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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 15 E 16 DE JULHO DE 2017
CONTRAPLANO DRAMA
PREMIAÇÃO
GP do Cinema Brasileiro
A
Karine Teles e Tom Karabachian brilham no drama “Fala Comigo”, longa-metragem de estreia do cineasta Felipe Sholl
Uma paixão entre quatro paredes Em “Fala Comigo”, o diretor estreante Felipe Sholl aborda solidão, família e sexualidade DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema
O
principal mérito de “Fala Comigo”, dirigido por Felipe Sholl, também é o seu calcanhar de Aquiles. Ao propor a discussão sobre alguns temas ainda considerado “tabus”, como a descoberta da sexualidade e relacionamentos afetivos entre uma mulher mais velha e um adolescente, a drama ganha pelos bons diálogos, mas nada em um território já explorado tantas vezes pela televisão e pelo cinema. O roteiro, que demorou cerca de 10 anos para ser rodado, tem seus encantos. Diogo, papel de Tom Karabachian, tem 17 anos e passa seus dias ligando
para as pacientes de sua mãe terapeuta, interpretada por Denise Fraga. Do outro lado da linha, o que começa como um fetiche ao ouvir a voz de Angela, papel da sempre excelente Karine Teles, se transforma em um relacionamento inusitado. Angela é uma mulher que sofre após o abandono do marido. A solidão faz com que ela perceba em Diogo uma possibilidade de renovar suas perspectivas de vida. É acertado que Sholl ambiente sua história no cotidiano de uma classe média em decadência, temática recorrente no cinema brasileiro contemporâneo. Em “Fala Comigo”, as famílias são aparentemente perfeitas, mas o que os caracterizam como seres regulares é o que acon-
tece dentro de casa. Todos os conflitos são gerados pela relação deles com o mundo.
Descobertas Diogo enfrenta o despertar da sexualidade, o entendimento do próprio corpo e o seu lugar no mundo. Angela, com seus mais de 40 anos, busca recomeçar a vida, mesmo que ainda confusa do que realmente é bom para ela. Em uma determinada cena, Denise Fraga e Karine Teles fazem seus personagens explodirem em cena. Elas questionam, entre mãe e namorada, o que está acontecendo nas duas famílias. Em momentos como esse, o roteiro de Sholl expõe suas particularidades com êxito. Mesmo que caminhe pela previsibilidade dos personagens, existe um cuidado na relação entre diálogo e encenação, fazendo com que os personagens mostrem suas mais va-
DIEGO BENEVIDES
Pernambuco I
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
Poder do voto OJÚRI PRINCIPAL da27ª edição doCine Ceará- Festival Ibero-americanodeCinema já está definido.Compõem acomissão o jornalistaecrítico decinema chileno ErnestoGarrattViñes, após experiênciasemfestivais comoos de Londres,Moscou eCannes; a produtorae diretoraIsabelMartinez, daCosta Rica;operuanoLuis Peirano, professorsênioda Pontifícia UniversidadeCatólica doPeru, onde dirigeafaculdade deArtesCênicas;a brasileiraMariaDora Mourão, professoratitulardo Departamentode Cinema,Rádioe TV da ECA-USPe montadoradefilmes como“São Paulo -Sinfonia eCacofonia” (1994),deJean ClaudeBernardet, e“São Paulo Cinemacidade”(1994), deAloysio Raulino;eo venezuelanoVictor LuckertBarela, engenheirodesom em Cinema.Ossete longas-metragens concorremao Troféu Mucuripe nas categoriasde MelhorFilme,Direção,
ERNESTOGARRATVIÑES,jornalistae críticodecinema chileno,integra júri oficialdos longasdo Cine Ceará Fotografia,Edição, Roteiro,Som, Trilha SonoraOriginal, DireçãodeArte, Atore Atriz.OCine Cearáacontecerá de5 a11 deagosto,com sessõesprincipais exibidasnoCineteatro SãoLuiz, no centrodeFortaleza, além demostras especiaisnoCinema doDragão. Todaa programaçãoé aberta ao público.
riadas vertentes para que o público decida como intervir e se relacional com eles. Na direção, Sholl não compromete o desempenho do filme, ainda que prefira não sexualizar demais suas cenas, mesmo que o sexo seja uma constante na película. Chega até ser bastante efetivo a suposição do ato sexual que acontece fora da tela, do que uma cena mais carnal. Entre altos e baixos, “Fale Comigo” traz na interação dos atores sua principal força. A experiência de Denise Fraga e Karine Teles fazem de seus personagens únicos, enquanto o jovem Tom Karabachian segura bem a trama desde o início da projeção. Vencedor do Festival do Rio do ano passado, “Fala Comigo” aborda o que fazemos com o tempo que temos, o espaço que queremos ocupar e as permanência das relações afetivas nos dias de hoje.
Bate Coração Diretor de filmes como “Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito” (2008) e “As Mães de Chico Xavier” (2011), o cearense Glauber Filho deu início às filmagens da comédia de costumes “Bate Coração”. As gravações irão seguem até o dia 20 de agosto, com locações em Fortaleza. A trama acompanha o preconceituoso Sandro, interpretado pelo ator André Bankoff, e a travesti Isadora, vivida por Aramis Trindade. Na noite de Ano Novo, Sandro sofre um ataque do coração e precisa fazer um transplante de urgência e acaba recebendo o coração de Isadora, que havia morrido poucos momentos antes, na mesma noite, vítima de um acidente. Após o transplante, Isadora, em espírito e contra sua vontade, passa a seguir os passos do publicitário.
Referência de produção audiovisual no Nordeste, o Governo de Pernambuco, por meio da Secult-PE e da Fundarpe, contemplou 112 iniciativas por meio do Funcultura Audiovisual 2016/2017. Para a edição, estão assegurados R$ 20.150.000, sendo R$ 10.150.000 provenientes do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura e o restante disponibilizado pelo Fundo Setorial do Audiovisual da Ancine.
Academia Brasileira de Cinema anunciou, na última quinta-feira (13), os filmes que concorrerão na 16ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, considerado “o Oscar nacional”. Um total de 35 longas-metragens e 18 curtas integram as 24 categorias do prêmio. Uma das surpresas foi a presença da cinebiografia “Elis”, dirigida por Hugo Prata, como líder das indicações, totalizando 12. O drama musical foi seguido por “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, com 11, e “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, com 10. Ano passado, o GP foi dominado por “Que Horas Ela Volta?”, de Ana Muylaert, que esse ano concorre com “Mãe Só Há Uma”. Esse ano, o favoritismo tem tudo para ser do drama pernambucano “Aquarius”. A Academia, que divide os concorrentes em ficção e documentário, também tem uma categoria para longas de comédia. “O Shaolin do Sertão”, do cearense Halder Gomes, encabeça a lista ao lado de “É Fada”, “BR716” e “Minha Mãe é uma Peça 2”. A comédia cearense ainda concorre nas categorias técnicas de direção de arte, figurino, maquiagem e som. O Ceará também está representado pelo cineasta Arthur Leite, que concorre com “Abissal” na categoria de curtas-metragens documentais. Depois de fazer uma excelente trajetória nos festivais de cinema do ano passado para cá, “Abissal” pode
surpreender na premiação da Academia. Criada em 2002 com o objetivo de contribuir para a discussão, fortalecimento e promoção do cinema nacional, a Academia conta, hoje, com mais de 200 sócios que participam da votação em diversas etapas. O GP não deixa de ser uma premiação bastante voltada ao mercado, que se justifica inclusive pela presença de “Elis” com o maior número de indicações. A obra de Hugo Prata sequer representa o que há de melhor na produção audiovisual nacional. Os filmes alternativos e de circuito limitado se restringem aos que tiveram mais visibilidade, como o próprio “Aquarius” e o ótimo documentário “Cinema Novo”, mas outras obras relevantes para a filmografia nacional mal aparecem. Não há premiação, nem mesmo o Oscar, que consiga abarcar com competência o que há de melhor nas entrelinhas. O excelente “Sinfonia da Necrópole”, de Juliana Rojas, foi lembrado apenas na categoria de melhor som, quando faz uma mescla impressionante de gêneros e um trabalho grandioso de narrativa. Exibido no Festival de Veneza, “Mate-me Por Favor”, de Anita Rocha da Silveira, oi lembrado apenas pela trilha sonora, mesmo sendo destaque em diversas listas de melhores filmes do ano passado. A premiação será realizada no Theatro Municipal, no dia 5 de setembro, no Rio. (DB)
Cinebiografia sobre Elis Regina lidera indicações ao “Oscar brasileiro”, totalizando 12 citações. Filme é seguido por “Aquarius” e “Boi Neon”
Emdestaque
Pernambuco II Os projetos foram contemplados nas categorias de Longa-metragem, Curta-metragem, Produtos para TV, Difusão, Formação, Pesquisa, Preservação, Cineclubes e Revelando os Pernambucos, destinada a projetos de curtas e difusão pelas regiões do estado. Do total, 65 projetos contam com profissionais negros/as e indígenas em suas equipes principais e quase metade das obras serão dirigidas ou roteirizadas por mulheres.
CINECLUBE Um dos representantes da nova safra de realizadores pernambucanos, Felipe André Silva participa de sessão seguida de debate do longa-metragem "Um Homem Sentado no Corredor" na segunda-feira (17), às 19h, no Cinema do Dragão. A exibição faz parte do Cine Rebuceteio, cineclube mensal que exibe obras brasileiras inéditas em Fortaleza. No longa, Felipe faz um estudo sobre o lugar da performance e da interpretação em nossas vidas e propõe uma reflexão sobre as relações sociais cotidianas como objetos de performance. Através do silêncio, dos olhares, dos espaços geográficos e dos espaços emocionais, o filme investiga quais seriam os limites entre o universo do ator, do palco, do set, e a sua vida além da arte. A entrada é gratuita.