Barbara mccauley a vida privada de marcy

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A VIDA PRIVADA DE MARCY “Miss Prutt's Private Life”

Barbara McCauley

ELA QUERIA VIVER UM GRANDE AMOR. ELE TAMBÉM. FALTAVA APENAS TEREM UM POUCO DE PRIVACIDADE. Evan Carter e Marcy Pruitt se encontraram em um casamento em Wolf Rider, Texas. E ambos tinham outras intenções além de estarem presentes à cerimônia. Para Marcy, uma celebridade de TV, essa era a oportunidade perfeita para uma pausa no show biz; e para Evan, bem... foi só olhar para Marcy que suas prioridades mudaram com muita rapidez. Ter um affair com ela tornou-se seu maior desafio. E Marcy o aceitou com grande entusiasmo. Nada poderia conter a forte e ardente atração que os dominava. Mas o que poderá acontecer quando o romance se tornar público? Digitalização e Revisão: Nina.


CAPÍTULO UM

Marcy olhou pela janela da cabine do trem e contemplou a paisagem do Texas. Era como olhar para um cartão-postal, pensou Marcy, encostando a cabeça no assento de couro. Um céu azul intenso. Nuvens brancas e pesadas no horizonte distante. O balanço suave do trem no trilho. O estridente toque de seu celular. Mil e quinhentas milhas entre ela e Los Angeles e ainda não era o suficiente. Marcy olhou para o relógio de pulso. Oito e meia no horário de Los Angeles. Estava esperando a ligação, sabia que sua empresária pegaria o recado que deixara para ela há alguns minutos: Helen, aqui é Marcy. Estou tirando três semanas de

descanso. Por favor, cancele meus compromissos e marque um outro horário com Ana. Obrigada. Ao toque insistente do celular, Marcy suspirou. Resolva isso logo, disse para si mesma. Sabia que apenas adiaria o inevitável se não fizesse isso. Tirou o celular do bolso de seu casaco azul-marinho, respirou fundo e apertou o botão verde. — Alô, Helen. — Marcy, querida — disse Helen, sem fôlego. — Recebi mensagem e estou a caminho de sua casa. Vamos tomar um café e conversar. — Não temos nada para conversar. — Marcy podia visualizar sua empresária nesse momento, passando a escova pelo cabelo ruivo cortado rente ao couro cabeludo, examinando meticulosamente a agenda de compromissos e mentalmente revendo os eventos do dia, tudo isso enquanto falava ao telefone. — E não faz sentido você vir, pois não estou em casa. — O quê? Você não está em casa? Onde está? — Já parti. — Já partiu? Como assim? Você não pode ter saído dessa maneira — insistiu Helen. — Temos uma reunião editorial à uma e meia de hoje para fechar a edição de novembro. Ainda temos de discutir aquele artigo sobre como criar um centro de mesa com os lençóis da vovó e, além disso, precisamos de uma maneira nova e criativa para rechear um peru.


— Helen, já disse. Estou viajando. Já saí de Los Angeles. Na verdade, já saí da Califórnia. — Você o quê? — Eu disse que precisava de uns dias de folga este mês. Marcy pegou os convites do chá-de-panela e do casamento da bolsa de lona e colocou-os no colo. — Estou tirando estes dias. — Marcy... — suspirou Helen pacientemente —, querida, falamos sobre isso e concordamos que esta não era a melhor época. Você tem uma entrevista com a revista

Casas Elegantes na quarta, uma reunião na quinta com o coordenador de assuntos para a estréia do seu programa de televisão e um almoço beneficente de celebridades no Ritz-Carlton na sexta. O pensamento de reuniões sem fim, dias longos e agitados e a correria de um evento a outro fez Marcy instintivamente pegar antiácido em sua bolsa. Ela observou a caixinha de pílulas na palma da mão e a atirou de volta para dentro da bolsa. Em seguida, pegou o saquinho de emergência cheio de cerejas cobertas com chocolate. O açúcar podia não acalmar seus nervos, percebeu ela, mas certamente a faria sentir-se melhor. — Nós não concordamos que esta não era a melhor época, Helen. Você concordou. — Marcy, precisamos de você aqui — disse Helen com firmeza. — Vamos encontrar uma época melhor e eu prometo que você vai poder... — Não. Pronto. Falou. Ela disse um não de verdade. Surpreendentemente, não apareceram raios no céu e o trem não descarrilhou. Helen, ao contrário, ficou aparentemente atônita e silenciosa. — Não — disse Helen calmamente, depois de um longo momento. — O que você quer dizer com "não"? — Eu quero dizer não. — Marcy soltou o ar que estava segurando. — Não vou voltar atrás. Depois de outra pausa, Helen disse, hesitante: — Marcy, querida, você está se sentindo bem?


— Helen. — Marcy lutou para manter a voz firme. — No mês passado, pedi a você para não marcar nada nas próximas três semanas. — Querida, eu não achei que estava realmente falando sério e você nunca deixou claro por que queria tanto. Sei que os últimos quatro anos têm sido uma correria estafante. Mas agora estamos tendo a compensação. As assinaturas de A

vida com Marcy Pruitt quadruplicaram, sua coluna de dicas para o lar está vendida para os periódicos, seu último livro está na listas dos mais vendidos em não-ficção da revista Times e seu programa de TV a cabo começa em cinco semanas. Há muitas pessoas contando com você. Mais tarde, você vai ter tempo para descansar. Prometo. Neste momento, precisamos de você. Marcy fechou os olhos e concentrou-se no suave balanço do trem. Talvez estivesse sendo egoísta. Querendo tempo para si mesma especialmente quando todo mundo a sua volta também estava trabalhando duro. Não queria deixar ninguém triste. Não queria desapontá-los. E três semanas era muito tempo. Marcy olhou novamente para os convites. Clair Beauchamp tinha sido a única pessoa na vida de Marcy que tinha desviado o caminho para fazer amizade com uma garota diferente das outras. Uma garota extremamente tímida que usava óculos de armação marrom e um corte de cabelo na altura do queixo. Como era irônico o fato de que o que a fazia tão diferente quando estava crescendo fosse, agora, sua marca registrada. Foi convidada por Clair para ser madrinha do casamento e dissera sim. Não ia mudar de idéia. Marcy enfiou os convites de volta na bolsa e ajeitou-se na cadeira. — Deixei notas enormes e os arquivos dos projetos com a Ana. Ela os conhece tanto quanto eu, provavelmente melhor. Pode ficar no meu lugar até eu voltar. Helen suspirou. — Você quer que a sua assistente dirija sua empresa? Pelo amor de Deus, me diga que não está falando sério. — Estou falando muito sério. Ana está conosco há dois anos. É mais do que capaz. Você saberia disso se desse uma chance a ela. Marcy achou melhor não mencionar que Ana era a única pessoa que sabia para onde e por que ela estava viajando. Se conseguiria levar isso adiante.

Helen soubesse, Marcy sabia que nunca


— Marcy, olhe,

sei que ela é uma ótima garota. — A voz de Helen ficou

frenética. — E admito que ela trabalha muito, mas... — Desculpe... — Marcy passou os dedos pelo telefone —a ligação está falhando. Tenho de desligar. — Marcy, não por favor, me ouça, há uma coisa que você não sabe. Eu devia ter contado. Precisamos conversar pessoalmente. Me diga onde está...

Ela acha que vou cair nessa, pensou Marcy. No entanto, ainda com medo de fraquejar, desligou o telefone e colocou-o de volta no bolso do blazer. Nos últimos quatro anos, cada aspecto de sua vida havia sido cuidadosamente orquestrado. Reuniões, aparições na TV, mais reuniões, divulgação de livro, programas de rádio, eventos beneficentes. Mais reuniões. Ela ainda amava seu trabalho tanto quando antes, mas nesses quatro anos, não havia tirado um único dia para fazer algo que não estivesse de alguma maneira ligado ao trabalho. Estava tirando esse dia hoje. Nervosa, mas animada, Marcy cruzou as mãos elegantemente sobre o colo, olhou pela janela do trem e sorriu.

*** Evan Carver estava de pé em frente a uma janela de parede inteira olhando para a piscina olímpica. O calor de hoje trouxera uma série de hóspedes bem interessantes. Na parte leste da piscina, três homens mais velhos com camisas havaianas e chapéus de caubói debaixo de um guarda-sol azul. No lado oeste, uma morena grávida afastava duas meninas pequenas do jogo de basquete na parte funda da piscina. Finalmente, esticadas em cadeiras de sol, na parte sul, havia uma fila inteira de mulheres de biquíni. Evan sorriu. Era solteiro e estava de férias num hotel com uma convenção de modelos de biquíni. A vida não poderia ficar melhor. — Isso é estranho, ela não está atendendo o telefone celular.


— Hummm? — Evan olhou sobre os ombros e viu a noiva do irmão. Estava sentada em sua mesa de madeira com tampo de vidro, parecendo mais uma das modelos de biquíni que a dona de um hotel de alta categoria. A jaqueta do terno tinha o mesmo tom azul de seus olhos, o cabelo escuro batendo no ombro era tão preto quanto a sua saia. E embora admirasse suas qualidades delicadas e femininas, Evan já pensava em Clair Beauchamp como a irmã que nunca tivera. — Quem não está atendendo o celular? Enrugando a testa, Clair colocou o telefone no gancho. — Marcy. Cai sempre na caixa-postal. Oh, certo, Marcy. Clair mencionara que a madrinha de casamento chegaria hoje para o chá-de-panela de amanhã e ficaria até o dia do casamento. — Talvez ela tenha desligado — sugeriu ele. — Marcy nunca desliga o telefone. — Sem sinal. — Não deveria estar. — Clair olhou para o relógio da mesa, pegou o telefone do gancho e apertou a tecla de rediscagem. — Ela está pegando o trem de Los Angeles e queria falar com ela antes que chegasse à estação. Disse a ela que a buscaria, mas o editor-chefe da Texas Travel apareceu dois dias mais cedo e quer que eu mostre o hotel a ele. — Eu vou buscá-la para você — disse Evan distraidamente enquanto olhava um dos garotos da piscina atirar uma bola molhada no estômago de uma loura bem-dotada.

Garoto esperto, pensou Evan com um sorriso no rosto. — Obrigada por se oferecer. — Suspirando, Clair desligou o telefone. — Mas não é necessário. Posso mandar um dos carros do hotel. — Não tem problema. — Para o prazer de todos os homens à volta, a loura levantou-se e caminhou até a beira da piscina e depois, fazendo um grande floreio, jogou a bola de volta. — Além disso, eu não disse a Jacob que cuidaria das coisas até que ele voltasse da Filadélfia amanhã? — Ele está em Boston. — Clair levantou-se de sua cadeira, parou ao lado de Evan e olhou para a piscina. — Estou feliz em ver que está levando o trabalho tão a sério — disse ela, enrugando uma sobrancelha. — Talvez eu realmente deva mandar um carro do hotel.


Desviando o olhar da janela, Evan sorriu para ela. — A que horas o trem chega? — Onze e quinze — disse Clair, hesitante. — Tem certeza de que não tem problema? — Me diga como ela é e já estou a caminho. Clair foi até sua mesa novamente e pegou uma revista para lhe mostrar. — Aqui.

A Vida com Marcy Pruitt. A revista tinha como capa a morena familiar com óculos de armação marrom sentada num campo de lavanda. Quando Clair dissera que o nome da amiga era Marcy, nunca ocorrera a Evan que estava se referindo àquela Marcy. — Marcy Pruitt é sua madrinha de casamento? — Já ouviu falar nela? — Com certeza. — Evan folheou os artigos da revista: como fazer cartões de marcação de lugar com pedaços de papel parede; como preparar um jantar elegante em menos de trinta minutos; a reforma de uma suíte. — Ela não escreveu um livro? Clair balançou a cabeça. — Dois livros. A Vida Fácil com Marcy Pruitt e A Vida Definitivamente Fácil com

Marcy Pruitt. Dicas para as donas-de-casa. Fez um bom nome desde os nossos tempos de colégio. — Pode repetir isso? — Evan olhou a capa da revista novamente. Até que ela é bem bonitinha, pensou ele. — E então, ela é solteira? Clair tirou a revista das mãos dele. — Sim, é solteira, mas acredite em mim, não faz o seu tipo. Ele piscou para ela. — Querida, toda mulher faz o meu tipo. — Talvez não devesse confiar em você com ela — disse Clair , levantando a sobrancelha. — Comigo? — Evan colocou a mão sobre o coração. — Sou inofensivo.


— Se há algo que você não é, Evan Carver, é inofensivo. — Mas sorriu ao dizer isso. — Além disso, vamos fazer com que essa viagem de Marcy seja a mais tranqüila possível. Ela vai viajar incógnita. Procure um chapéu branco enorme. — Isso é viajar incógnita? — Para Marcy, sim. — Clair tirou uma chave em forma de cartão do bolso. — Vou colocá-la na suíte em frente à sua. Acha que consegue se comportar? Ele deu um sorriso malandro. — Prometo me controlar. — Foi isso o que seu irmão falou quando nos encontramos pela primeira vez. — Clair mostrou a aliança de casamento para Evan. — E agora, olhe para nós. — Não se preocupe. — Evan esquivou-se para trás como se a aliança fosse feita de criptonita. — Vou transportar sua amiga sã e salva. Depois de falar isso, deu mais uma olhadinha pela janela do quarto em direção à piscina.

*** Precisamente às onze e quinze, Marcy desceu do trem com outros passageiros. Era tão presunçoso quanto ridículo vestir um chapéu de abas enormes e tirar os óculos, mas ela preferia ser precavida. Embora as probabilidades de que alguém na estação de trem a reconhecesse fossem muito pequenas — e era exatamente essa a razão de ela ter escolhido viajar de trem em vez de voar —, não queria brincar com a sorte ou comprometer a recém-conquistada liberdade. Marcy foi para um canto e colocou a mala no chão. Nenhum sinal de Clair, mas sobre as cabeças das pessoas correndo na estação, ela não pode deixar de prestar atenção em um homem de cabelos escuros, bem mais alto que a maioria ali. Braços cruzados sobre o peito largo, ele observava os passageiros que ainda saiam do trem.

Céus. Marcy sabia muito pouco — tudo bem, não sabia coisa alguma — sobre homens, mas a falta de experiência certamente não a impedia de apreciar uma requintada amostra masculina quando via uma. Ela eslava de férias, afinal, então por que não apreciar o cenário? E, de qualquer maneira, não parecia que ele não a notara. Homens como aquele raramente lhe davam mais que um olhar superficial.


Ele estava imóvel como uma pedra no fluxo movimentado de pessoas. Um metro e noventa e três, pensou ela, talvez mais alto. Forte era a melhor palavra para descrever o homem, embora bonito fosse certamente a segunda. Ao ver sua pele morena e seus braços musculosos, imaginou que ele provavelmente trabalhava ao ar livre. Maxilar quadrado. Queixo largo, mãos grandes. O cabelo grosso e escuro, ligeiramente ondulado nas pontas, deslizava sobre a gola da camiseta preta. Os olhos — castanhos? — enrugaram ligeiramente, e Marcy seguiu seu olhar, percebendo que ele avistara uma ruiva atraente descendo do trem. A mulher sorriu para o homem e devolveu o sorriso, Marcy sentiu o coração disparar. Se ela o achara bonito antes, bem, quando sorriu, era completamente letal. Mas então, surpreendentemente, depois que a mulher ruiva hesitou por um momento, caminhou na direção contrária. Curiosa, Marcy não conseguia tirar os olhos do homem, desejando saber por quem ele esperava. Uma loura elegante desceu do trem, definitivamente uma possibilidade, pensou Marcy, mas foi saudada por duas garotinhas e um homem. Em seguida, uma morena linda vestindo um top de frente única e calça justa apareceu. Tinha de ser ela, e Marcy olhou para o homem para ver a reação dele. — Com licença. Marcy deu um salto com o toque inesperado em seu braço. Duas mulheres, em tomo de quarenta anos, estavam de pé a seu lado. — Você é Marcy Pruitt? — perguntou a de cabelo castanho curto e cacheado. Marcy sentiu um frio no estômago. — Eu? Não era exatamente uma mentira, mas também não era uma confissão. — Eu disse que não era ela, Alice. — A segunda mulher, uma loura platinada e esquelética, franziu os olhos e aproximou-se. — Não parece nem um pouco com ela. — Ah, por favor, Betty Lou. — Exasperada, Alice balançou a cabeça. — É exatamente igual a ela. Coloque os óculos. — Eu não preciso dos meus óculos — retrucou a loura. — Não é ela. — Lógico que é. — Alice olhou novamente para Marcy e sorriu. — Seu artigo no mês passado sobre cartões de saudação feitos em casa foi maravilhoso. Quem algum dia pensaria em usar botões velhos e pedaços de fita daquele jeito?


— Ela é magra demais — insistiu Betty Lou. — E alta demais. Alice revirou os olhos, colocou a mão na boca e sussurrou: — Não ligue para Betty Lou. Ela adora discordar. — Eu não sou surda, sabia? — resmungou Betty Lou e depois cruzou os braços olhando para Marcy de cima a baixo. — Estou dizendo: não é ela. — Marcy. — Alice suspirou. — Você poderia, por favor, dizer a minha amiga que estou certa? Se havia uma coisa que Marcy realmente não sabia fazer era mentir. — Bem, eu... — Querida. Aí está você. Ao som de uma voz grossa e masculina. Marcy virou-se. E ficou imóvel. O homem que ela estava encarando estava exatamente a seu lado, sorrindo para ela. Ele a havia chamado de querida? Obviamente a confundira com outra pessoa, mas antes que pudesse corrigi-lo, ele a puxou para seus braços. — Estava procurando você por todos os cantos. Marcy estava chocada demais para reagir, não conseguiu abrir a boca. Quando ele colocou a boca nos lábios de Marcy, o coração quase saiu pela boca. Ele a apertou ainda mais e o peito dele contra o seu parecia uma parede de tijolos. Evan arrastou a boca pelo rosto dela e sussurrou em seu ouvido: — Clair me mandou aqui. O hálito morno provocou um arrepio em Marcy. Levou um tempo para as palavras fazerem sentido. Clair me mandou aqui. — Clair ? — Clair, sua amiga. Imaginando se teria cometido um erro, Evan ergueu a cabeça e olhou atentamente para a mulher. Supôs que ela um pouco diferente das fotos que vira na revista. Não apenas porque não estava usando os famosos óculos, mas alguma coisa nela parecia mais suave, e os olhos, embora assustados, eram verdes. Ele não podia ver


o cabelo dela por causa do chapéu ridículo que usava, mas baseado no castanho claro de suas sobrancelhas, estava quase certo de que estava com a mulher certa. Evan soltou Marcy, depois escorregou o braço por sua cintura. — Quem são essas suas amigas, querida? — Elas... — a voz de Marcy falhou — acham que sou Marcy Pruitt. — Alice acha — disse a loura. — Eu não. — É exatamente igual a ela. — Minha mulher ouve isso o tempo todo. — Evan sorriu e puxou Marcy para mais perto de si. — Não há um lugar que ela vá que não apareça alguém para pedir um autógrafo, não é, meu docinho? — Eu... É... — Marcy balançou a cabeça. — Acontece de vez em quando. — O que foi que eu disse? — Betty Lou cruzou os braços e sorriu para Alice. — Marcy não é casada. E agora, quem está certa? — Juro que você podia ser a irmã gêmea dela — disse Alice, sacudindo a cabeça. — Impressionante! — Vocês vão ter que nos dar licença agora, senhoritas. — Evan pegou a mala de Marcy, depois piscou para ela. — Mas eu gostaria de levar minha mulher casa e dar a ela um olá apropriado, se vocês não se importam. Betty Lou sorriu e pegou o braço de Alice. — É claro que não nos importamos. Desculpem o incomodo. Por medidas de segurança. Evan abraçou Marcy com força mais uma vez e depois a v irou na direção contrária à pequena multidão. — Bem, essa foi por pouco, embora não tenho muita certeza de que tenhamos convencido Alice e ela provavelmente... — Espere. — Marcy puxou o braço dele. — Espere! — O que foi? — Ele parou tão abruptamente que ela teve de agarrar o chapéu para evitar que caísse de sua cabeça. — Quem é você? — Evan. — Ele olhou para trás para ver se não havia ninguém os observando, depois a puxou em direção a um corredor que dava na sala de achados e perdidos. — Evan Carver.


— Carver? — Ela enrugou a testa e depois a descontraiu, reconhecendo o nome. — O irmão de Jacob? — O único. — Ele sorriu para ela. — Clair tentou ligar seu celular para avisar, mas você não atendeu — Eu desliguei. — Clair teve uma reunião inesperada. Se está preocupada em ir para o hotel comigo, pode ligar para o escritório de Clair e... — Não estou preocupada. É que você me pegou desprevenida. Não é todo dia que um homem estranho me beija e me chama de meu docinho. — Desculpe por isso. — Ele sorriu para ela. — Clair me disse que você não queria ser reconhecida. Quando vi aquelas duas mulheres com você, tentei ajudar. — Na verdade, você ajudou — disse ela, depois colocou as mãos nos bolsos do

blazer. — Desculpe. Não quero parecer mal-agradecida. O rubor no rosto da mulher a iluminou e fez com que o verde dos olhos parecesse mais escuro. Ele percebeu que a havia surpreendido, mas aquele selinho mal podia ser considerado um beijo. Mas tinha um gosto bom, pensou ele agora. De cereja... e chocolate. E os lábios eram incrivelmente macios. Um casal virou a esquina e fitou Marcy. Evan puxou-a perto, protegendo-a da visão dos dois. Depois que se afastaram, ele voltou a se distanciar. — Vamos pegar o resto de suas malas? — perguntou ele Ela olhou para a mala que ele segurava. — Só trouxe isso. Ele enrugou a testa. — Você só trouxe uma mala para passar três semanas? — Fazer as malas significa tomar decisões em relação ao que você realmente precisa ou não. — Ela ajeitou a mala de lona no ombro. — Roupas que pesam pouco, combinam entre si e não amassam, dois pares de sapatos, um par de sandálias, meu

nécessaire e um chapéu. — Parece que você escreveu um livro sobre isso. — Só um pequeno artigo na seção de viagem do número anterior.


— É mesmo? — Aparentemente ela não percebera que ele estava brincando. Parecia que a senhorita Marcy Pruitt estava um pouco tensa. — Escreveu algum artigo sobre como descer numa estação de trem sem ser vista? — Esse assunto está marcado para o número de janeiro. Ainda estou pesquisando. Por um mísero segundo, pensou que ela estivesse falando sério, mas depois percebeu o canto da boca se curvar. Então, afinal, ela possuía um senso de humor. Isso era bom, especialmente porque passaria os próximos trinta e cinco minutos no carro com ela. Sorrindo, Evan pegou o braço de Marcy. — Pronta para partir, senhorita Pruitt? — Quando você estiver, Sr. Carver. — Enterrou o chapéu na cabeça e colocou os óculos de volta no rosto. — Mostre-me o caminho.

CAPÍTULO DOIS

Bagagem no porta-malas e chapéu dobrado na bolsa, Marcy observava Evan afastar-se da estação de trem e acelerar suavemente o carro preto de luxo pela estrada. Sentiu o cheiro de carro novo e a maciez do assento de couro. Deu uma olhada no painel digital do espelho retrovisor que lhe informou que a temperatura no interior do carro era de agradáveis 24 graus, enquanto a do lado de fora era de sufocantes 37 graus. Por algum motivo, este carro elegante não combina com esse homem, pensou ela. As mãos grandes e calosas, os ombros largos e os jeans desbotados faziam-na facilmente imaginar o futuro cunhado de Clair atrás do volante de uma picape ou de um jipe ou até mesmo de uma supercaminhonete. Um carro másculo e poderoso que pudesse enfrentar estradas de lama, por exemplo. — Alguma coisa errada? — perguntou Evan. — Errada? — Ela olhou para ele e percebeu que havia se inclinado para passar os dedos na superfície do painel de mogno do carro. Consciente disso, puxou a mão e endireitou-se. Tocar as coisas, ter a necessidade de saber a sensação e a textura ou


analisar como algo foi feito era muito natural para ela e raramente percebia quando estava fazendo isso. — Não, nada errado. — Cruzou as mãos sobre o colo. — Estava admirando seu carro. — Não é meu, é do hotel — disse ele, voltando sua atenção para a estrada. — Por alguma estranha razão, Clair achou que você estaria mais confortável neste carro do que na minha picape. Vocês mulheres da Califórnia têm alguma coisa contra caminhonetes? — Não, claro que não. Não teria me incomodado nem um pouco. E não sou realmente da Califórnia. Na verdade, nasci Borbridge, em Ohio, é uma cidade pequena perto de... — Ela percebeu o canto da boca dele curvando-se. — Você está de brincadeira. Ele sorriu. — Desculpe. Não consegui resistir. Na verdade, este carro é divertido de dirigir. Mesmo aos 140 por hora, ronrona como um gatinho. Cinto e quarenta? Marcy engoliu em seco. Jamais passara dos cem em seu pequeno carro. Quando Evan ultrapassou um caminhão como um raio, ela apertou o cinto de segurança, assustada. Meu Deus! Ele gostava mesmo de dirigir em alta velocidade. — Música? — Oh, com certeza. — Largou o cinto de segurança. — Pode escolher. Com uma música dos Rolling Stones, Marcy observava a estrada passar. A paisagem deixou-a maravilhada. Casas de fazendas enormes. Pastos, vacas e cavalos. Um homem dirigindo um trator verde. — Está gostando de matar o trabalho? Virando-se, olhou para Evan e percebeu que ele estava olhando para ela. Olhos que não apenas olhavam para você, como os da maioria das pessoas, mas olhavam por

dentro. Repentinamente, o carro pareceu menor, o espaço entre eles mais curto. — Matar o trabalho? — Você sabe, escapulir do trabalho sem ser percebida, esconder-se daquelas reuniões animadas.


— Ahh... Certo. — Ela olhou novamente para a estrada à frente deles, e observou o calor do asfalto subindo. — Mas ainda não estou tranqüila em relação a isso. Fico esperando Helen aparecer no banco de trás ou, de repente, dirigindo ao nosso lado. — Helen? — Minha empresária. Não está muito satisfeita comigo neste momento. — Só porque você está tirando uns dias de folga? — perguntou Evan. Quando ele acelerou para ultrapassar outro caminhão, Marcy prendeu a respiração. — Três semanas são muito mais que alguns dias. Para Helen, é uma eternidade. E acima de tudo, eu não disse a ela par onde estava indo. Ela vai ficar louca. — De vez em quando é bom deixar as pessoas loucas. Faz com que elas fiquem em alerta. Marcy imaginou que Evan devia manter muitas pessoas em alerta, a maioria do sexo feminino. Desde o beijo que lhe dera na estação de trem, estava bastante desequilibrada. Não que ela considerasse aquilo um beijo de verdade, no sentido homem-mulher da palavra. No entanto, mesmo ridículo como tinha sido, o inesperado roçar dos lábios dele nos dela fez com que fosse difícil se concentrar em outra coisa. Meu Deus, ela realmente precisava começar a namora mais. Bem, na verdade, ela precisava começar a namorar. Ponto. O trabalho de 24 horas por dia e sete dias por semana nos últimos quatro anos definitivamente comprometera sua vida particular. A verdade era que não tinha vida pessoal. E agora que decidira ter uma, quaisquer que fossem as conseqüências, não sabia exatamente o que fazer. Só sabia que era hora de parar de agir como uma criança tímida. Em situações novas, sempre ficava um pouco nervosa! Mesmo agora, sempre que falava em público ou aparecia na TV os joelhos tremiam. E só de pensar em seu próprio programa de televisão, que estava por vir, sentia a adrenalina correr até o estômago. A única coisa que a fizera sobreviver a esses últimos quatro anos sob os refletores foi o conjunto de técnicas que aprender para acalmar os nervos. Olhando para Evan, parecia-lhe que não havia melhor momento para aplicar essas técnicas — embora a técnica de ver a platéia nua não lhe parecesse a melhor para ser usada neste momento.

Inspire. Devagar... profundamente, solte o ar. Três vezes.


Visualize um lugar bem tranqüilo. Pés na areia, uma praia vazia. Concentre-se. Pense no que precisa ser feito e em como fazer. Você está bem? — perguntou Evan. — Estou. — Mais calma agora, lentamente soltou o ar da terceira respiração e olhou para Evan. — Clair me disse que você tem uma empresa de construção. O que você constrói? — Casas customizadas, principalmente. — Ele virou numa estrada pitoresca de três faixas e diminuiu a velocidade do carro. — Compro lotes de terra de dez a quinze acres e construo neles de cinco a sete casas. — Por que tão poucas? — Em Los Angeles, pensou Marcy, seriam construídas provavelmente umas trinta ou quarenta casas num terreno desse tamanho. — Em primeiro lugar, porque acho que as pessoas precisam de espaço — disse Evan. — Em segundo, se permaneço em um mesmo lugar ou no mesmo projeto por mais de alguns meses, fico ansioso. — Ansioso para voltar para casa? Ele sacudiu a cabeça. — Ansioso para mudar. Minha "casa" é um trailer de dez metros que está sempre comigo. — Você constrói casas, mas mora num trailer? — perguntou ela, surpresa. — Não fico em casa o suficiente para cortar a grama ou limpar a calha — disse ele, encolhendo os ombros. — E você? Em que tipo de casa Marcy Pruitt mora? Espere, deixe-me adivinhar... chalé de madeira com uma cerca de estacas brancas e rosas no jardim? — Mais parecido com um chalé de alvenaria, uma cerca de madeira e jardins sem plantas. Me mudei há seis meses e muita coisa ainda está por fazer. — Vai aparecer na coluna "Reformando com Marcy"? Surpresa, ela olhou para ele. "Reformando com Marcy" era o artigo de caráter mensal mais popular de sua revista. Às vezes pegavam um único ambiente de uma casa, às vezes a casa inteira, e lhe davam um novo visual. — Você já leu a minha revista? — Dei uma olhada no escritório de Clair.


— Ah... Nunca fiz uma reforma em um trailer. Que tal me deixar fazer no seu? Ele a olhou com aquele olhar "você-só-pode-estar-brincando". — Prometo não usar cor-de-rosa ou penas — ela assegurou-lhe, mas podia jurar que ele ficou pálido só de pensar na possibilidade. — Obrigado, mas não. Aqui estamos nós. — Ele passou por um posto de gasolina ligado a um café e a um pequeno hotel, depois virou à esquerda, saindo da estrada. — Bem-vinda ao Wolf River. Claramente, o ritmo da cidade era mais lento e o trânsito mais livre. Pelo padrão de Los Angeles, pensou ela, estava deserta. Havia mais caminhonetes que qualquer outro veículo na rua e apenas dois sinais de trânsito até onde podia ver, mas, quando entraram em outra rua, avistou um cinema multiplex e duas lanchonetes de cadeias populares. Baseando-se nas construções que aconteciam da estrada até a cidade, parecia-lhe que Wolf River estava crescendo a passos largos. Mas o mais novo e um dos maiores acréscimos à cidade, Marcy sabia, era o Four Winds Hotel. Ficava na parte leste da cidade — não era exatamente alto em comparação aos padrões das cidades grandes, mas, para Wolf River, o hotel de doze andares era um arranha-céu. Sob um extenso pórtico, ao lado de duas portas altas e de vidro, um trio de cavalos de bronze em tamanho natural pareciam correr por uma fonte de água. Enormes canteiros de petúnias brancas e lilases alinhavam-se no meiofio, onde os funcionários do hotel cumprimentavam os hóspedes e pegavam as malas. — É lindo — murmurou ela. Ele também havia ficado surpreso quando viu o hotel pela primeira vez, especialmente em comparação com o tamanho de Wolf River. — Espere até ver por dentro. Ele encostou o carro e pressionou um controle remoto preso ao visor do carro. O portão se abriu, ele entrou e estacionou numa vaga subterrânea reservada aos hóspedes que ficavam na cobertura. — Há um elevador privativo que nos leva às suítes. — Ele desceu do carro e deu a volta para abrir a porta para Marcy. — Eu poderia levar você para um passeio, mas o bebê é da Clair e acho que ela gostaria de ter essa honra. — Mal posso esperar. — Ela o seguiu até o elevador depois que ele tirou a bagagem do porta-malas.— É tão difícil acreditar que há apenas alguns meses ela ainda


estava em Charleston e ia se casar com Oliver e... — Ela fez uma pausa e mordeu os lábios. — Desculpe, eu não devia ter mencionado isso. — Não é nenhum segredo, Marcy. — Evan segurou a porta para que ela entrasse. — Você o conheceu? — Encontrei com ele algumas vezes quando fui visitar Clair em Radcliffe, mas ele não aprovava a nossa amizade. Enrugando a testa, Evan apertou o botão do último andar. — O que quer dizer com "ele não aprovava" ? — Para ajudar a pagar a faculdade, eu não só fiz algumas faxinas como comecei a cozinhar para as festas do corpo docente. — disse ela — Certa vez, ouvi por acaso Oliver dizer a Clair que não era legal ela dividir o quarto com uma garota que limpava casas e cozinhava para os professores. — Que idiota — murmurou Evan. Marcy sorriu. — Acho que foi a única vez que vi Clair irritada de verdade. Disse a ele que, se não pudesse ser legal comigo, não se casaria com ele. Depois disso, Oliver era tão educado e simpático toda vez que me via que me dava vontade de rir. — Parece que nós dois estamos felizes com o fato de ela não ter se casado com o tolo — disse Evan. A portado elevador se abriu e eles entraram em um pequeno saguão com chão de mármore negro polido e candelabros de cristal. Havia um sofá cor de vinho e duas poltronas, além de um aparador com um antigo aparelho de chá. A suíte dela ficava no fim do corredor e, quando Evan abriu a porta, o perfume de flores foi trazido pelo ar. Na mesa de entrada, um buquê enorme de rosas brancas ocupava um vaso de cristal. — Ah, como são lindas! — Marcy correu até as rosas e enfiou o nariz nelas. Lá estava ela novamente, pensou Evan enquanto observava Marcy sentir o perfume das flores. Aquela excitação desinibida, a ternura em sua voz. Concluiu que gostava desse lado Marcy Pruitt enquanto a observava passar as pontas dos dedos longos sobre as pétalas das rosas. A pele dela era assim, lembrou ele. E os lábios.


Percebendo que seus pensamentos o levavam por um caminho estranho, limpou a garganta. — Quarto? — Como? — Ela virou o rosto rapidamente. — Sua mala. Coloco no quarto? — Ah não, obrigada. — Ela deu as costas para as flores e foi na direção dele, a mão bem aberta. — Deixe que eu carrego. Você já fez mais do que o suficiente e eu realmente... Ela parou de súbito e respirou com força para sentir o cheiro do ar. Os olhos se arregalaram. — Hambúrgueres — disse ela, a voz um pouco ofegante. — O quê? — Hambúrgueres — repetiu ela, girando no calcanhar de seus sapatos azulmarinho sem salto. E correu até a área de estar da suíte. Intrigado, ele a seguiu e observou-a levantar a tampa de prata de uma bandeja que estava no carrinho de comida. — Humm. Veja isto — disse ela, dando uma risada. Evan colocou a mala no chão e parou ao lado de Marcy. — É. Hambúrgueres. Na verdade, uma pilha de hambúrgueres envolvidos por batatas fritas bem fininhas. Em volta do prato, havia pequenas tigelas de prata com temperos. Havia tudo: de catchup a picles, de pimenta a queijo. — Isso é que é serviço de quarto — disse ele, admirado. — O que está acontecendo? — Esse é o jeito de Clair dizer olá — respondeu Marcy, depois deu uma risada quando levantou a tampa de um segundo prato que continha um pedaço enorme de bolo de chocolate, uma pequena cestinha de bombons e um frasco de chantilly resfriandose numa tigela de cristal com gelo. — Na faculdade, Clair era toda saudável e estava sempre fazendo dieta, mesmo que nunca precisasse. Mas eu, ao contrário dela, só comia porcaria. Isso que está vendo aqui era minha refeição favorita.


— Você é a mulher perfeita para mim. — Evan encarou com admiração o banquete na mesa. — Talvez devêssemos nos casar. — Estou um pouco ocupada no momento. — Sorrindo, ela enfiou o dedo na cobertura do bolo de chocolate. — Me peça em casamento mais tarde. — Evan sentiu um nó na garganta quando Marcy lambeu a cobertura de chocolate do dedo e depois fechou os olhos, gemendo suavemente. — Gostaria de me acompanhar? — perguntou ela, abrindo os olhos. Ele teve de esperar um momento para a pulsação voltar ao normal, lembrando-se de que estavam falando de comida, nada além disso. Tinha de haver alguma coisa muito errada com os hormônios dele, pensou, mentalmente sacudindo a cabeça, e condenou o inesperado desejo sexual ao olhar aquelas comidas de dar água na boca. Sorrindo, ele gentilmente puxou uma cadeira para ela e fez um gesto para que se sentasse. — Pensei que não fosse me convidar.

Sentados à mesa, Marcy observava com fascinação Evan montar um hambúrguer de maneira metódica. O dela continha maionese, alface e tomate, enquanto o dele tinha tudo menos mostarda e picles. Tudo naquele homem parecia maior que a vida, pensou ela. Seu tamanho, sua personalidade, sua beleza. E, definitivamente, sua masculinidade. Decidiu que um papo evitaria que ela pensasse demais. — Clair me disse que você e Jacob foram criados em Nova Jersey. O que trouxe vocês ao Texas? Ele esticou os braços para pegar a mostarda e colocou grande quantidade sobre o pão aberto. — U.T. — Universidade do Texas? — Seis anos. — Ele deu uma risada boba. — Fiz mestrado em ciência. Ela levantou uma sobrancelha e alcançou-lhe o picles. — Mas foi parar no ramo de construção.


— Odiava trabalhar em lugares fechados. Obrigado. — Pegou o picles e espalhou uma camada no pão. — Passei um verão trabalhando como carpinteiro e descobri que não só gostava do trabalho manual, mas era bom nisso. Ela observou as mãos dele enquanto terminava de construir a mansão de hambúrguer. Os dedos eram longos, as unhas bem curtas. Era fácil imaginá-lo segurando um martelo ou um serrote, mas, quando sua imaginação a levou mais adiante, vendo-o sem camisa, com o rosto bronzeado e o peito suado, rapidamente expulsou o pensamento de sua mente. Voltando a atenção para o hambúrguer dele, Marcy observou-o dar uma mordida em sua criação e depois enrugar a testa. — Alguma coisa errada? — perguntou ela. Ele olhou para as tigelas com os acompanhamentos. — Falta uma coisa. — Mais catchup?

— Amadora. — Ele colocou algumas batatas fritas no hambúrguer e deu uma mordida. — Muito melhor. — Batata frita dentro do hambúrguer? — Marcy olhou para Evan admirada. — Aposto que não está em nenhuma de suas receitas. — Ele ofereceu o hambúrguer a ela. — Experimente. — Não, obrigada. — Evidentemente estava curiosa, mas dar Ima mordida no hambúrguer dele parecia ser algo pessoal demais para fazer naquele momento. — Estou bem, assim. — Uma mordidinha. — Ele passou o hambúrguer sob o nariz dela. — Vamos lá, meu docinho. É um desafio.

Docinho. Ela franziu a testa para ele. Bem, um desafio era desafio, pensou ela. E o cheiro era bom. Aproximou-se do hambúrguer e deu uma mordida mínima. — Chama isso de mordida? — Sacudiu a cabeça. — Vamos lá, me mostre do que Marcy Pruitt é feita. Com um suspiro, colocou as mãos sobre as dele e pegou uma boa amostra de sua invenção. Por hábito, fechou os olhos e concentrou-se em identificar todos os gostos. — Então? — perguntou ele.


— Doce. — Ela lambeu os lábios. — Definitivamente salgado. — Ela mastigava devagar, deixando as papilas gustativas reconhecerem os sabores. — Interessante. Em algum lugar entre o murmúrio de Marcy dizendo "doce" e "salgado", a boca de Evan ficou seca como um rio no verão. Com os olhos fechados, o rosto de Marcy parecia deliciado e mergulhado em um prazer absoluto. Mas foi o lento movimento de sua língua sobre os lábios que o fez pensar em algo completamente diferente. Não conseguia tirar os olhos dos lábios dela. Marcy tinha uma boca impressionante. Larga, carnuda, os cantos curvados para cima. Quando a ponta da língua passou pelo lábio inferior novamente, sentiu um desejo ardente por ela. Essa é Marcy Pruitt, disse ele para si mesmo. É amiga de Clair, acima de tudo. Ele não tinha o direito de pensar o que estava pensando. Quando ela soltou um pequeno ruído de prazer, uma gota de suor escorreu pela testa de Evan. Pegou o hambúrguer de volta, se recostou na cadeira e deu uma mordida, tentando não pensar no lato de que a boca de Marcy havia, há pouco, tocado exatamente no lugar onde ele mordeu. Marcy abriu os olhos e sorriu. — Gostei. É uma receita secreta ou posso publicar na minha revista? — É toda sua — disse ele, soando o mais informal possível. Pode fazer o que quiser com ela. Ela enrugou a testa pensativamente. — Acho que nunca escrevi um artigo sobre hambúrgueres. Pode ser interessante. Ele pensou que seria um artigo bem curto. O que era preciso saber? Carne, pão e muitos acompanhamentos. — Toc, toc. — Clair enfiou a cabeça na porta. — Tem alguém em casa? Evan percebeu a expressão do rosto de Marcy iluminar-se quando viu Clair, que já estava correndo pela sala de braços abertos. As duas se abraçaram e riram. — Evan encontrou você facilmente? — As palavras de Clair saíram apressadas. — Acho que sim, já que você está aqui. Ah! Senti tanto a sua falta! Fungando, Marcy pegou um lenço do bolso e enxugou os olhos.


— Você está absolutamente radiante. Estar apaixonada e comprar um hotel tem tudo a ver com você. — É verdade. E você... — Clair também enxugou os olhos. — Sua própria revista, livros e uma coluna publicada em vários periódicos. Ficou cansada só de pensar. — Tenho um grupo de pessoas maravilhosas que trabalham comigo — disse Marcy. — Não conseguiria fazer nada sem eles. — Você sempre foi modesta. — Clair abraçou-a novamente. — E essa é uma das razões pelas quais eu amo você. Ah! Mal posso esperar para Jacob conhecê-la. Ele só volta amanhã de manha, portanto, eu e você teremos uma festa de pijamas hoje à noite. — Também posso participar? — perguntou Evan, esperançoso. — Sem chance. — Clair aproximou-se de Evan e beijou-lhe o rosto. — Mas muito obrigada por ter pego Marcy. Foi fácil achá-la? — Chapéu branco grande. — Ele sorriu para Marcy. — E uma multidão de fãs. — Duas não é uma multidão — disse Marcy, sacudindo a cabeça. — Evan conseguiu mandá-las embora. — Sério? — Clair levantou uma sobrancelha e olhou para Evan. — Como fez isso? Ele sorriu para Marcy, que ficou vermelha de vergonha. — Eu a beijei e disse que era minha esposa. — Você fez o quê? — perguntou Clair, com a voz sufocada. — Eu tinha de fazer alguma coisa — disse ele. — Alice e Betty Lou estavam pressionando. — Alice e Betty Lou? — Confusa, Clair enrugou a testa. — Na verdade, Alice. Betty Lou não achava que esta garota aqui se parecia com Marcy Pruitt. De queixo caído, Clair olhou para Marcy. — Ele está de brincadeira, não é? — Ele está dizendo a verdade — disse Marcy. — Betty Lou me achou magra demais e alta demais para ser Marcy Pruitt. Sem palavras, Clair olhou de um para o outro, depois deu uma gargalhada e abraçou Marcy novamente.


— Parece que temos muito assunto para colocar em dia. Desmarquei os compromissos da tarde para que possamos começar imediatamente. — Já entendi. — Evan levantou-se. — Divirtam-se. Marcy esticou o braço. — Obrigada por me buscar. — Imagina, nenhum problema. — Sorrindo, ele colocou os dedos nos dela. — Sempre que precisar de uma carona ou de um marido, é só me avisar. Ela ficou ainda mais ruborizada. — Pode deixar. — Então, quer me contar o que aconteceu? — Clair olhou para Marcy depois que Evan fechou a porta da suíte. — O quê? — Ele beijou você de verdade? — Com a melhor das intenções — disse Marcy, incomodada quando a lembrança do beijo fez seus lábios formigarem. — Garanto que ele estava muito mais interessado nesses hambúrgueres do que em mim. Aliás, ainda não lhe agradeci. Uma tacada de mestre, senhorita Beauchamp. — O pessoal da cozinha achou um pouco estranho quando fiz o pedido — disse Clair, com um sorriso no rosto. — Mas você quase não comeu. Sente-se e coma enquanto falo sobre Jacob. — Ele deve ser especial. Você nunca ficou radiante quando estava com Oliver. — Eu cheguei muito perto de cometer o maior erro da minha vida. Se Jacob não tivesse me encontrado, eu seria agora a Sra. Oliver Hollingsworth. Quando Marcy encheu uma das mãos com batatas fritas e colocou-as no hambúrguer, Clair olhou-a com um ar questionador. Marcy sorriu. — Idéia de Evan. — Cuidado com as idéias de Evan — advertiu Clair. — Ele adora dar idéia para as mulheres. — Essa é a última coisa com que preciso me preocupar — disse ela. — Os homens não dão muita idéia para mim.


— Você é uma mulher linda, Marcy — disse Clair, com firmeza. — Se não se escondesse por trás dos óculos e de um corte de cabelo que cobre a maior parte do seu rosto, estaria dispensando muitos homens. — Não estou me escondendo. É assim que sou. E mesmo se eu quisesse mudar, não poderia. As pessoas esperam que eu me vista e me comporte de uma determinada forma. Clair suspirou e sacudiu a cabeça. — Querida, se eu consegui aprender a não me preocupar com a expectativa das pessoas, todos conseguem. Existe uma selvagem dentro de Marcy Pruitt — disse Clair, com um sorriso no rosto. — Só está esperando que você a solte. Uma mulher selvagem! Marcy sacudiu a cabeça frente à bobagem que Clair dissera. Mas era bom ser boba, relaxar e rir com uma velha amiga, pensou ela. — Chega de falar de mim — disse ela, ainda rindo. — Estamos falando de você e Jacob, lembra? Comece lá do início e não deixe um único detalhe de fora.

CAPÍTULO TRÊS

Marcy logo descobriu que os detalhes da história de Clair eram fascinantes. Daria um ótimo filme. Um acidente numa estrada cheia de neve, perto de uma cidade pequena. O pai e a mãe morrem, mas os três filhos sobrevivem: dois garotos, sete e nove anos, e uma garotinha, de menos de três anos idade. Um tio ambicioso e louco separa as crianças e paga um advogado corrupto para que as crianças sejam adotadas de maneira ilegal e em separado, sem nenhum deles saber onde os irmãos estavam. Vinte e três anos mais tarde, uma prima descobre a verdade e contrata um investigador particular para encontrar as crianças e reunir a família. Jacob era o investigador particular. Clair era a garotinha. — E você descobriu tudo isso dois dias antes do seu casamento? — perguntou Marcy, ainda tentando absorver a grandiosidade da história de Clair. — Estava fazendo a última prova do vestido — respondeu Clair. — Jacob me seguiu quando estava saindo da loja. Disse que eu tinha nascido em Wolf River, no


Texas, e que meu nome verdadeiro, de nascimento, era Elizabeth Marie Blackhawk e que eu tinha dois irmãos mais velhos: Raul e Seth. Sentaram-se confortavelmente no sofá da sala de estar da suíte. O serviço de quarto tinha ido e vindo com uma cesta de bolinhos de amora e uma jarra de chá de hortelã. Sem sapatos e os pés enfiados sob as pernas, Marcy escutava Clair contar a história. — Era tudo tão absurdo que não acreditei, de início. Achei que ele era louco ou estava completamente enganado. Como os meus pais podiam ter mentido para mim daquele jeito? — Clair serviu as duas xícaras de chá e entregou uma a Marcy. — Mas ele tinha provas. Fotos, artigos de jornais sobre o acidente. — Uma certidão de nascimento. Até mesmo cópias dos papéis da adoção por meus pais. — Seu olhar estava vidrado. — Aquilo dizia tanta coisa. Eu tinha pais que me amavam, dinheiro, a melhor educação. No entanto, sempre tive a sensação de que faltava alguma coisa na minha vida. De alguma maneira, eu não me encaixava ali.

Esse era um sentimento familiar a Marcy. Depois que seus pais morreram e ela fora morar com a tia Hattie, Marcy tornara-se um peixe fora d'água. A tia, uma viúva excêntrica sem filhos, nunca soube muito bem o que fazer com a sobrinha de oito anos de idade. Em um nível intelectual, Marcy entendia por que era diferente das outras garotas, mas isso certamente não fazia com que o processo fosse menos doloroso. Mas, sentada no sofá com Clair, pensou Marcy, tudo era mais fácil. Não importava que não se viam há um ano e que se falavam pouco ao telefone. O tempo se dissolvia e só havia o aqui e o agora. — Desculpe-me por não estar com você quando tudo aconteceu — disse Marcy suspirando. — Passei os últimos quatro anos ouvindo outras pessoas me dizendo aonde ir e o que fazer para o bem da minha carreira. Estou finalmente descobrindo como dizer não. — Que bom. Um brinde a essa palavrinha pequena e poderosa. — Clair bateu com a xícara de chá levemente na de Marcy. — Mas o fato de você não conseguir dizer não era para o seu próprio bem. Eu me sentiria péssima se você tivesse cancelado a divulgação do seu livro na Europa para vir ao meu casamento e me ver correndo da igreja ao som da "Marcha nupcial”. — Na verdade eu queria estar aqui para ver isso — disse Marcy. — Não consigo me imaginar fazendo algo que requer tanta coragem.


Clair sacudiu a cabeça. — Com certeza na época não pareceu um ato corajoso. Mas vi Jacob de pé no fundo da igreja e nossos olhares se encontraram, eu sabia que não poderia me casar com Oliver e viver uma mentira. Caminhei em direção a Jacob, pedi-lhe uma carona e, desde então, não olhei para trás. — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Pela primeira vez na vida, tudo está bem: Jacob, encontrar meus irmãos, comprar este hotel. E agora ter você aqui. Minha vida está perfeita. — Não me faça chorar também. — Respirando fundo para não chorar, Marcy apertou a mão de Clair. — Estou tão feliz em ver você feliz. Jacob é um cara de sorte. — Eu é que sou sortuda — disse Clair, radiante. — Mas chega de falar sobre mim e Jacob. Quero saber sobre sua revista. E me diga uma coisa... — Clair aproximouse — é você mesma quem escreve todas as respostas na sua coluna de conselhos sobre estilo de vida? Rindo, Marcy deu um gole no chá e recostou-se no sofá. — Todinhas.

Era uma ótima manhã para nadar. O ar estava fresco e a maioria dos hóspedes do hotel ainda estava dormindo ou em seus quartos dando o primeiro gole no café. Exceto pelo suave zumbido do motor da piscina e da distante agitação dos pássaros em uma árvore próxima, estava um silêncio de pedra. Tirando a camiseta, Evan mergulhou fundo e nadou suavemente pela água fria. Parecia que havia um milhão de anos que fizera parte da equipe de natação do colégio. Terminou a primeira volta e virou-se para a segunda. Ele adorava sentir o sangue revigorado correndo pelas veias. Sempre acordara cedo. Trabalhar com construção exigia acordar com os primeiros raios do sol texano. Ele amava seu trabalho em todos os aspectos. Amava começar apenas com um pedaço de terra poeirento e cheio de mato, para depois construir algo que resistiria à prova do tempo. Terminara o último projeto na semana anterior e já estava impaciente para ter algo com o que ocupar suas mãos e sua mente. As mulheres, é claro, eram sempre a melhor opção para ocupar o tempo livre. Enquanto estava trabalhando, os dias começavam cedo demais e terminavam tarde demais para que pudesse dar ao sexo oposto a atenção necessária.


Na noite anterior, encontrara duas modelos, Mandy e Suzanne, na sala de estar do primeiro andar. Convidaram-no para uma festa que estavam organizando na suíte delas à noite, mas, por causa do chá-de-panela de Clair e Jacob, teve de recusar o convite. Pessoalmente, achava que os homens não deviam comparecer a chás-de-panela. Mas Clair insistira que a festa era para a noiva e para o noivo, e que era responsabilidade do irmão comparecer. Mas Mandy e Suzanne não eram as únicas mulheres em sua mente nesta manhã, percebeu

Evan

quando

deu

impulso

para

a

quarta

volta

na

piscina.

Surpreendentemente, também estava pensando em Marcy. Até ontem, nunca dera muita atenção àquela mulher nem de uma maneira nem de outra. Mas agora que a conhecera, parecia que não conseguia tirá-la da cabeça. Aquele chapéu engraçado e maior que ela. O olhar assustado quando a beijou na estação de trem. O jeito quase sexual com que tinha tocado e cheirado as rosas que Clair enviara. A expressão de puro prazer em seu rosto quando provou o hambúrguer com batatas fritas. Ele quis provar os lábios dela naquele momento. Quis lamber aquela doçura salgada. Ficou feliz por Clair ter entrado ou, pelo menos, deveria ter ficado feliz. Só podia imaginar que teria assustado Marcy para valer se realmente a tivesse beijado. Não aquele selinho na estação de trem, mas um beijo de verdade.

\Ainda vou beijá-la, pensou ele. Um beijo vagaroso e natural, nada muito sugestivo. Não queria lhe dar uma idéia errada ou assustá-la. Só queria uma provinha, só isso. O suficiente para acabar com sua curiosidade. Ou talvez precisasse apenas de mais quinze voltas na piscina. Um bocado de esforço físico para queimar o excesso de energia que sempre tinha quando não estava trabalhando. Mas depois pensou na suavidade dos lábios de Marcy e em quão macia era sua pele.

E melhor eu dar vinte e cinco voltas, disse para si mesmo e deu mais um impulso na borda da piscina.

Se Marcy já tinha achado a parte de fora do hotel elegante, a única palavra para descrever o saguão era requinte. Mármores pretos italianos encerados brilhavam sob imensos candelabros de ferro e chifres de alce. Mesas européias antigas


estrategicamente posicionadas misturavam-se com um piso de vigas de madeira e paredes de argila. Sofás e cadeiras em tons de marrom e vermelho convidavam os hóspedes a relaxar enquanto uma música clássica misturava-se ao som de água de uma fonte de pedra. Sofisticação casual, decidiu Marcy, seguindo Clair em sua vistoria matinal no hotel. Já haviam passado pela bem-equipada academia e spa, uma butique com roupas lindas, um salão de beleza luxuosíssimo, uma cozinha maravilhosa que servia aos dois restaurantes do hotel. — Você deve estar exausta — disse Clair, enquanto Marcy observava a estátua de bronze de um cavalo sobre uma mesa de i canto. — A viagem e me ouvir falando a noite inteira. — Eu me lembro ter falado tanto quanto você. E até uma hora da manhã não é a noite inteira. — É sim, quando você acorda às cinco e meia. — Clair acenou para uma morena atrás do balcão. —Além do mais, de que lhe serve tirar férias se não puder dormir? Eram apenas seis e meia da manhã e, exceto pêlos funcionários, o saguão do hotel estava vazio. Marcy teve a impressão de que esta era a melhor hora para conhecer o hotel sem precisar usar o chapéu. — Eu não conseguiria dormir de qualquer maneira — disse ela com sinceridade. — Estava ansiosa demais para ver o hotel. Eu absolutamente amo o que você fez. — Meu primo Lucas o projetou para ser um centro turístico e de conferências. — Clair guiou Marcy ao corredor dos elevadores do saguão. — Só fiz algumas reformas quando comprei o hotel dele. Olívia Cameron é a projetista de interiores com quem tenho trabalhado nos últimos meses. É dona de um antiquário na cidade. Adoraria conhecê-la — disse Marcy. — Nosso número de janeiro vai ser dedicado aos antiquários de pequenas cidades. Talvez possamos incluí-la. — Ela vai estar na festa hoje à noite, então poderá conhecê-la. — Clair parou para olhar um vaso de flores numa mesa de madeira com tampo de granito. Mudou o vaso de lugar em um centímetro. — Quero mostrar meu escritório e depois vamos tomar café da manhã. Marcy seguiu Clair atravessando uma porta dupla de vidro que dava no saguão e no conjunto de elevadores reservados aos executivos e aos hóspedes do último andar. A porta do elevador se abriu e dele saiu um homem vestindo um uma gravata cinza. Era


alto, os cabelos negros e volumosos, curtos e bem penteados. Quando sorriu para Clair, os cantos dos olhos azuis se apertaram. — Senhorita Beauchamp. — Fez uma reverência com a cabeça, depois se voltou para Marcy. — Senhorita Pruitt, bem-vinda ao Four Winds. — Sam Prescott é meu gerente — explicou Clair. — Disse a ele que você estaria hospedada aqui conosco. Pode confiar que ele e todos os funcionários daqui serão discretos. — Muito prazer, Sr. Prescott. — Sam — disse ele, pegando a mão que ela oferecera. — E o prazer é todo meu. Se houver alguma coisa que eu possa fazer para que sua estada seja mais agradável, por favor, não hesite em me comunicar. — Muito obrigada. — Senhoritas. — Sam manteve a porta do elevador aberta. — Tenham um bom dia. Depois que a porta do elevador se fechou, Marcy olhou para Clair e deixou escapar: — Meu Deus, todos os homens desta cidade são bonitos? Dando risadas, Clair apertou o botão para o terceiro andar. — Espere até conhecer meus primos e meus irmãos. Se não fossem comprometidos, daria a maior força.

Evan não é comprometido. O pensamento veio à mente antes que pudesse evitar e suspirou aliviada por não ter dito em voz alta. Pensara nele na noite anterior, um pouco antes de pegar no sono. Ficou um pouco envergonhada de pensar nisso à luz do dia. Nunca fora o tipo de se entregar completamente a fantasias sexuais. Não por ser puritana, mas simplesmente pelo fato de nunca ter encontrado um homem que a atraísse, ou um homem que tivesse... estimulado aquela linha de pensamento. Mas deitada sozinha naquela cama enorme, nos lençóis macios e colchão firme, imaginou como seria estar ali com ele. Imaginou como seriam seus músculos sob suas mãos. Como seria a sua pele. Que gosto tinha.


O pensamento lhe deu um nó no estômago e fez o coração se acelerar. — Você está bem? — Clair segurava a porta do elevador, esperando Marcy sair. — O quê? Ah! Sim. Tudo bem. — Perturbada, saiu do elevador com pressa. — É que ainda estou admirada com o fato de que tudo isto aqui é seu. — Eu também. — Clair sorriu e caminhou pelo corredor. O carpete era azulroyal, os quadros na parede eram de pintores ocidentais do século XIX. Clair abriu uma porta alta de carvalho. — Não poderia pensar em uma maneira melhor de começar uma vida nova e, ao mesmo tempo, investir o dinheiro da herança que recebi dos Blackhawk. Entre. — Ah! Clair, eu amei isso — disse Marcy quando colocou os pés no escritório. O cômodo tinha um visual um pouco mais tradicional, com objetos de porcelana e cristal nas prateleiras e mesas de mogno. — É lindo. — Ainda está em andamento, mas estou chegando lá. — Clair foi até sua mesa e pegou o telefone. — Só vou checar as mensagens e já descemos para tomar o café da manhã. Marcy andou até a janela de parede inteira e olhou para a depois tirou os óculos para observar um nadador solitário cortando a leve névoa que emergia da água. Um homem, ela percebeu. Suas braçadas eram seguras e regulares, e quando alcançou a beira da piscina, ergueu-se por um momento. O coração Marcy deu um salto. Era Evan. Quando ele deu impulso para dar outra volta, não conseguiu mais tirar os olhos dele. Parecia atravessar a piscina sem fazer esforço algum, os músculos contraindo-se enquanto cortava a água. Deus, essa visão era para ficar na eternidade! Pernas longas. Corpo forte e molhado. Era o suficiente para tirar o fôlego de uma mulher. Atravessou a piscina novamente, parou, colocou as mãos na borda e impulsionou o corpo para sair da piscina. Ela não pôde deixar de admirar as curvas e os ângulos dos músculos sólidos e sua barriga lisa e rígida. Ele passou a mão pêlos cabelos molhados e pegou uma toalha. Sua sunga azul-marinho estava grudada ao corpo. Ela se inclinou na janela, desejando possuir binóculos. — Pronta? — perguntou Clair, desligando o telefone.


O quê? — Marcy virou-se rapidamente, com os joelhos bambos. — Ah! Com certeza. Mas, enquanto se afastava, não conseguia deixar de pensar no corpo seminu e molhado de Evan.

Depois de se vestir, demorou um pouco para Evan localizar Clair e Marcy no enorme pátio privado do salão principal, onde o café da manhã ao ar livre. Apoiando-se no batente da porta, viu as duas beberem café e beliscarem alguns pães. As mulheres o fascinavam. Eram imprevisíveis. Geralmente inconstantes. Deus sabia que ele desistira de entendê-las há alguns anos. Agora simplesmente as apreciava. O jeito como se movimentavam, o cheiro que possuíam... Aquelas curvas maravilhosas. Olhou para Marcy e tentou visualizar suas curvas sob a camisa rosa de mangas compridas e as calças que vestia. Sabia que ela era esbelta, mas fazia de tudo para esconder os detalhes. O que o deixava ainda mais curioso. Ela estava rindo de alguma coisa que Clair dissera, e o som do riso era quase musical. Ele sorriu, viu-a se aproximar de Clair e sussurrar alguma coisa, depois as duas riram. Sabia que devia ir embora e deixá-las sozinhas, partilhando os segredos e compensando o tempo que passaram separadas. Mas, por outro lado, elas tiveram a noite inteira para fazer isso, não tiveram? Ele abriu a porta e caminhou em direção ao pátio. — Bom dia, senhoritas. O sorriso de Marcy congelou quando ergueu o rosto e encontrou o olhar de Evan. O escudo que ela levantava para estranhos era quase visível. Ele não estava certo de que tinha consciência de seu próprio sistema de defesa, mas certamente entendia por que ela fazia aquilo. Devia ser um horror viver como um manequim de vitrine. Ela provavelmente não podia nem sair para comer sem que, no dia seguinte, saísse no jornal onde ela estivera, com quem e o que comera.

Eu, com toda certeza, não poderia levar uma vida como essa, pensou Evan. Mas, já que não precisava, também não fazia sentido se preocupar com isso.


— Evan. — Virando-se, Clair sorriu para ele. — Junte-se a nós. — Não quero interromper. — Eu sei que quer. — Clair serviu uma xícara de café para ele. — Você está entediado sem a presença de Jacob. Admita. — Nunca fico entediado perto de mulheres bonitas. — Olhou para Marcy. — Bom dia, senhorita Pruitt. Sentiu-se realizado quando viu o enorme sorriso nos lábios dela. — Tão formal — brincou Clair. — Ontem mesmo vocês eram casados. — Ela me deixou — disse Evan, suspirando. Depois, olhou para a cesta de pães na mesa. — Mas um desses pãezinhos e presunto com ovos talvez possam aliviar a dor. — Vou ver o que posso fazer por você quanto ao presunto com ovos. Quanto aos pães, o que você deseja? — perguntou Clair enquanto estendia a cesta de pães a ele. Evan distraiu-se quando Marcy ergueu a xícara de café em direção aos lábios sorridentes. Mais uma vez, ficou encantado por aquela boca. O que ele deseja? Poderia pensar em muitas coisas. Mas, já que Clair estava referindo-se ao café da manhã, pegou um folheado de maçã e se sentou na cadeira ao lado de Marcy. — E então, quando o Grande Jacob vai chegar? — A qualquer momento. — Clair olhou para o relógio de pulso. — Mas ele é meu pela manha. Temos um compromisso fotógrafos. Você pode ficar com ele à tarde quando forem experimentar o smoking. Evan franziu a testa. Droga. Detestava experimentar roupa. Por duas vezes — na formatura do colégio e no casamento de seu mestre-de-obras três anos atrás — sujeitara-se ao que considerava o equivalente masculino dos espartilhos do século XIX. — Você sabe que não é tarde demais para voar até Las Vegas — sugeriu ele. — Ouvi falar que lá é possível se casar numa janelinha de drive-thru. A cerimônia é acompanhada de uma dúzia de tacos e guacamole. Clair revirou os olhos, mas deu uma gargalhada.


— Vou pensar na sua sugestão. Especialmente porque as igrejas em Wolf River não têm dia disponível nas próximas semanas. Pensamos em uma cerimônia ao ar livre, mas, com a imprevisibilidade do tempo, decidimos fazê-la em um dos salões. — Estou dizendo que uma capela em Vegas é melhor. — Evan olhou para Marcy. — O que você acha? — Acho uma ótima idéia — disse Marcy. — Não dê apoio a ele. — Clair franziu a testa quando percebeu a expressão pensativa de Marcy. — Não está falando sério, está? — Não em relação a Vegas — disse Marcy, fazendo um gesto de dispensa com a mão. Marcy não sabia como as idéias surgiam em sua mente, mas de repente estavam lá. Ao longo dos anos, aprendera a deixá-las soltas e ver aonde a levavam. Às vezes, uma idéia que parecia absolutamente estúpida se transformava em algo maravilhoso. — Você podia construir uma capela bem aqui — disse Marcy. — Este pátio é lindo, mas, com o calor e o tempo imprevisível, não tem uso durante boa parte do ano. Poderia convertê-lo em uma capela num jardim fechado e ter a sensação de estar ao ar livre não importando como está o tempo e, além disso, oferecer os serviços de recepções de casamento durante o ano todo. Quando Clair e Evan olharam para ela sem dizer uma palavra, Marcy moveu-se desajeitadamente e pegou sua xícara de café. — Só uma idéia. — É uma idéia maravilhosa. — Clair olhou para Evan com uma mescla de excitação e esperança nos olhos azuis. — Seria possível construir algo assim em apenas três semanas? — E possível. — Evan olhou ao redor do pátio. — Especialmente com a equipe certa. E mesmo que não terminássemos, o pior que pode acontecer é você voltar a sua idéia original da cerimônia no salão. — Já estou amando! — Clair deu um pulo, abraçou Marcy e lhe beijou o rosto. — Você é brilhante! — Ei! E eu? — Evan virou o rosto para Clair. — Eu dei a idéia. Clair também abraçou e beijou Evan.


— Por onde começamos, o que fazemos, quem devemos... — A empolgação esvaiuse de sua expressão. — Espere. Não. Nenhum dos dois está aqui para trabalhar. Não posso deixar vocês fazem isso. Evan olhou para Marcy e sorriu. Ela sorriu de volta. — Você não conseguirá nos impedir — disse ele. — Ah, eu amo vocês! — Havia lágrimas nos olhos de Clair. — Mal posso esperar para contar a Jacob. — Me contar o quê? Marcy ergueu a cabeça e viu um homem parado à porta. Não havia como confundir a semelhança com a família Carver, pensou ela. O mesmo cabelo negro e sorriso devastador, o mesmo rosto anguloso. Parecia um pouco cansado da viagem, com a barba malfeita e uma camisa branca amarrotada, mas isso só aumentava sua infinita beleza. — Jacob! — Clair virou-se, correu até ele e se jogou em seus braços. Quando se beijaram, Marcy educadamente olhou para o lado. Sacudindo a cabeça, Evan suspirou e recostou-se na cadeira. — Isso pode demorar um pouco. Quer esquentar seu café, um jornal para ler, talvez um livro? Mas Clair já estava arrastando Jacob pelo pátio. — Jacob, essa é Marcy. Marcy, Jacob. As mãos de Jacob envolveram as de Marcy. — Ouvi falar muito sobre você — disse ele. Marcy sorriu. — E eu, de você. — Meu amor, não vai acreditar nisto. — Clair deslizou os braços pela cintura de Jacob. — Marcy e Evan vão construir uma capela para nós. Exatamente aqui. Jacob ergueu uma sobrancelha e olhou para Evan. — Em três semanas? Evan fez que sim com a cabeça.


— Vamos ter de fazer alguns planos e montar a equipe imediatamente, mas isso não deve levar mais que dois dias. Provavelmente levantamos isso em duas semanas. — Evan sorriu para o irmão. — Talvez eu até coloque um martelo em suas mãos macias. — Até parece! Na última vez que vi você no trabalho, estava bem elegante e tudo o que fazia era olhar em volta vociferando ordens para todo mundo. — Chega desse amor entre irmãos. Marcy, Evan, vocês têm carta branca nisso. Não importa o que queiram e quanto que custe. É só pedir. — Clair olhou para Jacob. — Agora temos de tornar o senhor apresentável para podermos tirar as fotos. Jacob franziu a testa, balançou a cabeça e beijou Clair. — Não existe outra mulher neste mundo pela qual eu faria isso — disse ele, com os lábios contra os dela. — Também amo você — disse Clair, com um sorriso, e beijou-o novamente. — Talvez possamos nos atrasar um pouquinho. — Você é quem sabe. De braços dados, Clair e Jacob entraram no hotel. Marcy suspirou, depois olhou para Evan, que ainda estava balançando a cabeça com a retirada dos pombinhos apaixonados. De repente, a enormidade do projeto à frente deles fez Marcy ficar sem ar. — É possível fazer isso, não é? — Moleza. Mas vamos provavelmente precisar muito disto aqui — disse Evan, apontando para o café. — E vamos ter de trabalhar bem juntos. O coração acelerou só em pensar. — É por uma boa causa. — Vamos ter de passar horas planejando isso bem rápido e coordenando todo o trabalho. — Tudo bem. Ele se aproximou. — Provavelmente teremos de trabalhar algumas noites também. Agora, o coração foi até a boca. — Qualquer coisa.


O olhar de Evan desceu até a boca de Marcy e ela ficou sem lar. Quando desviou o olhar rapidamente e olhou através dela, ela começou a se virar, mas ele pegou o queixo dela com as mãos. — Não vire de costas — disse ele, abaixando o volume da voz. — Tem alguém olhando para cá. — Quem? — Tire os óculos — sussurrou ele. Rapidamente, ela os tirou. — Ainda estão olhando? — Sim. Estão vindo nesta direção. É melhor fazermos bonito. — Fazermos o quê? Ele respondeu à pergunta dando-lhe um beijo na boca.

CAPITULO QUATRO

Como na primeira vez em que Evan a beijara, Marcy ficou atordoada demais para se mexer. Atordoada demais para respirar. Mas, desta vez — ao contrário da primeira —, correspondeu ao beijo dele. Não sabia quem estava mais surpreso: ela mesma ou Evan. Mas quando os lábios se tocaram, ela sabia que não queria afastá-los. Passara metade da noite fantasiando sobre aquele homem. Como poderia deixar esta oportunidade passar, mesmo que não fosse um beijo de verdade? Não pôde. Não que não estivesse nervosa, é claro. Deus do céu, o coração estava batendo apressado e os pulmões se recusavam a se encher de ar. Mas ele lhe dissera para fazer bonito, não é verdade? Mesmo que beijar não fosse sua especialidade, podia dar o melhor de si. Sempre que se colocava em um projeto entregava-se de corpo e alma. Encostou-se em Evan e colocou as palmas da mão no peito dele. Os lábios dele estavam firmes nos dela; tinham gosto de maçã e canela. O perfume da loção pós-


barba a fazia lembrar madeira escura e úmida, terra molhada. As sensações se agitavam como fitas de cetim coloridas.

Incrível. Sentiu a hesitação dele quando moveu a boca contra a dele, a tensão momentânea dos músculos fortes sob a palma das mãos dela. Tinha certeza que ele se afastaria, que a idéia de Evan de fazer bonito e a dela eram completamente diferentes. A frustração e a vergonha inundaram-na. Mas ele não se afastou. Em vez disso, deslizou a mão por trás de seu pescoço e puxou-a para mais perto, virou a boca na dela e lentamente passou a língua no lábio inferior.

Impressionante. Havia mais sensações agora. Desconhecidas e, no entanto, Excitantes. Emocionantes. Pequenas e intensas fisgadas de prazer invadiam seu corpo. Mesmo que alguém estivesse olhando para os dois neste momento, ela não se importava. A única questão importante no mundo inteiro era a sensação daquela boca na dela e o deslizar quente e úmido da língua em seus lábios. Quando ele deslizou para a parte de dentro, ela tremeu. A curiosidade se tornou um desejo surpreendente e ela apertou os dedos na camiseta de algodão dele. Podia sentir o calor daquele corpo sob suas mãos. O coração dela estava acelerado. Os músculos tensos e o peito dolorido. A cada movimento da língua dele, um desejo que nunca sentira antes se intensificava. Era, ao mesmo tempo, assustador e empolgante. Não teve certeza se foi o som de um cortador de grama a distância ou a batida de asas de um pássaro na árvore, mas um barulho invadiu seu cérebro atordoado, trazendo-a de volta à razão. Abrindo os olhos, ela se afastou, pegou os óculos e colocou-os de volta no rosto. Rezou para que suas mãos não estivessem tremendo muito. Não conseguia olhar para ele, pois tinha medo de ver que o que acabara de acontecer não significava nada para ele ou, pior, que poderia ter achado engraçada sua falta de experiência. — Eles já foram? — perguntou ela, lutando para controlar emoções. — Já. — A voz estava um pouco rouca. — Você está segura. Segura? Meu Deus, ela estava tudo menos " segura" ao lado desse homem!


— Então — disse ele em voz baixa —, vamos para o meu quarto ou para o seu? Chocada, Marcy ergueu a cabeça, aliviada em não ver nenhum ar de indiferença em seus olhos castanhos, que tinham mais do que uma ponta de desejo.

Meu quarto ou o seu? Ela engoliu em seco. Nenhum homem lhe perguntara isso antes. No entanto, o melhor que conseguiu fazer foi dar um chiado. — O quê? — Tenho materiais de desenho no meu apartamento — disse ele. — Vamos ter de rascunhar alguma coisa para a Clair dar uma olhada e depois eu possa tirar as medidas exatas e usar o computador para desenhar a planta. — Certo. — É claro que ele não tinha sugerido nada além de trabalho. Ela se sentiu tão ridícula frente à sua suposição quanto desapontada. — No seu apartamento está bem. Pelo menos, trabalho era uma área de sua vida na qual se sentia completamente confiante e confortável. Sou uma profissional, disse a si mesma. Desde que ficasse concentrada no projeto, não pensaria em Evan de uma maneira física. Mas, mesmo enquanto o seguia até os elevadores, mesmo quando pensou no trabalho que tinha em mãos, os lábios ainda formigavam e a pele ainda queimava. Sabia que as próximas três semanas seriam um verdadeiro desafio.

Observar Marcy trabalhando era tão inacreditável quanto beijá-la, percebeu Evan duas horas mais tarde. Num minuto, estava rabiscando um pedaço de papel, no seguinte, estava falando sozinha. Neste momento, estava fazendo as duas coisas enquanto caminhava de um lado para o outro, da área de jantar para a área de estar. Parecia não perceber a presença dele, embora olhasse em sua direção de vez em quando, com os óculos no alto da cabeça e os olhos arregalados por alguma nova idéia. Então, pegava o lápis atrás da orelha e rapidamente anotava tudo. Ele estava sentado à mesa de jantar, rascunhando projetos um depois do outro, explorando diferentes idéias, cada novo rascunho baseado no anterior. Sabia que estavam próximos do projeto final e precisavam entrar nos detalhes.


Respeitava o fato de ela ser perfeccionista, pois já havia sido acusado do mesmo crime. No ramo da construção, Evan conhecera muitas pessoas que se acomodavam com um "bom o suficiente", mas ele não tolerava trabalho malfeito ou economia. Levara anos para achar a equipe certa e os fornecedores adequados, homens e mulheres tão meticulosos quanto eles. Ele colocou sobre a mesa o esboço no qual estava trabalhando — seu décimo. — O que você acha? — Está quase. — Batendo com os dedos no rosto, ela observou o desenho. — Acho que o teto deve ser um pouco mais alto para parecer mais com uma catedral. Um casamento é um enlace espiritual de duas pessoas. Uma promessa eterna. O ambiente que criarmos tem de dar sustentação e crédito a essa promessa. Não só com nossas mentes e corações, mas com nossas almas. Ele não sabia o que responder. Corações, promessas e para sempre não eram exatamente seu forte. De qualquer maneira, sabia que ela não estava exatamente querendo uma resposta. Nas últimas duas horas, aprendera que era assim que ela funcionava. Ela se fazia uma pergunta ou fazia algum comentário, maquinava aquilo em seu cérebro, deixava guardado, depois pegava novamente até que todas as peças estivessem em seus devidos lugares. Também descobrira que ela não precisava de verdade dos óculos, apenas quando se tratava de algum detalhe, e que não gostava de gelo na água. Sentia-se como seja conhecesse Marcy mais do que a maioria das mulheres que namorara. — O que acha de um vitral aqui? A luz passando por ele vai dar ao ambiente um ar delicado. Ele balançou a cabeça. — É uma boa idéia, mas não teremos tempo para construí-lo, então temos duas semanas para achar um pré-fabricado. O rosto de Marcy iluminou-se de entusiasmo. — A emoção da caçada faz o sangue ferver, minha tia Hattie costumava dizer isso todo sábado antes de irmos à feira de usados. Pensou que, se continuasse olhando para ela daquela maneira, o sangue dele ia ferver aqui e agora. Ele a beijara mais cedo no impulso, num desejo irresistível de tirar aquele ar cerimonioso de seu rosto. Também pensou que, se fossem trabalhar juntos, ele tinha de tirar aqueles pensamentos do caminho e não perder tempo com imaginações. Queria que tivesse sido um simples beijo de amigo.


Mas ela fez o inesperado. Correspondeu ao beijo. E não havia nada de simples naquele beijo. Nada de amigo. Tinha sido quente. Excitante. Perturbador. Não gostava de perder o controle daquele jeito. Orgulhava-se de manter tudo sempre sob controle, especialmente quando se tratava de mulheres e sexo. Mas quando ela pressionou aqueles macios e quentes lábios sobre os dele, quando apoiou as mãos sobre seu peito e fez aquele som com a garganta, ele perdeu completamente o controle. Só conseguia pensar em arrastá-la até o elevador, levá-la para a cama e terminar o que começaram. — Ah, Evan, acho essa idéia ótima. Assustado, ele olhou para ela. Meu bom Deus, ela também conseguia ler mentes ou ele tinha dito o que estava pensando em voz alta? — O que é uma ótima idéia? — Um arco nesta porta aqui. Amei. — Estava de pé ao seu lado, olhando o rascunho por cima dos ombros dele. Estivera tão concentrado pensando em fazer amor com Marcy que mal prestara atenção em seu desenho. Ela se apoiou na mesa e bateu com os dedos no desenho. — Também podemos fazer um arco sobre os vitrais e a porta. Vai dar leveza ao ambiente. O perfume de Marcy fazia-o lembrar da madressilva que crescia no jardim da casa em que morara quando era garoto. Lembrou-se de como era doce arrancar o talo e sugá-lo. O pensamento estimulou mais do que uma simples memória. — Ah! E aqui... — sem estar ciente do desconforto dele, ela se aproximou ainda mais, roçando distraidamente seu braço no dele — ...é por aqui que a noiva vai entrar, então acho que uma porta de entrada mais alta vai dar um impacto maior. Fez uma pausa, pensativa, e depois lá estava novamente, andando de um lado para o outro tomando notas.


Meu Deus. Mal podia acompanhá-la. Mesmo tendo tentado se controlar, não pôde evitar imaginar como todo esse excesso de energia funcionaria na cama. Era um pensamento interessante. Não tinha a intenção de dormir com ela, é claro. Beijá-la era uma coisa. Levá-la para a cama era outra completamente diferente. Seria, no mínimo, esquisito. Não só pelo fato de ser amiga de Clair, mas, por alguma razão, não acreditava que Marcy era o tipo de mulher vamos-ter-uma-noite-de-sexo-selvagem-e-depois-vai-cada-um-para-oseu-canto. Fazia mais o tipo vamos-trocar-alianças. Encolheu os ombros com o pensamento, voltou sua atenção para o esboço que estava desenhando e fez as mudanças que ela havia sugerido, percebendo que ela estava certa. Ela realmente tinha um olho fantástico para projetos e para detalhes. Olhou para ela e viu que estava com a ponta do lápis roçando os lábios. Droga. Se

fosse

qualquer

outra

mulher,

acharia

que

o

estava

provocando

intencionalmente. Mas era Marcy, e ele estava certo de que ela não tinha a menor idéia de que o estava deixando louco. Quando ela começou a morder a borracha, a mão dele ficou tensa e quebrou a ponta do lápis. — Marcy. — Oi? — Pare com isso. — Parar com o quê? — De morder o lápis. Ela franziu a testa. — Está incomodando você? — Na verdade, sim — disse ele. Marcy olhou para Evan, confusa, e ele franziu a testa. — Faz mal para os seus dentes. — Faz? — Tirou os óculos da cabeça e colocou no rosto para olhar para o lápis. — É. — Ele se recostou novamente na cadeira. — Por que não paramos um pouco? — Certo. Vou para o meu quarto e você pode...


— Sente-se. — Não, obrigada. Eu tenho... — Sente-se. — Usando a perna, ele afastou uma das cadeiras da mesa. Ela hesitou, mas, em seguida, se sentou.

Docinho, lembrou-se Evan. — Me conte sobre sua tia — disse ele. — Tia Hattie? — Marcy colocou os cabelos atrás das orelhas. — Bem, era irmã da minha mãe, doze anos mais velha. Morávamos na mesma cidade. Depois que meus pais morreram, foi ela quem me criou. Ele a observou pegar um pedaço de papel e começar a mexer com ele. — Como eles morreram? — Tínhamos uma casa velha, fiação elétrica com problema: — disse Marcy, calmamente. — O quarto dos meus pais ficava no fundo da casa e o bombeiro não conseguiu tirá-los a tempo. Só me lembro que acordei no gramado em frente à minha casa nos braços da minha tia, chorando. Tinha apenas oito anos. Evan resistiu ao desejo de colocar as mãos nas dela e acalmar aqueles dedos agitados. — Que dureza... — Droga, o que mais poderia dizer?, pensou ele. — Todos diziam que Henrietta Thatcher era uma pessoa excêntrica. Fazia esculturas com ferro velho e coisas que achava no lixo ou no meio da rua. — Marcy sorriu. — Agora que fiquei famosa, dizem que é original. Ela vende seu trabalho em galerias por todo o país. Marcy colocou o pedaço de papel que estava dobrando na palma da mão. Tinha feito um minúsculo passarinho, percebeu Evan. Erguendo uma sobrancelha, olhou para ela. — Dá para fazer com guardanapos também — disse ela. — Se estiver dando um jantar, enfeita a mesa. Quando quiser, eu te ensino. Pensou em si mesmo dobrando guardanapos para um jantar no trailer — ou em qualquer outro lugar. Isso aconteceria no mesmo dia em que começasse as aulas de tricô e a fabricação de velas.


— Pode deixar que eu lhe digo — disse ele, rindo. Depois, colocou o passarinho na mesa e pegou as mãos dela. — Marcy, acho que temos de conversar sobre o que aconteceu essa manhã no pátio. Ela olhou para baixo. — Você está certo, devemos sim. Desculpe-me. Ele franziu a testa. — O quê? — Bem, sei que estávamos apenas tentando evitar que alguém me reconhecesse e eu... bem... fui levada pelo momento. — Marcy... — Você beija muito bem — disse ela, num tom verdadeiro. — Mas tenho certeza que já sabe disso. — Marcy... — Não quis colocar você em uma situação embaraçosa — continuou ela. — Ainda mais agora que estamos trabalhando juntos. Mas garanto que não farei isso de novo e, se quiser, eu... — Marcy! — Num rápido movimento, ele se inclinou e colocou a boca sobre a dela, deu-lhe um beijo rápido e se sentou novamente. Com os olhos arregalados, ela o fitou. — Marcy — disse ele com firmeza. — Eu não beijei você essa manhã porque tinha alguém olhando. Beijei porque quis. — Porque quis? — Os olhos se arregalaram ainda mais. — Por quê? — Isso se chama espontaneidade. Tive vontade. É tão difícil de entender? — Bem — disse ela, movimentando-se sem jeito. — Na verdade, sim. — E por quê? — Digamos que não sou o tipo que motiva a espontaneidade. Antes de conhecê-la — certamente antes de beijá-la —, ele teria concordado com ela. Mas não agora. — Não que eu não goste — continuou e ele não disse nada. — E com certeza gostei. Mas é que... bem... é melhor que não aconteça de novo.


Também concordava com aquilo, mas queria ouvir Marcy raciocinando sobre o fato. — Por quê? — Em primeiro lugar, porque agora estamos trabalhando juntos e isso tira a atenção. Verdade. Ele estava completamente desconcentrado. — Em segundo lugar, porque isso não pode ir a lugar nenhum. Portanto, seria... — ela enrubesceu — ...frustrante. Verdade, mas não conseguiu evitar a pergunta: — O que exatamente quis dizer com " não pode ir" ? — O desenvolvimento natural da atração mútua provavelmente leva ao próximo passo da intimidade. Ele não pôde evitar uma risada. — Deus, eu adoro quando uma mulher fala bobagem. Mal posso esperar para ouvir a terceira. — E, em terceiro lugar — disse ela calmamente, levantando os olhos na direção dos dele — é que eu gosto de você.

Eu gosto de você? Ele levantou uma sobrancelha. Bem, isso era novidade. Uma mulher não queria ter "intimidade" com ele porque gostava dele. — Você vai ser o cunhado da minha melhor amiga — disse Marcy. — Tenho certeza de que vamos nos encontrar de vez em quando. Se por acaso... nós... — Dormíssemos juntos? Concordando com a cabeça, ela olhou para baixo. — Vai concordar comigo que seria estranho, file se recostou na cadeira. A lógica de uma mulher, pensou de suspirando. Sabia que não devia argumentar. Além disso, ela estava certa. Droga. — Tudo bem. Não vou beijar você de novo. Vamos nos concentrar em construir essa capela. O que acha? — Ótimo — disse ela, com um sorriso tão iluminado que não sabia se sentia insultado ou lisonjeado.


Quando o telefone tocou, Evan foi até a área de jantar para atendê-lo, feliz por ter um motivo não só para esticar as pernas, mas para dar uma certa distância entre ele e Marcy. — Poderia falar com Marcy Pruitt, por favor? — disse uma mulher do outro lado da linha. — Marcy Pruitt? Ela foi pega de surpresa. — Diga-lhe que é Anna. — Que Anna? Marcy levantou-se e pegou o telefone. — O que há de errado? Ele observou Marcy ficar pálida enquanto ouvia a mulher falar do outro lado da linha. Quem quer que fosse Anna, e o que quer que tivesse a dizer, não parecia algo bom. — Tem certeza disso? — Marcy passou as mãos nos cabelos. — Tudo bem. Prometo que não vou dizer nada. Me ligue de amanhã, mas não use o telefone do escritório. — Problemas? — perguntou quando ela desligou o telefone. — Vou matar Helen. — Sua empresária? — Minha ex-empresária — respondeu ela, irritada. — Não acredito que foi capaz de fazer isso. Até para Helen isso é demais. — O que ela fez? — Contratou um detetive particular para me achar.

CAPITULO CINCO

— Ela contratou um detetive particular? Marcy estava pálida olhando para o telefone.


— Anna disse que ouviu por acaso Helen falando no celular. Só pegou uma parte da conversa, mas, pelo que entendeu, Helen realmente contratou alguém para me encontrar. Evan assoviou baixinho. — Não foi uma atitude um pouco extremada? — Esse é o nome do meio de Helen. — Quando ela final mente digeriu a idéia, ficou furiosa. — Vou matar essa mulher. — Por que não manda ela embora? — perguntou Evan. — Não haveria prazer algum nisso. — Então, está dizendo que não vai despedi-la? Marcy andou até o sofá, deu meia-volta e andou em direção à mesa de jantar. — Não posso fazer isso. — Com certeza, qualquer contrato que tenha feito com ela não resiste a algo assim. Marcy marchou em direção ao sofá novamente, sacudindo cabeça. — Não temos um contrato. — Está brincando. — Ele a olhou com ar de descrença. — Como é possível? — Sei que parece ridículo, mas nunca precisamos de um. Confio plenamente em Helen. — Espere um pouco. — Enrugando a testa, Evan agarrou o braço dela antes que pudesse se afastar novamente. — Você está me deixando tonto. Sente-se. Marcy jogou-se na cadeira, ele se inclinou e colocou as mãos nas laterais do joelho dela. — Estamos falando da mesma pessoa? Da que contratou um detetive particular para encontrar você? — Nossa relação não é baseada em advogados e contratos — disse Marcy. — É baseada em confiança e amizade. Helen pode ser controladora e exigente, mas nunca faria algo para me magoar. — Isto não magoa você? — Não. Só me deixa completamente louca.


— Não consigo entender. Tentou não pensar no fato de que Evan entrara em seu espaço ou no fato de que as mãos dele estavam a um centímetro de suas pernas. E tentava desesperadamente não pensar que ele beijara — pela segunda vez no mesmo dia — há apenas alguns minutos. — Você tem de entender a nossa história — disse ela, suspirando. — Depois da faculdade, me mudei para Los Angeles e criei minha própria empresa de bufês para festas. Tinha uma clientela estável, mas a competição era feroz e não sabia como lidar com o aspecto financeiro do negócio. Depois de um ano, eu tinha uma pilha de contas do tamanho do Everest e estava com o aluguel atrasado há dois meses. Estava falida, cansada e pronta para desistir. Até que conheci Helen. Marcy lembrou-se de como estava sozinha, morando em um apartamento minúsculo na parte oeste de Los Angeles, trabalhando numa cozinha e num escritório ainda menores. — Estava preparando o bufê de aniversário de um produtor de Hollywood. Achei que seria meu último trabalho antes de voltar para Burbridge. Helen aproximou-se de mim na festa e disse que eu fazia o melhor suflê de chocolate que tinha comido na vida. Também disse que eu tinha alguma coisa, um estilo, que ela poderia negociar no mercado. Me deu seu cartão de visitas e me disse que, dentro de três anos, Marcy Pruitt seria um nome muito conhecido. É claro que dei uma risada e achei que ela fosse louca. Nem mesmo telefonei. Mas ela apareceu no meu apartamento quando eu estava fazendo as malas. Me levou para almoçar e me contou seu plano. Três horas mais tarde, me colocou num hotel, tinha seis festas de celebridades agendadas para mim e já tinha o layout do meu primeiro livro de dicas para o lar. — Isso é admirável — disse Evan com seriedade —, mas, querida, ela ganhou muito dinheiro com você. — Ela mereceu cada centavo e ainda merece. — Ninguém trabalhava mais duro ou com mais dedicação do que Helen, pensou Marcy. — O que realmente importava era que ela acreditava em mim, mesmo quando nem eu mesma acreditava. Tudo o que tenho, onde estou hoje, devo a ela. — Posso entender que seja agradecida a ela — disse Evan, sacudindo a cabeça. — O que não entendo é onde ela pretende chegar contratando um detetive particular para localizar você. A menos que esteja planejando amarrar você e arrastá-la de volta a Los Angeles.


— Acho que só quer saber onde estou e se estou bem. — Então, por que não liga para ela e diz que está bem? — Se algum dia eu quiser ter tempo para mim, preciso que Helen aprenda a confiar nas decisões de Anna. Se Helen descobrir que Anna me contou sobre o detetive particular, suponho que aí sim ela não vai mais querer nem trabalhar com ela. E então eu vou ter de voltar. Evan suspirou, depois pegou a mão de Marcy. Quando as mãos de Evan se fecharam sobre as dela, o coração de Marcy disparou. — Por favor, não conte isso a Clair ainda. Ela está com muita coisa na cabeça. — Ela precisa saber, Marcy. Pode deixar os funcionários e a segurança em alerta. — Eu digo a ela depois da festa de hoje à noite — disse Marcy e depois tirou as mãos das de Evan. — É melhor voltarmos ao trabalho se quisermos terminar o esboço final hoje. Clair e Jacob voltarão a qualquer momento e você tem de provar sua roupa à tarde. — Prova de roupa e chá-de-panela. — Jogou a cabeça para trás e rosnou. — Já disse que Las Vegas seria melhor.

Lucas e Julianna Blackhawk moravam em uma casa de dois andares, feita de madeira azul e cinza, a alguns quilômetros da cidade. Não era uma casa muito grande, mas era encantadora. O terreno em volta, milhares de acres de propriedade dos Blackhawk, estendia-se até onde os olhos podiam enxergar. Já havia dezenas de carros estacionados em frente quando chegaram. — Aqui estamos nós. Marcy não respondeu. Olhava pela janela, mexendo no colar de pérolas no pescoço. O vestidinho preto que usava não era exatamente sexy, pensou ele, mas combinava com seu estilo conservador. Os sapatos, também pretos, eram de salto baixo, nada que tivesse a intenção de aquecer o sangue de um homem. Mas, ainda assim, o sangue dele fervia. Essa mulher tinha alguma coisa. Não sabia o que era. Apenas... alguma coisa. Pensou que talvez pudesse ser o que Helen vira


em Marcy — um "quê" a mais que muitas celebridades tinham. Helen obviamente reconhecera aquele encanto universal e embrulhara para presente. A empresária devia ser uma cobra bem esperta. Ele deu a volta e abriu a porta do carro para Marcy, depois a surpreendeu ao envolver a cintura dela com seus braços e levantá-la para tirá-la da caminhonete. — Evan! — Colocou uma das mãos no peito dele para se equilibrar. —- Não era necessário. — O degrau é muito alto. — Permaneceu com as mãos na cintura dela mesmo depois que já estava no chão. — Você está linda — Muito obrigada. — Ela enrubesceu com o elogio. — Você também está lindo. — Obrigado. — Relutante, ele a soltou e mexeu na gravata que o sufocava. — Damas, primeiro. Ele a seguiu, apreciando o rebolado suave de seus quadris. O perfume de tempero italiano pairava no ar quente do início da noite, misturando-se ao som das conversas animadas que vinham da casa. — A propósito — disse ele, curvando-se na direção dela enquanto batia à porta —, você tem pernas maravilhosas. Ela olhou para ele com os olhos arregalados, mas não tempo de responder antes de Lucas abrir a porta. Sorrindo, seguiu-a até o interior da casa. Afinal, parece que esta festa vai ser divertida, concluiu ele. Do momento em que Lucas abriu a porta com o filho de seis meses no colo, houve apresentações sem fim, apertos de mão entusiasmados e inesperados abraços calorosos. Os Blackhawks eram muito simpáticos e barulhentos. Marcy gostou deles de imediato. Enquanto segurava uma taça de vinho e esperava pelos convidados de honra, afastou-se um pouco da confusão e tentou se lembrar de todos a quem foi apresentada. Era fácil se lembrar de Rand e Seth, irmãos de Clair, pois tinham o mesmo cabelo e sorriso. A esposa de Rand, Grace, uma ruiva simpática, era talvez a mulher mais elegante na festa. Hanna, esposa de Seth, possuía uma beleza simplória, com lindos olhos azuis e cachos dourados. Não sabia exatamente quem era filho de quem,


mas parecia que havia crianças por todos os lados. Ela viu, no mínimo, meia dúzia de crianças gritando e dando risadas, correndo pelas escadas e saindo para o jardim, enquanto os adultos, aparentemente alheios ao tumulto, não perdiam parte alguma das conversas. Marcy conheceu dois casais de amigos que Clair fizera desde que se mudou para Wolf River. Nick Santos e sua esposa Maggie, que estava esperando o terceiro filho, e Clay e Paige Bodine, que esperavam o segundo. — Acredito que seja alguma coisa na água. Marcy virou-se. Uma mulher linda, com os cabelos avermelhados na altura dos ombros, estava ao lado dela. — Olívia Cameron. Ela ofereceu a mão e Marcy aceitou, não deixando de notar os anéis e pulseiras de prata da mulher. — Marcy Pruitt. O que tem na água? — O vírus casamento-e-bebê. — Olívia olhou à volta enquanto dava um gole no vinho. — Pelo menos, espero que seja na água. Se for transmitido pelo ar, estamos todos condenados. Marcy sorriu. — Você é a comerciante de antiguidades e decoradora sobre quem Clair me falou. Amei o que fez no saguão do hotel. — Obrigada. — O prazer cintilava nos olhos azuis de Olívia . — Mas eu li a coluna "Reformando com Marcy" sobre a casa de fazenda da virada do século. Foi impressionante. Ainda sonho com aquelas peças antigas que vocês tiraram do sótão. — Havia umas antiguidades lindas no celeiro que talvez possam lhe interessar — disse Marcy. — Posso ligar para o dono. Ah, e quero dar uma passada na sua loja. Se não se importar, gostaria de incluir você num artigo que vamos fazer sobre antiquários de cidades pequenas. — Se eu não me importar? — Olívia olhava fixamente para Marcy. — Você está de brincadeira, não está? — De jeito nenhum. Posso entrevistá-la antes de voltar a Los Angeles e, depois do casamento, mando um fotógrafo. — Bem, eu... — Olívia colocou a mão na garganta e pareceu se engasgar. — Com certeza.


— Você está bem? — Franzindo a testa, Julianna apareceu bom uma bandeja de canapés de carne de siri. — Quer que eu traga um copo d'água? Quando Marcy e Olívia olharam uma para a outra e riram, Julianna fez uma expressão interrogativa. — Olívia acha que todos esses casamentos e bebês têm alguma coisa a ver com a água — explicou Marcy. — Então é isso? — Julianna sorriu, depois olhou para o marido que estava jogando o filho mais novo no ar e fazendo-o rir. Então vou ficar bem atenta para ver se estou tomando meus oito copos de água por dia. — Ela está perdida. — Olívia revirou os olhos. — Mas me diga. Quem é aquele homem charmoso perto de Lucas? E, por lavor, me diga que não é casado ou noivo. Quando Marcy virou-se para olhar e ver de quem Olívia estava falando, sentiu um frio no estômago. — É Evan, irmão de Jacob. Quer que eu lhe apresente? Olívia levantou uma sobrancelha. —Ah! Claro. — Primeiro vou ver como está minha lasanha — disse Julianna. — Volto já. — Posso apresentá-la — disse Marcy educadamente. Olívia franziu a testa, depois arregalou os olhos. — Oh, meu Deus. Você está com ele? Desculpe, eu não... — Não. — Marcy balançou a cabeça. — Só me trouxe do hotel até aqui, só isso. Não estou aqui com ele. Mal o conheço. — Tem certeza? Porque se há alguma coisa... — Não há. — Marcy deu seu sorriso de televisão. — Vai ser um prazer apresentar vocês dois. — Não precisa. — Olívia encarou Evan e deu um gole no vinho. — Acho que posso ir até lá sozinha. — Cuidado, meninos, lá vai ela — disse Julianna. — Evan consegue se virar — comentou Marcy.


— Se ele for parecido com Jacob, com certeza sabe se virar Você me dá licença um minuto? — perguntou Julianna. — Posso ajudá-la na cozinha? — ofereceu Marcy, querendo alguma coisa, qualquer coisa, que a mantivesse ocupada. — Obrigada, mas de jeito nenhum. Você está aqui para relaxar, não para trabalhar. — As crianças entraram correndo porta de trás e subiram as escadas, gritando como loucos. Julianna olhou para Marcy, suspirou e saiu resmungando. — Talvez eu devesse evitar beber água de agora em diante. Marcy olhou para Evan, observou-o sorrir para Olívia e apertar sua mão. A mulher era linda, solteira e obviamente não estava interessada em casamento ou crianças. Formavam casal perfeito. O frio em seu estômago aumentou. Sem estar pronta para voltar para a festa, perambulou pelo lado de fora da casa, num pátio coberto e elevado. O sol estava baixo no horizonte e, embora ainda estivesse calor, o ar esfriara muitos graus. Além da grande extensão de grama recémcortada e brinquedos de crianças, havia dois currais e um celeiro vermelho. À esquerda da casa, era possível ouvir o barulho do córrego abaixo do gazebo branco. Ela se virou ao ouvir uma risada que vinha de dentro da casa. Era certamente uma família bem agitada. Conversas animadas, risadas genuínas, sinceridade na óbvia afeição que tinham uns pelos outros. Sentia falta daquilo — reuniões de família nos feriados, casamentos para celebrar, bebês para apertar. Não era preciso ser um gênio para saber por que ela havia criado um bufê. Planejar festas lhe proporcionava o tipo de conexão que precisava ter com as pessoas. Não se importava em ver as pessoas se divertindo, enquanto ela ficava de fora. Seu trabalho era gratificante e ela se entregara a ele. Virou-se e apoiou os braços na grade do pátio, observando os brinquedos das crianças no gramado, as caixas de tomate e abobrinha, as flores cuidadosamente cultivadas. De repente, percebeu que tudo o que tinha, tudo o que conquistara, não era o bastante. Também queria isto para a vida dela. Este laço familiar, a relação com os amigos. E um lar. Não apenas uma casa — ela tinha uma casa —, mas um lar. Sabia que a atração por Evan acendera esses desejos nela. Nunca sentira algo assim antes. Essa falta de ar, o coração acelerado, o frio na barriga. Era novo e


excitante e, embora soubesse que um relacionamento com Evan estava fora de questão, ele definitivamente abrira os olhos dela para essa possibilidade de vida.

A propósito, você tem pernas maravilhosas. Recordar-se do que ele havia sussurrado antes de Lucas abrir a porta a fez sorrir. Fizera aquilo de propósito, pensou ela. Quis deixá-la fora de órbita. Certamente sabia que não podia levá-lo a sério. Mas estaria mentindo para si mesma se não admitisse que gostara do elogio. Ela adorara. — Se escondendo? Surpreendida pela voz de Evan, Marcy olhou para trás, ainda mais surpresa em ver que Olívia não estava com ele. — Só curtindo a vista — disse ela honestamente. Com uma garrafa de cerveja na mão, ele caminhou em sua direção. Já havia afrouxado a gravata e o gesto casual só melhorava seu charme vigoroso. — Você não tem vista em Los Angeles? — perguntou, apoiando-se na grade ao lado dela. — Não como esta. — Ela observou um cavalo atravessar um dos currais. — Já esteve lá? — Nunca tive um motivo para ir até lá. — Ele esticou o braço e colocou uma mecha de cabelo que estava solta para trás da orelha dela. — Mas você será a primeira a saber se algum dia eu for. A sensação das pontas dos dedos dele em sua orelha fez seu corpo inteiro se arrepiar. Ficou tensa com o contato, observou-o levantar a garrafa de cerveja e curvar a cabeça para dar um gole. A garganta dela ficou seca. — Marcy Pruitt, quando pretendia me dizer o que está acontecendo? Marcy deu um pulo para trás ao ouvir a voz de Clair. Quando se virou, Clair estava parada na porta que dava para o pátio e Jacob estava atrás dela, com um ar de culpa. Perturbada, Marcy afastou-se de Evan. — Não há nada acontecendo.


— Eu sei que você recebeu uma ligação urgente de Los Angeles hoje de manhã que foi direcionada para o apartamento de Evan — disse Clair. — Parece que todo mundo aqui, incluindo meu futuro marido, sabe o assunto da ligação, menos eu. — Clair virou-se para Jacob. — E ele não quer me dizer.

Ah, graças a Deus. Clair estava se referindo ao detetive particular. Marcy suspirou aliviada. E ela que tinha pensado que Clair — bem, não tinha importância o que havia pensado. Marcy franziu a testa e olhou para Evan. — Não era para você dizer nada. — Bem, na verdade — ele coçou a nuca —, você me pediu para não dizer nada a Clair. Mas achei que Jacob deveria cuidar disso. — Cuidar de quê? — Clair abriu os braços, exasperada. — Alguém pode me dizer o que está acontecendo antes que eu comece a gritar? — Minha empresária contratou um detetive particular para me achar — disse Marcy. — O quê?! — Clair ficou de queixo caído. — Essa pessoa trabalha com você? Marcy suspirou. — Para dizer o mínimo, ela é perseverante. Clair bufou. — Perseverança é ótimo para o trabalho, mas, querida, estamos falando de sua vida pessoal. Eu queria dizer algumas coisinhas para essa mulher — disse Clair, com os dentes cerrados. — Eu diria para ela... — Vamos falar sobre isso mais tarde, não é melhor? — Jacob colocou as mãos nos ombros de Clair. — Liguei para um amigo meu em Los Angeles. Ele vai se informar e ver o que pode descobrir. Enquanto isso, vamos ficar de olhos abertos para qualquer pessoa suspeita, tanto na cidade quanto no hotel. Jacob deslizou os braços até a cintura de sua futura esposa e beijou-lhe a testa. Os ombros de Clair relaxaram. Depois se apoiou nele, um movimento tão natural e inconsciente quanto o ato de respirar. É tão lindo, pensou Marcy, um momento raro, ver duas pessoas assim tão apaixonadas. Apesar de estar feliz pêlos dois, Marcy não podia evitar uma pontinha de inveja. Envergonhada, rapidamente espantou o pensamento.


— Já não basta a quantidade de coisas que os dois têm para fazer, e agora têm de ficar tomando conta de mim? — Marcy lançou a cabeça. — Não vim aqui para ser um incômodo. — Cuidar de uma amiga não tem nada a ver com incômodo — disse Jacob. — Além disso, também não veio aqui para trabalhar, e está fazendo o projeto de uma capela. — Isso não é trabalho, é diversão — disse ela honestamente. — Então, quando vamos poder ver o que vocês dois prepararam? — perguntou Clair, com os olhos brilhando de excitação. — Vou ter o plano básico desenhado amanhã de manhã — disse Evan. — Sem nenhuma pressão, não é, meu amor? — Jacob deu um apertão em Clair. — Falou sobre isso a tarde inteira e tive de impedi-la fisicamente de ir ao apartamento de Evan e incomodar vocês dois. — É assim que você chama o que fez comigo? — perguntou Clair, levantando uma sobrancelha. Sorrindo, Jacob deu um beijo rápido na boca de Clair. Evan olhou para Marcy e sacudiu a cabeça. — Repugnante, não é? — perguntou ele. Marcy achou maravilhoso, mas evitou os comentários. — Vamos voltar para dentro. — Clair pegou a mão de Jacob. — Julianna disse que temos de jogar Quase-Recém-Casados antes do jantar. Se eu ganhar, você tem de escrever um poema para mim e recitá-lo na frente de todos. — Meu Deus! — exclamou Jacob. — Mas o que acontece se eu ganhar? — Faço um desfile de lingerie para você. Em particular, claro. — É mesmo? Vamos jogar logo, então! — disse Jacob, pegando as mãos de Clair nas suas. Evan sacudiu a cabeça depois que os dois entraram na casa, — Seis meses atrás, se alguém me dissesse que meu irmão estaria participando com prazer de um jogo no próprio chá-de-panela, diria que essa pessoa estava louca ou completamente bêbada. — O amor faz essas coisas — disse Marcy suavemente, olhando para a lua.


Ele se aproximou dela, se apoiou na grade e sorriu. — Faz você parecer ridículo? Ela o observou por cima dos óculos. Sob o sorriso implicante, podia ver que estava muito sério. — Parece que você nunca se apaixonou. — Agradeço muito, mas prefiro manter minha sanidade. Havia uma certa razão no que ele dissera, presumiu Marcy. — É excitante. Maravilhoso, terrivelmente emocionante e sabe que vai morrer se aquela pessoa não corresponder ao seu amor. — Nossa, parece muito divertido. Então, qual é o nome do sortudo? — Leo Fitzmeyer. Ele franziu a testa. — Leo Fitzmeyer? — Tinha os olhos mais maravilhosos do mundo.— Sorrindo com a lembrança, deu um gole no vinho. — Todas as garotas da quinta série eram loucas por ele. — Ah. — O sorriso abriu-se. — Que cara sortudo. Ele se aproximou e os nervos de Marcy começaram a zunir feito campainha de incêndio. No que estava pensando? Iniciar uma conversa sobre o fato de ele já ter se apaixonado ou não? Que estupidez. — Então, onde está Leo agora? — perguntou Evan. — Em Nova York. — Casualmente, ela se afastou. — Comum salão de beleza em Manhattan. Chiquérrimo. — Ah! — Ele balançou a cabeça. — Entendo. — Leo tem uma esposa linda e três meninos, todos definitivamente dele. — Marcy ergueu o rosto e olhou para Evan. — Parece que agora estavam querendo ter uma menina. — Essa é a parte divertida de ter filhos. — Abriu um sorriso ainda maior. — Tentar. A pesar de estar determinada a resistir àquele charme, ela deu uma risada. — Você não gosta de crianças?


— Claro que sim. Mal posso esperar para que Clair e Jacob tenham um monte de pestinhas. Venho visitar, brinco com eles e depois vou embora. — Você é impossível — disse ela, sacudindo a cabeça. Mas quando se virou para ir embora, ele agarrou o braço dela. — Ei! — Ele olhou para ela e seu tom de voz ficou sombrio. — Só para avisar que vou cuidar de você. — Eu... — Ela hesitou, não sabia o que dizer. — Obrigada. A mão dele ainda permaneceu em seu braço por mais um instante, mas deixou-a cair com a repentina risada que veio de dentro da casa. Aparentemente, o jogo tinha começado. Com um suspiro conformado, fez um gesto em direção à porta. — Você primeiro.

CAPÍTULO SEIS

Era muito bom estar ao lado de sua equipe, rodeado de zumbidos, serrotes e cheiro de madeira recém-cortada. Tudo isso dava a Evan uma sensação de satisfação que nenhum trabalho em escritório poderia lhe dar. Colocando o martelo na cintura, enxugou o suor da testa e deu um passo para trás. Conseguiram apressar a liberação das licenças, depois destruíram o piso do antigo pátio, colocaram o alicerce e rapidamente partiram para a estrutura e a fiação elétrica. Nada mal para uma semana de trabalho. Olhou para o alto e observou um guindaste colocar uma viga do teto sobre o suporte. Jacob e o mestre-de-obras, Tom, estavam montados num andaime, ajudando a colocar a viga no lugar. Todos estavam trabalhando duro sob o calor escaldante desses últimos dias, mas as horas extras eram pagas. Já estavam adiantados — um acontecimento raro no ramo da construção. Mas os funcionários dele e Jacob não eram os únicos que estavam trabalhando duro. Olhou para Marcy, que estava a alguns metros de distância, e a viu passar distraidamente a mão sobre a alça do macacão enquanto examinava as amostras de


pintura que tinha pregado num caibro. Tinha o hábito de se perder no trabalho, tão concentrada que ficava, alheia aos barulhos e às atividades a seu redor. U m pouco alheia demais, pensou ele, passando os olhos pela área para ver se havia alguém que não pertencia àquele lugar. Ela podia não estar preocupada com o fato de sua empresária ter contratado um detetive particular para encontrá-la, mas ele com certeza estava. Até que os contatos de Jacob em Los Angeles pudessem verificar a informação de Anna e aparecer com um nome ou um rosto, tinham de ser muito cuidadosos. Evan decidira isolar a área para evitar os olhares curiosos dos hóspedes e assegurar-se de que ela ficaria perto dele durante toda a semana. A princípio, seus funcionários se queixaram de que ela esta sempre no caminho, sempre fazendo perguntas e dando sugestões, mas agora parecia que não apenas tinham se acostumado com a presença dela, como também presentearam-na com um capacete de obras e um cinto de ferramentas. Obviamente, tinha sido aceita como parte da equipe. Alguns aceitaram-na até um pouco demais, pensou Evan ao observar James, um dos estagiários mais jovens, caminhar até Marcy com uma lata de refrigerante na mão. O garoto se derretera todo ao oferecer a bebida a ela. Quando Marcy sorriu e aceitou, James enrubesceu e enfiou as mãos nos bolsos. Quando James olhou para o lado, Evan fez um olhar carrancudo. Sabiamente, o estagiário recuou. Tornara-se aparente, nos últimos dias, que o garoto estava a fim de Marcy. Ele a seguia por todos os lados feito cachorro até Evan mandá-lo voltar ao trabalho. Evan passara muito tempo com Marcy na última semana, não apenas no local de trabalho, mas também nas noites. Toda noite, depois que a equipe ia para casa, os dois se dirigiam ao apartamento de Evan e pediam o jantar, repassavam o que haviam executado e se organizavam para o dia seguinte. Marcy envolvera-se com todas as etapas da construção e Evan tinha de admitir que suas idéias e sugestões de mudanças tinham sido ótimas. Era fácil ver o motivo pelo qual alcançara tanto sucesso profissional. Seu entusiasmo afetava e inspirava a todos que estavam à volta. Parecia ter prazer em ver cada ripa ser colocada no lugar, cada parede tomar forma, cada porta e janela emoldurada. A curiosidade sem fim de Marcy poderia ter irritado Evan, mas, estranhamente, não o incomodara. Na verdade, trabalhavam muito bem juntos.


Ela podia discursar à vontade sobre o fato de querer apenas ser amiga dele, de que gostava dele, mas, sob todo esse raciocínio, ele sabia muito bem que ela também fazia especulações, também sabia que, sempre que se aproximava demais dela, ou quando as mãos se tocavam, Marcy não estava pensando em "amizade". Evan podia ver nos olhos dela, podia sentir a tensão entre os dois. Evan a deixava nervosa e isso, concluiu ele, era muito bom. Conseguira ficar com as mãos longe dela e manter uma distância profissional, mas, toda noite que ela ia ao apartamento dele, só conseguia pensar em beijá-la. E sempre que ia embora, só conseguia pensar em pedir para ela ficar. Droga, os dois eram adultos, atraídos um pelo outro, solteiros. Era simples demais. Então, por que não? Ele a observou erguer a lata de refrigerante até a boca e beber. Quando ela lambeu o lábio inferior, Evan sentiu um tesão absurdo. Praguejando, ele rapidamente desviou o olhar, pegou o martelo do cinto e enfiou outro prego na armação da porta na qual estava trabalhando. Ele sabia o porquê, droga. Porque não era tão simples assim. Ela era diferente de qualquer outra mulher pela qual se sentira atraído antes. Casamento. Crianças. Não estava pronto para nada disso. Não sabia se algum dia estaria. Ela voltaria para Los Angeles depois do casamento, ele iniciaria um novo projeto. Marcy Pruitt não era o tipo de ter um romance casual. Em relação a isso, a não ser que tivesse entendido completamente errado, ela era virgem. Uma virgem, pelo amor de Deus! Só esse fato já era suficiente para mantê-lo a distância. A última coisa que queria era machucá-la. Ela era delicada. Frágil. Como porcelana chinesa. Merecia muito mais do que ele podia oferecer. Enfiou outro prego na ripa de madeira, contente em ter um tipo de trabalho no qual podia extravasar um pouco suas frustrações. Mas não levou muito tempo até que Marcy chamasse sua atenção novamente, não pôde deixar de pensar que ela estava adorável com o capacete, o macacão e as botas de trabalho. Mesmo aquele absurdo cinto de ferramentas que estava usando o atraía, droga. Quando James chegou perto de Marcy novamente e os dois começaram a conversar, Evan decidiu que bastava.


Enfiou o martelo no cinto e marchou na direção dos dois.Assim que James percebeu que ele estava vindo, visivelmente engoliu seco e saiu apressado, tropeçando com a pressa de voltar ao trabalho. Indiferente à troca de olhares entre os dois homens, Marcy virou-se e sorriu quando viu que Evan caminhava até ela. — Chegou bem na hora de me dar sua opinião — disse e olhando para as lascas de pintura. Ele tinha uma ótima opinião: deveria ir até o apartamento dele e ficar nua com ele. Mas duvidava que ela quisesse ouvir essa opinião. Quando percebeu que o logotipo da EVAN CARVER ENGENHARIA na camiseta branca sob o macacão dela, franziu a sobrancelha. — Bela camiseta. — Tom me deu. Disse que todos os funcionários têm uma e que, então, eu também deveria ter. Você se importa? Ele reparou na curva dos seios exatamente embaixo do logotipo e sentiu a pulsação ficar mais rápida. Queria colocar as mãos e a boca ali, droga, e o fato de não poder o irritava tanto que não podia nem mesmo conversar com essa mulher sem querer tocar e beijar seu corpo inteiro. — Por que me importaria? Ela o olhou de forma estranha, depois olhou para as tintas novamente. — Qual das duas cores você gosta mais? — Compre um galão de cada. A luz vai mudar depois que levantarmos as paredes e aí sim poderemos ver como vai ficar. Balançando a cabeça, ela colocou as mãos na cintura e se alongou. Era um movimento inocente de sua parte, certamente sem querer provocar algo sexual, mas, de alguma maneira, ficou ainda mais atraente. Em vez de agarrar a mão dela e arrastála para cima, ele cerrou os dentes. Ele realmente tinha de mudar essa linha de pensamento. — Evan, está tudo tão lindo — disse ela, olhando ao seu redor. — Não posso acreditar que você fez tudo isso em uma semana.


— Não fui eu. Fomos nós. — Ela estava com poeira no rosto e, embora o primeiro impulso fosse de limpar, colocou os dedos dentro do cinto de ferramentas. — As horas extras que Clair está pagando a eles são um ótimo estímulo. Marcy balançou a cabeça. — Não é só o dinheiro, é você. Trabalha o tempo todo com eles, nunca pede para alguém fazer alguma coisa que você mesmo não faria. Seus funcionários respeitam isso e respeitam você. Existem coisas que o dinheiro não compra, e esta é uma delas. Evan fitava-a, sem saber como responder. A sinceridade no tom de voz e os enormes olhos verdes deixaram-no atordoado. Ninguém jamais dissera algo parecido a ele. Exceto Jacob, mas ele era seu irmão. Era normal dizer essas coisas. — Obrigado. Mas acho que meu pessoal está mais preocupado em agradar você do que a mim. Caso não tenha notado, você tem alguns fãs por aqui também. Talvez tenha de despedir James se ele não parar de olhar para você. Claro que teria de se demitir também, pensou Evan. — James? — Franziu a testa e olhou para o estagiário. O rosto enrubesceu quando viu que o garoto estava de fato olhando para ela. — É claro que não está dizendo que ele... — É exatamente o que estou dizendo. — Mas ele deve ser no mínimo cinco anos mais novo que eu — disse ela. — Você não pode despedi-lo, me sentiria péssima e não há razão para isso. Juro que não está acontecendo nada entre nós. Nada mesmo. — Empurrou os óculos no nariz. — Você não o mandaria embora de verdade, mandaria? Por favor, diga que não. Marcy realmente ficou preocupada com James, pensou Evan. O que o fez imaginar se ela também não estaria interessada no garoto, mas muito envergonhada para admitir. Amaldiçoou sua língua solta. Droga, por que tinha de colocar idéias na cabeça de Marcy? — Não vou despedi-lo, OK? — disse Evan, irritado. — Desde que ele se concentre no trabalho, a vida particular dele, ou a sua, não é da minha conta. Acha que agora podemos voltar ao trabalho? — Claro. — Obviamente aliviada, Marcy pegou um bloco e sentou-se num pedaço de madeira. — Fiz alguns desenhos e uma lista para a área interior e exterior do jardim. Vou ter de fazer o pedido das flores e das plantas até, no máximo, amanhã.


Ah, vamos ter de falar sobre o sistema para regar as plantas e também sobre o design da fonte. Se quiser fazer isso hoje a noite... — Tudo bem. — Quando o celular tocou, tirou-o da cintura e atendeu: — É.

Credo!, pensou Marcy, quando viu que Evan praticamente rosnava para o telefone. Qual era o problema dele, afinal? Estava mal-humorado nos últimos dois dias. Ela viu a expressão dele se suavizar, depois abaixar o tom de voz enquanto se afastava. — Oi, Olívia! Fale. O coração dela se esfacelou. Não deveria estar surpresa. Na festa semana passada, a decoradora deixara claro que estava interessada em Evan. A mulher era confiante, linda e obviamente não tinha medo de conquistar o que queria. E, se Olívia não estivesse tentando conquistar Evan, Marcy teria admirado essas qualidades. — Quando? — Marcy escutou Evan dizer e olhar para o relógio. — Certo, pode ser. Quando desligou o telefone, virou-se para ela, sorrindo. Tire folga hoje à noite. Por que não passa a noite com Clair? Podemos dar uma olhada nos seus desenhos e idéias de manhã. — Com certeza. — Ela forçou um sorriso, mas não lhe disse que sabia que Clair tinha uma reunião. — Tudo bem. — Ótimo. Evan olhou para Tom e gritou: — Quando essa viga estiver no lugar, fim do trabalho por hoje. Tom, traga as chapas de gesso e os tijolos amanhã às seis e meia em ponto. Quero ver isso no lugar em três dias. Quando se voltou para ela, Marcy pode perceber que estava ansioso

para

partir. — Jacob estará por perto hoje à noite, se houver algum problema. — Tirou a caneta de trás da orelha e rabiscou no bloco dela. — Este é o número do meu celular, caso você precise de num. — Vou ficar bem.


— Tenho certeza que sim — disse ele. — Mas é melhor que fique em seu apartamento. Tire uma folga essa noite e descanse. — Pode deixar — disse ela, com os dentes cerrados. — Nos vemos amanhã de manhã. — Certo. — Colocou a caneta de volta na orelha, fitou-a e deu um sorriso largo. Abraçada ao caderno enquanto ele se afastava, lutava para disfarçar as emoções que insistiam em vir à tona. Ficar no apartamento? Descansar? De jeito nenhum. Chega de ser tratada como criança, pensou ela. Chega de se esconder feito um gatinho assustado. É claro que precisaria de ajuda. Tinha consciência de suas imitações. E já que não podia pedir ajuda a Clair, só restava uma pessoa com quem podia contar. Caminhou até o elevador e apertou o botão que levava ao terceiro andar.

**** Evan estava satisfeito quando voltou ao quarto à noite. Assobiando, saiu do elevador e desceu o corredor. Não eram nem dez e meia e, embora devesse estar exausto, estava cheio de energia. Parou ao lado da porta do apartamento de Marcy e pensou em bater para ver se ela estava dormindo. Encostou-se na porta, tentando escutar o som de vozes femininas ou barulho de televisão. Nada. Só porque ele não conseguia dormir, não significava que devia acordá-la. Marcy trabalhara muito durante a semana merecia descansar. Ainda assim, Evan sentia-se um pouco culpado por tê-la deixado sozinha. Presumia que ela passara a contar com ele por perto, principalmente depois de terem trabalhado juntos. Talvez ainda estivesse acordada, pensou ele. Lendo ou assistindo televisão. Bateu levemente à porta. Nenhuma resposta.


Tudo bem, provavelmente estava dormindo. Ou talvez estivesse no quarto vendo televisão e não escutou. Bateu com mais força. Nenhuma resposta novamente. Resistiu ao impulso de bater mais uma vez. Se estivesse dormindo, presumiu que era melhor deixá-la em paz. E de qualquer maneira, não havia necessidade de acordála. Ele a veria de manhã. Quando entrou em seu apartamento, olhou para o telefone, mas a luz não estava piscando. Talvez devesse ligar para ela. Só para ter certeza de que estava bem. Ela não teria nem de sair da cama, pensou. Em seguida, pegou o telefone. Ela podia dizer olá e voltar a dormir. Marcy não atendeu e ele olhou para o telefone irritado. Meu Deus, essa mulher dorme como uma pedra. Depois de cinco toques, desligou. Suspirando, passou a mão nos cabelos e olhou em volta da sala. Parecia... vazia. Droga, ele sentia falta dela. Que saco. Era sexta-feira à noite. Uma banda tocava ao vivo salão do hotel nos fins de semana. Um pouco de música e uma cerveja gelada seriam o modo perfeito de fechar o dia. Tomou um banho rápido, colocou uma calça bege e uma camisa preta. Quando estava a caminho da porta, olhou para o telefone novamente. A mão coçou para ligar, mas ele balançou a cabeça e continuou a andar. O salão estava lotado e barulhento, os casais na pista de dança cheios de energia. A música ao vivo era um atrativo para os hóspedes e para os moradores da cidade. Tinha sido idéia de Clair, que, apesar de ter sido criada na alta sociedade, com todos mimos, estava se revelando uma excelente mulher de negócios. Caminhando por entre a aglomeração de pessoas, Evan olhou redor. Uma loura muito bonita sorriu para ele, que, por hábito, sorriu de volta, mas continuou andando. Quando uma ruiva charmosa dançava na sua frente fazendo gestos para que ele a acompanhasse, fez que não com a cabeça. Talvez ouvir música não tivesse sido uma idéia tão boa, afinal. Não estava no clima de paquerar hoje à noite. Começou a virar para voltar ao apartamento, mas avistou Jacob no bar. — Ei! — gritou Evan quando sentou no banco do bar ao lado irmão. — Sua noiva sabe que você está perambulando pelo bar?


— Vou encontrá-la aqui — gritou Jacob, fazendo um sinal para que o barman trouxesse outra cerveja. — Teve uma reunião que foi até tarde. — Uma reunião? — Evan ficou imóvel. — Clair não estava com Marcy? Jacob fez que não com a cabeça. — Clair me disse que Marcy estava com você. Ele não estava gostando nem um pouco de tudo isso. — Por que ela achou isso? — Marcy deixou um recado na secretária eletrônica de dizendo que ia sair à noite. Imaginamos que ela estava você. — Não estava — disse Evan, franzindo a testa. — Eu disse a ela para ficar aqui hoje à noite. — Você disse a ela para ficar aqui? — Talvez tenha sido mais um conselho veemente. — Preocupado, Evan olhou à volta. Percebeu um homem sentado com uma linda morena de cabelo curto numa mesa de canto e tentou se lembrar onde vira o homem antes. — Para o bem dela. — Para o bem dela... — Jacob ergueu uma sobrancelha — ...ou o seu? Evan pegou a caneca de cerveja que o barman trouxe. — O que quer dizer com isso? — Você está triste por causa dela — disse Jacob ao som de uma batida de música latina que a banda tocava. — É o único que ainda não sabe. Aliás, você e James. Rindo, Evan deu um gole na cerveja. — Cara, você está errado. Não estou triste por causa dela. — Fez uma pausa e olhou fixamente para Jacob. — E o James? — Ele é bonito, mas não está com muita sorte. — Sorrindo, Jacob deu um gole na sua cerveja. — Disse ao pessoal que vai chamá-la para sair. — É mesmo? — Provavelmente ia cortar um funcionário da equipe amanhã, pensou, irritado. Então, é lá que ela está hoje à noite?, imaginou ele. Saiu com James? Olhou à volta e não imaginou os dois ali; não apenas porque Marcy não queria ser reconhecida, mas também porque ela não parecia gostar de ir a bares.


Por alguma razão, Evan voltou a atenção ao homem e à mulher na mesa do canto. Quem era aquele cara? Evan observou os gestos do homem para uma atendente. Quem quer que fosse, certamente tinha bom gosto, pensou Evan. A morena ao lado era muito atraente, e o vestidinho preto e saltos altos que usava revelavam um par de pernas de dar inveja a qualquer modelo famosa, para não mencionar o decote ousado que colocava à mostra uma generosa parte da adorável carne feminina. — Olá, pessoal. Desculpe por estar atrasada. — Clair colocou as mãos nos ombros de Jacob, beijou-lhe o rosto e sorriu para Evan. — Onde está Marcy? — Evan a perdeu — disse Jacob. — Não a perdi — disse Evan firmemente, depois se levantou e deu a Clair seu banco. — Mas vou procurá-la. Clair sacudiu a cabeça. — Ela deixou uma mensagem há quinze minutos, pedindo que eu a encontrasse aqui depois da reunião. — Aqui? — O olhar de Evan vasculhou o ambiente cheio de mais uma vez. — Ela está louca? Alguém com certeza pode reconhecê-la aqui. — Achei um pouco estranho — disse Clair, franzindo a testa. Lá está o Sam. Vou perguntar se... oh, meu Deus! Evan olhou na mesma direção que o olhar assustado de Clair. Ela estava olhando para o homem na mesa de canto. Sam. O gerente. Agora se lembrava. E a gata sentada ao lado dele... Não era possível. Evan olhou para a mulher de vestido preto sexy e sapatos de salto alto. A mulher de cabelo curto espetado e decote profundo. Marcy? Ele a fitou e, quando Marcy retornou o olhar, abriu um sorriso. Evan reconheceria aquele sorriso em qualquer lugar. E aqueles olhos. Era Marcy. O coração de Evan ficou apertado. — Meu Deus! — Clair suspirou. — Bem, acho que ela não iria se preocupar se alguém vai reconhecê-la.


— Feche a boca, mano. — Jacob deu um tapinha no ombro de Evan — Você está babando. — Cale a boca — resmungou Evan. Mas, com medo de que o irmão estivesse certo, fechou a boca. — Por que não vai até lá e diz oi? — sugeriu Jacob. — Já estou indo — disse Clair. Quando Jacob agarrou o braço de Clair e a fez sentar no banco do bar, ela olhou para ele. — O que foi? — Eu estava falando com Evan — disse Jacob, levantando uma sobrancelha. — Ahhh. — Clair olhou para Evan, depois para Marcy, depois para Evan de novo. — Ahhh, certo — Se bem que é melhor não incomodá-la. — Jacob pegou a cerveja e colocou o braço em volta da cintura de Clair. — Afinal, ela está num encontro.

Encontro? Um músculo tencionou-se no canto do olho direito de Evan. Ele a deixa sozinha uma única noite e ela não só se torna uma gostosa como também marca um encontro? Ia cuidar disso. Colocou a cerveja no balcão e atravessou o bar.

CAPÍTULO SETE

O coração de Marcy saltou quando Evan atravessou o bar em direção a ela. Céus! A intensidade daquele olhar fez Marcy perder o fôlego. A mão apertou o copo de vinho. Se estivesse de pé, seus joelhos teriam falhado. — Você está bem? — perguntou Sam. — Sim — mentiu ela, engolindo o vinho. — Absolutamente bem. — Se está preocupada que alguém possa reconhecê-la, podemos... — Não. — Se não estivesse nervosa, teria dado uma risada. — Nem mesmo eu me reconheço. — Marcy — Sam sorriu e pegou na mão dela. — Você está linda. Relaxe.


Tinha sido estranho, de início, pedir ao gerente do Four Winds para ajudá-la a criar um novo visual. Mas Sam — e toda a equipe do salão de beleza — foram maravilhosos. Marcy Pruitt era uma nova mulher. Com o coração batendo em ritmo acelerado, viu Evan se aproximar ainda mais. Enquanto estava no salão de beleza, dissera a si mesma que não se importava com a reação de Evan. Que estava mudando In i visual porque ela queria. Mas sabia que era mentira. Podia parecer ridículo, talvez fosse bobo, mas queria que ele olhasse para ela exatamente da maneira como estava olhando agora. Como se quisesse devorá-la. Sam inclinou-se e sussurrou em seu ouvido: — Acho que está na hora de eu ir. — Ir? — Ficou gelada só de pensar em ficar sozinha com Evan. — Mas você... nós acabamos de chegar. Sam deu uma olhada para Evan, que vinha rapidamente na direção deles. — Acho que nós dois sabemos quem você realmente quer que esteja sentado aqui. Aparentemente, Sam não tinha aceitado completamente a história de que ela queria um novo visual para não precisar ficar escondida no apartamento durante o resto da estada. — Sou tão óbvia assim?

— Não, mas Evan é. E se você quer que eu continue inteiro, é melhor eu ir embora. — Sam olhou novamente para Evan, depois sorriu. — Ah, dane-se, vamos irritá-lo um pouco mais. Marcy ficou perplexa quando Sam se inclinou e beijou seu rosto. Quando olhou para Evan, viu que seus olhos estava ainda mais apertados. — Boa noite, Marcy — disse Sam. Em seguida, levantou-se e acenou com a cabeça para Evan. — Sr. Carver. Evan parou em frente à mesa e acenou de volta. — Sam...


Evan fuzilou Sam com o olhar enquanto ele se afastava, depois se sentou no banco ao lado de Marcy. — O que pensa que está fazendo? — Tomando um drinque com Sam — disse ela, no que esperava ser um tom de voz casual. — Pelo menos, estava. — Sabe o que quero dizer. — Ele franziu a testa para ela. — O que está fazendo aqui no bar, vestida assim? E o que fez com seu cabelo? Seu coração se partiu. Tinha entendido tudo errado. Como tinha sido boba em pensar que ele a desejaria, se mudasse o visual. Aparentemente, nem um exército de oficiais da beleza podia fazer com que a sem-graça da Marcy Pruitt se tornasse uma mulher fatal. Estava tão resistível quanto antes. — Não sei qual é o seu problema, Evan Carver — disse Marcy com frieza. — Mas eu gosto do meu cabelo e do vestido. E se eu quiser vir ao bar, é problema meu.

— E eu por acaso disse que não gostei do seu cabelo ou do seu vestido? — Ele olhou para ela parecendo completamente confuso e suspirou. confuso e suspirou. — Pelo amor de Deus, como posso não gostar? O que eu quis dizer foi: por que você fez isso? — Estou cansada de ficar me escondendo ou de ficar olhando para os lados quando saio. — Embora a história não tivesse funcionado com Sam, era parcialmente verdade. — Pensei que, se você, Jacob ou Clair não me reconhecessem, eu estaria segura. — A última coisa que você está, neste momento, é segura. Vamos sair daqui. Ele a pegou pela mão e a arrastou pela multidão. Marcy olhou para o bar, mas não havia sinal de Clair e Jacob. Muito bons amigos, por deixá-la sozinha com Evan. Formidável. A humilhação estava completa. Ele provavelmente pediria chocolate quente para ela e a enfiaria embaixo das cobertas. Ficou surpresa quando Evan não a levou para os elevadores, mas para o lado de fora do hotel, em direção à área em construção. — O que está fazendo? — conseguiu perguntar, ofegante. — Quero que veja uma coisa. — Agora?


— Agora. Já chega da nova Marcy Pruitt. Aparentemente, Evan estava mais interessado em falar sobre trabalho. Deveria estar vestindo botas e macacão. Ele fez uma pausa ao abrir o plástico grosso que cobria a área. — Feche os olhos. — O quê? Feche os olhos. Ela suspirou e fez o que Evan pediu. Ele a pegou pelos ombros e a guiou. O ar estava quente no lado de dentro, com um cheiro de poeira forte. — Isso é loucura — resmungou ela, mas não podia negar que as mãos dele nos ombros dela aceleravam seu batimento cardíaco. — Você está louco? — Estou. — Ele a guiou vagarosamente. —- Pronto, abra os olhos. Ela abriu e suspirou. A luz da lua fluía pelo enorme vitral instalado no alto de uma parede. Literalmente perdeu o fôlego. — Como... quando...? — Pedi a Olívia — disse ele. — Ela achou este aqui hoje, num leilão. — Foi por isso que ela ligou para você? — Marcy virou-se e olhou para Evan. — Eu pensei... Ela mordeu os lábios e virou para olhá-lo. — O que você pensou? Ela ignorou a pergunta dele. — Por que não me disse o que estava fazendo? — Queria fazer uma surpresa para você de manhã. — É lindo. Quando as mãos dele se arrastaram pelos braços dela e posicionaram sobre os ombros, ficou arrepiada. — Você é linda — disse ele. Nenhum homem lhe dissera aquelas palavras antes. Pela primeira vez na vida, sentiu-se uma mulher de verdade. Uma mulher sexy e desejada. Os corpos dos dois estavam quase se tocando.


— O que pensou quando Olívia me ligou? — perguntou ele novamente. A boca dele estava próxima ao seu ouvido, e ela mal raciocinava. — Eu... achei que você estivesse... — Ela hesitou. Era tão embaraçoso dizer aquilo. — Com Olívia? Ela fez que sim com a cabeça. — Marcy, não estou interessado em Olívia. Quando os lábios dele roçaram na orelha dela, o coração disparou. — Não está? — Não. — Evan passou a ponta do dedo no pescoço dela. — Sua pele parece uma pétala de rosa. O toque dele fez ela se arrepiar até o dedo do pé. — Gostei do seu cabelo curto — sussurrou ele. — Agora posso fazer isto. Deu uma mordidinha na nuca dela e os joelhos de Marcy ficaram fracos. — Isto... — ela tremeu quando os dentes dele mordiscaram a pele — ...é bom. — Apenas bom? — Muito bom. — Marcy... — sussurrou baixinho — eu quero você. — Eu... também quero você. — Quero que tenha certeza disso. Se tiver alguma dúvida... Ele tocou os lábios dela com as pontas do dedo. — Não tenho dúvida alguma. Beijou-lhe os dedos, circundou a cintura dela com a mão e pressionou a boca na palma da mão dela. Um toque tão simples fazia o sangue dela queimar. Ele inclinou a cabeça, colocou as mãos nos ombros dela e se aproximou ainda mais, abrindo os lábios quando sua boca tocou a dela. O beijo era delicado, mas insistente, e quando se separaram, os dois respiravam com dificuldade. O desejo faiscava com força nos olhos dele. Ele pegou a mão dela e se virou. — Vamos.


Ela o seguiu. Uma mistura de excitação e nervosismo a fazia tremer, mas queria isso; queria Evan com uma vontade que nunca havia sentido antes. Decidido, ele a guiou até o elevador sem dizer uma única palavra. Quando estavam no interior do elevador, pegou-a nos braços novamente. A boca estava faminta e os beijos deixaram-na sem fôlego. — Para o meu apartamento. — Pegou a mão dela de novo quando a porta do elevador se abriu. Saíram correndo em direção à suíte. Evan derrubou a chave duas vezes no chão e, quando finalmente conseguiu abrir a porta, os dois riam do nervosismo. Empurrou-a para dentro da suíte, encostou a boca na dela e pressionou-a contra a porta fechada. Ela estava derretida, correspondendo aos beijos, reunindo o movimento vigoroso daquela língua quente com a sua. Quando as mãos dele escorregaram vagarosamente pelos braços dela e as pontas do dedo encostaram a lateral dos seios, o prazer a envolveu. — Você é tão macia — disse ele, sem ar. — Queria colocar minhas mãos em você desde o minuto em que a conheci.

Desde o minuto em que a conheci? Surpresa, Marcy olhou para ele. — Quer dizer antes de... antes desta noite? Ele sorriu. — Docinho, você está sexy demais, e estaria mentindo não dissesse que amei seu novo visual. Mas não precisava mudar nada para mim. Até aquele macacão que você usou durante toda a semana me deixava louco. — Meu macacão? — Ela franziu a testa. — Você está brincadeira. — Não estou não. — Ele passou os lábios nos dela e mordiscou o canto de sua boca. — Não conseguia parar de pensar em tirá-lo. Ele estava falando sério, percebeu ela. Realmente a desejara antes desta noite. Tinha pensado nela com aquele macacão. Céus! Aquelas palavras a excitavam e a fortaleciam, faziam brotar uma mulher que nunca soubera que existia até este momento. — Bem, se prefere o macacão ao vestido — provocou ela —, posso usá-lo.


— Não vai a lugar algum, senhorita Pruitt — disse ele, sacudindo a cabeça. — Exceto para minha cama. Ela engoliu em seco quando ele a levantou em seus braços e a levou para o quarto. Marcy envolveu os braços em seus ombros fortes, sentindo o cheiro másculo da pele. Salgada, pensou ela, ao deslizar a língua diretamente abaixo do lóbulo da orelha dele. Apimentada. Evan respirou fundo quando ela explorou ainda mais a área com os dentes e a língua. Ela ficou surpresa e satisfeita em provocar aquele tipo de reação nele. Ficou imaginando o que mais podia fazer... Seria interessante descobrir. Ele parou ao lado da cama, prensando sua boca na dela enquanto a colocava no chão. Ela envolveu os braços com firmeza no pescoço dele e ficou grudada nele. Sensações espiralavam-se em seu corpo, texturas, cores, tudo girando de uma só vez num turbilhão de desejo. Este momento, este homem; não havia nada mais. Ah... Havia algo mais, pensou ela vagamente enquanto ele alcançava o zíper na parte de trás de seu vestido. Havia muito mais. Ela tremeu de ansiedade. O leve ruído do zíper do vestido abrindo se misturou ao som das respirações arfantes. As mãos calosas exploravam a pele sensível de suas costas; um arrepio de prazer intenso invadiu seu corpo inteiro. O vestido descia vagarosamente pelo corpo até chegar aos pés descalços. Ela estava na frente dele, nua, exceto por duas faixas de cetim preto. — Quero ver você — sussurrou ele, afastando-se lentamente para olhá-la. O olhar dele a incendiou, queimou por dentro e amoleceu seus joelhos. Parecia que ia afundar no chão. Ouviu o suave assobio que os lábios de Evan fizeram quando soltaram o ar, e ouviu-o murmurar alguma coisa inaudível. Ele veio em direção a ela, envolveu com as mãos grandes seus seios doloridos e inchados de excitação, e acariciou os mamilos intumescidos com a ponta dos polegares. A cabeça dela foi para trás com um gemido e, quando ele abaixou a cabeça e beijou um dos seios, Marcy mordeu o lábio inferior e respirou fundo. Ele a acariciava com calma, aconchegava-se, mordendo sua pele levemente. Impaciente e ansiosa, ela se retorcia de encontro ao corpo dele, querendo que se apressasse. Mas ele demorou uma vida inteira, pensou ela, até que finalmente as mãos dele se movessem até o fecho do sutiã e o abrissem.


A boca de Evan estava quente e úmida; a língua se movimentava rapidamente. Quando encostou a boca em seu mamilo e chupou-o suavemente, uma intensa flechada de desejo inundou sua virilha. Ele continuou sem pressa, dando a mesma atenção a cada seio. Cada beijo caloroso e o deslizar de mãos e língua faziam-na ficar cada vez mais tonta, até que achou que não agüentava mais. — Evan — disse ela, ofegante, passando as mãos nos cabelos negros dele. — Por favor. Caíram na cama, rolaram até que seu corpo estivesse sobre o dela, as mãos deslizando pelas coxas e pelos lábios. A textura das mãos grossas sobre sua pele macia

faziam-na

sentir

o

que

nunca

sentira

antes.

Sentia-se

maravilhosa,

gloriosamente viva, como se cada nervo de seu corpo estivesse exposto, e tremeu com o intenso prazer que inundava seu corpo. — Roupas — murmurou ela, mexendo desajeitadamente nos botões de sua camisa. Quando o último botão foi aberto, ele arrancou a camisa, sem afastar a boca dos lábios dela. Rapidamente, cheia de desejo, ela passou a mão sobre o peito e os braços musculosos de Evan, sentiu o volume de sua masculinidade e o calor de sua excitação. Queria tocar o corpo dele inteiro, queria que ele tocasse o corpo dela inteiro. Passou os dedos no peito dele e pressionou os lábios na pele quente. Os músculos quentes se tensionaram ao toque de Marcy e, quando ela passou a mão por sua barriga até a alça do cinto e a abriu, ele ficou sem ar. Ele se afastou dela, rapidamente arrancando as roupas, mias logo estava de volta, a boca na dela, beijando-a com força e profundamente até que ela ficasse tonta e sem ar. A mão dele deslizou até a junção das coxas de Marcy e envolveu-a. Ela se afundou no colchão com um gemido e, quando os dedos dele se moveram sob sua calcinha de cetim, dentro da úmida e quente carne de seu corpo, agitando-se dentro dela, Marcy se contorceu. Ela esticou os braços e fechou a mão em volta da firme extensão de sua excitação, surpresa com a sensação de veludo sobre aço. A ânsia tornou-se desesperadora. Ela queria, precisava dele dentro dela e o tocou, querendo satisfazê-lo como ele havia feito. — Espere. — Ele acalmou a mão dela e envolveu seu pulso com as mãos. — Ainda não.


Ela queria protestar, mas ele colocou a boca com força em seio e o chupou intensamente. Por puro instinto, seu corpo curvou-se para cima. A língua dele passava por suas coxas e os mamilos ficaram ainda mais rígidos enquanto os dedos continuavam a se movimentar por entre as pernas dela. Agarrou os lençóis enquanto um fogo atravessava o corpo dela. Arrancou o último pedaço de roupa que restara e a boca moveu-se em direção à barriga. Ela ficou imóvel, chocada com o rumo que os lábios estavam tomando. — Evan! Isso é demais... não posso... Mas as palavras foram cortadas quando os lábios se moveram sobre ela, mordendo-a levemente, acariciando-a. Quando a ponta da língua dele encontrou seu âmago, ela elevou os quadris, arrastando os dedos no couro cabeludo dele com um gemido. Uma pessoa com certeza poderia morrer de tanto prazer, pensou. O corpo inteiro dela latejava, e o prazer se misturava à dor. — Por favor — implorou ela. — Agora... Ele ergueu a cabeça, encheu sua barriga e sua cintura de beijos, e depois se afastou, deixou-a tremendo de desejo enquanto enfiava as mãos na gaveta da mesade-cabeceira. Voltou e abaixou-se entre suas pernas, entrando suavemente no calor do corpo dela. — Não quero machucar você — murmurou ele, apertando-a entre os braços. — Não vai. — Ela colocou os braços com firmeza sobre os ombros dele e enroscou as pernas nas dele. — Está maravilhoso. No entanto, ele ainda hesitou, e ela podia sentir o esforço que fazia pela posição tensa de seu maxilar e os olhos estreitos. O suor escorria de sua testa. — Só me diga se... — Agora — repetiu ela, erguendo-se e movendo os quadris contra os dele num ritmo sensual. O desejo afastou a cautela, e a necessidade selvagem e genuína consumiu os dois. A urgência crescia, mais calorosa com mais firmeza, e acabou se rompendo ferozmente dentre dela, o nome dele nos lábios quando ela se contorceu. As mãos de Evan seguravam os quadris de Marcy com firmeza, e as investidas eram profundas, fortes e rápidas. Com um gemido, ele se contorceu várias vezes.


Quando parou, ela passou os braços em volta do pescoço dele para se acalmar e para aproximá-lo. O peso de seu corpo a pressionava contra o colchão. Sorrindo, ela se afundou na maciez e o trouxe com ela.

— Estou amassando você — disse Evan quando pôde raciocinar novamente e voltar a respirar. O coração ainda estava batendo muito rápido, os pulmões queimando. — Não — Ela o apertou ainda mais. — Não se mexa. Não tinha força para isso. Nenhuma experiência anterior o tinha deixado tão esgotado e fraco, e o melhor que pôde fazer foi levantar a cabeça e olhar para ela. Sentiu como se tivesse levado um soco na barriga. A luz da lua batia em seu rosto, dando-lhe uma aparência etérea. Quando olhou para ela, sentiu um aperto no peito e a garganta ficou seca.

Linda, pensou ele. Era absolutamente linda. Os olhos estavam fechados, os cantos dos lábios inchados curvavam-se num sorriso de contentamento. Sabendo que ele havia colocado aquele sorriso lá, não pôde evitar que a euforia corresse por suas veias. — Você está bem? — perguntou ele, baixinho. Os olhos dela se arregalaram. — Se está perguntando, devo ter feito alguma coisa errada. — Você sabe o que quero dizer. — Ele beijou a ponta do nariz dela. — E acredite: você, com certeza absoluta, não fez nada de errado. Mais certo é impossível. — Foi incrível. — Sorrindo, ela passou os dedos sobre os ombros dele. — É sempre assim?

Nunca foi assim, foi seu primeiro pensamento, embora não pudesse exatamente definir o que era diferente em fazer amor com Marcy. E algumas coisas ele simplesmente preferia não analisar. — Você é incrível. O sorriso dela se alargou, depois olhou para baixo. — Nunca pensei que seria boa nisso. — Por que pensava assim?


— Sempre achei que tivesse alguma coisa errada comigo, porque sempre me interessei mais pelo meu trabalho do que por namoro ou sexo. Eu ouvia outras mulheres falarem disso, nas nunca entendi muito bem o estardalhaço. E agora... — Ela passou os dedos levemente pelas costas dele — ...bem, agora eu entendo. O toque suave das pontas dos dedos na pele dele e o movimento de seus quadris fizeram o coração de Evan se apertar. Segurou a cintura dela com as mãos e virou-se na cama, trazendo-a com ele. Olhos bem abertos, ela ficou sem ar com o movimento inesperado. — Já ouvi muitas coisas em relação a sexo. — Ele passou as mãos na lateral de seu corpo e encheu as mãos com aqueles lindos seios. — Mas nunca estardalhaço. Rindo, ela cobriu as mãos dele com as suas, depois o sorriso esvaiu-se de sua boca quando achou seu ritmo. Evan nunca vira nada tão excitante quanto a visão de Marcy se movendo sobre ele, os lábios entreabertos, os olhos embaçados de desejo. — Sabe... — disse ela, com a voz ofegante — ...você combinou que o trabalho amanhã começava às seis e meia. — Pensando em trabalho? — Só imaginando até que horas posso deixá-lo de pé. — Os olhos se arregalaram quando se deu conta do que dissera. — Quero dizer, acordado. Rindo suavemente, levantou os quadris ao encontro dela. — Por que não tentamos descobrir?

CAPÍTULO OITO

Todos os músculos do corpo doíam quando Marcy acordou às cinco da manhã. Não tinha certeza de que conseguiria se movimentar, sair da cama, vestir a roupa e caminhar pelo corredor até seu apartamento. Não tinha a intenção de ficar a noite inteira, tentara sair às duas da manhã, depois novamente às três. Mas cada vez que Evan arrastava-se de volta para seus braços, mudava de idéia. Não que ela tivesse oferecido muita resistência.


Observou o homem dormindo profundamente ao seu lado. Deitado de barriga para baixo, um braço musculoso em volta do travesseiro, o outro apertado ao redor da cintura dela. Mesmo dormindo, tinha um ar duro, rude e absolutamente viril. Mesmo dormindo, provocava arrepios pelo corpo inteiro de Marcy. Depois da noite que passaram juntos, não pensou que ainda sobrasse algum arrepio nela. Evan fora um amante maravilhoso. Terno e delicado em alguns momentos, vigoroso e exigente outros. O que a chocava e a alegrava era que tinha sido igualmente vigorosa. Quem poderia imaginar?

Ninguém, pensou. Muito menos ela. Esse pensamento a espantava. E animava. Não havia arrependimento. Acreditava no destino. Acreditava que tudo que acontece na vida era para ser. Esperou pelo momento certo, pelo homem certo. A noite passada era o momento; Evan era o homem. Estudou o rosto dele à meia-luz, resistiu ao desejo de passar os dedos sobre a sombra da barba que começava a nascer. E não era apenas o rosto dele que desejava tocar. Queria explorar cada centímetro dos músculos de seu corpo, cada ângulo de sua masculinidade. A curiosidade pode ter matado o gato, pensou ela, mas certamente morreria um gato feliz. Tinha tentado desesperadamente não confundir o ato físico de fazer amor com o sentimento de amor. Mas deitada aqui, o corpo ainda zunindo em conseqüência da noite mais incrível de sua vida, a linha entre os dois era tênue. À luz do dia, talvez, aquela linha seria mais distinta. Mas não havia futuro para os dois; tinha certeza disso, e seria muito tolo de sua parte apaixonar-se por Evan. Não tinha experiência para saber como agir neste momento, ou o que dizer. Quando pensou no que compartilharam na noite anterior, o que fizeram, sentiu o rosto queimar. Talvez fosse mais fácil se não estivesse aqui quando ele acordasse. Não era isso que os homens sempre diziam que queriam? Espaço? Segurando a respiração, vagarosamente, em silêncio, tirou os braços dele da cintura, sentou-se à beira da cama e pegou o vestido. — Volte aqui. Ela deu um salto com o som daquela voz rouca, não teve tempo para reagir antes que aquela mão a agarrasse e a arrastasse de volta à cama.


— São cinco horas — argumentou Marcy quando Evan se colocou sobre ela e a prendeu. — Sim? — Passou os lábios levemente sobre os dela. — E daí? — Você tem de estar... — Exatamente aqui. — Ele colocou o nariz no canto da boca dela. — E exatamente aqui. Quando ele encheu seu rosto de beijinhos, depois o pescoço, ela suspirou. Quando mordiscou seu ombro, ela tremeu. — Aí também é bom — disse ela, ofegante. Ele calmamente moveu a boca sobre a dela, mordendo-a levemente, sentindo-a, até que ela estivesse flutuando numa nuvem sensual de prazer. Quando a boca de Evan alcançou os seios dela, a nuvem tornou-se densa e pesada, escurecendo a cada toque de seus lábios ou deslizar de sua língua. Ele sugou o mamilo com forca, movendo os quadris sobre os dela. Quando abriu suas pernas, ela gemeu de prazer. Ela murmurou o nome dele, encontrou o ritmo de seus quadris, envolveu os braços e pernas em volta dele com firmeza. A urgência cresceu, com mais força e calor, envolvendo-a cada vez mais. O clímax a tomou e, em seguida, explodiu. Ela gritou, arranhando os músculos tesos dos ombros largos dele com as unhas. Ele mergulhou nela com mais força, mais profundo, até que gemeu e estremeceu com a força de seu próprio clímax. Ela não tinha certeza quanto tempo se passara até que pudesse pensar novamente. Se tivesse forças, teria olhado para o relógio da mesa-de-cabeceira. Quando retomou os sentidos, ouviu o som da respiração ofegante de Evan e sentiu a batida intensa de seu coração. Estava esparramado sobre ela, pesado, mas não desconfortável. — Puxa! — murmurou ele, passando os lábios pelo queixo dela. Ela sorriu. Era a coisa mais doce e mais maravilhosa que um homem já havia lhe dito. — É... — Achou força para levantar as mãos e passar em seus braços. — Puxa! Ele se apoiou nos cotovelos e olhou-a.


— Você é uma mulher e tanto, senhorita Pruitt. Ela passou as pontas dos dedos pelo queixo dele. — Espero que isso seja um elogio. — É sim. — Ele beijou os dedos dela. — E um elogio. — Obrigada — disse Marcy formalmente, e respirou fundo quando ele deslizou as mãos pela lateral do corpo dela e envolveu seus seios com as mãos. — A propósito — esforçou-se para conseguir respirar —, concordo com sua argumentação sobre entrar no ramo da construção em vez de no da ciência. — Hum? — Ele circundou os mamilos dela com o polegar e ela se retorceu, absorta na onda de desejo que atravessava seu corpo. — E por quê? — Você é realmente muito, muito boa com as mãos.

Evan esforçou-se para não assoviar enquanto caminhava em direção ao local de trabalho. A última coisa que queria era chamar a atenção de seus funcionários, e o fato de estar mais de uma hora atrasado já levantava algumas sobrancelhas. Mas, afinal, ele era o chefe, ponderou. Desde que o trabalhe ficasse pronto, podia chegar à hora que quisesse. Foi muito difícil deixar uma mulher nua e sexy em sua cama Dissera a Marcy para ficar e dormir um pouco. Mas seu motivos eram egoístas. Mal podia esperar para levá-la para a cama novamente à noite, e queria que ela estivesse descansada. Ele estava certo em um aspecto. O entusiasmo e a criatividade de Marcy estendiam-se à cama. Ainda não tinha muita certeza sobre o que acontecera noite anterior. Bem, a não ser o fato de que tinham feito amor. Muitas vezes, pensou, com um sorriso no rosto. Mas era algo mais. Algo que ia além do simples prazer. Nunca tinha sido um. cara recatado, mas nunca experimentara algo assim antes. Nunca experimentara algo como Marcy. A intensidade. A quase insanidade. O desespero esmagador. Tudo era novo para ele. Deixava-o nervoso e, ao mesmo tempo, alegre.


— Devia tirar esse sorriso do rosto — Evan escutou Jacob dizer por trás. — Eles já estão apostando quem foi a sortuda. Quando Evan se virou, Jacob segurava uma enorme caneca de café. Franzindo a testa, Evan pegou a caneca. — Não me irrite. Ainda é muito cedo. — Não estou tentando irritá-lo. Evan olhou para sua equipe; todos o olhavam. Lançou-lhes um olhar irritado e voltaram rapidamente ao trabalho. — Ninguém fica assim tão feliz de manhã cedo, a não ser tenha... — Fique quieto. — Evan baixou a voz quando alguns homens o olharam. — Não foi nada disso. — Então, o que foi? — Nada que lhe interesse — disse Evan, irritado. — Eu normalmente concordaria com você — disse Jacob, com equilíbrio. — Mas estamos falando da reputação de uma mulher que, além de tudo, é a melhor amiga de Clair. Jacob estava certo, pensou Evan com um suspiro. Só não estava acostumado a dar satisfação. — Eu gosto dela. É isso. Ela é inteligente e meiga e não tem nada de falso nela. É... diferente de todas as mulheres com as estive antes. — Isso é o mínimo — disse Jacob, balançando a cabeça. — Também é a mais vulnerável. — Acha que não sei disso? — retrucou Evan, passando a mão no cabelo. — Por que acha que fiquei longe dela esse tempo todo? Mas aconteceu, e não estou arrependido. E já vou avisando que vai acontecer de novo. — Vocês dois são adultos. — Jacob cruzou os braços. — Tudo o que estou lhe pedindo é que seja cuidadoso. — Estou sendo cuidadoso. Ela é a última pessoa que quero ver triste. Mas gostamos da companhia um do outro, então, até ela voltar para Los Angeles, é assim que será. — É?


— Não ouviu o que eu disse? — Evan não gostou do olhar de irmão mais velho de Jacob, que parecia dizer "sei algo que não sabe". — Podemos voltar ao trabalho agora? — Chefe? James estava a alguns metros de distância, meio sem jeito. Evan olhou furiosamente para o jovem, esperando que não tivesse escutado a conversa entre ele e Jacob. — Que foi? — É... Sabe onde está Marcy? Perguntou na hora errada. Parte de Evan queria dizer sei, ela está na minha

cama e agora cai fora e nem pense em chega perto dela novamente. Mas a parte de seu cérebro que ainda funcionava controlou-o. — Por que quer saber? — Tinha um fiscal aqui procurando por ela há algum tempo. — Fiscal? — Evan franziu a testa. — Que fiscal? — Alto, óculos grossos, chapéu e prancheta. Disse que era do Departamento de Construção e Segurança e que ela havia pedido um código de especificação. Evan olhou para Jacob e percebeu o olhar de preocupação de seu irmão. — Sabe alguma coisa sobre isso? Jacob sacudiu a cabeça, negando. — Cheguei aqui há dez minutos. Evan tinha certeza absoluta de que Marcy não ligara ou mesmo falara com qualquer pessoa do Departamento de Construção e Segurança sobre o código de especificação. Não estava gostando nem um pouco dessa história. — Perguntou especificamente por Marcy Pruitt? — Acho que sim. — James coçou o pescoço. — Ou talvez não. Droga, não tenho certeza. Evan trincou os dentes. — E o que disse a ele? James sorriu. — Disse que não sabia de quem ele estava falando.


Graças a Deus. Evan soltou o ar dos pulmões. — Tudo bem. Mas se ele aparecer de novo, me avise. — Com certeza. — James limpou as mãos nos bolsos da frente de seus jeans. — Então, você sabe onde ela está? Evan estreitou o olhar para James. — Volte de uma vez ao trabalho ou será despedido. — Mas... — Agora — vociferou Evan. — Certo, chefe. — Bem, essa foi sutil — disse Jacob, balançando a cabeça. — Diga ao Tom que vou dar uma saída. — Evan tirou o cinto de ferramentas que acabara de colocar. — Fique de olho para ver se não aparece alguém suspeito por aqui. Droga! E se não fosse realmente um fiscal? Precisava saber se ela estava bem.

*** A cafeteria do Four Winds tinha o mesmo requinte do resto do hotel. Era bom, pensou Marcy, caminhar em público sem ser notada. No entanto, enquanto olhava ao redor, notou um homem elegante observando-a por trás do jornal enquanto lia. A atenção lhe deu uma dose extra de confiança, mas não estava interessada em outro homem que não Evan. Sabia que estava caminhando com um sorriso bobo no rosto, mas não podia evitar. O sorriso se alargou quando Marcy se sentou com Clair e abraçou-a. — Muito obrigada por me encontrar. — Você está brincando, não está? — Clair arrastou uma xícara de café quente pela mesa em direção a Marcy. — Jacob teve de me segurar para eu não ligar para você às seis da manha. Meu Deus! Você está maravilhosa. E o seu cabelo... amei! Quando olhou para o espelho, ainda não reconhecia a mulher do outro lado. — Vai levar um tempo para me acostumar — disse ela, olhando para Clair. — Mas também gostei. Os funcionários do seu salão são todos mágicos.


— Eles são bons, admito, mas tinham um material muito bom no qual trabalhar. — Clair aproximou-se de Marcy. — agora me diga o que deu em você para pegar uma imagem multimilionária e transformá-la dessa maneira. Meu cabelo vai crescer de novo. — Marcy pegou o menu. — Estava cansada de ficar me escondendo e olhando sobre os ombros o tempo todo. Achei que se você, Jacob e Evan não me reconhecessem, ninguém mais iria. — Está dizendo que fez isso porque não queria que ninguém a reconhecesse? Sem os óculos, Marcy tinha de colocar o menu um pouco mais perto do rosto que o normal. — Claro. — Marcy. — Clair abaixou o menu com o dedo. — Desculpe, mas você nunca mentiu bem. E não sou cega. Vi a expressão de Evan quando arrastou você do bar ontem à noite. Pode me dizer o que foi aquilo? Por que achou que poderia esconder a verdade de Clair? Respirando fundo para acalmar os nervos, fechou o menu e olhou para Clair. — Nós... dormimos juntos. — Dããã. — Clair revirou os olhos. — Isso está na cara. — Como assim? — Querida, está estampado no seu rosto. Além do mais, quando entrou no restaurante, estava com jeito de quem queria abraçar todo mundo. Acredite, eu conheço esse jeito. Bem, chega de tentativas frustradas de parecer indiferente. pensou Marcy. Mas por que estava tentando parecer indiferente em relação à noite mais maravilhosa de sua vida? Quem melhor para compartilhar essa alegria? — Na verdade — disse Marcy calmamente, depois se aproximou e deu um sorriso —, estou dando pulinhos. — Pulinhos? — Clair lançou-lhe um olhar interrogatório e pegou o copo de água. — Ah, isso parece sério. — Não mesmo — disse Marcy, balançando a cabeça. — É só sexo. — Marcy! — A água escorreu pela borda do copo de Clair. — Não posso acreditar que acabou de dizer isso.


— Nem eu. — Riu de si mesma e do olhar chocado de Clair. — Mas estou de muito bom humor para ficar com vergonha. Dormimos juntos, mas foi só uma noite. — Essa é uma declaração incompleta. — Clair soltou o ar dos pulmões. — Então, é isso? Está me dizendo que passou uma única noite com o irmão do meu noivo e que está bem com isso? Ela pegou o café e deu um gole. — Exatamente. — E está me dizendo que não vai acontecer de novo? — Ainda não pensei nisso. — Marcy não queria criar muitas expectativas. Se fosse mesmo uma única noite, pelo menos, teria aquela "noite selvagem" como lembrança. — Preciso me sentar — disse Clair, incrédula. — Mas já estou sentada! — Também estou tentando digerir isso tudo. Mas o que quer que aconteça, prometo que não vai afetar meu trabalho com Evan. Meu Deus! Ainda não contei a você sobre o vitral, não vai acreditar...

— Marcy — disse Clair com calma, mas com ênfase. — Pare já. Não estou preocupada com a capela. Estou preocupada você. — Comigo? Por quê? — Amiga, não quero vê-la triste. — Acredite em mim, já pensei muito nisso. Sei que existem riscos. — disse Marcy calmamente. — Mas o que é a vida sem eles? Passei toda a minha vida sendo protegida, primeiro pela tia Hattie, depois por Helen. Você sabe como é isso. Quando fugiu da igreja no dia do casamento, assumiu um risco. Se soubesse , naquela época, que tudo entre você e Jacob terminaria mal, teria agido de forma diferente? — De maneira alguma. — Então, aí está. Agora podemos pedir a comida? Estou morrendo de fome. Sabia que beijar durante trinta minutos consome 28 calorias? E quando você... — Droga, Marcy, por onde esteve? Ela estava tão entretida na conversa com Clair que não notou Evan entrar no restaurante. Braços cruzados, parou ao lado da mesa com uma expressão irritada.


— O que quer dizer com isso? — Confusa com o comportamento dele, olhou-o fixamente. — Estive exatamente aqui — Era para você estar dormindo — disse ele com fim — Por que não me disse onde estaria? Marcy franziu a testa. — Não sabia que precisava. Ele se sentou ao lado dela e deixou-a chocada quando inclinou e beijou os lábios dela. — Bem, você precisa. Bom dia, Clair. — Bom dia, Evan. — Clair limpou a garganta e pegou a xícara e café da mesa. — Bem, talvez eu deva voltar ao trabalho. Sombrio, Evan sacudiu a cabeça. — Não, fique. Evan não estava zangado, e sim preocupado, percebeu Marcy. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou. — Não tenho certeza. — Evan pegou a xícara de café de Marcy e deu um gole. — Você ligou ou falou com alguém do Departamento de Construção e Segurança sobre algum código de especificação? Ela pensou sobre aquela pergunta. — Sei que não liguei, mas posso ter falado com algum fiscal na construção. Não saberia dizer se era do departamento ou se era parte da sua equipe. Por quê? — James disse que tinha uma pessoa procurando por você hoje de manhã. — Ele olhou para Clair. — Seus funcionários viram alguém que não devia andando por aí? Clair balançou a cabeça. — Não, mas farei uma reunião mais tarde para pedir que sejam ainda mais cautelosos. Além disso, vou dar uma olhada nos check-ins dos últimos dias e ver se há alguém suspeito. Se alguém soubesse que Marcy está aqui no hotel, poderia tentar ficar aqui também. — Está ótimo. E enquanto você resolve isso, talvez deveria trocá-la de apartamento. Caso alguém tenha localizado Marcy. Melhor ainda, ela pode levar as coisas para o meu quarto.


— O quê? — Fazendo um grande esforço, Marcy entrou numa conversa que já estava indo longe demais. — Parem, dois. Podem parar. — Não precisa me mudar para lugar algum. Vocês estão fazendo suposições e, de qualquer maneira, mesmo que alguém esteja procurando por Marcy Pruitt, acham que me reconheceria agora? Nem vocês dois sabiam que era eu, na noite passada. — Isso é verdade — disse Clair com hesitação. — Talvez, mas eu me sentiria melhor se você fosse para o meu quarto.

— Você se sentiria melhor? — Marcy pressionou os lábios e ergueu uma sobrancelha. — Que tal perguntar se eu me sentiria melhor? Evan ficou ainda mais sério. — Tudo bem. O que você acha? Ela pegou a xícara de café das mãos de Evan, deu um gole e olhou para Clair. — Vou me mudar agora de manhã.

CAPITULO NOVE

Evan mandou a equipe para casa e também parou de trabalhar mais cedo. Com a rapidez que estavam indo, a capela estaria pronta no início da semana seguinte, o que os daria mais uma semana para pensar nos detalhes e qualquer problema que pudesse surgir. Havia uma camaradagem maior neste projeto que em qualquer outro. Em parte, porque todos conheciam Jacob e gostavam dele, mas Evan percebeu que era principalmente porque todos queriam agradar Marcy. Tinham ficado preocupados por ela não ter aparecido, mas Evan explicou-lhes que estava tudo bem e que ela voltaria no dia seguinte. Mudá-la para a sua suíte fazia sentido, Evan assegurou-se enquanto subia de elevador. Se esse detetive tivesse conseguido do rastreá-la até o Four Winds, ia parecer que ela já tinha ido embora. Mesmo que ainda estivesse por lá, as chances de reconhecer Marcy eram mínimas. E, se a mantivesse por perto, raciocinou, seria mais fácil prestar atenção em alguém que pudesse estar observando-a.


Além disso, ela passara mais tempo na suíte dele que na dela nos últimos dias. Eram adultos, duas pessoas mutuamente atraídas uma pela outra. Agora que estavam dormindo juntos, por que ter dois quartos quando apenas um era suficiente? No entanto, fora uma decisão impulsiva. Sabia que Jacob estava certo, que a inexperiência de Marcy com os homens a deixava vulnerável. E provavelmente por isso não devia tê-la chamado para ficar em seu apartamento, pensou. Evan preocupava-se com Marcy. Provavelmente mais do que com qualquer outra mulher com quem estivera. Não queria, de maneira alguma, vê-la triste. Droga. Saiu do elevador e foi até o apartamento. Talvez não tivesse refletido bem. Talvez não fosse uma idéia muito boa. Sentiu a garganta apertada, depois limpou a camada de poeira na testa. Talvez devesse falar com ela. Acabar com aquele envolvimento antes que as coisas ficassem mais — qual foi a palavra que ela usou? Complicadas. Entrou no quarto, sorriu quando ouviu o som de sua voz cantando baixinho no banheiro, e foi até a porta. A primeira coisa que notou foi a fileira de sacolas de compras na cama. A segunda coisa foi ela. Estava em frente ao espelho da porta do armário, com um vestido rosa-claro. A bainha do vestido cobria a batata das pernas, mas quando movia os quadris, a saia brilhosa dançava em volta dos joelhos.

Droga . Ele focou o olhar nas pernas longas, no pescoço delgado nos braços graciosos. Teve de agarrar o batente da porta para

conseguir se segurar. Tinha um nó na

garganta, uma mistura de tesão e medo e algo mais que não conseguia identificar. Engoliu com força e, quando o cérebro voltou a funcionar, conseguiu pegar algumas palavras da música que ela cantava: ...nunca vou entender, nunca vou entender. — Nunca vai entender o quê? Engolindo em seco, ela se virou, assustada. — Evan! Ele permaneceu onde estava, em parte porque as pernas ainda estavam presas ao chão, em parte porque temia ter de tocá-la se chegasse mais perto. — Belo vestido.


— Obrigada. — O rosto tinha um tom de rosa mais profundo que o vestido. — Não ouvi você entrar. — Acabei de entrar. — Deus, ela ficava linda de rosa. Mal conseguiu se controlar para não colocar as mãos sujas do trabalho nela e agarrá-la com sofreguidão. — Parece que você foi às compras. — Fui. Bem, nós fomos. — Foi até a cama, pegou uma blusa e colocou em frente ao corpo. — Clair tem uma butique maravilhosa aqui no hotel. Mas também fomos em algumas lojas da cidade. — Parece que você vai precisar de outra mala. — Talvez. — Ela olhou para todas as roupas. — Ou talvez eu me livre do que trouxe. — Sério? — Ele se apoiou no batente da porta, olhando a bainha da saia do vestido esvoaçando sobre panturrilhas enquanto ela se movia desajeitadamente para frente e para trás. — Vai ficar com esta nova Marcy? — Estou pensando nisso. — Olhou-se no espelho, depois olhou de volta para ele. — O que você acha? Ficou assustado quando o primeiro pensamento que veio à sua mente foi de que

ele gostaria de ficar com ela. Espantou o pensamento e lançou-lhe um sorriso. — Está esperando um elogio? — E se estiver? Quando um canto da boca se curvou e ela atirou a blusa da volta na cama, o coração dele saltou à garganta. Um outro lado dela que ele ainda não conhecia, pensou: a provocação. Definitivamente estava gostando. Andou até ela e pegou suas mãos. A textura da pele lisa e macia contra as ásperas e sujas palmas das mãos dele o desconcertava. — É isto que penso. — Colocou a mão dela no peito dele. — Isto é o que você faz comigo quando olho para você. O coração dele estava batendo como um tambor sob os dedos dela. — Eu também — disse ela, envergonhada.


— Eu lhe disse a verdade na noite passada, Marcy. Você me encantou logo na primeira vez em que a vi. Estava tão bonitinha ali, com aquele chapéu enorme, tentando não mentir para aquelas mulheres. Sinto vontade de rir só de lembrar. Olhou fixamente para ele com uma mistura de surpresa e admiração nos olhos verdes esfumaçados. — Eu... não vou nem fingir que sei o que lhe dizer depois disso. — Não precisa dizer nada. — Quando beijou o pulso dela, sentiu a pulsação sob as pontas dos dedos. — Apenas fique aqui enquanto tomo o banho mais rápido do mundo. — Não vou me mexer — disse ela, quase sem ar. Ele foi até o banheiro, abriu a porta, deu meia-volta e foi até ela novamente. — Pensando bem — disse ele, agarrando a mão de Marcy e puxando-a para o banheiro com ele —, vamos tomar um banho bem gostoso e demorado. Juntos. Algum tempo depois, quando estavam deitados na cama, completamente exaustos, Evan percebeu que se esquecera completamente da conversa que pretendia ter com Marcy. Ela estava com ele no apartamento e não queria que ela fosse embora. Ainda não queria machucá-la, é claro. Mas quem disse que iria? Tinha sido claro quando disse que não queria nada sério. Era uma mulher e tanto e os dois eram adultos. Tentaram negar a atração que sentiam um pelo outro e estava mais do que comprovado que não funcionara. Durante as próximas duas semanas, por que não podiam simplesmente curtir um ao outro?

— Meu bebê. Meu bebê lindo. — Josephine Beauchamp colocou o último grampo no véu de sua filha, depois deu alguns passos para trás e juntou as mãos no peito. — Não é a noiva mais linda que você já viu? — Mãe, por favor, já chega — reclamou Clair. — Você já perguntou isso para Marcy no mínimo dez vezes. — Ela está realmente linda — concordou Marcy, e era verdade, claro. Clair estava realmente linda de branco. — E a senhora também. Josephine era uma mulher deslumbrante, pensou Marcy. Parecia no mínimo dez anos mais jovem, aos cinqüenta anos.


— Obrigada, Marcy. E você... — Josephine tocou no queixo Marcy e sorriu. — Absolutamente primorosa. Quando Josephine se virou para mexer mais uma vez no véu Clair, Marcy relaxou. Ainda ficava desconfortável quando alguém a elogiava. Não que não gostasse de todas as palavras gentis que ouvira nos últimos dias. Quando voltara à obra, viu vários assobios. Quando os homens perceberam que era ela, seguiu-se um longo silêncio, depois aplausos e mais assobios. Evan quase estourou uma veia ao gritar para voltarem a trabalho. A esta altura, não precisava ser nenhum gênio — incluindo James — para saber que ela e Evan estavam dormindo juntos. Até para ela parecia estranho não se importar que a equipe sabia sobre ela e Evan. Não sentia vergonha. Estava delirante-mente feliz. Desesperadamente apaixonada. Foi um erro apaixonar-se por Evan. Sabia disso desde o início, tinha feito uma lista com todos os motivos para permanecer objetiva em seu relacionamento com Evan, mesmo depois de dividirem a mesma cama. Infelizmente, não havia lógica no coração. Dera asas aos sentimentos e não se arrependia disso. Amanhã à tarde, ela embarcaria no avião para Los Angeles. Depois de amanhã, estaria de volta ao trabalho. De volta à realidade. De volta ao mundo real. Mas, se deitar nos braços de Evan, fazer amor com ele, rir, trabalhar, até mesmo sentar-se no sofá para assistir TV — se tudo isso não era realidade, por que de repente doía tanto? Não ia pensar nisso agora. Era o dia de Clair e Jacob. Hoje ela sorriria e ficaria feliz por eles. Aproveitaria seu último dia com os amigos e a última noite com Evan. Uma batida rápida à porta e Julianna enfiou a cabeça no quarto. — Está todo mundo pronto aqui — disse ela, sorrindo para Clair. — Você está pronta? — Pronta — disse Clair, com os olhos brilhando de excitação. — Vamos lá.

Enquanto um quarteto de cordas entretinha os convidados, Evan estava de pé em frente à capela lotada, mexendo o maxilar para afrouxar a gravata-borboleta que apertava sua garganta Corno esperavam que alguém conseguisse respirar com esta


joça?, desejou saber. Pensou que, se ficasse azul, pelo menos combinaria com o vestido das madrinhas. A esquerda de Evan, Rand, Lucas e Seth também assumiam a posição de padrinhos, e à direita de Evan estava o noivo. Sentia-se maravilhado por terem terminado com quatro dias de antecedência, tempo suficiente para Marcy acrescentar os toques finais. Até ele ia querer se casar ali, pensou ele, depois franziu a testa. Figurativamente falando, é claro. Alongou o pescoço para permitir que mais ar entrasse em na traquéia e olhou para os convidados. Nas últimas semanas, principalmente depois do incidente durante a obra, tornara-se um hábito olhar os rostos ao redor para ver se havia alguém olhando para Marcy. Mas, considerando a maneira como mudara a aparência, observar as pessoas olhando Marcy tornara-se um trabalho de tempo integral. Nunca fora ciumento antes. O que estava acontecendo com ele? Ela penetrara na pele dele, droga. Não tinha certeza como isso tinha acontecido, ou exatamente quando, mas tinha. Durante as obras, constantemente se via procurando por ela, e quando não estava lá, desejava saber onde estava. Ela consumia seus pensamentos, e isso era absolutamente irritante. Não falaram sobre isso, mas sabia que ela voltaria para Los Angeles no dia seguinte. Ela não lhe pedira para levá-la ao aeroporto; ele não se oferecera. Não porque não quisesse levá-la, mas porque não queria que ela fosse embora. Sabia que ela tinha de partir; sabia que ele tinha de botar o pé na estrada. O próximo projeto estava marcado para começar na terça-feira. Não tinham escolha, mas o aperto persistente no coração o preocupava. Mesmo que ela fosse diferente de todas as outras mulheres, mesmo que gostasse dela mais do que de qualquer outra mulher, não significava que não podia deixar que ela partisse. Ele podia, droga. Mas não agora. Quando o quarteto mudou para "Water Music", de Handel, Evan ajeitou a postura. Foram instruídos, no ensaio da noite anterior, sobre quem ia aonde e quando, mas tinha sido difícil prestar atenção. Marcy estava com o vestido rosa e tudo em que conseguia pensar era na tarde em que o removera do corpo dela. E queria tirá-lo novamente. Quando voltaram ao quarto na noite anterior, foi exatamente, o que ele fez. A lembrança do que acontecera fez com que sorrisse. Ficou pensando nos detalhe e, de


repente, percebeu que estava de pé na frente de 150 pessoas, fantasiando sobre Marcy. Meu Deus! Felizmente, todos os rostos estavam voltados para Julianna que surgia no fundo da capela. Grace estava alguns passos atrás, depois Hannah. Carregando pequenos buquês de rosas todas vestiam cetim azul que deslizava até os tornozelos. Não havia dúvidas, pensou Evan enquanto as mulheres caminhavam pelo corredor: a família Blackhawk tinha mulheres lindas. Quando Marcy entrou, as outras mulheres perderam a graça. Ficou paralisado. O vestido era do mesmo tom de azul, mas diferente dos outros, não tinha alças, o que enfatizava seu pescoço longo e seus ombros adoráveis. Diamantes reluziam nos lóbulos da orelha e no pescoço. O sorriso dela iluminou o lugar. Quando olhou para ele, pôde jurar que o coração parou de bater. Estava certo de que, se alguém o soprasse, cairia para trás. Quando Clair entrou, ele ouviu os suspiros na igreja. Estava linda e feliz. Olhou para Jacob e viu seus olhos cheios de lágrimas. Evan teve de limpar a garganta. Desde a infância, ele e Jacob só tinham um ao outro em quem confiar. Agora, Jacob tinha Clair e, embora soubessem que a vida de todos seria melhor, também sabia que seria diferente. Estava feliz pelos dois, mas sentiu que parte de si estava sendo arrancada, deixando um corte, um buraco vazio. Afastou o sentimento e disse a si mesmo que todas essas flores e esses corações estavam deixando-o sensível e que ficaria feliz quando tudo terminasse. Olhou para Marcy, sentiu o vazio em seu peito aumentar e percebeu que havia uma coisa pela qual não estava feliz.

Luzes piscavam em cada canto do salão do Four Winds. Enormes arranjos de flores enfeitavam todas as mesas. Os noivos se olhavam apaixonadamente enquanto dançavam. Marcy achava impossível imaginar duas pessoas que se amassem mais. Até conhecer Evan, sequer imaginava como era o sentimento.


Ela se sentou à mesa, sem sapatos, e observou Evan levantar a filha de Julianna e Lucas nos braços para dançar. A criança riu quando ele a jogou para o alto e Marcy sorriu também, mesmo com o coração doendo.

Vou superar isso, disse a si mesma. Talvez me apaixonar de novo. Pode ser que aconteça. Numa outra vida, talvez. Permitiu-se sentir a dor por um instante, depois a afastou, haveria muito tempo para isso mais tarde. Tempo demais. Uma comoção no canto do salão tirou Marcy de seus sonhos. Uma as convidadas, uma loura atraente, tinha derramado uma taça de champanhe no fotógrafo e estava se desculpando. De repente, três garotinhas puxaram o braço dela e arrastaram-na para a pista de dança. Rindo, Evan agarrou-a pêlos ombros e beijou-a na boca. — Evan Carver! — Marcy ficou ofegante, depois olhou para as três garotinhas, que estavam todas dando risadinhas. — Elas duvidaram que eu beijasse você. — Evan piscou para as garotas.— Não resisto a um desafio. Marcy revirou os olhos e as meninas foram embora, rindo. — Sou louco, tudo bem. — Puxou-a em seus braços quando uma música lenta começou a tocar. — Louco por você. Vamos sair daqui — disse ele passando os lábios no ouvido dela. Ela ergueu a cabeça e olhou para ele, percebendo o brilho de desejo em seus olhos. — A festa ainda não terminou. — Mas já foi o suficiente para nós. Vamos subir. — Tudo bem. — Olhou para Jacob e Clair, que se despediam de um casal mais velho. — Encontro você no corredor. Levou alguns minutos para pegar a bolsa e os sapatos que deixara embaixo da mesa. Estava caminhando em direção ao corredor quando parou repentinamente, deu meia-volta e seguiu novamente em direção à capela.


Precisava vê-la mais uma vez à noite. Só por um segundo, disse a si mesma e saiu. Esse lugar era seu "bebê", pensou,! sorrindo. Dela e de Evan. Queria abraçar o que tinham feito, gravar na memória e no coração. Dos fundos da capela, Evan observava seus movimentos ate o lugar onde Clair e Jacob tinham feito os votos mais cedo. A luz da lua passava pelo vitral e acariciava seu rosto. Como a primeira vez em que a vira parada ali, ele simplesmente não conseguia pensar.

Ela acordou devagar no dia seguinte. Mexeu-se e sentiu o peso sólido do corpo de Evan contra o dela. Abrindo os olhos, Marcy percebeu que ele já estava acordado, apoiado nos cotovelos, descansando o rosto na mão enquanto olhava para ela. — Bom dia — disse ele baixinho. — Bom dia. — Ficou envergonhada por estar sendo observada, mas também ficou feliz. Sorrindo, puxou o lençol e acomodou-se. — Que horas são? — Seis e meia. Bocejando, ela fechou os olhos e escondeu-se no colchão. Dormiram muito pouco. Mas percebeu que dia era: o último dia em que acordariam juntos. De repente, seis e meia parecia muito, muito tarde. Quando a mão percorreu a curva de seus quadris, ela tremeu. Ele a beijou, suave e lentamente, com uma delicadeza que a derreteu. Ela envolveu os braços em seu pescoço e correspondeu ao beijo, até que os dois estivessem ofegantes e mais do que um pouco excitados. — A propósito — disse ele —, pedi o serviço de quarto. — Já? É tão... — com um gemido, agarrou os lençóis quando as mãos dele deslizaram sobre seus seios — ...cedo. — É, mas estou morrendo de fome. Ele mordiscou o pescoço dela e foi descendo. Seu sangue ferveu quando a língua dele encontrou seu mamilo intumescido. — Quando tempo temos? — perguntou ela, sem fôlego.


— Trinta minutos. — Que maravilha — murmurou, depois ergueu os quadris, imersa em sensações deliciosas. Agitada, ela prendeu as mãos sobre as costas e os ombros dele, murmurando seu nome. Ele beijou seus seios, quadris, barriga, moveu-se para cima dela e a penetrou. Ela o puxou para mais perto, sentiu o desespero dentro dele, selvagem e sombrio. Passou do corpo dele para o dela, depois atingiu os dois de maneira forte e violenta. Ele a preencheu. Seu corpo. Seu coração. Sua alma.

Amo você, ela quase disse, mas conseguiu se conter para não dizer essas duas palavras preciosas. Não suportaria se ele desse as costas para ela agora. Demorou um bom tempo para os dois se moverem novamente. — Vou esquentar a água do chuveiro — disse ele, a voz ainda ofegante. — Me acompanha? — Com certeza. — Mas não tinha certeza se as pernas poderiam sustentá-la nesse momento. — Vou em um minuto. Ela o observou entrar no banheiro e sentiu o coração apertado. Mais tarde, disse a si mesma. Não pense nisso agora. Sentou-se lentamente, passou a mão nos cabelos e estava pegando o robe quando ouviu uma batida à porta da sala. Serviço de

quarto. Tinha se esquecido completamente e parece Evan também. Vestindo o robe, caminhou pela sala e abriu a porta. Quando viu a luz de um flash, ficou paralisada.

CAPITULO DEZ

Evan tinha acabado de abrir a porta do chuveiro quando ouviu. Marcy gritar. Agarrou uma toalha e saiu voando do banheiro! Continuou andando quando não a viu no quarto. — Saia daqui! — Evan ouviu Marcy gritar da sala. — Me deixe em paz!


Quando entrou na sala, a luz do flash cegou-o por um momento, depois viu o homem baixo e careca na entrada da suíte, o pé prendendo a porta enquanto rapidamente tirava fotos. Evan ficou vermelho. Com um urro, investiu contra o homem, que conseguiu tirar mais uma foto antes de virar e sair correndo pelo corredor. — Evan, não! Sentiu Marcy agarrar seu braço, mas nem diminuiu a velocidade. Correu atrás do sujeito; não estava nem no meio do corredor quando o homem já estava dentro do elevador.

Droga, droga, droga! gritou Evan para o homem, que ainda teve o descaramento de sorrir e acenar enquanto a porta do elevador se fechava. Neste momento, a única coisa que notou foi uma mulher loura de calça cinza e blusa branca em frente ao elevador, colocando a mão na porta para evitar que se fechasse. O sorriso no rosto do homem tornou-se um choque quando a loura entrou no elevador e arrancou a câmera de sua mão. — Ei! — O cara gritou e agarrou-se na mulher. Num único movimento, ela prendeu as mãos do cara às dela e o fez ficar de joelhos, gemendo de dor. Sorrindo, a mulher jogou a câmera para Evan quando ele alcançou o elevador. Ela desceu o olhar e franziu a testa. — Bela toalha. Com adrenalina ainda correndo nas veias e o peito suspirando, Evan pegou a câmera com uma mão enquanto segurava a toalha com a outra. — Obrigado. — Evan! — Marcy corria atrás dele, segurando o robe bem próximo ao corpo. — Você está bem? — Melhor que esse idiota. — Evan sinalizou com a cabeça para o fotógrafo, depois tornou a olhar para Marcy. O rosto estava pálido, os olhos arregalados e assustados. — Você está bem? — Estou bem. Ele me surpreendeu. — Marcy primeiro olhou para o homem de joelhos e depois para a loura. — Quem é você? — Você não tem o direito — O homem pronunciou as palavras enquanto tentava se levantar. — Vou processá-la.


A mulher beliscou uma fração da mão do homem e ele caiu de joelhos novamente, gemendo cada vez mais alto. — Volto em dez minutos. — A loura ajeitou o rabo-de-cavalo e apertou o botão do elevador. — E, se não for dar muito trabalho, podem pegar um café para mim?

— Meu nome é Shelby Richards. — Sentada à mesa da suíte de Evan, a mulher pegou dois pacotinhos de açúcar e colocou no café. Ninguém poderia imaginar que, há apenas cinco minutos, a loura bonita e elegante colocara um homem de joelhos simplesmente pegando em seu pulso. — Sou uma detetive particular de Los Angeles. Marcy prendeu a respiração e olhou para Evan. De braços cruzados, ele estava de pé ao lado da mesa. — Então é verdade? Helen contratou você para me achar? — Não exatamente. — Por que não nos diz exatamente o que é verdade? — disse Evan com firmeza. — Ela me contratou para ficar de olho no seu amigo, Arnie Blanchard. — Arnie Blanchard? — Os olhos de Marcy se arregalaram. — Achei que ele parecia familiar. — Vocês podem me colocar a par disso tudo, por favor? —disse Evan. — Arnie se diz um jornalista, mas não é nada mais que um paparazzi de tablóide. Estava atrás de Marcy há algum tempo, procurando alguma coisa que pudesse manchar sua imagem. — Arnie estava atrás de mim? Como sabe disso? — Helen tem suas fontes — disse Shelby. Evan ergueu uma sobrancelha. — Você quer dizer que ela tem você. — Vamos dizer que sei a quem perguntar as coisas. Mas isso é irrelevante. O que é relevante é que Helen sabia que Arnie estava querendo sujar a imagem de Marcy nos últimos dias, especialmente por causa de toda a propaganda criada com seu novo programa de TV. Seria um golpe perfeito. Ele quase conseguiu, hoje. Amanhã, provavelmente todas as manchetes na mídia seriam "O Ninho de Amor Secreto de Marcy Pruitt", enriquecidas com fotos.


Oh, meu Deus! Shelby estava certa. Uma história e fotos como aquelas seriam notícia. — Então, Arnie está me espionando todo o tempo que estou em Wolf River? — O pensamento deu um frio na espinha de Marcy. — Tirando fotos de mim? Shelby negou com a cabeça. — Só chegou aqui ontem, e demorou um pouco para conseguir localizar você aqui. Acho que seu novo visual o despistou. A propósito... — Shelby sorriu — ...você está fantástica. Esse corte de cabelo combina tão bem com você e eu adoro... Quando Evan limpou a garganta, Shelby ergueu o rosto. — Oh, certo. Bem, de qualquer maneira, segui Arnie até a festa na noite passada e fiquei de olho nele para ter certeza de que ele não a incomodaria. — Era você na noite passada. — Marcy lembrou-se da comoção no canto do salão antes de ir para a pista de dança com Evan. — Você derramou champanhe no fotógrafo. Shelby fez que sim com a cabeça. — Eu o distraí por tempo suficiente para evitar que a seguisse até aqui, quando os dois saíram da festa, mas sabia que ele não ia demorar muito para descobrir em que quarto você estava. Estava esperando por ele, mas ele se movimentou um pouco mais rápido do que eu esperava essa manhã. — Que pena que eu não abri a porta. — Evan apertou os olhos. — O gerente o levou para a delegacia. Vão mantê-lo preso por um tempo, pelo menos até você ir embora.

Até ela ir embora. Mais uma vez, a realidade da partida dentro de algumas horas atingiam-na como um soco no estômago. Olhou para Evan e percebeu a expressão austera em seu rosto. Mas não conseguia ler aqueles olhos. Não podia ver se a afirmação de Shelby tinha causado algum impacto nele. Ocorreu a Marcy um pensamento repentino que a fez ficar tensa. Olhou rapidamente à volta, depois olhou para Shelby. — Você... tem alguma... — Não há câmeras escondidas no quarto, se é nisso que está pensando. — Shelby mexeu a cabeça e arregalou os olhos. — Que tipo de mulher você pensa que sou?


Uma mulher impressionante, pensou Marcy, querendo saber se ela podia lhe ensinar aquele movimento que colocou Arnie no chão. — Olhe — disse Shelby, sem o tom de brincadeira —, admito que sei onde você tem estado e com quem, mas, por favor, acredite em mim, só vim aqui por causa do Arnie e para mantê-lo longe de você. Não vim aqui para xeretar a sua vida. Helen me deu recomendações específicas para não dizer a ela o que você estava fazendo. Disse que, se quisesse que ela soubesse, você mesma lhe contaria. Marcy suspirou profundamente, depois sacudiu a cabeça. — Helen deveria ter me contado sobre Arnie. — Vai ter de conversar sobre isso com ela. — Shelby olhou para a omelete à sua frente. — Vocês vão comer isso? — Por que não leva? — sugeriu Evan. — Parece que seu trabalho aqui já terminou. — Isso. — Shelby pegou o prato e olhou para Marcy. — A propósito, consegui descobrir umas sujeiras de Arnie, então, a não ser que ele queira aparecer nos tablóides, não voltará a incomodá-la de novo. Marcy nem quis saber o que era, mas ficou aliviada com o fato de que Arnie não ia ficar se escondendo nos cantos e espionando-a. — Obrigada — disse Marcy quando Shelby levantou-se. — Apesar disso tudo ser muito estranho, eu realmente gostei do que você fez. — Só fiz o meu trabalho. — Shelby seguiu em direção à porta. — Se algum dia precisar de alguma coisa, Helen tem meu número. Depois que Shelby saiu, Evan comentou: — Esse tempo todo ela estava de baixo do nosso nariz. Droga. Me sinto um idiota. — Ele balançou a cabeça, foi até Marcy e colocou-a nos braços. — Você está bem? — Agora estou. —Agora que você está me segurando, pensou. — Quando vi aquele cara segurando a porta com o pé e tirando fotos, juro que quis matá-lo. — A maioria das pessoas que tem contato com Arnie diz isso. — Marcy colocou as mãos sobre o peito de Evan. — Nunca achei que minha vida fosse interessante o suficiente para ele vir atrás de mim.


— Já joguei cartas com o delegado algumas vezes — disse Evan. — Ele vai ter de olhar para o outro lado enquanto eu acerto as contas com o idiota... Ela pressionou os dedos nos lábios dele. — Obrigada pela intenção — disse ela, apoiando a cabeça no ombro dele. — Mas isso não importa mais. Ele não vai nos incomodar de novo. Evan ficou imóvel quando ela disse aquelas palavras. A intenção dela não era dizer "nós". Ela sabia que não havia "nós". Não depois de hoje. Depois de tudo que passaram juntos, não queria que a despedida fosse desconfortável. — Por que não toma um banho enquanto arrumo as malas? — Levantando a cabeça, ela manteve o sorriso no rosto. — Preciso ligar para Helen. Alguma coisa mudou no olhar sombrio de Evan e, por um momento, ela pensou que ele fosse beijá-la. Em vez disso, soltou os braços e balançou a cabeça. — Tudo bem. Ela engoliu em seco enquanto ele caminhava para o banheiro. Parou à porta, virou-se e olhou para ela. — Essa vida que você leva não é fácil, senhorita Pruitt.

Eu desistiria de tudo por você, pensou, e sabia que faria isso se ele quisesse. Mas ele não pediu e ela não podia oferecer. Tudo o que podia fazer era levantar a cabeça e sorrir e rezar para que não percebesse que seu coração estava se partindo em milhares de minúsculas partículas.

O barulho das máquinas de terraplanagem e o ruído do misturador de cimento enchiam a tarde quente do Texas. As nuvens de poeira que a maquinaria pesada soltava pareciam um cobertor de lã sobre a área em construção e o constante apito do trator mexia não só com a poeira, mas também com os nervos de Evan. Quase duas semanas de trabalho e não havia acontecido nada, só problemas. Tom bateu à porta do trailer e enfiou a cabeça. — O gerador parou de funcionar. Mandei James à cidade para comprar uma junta de vedação.


Evan suava muito e colocou a xícara do café que bebia com violência na mesa, o que fez com que o café derramasse no projeto que estava analisando — e o que o fez suar ainda mais. — Então... — Ignorando o acesso de raiva de Evan, Tom entrou no trailer — ...como está o pé? — Bem. — Na verdade, o pé doía muito, mas não podia admitir isso. Quebrara dois dedos do pé ontem, chutando uma pedra enorme depois de discutir por vinte minutos com um fiscal idiota. — Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? Tom sentou-se numa cadeira. — Bem, minha arma de colocar pregos quebrou. — E você está me dizendo isso por quê? Tom tirou o capacete da cabeça suada. — Achei que poderia enfiar uma caixa de pregos na sua boca para você cuspi-los para mim. Evan virou-se para encarar o mestre-de-obras. — Está tentando me deixar furioso? — Não é preciso. — Tom esticou as pernas e cruzou uma bota suja de lama sobre a outra. — Você mesmo está fazendo isso. — Não sei do que diabos está falando. — Nem quero saber, pensou Evan e se voltou para o projeto. — Já estamos atrasados, Tom. Você mais que ninguém deveria saber o que isso nos custa. — E você mais que ninguém deveria saber o que acontece quando uma equipe abandona uma obra. Evan olhou-o de forma cortante. — Quem está abandonando? — Ninguém — disse Tom. — Pelo menos, por enquanto. Mas se continuar rosnando feito um cachorro, eles vão abandonar. O primeiro impulso de Evan foi dizer a Tom que fosse para o inferno, mas engoliu as palavras. Lá no fundo, sabia que seu mestre-de-obras estava certo. Estava descontando o mau humor em todas as pessoas à volta. E no fundo, sabia muito bem por quê.


Marcy. Não conseguia tirar a mulher da cabeça. Não se passava nem um minuto sem que pensasse nela. Em duas semanas, não dormira uma única noite, não comera direito e não dera a mínima atenção ao trabalho. Sentia falta dela. Sentia falta de acordar ao lado dela toda manhã. Sentia falta de seu sorriso, da risada, da maneira como mordia os lábios quando estava refletindo. Nada disso acontecera com ele antes. Nenhuma mulher o virara de cabeça para baixo. Nenhuma mulher afetara seu trabalho. Nenhuma mulher o fizera pensar que seu

trailer era pequeno demais. Solitário demais. Não falara com ela desde o dia que saíra para o aeroporto. Sequer a havia levado até lá — ela insistiu que Shelby estava indo para lá de qualquer maneira e que era bobagem não pegar uma carona. Ele devia ter insistido, droga. Mas ela parecia estar com pressa para se livrar dele. Com pressa para ir embora, para voltar para sua vida num aquário. Não queria aquela vida. Mas queria Marcy. Não tinha a mínima idéia do que ela sentia por ele. Sabia o número dele, mas não tinha ligado. E ele não tinha tido coragem de ligar, sabia que ela estava se preparando para o novo programa de televisão. Estaria em reuniões, ensaios ou noites de autógrafos. A última coisa de que precisava era ele incomodando-a apenas para dizer olá. Para ouvir sua voz. Suspirando, recostou-se na cadeira ao lado de Tom. — Cachorro, hein? Tom concordou com a cabeça. — Com pulgas. Droga. Evan passou a mão sobre o rosto e percebeu que não se barbeava há um bom tempo. Ele tinha de fazer alguma coisa, sabia disso. A parte difícil era descobrir o quê.


— Dez minutos para entrar no ar, pessoal. — Sean Monahan, diretor do programa "A Vida Real com Marcy Pruitt", acenou com uma prancheta e olhou para Marcy. — Como você está? Marcy sorriu e balançou a cabeça calmamente para o diretor, mesmo sentindo um frio no estômago e as mãos tremendo. Atrás dela, Helen e Anna arrumavam os últimos detalhes e o cameraman e o técnico de som faziam os ajustes nos equipamentos.

Respirar fundo, lembrou-se, depois fechou os olhos para que o maquiador passasse pó em seu rosto. Hoje não era apenas a estréia do programa, ao vivo de Los Angeles, como também seria a revelação nacional da "nova" Marcy Pruitt. Podia muito bem ser o dia em que faria ou acabaria sua carreira. E se tudo isso já não era difícil o suficiente, o produtor trouxera uma audiência teste para interagir com Marcy durante o programa. Concentrou-se na respiração, começou a relaxar e a se imaginar numa praia deserta. Água azul transparente. Areia quente. A suave batida das ondas na costa. Esta completamente sozinha e feliz. Mas, de repente, não estava mais sozinha. Evan estava com ela. Deitado numa toalha ao lado dela, com a pele bronzeada e molhada, os cabelos negros para trás. Sorriu para ele e esticou-se para tocá-lo. E ele desapareceu.

Boba, pensou. — Não faça careta, querida. — Trixie, o maquiador, advertiu-a. — Vai ficar com rugas.

Quem se importa?, pensou Marcy. O que eram algumas rugas comparadas ao seu coração partido? Quando deixara Wolf River, não pensara que ficaria mais triste do que naquele dia. Estava muito enganada. Não tinha mais falado com Evan. Era uma idiota de dar um salto toda vez que seu celular tocava e checar com ansiedade suas mensagens sempre que chegava à noite, desejando, querendo... Aparentemente, ele tinha passado para outra com facilidade. — Cinco minutos!


Os olhos se abriram e o estômago deu um nó. Mas, por mais estranho que possa parecer, preferia esse nervoso à dor esmagadora que sentia quando estava sozinha. A única coisa que a salvara desde que voltara para casa era o trabalho. Era um mo tivo para levantar de manhã, forçar-se a sorrir e agir como se nada tivesse errado, quando, por dentro, o coração estava machucado. — Marcy, preciso falar com você. — Agora? Mas só temos... — É importante. — Helen afastou-a de Trixie. — Só quero que saiba que estou muito orgulhosa de você. — Obrigada. — Marcy olhou nervosa para o diretor, que não parecia preocupado por terem apenas quatro minutos até que o programa fosse ao ar. — Sei que muitas vezes não faço as melhores escolhas. — Helen pegou a mão de Marcy. — Mas juro que tenho a melhor das intenções. — Helen, já acertamos isso — disse Marcy em voz baixa. — Já entendi por que você contratou Shelby, e está tudo bem. Concordamos que não vai mais fazer nada desse tipo, que não vai esconder as coisas de mim. Certo? — Certo. — Helen sorriu e apertou as mãos de Marcy. — Só quero que você seja feliz. A repentina lágrima nos olhos de Helen surpreendeu Marcy. Em quatro anos, nunca vira Helen chorar. Nunca. — Pare com isso — disse Marcy com firmeza. — Este não é o momento apropriado para me deixar emocionada. Vou estar ao vivo na televisão, pelo amor de Deus. — Essa é a minha garota. — Helen engoliu o choro, depois rapidamente se recompôs e apertou as mãos de Marcy. — Agora vá e surpreenda-nos. Enquanto o diretor fazia a contagem regressiva, Marcy esperava de pé atrás do balcão da cozinha na qual a maior parte do programa acontecia. — Pronta... — O diretor levantou a mão. — Cinco, quatro, três... Marcy respirou fundo, soltou o ar devagar e sorriu. — ...dois, um... — o diretor apontou para ela. — ...e você está no ar!


— Bem-vindos à "Vida Real Com Marcy Pruitt" — disse Marcy depois que os aplausos cessaram. — Sou Marcy Pruitt, a anfitriã de vocês na próxima hora. Alguns de vocês devem estar sacudindo a cabeça e dizendo, essa não é a Marcy Pruitt. Eu sei como a Marcy Pruitt é, e essa não é ela. — Marcy pegou os óculos do balcão em frente à ela e colocou-os. — Me reconhecem agora? Explicou que decidira que era a hora de fazer uma reforma total em si mesma, e esperava que as pessoas gostassem de seu novo visual, depois pediu que todos lhe dessem um retorno por telefone, e-mail ou no seu website.

— No nosso primeiro programa, hoje — disse ela —, vamos fazer convites artesanais para uma ocasião especial, faremos um brownie e aprenderemos como aumentar a vida das flores em vaso. Então fique exatamente onde está. Voltamos já. Quando cortaram para o comercial, Marcy respirou fundo e acenou para a audiência que batia palmas. Até agora, tudo corria bem. O diretor deu a deixa e, mais uma vez, sorriu para uma câmera ao vivo. — Nosso primeiro projeto de hoje são os convites feitos a mão — disse ela — Vou explicar a vocês passo a passo nossa primeira amostra: um convite de casamento. Marcy pegou o convite e percebeu que embora fosse feito a mão, não era o que criara para o programa. Minha primeira gafe ao vivo na TV, pensou, lutando para permanecer calma. Sorrindo, segurou o convite e descreveu o efeito em camadas do laço, o papel dobrado e as gotas de pérolas do lado de fora enquanto a câmera se aproximava para um dose. Quando abriu o cartão, seu coração parou de bater. Um minúsculo passarinho de papel caiu do convite e, sob o passarinho, em letras grandes: Evan Carver e Marcy Pruitt gostariam de convidar vocês para sua cerimônia de casamento, em qualquer mês, em qualquer dia, em qualquer horário que Marcy escolher. Desde que seja logo. Evan Carver

Que brincadeira é essa?, pensou ela, atordoada demais para se mover. Ninguém seria tão cruel. Ouviu aplausos e o murmúrio de vozes animadas, mas ainda estava


paralisada demais para reagir. Simplesmente permaneceu ali, olhando para o convite, até que sentiu alguém — Helen — tocar em seu ombro e dizer para ela olhar para frente. Quando olhou, viu ele. Com o coração batendo acelerado, Marcy viu um homem vestindo terno e gravata de pé na última fila do auditório. Evan! As câmeras o seguiram enquanto descia os degraus em direção a ela, carregando um buquê de rosas vermelhas. Ela não conseguia falar nem respirar. Ele parou em frente a ela e entregou-lhe as flores, depois pegou sua mão e puxou-a de trás do balcão. Quando Evan se ajoelhou, Marcy achou que fosse desmaiar. — Marcy Pruitt. — Ele olhou em seus olhos, pegou uma caixinha de veludo do bolso da calça e ergueu-a. — Você aceita casar comigo?

Você aceita casar comigo? Marcy olhou para a platéia e parecia que todos — inclusive ela — estavam segurando a respiração. Deu uma rápida olhada para o lado e viu Helen e Anna abraçadas e sorrindo. Acertaria as contas com as duas mais tarde. No momento, estava muito ocupada. Olhou para o diamante solitário que Evan lhe oferecia e pôde sentir o corpo inteiro vibrando com as batidas do coração. — Casar com você? — foi o máximo que conseguiu pronunciar. — Case comigo — repetiu suavemente, depois pegou o anel e colocou no dedo dela. — Por favor. — Eu... — Engoliu as lágrimas. — Eu... sim! — Suspirou e atirou-se nos braços de Evan. — Sim! Ele a beijou, como se não houvesse mais ninguém no mundo ao lado deles. Nem auditório, nem cameraman, nem duas mil pessoas que assistiam ao programa sentadas em suas salas. E ela correspondeu ao beijo. O auditório estava de pé, batendo palmas e gritando. Sob o aplausos enlouquecidos, Sean, o diretor, foi para a frente das câmera e disse:


— "A Vida Real Com Marcy Pruitt" volta já, depois dos comerciais, pessoal. Fiquem conosco. Sean voltou-se para Evan. — Vamos ter três minutos de comercial, depois mais cinco minutos de transmissão com o produtor antes de trazermos Marcy Pruitt de volta ao ar. São oito minutos. Nem um segundo a mais. Antes que ela pudesse falar, beijou-a novamente, afastando qualquer outro pensamento. Não conseguia pensar, mas podia sentir. — Eu te amo — disse ele, contra os lábios dela. — Eu também te amo. — A cabeça ainda rodava, ainda estava confusa. E incrivelmente feliz. — Mas como você... quando você... Ele colocou os dedos nos lábios dela. — Estava ficando louco sem você. E enlouquecendo todo mundo ao meu redor. A questão é: não consigo viver sem você. E não quero. E se isso significa fazer parte disso tudo... — sinalizou com a cabeça em direção ao set de filmagem. — ...então, tudo bem. — Evan, você acabou de pedir a minha mão na televisão. — Ela tocou no queixo dele, sabia que os segundos estavam voando antes de ter de voltar para a frente das câmeras. — Por quê... e como? — Por quê? Porque decidi encarar de frente uma coisa que achava que não conseguiria, que era ficar sob os holofotes. Imaginei que, se conseguisse fazer isso e sobreviver, e se você me quisesse, o resto seria mamão-com-açúcar. E como? — Ele sacudiu os ombros. — Bem, liguei para Helen e ela providenciou tudo. — Helen? — Marcy olhou sobre o ombro, surpresa por Helen não estar espiando num canto. — Isso foi idéia de Helen. — Ela falou com o produtor e todos nós ajudamos. Então era por isso que Helen estava agindo de forma tão estranha antes de o programa entrar no ar, percebeu Marcy. Ela não tinha certeza se despedia a empresária ou dava-lhe um aumento. — Você quer dizer conspiraram — disse Marcy, levantando uma sobrancelha. — O que fosse necessário para você dizer sim. Não tinha certeza de que havia um lugar para mim na sua vida. Não quis lhe dar tempo para pensar.


— Você realmente não tinha certeza? — Passou os dedos suavemente pelo rosto de Evan. — Eu teria deixado tudo por você. Ainda deixaria se você me pedisse. — E privar seus fãs das receitas de brownie e dicas para cuidar das flores? — Sorriu para ela. — Divido você de dia, senhorita Pruitt. Mas à noite... — ele a puxou para perto — ...você é só minha. Aquele pensamento fez seu coração pular de alegria. — Mas e o seu trabalho? Como vai... — Jacob está desistindo do trabalho de detetive. Quer ficar em um só lugar, agora que é casado. Ele tomar conta da Carver no Texas, e eu vou abrir uma filial aqui.

— Você vai morar aqui... em Los Angeles? — Mal conseguia escutá-lo, com a sinfonia que tocava em sua mente. — E trabalhar aqui? — Claro que sim. — Ele franziu a testa. — Por que não moraria onde minha esposa mora?

Esposa. A realidade começava a invadi-la. Sentiu lágrimas subirem aos olhos, mas estaria no ar a qualquer momento. Não podia chorar agora. Mais tarde, precisaria de uma caixa de lenços inteira — De qualquer maneira, seu pequeno chalé é grande o suficiente para nós dois, não é? — perguntou Evan. — Na verdade, não é tão pequeno assim. Tem 450 metros quadrados. — Quatrocentos e cinqüenta? — Assobiou suavemente. — Então, acho que não precisaremos expandi-lo quando tivermos filhos, certo? Esposa. Filhos. Pronto. Não conseguiu conter as lágrimas. Ele a segurou bem perto de si e pressionou suas têmporas com os lábios. — Diga quando e onde, querida. — Vamos falar sobre a data mais tarde, quando eu conseguir pensar direito. Quanto ao onde... — Ergueu o rosto e, através, das lágrimas nos olhos, encontrou seu olhar. — Conheço uma linda capela no Texas. Sorrindo, ele beijou a ponta de seu nariz. — Estava esperando que dissesse isso. — Marcy! — Helen enfiou a cabeça num canto. — As linhas estão congestionadas e o site também. Todo mundo te ama!


Se Helen não tivesse desaparecido tão rápido quanto tinha surgido, Marcy teria dito que só precisava que uma pessoa a amasse. E aquela pessoa, pensou Marcy ao beijar Evan, estava em seus braços.

Fim


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