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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 11 E 12 DE MARÇO DE 2017
CONTRAPLANO DRAMA
LANÇAMENTO
Os bastidores de Twin Peaks treia de ‘Os Sopranos’, no final dos anos 1990. Se você olhar para a primeira temporada, acho que é um modelo perfeito que mostra como contar uma história em nove horas”.
Escritor americano Brad Dukes fala com exclusividade sobre o livro “Twin Peaks: Arquivos e Memórias” DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema
H
á 27 anos, o canal ABC lançou o primeiro episódio de “Twin Peaks”, série que causaria frisson no público e na crítica especializada. Muito além disso, o programa criado por Mark Frost e David Lynch serviria de inspiração para tantas outras obras no audiovisual e na literatura. Considerada revolucionária na época, “Twin Peaks” fazia uma instigante mistura de gêneros, transitando entre o suspense psicológico, o drama policial e o surrealismo, em uma trama de investigação complexa. Na história, o policial Dale Cooper investiga o misterioso assassinato da estudante Laura Palmer na cidade ficcional de Twin Peaks, em Washington. A primeira temporada teve oito episódios, enquanto a segunda se estendeu por 22. Após o fim da série, David Lynch lançou o filme “Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer”, uma espécie de prólogo ao que foi visto na série. Exibido no Festival de Cannes, o longa-metragem dividiu opiniões pela inconsistência da história. Uma nova temporada estreará no dia 21 de maio, pelo canal Showtime, sob o comando dos criadores originais. Para comemorar o retorno, a editora DarkSide Books lançou o livro “Twin Peaks: Arquivos e Memórias”, de Brad Dukes, primeiro título da Coleção Fora de Série que vai revelar os bastidores de famosas séries de TV.
Brad Dukes reuniu depoimentos dos criadores, atores e membros da equipe de uma das séries mais aclamadas da televisão FOTO: JESSICA DUKES/DIVULG.
LIVRO
Twin Peaks: Arquivos e Memórias
Pesquisa Em entrevista exclusiva à Contraplano, o autor, que mora em Nashville, Tennessee, conta que começou a entrevistar os criadores, atores e mem-
BradDukes DARKSIDEBOOKS 2017,320paginas R$59,90
bros da equipe em 2007. A obra começou a ser desenvolvida cinco anos depois e Dukes conta que nunca pareceu como se fosse “um trabalho”. “Meu livro é mais sobre os bastidores do que estava acontecendo fora da tela e comandando a direção criativa do show. Eu não queria me aprofundar em teorias ou explicar o show, porque eu realmente sinto que ele foi projetado para permitir que o espectador determine sua própria interpretação”, conta. Dukes, no entanto, considera que “Twin Peaks” desapareceu muito rápido da cultura pop quando o programa terminou, em 1991. “Eu acho que houve uma influência residual que não teve força até a es-
DIEGO BENEVIDES
Mulheres
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
O retorno do rei REVISITARSUCESSOS do passadoé oprincipal hobbyde Hollywood,que não deixanenhum clássicoquieto.Adesculpa dedaruma novaroupagemé até válida,se considerarmosasquestões tecnológicasque, quandobem utilizadas,fazem deumremakealgo pelomenosdivertido. Aindaassim, obrascomo ‘Kong:AIlha daCaveira” nãosão nadamaisdo queprodutos preocupadoscom abilheteria. Nãoque ofilmenão sejabacana,até é, ainda maisse considerarqueconfiaram um orçamentonada humildedeUS$185 milhõespara umdiretor praticamente desconhecido.Assumindo uma narrativaqueflerta com oclássico, mastraz novaspropostasvisuais, o longa-metragemcarecederitmo eé quaseimpossívelse importarcom os personagens.Kong continuasendo a principalatraçãoda obrae seunovo designé poderoso.Équase possível compreendertodaahistóriado
“KONG: A ILHA DA CAVEIRA” éa apostada Warner Bros.para os mês de marçonoscinemas “monstro”apenas com umolhar,coisa queoelencoprincipal sofre para transmitir.Adisputaentre beme mal cansa,especialmentepelapersona repetividadeSamuel L.Jackson. Oalíviocômico infantil faza história passarmaisrápido, mas, aofinal da projeção,fica umasensação devazio, dequempoderiater visto mais.
Entrevistas Ao reunir material para o livro, Dukes conta que literalmente se aproximou de todas as pessoas que podia para construir uma visão abrangente. Todos tinham grandes histórias e colocaram suas próprias versões dos eventos. “Os atores Ray Wise, Michael Parks e Sheryl Lee foram entrevistados memoráveis. Eu olho para a experiência e parece emocional. Acho que estou apenas grato pelas dezenas e dezenas de pessoas interessantes que escolheram falar comigo. Algumas já não estão conosco agora, infelizmente, mas eu posso dizer que não tenho arrependimentos, acho que tudo acabou como devia”, diz o autor. Quando a série foi lançada, David Lynch já carregava elogiados filmes, como “O Homem Elefante” (1980), “Duna” (1984), “Veludo Azul” (1986) e “Coração Selvagem” (1990), e foi peça fundamental para “Twin Peaks”. “Lynch dirigiu a maioria dos momentos-chave que as pessoas realmente parecem lembrar. O episódio piloto é essencial e realmente define o tom para tudo a seguir. Além disso, sem o episódio final e todas as perguntas que ele coloca, eu me pergunto quantas pessoas estariam exigindo uma outra temporada. ‘Twin Peaks’ foi feito por um grupo enorme de indivíduos interessantes, mas nunca teria funcionado sem Lynch e Frost liderando o caminho”, conta. Sobre a nova temporada que estreia em breve nas telinhas, Duke não esconde a ansiedade. “Estou esperando um tipo diferente de pandemônio imprevisível que só Lynch e Frost poderiam pensar. Estou contando os dias!”, finaliza.
Comédia Com previsão de estreia para 16 de março, a comédia “Tinha Que Ser Ele?” é o novo trabalho de Bryan Cranston nos cinemas. O ator da série “Breaking Bad” divide a trama com James Franco, que interpreta o seu genro. Em um gênero bem distante do que ele tem feito após o fim da série icônica, o ator declarou estar feliz em voltar a fazer comédias. “Tenho estrelado muitos dramas ultimamente e adoro fazer comédias. Você está representando personagens importantes e é uma boa contação de história. Mas sentia falta de brincadeiras tolas no set. Apenas o valor intrínseco do riso. Pensei nisso como um desafio. Parece como um desafio ter condições, na minha idade, de fazer o papel principal numa comédia para um estúdio”, disse o astro.
A Agência Nacional do Cinema (Ancine) marcou para o dia 30 de março o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, que será realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Proposto pela diretora da instituição, Debora Ivanov, o encontro vai discutir as políticas públicas e as ações da sociedade civil que propõem a redução da desigualdade de gênero no setor e que buscam dar mais voz e visibilidade às mulheres no mercado audiovisual.
Em “Insubstituível”, os atores François Cluzet e Marianne Denicourt interpretam médicos que cuidam da população na zona rural francesa
Relações de pertencimento
A
carreira do cineasta francês Thomas Lilti começou em 1999, dirigindo curtas-metragens. Depois, Lilti se formou em medicina, mas não deixou de lado o amor pelo cinema. Seu mais novo projeto, “Insubstituível”, mistura suas duas funções. A trama acompanha JeanPierre, interpretado com a segurança de sempre por François Cluzet (“Intocáveis”), um médico de confiança que trabalha na zona rural. O protagonista, no entanto, descobre que está doente e precisa se afastar da prática médica se quiser ter chances de melhorar. A rotina de Jean-Pierre muda com a chegada de Nathalie, papel de Marianne Denicourt, mulher de seus quarenta e poucos anos que já trabalhou como enfermeira e se formou recentemente em medicina. Enquanto Nathalie ajuda no consultório, Jean-Pierre se divide entre cuidar dos moradores da região e dele mesmo. O roteiro escrito por Lilti em parceria com Baya Kasmi traz à tona as questões de pertencimento dos personagens. JeanPierre é um homem solitário que colhe os méritos de sua dedicação àquele povo, aparentemente mais simples. Em troca, os moradores são fiéis ao médico, que não hesita em fazer um atendimento em qualquer hora do dia que for chamado. Nathalie também parece que foge de algo na cidade grande e encontra no interior a oportuni-
dade de aprender mais sobre a profissão, mesmo que isso signifique passar por pequenas humilhações iniciais. Enquanto tenta se adaptar, Nathalie precisa conquistar a confiança dos pacientes, tão acostumados com JeanPierre. É por meio dessas transformações que o filme funciona. A história tem um tom mais episódico, inserindo pequenos casos médicos para fazer com que os conflitos principais (entre Jean-Pierre e Nathalie) dialoguem. É bacana perceber as dualidades entre campo e cidade, entre as idades e experiências dos dois médicos e como eles percebem o mundo ao redor. “Insubstituível” acerta principalmente ao deixar em aberto algumas situações, como o passado dos protagonistas, mas escorrega ao sugerir um possível interesse amoroso entre eles. Fica claro que Lilti quer desenvolver um filme sem grandes ambições, com um tom mais leve e positivo para sua audiência. Talvez por isso, o longa-metragem tenha sido tão bem aceito pelo público em geral, tendo somado mais de 2 milhões de espectadores por onde passou. Uma história simples que não toma grandes proporções dramáticas, “Insubstituível” vale principalmente pela dupla de atores que defende muito bem seus personagens. Tecnicamente correto, Lilti faz um filme indefeso e que discute sobre o lugar das coisas em um mundo cada dia menos atencioso com o que acontece ao redor. (DB)
PersonalShopper
Participação Segundo Ivanov, “a presença feminina no audiovisual ainda é pequena, principalmente nas funções de direção e de roteiro. Em 2016, apenas 20,3% dos filmes brasileiros lançados nos cinemas foram dirigidos por mulheres. O Seminário é um convite ao engajamento de todos que percebem a diversidade como uma chave que nos conecta a mundos mais amplos, com maior pluralidade de narrativas”. As inscrições são gratuitas e estão abertas no site da Ancine (ancine.gov.br).
ESTREIA As vaias que “Personal Shopper” recebeu do público do Festival de Cannes 2016 não intimidaram os jurados, que concederam o prêmio de melhor diretor para o francês Olivier Assayas, que repete a parceria com a atriz Kristen Stewart após “Acima das Nuvens” (2014). Na trama, Stewart interpreta uma americana que mora na França e trabalha como personal shopper para uma celebridade. Ela também tem o dom de entrar em contato com o mundo dos mortos. Apesar da dificuldade de Assayas em compensar o drama e o suspense psicológico no longa, “Personal Shopper” é, no mínimo, um trabalho intrigante, corajoso e hipnotizante. É uma proposta de filme muito rara que se aprofunda nos desejos humanos e brinca com a percepção do público, que completa com suas próprias referências pessoais os conflitos da protagonista.