Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 19/11/16

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 19 E 20 DE NOVEMBRO DE 2016

Contraplano POLIAMOR

FANTASIA

Três pode ser um número mágico

Viagem de volta ao universo bruxo O mais autoridade para o que está sendo visto. Por outro lado, a história traz poucos grandes momentos e insiste em adotar um caráter mais infantil na construção dos personagens.

J.K. Rowling e David Yates trazem de volta a magia em “Animais Fantásticos e Onde Habitam”

Empatia Newt não é exatamente o protagonista mais carismático do mundo e Eddie Redmayne parece pouco confortável no papel, mas o que acontece ao redor dele é que sustenta o longa. O Kowalski de Dan Fogler e a Queenie de Alison Sudol são os principais destaques do elenco, trazendo a vitalidade que já conhecemos para dentro desse novo universo. Com eles, é até mais fácil passar despercebido a inutilidade de alguns personagens secundários, sem empatia alguma. A tão falada participação de Johnny Depp, ironicamente, é um dos momentos mais interessantes da projeção e deixa no ar a curiosidade do que o ator pode fazer com o seu personagem. Como não poderia deixar de ser, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” se apropria de efeitos visuais impressionantes, principalmente na reprodução das criaturas mágicas que aparecem em Nova York. Os efeitos tridimensionais também não decepcionam, já que ambientam o ar de catástrofe que o filme traz. Entretanto, a trilha sonora do veterano David Newton Howard compromete a imersão em diversos momentos não pelos excessos, mas pela ausência ou secura dos acordes. Ainda que “Animais Fantásticos e Onde Habitam” não seja exatamente o filme perfeito que os pottermaníacos esperavam, há uma sensação boa ao retornar a esse mundo que tanto discutiu questões sociais e familiares anos atrás. Agora, resta esperar que J.K. continue inspirada para engrandecer os próximos quatro longas da franquia.

DIEGO BENEVIDES Repórter

O

s livros e filmes da saga “Harry Potter” se transformaram em um fenômeno cultural. Milhares de jovens pelo mundo cresceram lendo e assistindo as histórias do garoto que sobreviveu ao maior bruxo das trevas. Além do caráter cultural, a franquia também rendeu muito dinheiro. Foram cerca de US$7 bilhões apenas no cinema, o que indica que a expansão desse universo em “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é, sobretudo, comercial. Agora, a autora J.K. Rowling e o diretor David Yates têm uma nova franquia em mãos, situada no mesmo universo de Harry. Dessa vez, o protagonista é Newt Scamander, interpretado por Eddie Redmayne, o magizoologista autor do livro homônimo que foi usado por Harry e seus amigos em Hogwarts. Em uma viagem para Nova York, Newt acaba soltando algumas de suas criaturas estranhas e perigosas, que fogem da mala e tomam conta da cidade. Em paralelo, Newt precisa lidar com a ameaça de Gerardo Grindelwald, um poderoso bruxo das trevas que está desaparecido. A história, portanto, pouco referencia “Harry Potter” em si. A independência do novo longa é o seu principal charme justamente por provar, mais uma vez, que a mente de J.K. Rowling é uma máquina de criatividade. A expansão do universo bruxo ainda é encantadora, sendo fácil perceber as incontáveis possibilidades que a nova franquia tem a oferecer. Dessa vez, a própria J.K. assina o roteiro do filme, o que traz

DIEGO BENEVIDES

Parceria

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Intercâmbio jovem JÁVI GENTE usandoa alcunha “filmedeescola” para reduziruma produçãoaudiovisualaumpatamar ruim.Acontece que, nosúltimosanos, coma expansãodos cursos de graduação,extensãoetécnicos em audiovisualpeloCearáe peloBrasil, os jovensrealizadoresproduzem em umaproporção maior, com maior preocupaçãotécnicaeousando nas formasdecontaruma história. Filme ruimtemem qualquerlugar, sejano cinemaprofissional ou no universitário. Há 15anos,oFestival Noiaabre as portase emprestasuastelas para os jovensrealizadoresbrasileiros.Esse ano,oevento retomatambém as mostrasdefotografia e bandas universitárias,com oobjetivo defazer daCaixa Cultural Fortalezaumgrande centrodeintercâmbiocultural nas maisdiversas linguagens.Toda a programaçãodo Noia égratuita eestá marcadapara acontecer entre osdias

“ANTES DA ENCANTERIA”integra a mostracompetitiva brasileiradecurtas universitáriosdoFestival Noia 22e27 denovembro.Realizadoresde foradoEstadose encontrarãocom os artistaslocaispara dialogar sobresuas produções.Éuma troca que,acimade tudo,apontapara os nomes promissoresque,em umfuturo não muitodistante,serão facilmente reconhecidoscomo bonsprofissionais docinema.

Bilheterias Com apenas duas semanas em cartaz, “Doutor Estranho” lidera com folga as bilheterias nacionais, com uma renda acumulada de R$45 milhões, referente ao fim de semana passado, de acordo com o Filme B. Em décimo lugar está a comédia “O Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes, que bateu os 500 mil espectadores de “Cine Holliúdy” após cinco semanas e arrecadou R$6,5 milhões. A comédia superou o orçamento de produção, estimado em R$4 milhões, mas está longe do sucesso comercial de “Tô Ryca” e “É Fada”, que já passaram dos R$14 milhões e R$20 milhões, respectivamente. Pré-indicado brasileiro ao Oscar, o drama familiar “Pequeno Segredo” movimentou apenas 55 mil espectadores, sem alcançar o primeiro milhão faturado na semana de estreia.

O cineasta David O. Russell, diretor de filmes como “O Lado Bom da Vida” e “Trapaça”, codirigiu um curta-metragem em parceria com a estilista Miuccia Prada intitulado “Past Forward”, um filme multiplataforma que já está disponível no site da Prada. O projeto ambicioso mostra atores repetindo cenas e movimentos em uma lógica narrativa pouco convencional. Participam do filme Freida Pinto, John Krasinski, Sacha Baron Cohen, Paula Patton, entre outros.

s baianos Cláudio Marques e Marília Hughes têm interesse de discutir a juventude, seja no premiado “Depois da Chuva” (2013) ou neste “A Cidade do Futuro” (2016), drama inédito que percorre festivais e venceu os prêmios de melhor filme e direção na opinião do júri oficial do 10º For Rainbow. Ao abordar a relação amorosa de um trio de jovens, formado por dois homens e uma mulher, o longa-metragem propõe uma discussão sobre amores livres dentro de um cenário curioso, uma pequena comunidade no interior da Bahia. Ainda que a proposta seja interessante, falta um pouco de empatia no que é visto em tela, até porque a relação moderna não transgride e aparenta ser tão conservadora quanto o contexto em que está inserida. A legitimidade da relação é questionada pelos familiares e por desconhecidos do trio a partir de clichês do roteiro que dificultam a torcida a favor de um final feliz. Vale apontar que a relação a três funciona principalmente quando os casais estão divididos. É quando os atores estão mais confortáveis e a trama flui naturalmente. Juntos, parecem temer demais, oferecendo de menos para o filme. Marques e Hughes se prendem aos estereótipos, o que pre-

judica o pensamento da juventude atual, que tentam se libertar não apenas dos padrões do corpo como também de suas emoções, se permitindo viver situações como a do filme. Ainda, os diretores inserem um contexto político de deslocamento da comunidade como uma proposta de reflexão política, mas em nada interfere na construção narrativa. Também é um ponto interessante visto isoladamente já que, dentro dos conflitos do trio, esse contexto com pitadas documentais se comporta como um extraterrestre, sem dar unidade dramática. As interpretações naturalistas de Mila Suzarte, Gilmar Araújo e Igor Santos trazem algumas dificuldades no primeiro ato do filme, mas depois é fácil acompanhá-los, mesmo que o roteiro aproveite pouco a inexperiência deles para tentar transformá-los em verdadeiras forças motoras da obra. “A Cidade do Futuro” é um projeto que dialoga com as possibilidades de um mundo onde os padrões e as tradições familiares passam por mudanças, mas que não desprende totalmente suas asas para a provocação de uma trama mais corajosa. Pelo excesso de cautela, o filme fica muito quadrado e deixa de tatear o que está ao seu redor, se abstendo das alegorias e o que está fora do quadro. (DB)

Vencedor do Festival For Rainbow, longa-metragem baiano “A Cidade do Futuro” mostra o nascimento de uma família fora dos padrões

Prêmiodacrítica

Bolshoi A rede UCI Cinemas segue com a exibição exclusiva de espetáculos do Ballet Bolshoi. Neste fim de semana, é a vez de “A Era de Ouro”, que será exibido em alta definição. A história se passa em uma cidade à beira-mar, onde comércio e máfia estão ganhando espaço cada vez maior. O jovem Boris se apaixona por Rita, dançarina de um cabaré local e namorada de um gângster conhecido na região. Além de Fortaleza, outras 10 cidades recebem o espetáculo simultaneamente.

PREMIAÇÃO A Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine) concedeu os prêmios da crítica ao melhor curta e longa brasileiro do 10º For Rainbow, que terminou na última quinta-feira (17). O reconhecimento entre os longas ficou com o drama indígena “Antes o Tempo Não Acabava” (foto), de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, “por provocar uma reflexão corajosa sobre as tradições culturais através de um personagem que questiona o seu lugar no mundo”. Entre os curtas-metragens, a melhor ficou com o cearense “Cinemão”, de Mozart Freire, “pelo modo ao mesmo tempo investigativo e aproximador sobre o desejo e a sedução da imagem e pela reflexão acerca da decadência do próprio cinema”.


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