Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 14/01/17

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 14 E 8 DE JANEIRO DE 2017

CONTRAPLANO MUSICAL

ANIMAÇÃO

Um canto para o cinema americano

Nova princesa aventureira

Em pré-estreia nos cinemas, “La La Land – Cantando Estações” é romance simples que investe na nostalgia DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema

N

ão é de hoje que a indústria americana percebeu que a nostalgia faz sentido nos filmes contemporâneos. É fácil verificar isso nas inúmeras refilmagens, reboots e sequências de histórias e personagens que fizeram sucesso em um passado não tão distante. “La La Land – Cantando Estações” se beneficia não só por isso, já que faz um resgate da época de ouro dos filmes musicais enquanto homenageia a querida cidade de Los Angeles. A dupla iniciativa vem acompanhada de um casal de protagonistas simpáticos que vivem um romance enquanto perseguem sonhos e superam desafios. Assim, o longa-metragem é totalmente formatado para receber a aprovação popular e da imprensa especializada. Tudo parece estar no lugar e dá a impressão de que encontrar qualquer defeito na produção é forçar a barra, já que o diretor Damien Chazelle consegue fazer um filme de sentimentos e de fácil digestão. Os sete prêmios recebido no Globo de Ouro 2017 aumentaram as expectativas, principalmente com a responsabilidade de colocar o cinema musical novamente nos holofotes. Nesse contexto, “La La Land – Cantando Estações” traz referências fáceis de identificar. A sequência inicial, por exemplo, é extremamente bem realizada, com Chazelle assumindo o risco do plano sequência sem sofrer danos.

Roteiro A questão é que o miolo do filme, mais especificamente o segundo ato, repete os conflitos que ora são infantis, ora

Ryan Gosling e Emma Stone protagonizam novo filme de Damien Chazelle, mesmo diretor de “Whiplash: Em Busca da Perfeição”. O romance opta pela leveza da história e números musicais divertidos, sem ser extraordinário

pendem para o brega. O roteiro, também assinado por Chazelle, não oferece muito além do que comédias românticas enlatadas fazem todo mês nas telonas do cinema. Não fosse pelo ótimo começo e excelente desfecho, “La La Land – Cantando Estações” teria dificuldade de fazer com que o público saísse da sessão com uma sensação agradável, de nostalgia e, talvez, até um pouco mais apaixonado pelo próprio cinema. É difícil se envolver com os conflitos dos protagonistas: um quer ser pianista; a outra, atriz. Eles estão na devastadora Los Angeles, que não se apieda de questionar seus talentos. Assim, o que o roteiro oferece de melhor é o nascimento da relação amorosa entre Mia, vivida por Emma Stone, e Sebastian, papel de Ryan Gosling. A química entre os dois é inegável e o que eles trazem de espontaneidade e humor para o texto de Chazelle ren-

dem ótimas cenas de relacionamento. A forma como eles se apoiam, se questionam e se desenvolvem como um casal é o que cria a empatia da obra, não necessariamente seus desafios no mercado artístico de Los Angeles. Entretanto, é compreensível que a imprensa internacional tenha sido arrebatada pelo filme de Chazelle, que fala com muita franqueza sobre os pontos de vistas de se tornar alguém, de construir relações. Além, claro, das homenagens musicais. Por outro lado, é notável que a obra, visualmente bem desenvolvida, já nasça quase datada, justamente por não trazer nada de novo, nem de extraordinário, para o cinema contemporâneo.

Elenco Stone e Gosling também se aproveitam da imagem de queridinhos da América para impressionar com suas habilidades musicais: ela, com uma voz belíssima; ele, ao dedilhar

DIEGO BENEVIDES

Conversa

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Prêmio da Crítica AASSOCIAÇÃO CEARENSE de CríticosdeCinema (Aceccine)anunciou noinícioda semanaoscurtase longas-metragensquese destacaram nodecorrerdo ano passado.Composta por20profissionaisdecinema e audiovisualqueatuamcomo críticos noCeará,aAceccine elegeu “Elle”, dirigidaporPaul Verhoeven, omelhor longaestrangeiro.Já entre oslongas nacionais,“Aquarius”,do pernambucanoKleber Mendonça Filho,foi aescolha da maioria.Paraas duascategorias foramconsiderados filmesque estrearamnocircuito comercialdeFortaleza entre janeiro e dezembrode2016e queficaram, pelo menos,uma semanaem cartaz. Paraacategoria delongacearense, a Aceccinedecidiuentre filmes que estrearamcomercialmenteou produçõesinéditasque tiveramuma primeiraexibiçãopública em mostras oufestivais locais.O vencedorfoi “Clarisseou AlgumaCoisa SobreNós

“AQUARIUS”, deKleberMendonça Filho,foi eleitoomelhorlonga brasileiropelaAceccine Dois”,dePetrusCariry.Entre os curtas, omineiro“EstadoItinerante”, deAna CarolinaSoares, eocearense “Janaína Overdrive”,deMozartFreire,foram os premiados.Com umano deexistência, aAceccine temocompromisso de estimularo pensamentocríticoacerca dasobrasaudiovisuais, valorizando a produçãobrasileirae cearense.

canções incríveis no piano. A soma é boa e ajuda na proposta de realizar um feel good movie de verão. O diretor Damien Chazelle também está mais contido, se comparar ao trabalho exagerado de “Whiplash: Em Busca da Perfeição” (2014). O cineasta tem total domínio dos elementos visuais e dinâmicos do cinema musical, oferecendo uma condução segura e criativa da maioria dos números musicais. Por outro lado, algumas alternativas soam repetidas, como a insistência de apagar e acender luzes para marcar os personagens na cena. Em filmes assim, elementos como a trilha sonora, a direção de produção e os figurinos sempre enchem os olhos por serem capazes de recriar e, às vezes, repensar as propostas de linguagem e gênero das obras. Ainda que não seja extraordinário, “La La Land – Cantando Estações” cumpre a fácil missão de fazer o público se apaixonar sem esforço.

Prêmio Especial A Aceccine também dedicou um prêmio especial de contribuição artística ao cineasta cearense Rosemberg Cariry (na foto ao lado dos filhos Petrus e Bárbara Cariry, também cineastas). O prêmio visa destacar pessoas ou ações que transformaram o cinema cearense no decorrer dos anos. Com mais de 40 anos de uma carreira sólida, Rosemberg completou 30 anos de lançamento de “O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto” e 20 anos de “Corisco e Dadá”, duas obras essenciais que reconhecem a cultura nordestina e, principalmente, a produção longeva do diretor. O último trabalho de Rosemberg foi “Os Pobres Diabos”, em 2013. De lá para cá, ele cuida da finalização de “Folia de Reis”, além das contribuições aos projetos individuais dos filhos.

As novas fronteiras do cinema brasileiro, principalmente o que é lançado em circuito alternativo, são parte da pauta de um debate que será realizado no auditório do Porto Iracema das Artes, no dia 18 de janeiro, a partir das 15h. Membros da Aceccine irão comandar um debate sobre as principais obras nacionais lançadas no ano passando, jogando luz sobre o que há de mais interessante e inventivo na atual produção cinematográfica brasileira.

A

trajetória da Disney na história do cinema mundial é respeitável. O estúdio permeou a vida de muitas gerações que até hoje encaram alguns de seus filmes como obras-primas. Também acompanhou o desenvolvimento tecnológico para conseguir texturas e efeitos visuais encantadores em seus filmes. Com “Moana – Um Mar de Aventura”, a Disney mantém seu compromisso em conquistar o público infantil e a intenção velada de precisar vender produtos originados de seus filmes, ainda que isso comprometa um pouco a experiência dos adultos durante a sessão – aspecto que os estúdios estão evitando justamente para integrar a família como um todo, não apenas como uma parte. Não que o filme não seja bacana, até é. Alguns elementos da história, como a pesquisa histórica que foi feita para ambientar as aventuras da princesa polinésia e o fato de não colocar a protagonista dependente de um príncipe para cumprir seus objetivos funcionam bem. A mistura da tecnologia 2D e 3D também confere à animação um visual impecável, onde é quase possível sentir o clima dos cenários e a água morna do mar. A grande questão dessa e de outras animações recentes do mega estúdio é a decisão clara de repetir os mesmos mecanismos da contação da história. Os conflitos parecem apenas se adequar ao novo ambiente, para então se repetirem as mesmas previsibilidades vistas em outras produções.

É um exagero pedir ousadia de um estúdio preocupado com a mensagem bonita que tem a passar para as famílias, mas a repetição na forma de narrar já não causa o mesmo impacto. Os diálogos são pouco inspirados, cabendo aos carismáticos personagens sustentarem o interesse pela trama. Moana é uma das melhores princesas até o momento. Ainda que seja frágil, ela é determinada, amorosa e corajosa, potencializando diversas questões globais em sua aventura. Ao seu lado, o semideus Maui enfrenta o passado e cria relações de amizade com a protagonista. Além deles, cabe a um galo desajeitado servir como alívio cômico em cena, nem sempre funcionando. As aventuras em alto mar são repletas de perigo e o design de produção não deixa a desejar ao criar as ambientações necessárias. Como era de se esperar, a trilha sonora continua encantando, inclusive as versões em português que são desenvolvidas para substituir as músicas originais. A direção da dupla John Musker e Ron Clements, ambos responsáveis pelos clássicos “A Pequena Sereia” (1989), “Aladdin” (1992) e o mais recente “A Princesa e o Sapo” (2009), é sutil e criativa, conquistando pelos detalhes. “Moana – Um Mar de Aventuras” não se esforça para criar novas perspectivas e, dessa forma, garante a atenção da criançada com facilidade. Apesar das limitações, é impossível não sair da sessão cantarolando uma ou outra música. (DB)

Em “Moana – Um Mar de Aventuras”, a Disney se mantém na zona de conforto ao repetir fórmulas que deram certo em animações anteriores para divertir

Vozdacomunidade

Lançamento Como parte da Mostra Retrospectiva/Expectativa do Cinema do Dragão-Fundação Joaquim Nabuco, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) lançará o livro “Os 100 Melhores Filmes Brasileiros”. Os autores – cinco cearenses que participaram da publicação – reúnem-se no dia 17 de janeiro, a pós a sessão de “São Bernardo”, programada para as 19h30. O livro é um guia essencial para quem deseja refletir sobre o cinema nacional no decorrer dos anos.

CINEMA EM CASA Na linha de lançamentos que chegam direto ao catálogo da Netflix está o drama francês “Divinas”, que concorreu ao Globo de Ouro 2017 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro (como era esperado, perdeu para o excelente “Elle”, de Paul Verhoeven). “Divinas” se passa em um gueto onde o tráfico local se confunde com a religião. A trama acompanha Dounia, jovem que mora no gueto e decide tentar vencer na vida, seguindo os padrões do lugar onde mora: ela pretende se tornar uma traficante reconhecida e poderosa. Para isso, terá a ajuda de Maimouna, sua melhor amiga, mas ela não sabe os perigos que vai correr. Com uma visão humanizada e política, o longa é uma ótima opção para o fim de semana.


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