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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 17 E 18 DE JUNHO DE 2017
CONTRAPLANO COMÉDIA
DOCUMENTÁRIO
Mergulho em águas rasas
A
O show tem que continuar Trajetória da primeira geração de artistas travestis do teatro Rival, do Rio de Janeiro, é tema de documentário dirigido pela atriz Leandra Leal
Em sua estreia como diretora, Leandra Leal realiza documentário pessoal com ícones do transformismo DIEGO BENEVIDES Crític ode cinema
R
ogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios foram marcos do cenário artístico do Teatro Rival, no Rio de Janeiro, nos anos 1960. Homens que se vestiam de mulher e se apresentavam no palco eram praticamente “aberrações” na época, socialmente falando, mas também eram motivo de diversão em tempos sombrios onde resistir era ainda mais difícil. Elas nunca foram estranhas para Leandra Leal, atriz que agora tem sua primeira experiência como diretora no documentário “Divinas Divas”, com estreia prevista para 22 de junho. Ainda pequena, Leandra corria entre as coxias e enxergava nessas artistas a pureza da arte, da performance, do ser humano.
Essa proximidade das divas ajuda na fluidez da obra, já que ninguém melhor do que Leandra, que observou e conviveu com as artistas durante anos, poderia extrair delas preciosas memórias do passado. Mas “Divinas Divas” não é apenas um filme sobre a representatividade dessas artistas, dando a elas um reconhecimento que parece ter se perdido tempo. É também sobre a própria Leandra, que narra e discute como as divas a influenciaram não apenas como atriz, mas também como mulher. O Rival, que foi dirigido pelo avô Américo Leal e depois pela mãe Ângela Leal, é o elemento em comum entre a diretora e as personagens. Ano passado, Leandra reinaugurou o palco octogenário na Cinelândia.
Olhares O longa-metragem não esconde a forma que a diretora idolatra suas divas e, talvez, isso crie uma linha narrativa muito plana, mas nunca superficial. É o que faz também com que o documentário seja menos enxuto do que devia, talvez pelo apego da diretora em mostrar o que há de melhor nelas. É um pouco longo, mas ver aque-
las artistas repensando o passando, falando sobre identidade de gênero e marcas deixadas por conflitos sociais e políticos no Brasil é grandioso. Enquanto as memórias surgem, Leandra e as divas montam um novo espetáculo para comemorar os 50 anos de carreira delas. É o momento de pensar no artista que, mesmo com as limitações surgidas com a idade, continua com a alma de realizador. O show não pode parar, o palco chama e as luzes brilham. “Divinas Divas” acerta por não se restringir a nenhum tema específico e por optar mostrar a essência de cada artista até chegar a como elas estão hoje após um período de glória. Talvez a mais conhecida ainda seja Rogéria, mas isso não impede que o público se interesse pelas histórias das demais, especialmente Camille K e Marquesa. Ao olhar para o passado, o filme também faz uma leitura do presente. As travestis hoje podem ser chamadas de vários outros nomes equivalentes, mas a arte que apresentam é duradoura. Vê-las como obra de arte é uma forma de respeitá-las, mesmo que a sociedade
DIEGO BENEVIDES
Seminário
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
Brasília 50 edições PROVAVELMENTE oencontro decinemamais importantedo circuito nacional,oFestivaldeBrasília do CinemaBrasileiro anuncioumudanças paraa 50ªedição, queacontece de15 a24desetembro. Aprincipal delasé querserãodez dias deevento,com programaçãoque irácomportar nove longas-metragense12curtasna competiçãoprincipal. Outranovidadeé queoevento vai oferecerpremiação em dinheiroa todososfilmes selecionados, novalor totaldeR$ 340 mil. Ojúripopular poderávotarporum aplicativopara celulareelegerá os vencedoresdo PrêmioPetrobrasdeCinema:o longa-metragemreceberá R$200mil emcontratodedistribuição eocurta, prêmiostécnicosoferecidos por parceirosdoevento. Ojúrioficialserá compostopor cineastas,críticos, pesquisadores e artistasedistribuirá ostradicionais troféusCandangoem 22categorias.
“A CIDADE ONDEENVELHEÇO” foi o longa-metragemvencedordo Festival deBrasília doano passado AMostraFuturo Brasil daráa oportunidadepara filmes aindanão finalizadosdeserem exibidosa curadoresdegrandesfestivais internacionais.Realizadoresbrasileiros podemsubmetersuasobras até7 de julho,pormeio do siteoficial (www.festivaldebrasilia.com.br).
ainda cambaleie em um processo demorado de aceitação das variações de gênero. O ator independente ainda é visto como à beira da margem, com poucas oportunidades e, às vezes, sem reconhecimento algum. A resistência é emanada pelas artistas, que lá atrás enfrentavam tudo e todos em busca de reafirmação e sucesso. Destaque também para a direção de fotografia assinada por David Pacheco, que confere um clima vivo, sem pender para o melodrama que as reflexões do passado poderiam remeter. É um filme que, mesmo com histórias dolorosas, emana o gosto pela vida, pela arte e pela performance. E essa energia é vista por todos os lados. “Divinas Divas” é uma ode ao surgimento e à resistência do estrelato. Como diretora de primeira viagem, Leandra Leal não decepciona por ter um olhar apurado e sensível, sem deixar de ser político e atual. Através das roupas, perucas e maquiagens exuberantes ela mira na essência da arte, ao mesmo tempo em que se vê inevitavelmente espelhada naquelas personagens.
Cineclube A parceria entre o cineasta Dellani Lima e o músico Jonnata Doll é o tema da segunda edição do Cine Rebuceteio, que acontece gratuitamente segunda-feira (19), às 19h, no Cinema do Dragão. Serão exibidos o curta-metragem “Aquele Cara” (2013), protagonizado por Jonnata e dirigido por Dellani, onde os dois se encontram para falar sobre o fazer artístico contemporâneo. Também está na programação o longa inédito em Fortaleza “Planeta Escarlate” (2016), dirigido por ambos e que marca a estreia do cantor como diretor. A sessão será seguida de debate com Dellani Lima, paraibano que criou raízes no Ceará. Tanto Dellani quanto Jonnata hoje moram em São Paulo, mas nunca se desvencilharam da cena cultural cearense.
O Cine Ceará e a Ancine realizam, nos dias 22 e 23 de junho, o seminário “Do Planejamento à Prestação de Contas”. Destinada a produtores, cineastas, estudantes do último ano de Cinema, além de profissionais de contabilidade e advocacia atuantes em projetos audiovisuais aprovados na Ancine, a atividade tem por objetivo capacitar os profissionais do estado na formatação e execução de projetos audiovisuais.
imagem de Pamela Anderson correndo em câmera lenta na praia é familiar para quem foi viciado em televisão nos anos 90. A série “Baywatch”, também conhecida como “S.O.S. Malibu”, foi exibida originalmente entre os anos 1989 e 2001 e, bom, não deixou um legado muito expressivo a não ser por mostrar corpos masculinos e femininos como objetos de desejo e fetiche. Até aí tudo bem, nenhuma culpa ao que a série representou no passado. O fato é que parece-me difícil lembrar de algo mais além disso. Então, claro, a indústria da nostalgia resolve reviver a trama com objetivo estritamente comercial, mas trazê-la para os dias de hoje requer algumas responsabilidades inevitáveis. “Baywatch”, o filme, é uma sátira de si mesmo, o que abre mais possibilidades para o teor cômico da história protagonizada por Dwayne “The Rock” Johnson e Zac Efron. Está ali também uma pitada de ação, onde os mocinhos precisam desvendar um mistério que atinge a praia que tanto zelam. O problema é que o filme dirigido por Seth Gordon, responsável por “Quero Matar Meu Chefe” (2011) e “Uma Ladra Sem Limites” (2013), falha nas poucas ideias que propõe. Não é uma boa história de comédia, muito menos de aventura ou investigação. Mesmo que não se leve tanto a sério, é indefensável que uma obra de duas horas de duração se esvazie tantas vezes sem trazer nada de
fresco, nem repensar o que seria essa história atualmente. The Rock é um ator carismático. O porte grandalhão contrasta bem com a energia do herói do mar, mas sozinho é incapaz de salvar uma história descartável. Zac Efron até começa bem, como um rival inesperado de The Rock, mas depois seu personagem se rende a todos os clichês possíveis. Jon Bass tenta ser o alívio cômico principal da trama, como o “gordinho engraçado”, mas seu talento nato para é atrapalhado por situações que beiram a imbecilidade dramatúrgica e debocham da inteligência do espectador. No elenco feminino, resta realmente admirar a beleza das musas Alexandra Daddario, Kelly Rohrbach, Ilfenesh Hadera e Priyanka Chopra. Afinal, elas continuam sendo colocadas junto a piadas machistas, culto ao corpo e incapazes de resistir a um homem. O que é bizarro, diga-se de passagem, já que a indústria pop tem tentando recolocar a mulher em uma esfera de empoderamento, onde é possível a perda de espaço do machismo e de suas piadinhas repetitivas que envolvem órgãos sexuais e competência na cama. Ainda que ninguém espere um grande filme, “Baywatch” se afoga no mar da praia por não trazer absolutamente nada de útil em sua trama, nada que se possa pensar nos dias de hoje, seja em sua proposta de comédia, de fetichização, de heroísmo ou qualquer outro tema referente. (DB)
Os atores Dwayne “The Rock” Johnson e Zac Efron estrelam a versão cinematográfica de “Baywatch”, sucesso televisivo nos anos 90
PremiadosemJeri
Destaque O Telecine venceu a PromaxBDA Global Excellence Awards 2017,a mais importante premiação mundial para peças criadas para TV, rádio, mídia impressa e eletrônica. Personagens clássicos como Tubarão, King Kong e Rocky Balboa ganharam vida em ilustrações feitas à mão, na campanha “Veja o Mundo com Outros Olhos – Vá ao Cinema”, que ficou em primeiro lugar na categoria Channel Image Promotion Campaign.
FESTIVAL Terminou na última terça-feira (13) a sexta edição do Festival de Jericoacoara Cinema Digital. O júri oficial foi formado por Camila Vieira, Jefferson Albuquerque, Rafael Saar, Phillipe Bandeira e João de Lima. Apesar do hibridismo e das misturas que marcam o cinema contemporâneo independente, seja em formato ou gênero, o evento ainda divide os concorrentes em ficção, documentário, animação e experimental. Os vencedores foram, respectivamente, “Rosinha” (foto), de Gui Campos; “Botes Bastardos”, de Pedro Cela; “Salu e o Cavalo Marinho”, de Cecilia Da Fonte, e “Matiz”, de Jackson Abacatu. Foram entregues 13 troféus ‘Pedra Furada’ na cerimônia, além de um prêmio especial do júri para a atriz Maria Alice Vergueiro, estrela de “Rosinha”, “pela contribuição ao cinema brasileiro dentro da trajetória de pesquisa de composição de personagens emblemáticos”.