanto tempo sem se deixar ver, e aparece sem avisar nem nada. Por onde andaste tu?”. “Por aqui e por ali, Reboliço. Sabes que não sou como o pé da formiga: não me prende neve, sol, paredes, ratos, nem cães, tempos nem outros lugares. Aos saltinhos, vim-te ver”. Já quieto, o Reboliço voltou a sorrir: pensava em como o veria a ele aquele pedaço de mundo, pulguinha de nada, se a ela própria mal se via. Quando queria saber dela, metia-se entre o ervaçum crescido do socalco do moinho, roçava, enrolando o corpo no chão nas folhas das ervas, e esperava. Se não lhe desse a coceira, era que andava a Firmina longe, distante dentro da lã de alguma ovelha, cabra ou coelho, a cabeleira mais farta de alguma mula, ou crina de cavalo. Estando por ali, subia-lhe ela para o corpo gigantesco e não tardava que o Reboliço sentisse a impressão da coisa viva que era a Firmina a subir-lhe pela perna esquerda, avançar-lhe quase sem se dar por ela, lombo acima, e chegar-lhe à ponta do focinho. Os olhos magnificados do Reboliço olhavam então em simultâneo ALGARVE INFORMATIVO #183
para aquele ponto de pulga e ficava ele cão vesgueiro e ela em sublime contemplação da doçura. “Conta. Diz-me o que viste que mais te encantou”. “Foi no que li que mais encanto vi, Reboliço. Vi ‘duas gotas de água muito juntinhas, agarradas uma à outra para não se perderem na vastidão do universo.’ Vi que, assim como o teu dono velho: ‘Trabalharam para moer o pão – raque, raque, raque – na roda do moleiro, e, para cima e para baixo, fizeram andar a serra que desmeia o pinheiro em tábuas e fasquio.’ Fui como as andorinhas do Raúl Brandão e da sua Maria Angelina, sabes?, aquelas que voavam ‘entranhadas no azul’ e se esqueciam que haviam sido ‘um penêdo, a outra seixo’. Saltando de um lugar para o outro, pisando ali e acolá, tenho corrido desde Norte até Sul, de Ocidente a Leste (tu sabes onde ficam, Reboliço, mesmo se não deixas o teu canto)”. “Está certo – é conforme me dizem essas andorinhas, quando cá chegam em amornando o tempo, mais as pegas rabudas que aqui sempre vêm roubar uvas e picar os figos, e irritar as gentes que deles cuidam, a rara perdiz, ou os pardelhos que fazem paragem nos cabos dos mastros, chilreando ordens de nova viagem. A eles ouço, mas não lhes digo nada, Firmina: fico a olhar de olhos levantados, para eles, lá em cima, e parecem-me, de longe, pontos pequenos como tu”. Ela, muito feliz por de novo ver e ouvir o canito, chama-lhe Gulliver e dá-lhe outra dentadinha . *Reboliço é o nome de um cão que o avô teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. 110
Foto: Vasco Célio
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As tendências do Marketing Digital para 2019 Fábio Jesuíno (Empresário) Marketing Digital é cada vez mais importante nas estratégias de comunicação das empresas, contribuindo ativamente para os seus sucessos. O mundo é cada vez mais digital, a nossa sociedade vive atualmente uma nova revolução industrial onde a internet ganha grande importância como agregador de várias ferramentas digitais que estão a mudar a nossa forma de comunicar e de viver. Saber as tendências do Marketing Digital é crucial para a definição das estratégias de comunicação, quando bem implementadas tornam-se um fator diferenciador e de competitividade. Dessa forma, decidi escolher e analisar as principais tendências de marketing digital para o próximo ano: Inteligência Artificial Considero a principal tendência do próximo ano muito abrangente nos mais diversos sectores, o seu funcionamento é baseado em algoritmos que permitem às máquinas aprenderem sem serem explicitamente programadas para esse fim. A inteligência artificial é hoje em dia utilizada nas mais diversas formas, desde a experiência do cliente com base no seu comportamento de compra, atividade na internet ou redes sociais, destacando-se a utilização de bots que servem para automatizar tarefas que seguem um padrão, como a utilização por parte das empresas para responder aos pedidos dos clientes simulando interação com um humano. Transmissões ao vivo O vídeo em direto é importantíssimo em qualquer estratégia de marketing digital para a criação de uma relação próxima com o públicoalvo de uma determinada marca, permitindo uma forte interação.
as marcas construírem progressivamente um relacionamento de confiança com o seu públicoalvo e dessa forma conquistarem a preferência. É sempre importante a implementação de uma estratégia focada no mercado-alvo, porque nem todos os conteúdos que se criam são relevantes para obtenção de bons resultados em termos de posicionamento nos motores de busca e também na credibilidade da empresa Influenciadores É a tendência com maior evolução nos últimos anos, com impacto em grande escala na sociedade. Youtubers, instagramers, bloggers que inspiram grandes números de seguidores, despertando o investimento das marcas. Uma atividade em grande crescimento. Os influenciadores digitais são pessoas, personagens ou grupos que ganham grande popularidade nas redes sociais. Estes influenciadores criam uma grande variedade de conteúdos que acabam gerando um elevado número de fãs que seguem as suas atividades com grande interesse e eventualmente partilham com outras pessoas. Pesquisa por voz A simplicidade de uma pesquisa por voz é clara, preferindo de uma forma rápida e fácil obter qualquer tipo de informação, segundo dados da Mobile Voice Usage Trends, aponta que em 2018, 40 por cento das pessoas usaram pesquisa por voz. É a grande novidade para o próximo ano e um grande desafio para as marcas, que deverão criar conteúdos de qualidade com uma linguagem natural para obterem mais destaque neste tipo de pesquisas. Estas são as tendências que, na minha opinião, vão fazer a diferença no próximo ano no marketing digital. Tenho a convicção que vão ser um sucesso e permitir uma taxa de conversão muito animadora .
Conteúdos Foi uma das principais tendências de 2018 e vai continuar a ser. Os conteúdos são essenciais para
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Investigação e excelência no Algarve Antónia Correia (Professora e Investigadora) ecentemente Portugal recebeu pela segunda vez o prémio de melhor destino do mundo, quase simultaneamente a Universidade do Algarve foi reconhecida no ranking de Xangai pela investigação em turismo. Mais ainda, este ano finalizou-se a agenda de investigação em turismo, lazer e hospitalidade. Uma agenda que cristaliza a excelência da investigação e reconhece esta área de estudo como prioritária no âmbito da fundação da ciência e tecnologia, concretizando o maior reconhecimento que os investigadores nesta área poderiam almejar. O clima é favorável, ventos de mudança colocam agora o turismo como área de estudo científica. Voltemos, no entanto, ao passado, estudos sobre turismo começam a ser publicados em revistas científicas em 1947. O primeiro autor a escrever sobre esta temática foi Cooper, que numa abordagem mais geográfica refere a recetividade desta atividade e a sua conexão com as acessibilidades entretanto construídas e com o tempo disponível e a riqueza acumulada de algumas famílias norte americanas. A geografia reclamava a análise do turismo como sendo sua. Até 1966, poucos foram os que ousaram estudar e publicar neste domínio, em 19 anos contam-se nos registos bibliográficos pouco mais do que duas dezenas de registos. Apesar do limitado número de estudos realizados, a multidisciplinariedade do turismo já era evidente, sociologia, medicina, ciências ambientais, gestão e psicologia analisavam este fenómeno à luz dos contributos teóricos e científicos das suas disciplinas. Até 1974, o número de estudos neste domínio publicados manteve-se abaixo da dezena, o verdadeiro boom da investigação dá-se em 1978, quando surgem 127 publicações e imediatamente no ano seguinte este número duplica. A partir daí estava lançada o turismo como uma área de estudo multidisciplinar é certo, mas extremamente atrativa para
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investigadores de todo o mundo das mais variadas disciplinas científicas. Portugal surge na investigação de forma tímida e muito prudente, timidez que foi sempre apanágio da área e que se mantém até hoje. O primeiro artigo publicado por portugueses em revistas científicas surge em 1988, assinado por Maria Eugénia Moreira professora do centro de estudos geográficos da Universidade de Lisboa. Este artigo intitulado «Recreation and conservation of the coastal environment of the Madeira Islands», inspire-se na perola do oceano para discutir a sustentabilidade do turismo. Durante mais de 40 anos os contributos portugueses foram bastante humildes para o estudo duma realidade que foi e será sempre uma das principais atividades económicas e sociais do país. No Algarve, o espólio de publicações internacionais em turismo começa em 2000, a história das publicações em turismo começa em 2000, mas só em 2010 ultrapassa a dezena. Em Portugal é em 2015 que se verifica o verdadeiro boom, universidades e investigadores encetam um novo ciclo no desenvolvimento turístico que eleva esta área de estudo, contabilizam-se então mais de 100 artigos publicados anualmente. Nestes cinco anos as universidades fizeram sobressair o turismo em Portugal abordaram este fenómeno que vai muito para além duma atividade económica, a área de saber, numa perspetiva claramente multidisciplinar. Cinco anos de criação de conhecimento é manifestamente pouco para consolidar uma área, mas também é insuficiente o apoio e o reconhecimento que a comunidade cientifica tem merecido. Temos, no entanto, que estar otimistas, os sinais de mudança são evidentes, uma agenda de investigação, centros de investigação reconhecidos pela FCT e o reconhecimento do sector, são evidências de que daqui para a frente a investigação em turismo tem tudo para continuar a trilhar os caminhos da excelência, mas desta vez por autoestrada . 114
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OPINIÃO - Poemas Contados
Da Liberdade Afonso Dias (Poeta, Autor de canções, Cantor, Dizedor de Poesia ) brisa radical de extrema direita que percorre a Europa e o Mundo ainda não é um furacão, mas é já um sopro intenso a ameaçar a sempre precária Liberdade. Que as ideologias radicais, de qualquer matiz, - mesmo as chamadas de «extrema esquerda» - , tenham o propósito de se alcandorarem ao poder sem olhar aos meios que possam usar para esse fim, não é novidade; Que criem um manto de susto que começa sempre com o descontentamento das pessoas pelas suas pobres condições de vida e logo se avoluma com as ameaças, reais ou fabricadas, dos que “vêm de fora roubar-nos o trabalho”, “dos que vêm ameaçar os nossos costumes”, “trazer-nos insegurança”, “invadirnos com ideias demoníacas”…; Que verberem a incapacidade, a passividade, a incompetência e, com frequência, a venalidade dos políticos e a transformem numa onda de desconfiança e rejeição que progressivamente é seduzida romance VI (da liberdade) mote da Irene Pimentel romance mais esquisito... é quando o bom povo escolhe murchar os rastos da esperança de que as bestas mais se ufanam e vestem de arame e cinza o azul da liberdade funestos ferrolhos fecham os perfumes do sorriso e é o medo que se solta pela própria mão cativa
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pela ideia de que a Democracia “não resolve” e o que é preciso é “alguém, com mão de ferro, que arrume a casa e ponha estes gajos na ordem”; Que, com esse fim, se criem complicadas teias de notícias falsas e se use a manipulação de toda a ordem, sem princípios morais ou escrúpulos mínimos. Tudo isto para criar um clima propício a que o povo eleja os seus algozes, a que o povo vote pelo fim da Liberdade que é a matriz e a essência da Democracia. Já não se fazem golpes de estado militares a impor ditaduras. Elegem-se os ditadores. Hitler foi assim, Bolsonaro e Orban, também. E muitos mais. Em países demais. Até aqui à porta, na Andaluzia, mártir da metralha franquista e de Lorca fuzilado, o partido Vox, ultra direitista, passou, há poucos dias, de dezoito mil votos e zero deputados, para quatrocentos mil votos e doze deputados. Um susto a exigir a acção correctiva e pedagógica de quem tem consciência do perigo. Cidadãos e políticos em exercício . foi salazar que antanho aqui pariu a homilia da pátria autoritária quando a pátria era ferida no mais fundo da tristeza pela miséria e a matraca a morder a luz do sonho nos caminhos se votou e os enganos foram tantos que outras veredas se acharam na esteira do destino que além estava e se sabia e soltou-se a liberdade e o povo dançou folias 116
que na sombra se acoitaram por mais de quarenta anos na mãe rússia a balalaika chorou milhões de tristezas e em espanha foi o poeta falangeado com o povo gitano bravo esfaimado num salero de altivez em buenos aires o tango suspendeu sensualidades quando o bandoneon foi silenciado à bruta e no chile foi a esperança metralhada de alto a baixo e até no brasil o samba sufocou tanto chorinho o mesmo em ásia e na áfrica nas voltas todas do mundo
nestes dias que se espantam quantas perguntas se soltam e quantas mágoas se acendem com orban’s e bolsonaro’s trump’s e mais alimárias suástica lá ao fundo a obscurecer o siso e a carecer pensamento novo e aprimorado a exigir outras voltas ao carrocel da inteligência
de direita ou esquerda ditas se à força alarve se instalam são ditaduras ditadas pela rajada certeira e o punho de ferro feito a esmagar a consciência por toda a rosa dos ventos a terra foi sacudida por tiranos de uniforme e da peste autoritária pelas armas comandada mas quando a força bruta do ferro incandescente traz a maldade à arreata liberta-se a inteligência a coragem veste luz e abre o campo à surpresa em rios de resistência já quando a teia de enganos em satélites de lodo entope o discernimento com bênção da torpe seita e é o próprio voto do povo a matar a liberdade
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OPINIÃO - A ISTO CHEGÁMOS…
Este país não é para velhos Fernando Cabrita (Poeta e Advogado) ois não. Nem este nem os outros onde chegou essa praga da linguagem politicamente correcta, tão brindada pelos tontos. Linguagem que é, qual quis ser o nazismo, o comunismo duro, ou ainda são as diferentes religiões, uma forma de engenharia social, uma limpeza étnica (agora étnico-significante), uma eugenia humana (agora vocabular). Enquanto uns apuram idealmente a raça e declaram réprobos todos os que têm matrizes étnicas diversas; enquanto outros estilizam a ideologia e levam aos gulags quem pense de modo diverso; e outros ainda refinam a sua ideia de deus e degolam quem tiver deus diferente ou não tiver nenhum; estes neonazis da expressão, estes fanáticos da utilização «limpa» da palavra, definem o que se pode dizer e o que se não pode dizer, o que é reprovável, o que é moderno e o que não é; e classificam pelo uso da linguagem as pessoas que podem ser assim consideradas pessoas, e as que só merecerão desconsideração. Agora é o PAN, que não quer na linguagem o uso de expressões em que entrem animais. Todos caricatos. Todos absolutamente ridículos. Todos idiotas de largo calibre, completamente apostados em destruir a riqueza, a imagética e a profundidade complexa de um idioma de séculos. Mas voltemos aos velhos. E repito: este país não é para velhos. Aliás, já não há velhos. Quero dizer: há; mas não se pode dizê-lo. Os neopolícias da língua, KGBs do falar bem, mal ouvem a expressão «velho» dita por alguém, identificam de imediato o transgressor e denunciam-no. Velhos são os trapos! E quem usa palavra qual essa é um tradicionalista intragável, um conservador, um atrasado social, um reaccionário e - quem sabe se não? - um fascista.
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E aí vai o infractor, corrido de isolamento e denúncia, para o Tarrafal social, para o gulag das modernas tendências. É que os velhos deixaram de ser velhos. Passaram numa primeira fase a ser idosos. Idosos, ou seja, gente com idade. Mas depois os novilinguajadores acharam, do alto da sua sabedoria de artifício, que idosos também não era coisa decente. Idoso cheirava a teias de aranha, a bafio, a mofo nos cantos, em suma: a coisas bolorentas. E então desencovaram dos seus cérebros ilustres uma designação mais compatível com os novos tempos em que supostamente se vivia. E vai daí, os idosos passaram a ser membros da Terceira Idade. Ou seja, supostamente melhoraram de estatuto. E a sociedade tornava-se, com isso (também supostamente, claro), mais correcta, justa e humana. Mas mesmo assim não ficaram contentes os neo inventores de palavras. Decorrido pouco tempo, a designação Terceira Idade passou a ser também um sinónimo de discriminação, de reprobabilidade e de indecência sinonimial. E aí vem, rebuscado do fundo dos cocurutos dos ideólogos da fala correcta, um outro termo: sénior (nuns casos com acento, noutros sem ele). O que, logicamente, deveria querer dizer que antes de chegarmos aos 65 e passarmos a seniores, somos todos juniores (salvo no futebol, é óbvio). Ora, tudo isto é batota; e da mais rasca. Aliás, todo o engenhoso palavreado dos defensores e inventores desta linguagem pseudo-correcta e correctiva, é batota e trapaça, destinada a fazer crer às pessoas e à sociedade que estão a melhorar quando, na verdade, só pioram. Quando os velhos eram velhos, viviam talvez menos anos; mas viviam nas suas casas, que eram normalmente as casas das famílias. continua na pág. 126 118
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Viviam e morriam acompanhados. Tomavam conta dos netos sem ser necessário saírem de casa. Davam conselhos e contavam histórias de outros tempos. Eram parte activa do conflito de gerações. Tinham memórias e gente que as ouvia. Partilhavam a mesa. Eram os velhos lá de casa. Não tinham problemas de imagem com o serem velhos, precisamente porque o eram. Tinham saudades. E deixavam saudades. Mas vieram os novos tempos e a batota engenhosa; e as sociedades tão dinâmicas, tão modernas e tão europeias que de repente nos descobrimos, começámos a achar os velhos como uma parcela do mundo improdutiva, chata, adoentada, mal paga, achacada de dores e moléstias. Gente que não acompanhava a nossa modernidade. Um fardo para o nosso dinamismo, a nossa energia e vitalidade, o nosso workalcoolismo. E relegámos os velhos para centros de dia, excursões baratas, casas de descanso. Locais onde estivessem fora de vista. Para compensação nossa e alívio desta ingratidão, achámos que lhes melhorávamos a imagem no fundo o que queríamos era melhorar a nossa aos nossos próprios olhos - deixando de chamar-lhes velhos e passando a designá-los por idosos. Os filhos e os netos, uma vez por semana, ou menos, iam buscá-los para almoçar, ou pouco mais. Deixou de haver conflito de gerações; e passou a haver ignorância das gerações umas relativamente às outras. Os adultos têm as suas vidas. Os idosos terão lá as suas; e cada qual se relacionará com os seus coevos. Nada de misturas! Os avós não viam nascer os netos, não os recebiam em casa ainda bebés. Com sorte vê-los-iam quando os viessem ao centro buscar para o baptizado ou para o primeiro aniversário. Depois, de novo, prolongada ausência. Mas o tempo não pára; e a imbecilidade dos correctores de linguagem também não. Num novo salto para a frente, os contactos entre as gerações esfriaram até ao limite. As visitas rarearam. Quem estivesse no lar de idosos no lar de idosos quedava. Nenhum casal queria ALGARVE INFORMATIVO #183
velhos (perdão, idosos) em casa. Ficava mal. Como dar jantares aos amigos ou aos colegas da empresa tendo um velho - quero dizer, um idoso - imprestável a andar pela casa? Então, nova compensação hipócrita, passámos a chamar aos idosos a Terceira Idade. Sempre relegada. Cada vez mais relegada. Concentrada, em massa, em Lares (que nunca, nunca, são os seus lares). Fechada em salas concentracionárias. Tratada e arrumada por gente desconhecida. E sempre nomeada, anonimamente, por designação colectiva: a Terceira Idade: O meu avô?, dizia o neto na escola, O meu avô é da Terceira Idade. Assim, em bloco: Terceira Idade. Uma espécie de grupo excursionista que estaria bem a dar-se só com gente da mesma idade. A Terceira, claro. Sozinha. Abandonada dos seus. Mas Terceira Idade soava bem. Estávamos nos anos dourados das expressões compostas. Os Estados Gerais. A Revolução Tecnológica. A Economia de Ponta. A Terceira Idade. A Puta Que Os Pariu. No último e mais recente salto do politicamente correcto e da respectiva hipocrisia, os novos pides da linguagem inventaram nova designação. Modernaça. Au point. A Terceira Idade passou a sénior. Como de antes, ou pior agora, os seniores não veem os netos. Os filhos mal os visitam. Quando não estão confinados a Lares estranhos, de onde de vez em quando chegam notícias de maus tratos e violências físicas e emocionais, estão sós, muito sós, em recuados quintos andares, sem recursos, sem carinhos, sem visitas. Os seniores já não morrem em casa, comos os velhos. Ou quando morrem, podem ficar ali meses, a decompor-se, sem que ninguém dê por isso. Ah, dirão os imbecis, mas são seniores. Não são velhos, coisa mais triste. E eu respondo: que saudades que eu tenho dos velhos! A isto chegámos .
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Fotos: João Conceição
ODELEITE FEZ O PRESÉPIO MAIS AUTÊNTICO DESTE NATAL deleite foi a aldeia mais bonita deste Natal, com um Presépio Vivo que recriou a antiga Belém do nascimento do Jesus e por onde passaram centenas de visitantes. De 6 a 9 de dezembro, mais de 50 figurantes, artesãos e produtores do concelho recriaram desta forma o nascimento do Menino. As performances artísticas do grupo Satori foram a grande atração do evento, com recriações onde não faltaram nenhum dos intervenientes da história do ALGARVE INFORMATIVO #183
nascimento de Jesus. A gastronomia foi outro dos grandes atrativos, como aliás é próprio da época, e por todo o recinto havia a tentadora doçaria tradicional de Natal e um mercadinho com os mais requisitados e deliciosos produtos locais, como o mel e os frutos secos. A Aldeia Presépio foi uma organização da Associação Social da Freguesia de Odeleite, em colaboração com os artesãos e produtores do concelho e com o apoio da Junta de Freguesia de Odeleite e da Câmara Municipal de Castro Marim . 124
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CÂMARA MUNICIPAL DE FARO AVANÇA COM OBRAS NA ERMIDA DE SANTO ANTÓNIO DO ALTO Câmara Municipal de Faro adjudicou, no dia 12 de dezembro, a empreitada de conservação da Ermida de Santo António do Alto, um imóvel de grande valor religioso e patrimonial que carecia de uma intervenção. A empreitada prevê a realização das obras necessárias para a melhoria da segurança e salubridade, assim como o arranjo estético da Ermida, que se encontrava em avançado estado de deterioração. ALGARVE INFORMATIVO #183
Adjudicada pelo valor global de 36 mil e 326 euros, acrescidos de IVA à taxa legal em vigor, à sociedade «A.M. Barriga – Engenharia e Construção, Lda.», esta intervenção pretende dar mais dignidade à Ermida de Santo António do Alto. Com esta obra, a Câmara Municipal de Faro continua a requalificar, conservar e dinamizar todo o património municipal como estratégia de valorização do concelho e aumento da sua atratividade para potenciais novos visitantes/turistas. 128
COMITIVA DA UALG VISITOU ANGOLA PARA PROMOVER INVESTIGAÇÃO E ENSINO PÓS-GRADUADO
ma comitiva da Universidade do Algarve, liderada pela vice-reitora para a Investigação e Internacionalização, Alexandra Teodósio, visitou Angola, de 3 e 10 de dezembro, com o intuito de promover a investigação e o ensino pósgraduado desta Instituição. No dia 4 de dezembro foi realizado o lançamento oficial do projeto «LuandaWaterFront», coordenado pelo Centro de Ciências do Mar e financiado pela Aga Khan Development Network e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, que contou com a presença da Ministra do Mar e das Pescas de Angola, Victoria de Barros Neto. No dia seguinte foi assinado um protocolo de colaboração específico para o desenvolvimento de programas de 129
doutoramento conjuntos na Universidade Agostinho Neto. De 6 a 9, a comitiva visitou a Academia de Pescas e Ciências do Mar do Namibe, na qual se assinaram vários protolocos e acordos específicos de colaboração, quer a nível de ensino, com mobilidade de estudantes, docentes e investigadores, quer a nível de investigação, com a futura implementação do CEEMAR Plataforma colaborativa de excelência para as ciências do mar. Esta visita realizou-se o âmbito do projeto «Algarve is Our Campus - Study and Research in Algarve», cofinanciado pelo Programa Operacional Regional do Algarve - CRESC Algarve 2020, através do Sistema de Apoio a Ações Coletivas – Internacionalização. Este projeto tem como objetivo promover e reforçar a notoriedade e atratividade da Universidade do Algarve e da região algarvia por via da implementação de ações que visam a internacionalização e o consequente aumento do número de estudantes, docentes e investigadores internacionais .
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CONFRARIA MARINHA DA RIA FORMOSA INICIOU OFICIALMENTE A SUA ATIVIDADE I Capítulo da Confraria Marinha da Ria Formosa decorreu no dia 8 de dezembro, no Núcleo da Culatra, onde foram entronizados os 25 Confrades Fundadores, tendo como confrarias madrinhas a Confraria Olhanense do Litão e a Confraria do Atum de Vila Real de Santo António, que representou também nesta cerimónia a Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas. A Confraria Marinha da Ria Formosa, constituída em meados do mês de outubro e a sétima a ser criada na região algarvia, tem como princípios contribuir para o levantamento, defesa, promoção e divulgação do património cultural, ambiental, histórico e gastronómico da Ria Formosa e apoiar a pesquisa, a criação a divulgação de trabalhos e a edição de publicações sobre a gastronomia ligada aos produtos desta laguna, designadamente sobre a sua
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história, tradição e antigas técnicas de confeção. Neste 1.º Capítulo foram também eleitos os órgãos sociais para o próximo triénio, tendo os destinos do Diretório dos Notáveis ficado à guarda da GrãoMestre Cláudia Luz, contando na sua equipa com David Assoreira, Ilídia Sério, Virgínia Alpestana e Mário Silva. O Capítulo Geral é presidido por Bruno Lage, sendo auxiliado pelos Tabeliões Jorge Pereira e José Lezinho, enquanto que, no Colégio Inquiridor, o seu presidente é Cristóvão Norte, coadjuvado pelos Inquiridores Manuel Mestre e Gonçalo Santos. O Conselho de Anciãos, que para além de órgão consultivo da confraria aprova também a admissão de novos confrades, é constituído por Luís Fontinha, Jorge Carrega, Sílvia Padinha, Jardim de Sousa, Paulo Fonseca, José Daniel dos Santos, Marco Valle Santos, Davide Alpestana e Paulo Botelho . 130
MUNICÍPIO DE FARO E UNIVERSIDADE DO ALGARVE PREPARAM LANÇAMENTO DO «FARO ACOLHE» Câmara Municipal de Faro aprovou, na última reunião de câmara, um protocolo com a Universidade do Algarve, no âmbito do Programa «Faro Acolhe», que pretende responder a duas das mais problemáticas carências do concelho: a habitação para estudantes e o apoio a idosos. O concelho recebe todos os anos um elevado número de estudantes que escolhem a UAlg para prosseguirem os seus estudos e, em consequência desse deslocamento, existe uma cada vez maior dificuldade de acesso a alojamento no concelho. Em paralelo começa a ser uma preocupação a elevada percentagem de idosos a viverem em situação de solidão e/ou isolamento social. Ora, muitos destes idosos, e algumas famílias também, estão predispostos a acolher estudantes do ensino superior no seu seio familiar. Para a implementação deste programa irá existir um rigoroso e exaustivo processo de avaliação e posterior acompanhamento, quer dos idosos e famílias dispostas a receber os alunos, quer dos alunos que manifestem interesse em aderir ao Programa «Faro Acolhe». Também prevista está a monitorização de todos
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os integrantes do projeto através de reuniões, workshops, focus groups, visitas domiciliárias, contactos telefónicos, entre outras medidas que se entendam por necessárias para garantir o sucesso do programa, assim como a satisfação de todos os intervenientes. Este programa, que terá uma duração indeterminada, é mais uma ferramenta à disposição da comunidade para dar resposta à necessidade de alojamento de jovens universitários e ao esbatimento dos fenómenos de solidão e/ou isolamento dos seniores do concelho. Em simultâneo, permite «ganhos» individuais, mas também benefícios coletivos com o fomento da interação e a criação de redes informais de apoio mútuo através do envolvimento do tecido institucional local, vizinhos e familiares .
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LAGOA E ASSOCIAÇÃO DE EMPRESÁRIOS PELA INCLUSÃO SOCIAL DE MÃOS DADAS Município de Lagoa e a Associação de Empresários Pela Inclusão Social (EPIS) assinaram, no dia 28 de novembro, no Auditório do Centro Cultural do Convento de S. José, um protocolo com um conjunto de parceiros educativos comerciais com o objetivo de motivar os jovens para a conclusão da escolaridade obrigatória. O projeto de mediação escolar desenvolvido em parceria com a EPIS e com o apoio de empresas que operam no concelho (Delta cafés, Glamour Hotels, Intermarché Lagoa-Carvoeiro, Golf Gramacho - Grupo Pestana, Regulconcrete, Slide & Splash e Títulos d` Água) dirige-se a adolescentes em risco de abandono escolar, envolvendo as suas famílias, pessoal docente, não docente e comunidade. A intervenção surge no 3.º Ciclo e Ensino Secundário do Agrupamento de Escolas Padre António Martins de Oliveira e no 2.º e 3.º Ciclos do Agrupamento de Escolas Rio Arade, e consiste numa abordagem assente na investigação e com resultados comprovados pela EPIS noutros estabelecimentos de ensino do país. Diogo Pereira e Andreia Ferreira, Diretor Geral da EPIS e Diretora do Programa, explicaram que o projeto coloca em prática o uso de metodologias que contribuem para o desenvolvimento de competências como a motivação, a disciplina, a tenacidade, a autoestima, o autocontrolo e a confiança, ferramentas essenciais para o sucesso na vida. Este projeto consolida a estratégia de
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Lagoa como Cidade Educadora, preocupada e comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e preparada para o futuro. Para que este projeto se tornasse uma realidade, o Município de Lagoa contratou duas mediadoras escolares que, durante três anos, irão acompanhar individualmente os estudantes em situação de risco de abandono escolar, reforçando assim a sua motivação e contribuindo para a sua integração, realização e felicidade. O VicePresidente Luís Encarnação referiu, na ocasião, que “este projeto é uma ferramenta fundamental para a criação de jovens mais qualificados, mais motivados e com maior nível de conhecimentos, precavendo a sua saída do concelho para a integração no respetivo mercado de trabalho”, agradecendo ainda a contribuição das empresas, no apoio financeiro ao projeto, bem como no seu papel enquanto futuros parceiros recetores de estágio .
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QUARTEIRA CANDIDATA-SE A ECO-FREGUESIA XXI E LANÇA DESAFIO «ECO-FAMÍLIAS XXI» Junta de Freguesia de Quarteira lançou o desafio «Eco-Famílias XXI», um concurso que pretende distinguir e premiar as famílias da freguesia com as práticas mais sustentáveis e que revelem maiores preocupações ambientais. A iniciativa surge no âmbito do Prémio Nacional EcoFreguesias XXI, promovido pela Associação Bandeira Azul, ao qual a Junta de Freguesia de Quarteira se está a candidatar. O concurso tem como principais objetivos informar sobre comportamentos e práticas sustentáveis, evidenciar a relação entre sustentabilidade ambiental e económica e sensibilizar para a responsabilidade individual e coletiva na
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construção de uma comunidade mais sustentável. Para concorrer, as famílias devem preencher um inquérito online, até 31 de dezembro (www.ecofreguesias21.abae.pt/concurs oecofamilias/quarteira2018). Complementarmente serão solicitados documentos que comprovem algumas das práticas sustentáveis. Serão distinguidas como Eco-Famílias XXI todas aquelas cuja pontuação seja superior ou igual a 50 por cento. As três famílias com maior pontuação receberão um Cabaz de Produtos Bio nos valores de 250, 150 e 100 euros, respetivamente. Os resultados do concurso serão disponibilizados durante o mês de janeiro de 2019 .
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MUNICÍPIO DE LOULÉ INAUGUROU OBRAS DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
oram inauguradas três obras integradas no Orçamento Participativo do Município de Loulé, instrumento de participação informada, ativa e responsável dos cidadãos na gestão camarária. Dois dos projetos agora concluídos respeitam à freguesia de S. Sebastião: a construção de um passeio pedonal da igreja de Vale Judeu à estrada da Várzea da Mão, uma intervenção que nasceu da votação do ano de 2015; e a requalificação do espaço de jogos da escola de Vale Judeu - colocação de piso, vedação, acesso exterior e iluminação, projeto vencedor do OP 2016. As duas intervenções foram realizadas em Vale Judeu, uma das localidades do concelho que tem tido uma das maiores participações ao longo dos anos de realização deste Orçamento, sendo que o valor definido para cada foi de 59 mil euros. A outra obra inaugurada foi a proposta mais votada em 2016 na freguesia de Alte. 135
A criação de um abrigo escolar com requalificação dos lavadouros no Largo Elmano Costa, que contou com um valor definido na edição de 2016 de 48 mil euros, vem juntar-se às dezenas de realizações já concluídas no âmbito do Orçamento Participativo do Município de Loulé, cuja primeira edição teve lugar em 2014. “Esta tem sido uma medida de grande alcance tendo em vista o envolvimento de todos os cidadãos na governança municipal, naquela que consideramos ser a verdadeira democracia a funcionar, já que são, efetivamente, os munícipes que escolhem de forma direta quais os projetos que pretendem ver realizados no Município”, entendem os responsáveis municipais, realçando ainda “a forma equitativa e proporcional como os investimentos são aplicados em cada uma das freguesias do Concelho” .
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MONUMENTOS AFETOS À DIREÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO ALGARVE APROXIMAM-SE DO MEIO MILHÃO DE VISITANTES EM 2018 conjunto dos monumentos afetos à Direção Regional de Cultura do Algarve, com estruturas de acolhimento – Fortaleza de Sagres, Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, Monumentos Megalíticos de Alcalar e Ruínas Romanas de Milreu – apresentam o maior número de visitantes desde que existem registos, aproximando-se, no seu conjunto, às 500 mil visitas no final 2018. Até novembro deste ano, de 427 mil e 972 visitantes do ano anterior passou para 473 mil e 340,
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correspondendo a um aumento global de 10,60 por cento. A afluência de visitantes nos diferentes monumentos não é simétrica, quando comparada com o ano anterior. Em alguns imóveis a tendência verificada foi de ligeira redução em relação aos valores do ano passado, mas mais uma vez foi na Fortaleza de Sagres que se verificou o crescimento mais expressivo, contribuindo para os valores globais alcançados. A nível global, e à semelhança dos anos anteriores, são os estrangeiros quem mais afluem, numa
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percentagem 85,36 por cento contra 14,64 por cento de nacionais. Esta tendência foi contrariada nos Monumentos Megalíticos de Alcalar, em que o número de nacionais foi mais equilibrado face aos estrangeiros, representando 45,46 por cento das entradas. Estes imóveis têm vindo a ser dinamizados através do programa DiVaM, com várias atividades de caráter multidisciplinar, que têm permitido aos visitantes e comunidades locais a fruição desses espaços com incremento de oferta cultural. Além das ações regulares ou pontuais, estão em curso intervenções de manutenção e valorização com recurso a candidaturas a fundos comunitários e nacionais, nomeadamente ao Programa Operacional CRESC ALGARVE 2020, no caso da Fortaleza de Sagres, Monumentos Megalíticos de Alcalar e Ruínas Romanas 137
de Milreu. Existem também duas candidaturas à Linha de Apoio Turismo Acessível do Valorizar – Programa de Apoio à Valorização e Qualificação do Destino, do Turismo de Portugal, para melhorar as acessibilidades na Fortaleza de Sagres e na Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, sendo que, no primeiro caso, a candidatura já se encontra aprovada. O trabalho efetuado nestes monumentos ao longo dos anos tem sido reconhecido, nomeadamente a Fortaleza de Sagres com a atribuição da Marca Património Europeu em 2015 e, mais recentemente, o título honorífico de «Lugar Internacional de Cultura e Paz» atribuído pelo Observatório Internacional de Direitos Humanos .
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ASSINADO ACORDO PARA CRIAÇÃO DA REDE INTERMUNICIPAL DAS BIBLIOTECAS DO ALGARVE Salão Nobre do edifício dos Paços do Concelho de Olhão foi palco, no dia 7 de dezembro, da assinatura de um acordo de cooperação entre a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), a Universidade do Algarve (UAlg) e a Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas para a criação da Rede Intermunicipal das Bibliotecas do Algarve (BIBAL). Os bibliotecários do Algarve viram os respetivos presidentes de Câmara, assim como o diretor geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Silvestre Lacerda, e o Reitor da Universidade do Algarve, Paulo Águas,
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assinarem o acordo que permite a cooperação entre as diferentes entidades nos domínios técnicos e culturais com o objetivo de desenvolver serviços em rede, numa lógica de partilha e otimização de recursos. Esta «união» permite, igualmente, a oferta de serviços comuns para a comunidade intermunicipal e a prestação de um serviço público de qualidade. O presidente da Câmara Municipal de Olhão, António Miguel Pina, agradeceu a presença dos bibliotecários de toda a região na cidade cubista e deixou uma nova meta a estes técnicos: “Trabalhem para mostrar para que servem as bibliotecas. Já não temos muita falta
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de espaços físicos, nem de novas tecnologias. Para que vão servir as bibliotecas do futuro? É preciso dar-lhes vida, mostrar aos cidadãos a sua relevância. Já não basta só possibilitar a leitura, é preciso fomentar o espírito crítico sobre aquilo que lemos”, desafiou o autarca de Olhão. O diretor geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Silvestre Lacerda, destacou a importância deste acordo para a partilha de recursos e de experiências, o que já vinha a ser feito, mas de forma informal até agora. Realçou também que, desta forma, será possível que todos os concelhos tenham as suas bibliotecas públicas em funcionamento. 139
Para o reitor da UAlg, Paulo Águas, “é de grande importância o relacionamento da Universidade com todas as bibliotecas do Algarve”. O académico mostrou também a disponibilidade da UAlg para que todos os cidadãos interessados possam consultar a sua biblioteca e usufruir do seu espólio. O presidente da AMAL, Jorge Botelho, revelou que este acordo foi votado por unanimidade pelos autarcas do Algarve, o que mostra o compromisso de todos “para que na região haja uma rede de bibliotecas que funcione efetivamente” .
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SÃO BRÁS DE ALPORTEL ADERE AO PROGRAMA «MENTORES PARA MIGRANTES» om a assinatura do Protocolo de Colaboração com o Alto Comissariado para as Migrações para a adesão à Rede de Mentores para Migrantes, o Município de São Brás de Alportel deu, no dia 26 de novembro, mais um passo importante nas suas políticas de inclusão social e de integração de migrantes. O Programa «Mentores para Migrantes» é uma iniciativa desenvolvida em parceria com o Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial – Grace, que visa promover e criar ligações interculturais, através do relacionamento entre os mentores voluntários e os migrantes (emigrantes e imigrantes). O programa consiste na criação de uma rede que funciona com um modelo de mentoria e de promoção do voluntariado e cidadania participativa, e pretende promover a inserção na sociedade portuguesa de imigrantes, proporcionando apoio, acompanhamento, orientação para a resolução de dificuldades ou preocupações dos migrantes. A promoção da igualdade de oportunidades, a sensibilização para a riqueza da diversidade, a promoção do voluntariado e a troca positiva de experiências são outros objetivos desta iniciativa. “Um projeto que vem justamente ao encontro das políticas do município são-brasense para a integração e apoio à comunidade migrante e das suas boas práticas de envolvimento da comunidade no acolhimento e apoio aos cidadãos que ALGARVE INFORMATIVO #183
chegam de outros pontos do pais e do mundo, e que em São Brás de Alportel se devem sentir em casa”, referiu a Vice-Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Marlene Guerreiro. Marlene Guerreiro apresentou os eixos principais da política municipal para a integração da comunidade migrante, que é coordenada pelo Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM), enunciando os muitos projetos, programas e iniciativas que são desenvolvidos no seio do Plano Municipal para a Integração de Migrantes, como sejam o Provedor do Cidadão Estrangeiro, a Coluna Intercultural no jornal local, a realização da Quinzena e do Mercadinho Intercultural, o Kit Novo Residente, e todo um conjunto de dinâmicas vividas e participadas pela comunidade. Referiu ainda o extraordinário trabalho que é desenvolvido pelo Grupo de Amigos do Museu do Traje de São Brás de Alportel, verdadeira “embaixada intercultural” que é composto por diversas 140
nacionalidades, albergando no seu seio, entre muitas outras iniciativas, um Grupo Coral Multilingue, um Grupo de Música Tradicional Ucraniana e um Grupo de Teatro Internacional. Em São Brás de Alportel, mais de 10 por cento dos residentes são oriundos de mais de 50 diferentes nacionalidades, que escolheram São Brás de Alportel para viver, uma presença que, segundo Marlene Guerreiro, se tem revelado enriquecedora para o concelho, tanto ao nível da economia local, como em termos culturais e comunitários. Após conhecer os vários projetos em curso no concelho, a Vogal do Conselho Diretivo do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), Romualda Fernandes, congratulou o Município de São Brás de Alportel por promover uma integração natural dos seus migrantes. “O trabalho realizado no concelho é, mais do que uma política, uma atitude do
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Município e da comunidade”, enfatizou. Na Sessão marcaram presença cidadãos são-brasenses de diversas nacionalidades, representantes de uma rede de voluntários para a integração de migrantes, criada no Âmbito da elaboração do Plano Municipal para a Integração de Imigrantes. A sessão contou ainda com um momento musical intercultural muito especial: o improvável duo de saxofone e acordeão, proporcionado pelo músico britânico Paulo Carter e pelo jovem português David Mendonça. Ambos têm coração são-brasense e a mesma paixão pela música. Paul integra o Grupo de Música Tradicional Portuguesa «Veredas da Memória» e David juntou o seu acordeão ao Grupo de Música Tradicional Ucraniana Jasmim .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos.
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