Revista Eletrônica Bragantina On Line
Discutindo ideias, construindo opiniões!
Número 49 – Novembro/2015 Joanópolis/SP
Edição nº 49 – Novembro/2015
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SUMÁRIO Nesta Edição: - EDITORIAL – Perplexidade ................................................................................. Página 3; - ROMANCE DAS LETRAS – Amigas do peito Por Betta Fernandes ................................................................................................. Página 4; - HISTÓRIA AMBIENTAL – Tristes páginas da história Por Diego de Toledo Lima da Silva ......................................................................... Página 7; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – O melhor meio de transporte para viajar, eis a questão! Por Leonardo Giovane ............................................................................................. Página 9; - PSICOLOGUÊS – Novembro azulado Por Luciano Afaz de Oliveira ................................................................................ Página 11; - COLCHA DE RETALHOS – Lendas que desceram o rio Chicão (3) Por Rosy Luciane de Souza Costa ......................................................................... Página 13; - LINHA DO TEMPO – A angústia pode nos mostrar um novo caminho Por Helen Kaline Pinheiro ..................................................................................... Página 17; - O ANDARILHO DA SERRA – Movimentos Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 19; - PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS – Uma breve história de amor Por Emily Caroline Kommers Pereira .................................................................. Página 22.
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EDITORIAL
PERPLEXIDADE
Prezados leitores! Todo dia sonhamos com o futuro, traçamos planos e planejamos a vida familiar. E quando tudo caminha no seu devido caminho vem um mar de lama ou a violência da guerra... De repente, nada faz mais sentido, restam apenas as feridas da ignorância, intolerância e negligência humana. Restam os traços daquilo que era alegria. Resta a perplexidade dos não atingidos, assistindo tudo se perdendo, limitados por barreiras geográficas inexistentes. O que aprendemos com os erros do passado? Quase nada... E, no futuro, qual será o aprendizado dos erros do presente?
Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (15/11/2015) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com
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ROMANCE DAS LETRAS
Betta Fernandes Escritora e Advogada E-mail: bettabianchi40@gmail.com AMIGAS DO PEITO
A ONG Amigas do Peito, coordenada por Shirley Bezerra, organizaram o Outubro Rosa no Fundo Social de Solidariedade de Bertioga. O evento contou com as presenças ilustres de Manolo (Secretário de Saúde Municipal), Capellini (Presidente da Câmara Municipal), Dr. Daniel Cazeto Lopes (cirurgião plástico), Dra. Beth (infectologista) e Dr. Marcelo Castaena dos Santos (especialista em tratamento de mama). O tema debatido foi "A Conscientização do Câncer de Mama", uma doença que acomete homens e mulheres por todo o mundo. Dr. Marcelo Castaena, mastologista, nos relatou que com a realização do exame é possível realizar um diagnóstico precoce antes que a doença se instale e que tenha manifestação clínica. Assim proporcionando às mulheres uma cura de 95% do câncer quando encontrado um nódulo de 1 cm. A neoplasia maligna é o que mais acomete mulheres do Brasil e do mundo, ele só perde para o câncer de pele e tem no Brasil ainda uma alta taxa de mortalidade. Cerca de 1500 mulheres morrem todos os anos devido a esta patologia. O Instituto Nacional do Câncer, do Ministério da Saúde, relatou que está previsto para 2015 cinquenta mil novos casos de câncer de mama. Para evitar esta doença deve se ter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas, não ingerir bebidas alcóolicas e não fumar.
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Imagem: Babalu Pescados
Shirley e Dr.Daniel
Dr.Marcelo (Mastologista) e Dr.Daniel( cirurgião plástico) Edição nº 49 – Novembro/2015
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É preciso fazer o diagnóstico precoce porque com o tumor pequeno se perde pequena parte da mama e é mais fácil de reconstruir para que a mama fique o mais natural possível, nos relatou Dr. Daniel Cazeto Lopes (cirurgião plástico). Por lei, o SUS é obrigado a reconstruir a mama de todos os pacientes. O Outubro Rosa veio para demonstrar o movimento que vem para alertar e conscientizar as mulheres da necessidade de se cuidarem, se prevenirem e fazerem o exame uma vez por ano, com início aos 40 anos de idade para que possam cuidar da sua saúde.
Veja mais em:
Blog: bettafernandes.blogspot.com.br Twitter: @bettabianchi40 Facebook: Betta Fernandes
Como citar: FERNANDES, B. Amigas do peito. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 4-6, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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HISTÓRIA AMBIENTAL
Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com TRISTES PÁGINAS DA HISTÓRIA “Eles me roubaram os sonhos, as piores sequelas daquele período são as que afligem a alma. Os dias eram tristes, eternos e cheios de medo e angústia. Lutávamos pela sobrevivência, quando recuperaríamos nossa liberdade?” E pensar que tem gente que ainda nega o Holocausto, loucos, insanos ou delirantes? Nesta história sou apenas mais um ouvinte, sentado embaixo de uma árvore no alto da serra, atento a cada parágrafo, cada página de seu relato, de suas lembranças.
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A protagonista é natural de Amsterdã, capital da Holanda, nascida em 1929, que se esforça folheando velhas fotografias do período anterior à guerra, buscando a confirmação que àqueles momentos felizes aconteceram mesmo, que não são uma fantasia de sua mente. Nanette enfrentou tempos de terror, incompreensíveis para os que não foram aprisionados num campo de concentração na Segunda Guerra Mundial. Seu crime: ser judia. Neste período, os nazistas e seus aliados exterminaram mais de seis milhões de judeus e outras minorias, como ciganos, homossexuais e testemunhas de Jeová. Intolerância, ignorância, loucura pelo poder e uma insana cultura que ainda é o motivo de pesadelo de tantos sobreviventes, histórias vivas de uma triste página da humanidade. Ela nunca teve coragem de retornar a Bergen-Belsen, “O Campo do Horror”, melhor assim Nanette... Os dias passados nunca serão esquecidos, mas você permaneceu viva e retomou sua liberdade, valorizando as coisas mais simples da vida, o que muitos não dão valor. Sua vida, sua história e sua liberdade são um exemplo para um mundo tão turbulento, ainda cheio de guerras, violência e intolerância. Que possamos entender o verdadeiro significado das palavras paz e tolerância!
____________ KONIG, N.B. Eu sobrevivi ao Holocausto: o comovente relato de uma das últimas amigas vivas de Anne Frank. São Paulo: Universo dos Livros, 2015. 192p.
Como citar: DA SILVA, D.T.L. Tristes páginas da história. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 7-8, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA
Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com O MELHOR MEIO DE TRANSPORTE PARA VIAJAR, EIS A QUESTÃO!
Os meios de transportes estão presentes diariamente nas nossas vidas, seja para ir ao trabalho, levar os filhos na escola, ir ao mercado e principalmente quando vamos planejar nossas férias e as “fugidinhas” de lazer nos feriados. No contexto histórico do Brasil houve um incentivo ao transporte ferroviário no passado, mas atualmente existem poucas linhas de trem ativas e as que existem não são tão efetivas para os transportes de passageiros. Diferentemente do Brasil, os países europeus encontraram no transporte ferroviário uma opção mais barata, segura, rápida e acessível para realizar o transporte interno e externo. Por sua vez, o transporte marítimo de pessoas é representado pelos grandes cruzeiros que circundam a costa de diversos países pelo mundo. Os cruzeiros caíram nas graças de diversos turistas, pois em outros tempos viajar de cruzeiro era sinônimo de status social. Hoje, com a popularização dos cruzeiros, a viagem nesses navios se tornou algo “a mais” nas memórias dos viajantes. Mas quem nunca sonhou em voar: uns tem medo, outros adoram, já outros adorariam ir voando para o destino escolhido. Bem, com o barateamento dos cruzeiros, o preço dos voos tem se tornando mais acessíveis, gerando oportunidade para que a classe C tenha a experiência de voar, nem que seja dividindo em dez vezes no cartão de crédito. Quando comparamos os preços, rapidez, agilidade e facilidade os automóveis estão no topo do ranking dos meios de transportes mais utilizados em viagens. Contudo, dado a atual crise, altos preços dos combustíveis, moeda desvalorizada e as outras inúmeras coisas que estamos cansados de ouvir e ler nos jornais, o automóvel pode não ser a melhor escolha para uma boa viagem, visto que a segurança nas estradas brasileiras é algo deplorável, sem contar os altos custos dos pedágios rodoviários. Edição nº 49 – Novembro/2015
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Já os tão escolhidos fretados, usados e adorados ônibus rodoviários podem ser uma boa opção para uma boa viagem. Mas, é claro, que nem tudo é perfeito, pois com longas distâncias esses tão usados ônibus interurbanos tornam-se um grande causador de dores musculares, além do baixíssimo ar condicionado (-2º C) que congela a tripulação levando a crer que está em um frigorífico. Sobre o melhor meio de transporte é importante ressaltar que não existe o melhor, mas sim o melhor transporte para você, pois o ser humano é subjetivo, ou seja, cada um tem uma concepção de bom ou ruim. Não é a mesma coisa falar para uma família carente que uma passagem é R$: 40,00 e para uma família de maior poder aquisitivo que a passagem é o mesmo valor do que a mencionada anteriormente. Além do fator econômico, o caráter de gosto, ou melhor, o simbolismo da viagem varia de pessoa a pessoa. Pois para ir do destino B a C existem inúmeros meios de transporte, seja por terra, água ou ar, mas determinado individuo não gosta de voar, e mesmo que demore ele prefere ir pela água, pois assim poderá aproveitar mais a paisagem. Portanto, quando for escolher um destino de viagem pense no que lhe faz bem e, se por ventura, quiser mudar a viagem, comece mudando o meio de transporte, dado que uma viagem de trem pode ser tão significativa quanto uma viagem de avião. Assim como um destino é subjetivo, a escolha de um meio de transporte ideal é tão mais complexa do que a escolha das roupas que irão compor a sua mala. Mas, se tiver dúvidas, consulte um agente de viagens.
Como citar: GONÇALVES, L.G.M. O melhor meio de transporte para viajar, eis a questão! Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 9-10, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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PSICOLOGUÊS
Luciano Afaz de Oliveira TRI-PSICO Psicólogo Clínico Particular (Piracaia) Psicólogo da Saúde Mental (Prefeitura Municipal de Piracaia) Psicólogo Clínico Particular (Joanópolis) E-mail: lucianoafaz@gmail.com NOVEMBRO AZULADO
Desde 2012, neste mês é praticada a conscientização dos homens em relação ao câncer de próstata. Vocês sabiam que este é o número um dos tumores que atingem os homens e que muitos dos casos podem ser evitados com um diagnóstico antecipado? Aí que a viola entorta... “Ninguém coloca a mão em mim, sou homem”... Parece que já ouviram isto de alguém ou de você mesmo correto? Enfim, não vou ficar aqui batendo na mesma tecla, mas vou voltar-me para mim mesmo... Em 2013 descobri um CA (câncer) no intestino, no sigmoide, que faz parte do reto. A descoberta foi devido ao que chamo de providência divina, ou seja, o tumor se machucou e consequentemente sangrou. Daí então... Após um exame de sangue e colonoscopia, ficou definido que era mesmo e para ajudar maligno... Nossa já era... Não, a palavra maligna é feia, mas significa que a má formação celular é mais rápida, portanto corre para cuidar... Por isso que devemos exigir o tratamento rápido, mesmo no SUS, pois o tempo vale ouro para quem está nesta situação. Voltando para minha história, foram 28 radioterapias + 35 quimioterapias + 2 cirurgias + 10 meses de ileostomia e cá estou eu a escrever para vocês, com a vida retomada. Quando disse acima providencia divina é que, ao longo dos 37 anos, eu não pensava em exames para ver a próstata e muito menos para saber se tinha tumor em outro lugar... E se
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minha vida estivesse bem e chegasse aos 40 anos que estou eu iria fazer os exames? Confesso, a gente tende a deixar para depois, principalmente homens... Mas não dá, tem que se cuidar, pois desde os 36 anos tenho me monitorado, mais por conta de outras situações e foi em um destes exames que uma médica desconfiou que não fosse apenas uma hemorroida e me encaminhou para os devidos exames. Sobre a temível “dedada” que os homens tanto temem, acreditando que isto poderá mexer com a sua masculinidade tenho algo a escrever também. Quando eu estava com o diagnóstico da colonoscopia em mãos ao ir à consulta médica e saber que o tumor estava a uns 4 cm da saída (ânus), brinquei com o médico: “Doutor, como está perto da saída, acho que dá para tirar o tumor por trás”, tentando safar-me da grande intervenção cirúrgica que me aguardava. Mas o médico me respondeu: “Luciano não brinque, pois se eu for cortá-lo por trás, você perde o ânus e terá que usar a bolsa de ileostomia para sempre...”. Calei-me e digo que após o exame de toque, recebi a notícia maravilhosa (apesar de ter doido um pouco): “Luciano está a uns 6 a 7 cm da borda, portanto será preservado seu ânus”.
Gente, estou abrindo situações de minha intimidade para vocês saberem que todos estamos sujeitos a estas situações e que fique aqui o “toque”. Ops, foi de propósito, para que os homens aproveitem este mês e comecem a se preocupar com o seu corpo, pois aos 40 já começa a ser idade de risco. Bom novembro azulado para todos... Como citar: DE OLIVEIRA, L.A.
Novembro azulado. Revista Eletrônica Bragantina On Line.
Joanópolis, n.49, p. 11-12, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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COLCHA DE RETALHOS
Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com LENDAS QUE DESCERAM O RIO CHICÃO (3)
No outro dia, novas notícias vindas do lado de lá aportavam na beira rio em margens baianas. Águas da nascente que desciam com as corredeiras traziam além da sobrevivência, o alento da alma navegante. E causos e contos mapearam as margens do rio de Francisco e fizeram das suas verdades também razão de viver. Quem tem medo do Nêgo d’água? Ele é lindo, risonho e detentor de alva dentadura. Dizia a lavadeira Judite que sempre ao entardecer, quando recolhiam as peças de roupa que secavam por sobre o capim, ele estava acenando de lá e jogando beijos. Mas que ousadia! A certeza de ver o personagem folclórico se estreitava no dia a dia, como se fosse um esperado visitante, possível de estar e conversar com ele, trocar ideias e quem sabe iniciar
uma
sólida
amizade.
A
imaginação corria livre pela liberdade canoeira de sentir-se parceiro das longas viagens, rio acima e rio abaixo. Então quer dizer que o Nego d’água aparece para prosear com as
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lavadeiras, barqueiros, e há quem diga que assusta as Carrancas das proas das Barcas? Mas eu sei também que fazendeiros, pais das moças de pernas brancas, proibiam que elas fossem tomar banho no rio à noite, porque o Nego d´água as sequestravam levando-as para o fundo do rio. Que Nêgo esperto e ousado! Será que ele veio de Minas Gerais ou de Pernambuco? Não há evidências de como surgiu esta Lenda. O que se sabe é que o Negro D'Água só habita os rios e raramente sai dele. Sua função seria como amedrontar as pessoas que por ali passam, como partindo anzóis de pesca, furando redes dando sustos em pessoas a barco, etc. E o Minhocão? Este é bem misterioso. Só aparece após as cheias do Rio São Francisco. Suas
marcas
registradas
são
como erosões, nos barrancos do Rio São Francisco e com toda a certeza, ocasionadas pelo fuá da grande minhoca. Diz o povo que ela vira também embarcações.
Uma Nossa Senhora com uma rapadura na cabeça é a reguladora do nível das águas do Rio São Francisco. Nossa Senhora até sabe o barqueiro quem seja, mas com uma rapadura é estranho. Acredita-se que a influência dos Engenhos do lado Pernambucano, construídos por Holandeses, tenha agregado aos ingênuos conceitos do caboclo beiradeiro a imponência e o valor da cana de açúcar, tal e qual ao de uma coroa de ouro, tão características nos Santos portugueses.
Nossa Senhora da Rapadura, mora numa ilha no meio do Rio São Francisco.
Quando a devassidão nas duas cidades tiverem assoberbado os costumes do povo, a rapadura derreterá e o mel em contato com as águas ferverá a tal ponto que, inundará Juazeiro e Petrolina.
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Esta do Vapor Fantasma não é maior e nem menor que as demais. É tão quão, valiosa. As lembranças do ribeirinho fizeram das saudades, visões da meia noite, das noites de luar, das crenças nos contos de beira d’água e das literaturas e cordel nas feiras livres. Alguém das margens beira-rio viu o Vapor passar.
“Biquiba de La Fluente Guarany, o 1º carranqueiro da história, reproduziu as Caras Feias descritas pelo seu tetravô, vistas nas proas de enormes e estranhos barcos”. Os pesquisadores e historiadores presumem que os Fenícios e os Vikings, os maiores navegadores do mundo, deixaram rastros de cultura ao passarem pelas barrancas do São Francisco. Que história mais inventiva em minha gente?
Barca Ema ou Tapa-de-Gato, impulsionada pelos barqueiros através de varas de marmelo. (Acervo do Museu Regional do São Francisco)
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Réplicas de Carrancas das várias fases do artista/ escultor Guarany.
O certo é que em meio a tantas explicações, em 1901 surgiu a primeira escultura denominada Carranca (a única arte genuinamente brasileira), pelas mãos artísticas do talhador Guarany de Santa Maria da Vitória (BA). Através de relatos a história das Carrancas iniciou sua jornada. Mas, folcloricamente, ela foi colocada na proa dos barcos como amuleto e proteção aos barqueiros, livrando-os dos duendes das águas, da prosa do nego d’água e de outras entidades assustadoras. Ao pressentir o perigo, a Carranca avisava ao barqueiro soltando 03 gemidos, para que a barca não se espatifasse nas pedras do leito do rio. Hoje, nos novos tempos, inúmeras figuras de proa foram sendo talhadas e modificadas com o sentido de que a imagem em madeira, pedra ou barro, proteja escritórios, casas comerciais ou os lares, livrando-os de olhado ou olho gordo (inveja, usura). E cada lenda fez sua história ante o homem temente e crédulo nas entidades do rio. Cada lenda enfeitou culturalmente as margens das cidades com suas magias e ingenuidades barranqueiras. Sabe Deus quem as inventou, e sabe Deus em que época. Que importa? Elas fazem parte mesmo da vida do ribeirinho.
Como citar: COSTA, R.L.S. Lendas que desceram o rio Chicão (3). Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 13-16, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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LINHA DO TEMPO
Helen Kaline Pinheiro Estudante de Psicologia e jovem talento de Joanópolis E-mail: helenkpinheiro@gmail.com
A ANGÚSTIA PODE NOS MOSTRAR UM NOVO CAMINHO
As pessoas trabalham, estudam, cuidam de suas famílias, resolvem seus problemas e realizam tantas outras coisas em um curto espaço de tempo. Uma correria que, muitas vezes, toma tanto tempo do dia a dia que o cuidado consigo mesmo é sempre deixado para depois, isso leva as pessoas a se angustiarem muitas vezes. Tem dia que algo não ocorre bem e tem dia que nós não estamos muito bem. Mas que valor damos a essa angústia? Que caminho permitimos que ela abra dentro de nós mesmos? É através da angústia que percebemos o que em nossa vida ainda não se encontra em seu devido lugar, o que nela é excesso ou o que nela falta. Assim teremos a possibilidade de nos perguntar qual é o caminho que, dentro de nós, precisamos trilhar para que possamos cessar esta angústia. Desse modo, a angústia pode nos proporcionar um encontro com nós mesmos, capaz de nos modificar e de ressignificar tantas coisas que fazemos durante o nosso dia e que com o passar do tempo perderam o seu significado. Para isso é necessário um olhar sincero para si mesmo, para que você possa se perceber como se encontra e o que realmente deseja concretizar na sua vida. As experiências que fazem parte da sua história precisam ser levadas em consideração, ao relembrarmos que todo significado está interligado com as pessoas que se encontram ao nosso redor. Não construímos a nossa história sozinhos, ela abriga muitas pessoas, as quais têm um papel muito importante em a nossa vida. Edição nº 49 – Novembro/2015
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Não podemos deixar de viver o dia de hoje da melhor forma, colocando as prioridades, desde aquilo que de modo algum podemos deixar de realizar. Não temos muita escolha, eu sei disso, necessitamos correr na vida, trabalhar, estudar, cuidar da família, pois o tempo é curto. Mas ainda temos a possibilidade de nos esforçar ao máximo para que mesmo em meio à lotação da vida identifiquemos naquele pequeno espaço de tempo que temos a angústia que pode nos mover, aos poucos, na direção que desejamos percorrer ou se já estamos percorrendo que ela nos indique os detalhes que ainda não descobrimos enquanto caminhamos.
“Porque mais importante do que chegar é a vontade de partir!” Renato Cabral
Leia mais no Blog: http://helenkaline.blogspot.com.br/
Como citar: PINHEIRO, H.K. A angústia pode nos mostrar um novo caminho. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 17-18, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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O ANDARILHO DA SERRA
Susumu Yamaguchi Cronista, Andarilho e Morador de Joanópolis E-mail: sussayam@gmail.com
MOVIMENTOS
No décimo segundo dia caminhando atingimos a metade dos cerca de um milhão de passos necessários para chegarmos a Santiago de Compostela, saindo de Saint-Jean-Pied-dePort, no sul da França. A estimativa fora feita por Idair com base na observação de nossas passadas durante o trajeto, e que se mantidas em sua cadência na metade final projetariam o milionésimo passo às portas da almejada Catedral. Chegaríamos enfim ao sonho milionário, ao primeiro milhão? Se sim, pé direito ou esquerdo? Ao amanhecer inúmeros pares de olhos miravam-no através do espelho. Mas apesar da pressão exercida por aqueles olhares acabados de despertar, à espera para lavar o rosto e escovar os dentes, o ciclista francês tinha olhos apenas para sua imagem. Com leves meneios de cabeça confirmava que o creme estava bem passado no rosto e, calmamente, prosseguia. Quando se dava por satisfeito com aquele pote passava para o seguinte, em metódico ritual. Transformava o banheiro do albergue em um camarim particular, esmerando-se para o espetáculo de mais um dia no caminho. Vi que ele era o mesmo com quem Idair quase se desentendera na noite anterior ao se encaminhar para o banho. Fazia parte de um pequeno grupo de franceses que pedalavam no que era conhecido como o caminho francês. Ele em particular parecia levar a denominação ao pé da letra, embora outros com quem tivemos rápido contato fossem aparentemente bem razoáveis. Mas bem que me lembrei do que dissera uma hospedeira, dias atrás, com a experiência de quem lidava com peregrinos do mundo inteiro: “Certamente, nem todos os franceses são antipáticos; mas, seguramente, quase todos o são!...” Depois que o ciclista desapareceu na estrada voltei a atenção para outro francês, aquele que em outro dia havia nos chamado de verdadeiros peregrinos, em Hontanas. A maneira como ele o havia dito a seus companheiros parecia demonstrar deferência e ao Edição nº 49 – Novembro/2015
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mesmo tempo certo desconforto por seu próprio conforto viajando de ônibus. Claro estava que, embora indo para Santiago, ele não se via como um peregrino. Era possível que o peregrino constasse do programa de viagem como uma atração a mais, podendo ser avistado em seu habitat em alguns trechos do caminho. Talvez por isso ele nos tenha visto assim. Mas quem seriam esses verdadeiros peregrinos, se é que se podia dizer algo assim? Não, de forma alguma, prezado senhor: ali éramos apenas peregrinos, dentre tantos outros, sempre a caminho de Santiago. O dia amanhecera nublado e quieto, mas o tempo abriu depois das dez horas e soprou um vento frio que ficou quente à tarde. Após Carrión de los Condes percorremos um trecho plano e reto com mais de doze quilômetros e com forte vento frontal. Era como estar de corpo presente naqueles pesadelos em que caminhávamos por horas e horas e não conseguíamos sair do lugar. E quando já acreditávamos que aquele mundo não tinha mais fim víamos aparecer, subitamente do meio do nada, uma igreja a partir de sua torre. Então, nossa alma se rejubilava e agradecíamos sinceramente por sua eterna presença em todo o caminho, onde ela invariavelmente parecia ser bem maior que seus povoados. Nessa aridez do meio do caminho em que atravessávamos córregos chamados Pozo Amargo e Rio Seco, agarrávamo-nos à refrescante promessa de muitas matas quando chegássemos à Galícia. Na primeira metade, se elas um dia existiram, já não estavam mais por ali. De Pamplona para cá restaram apenas vários campos de cultivo, reflorestamentos tímidos e esparsas capoeiras. Nada que lembrasse a exuberância de uma diversidade tropical. E na solidão de uma tarde que parecia mais vazia que a de um domingo sem futebol, um pastor de ovelhas aproximou-se quando paramos em uma área de descanso que tinha uma mesa e dois bancos de concreto no meio do vazio. Ele buscava um pouco de companhia humana, algo mais que balidos em meio a um vento interminável. Dizia que embora não fosse um peregrino também andava muito, todas as horas do dia, todos os dias da vida. Era conduzido pelos animais que andavam por muitos lugares em busca de comida, de um pouco de capim que estivesse mais apetitoso. Não reclamava, pois sabia que eles conheciam o que deviam procurar. Quando iam para longe, mais longe era a volta para casa. Em seu trabalho via muitos peregrinos passando, caminhando para lá. Alguns poucos faziam o caminho ao contrário, mas sempre em uma única e mesma reta. Não eram como as ovelhas, que andavam em círculos e iam conhecendo todos os lugares em volta. O mundo que existia ao lado do caminho pouco importava para os peregrinos, que tinham um encontro marcado em um lugar marcado, dentro de um sonho marcado. As ovelhas, não. Elas tinham um objetivo que era a comida, mas o lugar podia ser qualquer um, o mundo inteiro, uma pastagem sem fim! E quem poderia ser mais livre, neste mundo de Deus? As indagações do pastor, cultivadas ao longo de uma vida de andanças sem fim, viajavam no vento sem limites. Quando nos voltamos para olhar na direção do vento, Edição nº 49 – Novembro/2015
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vimos apenas um silêncio tremulante seguindo suas palavras.
Margareth – margot.joaninha@hotmail.com
Se o vento reinava no descampado, dentro do bar havia apenas ar paralisado, cheio de fumaça de cigarros e de cheiros misturados com os de bebidas afins. Nos finais das tarde de domingo os homens se reuniam para conversar, fumar, beber e jogar. As mulheres e crianças pequenas também frequentavam os bares e restaurantes no período da noite, e apenas os pequeninos pareciam não fumar ativamente. Para nós, que vínhamos de praticamente um dia inteiro de ventos e vazios que preenchiam existências, aquilo imitava uma bonança momentânea. Reencontramos os nossos amigos intermitentes do início do caminho, a quem chamávamos de Os Três Ferraris por andarem rápidos e serem de Monza. Mesmo tendo a saída retardada por meia hora do albergue de Frómista por causa de uma porta trancada, eles não perderam o ritmo e nem o bom humor. Giulio perguntou ao dono do bar quem vencera a corrida; Aldo ficou só na expectativa; e Emilio antecipou a resposta: “Ferrari, claro!...” Depois voltamos para o frescor do vento e deste, rapidamente para o albergue. E durante a noite, lá fora, o vento continuava em seus movimentos pela vastidão.
Como citar: YAMAGUCHI, S. Movimentos. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 19-21, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS
Emily Caroline Kommers Pereira Escritora e Jornalista E-mail: myzinhacarol@gmail.com UMA BREVE HISTÓRIA DE AMOR
Com nove anos de idade li meu primeiro livro por vontade própria. Tratava-se de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, da famosa série infanto-juvenil As Crônicas de Nárnia, do escritor britânico C. S. Lewis. Achei perdido em uma prateleira, sem saber como tinha ido parar lá, aquele livro que não era meu ou de meus pais. A obra tem 17 capítulos e eu li um capítulo por dia. Ler despertou em mim o desejo de um dia também conseguir escrever livros. Assim, escolhi o que queria ser quando crescesse: escritora. Descobri que além daquele, havia mais seis da mesma série. Com esmero, encontrei os demais volumes, já em outra edição, e passei a encomendar um por mês. Comprei com o dinheiro de minha mesada. Logo tinha a coleção completa e, desde então, durante a adolescência gastei todo o dinheiro que consegui economizar em livros. Quando estava na quarta série do Ensino Fundamental (hoje quinto ano), havia uma professora de Português chamada Catarina. Eu era uma aluna de temperamento forte e opinião formada, que gostava de ler e escrever e era diferente dos colegas. Essa minha “índole intelectual” despertou a simpatia de alguns professores, inclusive da professora Catarina. Ela gostava de minhas falas aparentemente maduras demais para minha idade. O apelido que me deu na época foi de “repórter”. Cada vez que eu falava algo na sala de aula, ela dizia: “olha a nossa repórter!”. Porém, eu era uma futura escritora. Para mim, repórter era sinônimo de apresentador de telejornal, o que eu não queria ser em hipótese alguma. Eu sempre respondia, revirando os olhos: “Nem pensar”. Em 2003 conheci Deixados Para Trás, uma série de romances cristãos e apocalípticos. Havia um personagem que me cativou: Cameron ‘Buck’ Williams. Jornalista, a Edição nº 49 – Novembro/2015
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certa altura da história ele passou a manter um blog intitulado A Verdade, onde contava ao mundo a verdade na qual cria, com ares jornalísticos. Esse é o principal dos motivos que me fez admirá-lo. Pude ter um contato maior com o jornalismo e saber que não se trata apenas de ser âncora. Um jornalista também pode ser escritor. Em 2005 ou 2006 li o livro O Dia do Chacal, do escritor e jornalista inglês Frederick Forsyth. O livro conta as peripécias de um assassino, trâmites políticos e fatos históricos da França que eu desconhecia. Mesclou jornalismo, literatura, ficção e não ficção de um jeito impressionante que, mesmo sem entender muito bem os contextos políticos em que estava inserido, me conquistou. Era simples, com uma linguagem de fácil compreensão. Pensei: “Um dia quero escrever como ele!”. É o tipo de romance que, mesmo sendo ficção, dá a real impressão de que poderia ter acontecido. Foi o único livro de Forsyth que li por enquanto. Mesmo assim, sempre mantive a lembrança de que ele foi jornalista e isso sempre me encheu de admiração. Pensava em ser escritora, mas no fundo queria também ser jornalista, para poder escrever como um. No segundo semestre de 2007 conheci outra professora de Português chamada Paula. Lendo uma de minhas redações ela me perguntou: "Por que você não faz Letras? Você escreve tão bem, acho que devia tentar, se for o caso faz Jornalismo depois". Pronto, ela havia plantado a dúvida em meu coração. Uma dúvida que não existia antes, que nunca existira. Fui para a Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista de Araraquara/SP (FCLAr – Unesp) em 2009, porém, devido a problemas que surgiram, abandonei o curso e voltei para Atibaia/SP no fim daquele mesmo ano. Em novembro de 2010 criei um blog pessoal, nada jornalístico. Escrever fez nascer novamente em mim o sonho de ser como Forsyth e fazer uma história grandiosa como a do primeiro livro que li. Isso tudo me trouxe à faculdade de Jornalismo. Entrei em 2012 e aqui estou.
Como citar: PEREIRA, E.C.K. Uma breve história de amor. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.49, p. 22-23, nov. 2015. Edição nº 49 – Novembro/2015
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