Matheus Gerlach - Produto de moda: modelando a sensualidade feminina no século XXI

Page 1

PRODUTO DE MODA: MODELANDO A SENSUALIDADE FEMININA NO SÉCULO XXI Matheus Gerlach1 Daniela Nogueira2

RESUMO Na atualidade contemporânea, a sensualidade feminina manifesta-se em personas com características específicas que utilizam as roupas para sua representação acompanhando atitudes e discursos pessoais. Este artigo descreve o processo de um projeto de coleção que parte da identificação teórica dos tipos de personas sensuais e do estudo da modelagem como técnica para a representação dos traços sensuais. Por meio de pesquisas bibliográficas e o uso da metodologia de design de Bruno Munari, que estimulam o processo criativo na fase de experimentação de modelagem, o desenvolvimento da coleção apresenta para três diferentes personas sensuais, 15 looks projetados a fim de idealizar códigos e expressões da sensualidade feminina por meio da roupa.

Palavras-chave: sensualidade, modelagem, criação, design

1

Aluno do sexto período do curso superior de tecnologia em design de moda da faculdade de tecnologia Senai Curitiba 2 Professora orientadora


1 INTRODUÇÃO A mulher que busca expor seus sentidos, busca também um meio de fazê-lo. A aceitação e celebração do corpo estão em evidência no século XXI, motivando a mulher a expressar-se de diversas formas. A moda é um destes recursos, que expressa, dentre outros sentimentos, a sensualidade (CANNALONGA, 2016). Na busca por ser sensual, o público feminino encontra na moda uma forma de representar-se, muitas vezes baseada nas informações que recebe por meio da mídia e da sua própria percepção do que é ser sensual. Abre-se com isso um espaço para identificar os diferentes tipos de sensualidade, levando essa informação ao público consumidor. Em vista disso, questiona-se como apresentar uma coleção com traços da sensualidade que possa ser representada pela técnica da modelagem e outros recursos como material, cor, textura e estilo? Para tanto, inicia-se a investigação com uma pesquisa bibliográfica para identificar os conceitos principais do estudo e quais são os tipos de sensualidade feminina que caracterizam, para a moda, as personas no século XXI. Posteriormente, dentro da metodologia do design de Bruno Munari, inserem-se processos de experimentação de técnicas de modelagem a fim de trazer, para um público-alvo específico, códigos de sensualidade feminina, interpretados nas roupas da coleção proposta. 2 A SENSUALIDADE, O CORPO E A MODA A sensualidade está relacionada à sexualidade e a atitude sexual. Porém dentro do contexto da sensualidade, existem outras formas de apresentação. De acordo com Castilho (2009), desde os primeiros momentos da história do vestuário, a roupa está associada à sexualidade. Algumas tribos Australianas cujos membros andavam nus usavam alguns tipos de vestes em certos ritos e danças, do qual a finalidade era a de despertar atração sexual.


Segundo Santana (2002) as diversas variantes de sexualidade deixaram de ser dados constrangedores, para tornarem-se fortes elementos de sedução baseados na representação corporal. São inúmeras as formas que o corpo pode assumir para criar uma figura sensual. Segundo Castilho (2009) pode-se definir a figura do corpo sensual em 4 partes: “o ser” e “o parecer”, e “o não-ser” e “não-parecer”. A figura do “ser”, é representada pela aceitação do corpo in natura, da forma que assim cresceu, e assim aceitou-se, não usando de artifícios para modificá-lo. Faz parte da estética do natural e do corpo por si só. O “parecer” usa de artifícios e das roupas para a construção do corpo desejado. As imposições sociais e da mídia o influenciam para criar a imagem do corpo “sensualsexual”. Essa figura aparece com os artifícios de vestir para a moldagem e mudança do corpo, a exemplo do espartilho para afinar a cintura ou do bojo para aumentar os seios. A figura “não ser”, usa dos artifícios da roupa para desconstruir a ideia de um corpo padrão mídia, escondendo a estrutura do corpo natural e encontrando uma nova forma, como por exemplo, a cultura das drag queens, que usam de artifícios como enchimentos e espartilhos para desconstruir a figura masculina e criar uma nova visão do corpo feminino. Na “figura não-parecer”, não se faz uso da nudez, ou da modificação do corpo através de roupas, mas sim da exibição do mesmo através da roupa. A exibição das formas através do uso de materiais que desconstroem a ideia de corpo e passa assim a deixá-lo com um novo aspecto, instigando a curiosidade. O corpo sensual feminino, nada mais é que a realização do desejo da mulher por determinada forma para apresentar-se, tanto na forma física como em forma de status ou comportamento. Para isso, recorrem à moda, à medicina e a outras formas de chegar ao corpo ou imagem ideal para si. Segundo Lima (2008), a imagem da mulher vai sendo construída pela publicidade e também por outros discursos sociais como o político, religioso e jornalístico. Logo, o que constrói o corpo sensual, são suas aspirações, vindas da mídia, de estilos de vida ou até mesmo da religião. Definir sensualidade no vestuário traz à tona os motivos de vestir de forma sensual, e o porquê de aparecer sensual (SANT’ANNA, 2002). O eixo corpo, moda e


sensualidade podem ser definidos através de uma persona assumida diante do momento. A relação de sensualidade e moda também está conectada ao vestuário e a atitude apresentada junto a essa forma de se vestir. Como afirma Aquino (2012), a sensualidade se refere à carne, enquanto é o apetite das coisas que pertence ao corpo, e como partes que pertencem a um corpo, as roupas influem na sua forma de ser sensual, ou no comportamento usado junto à roupa. A moda esteve para a sensualidade desde sempre sendo a sua maior fonte de recursos. Quando a mulher busca a sensualidade, o primeiro artifício usa para a construção do estilo é a roupa, que serve para vestir e despir. A mulher que busca chamar a atenção busca em primeiro lugar à moda. O impacto visual é muito forte quando se trata de sensualidade. O consumidor que buscava algum produto por sua utilidade, hoje confere ao bem de consumo um forte peso simbólico e, por isso mesmo, assumem a condição de verdadeiros canais de auto expressão através dos quais o consumidor edifica sua identidade. (SOUZA, 2012) Dentro da oferta de identidades que a marca oferece ao consumidor, para a determinação de sensualidade na moda, surgem criadores que são conhecidos por caracterizar códigos e signos referentes à posição de mulher sensual. 3 SENSUALIDADE E PERSONAS Assumir uma postura, perante alguma situação ou através de algum meio, como as roupas, por exemplo, pode ser definido como persona. Personas são arquétipos, personagens ficcionais, concebidos a partir da síntese de comportamentos observados entre consumidores com perfis extremos (RUSSO et al, 2012) São representadas por motivações, desejos, expectativas e necessidades de uma pessoa. Na moda, o usuário pode assumir nova personalidade, ou persona, através da roupa que está usando. Um tecido, uma silhueta ou um conjunto de informações das quais a pessoa não está habituada a usar, quando inserida, pode causar esse efeito, o de arquétipo ou personagem.


A criação de um personagem a partir da roupa é de forma consciente ou subconsciente feita de maneira histórica. Romanato (2011) afirma que na Grécia Antiga, para entrar em cena, os atores usavam máscaras e cada uma delas representava uma personagem e, graças a ela, a plateia logo identificava seus principais traços psicológicos, sua persona. Assim como na moda, ao vestir determinada roupa, o usuário determina a persona a assumir. Assumir a postura de uma persona através do vestuário pode resultar na criação de uma figura sensual. Situações interativas requerem uma atenção e fazem com que o sujeito tenha um cuidado particular com o embelezamento do corpo, que o leva a estruturar atrativos para mostrá-lo e posicioná-lo perante o “outro” (CASTILHO, 2009). O ato de embelezar-se e assumir determinada posição associada à roupa tem aqui a finalidade de sedução, de sentir-se confiante e capaz de seduzir. Como afirma a autora supracitada, as contínuas recriações do corpo procuram despertar a curiosidade no outro para querer olhá-lo. O ser humano visa, por meio do traje - e de qualquer adorno-, marcar sua presença no mundo, e a articulação entre corpo e vestimenta já nos dá uma direção, um sentido para o sujeito (CASTILHO, 2009). Desta forma, conclui-se, que a partir do uso de determinadas roupas em determinadas posições, torna o sujeito em um personagem que expressa sua sensualidade. A seguir, é dividida a relação de persona e sensualidade em três caminhos diferentes para a definição da mulher sensual. 3.1.1 Sensualidade/Sexualidade Esta é a forma de parecer sensual, com a finalidade de exibir e marcar o corpo. Aqui aparece uso de determinado tecido ou textura para destacar a figura do corpo, suas curvas e formas. Esse tipo de sensualidade assume uma conotação mais acentuada de passividade, um verdadeiro objeto submetido à apropriação alheia, a figura da mulher parece assumir uma condição de inferioridade, limitada à simples receptividade diante de seu predador. (SOUZA, 2012). Exibir o corpo, com um decote ou uma fenda, por exemplo, é uma forma de mostrar um físico escultural ou a atitude de um corpo saudável. Homens e mulheres


dedicam boa parte de seu tempo em academias e cuidando da alimentação para obterem corpos saudáveis e malhados. Como exemplo, a cantora Beyonce (Figura 1), exibe a forma feminina através de malhas justas. FIGURA 1 – SENSUALIDADE/SEXUALIDADE

FONTE: reprodução Instagram (2016)

O uso de roupas coladas, tecidos elásticos e partes desnudas, tem a finalidade de exibir o corpo. Sendo esse tipo de sensualidade-sexualidade, uma forma de impressionar o outro. 3.1.2 Sensualidade/Instigar Esse tipo de sensualidade mostra-se por atitudes e elementos da construção da roupa. A mulher escolhe uma parte do corpo para colocá-la em destaque e, ao invés de mostrá-la diretamente, destaca-a cobrindo e instigando o toque ou a forma do corpo. Segundo Castilho (2009) podemos entender que o sujeito seduz, revelando seu corpo nu, ao mesmo tempo em que o vela e assim por diante. O sujeito seduz também pelo contrário, velando o seu corpo, por meio de trajes pertinentes a moda, que ocultam certas partes e regiões do corpo e evidenciam outras.


Como mostra a figura 2, a cantora Rihanna, em campanha para Dior, que instiga atraindo o olhar para seu corpo com jogos de transparências e texturas, deixando subentender uma “nudez vestida”. FIGURA 2 – SENSUALIDADE/INSTIGAR

FONTE: reprodução Facebook (2016)

É também um tipo de sensualidade atrelada à atitude do individuo. A mulher que conhece os limites e potenciais de seu corpo, e assim, o tem para ser sensual. Também tem a finalidade de impressionar o outro, porém com o uso de uma atitude ou postura, ao invés de evidenciar alguma parte do corpo. 3.1.3 Sensualidade/Vaidade Com a propagação da internet e o crescimento das redes sociais, as pessoas cada vez mais buscam construir uma autoimagem, e parecer atrativas para si mesmo. Segundo Vasone (2016), o foco aparece mais na ideia de sedução como instrumento de vaidade do que para fins sexuais. Parecer de bem consigo, e atrativo, sem o intuito final de seduzir alguém, que não a sí próprio, vem cada dia mais aparecendo, tanto na mídia, quanto nos perfis pessoais de redes sociais. A empresária Kim Kardashian é um


exemplo da mulher que sensualiza para si, se auto afirmando através de suas inúmeras selfies (Figura 3). FIGURA 3 – SENSUALIDADE/VAIDADE

FONTE: reprodução Instagram (2016)

Para o autor supracitado, algumas campanhas publicitárias, tanto antigas quanto as de hoje, colocam homens e mulheres de forma que aceitem seu corpo da forma que é, em contra mão com grandes canais, que ainda definem padrões de beleza, que estão perdendo força. Novas agências de modelos e alguns criadores abordam a forma de ser sensual a partir do corpo natural, isso só reforça a ideia de que, ser e mostrar-se sensual, é importante apenas para você mesmo, e não para exibir-se com fins sexuais. 4 SENSUALIDADE E CRIADORES DE MODA A característica sensual da roupa, que é dada através da atitude do usuário, é formulada através da escolha da modelagem e dos materiais a serem confeccionados, o que difere o estilo e o tipo de sensualidade a ser apresentado, e também de um conjunto de símbolos que constroem aquela ideologia. Os criadores de moda, ao explorarem transparências, decotes, peças que valorizam e expõem partes do corpo, pensam, explicitamente, num determinado padrão estético (GOLDENBERG, 2007).


O ser sensual, usando dos recursos da moda, definiu quais são os códigos de modelos, materiais e estilos que caracterizam a figura da mulher sensual. Por trás disso, estão os criadores de moda, que mostram figuras de personas sensuais em suas criações, criando assim, uma extensa cartela de variantes modelos e estilos referentes a figura feminina sensual. Segundo Hollander (1996), os criadores usam tecidos de um modo escultural, como se fossem uma extensão da pele em movimento, modelando-o diretamente sobre o corpo para obter uma composição tangível e completamente plástica. Conforme fala Castilho (2009), o corpo vestido apresenta-se pela articulação das características do corpo físico em conjunção com as características da roupa. Os criadores, desde o princípio, buscam entender os desejos do corpo feminino, trabalhando-o de forma a deixá-lo sensual. Por volta dos anos 20 e 30, estilistas como Alix Grès e Madeleine Vionnet eram especialistas em sugerir os prazeres do toque (HOLLANDER, 1996). As marcas que se caracterizaram por códigos de sensualidade feminina, são as que buscaram trabalhar inovando a figura da mulher de forma que não se perdesse a linha de feminilidade ou a postura sensual. Por exemplo, criadores e marcas como Alexander McQueen, Gaultier, Dolce & Gabanna e Balmain, abordam elementos típicos de uma figura feminina sensual. Criadores como Versace, Valentino e Gaultier, apresentaram coleções femininas carregadas de elementos que tornam a mulher sensual. Materiais com aspectos atraentes ao toque, e elementos como fendas, cinturas ajustadas e decotes comportados, tornaram-se comuns dentro dessas marcas. O estilista Gianne Versace ficou conhecido por aumentar o tamanho das fendas nos vestidos, e fechá-las com grandes alfinetes dourados, dando a entender que a mulher ficaria facilmente nua ao desatar os fechos (Figura 4).


FIGURA 4 – VESTIDO VERSACE

Fonte: Telegraph.co.uk (2016)

Criadores como Azzedine Alaia e Thierry Mugler, desenharam a mulher sensual, cada um a sua maneira, e com materiais e cortes que, caracterizavam além de sensualidade, marcas registradas. Thierry idealizou a imagem de uma mulher sombria e sexy. Já Alaia, constrói a imagem feminina sensual a partir do corpo da mulher, corrigindo suas imperfeições, salientando suas qualidades e características, sugerindo os aspectos mais desejáveis do corpo feminino, e ao mesmo tempo, impedindo o acesso a ele (BAUDOT, 2000). Como demonstrado na Figura 5, Alaia define as formas femininas, deixa escapar recortes de pele, ao mesmo tempo em que os prende por tiras apertadas.


FIGURA 5 – GRACE JONES POR ALAIA

FONTE: Examiner.com (2016)

Tornar a mulher sensual vem da sensibilidade do olhar de cada criador, para o qual o estilo de criação que é apresentado encontra no corpo da mulher a oportunidade de ganhar vida. Para materializar as ideias de criação e ideais de sedução feminina, criadores usam de métodos de criação, ou criam seu próprio esquema, a fim de conceber suas coleções. 5 DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO 5.1 Metodologia Projetual para o Design de Moda Para Saltzman (2008) e Löbach (2001), o design nasce de uma ideia e concretiza-se numa forma. É ideia, projeto ou plano para a solução de um problema, e consiste em dar corpo a esta ideia, e com a ajuda dos meios correspondentes, permitir


a sua transmissão aos outros. Löbach (2001) caracteriza o processo de design como um processo criativo e também um processo de solução de problemas. A partir da problemática a ser resolvida, ao apresentar uma coleção com traços da sensualidade que possa ser representada pela técnica da modelagem e outros recursos como material, cor, textura e estilo, tanto a criação, como a técnica e o planejamento são fundamentais e devem encontrar em uma metodologia projetual, meios para sua resolução. Para a moda, o design usa-se de alguns recursos para sua execução e para atingir os objetivos específicos, que tratam da concepção da coleção. Foi utilizada a metodologia de Bruno Munari como apoio central para as etapas de concepção criativa da coleção e para a definição das funções prática, estética e simbólica da roupa, utilizou-se a metodologia de Gui Bonsiepe. Para o planejamento da coleção de moda, foi utilizada a metodologia de Doris Trepdow. 5.2 Etapas De Concepção e Desenvolvimento As etapas de coleção de moda (cronograma, público-alvo, pesquisa de tendências do segmento escolhido, tema, conceito da coleção, cartela de cores, cartela de materiais e aviamentos, de estampas e bordados, planejamento de coleção, coleção e produção de moda) foram desdobradas e encaixadas dentro da metodologia de design de Munari (1981). Para Treptow (2013), o método de criação desdobra-se em algumas etapas, entre elas: planejamento, cronograma, pesquisa de tendências, desenvolvimento e fase da realização. As etapas do autor Bruno Munari são divididas em: problema, definição do problema, componentes do problema, coleta de dados/similares, criatividade, materiais e técnicas, experimentação e testes, modelos, desenho de construção, solução e a verificação. A fusão entre as metodologias projetuais privilegiou o processo criativo e de experimentação de Bruno Munari, a função prática quanto a ergonomia e modelagem, função estética quanto ao aspecto de sedução para o público feminino e a função


simbólica quanto a identidade, e conceito da coleção e o planejamento de produtos de moda da autora Doris Treptow. Em ambos os autores, foram selecionadas etapas projetuais que melhor contribuíram para o processo de criação e concepção da coleção de moda que traga os códigos de sensualidade. Assim o desenvolvimento da coleção inicia-se com a definição do problema e seus componentes identificados por como apresentar uma coleção de moda com características sensuais. Na sequência, foi feita a análise dos componentes do problema, identificados como transitoriedade entre personas, sazonalidade e ocasião de uso, e pesquisa de estado da arte, definindo o que há no mercado. Intercalou-se a etapa de Munari, as etapas de desenvolvimento de coleção de Treptow (2013) e o tema sensualidade, a partir das pesquisas teóricas, delimitou o público-alvo e deu sequência a definição de tendências de comportamento,como mostra a figura 6, evidências de tendência na internet. FIGURA 6 – EVIDÊNCIAS DE SENSALIDADE E COMPORTAMENTO

FONTE: O autor (2016)

O público foi caracterizado e identificado em redes sociais, tais como Facebook e Instagram. O conjunto de códigos de sensualidade foi encontrado em meninas de 18 a 25 anos, com base em seus interesses, eventos e curtidas. Todo o resultado foi


computado no formato de tabelas, para a melhor visualização dos tipos e dos momentos de cada persona (Figura 7). FIGURA 7 – PÚBLICO ALVO

FONTE: O autor (2016)

5.3 O processo criativo da coleção – códigos para interpretação tabela Ao utilizar a metodologia de Munari, e concentrar-se na sua etapa de criatividade, experimentação e testes, determinou-se que a criação traria para o público a expressão dos códigos de sensualidade para as três personas que formam o públicoalvo. O ritmo e o processo de execução de cada designer são variáveis, podendo seguir etapas pré-determinadas, ou seguindo etapas de um processo próprio. Portanto, a partir da definição de tema, conceito e cores, baseadas no livro de fotografias SEX BOOK, lançado em 1992, estrelado por Madonna e fotografado por


Steven Meisel (Figura 8). Ao abordar temas como fetiche, sexualidade e feminismo, assuntos ligados ao público, materiais e acessórios destes universos, serviram de inspiração para a aplicação em detalhes da coleção.

FIGURA 8 – SEX BOOK

FONTE: achtung.photography.com (2016)

O conceito de criação estendeu-se para a cartela de cores como o preto e o vermelho. Tonalidades terrosas e esverdeadas surgem a partir das tendências de moda e das preferências do público, pontuadas por branco e dourado, assim atendendo as características das três personas em destaque. A referência da escolha dos aviamentos e materiais seguem adequação ao que o público busca, e que também atendessem os códigos de sensualidade, sendo que para os materiais, ainda haveria uma definição quanto a sua escolha após a etapa de experimentação. As continuações das etapas de metodologia de design e de coleção de moda seguem a partir do próximo tópico, onde são abordadas as técnicas e experimentações de modelagem para a construção da coleção. 5.4 A experimentação da modelagem na representação das personas


Para Munari, o uso de materiais e técnicas deve sair de seu uso comum, e serem aplicadas em novos formatos, assim, foram repensadas as técnicas de modelagem e costura, aviamentos e tecidos. Inicialmente foram caracterizados os códigos que configuram cada persona. A apresentação na forma de tabela (Figura 9) facilitou a visualização da relação de códigos sensuais das respectivas personas e em seguida, quais técnicas de modelagem e costura interpretariam esses códigos. FIGURA 9 – TABELA DE CÓDIGOS

FONTE: O Autor (2016)

Aplicando os códigos e técnicas contidas nas tabelas foram realizadas geração de 120 modelos de alternativas, posteriormente passadas a limpo para definição de modelos iniciais que dariam início as experimentações e testes. Foram usadas modalidades de modelagem plana, modelagem tridimensional e costura. (Figura 10)


FIGURA 10 – MODELAGEM PLANA, MODELAGEM TRIDIMENSIONAL E COSTURA

FONTE: O Autor (2016)

Seguindo os modelos base, foram realizados estudos em modelagem plana, modelagem tridimensional e prototipagem, e conforme se dava os estudos e testes, os modelos base tomavam nova forma, adequando-se aos resultados dos testes. (Figura 11). FIGURA 11 – PROCESSO DE ESTUDOS E TESTES

FONTE: O Autor (2016)


Depois de concluída a experimentação, o teste ou estudo, a peça era passada a limpo, ganhando modelagem plana e um novo desenho (Figura 12), mostrando as mudanças e quais técnicas o modelo possuía, podendo assim, confirmar nas tabelas, a adequação aos códigos e características de cada persona. FIGURA 12 – PEÇAS E TÉCNICAS

FONTE: O Autor (2016)

Com a etapa de representação das personas por meio de técnicas de modelagem plana, definiu-se o uso de técnicas como transferência de pence e deslocamento de linhas na modelagem plana, criação de volume e elasticidade na modelagem tridimensional, prototipagem e tipos de acabamentos obtidos através da costura. Com isso foi possível planejar a coleção, inserindo maior racionalidade para o processo criativo em andamento.


5.5 O planejamento após a experimentação O desenvolvimento do projeto de coleção teve um aspecto importante no que se refere a metodologias do design e o processo criativo para produtos de moda. Buscouse, dentro de um cronograma destinado ao projeto, dar profundidade a etapa de modelagem, inserindo-a como ferramenta do processo criativo, para depois, planejar a coleção, definido quais técnicas seriam usadas em seus respectivos modelos para cada persona. Segundo Munari, devem ser criados desenhos de construção suficientes para evidenciarem de forma clara todos os aspectos, e que caso os desenhos não bastem devem ser criados modelos em tamanho natural e semelhante ao definitivo. E esse foi o processo que se deu. A fim de fazer a criação fluir, foram criados diversos esboços de modelos, que geraram a criação de modelos base, para então, posteriormente serem realizados testes de modelagens em tamanho real. O mix de coleção geralmente é uma etapa que inicia o processo criativo e de desenvolvimento de produtos de moda. Entretanto, aqui ele ocorreu depois das experimentações com tecidos, gerações de alternativas desenhadas e estudos de modelagem. Essa estratégia serviu para fomentar o processo criativo e a sinergia com o ambiente laboratorial de costura e modelagem, foram desenvolvidos diversos modelos e suas variantes, sem uma especificação ou quantidade prévia. Somente após a conclusão dos modelos definidos foi criado o mix de coleção, encaixando as peças finais, e descartando as que não estabeleceram uma unidade de coleção, ou que não atenderam o conceito final e viabilidade de produção. Em todo o momento de criação, foi dada atenção especial, para que todos os modelos propostos se enquadrassem em cada uma das três personas, e que ao mesmo tempo transitassem entre si, e entre estações. A tabela de organização de modelos, (Figura 13) também possibilita definir ocasiões de uso, como por exemplo, peças para o lazer ou para o trabalho, cruzando informações de persona e de sazonalidade.


FIGURA 13 - ORGANIZAÇÃO DE MODELOS

FONTE: O Autor (2016)

5.6 Resultado Tendo como ponto de partida a identificação de um público-alvo que se caracterizou por três diferentes personas (sexual, instigar e vaidade), o processo criativo avançou e com as técnicas de modelagem definidas foi proposta uma coleção que buscou inspiração no modo de vida do público, em suas preferências e nos temas do Sex Book, gerando o resultado planejado (Figura 14).


FIGURA 14 – A COLEÇÃO

FONTE: O autor (2016)

As peças para a persona sensualidade/sexualidade, são caracterizadas por transparências, peças justas e amarrações. A persona sensualidade/instigar é marcada por peças soltas, fendas e volumes. E as peças da persona sensualidade/vaidade, tem


a cintura marcada, peças forradas e chamativas. Mesmo criadas a partir de determinada persona, as peças são coordenáveis entre as três, arrematando o público sensual. Os códigos que caracterizam cada persona foram transpostos na forma de materiais, cores e modelagem. Como por exemplo, para a persona sensual/vaidade, código: ego, característica: pence, técnica: transporte de pences. Outro exemplo é o de sensualidade/instigar, código: corpo marcado, característica: malha ou elastano, técnica: moulage para definição de elasticidade (Figura 15). FIGURA 15 – APLICAÇÃO DE CÓDIGOS

FONTE: O autor (2016)

Foram confeccionados quatro looks, uma para cada persona e um extra. A produção fotográfica registrou o efeito final da coleção, com as peças mostradas em estilo look book conceitual (Figura 16), apresentando a ideia inicial de forma clara: sensualidade e personas.


FIGURA 16 – LOOK BOOK

FONTE: O autor (2016)

O resultado são produtos de moda que pontuam a sensualidade feminina através da construção de modelagem. Observando os códigos de vestir do público, as peças apresentam características que, através do olhar de design de moda, foram traduzidos de forma leve e sensual. A tendência e o estilo de criação são evidenciados através dos shapes e dos detalhes que as peças carregam. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS É de grande importância, para o criador e para a moda, a identificação de diferentes estilos ou personas dentro de um público, pois na atualidade o público alvo


tende a se ramificar por meio de micro nichos. Ao optar pelo público sensual, a necessidade de definir sensualidade, apenas por um estilo único, deixaria de fora outras nuances e preferências de personas diferentes que abrigam o estilo sensual. Não apenas para a sensualidade, mas dentro de cada estilo, existem personas diferentes que o público assume. Identificá-las possibilita interpretar e aprofundar a necessidade e o desejo de cada usuário. Alinhar teoria e prática permitiu que a coleção deixasse evidente todo o aspecto de sensualidade, desconstruído a relação de sensualidade e vulgaridade ou de qualquer ponto negativo atribuído a ela. A separação de personas e características permitiu que as técnicas e as experimentações definissem o planejamento da coleção, pontuando elementos para a unidade de coleção. O processo criativo foi se adaptando ao longo das experimentações

e

do

planejamento,

para

que

a

coleção

final

alcançasse

características comerciais e de significado para o público, podendo ser revisto e refinado ao longo do trabalho. Foi de fundamental importância utilizar metodologias de design, tanto de produto como de moda, na obtenção dos resultados. O desafio projetual esteve sempre entre a presença do criador e suas características já definidas de gosto, estilo e processo criativo e o entendimento do público que recebe a coleção, tornado esse um processo industrial, no qual ressalta-se o olhar contemporâneo da criação de moda.

7 REFERÊNCIAS AQUINO, T. As criaturas espirituais. Rio de janeiro: E-papers, 2012. BAUDOT, F. Alaia. São Paulo: Cosac & Naify, 2000. CANNALONGA, F. Beleza feita em casa, autonomia e empoderamento. Ponto Eletrônico. Disponível em: http://pontoeletronico.me/2016/beleza-natural/ Acessado em 19 nov 2016. CASTILHO, K. Moda e linguagem. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2009.


GOLDENBERG, M. Nú e vestido. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. HOLLANDER, A. O sexo e as roupas. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. LAKATUS, Marina De Andrade Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2014. LIMA, J. A imagem do feminino na publicidade contemporânea: estudos de caso. Fortaleza, 2008. Curso de comunicação social publicidade e propaganda. Faculdade 7 de setembro. LÖBACH, B. Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: Edgard Blücher, 2001. 206 p. MUNARI, B. Das coisas nascem coisas. São Paulo: Martins Editora, 1981. PANAMBY, S. Manipulações corporais como processos de (des)construção éticoestéticas. Rio de Janeiro, 2013. Universidade Federal Fluminense

ROMANATO, D. A semiótica e a moda. Salto/SP. 2011. Unicamp. SALTZMAN, A. Design de moda: olhares diversos: O design vivo. 2 ed. São Paulo: Estação das letras e cores editora, 2008. SANCHES, M. Design de moda: olhares diversos: Projetando moda: diretrizes para a concepção de produtos. 2 ed. São Paulo: Estação das letras e cores, 2008. SOUZA, I. Movimento sensual: um estudo da natureza na publicidade de uma marca de moda praia. Pernanbuco, 2012. Universidade federal de Pernanbuco VASONE,C. Sexo na moda ainda vende?.FFW. Disponível em: http://ffw.com.br/blog/moda/sexo-na-moda-ainda-vende/. Acessado em 11 maio 2016. RUSSO, Maurício Vianna Ysmar Vianna Isabel K. Adler Brenda Lucena Beatriz. Design thinking: Inovação em negócios. 1 ed. Rio de Janeiro: MJV press, 2012


TREPTOW, D. Inventando moda: planejamento de coleção. 5. ed. Brusque: do Autor, 2013. TREVISAN,B. O que é empoderamento?. Disponível em: http://www.revistacapitolina.com.br/o-que-e-empoderamento/ .Acessado em 13 jun 16 13 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES BAXTER, M. Projeto de produto. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2011 FISCHER, A. Construção de Vestuario. Porto Alegre: Bookman, 2010. BONSIEPE, G. Design como prática de projeto. São Paulo: Blucher, 2012.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.