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REVISTA PIXÉ
POEMA SEM LUGAR Eu sou de um lugar que não mais existe Onde nasci, sequer fiquei Onde cresci, os terrenos cheios de verde e vida foram aos poucos sendo substituídos por concretos e tristezas Histórias foram construídas onde antes o vento passava leve e os pés de mamona cresciam selvagemente Eram aquelas as mesmas mamonas que brincávamos em guerras imprudentes A rua, de chão batido e que nos deixava da cor da terra, foi aos poucos dando lugar a uma outra tonalidade acinzentada Chamavam aquilo de progresso, mas lembro de ser apenas asfalto quente e duro, que ralava nossos joelhos e trazia o vermelho-sangue à tona Eu sou de um lugar que não mais existe Tudo foi sendo aos poucos substituído Da memória que busco vez em quando, nada sobrou Saudade é um naco de apagamento: nada do que se lamenta ter passado existe em outra dimensão Tiraram as árvores Tiraram a terra E, a cada retirar, o sangue também foi dando lugar ao nada Eu sou de um lugar que não mais existe E esse lugar é agora