Coluna Contraplano | Caderno 3 | Jornal Diário do Nordeste | 29/04/17

Page 1

6 | Caderno3

DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE ABRIL DE 2017

CONTRAPLANO SÉRIE

HERÓIS

Precisamos falar sobre as mulheres

Os desajustados que divertem

Mais recente sucesso da HBO, a série limitada “Big Little Lies” discute questões urgentes do universo feminino DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema

A

discussão sobre gênero se acentua cada vez mais em busca de compreensão e igualdade em um mundo ainda opressor. Filmes e séries fazem seus papéis de manter a discussão aberta e alimentar o espectador com perspectivas importantes para esse período de transformação. A série limitada (a princípio, feita para ter apenas uma temporada) “Big Little Lies”, lançada pela HBO a partir da obra literária de Liane Moriarty, é mais um instrumento fundamental para abrir o debate sobre as problemáticas que ainda atingem inúmeras mulheres ao redor do mundo. Com sete episódios dirigidos pelo cineasta canadense JeanMarc Vallée, responsável por filmes como “C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor” (2005) e “Clube de Compras Dallas” (2013), entre outros, o programa acompanha o cotidiano de mulheres que moram em uma cidade aparentemente rica e pacata – mas permeadas por temas que tratam de relacionamentos abusivos, estupro, violência doméstica e bullying. Além dessas questões sensíveis, a série trata basicamente sobre família e como as marcas do passado podem influenciar as gerações futuras. Os filhos das personagens principais estudam em uma escola modelo, mas que não está isenta de ter seu próprio nicho de violência. Amarrando todos os conflitos, está uma morte mostrada no primeiro episódio e revelada apenas no último. Depoimentos ficcionais são inseridos na trama para tentar esclarecer o que pode ter acontecido, quem pode ter morrido e quem matou. Mas essa questão não é a princi-

Em cena, as atrizes Shailene Woodley, Reese Witherspoon e Nicole Kidman estrelam “Big Little Lies”, série limitada inspirada no livro escrito por Liane Moriarty e com direção do cineasta canadense Jean-Marc Vallée

pal. “Big Little Lies” mexe com os nervos de quem assiste por mostrar que não existem limites para um ser humano ser detestável com o outro. As relações entre as personagens e o mundo ao redor deprimem por serem extremamente verossímeis. É como se o público fosse testemunha de uma cidadezinha que serve de metáfora para o mundo em geral. Com generosidade e respeito, Jean-Marc Vallée dirige os episódios ciente do poder do texto, elaborando planos e sequências memoráveis para um programa de televisão, mas que não poderia ser menos do que isso se tratando de uma produção com o selo da HBO, conhecida pelo apuro técnico e narrativo de suas obras.

Elenco Para dar vida a essas mulheres em conflito, um elenco invejável foi reunido. As vencedoras do Oscar Reese Witherspoon e Nicole Kidman, também produtoras da série, interpretam duas mães aparentemente perfeitas. Witherspoon é Madeline, que vive um casamento amigável demais para ser con-

sumado, além das tentações da infidelidade. Já Kidman é a profissional de sucesso que trocou a carreira pelos filhos e se submete aos maus tratos do marido agressor. Kidman está magnética em cena, encarnando sem fronteiras o transtorno de ser agredida física e mentalmente. Ao lado de Alexander Skarsgard, eles estrelam as sequências mais aterrorizantes. Destaque também para as sessões de terapia de casal, cuja densidade deve ser aplicada no mundo. Em paralelo, a série traz Shailene Woodley como Jane, jovem mãe solteira que tenta cuidar do filho não planejado, mas muito amado. A raiva e a tristeza de Jane estão estampadas no olhar e Woodley não economiza ao mostrar que é uma das melhores atrizes de hoje. Destaque também para a sempre eficiente Laura Dern, que encarna Renata, uma mãe arrogante e detestável, mas que defende sua prole a qualquer custo.

União Muito além da importância temática, que é urgente e preci-

DIEGO BENEVIDES

Jeri Digital

diego.benevides@diariodonordeste.com.br

Avanços no setor AANCINE divulgouos dadosdo monitoramentodocumprimentodas metaspropostaspara asdiretrizes que tratamdofortalecimento das empresasdistribuidoras e da distribuiçãodefilmesbrasileiros e da diversificaçãodaproduçãoe ampliaçãoda circulaçãodasobras nacionaisemtodas asplataformas. Açõesdeestímulonadistribuiçãoe na exibiçãoresultaramnolançamento de 129filmes nacionaisem 2015,um crescimentode72%em relação a 2010,cumprindo praticamente100% dameta,que era de130filmes.Em 2016,foram143 longas-metragens brasileiroslançados nas salasde cinemae ameta para 2020éde 170 lançamentos.Onúmero deobras distribuídasporcompanhias nacionais praticamentedobrou, comparando-se oano de2010com 2015.De64 filmes brasileiroslançados pordistribuidoras brasileiras,naquele ano,passou-sea 124filmes em 2015.Ameta prevista

“AQUARIUS”, deKleberMendonça Filho,destaque internacionalda produçãocinematográficabrasileira para2015 foisuperada,com onúmero delançamentosquaseatingindoo patamaresperadopara o ano de2020, de130títulos.O marketshare anual dasdistribuidorasbrasileiras sobre a quantidadedebilhetesvendidospara filmesbrasileiros, queera de75% em 2010,tambémfoi ampliado,chegando aaproximadamente 86%.

sa ser vista não apenas por outras mulheres, mas também pelos homens, “Big Little Lies” é uma série que mexe com sensações primitivas e nos faz questionar como o mundo chegou onde está. A abordagem de gerações é um acerto do roteiro, que não coloca as crianças exatamente como o futuro da humanidade, mas que, mesmo ingênuos, são afetados de uma forma ou de outra pela violência. O bullying na escola é abordado fora dos clichês, criando um clima de suspense que cabe bem à trama geral. “Big Little Lies” é um show para ser visto, compreendido e disseminado. Também passa a mensagem de união entre as mulheres e que elas não podem se calar. O feminismo se torna todo dia necessário para tentar construir uma nova perspectiva, onde o gênero seja sobretudo respeitado. As mulheres deixaram há muito tempo de ser o sexo frágil e hoje elas se voltam contra o que as atinge como ser humano, por isso programas como esse são urgentes e não podem passar em branco.

Televisão Também houve avanço na ampliação da veiculação de longas-metragens brasileiros independentes na programação da TV aberta e da TV por assinatura. Na TV aberta, houve alcance do cumprimento da meta de 234% e na TV por assinatura o percentual foi de 139%. A meta para o ano de 2015 era de 969 exibições de filmes brasileiros na TV Paga e o ano fechou com 1350 veiculações. A mesma expansão também pôde ser constatada em relação à veiculação de obras seriadas e de outros formatos. Em 2015 foram 10.517 episódios veiculados, superando bastante a meta proposta, que era de 9.252 episódios, o que pode ser atribuído diretamente à lei de obrigatoriedade da veiculação de conteúdo para as programadoras.

Depois de um breve hiato sem acontecer, o Festival de Jericoacoara Cinema Digital confirmou que a sexta edição será realizada de 7 a 13 de junho, no paradisíaco cenário cearense de Jericoacoara. A Mostra Competitiva de Curtas contará com a exibição de 30 produções brasileiras, de realizadores de 13 estados do País. O festival premiará nas categorias filme, direção, roteiro, fotografia, trilha original, direção de arte, ator e melhor atriz.

E

m 2014, a Marvel Studios deu um tiro certeiro em seu universo cinematográfico ao lançar o primeiro exemplar da franquia “Guardiões da Galáxia”. Com muito humor e cenas eletrizantes, o longa foi bem aceito pelo público e pela crítica em geral, arrecadando cerca de US$770 milhões no mundo. A sequência chega aos cinemas sem mexer no que deu certo anteriormente. O roteiro amplia o leque de piadas, que conseguem ser engraçadas sem ser repetitivas. A ação também se faz presente, talvez um pouco menos em relação ao primeiro filme, mas está ali sem medo de usar a computação gráfica para criar situações exageradas. Aliás, a forma como o diretor e roteirista James Gunn se desprende de conceitos sérios demais para acompanhar a nova aventura dos Guardiões faz com que o filme seja divertido e despretensioso, ao mesmo tempo em que toca sensivelmente em dramas familiares. Se no primeiro filme a proposta era mostrar como heróis desajustados se uniam para salvar a galáxia, o segundo está preocupado em mostrar como eles sobrevivem como família. A partir disso, outras subtramas surgem. Peter Quill, papel de Chris Pratt, reencontra o pai, vivido por Kurt Russell; e Gamora, interpretada pela atriz Zoe

Saldana, revisita as dores do passado com a irmã Nebulosa, vivida por Karen Gillan. Rocket, dublado por Bradley Cooper, teme expressar seus sentimentos pelos amigos após ter sido uma experiência de laboratório, e Drax, interpretado pelo ótimo Dave Bautista, não esquece da família. Com tanto assunto para abordar, o roteiro às vezes parece não dar conta de tantos desdobramentos, mas quando o assunto é a família Guardiões o texto acerta em cheio. Ver como os heróis se entendem como importantes um para os outros chega a emocionar. Michael Rooker, que interpreta Yondu, também tem um papel fundamental para que esse sentimento seja despertado. Os efeitos visuais continuam psicodélicos, ainda que algumas sequências de ação não fiquem muito claras visualmente. Mesmo assim, James Gunn realiza um trabalho centrado como diretor, respeitando o público que se apaixonou pelos personagens sem transformá-los em meros produtos de mercado. Ainda que não seja tão bom quanto o primeiro, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” é superior à grande parte dos filmes de super-heróis que se levam a sério demais e às vezes não conseguem oferecer nem diversão. É bom ver que existe criatividade na indústria de blockbuster. (DB)

Chris Pratt retorna como Peter Quill na sequência de “Guardiões da Galáxia”, mais uma aventura onde a mistura de humor e ação é muito bem-vinda

AnimaisFantásticos

Mostra De 2 a 7 de maio, o Cineteatro São Luiz realiza a Mostra Gêneros de Cinema, com filmes do gênero de guerra que abordam o antibelicismo. A programação é focada em diretores que ousaram abordar o tema enfatizando não propriamente o conflito, mas a natureza de suas motivações e as consequências nefastas por ele gerado, como os clássicos “A Lista de Schindler” (1993), de Steven Spielberg, e “Apocalypse Now” (1979), de Francis Ford Coppola.

LIVRO A Editora Rocco lançou, em abril, a edição impressa em português do roteiro do filme “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, idealizado pela escritora britânica J.K. Rowling, que fez sua estreia como roteirista de cinema. Estrelada pelo ator Eddie Redmayne, a obra foi um sucesso absoluto para os cofres da Warner Bros., arrecadando cerca de US$800 milhões nas bilheterias mundiais e garantindo a realização dos próximos filmes da saga. O livro “Animais Fantásticos e Onde Habitam – O Roteiro Original” ainda terá uma edição em e-book em português, publicada pelo site Pottermore, que é responsável mundialmente pela edição digital do mundo bruxo de Rowling. O segundo filme da franquia chega aos cinemas em 2018.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.