Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 03/06/17

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8 | Caderno3

DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 3 E 4 DE JUNHO DE 2017

CONTRAPLANO AVENTURA

AÇÃO

A jornada da heroína valente

Aventura pirata em alto mar

Ainda que deslize em sua concepção, “Mulher-Maravilha” é um acerto da DC Comic após desastres DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema

D

e forma geral, o cinema é predominado por homens. A presença feminina sido assunto de debate nos últimos anos, servindo de pesquisa para instituições que defendem a redução da desigualdade de gênero. Recentemente, cineastas e atrizes falaram sobre o assunto no Festival de Cannes, que teve Sofia Coppola consagrada melhor diretora do festival, reconhecendo que os números estão mudando vagarosamente, mas que ainda há muito a fazer para conquistar respeito. O lançamento de “MulherMaravilha” vem ancorado nesse debate do espaço da mulher na arte. Para além da força lógica que a personagem carrega, talvez o mais importante na produção seja a direção da cineasta Patty Jenkins. Assumindo seu primeiro blockbuster, a diretora não decepciona com o olhar apurado para filmes de ação. Mesmo que ela trabalhe em cima de um roteiro criado por homens e responda a um estúdio comandado por homens, é inegável que quis fazer deste um filme sobre mulheres. Ao contrário de outros longas de heróis feitos sob medida para garotos, Jenkins abarca igualmente públicos de todos os gêneros em “Mulher-Maravilha”, generosidade pouco percebida em Hollywood. Naturalmente, a obra enaltece a figura da mulher, colocando em foco uma heroína vivendo no mundo dos homens. Sua força vai além dos poderes místicos, mitológicos ou fantasiosos, derivando também de sua representatividade como ser humano ao se preocupar com a guerra, velada ou não, que acontece to-

Chris Pine e Gal Gadot estrelam o filme solo de Diana, mais conhecida como Mulher-Maravilha. O principal trunfo da obra é ter a diretora Patty Jenkins abrindo precedentes para a participação feminina na indústria cinematográfica

do dia. Por ter sido criada isolada de tudo isso, é uma realidade nova para Diana e sua incompreensão de como as coisas são do lado de fora trazem certa pureza ao seu olhar.

Trama O roteiro não abre mão do bom humor, que sempre funciona pela competência do ator Chris Pine. Ele serve de escada para que a atriz e modelo Gal Gadot também tenha seus momentos de diversão e traga leveza ao filme, ainda que a sua falta de carisma não consiga ser maquiada no decorrer da projeção. Como filme, “Mulher-Maravilha” talvez seja o mais interessante da DC Comics/Warner, que ainda enfrenta uma batalha interminável contra a qualidade da Marvel. Depois dos fracassos e horripilantes “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” e ‘Esquadrão Suicida”, a responsabilidade era de tentar entrar na linha. E eles quase conseguem. Digo isso porque, mesmo que “Mulher-Maravilha”

seja acima da média dos últimos filmes do selo, ainda é afetado com o despreparo narrativo da DC no cinema. A começar pela duração, quase 2h30 de projeção, que poderia muito bem ser 40 minutos menor. A obrigação de criar um épico faz com que “Mulher-Maravilha” seja inconsistente demais e deslize tanto como filme de guerra quanto como filme de espionagem. Com muito tempo em tela, os erros não se escondem. O uso da computação gráfica, especialmente no terceiro ato do filme, chega a ser constrangedor. Também há a insistência nos vícios visuais, como o exagero da câmera lenta e da trilha sonora, que não dão trégua em nenhum momento do filme. Parece que é mais interessante mostrar como o cabelo da protagonista se move lentamente do que mostrar a ação ou o drama em si. Isso resulta em uma perda de ritmo que não sustenta nenhuma batalha nua e crua, que desperte no público a sensa-

DIEGO BENEVIDES

Sinal verde

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Brasil na França MESMO SEM participaçãona competiçãoprincipal doFestival de Cannes,oBrasil foidestaquena 56ª Semanada Crítica, mostraparalela que premiou“Gabriele aMontanha”, segundolonga-metragem deFellipe Barbosa,responsávelpeloótimo"Casa Grande”,lançadoem 2014. Aobra,coproduzidaem parceriacom a França,recebeuo PrêmioRevelação France4,concedido peloJúri Oficial porsua criatividadeeinovação, além deumprêmioemdinheiro novalorde 4mil euros. "GabrieleaMontanha" também foi reconhecidopelaFundação Gan, com prêmiodeapoioàdistribuição. A distribuidorafrancesado filme receberá20 mileurospara utilização nolançamento dofilme naFrança. Olongarecriauma viagem deGabriel Buchmann,amigodeinfância do diretorFellipeBarbosa, àÁfrica. Aida doeconomista ao continenteafricano parapesquisar apobrezadeperto

“GABRIELE A MONTANHA”, deFellipe Barbosa,foipremiadona Semana da Críticado FestivaldeCannes terminouem tragédia quandoele tentousubiroMonte Mulanje,no Malauí.Ahistóriatem oroteiro baseadoem anotações ee-mails de Gabrielpara amãee anamorada, além deentrevistascom pessoas que cruzaramseucaminho naÁfrica. Aindanãohá datadelançamento agendadanoscinemasnacionais.

ção de que lutar contra o inimigo é correr perigo. Como qualquer blockbuster, “Mulher-Maravilha” se permite seguir o estilo de produção nos padrões previsíveis. Isso se torna um problema quando não desperta o público para novas sensações, sejam estéticas e visuais ou de provocação crítica. O arco feminista está ali e é importantíssimo, mas ele é limitado. Teria mais espaço para investir na representatividade da mulher. De toda forma, a aposta em um filme de herói estrelado por uma mulher é bem-vindo, quebrando a maldição de fracassos como “Elektra” (2005) e ‘Mulher Gato” (2004). E cabe a Jenkins o agradecimento por tentar fazer, dentro das restrições comerciais de seus chefes, um filme que vai na contramão dos heróis brutamontes que discutem por besteira enquanto as mulheres são coadjuvantes ou vilões. Jenkins serve como exemplo de que filme de ação não é apenas para homens e nem pode ser feito apenas por eles.

Documentário A atriz Leandra Leal foi para atrás das câmeras e assumiu a direção do documentário “Divinas Divas”, que estreia dia 22 de junho. Sua estreia como diretora de cinema não poderia ser melhor. O longa-metragem ganhou o Prêmio de Melhor Documentário pelo voto popular e foi eleito Melhor Documentário pelo Prêmio Felix (voltado para produções com temáticas relativas à diversidade de gênero) no Festival do Rio 2016. O filme apresenta a trajetória de Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios, ícones da primeira geração de artistas travestis no Brasil dos anos 1960. O longa acompanha as personagens no processo de construção de um espetáculo que celebra 50 anos de carreira.

A Warner Bros. autorizou a produtora italiana Tryangle Films a realizar um longa-metragem independente sobre Voldemort, o vilão da franquia “Harry Potter”. Intitulado “Voldemort: Origins of the Heir”, o filme contará a história de Tom Riddle a partir dos eventos de “O Enigma do Príncipe”. Ano passado, um teaser conquistou a internet e chegou até a Warner, que detém os direitos da franquia. A ideia é que o filme seja lançado diretamente no Youtube.

S

eis anos depois do quarto filme da franquia, “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar” estreia com mais uma aventura em alto mar estrelada pelo Capitão Jack Sparrow. A franquia, originalmente lançada em 2003, tenta se renovar, mas repete o mais do mesmo. Jack Sparrow já não é mais tão engraçado assim e suas atitudes são previsíveis. O papel que rendeu a Johnny Depp sua primeira indicação ao Oscar enfrenta tanto o sucateamento da persona do pirata bêbado quanto a fase ruim da imagem do ator. Talvez por isso, o novo longa-metragem explore novas alternativas para dar continuidade à franquia. Claro que Jack Sparrow continua o centro das atenções, mas o vilão Salazar, interpretado por Javier Bardem, tem tanto destaque quanto. Também viram atrações da película o novo casal interpretado por Brenton Thwaites e Kaya Scodelario, que tentam suprir a falta do antigo par romântico vivido por Orlando Bloom e Keira Knightley. Ou nem tanto, visto os rumos que a trama segue. O mérito de “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar” está na escalação dos diretores noruegueses Joachim Rønning e Espen Sandberg, que chamaram atenção com “A Aventura de Kon Tiki”, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. Mesmo cientes de que estão fazendo um blockbuster em que o estúdio responsável comanda

as principais escolhas para o filme ser um sucesso de bilheteria, os diretores trazem certo frescor estético e visual do longa. Seja durante um roubo a banco ou na abertura vertiginosa do mar, além da hilária navalha que corta-não-corta cabeças, três momentos empolgantes da obra, quando os cineastas brincam com a percepção do público de forma criativa. O roteiro, no entanto, tenta justificar sua existência procurando propor novos caminhos para que a franquia continue a receber futuros derivados. A vingança de Salazar que dá título ao longa acaba sendo menos importante do que as tramas paralelas, como a questão paternal da astrônoma Carina, papel de Scodelario, e toda sua relação familiar e com o universo. Os efeitos visuais continuam competentes, afinal o generoso orçamento de US$230 milhões possibilita reproduções perfeitas do mar, de navios e da vida submarina. A trilha sonora confere o tom épico que a aventura sempre propôs, além de contar com um desenho de som primoroso. “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar” é um blockbuster típico de encher os olhos, tecnicamente bem arrojado, mas que não esconde que sua fonte de criação tem se esgotado há algum tempo. Como filme de aventura, o longa-metragem ainda é superior aos seus dois antecessores, mas ainda não consegue manter a inventividade do original, que é elogiado até hoje. (DB)

Johnny Depp retorna a um dos personagens mais famosos de sua carreira. Em “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”, Jack Sparrow vive novos perigos

VitóriasuecaemCannes

Sinal vermelho A Netflix provocou a fúria dos fãs após cancelar as séries “Sense8” e “The Get Down”. Reed Hastings, CEO do canal, revelou para a CNBC que a média de sucesso é muito alta. “Então, nós cancelamos muito poucas séries... estou sempre empurrando o time de conteúdo. Nós temos que assumir mais riscos; você precisa tentar mais coisas malucas. Porque nós deveríamos ter uma taxa maior de cancelamento no fim das contas”, disse.

DESTAQUE O cineasta sueco Ruben Östlund foi, mais uma vez, destaque no Festival de Cannes. Sua nova comédia dramática, “The Square”, venceu a Palma de Ouro, concedida pelo júri presidido por Pedro Almodóvar. O sueco ficou conhecido pelo excelente “Força Maior” (2014), pelo qual ele também saiu vitorioso de Cannes na mostra Un Certain Regard. Em “The Square”, um gerente de museu está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação. Entre as tentativas para isso, ele decide contratar uma empresa de relações públicas para fazer barulho em torno do assunto na mídia em geral. Mas, inesperadamente, isso acaba gerando diversas consequências infelizes e um grande embaraço.


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