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lume Mato Grosso

Poconé

O portal do Pantanal de Mato Grosso. Pag. 16

PERSONALIDADE: J. ASTREVO RASTROS DO NAZISMO PRIMÓRDIOS DO BEISEBOL EM MATO GROSSO CARAVANA DA ALEGRIA AS RELAÇÕES ENTRE A LOUCURA E O ESPIRITISMO

ISSN 2447-6838

Revista nº. 40 • Ano 6 • Fevereiro/2020

................. R$13,00

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No Brasil, a cada 4 minutos, uma mulher é agredida por homens * Ministério da Saúde, setembro/ 2019

É preciso resistir, debater, denunciar sempre, para que a mulher ocupe o espaço público. E todos os espaços que são seus por direito, por uma sociedade melhor e mais justa.



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C A RTA D O E D I TO R

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

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esde o surgimento da revista impressa no Brasil em 1812, essa mídia tradicional sofreu diversas transformações ao longo do tempo. Com o advento da internet, as mudanças foram ainda mais drásticas: surgiu uma necessidade de se acessar as notícias de forma imediata, fazendo com que as revistas que permaneciam somente no meio impresso ficassem para trás. Para se adaptar aos moldes dos dias atuais, os veículos procuraram se reinventar ao criar setores para publicar conteúdo na internet, assim expandindo a marca para atingir mais pessoas. Questionados, alguns jornalistas se pronunciaram sobre esse assunto. Marcos Coronato, editor executivo da revista Época, relatou a preocupação do veículo em fazer com que as matérias do site tenham o maior “ciclo de vida” possível, exaltando a figura do editor que proporciona um olhar mais experien-

te e pode tornar a publicação mais interessante para dessa forma atrair mais leitores. Na Veja a situação é bem parecida. Daniel Bergamasco, editor online, revelou que há alguns anos o veículo investiu na plataforma online, e isso permitiu algumas mudanças na redação: intercâmbio entre editores e união dos jornalistas, deixaram de existir papéis definidos. Daniel acredita que a versão online ainda não conseguiu se igualar a edição impressa quando se trata de impacto, na medida em que as revistas causam um efeito nostálgico e forte ao se abrir, por exemplo, uma foto que ocupa uma página inteira. É algo que captura a atenção do leitor de uma maneira que os sites não conseguem fazer. A revista impressa é desenvolvida considerando que o leitor terá um tempo maior dedicado ao texto, desta forma a produção de conteúdo é mais aprofundada. Entretanto, as chamadas “pau-

tas quentes” podem não resistir até o final de semana (quando a revista é veiculada), valorizando a necessidade do site. Giovana Romani, editora sênior da revista Glamour, acredita na exclusividade da revista impressa, já que existe uma curadoria limitada para a veiculação. A principal diferença apontada por Giovana está na questão do título, o online exige “sujeito, predicado, ação e informação relevante”, em contrapartida a revista é mais fluida. Para mim não ocorrerá o fim da revista impressa, mas sim uma depuração daquilo que temos em nosso mercado, tanto no Estado, quanto no país afora. Os editores e jornalistas migrarão, em sua maioria, para sites. Ficarão os que tem proposta editorial que atinja os objetivos do leitor, especialmente daquele mais exigente e que busca qualidade. Estamos buscando encontrar o caminho certo para nossa LUME MATO GROSSO


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EXPEDIENTE

lume Mato Grosso

PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANNA MARIA RIBEIRO, ANTÔNIO P. PACHECO, BENEDITO PEDRO DORILEO, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DIEGO DA SILVA BARROS, DILVA FRAZÃO, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, HENRIQUE SANTIAN, JOSANE SALLES, JULIANA RODRIGUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, NIGEL BUCKMASTER, PAULO PITALUGA COSTA E SILVA, RAFAEL LIRA, REGINA DELIBERAI, ROSE DOMINGUES, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores AFRANIO ESTEVÃO CORRÊA, ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO,

HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, MAIKE BUENO, MARCELA BONFIM, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, RAI REIS Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação FESTA DA ILUMINAÇÃO, FOTO: MARCOS BERGAMASCO Capa


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SUMÁRIO

34. ECONOMIA

36. 38. SUSTENTABILIDADE

BEM ESTAR


RAÍZES

62. RAÍZES

64.

MITOLOGIA

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58.


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PERSONALIDADE

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CARLOS ROBERTO FERREIRA Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, ator e diretor teatral e professor efetivo de arte da rede pública de ensino de Mato Grosso. E-mail: robertoferreira.cultura@gmail.com

J. Astrevo

Trajetória de um Astro do Humor

Luz geral na cena teatral para o ator negro mais popular de Mato Grosso, J. Astrevo Aguiar. Graduado em letras pela UFMT, onde foi professor substituto, especialista em Planejamento e Gestão Cultural pela UNIC, ator, músico-compositor, escritor, diretor e autor de textos teatrais, sai do vilarejo de Rio dos Couros para se revelar pro mundo das artes como o maior comediante da atualidade POR CARLOS ROBERTO FERREIRA FOTOS FABLÍCIO RODRIGUES

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PERSONALIDADE

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COMO SE DEU O SEU REBENTO NO TEATRO NA CAPITAL MATOGROSSENSE? »»Foi no ginásio, frequentando a Escola Estadual Padre Ernesto Camilo Barreto, que tive o meu primeiro experimento com a atividade artística. Nilva, uma Professora de Educação Artística, que muito incentivava o exercício com as artes no ambiente escolar, dividiu a sala em vários grupos, para que cada um escolhesse que tipo de arte iria experimentar. Por afeição, fiquei no grupo onde estava o meu melhor amigo, o João César, e por influência dele, resolvemos fazer um esquete de teatro. Com a direção dele, ensaiamos o esquete e apresentamos na sala de aula. Dado ao grande entusiasmo e surpresa da professora com a destreza natural de uma criança tímida, providenciou uma apresentação do trabalho, desta vez, para os alunos da escola, na hora do intervalo. Essa apresentação foi decisiva para que eu, Justino Astrevo Aguiar se transformasse mais tarde no artista, J. Astrevo. O QUE TE LEVOU A PERCEBER QUE ESSA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA CÊNICA, PUDESSE SE REVELAR COMO UM CAMINHO DO TEATRO PARA A SUA VIDA ADULTA? »»Foi o encantamento da relação com o público que me fez descobrir uma possibilidade até então, abso-

lutamente desconhecida. A partir dessa apresentação, fundamos o Grupo Folhas. Entre os anos de 1980 e 81, apresentávamos sempre nas datas comemorativas, como dia das mães, dos pais, festas de São João e Natal. A partir daí fui tomando gosto pela arte de representar, talvez até para fugir de minha extrema timidez. A SUA MILITÂNCIA NO TEATRO MATO-GROSSENSE, SEMPRE FOI DE GRANDE DESTAQUE. A PARTIR DE QUANDO VOCÊ COMEÇA A SE DEDICAR ÀS QUESTÕES DA POLÍTICA TEATRAL? »»Em 1.980, o ator e diretor Amaury Tangará, então presidente da Federação Mato-grossense de Teatro, ao assistir uma apresentação do grupo Folhas, nos convidou para ingressarmos na Federação de Teatro. A partir daí começamos a participar de congressos, reuniões, debates, a assistir mais apresentações de outros grupos teatrais, a ler sobre teatro e a fazer as oficinas que a Federação oferecia, entre elas, as de interpretação e direção teatral. Com isso, aquele universo cada vez mais, ocupava o tempo e a cabeça do jovem ator, J. Astrevo. ENTÃO, A SUA PARTICIPAÇÃO NA FEDERAÇÃO MATOGROSSENSE DE TEATRO, FOI DE GRANDE ÊXITO? »»Em minha estada na entidade, ajudei a conseguir a sua sede, trouxe o inte-

rior do estado para participar mais ativamente do movimento na capital, concebi e organizei mostras e festivais de teatro e interiorizei as ações da Federação. A efetiva participação no movimento teatral do estado me levou a assumir a diretoria de programação da Federação Mato-grossense no biênio 1989 a 1991, gestão presidida pelo ator e educador José Ferraz de Araújo. A partir do empenho nesse trabalho federativo, fui eleito Secretário da CONFENATA – Confederação Nacional de Teatro, em 1994, gestão que se estendeu até 1996. Esse trabalho teve por missão, reaglutinar as federações estaduais e mobilizar o circuito teatral no Brasil a partir de novas iniciativas, como congressos, seminários e work shops. Nessa gestão, organizamos um Congresso Nacional de Teatro em Goiânia, Circuito Regional Centro Oeste e parceria com a Fundação Nacional das Artes Cênicas para viabilização de projetos de incentivos a produção teatral no Brasil. O SEU TRABALHO COMO DIRETOR E AUTOR TÊM PRESENÇA SIGNIFICANTE NO TEATRO MATOGROSSENSE. QUANDO VOCÊ COMEÇA E SE ENVEREDAR POR ESSE CAMPO E O QUE JÁ PRODUZIU NESSA ÁREA? »»Em 1981, o grupo Folhas montou: Society Tropical - a primeira peça por mim es-


Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Em 1.988, escrevi e dirigi a peça Fantasmas & Vinhos, também patrocinada pelo Ministério da Cultura. Este texto já continha a clara influência dos estudos realizados nos bancos da Universidade, seja por seu caráter literário, seja pelo padrão estético proposto. Foi o primeiro espetáculo que melhor repercutiu junto ao público da capital. O teatro já não estava tão vazio. Fato que permitiu a nossa permanência em cartaz por dois anos. ISSO SIGNIFICA ENTÃO QUE, A SUA PASSAGEM PELA ACADEMIA, TRANSFORMOU A SUA VIDA DE AUTOR E DIRETOR EM EXPRESSIVO INTELECTUAL? »»O tempo que passei na Universidade foi um dos períodos de maior produtividade intelectual, e, foi lá

também que me transformei em J. Astrevo. Escrevi os seguintes textos para teatro: Nave Errante, Lua Minguante, Um Trem Expressionista, Encruzilhada e Último Baile de Verão. No campo da produção artística, paralelo ao trabalho do Grupo Folhas, adaptei, dirigi e sonorizei o monólogo Homem do Barranco, a partir de texto monográfico composto pelo ator e Arte-educador Carlos Ferreira. Esse espetáculo foi extremamente vitorioso. Recebeu dezesseis prêmios, dos quais oito foram em festivais nacionais e outros oito em festivais regionais, tendo sido representado para além de Mato Grosso, em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Piauí. Essa foi a primeira incursão verdadeira de J. Astrevo na temática regional, uma viagem apaixonante pelos matizes da cul

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crita e dirigida que, a partir daí passei a utilizar o nome artístico, J. Astrevo. Assumindo a direção do Grupo, exercitei mais a minha veia de escritor que já se aflorava. Esse fato foi fundamental na decisão de cursar Letras na Universidade Federal de Mato Grosso. Queria, sobretudo, aprimorar a minha escrita e dar vazão a minha paixão pelas letras. Em 1986, escrevi e dirigi a peça Enquanto Florescem Os Campos, obtendo patrocínio do Ministério da Cultura, por meio de concorrência pública que a antiga FUNDACEN – Fundação Nacional de Artes Cênicas realizava. A montagem foi classificada em primeiro lugar no Festival Regional no ano seguinte, por conta dessa deferência, foi representar Mato Grosso no Circuito Centro-Oeste de Teatro, fazendo temporada em

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ATORES NICO E LAU, EM CENA

tura local. Essa peça ficou em cartaz por quatro anos, de 1995 a 1999. Ainda de forma paralela na mesma época roteirizei, dirigi e atuei no musical regional Rapsódia Verde, ao lado de dois grandes músicos: Pescuma e Hélio Pimentel. Esse musical era composto por causos, músicas e poemas dos mais ilustres escritores mato-grossenses, como: Silva Freire, Dunga Rodrigues, Dom Aquino Correa e Moisés Martins. Daí surgiu a parceria com o violeiro Hélio Pimentel que chegou a participar da primeira fase do trabalho de Nico e Lau e a amizade com Pescuma, que realizou um trabalho importante, de inovação no

chamado Rasqueado Cuiabano. Esses anos de atuação artística me renderam diversas deferências, como títulos, moções de aplausos e prêmios para ator, diretor e escritor. NO QUE SE REFERE A ESTUDO, FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO NA ÁREA TEATRAL, O QUE VOCÊ NOS CONTA? »»Em 1985, tive uma experiência artística bastante significativa para a minha carreira. Participei do curso Liberte Seu Talento, Faça Teatro, promovido pelo Grupo Andanças de Teatro, umas das maiores expressões cênicas do Centro-Oeste naquela época, dirigido por Amaury Tanga-

rá. A convivência com outros grupos, atores e produtores já consagrados no estado, que ministraram as oficinas do referido curso, me influenciaram a decidir exatamente o que eu queria da minha vida: viver para o teatro. Atuando, escrevendo ou dirigindo, era naquele universo que gostaria de orbitar. Outro benefício resultante da participação no curso foi a minha contratação para pertencer ao quadro de funcionários da Casa da Cultura. Trabalhar naquele ambiente de gestão e fomentação cultural, ao mesmo tempo provinha-me o sustento e me colocava em permanente contato com a produção cultural existente.


NESTE ANO DE 2016, VOCÊ COMPLETA 21 ANOS DE DEDICAÇÃO AO PERSONAGEM LAU, NA DUPLA NICO & LAU. QUANDO E COMO SE DEU O SEU PRIMEIRO CONTATO DE AMIZADE E DE TRABALHO COM O ATOR, LIONIÊ VITÓRIO? »»Em 1989, no teatro da antiga Escola Técnica, assistindo ao espetáculo Sinfonia Poética em Drummond Maior em companhia do amigo e companheiro de grupo o ator Leal Tadeu. Ao ver Lioniê em cena, tomamos a decisão de convidá-lo para integrar a montagem da peça Último Baile de Verão de minha autoria. Traído foi a primeira peça em que participei como intérprete, juntamente com Lioniê Vitório e dirigida por Leal Tadeu. Certamente, ali surgiu a química que alimentou a possibilidade de trabalharmos em dupla. QUE TRABALHO DE DESTAQUE, NESSE COMEÇO DE CARREIRA, VOCÊS PRODUZIRAM JUNTOS? »»A partir de 1993, junto com Lioniê, passamos a ocupar a Praça da República, num período de dez dias, todas as noites a partir das 22:00h, realizando uma série de experimentações. Numa delas, Lioniê Vitório foi abordado e agredido fisicamente por um policial, acusando-o de estar agindo sob efeito de drogas. Fato inverídico. A performance foi interrompida, mas a experiência gerou um tra-

balho absolutamente inusitado na dramaturgia mato-grossense: o espetáculo cênico Pressão Baixa. Este foi certamente o primeiro espetáculo experimentalista de Mato Grosso. Era uma instalação com a inserção de teatro com vídeo e tinha um texto conceitualmente expressionista. Essa montagem, de minha autoria e direção, foi premiada no Festival Mato-grossense de Teatro, no Festival Regional local e no Festival Nacional de Teatro Universitário de Blumenau-SC em sua 9ª edição. Pressão Baixa influenciou outros grupos de teatro em Cuiabá, que também começaram a realizar pesquisas e montar espetáculos experimentais. Com essa peça se encerrou o ciclo de existência da Folhas Produções. QUANDO É QUE SURGE, ENTÃO, O PERSONAGEM LAU NA SUA VIDA? »»Em 1995, juntamente com Lioniê Vitório, recebemos um convite que mudaria radicalmente a nossa vida. A experiência trazida dos palcos de teatro se estenderia então para os estúdios de televisão. O convite partiu da jornalista Cida Capelassi, diretora do programa revista da Manhã exibido diariamente pela TV Gazeta, hoje Record, para prestar homenagem à cidade de Cuiabá, era 08 de abril de 1995. No referido programa, nós aparecemos mesmo, de J. Astrevo e de Lioniê Vitório, sem nos

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E QUE CURSOS DE FORMAÇÃO, ESPECÍFICOS EM TEATRO, VOCÊ FREQUENTOU? »»Frequentei vários cursos nas diversas áreas do teatro, como: Dramaturgia Brasileira; ministrado por João das Neves na capital Federal. Interpretação; ministrado pelo ator Cacá de Carvalho, Interpretação Teatral; ministrados pela Bia Lessa e Tonico Pereira e Teatro de Rua com Amir Haddad, todos na Universidade Federal de Mato Grosso. E ainda, participou de vários cursos de qualificação profissional, dentre eles: Oficina de Interpretação com o ator Rubem Correa, Projeto Mergulho Teatral no Rio de Janeiro com oficinas de Dramaturgia com o autor Alcione Araújo; Temática Regional com Márcio Souza; Espaço Cênico com Robson Jorge; Interpretação com Luís de Lima; Teatro, Exercício de Paixão com o ator Sérgio Brito e Expressão Vocal com Maria Helena Kropf. Nesse período ganhei notoriedade artística, e as montagens sucederam-se de forma ininterrupta: Último Baile de Verão, em seguida, veio o espetáculo de variedades: Balada Para Diagnosticar Dementes. Entre 1991 e 1992 montei três espetáculos de minha autoria, quase que paralelamente, peça infantil: Ducatiribute, e as comédias: Balada Para Diagnosticar Dementes 1¹/² e Traído.

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tra vestirmos em nenhuma personagem. Na ponta da língua, dois causos para contar e ao lado, o violeiro Hélio Pimentel para fazer o fundo musical. Uma receita muito comum inspirada nos antigos saraus guardados nas reminiscências cuiabanas. Oito minutos ao vivo: uma oportunidade de se mostrar para um grande público através da linguagem do humor, construindo uma releitura da tradição da literatura oral.

E COMO SE DEU A INTERVENÇÃO E APARIÇÃO DE VOCÊS, DE FORMA MAIS FIXA, NA TELEVISÃO? »»Ao final de quatro aparições específicas, por indicação feita ao vivo pelo jornalista Edivaldo Ribeiro, que era um dos apresentadores do programa, a direção da emissora nos formulou a seguinte proposta: “Transformar aquelas aparições num quadro semanal de oito minutos,

para ir ao ar sempre às quartas-feiras, dentro do programa Revista da Manhã. A contrapartida era o uso da mídia para promoção dos nossos trabalhos de atores”. Foi então que tomaram uma decisão importante: estruturar personagens para o quadro. Com trejeitos, figurinos e fala que caracterizassem o homem cuiabano e o pantaneiro, de forma vigorosa e espontânea que parecesse natural e verdadeiro. Ali surgiram Nico e Lau. Interpretando Lau, permaneci sete anos na TV Gazeta nos programas Porteira Aberta e Ser...tão Mato-grossense. Lá, ao lado de Lioniê, conquistei popularidade e me firmei como autor, diretor e ator. Em 2005 transferi para a TV Centro América, continuando e ampliando o trabalho de Nico e Lau. Neste ano de 2016, completo 21 anos interpretando a personagem Lau, mantendo uma média de 70 apresentações anuais, entre shows abertos e espetáculo de teatro. NO CAMPO DA POLÍTICA CULTURAL PÚBLICA, VOCÊ PASSOU PELA GESTÃO DA SECRETARIA DE CULTURA DE CUIABÁ. COMO ISSO SE DEU E QUE DESEMPENHO VOCÊ PROFERIU NA PASTA? »»Foi a convite do então prefeito Roberto França, assumi em 2001 como


É POSSÍVEL FAZER UM RESUMO DE TODA A SUA PRODUÇÃO ARTÍSTICA JUNTO À DUPLA, NICO & LAU, NESSES 21 ANOS DE TRABALHO ININTERRUPTO? »»Ao todo foram 20 comédias escritas e encenadas. Algumas de maior destaque: A Casa Assombrada; Quem cochicha o rabo espicha; O Golpe; Bico Calado; Preto no Branco; Pega Inteligência; Na ponta da

língua; Abafa o caso; Mingana queu gosto!; Piadeiros Marvados; Ribuliço no Reinado; Perdeu Pleyboy. Criei e organizei ao lado de Lioniê Vitório o Festival Nacional do Humor: Humor do Mato e Ataque de Riso – Festival Regional. Cinco CDs produzidos e lançados: 1998 – Dança do Lambari; 2001 – Arripiá; 2004 – Acho que to apaixonado; 2007 – Agitando na Balada e o último, Bem na foto, sendo um total de 30 músicas gravadas. Tenho autoria em quatro revistas em quadrinhos: Nico e Lau em quadrinhos; Ministério Público – Agora o quê qué esse?; Parasitose – Jogue limpo com a saúde e Trabalho Infantil, não tem graça nenhuma. Temos três DVDs gravados: O Jogo – curta metragem de 20 minutos; O Golpe – Comédia teatral adaptada para vídeo e Bico Calado – Comédia teatral adaptada para vídeo. Ao longo de 21 anos são mais de 300 Peças Publicitárias para empresas como City Lar, Unimed, Modelo Supermercado, Ong WWF Brasil, Drogaria América, entre várias outras. Participamos também de 116 Vídeos do MINUTO DO HUMOR; 80 Vídeos do PAPO CABEÇA e no Cinema, atuação nos filmes: A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS – Amauri Tangará; PARABÉNS VICTOR de Léo Santana; A MORTE DO TOUREADOR de João Lu-

cídio e Roteiro e Atuação em CANHAIN, UMA AVENTURA SINISTRA.

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Sub-secretário de cultura de Cuiabá. E, pelo meu desempenho e dedicação no trabalho como pensador e executor de ações propostas pela Secretaria, fui elevado a Secretário de Cultura em meados de 2003, onde permaneci até dezembro de 2004. Na qualidade de Secretário, implementamos programas e projetos importantes, focando a cultura popular, o folclore e a música regional. Ampliamos o Festival de Siriri, realizamos o 1º Festra - Festival de Rasqueado, retomamos o Projeto Rua do Rasqueado, democratizamos o uso dos recursos provenientes da Lei Municipal de Cultura, reformamos o prédio da antiga biblioteca pública e do clube feminino e restauramos a antiga Casa do Alferes, hoje MISC - Museu de Imagem e Som de Cuiabá. E, no estado, fui Secretário Adjunto de Cultura de Mato Grosso entre 2011 e 2012.

VOCÊ CONSEGUIRIA DESCREVER O QUE REPRESENTA PRA VOCÊ HOJE, A DUPLA, NICO & LAU? »»A dupla Nico e Lau para mim hoje, representa a consagração de um formato baseado na teatralidade, na comunicação espontânea e na força da cultura popular do interior do Brasil. A sedimentação de uma carreira artística que conquistou o privilégio de ser representação simbólica da chamada cultura cuiabana. VOCÊ ESTÁ NO SEU SEGUNDO CASAMENTO COM UM SALDO DE QUATRO FILHOS, QUE LEGADO VOCÊ PASSA A ELES COM O SEU TRABALHO? »»Acho que meu trabalho já está entranhado na percepção de mundo dos meus filhos. Do modo como vêem a vida e o que escolheram para seguir como filosofia e atuação profissional. O legado da luta persistente, da crença orgânica na realização dos seus sonhos, da ideologia colaborativa e de muito trabalho para conquistar algum resultado. Dois já atuam no mundo arte e cultura: Dríade Aguiar e Matheus de Luca, e outros dois: Raul Guilherme e Nathália Aguiar, ainda têm tempo para serem contaminados.

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

Poconé

Num canto de seu território e atento ao presente dos céus está o povo poconeano, observando, examinando detidamente e consagrando sua atenção nas águas, terras e ares pantaneiros

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FOTOS MÁRIO FRIEDLANDER / MARCOS BERGAMASCO


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município de Poconé faz parte da região de planejamento Vale do Rio Cuiabá e da Amazônia Legal e foi criado em 25 de outubro de 1831, com área proveniente do município de Cuiabá. É formado pelos distritos Sede, Cangas e Fazenda de Cima. Trata-se de uma das cidades com maior potencial turístico do estado de Mato Grosso, dispondo de boa

HISTÓRIA O núcleo inicial de povoamento, do qual originou-se o atual município de Poconé surgiu por volta de 1777, devido à descoberta de ricos veios auríferos aluvionais. Ao povoado que se formou em torno das lavras garimpeiras deram o nome de Beripoconé, numa referência ao povo boróro que habitava esta região desde tempos imemoriais. Apesar da precariedade de comunicação da época, a abundância de ouro atraiu muita gente à região. A descoberta das lavras de Ana Vaz, Tanque do Padre, Tanque do Arinos, Lavra do Meio, Tereza Botas e outras, provocou desenfreada corrida ao ouro vil. O primeiro nome da ci-

dade foi São Pedro d´El Rey, numa homenagem a Dom Pedro III, Rei de Portugal, oferecido pelo capitão general Luiz de Albuquerque Pereira e Cáceres, fundador de Poconé. Com o passar dos tempos ocorreu certa decadência na produção aurífera, ocasionando debandada de garimpeiros para outras paragens, alguns dedicando-se, inclusive à cata de diamantes. RESSURGIMENTO DA GARIMPAGEM DE OURO Uma situação alarmante para as pessoas que realmente tem preocupação ambiental é a frenética retomada da mineração aurífera na cidade de Poconé. O município surgiu sob os auspícios da lida garimpeira, no entanto, os tempos e os valores são outros. A redescoberta de ricos veios auríferos no final da década de 1980, fez ressurgir a efervescência garimpeira aos moldes do tempo em que surgiu Beripoconé, no século XVIII. Neste contexto, muita gente passou a buscar na garimpagem do ouro um meio de sobrevivência, objetivando melhores condições de vida, porém estão exercendo a atividade na margem da rodovia que dá acesso ao Pantanal. Até parece brincadeira, mas não é. Mobilizaram-se nesta lida os peões e vaqueiros, que deixaram o trabalho no campo pela aventura garimpeira, sem contar empre-

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infraestrutura de apoio a estas atividades, possuindo, ainda economia fortalecida pela pecuária e agricultura. O encanto e a magia do Pantanal poconeano residem na exuberância de sua paisagem aberta, de grandes espaços, emoldurando o espetáculo da natureza. As águas refletindo o céu azul e as nuvens claras, as aves em revoada à cata de alimento, em repouso ou em cismas indevassáveis, os bichos cuidando da vida, passeando ou descansando convidam à contemplação. Observar a paisagem pantaneira é sempre comovente, comunicando incrível sensação de paz e plenitude.

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R E P O RTAG E M ESPECIAL sários, políticos e fazendeiros que passaram a capitalizar lucros mais significativos na produção aurífera. Desta forma, qualquer pessoa que queira ganhar dinheiro, basta simplesmente arrendar um garimpo em atividade na cidade e faturar milhares de dólares diariamente, visto que é atividade pouco ou quase nada controlada pelos organismos oficiais do Estado e da União. O PANTANAL DE POCONÉ O Pantanal é considerado a maior reserva ecológica do Mundo, manifestado pelo título de Patrimônio da Humanidade, dado pela UNESCO. Este verdadeiro patrimônio ecológico, habitado por incontáveis espécies de mamíferos e répteis, de aves e peixes, tem uma vegetação exuberante e é traduzido em movimento de formas, cores e sons, sendo um dos mais belos espetáculos da Terra. Em qualquer época o Pantanal de Mato Grosso é interessante, no entanto, se divide em dois momentos bem distintos, a época da cheia e a da seca: Período de Cheias: de dezembro a março. O período começa com o transbordar das águas dos rios pantaneiros, obrigando os animais a buscar as áreas mais elevadas do terreno, as cordilheiras. Esta é a melhor época do ano para se ver a plenitude do Pantanal com vastos campos totalmente alagados, onde se destaca

toda a beleza da flora pantaneira. Nesta época podem ser avistadas as mesmas espécies de animais que se veem na época da seca só que em grupos menores e mais espalhados. Período da Seca: de junho a novembro. O período se inicia quando as águas baixam retornando aos leitos dos rios deixando os campos secos. A planície volta a ter o leito de seus rios definidos e várias lagoas aparecem e que com o passar dos dias podem secar totalmente. Durante este período, nestas lagoas encontramos uma grande concentração de animais se alimentando e se reproduzindo. TRANSPANTANEIRA Anualmente milhares de turistas de todas as partes do mundo visitam Poconé e se encantam com sua flora e fauna, além de certas peculiaridades como a estrada Transpantaneira e suas incontáveis pontes. É verdadeiramente emocionante o espetáculo natural e a magia que esse caminho proporciona. Durante a seca, milhares de animais se concentram nas laterais alagadas da pista, onde podem ser vistos, bem de perto, jacarés, cobras, gaviões, tuiuiús, tucanos e araras, e se o turistas tiver sorte pode até avistar o imponente cervo do pantanal. A rodovia Transpantaneira possui extensão de 145,3 quilômetros. Esta via atravessa o Pantanal mato-grossen-

se a partir de Poconé e termina em Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul. A Transpantaneira, MT-060, foi idealizada como representação de progresso e expansão do Estado de Mato Grosso. O engenheiro Gabriel Müller foi um dos mais entusiastas em prol da construção da rodovia, tendo sido seu dirigente. O objetivo era transformar Poconé num centro irradiador de economia, já que o projeto inicial da rodovia previa sua extensão até a cidade de Corumbá, no Estado de Mato Grosso do Sul, permitindo escoamento de safras de todo estado mato-grossense, possibilitando o transporte fluvial, via Rio Paraguai. Mas, registros históricos nos dão conta de que as coisas não saíram exatamente como foi idealizado. Consta que o projeto de construção da rodovia Transpantaneira foi realizado através de projeto técnico científico adequado. No entanto, cortar o Pantanal através de uma rodovia poderia ser traduzido em prejuízo incalculável ao ecossistema regional e ao homem pantaneiro. Ainda nos dias de hoje, há quem deseje retomar o projeto de término da rodovia Transpantaneira, indo até as fraldas do Morro de Urucum. O fato é que a Transpantaneira é um dos pontos turísticos mais procurados no município, pois em qualquer período do ano é possível observar pássa-


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R E P O RTAG E M ESPECIAL ros e animais que cruzam a rodovia como se estivessem (e estão) no quintal de suas casas. Falta mais interesse por parte das autoridades constituídas em realmente transformar a rodovia, que foi criada como Rodovia Parque, numa “Rodovia Parque de Verdade”. O CAVALO PANTANEIRO O Cavalo Pantaneiro possui características próprias adquiridas ao longo de quatro séculos, quando da sua chegada ao Pantanal e posterior aclimatação ao meio complexo e hostil em que se desenvolveu. O

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cavalo Pantaneiro é um mosaico racial, originariamente resultante de dois troncos primitivos étnicos: “EquusCaballusAsiáticus” e o “EquusCaballusAfricanus”. O Cavalo Pantaneiro é um patrimônio histórico que cooperou na fixação do homem no Pantanal e em todo território mato-grossense, e é também um fator econômico-social, porque a totalidade da população que habita o Pantanal, tem nele importante meio de transporte, sobretudo nas cheias, e sua mais importante função econômica se faz sentir junto à bovinocultura.

CENTRO HISTÓRICO O Centro Histórico de Poconé possui área tombada de aproximadamente 17 mil metros quadrados e uma área de preservação de entorno, de aproximadamente 28 mil metros quadrados. A importância do Centro Histórico está relacionada à forte presença do homem pantaneiro e sua preservação propiciará a propagação para futuras gerações dos costumes e da cultura do homem pantaneiro. A sua preservação é dever de todos, assim como sua valorização é obrigação do poder público local, não devendo, portanto, ser esquecido, e sim conservar as características arquitetônicas do seu casario do período colonial. CASARÃO DE COTIA Trata-se de um dos mais importantes imóveis do período colonial em Poconé, localizado na rodovia que liga a cidade à N. S. do Livramento. Ao longe, da estrada, já se destaca o casarão pela exuberância da construção datada de 1800. As paredes foram feitas de adobe, barro socado e capim ondeos detalhes da arquitetura revelam os traços da cultura portuguesa. As circunferências, portas e janelas largas feitas com madeira nobre resistem ao tempo. Tudo levantado pelo trabalho escravo. O casarão foi construído no caminho para o garimpo. Por isso recebia muitos via-


lumeMatoGrosso jantes que dormiam em sua área externa. Outra curiosidade é que o local também serviu de ponto de abastecimento de alimentos para os soldados que participaram da Guerra do Paraguai entre 1865 e 1870. Na capela Nossa Senhora Abadia ao lado do casarão eram realizados os batizados e casamentos da época. Anos mais tarde, o local passou a ser usado para projetos sociais. CULTURA As tradições culturais estão vivas no município de Poconé. Existe desejo por parte da sociedade em conservar as características originais de festas,

danças, comidas típicas e das manifestações de fé. As manifestações folclóricas ocorrem durante as festas de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário, que é padroeira da cidade, porém podem ser vistas também em outras oportunidades. As comemorações dos festejos folclóricos são realizadas com missas, churrascos, bailes, danças, comidas típicas e quermesses. Como parte de divulgação e preservação da cultura popular são cultivadas as danças do cururu, siriri, dos mascarados e cavalhada. Dentre outras atividades culturais se destacam os trabalhos artesa-

nais feitos com os ramos de tecelagem, urubamba, madeira, couro e chifre, crochê e tricô, além do fabrico de doces e vinhos e da música poconeana. DANÇA DOS MASCARADOS É dança típica do município de Poconé, mescla de contra-dançaeuropéia, danças indígenas e ritmos afros. Sua grande peculiaridade é ser dançada exclusivamente por homens, sendo que metade deles usa trajes masculinos e a outra metade porta indumentária feminina. Os dançarinos cobrem seus rostos com máscaras coloridas, assim como são vivamente vibrantes as cores

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R E P O RTAG E M ESPECIAL


semelha a qualquer dança encenada no Brasil, sendo misteriosa sua origem. Por estar bastante difundida, a Dança dos Mascarados é referência não apenas em Mato Grosso, mas no Brasil, permitindo que seus dançarinos e músicos se apresentem em feiras estaduais e nacionais onde recebem convites especiais para sua apresentação. CAVALHADA Trata-se de um dos maiores eventos culturais do estado de Mato Grosso, que acontece todos os anos nas primeiras semanas de junho, durante as festividades alusivas ao glorioso São Benedito. O evento é realizado na pista oficial, localizada na

parte alta da cidade, no clube Cidade Rosa, que durante o evento torna-se um grande campo de batalha entre cavaleiros Mouros e Cristãos que preservam a continuidade de uma tradição que ocorre há vários anos sendo praticada desde a origem de Poconé. A Cavalhada é uma batalha fictícia travada entre mouros e cristãos. Para que seja realizada, são utilizados dezenas de cavalos e cavaleiros, que se engalfinham, com o principal objetivo de salvar uma princesa, que está presa numa torre de castelo, permanentemente vigiada. Esta tradição vem sendo mantida através dos tempos, apesar de inúmeras dificuldades encontradas.

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de suas vestimentas, usando chapéus com plumas, espelhos e outros enfeites, desempenhando função de damas e de galãs. O Bando ou Mascarados é composto por um marcante, doze pares e três balizas (três galãs na frente do grupo de mascarado carregando o mastro). A apresentação se divide em 12 partes: cavalinho é a entrada, depois se seguem a primeira e a segunda quadrilha, trança-fita e Joaquina, Arpejada, caradura, Maxixe de Humberto (assim denominada porque foi inventada pelo músico Humberto, da Banda dos Mascarados), carango, lundu e, por fim, a retirada. A Dança dos Mascarados de Poconé não se as-

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R E P O RTAG E M ESPECIAL


TURISMO A cidade de Poconé é o Portal de Entrada do Pantanal de Mato Grosso. Quem visita o Pantanal compreende a necessidade de conservar e proteger esse patrimônio inigualável, que a natureza reservou ao homem. A planície pantaneira é composta basicamente de campos e áreas inundáveis que abrigam, entre outros animais, jacarés, capivaras, antas e várias espécies de aves, incluindo o tuiuiú, pássaro símbolo da região. A presença de lagoas de água salgada gera especulações e explicações. Arqueólogos e geólogos discutem a possibilidade desta região ter sido coberta pelo mar, há milhões de anos, ou ainda, pode-se dizer que as águas salgadas podem ser

consequência da concentração de sais minerais presentes na água depois da evaporação, no período da seca. Durante as vazantes ou nas baías, os jacarés dominam a paisagem. Quase invisíveis no meio dos aguapés, eles ficam de tocaia durante horas à espera de uma garça, de um socó ou de uma jaçanã, para variar o cardápio que comumente se constitui de peixes. Uma das atividades turísticas mais desenvolvidas no Pantanal é a focagem noturna de jacarés, feita em barcos pelos inúmeros rios. O Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense, com área de 135.000 ha, localiza-se no extremo sudoeste de Mato Grosso, na confluência dos rios Paraguai e Cuiabá, pertencendo ao município de Poconé. É a região mais selvagem do Pantanal, oferecendo o espetáculo de sua fauna com jacarés, onças, capivaras, jaguatiricas, tucanos, garças, tuiuiús, além de inúmeros peixes. A flora também é muito rica. O acesso ao parque só é feito de barco, e o Centro de Visitantes fica em Poconé. TURISMO DE AVENTURA O conceito de turismo de aventura fundamenta-se em aspectos que se referem à atividade turística e ao território em relação à motivação do turista, pressupondo o respeito nas relações institucionais, de mercado, entre os pra-

ticantes e com o ambiente. Como estes esportes envolvem emoções e riscos controlados, o uso de técnicas e equipamentos específicos, a adoção de procedimentos para garantir a segurança pessoal e de terceiros e o respeito ao patrimônio ambiental e sócio-cultural são exigências do mercado. Exatamente neste contexto se encaixou o projeto ULTRA MACHO, que em novembro último levou milhares de pessoas à Poconé, para participar de uma aventura multiesportiva no Pantanal. Foi o encerramento de um circuito de provas extremamente competitivas que ocorreu no ano de 2015, que os atletas participantes classificaram como o melhor de todos os eventos realizados pela empresa que criou o projeto, há cerca de 5 anos, em Mato Grosso, e dirigida por Maria Rita e Tomio Uemura, empresários do setor de esporte e turismo de aventura no estado.

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FESTA DO SENHOR DIVINO A devoção ao Divino Espírito Santo no Brasil tem raízes lusitanas e foi trazida ao solo Brasileiro pelos colonizadores. E Poconé é uma das poucas cidades Brasileiras que pode se orgulhar de manter esta tradição. A festa do Divino é caracterizada pela novena, que antecede ao festejo, tendo duração de uma semana, que é recheada de muito barulho, com show pirotécnico, alvorada festiva, shows populares, cantos, visitas da bandeira aos lares das famílias poconeanas, e é considerada como uma benção de confraternização, acima de tudo, de devoção e fé.

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MEMÓRIA

Rastros do Nazismo A suástica em ladrilhos hidráulicos cuiabanos

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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

ladrilhos fabricados em Cuiabá na década de 1930, e assentados em algumas residências, na área central da capital de Mato Grosso, seriam traços de simpatia ao nazismo ou simples objetos decorativos? Cuiabá, no período do Estado Novo, que coincidiu com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, tendo os germânicos como protagonistas, ocorreram fatos correlatos com os feitos bélicos do Eixo, formado pela Alemanha de Hitler, pelo Japão de Hiroito e pela Itália de Mussolini, que tinham contra si todos os exércitos do mundo, na época. Como o ocorrido com a Guerra do Paraguai, ocasião em que Mato Grosso se destacou por atos de heroísmo e patriotismo notabilizados pelos Voluntários da Pátria, não foi diferente o chamamento havido para compor o quadro de Pracinhas Brasileiros em campos de guerra na Itália, na década de 1940. Porém, numa demonstração de simpatia aos propósitos políticos do nazismo e pela liderança exercida por Adolf Hitler, pessoas encomendaram a fabricação de ladrilhos hidráulicos, com desenhos que caracterizavam, de forma disfarçada, a suástica, símbolo maior do nazismo, que sempre esteve associada às questões de racismo e propósitos de supremacia da raça alemã, a ariana, sobre outras. A encomenda dos ladrilhos foi feita à uma indústria cuiabana de cerâmica, naqueles conturbados anos 1930, sendo imediatamente assentados os ladrilhos em muitas casas, notadamente no hoje chamado de centro histórico de Cuiabá. Não se tem o número exato de casas em que foram assentados os ladrilhos hidráulicos com motivos da suástica, no entanto, atesto que existem, ainda em 2015, algumas residências ou casas de comércio que não esconderam ou retiraram tais pisos nazistas.


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MEMÓRIA

O LIVRE ARBÍTRIO Não se deve julgar com a realidade de hoje fatos ocorridos há tempos atrás. Isso vale para muitas situações, inclusive para tratarmos desse tema. Os ladrilhos nazistas são apenas testemunha de uma fase da história mundial e servem para induzir à reflexão sobre os fatos que envergonham e repugnam a humanidade em vista dos resultados apresentados em

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números, pela destruição e matança indiscriminada de pessoas. No entanto, naquele período, ainda no começo da intensa propaganda política promovida por Goebells, o Ministro da Propaganda de Hitler, o nazismo se apresentava como a forma de redenção do povo alemão, com propósitos de soerguimento de sua economia e honra, especialmente pela derrota sofrida na Pri-

meira Guerra Mundial (19141918) e os efeitos humilhantes obtidos com o Tratado de Versalhes, em 1919. A euforia que tomou conta de alemães e simpatizantes do nazismo, cuja ascensão ocorreu em 1933, após acontecimentos catastróficos mundo afora, a exemplo da crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, tinha motivação ideológica, de esperança de melhor fu-


lumeMatoGrosso turo. Nesse período não somente alemães admiravam a auspiciosa recuperação alemã. No Brasil ocorreram movimentos organizados em apoio ao nazi-facismo, como a Ação Integralista Brasileira, que vicejou entre os anos de 1932 e 1937, tendo em Plínio Salgado seu mais importante nome. Não deve-se, portanto, condenar absolutamente ninguém por admirar regi-

mes exitosos. O que ocorreu posteriormente, com o regime nazista e os desvarios de Hitler é imperdoável, como a morte de milhões de judeus em fornos crematórios e outras barbaridades, visto que tais propostas não estavam descritas nos panfletos e cartazes distribuídos à sociedade e imprensa mundiais. Pode-se concluir que ocorreu o que hoje chama-

mos de propaganda enganosa com a maioria das pessoas, inclusive com o povo alemão, pois parte dos germânicos reprovaram os excessos do Füherer. Portanto, as famílias cuiabanas que admiravam o nazismo e seu símbolo maior, a suástica, não devem ser julgados na contemporaneidade. Devemos apenas analisar a situação e tirarmos nossas próprias conclusões.

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MEMÓRIA

Está lá, para quem quiser ver e experimentar sentir o que pensavam os homens que os fabricaram e os assentaram em corredores e com eles decoraram salas, quartos e cozinhas de suas casas

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A MESMA PRÁTICA, EM OUTRAS PLAGAS Há que se registrar que em outras cidades, em outros estados Brasileiros, ocorreram fatos semelhantes, a exemplo de Paulínia, município paulista, onde o italiano Amadeu Galmacci, nascido em 1897 e falecido no Brasil em 1982, protagonizou histórico fato relacionado a esse tema. Galmacci exerceu importantes cargos públicos em Paulínia, tendo sido vereador e presidente da Sociedade Italiana. Por questões de interesses empresariais fundou uma indústria de fabricação de artefatos de cimento e, por sua grande admiração ao nazismo deu início à produção de ladrilhos hidráulicos com desenho da suástica, inclusive assentando-os em sua residência. Ainda no estado de São Paulo, de espírito arraigado, naqueles tempos, pelo Integralismo de Plínio Salgado, foram assentados ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica na sede da Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, sudoeste paulista. A constatação da existência dos ladrilhos com motivação nazista foi descoberta em 1990, de forma acidental, pelo novo dono do lugar, José Ricardo Rosa, conhecido por Tatão. Da mesma maneira com os fatos ocorridos em Cuiabá em Mato Grosso, Paulínia e Paranapanema em São Paulo e em vários outros pontos do país, vamos citar apenas

mais um ponto de assentamento de ladrilhos hidráulicos, desta feita no histórico bairro da Lapa, no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de prédio construído em arquitetura art décor e que abrigou, por anos, um hotel localizado na Rua do Riachuelo, nas imediações dos Arcos da Lapa. Nesse prédio, que atualmente é de caráter residencial, foram assentados em seus corredores ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica. Está lá, para quem quiser ver e experimentar sentir o que pensavam os homens que os fabricaram e os assentaram em corredores e com eles decoraram salas, quartos e cozinhas de suas casas. CAMPO MINADO DE GERVANE DE PAULA Importante contextualizar ações desenvolvidas pela sociedade cuiabana no caso dos ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica encontrados em várias casas na capital. No ano de 2005, o genial artista plástico Gervane de Paula, promoveu mostra individual de seu trabalho, em Cuiabá, à qual chamou de “Campo Minado - Reflexões de um Artista”. Sempre generoso, contou com a participação de colegas artistas e buscou, com suas idéias, questionamentos e angústias, fazer o público encontrar sentimentos de estranheza, surpresa, conexão e sintonia. Certamente Gervane conseguiu seu intento com a


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MEMÓRIA

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bre o seu “Campo Minado’ de 2005, exatamente há dez anos atrás, Gervane disse que esse tema ainda é um tabu e que pouca gente, ou quase ninguém, ousa entrar nessa seara e pesquisar, bem a fundo, o porque dos ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica proliferam em Cuiabá na década de 1930. Quem estava por detrás de tudo isso? - se pergunta o artista. A resposta não é tão difícil assim, mas certamente o campo é bastante minado. A SUÁSTICA Em 1920, foi criado o Partido Nacional-Socialista alemão e, por indicação do poeta Guido von List, o emblema do partido passou a ser a suástica solar. Com a ascensão do nazismo ao poder a suástica tornou-se o símbolo máximo daqueles que defendiam identidade ariana ou a raça pura. Tomados por conhecimentos e pesquisas em busca de poderes cósmicos, os nazistas alteraram a posição original do símbolo, fazendo com uma das pontas se direcionasse para baixo, e que, em termos de magia negra, poderiam obter êxito em qualquer empreitada. Tais conhecimentos, ou falta deles, promoveram intensas movimentações de alemães em várias partes do mundo, em busca de poderes subjetivos. Por conta disso tudo os nazistas puseram-se, na-

queles tempos de guerra, também em busca do Santo Graal e da Arca da Aliança, em diversos pontos da Europa, Ásia, África e América do Sul. O cientista alemão Ludwig Müller afirmava que a suástica representava a suprema divindade durante o período da Idade do Ferro. Na Idade Média, a interpretação mais geral de sua simbologia estava relacionada com o movimento e com o poder do Sol. A trajetória da suástica merecia melhor sorte, visto que não foi criada pelos nazistas, que mancharam sua história, que vem de tempos remotos e encontrada em culturas do período neolítico e considerada símbolo religioso. Registra-se que a suástica foi encontrada em túmulos cristãos no Oriente Médio e em regiões da Bretanha, Irlanda, Micenas e Gasgonha. Também entre os etruscos, hindus, celtas, gregos e germânicos. Ainda na Ásia Central e entre os povos americanos mais desenvolvidos, a exemplo dos astecas, maias, incas e toltecas. Com o fim da Segunda Guerra, em 1945, o símbolo foi oficialmente aposentado, mas continua sendo usado por grupos neo-nazistas. Contemporaneamente o nazismo ou neo-nazismo está vivo no coração de muita gente e cheio de simpatizantes mundo afora, notadamente na Europa.

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contextualização das peças produzidas e apresentadas. Com imensa dedicação ao projeto, que gestou a partir do ano 2000, Gervane induziu o visitante a um campo minado, com 100 bombas distribuídas por seis metros. Deu estocadas na obra de Picasso e Matisse, com as figuras de pênis enormes e fez referências críticas à violência urbana, desmatamento e ao uso indiscriminado de drogas. Define-se a mostra toda como impactante. Porém, causou choque na mostra, a obra de Gervane intitulada “Ladrilho Nazista”, onde o artista, com a parceria do fotógrafo José Maurício, desnuda uma série de ladrilhos hidráulicos cuiabanos, produzidos por admiradores do nazismo, com desenho disfarçado e assentados em antiga residência do centro histórico da capital, deixando-os à mostra com contornos em cores verde e amarelo. Nesse trabalho Gervane se lança ao chão para exercer seu papel de artista e depois passeia pelas lentes de José Maurício pisoteando a suástica, em protesto à disseminação do nazismo em terras cuiabanas. Nesse período Gervane de Paula levou a sociedade contemporânea à reflexão sobre os horrores que o nazismo implantou em muitos países e seus catastróficos resultados, sob a égide de intolerância religiosa, de raça e de gênero. Tecendo comentários so-

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ECONOMIA

Riqueza Mineral

A exploração do minério de fosfato em território mato-grossense poderá tornar o estado ainda mais competitivo nos mercados nacional e internacional na produção de grãos e carne

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Estado de Mato Grosso é uma região brasileira privilegiada em vários aspectos e segmentos, notadamente em minérios, visto que originou-se do ouro dos Martírios e de Cuiabá. Campeão nacional na produção de grãos e de carne o Estado importa milhares de toneladas de Fosfato e adquire outras tantas no mercado nacional para ser usado como adubo na fórmula NPK. Ocorre que o subsolo mato-grossense é rico em fosfato, mas sem exploração industrial desse produto, o que acarretaria benefícios na área industrial, comercial e social.


área de 67 km², com espessura média de 35 m e teores de fosfato de até 9,5%. Nos anos subsequentes, em 2011 e 2012, os trabalhos foram feitos de acordo com as normas do Conselho de Defesa Nacional, tanto a sondagem quando definições de mercado consumidor de fertilizantes fosfatados. Contemporaneamente o país ainda se encontra na dependência do suprimento do Fosfato, o que traz certo incômodo ao setor agrícola. Concluindo registra-se a importância da descoberta do geólogo Gercino Domingos da Silva. Que este trabalho científico seja efetivamente exitoso, e não sofra mais atrasos. O objetivo é transformar os sedimentos rochosos pesquisados em Mirassol D´Oeste em Fosfato nacional a ser comercializado em terras de Mato Grosso e outros estados, suprindo o déficit histórico deste componente NPK, com a palavra as autoridades competentes e empresas que disputam a primazia da exploração e comercialização do Fosfato Mato Grosso.

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O histórico dos fatos relacionados ao descobrimento de rochas fosfatadas vem de maio de 2006, com a descoberta e coleta para análise de amostras de fácies ritmitos(*), por ação do geólogo Gercino Domingos da Silva, funcionário da Metamat e pós graduado em impactos ambientais e mestre em recursos minerais, na região da Serra do Caetés. O resultado das análises constatou enorme depósito de fosfato na região pesquisada. Entre agosto e novembro de 2009 ocorreram fatos significativos para a consolidação do Projeto Fosfato Mato Grosso, nome dado por deferência ao potencial de exploração desse minério no Estado. Em agosto foi assinado um convênio de apoio técnico entre a SICME e a CPRM, com vistas à execução do projeto nas áreas Araras e Planalto da Serra. No mês de outubro foram realizados estudos de campo em Mirassol D´Oeste, confirmando a pesquisa feita pelo geólogo Gercino, em 2006, sobre a ocorrência de Fosfato. Na sequência, em novembro de 2009, em virtude da constatação de ocorrência de Fosfato verificou-se aumento de trabalhos geológicos na área, sempre confirmando pesquisas anteriores. Num relatório encaminhado à Sicme, em agosto de 2010, constatou-se ocorrências da rocha mineralizada (Ritmito), em

Ocorre que o subsolo matogrossense é rico em fosfato, mas sem exploração industrial desse produto, o que acarretaria benefícios na área industrial, comercial e social

(*) As fácies (conjunto de caracteres de uma rocha, sob o de vista de sua formação) rítmicos (caráter rítmico é emprestado pela própria fácies em laminação horizontal)

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S U S T E N TA B I L I DA D E

Bicho da Farinha Favorece Reciclagem de Lixo O besouro conhecido como bicho da farinha, existente em várias partes do mundo, pode ser a solução futura para problema do lixo, pois descobriu-se que microorganismos presentes no sistema digestivo das larvas são capazes de biodegradar o plástico em seu processo digestivo

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tas perguntas sobre a destinação das milhões de toneladas de lixo produzidas diariamente em todo o mundo. Os cientistas trabalham para isolar a enzima existente no estômago no bicho da farinha, buscando fórmulas de se criar um processo de baixo custo para reciclar plástico. É positivo imaginarmos que essa é uma maneira inovadora de se enfrentar tal problema, além da clara mudança de percepção do que fazer com tantos isopores e detritos plásticos, tão úteis em nossas vidas, mas que são despejados em aterros sanitários e espalhados em nossos rios, terrenos baldios e fundos de quintais, com baixíssimos índices de reciclagem. Estudos científicos dão conta de que o poliestireno leva mais de 150 anos para se decompor na natureza e, ao mesmo tempo que o bicho da farinha é um alento, também preocupa não sabermos, ainda, através de pesquisas, os efeitos nas cadeias alimentares de outros animais que venham a consumir essas larvas. É lícito termos esperança na larva bicho da farinha, cujo intestino nos revela destinos inusitados para os resíduos plásticos que permeiam o meio ambiente.

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mportante estudo científico realizado pelo engenheiro Wei-Min Wu do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade de Stanford, nos EUA, em conjunto com Jun Yang e outros pesquisadores da Universidade de Beihang, na China e publicado pela Environmental Science and Technology, indica que a larva do pequeno besouro Tenebrio molitor, popularmente conhecido como bicho da farinha, se alimenta de isopor ou poliestireno expandido, uma espécie de plástico não biodegradável. Isso deve-se a uma enzima existente no estômago do bicho-da-farinha que converte o plástico em dióxido de carbono, permitindo que os excrementos do Tenebrio se transformem em resíduos biodegradáveis, podendo até ser utilizados em forma de adubo para plantas. A descoberta foi recebida com surpresa e entusiasmo. “Nossas descobertas abriram uma nova porta para resolver o problema global com a poluição de plásticos”, afirmou o engenheiro Wei-Min Wu, para o Stanford News Service, órgão de imprensa da Universidade de Stanford. As pesquisas estão em permanente evolução, buscando respostas para tan-

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B E M E S TA R

Bio saúde

A cura através das plantas O padre jesuíta Renato Roque Barth, lotado na Paróquia do Rosário, em Cuiabá, após décadas de dedicação à medicina natural, à base de chá, jejum, dieta e urinoterapia, comemora, pelo método bio saúde, expressivos números ao redor do mundo de atendimentos e bons resultados para se curar qualquer tipo de doença.

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os 76 anos de idade o padre Renato Roque Barth, que chegou em Mato Grosso durante o ano de 1962, demonstra muita disposição e vitalidade ao pedalar, sistematicamente, por quilômetros em sua bicicleta, na busca de plantas curativas diariamente, quando não está em viagem por conta de palestras e encontros sobre medicina natural. Sobe facilmente a escada em caracol que

leva aos dois cômodos de pouco mais de 20m² cada um, de onde comanda, junto com um grupo de nove pessoas, entre funcionários e dirigentes, o propósito de cura através de plantas medicinais em 43 países, nos continentes americano e africano, com números expressivos de atendimentos exitosos em mais de 2 milhões de pessoas. Descendente de alemães e nascido no município catarinense de Itapiran-


O teste com o O-Ring Test é uma técnica de investigação clínica não invasiva, que tem como base o fenômeno do enfraquecimento muscular provocado pela ressonância entre duas substâncias idênticas. O teste é realizado utilizando-se a musculatura dos dedos em forma de anel.

ga, vislumbrou no sacerdócio o seu futuro. Seu interesse pela medicina natural tem origem nos ensinamentos maternos e, quando cursava teologia e filosofia, achou tempo para cursar ciências naturais, fator que contribuiu para sua melhor compreensão sobre a importância da fitoterapia na cura de várias doenças. Ordenado sacerdote em 1971, teve seu conhecimento sobre a medicina natural mais apurado na Nicarágua, país da América Central, no qual permaneceu por longo tempo como missionário. Em Léon, em 1990, participou pela primeira vez de um curso da Bio Saúde, ministrado pelo médico Áton Ínoue, que havia tido contato com Yoshiaki Omura, que descobriu e patenteou o método.

COMO SURGIU A BIO SAÚDE O Dr. Yoshiaki Omura, físico e médico nipo-americano é o criador e sistematizador desse método, tendo se baseado em conhecimentos da medicina oriental e na fitoterapia. Trata-se de um dos mais renomados e respeitados nomes dentro da comunidade científica mundial, tendo recebido o raro título de “science doctor”. Entre os anos de 1976 e 1978, Omura determinou as bases do que se convencionou chamar de “O-Ring-Test”, que é um teste onde se rompe o anel, formado pelos dedos polegar e indicador. Para avaliar o estado de saúde de um paciente foram estabelecidos três momentos: • Fazer a verificação em quais órgãos a energia está bloqueada; • Encontrar a causa;

O MÉTODO BIOENERGÉTICO DE TRATAMENTO NATURAL Há que se registrar que não existe nenhum envolvimento ou segmentação religiosa no sistema de cura através das plantas oferecido pelo método difundido pelo padre Renato, que mantém um centro de atendimento no Bairro Jardim Paraíso, em Cuiabá, de onde difunde o seu Método Bioenergético de Tratamento Natural, o Bio-Saúde, que é amplamente aceito, tendo sido implantado em diversos países, com resultados altamente satisfatórios. O processo de atendimento, ou consulta, procedida aos pacientes, é feito pelo próprio padre e assistentes, de segunda a sexta, em revezamento estampado na parede da ampla mas bem modesta recepção. Possivelmente o que mais atrai as pessoas que procuram a Bio Saúde, além de resultados satisfatórios

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• Obter a resposta do organismo e levantar a energia vital, buscando o restabelecimento da saúde plena. Isto posto e realizado, é o organismo do doente que vai oferecer indícios do que necessita para ser curado. Tal situação e fatos altera completamente os parâmetros de indicação de medicamentos e de terapias, contrariando o sistema industrial e convencional na qual a medicina está alicerçada, criando dissidências e contrariando interesses.

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B E M E S TA R

e rápidos, amplamente disseminados pelos consulentes, é o baixo custo do tratamento, algo em torno de R$ 40,00 apenas, por pessoa, mais os custos de ervas e folhas indicadas para cada tipo de doença, sempre a valores irrisórios. O sistema Bio-Saúde oferece orientação sobre as formas adequadas de alimentação e hábitos saudáveis de vida com a ingestão de chás indicados pelos fitoterápicos. LIVROS E DEPOIMENTOS Para melhor compreensão do Método Bioenergético de Tratamento Natural o padre Renato Barth escreveu e publicou três livros: “Bio-Saúde - Método Bioenergético de Tratamento Natural”, com sete edições a partir de

Euza Maria de Araújo Rodrigues em depoimento espontâneo afirma ter sido curada de osteoporose na coluna cervical, utilizando o método Bio Saúde, do Padre Renato Barth.

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1999; “Cura Natural - Nascemos sadios. Porque adoecemos? Como curar-se? Como manter a saúde”, com três edições a partir do ano de 2001; “Infecções e Doenças - Cura Global”, com duas edições a partir de 2007. Segundo o religioso em breve será publicado um novo livro, ampliando horizontes e conhecimentos sobre seus propósitos de cura de doenças através das plantas medicinais. Em todas as publicações padre Renato Barth enfatiza os bons resultados do método apresentado: - “Tenho certeza de que o futuro será da medicina natural” - afirma, citando casos de curas em várias cidades Brasileiras e do exterior, a exemplo da cura de cegueira de mais de 9 anos, em região do sul do país e, também da cura de um câncer maligno na cidade de Maputo, em Moçambique, fato atestado pelo Arcebispo da capital daquele país africano, Francisco Chimoyo, além de muitos outros casos de cura real. Por acreditar em seu método e buscar sua disseminação, padre Renato não deixa de “cutucar” a indústria farmacêutica, que existe de forma organizada há aproximadamente 150 anos, taxando-a de “falida”, por ser morosa e infringir “muitos sofrimentos inúteis aos doentes”. Em Cuiabá existem inúmeros casos de tratamentos exitosos à base dos chás e da reeducação alimentar proposta pelo Método Bioe-

nergético de Tratamento Natural. Um desses casos vem de Euza Maria de Araújo Rodrigues, líder comunitária do Jardim Vitória e professora aposentada da rede pública estadual, afirma conhecer pessoas que foram curadas de várias doenças, inclusive câncer. Ela mesma era portadora de uma osteoporose na coluna cervical e viu-se curada com o método do padre Renato. Euza afirma que consumiu durante muito tempo remédio conseguido na farmácia de alto custo, do governo estadual, e que quando passou a fazer o tratamento pelo Método Bioenergético de Tratamento Natural notou certa diferença. Certo dia recebeu telefonema sobre o último exame que havia feito (densiometria óssea) com resultado altamente satisfatório, visto que não foram encontradas evidências da osteoporose em sua coluna. INTEGRAÇÃO DA MEDICINA ALTERNATIVA E SUS Em setembro de 2015, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso, criou a Frente Parlamentar em Defesa das Práticas Integrativas em Saúde - Frente Holística, sob a condução do deputado Wancley Carvalho (PV). A Frente se propõe acompanhar, propor e analisar projetos e programas no campo das terapias integrativas, sendo que para o deputado Wancley esta é uma proposta de quebra de paradigmas, pois valoriza sobrema-


TEMPOS DIFÍCEIS O jeito jesuíta de ser do padre Renato demonstra um ser resignado, mesmo com os revezes vividos nos últimos cinco anos, por conta de dividir conhecimentos fitoterápicos e promover, segundo seu próprio depoimento, a cura de doenças de todas as espécies, através de seu método, inclusive da Aids e do Câncer. Ao contrariar o sistema, imposto subjetivamente às sociedades pelo capitalismo, o padre Renato Barth e a Bio Saúde tornaram-se manchetes na mídia em 2010, ocasião em que, tanto o religioso, quanto a instituição foram achincalhados

e acusados de charlatanismo e de prática de medicina ilegal pelo CRM - Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso, que foi à justiça. Na época inúmeras pessoas e instituições se posicionaram em defesa da Bio Saúde e padre Renato Barth. Parte da mídia regional imputou a interesses de laboratórios farmacêuticos de multinacionais em patentear o método do padre Renato, obtendo lucro fácil, rápido e com eficiência. A ação judicial tramitou no Juízo Criminal de Cuiabá e foram realizadas audiências em 25 de fevereiro de 2011 e em 20 de setembro de 2012, onde o Judiciário não viu nenhuma ilegalidade nas atividades desenvolvidas sob a liderança do padre Renato. Em documento apresentado pelo próprio sacerdote, no último dia 18 de novembro de 2015, textualmente o juíz Dr. Mário Roberto Kono de Oliveira disse o seguinte: “Eu não condeno o Padre Renato e a Bio Saúde, pois eu aqui não vejo crime algum”. A última audiência deveria ter sido em 17 de novembro de 2015, no entanto, foi adiada para o mês de fevereiro de 2016, em data a ser confirmada. O padre Renato está otimista com o resultado da audiência definitiva e afirma que pretende tomar as medidas judiciais cabíveis, dentro da legalidade, para ser ressarcido pelas injúrias a ele imputadas.

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neira a medicina complementar e integrativa. A frente parlamentar é composta pelos deputados Wancley Carvalho (PV), Emanuel Pinheiro (PR), Pery Taborelli (PV), Saturnino Masson (PSDB) e Nininho (PR). Pretende-se direcionamento para que todas as câmaras municipais de MT também desenvolvam trabalhos semelhantes. A integração proposta é inédita por ser formada numa frente suprapartidária, no entanto, outros estados da federação, através de suas áreas de saúde, a exemplo do Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, já desenvolvem integração com o SUS, sem nenhum tipo de prejuízo financeiro para o estado.

Yoshiaki Omura, físico e médico nipo-americano que fez a primeira descrição do método, cuja patente foi requerida em 1983.

Detalhe de folhas de diversas procedências, separadas em saquinhos, prontas para infusão.

SERVIÇO: Endereço: Av. Clóvis Pompeu de Barros, 622, Paraíso, Cuiabá, MT Telefone: (65) 3641-6532

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ESPORTE

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Primórdios do Beisebol em Mato Grosso

A história da colonização japonesa e a do beisebol, no estado de Mato Grosso, tem a mesma origem nos primeiros migrantes que aqui se estabeleceram no início da década de 1950

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FOTOS, ARQUIVO E TEXTO FÁBIO SATORU SASAKI

m 1953 chegaram a primeiras levas, vindos inicialmente do interior do estado de São Paulo e, posteriormente, diretamente do Japão. Chegaram à região do Rio Ferro, distante cerca de 500 km de Cuiabá, ao norte, quase chegando no estado do Amazonas, vislumbraram a densa vegetação e pensaram, aqui é terra fértil !

As estradas praticamente não haviam, tiveram que abri-las, atravessar rios sobre balsas, improvisaram pontes, desmataram com as “mãos”, utilizando no início machado, marretas e serras. Construíram suas casas com essa madeira, os telhados eram uma atração a parte, feitos de tábuas de madeira, mas todos unidos em um sonho: o de ganhar dinheiro e retornar a terra natal.

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ESPORTE

A terra na verdade era muito ácida, e dali não produzia o necessário para sua subsistência “não dava arroz, feijão, legumes”, criávamos galinhas e porcos, alimentando-os com feijão guandu, única coisa que dava naquele solo. Nós também comíamos esse feijão; a mesma coisa que os animais comiam nós também tivemos que comer, além de termos que comer animais silvestres, a exemplo de macacos, sapos, minhocas e ratos. Quem não conseguiu comer, foram os primeiros a morrer de fome de desnutrição. A distância até Cuiabá era um empecilho, apenas uma vez por mês o caminhão da empresa ia buscar mantimentos, gastamos todo o dinheiro fazendo compras, pois da terra nada tirávamos.

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A plantação de seringueira foi bem, mas para obter lucros com a colheita levava cerca de sete, oito anos para a primeira sangria e dez para ter retorno comercial. Experimentaram o plantio da pimenta do reino e conseguiram uma boa colheita, no entanto, devido a super produção dos países asiáticos, ocorreu desvalorização do produto e um saco de pimenta do reino não valia mais nada. Ainda tinha o custo de levá-la até o porto de Santos, não compensava. Preferiram queimar. Por causa a falta de conhecimento do solo, da distância, as dificuldades com as doenças tropicais, a resistência foi sendo minada e a esperança se acabou. Os imigrantes que vieram para nosso estado deixaram um grande legado: abriram es-

tradas onde até então não havia nada. Desses locais surgiram cidades como Sinop e Feliz Natal. Hoje a culinária japonesa é muito bem representada nos restaurantes japoneses com seus Sushis e outros pratos. Nas feiras de gastronomia com o Yakisoba, nos esportes com o Judô, o Karatê, o Karaokê e o Beisebol. PRIMEIRAS TACADAS Falando sobre o beisebol, esta modalidade esportiva chegou a Mato Grosso com estes imigrantes. Se tornou popular, pois naqueles tempos, em fins de semana, os trabalhadores da roça vinham para a sede (Kaikan) praticar os mais variados esportes, dentre eles o beisebol. Era forma de descontrair dos longos períodos de servi-


lumeMatoGrosso ço pesado a se que impunham os desbravadores. Em meados de 1955, com o pátio da sede pronta, foram realizavam as primeiras partidas de beisebol em solo mato-grossense, como forma de reunir as famílias, naquele longínquo sertão. Segundo as entrevistas feitas aos descendentes, as primeiras partidas entre as localidades seriam do inicio da década de 1960. Disputaram torneios as cidades de Cuiabá, Cáceres, Jurigue e Rio Ferro, tendo o registro em foto de um torneio de 1964. Os anos seguintes foram comuns estes torneios, geralmente acontecendo de uma a duas vezes ao ano, até no início da década de 1990, onde com a era “dekassegui”. Nessa ocasião muitos seguiram o caminho inverso de seus antepassados, indo

trabalhar no Japão. Não só em Mato Grosso como em outras regiões do país, as associações de beisebol perderam membros e algumas até pararam por completo suas atividades. Com a estagnação da economia japonesa em meados do ano 2000, sucessivas crises econômicas, fizeram que uma grande leva desses emigrantes retornassem ao país, reiniciando as atividades nas suas associações. Nos dias atuais a Associação Nipo de Cuiabá e Várzea Grande, possui diversas atividades não somente voltadas aos membros da associação, mas aberta a comunidade Brasileira, visto que hoje os praticantes de Beisebol, Kendô, Taiko, possuem grande quantidade de não descendentes.

O beisebol, com o apoio da Federação Mato-grossense de beisebol e softbol, desenvolve com apoio do Governo japonês, a prática desse esporte com aulas gratuitas. Existe um voluntário japonês enviado somente para ensinar a prática do beisebol aos Brasileiros.

SERVIÇO: As aulas não são cobradas e, quem se interessar, deverá procurar a associação de Várzea Grande, situada na Rua Castro Alves, esquina com Castelo Branco, no Bairro Cristo Rei, levando apenas um par de tênis e boné, pois o restante dos materiais são fornecidos pela própria instituição.

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CECÍLIA KAWALL Mora em Chapada dos Guimarães, é guia de ecoturismo e de aventura, empresária, fotógrafa e escreve para Lume MT.

Caravana da Alegria POR CECÍLIA KAWALL

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ue vá direto ao coração, que mexa comigo? Chapada dos Guimarães é claro, o “coração do mundo” ! De onde parti para todas as aventuras e caminhos e para onde volto, sempre. A Chapada mexe com o sangue da gente, emociona, tira o fôlego. Aqui conheci e vivi grandes amores, desiludi, parti e voltei. A primeira vez que vim foi de táxi aéreo com a família, no meio das férias na fazenda do vô, lá se ia o ano 1976. A emoção de sobrevoar os paredões já era uma aventura e tanto, e me marcou definitivamente a coloração avermelhada da terra rasgando o verde vibrante da vegetação do cerrado, tudo sob o céu de cristal azul. Cores! Os contrastes. Dez anos depois minha mãe comprou uma casa naquela “aldeia”, encontrou uma pérola naquele mar de dentro. Eu vivia em São Paulo bem enredada na vida asfáltica, trabalhando e estudando e ela me convidou para uma visita. Me lembro como se fosse hoje que eu respondi bem altiva (quanta soberba…) “o que EU vou fazer no meio do mato???” Foi a primeira grande guinada quando resolvi vir pelo menos para agradá-la… fiz uma viagem de ônibus de qua-

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se 30 horas e a chegada aqui ainda era na frente da Igreja. Passei duas horas, acreditem, caminhando e procurando a casa dela, dentro da cidade, hahaha! O endereço era assim: desce do ônibus, sobe a avenida umas duas quadras e dobra na ruazinha à esquerda. Fiz todos os roteiros possíveis acompanhada de uma senhora que queria ajudar mas não me deixava ultrapassar aquelas duas quadras porque dizia que depois dali “é o fim do mundo minha filha, não tem mais nada lá”. A Chapada tinha 4mil habitantes então e por causa de sua localização muito próxima dos paredões, para as pessoas mais simples daqui tudo ao redor era o fim! Bem, depois de muito insistir que ela me deixasse descansar num hotel para continuar no dia seguinte, me sentei numa calçada e esperei não mais do que 5 minutos e já vieram me resgatar. Minha mãe sabia que eu estava chegando e como eu não aparecia ela saiu andando e me encontrou. Sua casa era exatamente uns passos além do limite da iluminação pública da época, no “nada”, no escuro, no fim! Hoje é no Centro, hehe, a uma quadra da rodoviária!


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Só um detalhe: estamos sim no centro da cidade mas ao mesmo tempo no campo. Minha área é vizinha da APA da Quineira, uma área de proteção permanente que abriga uma das mais importantes nascentes de água potável da cidade. Detalhe este de relevância crucial nos tempos de hoje! Aproveitando já deixo aqui este alerta, ajudem, sempre que possível, lutem pelas nascentes, pela nossa água. Pelo poder do cerrado como berço das águas, protejam, venham conhecer, passear e desfrutar. E, de visita passei a moradora. De moradora a proprietária. De proprietária a contribuinte, cidadã, colaboradora e amante

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apaixonada. Cada vez que dirijo ou caminho por estas trilhas me emociono um pouco mais, me vem um suspiro no peito, um leve sorriso nos lábios. Ui! Foram muitas as idas e vindas, cada vez com uma estória. Eu ia e vinha mas não decidia nada, parecia que a Chapada escolhia quando eu ia ou vinha. Acolhia e ainda acolhe. Ainda me admiro como se fosse aquela primeira vez com as cores, com os contrastes, com as dificuldades e maravilhas. A vida nas asas das borboletas azuis no meio da mata, os rios cristalinos entre as rochas de arenito e ferro, a dramaticidade da vegetação e a doçura das flores.


lumeMatoGrosso Uns dizem magnetismo, outros astral, outros ainda energia, karma… a gente hoje brinca que quem vai embora teve “alta” do hospício, hehe. A Chapada é deslumbrante para os olhos sim mas te cobra tudo isto a cada respiração. Ai. Nada é muito fácil, tudo tem que ser conquistado, guerreado. Todos os tipos de movimentos tem espaço por aqui, o povo índio dono de tudo, o povo das estrelas, dos intra-terrenos, dos elementais, das máquinas gigantes do agro-negócio, mono culturas sem fim, dinheiro, garimpo, ouro, diamantes e madeira. É macro produção versus preservação,

civilização, dignidade de vida e chuva ácida…um caldeirão de sentimentos controversos, fortes emoções. Arroz integral, meditação e bife na chapa. De emoção em emoção alcanço meus “cinquentanos” que comemoro e compartilho aqui com a maior alegria. Pela Graça da Natureza, Gratidão! Deixo com vocês imagens que me curam, minha verdadeira face. E a partir de agora abrem-se as cortinas da caravana mais animada deste Centro Oeste, um verdadeiro espetáculo de lugares fantásticos e sorrisos iluminados.

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SAÚDE

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De Médicos e Médiuns: As Relações entre Loucura e o Espiritismo

“Nós ainda não fechamos o livro da história. As coisas andam, não acabaram ainda. Por onde você passa vê pessoas dormindo nas marquises e ninguém toma uma atitude. Como é que se pode passar em frente de uma família com dificuldades e ignorar? Falta amor navida das pessoas.” Uribatan de Magalhães Barbalho


bá, existem vários doentes crônicos abandonados pelas famílias que não os querem mais. Pelo menos a metade deles poderiam ser tratado por métodos espíritas, mas isso não é consentido. EVOLUÇÃO No Brasil muitos nomes se destacaram na busca do conhecimento espiritual e na compreensão de seus benefícios em tratamentos de doentes mentais obsidiados. O médico psiquiatra Brasileiro, Inácio Ferreira, foi o primeiro do mundo a associar a doença mental com a espiritualidade. Esse médico foi convidado por Maria Modesto Cravo, de Uberaba, a “dona” Modesta, na década de 1930, a dirigir o Sanatório Espírita de Uberaba. O psiquiatra Inácio não era espírita, mas envolveu-se com os movimentos espíritas, que eram fortes e organizados na cidade de Uberaba, naquele período. Com isso passou a trazer para dentro do hospital a metodologia de leitura, da oração, da água fluidificada, do ensino da doutrina, influenciando outros dirigentes e pessoas ligadas ao hospital a conhecerem e se aprofundarem no espiritismo. Começou a fazer trabalhos mediúnicos com todos os pacientes para verificar quem era lesado orgânico e quem não era. Apesar de todos passarem pelo sistema de eletroconvulsoterapia, Inácio Ferreira provou que 50% eram lesados orgânicos e esquizofrênicos para a vida toda, mas

os outros 50% eram dramas da obsessão. Os primeiros eram caracterizados como doentes mentais e o restante eram psíquicos, que muitos acham que é coisa fora da matéria. Como se o espiritual não fosse matéria e sim uma coisa etérea. Só no Brasil é que existiu esse trabalho estatístico, em nenhum outro lugar do mundo foi feito estudo semelhante. MATO GROSSO Com uma população de mais de 3 milhões de habitantes, somos pelo menos 10% de doentes mentais. Trata-se de uma média universal, que em alguns pontos pode chegar até 13%. Alguns lugares têm endemias atribuídas à esquizofrenia, isso não significa que todos têm doença mental. Anualmente, dos aproximadamente 300 mil doentes mentais de Mato Grosso, pelo menos 6% irão desencadear algum tipo de distúrbio, podendo ser ou não internados. Desses 18 mil doentes que irão apresentar sintomas graves, muitos irão requerer atenção especial. Desta quantia, pelo menos 2%, ou seja, 360 pessoas irão surtar, literalmente. Esses 360 indivíduos, sem dúvida alguma irão requerer internação, remédios e outros cuidados especiais com profissionais capacitados. Infelizmente os aparelhos estatais não são suficientes para atender essa demanda histórica. Aí poderia entrar o trabalho feito pelos espíritas, mas não existe apoio formal para tal empreita.

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França foi o primeiro lugar do mundo em que se construíram hospitais psiquiátricos. Philipe Pinéu, um psiquiatra francês fez um trabalho revolucionário com doentes mentais. Ele mandava dar banhos nos doentes. Cortava seus cabelos. Mandou que tirassem as correntes que os amarravam nos porões e os colocava para tomar sol. Naquele período os doentes mentais sofriam tratamento desumanos, com dentes arrancados e tratados como rejeitados e animais. Em seus relatórios Pinéu descrevia avanços dos doentes por seus procedimentos, a exemplo do banho de sol. A melhora foi acentuada. Muitos deles ainda mantinham a razão. A França que foi a mãe do Iluminismo, também foi a pátria-mãe de Alan Kardek, o Decodificador do espiritismo. Porém, depois da Primeira Guerra Mundial não avançou mais nos estudos espíritas kardecistas, e hoje está muito materialista. A Europa avançou muito na economia, na antropologia e em outras áreas, mas retrocedeu nas questões da espiritualidade. Ainda existe um certo preconceito nas práticas espíritas no tratamento dos transtornos mentais no Brasil, e em Mato Grosso não é diferente. Carecemos de avançar neste terreno ainda pouco divulgado e estudado, discutir o papel do espiritismo nos ataques de loucura. No Hospital Adauto Botelho, em Cuia-

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SAÚDE

Eu não alimento a minha horta de ignorânica mais que a minha horta de sabedoria, sou espírita de alma e corpo. UBIRATAN DE MAGALHÃES BARBALHO

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O PSIQUIATRA Para compreender melhor as questões que envolvem espiritualidade e tratamento para doenças mentais convidamos o médico psiquiatra Dr. Ubiratan, que está lotado no Hospital Adauto Botelho, em Cuiabá, para falar sobre esse tema em forma de perguntas e respostas. O médico psiquiatra Dr. Ubiratan possui larga experiência na área, sendo adepto dos trabalhos de Inácio Ferreira, o psiquiatra inovador, estudioso e ousado que decodificou estatísticas da espiritualidade e é referência sobre seus feitos eficazes e duradouros na área do tratamento de doentes mentais. Vamos às perguntas! COMO SE DEU SUA ENTRADA PARA O ESPIRITISMO? »»Sou espírita de alma e corpo, pois nem preciso acreditar. Nasci no meio católico, mas minha alma já era espírita. Eu já sabia disso desde os 7 anos de idade, pois tinha um raciocínio acima da média. Por conta disso sempre fiquei calado. Nunca tive oportunidade discutir esse tema, pois não tive forças do plano espiritual para me envolver com os espíritas, porque eu tinha uma coisa para fazer. Fiz tudo para ficar no meio dos espíritas, mas sempre me empurraram para o lado dos doentes mentais. Sei que estou na terra por méritos e desgraças que fiz no passado. Tenho consciência disso e tenho que apaziguar o meu ra-

ciocínio, pois tenho tendências perversas, pois eu nasci na terra, logo sou impuro. A minha vontade é jogar bombas, é fuzilar, mas isso a minha consciência já sabe que é imoral, é ilegal. Então eu não alimento a minha horta de ignorância mais do que a minha horta de sabedoria. Hoje eu tenho a camisa do espiritismo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, por isso falo com transparência, não vou mais para o caminho do meio. Eu sei qual é o caminho, não digo que é o das sombras, do mal, mas pelo meu livre arbítrio, que eu tenho direito, resolvi não retardar mais o meu processo de evolução. Cansei. Eu senti isso, não sei de onde veio, mas sinto que é da minha maturidade espiritual. Posso errar, pecar, cair em tentação, posso. Eu tenho essa consciência, por isso tenho que estar vigilante. Eu sou obreiro, mas não sou hipócrita, posso não discutir, mas trabalho numa casa espírita duas vezes por semana, dou passes, além de atuar também em finais de semana, nas obras sociais do Auta de Souza. COMO SE DEU A OPÇÃO DE ESTUDAR MEDICINA PSIQUIÁTRICA? »»Não fui eu que escolhi ser psiquiatra. Me escolheram. Eu sabia que ia ser psiquiatra sem saber que para isso tinha que estudar medicina, porque todo meu estudo original foi em cima de disciplinas de elétrica e telecomuni-


ATUALMENTE O SENHOR NÃO ESTÁ CLINICANDO, PORQUE? »»Não sou mais médico, me processaram por tráfico de drogas. Quem armou isso foi a polícia. Veio de dentro da secretaria de saúde, porque eu tinha projetos plantados lá dentro para captar recursos para a saúde mental, e a máfia que está lá há mais de 30 anos não deixou, e por conta disso a polícia armou para mim dentro

do meu consultório. Eles fizeram isso para me intimidar. A sorte minha é que eu sou pobre, se eu fosse rico a coisa estava feia, e os advogados que me assistem são todos irmãos, porque eu não tenho dinheiro para pagar. Estou descapitalizado, pois só recebo o salário básico, tinha melhor renda no meu consultório, onde minha receita era o dobro do que ganho no serviço público. Não posso clinicar, me caçaram (o diploma de médico) para que eu possa responder ao processo. O CRM me caçou o direito de clinicar, não posso exercer a medicina. O SENHOR É UM PROFISSIONAL DEDICADO À SUA PROFISSÃO? »»Sou um psiquiatra muito conhecido, fruto do trabalho que fiz na rede pública. A lei manda você atender 16 pessoas, aparece 30 como é que faz? Atendo a todos, nunca deixei nenhum prá fora. Minto, deixei uma mulher sem atendimento e pago até hoje esse remorso. Isso foi há 10 anos, no Coxipó. Estava esgotado. Havia atendido 34 pessoas, estava esgotado. Eu fechei a porta na cara dela, que veio correndo e pediu pelo “Amor de Deus”, mas não atendi. Ela poderia ter corrido por detrás do prédio e me cercado, mas não conseguiu, pois eu saí correndo, entrei no carro, sendo mais rápido que ela. Ela deixou escrito um texto enorme, sem me condenar, passando um fax para a direção, que

me entregou o escrito alegando falta de humildade da minha parte. Isso me machucou bastante. Estava cansado mas poderia ter deixado ela entrar e ter saído com ela pela porta da frente. Os pequenos remorsos juntados eu nunca esqueci.

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cações, no colégio em que estudei, na cidade mineira de Governador Valadares. O meu primeiro vestibular foi engenharia eletrônica, mas não sei porque eu cheguei para o meu pai e disse: Pai, vou fazer medicina. Ele se assustou e disse que esse curso era para quem estudava desde cedo, e eu sempre fui do esporte, do basquete. Convenci meu pai e fui para BH, onde fiquei em um quartinho com amigos, estudando bastante para o vestibular. Passei. Acredito que “alguém” me dirigiu para estudar medicina e, da mesma forma, na psiquiatria percebi a intuição. Graças a Deus hoje me considero um psiquiatra mediano, pois não gosto de autopromoção, já que nossa doutrina não permite esse tipo de avaliação. Por conta disso pretendo ser mais humilde que um inseto. Isso não custa nada. Chico Xavier se considerava um cisco. É como Emanuel fala: “menos, um verme está bom”.

O QUE É ELETROCONVULSOTERAPIA? »»É um tratamento oferecido aos doentes mentais. Trata-se de um sistema altamente científico, verdadeiro e eficaz para a depressão grave. É tratamento injustamente associado à cadeira elétrica e à tortura, mas a eletroconvulsoterapia é considerada atualmente o melhor tratamento para a remissão dos sintomas depressivos graves. A eletroconvulsoterapia não causa dano cerebral e pode ser aplicada até em mulheres grávidas, sem qualquer risco.

DISCORRA SOBRE O HOSPITAL ADAUTO BOTELHO, EM CUIABÁ. »»Esse hospital merecia muitas energias espirituais. Porque é muita maldade em cima desse hospital. O povo de Mato Grosso precisa dar uma atenção melhor para os seus doentes mentais. Um estado riquíssimo como esse merecia equipes de médicos e técnicos de saúde mental em todas as regiões. Para se lidar com o doente mental com dignidade, inclusive com seus funcionários públi cos, sendo que grande par-

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SAÚDE

Allan Kardec te deles estão doentes. Da mesma forma todos os escalões políticos e de serviços que estão adoentados pelo mundo do consumo. Fui convidado para trabalhar num processo de readequação do hospital Adauto Botelho, que está há 10 anos não contratando, não fazendo concurso público e diminuindo a quantidade de vagas. Temos 60 pacientes, mas a capacidade é para um número bem maior. Hoje temos 40 homens e 20 mulheres internadas. O Adauto Botelho não autoriza trabalhos espirituais em pacientes. Não se pode oferecer um passe espiritual ou mesmo atividade de entidades religiosas. Eu acho um absurdo e ignorância, pois seria benéfico demais. Com trabalhos espirituais poder-se-ia amenizar crises. Os doentes estão morrendo no interior do estado, porque aqui fecharam as portas para o doente mental, obrigando-os a assumirem suas consequências, como se isso fosse apenas um problema das famílias, que sofrem demais. A malda-

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de que se faz com o doente mental no interior é a morte, porque aqui em Mato Grosso eles morrem. Nós servidores da área psíquica e psiquiátrica acabamos sendo coniventes com essa situação, porque não somos capazes de abrandar esse sofrimento (do doente mental) das famílias. Na constituição fala-se que o Estado tem a obrigatoriedade de dar atenção e assistência e serviços. O Adauto Botelho chegou ao ponto de faltar remédio para doente mental. Oras, os doentes mentais já são rejeitados pelos municípios e em grande parte das vezes por suas famílias. Por conta disso ficamos rezando para que algum paciente do hospital seja mandado embora. Porque quando fica hospitalizado muito tempo passa a ter surtos dentro do hospital. O doente precisa estar em contato com a família, precisa de alternativas. COMO O ESTADO VEM TRABALHANDO ESTE PROBLEMA? »»As autoridades pretendiam diminuir vagas alegando que construíram no interior CAPS-Centro de Assistência Psico-Social. Realmente foram criadas, o governo paga R$20 mil para cada CAPS, para que se constitua uma equipe de um médico, uma enfermeira, um (a) assistente, perfazendo equipe mínima de 6 membros. Não há necessidade de ser psiquiatra, pode ser um clínico treinado. Deve ter algo em torno

de 30 a 40 unidades atualmente no interior do estado. Só que os médicos que estavam fazendo formação psiquiátrica desistiram por causa dos assédios excessivos em cidades do interior. Veja bem, o clínico geral aprendeu a clinicar, mas não aprendeu a lidar com o vereador, com a primeira dama e isso quebra todo o organograma: senhas, quantidades de consulta, a padronização, que é uma consulta por mês. Depois que a pessoa sai da crise tem direito a uma consulta por mês, vai ao CAPS pegar remédio, bater um papo. Só que a demanda é 200 vezes maior que a capacidade. Em Cuiabá no setor público quase não se contrata psiquiatra. O contrato é desestimulante. O profissional vai para a iniciativa privada, onde tem menos incômodos e mais ganho. ALÉM DO ADAUTO BOTELHO, EXISTEM OUTROS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS EM MT? »»Na cidade de Rondonópolis existe o hospital Paulo de Tarso, que é bem amparado pela sociedade e sempre tem recursos advindos, notadamente dos adeptos do espiritismo. Por conta disso o estado há 4 ou 5 anos vem diminuindo as suas responsabilidades, reduzindo aportes financeiros. QUEM RESPONDE PELO DOENTE MENTAL? »»A família é responsável direta pelo doente mental. A


EXISTEM MÉDICOS PSIQUIATRAS SUFICIENTES PARA A DEMANDA MATO-GROSSENSE? »»Temos aproximadamente entre 35 a 40 médicos psiquiatras em Mato Grosso. A grande maioria clinica em consultórios particulares, porque o estado não oferece condições atraentes de trabalho. O estado paga mal e cobra política de resultados. O governo federal e até algum tempo atrás, o próprio estado imaginavam que os médicos psiquiatras eram pais-de-santo, que resolvem as questões dos doentes mentais em terreiros de candomblé. NESSE MEIO EXISTE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA? »»No Adauto Botelho não se trata o doente com ques-

tões religiosas. No entanto, fora dali eu faço sempre. Um doente mental nunca me pediu para dar um passe para ele na casa dele. Estamos vivendo uma onda de intolerância religiosa. Está aí, todos os lugares que existem terreiros de candomblé estão tratando muito mal as Mães-de-Santo. Notadamente os mais velhos, porque os jovens são mais raçudos e não admitem esse tipo de comportamento. Tudo é falta de consciência religiosa. Eu não falo nem da fé, simplesmente do princípio da intolerância, da cultura, da antropologia, da sociologia. Teríamos que fazer como na Europa, não formar simplesmente por formar, mas sim formarmos cidadãos. Engenheiros e médicos com responsabilidade cristã. Temos que citar casos emblemáticos de desprezo pelos seres humanos a exemplo do edifício Palace II, construído pela Construtora Sersan, de Sérgio Naya. Se fosse nos EUA até pedreiro tinha sido preso, pois sabiam que a areia era do mar, que era proibido. Ninguém foi preso.

pois nada vem do nada, tudo é continuação, queiram ou não. O cosmo é muito grande para se alterar um átomo. Temos o livre arbítrio, mas para entendermos o que é isso temos que estudar. Não venham me dizer que os pobres de espírito terão o reino do céu, pois terão muitas dificuldades. Não sabemos porque pessoas nascem retardadas mentais, pode ser porque abusou de sua inteligência. Do mesmo jeito que sua ascensão é monitorada, no mérito, a sua queda também o é. A sua queda pode vir em muitas vidas, 10 ou 20, talvez. Você vai guardando na sua memória psíquica essa queda. Para o retardado mental só existe o abismo, imagine você saber que existe, mas não tem consciência. Até o macaco está tendo consciência, assim como o cachorro e uma série de animais que começam a ter consciência. Jesus falou: - “no dia que pararem de escutar a voz de meu Pai, até as pedras falarão”.

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doença pode ser manifestada na adolescência, através de drogas ilícitas e do álcool. O adolescente não sabe que vai desencadear a doença e acaba por desenvolver a psicose e inadequações sociais. Acaba desencadeando loucuras e esquizofrenia, mormente é internado e nisso a família, após algumas tentativas de reintegração social, percebem que ocorreram mudanças, pois a psicose, somada com drogas, desorganizaram a sua cognição e o indivíduo não consegue mais voltar em ao convívio em sociedade de forma normal. Por conta disso o doente acaba sendo abandonado dentro do hospital.

Chico Xavier O ESPIRITISMO ESCLARECE OS PROBLEMAS MENTAIS? »»Chico Xavier nos ensinou a saber quem fomos em vidas passadas através da observância de quem somos agora. Então se eu sei quem eu sou na atualidade posso ter melhor embasamento para autoanálise de vidas passadas. No mínimo sei que fui um leitor de Alan Kardek,

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RAĂ?ZES

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Religião

A Brasilidade em questão: uma visão do candomblé e a umbanda na sociedade POR MAURÍCIO VIEIRA

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FOTOS MARIA CAROL

rande parte das pessoas no Brasil simpatiza com o samba, carnaval, feijoada, acarajé, roda de capoeira e tantas outras expressões que contribuem com os traços que compõem a identidade do povo Brasileiro. Essas expressões demonstram a riqueza e a beleza, presentes em nossa diversidade cultural, que se originam das práticas ancestrais dos africanos que chegaram ao Brasil na condição de escravos. Hoje, estes traços culturais são conservados pelos Sagrados Terreiros de Candomblé e Umbanda que, em sua maioria, são formados por pessoas de variadas classes sociais; tanto homens quanto mulheres são os guardiões das expressões que compõem a pujança da cultura Brasileira.

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RAÍZES Vários Terreiros têm sido alvo de depredação e violência por pessoas que anonimamente invadem o espaço sagrado onde se pratica o culto e se cultiva a memória da nossa ancestralidade. O que leva tais pessoas a agirem desta forma? Uma resposta é possível: a falta de informação tem levado muitos ao erro. Outra pergunta pode ser feita sobre estas questões: o que representa um terreiro de Candomblé e/ou Umbanda e as manifestações das sagradas matrizes africanas? Já se passaram mais de dez anos da implementação da Lei Federal nº 10.639/03 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, obrigando a escola a inserir os conteúdos referentes à história e cultura africana e afro Brasileira. Ainda assim com o advento da Lei nº 10639/03, ao tratar questões referentes às religiões de matriz africana, imediatamente se constrói no imaginário coletivo situações diversas e inusitadas, que provocam a negação da possibilidade de aproximação destas religiões. Candomblé e Umbanda são religiões que trazem consigo sinais de ancestralidade e herança africana que reforçam o caráter religioso, e por esta herança africana são discriminadas da mesma maneira que ocorre no plano do preconceito racial. É necessário olhar o Terreiro como espaço educativo, considerando o conjunto de indivíduos, autônomos e independentes, que por uma série de ideais partilhados, por vontade própria obrigam-

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-se a aprender e trabalhar juntos, comprometendo-se e influenciando-se uns aos outros dentro de um processo de troca de conhecimento, sendo tudo conduzido de forma simples e dinâmica, porém através de uma beleza transcendental. As sagradas matrizes africanas são incompreendidas na sua forma litúrgica, que inclui a dança, comidas e suas vestes sagradas. O sagrado nas religiões de matriz africana se manifesta em espaços ecológicos que dão a dimensão da força da natureza presente no rito, sendo aquela representada pelos orixás: Iemanjá, Ogum, Exú, Oxum, Oxossi, Ossaim, Iansã, Xangô, Oxalá Oxumaré, Omulu entre outros. Tanto o sagrado feminino como também o sagrado masculino são representados e utilizam como campo energético mares, cachoeiras, matas e rios. O que temos acompanhado nas redes sociais e nos meios de imprensa sobre questões de “intolerância”, que prefiro denominar como violência contra Candomblé e Umbanda, é fruto de muitos anos de indiferença e invisibilidade. Hoje pessoas são impulsionadas a agirem de forma agressiva contra adeptos de religião de matriz africana, pelo simples fato de estarem na rua usando suas guias e sua roupa branca. Atitudes como estas revelam o perigo que há por trás de discursos ultraconservadores que pregam a existência de uma única verdade, violando a dignidade

da pessoa humana cujo direito à liberdade como princípio deveria ser garantido por um estado laico. É importante compreender que as diferenças, longe de serem motivos para discriminação e exclusão, devem ser motivos de riqueza, de aprendizagem de novos saberes, de troca de experiência que conduzem cada vez mais para a abertura e o acolhimento do ‘desconhecido’, do diferente, eliminando assim as barreiras que nos tornam intolerantes, que nos levam a ver no diferente um (a) inimigo (a) contra o (a) qual se deve lutar e manter distância. A lei nº 10.639/03 vem com a função de introduzir as reflexões em torno da história da cultura africana e afro Brasileira, tem como principal objetivo combater práticas racistas e discriminatórias também em relação às religiões de matriz africana, e este processo começa na escola, pois é ali que se começa a conhecer as noções de mundo e a partir daí compreender e respeitar a diversidade presente na sociedade. O encontro de religiões e de culturas é na verdade o encontro de pessoas religiosas que possuem saberes e culturas diferentes. Permitir o acolhimento do outro e da outra na sua alteridade, na sua diferença, faz acontecer um mundo onde os preconceitos e a discriminação sejam erradicados, na certeza de que ‘um outro mundo é possível’.


lumeMatoGrosso Imagens retiradas da Exposição “Oralidade, a História entre os lábios da Diáspora Afro-Brasileira no Cerrado.”

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RAÍZES

De Silvícolas a Indígenas Os índios na Constituição Federal de 1988 POR LOYUÁ RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, apelidada de Carta Cidadã, sem dúvida, trouxe um considerável avanço na garantia de direitos dos povos indígenas. Quando se faz um percurso pelas Constituições Federais do Brasil, inclusa a de 1824, a Constituição Política do Império do Brasil, e as de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988, as republicanas, verificam-se posicionamento ao reconhecimento dos povos indígenas como integrantes da sociedade nacional. Nas duas primeiras, 1824 e 1891, diante ao poder público, os índios permaneceram na invisibilidade. A de 1934, a de menor duração, clamou pela incorporação dos silvícolas à comunhão nacional e respeitou a posse de suas terras.


bre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Pela primeira vez na história das Constituições Federais, a União não determina incorporação dos índios à comunhão nacional. Não há dúvida de que a Constituição de 1988 está à frente das cartas constitucionais anteriores tanto em artigos reservados aos indígenas quanto em número de vezes que as palavras “índios” e “indígenas” inscrevem-se no referido instrumento normativo. Mais do que isso, percebe-se que, ao contrário aos objetivos do Serviço de Proteção ao Índio e da Fundação Nacional do Índio que determinaram integração do índio à sociedade Brasileira, reconhece os índios como integrantes na nação, respeitando sua autodeterminação. Outro ponto a ser destacado: a palavra “silvícola”, presente nas Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1967foi substituída por “índios” e “indígenas”. No dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, no verbete “silvícola”, lê-se: “que nasce ou vive nas selvas, selvagem, selvático”. Muito a refletir... É certo que a Constituição Federal de 1988 proporcionou significativo avanço aos direitos dos povos indígenas. Contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Torna-se necessário fazer valer o respeito

aos direitos conquistados pelos indígenas, uma tarefa de todos os cidadãos. Não se pode esquecer que interesses econômicos, antagônicos às práticas socioculturais indígenas, atingem territórios, aldeias e comunidades, quando desconsideram a existência do diferente. Não se pode esquecer das PEC (Proposta de Emenda Constitucional) e das PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A exemplo, da PEC 215 que pode paralisar a regularização de territórios indígenas e quilombolas ao dar a palavra ao Congresso Nacional. Como desabafou um indígena da etnia Xerente, de Tocantins: “É PAC para um lado e PEC para outro, tá difícil para os povos indígenas”. Sem dúvida, a Constituição Cidadã trouxe um novo paradigma na relação do Estado, sociedades indígenas e sociedade não indígena. Por força do texto constitucional, os índios nascidos no Brasil são considerados cidadãos Brasileiros como todos os demais; são titulares de direitos e deveres inerentes à cidadania. Portanto, de “silvícola” a “índios” e “indígenas”, um reconhecimento que deve ser levado em consideração. Mas, todo cuidado é pouco porque Constituições Federais podem ser “emendadas”.

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Em 1937, chegou uma nova Carta Magna, apelidada de “polaca”, inspirada no ideário fascista. Nela, determinou-se respeito aos “silvícolas”e a posse permanente de suas terras. Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946, a União continuou com o propósito de incorporar os “silvícolas” à comunhão nacional, respeitando a posse das terras onde se achavam permanentemente localizados, sem que tivessem direito à transferência a outros. De caráter ditatorial, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, deu aos “silvícolas” três artigos que não trouxeram avanços, se comparada às anteriores. Já a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, é a que mais reserva artigos aos indígenas. São, ao todo, 16 vezes que as palavras “índios” e “indígenas” aparecem na Carta Magna. Como as anteriores, a União, que deve legislar sobre as populações indígenas, reconhece “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” e tem o Congresso Nacional competência para autorizar a “exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais”. Em termos de reconhecimento de um país pluriétnico, são os Artigos 231e 232 e respectivos parágrafos que reconhecem “aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários so-

Loyuá Ribeiro Fernandes Moreira da Costa é graduada em Direito pelo Univag Centro Universitário

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MITOLOGIA

Munduruku Quando mandavam as mulheres

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UNDURUKÚ Tronco linguístico tupi. Terra Indígena Apiaká-Kayabí. Cada povo vive uma cultura própria, com especificação de língua, costumes, organização militar, estrutura política, cosmovisão, religião. Em tempos que vão longe, as mulheres habitavam a Casa-dos-Homens, e os homens estavam alojados em vasta casa coletiva. Os homens tinham de fazer todo o trabalho para as mulheres: caçar, plantar, buscar lenha, desenterrar a mandioca, espremer e fornear a farinha. Essas eram suas tarefas. E, como se isso não bastasse, também iam buscar água no rio. Foi nessas priscas eras que três mulheres - Ianiubêri, cacique do povo munduruku, Taiumburu e Parauerê, acharam três flautas chamadas caduqué. Encontraram-nas num riacho e três peixinhos as tiraram da água. As mulheres as experimentaram. — Que som bonito! disseram elas.

Então passaram a tocá-las na mata, todos os dias. E para isso saíam de casa, às escondidas. Os homens começaram a desconfiar. — Aonde irão sempre as mulheres? Acabaram por esconder-se a fim de melhor espreitá-las. E as encontraram tocando as suas flautas. — Que devemos fazer? - perguntaram-se. Mas os irmãos mais novos de Ianiubêri, que se chamavam Marimaberê e Mariburubê, propuseram: — Tiremo-lhes as flautas! Elas nem sequer vão à caça e nós temos de fazer todos os serviços! Aceita a proposta, furtaram-lhe as flautas. E também as experimentaram. — Que som bonito! disseram eles. E passaram a tocá-las. As mulheres ficaram muito tristes porque já não dispunham de suas flautas. Soluçando, entraram na grande casa. Assim, os homes se apossaram da casa coletiva, que ficou sendo a Casa-dos-Homens.

Texto recolhido pelo historiador, militar e político Couto de Magalhães, publicado no livro “O Selvagem”, reeditado pela Companhia Editora Nacional, Coleção Brasiliana.

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