Revista Eletrônica Bragantina On Line
Discutindo ideias, construindo opiniões!
Número 48 – Outubro/2015 Joanópolis/SP
Edição nº 48 – Outubro/2015
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SUMÁRIO Nesta Edição: - EDITORIAL – A festa ........................................................................................... Página 3; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – Viagens no pensamento Por Leonardo Giovane ............................................................................................. Página 4; - PSICOLOGUÊS – De volta para o futuro (Parte IV) Por Luciano Afaz de Oliveira .................................................................................. Página 6; - COLCHA DE RETALHOS – Lendas que desceram o rio Chicão (2) Por Rosy Luciane de Souza Costa ........................................................................... Página 8; - ROMANCE DAS LETRAS – A importância da leitura nas escolas Por Betta Fernandes ............................................................................................... Página 11; - HISTÓRIA AMBIENTAL – E a revolução? Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 14; - LINHA DO TEMPO – A exclusão ao nosso redor Por Helen Kaline Pinheiro ..................................................................................... Página 16; - O ANDARILHO DA SERRA – Sopros de luz Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 19; - PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS – Procura do romance Por Emily Caroline Kommers Pereira .................................................................. Página 23; - BIOMEDICINA – Câncer Prostático e Exame de “PSA” Por Tereza Reche .................................................................................................... Página 28.
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REVISTA ELETRÔNICA BRAGANTINA ON LINE Uma publicação independente, com periodicidade mensal.
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EDITORIAL
A FESTA
Prezados leitores! Feliz aniversário, que alegria. Sejamos felizes, vamos dar as mãos e cantar hinos de amor, pois a vida é curta. Mais além, pra todo sempre e rumo à eternidade, ao som de uma bela manhã de outubro. O aniversariante não é uma personalidade, nem um político importante... É do projeto de discutir ideias e construir opiniões, de uma revista simples e que preza pela qualidade, pelo respeito e pelo diferente. São 4 anos e o maior presente são vocês, leitores, nossos queridos amigos! Parabéns e um forte abraço!
Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (16/10/2015) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com
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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA
Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com VIAGENS NO PENSAMENTO
A atual crise econômica vem impactando as diferentes classes sociais e o lazer e turismo está sendo deixado de lado, visto que existem outras prioridades para a maioria dos brasileiros. Mais uma vez viajar se tornou algo de status de pessoas que detém um considerável poder aquisitivo. Entretanto, mesmo em tempos de crise entramos nas mídias sociais e vemos várias fotos de pessoas conhecendo outros lugares, viajando com a família ou planejando o próximo destino. Aí que suscita o questionamento, que crise é essa e a quem atinge? Bom, não tenho a resposta, mas acho interessante que mesmo as pessoas reclamando da condição atual, elas sempre sonham e buscam meios para mudar o que vivem, seja sonhar para fugir da correria do dia a dia ou sonhar novos rumos e novas histórias. Sem sombra de dúvidas sonhar é o que nos move e, em especial, por mais que não tenhamos dinheiro, sempre sonhamos com lugares, pessoas, comidas que deveríamos conhecer ou que nos fariam mais felizes e realizados se conhecêssemos. Muitas vezes viajamos sentados em uma cadeira, em uma conversa de botequim, na sala de casa ou até mesmo na frente do computador. A nossa mente cria e recria lugares que podem nem existir, mas criamos expectativas e tentamos imaginar como seria se estivéssemos naquele local. Viajar nos pensamentos é a forma mais rápida e barata de conhecer novos lugares, claro que não podemos interagir com tudo o que imaginamos, mas dependendo do lugar e da intensidade do pensamento podemos até sentir a brisa leve batendo em nosso rosto, os primeiros raios de sol entrando pela janela, o cheiro da comida caipira, a textura das árvores e até mesmo o som das ondas quebrando na costa. É inacreditável o que um simples imaginar causa ao nosso espírito, podemos sentir Edição nº 48 – Outubro/2015
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felicidade, tristeza, êxtase, ansiedade, raiva, etc. Podemos nos recordar de lugares que já visitamos ou imaginar lugares que queremos visitar, e até mesmo imaginar lugares que são descritos nas fantasiosas histórias de nossos amigos e familiares viajantes. Há quem diga que viajar não é uma necessidade humana e que em tempos de crise se preza mais por manter as contas em dia e colocar comida dentro de casa do que fazer mais contas. Entretanto, a viagem liberta a alma, trás paz para o espírito e, sem grande alarde, até as viagens do pensamento são capazes de confortar a alma, afinal sempre vamos querer o que não temos no momento!
Como citar: GONÇALVES, L.G.M. Viagens no pensamento. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 4-5, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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PSICOLOGUÊS
Luciano Afaz de Oliveira TRI-PSICO Psicólogo Clínico Particular (Piracaia) Psicólogo da Saúde Mental (Prefeitura Municipal de Piracaia) Psicólogo Clínico Particular (Joanópolis) E-mail: lucianoafaz@gmail.com DE VOLTA PARA O FUTURO (PARTE IV)
Calma, não se trata da continuação de uma grande trilogia dos anos 80 e sim o título deste periódico psico. Mas porque coloquei este nome? Na verdade, o pensamento é o que seria de nós psicólogos se fosse inventada a máquina do tempo?
Toda a experiência traumática poderia de certa maneira ser corrigida e ninguém mais precisaria fazer terapia. Seria o fim dos psicólogos, psicanálise e até da psiquiatria. Mas...
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Como o filme Efeito Borboleta, outro clássico, demonstrou que toda ação tem uma reação, ou seja, por mais que queiramos consertar algo do passado, teremos uma repercussão no futuro. Dr. Emmett Brown, o “Doc” de De volta para o futuro, dizia que se alterar o “continum” iria existir um paradoxo que provocaria a destruição do Universo. Nossa, que loucura... Mas e na psicanálise? Bem, Freud foi bem destacado no livro “Freud e a Educação”, que não existe uma fórmula mágica para educar os filhos, ou seja, se os pais criam seus filhos na regra rígida terão eles com alguns traumas ou comportamentos sejam eles bons ou ruins, e se criam de forma livre, sem limites alguns, também terão comportamento bons ou ruins. E se voltar no tempo for a solução para cuidar de um possível trauma? Hummm! Não adiantaria nada, pois na medida em que cuidassem de algo, outros apareceriam e assim vai... Na vida é assim, resolvemos problemas e outros aparecem, cuidamos de uma doença e outras aparecem, ou seja, sempre estamos vivendo altos e baixos, como em um exame cardíaco. Logicamente que no processo terapêutico a vivência de uma experiência traumática, por muitas vezes, traz a cura de muitas aflições atuais e com isto podemos dizer que a máquina do tempo existiria, mas de uma forma diferente, é claro. Porque tudo depende do individuo e se ele realmente também está disposto a enfrentar seus fantasmas do passado e manter um foco no futuro. Finalizo escrevendo que devemos usar o passado como uma grande experiência de vida, viver muito bem o presente e logicamente sonhar, idealizar e ir ao encontro com o futuro, que é logo ali...
Como citar: DE OLIVEIRA, L.A. De volta para o futuro (Parte IV). Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 6-7, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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COLCHA DE RETALHOS
Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com LENDAS QUE DESCERAM O RIO CHICÃO (2)
Carregados pelas correntezas do velho Chico, além de Baronesas, toros e canoas, desceram também as banhadas lendas, crendices e um pedaço da história de vida de cada ribeirinho. Nesse descer perene e contínuo grudaram nos capins das margens barranqueiras dos pés dos Juazeiros, e ensinaram ao pescador nadador como respeitar e conviver com as fantasias e temores do povo do rio. Cada lenda adquiriu forma e contexto mediante a necessidade do homem acreditar em protetores no mar de águas doce. Então, sempre ao entardecer, sentada nas pedras que ficavam do lado de Pernambuco, uma entidade do rio metade mulher e metade peixe era vista se penteando cantando, sentada em umas pedras do lado das águas de Pernambuco. Todo barqueiro se apaixonava pela Mãe D’água. Pelo canto ou pela beleza? Cuidado! O canoeiro que for ao seu encontro, ficará sem a barca e sem a vida. O seu barco não resistira à correnteza, perderá o controle e será arremessado de encontro às pedras. É melhor ficar de longe namorando com sua formosura. Saem lá do Angarí as conversas
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de que as lavadeiras já viram esta bela mulher. E que um paqueteiro do Rodeador conversou com ela. Hummm! Quem duvida? Quem sabe ela mora numa loca no fundo do Rio São Francisco. Cada ribeirinho conta suas versões de acordo com a sua interpretação de mundo. E a Serpente da Ilha do Fogo? Tá lá na ilha que divide o rio São Francisco separando as águas da Bahia (Juazeiro) das de Pernambuco (Petrolina). Segundo narração dos mais antigos, esta denominação foi assim batizada pela quantidade de fogueiras feitas pelos índios moradores desta ilha, e sempre vistas pelos moradores dos povoados das duas margens no turvo e frio das noites. Mas tem que afirme que esta denominação advém de umas pedras existentes nesta ilha, que reluziam como fogo. Aconteceu que em 1706 chegava ás margens de Juazeiro a Missão Franciscana. Uma leva de frades que aqui aportaram com a intenção de catequisar os índios e implantarem nas margens ribeirinhas a marca e os ditames posseiros do Brasão Português, principalmente na expansão de terras. Mesmo sem assinaturas e comprovações documentais, haveria quem contasse que o padre franciscano que ficou responsável pela aldeia da Ilha do Fogo, temendo a valentia e agressividade desta arredia tribo para com os acanhados povoados beira-rio, alertou-os dos mistérios da brilhosa Ilha. No fundo de um Serrote existente nesta ilha, existiria uma enorme e terrível Serpente. Ela estaria dormindo por estar amarrada com três fios dos cabelos de Nossa Senhora das Grotas (Padroeira de Juazeiro). No dia que a tribo resolvesse atacar os dois povoados, os três fios de cabelos se rebentariam, a Serpente se acordaria e acabaria com a tribo. Mais uma vez o freio, o amuleto do temor e do respeito navegava nas águas do São Francisco, alimentando de proteção e afago às idas e vindas remadoras do crédulo canoeiro.
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Glossário: - Baronesa - planta aquática das margens do Rio São Francisco. - Angarí - local repleto de pedras na beira-rio, do lado da Bahia. - Rodeador- distrito de Juazeiro beira-rio e tem uma ilha com o mesmo nome.
Como citar: COSTA, R.L.S. Lendas que desceram o rio Chicão (2). Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 8-10, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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ROMANCE DAS LETRAS
Betta Fernandes Escritora e Advogada E-mail: bettabianchi40@gmail.com A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NAS ESCOLAS
A entrevistada Andréa Ciola Caporali, responsável pela Sala de Leitura da Escola Estadual Aprígio de Oliveira, na cidade de Mogi das Cruzes (SP), nos demonstra de forma lúdica a importância da leitura contribuindo com o aluno e levando-o à uma reflexão crítica no processo de socialização através da interação entre família e escola.
O Projeto "Sala de Leitura" visa despertar, incentivar, facilitar o acesso dos alunos com diferentes produções de textos, enriquecer o vocabulário, desenvolver habilidades, falar, escutar, ler, escrever e buscar informações que visem o prazer e estimular a comunicação entre eles. A Professora Andréa propõe durante suas aulas várias atividades que levam os alunos a produzirem radionovela, animação (stop motion), linguagem literária cinematográfica, Edição nº 48 – Outubro/2015
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peças teatrais, pesquisas de bibliografia de autores da literatura brasileira, roda de leitura, jornal, hora de lendas e mitos, momentos de poesia, contos, crônicas e sarau.
O aluno investiga o assunto proposto em sala de aula visando as dificuldades dos educadores em despertar o interesse pela leitura, onde é proposto forma de melhoria na educação utilizando os mais variados recursos e aplicam-se metodologias inovadoras como mídia. Os alunos através do conhecimento da leitura desenvolvem mais a sua capacidade de ler e escrever, sendo assim, as escolas necessitam organizar a sua prática educacional para atender toda sua demanda escolar, possibilitando o acesso pleno da leitura e escrita. "Não basta simplesmente ler e escrever, os alunos necessitam não ter apenas este domínio mas também que saibam fazer o uso dela, incorporando-a no seu viver transformando assim sua vida cotidiana". Andréa demonstra a importância para que se dê continuidade ao projeto da "Sala de Leitura" em todos os níveis educacionais, iniciando no período da alfabetização e continuando nos diferentes graus de ensino. Segundo Heliton Manys em seu texto A importância da leitura para o aprimoramento da escrita no Ensino Fundamental e Médio: "A leitura não é um ato solitário. É a interação verbal entre os indivíduos através de leitura, o homem pode tomar consciência de suas necessidades, promovendo a sua transformação e do mundo, em torno da importância do ato de ler que implica sempre a percepção crítica e interpretação". Andréa Ciola Caporali deixa uma mensagem para que o leitor reflita sobre a importância desta matéria dizendo: "As escolas devem estimular o aluno à uma leitura Edição nº 48 – Outubro/2015
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prazerosa, na qual ele tenha autonomia para escolher o que quer ler. Assim pode se pensar em um futuro com mais leitores críticos e satisfeitos com ato de ler, porque através da leitura o indivíduo está obtendo informações e ao mesmo tempo está interagindo com a sociedade em que vive e também com o mundo". Andréa Ciola Caporali, professora, leciona há doze anos no Estado na disciplina de Artes Plásticas, responsável pelo Projeto "Sala de Leitura" na Escola Estadual Aprígio de Oliveira desde 2011 da Diretoria Regional de Ensino de Mogi das Cruzes.
Veja mais em:
Blog: bettafernandes.blogspot.com.br Twitter: @bettabianchi40 Facebook: Betta Fernandes
Como citar: FERNANDES, B. A importância da leitura nas escolas. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 11-13, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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HISTÓRIA AMBIENTAL
Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com E A REVOLUÇÃO?
Por quais caminhos deixamos a revolução, meu camarada? Em que muro mesmo que registramos nossos ideais? Quando foi a última vez que saímos às ruas carregando faixas e gritando por igualdade? As vozes do nosso interior ainda tentavam nos animar, palavras em vão. Tudo culpa do tempo, estamos velhos. Nosso trem passou e nem vimos, perdidos em alguma estação só nos restaram lembranças. E as marcas no rosto... O espelho é cruel, tanto quanto o tempo meu velho. Hoje, olhando antigas fotos e páginas amareladas dos jornais, vejo o quanto éramos ativos. Do tempo antigo restaram apenas a barba e algumas promessas. As coisas mudam... As pessoas mudam... A vida é uma metamorfose ambulante. Não temos mais àquela velha opinião formada sobre tudo, graças à experiência. Não somos mais capa de jornal e daí? Estas ilusões ficaram para trás, junto do idealismo jovem e outras coisas mais. Aliás, parte de nós também ficou para trás, pedaços perdidos pelo asfalto urbano. Voltamos ao campo, para as coisas da terra, às estradas de chão e à simplicidade rural, antigos ideais de amor e paz junto à natureza. A mesma natureza que, ao longe, tantas vezes nos observava pelas ruas da cidade, guiando passeatas com palavras de ordem. Desta vez, ela percorre o nosso silêncio, refletindo sobre os tombos passados, lembranças que ressurgem após cada curva do nosso sertão.
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Tipo cidadão, que às vezes pensa em mudar, às vezes pensa em ficar por aqui, seguindo por linhas tortas na revolução própria do dia-a-dia. Loucos, delirantes ou simplesmente viventes de novos tempos, não sabemos... Quem sabe um dia, meu velho camarada?
Como citar: DA SILVA, D.T.L. E a revolução? Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 14-15, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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LINHA DO TEMPO
Helen Kaline Pinheiro Estudante de Psicologia e jovem talento de Joanópolis E-mail: helenkpinheiro@gmail.com
A EXCLUSÃO AO NOSSO REDOR
A cada dia que passa tocamos a realidade da exclusão de uma maneira mais natural, considerando que estamos nos acostumando com as divisões, frutos de um processo de normalização daquilo que não é normal. Assim acontece quando olhamos para os moradores de rua, por exemplo, não é mais uma surpresa, mas sim um acontecimento que já concebemos como próprio de nossos dias, entretanto não deixa de ser uma exclusão. É quase impossível de delimitá-la, considerando que se trata de um fenômeno social e não individual, se refere a uma lógica que está presente nas várias formas de relações econômicas, sociais, culturais e políticas da sociedade. Ela se reproduz cada vez que um indivíduo se encontra sem condições de inserção no mercado de trabalho, distante dos padrões colocados pela sociedade, sem vínculos a um grupo social e no extremo da exclusão, encontramos o individuo expulso não somente dos meios de consumos, bens, serviços e valores, mas também do gênero humano. Refletir sobre a exclusão é mais do que tratar das consequências do desordenado processo de urbanização, é também perceber todos aqueles que estão sendo rejeitados além de nossos mercados materiais, estão sendo afastados de nossos valores. Quando não conseguimos respeitar as diferenças de cor, religião e etnia, estamos excluindo o outro de nosso meio, do direito que ele possui de vivenciar seus valores em sociedade. Acontecimentos que nem sempre nos importamos, mas que sempre será marcado pelas reações que realizamos quando entramos em contato com uma realidade diferente, podendo ser de um modo positivo ou de um modo negativo. Edição nº 48 – Outubro/2015
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Pensar sobre a exclusão é ter a possibilidade de perceber o outro e não deixá-lo como invisível no contexto em que ele se encontra, ao invés de buscar enquadrar o sujeito dentro de uma classe (morador de rua, deficiente, entre outros) precisamos acolhê-lo em sua singularidade, e para isso necessitamos romper com esses padrões que a sociedade coloca em nossa frente, somente assim conseguiremos promover o respeito com o diferente, olhar para a pessoa e não para o rótulo que lhe foi colocado, rompendo com a passividade para promover a cidadania e a autonomia.
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma Até quando o corpo pede um pouco mais de alma Eu sei, a vida é tão rara, a vida não para.
Enquanto todo mundo espera a cura do mal E a loucura finge que isso tudo é normal Eu finjo ter paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber? Será que temos esse tempo pra perder? E quem quer saber? A vida é tão rara, tão rara. (Paciência – Lenine)
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Referências Bibliográficas WANDERLEY, Mariangela Belfiore. Refletindo sobre a noção de exclusão.
Leia mais no Blog: http://helenkaline.blogspot.com.br/
Como citar: PINHEIRO, H.K. A exclusão ao nosso redor. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 16-18, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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O ANDARILHO DA SERRA
Susumu Yamaguchi Cronista, Andarilho e Morador de Joanópolis E-mail: sussayam@gmail.com
SOPROS DE LUZ
Ao acordar vi pela janela uma lua cheia esmaecida e a silhueta de um coqueiro. Apenas quando fiz uma curva na estrada, ainda diante da pousada Casa da Fazenda, em Paraisópolis, é que o sol começou a furar a névoa. Um arco-íris se desenhou à frente e caminhou comigo por instantes. Uma jovem de cabelos úmidos seguia metros à frente, sem me notar. Passei por ela quando parou e se virou para a esquerda, olhando para o sol que já reinava no mundo e dourava seu rosto. Mas a multiplicação do brilho da luz eu vi depois, no peito de dezenas de canários que saudavam a minha passagem pelo Caminho da Fé. Um posto de saúde e escola com nomes de São Bento do Sapucaí indicavam que eu cruzava São Paulo no apêndice que invadia Minas Gerais. E nesse trecho em que eu não sabia quando pisava terras mineiras ou paulistas, de repente brotou um cachorro. Extremamente magro, tinha orelhas dobradas ao meio e costelas como escoltas laterais, e lembrava a pantera cor-de-rosa embora fosse da cor de mel com poeira. Passou latindo e desapareceu, mas eu não sabia que acabara de ganhar um guia. O ciclista Marco Antônio disse que o cachorro já vinha com ele há tempos. Era o alto da serra e ele pedalava devagar, dizendo que estávamos a pouco mais de cinco quilômetros por hora e que custara muito para me alcançar na subida, pois eu ia entre quatro e quatro e meio por hora e ele, entre dois e dois e meio. Agora eu tinha melhor noção das minhas aproximações de Eros e seu grupo na subida da serra do Caçador, entre Estiva e Consolação. Eu sabia que eles sofriam muito nas subidas, mas não o quanto. Marco seguia devagar a meu lado esperando por dois ciclistas que subiam a serra com dificuldades. Ele começara o caminho depois e os ultrapassara, mas seguiam próximos. Disse que os esperaria na cidade e desceu veloz. O cachorro cor de mel correu Edição nº 48 – Outubro/2015
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atrás de mais poeira e deixou-me sozinho. Sempre tive vontade de conhecer Luminosa por causa de seu nome. Uma cidade nomeada assim não poderia ser em vão, mas nas andanças pela serra da Mantiqueira nunca chegara até aqui. Edson e Maurício diriam depois que o nome era Candelária, mas mudara por causa de cidades homônimas. A pousada de dona Ditinha, chamada Nossa Senhora das Candeias, parecia corroborar essa tese. Mas eu ainda estava no alto da serra, olhando a cidade a trezentos metros abaixo, e não sabia de nada disso. Edison, da Casa da Fazenda, tinha dito que ela parecia um presépio vista assim; a mim, lembrava o Vale Sagrado Inca em miniatura, no Peru. Disse também que pela manhã e ao entardecer o sol brilhava as montanhas do outro lado e criava vivo contraste com a penumbra do fundo do vale. Assim, uma luminosidade especial pairava sobre a cidade nessas horas incertas de luz e sombra. Eu ainda estava no meio da claridade do dia e só podia imaginá-la, mas essa luminosa imagem já me conquistara. Dona Ditinha disse que Edson e Maurício tinham saído já depois de nove horas e que deviam estar ainda por ali, e apontou o bananal no meio da serra. Disse também que a subida era forte, mas que era suavizada pelo zigue-zague da estrada. Desde o início do caminho ouvíamos referências assustadoras sobre esse trecho – um desnível de quase mil metros – mas elas vinham todas de ciclistas. Marco dissera para iniciar a subida no máximo até o meio-dia, mas eu sabia que podia dar um bom desconto. Baseava-me em experiências do século passado, quando fazia travessias por trilhas bem mais íngremes e com mochilas de duas a três vezes mais pesadas. Era verdade que o tempo agora pesava no lugar da mochila, mas aqui era apenas uma estrada por onde até carros conseguiam passar. E dona Ditinha disse mais: que além de meus amigos, recebera também dois peregrinos do Caminho Frei Galvão. Esse novo caminho, sinalizado com setas azuis e extensão de cento e trinta e cinco quilômetros, saía de São Bento do Sapucaí, cruzava com o Caminho da Fé em Luminosa e seguia por Piranguçu, Wenceslau Braz, descia a serra para o bairro rural de Pilões, em Guaratinguetá, e chegava à Casa de Frei Galvão. Isso me interessou particularmente pois eu pensava, conforme o estado em que chegasse a Aparecida, continuar a pé para casa retomando uma travessia pela serra da Mantiqueira interrompida em 2003. De São Bento do Sapucaí poderia ir por Gonçalves e Monte Verde até Joanópolis, mas isso era coisa para ser resolvida pelo caminho. Ao deixar Luminosa reencontrei os ciclistas que vinham depois de Marco, que tinham referido problemas que tentariam resolver ali. Quando perguntei se estava tudo bem agora, disseram que esperavam um carro para levá-los a Campista. Estavam em um bar, sentados no chão, recostados na parede: eram bem jovens e pareciam derrotados. “Até lá, então!”, disse e segui adiante, mas não sei se esboçaram alguma reação. Edição nº 48 – Outubro/2015
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Reação imediata teve o cachorro, que saiu em disparada latindo como sempre – não havia como convencê-lo a ficar! Fui atrás, seguindo as setas amarelas e azuis. Nas bifurcações, ele sempre sabia qual era o rumo a tomar. Um pouco mais à frente, onde os caminhos se separavam, ele foi pela direita – pelo Caminho da Fé. Edson e Maurício voltavam quando os reencontrei, após dois dias separados no caminho. Desciam atrás do cachorro sabendo que eu andava por perto. Marco Antônio os encontrara na pousada de dona Inez e lhes dissera que eu vinha acompanhado. Dona Ditinha tinha razão: eles ainda estavam ali, a quatro quilômetros da cidade, na subida da serra, no meio do bananal, tranquilos, esquecidos da vida – e com leve expectativa de minha aparição. Além de mim, o ciclista deu-lhes notícias de nosso companheiro inicial, Valter. Para nós, o tempo e a distância haviam-no transformado em Valtão, que virou um dito especial em nosso caminho: “Vou ficar aqui, esperando o Valtão...” Marco encontrara Valtão na pousada de Cidinha Navas, dez dias após sairmos de Descalvado. Trouxe notícias também dos 50 x 10, que chegariam a Consolação. Chamávamos o trio assim por pararem dez minutos a cada cinquenta de caminhada, metodicamente. Pelo visto, eles conciliaram a marcha bitolada pela esteira com a imprevisibilidade dos caminhos do sul de Minas – e estavam em nossa cola. E disse também ter passado por um grupo grande de caminhantes logo atrás. Eram notícias que se movimentavam pelo caminho e ligavam peregrinos entre si, conhecidos ou não. Recordei o vento que revolvia os cabelos de Cidinha Navas e parecia soprar a ela notícias dos que estavam a caminho, e que chegava até aqui e nos mostrava, a leste, o caminho para a Casa de Frei Galvão. Era o mesmo vento que agora nos conduzia paulatinamente para fora do encanto do vale de Luminosa, ascendendo sempre, cada vez mais, até dobrarmos o alto do Quebra-Perna.
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Margareth – margot.joaninha@hotmail.com
A pousada em Campista estava lotada e andamos cinco quilômetros até o bar do Mauro, que nos acolheu de braços e sorrisos abertos em sua casa. E o cachorro, tão magriço de tão sem dono, foi o único que achou vaga na pousada e ficou preso no canil. A temperatura baixava rapidamente, assim como o sol. Seguimos ouvindo seu ganido triste e certamente foi isso que evocou e fez surgir no horizonte – mais tarde, já escuro, por entre ramos de árvores na beira da estrada – uma assombrosa lua cheia. Noite alta, frio, quarenta quilômetros no dia, duas semanas rumo ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Faltavam apenas oitenta e oito quilômetros dos quatrocentos e noventa e sete do Caminho da Fé: de volta a São Paulo, jantar de trutas, memória dos vales e montanhas de Minas. Nunca estivemos tão perto!
Como citar: YAMAGUCHI, S. Sopros de luz. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 19-22, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS
Emily Caroline Kommers Pereira Escritora e Jornalista E-mail: myzinhacarol@gmail.com PROCURA DO ROMANCE
Realizei uma entrevista com Julián Fuks para meu TCC que gostaria de compartilhar com o mundo inteiro, pois creio que todo escritor deveria entender algumas coisas que foram ditas. Selecionei alguns dos trechos mais marcantes e publiquei em meu blog pessoal. Agora publico aqui, para que os leitores da Revista possam conferir. Resolvi compartilhar com tantas pessoas quanto possível porque, a meu ver, o jornalista-escritor entrevistado tem um vasto conhecimento e suas palavras podem ajudar aspirantes a escritores a deixarem de ser apenas aspirantes. São pequenas porções de conhecimento que são indispensáveis! Ele é um escritor brasileiro, nascido aqui e filho de argentinos.
Primeiro romance escrito por Fuks Edição nº 48 – Outubro/2015
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No que eu escrevo, algumas questões autobiográficas estão sempre presentes. Acho que tem a ver com o jornalismo também. Antes, não só em mim… essa confluência de jornalismo e literatura não é casual, é fruto do nosso tempo mesmo ou de um tempo até anterior ao nosso, um período em que o jornalismo começa a abraçar a literatura, ao passo que a literatura também abraça algo do jornalismo. No New Journalism alguns autores norte-americanos começam a escrever literariamente as suas reportagens. É o momento do jornalismo que rejeita a linguagem jornalística, quer abraçar a linguagem literária e incorpora essa linguagem. Há também um fenômeno mais recente talvez, da segunda metade do século 20, começo desse século, que é a literatura que já não consegue mais inventar, parece arbitrário você escolher uma história qualquer, inventar um nome para seu personagem, inventar toda uma trajetória pra um personagem qualquer numa situação qualquer. Agora, a tendência dos escritores é apelar ao real, começar a buscar elementos da realidade concreta, da realidade de suas próprias vidas e inserir esses elementos numa linguagem literária e ficcional, então nesse sentido eu vejo uma aproximação da literatura e do jornalismo. A literatura busca em parte reportar uma vivência própria, uma experiência pessoal, algo assim. Pra mim foi isso, o Procura do Romance é pegar algo parecido com a minha vida, a trajetória dos meus pais, que se exilaram no Brasil. Eu nasci aqui, depois eles voltaram e eu voltei pra lá com eles quando criança. Fiquei dois anos, não deu muito certo a adaptação, eles não gostaram, preferiram o Brasil. Eu brinco que sou 100% brasileiro e 50% argentino. Tenho a dupla nacionalidade e tal, mas eu não me sinto tão argentino quanto brasileiro. Passei quase toda a minha vida aqui.
Quando questionado se ele acredita que pode ser considerado aceitável que o jornalismo importe alguma ficcionalidade da literatura, ele disse: Não é só aceitável como inevitável. Cada vez mais se desenvolve a ideia de que qualquer tentativa de representar o real, representar o acontecido, envolve linguagem. Se envolve linguagem, envolve algum grau de ficcionalização. Está se criando ficcionalmente quando você vai contar o que aconteceu num determinado acidente de trânsito. É ir atrás de algumas evidências e tentar reconstituir, pela linguagem, aquilo que aconteceu. Na prática esse é o fundamento da criação literária também, eles compartilham o mesmo fundamento, só que um com o objetivo de alcançar de fato a verdade, a realidade… e o outro com outro objetivo. Às vezes o objetivo da literatura também é alcançar uma verdade, mas uma verdade que não precisa ser levada tão a sério.
Quando questionado sobre a literatura não ter o mesmo compromisso com a busca da Edição nº 48 – Outubro/2015
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verdade que o jornalismo tem, ele disse: Eu tenho estudado a teoria do romance e a trajetória do romance. O romance como um gênero literário surge no século 18 e se diferencia da literatura que até então era mais imaginativa, dos monstros, dos magos, das predestinações, esse tipo de jogo com a fantasia, com o maravilhoso, com o fantástico. O romance surge e se estabelece como um gênero muito realista, uma tentativa de representação do real que aos poucos vai se descobrindo falha, mentirosa, falaciosa, se inventa histórias para alcançar a realidade, para alcançar uma verdade da existência humana na Terra e aos poucos se começa a ver que não se está representando de fato essa experiência, mas forjando uma experiência. Em parte, é o movimento do jornalismo também, a crença de que pode contar, e contar objetivamente, e contar imparcialmente, depois descobre que essa imparcialidade é impossível, a própria objetividade é problemática. Quando os discursos começam a desconfiar de si mesmos, eles acabam se aproximando, ambos acabam se encontrando no lugar da incerteza.
Quando questionado sobre a possibilidade de a fantasia de antes ser recriada atualmente e de a literatura voltar ao que já foi, ele disse: Na verdade, a fantasia nunca foi abandonada. Continua sendo produzido literatura assim, em obras como Harry Potter, O Senhor dos Anéis, que são um tipo de literatura anterior ao advento do romance. O romance chega pra substituir essas coisas, mas não substitui de fato. Paralelamente, continuam existindo essas narrativas imaginativas e dentro do próprio romance passa a existir, como resistência, a tentativa de construções mais fantasiosas. Dentro do realismo do romance, que quer representar a experiência humana no mundo, surge A Metamorfose do Kafka. Não é realista por si mesmo, a princípio, pois na primeira frase o personagem já vira uma barata. Só que todo o resto do livro se passa de modo realista, não continua acontecendo fantasia, não acontece mais nada de muito imaginativo, todos que estão em volta reagem como aparentemente reagiriam na vida real, se alguém se transformasse num inseto. O que o Kafka fez foi incorporar um elemento da fantasia, usar um elemento da imaginação, mas no resto continua fazendo o registro realista, se vinculando às duas tradições e dando uma potência maior a esse ato de fantasia.
Quando questionado sobre a constante repetição em diversos romances atuais, ele disse: Quando a literatura se converte em mercadoria, surge a ideia de que é preciso vender, isso se transforma quase num dogma no século 20. E vem à tona que o leitor gosta de ler aquilo que ele já leu uma vez , gosta de reviver sempre a mesma sensação, gosta de recriar uma experiência pela leitura, gosta de repetir. Então se vê no próprio mecanismo da venda de livros justamente isso, ‘do autor de tal livro você encontra esse outro livro. Vai Edição nº 48 – Outubro/2015
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tranquilo porque você vai gostar, se gostou do primeiro, esse aqui vai repetir algo do primeiro’. Muda algum detalhe, algum contexto, muda o nome do personagem, muda o lugar onde acontece, troca algo do argumento, mas o formato é o mesmo, a linguagem é a mesma. No final das contas, depois que você leu alguns destes, percebe que já é previsível, já perde a graça, perde o encanto, mas por um tempo essa prática te guia e te satisfaz. Não só dentro do mesmo autor, na livraria existe também ‘gostou desse livro, gostou desse autor, leia aquele’. Isso significa o quê? Eles são parecidos na linguagem, no estilo, na proposta, se você gostou de um vai gostar do outro. Isso contraria completamente a noção de literatura como arte. A arte já há algum tempo vem sendo a busca pelo novo, pelo diferente, pelo que rompe com aquilo que foi feito antes, ao longo do século 20 isso foi a maior processo de enriquecimento da prática artística. A pintura queria ser diferente, surgem as escolas, as vanguardas, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo… uma rompendo com a outra e criando um movimento intenso e forte e radical no campo das artes plásticas, e a literatura segue esse mesmo movimento à sua maneira. Foi também a busca pela novidade, pela destruição desse enredo clássico. Você tem uma ficção redondinha, com começo, meio e fim, com um personagem coerente do início ao fim, esse é o modelo até o século 19. Em algum momento a literatura começa a desconstruir, o romance começa a se autodestruir. Esse foi um processo bem vertiginoso, passando por Virgínia Woolf, James Joyce, Samuel Beckett, considerado o último, o sujeito que teria diluído de vez a fórmula do romance. A partir disso não daria mais pra escrever romances num certo sentido, seria cada vez mais difícil inovar. O romance foi encontrando suas maneiras de inovação, há todo um grupo de escritores buscando representar de forma nova aquilo que a gente vive no dia-a-dia, mas também há aqueles que continuam escrevendo como se escrevia no século 19, esquecendo que a literatura passou por todo esse processo crítico e auto-crítico, continuam repetindo a mesma fórmula, a mesma fórmula, seguindo só o interesse de algum leitor, ou de muitos leitores, na verdade estes ainda alcançam mais gente do que os outros que buscam inovar, mas também dá um pouco a sensação de vazio. ‘Durante um tempo isso até me divertiu, mas mais me esvaziou do que preencheu.
E quando citei um trecho de Procura do Romance e o questionei sobre o ato de fazer ficção, ele me deu a resposta que, para mim, já valeu toda a entrevista! Trecho do livro: “Por que esse impulso de roubar para o texto o que é da vida, de converter em ficção o que a ficção não comporta?” Há duas coisas na sua pergunta. Primeiro é que no ato de observar o detalhe das coisas, na minúcia das coisas, há muito mais riqueza do que a gente está disposto a enxergar. As relações são, por si mesmas, muito mais complexas, uma frase simples envolve todo um contexto pessoal de quem fala e de quem ouve, um gesto, um ato, tudo isso tem mais Edição nº 48 – Outubro/2015
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complexidade do que a gente enxerga a princípio. Uma de minhas tentativas era essa, buscar essa riqueza na complexidade do dia-a-dia. Por outro lado, se percebe que essa complexidade é inapreensível, a gente nunca vai entender exatamente quais são as intenções e a base histórica de cada gesto, de cada palavra, de cada ato. A gente nunca chega a captar realmente o que está por trás da escolha de cada palavra, de um olhar, de um modo de agir. Eu escrevi esse livro, na verdade, concomitantemente ao meu mestrado em Teoria Literária sobre a morte do romance, sobre a impossibilidade de narrar, a ideia de que em algum momento, de repente, já não fazia mais sentido produzir literatura, já não fazia mais sentido inventar histórias. As pessoas continuaram inventando, escreveu-se como nunca antes, justamente há um paradoxo, mas não se pode mais narrar, não há mais tanto sentido na invenção de uma história, esse é um gesto arbitrário e quem escreve sabe isso, sente isso, mas ainda assim, é preciso continuar contando. Faz sentido continuar contando ainda que contar, por si mesmo, não tenha nenhum sentido. Eu estava metido com essas ideias e resolvi escrever um romance sobre isso.
Como citar: PEREIRA, E.C.K.
Procura do romance. Revista Eletrônica Bragantina On Line.
Joanópolis, n.48, p. 23-27, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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BIOMEDICINA
Tereza Reche Biomédica/Escritora E-mail: terezarch@gmail.com CÂNCER PROSTÁTICO E EXAME DE “PSA”
Novembro Azul vem aí e nada mais propício que falar sobre o vilão mais temido pelos homens: o Câncer de Próstata. A próstata é uma glândula que faz parte do sistema reprodutor masculino, localizada na parte baixa do abdômen, produz parte do sêmen. No Brasil, o Câncer de Próstata é o segundo mais prevalente entre homens, sendo o sexto tipo mais comum no mundo e o mais predominante em homens. O Câncer da Próstata (CP) pode apresentar evolução silenciosa inicialmente; os pacientes podem não apresentar sintomas ou apresentarem sintomas parecidos aos do tumor benigno da próstata. Com o avanço da doença, podem apresentar também dor óssea, problemas urinários, infecção generalizada ou insuficiência renal (http://www.mastereditora.com.br/periodico/20150501_174533.pdf).
Diagnóstico do Câncer Prostático
O diagnóstico do Câncer de Próstata é baseado no toque retal, no nível do PSA, e no sistema de graduação de Gleason. A partir dessas informações o médico define quais exames de imagem são necessários para finalizar o diagnóstico e definir o tratamento. Homens com exame de toque normal, PSA baixo e graduação de Gleason baixa podem não precisar de exames de imagem, uma vez que a chance da doença ter se disseminado é baixa. Os exames de imagem mais utilizados são: Ultrassonografia Transretal, Cintilografia Óssea, Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética, Varredura Prostascint.
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Prevenção do Câncer Prostático - PSA
Antígeno Prostático Específico (PSA) é uma substância produzida pelas células da glândula prostática. O PSA é encontrado principalmente no sêmen, mas uma pequena quantidade é também encontrada no sangue. A maioria dos homens saudáveis têm níveis menores de 4 ng/ml de sangue. A chance de um homem desenvolver Câncer de Próstata aumenta proporcionalmente com o aumento do nível do PSA. Geralmente, quando o Câncer de Próstata está presente o nível do PSA está acima de 4 ng/ml. Entretanto, um nível abaixo desse valor não significa que o câncer não esteja presente. Quase 15% dos homens com PSA abaixo de 4 ng/ml são diagnosticados com Câncer de Próstata na biópsia. Os homens com nível de PSA na faixa de 4 ng/ml e 10 ng/ml, têm uma chance de 1 em 4 de ter a doença. Se o PSA se encontra acima de 10 ng/ml, a possibilidade de ter Câncer de Próstata é superior a 50%. Se o nível do PSA de um paciente é elevado, o médico pode sugerir a repetição do exame após um determinado intervalo de tempo ou a realização de uma biópsia da próstata para fechar o diagnóstico. Nem todos os médicos concordam com o mesmo ponto de corte do PSA para sugerir uma biópsia, alguns sugerem a realização de biopsia se o PSA é ≥ 4, enquanto outros podem recomendá-la a partir de ≥ 2,5. Outros fatores como idade, raça e histórico familiar do paciente, também são considerados.
Fatores que podem influenciar os níveis do PSA
Aumento de tamanho da próstata - Hiperplasia prostática benigna ou um aumento não canceroso da próstata comum em homens idosos. Idade - Os níveis de PSA normalmente aumentam lentamente à medida que o homem envelhece, sem sinal aparente de qualquer doença. Prostatite - Infecção ou inflamação da próstata. Ejaculação - Pode causar aumento do PSA por um tempo curto, que cai logo em seguida. Andar de bicicleta - Alguns estudos sugerem que o ciclismo pode elevar os níveis do PSA. Procedimentos urológicos - Alguns procedimentos urológicos realizados em consultório, que afetam a próstata, como biópsia ou cistoscopia, podem elevar os níveis de PSA por um curto período de tempo. Alguns estudos sugerem que o exame de toque retal pode elevar ligeiramente os níveis de PSA. Medicamentos - Alguns hormônios masculinos, como a testosterona ou outros medicamentos que elevam os níveis de testosterona pode causar um aumento do PSA. Outros fatores podem levar os níveis do PSA a valores baixos, mesmo quando o Edição nº 48 – Outubro/2015
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câncer está presente, incluindo: - Determinados medicamentos ou sintomas urinários. - Algumas misturas de ervas vendidas como suplementos alimentares. - Alguns esteroides. - Obesidade: homens obesos tendem a ter níveis mais baixos de PSA. - Aspirina: homens que tomam aspirina regularmente tendem a ter níveis mais baixos de PSA. Este efeito é mais pronunciado em não fumantes. - Alguns diuréticos.
Tipos de Exames de PSA
Se o nível do PSA estiver alto, o médico pode solicitar uma biópsia da próstata. Outros médicos levam em consideração os resultados de novos tipos de exames do PSA para decidir se deve ou não solicitar uma biópsia da próstata. Mas nem todos os médicos concordam em utilizar os resultados desses novos exames.
Porcentual do PSA Livre
O PSA tem duas formas no sangue. Na primeira estão ligadas a proteínas do sangue, enquanto que na segunda circulam livres. O percentual de PSA livre é a razão entre a quantidade de PSA que circula livremente em comparação com o nível do PSA total. O porcentual do PSA livre é menor em homens com Câncer de Próstata. Este exame é utilizado ocasionalmente para ajudar na decisão de solicitar uma biópsia da próstata com resultados de PSA na faixa entre 4 ng/ml e 10 ng/ml. A razão porcentual do PSA livre baixa significa que a probabilidade de ter Câncer de Próstata é maior, neste caso a biópsia deve ser realizada.
Velocidade do PSA
A velocidade do PSA é uma medida da rapidez com que o PSA aumenta ao longo do tempo. Normalmente, os níveis do PSA sobem lentamente com a idade, portanto um aumento rápido pode significar a presença do câncer. Este exame não é recomendado para a detecção precoce do Câncer de Próstata.
Densidade do PSA
Os níveis do PSA são maiores em homens com glândulas prostáticas maiores. A densidade do PSA às vezes é utilizada em homens com próstatas grandes, o médico determina Edição nº 48 – Outubro/2015
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o volume da glândula por meio do ultrassom transretal e divide o valor do PSA pelo volume da próstata. Uma densidade alta do PSA indica maior probabilidade de câncer. Entretanto, essa técnica ainda não tem comprovado ser eficiente. O porcentual do PSA livre tem se mostrado mais preciso.
Intervalos do PSA por Idade
Os níveis do PSA são normalmente mais elevados em homens mais velhos, mesmo na ausência do Câncer de Próstata. Um resultado de PSA no limite superior é mais preocupante em um homem de 50 anos, do que em um de 80 anos. Por esta razão, alguns médicos sugerem a comparação de resultados do PSA entre homens da mesma idade. Mas, devido a que a utilidade do PSA por idade não está bem estabelecida, a maioria dos médicos não recomendam o seu uso atualmente.
Exame de PSA no Sangue
O PSA no sangue é usado principalmente para diagnosticar o Câncer de Próstata precoce em homens assintomáticos. No entanto é um dos primeiros exames realizados em homens com sintomas que podem ser causados pela doença. O PSA também pode ser útil após o diagnóstico da doença. Nos homens diagnosticados, o PSA pode ser usado em conjunto com os resultados dos exames físico e de estadiamento da doença para decidir se são necessários outros exames, como tomografia computadorizada ou cintilografia óssea. O PSA é parte do estadiamento e ajuda a prever se a doença ainda confinada à próstata. Se o nível do PSA é muito alto, a doença provavelmente está disseminada, o que influenciará nas opções de tratamento
(http://www.oncoguia.org.br/conteudo/antigeno-prostatico-especifico-psa-no-
diagnostico-do-cancer-de-prostata/1202/289/).
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Como citar: RECHE, T. Câncer Prostático e exame de “PSA”. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.48, p. 28-32, out. 2015. Edição nº 48 – Outubro/2015
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