Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 12/11/16

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 12 E 13 DE NOVEMBRO DE 2016

Contraplano NOS CINEMAS

FOR RAINBOW

Em alto mar

Amor e gênero em transição

Em “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo”, Peter Berg relembra o maior desastre ambiental dos EUA

DIEGO BENEVIDES Crítico de Cinema

P

ouco mais de seis anos depois, a tragédia da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, virou espetáculo nas mãos do cineasta Peter Berg, responsável por filmes como “Hancock” (2008) e “Battleship: A Batalha dos Mares” (2012). Em “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo”, o cineasta parte de um artigo escrito por David Rohd e Stephanie Saul no jornal New York Times para reconstruir os passos dos funcionários que antecederam o acidente. Berg também conversou com sobreviventes e familiares que contribuíram para a romantização da trama em formato de blockbuster. O longa é visto pelo olhar de Mike Williams, pai de uma família aparentemente perfeita e engenheiro da Deepwater Horizon. Ao chegar na plataforma para uma nova temporada de trabalho, Mike e seus colegas percebem irregularidades no funcionamento do espaço. Após alguns testes, o pior acontece. Uma explosão provoca um vazamento de petróleo durante 87 dias sem interrupção, uma quantidade relativa a 5 milhões de barris de óleo, estimada pelo Greenpeace.

Personagens A principal preocupação do filme está em mostrar a relação entre os funcionários da Deepwater Horizon, ainda que falte tempo para trabalhar a empatia dos mesmos de forma que o público se importe realmente com eles. O protagonista Mike, claro, será o herói que tenta de tudo para salvar os colegas e voltar para a família. E o filme fica basicamente nisso. A primeira metade foca mais no drama e nas relações internas, e não esquece de criticar a atuação da petrolífera inglesa British Petroleum (BP), que foi condenada por negligência. Depois, “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo” se transforma no típico filme catástrofe. O problema é que o diretor Peter Berg e os montadores

Mark Wahlberg estrela e produz drama de ação inspirado no vazamento de petróleo da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, em 2010

DIEGO BENEVIDES

DEPOISDE surgir do nada eser escolhidoofilmeque representaráo BrasilnoOscar,“Pequeno Segredo" chegouaoscinemas.O dramadeDavid Schurmannestálonge derepresentar oquedemelhortemsido feito pelo cinemabrasileiro contemporâneo. O filmetambém não éexatamente uma vítimada absurdaescolha da comissão quese deixouafetarpor questões políticas.Opróprio diretor disseque “PequenoSegredo” tema“cara do Oscar”e quehá chances. Érelativo. Sim,existe certatendência temática quepoderiachamar aatenção da Academia,mas issonão é obastante. Paracomeçar,“PequenoSegredo” concorrecom outras 84produções, algumasdelas já favoritas, comoo alemão“ToniErdmann”, ofrancês “Elle”,oromeno“Sieranevada” e o espanhol“Julieta”. Épreciso arregaçar asmangas efazeruma divulgaçãoem pesopara ter omínimo dechance, vistoque “PequenoSegredo” sequer

EMCARTAZ, “Pequeno Segredo”é dramalhãosem força para representar oBrasilno Oscar,masnunca se sabe... frequentoufestivaisinternacionais, o quecostumasercaracterística recorrentenos indicadosfinais a melhorfilmeestrangeiro doOscar, principalmenteaqueles quepassaram porVeneza,Toronto e, especialmente, Cannes,comoaconteceu com “Aquarius”,únicolatino-americano entreos concorrentesà PalmadeOuro.

Esquecimento O derramamento de petróleo na Deepwater Horizon, que é considerado o maior desastre da história americana até o momento, ainda é responsável por consequências ambientais e socioeconômicas. O longa-metragem ignora os desdobramentos políticos do fato em si em prol da romantização dos personagens. Por mais que o roteiro reforce o envolvimento da BP da Transocean, não há interesse aparente de levar a catástrofe a uma reflexão maior. Berg acredita que isso se resolve com a inserção de cartelas pós-filme sinalizando as consequências da tragédia. É uma opção de recorte, essencial para o funcionamento de um blockbuster. Entretanto, a responsabilidade do filme se esvazia por não questionar a submissão do meio ambiente às grandes empresas e, principalmente, os impactos maiores, como o prejuízo à pesca e ao turismo da região. Ao não dimensionar de forma mais política a exploração perigosa do petróleo, esta é uma produção para o consumo rápido, que usa efeitos visuais bem inferiores ao que se espera fazer com um orçamento de US$110 milhões. Assim, o filme até se iguala+ à irresponsabilidade da BP por não compreender a mensagem deixada pelo desastre real.

Crowdfunding

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Pequenas chances

Gabriel Fleming e Colby Parker Jr. não conseguem elaborar sequências de ação envolventes que causem a sensação de perigo que o filme pede. Em diversos momentos, é impossível entender o que acontece em cena, onde os personagens estão e o que está caindo ou pegando fogo. A rapidez dos cortes não sustenta a percepção final da imagem. Além de atuar como produtor, Mark Wahlberg protagoniza o longa com sua presença cênica sempre interessante, mas tem pouco espaço para convencer como o redentor da trama. Kurt Russell e John Malcovich não têm muito material para desenvolver, mas isso não chega a comprometer.

Bruxaria A escalação de Johnny Depp para a franquia “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, escrita por J.K. Rowling, gerou controvérsias. O ator, queridinho de Hollywood, se envolveu em polêmicas de violência doméstica e o público parece que não perdoou. Durante entrevistas do primeiro filme da franquia, o diretor David Yates confirmou que Depp interpretará Gerardo Grindelwald, o mais brilhante bruxo das trevas. “A escolha principal do elenco vai para o melhor ator. Vai para o mais inspirado, interessante e que se encaixa mais com o personagem”, disse o cineasta, que acredita que a irreverência de Depp ajudará na criação do papel. Rowling também declarou estar feliz com a escalação: “Ele fez coisas incríveis com o personagem”.

A atriz Regina Casé e o marido, o cineasta Estevão Ciavatta, promovem campanha de financiamento coletivo para realizar o plantio de 20 mil mudas de árvores na Floresta da Tijuca, no Rio, ajudando a manter o primeiro grande projeto de restauração florestal do mundo. A ação também visa o Vale do Paraíba do Sul, no Rio Una, dando continuidade ao plantio que começou na primeira campanha. A meta é de R$400 mil e segue até o dia 20 de novembro no Kickante.

A

lgumas obras são importantes pela abordagem que fazem, mesmo que às vezes a concepção artística seja padrão. É o caso do documentário “O Garoto Real” (“Real Boy”, no original), de Shaleece Haas, que abriu a Mostra Competitiva do 10º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual. O longa-metragem dá espaço para a discussão da identidade de gênero, mais especificamente aos transgêneros masculinos, a partir da história de Rachel que, aos 19 anos, se encontrou como Ben em um corpo feminino que não o pertence. A partir de imagens de arquivo de Ben, nas quais ele mostra desde cedo o amor pela música e pela família, a diretora introduz o público a um universo que é preciso ser discutido em busca não só de entendimento, mas também de respeito. Assim, “O Garoto Real” mostra a transição pela qual Ben passa, enquanto sua mãe tenta compreender e aceitar o novo caminho de Rachel. As duas histórias se comunicam por encontrar, cada uma da sua maneira, apoio e debate dentro da comunidade LGBT que transforma a compreensão e a representação dessas pessoas reais. Por outro lado, a diretora Shaleece Haas opta por levar ao documentário suas influências televisivas, que interrompem a naturalidade de algumas situações e diálogos para adotar uma característica quase ficcio-

nal. A mãe de Ben é a mais prejudicada, já que em diversos momentos é questionável que ela esteja realmente dando um depoimento, e não atuando para as câmeras. Apesar dessa naturalidade comprometida em alguns momentos da narrativa, “O Garoto Real” não deixa de ser orgânico e tem momentos inspiradores, seja na forma sutil de mostrar o entendimento de Ben com o próprio corpo, suas tatuagens, sua relação com os amigos Dylan e Joe, que também são transgêneros, e especialmente na sequência musical que mostra o amor entre mãe e filho. Com uma montagem fluida, o filme possibilita a imersão naqueles diálogos, tendo como ápice a reflexão poderosa de que o mundo exterior já é opressor demais para que o amor familiar seja opressor. A diretora realiza um filme que também lança um olhar sobre a identidade dos jovens de hoje, que passam por conflitos comuns independente de questões relativas a gênero. “O Garoto Real” não deixa de mostrar as dificuldades de encaixe dos transgêneros na sociedade, mas sem se entregar ao negativismo com que algumas histórias LGBT costumavam ser retratadas tempos atrás. Optar pela tragédia da construção de uma personagem real nem sempre é a melhor forma de quebrar preconceitos em um mundo onde a desinformação e a intolerância ainda existem. (DB)

Exibido na abertura do Festival For Rainbow, o documentário “O Garoto Real”, dirigido por Shaleece Haas, aborda a identidade de gênero com sensibilidade

Desastreépico

Tribeca Criado para homenagear as vítimas do 11 de Setembro e com Robert De Niro como um dos idealizadores, o Tribeca Film Festival marcou sua 16ª edição para acontecer entre 17 e 30 de abril de 2017, em Nova York. Realizadores podem enviar seus curtas-metragens até o dia 2 de dezembro e longas até 23 de novembro, prazo que se estende até 14 de dezembro para longas concluídos após a data oficial. As taxas de inscrição variam de US$60 a US$110.

BLOCKBUSTER A MGM abriu o relatório financeiro para os seus investidores e apontou o prejuízo de US$47.8 milhões com a refilmagem de “Ben-Hur”, lançada em agosto. A superprodução custou US$100 milhões para o estúdio e arrecadou cerca de US$94 milhões mundialmente. O prejuízo se deu também devido aos gastos extras com a produção. Gary Barber, CEO da MGM, afirmou ao The Guardian que os resultados do terceiro trimestre foram impactados negativamente por conta do desempenho insuficiente do longa dirigido por Timur Bekmambetov. Por outro lado, o estúdio comemora o crescimento de 108% dos investimentos na TV, graças a “Vikings”, “Celebrity Apprendice”, “The Voice” e “Survivor”.


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