Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 09/12/17

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO,9 E 10 DE DEZEMBRO DE 2017

CONTRAPLANO EM CARTAZ

O menino e o mundo

roteiro para muito além da doença do protagonista. Chbosky conhece o potencial da história e não pesa a mão no dramalhão. Claro, é possível se emocionar a cada cicatriz que as pessoas deixam no cotidiano de Auggie, mas o longa evita manipular as reações do público, seja com planos dramáticos demais ou pela trilha sonora melosa, recursos recorrentes em filmes do tipo. O diretor tenta se desviar dos padrões esperadados para esse tipo de filme, brincando até com o público ao inserir um toque de fantasia.

Adaptação de famoso livro encanta pela sensibilidade ao mostrar jornada de garoto “fora do padrão” DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema

O

cinema está dominado por adaptações que partem de todos os tipos de mídia, sendo a literatura uma fonte rica para o audiovisual. Assim, é um alívio ver “Extraordinário” ganhar as telonas de forma eficaz. O dedo do cineasta Stephen Chbosky na direção e no roteiro, assinado também por Steve Conrad e Jack Thorne, é essencial para criar uma obra extremamente sensível e atual, que ressignifica temáticas familiares pertinentes. E toda essa relação afetiva que se cria com a trama não é resultado de exageros narrativos. Há um balanço ideal entre o drama e a comédia, enquanto o roteiro proporciona que o público conheça a perspectiva de cada um que faz parte da vida do protagonista Auggie Pullman, interpretado pelo ótimo Jacob Tremblay. A humanização dos personagens é o ponto forte da trama. Por mais que o foco esteja em Auggie, o roteiro de “Extraordinário” descasca sua família e alguns personagens periféricos para inserir a história em um contexto maior, discutindo os valores familiares e da infância em uma sociedade opressora.

Adaptação garante a dose certa entre drama familiar e comédia. História de Auggie Pullman é inspiradora e deve ser apreciada de coração aberto

Novo filme do cineasta Stephen Chbosky mergulha em uma jornada que discute a tolerância e o afeto em uma sociedade opressora Em seguida, Chbosky arrisca ao iniciar a fragmentação da trama e traz à tona o ponto de vista de sua irmã, a adolescente Via, papel de Izabela Vidovic. Como ela fala em determinado momento do filme, “nem tudo é só sobre Auggie”. Outros personagens também são colocados em perspectiva, agregando múltiplos olhares sobre os temas da obra. O filme se abre para mostrar o que acontece no entorno de Auggie e como sua vida influencia a de outras pessoas. A convivência com seus familiares, amigos e colegas de classe explora o convívio e o comportamento em sociedade, o que expande a abordagem do

Enredo Inicialmente, o filme mostra a dificuldade de Auggie se adaptar em uma escola normal, após ter sido educado em casa pela mãe Isabel, vivida por Julia Roberts. O estranhamento das outras crianças é visto como algo quase “natural”, até porque elas são apenas crianças que não sabem de tudo. E geralmente quando não sabemos de algo, a tendência é temer o desconhecido. Assim, o script vai encaixando o protagonista em situações cotidianas, onde precisa lidar com os olhares maldosos e cochichos nos corredores do colégio.

DIEGO BENEVIDES

Sight & Sound

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Harun Farocki PREMIADO CINEASTA alemão HarunFarockiétema demostra de filmese instalações de14a20 de novembro,em Fortaleza.São 12 filmes,produzidosentre1969e 2010, eduasinstalações inéditas nacidade. Partedasua obraserá projetadapela primeiravez, como“Intervalo”, “A Entrevista”,“AExpressão dasMãos”, “Interface”,“APrata e aCruz”e‘Em Comparação”,além de“O Papel Dominante”,queseráexibido pela primeiravezno Brasil. Asexibições acontecemno Cinemado Dragãoe as instalaçõesno Cena15, tudo com entradagratuita.“Seu foco sobre o mundodo trabalhopermiteconectar questõesque sãoprofundamente atuaispara nósbrasileiros. Suas discussõessobre arelação homem-máquinae osimpactos das novastecnologiassobre os trabalhadoresnão foramsuperadas e permanecematuais;ajudando a refletirsobre onossotempo de

CINEASTA ALEMÃOHarunFarockitem mostraespecial defilmes einstalações noCinemado Dragão enoCena 15 perigose retrocessos”,afirma a curadoraVirginia Pinho.Em 2007, Farockivenceuoprêmioespecial do júrideLocarno por“Memories”, realizadoao ladodePedro Costae EugèneGreen. Tambémfoicolaborador deoutroelogiado cineastaalemão, ChristianPetzold, emfilmes como “Barbara”(2012) e“Phoenix” (2014).

Cahiers du Cinéma As listas de melhores filmes de 2017 já começaram a pipocar e, por enquanto, não tem sido unânimes. E isso é ótimo. Uma das mais importantes é a eleição da revista Cahiers du Cinéma, que esse ano escolheu eleger a temporada mais recente de “Twin Peaks” (foto), criada e dirigida por David Lynch, a melhor produção do ano. Os fãs aprovaram. Os críticos da publicação ainda elegeram, em ordem: “Jeannette”, de Bruno Dumont; “Certas Mulheres”, de Kelly Reichardt; “Corra!”, de Jordan Peele; “O Dia Depois”, de Hong Sang-soo; “Amante por um Dia”, de Philippe Garrel; “Bom Comportamento”, de Josh e Benny Safdie; “Fragmentado”, de M. Night Shyamalan; “Jackie”, de Pablo Larraín, e “A Longa Caminhada de Billy Lynn”, de Ang Lee.

“Twin Peaks” apareceu na segunda posição entre os melhores da Sight & Sound, outra lista prestigiada. Lynch perdeu apenas para “Corra!”, que ficou no topo das 26 obras destacadas pela publicação. A revista inglesa ainda incluiu filmes inéditos no Brasil que devem estrear na temporada pré-Oscar, como “Me Chame pelo Seu Nome”, previsto para 18 de janeiro; “Zama”, marcado para 25 de janeiro, “Projeto Flórida”, com lançamento para 1º de março no Brasil.

Empatia O cineasta, que se destacou após dirigir “As Vantagens de Ser Invisível” (2012), tem uma mão boa para olhar para além das capacidades básicas de seus personagens. Sua paixão pela história fica clara em cada olhar que ele capta do elenco, fazendo deste um filme inspirador. O cinema comercial carece bastante de obras que não apenas se comprometam em gerar boa bilheteria, mas que também carreguem boas histórias sentimentais. É um filme que parte do caos na vida de Auggie para falar sobre diferenças e aceitação. E isso é bem-vindo em tempos onde a intolerância destrói o mundo. Muito desse mérito também se deve ao elenco. Owen Wilson, Julia Roberts, Jacob Tremblay e Izabela Vidovic formam uma família forte, compreensiva e que age por modos próprios para minimizar o sofrimento de Auggie no mundo. O longa também conta com um elenco infantil competente, em especial o ótimo Noah Jupe, que interpreta Jack Will, o primeiro garoto que se dispõe a conhecer Auggie de verdade. As cenas entre os dois são sempre magnéticas. “Extraordinário” talvez se estenda um pouco mais do que deveria, reflexo das tentativas de conceber uma obra diferente do que se espera, mas nada que atrapalhe a jornada extraordinária de um menino que é revelado como a esperança de um mundo com mais amor e respeito.

MulheresDivinas

Rolling Stone Já a Rolling Stone colocou “Dunkirk”, trabalho mais recente de Christopher Nolan, no topo. Em seguida aparecem “Corra!” e “Me Chame pelo Seu Nome”, que disparam como favoritos no período de premiações. Outros filmes que também podem levar indicações (e prêmios) também foram lembrados pela revista, como “Lady Bird - Hora de Voar”, estreia na direção da atriz e roteirista Greta Gerwig, e “Trama Fantasma”, de Paul Thomas Anderson.

EM BREVE Representante da Suíça para concorrer uma vaga no Oscar 2018, “Mulheres Divinas” faz um trabalho eficiente de reprodução histórica ao contar a história de um vilarejo cujas mulheres começam a manifestar seu direito ao voto. A trama se passa em 1971, revelando o atraso político da Suíça. Muito além de mostrar o quanto os movimentos femininos foram essenciais para as conquistas históricas, o longa dialoga com a atualidade ao mostrar que eles continuam relevantes para as transformações do que queremos para no futuro. A diretora Petra Biondina Volpe faz um filme esteticamente requintado e dispõe de ótimas atrizes no elenco, que transitam com louvor entre o drama político e a comicidade. “Mulheres Divinas” deve estrear nos cinemas a partir do dia 14 de dezembro.


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