REVISTA PIXÉ
68
TEMPO Aquilo que possuo e me possui, e que, se cerco, ergue cercos outros em torno aos muros fracos, muros poucos, que ergui; aquilo que constrói e rui meu corpo; que já traz numa só mão meu corpo e aquela morte que é a sua (se cada corpo nasce já com uma), meu corpo e aqueles beijos que serão os seus (se morre sempre sem dar todos); aquilo, ainda, que me tira tudo e tudo dá a mim; o que procuro, mas que me encontra sempre e eu não encontro. Aquilo, enfim, que dá-me o amor de um homem de sexo em riste – e nos apaga os nomes.
A mão que arde no arbusto é a mesma que arde no sexo do amado é a mesma que arde na areia e na espuma a mão que arde no sexo do amado é a mesma que faz a cama com vagar entre paredes altas mais alto o ardor branco da cama feita, apaziguada. A mão que arde no branco da cama é a mesma que limpa fezes e a mesma posta contra a luz de relâmpagos à noite a mesma que abre o pão é a mão a mesma. Em cada coisa o vagar, em cada coisa o furor mudo.