Revista Eletrônica Bragantina On Line
Discutindo ideias, construindo opiniões!
Número 55 – Maio/2016 Joanópolis/SP
Edição nº 55 – Maio/2016
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SUMÁRIO Nesta Edição: - EDITORIAL – Poema caipira ............................................................................... Página 3; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – É hora de falar de turismo sexual! Por Leonardo Giovane ............................................................................................. Página 4; - PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS – O mapa é diferente do território Por Emily Caroline Kommers Pereira .................................................................... Página 7;
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– Inventores criam lixa para unhas três em uma!
Por Paulo Gannam .................................................................................................... Página 9; - COLCHA DE RETALHOS – Juazeiro viu as carrancas do São Francisco Por Rosy Luciane de Souza Costa ......................................................................... Página 11; - O ANDARILHO DA SERRA – Juramentos Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 16; - MEMÓRIAS – Senhor vá, senhor veja Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 18; - DIVULGAÇÃO – Ideologia: quero uma pra viver Por Wilker Santos ................................................................................................... Página 22.
Edição nº 55 – Maio/2016
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Edição nº 55 – Maio/2016
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EDITORIAL
POEMA CAIPIRA
Prezados leitores! A sorte e o som dos sinos são manifestações espontâneas ao passear lento do grupo de andarilhos pela capela. Os trabalhos na lavoura, o tocar do gado e o correr das águas são imagens próximas dos olhos e do coração, em mais uma manhã rural. Essa natureza solta, as matas e seus perfumes, os pássaros e seus cantos, a vida e o caminho. Uma apresentação digna de prêmios, para loucos do caminho ligados a um tempo que não se mede, que não se acerta, mas se desvirtua. É o vício da estrada e da poeira, paixão antiga de poucos e negada por muitos. Um caminho que vai dar não sei onde, o destino é o coração que responde, a alma transparece os sentidos internos revelados num olhar. Na lembrança apenas seus olhos seguem persistentes como os passos dados. Em breve voltarei para casa querida, tenha certeza...
Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (20/05/2016) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com
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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA
Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com É HORA DE FALAR DE TURISMO SEXUAL! Ao longo dos anos muitos assuntos tidos como “Tabus” na sociedade ganharam espaço nas rodas de discussões, entretanto existem muitos outros assuntos que ainda permanecem velados e sequer possuem um prospecção de desvelação. Ao falarmos do turismo sexual, por exemplo, observa-se que pouco se aborda no meio acadêmico do turismo sobre a prática e, ainda, muito pouco se conceitua o turista sexual e, muito menos se entende o turismo com motivação sexual como segmento de mercado passível de ser estruturado. Inseridos nestes contextos pragmáticos da prática do turismo sexual, sendo esta expressão usada com grande frequência em outras áreas do conhecimento, como sociologia, antropologia, geografia e outros, além do próprio senso comum, realizamos durante os dias 11 a 18 de maio de 2015, uma pesquisa online, por meio da plataforma Google Docs. A pesquisa tinha o intuito de aferir quais sãos os paradigmas conceituais existentes no imaginário dos estudantes de turismo, profissionais formados em turismo, indivíduo sem formação acadêmica de ensino superior, estudantes de ensino superior não relacionados ao turismo, e profissionais formados em outras áreas não relacionadas ao turismo. Assim, obtivemos 375 respostas. Mas em especial, versando sobre os Estudantes de Turismo, entrevistou-se cerca de 132 estudantes. Destes estudantes, 84% afirmam existir o turismo sexual, contra outros 11% que afirmam não existir e, outros 5% que afirmam que talvez exista. Edição nº 55 – Maio/2016
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Destarte, torna-se possível analisar que a maioria reconhece a existência desta prática de turismo, mesmo que esta não seja considerada pelo Ministério do Turismo como um de seus segmentos. Entretanto, ao questionarmos os entrevistados sobre o que os mesmos compreendem sobre o turismo sexual, pudemos observar que 30% dos entrevistados em seus discursos relacionam o turismo sexual com práticas ilícitas, bem como o aliciamento de menores, tráfico de pessoas, exploração sexual e etc., já outros 70% dos entrevistados utilizam estas expressões. Dentre as respostas dadas que relacionam o turismo sexual as práticas ilícitas, ressaltase as respostas: “Turismo sexual é o turismo que explora mulheres de baixa renda a fazer sexo em destino turístico”; “Mulheres e crianças que são prostituídas para estrangeiros”; "abuso de menor”; “Prostituição de menores, cujo público são turistas”. Já dentre as respostas das pessoas que não relacionam, salienta-se o discurso que o turismo sexual pode ser entendido: “a troca de dinheiro por sexo”; “turismo em busca de sexo comercial”; “Teoricamente ele não existe por os profissionais do turismo não apoiarem de forma alguma a prostituição”. Por meio disto, torna-se possível observar que mesmo as pessoas que não relacionam com atividades ilícitas, verifica-se o turismo sexual ligado ao sexo pago, ou seja, comercial. A partir das entrevistas aplicadas na plataforma Google com o intuito de obter o conhecimento sobre os paradigmas conceituais existentes no imaginário dos estudantes de turismo sobre a expressão turismo sexual, pudemos verificar que por mais que a maioria tenha assinalado e justificado a existência do turismo sexual, há um considerável percentual utilizaram em suas respostas vocábulos que denotam um sentido pejorativo a expressão. Embora a expressão turismo sexual seja empregada em diversas áreas do conhecimento, em especial, no turismo, verifica-se que nos principais órgãos que aplicam diretrizes para a atividade turística não reconhecem o turismo sexual como uma segmentação de mercado e, assim a temática não dispõe de espaço de discussão na grade curricular de ensino do futuro Bacharel em Turismo. Contudo, nossas entrevistas demonstraram que 84% dos entrevistados afirmaram existir turismo sexual. Destarte, observa-se que existe um nicho de mercado quando se menciona a existência do turismo sexual, porém, pelo termo estar associado a práticas ilícitas como pedofilia, aliciamento de menores, exploração sexual, prostituição e tráfico de pessoas como demonstrou nossa pesquisa, o termo possuí uma conotação pejorativa em considerável parte do imaginário dos estudantes de turismo. Assim, a atividade não recebe uma análise mais plausível pelos acadêmicos do turismo e pela própria sociedade em geral, uma vez que ela está arraigada de valores morais e éticos. Temas polêmicos no contexto atual surgem como assuntos velados que não devem ser debatidos. Entretanto, entendemos como o papel da academia, seja ela vinculada a sociologia, Edição nº 55 – Maio/2016
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história, turismo entre outras, debater quaisquer temas que sejam desconhecidos ou censurados pela sociedade em geral, para que assim torne-se possível desvelar estigmas e promover a disseminação do ensino como uma fonte de conhecimento extramuros das universidades e faculdades. A falta de discussão sobre o tema, pode ser, ou não, uma das razões pelo quais não se notou um consenso entre os conceitos, ou seja, não se visualizou pensamentos e ideias similares sobre o assunto, pois mesmo as pessoas que não relacionam o turismo sexual com atividades ilícitas, disserta que o turismo sexual está atrelado a prostituição e, somente poucos entrevistados explanam uma diversidade significativamente maior da prática deste tipo de atividade turística.
Colaboração: Profº Juliana Maria Vaz Pimentel Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (2014). Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (2013).Graduada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002).Especialista em Metodologia do Ensino Superior (2006) e Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica (2010).
Como citar: GONÇALVES, L.G.M. É hora de falar de turismo sexual! Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.55, p. 4-6, mai. 2016. Edição nº 55 – Maio/2016
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PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS
Emily Caroline Kommers Pereira Escritora e Jornalista E-mail: myzinhacarol@gmail.com O MAPA É DIFERENTE DO TERRITÓRIO
Em
uma
de
minhas
primeiras
aulas/conversas/terapias
de
Programação
Neurolinguística (PNL) com uma amiga que fez o curso é que treinar para poder atender pessoas – e eu sou a cobaia – ouvi que “o mapa é diferente do território”. Diante de meu olhar vago de quem não entendeu nada, ela me deu a seguinte explicação: O território é onde você vive, é ou está. Sua casa ou trabalho, por exemplo. Nesse lugar, você convive com outras pessoas que compartilham com você o mesmo território. Ou seja, são as mesmas paredes, os mesmo móveis, os mesmos aparelhos eletrônicos, os mesmos eletrodomésticos para todos os habitantes ou frequentadores daquele lugar. Contudo, o mapa de cada um é individual. Isso quer dizer que cada pessoa tem seus conhecimentos, suas experiências, sua vida vivida e sentido, que atua como um mapa direcionando-a para o local correto, ou à atitude pré programada, palavra mais indicada para o momento, segundo as crenças, princípios e valores de cada um. A maioria dos conflitos familiares, entre colegas de trabalho, etc., é causada porque há desacordo nos mapas. Ou seja, eles não batem, não combinam entre si. Porém, esses diferentes mapas precisam conviver em um mesmo território e, por isso, pai e filho, por exemplo, brigam, irmãos têm desavenças e cônjuges têm problemas de comunicação. A bagagem de vida que cada um carrega é única, mas o território é dividido com outros. Para fechar a conversa ela me disse que em PNL se aprende a ressignificar muitas coisas já pré-determinadas. Coisas que possuem um significado definitivo no cérebro do indivíduo, ou que mesmo é um paradigma, podem ser ressignificadas. Então, se algo está prédeterminado em meu mapa, baseado em uma vivência que tive no passado, mas é algo prejudicial ao outro, eu posso dar a esse algo um novo significado. Edição nº 55 – Maio/2016
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Isso tudo de mapa e território foi novidade para mim, eu nunca tinha ouvido a respeito. Agora, ao observar determinada atitude de meus pais, por exemplo (eu moro com eles), tão absurda e “errada” aos meus olhos, é normal para eles devido ao mapa que é diferente do meu. Eles cresceram em outra época, o Brasil era diferente, o mundo era outro, os conceitos divulgados e apregoados eram outros. Cabe a mim me lembrar que há essa diferença e tentar encarar de outra forma.
O conceito serve para diversas situações, não só a familiar. Com eu disse acima, pode ser no trabalho, na faculdade, em qualquer lugar/território onde convivem seres humanos, cada um com sua próprio mapa.
Como citar: PEREIRA, E.C.K. O mapa é diferente do território. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.55, p. 7-8, mai. 2016. Edição nº 55 – Maio/2016
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INVENTORES CRIAM LIXA PARA UNHAS TRÊS EM UMA!
A lixa possui um formato diferenciado que cumpre três funções sem provocar incômodos para a pele em volta das unhas.
Ter unhas higienizadas e devidamente lixadas é um cuidado básico que precisamos ter no nosso dia-a-dia. Porém, algumas lixas, por serem grossas e demasiadamente largas em suas extremidades, provocam incômodo e esfoliações na pele em volta da cutícula. Pensando em promover maior praticidade e conforto na hora de lixar as unhas, os inventores Paulo Gannam e Fernanda Queiroz Gannam criaram um formato de lixa inovador: “Lixa para unhas três em uma”. Trata-se de um produto inédito no mercado, cuja extremidade é arredondada e fina. Suas funções consistem em uma parte dar brilho, outra, lixar a superfície da unhas, e, entre as pontas, no cabo dessa lixa, há uma superfície circular para lixar o contorno da unha com diversos graus de aspereza – espessura em sua circunferência, conforme preferência do usuário.
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Este invento agrega diversos benefícios, entre eles: não será mais preciso comprar várias lixas, economizando espaço na bolsa, estojos e etc., maior eficiência no ato de lixar devido ao seu formato específico que atingirá bem as áreas desejadas sem risco de esfoliações da pele em volta, tudo isso com um excelente custo x benefício. Parceria – Paulo e Fernanda estão em busca de parceiros para o desenvolvimento de modelos. Com patente requerida em todo território nacional os inventores buscam negociá-la ou obter parceria com fabricantes de lixas, ou acessórios para unhas em geral, para realizar testes e industrializar o produto.
Aqui você encontra um vídeo bem legal em que o inventor fala de seu produto: https://www.youtube.com/watch?v=fNunGepyud8
As invenções de Gannam podem ser conferidas no site: https://paulogannam.wordpress.com/
Outros Contatos: Linkedin: https://www.linkedin.com/pub/paulo-gannam/51/1b0/89b Facebook: https://www.facebook.com/paulogannam.inventionsseekinvestors Google+: https://plus.google.com/+PauloGannaminven%C3%A7%C3%B5es Twitter: https://twitter.com/paulogannam
E você? Já teve ou está com uma grande ideia? Conte para o Paulo, pois pode virar notícia aqui na Revista Bragantina!
Como citar: GANNAM, P.
Inventores criam lixa para unhas três em uma! Revista Eletrônica
Bragantina On Line. Joanópolis, n.55, p. 9-10, mai. 2016. Edição nº 55 – Maio/2016
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COLCHA DE RETALHOS
Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com JUAZEIRO VIU AS CARRANCAS DO SÃO FRANCISCO
Cais de Juazeiro. Carrancas estilizadas (vampirescas) do final do século XX.
Os dicionários de língua portuguesa definem a palavra carranca, como sendo figura sombria, de cara feia e disforme, indicativo de mau humor. Segundo os historiadores, as barcas que circulavam pelo rio São Francisco foram às únicas embarcações primitivas de povos ocidentais que usaram figuras de proa ou carrancas. Essas esculturas surgiram na Edição nº 55 – Maio/2016
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cultura nordestina, mais propriamente no meio da civilização ribeirinha do Médio São Francisco por volta de 1875/1880 e durou até o ano de 1940, quando se encerrou o ciclo das embarcações no Brasil. Na altura do Médio São Francisco, á margem direita, precisamente onde se localiza Juazeiro, as barcas Emas ostentando estas figuras de proa foram vistas até os meados da década de 1950. Têm-se registro das embarcações em 1953, levando vigas de cimento e transportando trabalhadores da construção da Ponte que interliga Juazeiro à Petrolina. As Emas ou Tapa de Gato, assim eram conhecidas essas compridas embarcações, cobertas com palhas de Indaiá e movidas por longas varas de marmelo apoiadas no ombro do remador e assim, subiam e desciam o Rio S. Francisco, transportando costumes e culturas, mercadorias como a pele de boi, sacos de cereais e mantas de carnes salgadas. Levavam meses para completar a “viagem de entrega” (negociação) e trazer novas mercadorias, vendidas em cada vila das margens.
(Acervo de Paulo Roberto Fernandes)
EMA ALBIÃO do Senhor José Fernandes (Seu Belo), com uma Carranca “Cara de cavalo” na proa, passando pela ainda desértica Ilha do Fogo. Década de 40.
Existem muitas versões históricas sobre o aparecimento das carrancas, na região nordestina. Porém a tese decorrente de estudos antropológicos, que possui maior probabilidade, é a que defende o aspecto lendário das carrancas, que segundo a crença e o misticismo do povo primitivo que habitava aquela região, as carrancas serviam de amuletos de proteção e salvaguardavam os barqueiros, viajantes e moradores contra as tempestades, perigos e maus presságios. Edição nº 55 – Maio/2016
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Mas haveria quem dissesse que o escultor Biquiba Dy La Fluente Guarany, de Santa Maria da Vitória (BA), contava que seu bisavô haveria desenhado para ele, umas caras feias que, segundos ribeirinhos do século XIX, alguém teria visto barcos antigos com caras de dragões na proa. Questiona-se se não seriam os Vikings ou os Fenícios, homens que levavam anos no mar com o intuito de descobrir novas terras; os maiores navegadores e desbravadores que a história já registrou. Então, Biquiba movido por essa orientação, haveria dado inicio a única arte genuinamente brasileira, a Carranca de madeira. A Barca Tamandaré de Conrado foi à primeira barca que usou carranca na proa. Antes, algumas embarcações ostentavam os chifres de boi, com a mesma finalidade da carranca: espantar os maus espíritos.
(Imagem da Internet)
Serviam também para espantar os animais e os duendes moradores do Rio São Francisco que
de
noite
saiam
das
profundezas das águas para assombrar barqueiros,
tentar
mulheres
e
roubar
crianças. Esses seres ao verem as figuras das
carrancas
esbugalhados,
nas
proas,
de
bocas
de
olhos
enormes
escancaradas e agressivas, se espantavam e se recolhiam aos seus ocultos esconderijos. Levava o remo á águas de cima e trazia o remador ás águas de baixo.
Biquiba Dy La Fuente Guarany
A forte tendência à submissão e à crença no poder sobrenatural das carrancas é explicada a partir do primitivismo e ingenuidade dos habitantes, que eram povos extremamente supersticiosos e acreditavam em várias lendas. Quanto ao aspecto econômico pode-se dizer que o surgimento dessas figuras horripilantes de aspecto grosseiro, talhadas em madeira, tenha sido um dos mais relevantes motivos para a emancipação comercial, política e social da região do Médio São Francisco.
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Nas várias fases de escultura de Guarany,
pode-se
observar
a
multiplicidade de formas destas caras, que se assemelham a detalhes da figura humana, até á formas de animais. E assim essa arte foi expressa como 1ª 2ª e 3ª fase. Modalidades esculturais diferenciadas no tempo de cada embarcação. Carrancas em argilas de Ana das Carrancas de Petrolina (PE).
(Acervo do Blog Xique-Xique de Juarez Chaves)
(De Marcel Gautherot/Acervo do Instituto Moreira Salles).
Modelos antigos de carrancas.
Carranca de proa de 1946.
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(Acervo da Fundação Museu Regional do São Francisco)
Estudantes visitam e conhecem a história das carrancas (Réplicas) no Museu de Juazeiro. A 4ª carranca da dir. p/esq da foto é original. Foi doada pela C.N.S.F.
A característica plástica predominante em todas as carrancas corresponde ao fato delas apresentarem fisionomias de animais, cabeças e olhos de humanos e vice-versa. E o traço mais marcante dessas figuras são as vastas cabeleiras de leão. Cabe aos artesãos nordestinos da região do Médio São Francisco, o mérito pela criação de uma imaginária popular, de aspecto mítico e decorativo, baseada na cultura regional, porém com fortes influências da arte peninsular da Idade Média. Com o declínio do ciclo das barcas no Brasil, em fins de 1940, essas esculturas artesanais deixaram o trono de figuras de proa e passaram a ser objetos de arte popular presentes nos museus, exposições, residências, feiras artesanais e coleções. Devido à grande procura e aceitação, o comércio das carrancas expandiu-se muito, tornando-se uma atividade alternativa para os carranqueiros do Nordeste. Fazer carrancas além de ser uma expressão significativa da arte popular, é uma atividade rentável para o artesão. Essas figuras ocupam lugar de destaque na arte popular nordestina, pela expressividade artística e pela originalidade tipicamente brasileira.
Como citar: COSTA, R.L.S. Juazeiro viu as carrancas do São Francisco. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.55, p. 11-15, mai. 2016. Edição nº 55 – Maio/2016
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O ANDARILHO DA SERRA
Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com
JURAMENTOS
Em algum trecho do caminho havia perdido o ar, ou melhor, este havia fugido de mim. Olhei todo o entorno e não vi nada - nem gente, nem morada -, apenas um deserto de areia, terra e poeira. Atravessadas algumas bifurcações avistei uma pequena capela, quase destruída pela ação do tempo e do homem. Do seu interior enxerguei a imensidão da estrada, margeada por cactos e pedrinhas. Imaginei ter errado o caminho e entrado na própria história de “Os Sertões”, linhas percorridas anos atrás por um andarilho memorial. Ali, olhando o altar, respirei as muitas memórias de ocidentes e orientes, num interior mal iluminado. Por coincidência, naquelas proximidades também existia um “Paredão”, reza a lenda com suas muitas sepulturas. Da mesma forma que a mulher do ônibus, no meio do trecho prometi não voltar mais para àquele pedaço de chão, na loucura de um caminho sem fim, garrafas sem água e um sol de Diadorim. Aliás, a moça do ônibus achava que não voltaria mais, no fundo eu também achava, sem ter certeza... Nestas terras, juramentos eram anúncios de novos dias, um após o outro. Ao menos uma vez na vida, verdades e mentiras cruzavam nossos olhos pelas histórias próprias de uma gente simples, ou seriam vozes de nossa ilusão transformadas em desenhos memoriais. Dos jagunços que invadiriam as cidades e vilas próximas, só havíamos restado nós dois, e diria que nosso cansaço impedia qualquer invasão triunfante. Bom, seria uma simples chegada sem alarde, delirando por um gole de água fresca. Riobaldo já havia dito que o sertão era mesmo muito grande, apesar de frequentarmos diferentes sertões.
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“Na verdade, sertão é tudo um só!”, olhei o homem no balcão do bar e vi a figura de Riobaldo em suas palavras. Cruzamos nossos olhares naquelas terras e prosseguimos pelas longas estradas sem fim...
________________ – E foge o ar – Susumu Yamaguchi
Como citar: DA SILVA, D.T.L. Juramentos. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.55, p. 16-17, mai. 2016. Edição nº 55 – Maio/2016
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MEMÓRIAS
Susumu Yamaguchi Cronista e Andarilho E-mail: sussayam@gmail.com SENHOR VÁ, SENHOR VEJA
Seguindo esse parecer de Riobaldo, tomei um ônibus sem letras e sem números em Buritizeiro e fui lá. O Paredão tornara-se conhecido em terras grandes por causa de um livro,1 e ao povoado chegavam pessoas de todos os lugares para conhecer o cenário do confronto final entre dois bandos de jagunços. Sidraque disse que até vinha gente procurando pelo túmulo de Diadorim. Eu falei que ele também era famoso lá fora, e que já o conhecia de nome antes de encontrá-lo ali de corpo presente – e lhe mostrei o meu livro-guia.2 “Ah, o Alan!...”, exclamou e chamou a esposa Nadir para que ela o visse. Contou que ele estivera ali havia cerca de dois anos, mas não se encontraram porque estava viajando; e que perdeu o contato com ele e também o seu livro, que uma professora universitária tomou emprestado e nunca devolveu. Mas se animou a retomar contato com Alan; sabia que o amigo estava em Brasília e já com certa idade, pois o encontro deles narrado no livro acontecera mais de vinte e cinco anos antes. Pouco depois dessa época, o Paredão foi palco de uma invasão que terá sido a maior concentração de forasteiros desde a batalha de Riobaldo e seus jagunços contra o Judas e seus hermógenes. Sidraque acompanhou-me no jantar e falou da gravação da série Grande Sertão: Veredas. Seu pai trabalhou como figurante, assim como muitos outros; ele atuou apenas uma vez, por necessidade de mais gente. Sua função era cuidar da alimentação de dezenas de artistas e da equipe técnica por muitos meses. Certa vez, havia mais de trezentos participantes em uma batalha na fazenda Santa Cruz, cuja placa eu avistara na estrada quando vinha. A população gostava de ver as filmagens, mas as pessoas se constrangiam com a variedade de xingamentos que o diretor berrava aos atores, e estes, uns para os outros. Sidraque contemporizava: “Não sei, mas deve ser lá uma forma dos cariocas se tratarem com os amigos.” E eu ouvia e ria, porque podia Edição nº 55 – Maio/2016
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ouvir também Riobaldo contando do julgamento de Zé Bebelo, no momento em que o Hermógenes fazia a sua acusação:
“– Tibes trapo, o desgraçado desse canalha, que me agravou! Me agravou, mesmo estando assim vencido nosso e preso... Meu direito é acabar com ele, Chefe!” (...) Mas Joca Ramiro sabia represar os excessos, Joca Ramiro era mesmo o tutumumbuca, grande maioral. Temperou somente: “– Mas ele não falou o nome-da-mãe, amigo...” E era verdade. Todo o mundo concordou, pelo que vi de todos. Só para o nome-damãe ou de “ladrão” era que não havia remédio, por ser a ofensa grave.1
“Quando você assistir à série poderá dizer que dormiu naquela casa paroquial, pois a fachada escondia esta casa”, disse Sidraque. Mas ele não tinha essa gravação, apenas um filme chamado rio-de-janeiro, minas, de Marily da Cunha Bezerra, rodado perto daqui, no município de Três Marias. “No porto do Rio-de-Janeiro nosso, o senhor viu”,1 assim Riobaldo contava o seu primeiro encontro com Diadorim. “Se deu há tanto, faz tanto, imagine: eu devia de estar com uns quatorze anos, se.”1 Mas ele nunca soube seu nome, e se lembrava dele apenas como o Menino. “Menino mocinho, pouco menos do que eu, ou devia de regular minha idade.”1 Mas não tínhamos tempo, nem para assistir ao filme e nem de Sidraque preparar sementes de são-caetano para eu levar para o Brasinha, lá em Cordisburgo. É que ainda estávamos na sobremesa: requeijão com doce de laranja feito por dona Nadir. Depois de muitos anos eu reencontrava o requeijão de minha infância, em Goiás: feito um queijo minas, só que mais seco, encorpado, saboroso. Depois saímos a caminhar e cruzamos com uma jovem professora que passava a semana no Paredão. Sidraque tinha consideração por sua dedicação e achava que, para além dos ensinamentos em salas de aula, o desaparecimento de pessoas antigas levava o sertão, e o Paredão, à perda de memória e identidade. Para que não se perdesse o que ele ouvira de seu pai e de outros, queria escrever um livro para que os jovens – como os que, por exemplo, conheciam o requeijão apenas como uma pasta cremosa – pudessem aprender parte da própria história. “De outro lado, o paredão, origem do nome do lugar: uma imensa parede de argila vermelha, depois da pequena praia, margeando o rio, antes da vegetação.”2 Eu tinha acordado cedo e estava ali na beira do rio do Sono, a poucos minutos da pousada. Na areia deixada pelo rio entre pedras de faces lisas, um homem enchia um carrinho com uma pá. Dentro do rio, dois garotos andavam com uma rede. Outro homem cruzava de lá para cá; atrás dele, do outro lado, o paredão. Edição nº 55 – Maio/2016
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Por esta beira devia estar Riobaldo quando os hermógenes começaram a atacar o arraial: “Todos esperassem. E eu mesmo de todas minhas armas não larguei, quando desci para momento de lavar o corpo no rio. Que tão perto era.”1 Subi devagar de volta seu caminho: “E eu casei com meu rifle, vim, vim, vim. Desconheci temor nenhum. Vivo em vida, me ajuntei com os companheiros. (...) As balas estralejavam.”1 Ao entrar na rua encontrei Sidraque, que me procurava: “Naquela casa morava a Bruna Lombardi feita Diadorim; ali, fizeram o sobrado; e aqui, chegamos à casa paroquial.” Era do alto daquele sobrado que Riobaldo narrava o duelo fatal, enquanto tomávamos o café da manhã: “A faca a faca, eles se cortaram até os suspensórios. ...O diabo na rua, no meio do redemunho... Assim, ah – mirei e vi – o claro claramente: aí Diadorim cravar e sangrar o Hermógenes... (...) Como lá em baixo era fel de morte, sem perdão nenhum. (...) Como, de repente, não vi mais Diadorim! No céu, um pano de nuvens... Diadorim!”1
Margareth – margot.joaninha@hotmail.com
O ônibus percorria o arruado, virava ao lado da igreja e subia devagar. A torre de telefonia atestava que eu me afastava do sertão também no tempo. As próximas horas e léguas levar-me-iam para longe e seriam testemunhas de meu encontro com Carla em Buritizeiro, que me falaria do Circuito Guimarães Rosa e de Fátima, a quem deveria procurar em Morro da Garça; de meu reencontro com Rômulo, também em Buritizeiro; de minha conversa com Bruno em Pirapora, em que falaríamos de corridas e da emoção na São Silvestre ao deixar a Brigadeiro e entrar na Avenida Paulista; e de minha última travessia da Ponte Marechal Hermes, da banda da mão esquerda para a da direita do rio São Francisco, que me reconduziria para outros universos aquém do Paredão. Edição nº 55 – Maio/2016
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“Paredão rima com sertão. O último reduto”.2 Último reduto daquele que era o Menino, o valente jagunço Reinaldo, Diadorim e que aqui voltou àquela que sempre fora: “Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins – que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor...”1 Do alto da colina de onde tinha visto suas primeiras luzes no final da tarde anterior, deixei meu olhar restar no Paredão. “Daí, fomos, e em sepultura deixamos, no cemitério do Paredão enterrada, em campo do sertão. Ela tinha amor em mim.”1 Em pouco tempo o seu casario era engolido pela vegetação do cerrado e eu não via mais sinal algum de sua existência, em tempo ou lugar algum, mesmo do alto da janela de um ônibus sem letras e sem números. ________________ 1 2
– Grande sertão: veredas – João Guimarães Rosa – O itinerário de Riobaldo; espaço geográfico e toponímia em Grande sertão: veredas – Alan
Viggiano
Como citar: YAMAGUCHI, S.
Senhor vá, senhor veja. Revista Eletrônica Bragantina On Line.
Joanópolis, n.55, p. 18-21, mai. 2016. Edição nº 55 – Maio/2016
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DIVULGAÇÃO
Ideologia: quero uma pra viver Existem vários tipos de pessoas, aquelas “nasci assim e irei morrer assim”, outras “tenho uma mente aberta, mas não concordo com tudo”, e ainda aquelas “sou totalmente eclético”. E dessa forma, diariamente, cada um faz escolhas, posiciona-se sobre determinada situação e nega outras. Mas, principalmente, se relaciona. Em uma mentalidade democrática tendemos a incentivar o ingresso social de todas as pessoas, independente de seus credos. Da democracia, acredita-se que deve nascer o pensamento livre, original e, sobretudo, a harmonia das pluralidades. E quando toda a teoria fica de lado, admitimos que viver em democracia é conviver com os conflitos. Mas qual é o motivo que nos faz agredir tanto as ideias contrárias a nossa? De exaltarmos alguns discurso e abominarmos outros? Tudo isso está inconsciente e intrinsecamente no nosso processo de formação, na qual, o filósofo Bakhtin chama de formação discursiva. Sabe aquele momento em que você primeiro precisa se achar, para depois ajudar outros e realizar algo? Pois bem, está no processo da busca por valores e crenças que lhe sejam significativos. E numa sociedade tão pluralista de ideias e idearios, ao escolher um, descartará, combaterá, anulará muitos outros. “[...] Um discurso pode aceitar, implicitamente ou explicitamente, outro discurso, pode rejeitá-lo, pode repeti-lo num tom irônico ou reverente” (FIORIN 2007, p. 45). Esse processo de formação do discurso, é dado pelo contato do sujeito com os signos. É através de símbolos que nos comunicamos, o signo é o elemento natural de um diálogo, e sem ele, não passamos nenhum significado. Diz ainda Bakhtin (2009, p. 31): “[...] tudo que é ideológico é signo. Sem signos não existe ideologia”. Desse modo, na interação social fazemos o discurso/ideologia se concretizarem, através dos signos. Em outras palavras, através de nossa “fala”. Por essa necessidade social do homem, temos as diversas comunidades agrupadas cada qual por sua ideologia. É um fast-food de concepções acerca do viver. Lembra-se do que é a democracia na teoria, do pensamento livre e harmonia entre todos? Pois bem, ainda não funcionou, talvez por termos deixado de lado o pilar de que, nenhuma ideia vale mais do que uma vida. Acima de tudo, o milagre da vida! Para exemplificar todo esse trabalho, acredito ser uma boa dar uma escutada na música “Anacrônico” da cantora Pitty, cujo é o mesmo nome do álbum (2005). Vamos viver!
Edição nº 55 – Maio/2016
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Referências:
BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 13. ed. São Paulo: HUCITEC, 2009.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ed. Ática, 2007.
Sobre o autor:
Wilker Santos é formado em Letras, Professor Voluntário na Rede Emancipa. Redator, blogueiro e um apaixonado pelo mundo da comunicação.
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