Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 11/02/17

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 11 E 12 DE FEVEREIRO DE 2017

CONTRAPLANO DRAMA

NACIONAL

Infância perdida em memórias

O retorno de antigas dores

Com seis indicações ao Oscar, “Lion: Uma Jornada para Casa” é o trabalho de estreia do australiano Garth Davis DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema

O

s temas familiares nunca estiveram tão em alta nessa temporada de premiações pré-Oscar. Em “Lion: Uma Jornada para Casa”, o diretor australiano Garth Davis se inspira em uma história real para mostrar a jornada de um indiano que foi separado da família ainda criança. A história mergulha no sentimentalismo e, claro, na romantização do que aconteceu com o garotinho Saroo. Na primeira hora de projeção, o indiano é interpretado pelo ótimo Sunny Pawar, cuja inexperiência em cinema contribui para a naturalidade das sequências. Pawar consegue transmitir na profundeza do olhar o sentido de perda e culpa, gerados pela separação irreversível que acontece. O roteiro chega a sugerir que a história de Saroo poderia ganhar novas camadas, como a politização da perda e do abandono de crianças na Índia, desprezadas pelas autoridades que percebem nelas um comércio lucrativo. Infelizmente, não é o que acontece e os realizadores deixam bem claro que o interesse está na história do personagem, sem expandi-la para outros lados. Embalado por uma trilha sonora que nunca abandona os dedilhados de piano e a dose extra de açúcar, “Lion: Uma Jornada para Casa” conta mais uma história de superação: o jovem indiano adotado por uma família australiana que o ama e que parte em busca de suas origens. Quando Pawar cumpre o seu papel na primeira fase da trama, Dev Patel assume o restante do filme de forma distinta,

A atriz oscarizada Nicole Kidman interpreta a mãe adotiva de um garoto indiano que se perdeu da família. Drama familiar tem previsão de estreia para o dia 16 de fevereiro nos cinemas brasileiros

com um tom mais novelesco que a história se torna. Patel é um ator competente e segura bem os conflitos de um jovem que decide buscar sua família de sangue, mas a figura do herói destoa do naturalismo anteriormente alcançado por Pawar, trazendo um tom mais enlatado dos dramalhões americanos que surgem de tempos em tempos na indústria.

Caminhos O roteiro assinado por Luke Davies, a partir do livro escrito pelo próprio Saroo Brierley, segue pelo caminho mais fácil. A forma como Saroo descobre tudo sobre o seu passado, um insight rápido e indolor, aniquila a trajetória do personagem vista até então, fazendo com que o terceiro ato seja oferecido goela abaixo para o público. O reencontro com a família de sangue é um momento bonito, principalmente por trazer uma questão inesperada

em relação ao irmão de Saroo, por quem ele nutria admiração, mas desliza ao criar um impacto emocional menos palpável devido ao complexo de infalibilidade do protagonista. Mesmo que a fragilidade do roteiro vá surgindo junto com os clichês dos dramalhões típicos de Hollywood, “Lion: Uma Jornada para Casa” se revela tecnicamente bem realizado, com destaque para a montagem de Alexandre de Franceschi e a direção de fotografia de Greig Fraser, indicado ao Oscar pelo desempenho no longametragem.

Elenco A oscarizada Nicole Kidman interpreta a mãe adotiva que salva o pequeno Saroo de um destino pior. A atriz mostra que está em ótima forma para atuar em dramas mais densos, com uma performance à altura de “As Horas” (2002), pelo qual levou sua única estatueta dourada até agora.

DIEGO BENEVIDES

Bulgária

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Sucesso de Hermínia APÓS SEISSEMANAS em cartaz,“Minha Mãe éuma Peça2” arrecadouR$117,4 milhões,se tornandoamaior bilheteria deum filmenacional até hoje. Acomédiaestrelada porPaulo Gustavoultrapassou arendade“Os DezMandamentos”, lançadoem janeirodo ano passado,queencerrou a trajetórianos cinemascom R$116,4 milhões.Segundo informaçõesdo FilmeB, “Os Dez Mandamentos”ainda venceemnúmero deingressos vendidos,com 11,26milhões contra 8,8milhões, até agora,de“Minha Mãe éuma Peça2”,que segueem cartaz. Aadaptaçãodanovela religiosanas telonascausou constrangimentono circuitoexibidor ao ser acusadade comprartodosos ingressos dassalas ondeofilme estava emcartaz, sem conseguirlotarnenhumacom público. Verdadeou não,acerteza é quetodos osingressos vendidosde“Minha Mãe éuma Peça2”foramconvertidos em

PAULO GUSTAVO,intérprete deDona Hermínia,já pensa emuma terceira aventuranos cinemas públicoreal eque oapelo dePaulo Gustavona comédiabrasileira funciona nãoapenas nocinema, mas também no teatroe nosprogramas detelevisão. Ocomediantejá pensa em umrealizar terceirofilme estreladoporDona Hermínia,mas, se acontecer,deve demorarumpouco maisachegar aos cinemasnacionais.

Kidman interpreta uma mãe compreensiva, mas cuja visão de mundo é potente. Além de Saroo, ela também adotou outro garoto indiano, com personalidades bem diferentes. Perceber como os dois filhos divergem na relação com a família adotiva é um ponto forte do filme, só possível pela harmonia do elenco em cena. A atriz Rooney Mara aparece bem à vontade como o interesse romântico da segunda fase do protagonista e estrela a cena mais acertada da obra: um jantar em que ela tenta servir de elo entre Saroo e seus pais adotivos; o ponto alto da trama. Entre altos e baixos, “Lion: Uma Jornada para Casa” é uma obra que “tem a cara do Oscar”, por suas alternativas nada arriscadas de reconhecer heróis da vida real. Como obra, fica bem atrás dos demais concorrentes dessa temporada de ouro.

Cinema e blues O Cineteatro São Luiz, no Centro de Fortaleza, receberá músicos da Casa do Blues, associação de músicos de blues do Estado do Ceará, para interpretar a trilha sonora do filme “Cadillac Records” (2008), dirigido por Darnell Martin. O musical é estrelado por Adrien Brody e pela cantora Beyoncé Knowles, que interpreta a diva Etta James. O filme será exibido no dia 5 de março, às 16h, na Sessão Sonora do São Luiz e, na sequência, às 18h, acontece o show da Casa do Blues, encerrando o 18˚Festival Jazz & Blues. A trama de “Cadillac Records” se passa em 1947, no sul de Chicago, e acompanha Leonard Chess, produtor do Chess Records, um pequeno estúdio musical que trabalha com Muddy Waters, Little Walter e Chuck Berry.

Até o dia 17 de novembro, o Cineteatro São Luiz também exibirá gratuitamente seis curtas-metragens universitários e cinco longas que representam a identidade do cinema búlgaro. A programação faz parte do Panorama de Arte e Cultura da Bulgária. Entre os destaques estão “Mergulho em Sozopol” (2014), de Kostadin Bonev, e “Sem Deus” (2016), de Ralitza Petrova. Seis curtas de animação também mostrarão diferentes vertentes e técnicas experimentadas pelos búlgaros.

A

nova parceria do diretor José Luiz Villamarim, da elogiada série “Justiça”, com o roteirista George Moura, dos sucessos “Amores Roubados” e “O Rebu”, resultou em seu primeiro trabalho no cinema, o drama familiar “Redemoinho”. Estrelado pelos excelentes Julio Andrade e Irandhir Santos, a história acompanha o reencontro de dois amigos no interior de Minas Gerais. Entre eles, questões relativas ao passado e ao presente começam a surgir, enquanto tentam trilhar um futuro com novas perspectivas. Gildo, papel de Andrade, vive bem em São Paulo e está de passagem por Cataguases para visitar a mãe no dia do Natal. Luzimar, interpretado por Santos, trabalha em uma empresa de tecido e tem uma vida aparentemente pacata ao lado da esposa, que tenta driblar sua vida solitária. Aos poucos, o reencontro de Gildo e Luzimar traz à tona as dores do passado, de quando ainda eram crianças. Durante o primeiro ato, Villamarim cria a atmosfera de mistério das questões familiares e, aos poucos, a trama vai revelando as cicatrizes de uma tragédia. O roteiro demora a acontecer e dá muitos espaços em branco para a interação entre Gildo e Luzimar. Ao mesmo tempo, as cenas em flashback mostram mais do que deveriam e fica fácil supor o que eles tanto remoem em suas histórias.

Os personagens secundários, como a esposa de Luzimar, interpretada por Dira Paes, e a mãe de Gildo, papel de Cássia Kis, completam a história dos dois amigos. Por fora, Démick Lopes vive um homem que enlouqueceu, também devido ao que aconteceu nessas famílias. Villamarim faz um trabalho técnico irrepreensível, brincando com as questões sonoras do filme, essenciais para a compreensão do universo dos personagens. O diretor vai mais além do que o roteiro fraco oferece. Ciente disso, Villamarim concentra seus esforços em desenvolver um filme visualmente atraente e requintado, auxiliado pelo olhar sempre competente do diretor de fotografia Walter Carvalho. A firmeza do elenco, especialmente de Julio Andrade e Irandhir Santos, torna possível que ainda haja interesse de chegar até o fim da projeção. Gildo e Luzimar bebem o dia inteiro, como se anunciassem que em algum momento todas as mágoas fossem explodir de uma só vez, como acontece. A forma como os dois não conseguem se desvencilhar após o encontro é o principal ponto do roteiro, que internaliza as cicatrizes e sugere que apenas uma conversa franca pode mudar as coisas. Mesmo assim, “Redemoinho” deixa uma sensação de história ultrapassada que não teve boas ideias para aproveitar o talento de seus envolvidos. (DB)

Julio Andrade e Irandhir Santos interpretam dois amigos de infância que se reencontram em “Redemoinho”, dirigido por José Luiz Villamarim

DetetivesdoPrédioAzul

Veneza Um dos eventos mais prestigiados do circuito, a 74ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza está com inscrições abertas até o dia 16 de junho. O festival italiano acontecerá entre os dias 30 de agosto e 9 de setembro e promove mostras competitivas e paralelas. A principal delas é a Seleção Oficial Veneza 74, que reúne cerca de 20 longas-metragens em disputa pelos Leões de Ouro e Prata, além dos prêmios Coppa Volpi e Marcello Mastroianni.

ADAPTAÇÃO O cineasta André Pellenz, que dirigiu o primeiro “Minha Mãe é uma Peça”, vai levar a série televisiva “Detetives do Prédio Azul”, principal produção nacional do canal Gloob, para os cinemas. As gravações já estão acontecendo no Rio de Janeiro e a estreia está agendada para o mês de julho desse ano. O longa adapta o universo lúdico de mistérios e aventuras de três amigos inseparáveis que se reúnem em um clubinho secreto para investigar os estranhos acontecimentos do prédio onde moram. A atração, que estreou em junho de 2012 na TV, acumula oito temporadas já exibidas e é um sucesso total entre crianças, jovens e adultos. Na foto exclusiva, Dona Leocádia (Tamara Taxman) e Capim (Cauê Campos) estão na Kombi, novidade no filme, sede do improvisado clubinho móvel.


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