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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 26 E 27 DE NOVEMBRO DE 2016
Contraplano DOCUMENTÁRIO
SÉRIE
Memórias do transformismo
O
Diretor de filmes como “Scarface” (1983), “Os Intocáveis” (1987) e “O Pagamento Final” (1993) é homenageado em documentário cujo conteúdo é o maior atrativo
Um gênio que repensa o passado Dirigido por Noah Baumbach e Jak e Paltrow, documentário investiga a trajetória de Brian De Palma DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema
É
de se impressionar que a criatividade do cineasta Noah Baumbach, responsável pelos ótimos “A Lula e a Baleia” (2005), “Margot e o Casamento” (2007) e “Frances Ha” (2012), tenha dado um tempo ao retratar a trajetória do aclamado Brian De Palma no documentário “De Palma”, codirigido com Jake Paltrow. Claramente um filme de amor em homenagem a um dos cineastas mais lembrados pelos cinéfilos e pela crítica, “De Palma” coloca uma câmera na frente do personagem, em uma passividade às vezes constrangedora por em momento algum esboçar um pouco de inventividade.
Óbvio que é sempre bom aproveitar a presença de De Palma para que ele mesmo possa olhar para o passado, falar sobre o seu processo criativo no decorrer dos anos e trazer de volta seus filmes para reflexão. Nesse ponto, “De Palma” é um prato cheio para os admiradores do diretor. Por outro lado, o documentário deixa um gosto amargo por ser tradicional demais, muito quadrado para homenagear uma figura que, a partir de sua inegável inspiração em Alfred Hitchcock, criou filmes obrigatórios, como “Scarface” (1983) e “Os Intocáveis” (1987), para citar alguns. A montagem acredita ser suficiente a inserção de trechos dos filmes que reforçam os depoimentos do diretor e, sinceramente, rever um pouco de “Carrie, a Estranha” (1976) e “Vestida para Matar” (1980) mostra a sobrevivência dessas obras com a passagem do tempo, mas faz de “De Palma” um produto genérico e que oferece pouco.
Ainda que celebre a extensa filmografia do cineasta americano, “De Palma” é tradicional demais e pouco inventivo O documentário não se afasta muito do que costumamos ver nas informações extras de um DVD: depoimentos curiosos e só. Em momento algum, Baumbach e Paltrow fazem do próprio filme uma nova forma de olhar para o cinema.
Lacunas Como todo gênio, De Palma não esconde sua arrogância ao refletir sobre as acusações de misoginia ou mesmo sua insatisfação em precisar se dividir entre o cinema autoral e o comercial. E isso é bom porque percebe-se certa humanidade por trás do nome.
DIEGO BENEVIDES
Suassuna
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
Para ficar de olho DEPOISDE “A Chegada”,deDenis Villeneuve,e“Elle”, dePaul Verhoeven,abriremoficialmente a listadeestreias quedevemfigurar nas principaispremiações do cinema, dezembrochega com maisdestaques. ClintEastwood dirige TomHanks no dramabiográfico “Sully- OHerói do RioHudson”, sobre umcapitão que conseguiupousarumavião em pane e, mesmoconsiderado herói,passa aser investigado. DepoisdepassarporCannes, o elogiadodiretor chileno PabloLarraín chegacom “Neruda”, quefazuma viagempelavida do poetaPaulo Neruda.Tambémfilho deCannes, “Sieranevada”é onovo trabalho do romenoCristiPuiu. ElogiadonoFestival deVeneza, “AnimaisNoturnos” éosegundo filme dirigidopeloestilista TomFord,após “DireitodeAmar” (2009). Atrama tambémé estreladapor AmyAdams, queestáem“A Chegada”,emais uma
“ANIMAISNOTURNOS”, novo filme de TomFord,venceu ogrande prêmiodo júrinoFestivaldeVeneza vezdespontacomo forte candidata aos prêmiosdemelhoratriz. Dezembroencerra com oesperado“Eu, DanielBlake”,que rendeuasegunda PalmadeOurodeCannesao diretor inglêsKen Loach. Éuma ótimatemporada para iralém do cinemacomercial eacompanhar históriasque valemapena.
Por outro lado, Baumbach e Paltrow entram pouco em questões que talvez dessem mais vitalidade a “De Palma”, como uma investigação mais densa sobre a Nova Hollywood, movimento que renovou a linguagem e a estética do cinema americano no início dos anos 1960. George Lucas, Martin Scorsese, Paul Schrader e Francis Ford Coppola são brevemente citados, de uma forma mais afetiva do que profissional. Também está no documentário a estreita relação de De Palma com atores que trabalhou desde cedo, especialmente Robert De Niro e Al Pacino, que ganham mais atenção justamente pelas inusitadas experiências vividas nas filmagens. De Palma diz que acredita que um cineasta realiza bons filmes aos 30, 40 anos. Aos 76, o cineasta continua na ativa, talvez não tão afiado quanto antes, mas com uma contribuição inegável para um documentário simples demais.
Cine Caju Descentralizar a exibição e a apreciação de obras audiovisuais é o objetivo da primeira edição da Mostra de Cinema e Novas Mídias de Pacajus e Região Metropolitana – Cine Caju. De 1º a 3 de dezembro, Pacajus receberá a exibição de curtas e longas-metragens brasileiros, com acesso gratuito para a população. Entre os destaques estão os longas “O Grão” (foto), de Petrus Cariry, e “Cine Holliúdy”, de Halder Gomes, além dos premiados curtas “Guida”, de Rosana Urbes, e “Bá”, de Leandro Tadashi. Na ocasião, será elaborada a Carta de Pacajus, documento inédito que tem o objetivo de defender a política do audiovisual cearense, a partir de debate realizado entre produtores, realizadores, gestores e pensadores da área.
O longa-metragem documental “O Senhor do Castelo”, dirigido por Marcus Vilar, será o filme de abertura do 11º Curta Canoa - Festival Latino-americano de Cinema de Canoa Quebrada. O filme demorou 15 anos para ser finalizado e mostra o universo imaginário do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, a partir dos fatos que marcaram sua vida. O Curta Canoa acontece na paradisíaca praia de 15 a 20 de dezembro, com exibições gratuitas.
cineasta carioca Allan Ribeiro tem um dom hipnotizante de investigação, comprovado em obras como “Esse Amor que nos Consome” (2012) e no inédito “Mais do que Eu Possa me Reconhecer” (2014). Um dos cineastas mais talentosos da atualidade, Ribeiro selou mais uma parceria com Cavi Borges e Douglas Soares para a realização da série de mini-documentários “Noturna”, que traz 47 entrevistados em 46 episódios sobre a noite gay carioca. Os episódios começaram a ser exibidos no início de novembro como interprogramas do Canal Brasil e já começaram a ser publicados pelo site GloboSatPlay. Em “Noturnas”, Ribeiro faz um levantamento histórico dos principais artistas transformistas para mostrar suas identidades e saber quais histórias eles têm para contar. Abrindo mão de versões preconceituosas que o assunto ainda carrega, o cineasta dá o toque de humanidade ao conversar com os entrevistados, que estão completamente à vontade para relembrar o passado e improvisar. “A ideia inicial era pegar depoimentos das mais antigas para posteridade, assim como o Museu da Imagem e do Som faz com grandes artistas. Mais tarde veio a ideia dos minidocs. Porém, o material deve, no futuro, ter outras utilidades, além de ser disponibilizado para pes-
quisas. Um projeto de livro, homônimo à série, onde as entrevistas estarão de forma integral, se encontra em fase de captação”, conta. O projeto surgiu quando Ribeiro dirigiu o premiadíssimo curta-metragem “O Clube” (2014), que foi essencial para conhecer parte das histórias que estão em “Noturnas”. A imersão no universo do transformismo e a espontaneidade com que as histórias nascem pareciam a ocasião perfeita para um novo produto audiovisual. “Com a ideia da série no papel, passamos a coletar nomes entre as próprias artistas da casa e que por lá passavam. Nesse processo, demos prioridade para as personagens com maior trajetória de palco, boates e noites”, afirma o diretor. “Noturnas” é fruto de um trabalho que durou dois anos, entre pré-produção, filmagem e montagem, esta a parte mais demorada. Com duração de cerca de cinco minutos, os episódios que já estão disponíveis abertamente na internet, contam a história das artistas Aloma, Andrea Gasparelli, Angélica Ravache e Camille K. Além das histórias deliciosas de assistir, as entrevistadas mostram, principalmente, como resistiram à discriminação que ainda existe até hoje. As histórias são ricas e divertidas, contribuindo para a preservação da memória da diversidade. (DB)
Série de minidocumentários investiga o passado e o presente de artistas da noite gay carioca. São 46 episódios exibidos pelo Canal Brasil e pelo GloboSatPlay
Distopiaonline
Animação Com foco no cinema e na educação, o Projeto Enel Compartilha Animação oferece cursos gratuitos a alunos das escolas municipais e estaduais de Fortaleza. A proposta é trazer técnicas de animação para a rotina dos alunos que, ao final, serão capacitados para produzir um filme de até 60 segundos. O curso é ministrado por Telmo Carvalho, cineasta e coordenador do Núcleo de Cinema de Animação (NUCA), da Casa Amarela Eusélio Oliveira da UFC.
SÉRIE Já está disponível na Netflix a série “3%”, que deu início às produções originais realizadas no Brasil. A trama pós-apocalíptica criada por Pedro Aguilera traz um elenco encabeçado por João Miguel, que reconheceu, em entrevista, que o gênero não é exatamente uma novidade, mas que traz novos ares por ser um produto Netflix. “Os personagens são ambíguos. O Ezequiel tem esse lugar de vilão, mas é totalmente afetado pela história, pelo amor. É um personagem ferido”, define. Ainda sem anunciar uma segunda temporada para “3%”, o próximo produto original da Netflix será o filme “O Matador”, um faroeste situado entre os anos 1910 e 1940, que terá direção de Marcelo Galvão, responsável por “Colegas” (2012).