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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 5 E 6 DE AGOSTO DE 2017
CONTRAPLANO CINE CEARÁ
Seres magnéticos de uma lógica causal ou progressiva. Acho que cada filme comporta em si uma melodia e eu sempre me interessei pelas estruturas fluídas – dos surrealistas ao ‘cinema de fluxo’”, explica. Isso tudo em uma proposta que evita as convenções da narrativa tradicional. “Filmes que fogem da lógica do plot tradicional, da ideia de arco, da centralidade do conflito, da divisão em três atos. E este é um gesto de resistência também: com tantos cursos, tutorias e manuais voltados à adequação do roteiro às expectativas do mercado, tento resistir a essa ‘roteirocracia’, para usar uma ideia do Rivette. E é partindo dessa fluidez narrativa que eu decidi centrar o meu trabalho em uma encenação mais libertária, ‘selvagem’ e corpórea”. Caetano explica que, ao se desprender da meticulosidade do roteiro, ele cria uma abertura para o acaso e para a contribuição dos atores. As cenas são levantadas em ensaio a partir de uma estrutura simples, uma espécie de lista de ações sem diálogos ou marcações de mise-en-scène. “Eu trabalho com dispositivos cênicos que provocam os atores a serem atuadores: ocuparem os espaços, descobrirem seus movimentos, criarem suas falas e se colocarem em relação uns com os outros. Quando partimos para a filmagem, acionamos as memórias de ensaio, vamos repetindo a cena exaustivamente na tentativa de encontrar e cristalizar aquilo que emociona, cativa. O roteiro está nesse processo enquanto estrutura norteadora, mas não como uma bíblia”, continua.
Em exibição especial no domingo (6), o drama inédito “Corpo Elétrico” fala sobre sexualidade e comportamento DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema
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epois de abrir o Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo, o aguardado longa-metragem brasileiro “Corpo Elétrico”, dirigido por Marcelo Caetano, chega a Fortaleza com exibição prevista para domingo (6), no Cinema do Dragão, como parte do 27º Cine Ceará. Em sua estreia como diretor de longas, após uma carreira bem sucedida com curtas, Caetano parte do conto “I Sing the Body Electric”, de Walt Whitman (1819-1892), para contar a história de Elias, papel de Kelner Macêdo, um jovem paraibano que trabalha em uma fábrica de confecções em São Paulo. Ele divide seus dias entre os desafios profissionais e as aventuras amorosas e sexuais. “O que me sensibiliza no texto do Whitman é a dimensão sensual do mundo. Você lê o poema e todo o entorno se enche de vitalidade. Há beleza em tudo e em todos, as pessoas parecem ser tocadas e isso me dá uma sensação de liberdade. Quando escrevi o filme, pensei em um personagem que seria um observador ‘whitmaniano’, capaz de olhar o mundo com pulsão de vida e interesse pelo outro”, conta o diretor.
Roteiro O protagonista funciona como um prisma, que se forma a cada encontro e vai se moldando como se fosse um mosaico de experiências. Elias e seus colegas de trabalho compõem um grupo múltiplo em termos sociais, de raça e sexualidade. A trama que, a princípio, poderia sublinhar apenas suas diferenças, acaba aproximandoos, sem discriminá-los. “Eu acredito no poder da analogia, no ato de encadear imagens sem ter que me valer
Depois de participar de diversos festivais internacionais, entre eles o cobiçado Rotterdam, “Corpo Elétrico” tem exibição única em Fortaleza. O cineasta Marcelo Caetano (abaixo, à esquerda) participa de debate após a sessão no Cinema do Dragão
DIEGO BENEVIDES
Locarno
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
Revelando os Brasis UM DOSPROJETOS deestímulo maisengajadosdos últimosanos, o “RevelandoosBrasis”contemplou, em suasexta edição, 15histórias que valorizamas regiõesinterioranasdo Brasil,promovendoa democratização doacesso aosmeiosdeprodução audiovisual.Contadas pormoradores decidadescom até 20 milhabitantes, ashistórias (verdadeiras einventadas) foramselecionadasnoúltimo ConcursoNacional deHistóriasdo projeto.O Ceará,maisuma vez,está na listadecontemplados, dessavez pelo projeto“OPescador deMemórias”, inscritoporEliabeCrispimda Silva.A comissãodeseleçãofoi formadapor profissionaisdasáreasdecinema, televisão,jornalismo eciênciassociais, comdestaque para aparticipaçãode BeteJaguaribe, coordenadora do cursodeCinemae Audiovisualda UniversidadedeFortaleza (Unifor)e diretoradeFormaçãoeCriaçãodo PortoIracema dasArtes, queintegra o
BETEJAGUARIBE integroucomissão deseleçãodeprojetosaudiovisuais que valorizamointerior brasileiro CentroCulturalDragão doMardeArte e Cultura.Osautores dashistórias selecionadasparticiparãodasOficinas deRealizaçãoAudiovisual, noRio de Janeiro.Após asoficinas,eles retornam assuascidades para transformaras históriasem filmes com até 15minutos, coma participaçãoda comunidade.
Cinemagine A rede Cinépolis promove, gratuitamente neste sábado (5), às 11h, o Cinemagine, uma sessão sensorial que desperta a imaginação por meio dos sentidos em suas salas 4DX de Curitiba, São Paulo, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Fortaleza e Salvador. As exibições têm o intuito de levar uma nova forma de viver uma sessão de cinema, onde todos se divertem e que é indicado para quem tem deficiência visual. Em Fortaleza, a sessão acontece no Shopping RioMar, no Papicu. O Cinemagine é uma tentativa de criar entretenimento de qualidade, sem imagem, despertando a imaginação por meio de outros sentidos. Para aqueles que enxergam normalmente serão entregues máscaras de olhos para que se viva a experiência de olhos vendados.
Parte da programação do concorrido Festival de Cinema de Locarno já está disponível para apreciação online desde ontem (4). A plataforma Festival Scope disponibiliza até o dia 20 de agosto, gratuitamente, sete dos 16 longas da mostra competitiva “Cineastas do Presente”, entre eles o brasileiro “Severina”, de Felipe Hirsch. Apesar de gratuito, o acesso é limitado a 400 tickets virtuais por filme. O público também poderá votar nos seus filmes favoritos.
Pensamento É natural, ao assistir ao filme, sentir a espontaneidade com que os atores se enquadram na história, fazendo com que suas próprias experiências de mundo estejam também em evidência em suas ações. “O tom do ‘Corpo Elétrico’ foi afetado pelo modo como eu resistia ao divisionamento
ideológico da sociedade brasileira. Eu filmei em abril de 2016. As diferenças políticas, que sempre existiram, vieram à tona de uma forma violenta. Era um momento tenso, de desamparo, eu estava me afastando de pessoas que pensavam diferente de mim. E de repente eu estava fazendo um filme sobre a experiência da alteridade. Tinha algo de errado em tudo isso! Era preciso resistir, transcender e voltar a dialogar”, afirma o realizador. O mergulho nas questões de gênero também é uma forma de abordar politicamente temas relevantes para a sociedade. Até dentro do universo LGBT, Caetano se propõe a quebrar alguns padrões de comportamento ao questionar a figura do “macho” e o afeto entre homens. “‘Corpo Elétrico’ fala de possibilidades mais amplas de relação, de identidades interseccionais e de encontros imprevisíveis. Os personagens gays do filme estão no mundo, em diálogo não só com sua comunidade, mas também com operários, heterossexuais, mulheres cis, evangélicos. Eu parto de Whitman no filme, parto de um desejo de ver beleza em todos os encontros. Parto da solidariedade outsider e de como pessoas à margem podem se unir em busca de sobrevivência e companheirismo”, afirma o cineasta. A exibição de “Corpo Elétrico” em Fortaleza é uma iniciativa da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine), em parceria com o Cine Ceará, o Cinema do Dragão e a Vitrine Filmes. Daqui, Caetano participa das pré-estreias em Recife, João Pessoa, Salvador e Maceió. O longa será lançado a partir de 17 de agosto nos cinemas.
C Mais informações:
Exibição de “Corpo Elétrico”, de Marcelo Caetano, no domingo (6), às 14h30, no Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Grátis. Retirada de ingressos a partir das 13h30 (um par por pessoa). cineceara.com
BridgetJones
Veneza A 74ª edição do Festival de Cinema de Veneza contará com duas coproduções brasileiras na programação. São elas: “Invisible”, do argentino Paulo Giorgelli, na Mostra Horizontes, e a exibição hors concours de “Zama”, da aclamada cineasta argentina Lucrecia Martel, adaptado a partir da obra de Antonio di Benedetto e com Matheus Nachtergaele no elenco. Os dois projetos foram contemplados por editais de coprodução incentivados pela Ancine.
MARATONA Depois de arrecadar US$ 211 milhões nas bilheterias mundiais em sua estreia ano passado, a comédia “O Bebê de Bridget Jones” estreia na Rede Telecine neste fim de semana. No domingo (6), o Telecine Pipoca prepara uma maratona da trilogia, a partir das 16h, antecedida por “O Diário de Bridget Jones” (2001) e “Bridget Jones: No Limite da Razão” (2004). O filme também estará em cartaz no sábado (5), no Telecine Premium, e a qualquer momento na programação do Telecine Play. Entre as outras novidades do canal estão “ The Rocky Horror Picture Show” no sábado, às 22h; e “Os Desajustados”, no domingo, às 22h, ambos no Telecine Cult.