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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE OUTUBRO DE 2016
Contraplano EM CARTAZ
Beleza frágil
DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema
O
Elle Fanning aparece arrebatadora e sedutora na pele de uma jovem modelo em “Demônio de Neon”, novo filme do cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn, responsável pelos longas “Drive” e “Apenas Deus Perdoa”
Filme aborda o vazio da beleza de forma tão superficial quanto o tema que discute, escondendo atrás do belo visual uma trama pobre mesmos que a desejam são os que pretendem destruí-la de alguma forma.
Fetiche Elle Fanning faz um trabalho denso e muito superior do que a trama merece, com um toque de vulgaridade e fetichismo que provocam o espectador, em um meio termo de se importar ou não com o destino da jovem. Por outro lado, há um problema de emparelhamento dos conflitos, que demoram a acontecer. Assim, quando o filme caminha para o clímax, o diretor se permite investir no choque gratuito em troca de uma abordagem plana demais. Existe a crítica ao mercado, perfeitamente ilustrada pela rápida aparição da sempre óti-
ma Christina Hendricks, bem como o risco que é ser bonita e usada como comércio. Mas essa visão do roteiro, escrito por Refn em parceria Mary Laws e Polly Stenham, é restritiva demais para alcançar uma grandeza narrativa que o tema poderia render. Já no último ato, a demonização da beleza é sugerida nas ações das personagens secundárias que parecem mais histéricas do que ameaçadoras, o que coloca o papel feminino em um patamar contrário ao que tem sido explorado pelo cinema. Enquanto Refn usa suas meninas para disputar pela futilidade do culto ao corpo, ele perde uma oportunidade de atualizar o significado da juventude. Refn chega a esboçar alguns acertos, como na ameaçadora sequência do primeiro ensaio fotográfico de Jesse, mas deixa lacunas depois disso e não aproveita bem. Obviamente, o diretor tem um interesse em fazer da imagem um personagem à parte da história, criando momentos visualmente belos, ao som de uma trilha sonora efetiva e variações de iluminação e tonali-
DIEGO BENEVIDES
Imagem política EM TEMPOS difíceispara a política
“OBRADO RETUMBANTE” repensaa campanhapresidencial de2014e analisaodiscurso dos candidatos político,“O Brado Retumbante” tiraum poucodaesperança já abaladadeque ascoisas melhorem.E issoé umelogio, poisfazcom que opúblico tenha impressõesque, naquelaépoca não tão distante,talveznão fossemtão claras. Ocurta já temquatroexibições agendadas,mas nenhumaem Fortaleza,por enquanto.
dades, mas que não são o bastante para sustentar o pouco que o roteiro tem a oferecer. De toda forma, é inegável que Refn continua preocupado em trazer certa autoralidade aos seus filmes, ainda que a ambição da linguagem cometa excessos em detrimento de uma história mais segura. Há quem repudie a forma como o filme resolve acabar, como aconteceu em Cannes, e há quem veja em Refn um cara que ainda brinca de experimentar, o que é ótimo na indústria cinematográfica comercial de hoje, cada vez menos original e ousada. Sua experiência com “Demônio de Neon” pode ter deixado a desejar, mas fica marcada como uma daquelas histórias que o próprio autor está aberto para fazer o público amar ou odiar, talvez sem uma preocupação imediata em receber elogios ou vaias. Os elogios, portanto, ficam para a jovem Elle Fanning, que cresce em cena e carrega em sua performance a responsabilidade de manter o público interessado, independente do que vai acontecer com ela ao fim da projeção.
Promissor
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
brasileira,os cineastasMarcelo Ikeda e FábioRogério dãoinícioà carreirade festivaisdo curta-metragem“OBrado Retumbante”,coprodução Ceará/Sergipequeestreouna 10ª MostraInternacional deCinema de BeloHorizonte, naúltima semana. Odocumentáriose utilizados vídeos dascampanhaspolíticaspara presidentede2014,com foco nas propagandasdos três principais candidatos:DilmaRousseff, Aécio Nevese Marina Silva. Feitotodo comimagens dearquivo, o curtaavaliaa propagandapolítica dos presidenciáveis,com umexcelente usoda montagempara trazernovos significadosà representação panfletáriaeideológicadecada um. Lançadopós-impeachment, ofilme trazumgostoamargo deimpotência sobreoque setornou ocenário políticobrasileiro deunstempospara cá.Independentedeposicionamento
Terror para criança dormir
O
Depois das vaias em Cannes, o diretor Nicolas Winding Hefn lança “Demônio de Neon” nos cinemas brasileiros
cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn fez um trabalho extraordinário em “Drive” (2011), que o colocou na mira da indústria cinematográfica. Depois disso, ele passou por dois perrengues em Cannes. O primeiro foi com “Apenas Deus Perdoa” (2013) e, esse ano, com este “Demônio de Neon”, ambos vaiados no festival. Seu novo trabalho, atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros, se passa no rasteiro mundo da beleza e da moda. A trama acompanha a jovem Jesse, interpretada com vitalidade por Elle Fanning, uma modelo sem família e, aparentemente, sem passado. Ela busca oportunidades no concorrido mercado da moda e se depara com as relações competitivas e superficiais desse cenário. A partir da construção de imagens estilizadas, pensadas para causar impacto visual na tela, o diretor lança um olhar pouco relevante sobre o tema. Isso porque, em geral, o filme não sai do lugar comum. Estão ali as modelos rebocadas, os testes humilhantes e a concorrência entre as garotas. Dessa forma, “Demônio de Neon” parece tão vazio quanto a representação que quer fazer. No primeiro ato, a história parece que vai engatar em novas direções, mas nunca acontece. Refn está mais preocupado com o impacto quase cyberpunk e esquece de desenvolver a narrativa. É interessante perceber como a protagonista mistura a atmosfera angelical com o perigo, já que ela confessa que gosta de se sentir objeto de desejo. Jesse reconhece seu poder em relação aos outros, quase uma Afrodite contemporânea. As pessoas que aparecem ao seu redor a endeusam de forma catastrófica, como se não existisse mais nada além dela. Entretanto, os
ESTREIA
Sucesso Halder Gomes está sorrindo à toa com a repercussão de “O Shaolin do Sertão” nos cinemas locais e nacionais. O sucesso, que veio do apelo popular e do intenso trabalho de marketing, fez com que o novo filme tivesse o dobro de público na estreia em relação a “Cine Holliúdy”, lançado em agosto de 2013. No Ceará, o filme registrou o maior público de uma segunda-feira, além de ter uma média por sala acima de 3.000 espectadores, número significativo que concorre de forma acirrada com as comédias enlatadas que entram em circuito. Dos 19 filmes em cartaz, “O Shaolin do Sertão” foi responsável por 60% da bilheteria cearense, mesmo concorrendo com obras estrangeiras. Enquanto Halder comemora a fórmula que deu certo, ele já está rascunhando “Cine Holliúdy 2”.
O gênio por trás de “O Lobo Atrás da Porta”(2014), Fernando Coimbra, começou a trabalhar no seu próximo filme, “As Mil Faces do Crime”, inspirado na vida do traficante colombiano Juan Carlos Abadía. O FBI considerou Abadía o segundo homem mais perigoso do mundo, depois de Osama Bin Laden. O traficante se submeteu a mais de 70 procedimentos estéticos para fugir da polícia e hoje cumpre prisão perpétua. Ainda não há ator escalado para o papel.
cinema de terror é escorregadio porque ainda existe o apelo do susto fácil proposital, como se fosse meramente gráfico. É uma opção quando bem feita, sobretudo nos filmes assumidamente apelativos, mas, em geral, a melhor tensão que faz o público se contorcer na cadeira é a psicológica, da sensação de ameaça do que nem sempre está claro na tela. Com direção de Jeffrey G. Hunt e produção dos responsáveis por “The Walking Dead”, o longa-metragem “Satânico” acompanha quatro amigos que se metem em uma enrascada durante uma viagem por Los Angeles. Jovens, bonitos e desajustados, eles têm interesse pelo oculto e pelos rituais macabros. Sem muita novidade, o roteiro se restringe a repetir ideias vistas incansavelmente em filmes de terror enlatados. O roteiro é raso a ponto de sublinhar suas próprias contradições cronológicas, além de criar conflitos que não se sustentam. Depois de um ritual satânico, os amigos começam a enfrentar algumas transformações estranhas, que nem sempre se justificam. Os poucos sustos que o longa traz são de impacto visual ou sonoro, quase nunca transformando o texto em um elemento que conduz a insegurança dos personagens.
Assim, é difícil se importar com o destino dos jovens, que não cansam de cometer erros absurdos que atraem mais problemas para eles. A atriz Sarah Hyland encabeça o elenco de desconhecidos, que nem é tão decepcionante assim, mas que não tem oportunidade de desenvolver com mais cuidado o universo dos personagens. Hunt, com larga experiência em seriados, não abandona seus vícios televisivos para contar a história. Assim, o filme se arrasta até um desfecho que é até mais dinâmico do que o desenrolar da trama, mas já é tarde demais para salvar uma história ordinária. Assim, “Satânico” não consegue desenvolver um bom argumento, além de ser pouco inventivo na representação do medo diabólico que quase nunca aparece e, quando o faz, não funciona. Ainda que o cinema continue lançando filmes de terror e suspense genéricos, o gênero ganhou um sopro nos últimos anos. Além de “A Bruxa”, títulos como “Hush: A Morte Ouve”, “The Babadook”, “Corrente do Mal”, “Boa Noite, Mamãe”, “Ouija: Origem do Mal” e “Invocação do Mal”, para citar alguns, trazem pitadas de inventividade e frescor que oxigenam o suspense por meio da valorização da dramaturgia e deixa de lado as opções fáceis do formato. (DB)
Realizado pelos produtores de “The Walking Dead”, terror não chega a ameaçar e é inferior a outras produções do gênero lançadas esse ano
#CloneClub
Fantástico O Rio de Janeiro recebe, de 31 de outubro a 6 de novembro, a primeira edição do Rio Fantastik Festival, que abre portas para o cinema fantástico produzido no Brasil, produção que tem crescido nos últimos tempos. Cinco longas e seis curtas competem no evento, entre eles “Através das Sombras”, de Walter Lima Jr. e o cearense “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois”, dirigido por Petrus Cariry e com lançamento comercial previsto para o início de 2017.
SÉRIE DE TV No início da semana, a equipe de “Orphan Black” realizou uma transmissão ao vivo pelo Facebook para mostrar um pouco das gravações da quinta e última temporada da série. A BBC America aproveitou para anunciar novos personagens, entre eles P.T. Westmoreland, o criador do Neolution, que será interpretado por Stephen McHattie. A temporada final promete voltar aos conflitos iniciais das personagens, brilhantemente interpretadas por Tatiana Maslany, vencedora do Emmy desse ano. “Estamos animados para entregar a épica conclusão da história de Sarah e suas irmãs”, disseram John Fawcett e Graeme Manson, criadores da série. A quinta temporada estreia em 2017, sem data divulgada.